#2 boas garotas nao namoram homens morto molly harper

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Nice Girls Don't Date Dead Men

Boas Garotas NĂŁo Namoram Homens Mortos

Jane Jameson 02

Molly Harper


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Capítulo 1

Com o pé e a pata plantados no mundo humano e animal, criaturas Were misturam as técnicas de ambas as culturas para garantir relacionamentos. Isso pode levar a felicidade ao longo da vida ou um companheiro potencialmente muito confuso. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were1

Eu não posso fazer isso.

— Jane. — É simplesmente errado — eu soluçava. — Ela desafia as leis da natureza, a fina linha que separa o bem e o mal. Zeb revirou os olhos, agarrou o manual de noivas e o fechou. — É apenas um vestido, Jane. — É um vestido marrom avermelhado, Zeb. — Jolene o escolherá em pêssego — ele grunhiu, claramente em seu limite para lidar com membros não-mortos e resmungões da festa-nupcial. — Por que você está sendo tão difícil? — Por que a sua noiva insistiu que eu me vestisse como Naomi de Mama's Family2? — Não está tão ruim assim — insistiu Zeb. — Não está tão ruim assim? — eu abri o manual e apontei a foto ofensiva com o meu dedo. A expressão desafiadora em branco da modelo não podia ocultar seu embaraço em usar esse pesadelo de cetim. Era um tomara-que-caia, com uma 1 2

Were: humanos com a capacidade de metamorfosear em um antropomórfico, como lobos. Seriado estado-unidense de 1983.


4 larga prega com uma cor entre o vermelho e laranja em chamas, que se juntavam no decote com um retalho de tecido cor-de- rosa. O tradicional laço traseiro estava conectado ao que só poderia ser descrito como um corpete de cintura. Apesar de não ter muitas amigas, eu tinha sido madrinha três vezes em dez anos. Aparentemente, eu era alta o suficiente para "combinar" com o resto das madrinhas de Marcy, a minha colega de faculdade do meu ano de caloura. Minha companheira de quarto do segundo ano, Carrie, tinha uma prima que teve o descaramento de engravidar, e só aconteceu de eu servir no vestido abandonado da madrinha. Tenho certeza que minha outra companheira de quarto, Lindsay, só me pediu porque ela queria madrinhas "planas". Ela disse algo sobre não querer ser ofuscada no seu grande dia. Eu estava grata por ter um quarto só meu no último ano. Minha irmã, Jenny, nunca sequer pensou em fazer-me uma madrinha. Ironicamente, a sua razão para não me pedir — não gostar de mim — resultou nesta inadvertida e certamente não intencional bondade. Eu tinha sofrido com laços traseiros. Eu tinha carregado os xales estúpidos que combinavam com o vestido e que nunca seriam usados depois da cerimônia. Eu usei vestidos cor sorvete de menta; de lã violeta e cor de suco de romã — tudo isso se traduziu em “vestidos hediondos custando $ 175 e com sapatos tingidos para combinar, nenhum deles usarei outra vez.” E agora, Jolene McClaine, a noiva do meu melhor amigo, queria me vestir com um vestido mais feio que todos eles. Jolene e Zeb tinham se conhecido no grupo local dos Amigos e Família dos Não-Mortos, onde Zeb tinha procurado ajuda após a minha nova condição de não-morta que o deixou mais deslocado que o habitual. Era a história de amor normal. Garoto encontra garota. Garoto namora garota. Garota acaba por ser um Were. Garoto e garota ficam noivos e, lentamente, vão me deixando louca. De certa forma, eu uni os dois, o que significava que eu não tinha ninguém para culpar por essa saia fiasco de conto de fadas, além de mim mesma. Eu sabia que todo o objetivo de se ter madrinhas é vesti-las como gente de circo, para que você fique melhor em comparação. Mas isso foi além dos limites. Eu ficaria feliz se os moradores irritados não me atirassem produtos podres. — É por isso que eu queria ir às compras com você! — chorei, caindo para trás no sofá com a petulância desossada de um paciente adolescente de ortodontia.


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— Bem, o Celeiro Nupcial fecha cerca de três horas antes do pôr do sol, Jane. Então, se você está disposta a se arriscar explodir em chamas apenas para exercitar seus problemas de controle sobre um vestido estúpido, acho que estamos sem outras opções. — Hmmph. Eu não sou uma vampira há muito tempo, por isso às vezes me esqueço sobre as limitações da minha condição e as dores que Zeb teve ao evitar jogar estas limitações na minha cara. Isso não significa que eu ia usar essa monstruosidade de vestido, mas eu, pelo menos, pararia de dificultar para Zeb. Eu tinha desenvolvido um hábito desagradável de espetar Zeb desde que ele começou a planejar seu casamento. Zeb tinha sido meu melhor amigo desde... bem, sempre. Estava acostumada a ter sua atenção. Claro, ele estava acostumado a me ver respirando e comendo alimentos sólidos. Nós dois tivemos que fazer ajustes. Ele era apenas muito melhor com eles. Pareceu-me duplamente cruel pertubar Zeb agora. Enquanto alguns membros da família estavam emocionados por Jolene que estava se casando com um cara legal com um rendimento estável e sua própria casa, havia vários tios que declararam a união uma vergonha ao "Clã", a versão de um lobisomem a desgraça. Lobisomens são os mais evoluídos das espécies Were. Eles têm o ciclo de mudança mais regular e mais completa alterações de confiança. Sendo animais de alcatéia natural em ambas as formas, eles também têm a hierarquia social mais estável. Há um macho Alfa relacionado à fêmea de sua escolha, que se torna a fêmea Alfa. Mesmo os membros do Clã abaixo na hierarquia tendo direitos de propriedade e de livre vontade geral, todas as decisões importantes devem ser filtradas através do casal Alfa, especialmente o macho Alfa. Tudo, a partir da seleção de parceiros até a gestão de negócios deve ser considerada para o bem do grupo. A família de Jolene foi uma das primeiras a se estabelecer em Half-Moon Hollow. Sua fazenda é o lar do casal Alfa do Clã, Lonnie e Mimi McClaine, seus três filhos, dezoito tias e tios e quarenta e nove primos. Jolene era a última fêmea solteira de sua geração, o que não significa que não tinha tido propostas. Ela havia sido cortejada por vários descendentes de Clãs de Lobisomem proeminentes. Seu próprio primo Vance, um sujeito alto que me fez lembrar Jethro da Família Buscapé, só que mais contemplativo, tinha feito várias propostas por sua pata uma vez que ela tinha feito dezessete anos. Mas foi o meu desajeitado e bobo melhor amigo, incuravelmente humano, que roubou seu coração.


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Lonnie teve que conter as garras de Vance sobre o envolvimento de Jolene com uma visita ao trailer de Vance. Era o equivalente Lobisomem de uma viagem para a fogueira. Vance respondeu dirigindo para a casa de Zeb e fazendo xixi em seu quintal. Aparentemente, você tem que ser um homem ou um Were para compreender que isso era um insulto. Em uma matilha de Were, você não pode interferir na escolha do companheiro de um membro do Clã. Você não pode intencionalmente causar dano a escolha do parceiro de um Were. Você não é, no entanto, necessariamente requerido para ajudar esta pessoa caso ele se encontre em uma situação que ameace a sua vida. De alguma forma, Zeb conseguiu se envolver em várias destas situações em poucos meses desde que tinha noivado com Jolene. Ele teve vários "acidentes" de caça enquanto visitava a fazenda McClaine, embora não caçasse. Os freios do seu carro falharam enquanto estava dirigindo para casa da fazenda — duas vezes. Além disso, uma moto-serra misteriosamente caiu sobre ele no palheiro. Ele nunca iria recuperar seu dedo mindinho. Jolene insistiu que seus parentes estavam apenas sendo brincalhões. Eu insisti para que Zeb não se aventurasse na exploração da fazenda dos McClaine sem uma escolta vampiro, o que certamente não tinha melhorado sua posição com os futuros sogros. Apesar da aceitação relutante dada a Zeb, a maior parte do Clã desconfiava de vampiros. Alguns de fato, usavam dentes de vampiros ao redor do pescoço, próximo a placas douradas que continham os seus nomes. Do outro lado do corredor estavam os pais de Zeb, Ginger e Floyd, e eles não estavam exatamente felizes com o casamento, também. Mamãe Ginger estava planejando meu casamento com seu filho desde que éramos crianças. Aparentemente, a imagem de Zeb voltando para nossa casa, para a minha cozinha de brinquedo, carregando uma pasta feita de jornal estava definitivamente marcada a fogo em seu córtex. Ela imaginou que me conhecendo desde que eu tinha seis anos e vendo vários exemplos de eu ser dobrada pela minha própria mãe, eu era a única candidata aceitável para uma potencial nora. No meu último Natal viva, ela me deu um planejamento de casamento da loja Momentos Preciosos com o meu nome e de Zeb já preenchido. Mamãe Ginger vê o mundo como ele deveria ser, de acordo com a mamãe Ginger. E quando algo não estava em conformidade com essa visão, ela faria o que fosse necessário para corrigi-lo. Eu não sabia o que a fazia pensar que ela tinha o


7 direito. Poderia ter tido algo a ver com todos os produtos químicos inalados por ela em sua loja não-necessariamente-licenciada de beleza na sua cozinha de casa. Só para dar um exemplo, mamãe Ginger não podia imaginar que eu iria para o baile de formatura com outra pessoa que não Zeb, então ela disse para várias das mães em seu salão de beleza que eu estava sendo tratada devido a uma erupção suspeita. Isto funcionou tão bem que nenhum garoto na nossa escola iria a qualquer lugar perto de mim com um corsage3. Sem outras opções de última hora, Zeb e eu acabamos indo juntos. Mamãe Ginger mantinha estas fotos em um lugar de honra sobre sua lareira. Como ela não poderia opinar na escolha da noiva, ela decidiu fazer o planejamento do casamento tão desagradável quanto possível. Ela se opôs à data do casamento, dizendo que entrou em conflito com sua noite de bingo. Cada plano que Jolene fez foi julgado alternadamente um "lixo" ou "muito pomposo". Mamãe Ginger também se sentiu incrivelmente insultada quando Jolene educadamente recusou os bonequinhos do bolo da loja Momentos Preciosos que ela tinha guardado para o casamento de Zeb. Momentos Preciosos. Gah. Eu poderia arrancar a coluna vertebral de um homem pelo seu nariz, e ainda achava aquelas coisas assustadoras. O pai de Zeb, Floyd, tinha manifestado pouco interesse no casamento depois que descobriu que não haveria uma fonte de Velveeta4 ou um telão mostrando o jogo de basquete programado no Reino Unido. Então, a recepção ia ser divertida. Tão divertida quanto poderia ser quando se está vestida como o chá de Satanás. Os vestidos das madrinhas Naomi Harper eram uma concessão para a tradição da família McClaine de alugar o traje formal na loja de vestidos da tia de Jolene a Vonnie, o Celeiro Nupcial. Vonnie fez todos os vestidos, utilizando-se três padrões, que acabou parecendo um padrão do ano de 1982, chamado Pregas e Sonhos. — Eu sei Janie, eu sei que é feio — disse Zeb, com seus olhos grandes, sincero e sério. Maldição, eu sempre enfraquecia diante deles. — É o vestido mais feio do mundo. De todos os vestidos que você nunca vai usar, este é o que seu corpo pode rejeitar como um órgão defeituoso. Assim que eu voltar da lua de mel,

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Flor que o garoto leva para colocar no pulso da garota nas formaturas, especialmente dos EUA. Tipo de queijo.


8 vou ajudá-la a construir a fogueira para queimar esse vestido. Mas estou pedindo a você como minha melhor amiga no mundo inteiro, você poderia, por favor, apenas usar o vestido estúpido por um dia? Sem se lamentar? Ou descrevê-lo? Ou fazer Jolene se sentir mal? Ou chatear os primos dela? — Mais alguma condição? — resmunguei. — Reservo-me o direito de fazer adendos — disse ele, uma sobrancelha loira arqueada até o cabelo cacheado da mesma cor. — Que tipo de professor de jardim de infância fala assim? — eu questionei. O noivado mudou Zeb. Ele estava mais agressivo, mais maduro, em parte por ter que se defender em situações de risco de vida. Infelizmente, ele estava sendo mais agressivo e maduro comigo, o que era irritante. — Que tipo de bibliotecária infantil tem um emprego em uma livraria oculta? — ele rebateu. — Vampira — apontei para o meu peito. — E eu não sou mais uma bibliotecária. Quando eles te despedem, eles tipo tiram o título, também. O sorriso de Zeb foi diluído enquanto ele piscava fortemente e pressionou seus dedos nas têmporas. Pegou uma pílula no bolso. — Você está bem? — Sim — suspirou. ultimamente.

— Eu só tenho tido muitas dores de cabeça

Meu cérebro pessimista pensou sobre as possibilidades que incluíam coágulos e tumores. Diminuindo as evidências de pânico, eu perguntei: — Você já viu um médico? — Sim. Ele disse que provavelmente está relacionado ao estresse. Apontei um dedo para o manual do casamento. — Eu não posso imaginar. — O planejamento do casamento é estressante, mesmo quando você não está se casando em uma família com a boca cheia de dentes; e cheios de ódio ardente, ambos os quais são destinadas a você — Zeb murmurou enquanto engolia a seco dois Tylenol — Mudando de assunto, onde está sua companheira de quarto fantasmagórica?


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— Saiu — eu disse falando da minha tia-avó Jettie, que morreu seis meses antes de eu ser transformada e tinha estado agradavelmente me assombrando desde então. — Com o meu avô Fred novamente. Eles estão se tornando novamente um casal quente e firme. — Eu não sabia que fantasmas vagavam tanto por ai — disse ele. — Aonde eles vão? — Contanto que eu não veja dois idosos falecidos se pegando no meu sofá, eu não me importo. Ele sorriu. — Isso é tão nojento. — Nem me fale — fiz uma careta. — Estou trabalhando em turnos extras na livraria, não remunerado, apenas para sair de casa. Continuo entrando em quartos e os encontrando... Guuuuh. E falando da loja, temos que decidir a negociação do vestido agora. Meu turno começa em cerca de uma hora. Estamos esperando alguns pergaminhos antigos babilônicos que o Sr. Wainwright encontrou no eBay, ele está muito animado. Pensa que pode ter sido usado em um ritual de invocação. — Então, você comprou antigos textos babilônicos, que podem ou não suscitar Gozer5, o Destruidor, no eBay? — Zeb perguntou. Ele levantou a cabeça e deu um sorriso pateta. — Você sabe, há um ano eu teria pensado que você estava brincando. Dei de ombros, empurrando a foto do temido vestido de madrinha do meu campo de visão. — E ainda... Peguei o telefone que estava tocando, sabendo antes que eu o apertasse contra o meu ouvido que seria a minha mãe. Não usei as minhas novas habilidades de leitura da mente nem nada. Mamãe liga toda noite antes do meu turno para se certificar de que eu estou a três passos do meu carro para a livraria. Ela tende a "esquecer" que eu tenho super força e poderia torcer qualquer assaltante prospectivo em um pretzel6. Mamãe tinha respondido a descoberta que eu era uma vampira com as etapas tradicionais do luto. Ela ficou presa em negação. Tinha decidido ignorar completamente e fingir. 5

Deus sumeriano que aparecerá na forma da destruição. Pretzel (Brezel, em alemão) é um pão tradicional alemão, em forma de nó, seco, estaladiço, habitualmente muito cozido e salgado. 6


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Ela trouxe duas tortas congeladas para minha casa a cada semana para "me ajudar com as refeições", o que foi útil, porque eu precisava de algo por perto para alimentar Jolene, sempre faminta. Mamãe aparecia durante o dia, então ficava chateada quando o instinto do "horário de descanso" vampírico me impedia de conversar. Era como se ela pensasse que eu poderia mudar minha opinião sobre ser uma vampira e devolver o meu cartão de sócia. — Eu tenho notícias ruins, querida — mamãe disse quando peguei o telefone. Há muito que ela não utilizava as sutilezas de cumprimentos no telefone. Depois de uma pausa dramática, ela disse: — Vovô Bob morreu na noite passada. — Awww — eu gemi. — Outro? Isso pode parecer uma estranha e até mesmo fria reação. Mas você tem que entender a história conjugal de minha avó Ruthie. Ela tinha ficado viúva quatro vezes, por meio de um caminhão de leite, choque anafilático, picada de aranha e relâmpagos (o lamentável, já mencionado vovô Fred). Eu escrevi um poema intitulado "vovô em uma urna" na quinta série. Tive que gastar muito tempo no escritório do conselheiro de orientação após isso. Eu amava Bob. Apesar de não ser o meu avô real ou mesmo um avô postiço, no entanto, Bob sempre foi legal comigo. Mas ele esteve noivo da vovó Ruthie por cinco anos e tinha problemas crônicos no coração, pulmões e fígado. Ele havia sobrevivido mais que o esperado. — Sua avó disse que houve algum tipo de confusão com a sua medicação — mamãe suspirou. Eu praticamente podia ouvir a tampa da sua "pílula do nervo" chocalhar solto. Sabendo que isso levaria um tempo, Zeb pegou o meu liquidificador para começar um novo lote experimental de "shakes da Jane." Ele está usando uma combinação de temperos e sobremesa para fazer o sangue sintético um pouco mais parecido com a alimentação humana que eu gostava tanto. Meu favorito atualmente era o Faux Type misturado com um pouco de xarope de cereja e um monte do Aditivo de Sangue com Chocolate em Calda da Hershey's: A sensação agradável de chocolate, sem efeitos secundários desagradáveis para os não-mortos! Esse foi um excelente ponto de venda, considerando que os efeitos colaterais eram os vômitos e a agonia que vinha com vampiros tentando digerir alimentos sólidos. A voz de mamãe tremeu sob o peso das expectativas da vovó Ruthie. — Eu não sei o que vou fazer. Vovó parece pensar que devemos fazer o funeral como o de parentes próximos. As crianças estão tendo um ataque. Ela já fez uma cena na


11 Funerária Whitlow's Home sobre a liberação do corpo. E agora ela espera que eu a ajude a planejar o buffet, o serviço... — O completo Ruthie Early-Lange-Bodeen-Floss-Whitaker7 especial? — eu perguntei. — Eu gostaria que você parasse de chamá-lo disso — mamãe bufou. — Ela realizou o mesmo serviço funerário em quatro maridos. Eu vou chamar esse serviço do que eu quiser — eu disse. — Jane, eu realmente precisarei de sua ajuda com isso — disse mamãe, com um tom menor de adulação rastejando em sua voz. — Por que Jenny não pode te ajudar? — Jenny está ocupada com a Liga de Caridade, e está servindo como presidente do Clube das Mulheres Winter Ball deste ano — mamãe era uma lamentação gigantesca agora. — Mas a boa e velha Jane não tem uma vida, não é? Por que não fazê-la presidente do almoço de funeral? — Não comece com isso, Jane — mamãe advertiu. — Se você apenas falasse com a Jenny e resolvesse esse negócio bobo, vocês poderiam me ajudar. — Acho que isso deixou de ser um negócio bobo quando fui deserdada — disse a ela. Jenny tinha feito bem em sua promessa de não falar comigo depois que eu me revelei para a minha família. Ela, no entanto, me enviou uma nota através do encantador escritório de advocacia Hapscombe Schmidt, afirmando que Jenny queria acesso a Bíblia da Família. A Bíblia, que continha todas as informações genealógicas que eu havia herdado através da nossa tia-avó Jettie como parte do conteúdo de nosso lar ancestral, River Oaks. Os advogados de Jenny tinham afirmado que, como uma vampira, eu não podia tocá-la e não tinha nenhum uso para ela. Eu tinha os escritórios locais da ACLU e do Conselho Mundial para a Igualdade de Tratamento dos Não-Mortos enviando uma carta com um “cessar-edesistir” afirmando que tais declarações eram falsas. Ela respondeu enviando-me uma cópia da árvore genealógica onde a caligrafia cuidadosa sobre pergaminho, estava com o meu nome queimado com um ferro de solda. Após uma enxurrada de 7

Sarcasmo envolvendo os sobrenomes da vovó e seus falecidos maridos.


12 correspondência de caráter legal seguidas, eu acabei bebendo o "jantar" de ação de graças com os meus pais depois que o resto da minha família tinha ido para casa. — Agora, não esperem que eu tome partido — disse mamãe. — Vocês meninas vão ter que resolver isso, sozinhas. — A maioria das coisas do funeral vai ser feito durante o dia — eu disse. — Eu não vou poder participar do enterro. Os seres humanos ficam aborrecidos quando os vampiros explodem em chamas ao lado deles. — Mas você tem todo o tempo do mundo para planejar o casamento do Zeb — mamãe resmungou. Ela sempre ficava um pouco irritada quando eu dizia a palavra com V. — Onde o feliz casal se registrará? Na loja de um dólar? — Antes de tudo... isso foi muito engraçado — eu sussurrei contente que Zeb se escondeu no quarto de despensa e não a tinha ouvido falar dele. — Mas foi uma coisa maldosa de se dizer. Eu sou a única autorizada a fazer piadas sobre a família de Jolene, por ser a única a usar o vestido mais feio na história da espécie de madrinha. — De que cor é? — perguntou mamãe. — Não é amarelo, é? Porque você sabe que faz você parecer pálida. — Mamãe, foco, por favor. Vou ajudar com o trabalho de preparação para o funeral, tanto quanto eu puder, durante a noite, quando eu puder encaixar com as horas de trabalho. Mas eu não posso fazer muito. — Isso é tudo que estou pedindo, querida, um pouco de esforço — disse ela, aplacando. — O mínimo possível — eu lhe assegurei. — Como é que a vovó está? — perguntei, tentando não deixar que o ressentimento transparecesse na minha voz através da linha telefônica. — Devo parar em sua casa a caminho do trabalho? — Hum, não — mamãe disse em uma tentativa triste em ser vaga. —Vai estar uma multidão lá... — E seria uma vergonha para mim, passar por lá e tornar as coisas difíceis — acabei por ela. O silêncio pesado de mamãe disse que eu estava certa, mas ela preferiu não colocar em palavras. Eu não sei por que a rejeição da vovó ainda me picava. Parentes mais velhos deviam dar-lhe beijos com batom e fazer perguntas intrusivas sobre sua


13 vida amorosa. Eles deveriam se vangloriar de suas realizações ao ponto de que os não-parentes quisessem arrancar seus tímpanos com a simples menção de seu nome. Eles não deveriam pedir a antecedência mínima de uma semana para serem informados se você iria participar de reuniões familiares ou insistir em usar uma cruz do tamanho de uma calota sempre que você entrasse em uma sala. Meu único consolo era que a vovó parecia Flavor Flav8 e, geralmente, tombava sobre o peso da jóia. Ansiosa para voltar a um assunto que podia controlar, mamãe listou os pratos que ela esperava preparar para animar à habitual oferta de pratos do funeral. Aparentemente, havia algum tipo de sobremesa envolvendo gelatina, creme de queijo e tangerina no meu futuro. Enquanto eu considerava isso, como é totalmente injusto que alguém que não deve comer tenha que cozinhar, esses argumentos não impressionaram mamãe. Eu prometi que passaria lá para pegar a lista de compras depois de escurecer. — Como vão as coisas com Gabriel? — mamãe perguntou. Ela ficou feliz que eu estava namorando alguém, especialmente alguém que literalmente veio de uma das famílias mais antigas da cidade. Mas ela estava fingindo que Gabriel não era um vampiro, tampouco. Eu não podia esperar tanto. — Você o viu ultimamente? — Não por uma semana ou coisa assim. Ele tinha que ir para Nashville resolver um negócio. Na outra ponta da linha, mamãe suspirou. Maldição. Eu tinha apenas estendido a conversa por cerca de vinte minutos. Desde que eu tinha estabelecido uma espécie de semi-relacionamento com Gabriel, a atividade favorita de mamãe era me dar conselho de relacionamento. Pensei que ela via isso como uma coisa de garotas. — Querida, o que eu sempre te disse? Agora, sinceramente, poderia ser qualquer coisa, desde o básico: Evite a qualquer custo em um banheiro público para Os homens não compram a vaca se você lhe dá o leite. Então, eu dei um tiro no escuro. — Hum, nunca confie em um homem com dois nomes — eu imaginei. — Bem, sim, mas não era o que eu tinha em mente. — Nunca confie em um homem com uma lareira de controle remoto? — eu sugeri. 8É

um rapper estadunidense que usa acessórios bastante chamativos e grandes.


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— Não — ela disse, com paciência audivelmente se desgastando. — Nunca confie em um... — Querida — eu quase poderia ouvir mamãe sacudindo a cabeça em consternação com a minha falta de experiência. — Os relacionamentos são cinqüenta por cento dar e receber. Você tem que fazer um esforço. Ele está lá sozinho por uma semana inteira. Por que você não pode ir visitá-lo? — Eu tenho que trabalhar. E isso não é coisa de desesperado? — Não há nada errado em mostrar algum interesse. Você poderia fazer um pouco mais de esforço. Eu poderia fazer com que Sheila dê uma olhada no seu cabelo. — Mamãe, eu realmente preciso desligar o telefone, tenho que chegar ao trabalho a tempo — eu disse. — E Zeb está aqui, e estamos tentando falar sobre coisas de madrinha. Eu realmente tenho que ir. — Não o deixe vesti-la de amarelo. Você sabe o quão ruim você fica de amarelo! Mamãe ainda falava enquanto eu colocava o receptor de volta no lugar. — Alguém tem que prender a minha avó. Ela sozinha, está acabando com a Grande Geração — eu gemi. Zeb sorriu para mim enquanto eu desabei e bati a cabeça contra o balcão. Com uma voz abafada de granito, eu lhe disse: — Cale-se ou ligarei para a sua mãe e lhe direi que os nomes de seus pais não estão nos convites. Isso vai mantê-lo amarrado durante meses. — Isso parece desnecessário — ele murmurou.


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Capítulo 2

De Were-doninhas a Were-lobos, Weres são criaturas territoriais. Uma vez que uma alcatéia criou uma casa, eles não vão deixar esse local por gerações, até que as fontes locais de alimentos se esgotem ou são queimadas por agricultores irritados. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Half-Moon Hollow é um lugar estranho para um vampiro passar seus dias. Nós não temos um centro de artes ou um museu, mas tivemos o nosso próprio episódio Vagabundo da Cidade Rural de COPS. O programa nunca havia apresentado a detenção de um homem nu roubando amônia anidra. A câmara de comércio teve dificuldades de incluir isso no folheto. Viver em Kentucky é uma mistura do ridículo e do sublime. O mesmo Estado que é o lar de hospitais de pesquisa, de grandes produtores e corridas de cavalo é um lugar onde você pode assistir uma destruição de ônibus escolar. (Eles tiraram as crianças do ônibus antes que eles entrassem na corrida.) Temos Casas de Ópera e Casas de Shows caipiras. Temos cidades que abrigam centenas de milhares de pessoas e cidades como Hollow, onde um dia, se o casal fica noivo, toda a população será convidada para o casamento. Notícias da minha transformação foram lentamente crescendo entre os círculos do circuito de cozinha de Hollow graças a minha ex-patroa, a Sra. Stubblefield, usando o meu pedido de subsídio de desemprego não-morta como justificativa para me demitir do meu cargo de diretora da biblioteca de serviços juvenil. Claro, ela me demitiu horas antes de eu ser transformada, mas isso não a impedia de cantar - Eu avisei! Ela não poderia deixar alguém assim trabalhar com o público, muito menos como uma bibliotecária juvenil, ela disse para quem quisesse ouvir. A Sra. Woodley, cujos cinco filhos eu, pessoalmente, tutelei no programa da biblioteca Leitura como Remédio, disse-lhe para calar a boca ou ela ia atirar a bunda irregular da Sra. Stubblefield para fora do Clube das Senhoras de Half-Moon Hollow. Mandei uma dúzia de tortas congeladas como um agradecimento a Sr. Woodley.


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A Sra. Stubblefield tinha recentemente “se aposentado” (foi convidada a se retirar), após um grupo de adolescentes perambulando por lá - sem meu programa de aulas depois da escola para mantê-los ocupados, - tinham colado páginas de revistas de nudismo em todas as enciclopédias. E ninguém na equipe notou. Durante um mês. Além disso, há evidências de que a Sra. Stubblefield acrescentou ao seu café da manhã Jack Daniel's9. A aposentadoria da Sra. Stubblefield significava que sua enteada, Posey, era o membro mais antigo do pessoal da biblioteca. Posey, que foi trazida para me substituir, não conseguia entender a Classificação Decimal de Dewey sem soar como uma idiota, e rir do jeito que foi escrito. Eu a odiava por princípio. E esse princípio era amargura. Através de mamãe, eu ouvi falar das noites do clube do livro, multas atrasadas forjadas, e itens a serem verificados (que não podem ser substituídos e nunca deveriam sair da biblioteca) fora da sala de coleções especiais, prazos de candidatura haviam sido perdidos. Financiamentos federais foram reduzidos a teatros com bonecos e o Programa de Alfabetização de Adultos. Lenta mas seguramente, os meus favoritos usuários da biblioteca foram fazendo o seu caminho até a parte ruim da cidade para me procurar para as suas necessidades. Tudo começou quando a presidente do clube do livro de quarta feira, Anne Woodhouse, deu uma passada para conversar comigo sobre uma seleção. Anne tinha perdido a fé nas sugestões da Sra. Stubblefield, depois que ela recomendou que o clube lesse a continuação de A Million Little Pieces 10. Então Sally Dortch parou para perguntar sobre as seleções do Newbery Medal 11 para um relatório da pequena Hannah, mas ela viu os ídolos de fertilidade do Sr. Wainwright e então fugiu. Para ser justa, gigantes falos de cerâmica, em geral me fariam correr para a saída mais próxima também. Finalmente, Justine Marcum e Kitty Newsome, os membros do Conselho da Biblioteca que ajudaram a Sra. Stubblefield a me dispensar, vestiram casacos e óculos Jackie O e foram discretamente na loja e magnanimamente anunciaram que o conselho estava disposto a esquecer o meu estado de vampiro e me receber de volta ao grupo. Eu não vou dizer que não era tentador. Incomodava-me ver a minha biblioteca - um lugar que representava tudo o que era humano e familiar para mim - sofrer, ver os programas que eu tinha levado anos para cultivar, ruindo. E eu 9

Bebida alcoólica. É um livro que a Oprah indicou em seu programa e depois descobriu que o autor – um homem de 23 anos usuário de drogas e alcoólatra que superou o vicio e compartilha suas experiências – Foi num outro programa de entrevistas e admitiu que mentiu quanto a certos fatos descritos no livro e salientou que a verdade não era tão importante assim, e isso gerou um pequeno escândalo e diversas retratações/tentativas de não piorar a situação. Em suma, depois de todo o ocorrido não haverá uma seqüência e o autor do livro foi totalmente desacreditado. 11 A premiação é dada ao autor da contribuição mais ilustres da literatura americana para as crianças. 10


17 perdi os meus filhos. Perdi os pequenos rostos, e ainda extasiados, durante a Hora do Conto. Perdi de ajudar a cada um encontrar apenas o livro certo para ajudar a acender o amor pela leitura, apresentando-lhes os livros que eu amei quando criança: Roald Dahl, Louisa May Alcott, Ann M. Martin. Perdi de trazer adolescentes de volta à leitura depois que finalmente superassem aquela fase horrível Eu sou muito legal e não gosto de nada. Mas eu tinha entrado numa nova fase em minha vida, e pelo que eu sabia, eu ainda podia fazer o tipo de trabalho que fiz na biblioteca. Eu tinha feito o meu melhor para manter contato com o mundo humano, ser uma cidadã respeitável não-morta. Andrea Byrne, minha nova amiga substituta de sangue free-lance, estava me ajudando a encontrar aulas e outras atividades construtivas para ocupar as horas da noite. Tínhamos começado a fazer ioga juntas. Claro, eu tecnicamente não preciso mais de exercícios de respiração, mas eu estava finalmente coordenada o suficiente para me equilibrar em um pé. Eu tinha feito alguns amigos lá, alguns dos quais se comportaram diferente depois que perceberam que era uma vampira. Em desenvolvimento pessoal adicional, eu comecei a reciclar tudo à vista. Considerando que eu andaria pela terra por muito mais tempo do que originalmente previsto, eu queria que durasse tanto tempo quanto possível. Isto, combinado com a ioga, convenceu a minha mãe que eu tinha ingressado em uma seita. Eu era um dos poucos vampiros em Hollow que preferiu manter relações com os humanos depois de ser transformada. Estudos mostraram que a maioria dos vampiros que haviam se transformado depois que o consultor fiscal / vampiro Arnie Frink nos expôs com o seu direito de ação para o trabalho, saíram de cena e se mudaram para grandes cidades como Nova Iorque ou Nova Orleans. Passaram a assimilar as grandes populações de vampiros e aprenderam a ajustar sua vida nova... ou eles se tornaram viciados em sangue quimicamente reforçados, desmaiaram em uma calha, e acordaram com o nascer do sol fritando-os como batata. Pelo menos, é isso que mamãe me disse quando mencionei que eu poderia ir a St. Louis para um seminário chamado Assuntos Emergentes para os Não-Mortos pós-milenista. Aparentemente, Oprah fez um show inteiro intitulado Guia para Vampiros. E de alguma forma, eu tinha passado pelo radar de lixo eletrônico dos nãomortos. Comecei a receber anúncios de Sans-sol bloqueador solar, cortinas de vampiro especializada, compartimentos para dormir, que eram basicamente caixões. Mas pelo menos eu tinha parado de receber pedidos de cartão de crédito. Depois que o governo o considera um não-morto, as empresas de cartão de crédito são menos propensas a estender uma linha de crédito para você. É uma atitude discriminatória para um vampiro, o que é bom para mim.


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Mas mesmo um não-morto poderia apreciar o ar mágico de Hollow com o Natal se aproximando. As temperaturas de início de dezembro, que sempre são uma porcaria no Kentucky ocidental, estava pairando uns 5°C. Como um ser humano, eu era uma pessoa de verão. Mas quando pegar um pouco de cor em suas bochechas poderia deixá-la com queimaduras de terceiro grau e / ou morte permanente, você aprende a apreciar os prazeres do inverno. Os dias foram ficando mais curtos, o que significa que eu poderia me levantar e sair mais cedo. O frio trouxe uma nitidez quanto aos perfumes vivos, brilhantes espirros de perfume contra uma neblina cinzenta. O frio também me deu uma desculpa para usar o novo casaco preto lustroso que eu tinha comprado em uma viagem de compras desastrosa com Andrea. Ela me levou em uma excursão dessas boas lojas underground (não literalmente) nos arredores de Memphis. E eu não comprei uma maldita coisa além do casaco. Mas pelo menos eu já não parecia como se estivesse andando em um grande saco inchado de dormir. Natal em Hollow significa neve caindo que nunca se acumula, mas ainda manda todos correndo para colocar o pão e o leite. Significa trocar latas decorativas de cookies com conhecidos que você não gosta muito. E Papai Noel de shoppings que chegam em carros de bombeiros e desafiam o seu bairro para um concurso de decoração exterior. Como você não está realmente comemorando o nascimento de Jesus a não ser que sua casa tenha sido atingida pela passagem das aeronaves. Eu limpei a enorme meia polegada de neve (principalmente gelo e lama) de minhas botas quando me aproximei da porta Livros de Especialidade. O cheiro familiar da poeira e do papel desmoronando cumprimentou-me quando eu chamei o Sr. Wainwright. A loja era muito mais limpa do que tinha sido naquela noite fatídica, quando eu tinha entrado e faltava pouco para uma plataforma desmoronar em cima de mim. Bem, a confusão era mais nova. Nós pelo menos alinhamos os livros nas estantes para que os clientes pudessem navegar sem escalar. O leve zumbido das lâmpadas fluorescentes cintilou sobre pilhas de livros de bolso para gratinar a encadernações da divisão de couro. Títulos dourados, esfregavam os dedos carinhosos, brilharam devidamente de sua pilha. Enfiei minha sacola atrás do balcão e pesquisei os danos que o Sr. Wainwright havia feito desde que eu o tinha deixado doze horas antes. Tentar organizar a loja era uma batalha difícil, e eu não estava fazendo nenhum progresso. Não que o Sr. Wainwright ignorasse os meus esforços, mas quando ele procurava alguma coisa, ele tinha um jeito de bagunçar completamente tudo como um tornado. Nós tínhamos um sistema: eu passava três dias


19 meticulosamente organizando uma seção, ele a destruía em menos de uma hora. Era como trabalhar para alguém levemente perigoso de três anos de idade. Eu estava, no entanto, orgulhosa do fato de que não havia mais aranhas mortas ocupando uma prateleira inteira na seção de referência. Elas estavam agora ocupando um jarro no escritório do Sr. Wainwright. Ele é um homem bom. Eu tento não fazer perguntas. Nossa rotina noturna consistiu de duas horas de limpeza e encaixotamento de encomendas online. Então, sem clientes para atender, ele iria fazer chá ou sangue quente engarrafado, e sentaríamos no balcão. Ele me contava histórias de suas viagens ao redor do mundo buscando artefatos demoníacos, horda de casas de vampiros, e embalagens raras de criaturas Were. Ele ainda passou cinco anos em Manitoba em busca do Pé Grande. — Olá? Sr. Wainwright? — chamei novamente. Eu nunca iria chegar a um ponto onde eu poderia chamá-lo pelo primeiro nome. Uma pessoa que existiu mais do que uma irmã Brontë merece ser tratada com respeito. — Aqui atrás, Jane ― veio uma voz abafada de trás da loja. Eu segui a voz para o estoque, que só tinha redescoberto na noite anterior. O Sr. Wainwright tinha "perdido" a porta atrás de um rack de revistas em quadrinhos dos Contos da Cripta em meados da década de 1980. — Sr. Wainwright? ― Vi dois sapatos marrons saindo debaixo de uma caixa em uma terrível paródia de O Mágico de Oz. E o Sr. Wainwright, com cerca de oitenta anos de idade, parecia como se eu pudesse lhe tirar dali como um graveto. Ele estando preso em uma caixa gigante de livros pesados não iria manter meus cheques salário de meio período chegando. — Você est| bem? ― Eu gritei, tirando a caixa de cima dele, com pouco esforço. — Oh, obrigado, Jane — disse ele, sentando-se do seu lugar no chão. Ele parecia ter feito o melhor de sua situação. Seu sempre presente cardigã cinza estava irregularmente almofadado em sua cabeça. Segurava em sua mão um velho exemplar de Stephen King - Pesadelos e Paisagens Noturnas. — Felizmente, quando a caixa caiu sobre mim, isso ricocheteou minha cabeça. Eu não lia isso há muitos anos. Você deve contemplar a acessibilidade universal do Sr. King. Ele me assusta o tempo todo.


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— E ele é a razão de eu ter problemas com palhaços — disse eu, estremecendo ao pensar nisso. — Há quanto tempo você esteve aqui? Ele revirou os ombros. — Oh, três ou quatro horas no máximo. — Você está machucado? — perguntei. — Eu sou mais forte do que pareço — ele disse quando eu o levantei e o coloquei em uma cadeira dobrável empoeirada. — Eu pensei que nós tínhamos concordado que não iria tentar mudar as coisas sem que eu estivesse por aqui? Depois de ontem. Quando a outra caixa caiu em você — eu disse, lutando para manter um tom paciente. Eu não podia acreditar que eu era a prática desta relação. — Bem, sim, mas eu não estava tentando mudar coisa alguma, eu estava procurando o interruptor de luz, você vê, e bati na estante. Lembrei-me de um livro que deixei aqui e achei que você poderia estar interessada — disse ele. — Você se lembrou de um livro que você deixou aqui há vinte anos atrás? — Eu perguntei a ele. — O que estou dizendo, é claro que você se lembra. Por que você não me dizer onde está, e eu vou buscá-lo para você? — Sim, eu acho que seria melhor — disse ele. — Prateleira de cima. Na caixa marcada "Sino de Bruxa". Eu subi agilmente e peguei a caixa da prateleira de cima. O Sr. Wainwright estava sorrindo como uma criança com um novo livro em quadrinhos. Ele sempre ficava animado quando eu manifestava meus poderes de vampiro. Eu desdobrei o topo da caixa e depois pensei melhor. — Se eu colocar a minha mão nesta caixa há algo que vai morder, picar, cortar, queimar, ou me transformar em pó? Este é um dos problemas com o trabalho em uma loja de ocultismo. Na semana anterior, eu quase perdi um dedo em um diário cujo bloqueio bateu uma armadilha de prata em torno da trava. Vampiros são alérgicos a prata. Tocando ele, sente uma combinação de ardor, coceira, e ser forçado a lamber o gelo seco. Se o Sr. Wainwright não tivesse trazido um aparelho pouco suspeito que ele carrega no bolso, eu não seria capaz de fazer todos os bonecos de sombra que eu gosto tanto.


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O Sr. Wainwright mordeu o lábio. — Apenas por garantia, eu vou fazer as honras. A partir da teia de aranha, e do rato de papelão colorido, o Sr. Wainwright puxou um livro intitulado O espectro do vampirismo — Aqui está — disse ele, entregando-me. — Eu achei que você poderia achar isto útil. É muito bom, escrito por um sujeito chamado Milton Winstead, em Harvard no ano de 1920. — Harvard? — Bem, eles não podem ser todos estudantes de direito e candidatos presidenciais — Sr Wainwright deu de ombros. — Há espectros reais de vampirismo? — Eu perguntei, lendo sobre a tabela de conteúdos e folheando um capítulo. Vampiros não produzem seu próprio sangue, razão pela qual eles devem consumir sangue. O sangue ingerido é infundido com a essência do vampiro quando metabolizados, dando ao vampiro a capacidade de transformar os outros. A energia de um vampiro depende da quantidade de sangue vampiríco consumidos durante a transformação. Para fazer uma Cria, um vampiro se alimenta de uma vítima até que ela atinja o ponto da morte. O Sire deve ter cuidado para não deixar o iniciante inconsciente ou incapaz de consumir o sangue necessário para completar a transformação, geralmente 2 ou 3 litros. No processo, o Sire é literalmente drenando, o que significa que um vampiro irá criar apenas duas ou três Crias em seu tempo de vida. Quanto mais forte e mais velho um vampiro está no ponto de criar uma Cria, o mais provável que esta seja um vampiro saudável. Uma mudança rápida ou descuidada pode resultar em um vampiro doentio, que pode sofrer fraquezas, sensibilidade à luz solar e prata, - mas com alguns dos pontos fortes. Algumas pessoas buscam esse nível de vampirismo para alcançar a eterna juventude e beleza realçada. Vários devotos da profissão teatral foram envolvidos em rumores de que teriam se envolvido nesse ritual ao longo dos anos. — Huh, eu pensei que o vampirismo era basicamente uma questão de sim ou não. — Oh, não, não — O Sr. Wainwright disse. — Há muitos níveis sutis de vampirismo, do poder e capacidade. Você vê, há muito para você aprender. É tão emocionante eu estar aqui com você durante a viagem do sanguinário vampiro neófito ao veterano sofisticado.


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— Feliz em contribuir — disse, encolhendo os ombros amigavelmente. — Embora, tecnicamente, eu nunca fui o que você chamaria de sanguinária. — Eu não quis ferir seus sentimentos, querida — disse ele. — Mas você não vê como é sortuda? Os vampiros estão entre os poucos seres que traçam a sua história como eles vivem. Você pode ver o passado, presente e futuro. Você sabe quem é o seu tatara-tatara-avós, bisavós e avós. Como seus filhos ou, no seu caso, sobrinhos... agora, não faça essa cara, querida, como seu sobrinho tem filhos e netos e bisnetos, você será capaz de vê-los crescer e viver e morrer, cada geração, se você cuidar de si mesma, para a eternidade. Fragmentada pela natureza deprimente daquele pensamento, bati em suas mãos — Mas você pode fazer isso também, só que numa escala menor. Quer dizer, todo mundo aqui sabe quem são os seus bisavós. E você tem o seu sobrinho. Você foi capaz de vê-lo crescer e ter filhos. — Meu sobrinho mudou-se para a Guatemala para um trabalho missionário há quase cinco anos atrás, e eu raramente soube dele. Eu não o vejo tendo filhos, isso se houver um Deus justo e amoroso. — O Sr. Wainwright sacudiu a cabeça com carinho, à menção de Emery, o filho de sua falecida irmã, de personalidade livre. — E eu não sei quem os meus bisavós eram, e não há nenhum parente nesta área. Minha mãe era do norte, interior de Nova Iorque, e meu pai morreu quando eu era muito jovem. Eu temo que a união não foi muito feliz, e ela não manteve muitas de suas coisas. Ele raramente falava com ela sobre sua família. E pareceu perturbá-la a falar sobre ele. Poderia ter sido bom ter parentes, mas pelo que vejo, é uma espécie de jogo de dados genéticos. Você não é parente das pessoas que você gosta. — Caso em questão, minha avó Ruthie. Mas então você tem coincidências maravilhosas cromossômicas, como a minha tia Jettie e meu pai — ele sorriu. — E se eu começar a limpar estas caixas e você voltar às questões de Internet? — Maravilhoso — disse ele. — E Jane, querida... — Não jogue nada fora sem mostrar a você primeiro — eu repeti. — Como eu deveria saber que aquilo era a escrita de um espírito? Parecia um monte de rabiscos em um guardanapo. No momento que o Sr. Wainwright me trouxe uma xícara de chá antigo Limoges preenchido com sangue de porco de microondas, eu estava coberta por uma fina camada de poeira, mas tinha separado a maioria das coisas em pilhas "Manter", "Jogar Fora" e "Queimar em Solo Consagrado".


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— Obrigada — eu disse, aceitando o copo com um coração sem bater grato. — Há um rapaz procurando por você lá na frente, Jane — ele disse enquanto eu bebia. — Eu acho que ele é um de sua espécie. Ele parece vagamente familiar, mas eu não consigo me lembrar. — Ele mencionou que trabalha para o Conselho? — Eu perguntei. — As coisas tendem a ir mal para mim, quando eles resolvem passar para uma visita. — Eu duvido — O Sr. Wainwright disse. — Ele está vestindo uma camiseta que diz: "Uma tequila, duas tequilas, três tequilas, chão". Eu não acho que eu já vi um vampiro com uma camiseta deste tipo antes. Extraordinário, realmente. Então só poderia ser um vampiro. Richard Cheney, a quem tenho prazer em chamar Dick, é um velho amigo de Gabriel - cerca de 150 anos. Amigos desde o berço, eles se afastaram devido a uma dívida de jogo em seus vinte e poucos anos. Dick foi transformado onze anos mais tarde, também devido a uma dívida de jogo. Você vê um padrão aqui? Dick é o centro de um comércio local não muito legítimo. Se você quiser algo, basta pedir a Dick. Mas não pergunte onde, como ou quais as leis internacionais que ele quebrou quando obteve isso. Além disso, você vai querer pagar em dinheiro. Não foi tão difícil, como eu esperava, para misturar o meu único amigo vivo no meu novo círculo não-morto. Dick e Zeb se deram maravilhosamente bem. Como Dick disse, Zeb cresce em você, como um cachorrinho perdido que o seguiu para casa. E Zeb e Gabriel construíram uma amizade em comum na experiência de salvar meu rabo de Missy, a ex de Dick mortalmente perigosa. Melhor, Zeb, de alguma forma formou uma ponte entre Gabriel e Dick, ex-amigos de infância que decidiram levar a vida eterna em um concurso prolongado do sexo masculino de se irritarem. Graças ao tempo que passaram com Zeb, Gabriel e Dick tinham declarado uma espécie de cessar-fogo. E enquanto eles certamente não iriam fazer uma tatuagem combinando em breve, pelo menos, Dick tinha parado de deixar lascas de prata nos móveis de Gabriel. Se eu fosse considerada a madrinha, Dick poderia ser considerado o padrinho de Zeb. Dick assegurou seu lugar na festa de casamento depois de passar


24 várias semanas se vinculando com Zeb em seu sofá após seu trailer ter explodido. Gabriel poderia ter sido promovido a padrinho se ele tivesse passado mais tempo na cidade ultimamente... e não tivesse tirado sarro da extensa coleção GI Joe 12 do Zeb. Seé porque ele realmente gosta da minha companhia ou goza irritantemente de Gabriel, Dick e eu tínhamos passado muito tempo juntos desde que eu tinha sido transformada. Ele se tornou um visitante regular em River Oaks. Na verdade, ele ficou no meu sofá por alguns dias depois que ele acabou com as boas vindas no de Zeb. Usando seus ardis segredos de vampiro, Gabriel anonimamente arrumou para Dick um apartamento próximo por causa da tendência de Dick em fazer comentários como o seguinte: — Ah, a bela Jane. Eu sempre disse que você era uma garota safada — disse ele, tirando a poeira na minha bochecha. Dick poderia ser considerado atraente se você achar olhos verde-mar, maçãs do rosto bem definidas, e lábios cheios permanentemente torcidos em beicinho de zombaria, e ainda assim de alguma forma com um sorriso sedutor atraente. Combine isso com o bombardeio constante de brincadeiras audaciosas, e com um carisma Você vai se arrepender de manhã que fazia quase todas as mulheres que cruzaram o seu caminho se derreter a seus pés. Eu era uma rara exceção e, como Dick freqüentemente me lembrava, sua única amiga estritamente platônica que tinha seios. Eu tinha uma pendência com Dick Cheney. Tecnicamente, foi minha culpa seu trailer ter sido incendiado por Missy em uma tentativa de me prender pelo seu assassinato. E entre as insinuações perturbadoras, havia normalmente uma situação de simpatia. Enterrado, lá no fundo. — Uau, você é verdadeiramente mestre do trocadilho — revirei os olhos. — Suas frases já funcionaram com alguém, alguma vez? — Eu só queria ver como você está, Stretch — disse ele, batendo na minha cabeça, um gesto que ele sabia que eu odiava. — Não tenho visto você por estes dias. Eu me preocupo quando não sou chamado para salvar o seu pequeno e adorável traseiro pelo menos uma vez por semana. — Eu não tenho um pequeno e adorável traseiro — eu lamentei. — Eu sei, é mais de médio a grande, mas eu estava tentando ser gentil — ele 12

G.I. Joe é uma franquia de action figure dos EUA produzida pela empresa de brinquedos Hasbro.


25 respondeu, esquivando-se do Guia de Bolso para Atividade Poltergeist que eu lancei nele. — Continue com isso e eu vou pegar este balde enferrujado que você chama de carro, e irei conduzi-lo até uma pedreira. Seria um golpe de misericórdia. Eu gritei. — Ela está aqui? Saí correndo para encontrar minha velha caminhonete Ford, Big Bertha, estacionada na frente da loja. Dick tinha usado algumas de suas conexões não-muito-lícitas para troca de peças de reposição e reparos que eu não podia pagar com um salário de meio período. Eu só tinha que tutorar uma criança Were-doninha em Inglês pelo próximo semestre. — Ela está linda — suspirei, esfregando uma mão amorosa sobre o capô com covinhas. — Isso parece exatamente como estava — disse Dick. — Patética. Ela provavelmente vai te custar em reparos tanto quanto custaria um novo carro decente que não fuma quando você liga a ignição. — Big Bertha foi o meu primeiro carro, meu primeiro amor. A tia Jettie me ensinou a dirigir neste carro. Eu simplesmente não estou pronta para lhe trocar ainda. Dick sorriu, um patriarca indulgente tolerando meus caprichos. — Eu pensei, é por isso que eu tive que mandar Billy fazer algumas modificações. As minhas mãos congelaram no capô de Bertha. — Dick, o que você fez com o meu carro? Ele sorriu. — Bem, vamos apenas dizer que Billy tinha algumas ideias de como fazer Big Bertha um pouco mais vamp-amigável. Vidros filmados com fator de proteção solar 500, muito obrigado. Cortinas laterais que você pode puxar para baixo em uma emergência. Kits de emergência de proteção solar, instalados sob os assentos dianteiros. Um cooler para viajar com sangue resfriado pelo ar condicionado. E um último item. — Ele abriu a janela traseira. Havia uma porta de caixão do tamanho do piso do compartimento traseiro. — Um esconderijo de emergência. — Isso é ótimo — eu disse. — Isso é apenas, uau... — Ele balançou a cabeça. — Seria rude de minha parte questionar esta súbita explosão de generosidade?


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— Bem — Dick estendeu um braço de forma companheira em torno de dos meus ombros e ofereceu o que eu tenho certeza que ele pensava ser um sorriso sincero. — Você poderia falar bem de mim para a sua amiga Andrea. Esta era mais ou menos a milésima vez que Dick dava uma dica nada sutil para que eu o arranjasse com minha amiga substituta de sangue free-lance. A maioria dos vampiros está interessado na delicada e deliciosa Andrea Byrne, com um extremamente raro sangue AB-negativo. Mas Dick estava muito mais interessado no fato de que Andrea também é legal, elegante e, irritantemente linda. Os dois tinham uma química estranha, como amônia e água sanitária. Dick e Andrea se moviam em círculos vampirescos muito diferentes. A maioria dos clientes não-mortos de Andrea tinham casas sem rodas. Em um desenvolvimento deliciosamente cármico, Andrea não queria muito contato com Dick, não porque ela era uma esnobe, mas porque ele lembrava muito Mattias Northon, um professor universitário vampiro que a seduziu, a introduziu na vida como uma substituta de sangue free-lance, e despejou-a como um mau hábito. Lisonjeiro, charmoso sem esforços apenas a irritavam. Eu acho que ser rejeitado por uma mulher pela primeira vez em sua longa, longa vida fritou algo no cérebro de Dick, porque ele estava obcecado desde que a conheceu. — Oh, você é pura maldade — eu o levei de volta para a loja. — Você quase me convenceu por um segundo, fingindo ser todo doce e vulnerável. Você criou um roteiro para esta conversa em sua cabeça antes de vir aqui? É seu poder especial de vampiro esta manipulação com flerte? Dick fez um barulho profundo, angustiado e coberto com uma tosse. — Obviamente que não. Por que ela não sai comigo? — Ela conhece o seu tipo — eu disse. — Ela é dolorosamente familiar com o Sr Amor, Me Morda e me Abandone. — Isso parece justo — disse ele, cabisbaixo. — Você poderia falar com ela... — Não — eu disse, com firmeza enunciando cada palavra com muito cuidado. — Eu sou amiga dela, não seu cafetão. Coloque suas calças de garoto crescido e lide com isso sozinho. Talvez você possa perguntar a ela no casamento do Zeb e da Jolene. Ele riu. — Falando do não tão inteligente, eu recebi isso do correio hoje. Ele pegou um envelope com centáurea-azul do bolso e a colocou no balcão.


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— Uou — fiquei maravilhada com o convite do casamento Lavelle-McClaine. Eu tinha sido cortada da lista quando o Zeb e a Jolene perceberam que eu estava vinculada como madrinha e auxiliaria na maioria dos eventos de casamento de qualquer maneira, por isso, não precisava receber um papel gravado. — Eu tinha ouvido falar deles, mas... não há palavras. Jolene e Zeb tinham um casamento com tema de Titanic. Pessoalmente, acho que centralizar o seu compromisso em torno de um dos maiores desastres da história do transporte marítimo é um tanto assustador, mas Jolene tem um sério complexo Kate e Leo. Eu acho que não devemos julgar. Quando eu era menina, eu sonhei que iria me casar em um castelo antigo Inglês e ir embora em uma carruagem puxada por cavalos. E minha irmã seria amarrada no calabouço. Claro, eu também pensei que estaria casando com Mark-Paul Gosselaar13 de Saved by the Bell, e todos podemos ver como é que acabou. O tema de Jolene era uma mistura do mórbido histórico e do glamour de Hollywood antigo. Seu vestuário de casamento é composto de uma cópia do Coração do Oceano e um traje levemente lisonjeiro para ser daquele período. Zeb mal conseguiu convencê-la a desistir de ter coletes salva-vidas decorativos feitos com os seus nomes e data do casamento. Ela iria, no entanto, utilizar um modelo do Titanic para servir chips e salsa. O barco era dividido em dois, a salsa de um lado e os chips no outro. Ela encomendou online esta monstruosidade, juntamente com o seu traje de casamento e os convites com um iceberg em relevo na capa e as palavras: Atingido por amor. Se você olhasse bem de perto os rochedos no iceberg em relevo, você pode ver as iniciais de Jolene e Zeb. Algumas pessoas não deveriam ser autorizadas a acessar a Internet. — Quais são exatamente as regras para levar convidados para casamentos de lobisomens? — Eu perguntei. — Eu não recebi um convite, por dizer, então eu não posso exatamente mandar um cartão de resposta informando "mais um”. Então, novamente, Gabriel é um participante ativo do casamento, então eu presumo que saibam que ele irá. Você, por outro lado, recebeu um convite, mas é dirigido a você sozinho. É permitido um convidado adicional? — Eu não sou convidado para um casamento há cerca de noventa anos — Dick admitiu. — Eu ainda estou tentando descobrir o que os pequenos pedaços de tecido entre os envelopes são. — Zeb disse que vocês irão jogar boliche, beber e se conectar neste fim de 13

É um ator estadunidense, mais conhecido por seus trabalhos como Zack Morris em Saved by the Bell.


28 semana. Tenho que te passar o discurso Permita que o meu amigo seja ferido por um dos seus conhecidos menos respeitáveis, e você vai acordar com o meu pé dento de uma de suas regiões inferiores? — Não — disse ele, sorrindo amplamente. — Bom, porque o título entrega o discurso todo. Dick murmurou: — Te vejo por aí, se eu ajudá-la a escapar da morte certa de novo. — Bem, você tem alguma outra homicida ex-namorada que pode tentar me enquadrar como assassina? Ele fez um movimento de mão rude optando não responder aquilo. Foi o suficiente para fazer com que o Sr. Wainwright saísse das prateleiras a brigasse com Dick pela sua falta de cavalheirismo. — No meu tempo, os senhores não faziam gestos como este — disse ele, puxando-se à sua altura máxima. Todo o um metro e meio dele. A osteoporose não tinha sido gentil. Dick sorriu preguiçosamente, sem vergonha. — Uma vez que você passar mais tempo com ela, Gilbert, você vai entender. Os olhos do Sr. Wainwright se estreitaram, olhando-o. — Eu conheço você? — Sim — disse Dick. Ele piscou para mim. — Te vejo depois, Stretch. — Você o conhece? — Eu perguntei depois que Dick saiu. Ele balançou a cabeça. — Eu não tenho ideia. Eu tenho uma memória muito melhor para os livros do que para as pessoas. — Você provavelmente está melhor assim — eu assegurei a ele. — Eu não pude deixar de ouvir você falar do casamento do Zeb, Jane. Acho que tenho um livro que pode ajudá-la. — Ele ergueu um volume de capa mole intitulado Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were. Abri um capítulo intitulado Relações Humanas com Were e li em voz alta: — A melhor maneira de um pretendente se relacionar bem com o pai da Were fêmea é presenteá-lo com uma carcaça nova. Quanto maior o jogo, mais impressionante é


29 o fato. Cervos e alces fazem uma declaração ousada. Esquilos e coelhos farão você se tornar piada. Eu beijei o alto de sua cabeça careca. — Um livro para cada problema. Eu te amo Sr. Wainwright. Ele corou de prazer, apertando as mãos. — O sentimento é mútuo, querida.


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Capítulo 3 Devido às suas inclinações naturais animalescas, criaturas-were são mais ligadas aos seus instintos sexuais do que o ser humano normal. Uma vez que as relações pré-matrimoniais são desaprovadas na comunidade Were, as luas-de-mel destes geralmente duram três ou quatro vezes mais do que luasde-mel humanas. Rituais de Acasalamento e Costumes de Amor dos Were

À exceção de uma nova carreira, novos horários, nova dieta, novos amigos, e uma relação ligeiramente não-saudável entre Sire e iniciada, pouco tinha mudado nos meses desde que eu tinha sido transformada. Não, espera, eu estava indo à falência. Isso era novo. Os meus cheques de pagamento do meu trabalho na loja não eram suficientes para financiar o meu estilo de vida 'extravagante'. Graças às maravilhas do vampirismo, eu tinha sido capaz de cortar pequenos extras como comida e seguro médico. Mas as despesas de River Oaks estavam acumulando. O aquecedor de água estava fazendo barulhos estranhos, e havia o afundamento suspeito e com ar de sair caro no meu telhado mesmo sob o antigo quarto de Tia Jettie. Eu tinha um cão de cem quilos para alimentar e um regime dental caro para manter. E o pessoal do pagamento da Visa estavam começando a fazer perguntas. O malabarismo financeiro estava se tornando mais do que eu conseguia acompanhar. Para complicar as coisas havia o atraso na minha "liquidação do triunfo". Mais cedo nesse ano, eu tinha lutado com Missy, a Malvada Corretora de Imóveis até à morte depois de ela me embrulhar numa série de crimes, todos num esforço para obter River Oaks - ou, melhor, a propriedade em que estava situado River Oaks. A minha espaçosa antiga fazenda era a peça chave numa parcela de desenvolvimento de um condomínio cafona não-morto que ela tinha planejado. Frustrada com a recusa de tia Jettie para vender, Missy tinha decidido usar as leis do Conselho Mundial para a Igualdade de Tratamento dos Não-Mortos que regem o comportamento dos vampiros para me tirar a propriedade. Por isso eu não me senti muito mal sobre trespassá-la com um dos seus próprios sinais de venda de imóveis.


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No mundo dos vampiros, se matar outro vampiro em batalha, recebe todas as suas coisas. E como a Missy tinha passado anos acumulando propriedades e burlando vampiros para estes perderem as suas casas, isso levou a uma quantidade bastante grande de bens. Mas depois de meses de burocracia e atrasos, eu não estava segurando a minha respiração para que o conselho cumprisse a sua promessa de me passar os bens de Missy em breve. Claro, segurar a minha respiração não importava de qualquer maneira, mas... Eu não tinha contado a ninguém sobre os meus problemas financeiros, nem mesmo à minha querida falecida tia Jettie. Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava presa. Eu gostava muito do Sr. Wainwright para deixar a Livros Especializados. Apesar de eu ser basicamente uma balconista sem glória com dois diplomas avançados eu fiquei com a nítida impressão de que o Sr. Wainwright tinha começado a depender de mim. Ele estava fazendo cada vez menos na loja, abrindo mais tarde, indo para a cama mais cedo no seu pequeno apartamento sobre a loja, e deixando-me para fechar. Eu não podia abandoná-lo. Se eu dissesse aos meus pais que estava tendo problemas de dinheiro, mamãe iria, bem, eu não acho que ela insistiria para eu voltar a morar com eles agora. Mas eu tenho a certeza de que a minha vida, liberdade, e busca de limites saudáveis seriam violados de alguma forma. E apesar de o Gabriel ter feito repetidas ofertas para me ajudar financeiramente, isso simplesmente não era a bagagem que eu queria que o nosso relacionamento tivesse. A maioria das relações entre Sire e iniciado não são tão complicadas como a nossa. Gabriel é escuro e intenso, obsessivo ao ponto de estar à beira de ser assustador. Alguns caras trazem-lhe flores e doces; outros vingança bíblica exata, ao empurrarem árvores em cima de caçadores bêbados que deram um tiro fatal em você. Eu sou mais uma pacifista de granola crocante, que é o porquê de eu achar isto um pouco perturbador. OK, foi um pouco quente, mas principalmente perturbador. Eu sabia que Gabriel não era do mal. Para que conste, nem eu era. Vampiros têm a mesma capacidade para o bem e para o mal que os humanos. Para ser justa, as pessoas podem perder algumas noções de etiqueta quando não estão mais respondendo aos limites morais da sociedade humana... e começam a ter sede de sangue. A ideia fundamental é que se tiver inclinações para o mal em vida, provavelmente vai abraçá-las inteiramente quando for não-morto. Se foi uma pessoa decente, digamos uma ex-bibliotecária que adora a América e cachorros, provavelmente será um vampiro honesto e quase vegetariano. Levou alguns meses para que eu e Gabriel pudéssemos atravessar os confusos sentimentos que se seguiram ao assassinato de Bud McElray. Como humana, eu nunca estive apaixonada. Eu estive algum tempo com alguns dos meus


32 namorados, mas eu nunca tive aquele sentimento de Uou, esta é uma pessoa com quem eu podia passar o resto da minha vida. E apesar de Gabriel ser uma das poucas pessoas com quem eu poderia passar o resto da minha longa, longa vida, eu não conseguia pensar nele como sendo uma situação permanente. Ele me salvou. Ele matou por mim. Mas eu não conseguia aceitar que alguém como ele poderia estar interessado em mim. Gabriel era tudo o que eu não era. Sofisticado e complicado e capaz de coordenar uma sala por cores de tal forma que não iria acreditar. Eu desejava-o com uma luxúria tão profunda nos meus ossos que uma vez eu reservei apenas para trufas Godiva. Eu estava obcecada, não apenas no sentido físico - no entanto esse era um bônus óbvio e ocasionalmente me distraia - mas com o que ele pensava, como ele vê o mundo, como ele me via. Era viciante me ver refletida nos seus olhos de prata líquida, como sendo forte, bonita, inteligente, interessante, embora ligeiramente exasperante. Mesmo quando estávamos juntos, tudo o que eu conseguia pensar era não próxima vez em que poderíamos estar juntos. Eu precisava de ordem. Eu precisava de habitualidade. Mas estar com Gabriel era como estar no centro de um redemoinho girando, a água escura circulando-me, era estonteante, poderoso, e lindo. Mas durante todo o tempo, eu não podia evitar sentir aquelas paredes espumosas e agitadas fechando, ameaçando fechar-se sobre mim e me esmagar sob o seu peso. Eu não conseguia encontrar pé14 neste relacionamento. Não ajudava que Gabriel continuasse deixando a cidade em viagens de negócios como agora, a terceira excursão em poucos meses. Agora que ele não estava mantendo as vigílias constantes de Manter Jane viva e fora de problemas, Gabriel estava passando algum tempo compensando o atraso com os seus interesses de negócios. Ele era o proprietário de três emissoras de rádio na região Sudeste, além de um hotel em Atlanta, um restaurante de marisco em New Orleans, e um mini campo de golfe em Biloxi. E esses eram só os empreendimentos no país. Eu sei que soa como o portfólio de investimentos de Tony Soprano15, mas para ser justa, ele teve mais de cem anos para diversificar. Vampiros mais antigos investem fortemente em imobiliários, pesquisa médica, música, publicações e mídia humana. É o que tem ajudado a manter o nosso disfarce por dois milênios. Não é uma conspiração nem nada, estamos apenas tentando evitar que as pessoas nos joguem fogo durante o sono. Se nós controlássemos tudo, acha realmente que o Lifetime Network teria um show de um detetive vampiro?

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Refere-se a quando estamos na água e temos pé, tocamos o chão, para termos segurança, como uma âncora. 15 Personagem do seriado os Sopranos, que é um chefe do crime e tem várias empresas


33 Então Gabriel flutuava dentro e fora do meu mundo, deixando-me pensar que podia lidar com a vida sem ele, só para aparecer algumas semanas depois e me deixar louca novamente. Eu era frequentemente deixada inquieta e divagando sobre onde ele estava e o que ele não estava me dizendo. Eu era excelente inquietando-me e divagando. Se eu ligava, ia para o correio de voz dele. Se ele ligava, era sempre pouco antes do amanhecer, quando eu estava caindo no sono e não tinha a capacidade mental para lhe perguntar muito. Isto combinado com uma dolorosa imaginação ativa, levou a cenários que teriam feito esse show do Lifetime muito orgulhoso. E, obviamente, ele tinha que voltar para casa da sua última viagem numa terça-feira à noite para me encontrar usando o meu suéter "trabalho doméstico" e um lenço sujo em torno da cabeça. — Já discutimos a regra do ligar antes? — perguntei quando abri a porta, suprimindo um sorriso frívolo. Gabriel tinha sido incrivelmente bonito mesmo nas fortes luzes néon do Shenanigans na primeira noite que eu o conheci. E agora que eu tinha visão nítida de vampiro, eu podia apreciar plenamente o sonho leonino que era o meu Sire. Lá estava ele, usando o seu preto completo, na versão de Johnny Cash16, com os seus fluidos caracóis pretos encaracolando no seu colarinho. Os seus lábios cheios e suaves franzidos pela minha rude saudação, e um lampejo de calor refletido de volta para mim naqueles claros olhos cinzentos. Apesar da sua resistência habitual, ele parecia cansado. Havia um indício mínimo de sombras sob os seus olhos. E mesmo para um vampiro, ele parecia bastante pálido. — Olá, Gabriel, é encantador te ver — ele respondeu numa voz feminina, que francamente, não soou nada como eu. — Eu senti terrivelmente a sua falta. Como foi em Nashville? — Olá, Gabriel, é encantador te ver — eu repeti num tom explicitamente agradável. —Como foi em Nashville? Já discutimos a regra de ligar antes? — Posso entrar? — ele perguntou, sustentando um refrigerador de espuma com o seu quadril. Uma garota não podia evitar apreciar como aquelas coxas ficavam bem em denim preto. Fiz uma pausa para lhes dar a reverência merecida. Abri mais a porta, e depois parei-o com uma mão em seu peito. — Espera. Você tem esse olhar de temos que conversar no teu rosto, o que geralmente significa que eu vou ser acusada de algo. 16

Foi um cantor e compositor norte-americano de música country, conhecido por seus fãs como "O Homem de Preto"


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— Por uma vez, não. — Ele avançou contra a minha mão. Eu empurrei-o de volta. — Isto está ficando pesado. — Você tem super força — eu disse, sorrindo apesar de mim mesma. — O que está no refrigerador? — Um presente. — Ele abriu o topo e mostrou orgulhosamente uma dúzia de garrafas de plástico de sangue de meio litro acondicionadas em gelo seco. Eu inclinei a cabeça e estudei-o pensativamente. — Da próxima vez que for às compras para mim, leva a Andrea. Ele levou o seu fardo para a cozinha, onde cuidadosamente guardou os seus tesouros na geladeira desprovida de comida. — Isto é do melhor da Cruz Vermelha — ele disse. — Testado, analisado, e aprovado por um laboratório na cidade. — Isso é maravilhoso, mas porque o trouxe para cá? — Não posso fazer algo agradável? — ele perguntou, claramente ofendido. Eu encarei-o. — Você pode ter começado por baixo e prosseguir para o sangue humano. — Eu me preocupo com sua alimentação — ele disse enquanto vasculhava o conteúdo do meu patético frigorífico. — Eu quero que beba meio litro deste todos os dias. — Eu já te disse que me deixa desconfortável quando ultrapassas aquela linha entre papai/namorado, certo? — eu disse. Ele ergueu garrafas meio vazias de xarope Hershey's e creme irlandês de Bailey. — Isso é só para dar sabor! — Eu tenho medo de que esteja se acostumando muito a beber sangue sintético, Jane — ele disse. — É apenas um desenvolvimento recente, e a produção poderia parar com a virada da maré política. E depois como seria? — Iria ao eBay, procurando restos? — Eu adivinhei.


35 — E se estiver muito longe de uma loja para obter um suprimento? E se o suprimento estiver contaminado? Você precisa se tornar mais confortável em beber sangue humano, alimentando-se de indivíduos vivos. Ele silenciou-me quando abri a boca para protestar. — Eu sei como se sente sobre a alimentação a partir de seres humanos, mas eu quero que tenha as habilidades que precisa para sobreviver. Apenas no caso. Eu quero que seja capaz de caçar por si própria. — Então, eu sou como um urso domesticado, e você está me preparando para me libertar na selva? — Sim, essa é a pior maneira possível que poderia ter usado para ver este gesto, obrigado — ele murmurou, afastando o refrigerador. — Obrigada — eu disse finalmente. — Eu aprecio o fato de ter pensado em mim enquanto esteve fora. — Em cada momento disponível — ele prometeu, aproximando-se para um beijo. Eu parei-o. — Tem certeza de que não está me acusando de nada? Alimentação através de idosos? Chutar crianças? Roubar doces de bebês? Ele era sombriamente fofo quando estava indignado. — Não é um mau presságio toda vez que venho. — Tem razão — concordei. — Estou sendo rude. A que devo o prazer? Em tom muito sério, ele disse — Eu acho que deveríamos fazer sexo outra vez. — O quê? — Eu ri. Não consegui evitar. Gabriel e eu não tínhamos conseguido 'namorar', por assim dizer. Namorar um vampiro é difícil, mesmo se for um vampiro. Quero dizer, não é como se pudéssemos sair para jantar como um casal normal. Nós não comemos. Nas raras ocasiões em que ambos estávamos numa das nossas casas e algo podia acontecer, o Zeb e a Jolene ou a Andrea ou o Dick apareciam, e o nosso encontro tornava-se uma reunião de grupo. Por muito que eu adorasse ter um grupo íntimo de diversos amigos que entendiam as minhas necessidades especiais, eles são um bando de assassinos de clima.


36 — Acho que deveríamos fazer sexo outra vez — ele repetiu. — Eu acho que nós já restabelecemos o nosso relacionamento e amizade. Eu acredito que começou a confiar em mim novamente. Eu sei que me quer. — Isso é um pouco presunçoso — eu lhe disse. Ele não estava errado, mas mesmo assim era presunçoso. Obviamente irritado por eu não pular nele bem ali e naquele momento, ele acrescentou — além disso, a primeira vez foi um pouco apressada, e eu não acho que fui capaz de demonstrar toda a extensão da minha, ahn, técnica. — Então, acha que devíamos ter O Tempo da Diversão Alegre e Despida porque eu não pude ver todos os seus movimentos? — eu disse, mal conseguindo conter uma segunda risada quando ele me apoiou contra o balcão. — Você não pode simplesmente dizer algo assim. Tem que me levar para jantar fora ou algo assim. — Aqui. Ele procurou na geladeira e tirou um frasco de A-negativo. — Bebe isso. Eu arqueei uma sobrancelha para ele. — Você realmente não entende o conceito de namoro moderno, não é? — Bebe — ele ordenou. Fazendo-lhe a vontade eu abri a tampa e bebi um longo gole de sangue doado suave e luxuriosamente saboroso. Provar sangue humano genuíno depois de meses de sintético sempre me deixa um pouco tonta. Uma sensação de pequenas alfinetadas, nervos disparando ao longo dos meus braços e garganta, fazendo-me inclinar mais pesadamente contra o balcão para me orientar. Gabriel tirou o frasco da minha mão ligeiramente trêmula. — Agora, me beija. — Eu não sou uma lâmpada, não pode simplesmente ligar o interruptor e acender... Gabriel segurou o meu rosto entre as suas palmas e apoderou-se dos meus lábios, as últimas sílabas da minha frase abafadas na sua boca. — Eu vou mudar a frase anterior — admiti, enquanto recuávamos para a sala. — A sua tia está aqui? — ele perguntou, puxando a minha camiseta.


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Eu balancei a cabeça. — Encontro quente fantasma. — Eu acho que... gah! — Distraído pelo fecho frontal do meu sutiã, Gabriel tropeçou num escabelo e virou uma mesa lateral. — Seria bom fazer sexo sem quebrar nada, o que acha? — eu perguntei, espreitando para baixo, para ele ao lado da mesa. Gabriel sentou, esfregando a testa onde eu tinha batido com a minha antiga cópia de capa dura de Razão e Sensibilidade. — Não leu isto já uma dúzia de vezes? — perguntou, folheando as páginas. — Temos que te fazer uma intervenção literária. — É Jane Austen, por isso eu vou fingir que não te ouvi dizer isso — eu disse, aproximando-me dele e tirando-lhe o livro das mãos. — Nunca pode ler Jane Austen vezes demais. E este é um dos meus favoritos. Ela consegue dar um final feliz credível ao que poderia ter sido a história mais triste dela. Ela podia ter deixado as irmãs Dashwood sozinhas, aprendendo as suas lições por si mesmas. Marianne podia ter sido deixada sozinha e arruinada pelo seu comportamento dramático e impetuoso. Elinor poderia ter levado a sua calma dignidade para o túmulo de uma donzela. Mas ela deu-lhes os homens que elas queriam ou, no caso de Marianne, que precisavam. Austen deixou que ambas tivessem um pouco mais do que mereciam. — Eu adoro quando fala de livros — ele murmurou contra o meu pescoço. — Fica toda excitada. Rápido, diz-me todas as tuas teorias sobre Jane Eyre 17 e a repressão sexual outra vez. A minha gargalhada foi silenciada pela pressão da boca de Gabriel. É incrível como é muito mais fácil estar nua na frente de outra pessoa quando tem um pouco de autoconfiança. Para atrair as presas, os vampiros geralmente são mais atraentes do que foram em vida. Então eu ganhei o Bilhete Dourado das leitoras ávidas do ensino médio. A minha pele estava mais clara. O meu cabelo mudou para uma cor realmente desejável encontrado nas morenas e fazia o que era suposto fazer na ocasião. Os meus olhos, que eram cor de avelã lamacenta e normal, eram agora avelã clara e cativante. Os meus dentes eram mais brancos. E o meu peito estava na posição levantada e apertada para sempre. Eu nunca teria que me preocupar com flacidez. Se mamãe admitisse que eu era um vampiro, até ela teria que admitir que o meu novo estado combinava comigo. 17

Jane Eyre é um romance da escritora inglesa Charlotte Brontë publicado em 1847.


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Apesar de que provavelmente mamãe não iria especificamente referir o negócio do peito. Encorajada pela minha recém adquirida confiança, eu pulei sobre o sofá e atirei-me para Gabriel, rasgando alegremente os botões da camisa dele. Ele estava muito ocupado em tirar as minhas meias lentamente para reclamar. Ele sorriu loucamente aos meus pés. — O quê? — eu perguntei, esperando que depois de tudo isto, eu não tivesse acidentalmente me apaixonado por um cara com fetiche por pés. — É só que eu nunca sei de que cor as suas unhas do pé serão — ele disse, acariciando o meu peito do pé e beijando o meu tornozelo. — Será um rosa delicado? Um vermelho contemplativo? Uma cor de ameixa brincalhona? — Os meus pés são como uma campainha sobre o meu humor. Bom saber. Agora, eu creio que estava beijando o meu tornozelo de uma forma muito agradável. Sinta-se livre para continuar — eu ordenei, ondulando os meus dedos recém pintados. — O que é isso? — ele perguntou, olhando com horror para o tom virulento de polpa de pêssego nas minhas unhas do pé. — Eu tive que misturar três tons diferentes para encontrar um pêssego que combinasse com os vestidos de madrinha. Eu fiz um teste experimental para ver se o meu corpo iria tolerar a cor. — Uou — Gabriel disse silenciosamente. — Cala a boca — eu disse, jogando os restos da camisa dele num cesto do lixo. Ele aproveitou a vantagem deste lapso de concentração para me puxar para o seu colo, envolvendo as minhas pernas em torno da sua cintura. Eu sorri para ele, colocando o seu cabelo atrás das orelhas. — E que tal tentarmos chegar a uma cama desta vez? Gabriel não respondeu, pois a sua boca estava ocupada, raspando as suas presas gentilmente sobre a curva do meu peito. Eu amava e odiava quando ele fazia isso. Amava porque ele estava me provocando, brincando comigo, me lembrando de cada prazer escuro que ele podia infligir. Odiava porque reduzia todo o meu mundo a um pedaço de pele sensível, me fazendo esquecer de tudo - orgulho, razão, da habilidade de conter barulhos bizarros como esses vindos de um pássaro.


39 A minha única defesa era enrolar os dedos nos seus cabelos pretos, puxar a cabeça dele para trás e sugar o seu lábio inferior. Ele gemeu na minha boca. — Injusto. — Tudo é justo no... ummph. — Eu grunhi quando ele sufocou a minha boca com a sua e me levantou. — Está vestindo coisa demais — sua voz baixa vibrava através da minha garganta. Ele se recusou a afastar os lábios da minha pele enquanto rasgou ao meio a minha velha camiseta do acampamento 4-H pela frente e a atirou no cesto que tinha a sua camisa. Eu olhei para ele. Ele encolheu os ombros, puxando o lenço da minha cabeça e sacudindo o meu cabelo para ele ficar solto. — Tudo é justo. Nós estávamos rindo como loucos enquanto nos despíamos um ao outro, jogando as roupas descuidadamente pela sala. Gabriel continuou a dar bom uso aos meus nervos sensitivos ao afagar a linha das minhas costas com os seus dedos longos. Eu nunca parei de beijá-lo, profundamente, docemente, beijos quentes que me deixaram confusa sobre onde os lábios dele começavam e os meus acabavam. Um dos inconvenientes de viver numa casa da Guerra Civil é saber que não importa o que faça lá, já foi feito antes. Nunca é o primeiro. Bem, eu estou bastante segura de que fui o primeiro Early a fazer qualquer uma dessas coisas na grande escada, antes uma parte de destaque no Tour de Primavera de Half-Moon Hollow às Casas da Sociedade Histórica. Numa nota não relacionada, eu estava realmente feliz por ter feito aquelas aulas de ioga com a Andrea. Sem elas, eu poderia não ter tido a força e flexibilidade necessárias para me equilibrar nas escadas com os meus braços enquanto Gabriel levantava os meus quadris e se afundava profundamente dentro de mim. Eu joguei a cabeça para trás, suspirando, contentada. Como eu poderia ter esquecido o quão bom isso era? O quão completa e cheia ele me fazia sentir? Eu mal notava que com cada estocada, eu estava um degrau mais perto do topo da escada. Eu arqueei as costas, rodando eroticamente a pélvis até que ele empurrou contra o pequeno botão sensível de nervos. Eu passei os braços em torno do pescoço dele por impulso, aterrando duro nas minhas costas sem o apoio dos braços na escada. A força fez-nos descer dois degraus, o impacto de cada solavanco enviando ondas de choque pelo meu corpo. Gabriel gemeu, a vibração da sua voz contra a minha


40 clavícula enviando-me sobre a borda. Eu segurei-me nele, gritando quando uma starburst18 vermelha explodiu atrás das minhas pálpebras. Ver o meu rosto quando atingi o climax teve algum efeito estranho sobre Gabriel. Gemendo baixinho na minha orelha, ele me pediu para que eu abrisse os olhos. Eu obedeci para encontrá-lo me observando, memorizando cada detalhe do meu rosto. Eu virei o rosto na sua palma e mordi a pele sensível entre o polegar e o indicador com os meus dentes afiados. Ele gritou, surpreso, e sorriu obscenamente mesmo antes de estremecer sobre mim. Nós descemos pelas escadas, um degrau de cada vez. Nós deslizamos até pararmos no terceiro degrau. Eu suspirei. — Eu senti saudades. — Isso é o que um homem gosta de ouvir — ele disse, puxando-me para o seu peito e aninhando-se na curva do meu pescoço. Eu deixei sair uma respiração desnecessária. — Isso foi exatamente como a nossa primeira vez, sem todas as cacetadas e sangramentos. Eu sei que não discutimos isso, mas eu totalmente ganhei aquela luta. — Eu admiro a sua natureza competitiva e otimismo, mas de maneira nenhuma teria me vencido numa luta justa. Eu sorri. — Será que te faria sentir melhor se eu ficasse toda tradicional e te perguntasse o que está pensando, numa voz suave e hesitante? Porque neste momento, tudo o que eu estou pensando é 'woo', e se posso acrescentar, 'hoo'. — Entristece-me não saber se isso é o impressionante efeito colateral da minha técnica ou se é por estar passando muito tempo com Dick. Então... o que está pensando? — ele perguntou naquela falsa voz feminina mais uma vez, pressionando beijos ao longo do meu pulso. — Porque eu duvido muito que 'woo' e 'hoo' seja tudo o que está passando nesse massivo e fervilhante cérebro. Apoiei o meu queixo no seu peito. — Quer realmente saber? Porque a cada momento quando estou contigo, eu tenho um milhão de questões em volta da minha cabeça. Coisas que, francamente, eu estou um pouco envergonhada de não saber sobre você. Por exemplo, porque não tem sotaque? Você e Dick cresceram juntos. Ele tem um sotaque respeitável. Mas você parece vindo de lado nenhum, apenas um vernáculo pequeno de acento Britânico.

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É uma galáxia com uma taxa de formação de estrelas muito elevada, logo, extremamente brilhante


41 Ele empurrou o cabelo para fora do meu rosto. — Bem, você sabe o que eles dizem, 'Quando estiver em Roma...' — Tenta não soar como os romanos? — eu disse. — Não, eu estava realmente em Roma, e dizia 'y all’19 — ele disse. — Era difícil misturar-me com a multidão. Enquanto estava viajando, fiz o meu melhor para me livrar do meu sotaque - e do uso de 'y all'. Feliz agora? — Não, ainda há coisas que eu não sei sobre você, como por exemplo, qual era o nome do seu cão quando era um miúdo? Qual é o primeiro livro que se lembra de ler? Qual era a sua comida favorita antes de ser transformado? Gostava de panquecas? Qual é o seu filme favorito feito depois de 1970? Não diga Scarface20. — As Pontes de Madison21. — O quê? — Tudo bem, isto foi uma mentira. Eu gostei de Edward Mãos de Tesoura22 — Sério, um solitário com uma condição perigosa que o mantém à distância das outras pessoas — eu provoquei. — Muito original. — Ficaria mais feliz se eu dissesse Rocky? — ele resmungou. — Qual é o seu filme favorito, oh, protetora da integridade cinematográfica? — Todos os que estiverem prontamente disponíveis e tiverem Gerard Butler23 — eu lhe disse. — Exceto o PS: Eu te Amo. Até eu tenho critérios. Bem, as escolhas de filmes incompatíveis demonstram-no. Gabriel, como casal, eu diria que estamos condenados — abanei a cabeça com tristeza. — Espero que isso não seja verdade — disse ele, sorrindo. — Eu tenho planos a longo prazo para você.

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É uma palavra pronunciada como uma sílaba só, que soa como 'yawl' e é usada como um pronome para a segunda pessoa do plural, algo correspondente a ‘vocês’, que normalmente se acredita ter origem no Sul dos Estados Unidos 20 Scarface é um filme dirigido por Brian de Palma que representa o papel de um imigrante cubano que tenta formar um império de tráfico de drogas. O filme foi realizado em 1983. 21 Filme de gênero Drama/Romance, de 1995 dirigido por Clint Eastwood. 22 Filme de 1990, dos gêneros terror e fantasia, dirigido por Tim Burton. Foi estrelado por Johnny Deppl 23 Ator escocês conhecido por trabalhos como Rei Leônidas em 300, O Fantasma da Ópera, na versão cinematográfica de 2004 de O Fantasma da Ópera e Gerry Kennedy em PS, Eu te amo.


42 — Sério? — eu perguntei, e imediatamente me encolhi pelo espanto que ouvi na minha voz. — Claro que sim — disse ele, os seus olhos se estreitaram. — Não pensa em mim quando imagina onde estará daqui a um século ou coisa assim? Eu não faço parte dos teus planos? Eu abaixei a cabeça e me concentrei nos padrões do tapete. — Sim, mas é diferente. Eu nunca fui um vampiro sem você. Mas você tem estado assim há tanto tempo. Você sabe como são as relações entre os vampiros. Eu não. E você sabe como se dar bem sem mim. Às vezes eu me pergunto... — Pergunta-se o quê? — Eu me pergunto quando se cansará de mim — eu disse. — Quero dizer, isto não pode durar para sempre. Para mim, nada assim tão bom dura para sempre. E nós não temos qualquer tipo de... nós nunca realmente falamos sobre o longo prazo... eu vou parar de falar agora. Gabriel abriu a boca para protestar, e fechou-a em seguida. Depois de alguns momentos de consideração, ele deixou escapar — Isto é por eu nunca ter dito que te amo? — Não — eu disse, apanhada fora de guarda o suficiente para me embasbacar um pouco com ele. — Os vampiros são até capazes de amar? — Jane, isso me magoa — ele disse. — Não devia. Eu sinceramente não faço ideia. Eu amo os meus pais, eu amo o Zeb. Eu amo a tia Jettie. Mas eu tinha essas emoções antes de ser transformada. Como é que eu sei que elas não são apenas ecos residuais do que eu sentia quando era humana? Eu nunca me apaixonei por um homem quando era humana. Eu não estou segura de que reconheceria o sentimento. Eu realmente gosto de você. Isso ajuda? Ele fez uma careta. — Alguma vez esteve perto de se casar? — eu perguntei. — Quer se casar? Ele sorriu afetadamente para mim. — Isso é uma proposta? Eu ignorei-o. — Nós somos até capazes de casar? Legalmente?


43 — Não, não ainda — ele disse. — Se um vampiro estava casado antes de ser transformado, e a esposa ainda é humana, o casamento ainda é legal e válido. Levou quase dois anos para o conselho pressionar o Congresso para conseguir isso. Nós ainda estamos trabalhando em estabelecer direitos de pós-morte para vampiros. Nós estamos tecnicamente mortos, então os conservativos de cabeça dura insistem que não temos direito à vida, liberdade, e à busca de felicidade. Casamento, adoção, direito de voto... Eu ofeguei. — Nós não podemos votar? — Não percebeu isso em Novembro? Durante a eleição? — Claro que sim, porque eu votei... — eu protestei. — OK, pronto, eu não tentei votar. Eu esqueci-me. Eu sou uma pessoa horrível. Ele encolheu os ombros, acariciando a minha cabeça. — Bem, você tinha que ter defeitos. Não vota, não tem tato ou controle sobre a maioria das suas funções motoras nojentas... — OK, para com isso — eu disse, apertando o braço dele. — E para de tentar não falar sobre os seus sentimentos sobre o casamento. Alguma vez esteve perto de se casares? — Sim — ele disse, esfregando os olhos. — O nome dela era Mary Louise Early. Os pais dela eram amigos queridos dos meus pais. O meu pai queria acesso aos terrenos de pastagem deles. Era uma boa aliança. — Espera, então esteve comprometido com um dos meus antepassados? — afastei-me dele. — Ew. — É por isto que eu não te falo sobre o meu passado! Eu não sou enigmático e misterioso. Eu estou tentando evitar que faça... ow! — ele gritou quando eu o belisquei novamente. — Isso. Nós não estávamos oficialmente noivos quando eu morri. Nós estávamos prometidos, isso é tudo. — Dormiu com ela? Porque isso seria simplesmente estranho. Ele pareceu insultado por eu estar chamando o seu ‘eu pré-morte’ de tarado. — Claro que não! Nós nunca fomos deixados sem acompanhante. Ela usava doze camadas de roupa todas as vezes. E tinha uma risada que fazia os meus ouvidos sangrarem. — Hmmph. — Eu bufei.


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Silêncio constrangedor. — Então como foi Nashville? — eu perguntei. — O novo gerente é um idiota — disse Gabriel sobre o empregado da estação de rádio até a qual ele tinha viajado para o Tenesse para o 'conhecer' (tradução: gritar com ele numa voz de vampiro assustadora). — Ele é um fã de Jethro Tull24 e quer mudar o formato para soft rock. Eu vou, ou despedi-lo, ou fazêlo acreditar que é uma menina de nove anos das Garotas Escoteiras. — Ele acariciou o meu cabelo para tirá-lo do meu rosto. — Como está indo o planejamento do casamento? — Eu não quero falar sobre isso — gemi. — O vestido é tão ruim assim? — ele perguntou. Ele estava tentando parecer simpático, mas as presas de vampiro tendem a revelar sorrisos escondidos. — Bem, se te faz sentir melhor, pelo menos você não tem que ir à despedida de solteiro. Zeb disse que o Dick fez acordos para que possamos visitar o Booby Hatch na 'Noite de Amadores'. — Gabriel fez uma careta ao usar a palavra 'booby25'. — Você está dizendo para a sua namorada que vai a um clube de strip? — eu disse, estreitando os olhos para ele. — Sim. — Sabe o que acontece nos clubes de strip? — eu perguntei. Ele riu. — Tenho certeza que vai correr tudo bem. Consumimos algumas bebidas, arranjamos-lhe algo para comer, e o levamos para casa. — Você honestamente não entende como funcionam os clubes de strip, não é? Gabriel bufou. — Então, como é que o casamento de Zeb está te levando para o abismo da loucura? — É a coisa toda — eu resmunguei. — Não é que eu não goste de Jolene. Na verdade, eu estou bastante segura de que gosto mais dela do que teria gostado de qualquer outra que casasse com Zeb. Com a exceção de ela estar constantemente 24 25

Jethro Tull é uma banda de rock formada em Blackpool em 1967 Palavra derivada de ‘peitos’, por isso a careta


45 comendo na minha frente, eu gosto de tudo nela. Ela é legal e engraçada e obviamente ama o meu amigo. É apenas que... — Ela te deixa louca — ele ofereceu. — Um pouquinho — suspirei. — Eu acho que você se habituou a ser a influência feminina na vida de Zeb — Gabriel disse, me abraçando. — Não há nada de errado nisso. Eu acho que a amizade de vocês é uma coisa linda. Mas ele entendeu quando começou a passar mais tempo comigo, e ele facilitou para que eu fizesse parte da sua vida. Eu ficaria muito desapontado contigo se não fosse capaz de fazer o mesmo por ele. — Ótimo. Eu vou seguir a rota madura. Mesmo que tenha que me internar em algum tipo de instituição mental para vampiros imediatamente após a recepção. — Jane? — disse ele, enrolando os braços e pernas ao meu redor. — OK, já deixei o assunto ir. — concordei, jogando com as extremidades encaracoladas do cabelo dele. — Agora que eu tenho a sua atenção, eu acho que devíamos testar essa resistência de vampiro de que eu tanto ouço falar. — E pensar que era uma bibliotecária inocente quando te conheci. — Gabriel soltou um suspiro. — Criei um monstro. Eu sorri, minhas presas se estendendo sobre os meus lábios. — Em mais de uma forma. Bem, eu finalmente consegui a minha vingança por todas aquelas vezes que encontrei o Fred e tia Jettie. Ela chegou em casa e me encontrou no sofá usando apenas a camiseta de Gabriel, e sentada no colo de um homem muito nu. Eu sempre estive desapontada por River Oaks não ter uma grande história de fantasmas ligada a casa. Claro, agora tem. Tia Jettie. Jettie era o meu sistema de segurança pessoal durante o dia. Ela me acordava quando alguém, como por exemplo, entusiastas ladras de antiguidades de família como a vovó Ruttie e Jenny, tentavam entrar na casa. Ela também expulsava vendedores de porta e evangélicos com sensações vagas de mal-estar e barulhos assustadores. A menos que tenha algum tipo de habilidade psíquica, os fantasmas decidem quando querem que os veja. O que é bom, porque eu não acho que iria querer andar por aí vendo pessoas mortas em cada esquina. Justo quando Jettie tinha decidido deixar Gabriel vê-la, ela estava vendo um monte dele. Sempre preparado para tudo, ele envolveu um


46 cobertor em torno da cintura e manteve uma conversa perfeitamente civil com ela. Mortificação total forçou-me a bloquear a maior parte da conversa das minhas memórias. Eu sei que ela utilizou a expressão 'limpeza a vapor' um monte de vezes. Gabriel prometeu ligar e desapareceu. Havia praticamente um buraco em forma de Gabriel na porta. — Onde esteve? — perguntei, mãos nos quadris. — Eu não te vi durante quatro dias. E depois simplesmente aparece do nada sem um 'como tem passado'? Vou ter que te castigar para que passe algum tempo comigo? É por causa daquele cara que tem visto, não é? — Eu não quero falar sobre isso — Jettie bufou. — O seu avô Fred está se tornando um asno na sua idade pós-velhice. Nós passamos os últimos três dias discutindo. Sabe o quanto é difícil ganhar uma conversa com um homem que já não teme a morte? Eu assenti. — Por acaso, sim, eu sei. — Se vamos falar de garotos, podemos discutir o fato de Gabriel usar calças em todas as outras visitas aqui? — Jettie perguntou. — Não. Em vez disso, eu vou mudar de assunto e vou anunciar que há uma potencial nova adição à população fantasmagórica de Half-Moon Hollow. O Vovô Bob morreu na terça-feira. Vovó Ruttie disse que houve algum engano com a mistura da medicação. — O inferno que foi — Jettie gargalhou. — Fred disse que todo o campo de golfe já sabe. Bob Jessup morreu porque não conseguiu fazer bem a dosagem dos seus 'pequenos comprimidos azuis' e tomou muitos. Aparentemente, era o aniversário deles, e Bob queria subir para a ocasião. — Oh... oh, apenas, oh. — estremeci, batendo as mãos sobre os meus lábios. — Eu acho que acabei de vomitar um pouco na minha boca. Bob ainda está vagando por aí? — Oh, não, ele seguiu em frente. Ele só fez uma pequena parada na casa do filho para se despedir. Por acaso encontrou-se com Sago Raines, que tem estado assombrando o lugar por anos. Eles falaram um pouco antes de ele ir para a luz. Sago estava no campo de golfe espalhando as notícias mais rápido do que consegue dizer 'disfunção erétil'. — Lalalalalalala. — eu cantei, pressionando as mãos nos meus ouvidos, mas eu não conseguia evitar ouvi-la.


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— Eu só desejava poder ir conversar com Ruthie tempo suficiente para lhe dizer que todas as almas mortas de Hollow sabem que o seu querido falecido tinha que ter ajuda farmacêutica para... — Chega! — chorei. — Primeiro, você e o Vovô Fred, e agora... simplesmente chega. Eu furaria eus próprios tímpanos, mas eles apenas voltariam a crescer. — Preconceituosa — Jettie zombou. — Exibicionista — eu retorqui. — Eu acho que não pode dar ao luxo de atirar pedras quanto à nudez aqui, coração. Eu assenti. — Touché.


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Capítulo 4 Devido ao desejo de acasalamento para toda a vida, lobisomens não se ajustam bem à viuvez. Em alguns casos, o companheiro sobrevivente morre de dores de luto. Rituais de Acasalamento e Costumes de Amor dos Were

Talvez percebendo que Bob podia ser o seu último funeral como grande dama26, vovó Ruthie quis enterrar Bob em grande estilo. As cimeiras da NATO 27 eram menos tensas do que o planejamento deste acontecimento. Os filhos adultos de Bob alegaram que Bob, um ávido pescador, queria ser cremado, sendo que metade das suas cinzas deveriam ser espalhadas em Lake Barkley e a outra metade enterrada com a sua falecida primeira esposa. Vovó Ruthie, irritada porque poderia ser ultrapassada, insistiu que os restos intactos de Bob deveriam ser enterrados ao lado do seu 'complexo' de maridos enterrados no cemitério de Oak View. Ela fez uma cena tão grande na casa funerária que a chocada prole de Bob a deixou fazer as coisas da sua forma, para além do controle total do programa do funeral desde a abertura com 'Amazing Grace' até ao encerramento com a mistura 'It is Well with My Soul/Old Rugged Cross’. Havia apenas um lugar para esta bizarra paródia de luto: A Casa de Funerais de Whitlow, onde a vovó Ruthie tinha feito luto pelos seus maridos desde 1957. Na verdade, três gerações de Whitlows tinham ajudado vovó Ruthie a enterrar os seus maridos. E aparentemente, nenhuma delas sabia nada sobre decoração. Honestamente, quem acha que painéis de madeira escura, estofos de veludo azul, e imagens de Jesus em 3-D são reconfortantes? Com o seu status de 'cliente frequente', vovó Ruthie era tratada como uma rainha desde o momento em que entrava pela porta. Ela nunca ficou perto da máquina de Coca-Cola barulhenta e no sofá rachado na triste sala de família. 26

Personagem que representa o estereótipo de uma socialite idosa de alta sociedade Organização do Tratado do Atlântico Norte, por vezes chamada Aliança Atlântica, é uma organização internacional de colaboração militar estabelecida em 1949. 27


49 Quando o stress do luto público se tornou demais para suportar, vovó Ruthie retirou-se para o gabinete do Sr. Whitlow, onde ele a abasteceu com a sua marca favorita de biscoitos de manteiga e um amplo fornecimento de chá doce engarrafado. Sócios têm os seus privilégios. Visitas foram realizadas na noite antes do enterro, dando à comunidade a oportunidade de oferecer as suas condolências à família em luto e para dar a sua opinião verdadeira sobre o falecido fora do alcance da referida família. Vovó Ruthie foi abrigada na primeira fila da capela, enviando olhares petulantes aos filhos de Bob. Ela ainda estava fazendo beicinho pela sua recusa de última hora de deixá-la assumir o vídeo memorial ou a placa de fotos. De alguma forma, eles pareciam insultados por vovó querer centrar-se nos últimos cinco anos da vida de Bob, omitindo o primeiro casamento dele com a falecida mãe deles e a existência dos seus filhos e netos. Ela conseguiu a sua vingança fazendo um quadro memorial em forma de puzzle da Roda da Fortuna28 soletrando 'Ruthie Ama Bob' e colocando-o na tampa do caixão dele. Bob era um enorme fã da Roda da Fortuna. Com base na perícia, eu suspeitava que a minha irmã, Jenny, tinha uma mão nisto. Vovó Ruthie simplesmente não compreendia por que é que ela não estava recebendo a autoridade e respeito devido a uma viúva. Ela alegou ter dado a Bob alguns dos anos mais felizes da vida dele. O fato de que Bob tinha estado inconsciente ou hospitalizado na maior parte desse tempo parecia irrelevante. Vovó Ruthie e Jenny, já agora, ficaram um pouco irritadas com mamãe por resolver que eu devia ser envolvida no funeral. Eu teria estado tocada pela insistência de mamãe de que eu tivesse oportunidade para ficar de luto por Bob, mas eu estou bastante segura de que ela apenas queria ajuda para controlar o buffet no velório. Eu não comia, no fim de contas, então eu não me importava de manter os pratos cheios. O problema principal era que vovó insistiu em usar as suas peças boas de prata para servir (Do Casamento nº2), que foram misturadas com peças de aço inoxidável da casa do funeral. É de pensar que eu seria capaz de farejar o metal que me queima e faz coceira, mas toda a vez que eu movia um utensílio era como uma roleta russa. Por isso fiquei responsável pelos pratos. É uma lei não-escrita de Hollow que uma pessoa não podia ser enterrada decentemente sem a presença de ovos apimentados e algum tipo de queijo caseiro O assado de cachorros quentes da minha prima Junie também costuma estar

28

Wheel of Fortune é um game show exibido nos Estados Unidos que consiste em adivinhar palavras escondidas em um painel. O programa Roda a Roda é uma versão brasileira inspirada neste.


50 presente. São essencialmente cachorros quentes cortados, Tater Tots 29, alimentos de queijo processados, e creme de sopa de cogumelos, assado até que fique crocante. Ainda assim, é preferível ao queijo caseiro. Claro, para humanos, alimento é necessário para sustentá-los através da manopla de interações sociais. Se alguma vez conheceu alguém na família do falecido, é esperado que traga uma caçarola para o funeral e que passe pelo menos vinte e cinco minutos no velório. Isto significava que se eu quisesse atravessar a sala, eu teria que falar com todas as pessoas que já conheci em toda a minha vida. E eu não tinha ideia de quantas dessas pessoas poderiam estar escondendo estacas. Nem toda a gente em Half-Moon Hollow sabia que eu tinha sido transformada, mas muitos dos que sabiam olhavam para mim com um misto de medo e repulsa. Eu admito que passei muito tempo de vida ficando chateada com a minha comunidade humana, mas estar separada deles agora era solitário e isolado. O único lugar onde eu me sentia segura era em River Oaks, e antes que um grupo de garotos do ensino médio envolveu a minha varanda com novelos de alho seco. Foi uma forma incrivelmente boba e ainda assim surpreendentemente eficaz de me deixarem com medo na minha própria casa. Por esta razão e algumas mais, eu especificamente pedi ao Gabriel para não assistir o funeral. Não achei que esta fosse a ocasião adequada para apresentá-lo à minha família. Quando ele me perguntou que ocasião seria a adequada e eu permaneci em um silêncio estóico, acho que machuquei os seus sentimentos. Eu podia ver agora como poderia ter ajudado ter o meu Sire por perto. Após algumas sessões de treinamento tentando aperfeiçoar os meus talentos de leitura da mente, Gabriel e eu determinamos que eles apenas funcionavam em humanos. Na maioria dos humanos... em alguns dos humanos. Algumas vezes. Era bastante inconsistente. Ainda assim, depois de descobrir quantas pessoas secretamente não gostavam de mim dentro das suas cabeças, não ser capaz de ver dentro dos meus companheiros vampiros era uma espécie de conforto. De acordo com o enxame de pensamentos e cheiros bicando o meu córtex, alguns dos que estavam no funeral sabiam que eu era um vampiro, mas ele eram legais o suficiente para não mencionar. Ou pelo menos para mencionar silenciosamente por trás das suas mãos de uma forma que não era notada pelos outros que estavam lá chorando a morte de Bob. Essa é a delicada teia social de uma pequena cidade do sul. Eu sabia que eles sabiam. A minha família sabia que alguns deles sabiam. Eles sabiam que eu sabia que eles sabiam. Mas nenhum de nós

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Marca registada para uma forma comercial de batatas fritas, são reconhecidas pela sua forma cilíndrica, pequena e crocante.


51 disse nada porque isso causaria desconforto. E nós não somos outra coisa que não seja agradável... quando outras pessoas estão vendo. Zeb e Jolene estavam escondidos entre a multidão, ganhando pontos de presença para Zeb e a sua família, mas evitando o contato real com qualquer pessoa. Bastardo com sorte. Jolene, no entanto, trouxe um prato enorme de sanduíches e um galão de salada de macarrão da loja do tio dela, Os Três Porquinhos. Eu estava 99% segura de que isso significava que vovó Ruthie agora gostava mais dela do que de mim. Mamãe Ginger estava pairando sobre os miniquiches e olhando ameaçadoramente na direção de Jolene. Felizmente, a mamãe Ginger tinha estado 'muito doente' desde o anúncio do noivado de Zeb para contribuir com alguma coisa para o buffet do funeral — tudo o que ela fazia tinha gosto de queijo azul e cola. Era de pensar que ela estaria emocionada por seu filho estar casando com uma boa garota de uma família local, que não pediria ao filho dela que se mudasse para longe do seu coração e casa. Além disso, com os olhos cintilantes e lupinos dela e cabelo castanho-avermelhado, Jolene era linda daquele jeito feroz que simplesmente parecia injusto para todos aqueles de nós cujos genes se alinharam numa forma menos espetacular. Em vez disso, Zeb disse que ao ouvir o anúncio de noivado, mamãe Ginger o acusou de deixar 'o pequeno Zeb' fazer toda a parte do pensamento por ele. Floyd tinha assentido em acordo, mas foi mais numa forma invejosa de congratulação. Muito parecido com o iceberg que condenou o navio 'inafundável', o funcionamento visível dos planos do casamento Lavelle-McClaine eram apenas um vislumbre insignificante de manobras passivo-agressivas abaixo da superfície. Ser verdadeiramente não-gostada pela primeira vez na sua vida levou Jolene a um tipo de estado de pânico prolongado, onde ela fazia praticamente qualquer coisa para tentar fazer a mamãe Ginger gostar dela. Isto, naturalmente, apenas irritou mamãe Ginger como o inferno. Ela não criaria vínculos com Jolene. Ela simplesmente se recusava a fazê-lo, tal como ela se recusou a ir às compras para os vestidos de mãedo-noivo com a noiva pegajosa. Ela não iria almoçar com Jolene para discutir os arranjos florais ou a disposição dos assentos. Ela fingiu uma alergia ao glúten para se safar da degustação do bolo de casamento. Eu não tinha visto a mamãe Ginger desde que comecei a manter o horário noturno. Com cabelo com Henna30 e um penteado como um hidrante de fogo neurótico, a mãe de Zeb estava usando o seu vestido de enterros de Lycra justa preta, ofuscado por intrincados padrões de botões e imitações de diamante dourados. Havia um chapéu combinando, mas mamãe Ginger não ousaria cobrir o seu colorido, ondulado e enrolado penteado, que, como cabeleireira, ela 30

Tinta para cabelo.


52 considerava como a sua própria melhor propaganda. Mamãe Ginger, que nunca saía de casa sem a maquiagem completa e o delineador, normalmente me emboscava com um dos seus quinze batons pegajosos que ela mantinha no fundo de sua bolsa, para “me dar um pouco de cor”. Ansiosa para evitar uma cena em que eu seria deixada com uma camada de Risqué Red, eu afastei-me. O movimento chamou a atenção de mamãe Ginger, e antes que eu percebesse, eu tinha feito contato visual. Ahhh! — Jane! — Mamãe Ginger gritou. — Oh, querida, vem aqui e dá-me um pouco de açúcar! Do outro lado da sala, os olhos de Zeb se arregalaram quando mamãe Ginger me envolveu num abraço que geralmente me deixaria com cheiro de Jean Naté e Virginia Slims, só que desta vez, o cheiro de tabaco classe-de-senhora estava dramaticamente minimizado. Zeb atirou-me um olhar de desculpas e, em seguida, virou as costas e ocupou-se com algum ponche. Covarde. — Está tão magra! Você tem que ir ali e comer alguma coisa. Eu me preocupo com você, pobre menina solteira, sempre em alguma dieta maluca. Você precisa de alguém para quem cozinhar, querida. Isso colocará um pouco de carne nos teus ossos — mamãe Ginger impiedosamente apertou as minhas bochechas com as suas unhas cuidadosamente pintadas em acrílico. — Agora, como está, bonequinha? Me diz tudo! — Eu estou bem. Mamãe Ginger, parou de fumar? — eu perguntei, cheirando-a novamente. — Sim, eu parei! — ela chorou. — Como sabia? — Um... — Não diga cheiro. Não diga cheiro. Avistei um pacote de chicletes de nicotina na bolsa dela e acenei para ele com a cabeça. Mamãe Ginger deu uma risadinha. — Nunca vai acreditar nisso, mas eu fui à Madame Zelda na Rua Gaines. — A hipnotizadora/leitora de tarô que oferece leitura de mãos por cinco dólares no seu covil? — Essa mesma. Ela dá um curso especial de 'Sessões Livres de Fumo'. São cinco sessões de hipnose por duzentos e cinquenta dólares. Caro, mas funcionou.


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Mamãe Ginger tinha deixado dois maços de bitucas de cigarro manchadas de batom todos os dias desde que eu a conheço. Na verdade, uma vez ela acendeu um no meio do seu exame físico anual, logo após o seu médico lhe dizer que ela estava em risco de vir a ter sete tipos de câncer. As pessoas recebem as más notícias de maneiras diferentes. Eu só podia adivinhar que o fraco cheiro de cigarro ainda persistente na mamãe Ginger era a nicotina que tinha vazado para o seu ADN. — Eu estou mastigando este chiclete bobo — ela suspirou, rolando a manga para me mostrar um penso de nicotina em seu braço. — E eu apenas fumo depois das refeições, mas realmente, eu estou me sentindo muito melhor. Eu consigo andar o caminho todo até a caixa do correio sem uma pausa. Eu ficaria preocupada, mas honestamente, a combinação de fumo ocasional, mastigação, e, uh, aplicação de pensos provavelmente igualava a quantidade de nicotina no sistema de mamãe Ginger de quando ela fumava em tempo integral. — Eu nunca pensei que iria deixar, nunca quis — mamãe Ginger disse, ignorando o sendo comum do seu jeito seletivo habitual. — Mas o médico de Mamaw Lavelle colocou-a em um tanque de oxigênio, e ela grita que eu estou tentando matá-la se acendo um cigarro perto dela. Inferno, se eu fosse matar a mulher, eu teria trocado as pílulas dela para o coração por aspirinas há dez anos atrás. Eu olhei para ela de olhos arregalados. Ela corou e deu um riso agudo. — Zeb diz que tem um novo emprego. Gosta dele? — Ótimo... Não que eu não esteja contente por vê-la, mamãe Ginger, mas eu pensei que estava chateada comigo... — Eu olhei na direção de Hannah Jo, a cliente favorita dela e candidata a nora favorita, que estava emburrada em um canto com uma prato de ovos apimentados. — Oh, Janie! — ela sorriu indulgentemente para mim, afofando o meu cabelo. — Você sabe que eu nunca poderia ficar brava contigo, apesar de ter ferido os meus sentimentos. Você é o meu anjinho de muffin! Eu tinha esquecido os apelidos. Como eu poderia ter esquecido os apelidos? — Além disso, eu já não passo muito tempo com Hannah Jo, porque... eu não sabia — mamãe Ginger baixou a voz. — Que ela tem um problema de furtos. Toda vez que nós íamos à feira, ela saía com pacotes de meias debaixo da jaqueta. E


54 também, sabia que ela cortou relações com a mãe? Já nem fala mais com ela. Não a vê no Natal ou no Dia das Mães ou lhe envia cartões de aniversário. Consegue imaginar alguém ter um coração tão duro que corta relações com a mãe? — Uou... — eu me encolhi quando a realização me atingiu. — Então eu deduzo que já não quer que Zeb case com ela. Mamãe Ginger suspirou. — Não, eu só queria que Hannah Jo conhecesse Zeb porque ela é tão solitária, e eu pensei que como Zeb é um amigo tão bom para você, ele poderia ser um bom amigo para ela, também. O meu garoto é tão generoso, doce e amável. Ele tem que ser para aturar aquela — mamãe Ginger lançou um olhar de tiro na direção de Jolene. — Jolene é uma garota muito legal — eu disse. — Ela é muito boa para Zeb. Ele a ama muito. Eu acabei de dizer 'muito' três vezes, não foi? — Você é amável por dizer coisas agradáveis sobre alguém que tomou o que era teu por direito — mamãe Ginger beliscou as minhas bochechas novamente. — Mas não importa o quão levantada é a bunda dela, ninguém vai tomar o teu lugar no coração de Zeb. Você sempre será o seu primeiro. Ignorando o comentário sobre a bunda, eu perguntei. — O seu primeiro? — Amor, boba, você é o primeiro amor dele. Ninguém esquece o seu primeiro amor. Eu tinha uma vaga sensação de vertigem enquanto a mira maternal de mamãe Ginger se focava em mim novamente. — Eu te vejo mais tarde, mamãe Ginger. Eu preciso voltar... eu tenho que ir. — Nós vamos conversar em breve, bonequinha — ela chamou quando eu girei nos meus calcanhares, agarrei um frasco de chá gelado, e me foquei no palco principal, o banco da frente. Vovó estava resplandecente no seu tradicional vestido preto da Casual Corner Petites, mas ela subiu o jogo de nível com um chapéu decorado, abas largas, preto e um véu completo. Há muito tempo atrás, ela tinha descoberto uma combinação secreta de rímel e delineador à prova de água que lhe davam um olhar de Elizabeth Taylor que nunca manchava. Um laço de renda preta foi pressionado em seus lábios enquanto ela sufocava um soluço.


55 Onde mesmo é que se compra um lenço de renda preta? No Nós Somos Viúvas? Se ela estava assim tão produzida para o velório, eu lamentava profundamente não conseguir ver o traje de enterro dela. Por muito divertido que isto fosse, todo o processo do funeral tinha me deixado com um pouco de depressão filosófica. Apesar da 'oferta' de Jenny para me dar um enterro adequado, havia poucas probabilidades de que eu algum dia fosse ter um funeral. Se por algum acaso (envolvendo luz do sol, estacas, ou prata) eu realmente morresse, os meus únicos restos mortais seriam um montinho de pó. A menos que alguém fosse rápido com a vassoura, não haveria nada para colocar em um caixão ou urna. Não haveria buffet, nenhuma capela lotada, e, a não ser que o Reverendo Neel estivesse se sentindo muito caridoso, não haveria ninguém rezando por mim. Era muito mais provável que eu fosse ver todos os meus amigos e família morrerem. Eu iria assistir Zeb envelhecer e morrer. Eu iria ver os seus filhos envelhecerem e morrerem. Nada mudaria. Nada me surpreenderia. Estes pensamentos escuros e reconhecidamente auto-indulgentes e deprimentes não estavam me colocando no melhor estado de espírito para lidar com a minha avó, que no momento estava fungando no lenço preto e olhando para velhos amigos com olhos brilhantes e cheios de tormento. — Eu ficarei bem — ela choramingou. — Desde que eu tenha amigos e família à minha volta — ela olhou para cima e me viu parada por perto. — Jane, essas xícaras de café precisam ser lavadas. Essas eram as primeiras palavras que ela tinha dito para mim desde que descobriu que eu fui transformada. E elas eram completamente consistentes com o nosso relacionamento AM (antes da morte). Eu pensei no capítulo de Razão e Sensibilidade quando o Sr. Dashwood acaba de morrer. Marianne e a Sra. Dashwood estão dominadas pela dor. Elas se entregam totalmente à tristeza, procurando aumentar a sua miséria em cada reflexão que era possível fazê-lo, e determinadas a ir contra a admissão de qualquer consolo no futuro. Isso deixa Elinor para lidar com os seus parentes gananciosos. Não é dada a chance a Elinor para lamentar porque ela é a única capaz de lidar com todo o trabalho duro. Eu era definitivamente uma Elinor, menos a dignidade tranquila... ou a razão. Mas eu era segura, excessivamente analítica, e incapaz de fugir às responsabilidades excessivas. Por isso eu juntei as xícaras de café e mordi a minha língua.


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— Eu vou levá-las para a cozinha — murmurei. — E me juntar às outras empregadas na copa. Eu ergui a bandeja com uma mão e praticamente trombei com a minha paixão do ensino médio, Adam Morrow, um veterinário loiro, com covinhas e ridiculamente certo. — A-Adam! — eu gaguejei. — Oi! Pelo menos uma coisa permaneceu constante desde os meus dias de vida: eu ainda não conseguia encontrar nada para dizer a Adam Morrow. Enquanto contemplava a parte de trás do pescoço dele nas aulas de inglês, eu tinha sonhos onde Adam de repente percebia o quão luminosamente bela eu era, dentro e fora. Ele iria finalmente perceber que eu era mais do que uma garota inteligente com quem os atletas queriam fazer dupla em projetos escolares. Ele iria me perguntar onde eu tinha estado toda a sua vida. Houve também um cenário imaginado da noite de baile no qual eu não vou entrar em detalhes. E agora, tudo o que eu podia fazer era ficar de boca aberta e manter um aperto de morte na bandeja de xícaras de café sujas. — Olá, Jane — ele disse, sorrindo abertamente. — É bom te ver de novo. Já passou um bom tempo. — O que está fazendo aqui? — eu soltei. Woo-hoo, uma frase completa sem gaguejar! Adam estava carregando uma salada de sete camadas cuidadosamente guardada em um tupperware, embora como alguma coisa envolvendo ovos cozidos, bacon, maionese e açúcar poderiam ser considerados uma salada, eu não tinha ideia. — Mamãe me mandou trazer isto. Ela teve uma cirurgia dentária esta tarde e ainda está descansando com as pílulas para a dor. Ela lamenta não poder vir. — Isso foi muito atencioso — eu disse, aceitando o tupperware com a mão livre. — E pesado. Quanto bacon há nesta coisa? — Apenas o suficiente — ele riu, olhos azuis sem fim piscando. — E você? Está fazendo algo diferente com o cabelo? — ele perguntou, fitando-me atentamente. — Porque parece diferente. Ótima, mas diferente. Ele estava olhando para mim novamente, como se eu fosse um quebracabeças que ele estava tentando resolver. Aparentemente, a informação sobre o


57 meu estado não-morto ainda não tinha chegado a Adam. Por isso, por motivos que eu ainda não compreendia, eu menti através dos meus dentes aguçados. — Eu tenho feito atividades físicas — eu disse, sorrindo brilhantemente. O interesse dele pareceu aumentar ainda mais quando eu exibi os meus dentes. — O que tem feito? Como está a clínica? Ele encolheu os ombros largos. — Oh, você sabe, pacientes que me mordem e fazem xixi neles próprios. É um sustento. E você? Fiz uma careta. — Bem, eu tenho certeza que já ouviu que eu não estou mais trabalhando na biblioteca. A sua expressão alegre e em branco me deu a impressão de que ele era muito educado para reconhecer que eu estava sendo alvo de fofocas nas minhas costas. Eu continuei. — Agora estou trabalhando em uma livraria na Avenida Braxton. Eu realmente gosto do meu novo patrão. Nunca fiz vendas antes, mas eu posso trabalhar com livros novamente, por isso é ótimo. Eu mudei para outra fase da minha vida. Uma fase que não inclui tempo para ler histórias e fantoches. Adam riu, mostrando as suas covinhas para mim. — Você devia manter as suas opções abertas. Nunca se sabe o que pode acontecer. Como uma ferida de bala e um cara bem velho disposto a morder o meu pescoço para me salvar a vida. Isso era uma surpresa. Ao pensar em Gabriel, eu senti uma pequena pontada de culpa. Parecia errado fazer algo remotamente parecido com flertar. E ainda pior quando Adam disse: — Foi... eu... eu gostava de... gostaria de me encontrar para tomar café em algum momento? Bem, aí vem a grande pontada. Eu fingi um pouco, segura de que o tinha ouvido errado. — Eu sinto muito, pode repetir o que acaba de dizer? — Café — ele riu. — Gostaria de tomar café comigo em algum momento? Para nos atualizarmos, falarmos sobre os velhos tempos, partilharmos memórias embaraçosas, esse tipo de coisa. — Você quer dizer quando eu costumava te seguir nas danças da escola, tentando arrumar coragem para te pedir uma dança lenta do 'End of the Road'? Oh, merda. Isso foi em voz alta. Eu tenho que parar de fazer isto. — Não se preocupe — Adam riu. — É um pouco lisonjeiro.


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Eu ri também, muito mais como um mecanismo de defesa do que por diversão verdadeira. — Então, café? — Adam perguntou incisivamente. — Sim? Aí estava tudo o que eu tinha querido quando era humana posto numa travessa ante mim. Se tivesse me perguntado quando eu era adolescente "O que cumpriria toda a esperança e sonhos românticos no teu obsessivo coração adolescente?" Adam Morrow me convidando para sair cumpriria. Por muito que eu tenha tentado abraçar a minha vida de vampiro, era difícil deixar algo assim passar. Realmente me machucou quando eu tive que dizer. — Eu agradeço a oferta, mas eu estou namorando. Adam claramente não estava acostumado a ser rejeitado. Levou-lhe tanto para processar o fato de que eu tinha dito não como levou a mim para perceber que ele me convidando para sair não tinha sido uma alucinação auditiva. Ele finalmente disse. — Bem, não pode culpar um cara por tentar. Te vejo por aí, Jane. Após assistir um triste Adam seguir o seu caminho através da multidão do funeral, eu me ocupei reunindo pratos e talheres sujos. Eu tinha feito meio caminho para a cozinha quando uma afiada cotovelada lateral me fez guinchar e jogar os talheres. Pânico e os meus reflexos vampiros me fizeram apanhar as peças que caíam no ar. — Mãos rápidas — disse o meu tio Junior, aquele que acha que vir furtivamente por trás de mim e me assustar é a coisa mais hilária do mundo. — Isso só fica mais divertido e engraçado a cada vez que faz isso — eu retorqui, acotovelando-o através da pança para acertar nas costelas. — Ai, querida, ele não sabe fazer melhor — tio Paul disse, balançando a cabeça. — Mamãe deixou-o cair muito quando ele era bebê. Paul e Junior são irmãos de papai. Eu gostava de ambos, mas quando eu estava crescendo, eles estavam sempre ocupados com os seus enormes filhos, Dwight e Oscar. E eles realmente conseguiram se mudar para uma distância enorme de quarenta e cinco minutos de Half-Moon Hollow, então eu não os via muito, exceto em feriados. — Como está o meu doce baixinho? — Tio Paul perguntou.


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— Você tem mais de dois metros de altura, todo mundo é mais baixo do que você — eu disse, beijando a sua bochecha e seguindo a nossa usual 'comédia' de rotina. — Apenas espera até que a velhice te alcance, nós veremos quem ri por último. — A tua mãe disse-nos que teve alguns problemas de saúde — disse o tio Junior, que me abraçou forte o suficiente para quebrar costelas mortais. — Eu acho que poderia chamá-lo assim — eu disse, pensamentos suspeitos começando a rodar no meu cérebro. — Esses carrapatos de veado estão em toda a parte — Paul disse, abanando a cabeça. — É por isso que eu colo fita adesiva nas pernas das minhas calças e nas meias quando vou à caça do peru. Eu tinha acidentalmente entrado em um filme francês? Era como se eles estivessem tendo uma conversa completamente diferente. — Sim... — Mas existem tratamentos hoje em dia, não é? — Junior perguntou. — Não é suposto afetar o teu tempo de vida nem nada, não é? — Não, muito pelo contrário — eu murmurei. — Isso é ótimo, querida — ele disse, me afagando debaixo do queixo. — Eu odiaria pensar na minha sobrinha caindo por causa da doença de Lyme. Doença de Lyme? — Doença de Lyme31? — Eu pensei que suportaria a repetição fora da minha cabeça. — Nos diga se precisar de alguma coisa — disse o tio Junior. — Se esses médicos não te tratarem bem, nós chutaremos os seus traseiros. — Sabe, a maioria das nossas conversas termina desta forma — eu notei. — E nós sempre o dizemos verdadeiramente — tio Paul me assegurou. — Agora nós vamos dizer olá a tua avó e depois vamos dar um tempo difícil ao teu pai.

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A doença de Lyme é uma infecção transmitida pelos carrapatos que pode provocar uma doença grave.


60 Eu me virei e me fixei em uma mulher que estava ao mesmo tempo servindo café e sorrindo afetadamente. Mamãe. — Eu os vejo mais tarde. Atravessei a sala o mais silenciosa e sutilmente possível. Papai viu 'aquele olhar' no meu rosto, pegou o meu braço, e me puxou para um canto tranquilo. — Querida, seja lá o que esteja prestes a dizer a sua mãe, tenho certeza que ela merece, mas isso é um funeral. A família de Bob, pelo menos, merece o nosso respeito. — Papai, como o único membro sensato da minha família, eu te amo e respeito a sua opinião. E é por isso que eu vou resolver a situação tranquila e calmamente em um canto agradável e privado, onde eu não vou fazer uma cena... — o tom estranhamente calmo fez com que papai largasse o meu braço antes de me ouvir dizer. — Enquanto eu lentamente a estrangulo. Quando ele gritou — Jane! — em um tom de aviso, eu já tinha agarrado mamãe de um bando de aborrecidas senhoras de igreja e a tinha arrastado para uma alcova. — Doença de Lyme, mamãe? Sério? — O quê? — mamãe perguntou, a imagem de inocência. — Você disse aos meus tios que eu tenho doença de Lyme! — Eu lhes disse que tinha tido alguns problemas de saúde — ela balbuciou. — Eles apenas assumiram que era doença de Lyme. — Ninguém assume que tem doença de Lyme — eu sussurrei. — Como é que apenas se assume doença de Lyme? Eu sei que isto não tem sido fácil para você, mamãe. Eu sei que está envergonhada por eu ser diferente. Eu sei que levou meses para arrumar coragem para ficar perto de mim sem estar com medo ou vergonha. — Eu não tenho vergonha de você — mamãe insistiu. — É só que toda essa gente faz essas suposições sobre mim e o teu papai. Eu sei que não é verdade, mas é tão difícil saber que as pessoas estão me olhando e julgando e sussurrando. — Mas não é como se isto me fizesse o membro mais escandaloso da família. Eu estou incomodada pelo fato de Junie conseguir pegar solteiros sem usar as mãos dela enquanto trabalha no Booby Hatch32. Mas eu digo alguma coisa? Não.

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Bar de strip.


61 Foi nesse momento que eu percebi que estávamos paradas perto de um pódio. Um pódio com um microfone. Um microfone que estava ligado. Droga. Nós nos viramos para encontrar a maioria das pessoas de luto nos observando, horrorizados. E a minha prima Junie não parecia muito contente comigo, também.


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Capítulo 5 Hostilidade em relação aos humanos masculinos se casarem com um membro do clã é um assunto a ser levado a sério. Potenciais pretendentes podem querer levar flor de acônico33 ou itens de prata em seus bolsos. Weres acham ambas as substâncias extremamente irritantes. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Apesar de Bob ter sido colocado para descansar em um dia nublado, eu optei por não ir a seu enterro. Eu pensei que poderia criar expectativas estranhas em mamãe. Tia Jettie, que apreciava o seu papel como minha espiã durante o dia, informou que o enterro de Bob era muito mais divertido do que as suas visitas. Vovó Ruthie de luto via-se como uma espécie pós-moderna de Julieta na pós-menopausa. Ela usava um chapéu com véu ainda maior para o cemitério e um vestido de crepe preto com uma saia cheia de fluxo, e as luvas no final. Eu acho que ela comprou na coleção de E o Vento Levou. Ela gemeu e gritou durante o percurso, gritou: — Por que, Senhor? Por quê? — durante a bênção final, e tentou roubar a bandeira por serviço do filho do Bob que foi dada pela guarda de honra. Além disso, ela exigiu assentos da fileira da frente para ela e seu acompanhante, Wilbur. Isso mesmo. Minha avó trouxe um acompanhante para o enterro do noivo. Ela tem muita classe, aquela Lady. Aparentemente ela conheceu Wilbur na Whitlow enquanto ele estava visitando um antigo companheiro de exército. Faíscas voaram, o tempo parou, e vovó Ruthie fez outra vítima. O lado positivo, eu acho que a presença de Wilbur pode ter sido a única coisa que a impediu de se arremessar para o túmulo em cima do caixão. Mas de alguma maneira, eu ter denunciado minha prima Junie como uma dançaria de meio período no Hatch Booby me tornou uma vergonha para a família. No enterro, vovó tinha declarado que não iria falar comigo até pedir desculpas a 33

Planta venenosa.


63 Junie. Eu achei isso estranho, considerando que Junie era uma prima do lado do meu pai da família e Ruthie era a minha avó materna. Mas vovó Ruthie gostava de noventa e nove por cento da população em geral, fora eu, então porque não os primos do outro lado da família? Durante o meu turno, naquela noite, tia Jettie entrou na loja para me dar todos os detalhes da encenação do cemitério. Ela estava no meio da encenação de uma declaração quando uma pequena mulher em um terno de calça de malha dupla entrou na loja para buscar uma encomenda feita por telefone. Tia Jettie sumiu. Ao telefone, a voz de Esther Barnes tinha soado profunda e acentuada. Em pessoa, ela era atarracada, com cabelo preto tingido, rugas profundas nas bordas dos olhos, e um anel de topázio enfumaçado do tamanho de um batente de porta. Sua voz era esganiçada e fina quando ela perguntou se eu tinha o "Pedido Barnes" pronto. Eu peguei a sua reserva da “Mente sobre a Matéria: Mantendo sua habilidade psíquica e a busca para a identificação interna” de debaixo do balcão e o entreguei. Havia algo estranho com Esther Barnes. Seus olhos estavam muito brilhantes, muito afiados. Sua boca era pequena, magra, apertada como se fosse de um pássaro. Da maneira que seu olhar estava percorrendo a loja, eu acho que ela estava calculando o valor de cada item. — Você é nova na cidade, sra. Barnes? — perguntei em meu tom leve e agradável, eu a vi pesar uma frágil lâmina cerimonial de ametista com as mãos de ainda mais frágil aparência. — Não — ela colocou a lâmina para baixo, golpeou o dinheiro sobre o balcão, e olhou para mim. Eu acho que esse olhar tinha colocado muitos lojistas em seu lugar ao longo dos anos. Mas, bem, eu estava entediada, e ela estava lá. Eu sorri agradavelmente. — Tem família por aqui? Ow. Seus olhos se estreitaram enquanto ela oferecia uma voz com pouca educação. — Não — segurei uma recém-impressa brochura de Livros de Especialidade. — Gostaria de ser incluída em nossa lista de e-mails? — ok, neste momento eu só estava tentando ser irritante.


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A Sra. Barnes estreitou os olhos em mim. Havia uma sensação de zumbido, como se me batessem por baixo da minha testa. Ow. Era como se alguém soltasse um enxame de abelhas em minha cabeça, picadas pequenas e na ponta do meu cérebro. Segurei no balcão quando a sala ficou fora de foco. Minha cabeça girava como se eu estivesse apenas um pouco tonta, em seguida, melhorou quando eu lutei por foco. Irritada, fechei os olhos e construí um muro em volta da minha mente. Concentrei-me na pequena mulher na minha frente e tentei retribuir, mas era como se agarrar na areia. Eu não conseguiria. As bordas da minha consciência continuavam escorregando pelos meus dedos. Eu fiz o suficiente apenas para manter o controle da minha própria defesa psíquica e não desmaiar a seus pés. Exausta com o que era realmente apenas o esforço de um momento, eu abri meus olhos para encontrar um sorriso orgulhoso no rosto esticado da sra. Barnes. — Melhor sorte da próxima vez, querida. Acabei de ser psiquicamente golpeada por uma velhinha? Depois que ela saiu da loja, eu fui para as estantes e peguei uma cópia do “Mente sobre a Matéria: Mantendo sua habilidade psíquica e a busca para a identificação interna”. — Que diabos está neste livro? Eu chequei nos registros do Sr. Wainwright para obter informações de contato da Sra. Barnes. E por registros, quero dizer uma pilha de papel mantida na parte de trás da gaveta da caixa registradora com nomes e endereços dos clientes. Ela estava longe de ser encontrada, o que não era uma surpresa. Ele, no entanto, tinha o endereço de um homem que vivia na Rua Trote de Gambá e chamou a si mesmo de Nostradamus, o que fez certo sentido. Abri o livro e olhei algumas páginas, tentando encontrar a seção sobre como usar seus talentos mentais para acabar com as pessoas ao redor. Nada. Esther Barnes estava claramente jogando com alguns cartões extras. Como você enfrenta alguém que pode chegar a seu crânio? — Eu vou ter que fazer um chapéu de folha de estanho — murmurei enquanto o telefone tocava.


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Foi então que eu percebi que eu estava errada em pensar que ter meu cérebro invadido iria ser a pior parte do meu dia. Era a minha mãe, ligando para me lembrar que a festa anual do corte da árvore da família Jameson seria naquele fim de semana e que eu precisava usar o meu casaco com temática natalina para a foto do cartão de Natal da família. Mamãe sempre artisticamente disposta a tirar a foto "sinceramente" natalina uma semana após o feriado de Ação de Graças, o que a fazia capaz de enviar os cartões de Natal no dia 14 de dezembro, uma semana antes de sua arqui-inimiga e melhor amiga, Carol Ann Reilly. — Hum, eu não acho que Jenny e a vovó ficariam muito felizes em me ver. — Mas vocês se deram tão bem no velório! — mamãe chorou. — Ficar feliz por que alguém vai lavar os pratos e ficar feliz com a sua presença são duas coisas diferentes. — Agora, você está sendo boba, Jane. Você só vai ter que aprender a beijar e fazer as pazes com a vovó e Jenny nos feriados. Eu não aceito isso. Uma coisa foi você perder o dia de Ação de Graças, mas isso está ficando ridículo. Onde mais você iria? — Na verdade, eu talvez tenha planos — menti. Mamãe ofegou — O que você quer dizer, com você tem planos? Não é Natal a menos que você esteja com a família. — Bem, eu tenho alguns novos amigos este ano, e eles não têm família aqui. Eu pensei que seria agradável passar algum tempo com eles. — Novos amigos vampiros — disse mamãe, com apenas uma pitada de amargura tingindo seu tom. — Não, nem todos eles são vampiros. — Bem, se você quiser jogar fora anos de tradição, a escolha é sua. Se você realmente deseja passar o primeiro Natal desde que te perdemos com estranhos, a decisão também é sua. — O que quer dizer com “desde que te perdemos”? Eu estou aqui! — Eu não posso continuar falando sobre isso, Jane.


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— Falar o quê? Nós não falamos sobre isso. Nunca. Mamãe suspirou, com uma leve fungada no final. — Será que você pelo menos virá à festa para cortar a árvore e para que possamos tirar a foto de família? Nem todo mundo tem que saber que você e Jenny tiveram uma briga. — Você não pode simplesmente me adicionar com Photoshop ou algo assim? — perguntei. — Eu nem sei o que isso significa — mamãe resmungou. — Basta aparecer no sábado, às seis. Eu desliguei o telefone e comecei a bater minha cabeça contra o balcão de vidro com chumbo. — Se você continuar fazendo isso, vai deixar uma marca — uma suave voz disse. — Mesmo seu poder de cura tem limites. Olhei para cima e encontrei Andrea Byrne em pé na minha frente, sorrindo. — Você está perturbada. Bem, mais perturbada do que o habitual — disse ela, analisando o hematoma que aparecia na minha testa. — Qual foi a sua primeira pista? — perguntei rabugenta. Andrea lembra como Grace Kelly seria se fosse ruiva e com um histórico retorcido. Sem dinheiro após a separação com seu (bastardo) ex não-morto e renegada por uma família firmemente anti-vampiros, Andrea veio para o Hollow há alguns anos para trabalhar em uma boutique no centro. Mas a renda real veio de clientes que gostavam do seu sangue em um ambiente mutuamente seguro por uma pequena taxa. Andrea foi a primeira e a última humana de que me alimentei. Isso foi um início bastante desagradável para a nossa amizade, mas ela era a única humana que eu conhecia que realmente entendia os aspectos bizarros da minha nova vida vampiríca. Ela era uma espécie de cobertorzinho não-morto, mantendome ligada ao mundo dos vivos. Mamãe teria feito a mesma coisa, mas com mais culpa e queimaduras. Ela ergueu o Mente sobre a Matéria e o Espectro de vampirismo do balcão e estremeceu — Uma leitura de esclarecimento? — Só pesquisando minhas raízes — disse eu, olhando as páginas do Espectro para o capítulo intitulado "Origens Global." — Como esta teoria


67 encantadora, por exemplo: "Os ciganos acreditavam que os vampiros voltaram dos mortos para se vingar daqueles que podem ter contribuído para sua morte ou negligenciado dar-lhes um enterro apropriado. Covas eram observadas cuidadosamente por sinais de perturbação. Cadáveres exumados que estavam inchados ou que ficavam escuros seriam estacados, decapitados e queimados.” Bem, por que eles apenas não explodiam os restos em um canhão? Os seres humanos são estúpidos. — Eu estou bem aqui — disse Andrea. — Oh, você não é realmente humana. Você é como uma de nós, apenas com um pulso. — E o Sr. Wainwright? — O mesmo vale para ele. Você normalmente não vem aqui. O que está acontecendo? — Eu estou entediada. — Entediada? — perguntei. Ela assentiu com a cabeça. — Desde que Dick se interessou por mim, todos os meus clientes mais fiéis pararam de ligar. Eu não sei se eles estão em dúvida sobre o meu gosto ou com medo de Dick, mas de qualquer forma, não é bom para os negócios. — Bem, obrigada por pensar em mim — sorri. — Eu saio em algumas horas. O que você quer fazer? — Oh, eu sei, por que não saímos para uma noite de garotas, entramos em uma briga de bar e, em seguida, apenas por diversão, uma de nós poderia acabar sendo suspeita de um assassinato vampiro. Isso poderia ser divertido — Andrea sugeriu brilhantemente. — Oh, espere, já fizemos isso. — Você acha que está sendo engraçada, mas isso não é engraçado. Quando eu conto a história, eu não conto às pessoas sobre você estar bêbada e andando de joelho, inconsciente, durante toda a luta. Acho que vou mudar essa política. — Verdade, você conta as pessoas esta história? Eu assenti — Mas quando eu conto, digo que o Walter tinha um metro e noventa de altura e que era um lutador treinado numa gaiola.


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Andrea deu uma risadinha. Eu sorri maliciosamente. — Dick esteve a sua procura. Ela resmungou. — Ele não sabe o significado da palavra 'medida cautelar', não é? — Tecnicamente, são duas palavras — dei uma risadinha. — Dick e Andrea sentados em uma árvore, M-O-R-D-E-N-D-O... ow! — gemi quando ele bateu no meu ombro. — Você está brava porque, secretamente, por baixo desta fachada sofisticada, você tem uma queda pelo Dickie. — Eu não tenho uma queda pelo Dickie — respondeu Andrea. — Eu e meu ombro machucado dizemos que você protesta muito — eu disse secamente. — Ele está praticamente me perseguindo. Ele não desiste. Está apenas sendo... ele está sendo apenas um idiota com uma crosta idiota e um recheio idiotamente delicioso. — Então, ele é uma torta idiota? — perguntei, fazendo uma cara de nojo. — Não há nenhuma razão para ser grosseira — Andrea respondeu empertigada. — Sabe, você está começando a falar como eu. Acho isso um pouco mais do que preocupante. Talvez nós devêssemos passar menos tempo juntas. — Eu poderia chegar a torta idiota sozinha — ela insistiu, em seguida, alterou a sua declaração. — Não. Não, eu não poderia. — Por falar nisso, quais são seus planos para o Natal? — perguntei. — Fingir que meus pais não me renegaram, assistir A felicidade não se compra, e beber algumas garrafas de Merlot. E quanto a você? Eu mastiguei meus lábios. — Eu estou pensando em oferecer uma pequena festa para nós, monstros marginalizados. — Você está nos usando como uma desculpa para não passar um tempo com sua família?


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— Não, eu estou escolhendo passar um tempo com os meus queridos amigos — respondi. — Tudo bem, a ideia é de oitenta por cento passar um tempo com vocês e vinte por cento evitando a minha família. Andrea atirou em mim o seu melhor olhar duvidoso. — Setenta / trinta — eu disse quando a campainha tilintou. Fui confrontada com a visão de uma Were chorando e segurando uma armadilha de urso em uma mão e um plano do casamento na outra. — Eis algo que você não vê todos os dias. Um curioso Sr. Wainwright enfiou a cabeça para fora do escritório, ilogicamente excitado com a visão de uma Were em lágrimas em sua loja. — Este é o maior tráfego que a loja teve em anos — disse ele, sorrindo brilhantemente. — Jane, seus amigos aceitariam uma xícara de chá? — Por que você não coloca a chaleira no fogo? — sugeri em voz tão calma e suave quanto pude reunir. — Andrea Byrne, Jolene McClaine — disse eu, olhando Jolene e a armadilha de urso com cautela. — Jolene, querida, o que está errado? — Zeb — ela gemia queixosa. — O que tem o Zeb? Ele está bem? — exigi, cheirando a armadilha, mas não encontrando nenhum cheiro de sangue. — Ele está bem — seu profundo sotaque caipira esticou a palavra "beeeeeeeeeemmmmmmmmmm" antes que ela lamentasse: — Ele cancelou o casamento! Visões de um horrível vestido de madrinha de cetim, sem direito a troca, cor pêssego se escondendo no fundo do meu armário passou diante de meus olhos. Estremeci. — Eu pensei que nós havíamos concordado que vocês não iam mais vir a mim com seus problemas. — Mas desta vez é diferente! — Jolene lamentou. — Dessa vez eu preciso de ajuda! — Certo, certo — tomei a armadilha de suas mãos e coloquei meus braços em torno dela. Ela fungou em minha camisa, deixando uma mancha úmida espalhada no meu ombro. — Você tem certeza que ele cancelou o casamento, Jolene? Às vezes, Zeb não escreve direito seus e-mails, e ficam mal compreendidos.


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— Claro que eu tenho certeza! — Jolene uivava, fazendo Andrea estremecer, ela estava mais acostumada a vampiros excêntricos ligeiramente mais calmos. — Eu não sou estúpida! — Certo — eu disse, coçando atrás das suas orelhas. Pode parecer condescendente, mas às vezes isso a acalma. — Você tem algo para comer? — Jolene perguntou, farejando o ar. — Eu não posso falar disso com o estômago vazio. Jolene não podia fazer nada com o estômago vazio. O Sr. Wainwright me ajudou a achar restos de pizza, cozidos enlatado, e alguns Boyardee Chef de seu apartamento e, em seguida, ele nos deu privacidade. Mesmo seu fascínio pelas criaturas Were não era suficiente para mantê-lo perto de uma mulher histérica. Nota pessoal: trazer tortas e saladas para a loja do Sr. Wainwright. Esse tipo de dieta não pode ser boa para ele. — O que aconteceu? — perguntei quando ela fartou-se de pepperoni frio. Era sempre estranhamente atraente assistir Jolene comer, com o contraste entre a menina bonita, remates e as enormes quantidades de comida que ela espalhava em seu rosto. Se você não sabe sobre seu metabolismo Were, você quer saber onde ela coloca tudo isso. Eu tentei chegar-lhe à mente, mas a mistura de imagens, confusa, triste e frenética me deixou tonta. — Meus primos fizeram uma brincadeira com o Zeb, e ele ficou tão chateado — disse ela, mordendo a crosta requentada. — Eu disse a ele que estava sendo exagerado e ele deve estar feliz que meus primos estavam tentando torná-lo parte do bando. E então ele disse algo sobre não querer ir morar na fazenda com a família de Jerry Springer e como íamos perder a nossa casa, graças a eles. Perguntei o que diabos ele quis dizer com isso. Ele disse que tinha certeza de que eu sabia tudo sobre isso. Eu disse que ele parecia um idiota paranóico. Ele disse que se eu realmente me sentia dessa maneira, então ele não ia ser capaz de se casar comigo. — Seus olhos se encheram de lágrimas novamente. — Como ele poderia fazer isso? Como ele poderia simplesmente cancelar o compromisso sem sequer parecer triste com isso? Como ele poderia simplesmente me deixar? Esperei o berro até ao fim. — Que tipo de brincadeira seus primos fizeram com Zeb?


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— Eles colocaram uma armadilha de urso entre o seu habitual espaço de estacionar e na porta da frente de mamãe e papai. Foi apenas uma piada — insistiu Jolene. — Nós fazemos um para o outro o tempo todo. — Weres montam armadilhas de urso para o outro? Isso não é, tipo, eu não sei, culturalmente insensível ou algo assim? Jolene parecia confusa com a pergunta. — Não, não dói tanto assim. — Você se cura dez vezes mais rápido do que um ser humano — eu disse a ela. — Essa armadilha de urso poderia ter custado um pé ao Zeb. Ele já perdeu um dedo mindinho para as piadinhas de sua família. — Eles estão apenas sendo divertidos. — Ele perdeu um dedo, Jolene. Isso não é divertido, isso é uma ameaça desenfreada. Jolene inalou. — Não! Não use o tom de conversa para pessoa louca. E não aja como se você estivesse triste que isso aconteceu. Você provavelmente armou tudo isso para se livrar do vestido da madrinha. — O que há de errado com você? — perguntei. — Por que você diz isso? — Eu não sei! — Jolene chorou. — Ele me pediu em casamento! Eu era uma pessoa normal antes. Ele me fez ficar louca! Eu sei que minha família é complicada, ok? Eu sei que não é normal para você um primo querer se casar comigo ou meus pais me fazerem mudar para menos de cem metros de distância deles. Eu sei que não é normal ser tão barulhenta e se meter na vida um do outro o tempo todo. Sei que eles são passivo-agressivo ou simplesmente agressivos e eles não prestam atenção nos limites. Eles sabem que poderiam ter machucado Zeb com estas brincadeiras, e isso é metade do divertimento para eles. Mas o que eu devo fazer? Esta é a minha bagagem. Trata-se de milhares de anos de raça e instinto. Eu não posso parar isso. — Ela soluçou e limpou os olhos. — E é isso que eu disse a ele. Então eu disse que não seria tão tenso se talvez seus pais fossem mais favoráveis a nós ao invés de tentar sabotar o casamento a cada chance que eles têm. Ele me perguntou o que eu quis dizer com isso, e eu disse que era óbvio que sua mãe seria muito mais feliz se ele fosse se casar com você, em vez de mim. E quando ele me disse que eu estava louca, eu lhe disse para pegar o seu anel e enfiá-lo onde o sol não brilha, e eu o mandei embora, e agora eu estou sentada aqui, miserável, e sem saber se eu vou me casar.


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Andrea arregalou os olhos. — Essa foi uma tirada digna de Jane. Realmente, muito impressionante. — Por favor, não ajude — eu disse, virando-me para Jolene. — E você, você tem que estabelecer um limite em algum lugar. Você está se casando com o Zeb. Sua segurança e felicidade têm que ser sua prioridade, não importa o que sua família faz. Se imponha por ele, se não for para mostrar a sua família que você vai ser a primeira McClaine a quebrar este ciclo estranho de abuso humano, então para mostrar a Zeb que você está do lado dele. Se desculpe. E então vá realizar algum favor físico para ele que eu nunca tenha que imaginar. E vocês dois têm que parar de vir para mim quando têm problemas de relacionamento. Eu mal tenho tempo para meus próprios problemas, e vocês são, digamos, estranhos. — Você é uma boa amiga, Jane — disse ela, empurrando os restos de pizza em sua boca. Eu lhe afaguei o braço. — Eu sei. Eu estava falando sério sobre essa última parte.

*** A casa de Gabriel em Silver Ridge Road teria sido a jóia da coroa em qualquer casa do tour histórico... se alguém na cidade soubesse dela. Gabriel tinha trabalhado durante anos para apagar a casa, com sua madeira branca, grande alpendre envolvente, e colunas coríntias, da memória do público. A casa era acolhedora e muito menos intimidante do que você esperaria na parte de dentro. Os quartos que eu tinha visto eram decorados de forma sutil, cores suaves, tecidos moles, artigos que refletiam os anos de viagens de Gabriel, o tipo de local onde você não esperaria encontrar seu namorado servindo licor ao seu melhor amigo. Pobre Zeb, parecia absolutamente miserável, espalhado sobre o sofá de couro marrom com um copo numa mão e a cabeça na outra. Quando ele olhou para cima, vi que estava usando um tapa-olho. Isso não poderia ser bom. — Ok, eu ouvi sobre a armadilha de urso. Aconteceu alguma coisa com seu olho? — Não, eu estou considerando uma carreira como pirata — Zeb disse enquanto cuidadosamente ajustava a cinta do tampão. Ele estremeceu quando colocou de volta em seu olho. O elástico lhe tinha dado um topete de codorna no


73 meio de sua coroa de louro escuro. — Alguns dos garotos da fazenda estavam disparando foguetes do frasco há poucos dias. Vance, primo da Jolene, queria mostrar-lhes como usá-los para acertar nas garrafas de cima do muro, e de alguma forma um dos foguetes extraviou-se. — Você foi atingido no olho com um foguete? — Não, eu fui atingido no olho com a garrafa. Vance não estava vendo onde ele jogou quando eles estavam fugindo do foguete. — Então, isso combinado com armadilha de urso é o motivo de você estar adotando a rotina Dean Martin? — perguntei, olhando para a garrafa entre eles. — Eu fui despejado — disse Zeb, afastando-se de um bourbon muito agradável. Gabriel bufou e bebeu sozinho. Considerando a média de colheita em sua adega de vinho, eu não estava surpresa que ele não iria deixá-lo ir para o lixo. — Este não foi o seu dia, hein? — O meu senhorio me deixou um aviso hoje — disse Zeb, fazendo uma careta quando Gabriel segurou uma garrafa de vodka com um rótulo em cirílico. — Era para eu renovar meu contrato na próxima semana. — Ele não pode fazer isso! Jolene trabalhou tão duro para deixar a sua marca naquele lugar — exclamei. Gabriel me deu um olhar questionador. — Com almofadas e tinta, quero dizer. Nada grave. — Eu fui assinar os papéis com o Sr. Dugger, mas ele decidiu alugar para outra família — disse Zeb, com o rosto pálido e com linhas miseráveis. — Ele disse que Jolene deixou o local tão bom que ele pode cobrar mais do que podemos pagar. E de alguma forma, um parente da Jolene ligou hoje por acaso para lembrar que seu lote de terra sobre o composto do bando ainda está disponível. Ele até nos ofereceu um reboque como presente de casamento. — Zeb suspirou, tirando a mão do rosto enquanto Gabriel estava lhe servindo um uísque. — Eu não sei como eles fizeram isso, mas eles pegaram o Sr. Dugger. — Eu acho que você está dando a ele muito... bem, provavelmente você está certo — eu concordei, deslizando um braço ao redor de seus ombros. — O que você vai fazer? Começando com, você poderia, por favor, remover a Were chorona


74 da minha loja? Ela está começando a incomodar o cliente. Ênfase no cliente, temos apenas um. — Você viu Jolene? — Zeb fez uma careta. — Ela estava chorando? — Hum, você meio que rompeu seu noivado. Isso pode trazer a tona a emoção de uma menina. — Eu sei, eu preciso pedir desculpas — disse Zeb. — Mas eu gostaria de ter uma casa para oferecer a ela quando eu pedir e implorar. — Ele tomou um gole de licor de Gabriel, e tossiu. — Sério, qual é o gosto disso? — Zeb só pode beber coisas com gosto de álcool, e com muito ponche de frutas — eu disse a Gabriel. — Vou começar a manter alguns por aí — disse Gabriel. — Enquanto isso, tente terminar o caro puro malte que eu lhe servi, camponês. — Eu te insultaria, mas parece que você possui ou sabe sobre todas as boas propriedades para alugar em torno da cidade — Zeb aspirou. Dando um novo significado à expressão "salvo pelo gongo", o telefone de Gabriel começou a tocar. O rosto dele quando viu o identificador de chamadas me impediu de fazer uma piada sobre o correio de voz, que Gabriel não sabia como usar. Sem uma palavra, ele saiu da sala e disse Olá tranquilamente no receptor enquanto ia para a varanda dos fundos. Por falta de algo melhor para dizer, eu disse a Zeb — Eu gostaria de poder ajudar. — Ah, eu aprecio isso — disse ele, inclinando a cabeça dele contra a minha. — Mas você, você sabe, está sem dinheiro algum. Meu queixo caiu. — Você sabe sobre isso? — Eu sou o seu melhor amigo — disse ele. — E você não trabalha em período integral nos últimos meses. Eu posso fazer matemática acima do nível do jardim de infância. Além disso, eu nunca iria tirar dinheiro de você. Nós nunca misturamos o dinheiro em nossa amizade antes. — Nós nunca tivemos dinheiro antes — eu indiquei.


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— E até agora funcionou para nós — disse ele. — Além disso, se não vamos ter esse tipo de ajuda, ênfase no sarcasmo invisível, da família de Jolene, seria difícil justificar a ajuda de você. — Você tem um bem-pensado e emocionalmente maduro argumento — eu admiti. — Maldição. Em uma nota independente, aqui está um boato interessante: sua mãe continuou tentando me levar para comer durante o funeral, o que teria terminado em meu vômito publicamente. Ela sabe que fui transformada, certo? Achei que ela se recusava a falar porque interferiria em a sua versão da realidade. Mas você disse a ela, certo? Zeb estremeceu. — Toda vez que eu tentei, ela repetia algo estúpido, ela ouviu no rádio uma conversa que vampiros deveriam ser encurralados e forçados a viver em comunidades distantes dos seres humanos. — Ainda assim, você está se casando em um clã de Weres, e você está preocupado em lhe dizer que a madrinha é uma vampira? Você poderia usar-me para tirar o foco da Jolene e companhia... — engasguei percebendo lentamente o rumo das coisas. — Ela ainda não sabe que está se casando com alguém de um clã de Weres, não é? — Não — admitiu ele, cobrindo o rosto com as mãos. Se era de vergonha ou para proteger os olhos do meu brilho de morte vampiríco, eu não tenho ideia. — Você a conhece. Você sabe o que ela faz com anúncios como este. Estamos falando de Valium e gritaria, e repouso na cama por semanas. Eu sabia que não havia nenhuma maneira que ela aceitasse, muito menos Jolene e sua família. Eu só estou tentando passar pelo casamento sem ela fazer uma cena. Eu vi o que aconteceu com Jolene quando meus pais ameaçaram não vir. Você pode imaginar como ela iria lidar com a confusão de mamãe se ela soubesse? Como iria magoá-la? Uma vez que estivermos casados, Jolene vai perceber que será melhor se a minha família não gostar dela de qualquer maneira. — Você não acha que sua família vai perceber que algo está errado quando sua noiva devastar a comida? — perguntei. —Oh, minha família estará muito bêbada para notar — disse ele, revirando os olhos. —Porque você acha que nós estamos tendo o open bar? — Isso não é... na verdade é brilhante. — Eu tentei de tudo para fazer que mamãe se comporte, para ser digno de Jolene — disse Zeb. — Ela diz que vai melhorar e ser agradável, e então eu recebo


76 um telefonema de Jolene, chorando sobre o que mamãe disse. Eu lhe disse para ignorar mamãe, mas ela simplesmente não pode. Ela não pode suportar não ter alguém que não goste ela. E eu estou exausto. Estou cansado de ser o intermediário. Por que ela não pode apenas lidar com essas coisas sozinha? Eu tinha as sobrancelhas arqueadas em irritação devido ao exasperado tom que Zeb estava usando. Parecia agitá-lo depois de um momento, esfregando as mãos sobre o seu adesivo e, em seguida, movendo-as para beliscar a ponta de seu nariz. — Em poucos meses, tudo isto vai acabar — disse ele. — Porque você vai ter sucumbido ao estresse crônico e dores de cabeça por trauma de foguete? — perguntei, levando uma das mãos e empurrando suavemente no ponto de pressão entre o polegar e o indicador. Quando ele sorria, a pele ao redor de seu olho ficava visivelmente enrugada. — Porque em poucos meses vamos estar casados. E nós podemos entrar no programa de proteção a testemunhas. — Soa como um plano — eu disse, apertando meus lábios enquanto eu olhava para ele. — O quê? Dei de ombros. — É estranho. Normalmente, eu seria a primeira pessoa que você desejaria falar quando algo assim ocorre. Mas agora é Gabriel. Eu acho que você está entrando em um relacionamento adulto funcional com alguém além de mim. Eu acho que o casamento é o último sinal de que estamos crescendo. — Eu não sei como me sinto sobre isso — disse Zeb distraidamente. Ele estava me olhando atentamente, seus olhos pareciam vidrados, desfocado. Esta não era a maneira que Zeb normalmente olhava para mim. Esta era a maneira que Zeb olhava para um boneco GI Joe Battle Force ainda na caixa. Considerando que ele estava lidando com uma lesão traumática, eu estava disposta a atribuir este comportamento bizarro a uma concussão. — Isso não é ruim. — Talvez só um pouquinho — ele prendeu em concha a parte de trás da minha cabeça na mão, trazendo o meu rosto quase desconfortavelmente perto dele. Por um momento estranho, parecia que ele ia me beijar.


77 O que, para o nosso relacionamento, foi incomum. Inclinei-me para longe, tirando as mãos do meu pescoço. Gabriel entrou e encontrou nós dois olhando um para o outro, as mãos de Zeb na minha. Zeb deixou cair às mãos ao seu lado e pareceu vagamente culpado. — Se você não fosse o melhor amigo de Jane e noivo de uma mulher bonita e violentamente monogâmica, eu poderia achar isso perturbador — comentou Gabriel secamente.


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Capítulo 6 Pais Were insistem em pré-aprovar propostas de casamento. Na verdade, os rumores da tradição humana de "pedir a mão de uma mulher" veio de um ser humano que não pediu permissão para o noivado e realmente perdeu a mão. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Por que eu tento fazer mais amigos? — murmurei, protegendo os

olhos do meu reflexo no espelho do provador do Bridal Barn. — Isso é o que acontece quando se têm amigas. Se a imagem do vestido de madrinha que Jolene escolheu era ruim, a versão ao vivo era horrível. Alinhavados, a empreitada de pêssego em putrefação não apenas não fazia jus, era um insulto. Meus quadris pareciam maiores do que os meus ombros, maior do que a porta do provador, na verdade. Minha pele naturalmente pálida parecia extravagante e quase azul. Eu realmente parecia morta, pela primeira vez. Em nenhum momento eu desejei tanto que os vampiros não pudessem se ver nos espelhos. Depois de muito rastejar em ambos os lados, Zeb e Jolene fizeram as pazes, o que significava que eu ainda estava presa no inferno do vestido de madrinha. Eu tive pouco conforto no fato de que eu não estava sozinha. Eu andaria pelo corredor de Jolene com sua legião de primas. Os McClaines adotaram o "lene" como tema em nomear as mulheres desta geração: Raylene, Lurlene, as gêmeas idênticas Charlene e Darlene, em seguida, as trigêmeas Arlene, Braylene e Angelene. A pronuncia era "Angel-lean", por sinal. Isso era um erro que eu não cometi duas vezes. Todas elas eram lindas, ruivas e de olhos verdes, com as maçãs do rosto ridiculamente altas. E todas elas praticamente me odiavam. Primeiro, eu era uma estranha, o que poderia ter sido esquecido se eu não fosse também uma vampira. Agravada a situação pela injustiça de minha posição como madrinha, apesar de ser uma amiga relativamente nova, isso criou outro sentimento de vergonha entre as primas do clã. O fato de que Zeb e Jolene me escolheram para evitar uma vingança de sangue entre as primas dela passou despercebido. Apesar de não escolher sua primogênita Lurlene para o posto de madrinha,


79 a tia de Jolene, Vonnie, finalmente foi convencida a manter sua loja aberta após o anoitecer para que eu pudesse fazer um teste. Tenho certeza que a indignidade de ter que refazer sua programação para uma vampira a deixou de mau humor. Comprar o seu vestido de baile no Bridal Barn é um rito de passagem para cada garota de Hollow Half-Moon. Porque é o único lugar na cidade onde você pode comprar um vestido de baile. Ou um vestido de casamento. Ou um vestido de madrinha. Nós tínhamos uma loja de roupas formais chamada Sr. Terno de Macado no início dos anos 1990, mas misteriosamente fechou suas portas depois de seis meses. Antes de eu descobrir que a loja era de uma Were, eu acreditava que a falta de concorrência resultava dos confins claustrofóbicos do comércio Hollow. Agora eu sei que pode estar relacionado à tia Vonnie ter comido seu concorrente. Agora que eu sabia quanto tempo a tia Vonnie passava nua, achei deliciosamente irônico que ela possuísse uma loja de roupas. Weres não gostam de usar roupas quando estão no campo ou em casa. Roupas tornam a vida difícil para os Weres, para quem o estado mais confortável para se estar é na forma de lobo. Em um ambiente onde eles estão relaxados, às vezes eles nem percebem que já alteraram sua forma. Há uma mistura sutil de luz e, de repente há um lobo adulto próximo a você. É difícil mudar de forma enquanto está vestido. Ao mesmo tempo, Weres adultos são condicionados a associar roupas a situações públicas e entre os seres humanos. É útil como um lembrete para ajudar a manter a mudança em alerta. Jolene diz que os Weres modernos adotaram o hábito humano de se vestir para os casamentos, já que muitos deles envolvem convidados humanos, e uma cerimônia oficial nua pode ser terrivelmente desconcertante. Os Weres crêem que se você tem que estar vestido, então deve usar as roupas elaboradas para o maior desconforto possível, o que levou Vonnie a abrir sua loja. O problema é que o gosto da Vonnie não tinha evoluído bastante desde os dias de ombreiras e cabelos forçadamente volumosos. Os vestidos no Bridal Barn só vêm em cores que não podem ser encontrados na natureza. Além disso, eu não acho que quaisquer uns dos tecidos foram fabricados depois de 1984. Nós estamos falando de um monte de lantejoulas largas. — Jane, você não vai sair? — Jolene chamou de fora do provador. — Não — eu sussurrei, transpassada pelo reflexo horrível diante de mim. Não havia um mito grego que terminou assim?


80 Separada apenas pela cortina de privacidade, Jolene disse calmamente: — Zeb disse que você não está feliz com o vestido. — E isso significa que tenho que matar Zeb por te dizer — eu disse, colocando a cabeça para fora do provador, mas mantendo as cortinas fechadas em volta do meu pescoço. — Eu odeio quando os casais fazem as pazes. Significa repetir tudo o que outras pessoas tenham lhes dito em algum tipo de ajuste confessional. — Não pode ser tão ruim assim — Jolene rasgou a cortina. — Whoa. — Sim — eu disse. — Ficará diferente — Jolene prometeu. — Depois da rosa e dos plissados e de tudo mais que for colocado. Ele ficará melhor. — Eu não acho que babados vão melhorar a situação. — Eu sei — Jolene sussurrou. — Eu sei que é horrível. Já usei este vestido em seis casamentos das minhas primas, incluindo da Raylene, que escolheu tafetá preto para uma cerimônia de Julho. Ninguém fica bem mesmo. Esse é o ponto. Os vestidos das madrinhas as fazem parecer como vacas. — Ei — olhei para ela. — Não há necessidade de concordar comigo desta forma. Ela me ignorou. — Então, quando você andar pelo corredor, você parece maravilhosa, por comparação. Essa é a tradição real por trás do vestido. — Você já é linda, por comparação — eu resmunguei. — Obrigada — disse ela, brilhando por alguns instantes. — Mas é a única concessão que eu fiz para minha família quanto ao casamento. Eu não estou me casando como um Were. Estou dando uma cerimônia noturna para acomodar os convidados vampiros. Eu não estou me casando no cemitério. — Cemitério? Ela balançou a cabeça. — Não pergunte. Eu fui contra a tradição de quase todos da família McClaine ao casar com Zeb. Esta é a única coisa que eu concordei. — Ela fez uma pausa quando ergueu uma sobrancelha. — Você tem que usar. Você pode me deixar muito, muito bêbada na minha festa de despedida de solteira e tirar fotos embaraçosas — ela prometeu.


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— Eu ia fazer isso de qualquer maneira — rosnei. Tia Vonnie entrou na sala com um forte chiffon verde-limão. Minha falta de entusiasmo foi claramente uma afronta a seu ofício. — Eu não deixei a loja aberta até depois das seis horas nos últimos trinta anos de atividade — ela me lembrou. — Eu realmente aprecio isso, sra Vonnie — eu disse com toda a alegria que eu poderia transmitir vestida como um extra de Footloose. — E obrigada por fazer os vestidos. Eles são apenas... impressionantes. Tia Vonnie facilmente pegou a mentira na minha mudança de olhos e lábios torcidos. Ou talvez eu estivesse forçando muito com o duplo polegar para cima. Eu tenho que aprender a mentir. — Toda noiva McClaine desde 1984 escolheu "Babados e Sonhos" para suas madrinhas — ela rosnou, voltando para a sala de costura. — É muito popular aqui na cidade. Eu fiz este vestido em trinta e duas cores para mais de cem casamentos. — Bem, isso certamente explica a taxa de divórcio em Hollow ser vulgarmente alta — eu murmurei. — Eu ouvi isso! — tia Vonnie gritou do fundo. Eu teria que tomar cuidado ao redor dos Weres e sua super-audição. Virei-me para Jolene. — Haverá fotos. Oh, sim, fotos e stripers masculinos. — Eu aceito os seus termos — Jolene disse solenemente. — Tire-me esta coisa — suspirei, descendo o zíper ridiculamente colocado ao longo dele. — Eu posso pelo menos ver o seu vestido de noiva? — Eu o encomendei especialmente pela internet! — ela gritou enquanto corria para a sala dos fundos. — Ainda preciso de ajuda com o zíper! — eu chamei por ela. Virei-me e peguei-me olhando no espelho. — Ahhh!


82 Sério, como uma costureira veterana costuraria um zíper de modo que você precisa das armas do inspetor Bugiganga para alcançá-lo? Eu rodava em círculos como um cão correndo atrás do rabo. Ouvi um barulho e um riso enquanto Jolene vestia seu vestido de casamento. Ela saiu do provador como uma visão em um vestido branco com uma gola Eduardiana elaborada. E, apesar das leis universais de vestido de casamento sob encomenda, o tamanho padrão realmente se encaixava perfeitamente nela. O corte enfatizou sua cintura fina e deu-lhe a silhueta ampulheta ideal. Cada movimento que ela fazia, criava uma explosão de brilhos das contas de pérola. Sua pele parecia mais clara, brilhante, cremosa, até tornava os olhos dela um verde mais intenso. — Eu odeio você. Você está completamente linda, e eu odeio você — eu resmunguei, sentindo-me ainda mais triste em minha mortalha pêssego meio alinhada. — Obrigada — ela suspirou sonhadora. — Enquanto isso, eu ainda estou vestida assim e... — eu dei uma olhada no meu relógio. — A festa de noivado! — ela chorou. — Eu quase me esqueci! — Bem, essa é provavelmente a resposta protetora do teu cérebro para a perspectiva de ver a mamãe Ginger — eu disse enquanto ela saía. — Ei, eu ainda estou nessa... coisa! — Eu gritei por ela.

***

Sabe aquela sensação de quando você entra em um lugar e você está completamente mal vestida? Esse sentimento teria sido bem-vindo à festa de noivado Lavelle-McClaine. Afirmando que a família McClaine estava dando todas as festas précasamento, mamãe Ginger resolveu dar uma festa de última hora "celebrando" o noivado de Zeb com Jolene. Festas de noivado são uma raridade em Hollow, geralmente dada pelas famílias mais presunçosas no Half-Moon Hollow Country Club e Fazenda Catfish. Mamãe Ginger foi traiçoeira quando ela colocou o endereço do local nos convites das pessoas. Uma vez que poucos de nós passávamos muito tempo no Eddie Mac,


83 onde os empregados34 rurais locais saiam em busca de seus futuros ex-cônjuges, não estávamos familiarizados com o endereço exato. Floyd e mamãe Ginger tiveram acesso especial pela parte traseira como membros da liga de piscina. Era uma festa surpresa, como em "Surpresa! Você está usando saltos chiques, mas a sua festa está sendo realizada em um local onde as toalhas de mesa são descartáveis.” Eu devia ter desconfiado quando os convites encorajavam um traje chique. Isto pode ter sido um contra-ataque a grande mudança da data do casamento. Uma semana após os convites serem enviados, mamãe Ginger decidiu que seus 100 convidados não eram suficientes. Aparentemente, era uma aversão aberta para que a noiva não excluísse o direito de mamãe Ginger convidar cada pessoa que ela nunca vira antes para comparecer ao casamento de seu filho. Ela convenceu uma vizinha que vendia artigos de papelaria numa loja no fundo do posto de gasolina de seu pai a ajudá-la a projetar sua própria versão do convite, com a noiva e o noivo estrelando um momento precioso. Mamãe Ginger enviou-os para outros 150 parentes distantes e conhecidos de passagem, de modo que ao invés de assumir o risco de convidar 100 estrangeiros selecionados cuidadosamente para sua fazenda, os McClaines agora arriscavam expor seu segredo para 250 pessoas, que nem a mamãe Ginger reconheceria cara-a-cara ou sóbria. Quando Mimi e Jolene souberam desta manobra, a sua única defesa lógica parecia adiantar o casamento até uma semana sem planejar dizer a mamãe Ginger até o último minuto. E isso teria funcionado, se Misty Kilgore, cujo marido fotografaria o casamento, tivesse mantido a boca fechada na fila do Piggly Wiggly35. Mamãe Ginger respondeu com um assobio de classe mundial, agravado quando lhe foi dito que quem não estava na lista original seria expulso "pelos grandes primos McClaines". Esta resposta firme de Mimi McClaine garantiu a minha lealdade e devoção para sempre. O contra ataque de mamãe Ginger era dizer para Misty Kilgore que o casamento estava cancelado, o que levou o Sr. Kilgore a rasgar o contrato e agendar outro casamento nesse final de semana. Como não havia fotógrafos locais disponíveis, foi decidido que o primo de Jolene, Scooter, que tinha um olho preguiçoso e astigmatismo, seria o fotógrafo. Era

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Aqui ela usa o termo redneck, que é utilizado nos Estados Unidos da América e Canadá para nomear o estereótipo de um homem, geralmente branco, que mora no interior daquele país e tem uma baixa renda. Sua origem deve-se ao fato de que pelo trabalho constante dos trabalhadores rurais em exposição ao sol acabam ficando com seus pescoços avermelhados. Algo bem próximo de caipira, só que este termo é ofensivo. 35 Cadeia de supermercado.


84 seguro dizer neste momento que Jolene tinha perdido todo o controle do processo de planejamento do casamento. Então eu acho que não deveria ter ficado surpresa ao ficar parada sob um letreiro de néon da Budweiser usando um vestido sem alça preto e cabelo que levou uma alarmante quantidade de tempo e de grampos. Vampiros não se dão bem nos estabelecimentos caipiras. Eles tendem a ter objetos de madeiras facilmente quebrável e, bem, caipiras. E Eddie Mac simplesmente passou a ser o principal fornecedor do país de camisetas mostrando a caricatura de um vampiro sendo arrasado pela Estátua da Liberdade. — Olá, Jane, querida! — Mamãe Ginger gritou, correndo para longe de Jolene e de um Zeb com tapa olho. Ela colocou os braços em volta de mim em um aperto inevitável e me fez voltar no tempo com a música "Islands in the Stream". — Veja se não é a minha menina! Como você está? — Ótima — eu disse, sorrindo educadamente, mesmo quando a expressão de Jolene caía diante desta exposição flagrante de favoritismo. Pelas costas, Mimi enviou a mamãe Ginger um olhar venenoso. — Sr. Lavelle — eu disse, sorrindo educadamente para o pai de Zeb. Floyd Lavelle não disse uma palavra educada para mim desde que eu me recusei a ir buscar-lhe uma cerveja em um churrasco do Dia do Trabalho. Eu tinha sete anos e, mesmo assim, eu não sabia o meu lugar. Ele resmungou no que se passou por uma saudação e se dirigiu para o bar. — Agora, eu fiz as minhas bolinhas de queijo especial com pimentão, porque eu me lembrei o quanto você gosta delas — mamãe Ginger disse, apertando minha bochecha. — Você está tão magra. — Ok, isso dói — eu disse, erguendo sua pinça de unhas carmim do meu rosto. — Este é Gabriel. Ele é um amigo meu e do Zeb, oh, e um dos padrinhos do noivo. Mamãe Ginger avistou nossas mãos unidas. Seus olhos castanhos afiaramse estreitos em Gabriel. Ela resmungou: — Que bom — e virou-se sobre os calcanhares. Mamãe Ginger continuou a cumprimentar os seus convidados. Jolene poderia muito bem ter sido um móvel por toda a atenção que lhe foi dada. Por exemplo, a pequena faixa que a mamãe Ginger tinha pendurado simplesmente dizia: "Parabéns, Zeb" deixando espaço para possibilidades. Adicionando ainda o insulto à injúria gastronômica, "pacote de evento especial" do bar, que incluía um


85 pote de salsichas em conserva, cerveja, um bolo comprado no mercado, e muita água da torneira. Era isso. Para cinqüenta pessoas. Felizmente, Mimi McClaine previu que isso aconteceria e chamou reforços Were. Constantemente é pensando e falado que o alimento é o que faz os Weres alguns dos maiores chefs do mundo e donos de restaurantes. Por exemplo, o tio de Jolene, Clay, possuiu um dos melhores lugares para almoçar na cidade. Sua filosofia pessoal de alimentos era "carne, carne e mais carne", o que poderia explicar que a especialidade da loja é um sanduíche empilhado com dois lombos de porco, presunto, e bacon. Dentro de meia hora, várias tias e tios chegaram com grande variedade de pratos frios, churrasco, saladas, biscoitos e cookies, que a multidão do bar caiu em cima como hienas na carcaça fresca de uma zebra. Eu me esgueirei para Mimi, que estava assistindo ao processo de um canto muito escuro. Suas íris estavam em constrição de uma forma distintamente nãohumana. Passei um braço em torno de sua cintura, acariciando uma mão suavemente ao longo de sua espinha. — Você vai me adotar? — Isso vai chatear a Ginger — ela murmurou. Eu assenti. — Provavelmente. — Estou tentando ser o mais paciente possível, mas se essa bruxa não facilitar para o meu bebê, eu não poderei ser responsabilizada pelas minhas ações. Nós vimos como o buffet foi retirado da mesa 3, para que o grupo da noite de sexta-feira de Herb Baker pudesse prosseguir com o seu jogo habitual. Eu sussurrei — Eu vou ajudá-la a esconder o corpo. Mimi piscou para mim e fungou no meu rosto. — Você é uma menina boa. Foi neste momento, após sua terceira Coca-Cola com rum, que mamãe Ginger decidiu fazer um brinde. Ela tilintou um distribuidor de guardanapos que encontrou ao lado de seu copo para chamar nossa atenção, que, dado o nível de ruído, só funcionou para aquelas de nós com super audição. Por fim, pediu que alguém desligasse o jukebox. Na verdade, ela disse para o Dick: — desligue essa coisa maldita antes que eu enfie meu pé através disso.


86 — Agora, todos sentados. Acalmem-se. Eu tenho algo para dizer — suspirou, deixando soltar o que parecia ser um arroto silencioso. — Bem, nenhum de nós pensava que esse dia chegaria. Ela pôs o braço em torno de Floyd, que estava encostado ao lado dela em um banco do bar, murmurando agradavelmente, e ao sul da zona de ataque hostil. — E se eu pensei em algo, era que, bem, sempre esperei que Zeb se casasse com Jane. A sala inteira ficou em silêncio. Inferno, o mundo parou de girar. Mimi me lançou um olhar mortificado. Jolene adquiriu uma cor azul-claro-acinzentado. Zeb parecia alheio ao fato de que sua futura esposa tinha acabado de ser insultada. Na verdade, ele sorriu para mim e piscou, o que parecia fazer os rostos dos tios de Jolene se contorcer como um cachorro que acabou de levar uma porrada. — Vocês sabem, esses dois são amigos desde que estavam na pré-escola. Eles estavam sempre juntos, sempre tão perto. Ficamos preocupados com ele sendo o melhor amigo de uma menina. Quero dizer, seu pai quase morreu quando ele começou a brincar com bonecas Cabbage Patch 36. E nunca ninguém namorou a Jane por muito tempo. Ninguém. Dick fungou, ganhando de mim uma cotovelada nas costelas. Mamãe Ginger vacilou num movimento brusco e cambaleou um pouco contra o bar. — Todos nós apenas acreditávamos que ela desistia de outros caras e voltava para o Zeb. Jane usou o vestido azul mais bonito no baile. Eu ainda tenho o boutonnière37 que ela deu a Zeb prensado em minha Bíblia. Eu sempre pensei que Jane me daria os netos mais belos. Dizem que às vezes pula uma geração... — mamãe Ginger berrou: — Nós todos adoramos tanto a Jane. Nós sempre dissemos que ela era a filha que sempre desejamos. Ela sempre foi uma parte da família. — Mas agora, estamos tão felizes em acolher a Jolene na família — disse eu em voz alta, explicitamente alegre. — Oh, é. Joanne — Mamãe Ginger disse, sóbria o suficiente para olhar em direção a Jolene, mas não, aparentemente, para acertar o nome dela. — Ela parece uma menina bonita o suficiente. Jolene olhava a futura sogra, esperando por alguma palavra de boas vindas, um elogio. Em vez disso, mamãe Ginger sorriu brilhantemente e anunciou: — Bem, vamos comer, todo mundo! 36

Um tipo de boneca segue link: www.cabbagepatchkids.com/ É um enfeite floral masculino, utilizado com roupas sociais em determinados eventos, como bailes de formatura ou casamentos. 37


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A cara de Jolene! Eu tentei fazer contato visual, tentei fazer algum tipo de conexão para mostrar a ela que eu estava do seu lado, que ser a favorita de mamãe Ginger era tão desejável quanto ser a porca mais bonita de uma feira. Mas sua mãe tinha envolvido um braço protetor em torno dela e conduziu-a para um canto tranqüilo. Lutei contra meus instintos para suavizar os ânimos e me afastei dos olhares rumo à porta traseira. Bati a porta contra o barulho e a fumaça. Eu afundei contra o prédio, ignorando a minha aversão natural de tocar o que quer que estivesse crescendo no revestimento de alumínio descascado. Eu me encolhi quando Gabriel enfiou a cabeça para fora da porta. Seu olhar de preocupação derretido em um sorriso absurdo. — Isso é apenas... — Sim — eu ri. Ele passou os braços em volta de mim, esfregando meus braços nus para afastar o frio. O movimento foi rápido em um padrão circular lento quando eu passei meus dedos em torno do colarinho e o atraí para mim. Sua boca era tão fresca, limpa e macia na minha, me lembrando que havia lugares e pessoas normais no mundo. Normais, pelo menos, pelos meus padrões. Era como todo grande beijo que sempre imaginamos só que estávamos cercados por carros velhos e encostados em um aparelho de ar condicionado. Encostei minha testa contra a dele. — Eu vou recompensá-lo em indizíveis favores físicos se você puder apagar qualquer vestígio desta festa da minha memória. — Estou intrigado com a sua oferta. Podemos discutir um pagamento mais profundo? — ele sorriu enquanto seus dedos dançavam ao longo da minha coluna, manipulando habilmente o zíper. Este era um assunto de alguma preocupação, considerando que (a) este não era o tipo de vestido que permitia usar sutiã, e (b) estávamos ao ar livre. Liberados de sua prisão de chiffon, os meus seios se derramaram nas mãos desejosas dele. — Eu pareço o tipo de garota que faria esse tipo de coisa em um estacionamento? — perguntei, entrando na batalha pelo controle do meu zíper. — Dick disse que você fica safada e sacana em estacionamentos — Gabriel sorriu. — O que aconteceu com ignorar e desprezar o Dick? Será que podemos voltar a isso? — sussurrei quando ele me pressionou contra a parede, prendendome com uma pressão requintada. Eu podia ouvir o ping de gotas na calçada enquanto seus dedos deslizavam em meu penteado cuidadosamente arrumado.


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Gabriel escorregou a mão livre debaixo da minha saia para dar um puxão na minha calcinha. Incapaz de me apoiar e me despir ao mesmo tempo, ele finalmente a rasgou de meus quadris. — Você me deve um par de boas calcinhas pretas — eu disse a ele cinicamente. Minhas presas se estenderam, beliscando seu lábio inferior. Ele sorriu para mim mesmo enquanto uma gota de sangue escorria de sua boca. Talvez eu seja o tipo de garota que fica safada e em um estacionamento. — Então eu vou ficar com esta — disse ele, enfiando-a no bolso da jaqueta. — Quando podemos ir? — murmurei contra seus lábios. — Quando eu posso te levar para casa e... Nós dois congelamos quando a porta se abriu e os nossos olhos sensíveis foram agredidos com a luz. — Oh, meu Deus! — nós viramos para ver mamãe Ginger emoldurada na porta, com os olhos arregalados com o choque. E eu estava presa contra a parede. E os destroços de minha calcinha pendurada no bolso de Gabriel como um lenço desgastado. — Mamãe Ginger! Gabriel me pôs sobre os meus pés e estendeu o casaco para esconder os meus esforços para levantar o meu vestido. Eu estourei em gargalhadas indefesas quando eu perdi o domínio sobre o corpete e o vestido caiu, sem piadas sobre não ter nada para me cobrir, agradeço a confusão na minha cintura. — Isto não é engraçado — mamãe Ginger me repreendia. — Talvez se eu bater minha cabeça contra algo bastante vezes, será — eu grunhi enquanto garantia que meu peito estivesse coberto pelo meu vestido. — Jane estou com vergonha por você! — mamãe Ginger gritou, puxando-me para a porta. Ela virou-se para Gabriel. — E você, eu não posso acreditar em você! Se você não fizesse parte do casamento, gostaria de mandá-lo embora. Agora, você entre lá e se sente com o resto dos padrinhos do noivo. Gabriel estava realmente agitado. — Agora, veja bem...


89 — Eu não quero ver você perto de Jane pelo o resto da noite. Quando eu era uma menina, os jovens agradáveis não colocavam a pata em jovens senhoritas em becos sujos. Quando ela era jovem, mamãe Ginger foi indiciada por abaixar as calças em um ônibus cheio de turistas na cidade para a convenção anual de crochê. Mas Gabriel não sabia, então aparentou estar devidamente contrariado. — Sim, senhora — disse ele, se movendo de volta para o bar. — E Jane, apenas vá a mesa da noiva e se sente. Mas, primeiro, corrija o seu batom. Você parece uma vagabunda — meu queixo caiu. — Você me ouviu. Agora se apresse! Quando saí do banheiro, sentindo-me muito menos limpa do que quando entrei, Jolene, Zeb, meus amigos vampiros, e alguns tios de Jolene estavam bebendo doses a tiros no bar. Isto incluía o tio Zane, que soava muito como o Boomhauer do Rei do Pedaço. As únicas palavras que você podia entender eram palavrões. E ele xingava muito. Seu irmão gêmeo, Dane, fez questão de não xingar em vez disso usava substitutos infantis para se expressar. Quando eu fiz o meu brinde pré-tiro, — Um brinde para o forte esquema de segurança no casamento. Zane disse algo ao longo das linhas — Como se fosse trazer algum maldito benefício. — Dane disse a Zane para cuidar de sua f***** boca na frente das f****** damas e eu não pude evitar rir. — Oh, vamos lá, apenas diga a palavra — Jolene respondeu dando tapinhas nas costas de Dane. — Nós todos sabemos o que você está tentando dizer, vá em frente, seja um homem e vá com guessto. Eu ri. — Ou você bebeu demais ou eu acho que você quer dizer gusto. Zeb bufou quando ele pegou outra bebida. — Bem, a Jolene não é exatamente um cientista de foguetes. Ela também diz "Foo Pas" em vez de "Faux Pas" e "bibioteca", em vez de "biblioteca". Jolene recuou como se Zeb a tivesse golpeado. Zane e Dane olharam para Zeb como se tivessem certeza que tinham ouvido errado, em seguida, abandonaram as suas bebidas, voltaram para o lado Were do ambiente, e olharam para o seu futuro sobrinho. Mesmo Dick e Gabriel pareciam desconfortáveis.


90 Apesar da palidez preocupante que tinha minado suas bochechas, Jolene deu uma risada forçada. — É uma coisa boa que eu tenha amigos inteligentes. Acho que vou arrumar outra bebida. Zeb revirou os olhos e apertou o ombro de Gabriel. — É uma coisa boa que ela tenha um rosto tão bonito, porque não há muita coisa acontecendo por trás dele. Enviei um olhar significativo para Zeb. Ele tinha aquele nebuloso e confuso olhar em seu rosto novamente, como alguém que sai da anestesia. Ele parecia agitar ao piscar os olhos enquanto ele tentava seguir Jolene por toda a sala. Um breve lampejo de remorso cruzou sua feição. Em seguida, foi substituído por algum sorriso vazio de macho. — Você deve querer ir pedir desculpas para ela. Zeb tomou outro gole e esmagou o copo na mão antes de jogá-lo sobre seu ombro. — Você está certa. Caso contrário, eu pagarei por isso mais tarde. Estou certo? Zeb me deu um tapa na bunda e se afastou. Meu queixo caiu. Os olhos de Gabriel se estreitaram, mas a partir do olhar em seu rosto, eu não acho que ele foi capaz de processar se Zeb tinha acabado de manchar a minha honra ou o tapa na bunda era algo que acontecia quando eu ainda era humana. Confie em mim, não era. Mas eu não estava prestes a incitar o meu namorado vampiro bêbado nessa atmosfera tensa. — O que foi aquilo? — perguntou Dick, que estava assistindo Zeb com uma mistura de irritação e preocupação. — Zeb não é geralmente um... — Um idiota? — Gabriel disse com a voz arrastada, e balançou um pouco. Ansiosa para mudar o rumo da conversa, eu olhava para as pupilas dilatadas de Gabriel. — Como é que você ficou bêbado com tanta rapidez? Eu pensei que a nossa constituição vampiríca nos impedisse de ficar bêbado assim.


91 — Eu não estou bêbado! — Gabriel gritou, indignado. — Tudo que eu tive que beber foi essa dose que os primos de Jolene me deram. É uma delícia. Tem gosto de abacaxi. — Você estava completamente sóbrio quando eu te deixei há poucos minutos — cheirei o copo e me virei para ver quando os barmen derramavam dois jarros de galão de álcool de cereais em uma banheira de metal galvanizado com suco em pó, maçãs em fatias, abacaxi e peras. Como muitos calouros de faculdade antes dele, Gabriel tinha caído na armadilha da cachaça. A armadilha da cachaça é uma bebida maléfica. Possui um alto teor alcoólico, mas o suco em pó e as frutas cobrem o gosto do álcool. Portanto, antes que você perceba que está bêbado, você já bebeu uns quatro copos. — Bem, é uma coisa boa que você não pode comer frutas — eu murmurei. — Acho que vou gostar disto — Dick riu, olhando quando Gabriel apertou a barra de luzes de néon. — Gabriel não conseguia segurar nem o seu licor quando éramos crianças, também. Ele arruinou o último bom tapete da minha casa passando mal com o melhor bourbon do meu pai. Você deveria ter visto como o rosto dele ficou verde... Gabriel bateu a mão desajeitada sobre a boca de Dick. — Shh. Jane não deveria ter que ouvir essa história. Não é uma bela história, você pode dizer, olhando para seu rosto. Eu amo o rosto da Jane. Ela faz a carinha mais doce quando eu a levo ao... ei! — Ele fez beicinho quando eu deslizei sua bebida alcoólica fora de alcance. — Eu acho que eu gostaria de ouvir isso — disse Dick, com sua expressão séria. — Você, vá lá fora e fique sóbrio — eu disse a Gabriel, empurrando-o para a porta. Virei-me para um Dick sorridente. — Você, pare de pensar em minhas expressões no sexo. Dick sorriu. — Eu só vou seguir o Gabriel lá fora para ver se ele vomita. — Pior. Festa. De. Todas — eu resmungava enquanto procurava a noiva. Jolene estava afogando suas mágoas em salsichas em conserva. Eu diria que ela ia comer até mudar de tamanho, mas ela tinha o hiper-metabolismo. Além disso, você simplesmente não quer interromper alguém com super-força quando


92 está comendo devido ao stress. Então, eu meio que empurrei um prato de asas de galinha para ela sem fazer contato visual. Eu vi um biólogo fazê-lo uma vez em um especial de tigre, algo sobre gestos submissos e mantendo todos os seus dígitos intactos. Jolene rasgou as asas com uma espécie de fungada, mas eu poderia dizer que seu coração não estava digerindo o acontecido. — Sinto muito que Zeb tenha dito aquilo — eu disse a ela. — Oh, ele não quis dizer isso — ela fungou. — Eu sei que ele está apenas sob um monte de estresse agora, com o casamento e minha família e tudo. Quer dizer, o pobre foi ficando com dores de cabeça, e isso o deixa irritadiço. Seria bom se sua mãe facilitasse um pouco e parasse de ser tão... — Jolene pausou com lágrimas brilhando nos cantos dos olhos. — Por que ela não gosta de mim? — Oh, querida — eu disse, envolvendo um braço em torno dela. — Ela não gosta de ninguém. Ela nem sequer realmente gosta de mim. Ela só gosta de sentir que tem algum controle sobre a situação. Ela está planejando me casar com o Zeb por anos, e ela não aceita mudanças, assim como minha mãe. Você apenas tem que dar-lhe alguns meses. Ela irá assimilar. Talvez alguns anos. Dê-lhe alguns anos. Jolene colocou um nacho recheado em sua boca e não respondeu. — Zeb ama você — eu ofereci. Ela fungou de novo, mas não ficou contente. — Mamãe Ginger acabou de me flagrar em uma posição comprometedora com o Gabriel lá fora, semi-topless e totalmente sem roupa de baixo. Isso tem que adicionar alguns pontos positivos para você. Jolene brilhou, enchendo sua boca com três almôndegas. — Obrigada. Isso ajuda. — Para que servem os amigos?


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Capítulo 7 Os humanos podem confundir as técnicas de cortejo dos lobisomens, especialmente do sexo masculino, como predatórias. Estudos mostram que dez por cento das relações humano-lobisomem começam com o homem sendo atacado por spray. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Após o naufrágio que foi a festa de noivado — ahhh, até eu estou fazendo a coisa do Titanic agora — eu tive que estabelecer algumas regras de telefone especiais para Jolene. Por exemplo, me ligar várias vezes durante o meu sono do meio-dia porque alguém está sangrando, inconsciente, ou em chamas é aceitável. Me ligar durante o meu sono do meio-dia porque mamãe Ginger tentou persuadir o escriturário do condado de que Jolene e Zeb eram, na verdade, primos em primeiro grau e inelegíveis para uma licença de casamento? Nem tanto. Mamãe Ginger estava bem em seu caminho para O Corredor da Vergonha da Mãe do Noivo. Convencida de que o desastre dos convites não tinha enviado uma mensagem clara o suficiente, ela começou a fazer demandas. Ela queria que a sua amiga, Eula, que nunca tinha cozinhado mais do que um pãozinho, cuidasse do bolo de casamento com temática náutica azul-e-branca para duzentas pessoas. Ela queria que Jolene anunciasse na recepção que o casamento coincidia com o aniversário de quarenta e quatro anos do Tio Ace e que organizasse as coisas para o DJ tocar 'Amigos nas Partes Baixas' em homenagem a ele. Mamãe Ginger também tinha ideias muito firmes sobre o que ela não queria para o casamento. Por exemplo, a tia Lola de Jolene tem uma loja de flores e tinha generosamente se oferecido para fazer os arranjos florais. Mamãe Ginger alegou que era alérgica ao pólen e insistiu em flores de seda. Ela chegou a ir à loja floral local e comprou os seus fornecimentos de margaridas de seda em magenta e amarelo, nem de longe parecidas com os arranjos de lírios brancos delicados que Jolene queria.


94 Mamãe Ginger também tinha evitado a tradição de ser a anfitriã do jantar de ensaio depois da mãe de Jolene recusar outra noite no Eddie Mac's. Em vez disso, Mimi se ofereceu para dar o jantar na fazenda. Mamãe Ginger disse: — Inferno, simplesmente planeja a coisa toda — e decidiu não tomar parte dele. Quando mamãe Ginger tentou mudar o tema do casamento de Titanic para 'Norte e Sul', eu tive que desligar o meu telefone. Eu nunca tinha visto mamãe Ginger tão furiosa. Bem, houve aquela vez em que Zeb foi tirado da equipe acadêmica no ensino médio e ela colocou uma erva no café da conselheira da equipe. Pobre sra Russell, vomitou durante três dias e perdeu o encontro da Copa do Governador do estado. A coisa assustadora naquela época e agora, era que mamãe Ginger pensava sinceramente que estava fazendo o que era melhor para Zeb. Muito parecido com a mãe da líder de torcida no Texas38. Zeb tinha os seus próprios problemas com o primo muito carinhoso de Jolene. Como a maioria dos predadores, Vance sentiu sua fraqueza. Apesar da aceitação ressentida a Zeb, o clã não apreciou a falta de afeição da mamãe Ginger por Jolene ou o seu claro favoritismo por mim. Vance estava explorando isso, resmungando aqui e ali que a família de Zeb não apreciava a jóia que estava recebendo. Oh, e que não deviam confiar em mim, porque nenhum homem pode ser apenas amigo de uma mulher, especialmente uma mulher vampira. Se eu estivesse com o meu telefone ligado, eu poderia ter recebido um aviso de que mamãe Ginger estava planejando aparecer na minha casa uma noite para 'um bate-papo'. Tradução: para criticar o meu relacionamento e atacar o meu suave ponto fraco emocional. A mulher era como o Hannibal em calças de poliéster. Vestindo o meu pijama de flanela com renas e sorvendo o meu copo matinal de 'Choque Cheio de Plaquetas', eu não estava preparada para companhia ou para a tóxica torta de maçã que ela estava trazendo para minha casa. Eu só podia rezar para que a tia Jettie não decidisse aparecer em casa. A primeira (e única) vez que mamãe Ginger tinha visitado River Oaks foi na primeira festa do bebê de Jenny. Ela tinha acendido um cigarro na sala e colocado o resto do cigarro em uma urna decorativa que estava na cornija... que continha as cinzas da minha querida bisavó Early. Jettie, que era corpórea na altura, expulsou mamãe Ginger de casa pela orelha e jogou a sua bolsa de palha atrás dela dizendo-lhe para nunca mais voltar. Em retaliação, mamãe Ginger começou um rumor de que tia Jettie era 38

Em 1991, Wanda Holloway pediu ao seu cunhado para contratar um assassino para matar a mãe de uma menina que estava competindo com a filha dela. Ela queria a mãe da outra menina morta porque ela determinou que a menina ficaria tão perturbada pelo assassinato da mãe que iria desistir da competição. Ambas as meninas tinham treze anos na época. Ela ficou conhecida como a "Mãe Assassina de Lider de Torcida do Texas" e a sua história gerou dois filmes para a TV


95 secretamente vegetariana. Não foi nem de perto tão prejudicial como ela tinha antecipado. Confrontada com uma sobremesa nociva e sem vias de escapatória possíveis, eu levei mamãe Ginger para a cozinha e soltei Fitz pela porta traseira. Enquanto o amável Fitz, um produto de reprodução indiscriminada entre espécies, era muito pesado, não era nem bonito nem inteligente. Além disso, a sua propensão para rolar em coisas mortas o deixava vulnerável para acidentalmente consumir a torta de mamãe Ginger. Eu peguei duas porções pungentes da torta e ofereci a mamãe Ginger café, que eu própria também precisava se estava prestes a socializar ao equivalente vampírico às cinco da manhã. — Bem, isto não é agradável? — mamãe Ginger suspirou enquanto puxávamos banquinhos para a minha bancada em forma de ilha. Ela espetou o seu garfo na mistura pegajosa. — Nós não tivemos realmente uma chance para conversar durante a festa de noivado. E eu sinto falta das nossas conversas, Jane. Então, conta-me tudo sobre este Gabriel. Conta-me tudo sobre o homem que te roubou do meu Zeb. Eu cuspi um pouco do meu café enquanto tentava arrumar uma explicação aceitável para a minha relação com Gabriel. — Eu conheci-o no ano passado, logo depois que saí da biblioteca. Ele é bom para mim, muito protetor. Ele me ajudou a fazer um monte de grandes mudanças em minha vida... Eu tenho que aprender a falar com menos reticências. — Mas como é que ele é? — mamãe Ginger pressionou. — Ele viveu aqui toda a sua vida. Gosta muito de Zeb, e está confortável por eu ter um melhor amigo do sexo masculino. Nós nos encaixamos bem. Praticamente terminamos as frases um do outro. Porque eu normalmente o estou interrompendo. — Bem, se ele viveu aqui toda a sua vida, porque é que eu não o conheci? — mamãe Ginger exigiu. — Quem é a sua gente? O que é que ele faz? O quão sério ele está sobre vocês dois? — Uou, isso é um monte de perguntas — eu disse. — Eu apenas estou preocupada contigo, Jane — mamãe Ginger fez um som de desaprovação, acariciando as minhas mãos. — Eu não quero que se contente com algum perdedor com boa conversa só porque está desesperada.


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— Eu não estou desesperada! — exclamei. — Você tem trinta... — Vinte e oito! — corrigi. — E neste ponto, você vai se agarrar a qualquer coisa — mamãe Ginger encolheu os ombros. Eu resmunguei — Isso não é completamente verdade. Mamãe Ginger exigiu — Então onde está o Gabriel agora? Porque ele não está aqui contigo? Essa era uma questão pertinente, mas eu não estava disposta a admitir isso a mamãe Ginger. A verdade era que eu não tinha visto o Gabriel desde a festa de noivado. Ele estava em Lisboa essa semana, discutindo a venda de alguns edifícios residenciais que possuía por lá. Pelo menos, eu acho que foi isso que ele disse no correio de voz que me deixou no dia a seguir à festa. Ele não tinha atendido o telefone quando eu liguei, oh, vinte ou mais vezes ao longo dos últimos dias para tentar obter uma explicação melhor. Eu cheguei até a ligar para o hotel onde ele supostamente estava ficando, mas eles não tinham um Gabriel Nightengale registrado. Eu estava me agarrando à esperança de que ele ou tinha mudado os seus planos ou tinha se registrado com um nome fictício, como por exemplo Sr. Eu estou Morto. — Gabriel passa muito tempo viajando por causa do trabalho — eu disse, escolhendo cuidadosamente as minhas palavras. — Ele possui um grande número de empresas diferentes, e ele tem que dar uma olhada nelas de vez em quando... Mamãe Ginger suspirou, revirando os seus olhos fortemente sombreados pela minha ingenuidade. — Oh, querida, a minha prima Pam disse a mesma coisa sobre o marido, Claude, e o seu negócio de abastecimento de canos, e depois ela descobriu que ele tinha outra família em Butler County. Ele até deu aos filhos os mesmos nomes para não estragar tudo chamando os filhos errados para o jantar. — Eu não acho que isso é algo com que preciso me preocupar. E nós não temos o tipo de relação em que temos de nos ver todos os dias. — Bem, porque não? Porque é que ele não quer te ver todos os dias? — ela exigiu. — Você não vale esse tipo de compromisso? Onde é que ele quer ir com isto? Vocês já falaram sobre casamento?


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— Não! — eu ri. — Nós não falamos sobre casamento. Porque a lei do estado o proíbe. — Bem, porque não? Tick-tock, tick-tock, Jane. Eu consigo ouvir o teu relógio biológico. Você não tem tempo a perder com um pequeno caso que não vai a lado nenhum. Se quer ter bebês, tem que acelerar as coisas. Droga. A finalidade do vampirismo tinha me mantido longe de pensar sobre a maternidade, ou sobre a minha inutilidade nisso por um tempo. Percebendo que Andy e Bradley seriam os seus únicos netos, mamãe tinha parado de perguntar pelo meu útero e dedicou a sua energia ao seu neto-canino, Fitz. E como eu tinha evitado as senhoras da igreja, que normalmente me questionavam sobre os meus planos reprodutivos, eu já não estava pensando defensivamente. A minha lista habitual de respostas para — Quando vai ter filhos? — incluía algo como — Quando eles vierem com uma política de retorno de investimento — mas há muito essa resposta tinha desocupado a ponta da minha língua. Então, confrontada com as velhas perguntas sobre filhos pela primeira vez em meses, tudo o que eu pude gaguejar foi — Qu-quem falou sobre ter filhos? — Eu apenas sempre supus que queria. Você era tão boa com as crianças na biblioteca. Elas te amavam. E Zeb sempre falava o quanto os alunos dele gostavam quando ia lá para a Hora dos Contos de Fada. Eu sempre pensei que foi feita para ser mãe. Sabe, você tem esses quadris ótimos para reprodução. Poderia muito bem dar-lhes bom uso. A queda do meu queixo ecoou na cozinha vazia enquanto mamãe Ginger voltava a atacar a sua sobremesa. Ela encolheu os ombros e mastigou. — Quero dizer, se não tiver filhos, qual é o ponto de ser mulher? Eu acho que mereço algum tipo de recompensa cármica por não usar a minha força vampírica para puxar o lábio de mamãe Ginger sobre a sua cabeça. Obviamente, crianças não eram uma opção. Essa porta se fechou no momento em que eu engoli sangue de vampiro. Em geral, vampiros não são pais muito bons. As nossas horas noturnas são incompatíveis com padrões saudáveis de sono humanos. É difícil disciplinar uma criança quando elas podem simplesmente fugir para a luz do dia para escapar de você. E depois há toda a coisa de "nunca envelhecer e viver mais do que os seus filhos por centenas de anos."


98 Pais que foram transformados enquanto os seus filhos ainda eram menores têm que lutar com presas e unhas para ficar com a custódia deles, mesmo quando há um pai vivo em casa. E o último legislador que levou um projeto de lei de direitos de adoção para os não-mortos perante o Congresso foi literalmente satirizado até o lado de fora do escritório. Agarrando a bancada de uma forma que deixou entalhes em forma de lua na superfície, eu contei até dez e disse: — Isso é apenas... Mamãe Ginger deixou cair dramaticamente o garfo e me cortou: — Querida, eu simplesmente não aguento. Eu tenho que te dizer. O coração de uma mãe não suporta ver um filho em tal sofrimento. — Zeb está em sofrimento? — Bem, docinho, não é óbvio? Ele apenas foi atrás de Jolene quando se relacionou com esse Gabriel. Ele diz que não te vê tão frequentemente desde que conheceu Gabriel, e eu sei que isso está simplesmente quebrando o coração dele. Jolene é apenas a garota de recuperação. Ele não está apaixonado por ela. Ele está tentando fazer você pagar. — Por quê? — Por não o amar também! — mamãe Ginger gritou. — Zeb não me ama. Ele ama Jolene — eu disse em um tom lento e deliberado que alguém usa com uma pessoa muito idiota ou ligeiramente bêbada. Ou ambos. — Mas vocês são a combinação perfeita, sempre foram. Vocês têm uma história tão longa juntos. Não pode simplesmente jogar isso fora. Calças quentes e hormônios não fazem um casamento. Acredita em mim, querida, eu sei. Eu casei por luxúria, e vê o que me aconteceu: um marido que não fala e sogros que falam malditamente demais. O que vocês têm, amizade e companheirismo, isso é o que faz um casamento sólido e duradouro. Isso é o que vai fazer o meu garoto feliz. — Por favor, Deus, que esta seja a última vez que você diz 'calças quentes' na minha frente. — Sempre foi sobre você e Zeb na minha cabeça — mamãe Ginger fez uma pausa para pressionar os dedos nas têmporas, como se ela estivesse prestes a perscrutar um futuro onde eu estava de alguma forma viva e lhe dando montes e


99 montes de pequenos Lavelles. — Sempre que eu imaginei o casamento de Zeb, era sempre você andando pelo corredor. — Você simplesmente não está fazendo sentido neste momento — eu lhe disse. — Se apenas conhecesse Jolene, entenderia porque Zeb a ama tanto. — Ela não é você! Quando você e Zeb estiverem casados, nós seremos a perfeita e grande família feliz. Você e Zeb podem vir para jantar de vez em quando. Nós iremos à feira aos fins-de-semana. E eu tenho certeza que mamãe ou papai Lavelle estariam mortos quando vocês começassem a ter bebês, por isso vocês podiam se mudar para um dos trailers lá atrás de casa. Eu acho que devo ter tido uma distensão tentando manter uma cara séria em resposta a isso. — Mas se realmente quer um relacionamento sogra/nora assim, Jolene estaria mais do que disposta a fazer todas essas coisas contigo. Ela quer ser mais próxima de você. — Mas não será a mesma coisa. Isso não é como eu como eu imaginei. — Mas será como Zeb imaginou. Eu não quero Zeb. E ele não me quer. Ele quer Jolene. Não é importante deixá-lo ter algo a dizer na escolha da esposa? — Oh, ele é um homem, ele não sabe o que quer — ela bufou. — Se eu não o ajudar a descobrir o que é melhor para ele, que tipo de mãe eu seria? O tipo de mãe cujo filho não ignora os telefonemas? — Você verá as coisas do meu jeito logo — mamãe Ginger insistiu. — O que significa isso? — Eu só quero ajudar vocês a perceberem algumas coisas, querida — mamãe Ginger disse, levantando-se e colocando a bolsa ao ombro. — Bem, isso foi divertido, mas eu tenho que ir, não precisa de me levar à porta. Eu tenho que ir encontrar-me com a mãe de Jolene na Bridal Barn para falar sobre vestidos para o casamento, como se eu precisasse de conselhos de moda daquela coisa deselegante. Vonnie está fazendo um grande negócio sobre manter a loja aberta até tarde. Eu olhei enquanto ela se dirigia para a porta traseira. Ela sorriu beatificamente para mim. — Se quiser conversar, me liga.


100 Eu fiquei sentada no balcão, olhando para as camadas intocadas de torta lamacenta no meu prato, a minha cabeça girando. Tia Jettie apareceu ao lado da pia, os lábios franzidos em zombaria. — O que é isso? — ela perguntou, apontando para os restos da torta de mamãe Ginger. — É como uma autópsia com fruta. — Mamãe Ginger veio para definir o alarme no meu relógio biológico. Oh, e para me lembrar que não há nenhum ponto em ser mulher se eu nunca tiver filhos. — Bem, se isso é verdade, eu gastei um inferno de um monte de dinheiro em meias-calças e batom — Jettie bufou. — Eu não sei de onde isto está vindo. Porque ela diria algo assim? E porque eu estou deixando que isso me incomode? Não é como se eu pudesse simplesmente decidir ligar as minhas partes de senhora outra vez. — Oh, querida, não acha que eu ouvi a mesma coisa toda a minha vida? — ela disse, acariciando as minhas costas com os seus dedos frios e insubstanciais. A sua voz subiu duas oitavas. — Não sabe que está desperdiçando a sua vida? Vai acabar sozinha, sem ninguém para cuidar de você quando ficar velha. O que te faz pensar que é tão boa para não se casar e ter filhos como deveria? A maioria era apenas a tua avó Ruthie. Você tem que ignorá-los. — Mas nunca se arrepende? — eu perguntei. —De não ter filhos teus? — Eu não precisei ter filhos meus — ela sorriu. — Eu tive você. Eu cuidei de você, te ensinei, aprendi contigo. Eu posso não te ter carregado no meu útero, mas eu sempre te carreguei no meu coração. — Se eu não estivesse pensando no seu útero neste momento, isso teria sido um sentimento tão doce — eu disse, inclinando a minha cabeça contra a cabeça fantasmagórica dela. — Sente-se melhor agora? — ela perguntou. — É — abanei a mão. — Eu me sentiria melhor se pudesse comer uma taça de sorvete sem vomitar. Quando Gabriel finalmente ligou três dias mais tarde para me avisar que estava de volta à cidade, eu decidi que estava na hora de tomar alguma iniciativa. Com o meu medo sempre presente de ser uma criança carente, eu normalmente esperava que ele ligasse. Mas eu percebi que um pouco de romance fabricado


101 poderia ser o necessário para me tirar da depressão induzida pela mamãe Ginger. Eu deslizei numa camiseta vermelha e jeans e marchei para fora para vê-lo. Ou pelo menos eu teria, se eu não tivesse aberto a porta para encontrar Adam Morrow de pé na minha porta. E como eu tinha um pouco de ímpeto, fui contra ele, e com o pânico, levantei-o pelas axilas para tirá-lo do meu caminho. — Adam! — eu gritei. Ele fez um som borbulhante enquanto o deixei cair como em um montinho de veterinário limpo no meu alpendre. — Adam, eu sinto muito — eu disse, pegando-o e colocando-o de volta em seus pés. — Está tudo bem — ele disse, segurando uma caixa achatada, que eu podia cheirar agora que eram flores. — Foi meio legal. — O que está fazendo aqui? — Eu queria te ver — ele disse, endireitando a caixa e o arco vermelho brilhante preso a ela. — E eu vejo agora que surpreender um vampiro não é uma boa ideia. Eu olhei para ele, a minha boca aberta, pasma como um peixinho dourado sufocando. — Sim, eu descobri a coisa de vampiro — ele disse, um rubor envergonhado colorindo as suas bochechas. Oh, deus, mesmo no escuro, isso apenas o fazia mais bonito. — No velório eu não te vi comer nada. E, bem, ninguém te vê durante o dia. Não tem que se preocupar. Eu não vou contar a ninguém. Eu só queria... eu só te queria ver. Eu tenho pensado muito em você ultimamente. Eu nunca conheci um vampiro de verdade antes. Eu ri. — Estou tão feliz por ser a primeira. — Estas são para você — ele disse me oferecendo a caixa amarrotada. — É jasmim. Eu pensei que poderia gostar. Floresce à noite. — Isso foi doce — eu lhe disse.


102 Adam Morrow me trouxe flores. Na lista de Devaneios Adolescentes Que Provavelmente Nunca Vão Acontecer Comigo, isso era o número um. Agora, tudo o que eu tinha que fazer era dar uns amassos com um dos membros não gays do 'N Sync e estrelar um filme com Hugh Grant. Sem saber o que fazer com a caixa, eu abri a porta. Uma bola de pelo voou para nós, dando-me um banho de língua completo. Após considerar que eu estava suficientemente lambida, Fitz voltou as suas atenções para Adam, um homem estranho em roupas escuras de pé no nosso alpendre. Fitz é adorável na sua própria forma hedionda, mas como sistema de segurança, ele é praticamente inútil. — Ei, garoto — Adam sorriu, esfregando o focinho de Fitz conforme eu os levava para a sala. — Você é simplesmente uma mistura completa de raças, não é? Adam não era meu veterinário, porque a ideia de fazer papel de idiota na frente dele cada vez que Fitz precisasse de um check-up não era uma ideia feliz. Fitz provou ser um modelo mendeliano39 fascinante para ele. Eu acho que Adam nunca tinha visto um cão com os olhos e orelhas que eram cada um de cor diferente. Fitz inclinou-se para ser coçado e deixou que a sua língua ficasse pendurada completamente, inútil e arrogante. — Então, não está pirado por causa de tudo isso? — eu perguntei, puxando os meus lábios de volta sobre os meus caninos. — Não — ele insistiu. — Como eu disse, é realmente interessante. Você mudou muito desde o ensino médio. Eu bufei. — Isso é um eufemismo. Tia Jettie apareceu atrás de Adam e deu-me os grandes polegares para cima. Com Adam se concentrando em Fitz, eu lhe disse silenciosamente com a boca — Eu sei! — e enxotei-a. Jettie sorriu e desapareceu. — Como é? Como é ser um vampiro? — ele perguntou. — Estranho — eu disse, olhando para ele. — Poderoso, excitante, e ocasionalmente humilhante, confuso e doloroso. É meio como atravessar a puberdade novamente. Nada sobre a minha vida é igual. Mas há algumas coisas boas. Visão noturna impressionante, por exemplo. Eu ainda estou tentando equilibrar as coisas. Quero dizer, quando estávamos fazendo aquelas provas de 39

Concepção tirada dos trabalhos de Mendel, relativos à transmissão de certos caracteres hereditários e resumidos nas chamadas leis de Mendel; o mendelismo levou à teoria cromossómica da hereditariedade e à noção da genética moderna


103 aptidão no Dia da Carreira, vampirismo não foi uma das coisas que surgiu como resultado. Eu nunca poderia ter previsto que a minha vida seria mudada desta forma, mas eu terei a melhor história na nossa reunião de classe. Adam olhou para cima e soltou — Eu queria saber se quer ir jantar um destes dias? — Eu não como realmente — eu disse. — Oh, certo — ele disse, batendo na sua própria testa. — Bem, e café? Ou nós podemos ficar e assistir um filme se estiver mais confortável com isso. Eu topo qualquer coisa. Só... eu gostaria de passar algum tempo contigo. O que vai fazer esta noite? — Eu na verdade estava indo ver o meu amigo. O amigo que eu mencionei no funeral. O... amigo homem. O rosto de Adam caiu um pouco. — Não está facilitando para mim, não é, Jane? — Eu acho que não é suposto facilitar para você — eu disse. — Na verdade, quando eu era adolescente, a minha mãe me deu várias palestras sobre o porquê eu não deveria facilitar para você. Ele riu. — Bem, não pode me culpar por tentar. Quando quiser sair, mesmo se for só como amigos. Quero dizer, eu não quero que sejamos só amigos, mas eu vou pegar o que puder... eu não estou dizendo isso bem. — Ele se afastou de mim, negociando os passos sem sequer olhar para baixo. — Basta me ligar alguma hora, por favor. Pequenas borboletas tontas dançaram em volta da minha barriga. Eu esfreguei as minhas bochechas com a ponta dos dedos e encontrei um grande sorriso bobo na minha cara. — Adam Morrow quer sair comigo — eu disse à tia Jettie, que estava ao meu lado enquanto eu o observava dirigir para longe. — Isso é estranho. — Esse é um menino muito doce — Jettie assentiu. — Respeitoso, atencioso, e gentil. A mãe dele o criou bem. — Eu sei — suspirei, levando as flores para a cozinha e colocando-as em um dos vasos de vidro favoritos de Jettie.


104 Jettie assentiu. — Bela bunda, também. — Nojento — estremeci. Ela sorriu. — Eu estou morta, não cega, querida. — E ainda assim, eu digo, ew — peguei minha bolsa e vesti um casaco. Por capricho, eu agarrei a antiga cesta de piquenique de vime da Jettie e tirei-a do armário da frente. — Eu não tenho tempo para isto. Eu preciso ir ficar confusa sobre o homem que estou realmente namorando. Ao que parece, Gabriel era o único confuso. — O que há de errado? — ele perguntou quando abriu a porta antes que eu pudesse bater. Foi mais do que o tom cansado que colocou pequenas campainhas de alarme na minha cabeça. O rosto de Gabriel estava esticado e apertado. Os olhos dele tinham uma cor de ardósia maçante e faltava a faísca que eu me acostumei a esperar. Ele parecia quase doente. Isto era mais do que apenas stress de viagem. Algo estava errado. Mas eu podia dizer pela sua expressão guardada que perguntar me deixaria sem respostas e sozinha em uma noite perfeita para um encontro. — Nada — eu disse, sorrindo para esconder as minhas preocupações. — Absolutamente nada. — Você nunca vem me ver a menos que esteja com raiva ou que algo esteja errado. Eu ofeguei, me fingindo ferida. — Isso não é verdade. — A primeira vez que esteve aqui, veio esbravejando pelos meus degraus da frente porque eu tinha mandado Andrea a tua casa. A última vez que esteve aqui foi porque Zeb e Jolene estavam à beira do colapso. Nós nunca passamos tempo aqui. Eu sempre estou em sua casa. — Sabe, tem razão. Sinto muito. Eu sou terrível nessa coisa de relação. Ele encolheu os ombros. — Você apenas gosta de estar confortável. — Ele me cheirou ligeiramente, e depois deslizou a ponta do seu nariz na minha testa. Eu levei isso como um gesto doce e íntimo até que ele perguntou: — Porque é que está cheirando a pastor alemão?


105 Eu olhei para ele, pensando que isto poderia ser algum tipo estranho de enigma, até que percebi que o perfume canino de Adam provavelmente tinha ficado em mim quando eu tinha ido contra ele. Eu dei uma gargalhada assustada. — Oh, eu fui de encontro a um velho amigo do ensino médio, Adam Morrow. Ele é um veterinário, e devia ter algum resíduo restante de cão sobre ele. — Você o encontrou enquanto dirigia para cá? — Gabriel perguntou. — Não, ele foi lá em casa para dizer oi, bem na hora que eu estava saindo pela porta — eu disse, a desconfiança em sua voz levando à minha resposta 'balbuciada'. — Não é grande coisa. Na verdade até foi engraçado. É este cara de quem eu costumava ter uma paixão enorme quando éramos crianças, mas ele nunca olhou para mim duas vezes. Eu era uma nerd de banda desajeitada, e ele era o garoto mais popular na nossa turma. Mas agora que eu fui transformada, e agora que mudei, eu acho que ele está interessado em mim. Eu disse-lhe que estava vendo uma pessoa. E que é um pouco tarde demais, obviamente. Quero dizer, eu sou uma mulher adulta, e era só uma paixão de fantasia de garota de escola boba. Eu já ultrapassei. Completamente. Totalmente. Completamente e totalmente ultrapassada. Gabriel fez uma careta, as suas feições irradiando dúvida e desconforto. Talvez o segundo "completamente e totalmente" tenha sido exagerado. — Então, seja meu guia — eu sugeri, mudando de assunto rapidamente e entusiasticamente. — Eu só vi dois cômodos da sua casa. A sala e o seu quarto. — Aquele não era o meu quarto — ele disse. — Esse era o quarto de hóspedes. — Deixou a sua jovem criança vampiro para acordar no quarto de hóspedes? Os seus lábios contraíram, e eu podia vê-lo sair lentamente do mau humor. — Onde você colocaria uma jovem criança vampiro para acordar? Eu parei para pensar nisso. — Eu não sei. Então, me mostra o seu quarto. E eu digo isto de uma forma perfeitamente respeitável para um tour pela casa. O quarto de Gabriel era surpreendente. Eu esperava algo dispendioso e barroco. Mais ou menos como Henry VIII misturado com Rudolph Valentino. Mas as paredes estavam nuas, de um azul pálido indo em direção do roxo, da cor do céu logo após o amanhecer. A cama era grande e macia, mas simples, algo que


106 encomendaria da Ikea40 e depois imediatamente se arrependeria. Uma cortina grossa da marinha estava puxada para trás, revelando um amplo assento de janela, o único assento no quarto. E o banheiro dele tinha um chuveiro grande o suficiente para seis. Ele especificamente mencionou isso, o que, francamente, me preocupou. Eu espiei seu armário. Preto até onde o olho podia ver. Camisetas pretas, suéteres pretos, camisas pretas, calças pretas, quebrado apenas pelos ocasionais toques de ardósia cinza. — Já pensou alguma vez em usar algo estampado? — perguntei. — Talvez até mesmo um tom pedra preciosa? Uma das cores menos intensas. Azul. Verde. Que tal vermelho? Nós sabemos que gosta desse. Espera, é daltônico? — Eu não uso tons de jóia — murmurou Gabriel, me levando de volta para o quarto. — Ou estampados. Não havia fotos, espelhos, nada nas paredes a não ser uma cópia de “O Vampiro” de Edvard Munch41, um retrato ambíguo de uma mulher ruiva seminua com os seus braços ao redor de um homem e com a cabeça inclinada para esse mesmo homem de cabelos escuros. Eu parei, estudando a imagem com a cabeça inclinada. Ele é o vampiro? Ou é ela? Ele é simplesmente um amante em busca de conforto nos peitos da sua ruiva? Ou eles são dois humanos encolhidos na sombra da forma escura que se elevava atrás deles? — O que pensa dele? — ele perguntou. — É lindo, triste e vago — eu disse. — Sabe, o título original da pintura era “Amor e Dor" — ele disse. — Um crítico de arte pegou no tema subjacente vampírico, e o nome pegou. Os peritos de Munch estavam e estão horrorizados, mas não pode negar a imagem subconsciente. — Sabe, as orelhas dele são meio parecidas com as suas — eu comentei, olhando das orelhas ligeiramente pontiagudas da pintura para as de Gabriel. Gabriel sorriu. — O artista achou a parte de trás da minha cabeça bastante atraente.

40

Loja de mobiliário moderno e de preços acessíveis. Quadro que representa uma mulher mordendo http://www.diariodopara.com.br/N-4006O+VAMPIRO++DE+EDVARD+MUNCH++SERA+LEILOADO+EM+NY.html 41

e

abraçando

um

homem:


107 — Então, isto é um altar à sua vaidade? — eu perguntei, provocando. — Eu gosto da ironia. Um homem me interpretando como um vampiro, mas tudo lhe dizendo que é impossível. O que te trouxe apressada para a minha porta se não são más notícias? — ele perguntou quando eu o levei para descermos as escadas em direção à surpresa que lhe trouxe. Ele ofereceu mais do que um pouco de resistência conforme eu o afastava cada vez mais do quarto. — Eu pensei que podíamos realmente sair de casa para um encontro. Eu achei que já tínhamos cumprido com o encontro de sofá. Você é um mestre no encosto do canto e a acariciar as costas daquela forma casual que acaba por levar a mais alguma coisa. Eu pensei que poderia gostar de aumentar o grau de dificuldade. É hora de deixar o conforto dos amassos de sofá, Gabriel. Vamos sair para ver um filme. Ele arqueou as sobrancelhas para mim enquanto eu o puxava para o vestíbulo. — Imagens em movimento projetadas em uma tela na frente de uma sala escura cheia de gente — ele me lançou um olhar fulminante. — E como eu acho que nem mesmo os seus amplos horizontes estão bastante preparados para o Cineplex de Hollow, eu pensei que podíamos visitar o teatro do dólar. — O teatro do dólar? — O antigo lugar de duas telas no centro. Eles mostram filmes antigos por um bilhete de um dólar. É como uma espécie de jogo. Algumas vezes vê o fim, outras vezes o filme derrete. Mas os assentos são confortáveis, e há um monte de ambiente. — Está se referindo ao Palladium? Eu mastiguei o lábio. — Eu acho que é isso que diz o sinal de néon crepitante. — O Palladium costumava ser o melhor palácio de imagens em movimento deste lado do estado. Eu vi o meu primeiro filme lá, Casablanca. — Você esperou até 1940 para ver o seu primeiro filme? Ele deu de ombros. — Eu tinha coisas para fazer.


108 — Bem, agora o Palladium é o lugar onde pode comprar um balde de cerveja com alguma pipoca muito velha. — Mas... todos aqueles humanos. — Nós somos vampiros. Se alguém falar durante o filme, nós rasgamos as suas gargantas. Vamos lá, eu estou usando os meus sapatos bonitos de encontro e tudo. Ele olhou para baixo para os meus sapatos de salto alto pretos de tiras espreitando para fora dos meus jeans. — Você sabe que eu não consigo resistir quando os teus dedos do pé estão expostos — ele resmungou. — Bom, isso significa que usar sapatos abertos nos dedos durante o inverno vale a pena. E como não podemos exatamente parar para pegar uma pizza no nosso caminho para a cidade, eu trouxe isso — puxei uma garrafa muito bonita de sangue doado tipo B-positivo, que eu sabia que Gabriel preferia, da cesta de piquenique. — Muito bom — ele comentou, avaliando o rótulo. — O teu paladar está melhorando. — Obrigada. Agora vamos. — E beberemos isso? — Eu tenho tudo planejado. Apenas relaxa essa sua coluna empinada e vem comigo — eu levei Gabriel ao Memorial Park, um minúsculo pedaço de grama no meio da cidade. Era casa para um mirante ladeado por estátuas de cimento enegrecidas de veteranos da Guerra Civil famosos de Hollow, incluindo Waco Marchand, que agora servia na comissão local do Conselho para a Igualdade de Tratamento Dos Não-Mortos. Crianças do ensino médio posavam para fotos na noite do baile nas ornamentações do mirante toda a primavera. Mas hoje à noite estava abandonado, vazio exceto pelas luzes de fadas penduradas nas beiradas cuidadosamente preservadas das ornamentações. Eu pisquei para Gabriel e comecei a desembalar a cesta de piquenique em um dos pequenos bancos de ferro forjado do mirante. — É Dezembro — Gabriel disse, olhando para mim e apertando mais o casaco contra o seu corpo. — Nós ficamos à temperatura ambiente — eu o lembrei, dando tapinhas no banco. — Além disso, nós temos luzes cintilantes de natal apenas disponíveis nesta


109 altura do ano. Nós temos uma adorável garrafa de B-positivo. Nós temos uvas e queijo, que, eu vou admitir, eu comprei no caminho para sua casa estritamente porque eu vi pessoas embalá-los para piqueniques de vinho em filmes. Nós temos romance e atmosfera fora do ying-yang. Ele me deu um sorriso que me garantiu que ele estava trabalhando duro para ceder ao meu romantismo de garota. — Eu estou usando os sapatos de encontro — eu o lembrei. — Malditos sejam os seus dedos refinados — ele suspirou. — Deixa-me abrir isso. Não quer enchê-lo de cortiça. — Está querendo dizer que uma pequena coisa velha como eu não pode operar algo tão complicado como um saca-rolhas? — ele sorriu para o meu tom indignado. — Ok, está certo. Mas isso não é porque eu sou uma mulher. É porque a maior parte das coisas que eu bebia quando estava viva envolviam abertura fácil. — Eu sempre apreciei os seus pequenos comentários sarcásticos — ele resmungou ao barulho fraco da cortiça se soltando. Ele cuidadosamente o derramou nos copos de vinho de plástico que vieram com o conjunto de piquenique. — A que bebemos? — À paz mundial? — eu sugeri. Ele fez uma careta. — A fazermos coisas que os casais normais fazem? Ele pigarreou e levantou a taça. — À sra. Mavis Stubblefield, sem a qual nós não estaríamos esta noite juntos. Eu ri. — Isso é meio retorcido. Ele assentiu, enquanto bebia. — Mas é verdade. — A Mavis Stubblefield, sem quem eu nunca teria sido demitida, publicamente embriagada, confundida com um veado, baleada, e transformada em um vampiro por você — admiti, e dei um gole profundo. Apesar das minhas tendências pacifistas, eu apreciei o chiar das células vermelhas humanas enquanto elas deslizavam pelo meu sistema. — Se calhar eu devia mandar-lhe uma nota de agradecimento. — Nós dois sabemos que isso não vai acontecer.


110 — Também é verdade — eu admiti, aconchegando a minha cabeça na curva do seu pescoço. — O que está fazendo? — Aproveitando o momento — suspirei. — Você é, sem dúvida, a garota mais interessante com quem eu já partilhei um mirante — ele murmurou, beijando a minha testa. — Interessante. Aí está a sua palavra favorita mais uma vez. — Eu acho que já estabelecemos como eu estou interessado em você — ele riu, me beijando. Ele suspirou quando me soltou. — Eu me sinto como se não tivéssemos sido capazes de passar muito tempo juntos ultimamente. Eu sinto muito que os negócios tenham tomado muito do meu tempo. Os meus lábios se abriram, e eu podia sentir a corrente de questões se juntando. Porque ele não estava respondendo ao telefone? Porque é que ele estava sendo tão estranhamente vago sobre as suas viagens? Onde é que ele esteve, de verdade? Mas a noite estava tão perfeita, tão relaxada. Novamente, passagens de Razão e Sensibilidade surgiram na minha mente. Elinor quase perde Edward porque ela não fala como se sente. Ela poderia ter acabado sozinha, mas Lucy Steele deixa Edward pendurado ao fugir com o irmão dele. Será que Edward teria continuado apaixonado por Elinor se ela tivesse armado birra quando ele a deixou em Norland sem confirmar os seus sentimentos? Será que fazendo exigências e ultimatos confirmaria que Edward fez e escolha certa em Lucy? Eu era uma Elinor, não uma Marianne. Eu não queria desperdiçar tempo precioso e ininterrupto de nós dois juntos com explosões ou questões que possam levar a uma discussão. Por isso eu optei por um tópico mais seguro. — Tem ajudado que seja tudo sobre casamento, casamento, e mais casamento ultimamente — suspirei. — Me diz como é possível que este casamento tenha tomado controle completo da minha vida e nem sou eu que vou me casar? Eu sou apenas uma humilde madrinha, e ainda assim sou eu que estou fazendo comparações de guardanapos e intervenções de sogra. Ele meditou sobre isso por um momento. — Oh, eu vi uma dessas revistas de senhoras que deixou espalhadas pela casa. Eu acho que o termo é Noivazilla42?

42

Junção de noiva com Godzilla.


111 — Eu não sei se usaria a palavra Noivazilla. Não é que Jolene esteja sendo toda exigente ou... sim, noiva-were cobre tudo isso — eu admiti. — Eu não sei o que fazer. Eu apenas continuo sendo incluída. Provas de vestidos, festas de noivado do inferno, festas de benevolência. Não é que eu não tenha tempo, eu só estou ficando desgastada, sabe? Mas eu não acho que nenhum dos primos dela irá fazer qualquer uma dessas coisas com ela. — E o noivo dela fez avanços vagos, mas ainda assim perturbadores para você e a está tratando mal, por isso se sente incrivelmente culpada. — Não! — insisti. Eu olhei para o meu copo e resmunguei. — Sim. — Você é uma amiga muito boa. Eu esperei pelo sábio conselho que normalmente ele me dava nestas situações. E não recebi nada. — E? — Isso são todas as platitudes que eu tenho — ele disse. — Geralmente, as pessoas não convidam vampiros para o seu casamento, muito menos fazem deles servas não-mortas da noiva. Esta é uma situação com que eu nunca tive que lidar antes. — Em mais de um século? — ele deu-me um olhar de desculpa. — Bem, isso é decepcionante — eu disse, olhando para o meu relógio. — É melhor irmos, ou vamos perder os trailers. — Eu pensei que o teatro só mostrava filmes que têm pelo menos vinte anos. Isso significa que os trailers são de filmes de vinte anos atrás. Eu bebi o resto do meu sangue. — Há um princípio em jogo aqui, Gabriel. Uma vez que estávamos aderindo aos princípios rigorosos de namoro, Gabriel insistiu em pagar a entrada de dois dólares. Ele não ficou muito contente quando viu a nossa lista de opções listadas no quadro antiquado: Confidências à Meia-Noite43 ou a versão do Drácula de 1932 estrelado por Bela Lugosi. — Não é bastante óbvio? — ele perguntou. — Oh, nós vamos ver as Confidências à Meia-Noite se realmente quiser. Estamos falando de cantar, Tony Randall, montes de pastéis...

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Comédia de 1959.


112 Gabriel estremeceu. — Que seja Drácula. Foi estranhamente apropriado que o nosso primeiro 'encontro a sério' envolvesse o Drácula, considerando que o nosso primeiro encontro de sofá envolveu a versão de Francis Coppola, que Gabriel ainda insistia que era uma paródia cômica do conto. Nós pegamos dois lugares ligeiramente arqueados perto da parte traseira do teatro e nos instalamos. Ver o estado degradado do teatro obviamente incomodou Gabriel. A folha de ouro dos anjos de gesso que ladeavam a tela tinha desgastado há muito tempo. As cortinas vermelhas de veludo estavam gastas e sujas. A grande varanda estava cheia de gerações de goma de mascar cinza. Eu estreitei os olhos para ele enquanto ele se desconfortavelmente na cadeira. — Você vai comprar este lugar, não é?

contorcia

— Estou pensando nisso — ele confessou, limpando uma substância misteriosa que tinha se transferido para o seu braço. — Isto é criminoso. — Bem, se isso for te manter na cidade por um tempo, eu apoio totalmente. Quantos de nós estamos aqui? — eu perguntei quando ele examinou a multidão. — Pode dizer? — Alguns — ele admitiu. — Essa versão do Drácula é uma das poucas adaptações cinematográficas que os vampiros geralmente acham palatável. O personagem principal é poderoso, mas ainda assim simpático. Gabriel parecia nervoso enquanto continuava verificando as pessoas. — Está bem? — perguntei. — Ótimo — ele sorriu. — Então, qual é o procedimento para um encontro de filme? — Bem, nós sentamos aqui, não nos tocando até que as luzes se apaguem. Eventualmente, nós vamos esfregar os joelhos ou lutar pela dominação do descanso para cotovelo. Se comêssemos pipoca, poderíamos pagar uma quantidade de dinheiro incrivelmente exorbitante por um balde para mantermos entre nós, para que as nossas mãos pudessem, eventualmente tocar uma na outra enquanto íamos pegar algumas. Se fosse um pervertido total, cortaria um buraco no fundo do balde... esquece — ele me atirou um olhar questionador. — Há também a manobra de bocejar, que nós cobrimos em sessões anteriores. — Desculpe-me por um minuto.


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Gabriel saiu da sala, deixando-me olhando a multidão. A maioria deles eram casais velhos, pessoas que poderiam ter visto o teatro original funcionar quando eram crianças. Havia uns poucos adolescentes na onda gótica, alguns dos quais eu reconheci como skatistas que eu tinha afugentado da loja. Se havia vampiros aqui, eu não conseguia encontrá-los. Gabriel voltou carregando um balde obscenamente grande de pipoca. — Sabia que a manteiga vem numa forma química líquida? — ele perguntou, sorrindo por cima das pipocas gordurosas. — Mas nós não podemos comê-las — eu ri quando ele colocou o balde entre nós. — Você disse que isso é o que as pessoas fazem em encontros. Eu quero fazer direito. Eu agarrei o seu rosto entre as minhas mãos e beijei-o. Este era o Gabriel por quem eu tinha me apaixonado. Eu podia lidar com a incerteza, com as perguntas de arruinar o cérebro, por apenas uma pequena amostra deste tipo de felicidade. — Nós estamos saltando a coisa da esfregação de mãos da pipoca? — ele perguntou, entre beliscões nos meus lábios. — Ei! Arranjem um quarto! — gritou uma voz masculina atrás de nós. Gabriel olhou sobre a minha cabeça para o monitor do corredor dos idosos. Eu ri quando ele se levantou e tentou se dirigir na direção do cara. — Senta — eu lhe disse. Gabriel olhou para a pessoa que tinha gritado. — Mas aquilo foi muito desagradável. — É tudo parte da experiência. Gabriel dominou o movimento de bocejar e o encontro de joelhos e estava em seu caminho para o agarre de peito em redor do meu ombro quando os créditos apareceram. Quando saímos do teatro, ele falou animadamente sobre ver Bela Lugosi fazer o Drácula na peça original da Broadway.


114 — Mas eu tenho que admitir que o seu desempenho da tela foi ainda mais convincente. É fascinante como eles conseguiram filmar os olhos dele como os nossos parecem, como se estivessem iluminados por dentro. — Ele teve ajuda. O cineasta direcionou pequenos holofotes localizados nos olhos dele durante a filmagem. Foi a forma mais barata e efetiva de obter o efeito. Sabia que há uma versão espanhola do filme com o mesmo cenário, mas com diferentes atores? — Não, mas faz sentido que você saiba. — Então, o que acha de namorar fora das nossas casas? — Fez-me lembrar a minha juventude. Estar perto de uma bela mulher que eu queria desesperadamente tocar, mas que não podia — ele disse, colocando os braços em volta de mim enquanto nos levava para o carro. Eu mastiguei o meu lábio e fiz beicinho. — Havia uma mulher bonita sentada ao nosso lado? — Alguma vez vai simplesmente aceitar um elogio sem o tornar uma piada? Eu considerei por um momento e balancei a cabeça. — Não é provável, não. Nós tínhamos que andar alguns quarteirões a pé antes de chegar ao carro. Era uma noite linda, e eu estava desfrutando passear na calçada do centro de braço dado com um homem bonito. O centro era uma mistura estranha de belos edifícios remodelados e montras abandonadas. Um desses adoráveis edifícios restaurados continha o Coffee Spot, uma instituição de Hollow conhecida por um café ruim e uma torta Pecã44 inacreditável. Eu e o meu pai costumávamos fazer recados nas manhãs de sábado, e depois nos escondíamos no Coffee Spot e comíamos batatas fritas com queijo. Do outro lado da rua, eu olhei pela janela, sorrindo com a lembrança de mamãe exigindo saber como papai tinha conseguido Velveeta em sua camisa durante uma viagem à loja de ferragens. Eu estava prestes a aproveitar uma oportunidade de compartilhar uma experiência não-perturbadora dos meus anos humanos com Gabriel, quando reconheci dois rostos numa cabine da frente. Era mamãe Ginger e a minha amiga sênior de tapa-de-sinapse, Esther Barnes. — Quê? 44

Torta doce feita essencialmente de xarope de milho e nozes-pecã, popularmente servida nas refeições de feriados e considerada uma especialidade na cozinha do sul dos EUA.


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Eu não podia me aproximar da janela com medo que o dispositivo-derastreamento-de-Jane da mamãe Ginger disparasse. Em vez disso, eu me abaixei atrás de um carro nas proximidades e olhei para elas. Muito duro. — Jane? — Gabriel sorriu, olhando para baixo, para mim. — O que está... — Shhh! — eu assobiei, puxando o seu casaco e fazendo-o agachar-se perto de mim. — Isso parece desnecessário — Gabriel resmungou, franzindo a testa quando eu o silenciei outra vez. — Nós vamos discutir este silenciamento mais tarde. Emoldurada pelo logotipo do café na janela, mamãe Ginger e Esther pareciam estar discutindo. Conhecendo mamãe Ginger, isso não era inesperado. Uma vez ela tinha começado uma briga no Relay For Life porque o seu cartão do clube deveria ter como tema um luau ou um cassino. Eu não podia ouvir através do vidro, mas ambas, Esther e mamãe Ginger, falavam com as suas mãos. Esther apontando um dos seus longos dedos ossudos para a mamãe Ginger e depois fazendo um gesto que significava 'mais dinheiro' ou 'eu preciso de hidratante'. Mamãe Ginger estava sacudindo a cabeça e parecia estar dizendo, 'eu preciso disso mais cedo'. Eu tentei me concentrar nos pensamentos de mamãe Ginger, mas ouvi apenas ruído branco. Olhei para Gabriel, que estava enfiando o dedo no seu ouvido e parecia estar tentando soltar alguma pressão. — Você também? — eu perguntei, estreitando o meu olhar para a psíquica septuagenária. Talvez a presença psíquica de Esther atuasse como uma espécie de misturador, impedindo nós dois de ler as pessoas ao seu redor. Eu apertei um punho e balancei-o para ela. — Esther Barnes. Eu assisti à conversa por mais alguns minutos, vendo Esther ameaçando se levantar e sair. Mamãe Ginger fez gestos apaziguadores e finalmente tirou a carteira. Ela deslizou algum dinheiro através da mesa, que Esther contou. Duas vezes. Eu esperei por uma delas sair. Talvez se eu conseguisse apanhar mamãe Ginger sozinha, eu poderia fazer algumas perguntas sobre Esther. Mas elas não se mexiam. Ambas pareciam determinadas a vencer algum tipo de competição improvisada de comer torta.


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Suspirando em exasperação para a minha própria natureza desconfiada, eu me levantei, virei as costas à cena e esfreguei o meu casaco. Mais do que provavelmente, tudo o que eu estava testemunhando era algum tipo de transação ilegal envolvendo algumas figurinhas sem licença de Precious Moments. — Podemos parar de nos esconder agora? — Gabriel perguntou. Eu assenti e afastei-o rapidamente antes que mamãe Ginger nos visse. — Está tudo bem? — ele perguntou. — Eu não sei. Aquela mulher com quem mamãe Ginger está falando, ela entrou na loja na outra noite e... bem, ela bateu no meu cérebro em um sentido psíquico. Eu não gosto que ela e mamãe Ginger estejam conversando. As duas unindo forças não pode ser bom para Zeb... ou para a humanidade, em geral. Gabriel concordou solenemente. — Concordo. Eu pus o meu braço no de Gabriel e tentei reanimar a nossa noite de encontro enquanto nos afastávamos. — Eu alguma vez te disse que eu e o meu pai costumávamos ir àquele café todos os fins-de-semana?


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Capítulo 8 Lobisomens procuram essencialmente três coisas em um companheiro: habilidade para caçar, genes viáveis, e um senso de humor. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Eu não deveria ter dito a mamãe para usar o Photoshop para me colocar na foto de natal da família. Ela encontrou algum tipo de quiosque de fotos no shopping e cortou uma foto de três Natais atrás, tirada logo depois de eu ter feito uma cirurgia dental menor. Com olhos vermelhos e turvos, eu estava balançando perto da árvore, tentando pendurar um enfeite de anjo. Toda a gente da família está sorrindo e olhando para a câmara (com o cabelo deste ano), e eu fui copiada e colada em um canto, como se a minha metade de cima estivesse pulando para fora da árvore. Mamãe mandou a foto para 120 dos nossos mais próximos e queridos, incluindo Zeb. — Parece como a Noite de Natal dos Mortos Vivos! — ele gritou. — Isso é incrivelmente e culturalmente insensível — eu murmurei. — Vê se eu te convido para a minha festa de Natal. — Ah, querida, você sabe que não é Natal sem nós dois vendo 'Uma História de Natal' até que um de nós desmaie. Zeb e eu geralmente passávamos a véspera de Natal juntos. Ele apenas aguentava um pouco dos seus pais e me usava como motivo para fugir. Nós acumulávamos tantos doces de chocolate com manteiga de amendoim e bolas de salsicha quanto possível, e depois nos escondíamos na casa de Zeb para assistir filmes de Natal. Os presentes eram trocados, os parentes evitados. Deus abençoe a todos. Mas este ano, nós tínhamos um 'Abençoado e Alegre Natal Não-Morto' em River Oaks. Gabriel prometera estar lá, o que era uma sorte, porque eu tinha encontrado o presente perfeito para ele. Zeb ia trazer Jolene, visto que mamãe Ginger havia deixado claro que ela não era bem-vinda no Natal da família Lavelle.


118 Andrea viria, o que significava que Dick estaria lá, apesar de ele ter dito que tinha planos para a noite. Fred e Jettie iam tentar encaixar-nos na sua ocupada programação de feriado. Claro, o Sr. Wainwright estaria lá. Ele estava desejoso para fazer perguntas a Jolene sobre a sua família. River Oaks não tinha estado aberto para uma grande festa desde a Grande Depressão, quando o tata-tata-tataravô Early perdeu uma boa parte da fortuna da família na especulação do petróleo na Flórida. Era a primeira festa adulta que eu alguma vez tinha dado, com verdadeiros hors d'oeuvres45 e roupas elegantes. Eu coloquei um abeto verdadeiro e tirei todos os ornamentos de vidro. Pendurei luzes de Natal em cada objeto parado da casa. Eu acendi uma dúzia de velas boas com cheiro a baunilha e depois apaguei metade. Ter um monte de chamas ao pé de convidados altamente inflamáveis era certamente a marca de uma anfitriã imprudente. Jolene prometeu lidar com a alimentação humana, o que era bom, pois eu acho que o meu fogão atrofiou com o desuso. Jolene disse que apenas não parecia justo fazer-me cozinhar coisas que eu não podia comer. Eu perguntei se ela poderia colocar isso por escrito e enviar para a mamãe. Jolene também ia providenciar uma panela de barro cheia de sangue de vaca da sua fazenda para os convidados não-mortos. Eu pensei em adicionar especiarias para torná-lo uma espécie de mistura de vinho, mas o Sr. Wainwright aconselhou-me fortemente a não fazer isso. Ele até me deu um livro intitulado Entretenimento Não-Morto Elegante. Com base no menu "Alimentos que os Vampiros Podem Preparar sem Ficar Nauseados”, eu estava oferecendo biscoitos e queijo, bolinhos de fantasia e espumante de cidra e agradeci aos sempre pacientes, sempre generosos funcionários da empresa Visa, por providenciar os alimentos. Com a árvore, as velas, e o cheiro de sangue aquecendo na panela de barro, a casa cheirava maravilhosamente a lar e terra. (Os meus padrões mudaram um pouco.) Tudo o que faltava fazer era correr pela casa como uma louca verificando tudo duas ou três vezes. Decorações bonitas? Checado. Boa comida? Checado. Não dizer à mamãe sobre isso? Checado. Era a receita para a festa perfeita. E o que mais um vampiro usaria para uma festa de Natal, senão um vestido de coquetel vermelho-sangue? Era perfeito, fabuloso mesmo, talvez o vestido mais encantador que eu já tinha usado. Apertado na cintura com uma faixa vermelha e um broche em imitação de diamante, o material voluptuoso e flutuante caía em um sino perfeito em torno dos meus joelhos. Eu até quebrei A Maldição das Madrinhas

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Termo francês para aqueles aperitivos servidos antes das refeições. Por exemplo os salgadinhos servidos num coquetel são hors d’oeuvres


119 do Sapato Passado, finalmente encontrando um uso para aqueles sapatos de salto tingidos de cor romã. Acredite ou não, eu encontrei o vestido no armário da tia Jettie. Jettie nem sempre foi uma fanática por moletom. Ela era uma fã de vestidos antes de declarar rebelião aberta contra vestuário de fundação. E, felizmente, nós éramos ambas altas, garotas 'atleticamente' constituídas. E não cheirava a naftalina, por isso pontos duplos para mim. — Tudo parece maravilhoso, querida — Jettie disse quando eu mudei o CD na aparelhagem pela décima quarta vez. Eu não tenho gosto musical centralizado. Eu ouço uma quantidade alarmante de Sarah MacLachlan, os DefTones, e os Red Hot Chili Peppers. Musicalmente, eu meio que fiquei presa na década de 90. Gabriel chamou a minha coleção de CDs de pedante. Eu acho que ele esqueceu que estava lidando com alguém que sabia o que 'pedante' significa. Infelizmente, a minha coleção pedante não incluía músicas de Natal, então tivemos que escolher entre celebrar o nascimento do bebê Cristo com 'Suck My Kiss' ou uma gravação de um show de Lilith Fair. Nenhum parecia apropriado, por isso eu optei pela estação RPN transmitindo o Messias de Handel 46. — Talvez eu deva reorganizar as... — voltei-me para as velas. — Não! — Jettie chorou. — Querida, elas estão perfeitas. E não é bom para você mexer muito em velas. — Eu cedi, e ela recuou, fazendo gestos para eu levantar os braços. — Agora, deixa-me te ver. Esse vestido nunca ficou tão bem em mim. — Mentirosa — revirei os olhos. — Eu não conheço nenhum insulto de uma palavra para falsa modéstia, mas eu vou arrumar um — ela disse. — Entretanto, senta, respira fundo e relaxa. Aproveita este momento de silêncio enquanto a casa parece perfeita e você está linda e ninguém está atrasado ou se queixando que não pode comer nada por causa da sua intolerância à lactose. — Isso é adorável — eu disse. — De que revista shelter47 conseguiu isso? Ela sorriu. — Material original. Agora, eu vou olhar para os queijos e biscoitos e sentir saudades do passado. 46

Oratório inglês composto por George Handel, e é uma das obras mais populares da literatura coral ocidental. Termo usado para indicar um segmento do mercado de revistas dos EUA, a designação para uma publicação periódica com um foco editorial em design de interiores, arquitetura, decoração, e várias vezes jardinagem. 47


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— Você e eu — murmurei ao mesmo tempo que alguém golpeou a minha porta da cozinha. Jolene, com força lobisomem abundante, abriu a porta com o seu quadril e arrastou um refrigerador portátil para a minha cozinha. — Ou isso é um monte de comida ou está planejando um funeral muito barato no meu quintal — eu disse, olhando para o tamanho gigante do refrigerador. Zeb ergueu uma bandeja de mini-quiches no meu balcão. — Dada a sua sorte este ano, acha que devia brincar com esse tipo de coisa? — Anotado — eu disse quando Jolene desempacotava um presunto, purê de batatas, e o que se parecia com um peru de vinte quilos bem frito. — Quantas pessoas está planejando alimentar? — Eu, o Zeb, o Sr. Wainwright, a sua amiga Andrea... — ela disse, assinalando com os dedos. — Acha que trouxe o suficiente? Eu segurei um recipiente da tupperware de dois litros de capacidade cheia com inhame. — Bem, se precisar de mais, eu tenho algumas tortas no meu congelador. — Você tem mais tortas? — Jolene gritou, olhando para o congelador com desejo. — Agora arruinou o seu presente de Natal — Zeb sorriu. Gabriel chegou à porta parecendo quase festivo. Ele estava usando um lenço azul-escuro, que pode ter sido a única vez que eu alguma vez o vi usando alguma cor. Ele também estava transportando um monte de pacotes, várias garrafas, e uma caixa de padaria rosa brilhante. — Está toda arrumada — ele disse, claramente chocado. — Eu sou capaz de me produzir bem — eu disse rabugenta. — Muito bem — ele concordou com a cabeça e me deu um beijo amigável. — Isso foi simplesmente triste — disse uma voz atrás de nós. Nos viramos para encontrar Dick, radiante em uma camiseta de um verde natalício que dizia, "Junte-me à sua lista marota" carregando presentes, uma garrafa de Boone's Farm


121 e um ramo de azevinho48. — Eu já vi pessoas idosas beijando melhor que isso. A tia Jettie está beijando o Fred neste momento melhor do que isso. Em honra da ocasião, Jettie e Fred tinham concordado em deixar todos os convidados vê-los. Eu me virei para a minha sala para descobrir que o vovô Fred tinha se materializado e estava, de fato, beijando a tia Jettie como um personagem em um filme antigo da Segunda Guerra Mundial. — Bem, isso é simplesmente constrangedor — eu disse, empurrando os pacotes de Gabriel para as mãos de Dick e dando um inferno de um beijo no meu cara vampiro especial. — Feliz agora? — Bleh, não — Dick fez uma careta. — É como assistir aos teus pais dando um amasso. Gabriel apertou a sua mandíbula e avançou para Dick. — Ok, River Oaks é campo neutro, ambos prometeram — eu disse, ficando entre eles. — Gabriel, por favor, vai para dentro. Ajuda Jolene a desembalar o seu banquete móvel. Virei-me para Dick. — Eu pensei que tinha outros planos — eu disse, me inclinando contra a porta e sorrindo para ele. — Sim, bem, eles falharam. Eu pensei, porque não te lançar um osso 49? — Eu não estou respondendo a essa imagem — eu disse enquanto aceitava o que só podia ser considerado vinho no sentido estrito da palavra. — Mas estou feliz por estar aqui. Feliz Natal, Dick. Você tem tempo suficiente para entrar e parecer legal e não afetado quando Andrea entrar. Dick animou-se. — Mas primeiro, algumas regras básicas. Nada de piadas 'ho, ho, ho'. Essa camiseta é a única referência 'marota' que te é permitida esta noite. E mantém o azevinho onde eu o possa ver — eu disse.

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Segundo a tradição, as mulheres que forem beijadas, por exemplo, sob uma porta decorada com azevinho de Natal irão encontrar o amor da sua vida ou irão manter de forma saudável a relação que já tem. Já um casal será agraciado com o dom da fertilidade. O azevinho é a planta que traz a esperança e representa o amor, a fertilidade e a família 49 Expressão usada para quando se dá um pequeno elogio ou atenção a alguém, geralmente a uma daquelas pessoas que andam sempre atrás dos outros, os lambe-botas.


122 — Bem, amarra as minhas mãos, porque não? — ele resmungou, então correu para entrar quando viu o carro de Andrea se aproximando. Andrea tinha se oferecido para dar carona ao Sr. Wainwright, cuja visão noturna não era a mesma de outrora. Nem a sua visão diurna o era, para que conste. Foi preciso que eu e o Gabriel o ajudássemos com os degraus, mas ele estava determinado a carregar os seus próprios presentes e o frasco de potpourri 50 que ele tinha trazido como prenda para a anfitriã. Pelo menos, eu esperava que fosse potpourri. Curiosamente, a primeira pessoa que ele cumprimentou quando entrou na sala foi a minha tia Jettie, que estava confusa, mas lisonjeada. — Ele pode me ver? — Pode vê-la? — eu perguntei. — Eu pensei que os vampiros eram os únicos que podiam te ver; pelo menos quando decide honrar-nos com a sua presença. O Sr. Wainwright deu uma risada. — Bem, claro, eu posso vê-la, ela está bem ali. Ela é um pouco transparente, mas ainda visível para aqueles que têm uma... perspectiva pessoal mais ampla. — Jettie Early, te apresento o meu patrão, Gilbert Wainwright — eu disse. — Sr. Wainwright, a minha recentemente falecida tia Jettie. — Encantado — ele disse. Notei que ele não se ofereceu para apertar a sua mão, um esforço para evitar chamar a atenção para o fato de que ela era incorpórea. — Jane me falou muito sobre você — Jettie disse, sorrindo docemente. — Estou tão feliz que ela encontrou uma pessoa tão maravilhosamente interessante com quem trabalhar. — Bem, é um prazer ter ela na loja — ele assegurou. — Ela revolucionou o nosso sistema de arquivamento. — Ela disse que você não tinha um sistema de arquivamento antes que ela fosse contratada — Jettie apontou. O meu olhar passou da minha tia para o meu empregador. Será que a tia Jettie riu de um jeito coquete, o que ganhou um olhar desconfiado do meu “avô” morto? O Sr. Wainwright riu novamente e ajeitou os suspensórios. 50

É um termo originalmente utilizado para fazer referência a uma jarra com uma mistura pétalas de flores secas e especiarias utilizada para perfumar o ar.


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A minha tia morta estava flertando com o meu patrão. A minha tia morta que estava praticamente comprometida com o meu “avô” morto. E o meu chefe parecia estar flertando em resposta. Isto não podia levar a nada bom. Eles começaram a conversar e perceberam que tinham andado no ensino médio juntos. Eles estavam na última turma a se formar na escola de Half-Moon Hollow antes que Milton Piromaníaco Chambers a queimasse até ao chão. Eles recordaram o Sr. Allan, o professor de matemática que falava na terceira pessoa; o modelo da primeira mascote de Half Moon Howler; e as várias tentativas fracassadas de Milton de queimar a escola antes que conseguisse finalmente. O Sr. Wainwright perguntou à tia Jettie sobre o seu falecimento e de como 'o túnel de luz' apareceu para ela. Jettie riu ruidosamente e disse-lhe que foi mais parecido com um tornado. Desejoso de capturar cada detalhe, ele pediu a Jettie para se encontrar com ele no seu escritório algum dia, onde ele poderia entrevistá-la corretamente. O vovô Fred não estava satisfeito. Felizmente, ele não podia resolver este problema como ele fez quando a vovó Ruthie o deixou louco durante os seus Natais em vida: bebendo rum amanteigado até que estava perto de um coma, obrigando o meu pai e eu a carregá-lo, com poltrona e tudo, para o carro. É desconfortável introduzir dois grupos de amigos. É ainda mais desconfortável quando um desses grupos decidiu não gostar do outro. Enquanto que o Sr. Wainwright estava excitado sobre familiarizar com seres sobrenaturais, Jolene tinha instantaneamente não gostado de Andrea. Poucos minutos depois de as duas apertarem as mãos, Jolene me puxou para a cozinha para sussurrar em um decibel muito abaixo do ouvido humano que ela não confiava nela. — Eu confio na Andrea — eu disse. — Ela tem sido uma ótima amiga. Você apenas está habituada a ser a garota mais bonita da sala, e ter alguém que remotamente rivaliza com a sua beleza cegante está te transtornando. E nós não temos que sussurrar. A audição perfeitamente normal de Andrea não vai pegar a nossa conversa. — Eu estou apenas dizendo de uma garota para outra, eu acho que precisa ter cuidado com ela em volta de Gabriel — Jolene disse, pegando um pedaço de queijo cheddar e mastigando. Em volta do queijo, ela disse. — Um monte de garotas, especialmente garotas humanas feridas no passado, vão pela coisa toda de cara misterioso, de cabelos escuros, com os lábios carnudos, olhos que penetram na alma, maçãs do rosto onde podia fatiar um presunto com...


124 — Talvez eu deva ter cuidado contigo em volta de Gabriel — eu disse, olhando para ela cautelosamente. — Eu acho que nós deveríamos voltar para a sala de estar com os seus adoráveis canapés antes que todo mundo perceba que estamos falando de um deles. — Está certa, estou sendo boba — Jolene disse, observando Zeb tentar um dos charutos do Sr. Wainwright, e depois ser martelado nas costas quando começou a engasgar. — Eu só quero que todos sejam tão felizes como Zeb e eu somos — Pássaros do amor cheios de anfetaminas não poderiam ser mais felizes do que vocês dois — eu disse, ligando o meu braço ao dela. Ela suspirou, inclinando a cabeça contra a minha. — Eu sei. Hesitei e vi a festa pela porta da cozinha. Alguém, felizmente, tinha colocado um CD de Nat King Cole. Mesmo sobre a alegria ao som de música blues, eu conseguia ouvir Andrea e Zeb conversando sobre os méritos de serem os únicos 'normais' na sala. Eles não consideravam o Sr. Wainwright como normal. Jolene entrou e marcou o seu território beijando a bochecha de Zeb e levando-o para longe de Andrea. Gabriel e o Sr. Wainwright discutiam a biblioteca de Gabriel e a sua chocante falta de informação sobre monstros do mar em água doce, até que Dick distraiu Gabriel ao mencionar todas as festas que eles costumavam frequentar em River Oaks. Gabriel mandou um olhar furtivo na minha direção. Eu acho que ele ofereceu dinheiro a Dick para não relembrar velhas histórias. Depois o Sr. Wainwright envolveu Dick numa conversa inflexível em relação à venda de peles de Were no mercado negro. Dick estava sorrindo para ele de um jeito que eu não via normalmente. Era quase afetuoso. E estava me assustando. — Por favor, em nome do Natal, não deixe que Dick tente lhe vender nada — eu pedi, olhando para o céu. Felizmente, Andrea passou por ele no seu vestido de festa preto colado, e a atenção de Dick mudou de direção. O Sr. Wainwright sorriu quando Dick se arrastou atrás dela. Ele fez contato visual com a tia Jettie, revirou os olhos, e murmurou — Jovens. — A tia Jettie deu uma risadinha de menina, o que colocou o vovô Fred em alerta. Andrea ouviu o lado da conversa do Sr. Wainwright e me deu um tapinha no ombro. — O Sr. Wainwright está falando sozinho de novo? — perguntou ela.


125 — Não. Tia Jettie. Eu acho que ele tem uma pequena queda por ela acontecendo. Isto vai ser um grande choque para o vovô Fred. Este pode ser o triângulo amoroso que desfaz o tecido do nosso universo. Ela se encolheu. Gabriel veio falar comigo, me oferecendo um copo de ponche de um sangue de sobremesa importado chamado Sangre. — É uma ótima festa — Gabriel disse, acenando com a cabeça para a multidão feliz. — Deus abençoe a todos — eu disse, sorrindo. — Este pode realmente ser o melhor Natal de sempre. Pessoas que eu amo. Sem pressão. Sem primos bêbados lutando com os punhos no gramado. — Bem, eu tenho certeza que essa é uma história interessante que eu perguntarei mais tarde — ele se encolheu antes de gritar para o outro lado da sala, — Enquanto estamos no assunto das famílias, Zeb, pode me dizer por que a sua mãe tem me deixado mensagens no correio de voz cada vez mais ameaçadoras? Ela planeja colocar o pé, entre outras coisas, por diversos orifícios. — Eu honestamente não sei — Zeb disse. — É possível que ela apenas tenha discado um número aleatório. Às vezes ela deixa essas mensagens a estranhos. — Eu acho que sei — eu disse, suspirando. — A mãe de Zeb parece pensar que você é o único obstáculo entre mim e Zeb, meu amor verdadeiro, e algum tipo de extravagância de casamento. Zeb pareceu atordoado, mas nem de longe tão perturbado com isto como eu estava. Ele sorriu para mim com aquele olhar estranho de alto a baixo, que estava se tornando muito familiar. Eu me aproximei de Gabriel, entrelaçando os meus dedos com os dele. — Você pode querer manter as portas trancadas durante o dia, Gabriel. Além disso, cobre o traseiro, porque o que ela planejou doeria um pouco. — Eu não acho que mamãe faria realmente alguma coisa — Zeb me assegurou, a sua voz baixa e suave. — Fácil para você dizer — eu disse a Zeb. — Não são os seus orifícios em risco. — E nessa adorável observação Natalina, eu tenho algo para você — Gabriel disse, me levando para mais perto das luzes da árvore de Natal antes de me entregar um pequeno pacote embrulhado em papel prateado. Com visões de jóias


126 dançando na minha cabeça, eu abri-o para encontrar uma pequena lata com um gatilho de plástico. — Mace?51 — Não, apenas prata em forma de aerossol — ele disse com orgulho. — Para evitar mais brigas no estacionamento. Simplesmente não fique na direção do vento quando o usar. — Oh, que atencioso — eu disse, o levantando cuidadosamente da caixa. Com todo o entusiasmo que eu podia juntar, eu lhe disse. — É realmente, realmente ótimo. — É um presente de brincadeira — disse ele irritado. — Zeb disse que ia achar esse tipo de coisa engraçada. Levanta o tecido. — Zeb passou a maior parte da sua vida adulta jogando Game boy sozinho nas noites de sexta-feira — eu disse, procurando o fundo da caixa. — Não aceite conselhos sobre relacionamentos de Zeb. No fundo da caixa estava um pacote envolto em tecido. Era um pequeno unicórnio de prata em uma fina corrente. — Andrea disse que prestar uma homenagem a uma pequena peculiaridade da sua personalidade, a obsessão escondida por unicórnios, iria mostrar que eu me importo — ele disse. — Realmente o faz — eu lhe disse. — Posso tocá-lo? — Seria um bom primeiro passo antes de usá-lo. — Mas é de prata — eu disse, enganchando um dedo protegido por tecido em torno do fecho. — Não, é ouro branco — ele disse enquanto prendia a corrente em torno do meu pescoço. — Perfeitamente seguro para vampiros. — Toda a beleza da prata sem o ardor e prurido — eu arrulhei, correndo os dedos sobre as curvas das perninhas do unicórnio.

51

Líquido que impossibilita temporariamente uma pessoa, preparado como um aerossol que pulverizado no rosto, irrita os olhos e causa tontura e imobilização.


127 — Isso significa 'obrigado' na sua linguagem? — ele perguntou, inclinando a cabeça. — Obrigada, é muito doce — eu disse, o beijando. — É uma coincidência maravilhosa, porque eu tenho isto para você. Do outro lado da sala, Zeb estava fazendo cara feia. Jolene empurrava o seu braço, tentando tirar a carranca do seu rosto, mas ele afastou-a, dirigindo-se para a cozinha e para fora de vista. Ela olhou para as costas dele, o seu rosto torcido em linhas confusas e de dor. Dick viu isso e fez alguma pergunta aleatória sobre as suas responsabilidades como padrinho e como isso se relacionava com a cor da faixa de cintura no smoking a provocando com um sorriso. Eu entreguei a Gabriel um pacote quadrado. — Eu estava olhando para algumas fotos antigas de família com a tia Jettie. Nós encontramos isso. Jettie e eu passamos horas olhando velhas caixas de fotografias quando eu era pequena. Nós estudávamos as fotos em sépia dos Earlys de 1870 e comentávamos as suas roupas, os penteados, quem se parecia com o desdentado Tio Vernon. (De alguma forma, nós sempre votávamos na vovó Ruthie.) Jettie contava-me histórias sobre os meus antepassados, como a tata-tata-tataravó Lula, que incendiou o único bordel de Hollow depois de descobrir o seu marido, o reverendo James Early, proselitando 52 lá. O fogo pegou o bordel, um salão próximo, e o armazém geral, onde o proprietário vendia fotos francesas obscenas dos quartos do bordel. Ela fez mais bem em quarenta e cinco minutos com uma lâmpada a óleo do que o Reverendo Early fez em 35 anos de pregação. Nós somos uma família orgulhosa. Em uma recente viagem à Vila das Memórias Disturbadoras Geneológicas, Jettie e eu achamos retratos do casamento de Clarissa e Stewart Early em 1877. Em uma foto menor, duas jovens primas Early, Leah e Mariah, foram mostradas sorrindo para dois companheiros em casacos de seda. Eu já tinha visto esta foto uma centena de vezes antes de ser transformada. Até agora, eu não tinha reconhecido os jovens sendo adorados pelas minhas sorridentes antepassadas: Dick e Gabriel, sorrindo como loucos para a câmara. Eles eram tão jovens. E Dick realmente tinha o braço ao redor dos ombros de Gabriel, sorrindo como se ele tivesse acabado de contar uma piada atrevida.

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No sentido de converter à sua religião.


128 Eu tinha levado as fotos a uma loja para ter cópias da imagem. Eu tinha embrulhado uma para Gabriel e uma para Dick. Não era nenhum estratagema manipulador de Armadilha Parental; eu honestamente não conseguia pensar em outra coisa para lhes dar. — Eu me lembro deste dia — Gabriel disse, sorrindo. — Isso foi antes de Dick convencer as suas primas a ir nadar nuas... — ele viu as minhas sobrancelhas levantadas. — Hum, não importa. Dick veio espreitar por cima do ombro de Gabriel. — Leah e Mariah, gêmeas em todos os sentidos da palavra. — Deixou alguma das minhas primas intocada? — eu chorei, lembrando do 'gosto' de Dick pela minha antepassada prima Cessie. Dick gargalhou. — Ei, foi Gabriel que... — Gabriel estreitou os olhos para Dick. — Esquece. — Revelações horripilantes e a confirmação de que algumas das minhas parentes estiveram publicamente nuas. Sabe, subitamente, isso se tornou como o Natal com a minha família. Obrigada — eu disse, dando tapinhas em suas costas. O celular de Gabriel tocou. Ok, então não era a coisa mais madura a fazer, mas eu espreitei o identificador de chamadas. Dizia "Jeanine." Eu não conhecia nenhuma Jeanine. Gabriel nunca mencionou uma Jeanine. Quem diabos era Jeanine? Eu praticamente mastiguei a minha língua para não comentar. Ele respondeu ao telefonema lá fora. E, eu tenho vergonha de dizer, eu meio que me escondi perto da porta para tentar ouvir. Mas ele saiu do alpendre, fora do meu alcance de audição através do vidro. Derrotada, eu me virei para a multidão que comeria. — Quem está pronto para jantar? Jolene não era a única que podia preparar uma mesa maravilhosa. Eu tinha taças de vidro transparente de vários tamanhos cheios de velas de baunilha e arando, a toalha de mesa do casamento da bisavó Early, e as porcelanas chinesas com delicados padrões prateados em forma de hera. Eu estava optando por uma aparência de Boa Dona de Casa, o que tende a ser menos irritada do que a Martha Stewart. Eu usei luvas para colocar os talheres de prata para os humanos.


129 — Você passou seis horas preparando uma mesa para comida que não pode comer — Zeb disse maravilhado. Ele deu a si mesmo a tarefa de me 'escoltar' até à mesa, já que Gabriel estava ocupado. — É o meu primeiro Natal vampiro — eu disse. — Eu ainda quero desfrutar do jantar. Gabriel apareceu à minha direita, pronto para sentar-me, e pareceu um pouco perturbado quando Zeb não largou a minha mão ou tomou o lugar que eu lhe tinha atribuído em frente a Jolene. Ele parecia ter a intenção de sentar do meu lado, forçando Gabriel a se sentar ao lado de uma confusa noiva lobisomem. — Eu estou surpreso por não ter misturado gemada no seu sangue — bufou Dick. — Jane é firmemente anti-gemada em todas as suas formas — Zeb lhe disse, puxando a minha cadeira. Pega de surpresa pelo movimento sem pista de Zeb, eu fiz um comentário rápido entre as linhas de — Ovos, leite, e rum não devem ser misturados a menos que seja em um bolo — e pedi ao Sr. Wainwright para servir o sangue. A contribuição de Gabriel acabou por ser conchas de massa recheadas com uma mousse rosa gelatinosa. Eu posso ter sofrido de inveja pela sobremesa, mas o recheio cheirava vagamente a comida de gato. Gabriel disse a Jolene que a tinha obtido de uma padaria no centro que ela conhecia. Ela estava claramente encantada, comendo três delas antes que Zeb pudesse dar uma mordida tentativa. Zeb fez um som gaguejado que ele não tinha feito desde que o seu pai o fez provar chitterlings53, depois ele cuspiu a massa em seu guardanapo. — O que é isto exatamente? — ele perguntou. — Tortas de mousse de coração — Jolene disse, gemendo do jeito que eu costumava fazer por cheesecake. — Coração de boi, para ser exato — Gabriel disse alegremente, observando Jolene comer o seu quarto pedaço. — Eles são uma verdadeira iguaria — Jolene disse a Zeb. — Nós só recebemos essas no Natal. 53

São as vísceras de porco cozinhadas de forma a serem comestíveis.


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Zeb limpou a língua com o guardanapo e sorriu languidamente para Jolene. — Eu terminarei o meu mais tarde.


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Capítulo 9 Os Were são também territoriais sobre o tempo dos feriados. Seria insensato para um ser humano a subestimar o desejo de uma sogra Were em ver seu filho no dia de Ação de Graças e Natal. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Eu não convidei o Gabriel para o Natal com minha família porque eu não faço isso com as pessoas que eu gosto. Vovó Ruthie gastou cada segundo da véspera de Natal sentindo a liberdade de me dizer exatamente o que ela achava de errado com minha vida e quais as minhas escolhas pobres me trouxeram a este ponto. Um feriado particularmente memorável, em 2004, ela se ofereceu para me pagar uma cirurgia plástica, uma mudança total, incluindo mamas, nariz, dentes e uma reconstrução para "amolecer minhas características masculinas." Embora generosa, a oferta me impediu de vir para o Natal de 2005. E assim como no Natal de 2005, mamãe não tinha respondido bem a minha fuga de festas da família. O dia de Ação de Graças era passado com a família extensa de mamãe. Eu pude pular este ano porque a família preferiu almoçar junta, e passar uma tarde vendo outras pessoas comer não valia a pena o risco de combustão espontânea. Mamãe deu uma desculpa esfarrapada para os meus tios quanto a minha necessidade de deixar a livraria pronta para a corrida de compras da Sexta-Feira Negra, o que pareceu satisfazer todo mundo. O natal, no entanto, pertencia à mamãe. Havia a reunião prolongada da véspera de natal em que mamãe, papai, eu, Jenny, e sua prole, além da vovó e o vovô do ano trocávamos presentes. Em seguida, apreciávamos a refeição tradicional do peru Jameson, do excesso de comida, e um prato quente a parte de culpa recheado de manipulação. Solteira e sem filhos (leia-se: patética, sem nenhum lugar para ir), eu costumava dormir na casa dos meus pais e passava a manhã de Natal com eles. Eu estava a um passo de vestir pijamas de futebol. Jenny e seus meninos, carregados com muito açúcar e brinquedos barulhentos, geralmente chegavam por volta das 18hs, e ficávamos presos juntos em harmonia familiar até mamãe decidir aquecer as sobras para o jantar e tínhamos liberdade condicional até o próximo ano.


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Eu já tinha violado a santidade da véspera de natal por passá-lo com pessoas que realmente gostavam de mim, evitar assim a minha família na noite de natal este ano não era uma opção. Eu apareci assim que anoiteceu e me permiti uma janela de quarenta e cinco minutos para dar o fora, antes que alguém chegasse para a festa do banquete reaquecido. Mamãe ganhou sua habitual garrafinha do perfume Windsong, que ela pedia a cada ano. E eu dei a papai um livro das batalhas assombradas do Kentucky, que o Sr Wainwright recomendou. Eu ganhei meias e uma cópia do livro Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. A casa parecia ainda mais calma que o habitual, com as lacunas na conversa ecoando o quanto meu distanciamento de Jenny estava colocando uma pressão sobre o feriado dos meus pais. Mamãe, no entanto, mencionou o quanto todo mundo sentiu a minha falta na véspera de Natal e que seria muito mais fácil se eu ficasse para o jantar. Cerca de vinte vezes. Por mais fácil, eu tenho certeza que mamãe quis dizer mais fácil para ela. Era mais fácil para ela não ter que dirigir os meus problemas com a minha irmã, como o fato de que Jenny tinha ajudado Missy, a agente imobiliária psicótica (ainda que involuntariamente) alertando-a com informações sobre a minha agenda em River Oaks, e todo o tipo de coisas que ajudou a me atormentar e me incriminar por homicídio. Ah, e ela abriu um processo judicial contra mim. Esse tipo de discussão pode colocar um amortecedor real no aniversário do bebê Jesus. Enquanto mamãe iniciou os preparativos para o jantar reaquecido, acho que perdi a noção do tempo conversando com meu pai sobre a possibilidade do rastreamento da família do Sr. Wainwright. Normalmente, eu posso sentir a presença da minha avó se aproximando, da mesma forma que a mãe do Bambi detectou quando o homem entrou na floresta. Fui apanhada desprevenida, em ambos os sentidos, quando a vovó Ruthie chegou com sua mais recente captura, o Wilbur. Eles dizem que o período de luto de uma relação dura pelo menos 1/2 do tempo do relacionamento. Vovó tinha reduzido esse curto espaço de tempo, na proporção de 1/27. Eu senti o Wilbur muito antes que eu o vi. Isso foi muito além do aroma típico do homem de idade. Isto era podridão, a decadência, mofo, gengivite negra fedida, e queijo ruim. Em tudo isso, ele se parecia com uma máscara barata de Halloween com vida, com direito a papas com rugas e flacidez, além de pálpebras amareladas.


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Infelizmente, ele ainda era mais bonito do que meu ex- avô Tom. — Oh, Jane, eu não sabia que você estaria aqui — vovó Ruthie disse enquanto mamãe pegava seu casaco, com um sentimento indizível, mas claro que ela não teria vindo se soubesse que eu estaria ali. Mamãe levou a túnicas para o quarto. Papai, obviamente, decidido a não se envolver no que estava prestes a acontecer, mantinha os olhos colados à televisão e implacavelmente mudava o canal. Wilbur olhou para mim, para a vovó e para mim novamente. Cruzei os braços e sorri para a vovó, feliz por não ser rude e socialmente retrógrada pelo menos uma vez. Finalmente, vovó suspirou e disse: — Jane, este é o meu noivo, Wilbur. Wilbur, esta é a minha... esta é Jane. — É um prazer conhecê-la — disse ele. — Sua avó me falou muito sobre você. — Eu duvido muito disso — disse eu, sorrindo docemente. Não mostrei minhas presas. Eu as destinaria a vovó por envolver homens mais velhos em episódios misteriosos de parada cardíaca. Espera, ela disse noivo? Eu concentrei na mão esquerda da vovó, onde um anel de noivado de diamantes de muito bom gosto brilhava. — Você está noiva? — engasguei. — Outra vez? Percebendo a mudança na sala, mamãe colocou a cabeça dela no cômodo. — Jane, querida, eu posso ver você por um minuto? Com o maxilar tenso, segui mamãe até a cozinha, onde uma grande quantidade de tupperwares definia cuidadosamente a tradicional mensagem de Natal dos Jameson, como um banquete escandinavo na bancada. Eu apertei a mão sobre o nariz quando confrontada com mamãe requentando o queijo "chique", feito com gouda e bacon e uma quantidade obscena de alho. — Ela é louca? — perguntei ao redor da minha mão. — Ele é louco? Mamãe encolheu os ombros. — Bem, vou admitir que o período de luto foi um pouco curto. — Ela trouxe companhia para o enterro — eu assobiei, retirando minha mão


134 do meu rosto e concentrando-me em falar em vez de cheirar (instinto de respirar estúpido!). — Na época, ele era apenas um amigo, tentando ajudá-la a atravessar um momento difícil — disse mamãe com uma voz que só poderia ser descrita como a sua "negação". Eu simplesmente a olhei, sem expressão, o que a levou a dizer: — Sua avó não é como você, Jane. Ela é de uma época diferente. Ela é o tipo de mulher que precisa de um homem em sua vida. — Por um breve momento, antes de sua maldição matá-los de uma maneira terrivelmente irônica — eu disse à mamãe, o que a fez franzir o rosto. — Você sabe isso nunca teria acontecido se tivesse adotado o meu conselho e colocado os pôsteres de aviso "Viúva Negra, Não Case" com foto da vovó no centro dos idosos. — Querida, você sabe que eu não gosto quando você fala dessa maneira. — Eu não gosto de ter uma avó com um álbum de casamento de quatro volumes. Nós todos temos nossos fardos para carregar. O brilho dos olhos sob o verniz de aborrecimento de mamãe me dizia que ela estava tentando não rir. — Quando é o casamento? — perguntei. — Eles não têm uma data definida ainda — disse mamãe. — Mas você sabe como ela gosta de se casar no outono — mamãe surpreendeu-se. — Vê? Agora você está me fazendo ser irônica também. Eu pressionei meus lábios para reprimir o sorriso. — Wilbur parece ser um homem muito agradável — mamãe me contou em seu tom de "Não discuta". — Ele trata a vovó como os homens tratavam as senhoras antigamente. Ele abre as portas para ela. Ele carrega suas bolsas pesadas. Ele a leva em restaurantes. — Então ele é como um porteiro — eu disse. Mamãe não gostou. — Mãe, ela vai matar outro! — gemi. — Isso tem que parar. Ela não teve todos os maridos que precisava? — Shh, eles vão te ouvir — disse mamãe, enviando olhares furtivos à porta.


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— Oh, eles não conseguem ouvir nada — revirei os olhos. Em uma manobra óbvia para redirecionar a conversa, mamãe olhou furtivamente para a porta e disse: — Eu venho querendo lhe perguntar, mas eu não queria na frente de seu pai. Como vão as coisas com o seu Gabriel? — Bem — movi meus ombros. — Bem? — perguntou ela. — Apenas bem? Concordei, com meus lábios pressionados firmemente juntos, estreitando o meu olhar quando mamãe me lançou um sorriso felino de devorador de canário. Ela disse: — Você nunca adivinharia quem esteve perguntando por você na reunião de oração na outra noite. — Você está certa. Eu não adivinharia. — Adam Morrow, você se lembra, você costumava ter essa paixão tão grande por ele na escola. Eu costumava achar seu nome escrito em todos os seus cadernos. Adam Morrow. Sra. Adam Morrow. Jane Jameson-Morrow, Jane E. Morrow. Jane e Adam Morr... — Eu entendi. Me lembro. Ela sorriu. — Bem, ele esteve perguntando sobre você na igreja. E eu pensei, por que não convidá-lo para jantar em algum momento? Um pobre garoto solteiro que trabalha tão duro como ele saberia apreciar uma boa refeição caseira. — Mamãe, por favor, não. Mamãe apertou os lábios, voltando-se ao conteúdo do seu fogão a vapor. Ela se mexeu. Ela temperou. Ela provou. Finalmente, ela voltou para mim com uma expressão sonhadora da generosa deusa-mãe que, francamente, me assustou. Ela limpou a garganta e usou seu especial tom de voz "que transmite sabedoria maternal do topo da montanha". — Quando seu pai e eu estávamos namorando, ele planejava ir pescar com alguns amigos no fim de semana do baile. Isso foi na escola. Nós só estávamos namorando a pouco tempo, e acho que ele não queria que eu pensasse que poderia planejar as coisas para ele. — Claramente, ele não te conhecia muito bem — eu disse. — Mmm-hmm — disse ela, mexendo as batatas. — Eu disse a ele que estava


136 perfeitamente bem se ele queria ir pescar com seus amigos, porque Eddie Carroll tinha se oferecido para me levar ao baile. — O Sr. Carroll? Meu professor de matemática? Ew. — Você deveria ter visto ele no colégio. Com a cabeça cheia de cabelos, ele era um achado na cidade. Se as coisas não tivessem funcionado bem com seu pai... — Pare — eu disse a ela, rindo. — Eu não quero ouvir que eu poderia ter sido uma Carroll. Mamãe deu uma risadinha. — Você sabe, ele ainda me diz em certas ocasiões que eu tenho tornozelos adoráveis. — Eles são lindos. Mas voltando à história, por favor — eu disse, tremendo no pensamento que o Sr. Carroll flertou com a minha mãe na noite de Pais e Mestres. — Bem, no momento em que seu pai ouviu isso, ele ligou para seus amigos e cancelou a viagem de pesca — disse ela, se envaidecendo. — Ele estava colocando o corsage no meu vestido mais rápido do que você poderia dizer "cão na manjedoura". E a cada dança ou festa depois, seu pai sabia que ele iria comigo, porque eu poderia ter outras ofertas. Às vezes os homens precisam de um pouco de competição para perceber o que eles têm. É saudável para um relacionamento. — Será que o Sr. Carroll realmente te fez o convite? — perguntei. Um sorriso do gato Cheshire apareceu em seu rosto. Eu ri. — Você sabe mamãe, às vezes eu a subestimo completamente. — Você provavelmente está certa. Então, se eu fizer uma pergunta, você vai arrancar minha cabeça a mordidas? — perguntou ela. — Você sabe que eu realmente não vou mordê-la, certo? — Você sabe que eu quero dizer — disse ela, provando o molho. Ela me ofereceu uma colherada, mas recusei, o cheiro me lembrava aos odores de refrigeradores após férias prolongadas. — Por que você não liga para Adam, querida? Você era louca por ele no colégio. E ele é um garoto tão bom. — Eu acho que estou num ponto da minha vida em que eu preciso mais do que um bom garoto. Eu preciso de um bom homem.


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Mamãe fez um ruído de reprovação e acariciou minha bochecha. — Gabriel é um homem bom? Recordando o infeliz incidente de Bud McElray, eu hesitei. — Não particularmente. Mas isso pode ser o que eu mereço, apesar de tudo. Mamãe suspirou e se mexeu. — Bem, eu realmente não te compreendo. Posso te dizer que, quando Eddie Carroll tentou interromper uma dança no baile, seu pai quebrou o nariz dele. — Tentador, mas Gabriel não pararia no nariz. — Deixe as coisas com o Gabriel tomar seu rumo — ela disse. — E, neste meio tempo, veja como as coisas vão com o Adam. No final, saber que eles têm um pouco de competição pode acelerar as coisas. — Acelerar as coisas para quê? — perguntei. Mamãe me calou e me entregou uma bandeja de gemada e cookies natalinos ligeiramente danificados. — Agora, apenas leve isso para eles, e cuidado com suas maneiras. Comporte-se com sua avó. — Me comportarei, se ela o fizer — assobiei em resposta. Quando eu caminhava de volta na cova, papai ainda estava inconscientemente mudando os canais, ignorando a presença da vovó. Wilbur e vovó estavam aconchegados no sofá. Vovó estava tentando seduzir Wilbur com um bastão de doces, passando sensualmente ao longo de sua boca. Wilbur estava sorrindo para ela com carinho quando ele a lembrou sobre sua diabetes. Eu acho que uma doença crônica impediu a sua necessidade de seduzi-lo com doces sazonais. Com repulsa, eu girei nos calcanhares e retornei para a cozinha, mas papai me chamou no caminho. — Jane? Desesperado por alguém para compartilhar seu sofrimento, ele exigiu. — Isso é gemada? Com licor? — pisquei para ele e lhe dei uma ajuda dupla. — É tão bom vê-la ajudando a sua mãe pelo menos uma vez — disse vovó, inclinando-se imperiosamente para a bandeja. Eu ignorei a isca. — Quer? — perguntei a Wilbur. Wilbur estava prestes a responder quando a vovó afagou sua mão com


138 carinho e um sorriso. — Oh, Wilbur é intolerante à lactose. Seu estômago é tão sensível. Ele não pode comer sal devido à pressão arterial elevada ou açúcar, por causa de sua diabetes. Ou gorduras. Ou nozes. Ou carne. Ele geralmente mantém sua dieta acrobiótica em shakes. Vovó puxou uma lata de sua bolsa Aigner enorme e agitou. Wilbur tirou da mão dela e a colocou de volta em sua bolsa antes que eu pudesse dar uma boa olhada no rótulo. — Então, como vocês se conheceram? — perguntei. — Quando vocês se conheceram? — Oh, é a história mais doce — vovó suspirou. — Eu estava rumo ao escritório do Whitlow para o planejamento do serviço funerário de Bob, e Wilbur estava lá no corredor, esperando começar o velório de um amigo. Ele viu como eu estava chateada e me ofereceu seu lenço. Foi tão romântico e cavalheiresco, eu só tive que lhe convidar para uma xícara de café no escritório do Sr. Whitlow. Olhei para Wilbur, chegando, tentando tocar a sua mente. Nada. Foi como raspar meus dedos sobre uma parede de tijolos. Poderes inconsistentes estúpidos dos vampiros. — Sr Goosen. — Você pode me chamar de vovô — disse ele, sorrindo. Alguém poderia pensar que neste momento em minha vida, tendo muitos avôs como eu tive, mais um não me incomodaria. Mas algo, possivelmente a exaustão a essa coisa de avô postiço ou a fidelidade ao Bob, me fez dizer: — Eu acho que não. Vovó suspirou e me enviou um olhar ferido. Wilbur respirou fundo e sentouse inclinado para a frente, as mãos em uma posição de avô exagerado. — Agora, Janie, querida, eu sei que foi um par de semanas muito difícil. Mas todo mundo parece estar feliz com sua avó e eu. Ruthie disse que você não lida bem com a mudança. — Você não me conhece suficientemente bem... Ele me interrompeu mais uma vez, o que não estava me fazendo gostar mais dele. — Eu entendo que você ama a sua avó e que está preocupada com o seu bemestar. Eu penso que é admirável, Jane.


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Quão horrível seria eu dizer que ele entendeu tudo completamente errado? Ele estendeu a mão tentando afagar a minha. Sua mão era pegajosa e úmida o suficiente para me fazer querer se afastar. — Eu só quero que você saiba que eu amo a sua avó e eu vou cuidar dela. — Não é com ela que eu estou preocupada. Mamãe colocou a cabeça na porta de novo. — Jane, eu poderia vê-la na cozinha por mais um minuto? Papai me deu um olhar desesperado. Claramente, a ideia de mais tempo sozinho com os pombinhos geriátricos tinha o deixado em pânico. Movendo-me para fora da sala, eu murmurei. — Todo mundo deve parar de me interromper, ou eu vou publicar um jornal com os seus pensamentos secretos do dia. Mamãe tinha aquecido todos os alimentos. Ela também tinha enrolado os talheres de plásticos em guardanapos de papel e enchido todos os copos com gelo. Ela já estava organizando e reorganizando as tampas de tupperware, primeiro colocando-as nos recipientes, em seguida, organizando os recipientes. Ela estava fazendo um grande e inútil trabalho. Pensando bem, percebi que mamãe raramente não saiu da cozinha durante o jantar de sobras do Natal. — Você está se escondendo aqui dentro — eu acusei. — Você não quer estar lá mais do que eu. Você tem se escondido aqui por anos. — Eu não! — mamãe chorou, não encontrando o meu olhar. — Oh, agora acabou. Eu vi o homem por trás da cortina — sussurrei. — Não aceitarei mais nenhuma tolice de feriado de você, a partir de agora. Nunca mais. Mamãe me ignorou enquanto ela brincava com o recurso de degelo no microondas. — Olha, por mais divertido que seja tentar encaminhar mensagens de aviso para o vovô-morto-vivo, eu preciso ir — olhei para o relógio. — Está ficando perto das seis, e eu gostaria de evitar mais constrangimento com Jenny. — Você já está aqui. Por que não ficar? — mamãe disse. — Os meninos quase não te vêem. — Desde a semana passada na casa funerária — eu disse. — E eles estavam


140 muito ocupados destruindo o arranjo floral em forma de telefone escrito 'Jesus o chamou para casa', para falarem comigo. Eu não acho que a minha ausência os marcaria permanentemente pelo resto de suas vidas. A chegada dos meninos batendo na porta da frente me disse que era tarde demais. — Vovó! Vovó! Nós temos o jogo Assaltante de Carro Borrifadores de Sangue Quatro! — Andrew gritou, acenando para o jogo de vídeo game e para minha mãe. — Podemos jogar agora? Por favor? — Oh, querido, você sabe que a vovó não tem um vídeo game — disse Jenny, entrando na cozinha. Ela derrapou até parar, quando me viu. — Tudo aqui é chato — Andrew suspirou enquanto ele e Bradley iam para a sala. Se ele tivesse prestado atenção ao olhar no rosto de sua mãe, ele saberia que os futuros acontecimentos poderiam ficar interessantes. Ou pelo menos com potencial borrifo de sangue. Meu cunhado, Kent, o quiroprático de quem eu raramente ouvi falar, seguia os passos de Jenny. No momento em que ele me viu, girou e seguiu os meninos. — Eu não sabia que você estaria aqui — disse Jenny, enviando um olhar reprovador para mamãe. — Mamãe, eu concordei em vê-la no funeral de Bob, mas é isso. Você não pode deixá-la vir e não me dizer. Vê-la deixa os meninos tristes. Revirei os olhos. — Os meninos nem sequer repararam que eu estava na sala. E se o tivessem feito e você dissesse que sua tia é uma vampira, eles provavelmente iriam achar isso a coisa mais legal desde o jogo Assaltante de Carro Borrifadores de Sangue Quatro. E não culpe mamãe. Eu não queria ficar por muito tempo, mas me demorei na conversa. Eu estou saindo agora. — Ah, mas você não pode ir! — mamãe chorou. — Esta é a primeira vez que nós estamos todos em casa juntos desde que você... — Morreu? — acabei por ela. — Você pode dizer isso. Eu morri. — Shh! — Jenny me calou olhando para a sala. — Por favor, vocês não podem apenas deixar isso tudo de lado pelo feriado? — mamãe implorou. — Pela família? — Não! — Jenny e eu dissemos em coro.


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Mamãe mudou de tática apenas soltando sua voz em uma oitava. — Agora, meninas, isso é bobagem. Somos uma família. E é Natal. Se você não pode perdoar a sua família pelo feriado, o que... — Pare — eu disse a ela. O jeito que ela estendia a palavra "famíliiiiiiiaaaaa" quando queria alguma coisa sempre me irritava. — A época do ano não muda nada. Eu não a quero ao redor da minha família — disse Jenny. Eu atirei-lhe um olhar que poderia ter deixado cair uma mulher mais atenta. Então, era sua família. Tanto quanto lhe dizia respeito, eu não fazia mais parte dela. Francamente, isso era bom. — Eu vou embora. — Agora, Jenny, seja uma boa irmã — mamãe disse a Jenny. — Nós temos que ter toda a família junta para o Natal. Seria o bom ato cristão a ser feito. — Ela está morta! — Jenny chorou. — O bom ato cristão a fazer seria darlhe um enterro decente. — Agora, Jenny, você sabe que não quis dizer isso — mamãe disse através dos dentes cerrados. — Conversa de enterro é minha deixa para sair — eu disse, agarrando a minha jaqueta. — Eu acho que estarei fora do país para o Ano Novo, então, por favor, não liguem. Coloquei minha cabeça na sala para dar a papai uma rápida despedida, que ele não podia ouvir pelo barulho do rádio e o sinal sonoro dos novos caminhõesmonstro de controle remoto dos meninos. Da cozinha, ouvi mamãe se queixar com a Jenny. — Apenas diga a Jane que não vai ser um natal sem ela. — Você tem o Kent, os meninos e eu aqui, porque... — Fechei a porta da frente na resposta magoada de Jenny. Olhei pela janela. Wilbur parecia absolutamente miserável. Eu era simpatética54, mas quando se tratava da família Jameson no Natal, era cada homem, mulher e vampiro por si próprio. 54

Simpática/patética.


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Capítulo 10 Filhos adultos dos Weres devem ficar dentro dos limites do território do bando. Aqueles que se mudarem mais distantes do que uma corrida de cinco minutos são, ou renegados ou anfitriões para freqüentes visitas de finais de semana. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Desde a aurora dos tempos, as mulheres formam amizades por um único propósito: para ter certeza que terá alguém para dar trabalho escravo não remunerado em seus casamentos. E todas nós acordamos com isso, impulsionada pelo temor de que se não se submeterem às exigências da noiva, não haverá ninguém para ser nossa escrava em nosso próprio casamento. É por isso que, seis meses antes do casamento real, eu estava passando uma noite medindo e cortando exatamente trinta e cinco centímetros de fita centáureaazul, uma vez e outra e outra... Estas fitas serão enviadas para uma empresa de impressão e serão carimbadas com o "HMS Titanic" de um lado e "Zeb e Jolene atingidos pelo Amor", do outro. Eles serão, então, amarrados em luminárias antiquadas como parte do arranjo de mesa cuidadosamente planejada por Jolene. Cada mesa ia ser nomeada por um famoso (leia-se: falecido) passageiro do Titanic, como John Jacob Astor e Molly Brown, em seguida, decorada com luminárias antiquadas e falsificação de gelo. Evidentemente, ninguém iria prestar atenção a um plano de assento, que é outra tradição do casamento do sul. Jolene teve a ousadia de chamar esse encontro de "grupo de trabalho", no estilo do povo Amish, que se reúnem para fazer uma colcha ou construir um celeiro. Eu não acho que as mulheres Amish geralmente tinham um cigarro Camel pendurado no canto de seus lábios enquanto elas trabalhavam como tinha a tia da Jolene, Lulu. Além disso, os líderes dos empregados Amish eram mais brandos do que Jolene, que tinha a tendência a ser um pouco mandona quando se tratava de seu casamento.


143 — Tem que ser de pelo menos trinta e cinco centímetros para assegurar que cada arco tenha cerca de três centímetros de fita pendurada em cada lado — Jolene disse-nos. Eu teria questionado se Jolene falava sério, mas ela não respondeu bem quando eu ri dela. — Todas as madrinhas devem cortar os cabelos exatamente três centímetros abaixo do ombro até março — segundo o edital. Lembrando que a empresa de impressão teria cortado essas fitas por um adicional de $ 250, o que não teria resultado em olhos revirados e nervosos do batalhão de primos irritadiços da Jolene. Além disso, a tia Vonnie, que tinha ouvido falar de alguma forma a minha opinião a respeito do vestido de madrinha, já estava me dando um olhar afiado. O casal alfa do clã McClaine — conhecido por Jolene como mamãe e papai — vivia na casa principal do complexo, uma pequena casa de fazenda amarela, com janelas brancas e um balanço na varanda, cercado por uma série de trailers cada vez mais degradados. Dentro, as paredes foram decoradas com estampas de Thomas Kinkade55 arranjos florais de seda e salva de serviços funerários. Tudo estava arrumado e limpo e protegido por enfeites de mesa de crochê. E todos estavam nus. O que explica os enfeites de mesa de crochê. Jolene e seus primos tiraram suas roupas no momento em que entraram na porta, da forma como a maioria das pessoas removem seus sapatos. — Isso te incomoda? — ela perguntou na primeira vez que eu visitei a casa de sua mãe. — Eu só não sei onde olhar — eu disse, resolvendo fixar meu olhar em um estranho arranjo de flor de seda laranja na parede. A verdade é que, como a única pessoa vestida lá, me senti estranha. Eu me senti mais nua do que Jolene. A única prima que estava sendo remotamente amigável era Charlene, que pediu o endereço da minha casa e e-mail duas vezes em quatro horas desde que cheguei. Ela queria ser minha melhor amiga. Sério mesmo. Minha melhor amiga. Você não pode ser bom para pessoas como Charlene. É como alimentar um gato vadio. O gato simplesmente continua voltando até que você tenha de se mudar. Então, eu estava sendo rude com ela abertamente, o que não estava realmente me ajudando com o resto da família. Felizmente, entre as mulheres Were, a palavra "puta" não é ofensiva. Eu tinha um monte de diversão com isso. 55

É o pintor norte-americano vivo mais colecionado.


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— Ei você aí, puta! — chamei enquanto passava pela porta. — O que as minhas putas favoritas vão fazer hoje? A única resposta foi um coro não entusiasmado, de "Oi" e "Olá". — Eu sei o que você está fazendo — Jolene murmurou enquanto ela me abraçou. — E não é engraçado. — Veja, é aí que você está errada — eu disse, enfiando o ondulado cabelo carmesim por trás de sua orelha. Ela fez uma careta para mim. — Eu vou tentar diminuir isso. Jolene era claramente a criança de ouro em seu clã. Sua mãe, Mimi, e todas as tias a bajulavam, contando e recontando histórias bonitas de quando era um filhote. Qualquer notícia ou realização dos outros primos era combinada com algo sobre Jolene. Jolene foi a única de seus primos que frequentou a faculdade comunitária. Jolene pode retirar a pele de um coelho em duas mordidas. Jolene foi Miss Moon Half Hollow em 1998. Jolene e Zeb seriam o primeiro casal em sua família com uma viagem real de lua de mel para Gatlinburg, Tennessee, que era aonde você iria quando você não pode se dar ao luxo de ir para a Flórida, mas queria estar o suficientemente longe que seus pais para que não pudessem dar uma "passadinha" na noite de núpcias. — Jolene trabalha na loja de sanduíche do tio Clay — disse a tia Lola, sorrindo beatificamente para Jolene. — Ele diz que todos os clientes a adoram. Ela é tão útil, tão doce. Ela apenas faz todo mundo que ela conhece tão feliz. Raylene, Angelene, Lurlene e companhia soltaram um suspiro coletivo, sincronizado o rolar de olhos. Sentindo que a máfia poderia armar uma cena, Jolene perguntou: — Como está o trabalho novo, Raylene? — Tudo bem — disse Raylene, sua voz plana enquanto se concentrava em cortar a fita sem desfiá-la. — Tudo bem? — Jolene perguntou. — Quero dizer, tem que ser divertido, certo? Raylene encolheu os ombros. — Claro. — Bem, você viu um, você viu todos, certo, Raylene? — Angelene perguntou maliciosamente.


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— Angelene — Mimi rosnou. (Sim, literalmente) — Eu comecei como decoradora de bolo no Guloso — explicou Raylene. — Eu me especializei em bolos para adultos. — Como a Floresta Negra? — perguntei. — Isso sempre me pareceu muito adulto. Eu realmente sentia falta do bolo Floresta Negra, ou qualquer tipo de bolo. Perdi o chocolate. Bah! Eu ainda não posso acreditar que o último alimento que eu comi foi casquinha de batata. — Não, Raylene faz bolos que parecem... — tia Tammy olhou em volta como se tivesse espiões ocultos por trás de cortinas de renda. — Partes sexuais. Raylene suspirou. — Eu faço bolos de pênis. Bem, pelo menos eu sabia o que seria servido na festa de despedida. — Como alguém entra no mercado de bolo pênis? — perguntei. — Onde você compra as formas de bolo para isso? Raylene olhou para mim, sem saber se eu estava brincando com ela ou honestamente interessada. Percebendo uma pausa na conversa, tia Lola — a própria mãe de Raylene, mudou de assunto voltando a Jolene. — Estamos todos tão animados com o casamento de Jolene — Lola suspirou. — Nós todos esperamos por isso há anos. E Zeb, bem... ele é um menino doce. Diga-nos de novo como ele propôs? Arlene murmurou: — É, porque nós não ouvimos esta história há quase uma hora agora. Jolene ouviu sua prima, obviamente, mas ignorou-a. Para ser justa, eu tinha ouvido a história algumas também. — Zeb tinha um grande plano em um restaurante de esconder o anel em um suflê — Jolene disse sorridente e sonhadora. — E então eu saí da porta da frente, ele me viu toda arrumada, e ele deixou escapar "Vocêquersecasarcomigo?" E colocou o anel em mim. Foi tão bonito! — Jolene balbuciou, olhando para o pequeno anel de diamante que Zeb tinha comprado com seu salário de dois meses de docente. — Ele quase gritou comigo, quando ele propôs. Ele supostamente faria


146 os garçons Julian cantar esta bonitinha canção "Você casaria comigo?". A maioria deles estão no coral da escola, e quando chegamos ao restaurante e eles descobriram que já estávamos noivos, eles estavam tão bravos por perder a chance de se apresentarem! Depois disso, Zeb estava com medo de pedir o suflê. Quem sabe o que poderiam ter feito com ele? — Ele chorou? — Lurlene perguntou. — Eu ouvi que machos humanos choram num piscar de olhos. A coisa surpreendente sobre Weres é que eles passam metade de suas vidas atrás de uma máscara humana, e eles são péssimos em esconder as emoções. Faz parte dessa coisa de seriedade canina. Por um breve segundo, um olhar de puro aborrecimento brilhou sobre os olhos perfeitos de Jolene. Lurlene sorriu. — Como está indo com o Roy? — Jolene perguntou. — Não é ele quem dirige o caminhão de sorvete? Havia que um flash irritado novamente, só que no rosto da Lurlene. — Esse era o Ray — disse Lurlene, gritante. — Roy e eu não namoramos mais. — Espere, eu não vi o nome dele no jornal por alguma coisa? — Jolene disse. — Oh, ele foi preso por tentar roubar uma peça de carne escondida em sua jaqueta. Tammy disse no tom mais útil que eu ouvi. — Ele teria saído sem levantar suspeitas se não tivesse deixado a carne cair. — Oh! Foi ele quem gritou: "Quem atirou essa carne para mim?” e em seguida, tentou correr para fora da loja? — eu ri. — Não deram três tiros de Taser para derrubá-lo? Sabendo que ele é um Were agora, bem, isso faz muito mais sentido... Eu não estou ajudando, estou? Abaixei a cabeça e fingi que a medição das fitas era exatamente a coisa mais importante do mundo. — Então, Jolene, conte-nos tudo sobre o seu vestido — Tia DeeDee gritou. — Eu não vi ainda, mas Vonnie disse que é simplesmente lindo. Houve um outro rolar de olhos entre as primas. — É — eu ofereci. — Realmente lindo.


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Outro rolar de olhos. Percebendo a mudança na maré, Jolene generosamente mudou o assunto para o filho de Braylene. — Mamãe terminou a roupa de pequeno capitão do Jake. No meu questionamento com a sobrancelha, ela disse, — Jake vai ser o nosso portador do anel. Nós encontramos um modelo igual ao utilizado na época pelos capitães. Eu só espero que ele possa descer o corredor sem tirar a roupa. — Você já encontrou uma figurehead56? — tia Tammy perguntou. — Não, eu estou pensando em pedir para o tio Deke esculpir — Jolene amuou. — Titanic não tinha uma figurehead na proa. Adivinhe quem disse isso. Todos se voltaram para mim, a pessoa que ousou discordar de Jolene. — Eu sei — Jolene encolheu os ombros. — Mas é tão náutico e romântico. — Na verdade, a maioria das figurehead na proa dos navios tem os seios expostos porque os marinheiros acreditavam que a melhor maneira de afastar as tempestades e desgraças na baía era ter uma mulher e sua dignidade sacrificada aos deuses. Mostre um pouco de seio, e tenha um bom velejo. É tão romântico quanto unir Fúria de titãs junto com Girls Gone Wild. E se elas não estavam olhando antes, certamente olhavam agora. — Eu sou a única pessoa na sala que sabia disso, certo? Jolene embrulhou um braço em volta de mim. — Eu adoro quando você finge ser normal. — Mesmo quando eu era humana, eu não era normal — admiti. Eu abaixei a minha voz quando todos voltaram ao trabalho. — Então, o que a mamãe Ginger tem aprontado ultimamente? — Nada — ela murmurou. — Isso tem me preocupado. Está muito tranquilo.

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É uma decoração esculpida em madeira, geralmente de sexo feminino ou bestial, encontrada na proa dos navios, sobretudo, entre os séculos XVI e XIX.


148 Zeb disse que ela está distraída odiando o seu namorado, o que é bom. Eu sei que não vai durar muito tempo, mas eu estou aproveitando enquanto dura. — Eu acho que isso é tão saudável quanto poderia ser — eu assegurei-lhe. Apaziguada por um momento, Jolene mediu diversos comprimentos de fita, rolou a bobina, e mediu novamente, e novamente. Grunhindo, ela arrancou a todo o comprimento da fita do carretel de cetim azul. Quando ela pegou a tesoura, eu gentilmente tirei a fita da sua mão. — Jolene, posso acabar perdendo um membro aqui, mas tem outra coisa te incomodando? — Você não notou nada de estranho no Zeb? — perguntou ela. — Eu sei que essa coisa do casamento já deixou todo mundo estressado, mas ele acabou ficando tão distante, como se ele não quisesse nem falar comigo. E ele tem sido um pouco maldoso. Algumas das coisas que ele está dizendo são simplesmente dolorosas. Quando eu dei-lhe um olhar intencionalmente em branco, ela disse. — Como aquela piada sobre eu não ser muito inteligente. E eu não acho que ele percebe o quanto ele fala sobre você. Nós saímos para comer, e ele fala sobre que tipo de comida você gostava. Vamos assistir a um filme, e ele diz, “Eu já vi isso com Jane”. É muito difícil, sabe? É como se você fosse uma ex-namorada, mas como se nunca realmente tivesse terminado com ele. — Eu realmente nunca saí com ele, ou... — eu disse a ela. — Eu sei — disse ela, me empurrando com o braço. — É difícil viver em comparação a você, Jane. — Não, não é. Você já me superou na aparência. — Eu sei — disse ela, sorrindo. — Concorde comigo um pouco mais devagar, por favor — eu disse, batendolhe no braço. — E você pode sair durante o dia, ter filhos, comer, se bronzear, envelhecer com ele. Zeb ama você. Ele está apenas passando por uma fase estranha. Basta observá-lo no casamento. Ele vai ser o noivo mais feliz que já existiu. Jolene não parecia muito convencida, mas resmungou: — Certo. As conversas tornaram-se ainda mais complicadas enquanto a minha noite avançava.


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— Isso está passando do limite — Gabriel resmungou quando eu abri minha porta para ele. Eu estava pesquisando o nome Wilbur, esperando poder encontrar alguns parentes que poderiam ser alertados em relação a questão matrimonial da vovó Ruthie antes que fosse tarde demais. Não acostumada ao Google, fracassei, eu estava emocionada de ter uma distração, mesmo que a distração fosse o meu Sire acenando e agitando o que parecia ser uma nota de resgate para mim. — Eu achei isso na minha caixa de correio esta noite — disse ele, segurando um pedaço de papel amarelo com letras recortadas de revistas e jornais, a fonte padrão para loucos. — Você está destruino um lar feliz. Acabe com a Jane ou emtão... — eu lia em voz alta enquanto ele se corroia por dentro. — A ortografia da mamãe Ginger é atroz. — Se você for escrever bilhetes de assédio, você deveria pelo menos ter a cortesia de corrigir os erros — ele murmurou, estendendo-se em meu sofá. — Algumas pessoas — eu disse, revirando os olhos. — Ela, no entanto, arruinou seu anonimato ao adicionar isso — disse ele, entregando-me um cheque de $ 352,67 da conta de Ginger e Floyd Lavelle. — Acho que ela está tentando me pagar para ficar longe de você. — Como você chegou a esta conclusão? — perguntei, segurando o cheque com um dedo na parte onde mamãe Ginger tinha rabiscado: "Para ficar longe da Jane." — Bem, isso é um monte de dinheiro — eu disse. — Foi bom enquanto durou. Gabriel deu uma risada. — Eu estou contente em vê-la — disse ele antes de inclinar-se nas almofadas e me beijar. Eu dei-lhe um sorriso confuso e alegremente ignorei o fato de que tinha se passado quase uma semana desde que ele me ligou ou me visitou. Ou que eu fiquei louca querendo saber onde ele estava e o que estava fazendo, mas eu não queria ser "aquela namorada" que liga para o telefone celular constantemente. Em vez disso, eu disse: — Eu estou sempre aqui.


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Gabriel abriu a boca para responder, mas foi interrompido por uma batida na porta. — Talvez nós não devêssemos atender — eu disse. — Poderia ser a mamãe Ginger. Ela pode tentar adicionar conservas de salsicha no negócio. — Eu não vou me esconder de uma mulher de meia-idade que não pode soletrar — Gabriel insistiu sombriamente, avançando para a porta da frente. Segurei-o com uma mão contra seu peito. — Bem, ao menos me deixe atender a porta. Assim fica menos provável que ela me ataque com ácido de bateria. Não foi uma surpresa agradável encontrar Ophelia Lambert, a chefe assustadora para sempre-adolescente do grupo local do Conselho Mundial para a Igualdade de Tratamento dos Não-Mortos na minha porta da frente, vestindo uma camisa de homem e amarrada com uma saia que pode ter sido originalmente comercializada como uma bandana. Ophelia supervisionou a minha falsa acusação por vários assassinatos aleatórios e os incêndios do ano anterior e, finalmente, decidiu que eu tinha razão em transformar Missy, a corretora de imóveis, em pó com uma de suas próprias placas e em seu próprio quintal. Apesar de ela ter sido razoavelmente educada comigo e optado por não atear fogo em mim, eu ainda achava que 300 anos de graça predatória embrulhada em um corpo de quinze anos de idade, era extremamente assustador. Por sua parte, acho que ela pensava que minhas palhaçadas convulsivas eram encantadoras, mas tinha medo de admitir isso. — Eu não fiz isso — disse-lhe depois de abrir a porta. — Fez o quê? — ela perguntou com sua testa arqueada. — O que quer que tenha sido — eu disse. — Qualquer que seja a suspeita de grande maldade que a trouxe à minha porta. Ela sorriu, seus lábios pintados cuidadosamente se moveram em uma curva. — Algumas pessoas acreditam que a melhor maneira de evitar a suspeita é não declarar a sua inocência antes de ser acusada de algo. — Bem, eu joguei da sua maneira antes e veja onde isso me levou — eu disse, acenando para ela entrar.


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— Pelo que entendi, no final você triunfou agradavelmente — disse ela, entrando para a sala e se empoleirando no sofá mais próximo. Ela assentiu com a cabeça em uma fria saudação ao meu Sire. — É o que eu continuo ouvindo — murmurei. — Eu vou acreditar quando eu ver meu extrato bancário no positivo. Ophelia sorriu, suas presas brilhavam pela fraca luz do fogo, e me ofereceu um pedaço de papel. Era o meu extrato bancário, e o saldo estava positivo. Muito, muito positivo. Aparentemente, as rendas de Missy tinham sido transferidas para minha conta corrente. E sua renda foi um pouco mais extensa do que eu tinha previsto. Mas faz sentido, considerando quantos vampiros ela enganou, traiu e assassinou para obter sua propriedade. Além disso, ela cobrava uma comissão saudável em suas vendas. Eu tinha sido criada para pensar que discutir sobre dinheiro era vulgar e rude. Então só vou dizer que eu não teria que me preocupar com dinheiro. Nunca. Eu poderia viver o resto da minha vida anormalmente longa, sentada em um sofá recheado de notas de vinte dólares, e bebendo sangue de sobremesa, e evitando qualquer tipo de esforço, e eu ainda teria um pouco sobrando para me certificar que minha alma mater nomeie um parque em minha homenagem. — Eu acho que o Conselho decidiu que eu aprendi minha lição sobre ser uma boa pequena vampira e ficar longe de problemas? — eu disse. — Algo parecido com isso — Ophelia disse, rindo novamente. — O Conselho não poderia legalmente segurar o dinheiro por mais tempo sem me acusar de algo? — sugeri. — Algo assim mesmo — Ophelia sorriu, satisfeita com a minha compreensão da situação. — O que você pretende fazer com o dinheiro? — Ainda estou na fase "Oba, eu não vou perder minha casa" de processamento desta informação — disse a ela. — Dê-me algum tempo. — Isso é muito normal — disse ela, se movendo desconfortavelmente em seu assento. Dada a brevidade de sua saia, não era exatamente confortável para nenhuma de nós. Por deferência a mim e a indiferença continua de Ophelia, Gabriel fez um estudo exaustivo dos tratamentos de janela.


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— Nós teremos uma longa discussão sobre como exatamente você obteve informações da minha conta, afinal — eu disse, evitando contato visual com a sua falta de saia. — Posso perguntar por que você me trouxe a notícia pessoalmente? Isso me parece com o tipo de coisa que deve ser entregue via correio registrado. Pensei que você supostamente seria uma terceira parte desinteressada. — Você me interessa — disse ela calmamente. — Você é muito divertida. — Como um macaco dançante — murmurei. Ophelia sorriu sarcasticamente, suas presas brancas esticadas quando ela jogou a cabeça para trás e riu. Quando ela terminou, enxugou os olhos e sorriu para Gabriel. — Na verdade, eu precisava ver o Gabriel também. Mesmo que eu amasse te deixar junto ao teu amante charmoso para que vocês voltassem... para o que fosse o que vocês estivessem fazendo, há algo que eu preciso discutir com você. Silêncio. Olhei da adolescente antiga para o meu Sire. Gabriel olhou para Ophelia, que o olhou com seu olhar de prata, insensível e indiferente. Claramente, indiferente do que fosse, Ophelia não ia falar sobre isso na minha frente. E nenhum deles parecia disposto a pedir-me para sair. Aparentemente, isso seria rude. Fingir que eu não existia, no entanto, estava totalmente aceitável. — Eu vou ver... alguma coisa — eu disse, correndo para a cozinha com toda a dignidade possível. — Vá ver lá fora, Jane — Ophelia disse depois que eu saí. Bem, lá vai minha chance. Gostaria de dizer que eu estava na varanda apreciando o ar da noite agradável, contemplando a plenitude da lua e meu lugar no universo, não direcionando um só pensamento para o que estava sendo dito em minha própria casa e como isso poderia me afetar. Mas eu rastejei ao redor da porta da frente e usei minha audição de vampira para escutar. Eu sou uma pessoa profundamente falha. Deveria saber com nenhuma surpresa que eu não sou boa com a discrição.


153 Ophelia e Gabriel, obviamente, sabiam que eu estava fazendo isso porque eles falavam em voz baixa, e eu me esforçava para ouvir. Tudo o que eu pude descobrir dos furiosos murmúrios era Ophelia dizer as palavras "desequilibrada", "pesadelo" e "Jeanine". Aí estava esse nome novamente. Quem diabos era Jeanine? Eu me aproximei da porta, mas pisei na madeira errada do alpendre e enviei um rangido diretamente para os ouvidos deles. Eles estavam agora mais do que ciente de que eu estava ouvindo aqui fora. Ophelia riu e disse em voz alta: — Este é seu problema para resolver, Gabriel. Mas se você não consegue lidar com a situação, o Conselho estaria feliz em se envolver. Eu podia ouvir o sussurro insistente, quase desesperado de Gabriel, mas eu não conseguia entender a sua resposta. Eu acho que ele estava falando chinês. Eu mal poderia falar o espanhol do ensino médio. Ophelia, claramente exasperada em sua pretensão, respondeu com um discurso um pouco impressionante que eu não conseguia entender. Mas, novamente, tudo soa tipo raiva em mandarim. Percebendo que era inútil ouvir mais, eu passei os próximos minutos jogando uma bola de tênis adorada, mas muito gasta para Fitz. Ele estava no céu dos cachorros, correndo de mim e mordiscando meu jeans. Eu ouvi a porta da frente abrir e vi com pavor o êxtase de "nova pessoa" que brilhava nos olhos de Fitz. Eu podia me ouvir gritando "Nããão!" em câmera lenta enquanto Fitz corria para Ophelia. Meu cérebro tinha apenas o tempo suficiente para calcular exatamente quanto tempo eu passaria presa pelo conselho se Fitz arruinasse um dos equipamentos indecentemente caros de Ophelia ou, pior ainda, se Ophelia deixaria Fitz com todos os seus apêndices intactos. Ao invés do massacre canino que eu previ, fiquei chocada quando Ophelia sorriu calorosamente para o meu corredor pateta. Ela ergueu um dedo e disse algo macio em alemão. Fitz derrapou a uma parada frente a ela e pousou obedientemente em seu bumbum. Ela sorriu novamente e deu outro comando. Fitz ergueu a pata, e ela se dignou a agitá-la, arranhando-lhe atrás das orelhas com uma expressão de... bem, essa foi a primeira expressão genuína que eu já vi no rosto de Ophelia, de modo que só posso descrever como "jovem." Por um momento, os séculos sumiram, e ela era apenas uma moça bonita no meu jardim, acariciando o meu cão. Tenho certeza que meu maxilar estava descansando no meu peito, porque quando Ophelia olhou para mim, todos os vestígios da jovem desapareceram como


154 fumaça. Seu rosto endureceu em linhas mais familiares. Ela estreitou seus olhos para mim. Eu levantei minhas mãos em defesa. — Eu não vi nada — prometi a ela. Ela arqueou as sobrancelhas, deu um tapinha na cabeça de Fitz, mas não disse nada. Gabriel saiu pela porta da frente pela varanda quando Ophelia fez seu caminho em direção a seu esportivo Corvette vermelho. Tenho certeza que o ato de dirigir abaixo a rua principal fez dela um objeto de obsessão e inveja, mas, francamente, eu achei um pouco óbvio em termos clichê. Ophelia abriu a porta, inclinou a cabeça, e me considerou por um momento, seus penetrantes olhos azuis brilhando para mim através das sombras. — Estou muito contente que o dinheiro de Missy esteja em suas mãos. Eu acho que você vai fazer coisas muito mais fascinantes do que um projeto de urbanização espalhafatoso. — Então, agora não é o momento para falar sobre o parque temático Drácula que eu planejei para os próximos cinquenta hectares? — perguntei brilhantemente. Gabriel riu, mas fingindo tossir. — Para o nosso bem, eu vou assumir que era uma brincadeira — ela murmurou, subindo no carro dela e dando-nos um último lampejo de coxas. Ophelia partiu, deixando minha cabeça girando com as possibilidades do dinheiro de Missy. Eu nunca teria que me preocupar em pagar os impostos de propriedade. Eu seria capaz de manter a casa por séculos vindouros. O legado da família, tal como estava, estava seguro. Eu podia viajar. Eu podia ver finalmente todos os lugares que eu sonhei ver toda a minha vida. Edimburgo. Taiti. Beijing. Concedido, eu iria vê-los durante a noite, mas ainda assim, eu poderia ir. Eu só tenho que falar com Gabriel sobre as precauções de segurança e questões de passaporte para os não-vivos. Eu poderia adotar um dos órfãos na TV que fazem você se sentir tão culpada. Inferno, eu poderia adotar uma família inteira. Gostaria de doar um catálogo completo cheio de livros para crianças e jovens adultos para a biblioteca. Eu poderia garantir o financiamento para o laboratório de computação do ensino médio de Half-Moon Hollow. (Os alunos ainda estavam usando Commodores). Eu teria que fazer tudo isso anonimamente. Você não acreditaria o quão rapidamente os parentes saem da toca quando dinheiro entra em jogo. Ganhar na


155 loteria atrai parentes que você nunca soube que existia, e todos eles têm invenções para investir, pagamentos de trailer para ser feito. Meu primo Glory (que era, infelizmente, do sexo masculino), ganhou 10 mil dólares na raspadinha uma vez, e dentro de doze horas, o nosso tio-avô Stuart tinha mudado seu acampamento para a calçada de Glory. Claro que, se minha família descobrisse que eu tinha dinheiro, eu tenho certeza que morreria em um acidente misterioso de limpeza da janela, e Jenny imediatamente se reivindicaria como minha parenta mais próxima. E dado o meu último par de meses, a morte por venezianas estava se tornando possível. Nota para mim: Escrever um testamento. Deixar tudo para Zeb. Eu gritei e pulei nos braços de Gabriel, envolvendo minhas pernas em torno de sua cintura. Felizmente, ele não me soltou. — Você agora está namorando uma mulher bem-resolvida. E eu sei que seria contra seus princípios de cavalheiro perguntar quão bem resolvida eu estou. E seria ainda mais contra o meu próprio personagem lhe dizer. Mas deixe-me colocar desta forma, se você se deparar com problemas financeiros, você não precisa se preocupar. — Isso é doce, mas desnecessário — ele disse, puxando-me contra ele. — Talvez eu deixe você ser meu cabana boy57 — suspirei. — Não vou dignificar isso com uma resposta. Ele riu, mas prendeu-me em seu peito com uma espécie de desespero silencioso, puxando-me tão perto que a respiração seria um problema se eu precisasse de oxigênio. Obviamente, sua conversa com Ophelia o tinha afetado mais do que ele estava deixando aparentar. Era esta Jeanine uma antiga namorada? A atual namorada? Que tipo de situação exige que o Conselho intervenha e interfira? Enquanto Gabriel se agarrava a mim, eu acariciava seus cabelos, sabendo que não importa o que eu dissesse ou perguntasse, não faria qualquer um de nós se sentir melhor. Então eu deixei ele me abraçar e fingi que estava tudo bem. Foi o momento mais solitário que eu já senti na presença dele.

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É alguém jovem e de aspecto agradável que trabalha em praias ou lugares descolados servindo as pessoas.


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Capítulo 11 Nos últimos 100 anos, Weres do sexo feminino adotaram certos rituais de acasalamento humanos. Lobisomens machos que não presentearam as suas companheiras com ofertas de carne ou flores em um aniversário podem esperar dormir em uma casinha de cachorro verdadeira. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Eu estava um pouco nervosa sobre o que os vampiros dão uns aos outros no Dia dos Namorados, porque, até onde eu sabia, poderia envolver corações verdadeiros. Então, quando eu encontrei uma caixa branca na minha porta, amarrada com um laço vermelho enorme, eu entrei em modo de garota compulsiva total. Houve gritos. Um monte de gritos. Por apenas um minuto, o interior da minha cabeça foi como um cartaz vivo de Lisa Frank58. O conteúdo era... inesperado. Em primeiro lugar, eu não sabia se Gabriel realmente estaria na cidade no Dia dos Namorados. Em segundo, eu geralmente sou o tipo de garota que usa calcinha de algodão branca, ocasionalmente o tipo de garota que usa calcinha de algodão preta. Mas se Gabriel gostava de toda a coisa de corpete de cetim vermelho, eu podia fazer uma tentativa. Sim, dar lingerie atrevida à sua namorada no Dia dos Namorados é vulgar e um clichê, e eu tinha passado anos discursando contra o comercialismo e a grosseria de um feriado concebido por uma América corporativa para forçar os homens a comprar a sua entrada para a afeição de uma mulher e para fazer mulheres solteiras se sentirem patéticas e solitárias. Claro que, na época, eu era patética e solitária, então me perdoe por aproveitar a oportunidade de me sentir presunçosa por um dia.

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Artista pop americana, que fundou uma companhia com o mesmo nome, cuja função envolvia a venda de autocolantes, roupas e brinquedos e até mesmo capas para os interruptores da luz, tendo como público de vendas essencialmente jovens garotas. Eram desenhos comercializados, muito coloridos e com figuras como unicórnios, cachorros, arco-íris...


157 O presente de Gabriel era uma adaptação moderna do espartilho vitoriano clássico, cetim macio em um vermelho perfeito do Dia dos Namorados, apertado na cintura. Era uma espécie de roupa interior milagrosa, apertando a minha cintura em um ponto minúsculo e me dando um decote anatomicamente improvável, tudo isto sem quebrar as minhas costelas. A bainha do corpete beirava uma calcinha de cetim, que estava conectada a um par de meias pretas rendadas pelos mais finos laços de seda vermelha. Eu fiz uma pose lânguida no espelho e — apesar de parecer malditamente quente, se eu posso dizer — me senti um pouco ridícula. Eu parecia como uma modelo da capa dos romances que a minha mãe lia. Tudo o que eu precisava era de um título como A Tempestuosa Professora sobre a minha cabeça em uma letra em caracol. Ainda assim, eu andei pela casa e acendi as velas de baunilha. Eu queria construir um pouco de ambiente para Gabriel apreciar antes de eu pular nele. A minha casa era consideravelmente mais acolhedora do que tinha sido da última vez que ele me visitou. Eu não tinha tido rendimento disponível durante um tempo, então depois de meses de muita redução e poupança e de comprar marcas genéricas de sangue, e entrei em uma espécie de frenesi de compras online. Eu comprei cortinas que bloqueiam a luz solar para todas as janelas da casa, um confortável sofá novo, e uma geladeira maior. Eu até mesmo reservei um empreiteiro de pré-fabricados para vir anexar a garagem à casa com uma passagem coberta. Era como ver roupas de bebê para alguém com presas. Eu estava me sentindo adorada e muito em contato com o meu gatinho sexual interior quando ele apareceu na minha porta mais tarde naquela noite. — Alguém ganhou um 'jantar' do Dia dos Namorados muito agradável — eu ronronei, me encostando contra o batente da porta. — No caso de não ter percebido, 'jantar' estava com aspas em uma forma secreta e atrevida. Gabriel olhou para mim, a sua expressão vazia. Eu gostaria de pensar que era o escasso vestido preto que eu estava usando sobre a lingerie dificultando os seus processos neurológicos, mas... não. — A lingerie... a coisa de cetim vermelho com pequenas ligas... — eu vi o rosto dele passar de branco a ameaçador. — A julgar pela sua expressão, você não tem ideia do que eu estou falando, não é? — o meu estômago parecia encolher enquanto eu me contorcia nas roupas íntimas coladas. — Oh, nada bom. Eu comecei a ir em direção à escada, e depois me virei para ele, as mãos nos quadris. — Espera, o que me enviou pelo Dia dos Namorados?


158 O seu rosto estava definido em linhas mais sombrias, mas por um motivo totalmente diferente. — Dia dos Namorados, que comemora o martírio de São Valentim, padroeiro da apicultura, epilépticos, e fabricantes de cartões de saudação? — eu disse. Houve uma batida de silêncio em que eu percebi. — Você não me comprou nada para o Dia dos Namorados, não é? Gabriel pigarreou. — O Dia dos Namorados não era algo reconhecido no meu tempo. Eu cutuquei-o no peito. — Primeiro de tudo, sim, era. Cartões de renda e testemunhos de amor eram amplamente trocados mesmo em tempos vitorianos. Por agora, deveria saber melhor do que me foder com curiosidades históricas. Além disso, teve uns 140 anos para se ajustar. Se adapte aos tempos. Não notou os corações gigantes e os cupidos de papel pendurando em todos os lugares? — Eu nunca namorei uma mulher moderna antes. Eu o cutuquei de novo. — Só pode usar isso como desculpa certo número de vezes. E não te ofereça para me dar 'sexo fantástico' como presente, porque eu acho que nós já estabelecemos que dadas as circunstâncias, eu posso te machucar. — Eu não ia... — estreitei os olhos para ele. Em vez de terminar o seu protesto desajeitado, ele disse, — Vamos nos focar no presente anônimo assustador. — Não diga 'assustador'. Não tente voltar às minhas boas graças falando como eu. Eu só não posso entender como alguém pode escolher um presente perfeito de Natal para a namorada e depois completamente ignorar o Dia dos Namorados. — Bem, o que comprou para mim? — Você nunca, jamais, saberá — lhe prometi. E ele não iria. Porque agora que eu tinha feito um negócio tão grande sobre o presente, os boxers com os lábios de vampiro que brilham no escuro e presas por todo o lado já não pareciam tão bons. — Deixa-me ver o presente que recebeu — ele disse. — Você ia me mostrar. Eu cruzei os meus braços sobre o peito. — Não, agora já não vou mostrar.


159 — Jane. — Tudo bem — tirei as tiras dos meus ombros e deixei o vestido cair aos meus pés. Os olhos de Gabriel se arregalaram enquanto ele me olhava da cabeça aos pés. — Gabriel? — Me dê um momento. Todo o meu sangue acabou de ser drenado para fora da minha cabeça. — Eu acho essa coisa toda incrivelmente nojenta agora que eu sei que estou usando as calcinhas de um estranho — estremeci pela imagem subitamente perturbadora. E agora eu estava nua e envergonhada, o que era uma sensação com a qual eu estava muito familiarizada. O telefone tocou. — Salvo pela campainha — ele murmurou. — Se tivéssemos tempo, eu ia te contar sobre as origens dessa expressão em conexão com a escavação de tumbas em cemitérios, mas eu não vou — eu disse, pegando o telefone. — Sem presente, sem trivialidades. — E ainda assim eu acho que vou sobreviver — Gabriel reclamou. Eu lhe dei um olhar significativo enquanto ladrava uma saudação no telefone. Uma astuta voz feminina perguntou. — Gostou do presente? — Quem fala? — É a Andrea — a voz do outro lado da linha soou magoada. — Oi. Eu não... não posso falar agora — sussurrei. Os olhos de Gabriel se estreitaram ao ouvir o estresse na minha voz, e a linguagem que, depois ao pensar nisso, soaram terrivelmente suspeitas. — Eu vou te ligar mais tarde. — O que está errado? — ela perguntou. Eu me afastei de Gabriel e tentei baixar a minha voz ainda mais, mas vamos enfrentar, o meu namorado tinha super-audição. — Eu realmente não posso explicar. Vamos apenas dizer que as palavras 'Feliz Dia dos Namorados' provavelmente vão fazer o meu olho se contrair


160 espontaneamente pelos próximos anos — eu resmunguei enquanto Gabriel me encarava, a sua expressão irritada e um pouco impotente. — O que aconteceu? — Andrea chorou. — Eu não quero falar agora — eu lhe disse através das presas cerradas quando Gabriel deu um sutil, mas deliberado passo na minha direção, o seu ouvido inclinado para o telefone. Eu atirei-lhe um olhar venenoso e me dirigi para a outra sala. — Mas eu deixei o pacote no teu alpendre para facilitar as coisas. Sério, esse conjunto era impecável, praticamente uma receita infalível para o primeiro Dia dos Namorados como casal. Como pôde estragar tudo? — Andrea chorou, usando esse tom que a minha mãe usava quando eu tinha estragado uma receita. — Foi você? — exigi, mantendo a voz baixa. — O que... por quê? Por... você e eu temos que ter uma discussão séria sobre limites. Que diabos estava pensando? A sua voz baixou para um nível um pouco mais contido. — Bem, eu já conheço Gabriel há um tempo, e ele simplesmente não é o tipo de cara que dá muita importância a datas importantes no relacionamento como o primeiro Dia dos Namorados. Eu sabia que você ia pirar e exageraria se parecesse que ele tinha se esquecido. E eu sabia que ele não iria pedir ajuda ou aceitaria conselhos sobre o que te dar, por isso eu quis dar uma ajuda. Eu pensei que ele estaria tão atordoado com a visão de você em roupa íntima deslumbrante que vocês não teriam tempo de falar sobre de onde ela tinha vindo. Se ela não estivesse tão deprimentemente certa, eu ficaria realmente irritada por Andrea ter sido capaz de entender o meu relacionamento antes que eu o fizesse. Não, espera, eu estava chateada de qualquer forma. — Nós temos que te arranjar um namorado, porque você claramente tem muito tempo livre — eu lhe disse. — Este não é um comportamento normal. — É um comportamento muito normal querer que a sua amiga tenha um bom Dia dos Namorados. O que não é normal é você de alguma forma transformar isto em algum desastre a la Jane. Inferno, mesmo a sua avó Ruttie sabe comprar lingerie no Dia dos Namorados. Eu a vi na Victoria's Secret no outro dia. Ela disse que ia comprar algo especial para o seu noivo. Eu pensei que o noivo dela tinha morrido. — Oh, meu Deus, porque está fazendo isto pior? — chorei. Eu não sabia de quem eu tinha mais pena nesta altura, de mim ou do pobre e desavisado Wilbur.


161 — Eu não preciso dessa imagem em minha cabeça. Por muito que eu aprecie as suas intenções, nunca faça isto novamente. É estranho. Espera, espera, se pensava que íamos estar todos nus e felizes agora, porque está ligando? — perguntei, ignorando a forma como as sobrancelhas de Gabriel subiram com esse comentário. — Bem, mesmo os vampiros têm um tempo de recuperação. Eu enruguei o nariz. — Eca. Isso é um finalizador de conversa. Eu te ligo mais tarde — desliguei o telefone e me virei para Gabriel. — Eu vou tomar um banho. Talvez não deva estar aqui quando eu sair. Deixando um rastro de lingerie à minha passagem, eu me dirigi para o banheiro. Eu virei a torneira de água quente, deslizei para o chuveiro, e lutei contra as lágrimas. Oh, como eu estava mortificada! Deixa-me contar. Um, eu coloco roupa íntima estranha retirada da minha porta sem saber de quem era ou o que tinham feito com ela. Dois, o meu namorado arruinou o Dia dos Namorados. Três, a minha amiga estava tão certa de que isto poderia acontecer (e com razão) que me arrumou um presente de pena para eu conseguir uma transa. Quatro, eu tinha imagens de uma avó Ruthie vestida de pelúcia fazendo algum tipo de dança do leque na minha cabeça. E cinco, o meu namorado arruinou o Dia dos Namorados. Eu achei que isso merecia repetição. Eu ensaboei o meu cabelo, deliberadamente evitando o shampoo anti-frizz com cheiro de amêndoa que Gabriel gostava em favor de um clássico Pantene. Eu ouvi a porta do banheiro abrir. Gabriel entrou e se encostou na pia. — Jane, nós já conversamos sobre isso — ele disse suavemente. — Eu sou o teu Sire e o teu amante. O meu vínculo contigo é muito forte. Eu não vou te partilhar com outro homem, mesmo que ele tenha um gosto impecável para lingerie. Isso foi uma espécie de confissão de amor, certo? Eu abri a cortina com força, olhando para ele através de bolhas de sabão escorregando pelo meu rosto. — Porque é que a sua primeira suposição foi de que tinha sido outro homem? O quê sobre mim é que te faz pensar que eu te trairia? — Depois eu fechei a cortina com força. De alguma forma, a sua voz baixou ainda mais, o seu tom de voz desgastado. — Eu não sei se eu posso te fazer feliz, Jane. Isso me deixa doente por dentro. Eu vejo os arrependimentos que tem. Eu vejo a saudade em seus olhos quando fala sobre a sua vida de antes, as coisas que sente falta. Eu não sei se sou bom para


162 você. Há momentos em que eu me pergunto se é realmente feliz como um vampiro, se deseja que eu nunca tivesse te conhecido naquela noite. Se alguma parte de você seria mais feliz como humana. Desta vez, eu abri a cortina tão fortemente que os anéis saíram da vara da cortina. — Bem, claro que uma parte de mim seria mais feliz como humana, seu idiota! — eu gritei. — Por exemplo, eu não iria entrar em combustão espontânea se quisesse, digamos, dar um passeio ao pôr do sol. Eu não teria que aturar os problemas de negação não-mortos da minha mãe. Eu não teria que me preocupar com as pessoas se encolhendo cada vez que eu entro num lugar. E eu seria capaz de comer. Eu não como há meses, percebeu isso? Sem carboidratos, sem gorduras, sem chocolate. Nada! Quero dizer, sabe o que é para alguém como eu, não ser capaz de comer chocolate? Gabriel estava obviamente despreparado para o nível de raiva (ou volume) desta explosão molhada e nua. Parecendo um pouco atordoado, ele fechou o que sobrava da cortina. Ele mal foi audível sobre o som do chuveiro. — Sinto muito. Eu não sabia que estava tão miserável. — Eu não estou. Eu não estou miserável. Mas eu não sou completamente feliz sendo uma vampira. E não é justo que esperasse que eu fosse. Se quer um relacionamento real e honesto, eu não posso pôr uma alegre cara com presas para você. Você estava empolgado com a sua nova vida depois de ser transformado? — Não, mas a minha família me amarrou nu a uma árvore para esperar o nascer do sol — ele ressaltou calmamente. — Estamos nos afastando do ponto. Enfiei a cabeça debaixo da água que estava rapidamente esfriando. — E qual é? — Que outro homem está te enviando roupa íntima. Eu poderia deixá-lo se perguntando, eu ponderei, revirando os olhos. Eu poderia deixar Gabriel achando que eu tinha um admirador secreto, fazer-lhe ciúmes. Depois de semanas de me perguntar sobre onde ele estava, o que ele estava fazendo, com quem ele estava, ele merecia. Mas eu nunca fui essa garota, a jogadora, a namorada que jogava pelas 'regras' estabelecidas no livro de autoajuda da semana. E ainda que provavelmente me fizesse sentir melhor, eu não acredito que Gabriel empurrar um pobre cara do topo de uma árvore que ele suspeitava que fosse o meu pretendente ajudaria o nosso relacionamento. — Não foi outro homem — eu bufei. — Foi Andrea.


163 Houve um silêncio pesado do outro lado da cortina. — Er... isso não era algo para o qual eu estava preparado. Eu pensei que talvez fosse Zeb. — Ew! — chorei. — Bem, ele tem agido tão estranho ultimamente — Gabriel protestou. — E eu não vejo como Andrea te dando roupa íntima sexy é menos preocupante. Eu não acho que ninguém devia estar comprando qualquer coisa íntima sexy além de mim. — Bem, você não me deu nada — desliguei a água e abri a cortina. Eu passei por ele e peguei uma toalha. Ele agarrou a minha mão e me puxou para o nível dos olhos dele. — Andrea sentiu a necessidade de intervir por você. Em vez de assumir o pior, você podia simplesmente falar comigo, Gabriel — eu disse enquanto ele me seguia para o quarto. Eu abri uma gaveta da cômoda e tirei o meu pijama de flanela com vacas. — Não o pijama com as vacas, Jane, por favor, não há nenhuma razão para deixarmos isto estragar a nossa noite — ele gemeu. — Eu sinto muito. — Perdão? — perguntei, colocando a minha mão em volta da orelha. — O que foi isso? — Você me ouviu — ele resmungou. — Com a nossa audição, é impossível que não tenha me ouvido. — Não, eu não acredito que ouvi — eu disse. — Porque eu tenho certeza que o Mestre da Atitude não poderia possivelmente ter pedido desculpa à minha simples pessoa. — Presunção não é atraente em você, Jane. — Presunção é uma das minhas melhores características — retorqui, apoiando-o contra o pé da minha cama. — Eu sou realmente, realmente boa nisso. — Já reparei — ele murmurou, aninhando o nariz ao longo do meu queixo. Rindo, ele enfiou as mãos nos meus cabelos e beijou a minha têmpora. Eu encolhi-me para fugir dele. — Ei, eu ainda estou brava contigo, escapador de Dia dos Namorados. Você vai ser punido. E não da maneira divertida. — Eu aquiesço às tuas demandas — ele disse solenemente. Acenou com a cabeça para o meu pijama bovino. — Agora, eu acho que deveria tirar isso.


164 Eu bufei. — Não vai acontecer, meu amigo. E não aconteceu. Em vez de sexo quente do Dia dos Namorados, eu fiz Gabriel pintar as minhas unhas dos pés de alfazema (ele tem mãos incrivelmente estáveis) enquanto assistíamos o mais temido filme de garotas de sempre, Sintonia de Amor. Eu diria que ele aprendeu a lição, mas eu o peguei enxugando os olhos no final. — Está chorando? — perguntei. — Não! — ele exclamou. Eu ri e dei um tapinha no seu ombro. — É só que era tão improvável, os dois aparecendo no Empire State Building ao mesmo tempo depois de se desencontrarem tantas vezes. E... Quer passar a noite aqui? — eu perguntei de repente. — Vou ter que dormir no sofá? — Não, pode dormir no quarto de hóspedes — eu disse docemente quando desci as cortinas que impedem a luz de entrar. — Eu prefiro fazer uma corrida até minha casa — ele murmurou. Eu afastei o cobertor para ele poder entrar. — Tudo bem. Ele sorriu e tirou a roupa, ficando só de calças. Geralmente Gabriel não usava roupa íntima. Eu acho que ele não estava se sentindo suficientemente seguro do meu bom humor para dormir nu. Ele afofou os travesseiros em ambos os lados da cama e deixou-se cair com uma tola antecipação. — O que se passa contigo? — Eu apenas estou animado — ele disse, sorrindo. Revirei os olhos enquanto alcançava a lâmpada da cabeceira. — Só para que conste, esta é a minha primeira dormida em conjunto desde que eu e Zeb estávamos na quinta série. E mesmo assim, mamãe obrigou Zeb a dormir em um andar da casa diferente do meu. Eu sou a que é aconchegada. Você é quem o faz. — Eu não aconchego — Gabriel disse. — Bem, agora aconchega — eu disse, envolvendo os seus braços em torno da minha cintura. — Você não ronca, não é?


165 — Eu não respiro. — Bem lembrado. Era bom saber que os nossos corpos ainda se encaixavam perfeitamente fora da arena sexual. Gabriel apoiou a cabeça no meu ombro, puxando as minhas costas contra o seu peito e os seus joelhos sob os meus joelhos. Nós ficamos deitados em silêncio, e eu comecei a rir. — O quê? — Gabriel perguntou. — Eu não estou aconchegando do jeito certo? — Não, isso é ótimo — eu ri. — Mas o nascer do sol só será daqui a quatro horas. Nós estamos, basicamente, indo para a cama ao equivalente as duas da tarde. Nós nos tornamos oficialmente as pessoas menos interessantes que conhecemos. E considerando que nós bebemos sangue e explodimos em chamas quando nos bronzeamos, isso é meio triste. — Você está dizendo que a magia se foi — Gabriel disse. — Sim. — Bem, foi bom enquanto durou — Gabriel me soltou e começou a sair da cama. — Eu vou agora. — Ok, bem, me liga — apertei a sua mão. — Foi bom te conhecer. — Obrigado. Você também. Eu puxei a mão dele, forçando-o de volta para a cama e a rolar em cima de mim. Ele me beijou e me mostrou exatamente como éramos entediantes. — Me desculpe por ter arruinado o teu Dia dos Namorados — ele murmurou contra o meu pescoço, a sua voz suave na minha pele. — Eu não sabia que era tão importante para você. — Bem, agora sabe. Foi colocado em alerta. — Eu estou contente por estarmos dormindo juntos — ele disse. — Claro que está — eu bufei. — Você tem um cromossomo Y.


166 — Quero dizer dormir, como em repousar — ele disse, me puxando para ele. — É muito íntimo. Gabriel não roncava. Tampouco se contorceu ou roubou as cobertas, o que fez dele um companheiro de cama bem mais atencioso do que Fitz. Ao anoitecer, eu podia sentir o sol sumindo enquanto rolava contra os contornos do seu lado. Foi doce acordar ao lado dele, para ver o seu rosto relaxado e a sua boca aberta. Tudo estava calmo, silencioso. Eu deslizei a mão em torno das suas costas e aconcheguei o meu rosto em seu pescoço. Foi estranhamente legal. Eu respirei profundamente, tentando memorizar o cheiro do sono em sua pele, suave, limpo e doce. Fechei os olhos e engoli contra a sensação crescente no meu peito, uma mistura de felicidade por eu ter finalmente chegado a este lugar em minha vida e medo de que seria breve demais. Eu era ainda menos experiente em relacionamentos a longo prazo do que eu era em sexo decente. E o que é que eu realmente sabia sobre qualquer um dos dois? Prometer o teu amor eterno tomava um significado totalmente novo quando você realmente vive para sempre. E se Gabriel ficasse aborrecido comigo? E se ele acordasse em ambos os sentidos da palavra e percebesse que eu era apenas a mesma bibliotecária chata sob as presas novas e extravagantes? E se Jeanine era a mais recente vampira que ele tinha arrematado? Ou pior ainda, a garota vampira com quem ele planejava ficar quando me rejeitasse? Estes eram pensamentos pesados para se ter em uma madrugada vampírica. O barulho das engrenagens girando na minha cabeça deve ter acordado Gabriel, porque ele se mexeu ao meu lado, puxando a parte da frente do meu pijama de vaca, até que eu estava deitada contra o seu peito. — Bom dia — ele resmungou. — Bom dia — eu sussurrei em seu pescoço. — Você dorme com a boca aberta. — Eu aprendo algo novo contigo todos os dias — ele murmurou, beijando a minha têmpora e acariciando as minhas costas. Ele me puxou para baixo dele. Eu me senti sem ossos, líquida, mais relaxada do que tinha estado nas últimas semanas. Eu pertencia a esse lugar. Eu era querida. Eu nem sequer me preocupei com hálito matinal quando Gabriel pressionou os seus lábios nos meus, porque, tecnicamente, nenhum de nós respirava a qualquer hora do dia.


167 Com os restos dos meus pensamentos infelizes ainda me assombrando, eu levei um tempo para deslizar as pontas dos dedos pelos seus longos membros musculosos, pela sua pele lisa e pálida. Eu coloquei as minhas palmas em concha ao redor do seu rosto, preguiçosamente traçando a linha do seu lábio inferior com o polegar. Eu estava quase além de mim quando Gabriel tirou a parte de cima do meu pijama pela minha cabeça. — Eu odeio esse pijama — ele murmurou, atirando-o para fora da cama. — O pijama deve ir. — O pijama fica — eu disse. Ele arqueou as sobrancelhas, me fazendo rir. — Bem, não no momento, obviamente. Ele riu, puxando as calças até aos meus tornozelos com os seus pés. Ele enfiou os dedos entre os meus quadris e na cintura da minha calcinha e puxou. O algodão esticou e rasgou, pousando em uma pilha desgastada ao lado do meu pijama. — O que tem contra as minhas calcinhas? — gemi, lamentando a perda de mais uma. Ele sorriu, lançando um olhar para onde ele estava esfregando a minha carne molhada e necessitada. — Bem, eu acho que isso deveria ter sido bastante óbvio. Eu ainda estava rindo quando ele deslizou dentro de mim. Eu estiquei os meus braços acima de minha cabeça, segurando a cabeceira da cama enquanto ele traçava um caminho de beijos descendo pelo meu peito, aumentando o seu ritmo. Quanto mais profundo ele ia, mais apertado eu segurava, até que eu arranquei a madeira da moldura da cama. Eu ofeguei, horrorizada com o que tinha acabado de fazer com uma herança de família. E depois eu apenas ofeguei, perdida nas ondas de sensação que ameaçavam me arrastar para baixo. Quando voltei a mim, eu ainda tinha pedaços de madeira agarrados em minhas mãos. Gabriel parecia vagamente culpado. — Conseguimos chegar em uma cama para fazê-lo — ele ofereceu timidamente. — E depois nós a destruímos — eu gemi. — Mas valeu a pena.


168 Ele me puxou para o seu peito, empurrando o meu cabelo para fora do meu rosto antes de me puxar para mais perto. — É meio estranho ver o Sr. Vampiro Grande e Mau sendo todo fofinho — eu ri. — Meio que destrói a sua mística. — Eu não tenho tido muitas coisas boas e suaves em minha vida — ele disse contra a minha testa. — Não desde que a minha família me mandou embora. Além de ser o teu Sire e de sentir esta atração por você, é essa bondade, essa suavidade e calor, juntamente com a determinação e força em você que eu adoro. Ser transformada não tomou isso de ti. Se alguém fosse criar a companheira perfeita para mim, seria você. Mesmo quando me enfurece com a sua teimosia e o seu temperamento e a incrível falta de algo parecido com auto preservação... — Para de me descrever, por favor. — Você é a criatura mais fascinante, enlouquecedora e adorável que eu já conheci — ele disse, suspirando e tirando o meu cabelo para fora dos meus olhos. — Então, quando eu pareço possessivo ou estou rugindo como um lunático, é apenas porque uma parte de mim ainda tem medo de perder isso... perder você. Eu te amo. — Isso é uma coisa tão normal para um namorado dizer. Estou tão orgulhosa e ainda assim um pouco assustada. — Para de brincar e me escuta — ele disse. — Estou falando sério. — Eu também — disse —Isso foi uma coisa muito normal para um namorado dizer. Ele sorriu para mim. — Isso significa que eu sou o seu namorado? — Oh, meu senhor, esta é uma conversa tão juvenil para ter com um homem de cento e cinquenta anos — gemi. — Sim, Gabriel, eu gostaria que fosse meu namorado. Eu acho que devíamos ficar em uma relação firme. Eu não quero estar com qualquer outro vampiro que não seja você. Eu te amo. Idiota. — Precisamos de novos apelidos um para o outro — ele disse. Quando eu empurrei os seus ombros, ele sorriu. — Eu não amei ninguém por um longo tempo. E eu estou feliz por ser você. Estou feliz por ter te conhecido no pior dia da sua vida. — Bem, você certamente o tornou memorável.


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Capítulo 12 Festas de despedida de solteira são menos sobre comemorar a aquisição de um marido por parte da noiva e mais sobre fazer as parentes do sexo feminino se sentir vingadas depois do processo de planejamento do casamento. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Quando éramos crianças, Zeb e eu costumávamos passar as manhãs após uma dormida fora de casa comendo Cap'n Crunch 59 e assistindo Smurfs. Por algum motivo, eu não achei que Gabriel fosse apreciar a mesma rotina. Eu entrei na cozinha, ainda vestida em vacas de flanela, e aqueci um pequeno-almoço saudável de Tipo A doado. Gabriel soltou Fitz para que ele trouxesse na boca a edição da noite do Half-Moon Herald do final da entrada. Infelizmente, Gabriel superestimou as capacidades de Fitz e teve que pegar o jornal por si mesmo. Nós subimos para o balanço da varanda para beber o sangue e ler os acontecimentos no Herald enquanto Fitz dava cambalhotas pelo quintal, perseguindo a sua própria cauda. Era estranhamente doméstico, com a exceção de encontrar outro pacote na minha porta. Nós estávamos ambos aliviados por ser apenas a informação genealógica que papai tinha encontrado da família do Sr. Wainwright. Apesar do meu passado bibliotecário, as minhas forças tendiam para a pesquisa em bancos de dados, enquanto que papai me superava com a procura em livros velhos e poeirentos. Depois que o Sr. Wainwright lamentou a sua falta de história familiar, eu pedi a papai para usar a sua magia. Gabriel saiu para alguma reunião do Conselho, e eu comecei a minha investigação, sem sequer me preocupar em trocar o pijama. Papai tinha feito um trabalho impressionante. Ele encontrou cópias das fotos de escola antigas do Sr. Wainwright a partir dos arquivos da Escola Pública de Half-Moon Hollow e um velho recorte de jornal anunciando o noivado de Gilbert Wainwright com Brigid Brannagan, uma garota que ele conheceu durante uma viagem no Condado de 59

Cereais mais para crianças.


170 Cork. Papai encontrou o certificado de casamento dos pais do Sr. Wainwright e ambos os seus obituários. Pesquisando através de registros antigos mantidos na cave do tribunal — registros que papai tinha acessado através de um colega de escola chamado Deeter que trabalhava como zelador noturno — papai encontrou as origens da família do Sr. Wainwright. O pai de Gilbert Wainwright, Gordon Wainwright, era filho de Albert Wainwright, filho de Eugenia Wainwright, uma mulher lavadeira de roupa que tinha trabalhado na fazenda da família Cheney. Ela tivera Albert em 1879, mas se afogou pouco tempo depois, durante o piquenique inaugural do Quatro de Julho na frente ribeirinha. Eugenia era solteira, e não havia pai listado na certidão de nascimento do jovem Albert. Albert foi enviado para um orfanato e foi criado lá até que fugiu quando tinha dez anos. De acordo com um livro que papai encontrou nas coleções especiais da biblioteca, chamado A Fronteira de Hollow, Albert trabalhou na estação de trem e, eventualmente, conseguiu um trabalho em uma barca viajando pelo rio Ohio, antes de voltar para casa em Hollow em 1920. Ele foi conhecido por abrir um dos primeiros salões com sucesso em Hollow, aquele que a minha bisavó queimou. Apesar do livro estar com manchas de água e frágil, ele continha uma cópia de uma foto de Albert. — Ah, cara — eu respirei, apanhada de surpresa com o rosto de Albert. Eu voltei para a investigação de papai sobre Eugenia, a quem um dos jardineiros na fazenda Cheney descreveu como "um grande pedaço gostoso de mulher". Eu voltei para a foto de Albert, quem tinha uma notável semelhança com Dick. Os mesmos olhos luminosos e sorridentes, o mesmo sorriso diabólico, o mesmo nariz longo e aristocrático. Mas Albert parecia ser, pelo menos, quinze anos mais velho do que Dick tinha sido quando foi transformado. Eu verifiquei a data na foto e fiz alguns cálculos rápidos na minha cabeça, depois gemi. — Droga. Eu me sentei no balcão da Livros Especializados, passando os dedos compulsivamente pelo vidro. O Sr. Wainwright estava na parte de trás, abrindo caminho pela seção de referência que eu tinha passado a maior parte de dois dias catalogando. Sabendo que o meu sobrinho Andrew estava prestes a fazer aniversário, ele insistiu que um volume intitulado Um Dicionário Pop-Up60 sobre demônios seria um presente perfeito. Eu estava inclinada a concordar com ele, porque poderia fazer Jenny engolir a sua língua. Em uma rara demonstração de discernimento, eu não tinha mencionado a minha descoberta ao Sr. Wainwright. Eu queria surpreendê-lo de alguma forma, e eu não achei que contá-lo assim que abri a porta seria o melhor para a ocasião. 60

Daqueles livros que quando abrimos as páginas, tem imagens que 'se levantam', formando ilustrações em três dimensões.


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A campainha tilintou na frente da loja, e eu me virei para encontrar o há muito perdido bisavô do Sr. Wainwright em pé ao lado balcão com uma carranca no rosto. — Bem, Jane, você dobra o teu dedo mindinho e eu venho correndo — Dick disse, claramente em um humor ruim. — Parece que eu sempre estou correndo atrás de mulheres que não estão interessadas. — Andrea te recusou novamente, huh? Ele fez uma cara azeda. Quanto mais eu olhava para ele, mais eu via uma semelhança com Albert — e, logo, com o Sr. Wainwright. O meu patrão tinha uma constituição menor e traços mais delicados, mas o mesmo sorriso inclinado, os mesmos olhos verdes cintilantes. Eu estava um pouco envergonhada por não ter percebido. — Bem, nós podemos falar da garota que não conseguiu escapar — eu ofereci. — Dick, você lembra de uma mulher chamada Eugenia? Ela costumava trabalhar em sua casa? — Sim — ele disse. Os seus lábios se curvaram com uma memória que eu não tocaria nem com uma vara de três metros, e depois se trancaram em uma careta completamente anti-Dick. — Sabia que ela deixou o seu emprego porque ficou grávida fora do casamento? E que ela se afogou cerca de seis meses após dar à luz a... — ele se recusou a encontrar o meu olhar, olhando para a esquerda. — Você já sabe, não é? — eu disse. — Você sabe sobre o bebê, sobre Albert. Você sabe. — O que é que... quem te contou... como... — ele balbuciou. — Que pergunta quer que eu responda primeiro? — eu perguntei, me encolhendo. — Jane, você precisa ficar fora disso — ele murmurou sombriamente. — Apenas esquece que encontrou o que quer que seja. Não diga uma palavra a Gilbert.


172 — Mas por quê? — eu perguntei. — Porque não dizer a ele? Eu acho que ele ficaria encantado de saber que tem família. Eu o amo, mas não sou parente dele. Ele adora falar contigo. Eu os vi juntos na festa de Natal. — Para — Dick disse, agarrando os meus ombros e cobrindo a minha boca com a mão enquanto atirava olhares em pânico para a traseira da loja. — Você está se intrometendo em algo que não te diz respeito. Qualquer boa ação que pensa que está fazendo aqui, simplesmente para. Isto não é da sua conta. — Mas... — Fica fora disso, Jane — a campainha caiu no chão quando ele bateu a porta atrás dele. O Sr. Wainwright, com um livro de desenhos em 3D perturbador na mão, mancou até ao balcão. — O Dick estava aqui? Eu pensei ter ouvido a sua voz. Eu balancei a cabeça. — Só um cara que insistiu que éramos, de fato, uma loja de vídeos adultos. Ele ficou bastante chateado com a nossa seleção limitada. O Sr. Wainwright riu, me entregando o livro. — Talvez devêssemos pensar em arranjar um novo sinal.

***

Geralmente é considerado uma gafe a família da noiva dar uma festa de noivado para ela. Felizmente, no Grande Livro Invisível da Etiqueta de Casamento do Sul, há uma lacuna declarando que se a maioria dos convidados são da família da noiva, é aceitável. E mulheres lobisomem adoram eventos pré-nupciais. As festividades de Jolene incluíram duas festas de celebração, pancadaria, um banquete de acasalamento, e algo chamado sangramento. A pancadaria é muito menos violento do que parece, uma festa onde a família e os amigos dão ao casal feliz meio quilo de algum produto — açúcar, farinha — e itens para criar a sua família. Um sangramento, por outro lado... bem, nós vamos falar sobre isso mais tarde. A agenda de hoje à noite incluía o rapto da noiva para deixá-la bêbada e desleixada e levá-la a um desfile de carne masculina semi-nua, que era uma espécie de tradição McClaine feminina. Mas como as primas de Jolene não tinham tomado a iniciativa de planejamento, Jolene teve que cuidar das coisas por si mesma. Ela sugeriu que invadíssemos o trailer dela com uma chave fornecida para


173 'surpreendê-la'. Que por acaso aconteceu de ser a noite em que Jolene tinha reservado uma mesa para oito no Mercado da Carne, o único lugar nos três estados com homens quase nus. Porque nada diz 'celebração da felicidade conjugal' como homens que passam uma quantidade suspeita de tempo na academia empurrando as suas partes de homem cobertas com tecidos colados a mães desesperadas e que acenam com dinheiro. E como eu era a madrinha, eu tinha a 'honra' de passar um cheque a Raylene pelo bolo em forma de genitália que estaria enfeitando a nossa mesa. Também era esperado que eu não bebesse e que servisse de motorista designada. Eu acabei dirigindo a van para doze passageiros de Mimi, que era necessária para transportar as madrinhas à meia luz e as sacolas de presente contendo blocos de notas, imãs de geladeira, porta-copos, e bandejas para fazer cubos de gelo em forma de pênis. Quando diabos é que eu vou querer cubos de gelo em formato de pênis? A nossa festa estava sentada no clube escuro, úmido, mas surpreendentemente limpo, enquanto o Marcus completava o seu último giro no palco. Jolene estava usando um véu com pequenos pênis de espuma costurados na bainha e uma camiseta coberta de salva-vidas que ofereciam “um chupão” por um dólar, os quais foram fornecidos pelas suas primas, juntamente com os presentinhos em forma de pênis. Apesar de a atenção das primas estar atualmente focada no bacanal de bunda, Jolene apenas parecia feliz por elas terem aparecido. Ela parecia tão contente, sentada ali em seu véu obsceno, ignorando o bombeiro improvável sacudindo-se para 'Hot Stuff'. A sua expressão era sonhadora, extremamente fora de lugar considerando a situação. Era exatamente como a noite em que ela e Zeb anunciaram o seu noivado, felicidade beirando um coma — o anúncio ao que eu respondi questionando as funções cerebrais deles ao se casarem após um período tão curto. Zeb tinha tido que me levar para fora antes que eu ferisse ainda mais os sentimentos de Jolene. E quando ele me disse que ela era um lobisomem, eu pirei ainda mais e acusei Zeb de estar louco. Droga. Dick tinha razão. Eu era uma intrometida. — Você acha que eu sou intrusiva? — Eu gritei sobre um remix da música 'It's Raining Men’. Ela acordou e virou o seu olhar preguiçoso para mim. — Hmm? — Eu sou intrusiva?


174 — Sim — ela disse, assentindo. — Mas de um jeito bom. — Como pode simplesmente ser um bom tipo de intrusivo? Ela colocou a sua bebida para baixo, mal percebendo quando o líquido verde salpicou a mesa já pegajosa. — Bem, você pode ser mandona e desconfiada e rápida a julgar. Algumas vezes a sua boca passa um cheque que o teu traseiro não consegue pagar. — Nós já discutimos que pode concordar comigo com menos ênfase, certo? Ela deu uma risadinha. — Mas você faz isso porque precisa proteger as pessoas que ama. E isso não é uma coisa tão má. — Eu sei que posso ser meio... — fiz uma pausa e depois optei por — ditatorial, quando se trata de Zeb, a sua felicidade, segurança e higiene. Mas eu gostaria de dizer que estou muito feliz por ele se casar contigo. Ela fungou e jogou os seus braços em volta de mim. Não há nada como um punhado de lobisomens bêbados para te ajudar a encontrar alguma perspectiva. — Eu te amo, Jane — Jolene disse com voz arrastada. — Eu amo o Zeb. Eu realmente amo Zeb. Ele é o primeiro homem a me ver como mais do que um rosto bonito e corpo gostoso. — É bom que seja tão modesta. — Ele me trata de forma especial, mas não por causa de quem são os meus pais ou porque eu sou bonita, mas porque é simplesmente do jeito que ele é — ela divagou. — Ele é gentil e doce e ele me ama. E eu o amo. — Eu sei. — E você ama o Zeb — ela deu outra risadinha, o álcool dentro dela claramente a convencendo de que isto era uma revelação. — Sim. — Mas não de uma forma amor-amor — ela disse, desconfiada. — Não. Eu tenho um namorado. Um namorado que se envolve em sexo alucinante comigo e depois não retorna as minhas ligações por dois dias, mas um namorado mesmo assim.


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— Ótimo. Porque de outra forma... — ela deu um suspiro bêbado e depois riu. — Eu terei que chutar o seu traseiro. — Eu estou ciente. As primas se viraram para nos ver abraçadas e coletivamente reviraram os olhos. Nós nos endireitamos e nos focamos no show. — Falando no noivo, onde ele tem estado ultimamente? — perguntei. — Eu não o vi em quase uma semana. Por favor, não tome isso como uma queixa contra ele estar em um relacionamento adulto, mas normalmente ele aparece de vez em quando. Jolene revirou os olhos e tomou um gole de bebida. — Mamãe Ginger o tem mandado fazer tarefas na casa deles. Ela disse que tem medo que depois que ele case eu vá roubá-lo dela, e que ele não terá tempo para cuidar dos seus pais na velhice. — Mas Zeb nunca fez tarefas na casa deles. Eles não fazem tarefas em sua casa. Em vez de varrer as folhas, eles simplesmente incendeiam o seu quintal a cada Outono. — Eu acho que ele só está fazendo isso para mantê-la longe de mim, coitado — Jolene disse. — Quanto mais ele faz, menos ela se queixa sobre ele abandonar a sua família. Claro que ela ainda reclama de mim, mas isso é diferente... Uma sombra pareceu passar sobre o rosto de Jolene. Os seus lábios tremeram, e eu tinha medo que as bebidas a tivessem pegado. Eu peguei a mão dela, mas ela se endireitou e respirou fundo. Ela estendeu um sorriso demasiado grande sobre o rosto e voltou a sua atenção de volta para o palco. — Eu me pergunto quanto ele gasta em depilação corporal? — ela meditou. Eu sorri. — É provavelmente uma dedução fiscal. É um item necessário. Quero dizer, é preciso um pouco de cabelo e muita confiança para dançar dessa forma. Nós brindamos. Jolene bufou. — Confiança e um par de meias de ginástica. Após deixar várias lobisomens bêbadas na cama, eu dirigi a van dos McClaine para River Oaks, tomando um atalho por uma parte lateral da cidade. Era duas ruas de distância da loja. Enquanto eu passava o Bala de Prata, um bar


176 conhecido por tráfego vampírico desaconselhado, eu vi o namorado mais recente da minha avó Ruthie saindo do lugar, carregando uma caixa de bebidas enlatadas. Eu consegui parar a van, o que não é pouca coisa para alguém não-acostumado a pilotar um iate de guerra, e estacionei em um canto escuro do estacionamento adjacente. Sem visão noturna aprimorada, eu não teria sido capaz de decifrar os rótulos das latas, que diziam, "Batidos Saudáveis Sénior da Silver Sun." Era o mesmo tipo de lata que a vovó Ruthie andava carregando para Wilbur na sua bolsa. — Talvez seja apenas uma coincidência ele estar saindo de um bar de vampiros às quatro da manhã carregando bebidas misteriosas — eu murmurei para mim mesma quando Wilbur colocou a caixa dentro do carro. Ele olhou ao redor para se certificar de que ninguém estava olhando e abriu uma das latas. Ele esvaziou-a em alguns goles, jogou-a em uma lixeira nas proximidades, e foi embora. — Bem, pelo menos ele não deixa lixo no chão — murmurei. Infelizmente, eu descobri que Wilbur não tinha jogado a lata em um lugar fácil de encontrar na lixeira quando eu, inevitavelmente, subi lá para recuperá-la. — Eu não posso acreditar que estou fazendo isto — grunhi, mudando de posição entre garrafas de cerveja intermináveis e jornais embebidos em uma substância que eu não ousei considerar. — Isto não é comportamento normal e racional, procurar em lixo do bar de três dias extremamente mal cheiroso para encontrar os recicláveis do teu futuro avô. Provavelmente há uma explicação perfeitamente razoável e racional para Wilbur estar aqui. Isto é provavelmente apenas um desses batidos saudáveis do mercado negro com ingredientes não aprovados pela organização de controle de comigo... oh, querido senhor! — Eu gritei quando algo se contorceu sob os meus pés. Eu peguei a lata, pulei fora da lixeira, e fiz a dança de garota assustada por alguns segundos. Não havia lista de ingredientes no lado da lata. Eu segurei o meu 'prêmio' perto do meu nariz supersensível e cheirei. Eu senti ervas, vitaminas, alguns suplementos para a saúde comum (Ok, essa parte estava escrita no rótulo), e sob o buquê ligeiramente saudável, havia sangue. Frio sangue de porco morto. — Ok, talvez não haja uma explicação razoável. Eu pirei nos dias seguintes, fazendo complicadas, mas inúteis "Explicações Para Wilbur Beber Sangue de Porco" em gráficos de linhas em blocos de notas.


177 Este nível de teorização de conspiração quase à Oliver Stone me manteve absorvida até que o servidor do processo chegou na minha porta. Os advogados de Jenny estavam exigindo que um contador forense visse os meus registros financeiros para determinar se eu tinha vendido preciosas heranças da família Early para preencher as minhas contas bancárias pessoais durante o decorrer do processo dela. Contra o meu melhor julgamento, eu tinha dito à mamãe sobre o acordo, para garantir-lhe que eu estava financeiramente segura para a eternidade e nunca, nunca iria precisar morar com ela, por isso, por favor, para de perguntar. E apesar das minhas terríveis advertências contra isso, mamãe tinha mencionado a minha sorte a Jenny. E como Jenny não acredita que eu sou capaz de melhorar a minha própria situação sem a foder, ela concluiu que eu estava participando no vasto mercado negro de antiguidades de Half Moon Hollow. Basicamente, a minha irmã estava me fazendo uma auditoria. Encantador. Mau humorada e frustrada além do possível, eu aproveitei a minha noite de folga, desliguei o telefone, e, apesar do apelo de sereia de Razão e Sensibilidade, eu li mais alguns capítulos de Rituais de Acasalamento e Costumes Amoroso dos Were. Eu finalmente descobri o que era um sangramento. As mulheres do clã ficam nuas sob a lua nova e caçam um veado, matando-o em conjunto e trazendo-o para casa para uma refeição partilhada. Era para ser realizado durante a semana do casamento para assegurar a noiva simbolicamente que ela ainda fazia parte do clã e que ela sempre seria bem-vinda a partilhar a sua comida, mas também lembrando que ela era responsável por continuar a tradição do clã. Era um sentimento caloroso, embora encharcado de sangue. Era um privilégio especial para um estranho ser convidado a assistir a um sangramento, e ainda mais correr com a matilha — que, como devem ter adivinhado, como madrinha, era esperado que eu fizesse. Eu ia precisar de uns sapatos de corrida resistentes e um sutiã esportivo muito bom. Eu não corro nua. A minha permanência no balanço da varanda, no frio, sem fazer qualquer esforço para sair de casa pareceu perturbar a tia Jettie. — Esta súbita inclinação para não se mexer está ligada a todo o tempo que tem passado com Dick? — Tia Jettie disse, num tom que soava assustadoramente como a vovó Ruthie. — Na verdade, Dick não tem querido passar muito tempo comigo ultimamente, tia Jettie. Nós discutimos e ele está muito irritado comigo. — É por isso que ele está vindo pela entrada? — ela apontou para a entrada da garagem, onde um batido El Camino vinha cortando poeira. Dick saiu do carro sem fazer contato visual. Ele subiu furtivamente os degraus da varanda e se sentou ao meu lado. Eu fechei o meu livro e esperei.


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— É suposto eu falar primeiro? — Dá-me um minuto — ele me interrompeu com um gesto de cortar. Ficamos em silêncio, comigo olhando para o horizonte, pensando sobre o que fazer com as mãos. Finalmente, ele disse. — Eu tenho medo de dizer a Gilbert porque eu não quero que ele tenha medo de mim ou que se afaste de mim. Uma coisa é ler sobre vampiros e fantasmas, outra é saber que é da família de um. Ele estudou os vincos em seu jeans. Incerta sobre o meu lugar nessa partilha, eu sentei e esperei. — Eu sabia que Eugenia tinha tido o bebê. Os meus pais pagaram para mantê-la longe enquanto ela estava grávida. Quando ela o teve, a maior parte da cidade sussurrou sobre ele ser meu, mas eu não fiz nada sobre isso. Eu sabia que os meus pais lhe estavam enviando dinheiro a cada mês, e eu achei que isso era tudo o que ela precisava de mim. Não faça essa cara para mim, Jane. Eu era jovem e mortal... e estúpido. Eu fui mandado embora para lidar com algum pedaço artificial de negócios de família, e quando eu voltei, os meus pais tinham enviado o bebê a um orfanato de Murphy. Eles não me ouviam sobre trazê-lo para nossa casa. O escândalo, eles disseram, a vergonha — mesmo eu sabendo que o meu pai teve vários escândalos dele pela cidade em sua juventude. E depois os meus pais morreram, e eu perdi a casa para o imbecil... — Gabriel — eu corrigi. — Certo — ele disse. — Eu disse a mim mesmo que Albert estava melhor vivendo no orfanato, em um lugar seguro, em vez de junto a mim, vivendo de jogos de cartas, dormindo em um hotel de luxo uma noite e em uma vala na seguinte. Isso era uma desculpa, é claro. Eu não sabia nada sobre crianças. Eu não saberia o que fazer com ele se o tivesse tido. Eu era um pai terrível, mas um tio divertido. Eu ia visitar Albert, dar-lhe doces e qualquer que fosse o dinheiro que eu conseguia juntar. Mas assim que vinham os problemas reais, o garoto ficando doente, ficando em problemas na escola, eu caía fora. Ele fez uma careta. — Quando eu fui transformado, eu percebi que não devia ficar perto dele. Seria muito confuso para ele, um tio misterioso que nunca envelhecia e só visitava à noite. Eu era um exemplo muito ruim, de qualquer forma. E as pessoas com quem eu fazia negócios, eles não se teriam importado de mexer


179 com um menino para fazer um ponto. Eu parei de aparecer para visitas, e ele fugiu um par de meses mais tarde. — O que fez? — perguntei. — Parte de mim estava quase aliviado — ele admitiu. — Eu não tinha que me preocupar. Eu não tinha que me incomodar. E depois ele voltou, adulto e a imagem copiada de mim, especialmente em alguns dos seus hábitos menos legais. E era... agradável. Foi bom poder vê-lo, vê-lo gerindo o seu negócio, sendo um homem. Eu podia nem sempre concordar com algumas das suas decisões, mas naquele ponto, eu deveria ter cerca de sessenta anos e ainda parecia trinta e poucos. Eu não podia exatamente voltar e dar-lhe uma palmada e conselhos paternais. Ele casou, teve um filho. O seu filho se casou, teve um filho. E eu cuidei deles, todos eles, vi-os viver as suas vidas, desfrutarem dos seus sucessos, fazerem os seus erros. E a maioria dos seus erros foram parecidos com os meus. É meio que uma maldição da família Cheney. — Bons com mulheres, ruins com dinheiro? — sugeri. Ele deu de ombros e sorriu. — Eu nunca fiz contato — ele disse. — Eu ainda estava saindo com o mesmo tipo de pessoas, e quanto menos provável fosse eles me ligarem à família, melhor. Eu não aguentaria se algum deles se machucasse por minha causa. Eu pensava que tinha me livrado do rastro de papel quando joguei fogo no tribunal. — Por que me diz estas coisas? — bufei. — Você sabe que eu tenho um complexo de Garota escoteira. — Eu nunca fiz contato com eles — ele disse, me ignorando. — Não até Gilbert. — Porquê Gilbert? — Ele foi o primeiro da nossa família que parecia que podia chegar a algum lugar. Ele era um menino tão bom, e de uma forma sincera. Ele honestamente se preocupava com a sua mãe, a sua irmã pequena, os seus colegas na escola, o seu país. Ele foi um dos primeiros garotos em Hollow a se inscrever para o Exército depois de Pearl Harbor. Ele foi o primeiro homem na nossa família a começar a faculdade, quanto mais terminá-la. E a sua irmã era uma menina doce, apenas um pouco, bem, estúpida. Mas ela foi a primeira menina nascida na família em cerca de cinco gerações, por isso ela era especial também.


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— Quando o pai deles morreu e a sua mãe estava tendo problemas em fazer face às despesas, eu intervi. Simplesmente bati na porta uma noite. Eu não lhe disse quem era exatamente, só um primo distante que estava interessado em garantir que a família fosse bem cuidada. Eu acho que ela sabia que havia algo que não era muito certo sobre mim, especialmente quando eu lhe disse que não queria conhecer as crianças ou dizer-lhes que os estava ajudando. Mas ela estava muito feliz em aceitar o meu dinheiro para dizer alguma coisa. — Eu sempre tenho a impressão que você tem sorte em cuidar de si mesmo. Como é que sustentou uma família? — perguntei. — Eu tenho maneiras de fazer dinheiro extra quando preciso dele — ele disse, ligeiramente ofendido. — Quando Gilbert precisou de dinheiro para o curso de doutorado, eu vendi um rim no mercado negro para a educação dele. — Eles voltam a crescer em nós? — perguntei. — Não era o meu rim. — E agora estamos de volta ao território perturbador em que eu não estou confortável — Eu bufei. — Então, você é um homem de família, um pai de família amoroso. Em essência, você é uma fraude total. Ele olhou dolorido. — Não diga a ninguém. — Vai contar-lhe? Eu acho que significaria muito para o Sr. Wainwright saber que ainda tem alguma família. — O que eu devo fazer? Entrar na loja e gritar “Ei, cara, quer ir lá fora e jogar bola com o vovô?" Encolhi os ombros. — Bem, você pode ter que se esforçar. Ele tem esse mau quadril. Você devia pelo menos pensar em dizer-lhe. O que tem a perder? Dick enfiou os caninos sobre o seu lábio inferior. Toda a pretensão, toda a presunçosa auto-confiança desapareceu quando ele disse. — E se ele tiver vergonha de mim? — Você é um vampiro. É o vovô mais legal no quarteirão. Ele ficará super contente.


181 — Eu vou pensar nisso — Dick disse. De repente, ele levantou a voz e me cutucou no ombro. — Deixa-me lidar com isso. Não tente dar um empurrão na situação para ajudar. Não dê pistas ou faça sugestões nas conversas ou... — Já entendi, já entendi — eu lhe disse, levantando as mãos em defesa própria. — Eu nem estava pensando nisso. Dick olhou por baixo do nariz para mim e arqueou a sobrancelha. — Ok, eu estava pensando um pouco nisso.


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Capítulo 13 Os seres humanos que se provaram infiéis a seus parceiros Weres, raramente foram vistos novamente. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Meu futuro avô era um enigma embrulhado em um mistério guardado em um cubo mágico, que sempre tive de recorrer a adesivos para resolver. Eu não vou fingir que o meu interesse estava enraizado na preocupação com a minha avó, era simplesmente uma fraqueza geral em meu caráter que não me permitiria deixar uma pergunta sem resposta. Para que conste, quatro latas de Starbucks dose dupla de sangue e expresso são o suficiente para tirar um vampiro da cama antes do sol se por. Zeb sabiamente armou-se com cafeína antes de entrar no meu lar durante o dia e pediu a ajuda de Jettie para me empurrar em uma ducha gelada (de pijama) para completar o processo de despertar. Alguns vampiros mais velhos podem aventurar-se de dia em circunstâncias controladas sem nenhum problema. Eu fico com bolhas e cheiro de pipoca queimada, que permanece por alguns dias. Então eu me encharquei no protetor solar com fator SPF 500 e óculos de sol enormes estilo Jackie O e um chapéu de abas largas antes de me aventurar a entrar no meu carro recém-protegido-do-sol. Ok, tudo bem. Zeb tinha o motor funcionando, e eu mergulhei pela porta aberta, incrivelmente animada por não estar explodindo em chamas. Quando ele virou a chave na ignição, Zeb perguntou: — Lembra-me de novo porque nós estamos arriscando explodir você em chamas e dirigir por setenta milhas para visitar a casa de algumas pessoas de idade? — Claramente, ele não gostou das táticas de culpa aprendidas com minha mãe que eu utilizei para fazê-lo concordar com esta pequena excursão. — Porque quando eu espiei a carteira do Wilbur, este era o endereço de sua residência. Zeb ficou horrorizado. — Você espiou a carteira dele? Quando?


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— Natal — eu disse, olhando para baixo para evitar o seu olhar. — Porque você faria isso? — ele questionou. — Ele deixou bem ali no bolso do casaco, por isso. — Você não tem permissão para sair com Dick novamente — ele me disse. — Então, por que não poderíamos fazer isso depois de anoitecer? — Eu liguei para a recepção fingindo ser filha de um residente em potencial. A enfermeira disse que o jantar era servido às três e meia. E eu estou supondo que as pessoas com quem gostaríamos de conversar estariam dormindo por volta das quatro. — Você é uma mulher assustadora, Jane Jameson. Dei de ombros, puxando a minha capa sobre meu rosto e inclinando o meu lugar de volta à posição cochilando. — Eu faço o que posso. Eu acordei com uma sacudida quando Zeb desligou o motor da Big Bertha na Comunidade Vila Ensolarada para Aposentados. Com um olho fechado e outro aberto, eu limpei a baba do meu rosto e olhei em volta. O edifício parecia bastante inócuo. Havia um desenho pintado em um alegre amarelo de um barco, e um céu brilhando a luz laranja do sol poente. Venezianas brancas recém pintadas com as cortinas bem fechadas. Eu peguei o meu protetor solar para a segurança de um retoque. Eu tinha decidido ser contra as luvas, como se fosse um dia de primavera tipicamente leve, e luvas de ópera de longa-metragem, provavelmente atrairia a atenção. O grosso e branco SPF 500 demorou um pouco para absorver em meu pescoço, queixo e mãos. Coloquei o chapéu sobre os olhos. — Como estou? — perguntei, virando-me para ele. — Bem, se você fosse se apresentar no Teatro Kabuki numa peça japonesa, este visual seria perfeito — ele rosnou, apontando para o meu queixo borrado. — Você pode querer misturar um pouco mais. — Droga — resmunguei, tocando meu rosto. Após mais alguns minutos de filtro solar, eu cuidadosamente abri a porta e saí. Engoli em seco, envolta pelo sol pela primeira vez desde a minha transição.


184 Mesmo que fosse a luz fraca de fim de tarde, eu estava sobrecarregada com o calor que rodou na minha pele como uma carícia. As cores me fizeram querer chorar. Eu não tinha percebido quão monótono o céu noturno poderia ser. Eu tinha perdido o ouro queimado, o rosa coral abrindo caminho para o púrpura profundo quando o sol desaparecia no horizonte. Eu sorri, estendendo as minhas mãos e desfrutando do calor como um gato. E então ow. Ow. Owowowowowow. Eu tinha esquecido de passar protetor solar na parte delicada entre meus dedos. Ow! Era como se eu tivesse mergulhado minhas mãos em ácido. Olhei em horror, como a pele transfixada chiava e soltava fumaça. — Ponha as mãos em seus bolsos, Jane! — Zeb disse. — Oh, certo! — coloquei minhas mãos trêmulas no meu casaco e virei de costas para a luz, me dobrando, esperando a dor diminuir. Após alguns momentos, eu senti o tecido em malha dos meus dedos se juntarem novamente, até que eu senti uma sensação nova e desagradável. Eu respirei fundo e me endireitei, flexionando meus dedos delicadamente. Zeb estava olhando para mim ao longo do capô da Big Bertha. — Eu não acho que você quer ir lá com as mãos soltando fumaça e cheiro de pipoca queimada — ele disse. — Eu acho que só vou ficar no carro — eu disse humildemente. — Provavelmente melhor — disse Zeb, balançando a cabeça e apertando os lábios em uma linha de resignação. Fiquei encolhida atrás das janelas fortemente blindadas, dormindo, enquanto Zeb se aventurou lá dentro. Eu estava cansada, drenada, meu ser focado na minha pele numa crua cura. Quando a sua mortalidade é retirada da equação da vida, você tende a considerar algumas coisas, como a agonia paralisante sendo garantida. É isso o que era a sensação de sair durante o dia? Eu imaginei que era apenas uma fração da dor que um vampiro desprotegido sofreria em pleno sol. E mesmo essa pequena amostra tinha sido uma tortura. Das poucas formas que os vampiros poderiam morrer, a morte por bronzeamento era definitivamente a última da minha lista. Pouco tempo depois, meu parceiro no crime me acordou assustando-me com uma batida forte na janela.


185 — Eu mal os convenci de que eu era o bisneto do cara mais velho lá, cujo nome eu não sabia. Eu tinha que continuar a chamá-lo pappy. — O que ele disse? — perguntei, esfregando os olhos cansados. — Ele já ouviu falar do Wilbur Goosen? — Não, ele estava muito mais interessado em uma reprise de Matlock61 do que falar comigo. E então outro cara me ouviu dizer o nome de Wilbur e ele fez a careta mais estranha que eu já vi. Em seguida, me amaldiçoou em lituano e me bateu com a bengala — disse Zeb, esfregando o braço delicadamente. — Ele então mudou para o inglês e sugeriu que eu realizasse diversos atos sexuais em mim mesmo. — Se você pudesse fazer isso por si mesmo, eu nunca iria vê-lo — eu disse apesar do olhar que Zeb me direcionava. — Como você sabia que era lituano? Ele parecia ofendido. — Como se você fosse a única inteligente por aqui. — Desculpa se eu te fiz passar tudo isso para nada. — Não, na saída, enquanto eu estava evitando problemas, uma senhora muito agradável me parou. Ela aparentemente estava com sua prótese auditiva num volume muito alto por isso ouviu a nossa conversa. Ela era uma antiga paixão de Wilbur. — Repita isso? — Quando Wilbur Goosen viveu aqui, ele era bastante como um Don Juan. Ila Faye Pogue, a senhora em questão, era apenas um dos corações dilacerados no Circuito de jogos da terceira idade. Em um determinado ponto, houve uma briga de mulheres na sala de recreação. Perucas, andadores e olhos de vidro voando por toda parte... — Eu não preciso pensar sobre isso. — A Sra. Pogue tinha fotos em seu álbum. A administração estava prestes a pedir para Wilbur sair quando ele faleceu enquanto dormia. Foi muito repentino. — Ele morreu? Temos certeza de que ela se referia ao Wilbur Goosen certo?

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Seriado dos anos 80.


186 — Quantos Wilbur Goosens poderia haver?— ele ressaltou. Eu assenti. — Além disso, ela tinha fotos deles. Se beijando. Ele me mostrou uma foto. Estremeci. — Bleh. Não tenho o suficiente de amasso geriátrico na minha vida? E ela tinha certeza que ele morreu? — Bem, eles o enterraram — disse ele, ligando o carro. — Então, o que seria ele? Um vampiro? Um zumbi? — Isto não é realmente minha área de atuação. Mas explica os shakes para a saúde. — Bem, você já o viu durante o dia? — Eu não vejo ninguém durante o dia. — Não existem alguns testes de vampiro que poderíamos fazer? Nós podemos fazê-lo tocar prata, colocá-lo sob uma lâmpada solar. Oh, nós podemos forçá-lo a comer pão com alho. — Gosto do seu entusiasmo. Mas por que nós apenas não perguntamos a ele? — sugeri. — Bem, onde está a diversão nisso? — Zeb amuou. — Além disso, o que você vai dizer: 'Oi, eu sei que você quer casar com a minha avó, com quem eu não me dou bem, mas eu estava esperando que você pudesse me dizer se você é, você sabe, um morto-vivo gigolô que pretende matá-la e tomar a fortuna da família?’ Tenho certeza que iria melhorar a sua relação com Ruthie. Vamos lá, vamos polvilhar raspas de prata em suas calças. Bem, o que você vai fazer? — Disse ele quando eu ignorei a sua proposta. — Encontrar seu covil? Fazer sua melhor imitação de Peter Cushing62? Eu atirei-lhe a sobrancelha arqueada de perplexidade. Ele respondeu envolvendo seus dedos ao redor de uma estaca de mentira e fez movimentos de empalar. Pelo menos, eu esperava que fossem movimentos fingidos, porque senão o nosso relacionamento estaria muito perturbado e se tornaria inadequado. — Por que eu iria fazer isso? — perguntei. — Porque ele é do mal!

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Ator britânico que atuou como Van Helsing.


187 Eu o encarei. — Porque ele provavelmente não é cem por cento humano, devemos assumir que ele é um monstro do mal? — O rosto do Zeb criava uma expressão de desconcerto. — Sim, como isso lhe soa? — Desculpe — disse ele. — Às vezes eu esqueço que você já não é cem por cento humana. — Hmph. Na viagem de volta para a cidade, eu tentei trabalhar os nervos para mencionar o estranho comportamento de Zeb na festa, a ausência inexplicada e as "tarefas" na casa de sua mamãe. Zeb estava pensando em deixar Jolene no altar? Era mesmo possível fazer isso quando você estava se relacionando com um Were? Zeb evitou as rodovias totalmente expostas em favor da rota alternativa mais sombreada, onde nós fomos recebidos por uma paisagem maravilhosa. Ervas daninhas quase altas o suficiente para esconder os carros abandonados e cortadores de grama que já não funcionavam. Trailers em péssimas condições faziam barulho com o vento. E havia um ônibus escolar estacionado ao lado de quase todas as casas, a maioria dos quais não pareciam ser capazes de funcionar. Eu continuei a dizer a mim mesma que perguntaria assim que víssemos o próximo trailer, e depois no outro e no oytro. Mas eu não podia fazê-lo. Eu não tinha certeza se eu queria saber se Zeb seria capaz de abandonar Jolene. Eu não queria saber se ele era capaz de magoar alguém assim, com esse nível de engano. Estes não são os pensamentos que você quer ter sobre seu melhor amigo. Estávamos a meio caminho de volta para Hollow, quando eu comecei a me sentir um pouco tonta. Ignorei-o até que a sensação se transformar em uma vertigem completa. Minha garganta estava tão seca. Olhei para o relógio. Merda. — O que há de errado? — Zeb perguntou. — Você está pálida... Er. Eu cobri minha boca com a mão e apertei a minha cabeça quando senti como se um punho de ferro quente apertasse minha barriga. — Lembra quando tínhamos nove anos e nós andamos no gira-gira até que você vomitou algodão doce no meu colo? — ele perguntou. — Você parecia melhor daquela vez. Apoiei-me contra o painel, com as palmas das mãos contra o couro quente. — É só que eu, estou com um, pouco, com fome.


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— Eu pensei que você tivesse uma geladeira especial aqui dentro de sangue. Você não trouxe nada com você? — Eu não achei que uma lancheira seria necessária — eu disse. — Eu comi logo antes de sairmos, mas estar fora durante o dia, eu não sabia que seria tão exaustivo. — Que tal uma loja? Podemos parar em algum lugar? Eu dobrei quando outra cólica atacou minha barriga. Eu gemi, — A loja mais próxima é a cervejaria e loja de isca do Bubba, e é cerca de dezesseis quilômetros de distância. Eu não acho que ele tenha sangue engarrafado. Na verdade, Bubba tem um pequeno letreiro em sua porta que diz: "Sem Sapatos, Sem Pulso, Sem Serviço." Zeb ponderou um pouco. — Eles usavam a água de coco novo como um substituto do plasma devido ao seu elevado teor de ferro. Eu vi no Discovery Channel. — Bem, isso será muito útil de se saber quando eu estiver presa em uma ilha deserta — eu bati nele. — Se eu não posso arrumar sangue, como inferno eu vou conseguir um coco novo? — Eu sei! Sinto muito! Eu estou em pânico! — ele gritou. — Apenas dirija — eu ofegava. — Fale comigo. Me faça pensar em outra coisa. — Do que você quer falar? — Qualquer coisa! Seu jardim de infância, coisas do casamento, qualquer coisa! — exclamei, estremecendo com a agitação vazia no meu estômago. — Você está falando na minha orelha por anos, Zeb. Não me diga que você está sem coisas para dizer. Depois de um longo momento em silêncio, a voz de Zeb veio profunda e clara. — Você poderia se alimentar de mim. — Você não acha que seria esquisito? — eu disse, pensando na minha primeira alimentação com Andrea. Eu não tinha me alimentado de um ser humano desde aquele incidente de indução. E demorou um bom tempo antes que eu estivesse completamente confortável perto dela novamente.


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— Eu amo você, Jane — ele disse, estacionando o carro. — Eu quero ajudar. Esta é a nossa última grande aventura estúpida. Vamos sair com um estrondo. — Eu não acho que seria... — Jane. Eu suspirei. — Eu não vou morder o seu pescoço. Muito íntimo. — Fiz uma cara de nojo para ele, levando-o a me oferecer o pulso. — Você tem certeza? — Faça antes que eu mude de ideia — ele disse e então gritou quando meus dentes perfuraram sua pele. Ele ficou tenso, em seguida, forçou-se a relaxar, recostando-se no assento, evitando o contato além da minha boca em seu pulso. Eu me concentrei na mecânica de alimentação, presas na pele, os lábios de vedação em torno da ferida para puxar delicadamente o sangue para a superfície. Eu pensei com carinho em salgadinhos e cocas bebidas, e em caramelos, no tipo de cozinha que gostava em viagens à tarde para o Lago Hickman depois que o Zeb conseguiu sua carteira de motorista. Quando ele tocou minhas costas, me afastei. Mais insistente colocou a mão enrolada em volta do meu queixo, acariciando minha bochecha, enquanto eu me alimentava. Eu não quero pensar sobre os aspectos pseudo-freudianos de penetração e fixação oral. Este era o almoço. Isso era um lanchinho. Pelo menos, é isso que eu disse a mim mesma até que Zeb gemeu um pouco, jogando a cabeça para trás contra o assento. Esta voz, idiota assustadora sussurrou na minha cabeça, você poderia ter tudo isso. Tire a sua vida com um sopro, transforme-o, o mantenha com você. Alguns goles mais, ele está gostando... — Pare — eu disse, me afastando. Uma sonolenta, quase sensual expressão tinha se estabelecido no rosto de Zeb, ele se recostou na cadeira e se esticou. Sorriu para mim conspiratoriamente e esfregou o pulso. — Você está bem? — ele perguntou, com os olhos vidrados e nebulosos novamente. Ele parecia que mal conseguia se concentrar em mim. — Ótima — eu prometi, a voz tremendo fora da minha cabeça. — Dói? — Não — ele disse massageando o pulso, quando uma marca roxa escura estava se formando. A ferida já estava fechando, mas ele teria um hematoma por um tempo.


190 — Aqui — arrastei meu dedo em uma presa e fiz um corte minúsculo. Apertei-o no pulso do Zeb, deixando algumas gotas de sangue cair para o fechamento da ferida. A pele imediatamente curou, e os hematomas desapareceram. — Obrigado — Zeb sorriu carinhosamente para mim, acariciando as mechas de cabelo para trás longe do meu rosto. Sua voz parecia tão distante, como se ele fosse repetir as falas que ele tinha ouvido num filme. Mas eram os olhos que estavam enervantes. Eles eram tão vagos; parecia não haver nenhum vestígio de Zeb neles. Seus lábios se separaram, e sua respiração acelerou quando ele se inclinou para mim. Um toque de pânico caiu sobre minha espinha quando sua boca se aproximava da minha. Eu ataquei, dando um soco no nariz do Zeb com o meu punho semi-fechado. Era uma espécie de cruzamento entre um soco e um tapa, mesmo no meio do rosto. — O que você está fazendo? — Ow! — ele gritou agora totalmente consciente e apertando as narinas dele sangrando. — Por que você fez isso? — Você não vai me beijar, você entende isso? — eu gritei. — O que você quer dizer com eu não vou te beijar? — ele gritou, inclinando a cabeça para trás contra o meu lugar enquanto eu empurrei um lenço de papel para ele. — Quero dizer, você não vai me beijar. — Eu não ia beijá-la — ele insistiu. — Zeb, já faz um tempo, mas eu tenho certeza que reconheço uma inclinação de noventa e cinco por cento quando eu vejo uma. — A última coisa que lembro é das suas presas adentrando na minha pele — ele disse, enxugando em seu nariz e olhando no espelho retrovisor. — Você honestamente não se lembra de inclinar-se para mim com a boca semi-aberta? — Não! Olhei Zeb por um longo tempo, debatendo se deveria olhar para dentro de


191 sua mente e determinar se ele estava mentindo. Finalmente, me acovardei. Olhar sua cabeça no momento me parecia tão intrusivo... e assustador. Honestamente, eu não tinha certeza se queria saber o que diabos ele estava pensando. Ou se ele estava pensando. E se a razão pela qual ele parecia tão insatisfeito com Jolene recentemente era porque ele tinha sentimentos por mim? Como ele poderia fazer isso com qualquer um de nós? Como ele poderia mudar as regras da nossa amizade desse jeito, mesmo sem me dizer? Como eu ia dizer a ele que nós dois nunca, nunca iríamos ser mais do que aquilo que já éramos? E se eu perdesse meu melhor amigo? — Apenas me leve pra casa — eu disse finalmente, caindo contra o banco. Passamos o resto do percurso em silêncio, com eu olhando pela janela, tentando ignorar meu melhor amigo tenso ao volante. Tão logo ele guiou a Big Bertha em meu estacionamento, eu joguei um cobertor solar sobre minha cabeça, e gritei. — Boa noite! — E corri para a porta. — Jane, nós precisamos conversar! — Zeb me chamou. — Boa noite! — eu gritei enquanto lutava para encaixar a chave na porta da frente e manter a manta protetora no local. Bati a porta atrás de mim e travei a porta, apenas a tempo de ouvir Zeb dizer: — Tudo bem, então. Fechei os olhos, rezando para que ele não viesse para a porta e tentasse falar sobre o que aconteceu. Eu inclinei minha cabeça contra o vidro, para ouvir o som do carro de Zeb ligar e se mover para longe. Avistei meu reflexo no vidro do píer da varanda, a estranhamente bela mulher, pálida no espelho, o rosto inundado de alívio ao som de uma rotação do motor Datsun's. Eu olhava para meu reflexo. — Você é uma covarde. Meu reflexo era decididamente inútil.


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Capítulo 14 Qualquer macho que se casa com mais de duas companheiras é banido do bando. A maioria das fêmeas o consideraria um mau agouro, naquele momento, de qualquer maneira. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Afim de evitar pensar em Zeb me tocando de forma inadequada, me atirei na busca de mais informações sobre o meu futuro avô postiço. Pensei que dentre meus dois problemas, o passado de Wilbur era muito menos provável de voltar e me morder no rabo. Gabriel me encontrou enfiada até meus cotovelos no ciberespaço, procurando através de uma conexão não muito legal para o estado vital, as estatísticas do banco de dados. A biblioteca era um garantido o acesso para fins de arquivamento, e a Sra. Stubblefield não se preocupou em mudar nossa senha depois que eu fui demitida. Honestamente, o que ela estava pensando? Eu tive acesso a certidões de nascimento, certidões de casamento e de óbito, o único problema é que eles estavam em forma abstrata, dando o estritamente essencial de nomes e datas. Depois que eu dei apenas um grunhido superficial como uma saudação, Gabriel subiu cautelosamente no sofá ao meu lado e viu como meus dedos voavam sobre o teclado. — Estou bem, obrigado, querida. Como você está? — disse ele incisivamente. Eu fiz um barulho beijos em sua direção, mas continuei minha busca.


193 — Eu não queria interromper — ele adicionou. Quando eu finalmente olhei para Gabriel, vi que ele estava vestindo um terno bem cortado preto com uma gravata de seda azul. Eu nunca tinha visto ele em seu "traje" de negócios antes. Ele teria sido de dar água na boca, se não tivesse as linhas entre as sobrancelhas e o ansioso e nervoso brilho em seus olhos. — O que você está fazendo? — Perseguindo meu futuro vovozinho através de uma conexão sem fio obscenamente rápida — disse eu, batendo nas teclas. Ele piscou para a tela que rolava de forma selvagem. — Isso é uma gíria ou Jane-ismo? — Um pouco de ambos — eu disse. Enquanto o motor de busca compilava os registros de casamento para Goosens entre 1960 e 2007, eu beijei seu queixo e esfreguei meus olhos. — Eu estou procurando pelo velho senhor Goosen nos arquivos do Estado. Até agora, tudo o que eu encontrei é sua certidão de nascimento, o que é normal. E o seu atestado de óbito, que, considerando que ele está andando, não é normal. Ele acariciou meus ombros. — Você sabe, eu nunca vi esse lado agressivo intelectual antes. É bastante preocupante e ainda de alguma forma um pouco sexy. — Que é bem como podemos definir nossa relação — eu disse, voltando para a tela. Eu ouvi o seu consumo de ar delicado ao meu lado. — O Zeb esteve recentemente aqui? Seu cheiro parece ser particularmente forte neste quarto. — Por favor, pare de me cheirar procurando evidência de outras pessoas — eu gemi, cortando a minha resposta, indignada. Em vez disso, eu disse calmamente: — Eu tive que me alimentar dele. — Por que você está fazendo essa cara? — perguntou ele, enfiando o dedo no meu queixo. — Não há nenhuma razão para que você não deva se alimentar do Zeb. — Eu meio que optei por não me alimentar de humanos, lembra? — eu disse. — Eu estava indo muito bem... e então ele tentou me beijar, e tudo só foi para o inferno a partir daí. — Me desculpe — Gabriel sacudiu a cabeça, rindo. — Por um minuto pensei que ouvi você acabar de dizer que Zeb tentou beijá-la. — Dei-lhe um olhar que era uma mistura de nervoso, mas principalmente medo. — Oh.


194 — Eu sei — gemi. — Eu não sei o que está acontecendo. É como se o mundo inteiro estivesse vesgo. E enquanto eu estava me alimentando, eu tinha todos esses pensamentos estranhos. E eles eram... sombrios, famintos e manhoso. E eles me diziam para beber mais, ter mais, transformá-lo, mantê-lo comigo. Isso quer dizer que foi culpa? Eu acidentalmente coloquei alguns pensamentos do meu subconsciente na cabeça dele, porque eu estou com medo do que vai acontecer ao nosso relacionamento quando ele e Jolene casar? É por isso que ele tentou me beijar? Eu fiz isso com meus poderes sedutores de vampira do mal? Gabriel encarou-me com seu grave olhar paterno. — Jane, você quer ter relações sexuais com Zeb? Meus olhos se arregalaram com o tamanho de pratos de jantar. — Senhor, não. — Então, isso não poderia ser culpa sua. A voz em sua cabeça? Isso é apenas um pensamento de sangue. Gabriel riu e segurou meu rosto entre as mãos. — É a resposta do cérebro vampiro ao beber sangue fresco, uma tentativa fisiológica para manter o vampiro bem alimentado pelo maior tempo possível. Nós nunca sabemos quando a nossa próxima refeição será. Assim, há receptores no cérebro que interpretam todo prazer e começam a disparar de uma vez. Você fica sobrecarregada com as endorfinas, e você começa a ter pensamentos... bem, pensamentos que eu prefiro que você não descrevesse para mim. Mas é perfeitamente natural, especialmente para aqueles que raramente se alimentam de sangue vivo. Seu cérebro estava apenas super compensando o tempo perdido. — Então, eu realmente não tenho sentimentos sombrios, e famintos pelo Zeb? — Em um universo que é decente e bom, não — ele balançou a cabeça. — Obrigada — suspirei, inclinando-me contra ele. — Eu pensei que estava tendo algum tipo de reação psíquica bizarra quanto ao casamento. Ou talvez um aneurisma. Eu estava desejando um aneurisma. A voz de Gabriel ficou rígida. — Isso significa, contudo, que eu devo ter uma conversa com Zeb sobre o comportamento adequado para os homens noivos, em particular homens noivos que esperam passar algum tempo com você e manter a utilização dos seus membros.


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Eu aspirei. — E se isso não funcionar, o que vem a seguir? A acompanhante paga? — Caso seja necessário. Tenho certeza que Dick poderia precisar de algum dinheiro extra — murmurou Gabriel, tensionado quando eu lhe atirei um olhar de advertência. — Eu gosto muito de Zeb. Ele é um ótimo rapaz, e eu gosto de passar tempo com ele. Mas se ele acha que pode fazer avanços em sua direção por causa de um processo equivocado de pés frios, ele está muito enganado. — Eu tenho certeza que deixei bem claro quando eu fiz seu nariz sangrar — eu disse. — Você bateu nele? — ele perguntou, sorrindo. — Essa é a minha menina. — Eu não acho que ele mesmo percebeu que estava fazendo isso. Ele tinha esse estranho olhar-vidrado nele, e se inclinou. Estávamos ambos muito mortificados, depois enquanto limpávamos o nariz machucado. É possível que no cérebro isso foi apenas uma reação exagerada ao ser mordido? Quero dizer, Andrea teve uma reação quando eu alimentei dela era uma espécie... de felicidade. Mas ela não tentou me agarrar. — É possível — admitiu ele. Quando ele viu a inundação de alívio no meu rosto, ele gemeu. — Esta é uma daquelas questões que você vai insistir em resolver, não é? Eu assenti. — Se ele fizer isso de novo... — Se ele fizer isso de novo, você tem minha permissão para quebrar as pernas e os braços e fazê-lo acreditar que ele é um palhaço de rodeio do Walla Walla63 — eu prometi. — Nós podemos fazê-lo chamar-se Desastrado, o palhaço Maravilha. — Ótimo. Agora um assunto menos perturbador, posso ver o que você encontrou até agora? Virei o meu laptop para mostrar a Gabriel tristemente — Nenhum registro encontrado. Eu não posso encontrá-lo registrado no banco de dados do estado dos não-mortos. De acordo com isso, ele morreu há quase quinze anos, então por que 63

Cidade norte-americana.


196 não se registrar? Ele é um vampiro velho, quase não ameaçador. Do que ele tem medo? — Talvez ele não seja um vampiro — disse Gabriel. — Mas o que mais poderia ser? — Eu honestamente não sei — ele admitiu. — Bem, você não ajuda — resmunguei. — Eu tentei ler seus pensamentos, mas ele deve ser uma daquelas pessoas que eu não consigo alcançar, porque eu não tenho nada. — Você não pode sair por ai e fuçar os cérebros das pessoas quando te convém Jane. — Oh, você já limpou as memórias dos meus pais como limpador de vidros, e agora de repente há um limite? Gabriel suavemente ergueu o laptop para fora das minhas mãos e colocou sobre a mesa de café. — Eu só posso supor que Wilbur é um ser solitário, natural ou sobrenatural, e ele realmente aprecia a companhia da sua avó. — Não, não pode ser isso — eu murmurei, segurando o laptop e clicando em outro site de busca. Eu digitei o nome Wilbur. — Isso parece um monte de resultados na seção de licença de casamento? Eu fiz a varredura da pasta. O nome Wilbur, Will, Bernie, ou Gus Goosen apareceu seis vezes ao longo dos últimos quinze anos. — Cada mulher morreu dentro de um ano do seu casamento. — Você pode dizer o motivo da morte? — perguntou ele, intrigado. — Eu vou fazer algo um pouco ilegal, de modo que você pode querer virar a cabeça — eu disse a ele. Gabriel, imperturbável, apenas sorriu. Eu dei um suspiro exagerado. — Você foi avisado. Eu cliquei em um banco de dados online que deveria limitar-se a licenciados médicos legistas. Ela disse isso logo no topo da tela, em grandes letras vermelhas. Entrei um nome de usuário e senha válidos, fazendo a mandíbula de Gabriel cair. Eu expliquei, — Jolene tem um primo que trabalha no escritório do legista do condado. Ele pode ser comprado com salsicha de verão.


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Gabriel suspirou. — Bem, é claro que ela tem. — Ok, primeira da lista, primeira esposa, Dulcie, teve um derrame em 1991, setenta anos, nada suspeito — eu disse, me debruçado sobre o documento digitalizado. — Aqui é um atestado de óbito de Wilbur, datada de 1993. Causa da morte listado como natural. — Natural o quê? — Gabriel perguntou. Eu cliquei. — Apenas natural. Não houve autópsia. O juiz escreveu que a morte era normal e, provavelmente, ligada a condição cardíaca crônica. Gabriel torceu seu nariz. — Assim, a causa da morte foi "ele era velho”? — De acordo com isso, seu corpo foi liberado para o funeral Aaronson's Home, um dia depois. De parentes próximos, listado como Jerry Goosen, filho de Wilbur, um residente de Ashton, Oklahoma. Apenas posso constatar que Jerry escolheu a funerária mais barata no Estado, porque ele pegou a primeira que viu nas páginas amarelas. É normal que os vampiros obtenham uma certidão de óbito? Gabriel, totalmente focado na minha pequena investigação Nancy Drew agora, com a cabeça. — Isso pode acontecer se um jovem recém-ativado é encontrada pelo homem antes que ele ou ela possa se erguer. Considerando que autópsias e embalsamamento envolvem a remoção de órgãos e mais o sangue do corpo, os vampiros não tendem a se sair bem. Eles acabam de alguma forma errados, fracos, diluídos. Qual á a data da próxima certidão de casamento? Eu mastigava meus lábios, voltando para o banco de dados, estatísticas vitais. — Em 1994, casou-se com Bernie Goosen Sra. Ethel Brown. Ela morreu um ano depois, como resultado de um choque anafilático de múltiplas picadas de abelha. Ela estava trabalhando no jardim. O juiz decidiu ter sido acidental. Depois, em 1996, uma voluntariosa Goosen a Sra. Wilkins DeeDee Reed. Seu atestado de óbito é datado de seis meses depois. Causa da morte: trauma contuso na cabeça. A perna do tamborete do chuveiro quebrou e ela foi jogada ao chão, batendo a cabeça no azulejo. O juiz decidiu como acidental. Em 1998, casou-se com Gus Goosen a Sra. Judy Wooten. Ela engasgou com um pedaço de pé-de-moleque. O juiz decidiu que, todos juntos agora. — Acidental. Eu vasculhei os arquivos online. — Vou conceder-lhe que o primeiro era natural, e talvez até o segundo foi um acidente, mas depois disso, eu acho que


198 Wilbur descobriu quão divertido o lucro do casamento poderia ser. Quais são as chances de que Wilbur não está batendo em suas esposas estilo Barba Azul? — Poderia ser apenas uma coincidência, você sabe — olhei para ele. Ele sacudiu os ombros. — Não é provável, mas poderia ser uma coincidência. — Eu acho que a minha avó pode ter finalmente encontrado seu par — fiquei maravilhada. — Você é muita boa nisso — disse ele, acrescentando: — Fique longe dos meus registros fiscais. — Tarde demais — disse a ele distraidamente. Ele pulou, mas foi provavelmente, porque de repente eu comecei a acenar as mãos. — Espere, espere, espere. — Isso é um gesto "eu estou pensando" ou um "eu tenho uma dor de cabeça" — ele questionou. — Pensando. Enfraquecido vampiro velho. Diluído. Eu li algo assim. Eu corri para cima e arranquei a minha cópia do Espectro do vampirismo da minha cabeceira. Quando eu descia as escadas correndo, gritei: — Normalmente, não me leva tanto tempo para terminar um livro. Essa coisa parece como instruções de montagem de som, em coreano. Mas escute isso: Dos muitos tipos de vampirismo, o mais enfraquecido e diluído estado é a de chamados ghouls, os vampiros que foram embalsamados. Porque alguns vampiro recém transformados são acreditados assassinados ou atacados por animais, eles são embalsamados e tratados para o enterro. Apesar do sangue ser drenado, o vampiro vai sobreviver ao processo, se o coração e o cérebro forem deixados intactos, o que por vezes acontece com embalsamadores preguiçosos ou inaptos. Relatos desse fenômeno podem ser encontrados no antigo Egito. O pesadelo da maldição das múmias que se erguiam de seus sarcófagos nasceu de sacerdotes pularem etapas no processo de mumificação de vampiros recém-nascidos. Embalsamar vampiros em ascensão no terceiro dia, privando do sangue vampírico que os transformou. Eles são capazes de resistir a ferimentos graves, apesar de se curar mais lentamente do que os vampiros de pleno direito. Eles também não têm a força e a agilidade dos vampiros. Eles podem suportar sol fraco e exigem apenas pequenas quantidades de sangue para sobreviver. Olhei para ele com expectativa. Ele deu de ombros. — Ele é um vampiro. Eu sabia! — gritei.


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Gabriel riu. — Não, você não sabia. Eu grunhi de frustração. — Eu sei. Com o que eu devo me preocupar em primeiro lugar? Ele magoá-la como um ser humano ou a morder e tentar transformá-la? Porque eu não quero pensar em uma eternidade com a avó Ruthie nela. — Na verdade, os ghouls não são perigosos — disse Gabriel. — Eles só estão interessados no sangue morto. É a única coisa que conseguem digerir. Assim, eles não saem por aí mordendo as pessoas. E eles não podem transformar um ser humano em um vampiro. Eles só podem criar outros vampiros. A pergunta é: o que fazer com esta informação? — Eu não sei. Quer dizer, eu poderia avisá-la — eu disse. — Ou eu poderia deixá-lo agir para a minha diversão pessoal. Gabriel negou e levantou meu queixo. — A Jane que eu conheço e amo não iria deixar sua avó sofrer para seu divertimento pessoal. — Oh gracinha — eu ri e beijei a ponta do seu nariz. — Eu não acho que você me conhece tão bem quanto você pensa. Então, o que faremos hoje à noite? Você quer ir ver outro filme? Ou podemos simplesmente ficar aqui. O rosto de Gabriel ficou tenso, todo o encanto da brisa nos últimos minutos derreteu. — Realmente, eu não posso ficar. Eu deveria ter mencionado que era apenas uma passada antes de tomar meu caminho para o aeroporto. Há uma reunião trimestral do pessoal no meu hotel que eu não posso me dar ao luxo de perder novamente. Eu gosto de aparecer a cada dois meses, o que tende a manter o homem honesto. Estou voando hoje a noite para Atlanta. É só por alguns dias. Me desculpe, eu esqueci de mencionar isso. — Eu poderia ir com você — ofereci. — Eu amo Atlanta. Bem, eu nunca estive lá, mas sou uma grande fã. Você sabe, E o vento levou, o Braves, a Turner Broadcasting System64. Eu estava realmente desesperada com esse último. — Não seria nenhum divertimento para você, Jane. Estarei em reuniões a 64

São as coisas pela qual a cidade é conhecida: Braves é o time de baseball. TBS - empresa de mídia americana fundada por Ted Turner.


200 noite toda. Eu odiaria deixá-la passear a noite toda sozinha. Quem sabe que tipo de problemas você pode entrar? — ele quis dizer como se fosse uma piada, mas não havia uma qualidade frágil muito brilhante à sua voz. — Eu realmente não me importo — eu disse, na qualidade alheia a sua recusa precipitada. — Eu gostaria de ver o hotel. Eu sinto como se conhecesse apenas o Gabriel de Hollow. Eu gostaria de ver o que está fazendo quando você está no mundo. Gabriel pareceu entender o duplo sentido. Olhamos um para o outro por um longo tempo. Eu estava quase desafiando-o a dar uma outra desculpa esfarrapada, outra mentira. Eu estava cansada de deixar passar. Ele poderia continuar a inventar histórias estúpidas, se quisesse, mas eu não iria tornar fácil para ele. A boca de Gabriel se torceu num sorriso fino, fresco. — Não desta vez, Jane — ele disse, em pé abruptamente e me beijando nas têmporas. — Eu vou te ver quando eu chegar em casa. Ele estava a meio caminho para a porta quando eu finalmente tive a audácia de dizer: — Você sabe que, eventualmente, você vai ficar sem desculpas. Você vai ter que me dizer a verdade. Seu sorriso foi rápido, sem esforço, mas não chegou a seus olhos. — Será que é um outro Jane – ismo. Sua versão de "Tenha uma boa viagem”? — Eu olhava para ele, recusando-me a ficar encantada. — Eu vou ver você em breve — disse ele calmamente, e saiu. O clique do fechamento da porta atrás dele pareceu ecoar nos meus ouvidos, uma raspagem, dura, metálica que saltou fora o súbito vazio da casa. Sozinha novamente, eu continuava a bater nas teclas do computador, com medo de que eu poderia fazer sem algo para ocupar minhas mãos trêmulas.


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Capítulo 15 A prole é considerada o propósito do casamento, por isso weres recém-casados devem esperar uma forte pressão para bebês desde cedo. Muitos casais recebem conjuntos de enxoval como presente de casamento. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Quando eu ouvi o choro de bebê na minha varanda, pensei que estava tendo um pesadelo. Ainda na cama, eu enfiei um dedo na minha orelha e o rodei, esperando soltar o que fosse que estava causando aquele barulho insuportável. Mas ele persistiu. Eu sentei. Havia uma luz do sol fraca espreitando nas bordas das minhas cortinas escurecedoras pretas. A julgar pela minha reação de porquê, porquê, porquê? irradiando do meu relógio interno, imaginei que seriam cerca de cinco horas da tarde. Eu tinha conseguido correr para a cama antes do amanhecer na manhã anterior. Cerca de uma hora depois de Gabriel deixar a minha casa, eu procurei no Google instruções para o seu hotel e decidi que ia dirigir até lá para o que ele estava fazendo. Eu tinha cruzado o Tennessee quando percebi que estava me comportando como uma pessoa louca. Eu encostei a Big Bertha logo ao pé da Union City e inclinei a minha cabeça contra o volante. O que eu estava fazendo? Qual era o meu plano? Eu ia seguir Gabriel por aí com um par de binóculos e espioná-lo? Entrar no seu quarto de hotel e dizer-lhe que eu apenas não conseguia resistir a surpreendê-lo? Gabriel tinha me dito que não me queria lá. Na melhor das hipóteses, eu descobriria que nada estava errado e pareceria uma psicopata chata e pegajosa que não respeita limites. Na pior das hipóteses, eu iria para Atlanta e o encontraria enrolado com outra mulher eu descobriria que ele não estava em Atlanta afinal. E o que eu poderia fazer então? Eu teria um colapso no meio de uma cidade estranha, sem conexões, sem amigos, nada. Eu provavelmente vagaria pelas ruas em um torpor até que o sol aparecesse e eu fosse um pequeno monte de cinzas de Jane na calçada. Isso seria definitivamente um passo que Marianne faria, e não no bom caminho.


202

Dirigi de volta para Hollow e entrei na garagem quando o sol estava nascendo por cima do telhado de River Oaks. Corri para a casa e puxei as cobertas sobre a minha cabeça, caindo em um sono profundo. Pesadelos sobre bebês chorando se encaixam bem nisso. Aos berros do bebê logo se juntou um bater na minha porta da frente. Eu desci atrapalhadamente as escadas, chamando a Tia Jettie com uma voz que não podia ser ouvida pelo meu visitante. Nenhuma resposta. A minha tia morta escolheu uma boa hora para se tornar em uma borboleta social. Com cuidado para ficar no recesso fresco e escuro do vestíbulo, eu abri a porta para encontrar a mamãe Ginger em pé na minha varanda, segurando um monte de cobertores rosa se contorcendo. — O que... o que... é melhor que isto seja uma alucinação — eu gaguejei. — Jane! — mamãe Ginger gritou. — Estou tão feliz que esteja em casa! Esta é a Neveah. Nós a chamamos de Nevie para facilitar. — Neveah? — eu repeti enquanto ela entrava em casa, arrastando cobertores e sacos de fraldas. — É 'heaven65’ soletrado ao contrário, não é inteligente? — mamãe Ginger disse entusiasmada, pondo o bebê em algum tipo de coisa dobrável que ela tirou de sua bolsa. — É a forma de sentenciar uma criança a passar uma vida inteira pulando de bolos — eu murmurei. Eu senti um imediato lampejo de culpa quando a bebê abriu os seus olhos azuis com cílios espessos e se focou no meu rosto. Eu dei um tapinha suave em seu tufo de cabelos escuros. — Eu não disse a sério. OK, eu disse totalmente a sério. Mamãe Ginger colocou uma chupeta na boca da bebê, que temporariamente parou os lamentos ensurdecedores. — Era para eu tomar conta de Nevie um pouco hoje à noite, mas o pobre Floyd está tendo uma emergência na Loja Goose e precisa da minha ajuda. Floyd frequentemente tinha emergências na Loja Goose, a maioria delas envolvendo ferimentos sofridos enquanto ele dava socos na máquina de pinball. 65

Céu.


203

— Por isso eu pensei que você não se importaria de tomar conta dela enquanto eu ia à sala de emergências — ela disse, colocando a bolsa no ombro. — O quê? Não! — eu chorei. Mamãe Ginger ficou estupefata quando eu a parei na porta, tentando compreender como eu tinha chegado lá primeiro que ela. — Eu não sei como cuidar de um bebê! — Oh, não seja boba, ela só tem quatro meses. O que há para saber? Além disso, você costumava ser babá o tempo todo. — Sim, de crianças e pré-adolescentes — eu insisti quando escorreu uma gosma amarelada do nariz de Nevie. — Pessoas que já sabem usar uma privada e não têm substâncias gosmentas escorrendo. — Vai ficar bem — mamãe Ginger insistiu, e correu para fora, para a luz do sol, onde eu não podia segui-la. — Aah! Voz persuasiva. Porque eu nunca consigo lembrar de fazer aquela maldita voz persuasiva? — eu gritei, gerando um choro de Neveah. — Ok, agora — eu disse, pegando a bebê desajeitadamente do balanço e a equilibrando no meu braço. — Vamos ser razoáveis. Não temos que começar a noite irritando uma à outra. O bebê, que não sabia o significado da palavra 'razoável', gritou ainda mais alto. — Se importa se eu chorar também? — eu perguntei quando o peso da situação assentou no meu ombro. Eu nem sabia quem eram os pais dela. Claro, eu não tinha certeza se queria conhecer alguém que daria o nome de Neveah à sua filha. Mas por tudo o que eu sabia, mamãe Ginger estava tentando que eu fosse acusada de sequestro. A minha casa não era à prova de bebês. Eu não tinha nenhum número de contato em caso de emergência ou um kit de primeiros socorros. Eu só podia rezar para que houvesse leite em pó e fraldas naquele saco, caso contrário, esta criança poderia ter que se contentar com Coca-Cola Diet e toalhas de papel. Eu balancei o bebê gentilmente, fazendo um ruído sibilante até que ela se aquietou. Ela olhou para mim, sob pálpebras semicerradas pesadas, a sua pequena boca em forma de botão de rosa aberta. Claro, isto era apenas um precursor do seu jacto de vômito em cima de mim.


204 Eu gritei, estremecendo com a gosma leitosa escorrendo do meu queixo. Isto assustou Nevie, que começou com mais choro. Eu me juntei a ela enquanto tentava remover a gosma do meu queixo com as toalhinhas de limpeza que eu encontrei na sua bolsa das fraldas. — O que foi? — eu perguntei desesperadamente. — Está com sono? Malhumorada? Apenas nomeia um anão66 e eu farei o que puder. Está com fome? Eu posso lidar com a fome. Eu levei o bebê e a bolsa para a cozinha onde eu tirei uma garrafa com uma pequena quantidade de leite em pó. Eu sinceramente esperava que fosse leite em pó e não parte de uma elaborada operação de contrabando de drogas. O problema era que eu não sabia quanto de água devia adicionar à mistura e acabei reproduzindo Cachinhos Dourados e Os Três Ursos. A primeira garrafa estava muito diluída. A garrafa seguinte estava tão espessa que Nevie não conseguiu beber nada dali. Eu finalmente optei por um meio termo e chacoalhei a mistura até algo que ela poderia tolerar. O ato de beber, aparentemente, encheu a bebê com uma quantidade desumana de gás, porque ela arrotou como um caminhoneiro de longos percursos. O barulho foi suficiente para fazê-la vomitar e depois ela vomitou tudo novamente. Isto aborreceu as sensibilidades delicadas de milady, e ela começou a gritar em volume máximo. Sem saber sequer como eu iria começar a tratar desta questão, comecei a chorar também. Ver uma mulher adulta chorar pareceu ter algum efeito calmante sobre a bebê. Ela se acalmou o suficiente para me deixar tirar a sua roupinha rosa e abrir a fralda. Eu não quero entrar em detalhes, mas eu tenho dificuldade em acreditar que tanto material tão repugnante pode sair de alguém tão pequeno. Eu mudei Nevie para um babygrow de 'Pequena Diva' e a deitei na cadeira de balanço tempo suficiente para levar a fralda para o quintal e enterrá-la. Quando eu voltei para casa, ela estava cochilando. Eu rastejei silenciosamente o primeiro degrau para que pudesse chegar a uma camiseta sem vômito. A bebê percebeu isto e deixou escapar um grito rouco. Corri de volta para ela, buscando a sua chupeta entre as almofadas do sofá. Isso acalmou-a até que eu tentei subir as escadas novamente. Na verdade, cada vez que eu tentava chegar perto de roupa limpa ou me afastar do perímetro de dez passos de distância dela, Neveah fazia a sua insatisfação conhecida. E ainda dizem que os bebês não estão cientes do que os rodeia.

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Referência aos sete anões da branca de neve, por exemplo, o soneca, o zangado... ela pede que a bebê diga o nome de um deles para ela descobrir do que a bebê precisa.


205 Este ciclo de dormir/chorar/e me manter refém para me impedir de ir pegar uma camiseta limpa continuou por mais ou menos uma hora. Depois, uma batida soou na porta da frente. — Graças a Deus que está de volta — eu disse enquanto abria a porta, equilibrando cuidadosamente o bebê no meu quadril. — Nunca mais faças isto de novo, mamãe Ginger, entend... Adam? Adam estava na minha varanda, parecendo despenteado e bronzeado em um pulôver azul que realçava os tons violeta dos seus olhos. Ele estava carregando duas xícaras de café daquelas próprias para levar. — Oi, Jane. Eu pensei que já que não temos sido capazes de nos encontrar para tomar um café, eu deveria trazer café para você — ele abriu um largo sorriso, e eu me senti quente. Era como estar na luz do sol, só que sem a combustão espontânea. Ele deu uma olhada ao meu estado desesperado e nojento e colocou o café no chão. — Quem é que você tem aí? — ele perguntou em um tom masculino típico de 'tagarelar com bebês'. — Esta é a Nevie. Ginger Lavelle a deixou aqui há algum tempo atrás, e eu pensei que era ela na porta, pronta para pegá-la. Ela tem que vir buscá-la, certo? — eu balbuciava enquanto olhava o relógio. Mamãe Ginger tinha ido há quatro horas. Onde ela poderia estar? E se Mamãe Ginger a deixasse aqui até de manhã, quando eu estava basicamente inanimada e incapaz de ouvir o choro de um bebê desconfortável e faminto? — Oh, meu Senhor, e se ela não voltar? — eu chorei. — Eu não posso cuidar de um bebê! Eu sou terrível nisto. Ela está chorando há horas, e não importa o que eu faça, ela não me deixa colocá-la em qualquer lugar tempo suficiente para ir pegar uma camiseta limpa, e eu não sei o que fazer! — Oh, está tudo bem, Jane — ele disse em um tom calmo e suave, que eu assumi que era tanto para meu benefício como do bebê. Ele a pegou de mim, e ela borbulhou e arrulhou para ele enquanto se derretia em seus braços, obviamente preferindo a ele em vez de mim depois de apenas alguns momentos. A pequena traidora. — Porque não vai lá em cima e se limpa? Eu vou cuidar dela por alguns minutos. — Tem certeza? — eu perguntei, embora eu já tivesse um pé no degrau inferior das escadas. Ele assentiu, e sem hesitação, eu corri escada acima para me limpar.


206 Em dez minutos, Adam tinha conseguido alimentar Nevie, fazê-la arrotar, limpá-la e adormecê-la em seu ombro. Vestindo roupas limpas e pegando a minha camisa suja a um braço de distância de mim, eu encontrei-o balançando-a suavemente em seus braços, com a sua cabecinha debaixo do queixo dele. As luzes baixas dançavam sobre o ouro escuro de seu cabelo enquanto ele balançava Nevie para a frente e para trás. A visão de Adam com um bebê em seus braços fez o meu coração silencioso dar uma pequena sacudida. Nos meus melhores devaneios, era isso que eu imaginava como seria casar e ter uma família — um homem bom e estável em pé na minha casa com uma criança dormindo embalada suavemente contra ele. Era este o preço que eu tinha pagado por escapar da morte. Apesar das horas anteriores terem me ensinado que eu certamente não estava pronta para um bebê, e que provavelmente nunca estaria, eu não podia evitar sentir uma minúscula pontada de arrependimento por uma oportunidade perdida. Vendo-me ali de pé, olhando para ele, Adam deu uma piscadela e pressionou um dedo sobre os lábios. Ele colocou Nevie cuidadosamente em seu balanço e foi lá fora recuperar o seu café. — Como fez isso? — eu sussurrei enquanto íamos nas pontas dos pés para a cozinha. — Prática — ele disse, colocando o café na minha frente no balcão da cozinha. Ele deslizou para o banco ao meu lado como se isso já fosse uma rotina de longa data. — Eu pensei que era filho único. Adam parecia envergonhado. — Bem, tomar conta de um bebê não é muito diferente de cuidar de um cachorro ou de um bezerro. Eles têm as mesmas necessidades básicas e dão o mesmo tipo de pistas para a fome, desconforto, sono. E eles fazem quase a mesma quantidade de bagunça. Por isso eu peguei um monte de experiência paternal na clínica. Eu bufei. — Isso saiu errado — ele admitiu, rindo. Ele tomou um gole de café e sorriu aquele sorriso quente e torto. Eu esperei que os meus nervos reagissem, para eu começar a vomitar palavras sem sentido e ficar nervosa. Mas parecia que toda a vergonha e timidez que eu sentia antes na presença de Adam tinham desaparecido.


207 Estar sentada com Adam era... calmo, tranquilo. Não havia emergência iminente no horizonte. Eu não tinha que monitorizar cada expressão, cada palavra, cuidadosamente para evitar aborrecê-lo. E eu não me sentia tentada a olhar dentro da sua cabeça, pois os seus sentimentos eram claros. — Foi simpático da sua parte aparecer com este... agora morno café — eu ri enquanto bebia. As suas covinhas surgiram. — Bem, eu faço o que posso. À exceção de ataques de pânico decorrentes de vomitarem em cima de você, como tem estado? — É... complicado. — Coisas de vampiros? — ele perguntou. Eu considerei. De todas as coisas com que eu estava lidando — um namorado distante e reservado, o meu potencialmente assassino avô falso, o possível colapso mental do meu melhor amigo, a tentativa da mãe dele de pôr o meu relógio biológico para funcionar — nada disso tinha muito a ver com o fato de eu ser um vampiro. — Na verdade não. — Mas eu imagino como ser um vampiro poderia ser, você sabe, complicado. Quero dizer, onde arranja o seu sangue? — ele perguntou. — E a que horas acorda todas as noites? É difícil para você estar perto de pessoas sem querer se alimentar delas? — Está escrevendo alguma espécie de livro de relatos? — eu perguntei, recebendo aquele sorriso gigante. — Eu só estou curioso — ele disse. — Nunca sabe se o que lê nas notícias sobre vampiros é verdade. Mas parece que tem que fazer tantos ajustes, só para funcionar. — Não é grande coisa — eu lhe disse. — Ok, sim, é, mas vale a pena, especialmente se significa que eu posso ficar aqui, na minha casa. — Mas você poderia fazer qualquer coisa, ir a qualquer lugar. — Aqui é onde eu quero estar. Perplexo, Adam perguntou, — Como isso começou? Como foi transformada? — Não é uma história que eu conte à maioria das pessoas — eu disse.


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Adam pareceu ofendido por eu o considerar "a maioria das pessoas". — Porque não? — Se houvesse um episódio muito especial de I Love Lucy, onde Lucy fosse transformada em um vampiro, ela provavelmente usaria a minha história. Vamos apenas dizer que eu não tive escolha. Era morta ou isto. Eu tenho sorte que o meu sire estivesse lá. — Este sire é o cara que está vendo? — ele perguntou. Eu assenti. Era tão estranho discutir isso com ele, o toque de ciúme tingindo o seu normal tom claro. — É sério? — ele perguntou. Eu olhei para o meu copo de café, com vergonha de ser incapaz de responder. Eu não sabia onde eu e Gabriel nos encontrávamos neste momento. Era injusto que eu não quisesse dar a Adam a impressão de que eu estava totalmente indisponível? Eu estava apenas usando o seu ousado interesse como uma desculpa conveniente para procurar uma maneira de sair de uma situação desconfortável e incerta com o meu sire? Porque eu me sentia tão culpada por pensar dessa forma quando as ações de Gabriel eram tão suspeitas? Porque eu não podia ser uma Marianne em vez de uma Elinor? Apenas vivendo o momento e pegando o que queria da vida? Porque eu tinha que pensar em tudo? Elinor é servil. Ela deixa toda a gente agir da forma que quer, deixando-a para limpar as suas bagunças sem reclamar. Marianne pode ser extraviada e boba, mas pelo menos ela tem um pouco de diversão de vez em quando. Adam aproveitou o meu silêncio. — Se não pode responder, isso provavelmente significa alguma coisa. Eu assenti, ainda incapaz de acrescentar algo. — Bem, se algo mudar ou se decidir que está... eu só quero que saiba que se alguma vez precisar de alguém com quem conversar, eu gostaria que essa pessoa fosse eu. Droga, isso não fez sentido. Sinto muito, você me deixa um pouco nervoso — ele admitiu. O rubor dele trouxe uma inundação de um rosa escuro e saudável para as suas bochechas.


209 — Eu te deixo nervoso? — eu estava estranhamente feliz por isso. Afinal, ele tinha me feito gaguejar e babar quase toda a minha adolescência. Reviravolta era justa. O rubor que tinha abrandado apenas alguns segundos atrás voltou para o seu rosto. — Bem, sim. Eu gosto de passar um tempo contigo. Eu estou grato por estar te conhecendo novamente. Eu não quero estragar tudo. Eu fui capaz de esmagar o meu instinto de gritar. Eu tinha um discurso legal e sedutor preparado sobre Adam jogar bem as suas cartas, mas de repente ele se levantou, pegou o meu rosto nas mãos e escovou um beijo rápido na minha bochecha, deixando um rastro formigando onde os seus lábios tinham tocado minha pele. Ele era tão quente, vital, cheio de vida. Ele cheirava como algodão e hortelã-pimenta, apesar de eu imaginar que a última parte era, provavelmente, só shampoo para cães. O padrão das suas mãos parecia queimado em meu rosto, me marcando. Como eu podia ter esquecido como os homens humanos eram mornos? Era como um banho quente e relaxante no final de um dia longo e tempestuoso, confortante e doce. Ele se afastou e sorriu. Eu me sentei atordoada, o vendo sair pela porta da cozinha. — Basta pensar no que eu disse, Jane — ele disse enquanto saía. — Me liga algum dia, mesmo que seja apenas para conversar. Eu quero te ver de novo. — Eu vou — prometi antes que eu tivesse chance de filtrar a minha resposta. Eu parecia estar canalizando a Jane adolescente, que não tinha controle de impulsos nem lealdade para com Gabriel. Adam teve o cuidado de fechar a porta silenciosamente, mas de alguma forma esse barulho minúsculo conseguiu acordar Nevie e ela começou a berrar. Eu suspirei e bati com a cabeça contra o balcão. Quando mamãe Ginger finalmente achou que era hora de voltar, eu já tinha mudado mais seis fraldas e passado uma hora limpando substâncias do meu tapete que eu prefiro não descrever. Havia manchas que pareciam suspeitamente permanentes no meu sofá novo. Eu não era uma campista feliz. — Você está louca? — eu exigi quando Mamãe Ginger abriu a minha porta. — O que há de errado contigo? — O quê? — ela perguntou, olhando para o balanço, onde Neveah cochilava tranquilamente. — Ela está bem. Eu sabia que ela estaria.


210 — E se ela tivesse ficado doente? — eu sibilei. — E se algo desse errado? Eu não sabia como entrar em contacto contigo. Eu estou coberta de vômito de bebê. A minha casa tem cheiro de adubo! — Mas querida, ela não te faz querer ter um próprio? — mamãe Ginger levantou o bebê como um pedaço de carne vencedor em exposição. — Serviu para uma coisa, você confirmou que eu não preciso ter filhos — eu disse, e do fundo do meu coração, eu sabia que era verdade. — Mas Janie, eu só fiz isto para te mostrar que precisa parar de brincar. Para com esta bobagem de vida de solteira. Um homem diferente a cada noite. Trabalhar em alguma livraria para adultos. Você tem que assentar. Para de fingir que está feliz, e simplesmente diz ao Zeb como se sentes. — Eu não estou fingindo — eu disse. — Bem, eu acho que preciso ter uma conversa com esse Gabriel e dizer-lhe o que ele está fazendo. Ele tem que saber que está no teu caminho — mamãe Ginger insistiu. — Ele tem que saber que está impedindo o seu verdadeiro amor. E se não fosse por esse rapaz, esse Gabriel, você e o Zeb estariam livres para estar juntos. — Mas Zeb está apaixonado por Jolene. — Eu não quero ouvir isso, Jane. Eu sei o que é melhor! — ela chorou, juntando as coisas do bebê e se dirigindo para os degraus da frente. — Vai ver. — Mamãe Ginger, para — eu disse na voz mais poderosa de persuasão que eu consegui. — Para com isso agora. Você vai parar esta campanha contra a Jolene, e vai aceitá-la na família. Você vai fazê-la sentir-se bem-vinda. Você nunca mais vai mencionar a ideia de Zeb e eu como qualquer outra coisa que não amigos. Mamãe Ginger sacudiu a sua orelha como se houvesse insetos irritantes zumbindo lá. Eu acho que poderes de vampiro não eram nada contra a determinação de uma irritada futura sogra. — E eu não trabalho em uma livraria para adulto — eu gritei pela porta enquanto ela saía com Nevie. — Eu trabalho em uma livraria do oculto. E só acontece de haver uma loja de vídeos para adultos ao lado. Eu vi os faróis traseiros de Mamãe Ginger desaparecer na escuridão.


211 — Isto não é bom.


212

Capítulo 16 Lobisomens expressam muitas emoções pelo contato físico — alegria, raiva, uma necessidade de conforto. Prepare-se para ser abraçado, cheirado, aconchegado, ou possivelmente lambido. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Olá? — eu chamei, sustentando uma caixa de entrega no balcão tempo

suficiente para fechar a porta. Ela tinha sido trancada, o que era incomum. E o Sr. Wainwright nunca deixava entregas na frente da loja. Havia muita criminalidade no bairro. — Sr. Wainwright? — eu chamei. Tecnicamente, era a minha noite de folga. Eu não deveria ter entrado na loja, mas Gabriel tinha me ligado do aeroporto de Nashville para me informar que retornaria para a cidade naquela noite e queria conversar. Eu não queria estar em casa è espera dele. Apesar dos meus protestos, eu não queria ter nenhuma conversa que Gabriel tenha planejado. Por muito infeliz que eu estivesse com a sua evasão, eu sabia que a verdade machucaria mais. Por isso eu estava usando o trabalho como um escudo defensivo. A loja estava vazia, de uma forma assustadora. Eu soltei os meus sentidos e não encontrei nada, nenhuma presença vampírica, nenhum humano. Do outro lado do canto do balcão, eu podia ver um par de mocassins marrons espreitando de uma pilha de manuscritos do século XVII sobre os padrões de alimentação dos vampiros. — Pensei que tínhamos concordado que não iria tentar mover nada sozinho — eu disse aos pés enquanto soltava a caixa. O silêncio parecia zumbir nos meus ouvidos, diminuindo a minha capacidade de ouvir, de responder. — Sr. Wainwright? — o meu chefe estava prostrado no chão, os livros cobrindo-o como uma colcha de retalhos. Os seus olhos estavam fechados, o rosto sereno, como se tivesse acabado de se deitar para um cochilo no chão.


213 — Nãonãonãonãonão — eu murmurei, os meus dedos entorpecidos à procura de um pulso sob a sua pele fria como pergaminho. — Por favor, não. Eu gemi, minhas lágrimas quentes me cegando. — Sr. Wainwright! Por favor acorde! Por favor! Utilizando o pouco que eu conseguia lembrar de aulas de primeiros socorros das Garotas Escoteiras, eu empurrei vários livros para longe e inclinei a cabeça do Sr. Wainwright para trás. Limpei o meu nariz escorrendo e respirei através dos soluços. Respirei na sua boca. Empurrei para baixo em seu esterno com as duas mãos e gritei quando ouvi algo quebrar. Eu tinha quebrado alguma coisa, provavelmente uma de suas costelas. — Por favor! — eu gritei de novo, enterrando o meu rosto em sua camisa. — Jane, querida, é hora de parar com isso. Por muito que eu o aprecio, é tarde demais. Olhei para cima e me encontrei olhando o antigo Sr. Wainwright. Ele estava usando o mesmo casaco cinza e o mesmo conjunto de veludo marrom que o corpo deitado no chão, só que mais transparente. Ele sorriu gentilmente. — Sr. Wainwright? — eu choraminguei. — O que está acontecendo? — Para uma jovem mulher com a sua inteligência, Jane, eu esperava que fosse óbvio — eu balancei a cabeça, ainda fungando. — Eu sou um fantasma, Jane, tenho sido, oh, por seis ou sete horas. Ele ergueu a mão, examinando a forma como a luz se filtrava através dela. — Olha para isso. — O que aconteceu com você? — eu perguntei. — Bem, você estava certa sobre eu não dever mover caixas sozinho. Eu sabia que algo estava errado assim que peguei nela. Eu tive todos os sinais clássicos: dores penetrantes no braço esquerdo, sensação de esmagamento no peito, falta de ar. Eu simplesmente tombei. — Eu sinto tanto. Eu deveria ter estado aqui. — Não — ele disse. — Não se culpe. Eu era um homem velho, e eu vivi uma vida longa e boa. E você me fez muito feliz durante meus últimos meses. Você se tornou muito querida para mim, Jane. Eu espero que saiba disso. Eu não fui feito


214 para ter filhos. Mas eu gosto de pensar que se eu tivesse tido uma filha, ou uma neta, ela seria como você. Meu Deus, é realmente assim que o meu cabelo parece? — Concentre-se, por favor, Sr. Wainwright. Porque você ainda está aqui? Você tem negócios inacabados ou algo assim? — eu perguntei. — Não, não, eu apenas não estou pronto para seguir em frente. Há muita coisa acontecendo no mundo neste momento. E a minha amizade contigo é tão emocionante. Eu quero saber o que acontece a seguir. — Mas você não quer ver o que está, você sabe, do outro lado? — Eu não tenho medo de seguir em frente — ele disse. — Eu apenas não estou pronto para ir. Assim que eu estiver, eu vou. Como um homem sábio certa vez disse, 'Para a mente altamente organizada, a morte é apenas mais uma aventura'. — Isso é do Harry Potter — eu disse. — Dumbledore disse isso não primeiro livro. — Conto com você para sempre saber essas coisas — ele sorriu. — Tudo vai ficar bem, Jane. Não se preocupe. — Mas o que vai acontecer? — Quem sabe? — ele deu de ombros, sorrindo descontroladamente. — Essa é a melhor parte — Mas e o que... — Jane, eu acho melhor chamar o 911, querida, para virem pegar o meu corpo — ele sugeriu. Eu assenti. — Eu vou sentir a sua falta. — Não ainda — ele prometeu. Pensei em chamar Dick, mas eu sabia que a mistura de Dick com as autoridades — quer sejam humanas, quer sejam qualquer outro tipo — não era uma coisa boa. Apesar de a morte do Sr. Wainwright ter sido natural, o despachante do serviço de emergência aparentemente ia à igreja com a minha mãe e notificou os paramédicos que iam responder à chamada que eu era um vampiro. E eu deduzo que eles tenham pedido uma escolta policial. Além disso, quando


215 vampiros choram, um pouquinho de sangue escorre através das suas lágrimas, então, quando a polícia chegou, o meu rosto estava coberto de manchas vermelhas. Vale dizer que o questionamento demorou algum tempo. — Há quanto tempo você trabalha aqui, senhorita Jameson? — sargento Rusty Bardwell perguntou enquanto rabiscava em seu pequeno caderno. Um sujeito alto, de cabelo escuro com o hábito ridículo e incômodo de apertar a mandíbula, Rusty não confiava em mim. Na verdade, ele manteve uma mão livre sobre a sua arma durante a maior parte da sua visita. Lembrá-lo de que usá-la em mim seria inútil não me pareceu sensato. — Rusty, nós nos conhecemos desde a terceira série. Você vomitou em cima de mim na viagem de campo a Mammoth Cave. Apenas me chame de Jane — eu disse irritada enquanto fungava em um lenço. O nível do olhar de Rusty não vacilou. — Há quanto tempo você trabalha aqui, senhorita Jameson? — Cerca de seis meses — eu disse, a minha voz monótona e chateada. — E há quanto tempo você conhece o defunto? — Cerca de seis meses — eu disse. O Sr. Wainwright assistiu os paramédicos carregarem o seu corpo mortal em um saco de cadáver, e depois, acenou alegremente enquanto este era colocado em uma ambulância. Eu balancei a minha cabeça para ele. — E você foi recentemente promovida a gerente. — Não — eu fiz uma careta. — O falecido deixou um bilhete em sua mesa — insistiu o Sargento Rusty, cavando em um envelope pela evidência. — Nota para mim mesmo: Gravar uma placa para Jane dizendo 'Jane Jameson, Gerente'. — Aw, Sr. Wainwright. O Sr. Wainwright abaixou a cabeça. — Você merece isso, Jane. Você estará no comando da loja agora, de qualquer maneira. Aborrecido pela minha falta de atenção, Rusty pigarreou. — E você encontrou o corpo?


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— Sim. Eu disse isso ao atendente quando liguei para o 911. — E você tentou uma ressuscitação cardiopulmonar?" — Eu fiz, mas acho que ele já tinha ido há algum tempo naquela altura. — Eu pensava que os vampiros não pudessem respirar — ele disse, estreitando os olhos para mim. — Eu não tenho que fazê-lo, mas isso não significa que eu não possa — eu lhe disse. — Preciso convocar um representante do conselho? Eu tenho direito a isso segundo o Ato dos Direitos Civis dos Não-Mortos de 2002. — Nós vamos deixar você saber — Rusty disse. — Por agora, vamos apenas dizer que você provavelmente vai ouvir alguma coisa da nossa parte novamente. Rusty saiu da loja como se as suas calças de poliéster estivessem pegando fogo. A equipe da ambulância foi embora com o corpo — eu não conseguia pensar nele como o Sr. Wainwright. Eu estava sozinha. E de repente tudo estava tão silencioso. Entorpecida, eu afundei em uma cadeira atrás do balcão e olhei para um registro ao lado da caixa registradora. Eu conseguia ver o desenho de uma galinha do Sr. Wainwright, um lembrete para que eu não esquecesse de reorganizar um livro chamado "A vida em Loch Ness". Corri meus dedos sobre o seu rabisco denticulado, inclinei a cabeça contra o balcão, e chorei. Eu não sei quanto tempo eu sentei lá. A próxima coisa que eu lembro é de Gabriel caminhando pela porta da loja, chamando por mim. Eu não conseguia olhar para cima, para juntar as palavras para lhe responder. O mínimo movimento exigia demasiado esforço. — Eu estive te ligando a noite toda — ele disse, vindo atrás do balcão para me examinar procurando contusões óbvias e feridas feitas por estacas. — Normalmente, há uma razão para me ignorar. O que está acontecendo? — O Sr. Wainwright está morto — eu disse, a minha língua lenta e pesada. Me aguentei por um total de dois segundos antes de explodir em lágrimas histéricas novamente. Gabriel envolveu seus braços longos em torno de mim, e subitamente eu não ligava para onde ele tinha estado ou para o que ele tinha feito. O importante era que ele estava ali, naquele momento, quando eu precisava dele. — Foi um de nós? — ele perguntou.


217 — Oh, não, completamente natural. Foi um ataque cardíaco — eu disse, os meus olhos jorrando novamente. — Ele era um homem velho. Ele disse que viveu uma vida boa... Gabriel me apertou contra o peito e me deixou chorar lá, até que a frente da sua camisa estava encharcada. — Melhor? — ele perguntou. — Não — eu disse, enxugando o meu nariz. — Eu devo parecer uma bagunça, o que é na verdade a menor das minhas preocupações agora. Eu não sou umas dessas mulheres que são bonitas quando choram. — Não, não é — Gabriel concordou. — Tão rude — eu bati nele. — Vê, você se sentes melhor agora que bateu em alguma coisa. — Eu não sei por que estou chorando tanto — funguei. — Não é como se eu o tivesse perdido. Quero dizer, ele está feliz como um molusco, olhando através de suas mãos transparentes. Ele está excitado por estar morto. Porque eu me sinto assim? — Se eu sugerir uma teoria, vai ficar com raiva? — Bem, você agora praticamente garantiu que eu vou — limpei o nariz. — Tanta coisa na sua vida tem estado instável. Você perdeu a sua tia Jettie, o seu trabalho, a sua vida como a conhecia. O Sr. Wainwright e a sua loja se tornaram uma âncora de normalidade. Era um lugar onde podia ir e saber o que esperar quando entrava pela porta. Agora não pode se agarrar nem mesmo ao mínimo fragmento da sua vida antiga ou ao instável sentido de segurança que desenvolveu. Eu olhei para ele. Ter alguém dentro da sua cabeça é desconcertante. — Não, não é isso — eu disse. — Não é de todo. Eu tenho a honra de revogar a sua licença de psicólogo. — O que eu posso fazer para te fazer sentir melhor? — ele perguntou. Eu encolhi os ombros. — Tempo Alegre da Diversão Pelada? Eu ri, um som enferrujado que fez a minha garganta doer. — Sabe, às vezes eu esqueço que no coração das coisas, ainda é um cara.


218 — Bem, deixa-me te lembrar. — Precisamos chamar o Dick. — Eu acho que devíamos deixar Dick fora dessa. — Porque... oh, Deus, isso pouco importa agora. Dick é o bisavô do Sr. Wainwright. Gabriel afundou no sofá. — Dick teve filhos? — Um filho, que nós saibamos. O seu nome era Albert. Ele era o avô do Sr. Wainwright. — Dick teve um filho? Olhei para ele. — Eu quebrei o seu cérebro? — É apenas que, eu desisti da ideia de ser capaz de ter filhos há muito tempo, por óbvias razões. Eu lamentei, mas eu cheguei a um acordo comigo mesmo. Eu nunca tinha considerado que Dick podia... porém, faz sentido que ele tenha. Ele sempre jogou meio que rápido e sem amarrar com as suas, er, companheiras. Há quanto tempo sabe? — Um mês mais ou menos. Eu lamento por não te ter dito. Dick pediu-me para não dizer nada. — Jane? — Dick veio correndo pela porta com Zeb em seus calcanhares. Ele derrapou até parar quando viu o meu rosto manchado de lágrimas, em seguida, girou para Gabriel. — Porque ela está chorando? Se a fez chorar, eu vou chutar o teu... — Porque vocês estão aqui? — Gabriel perguntou a Dick. — O balconista da loja de vídeo ao lado viu uma ambulância aqui e me ligou — Dick disse. Zeb fez uma careta. — O cara da loja pornô tem o seu número de casa? Eu ignorei este comentário preocupante e coloquei os meus braços ao redor do pescoço de Dick. — Dick, eu lamento muito. É o Sr. Wainwright. Ele se foi. A bravata de Dick desapareceu. — De onde?


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— Do plano terrestre — eu disse. — Ele morreu no início desta noite. O seu rosto se contorceu de dor. — Eu tenho passado tempo na loja... — Não, não — eu disse, segurando as mãos de Dick. — Ninguém o atacou. Foi simplesmente um ataque cardíaco. — Eu não consegui dizer a ele — Dick disse. — Eu não consegui dizer adeus. — Na verdade, ele pretende ficar por aqui por um tempo, por isso pode dizer a ele agora. — Dizer o que, exatamente? — o Sr. Wainwright perguntou, a sua forma transparente deslizando através da porta. É embaraçoso ser surpreendido quando se tem sentidos de vampiro, particularmente quando a pessoa que apareceu sorrateiramente por trás de você é mais velha do que a sujeira. E está morta. — O quê? — o Sr. Wainwright perguntou, os tufos cinza das suas sobrancelhas subindo em sua testa transparente. — O que há de errado? — Isso parece ser uma conversa privada. Nós provavelmente deveríamos sair — Gabriel sussurrou ao Zeb, apesar de ambos terem ficado no mesmo lugar. — Ok, vocês dois, lá para fora — eu lhes disse. — Mas, mas, mas... — Zeb balbuciou lamentavelmente enquanto eu empurrei os dois para o escritório e fechei a porta atrás de nós. Eu esperei enquanto ouvia Dick calmamente explicando a situação. Quando o Sr. Wainwright não respondeu, eu coloquei a cabeça no quarto para me certificar de que ele ainda estava lá. Houve uma expressão de alívio ao redor dos olhos de Dick quando o Sr. Wainwright cambaleou para frente e abraçou Dick de forma inconsistente. Isso foi tão estranho, um homem velho chamando um cara de trinta e poucos anos de vovô; em um mundo onde a lógica vivia, os papéis seriam invertidos. Mas anos desapareceram do rosto do Sr. Wainwright enquanto ele estudava as feições de Dick. — Tem o meu nariz — Dick disse timidamente. — Desculpa por isso.


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— É um bom nariz — o Sr. Wainwright disse. — Porque nunca disse nada? — Achei que estaria melhor sem saber — Dick disse. — Mas eu não estava — disse o Sr. Wainwright. — Se estivesse por perto, se eu tivesse sabido que os vampiros eram reais, eu não teria me sentido tão sozinho. Não é a toa que minha mãe odiava o meu interesse no paranormal. Toda vez que eu pegava um livro sobre vampiros, ela tinha medo que eu fosse me tornar um como você. Dick parecia envergonhado, que era algo que eu nunca tinha visto antes. — Eu nunca disse à sua mãe. Eu acho que ela adivinhou, mas ela nunca perguntou, e eu sempre achei que era melhor deixar não dito. Sinto muito. — Eu tenho tanta coisa que quero te perguntar. Sobre a sua vida, sobre o meu pai, e o pai dele, e o teu filho. — Eu posso te dar algumas respostas — disse Dick. — O resto pode querer não saber. — Eu não tenho medo — o Sr. Wainwright prometeu. — Esta reunião é realmente tocante — eu disse, recuando para a porta do escritório. — Mas se eu vir um de vocês chorar, eu posso realmente implodir. Por isso estou indo para qualquer outro lugar. Como eu acabei indo para tantos funerais em apenas um ano? Não havia mais ninguém para planejar o funeral do Sr. Wainwright, o que eu achei muito triste. Seu sobrinho, Emery, enviou um telegrama de Guatemala dizendo que não seria capaz de chegar à cidade durante semanas. Emery nos aconselhou a continuar sem ele. Sério, ele usou essas palavras. Um cara realmente sentimental. O serviço noturno foi realizado três dias depois, quando a polícia finalmente liberou o corpo. O Sr. Wainwright deu uma mão no planejamento, o que definitivamente me ajudou a lidar com a tristeza. Ele estava presente no memorial, é claro, embora muito poucos outros estivessem. Fui só eu, Dick, Andrea, Gabriel, Jettie, Jolene, e Zeb. Papai veio, apesar de nós termos negligenciado dizer-lhe que não podíamos falar do morto, não por respeito, mas porque o morto estava lá.


221 O Sr. Wainwright não pertencia a uma igreja, então não havia ninguém para fazer um louvor. Na verdade, ele tinha deixado instruções específicas de que ele não queria ser enterrado. Ele queria que suas cinzas fossem espalhadas no rio Ohio, onde elas iriam "flutuar até ao Golfo do México e sair nos oceanos, circulando ao redor do mundo." Não houve visitação, nenhum queijo de pimenta, nem parentes irritantes circulando como abutres. Em outras palavras, foi o melhor funeral a que eu alguma vez fui. A frente ribeirinha em Half Moon Hollow era uma série de docas de cimento semi-acabadas e em enseada. A comissão do condado tinha começado a dragagem para construir um canal para um barco de rio em 1970, acreditando nas poucas chances de que jogo de barcos de rio fosse legalizado em Kentucky. Quando o referendo do Estado falhou e a população indignada votou para tirar toda a comissão das suas posições, o projeto foi abandonado, deixando uma lacuna no sorriso aguado de Hollow. Que, de certa forma, era apropriado. O único projeto que foi concluído e usado foram os banheiros públicos. Eu tentei não pensar sobre isso. A água, com cheiro de moedas antigas e peixe novo, bateu suavemente contra o talude de cimento. A lua estava apenas meio cheia e meio alta no céu, dando uma luz suave e gentil aos procedimentos. O Sr. Wainwright pediu que evitássemos o preto tradicional em favor de cores alegres, esquecendo, claro, que Gabriel não tinha nada em cores alegres. A camiseta branca simples de Dick, sem sarcasmo, deu um sentimento adequado de solenidade ao processo. Os restos mortais de Gilbert Wainwright foram armazenados em uma cópia oca de For Whom the Bell Tolls que Dick tinha comprado em uma loja de recordações. O Sr. Wainwright pensou que era hilariantemente divertido. Eu segurei o livro em minhas mãos e parei na beira do cais, tremendo um pouco por causa do vento e dos nervos. — Nós estamos aqui reunidos hoje para dizer adeus ao corpo mortal de Gilbert Wainwright. Ele era um bom homem e um bom amigo. Eu não o conheci até tarde em sua vida. Mas ele se tornou muito especial para mim durante esse tempo. Ele era um homem com uma sede infinita de conhecimento. Ele perguntava questões que as outras pessoas têm medo de fazer e nunca duvidou de que as respostas estavam aí fora, esperando para ser descobertas. Eu vou sentir a sua falta, Sr. Wainwright. Você foi amável comigo quando não tinha que ser. Você me deu um lugar a que pertencer, quando eu estava à deriva. Obrigado.


222 — Você sempre terá um lugar lá, minha querida — ele disse, segurando o meu queixo com a sua mão fria e invisível. Entreguei o livro a Dick. — É o certo a fazer — eu disse, sorrindo apesar da surrealidade da situação. — Ele era a sua família. — Muito certo — o Sr. Wainwright disse a Dick. — Eu ficaria honrado. — Este é o funeral mais estranho a que eu já assisti — Zeb sussurrou. — Shh — eu disse quando Dick deu um passo em frente. Dick pigarreou. — Não é correto um homem enterrar seus filhos, por assim dizer. Mas foi este o caminho que escolhemos. Uma grande parte da vida de um vampiro é assistir aqueles ao redor dele envelhecerem e morrerem. Gilbert, eu lamento por não termos podido conhecer-nos melhor — em voz baixa, fora do alcance auditivo do meu pai, ele murmurou. — Mas eu espero que fique por aqui durante algum tempo, para que possamos compensar isso. Gabriel estava olhando para Dick com uma expressão estranha. Toda a coisa de "Dick reproduziu-se" tinha definitivamente o transtornado. Eu enfiei a minha mão na sua e dei-lhe um apertão encorajador. Gabriel deu um passo para o lado de Dick e com um braço duro deu um tapinha nas costas dele enquanto ele jogava as cinzas nas águas agitadas. — Adeus, mundo cruel — o Sr. Wainwright lamentou de forma gozadora. Todos, menos Andrea, Zeb, e papai se viraram para olhar para ele. Ele sorriu. — Demasiado melodramático? — Porque todo o mundo está rindo? — papai perguntou. — É uma coisa de vampiros. Nós rimos da morte — eu disse a papai, que assentiu com a cabeça sabiamente. O Sr. Wainwright insistiu em uma leitura de seu testamento logo após o memorial. Todos do funeral, exceto papai, se reuniram com o advogado do Sr. Wainwright, o Sr. Mayhew, o único homem residente de Hollow de mais de setenta anos que minha avó nunca tinha namorado, na loja. Ele nos cumprimentou calorosamente e nos disse que coisas boas o Sr. Wainwright tinha a dizer sobre todos nós.


223 — Eu conheci Gilbert Wainwright por quarenta anos. Nesse tempo, ele falou apenas de duas coisas: o sobrenatural e você. Ele gostava muito de passar tempo com você — ele me assegurou. — Você fez o último ano da sua vida muito confortável e feliz. — Ele está aqui agora? — o Sr. Mayhew perguntou. Eu olhei da aparição do Sr. Wainwright para o sorriso irônico do Sr. Mayhew. — Sim. Como você sabia? — Ele sempre disse que iria fazer aparições depois da morte. Eu pensava que era parte da sua selvagem conversa 'das criaturas da noite'. Depois, após a Grande Revelação, nós descobrimos que as criaturas da noite realmente existem, então minha mente se abriu um pouco. — Está aberta o suficiente para lidar com testamentos de vampiros? — Eu perguntei. — Porque eu tenho alguns parentes gananciosos. Ele me entregou seu cartão. — Me ligue. — Então, como vamos fazer isto? — eu perguntei. — Eu não tinha permissão para assistir a nenhuma das leituras dos testamentos dos meus 'vovôs'. — Bem, eu preciso que vocês se sentem e escutem. Eu acho que devem saber que Gilbert mudou o seu testamento recentemente. Quando um homem idoso muda o seu testamento para incluir um grupo de jovens recentemente conhecidos, pode ser de alguma preocupação para alguém na minha profissão. Mas Gilbert falou muito bem de vocês e ele não era do tipo de falar muito — ele pigarreou e usou uma voz oficial. — O testamento é algo parecido com isto. 'Eu, Gilbert Richard Wainwright, estando sã de mente e corpo tal como definido pela comunidade de Kentucky' — um monte de 'juridiquês' que vocês são mais do que bem vindos a olhar mais tarde, para que possamos pular para a parte boa — 'deixo os itens seguintes para os meus entes queridos: Para Zeb Lavelle, eu deixo uma cópia de Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were, além de todo o estoque de guias de auto-ajuda relacionados com o casamento inter-espécies. — Isso foi atencioso — Zeb disse. — Esse estoque inclui vários guias conjugais, ilustrados antigos que vai encontrar em uma caixa fechada no depósito — o Sr. Wainwright sussurrou para mim. — Oh, ew — estremeci.


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— Ele acabou de fazer uma piada, não foi? — o Sr. Mayhew perguntou. — Porque é que você não deixa ele te ver? — eu perguntei ao Sr. Wainwright. Ele riu e deu uma risadinha. — É mais divertido assim. — Para Jolene McClaine, eu deixo a caixa de madeira de pau-rosa no meu quarto. Ela contém uma coleção das melhores receitas que eu recebi de amigos lobisomens por todo o mundo. — Isso é muito doce — Jolene fungou. — Eu pensei que com ela poderia ter melhor uso — o Sr. Wainwright disse. — Para Andrea Byrne, eu deixo o meu anel claddagh67 de prata. — Oh, muito obrigada — Andrea sussurrou. — Deve ter sido incluído na bolsa de objetos pessoais quando os meus restos mortais foram recolhidos — o Sr. Wainwright disse. — Na verdade — procurei debaixo do balcão e peguei a bolsa de veludo onde eu tinha escondido o anel. — Eu não achei que fosse inteligente mandá-lo para a casa de funerais usando-o. — Isso pertenceu a uma senhora que foi muito especial para mim — o Sr. Wainwright disse quando Andrea o colocou. — O nome dela era Brigid, e ela era especial e bonita, como você. E eu a amei muito. Sabendo que Andrea não podia ouvi-lo, eu disse. — Isso pertenceu ao amor da vida dele. Andrea sorriu. — Você vai querer ser cuidadosa na forma de lidar com isso perto de nós — Dick lhe disse. — Poderia muito bem estar usando arame farpado em torno do seu dedo.

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O anel de Claddagh é um anel tradicional irlandês dado como símbolo de amor ou usado como um anel de casamento. O anel foi produzido pela primeira vez no século 17, durante o reinado de D. Maria II, embora os elementos do desenho dele são muito mais velhos.


225 — Bem, isso tem possibilidades — Andrea disse, balançando o dedo para ele. Não o rude. Dick resmungou algo que eu não consegui entender. — Para Gabriel Nightengale, a seleção de sua escolha da minha coleção literária pessoal. Para Dick Cheney, minha coleção pessoal de spirits68, incluindo o vinho e aguardente. Dick e Gabriel sorriram. — Para Jane Jameson, eu deixo a loja Livros Especializados localizada no número 933 na Avenida Braxton e todo o seu conteúdo, incluindo o apartamento no andar de cima e os meus objetos pessoais contidos nele. Eu confio em você para permitir ao meu sobrinho, Emery, olhar os meus objetos pessoais e selecionar o que ele gostaria de manter como lembrança. Meu queixo caiu. Eu tinha esperado alguns livros. Talvez uma lembrança ou a coleção pessoal do Sr. Wainwright de tábuas de Ouija. Eu não tinha esperado que ele me deixasse algo tão importante como a loja. Meus olhos ardiam enquanto eu sorria tremulamente ao Sr. Wainwright. Eu realmente não queria começar a chorar novamente. Eu tinha conseguido parar há pouco tempo. — Isso é demais. Eu não fiz nada para merecer isso. E eu não sei nada sobre gerir uma loja. Olhe, com o seu sobrinho chegando em breve, eu acho que talvez devêssemos considerar... — Ninguém se importará com a loja como você — o Sr. Wainwright insistiu. — Ninguém vai cuidar dos livros, cuidar dos clientes, por poucos que sejam. — Virou-se para Dick. — Se eu soubesse sobre você, eu teria planejado de forma diferente... — Não é sua culpa — Dick interrompeu. — E você me deixou a bebida, o que mostra o bem que me conhecia, mesmo antes de saber que éramos parentes. — E tudo o que quiser dos objetos pessoais é teu — eu disse a Dick. — O estoque da loja estará disponível com um desconto para antepassados enlutados de vinte por cento. O Sr. Wainwright deu uma gargalhada. — Vê, tem o que é necessário para ser uma empresária brilhante. 68

Uma bebida alcoólica, especialmente de licor destilado.


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Eu protestei. — Eu não sei nada sobre gerir um negócio. — Então venda-o. Faz o que achar melhor. Eu confio em você. Essas palavras, combinadas com a seriedade do olhar fantasmagórico do Sr. Wainwright, deixaram uma sensação estranha e pesada no meu estômago.


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Capítulo 17 Quando um pretendente indesejável está relutante em aceitar a recusa de uma fêmea de lobisomem, a família dela está apta a entrar para ajudá-la a comunicar seus sentimentos de forma mais clara. Pode levar de seis a oito semanas para o pretendente se recuperar das habilidades de comunicação do clã. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Nós todos nos acostumamos às nossas mágoas de diferentes maneiras. Nesta terça-feira em particular, Jolene e Zeb faziam uma coisa de família com os McClaine. Acho que isso envolvia brigar com o pai de Jolene. Andrea tinha um encontro marcado com um cliente que não tinha medo de Dick. Gabriel estava em Londres. Eu não me preocupei em saber por quê. E eu fiquei com o Dick. Sem intenção de fazer trocadilhos69. Dick parecia solitário, passava noites na loja falando com o fantasma cadavez-mais-animado do Sr. Wainwright e me ajudando a separar as caixas. Nós tínhamos uma aposta sobre quando Emery apareceria. Eu tinha dito duas semanas; Dick dissera seis semanas e quatro dias. Sr. Wainwright, que amava se referir ao seu sobrinho como “um pouco hipócrita e excessivamente tímido,” nos devia vinte dólares em um mês, apesar de não termos ideia de como iríamos pegar dele. Eu deixei minha investigação nos fundos da Wilbur por um tempo. Eu disse a mim mesma que isso me ajudaria a ir embora, ter uma nova perspectiva, mas a verdade era que eu não estava chegando a lugar nenhum. Em vez disso, eu trabalhava desde o pôr-do-sol até poucas horas da manhã limpando áreas que o Sr. Wainwright nunca tinha me deixado encostar: um almoxarifado nos fundos, a área atrás do balcão, seu escritório. Para a parte dele, Sr. Wainwright se divertia

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Dick é uma gíria para pênis.


228 movendo vários objetos à sua volta, andando através das paredes, e fazendo vídeos flutuarem na loja de adultos ao lado, espantando as pessoas para sempre do pornô. Apesar do meu recém desenvolvido medo de Realtors 70, eu tive uma herança e tive de por preço na loja. Ele sugeriu queimar tudo e ir buscar o dinheiro do seguro. Enquanto meu desejo destrutivo era tão saudável quanto o da garota do lado, eu não considerei uma opção viável. Eu teria que fechar. Parecia como embrulhar o quarto da Tia Jettie depois de sua morte. Algo importante tinha terminado, e eu fiquei para pegar as peças. Felizmente, Dick e Andrea pareciam ter percebido e de alguma forma acabavam na loja toda noite para me ajudar. Nesta noite em particular, Dick subia nas janelas e colocava uma placa de “A venda pelo dono”. Com Andrea quietamente encaixando livros, eu fui para o apartamento do Sr. Wainwright no andar de cima, algo que eu não fui capaz de fazer desde o funeral. O ar estava seco e cheirava a canela e chá Lipton. Como era de se esperar, o lugar estava uma bagunça. Boas antiguidades estavam cobertas com pilhas de livros no estilo Chapeleiro Maluco71. Praticamente toda superfície que não estava ocupava por livros possuíam porta-retratos. Havia fotos da mãe do Sr. Wainwright, da irmã, do sobrinho, Emery. Havia a foto de uma bela mulher ruiva, que eu presumi que fosse o amor perdido do Sr. Wainwright, Brigid. Havia a foto de um Sr. Wainwright muito jovem no uniforme do Exército, uma dele com um capacete explorando o que parecia ser uma tumba egípcia, e fotos dele embrulhado contra o frio canadense durante sua busca infindável por Sasquatch. A última adição parecia ser uma foto de nossa festa de Natal. Zeb tinha ajustado o timer da câmera para tirar a foto de todo o grupo. Meus olhos estavam fechados, claro, mas todos pareciam muito felizes. Jolene virara aquele sorriso de um milhão de watts para Zeb. Gabriel tinha o braço em volta de mim. Havia duas pequenas esferas onde tia Jettie e vovô Fred tinham estado. Andrea estava encaixada entre Sr. Wainwright e Dick, que tinha os braços jogados em volta dos dois. Sr. Wainwright tinha colocado a foto no criado-mudo ao lado de sua cama de solteiro funda. Era a única foto tirada nos últimos dez anos no apartamento. Eu o senti se materializar atrás de mim. — Foi o melhor momento que eu poderia lembrar em muito tempo — eu o ouvi dizer enquanto colocava de volta a foto no lugar. — Vocês são uma família para mim, uma com a qual eu gostaria de estar mais tempo.

70 71

Espécie de lista telefônica. Personagem de Alice no País das Maravilhas.


229 Eu sorri para ele, mesmo quando ele perguntou. — Como está o empacotamento? Eu vi que Dick colocou a placa de venda. Eu senti as lágrimas borbulhando, ameaçando derramar. Eu secava o nariz enquanto me concentrava em olhar a foto de Natal. — Oh, não querida. Não chore. — Não posso deixar de sentir que estou falhando com você — disse a ele. — Você não me deixou a loja para fechar. Mas eu não sei nada sobre administrar um negócio. Desculpe-me. Eu fui despedida do único real emprego que eu tive. Eu não sei fazer taxas ou cuidar dos negócios dos funcionários. Eu tenho medo de ferrar tudo. — Você não está falhando, Jane — ele disse, batendo as mãos em meus braços. — Ter a loja, ter um propósito, me deu uma razão para levantar toda manhã. Eu sabia que a loja não estava dando muito dinheiro, só o suficiente para me manter. Você está fazendo decisões que eu não pude fazer. — Sr. Wainwright apertou meu ombro, mandando arrepios para minha coluna. — Tudo tem um fim, Jane. Exceto você, claro. — Com isso, ele piscou para mim e desapareceu, me deixando com meus pensamentos. Fui até a escada e olhei para baixo, para dentro da loja, mordendo o lábio e ficando amuada. A loja poderia ter sido algo. Com renovação, novo estoque, um novo plano de negócios, eu poderia virar isso tudo. Se é que a lenta migração de patronos da biblioteca mostrasse que as pessoas iriam à loja se eles precisassem. Além do investimento capital, o problema principal era a organização. Mesmo as pessoas que sabiam o que estavam procurando não encontravam. Caramba, eu trabalhava lá e raramente conseguia achar o que eu precisava. Se eu revisasse as seleções, enfatizasse auto-ajuda e dinâmica familiar, me dirigisse às pessoas que eram recém transformados ou de famílias recém transformadas, tentasse ajudá-los a achar recursos para lidar com as mudanças, isso poderia funcionar. Eu poderia até oferecer a Amigos e Família dos Não-Mortos um lugar para se encontrar, já que o lugar mais comum, um restaurante de comida saudável chamado Nomad’s Bowl, estava prestes a fechar – novamente. Eu poderia colocar uma confortável área de reuniões nos fundos, especialmente se eu comprasse a loja de vídeos adultos do lado e expandisse pela parede. Se eu adicionasse uma extravagante cafeteria e conseguisse uma licença para carregar sangue, as pessoas viriam à loja e realmente ficariam. E aí elas comprariam.


230 Isso significaria vender algumas propriedades de Missy. E contratar uma equipe nova. Uma nova equipe muito empenhada. Talvez eu realmente pudesse contratar alguns funcionários. Eu contrataria pessoas vivas ou vampiros? Talvez Andrea precisasse de um emprego noturno. Recém decidida, eu marchei escada abaixo e disse a Dick e Andrea para parar de encaixotar tudo. — Eu não vou fechar — disse a eles. — Vou manter a loja aberta. Dick sorriu abertamente e arrancou a placa da janela. — Vou colocar isso no lixo. — Dick esteve estranho a noite inteira — disse Andrea enquanto ouvíamos a placa tinir na lata de lixo no beco. — Ele me fez a proposta abertamente. É isso que acontece quando você concorda em ter um encontro com ele? Ele perde o interesse antes mesmo de saírem? — Ainda não acredito que você concordou em sair com ele — eu disse. — Pensei que você estava ficando meio doente com o prazer de rejeitá-lo repetidamente. Eu estava ficando meio doente com o prazer de rejeitá-lo repetidamente. Não podemos continuar jogando? — Eu não sei — disse Andrea, rindo. — Parece que ele cresce em você, como... — Como um fungo — sugeri. — Oh, fica quieta. Você gosta dele, você sabe que gosta. E eu também gosto. Acho que eu só estava procurando uma desculpa para não gostar — ela sorriu para ela mesma. — Sob todo o seu volume e seu charme, Dick é um cara legal. Nós nos viramos para a porta quando a sineta tocou. Era o Adam, ainda usando seu macio uniforme azul da Clínica Veterinária Half-Moon Hollow. Eu sorri para ele, e ele respondeu com um deslumbrante sorriso. — Uau, então é aqui que você trabalha? — ele disse admirado, olhando a bagunça em volta. — Isso é legal, Jane. Muito, muito legal. — Bem, na verdade é minha loja agora. Meu chefe acabou de falecer e ele deixou para mim — eu disse, andando até ele e deixando Andrea confusa no canto. — Isso é legal — ele disse.


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Eu nunca tinha reparado o quanto Adam usava a palavra “legal”. Em vez de oferecer a ele uma enciclopédia, eu disse: — Esta é minha amiga Andrea. Adam nem mesmo percebeu a presença dela. Ele estava totalmente concentrado em mim, olhando para mim do jeito que eu olhava para ele todas as vezes na aula de matemática. Como se ele estivesse tentando decorar cada palavra e gesto, para que ele pudesse repetir em sua cabeça depois. Agora que isso tinha se voltado contra mim, tenho que dizer que isso era irritante. — O que te traz aqui, Adam? — perguntei. Ele encolheu os ombros e chegou perto de mim. — Só queria te ver de novo. Dando-me um olhar confuso, Andrea foi silenciosamente para a porta do escritório. Fosse o cansaço emocional da morte do Sr. Wainwright ou ele estar na loja onde meus amigos podiam vê-lo, parecia errado Adam estar lá. Eu realmente não conseguia ficar nervosa com Gabriel por ter sumido e não ter sido honesto comigo quando eu não fui exatamente honesta sobre o Adam. Eu poderia mentir para mim mesma e dizer que não sabia o que Adam estava esperando. Mas eu podia reconhecer os sinais que ele estava mandando. E eu não fizera nada para desencorajá-lo. Numa abertura como essa, o conto de fada, a neblina de fantasia adolescente havia sumido, e eu vi exatamente quão errada eu tinha sido. Algum instinto me fez recuar cada passo que ele se aproximou de mim. — Você se recuperou da aventura de cuidar de bebês? — ele perguntou, aquele sorriso familiar e morno fazendo covinhas nas bochechas. — É. Nevie pode nunca mais ser a mesma, mas toda criança precisa de algo par conversar na terapia. Então eu sinto que servi para algum propósito — tentei manter meu tom inalterado e amigável, mesmo que eu estivesse encostada no canto. Ele riu, mas sua expressão ficou séria quando perguntou, — Você pensou em mais alguma coisa para passarmos mais tempo juntos? Meu coração afundou um pouco. Eu realmente esperei evitar isso. — Ainda estou vendo Gabriel. Adam xingou. — Mas eu pensei que tínhamos falado sobre isso! Escolhi minhas palavras deliberadamente, naquela voz inalterada que parecia acalmar um bastardo quando estava irritado. Eu acabei soando como uma


232 mulher acalmando uma criancinha. — Você disse que se minha situação mudasse, eu deveria falar com você. Minha situação não mudou. Ainda estou com o Gabriel. — Mas eu pensei que você fosse mudar isso. Pensei que você fosse deixá-lo para que nós... Pensei que estivéssemos construindo algo, Jane, esta tensão entre nós dois. Somos bons um para o outro. Eu posso te fazer feliz. Como aquele beijo na outra noite, aquilo significou alguma coisa. — Foi um beijo no rosto, Adam — eu disse, espantada com quão rápido ele foi do tom normal de voz a este ganido bravo. — Mas significou algo para mim, Jane — ele insistiu, envolvendo os dedos nos meus. — Desculpe-me se você teve uma impressão errada. Não sou o tipo de pessoa que termina com um cara para ficar com outro. Os olhos azuis de Adam brilharam. — Mas é exatamente por isso que você deveria largá-lo. Ele nunca está por perto. Eu estou aqui. Estou bem aqui. Se ele se preocupasse, ele nunca deixaria você sozinha. As palavras de Adam me perfuraram. E o fato de elas provavelmente serem verdade não me deixou mais feliz com ele por ter dito. Estava tudo errado. Não era nada como eu imaginara. Em meus esforços para ir embora, de algum modo Adam tinha manobrado até eu ficar de costas no canto, presa. Com um fervoroso brilho nos olhos, ele afundou as mãos no meu cabelo e puxou minha boca contra a dele. Todos os meus canais emocionais se abriram, inundando minha cabeça de imagens. Adam me beijando na minha cozinha. Adam parado na floricultura, se perguntando que tipo de flores eu iria gostar. Adam sentado perto do telefone, discando meu número, e atendendo antes de tocar. Adam e eu nos falando no funeral. Mas mesmo nessas lembranças frágeis e humanas, eu poderia dizer que Adam não me via de verdade, mas uma versão exagerada de mim. Meus sorrisos eram mais nítidos. Meus olhos brilharam com um brilho viciado. Meus seios eram muito maiores. Experimentalmente, eu flexionei os músculos invisíveis em minha mente, alcançando a lembrança de Adam. As imagens corriam pela minha cabeça, tão rápido que eu não conseguia me prender em nenhuma. Como um trem num jogo infantil, as imagens confusas diminuíram a velocidade até parar. Em Adam, andando na Casa de Funeral Whitlow com a salada em camadas da mãe. Ele se perguntava quanto tempo teria que gastar visitando Bob para satisfazer o compromisso da família com o falecido e se ele seria capaz de pegar a quarta de final do jogo de beisebol quando chegasse em casa. Ele parou seu caminho quando


233 me viu do outro lado da sala com pratos nas mãos. Eu parecia vagamente familiar e definitivamente quente. Havia algo intrigante no meu sorriso, algo aguçado e ligeiramente intimidador. Ele sabia que já tinha me visto pela cidade antes, mas não lembrava meu nome. No fundo da minha mente, onde eu conseguia sentir minhas próprias emoções, isso machucava. Ele não tinha nenhuma ideia de quem eu era. Na lembrança do Adam, ele reconheceu alguma amiga de igreja de sua mãe na visita e bateu em seu braço educadamente. — Olá, Sra. Morse — ele disse, mostrando seu sorriso de vencedor. Adam falou de algumas banalidades sobre a loucura da ocasião e se informou sobre o estado de saúde da Sra. Morse, mesmo ouvindo e fazendo sons simpáticos para disfarçar a ciática, antes de finalmente olhar na minha direção e perguntar: — Aquela garota ali, segurando copos de café? Quem é? Sra. Morse, que era amiga de baralho da minha avó e, em consequência disso, tinha ouvido detalhes de cada estupidez que eu cometi, fez uma cara desagradável. — Aquela é Jane Jameson, amiga de Sherry. Não acredito que ela teve coragem de mostrar a cara aqui. E Ruthie está deixando ela se misturar com pessoas decentes. — Sra. Morse fungou. — Algumas mulheres simplesmente não têm juízo quando algo acontece com seus netos. — Por que está dizendo isso? — Adam perguntou. — Ela é uma... — sra. Morse olhou em volta para ver quem poderia estar ouvindo e baixou a voz até um sussurro. — Vampira. Ela se transformou alguns meses atrás. Os olhos de Adam correram pela sala para o meu rosto. Jameson – aquele nome soava familiar para ele. Ele pensou ter ido à escola com uma Jenny Jameson, uma bela líder de torcida loira que tinha alguns anos a mais que ele. Ela tinha uma irmã chamada Jane. Pense nisso, pensou ele, eu parecia um pouco como uma garota inteligente e desajeitada que costumava observá-lo na aula de matemática. Deus, aquela garota irritava ele, sempre com a mão levantada, às vezes antes de o professor fazer uma pergunta. Mas agora eu parecia bem, e eu era uma vampira, que era bem melhor. Ele sempre se perguntou quão longe ele poderia chegar com uma vampira, sem ser mordido. E se eu mordesse, melhor ainda. Ele cruzou a sala enquanto eu estava de costas e intencionalmente esbarrou em mim. Em sua mente, eu vi meu sorriso embaraçado brilhar, branco e repentino. — A-Adam, oi! — Eu gaguejei. Dentro da cabeça dele, ele se encolheu ao som da minha voz. Isso eu lembrava. Eu era definitivamente a CDF sabe-tudo da turma. E


234 eu me lembrava dele, como a maioria de seus colegas de sala, mesmo que ele não conseguisse lembrar metade dos nomes. Isso podia mesmo dar certo com o avanço dele... Eu me separei dele antes que pudesse ouvir mais. O que era pior que lembranças diretas eram os desejos inconscientes que eu senti filtrando em seu cérebro. Adam queria ser meu animal de estimação. Bem, não meu animal de estimação, necessariamente, mas de qualquer um. Ele queria o jogo de sangue, o sexo perigoso, e possivelmente prejudicial, um bando de fêmeas dominantes. Ele poderia viver sua vida normal todo dia e explorar suas compulsões mais sombrias à noite. Ele queria o que eu poderia dar a ele. Eu me senti vagamente nauseada, olhando fixamente para Adam enquanto ele sorria esperançosamente. Eu concentrei muita energia neste homem. Pensei nele quase constantemente por anos, nunca deixando minha paixão louca por ele, mesmo depois de adulta. E ele nem lembrava meu nome. Esse foi um dos momentos definitivos da vida em que você se sente como se estivesse parada na beira de um abismo escorregadio com halteres amarrados no pescoço. Eu poderia fazer isso. Eu poderia ser uma Marianne. Eu poderia ser impulsiva e ousada, viver o momento. Eu desejei Adam por anos. E eu podia tê-lo, mesmo que por um breve momento. Eu poderia me jogar de ponta-cabeça num pulo sem pensar no futuro ou como isso afetaria as pessoas a minha volta. Eu poderia pensar em mim uma vez. E não seria completamente superficial. Uma parte de mim ainda esperava por algo tão humano e semi-normal como um relacionamento com Adam. Talvez nós pudéssemos fazer dar certo... E aí a parte de Elinor de meu cérebro entrou. Eu perderia Gabriel. Eu perderia sua amizade, sua compaixão, nossas conversas, tudo que eu amava fazer quando passava o tempo com ele. Tudo que eu construí com ele nos últimos meses iriam embora. Eu estaria trocando alguém que tinha salvado uma total estranha por alguém que nem se importava em lembrar o nome da garota que ele conheceu desde o jardim de infância. Adam só estava interessado em mim agora, pois eu era perigosa. E ele era uma espécie de ferramenta. Além disso, Marianne acabou com Coronel Brandon, o cara velho e bonito com um fundo misterioso. E eu já tinha um desses esperando por mim. Se eu o perdesse, seria porque Gabriel me largou, não porque eu arruinei tudo por meu próprio Willoughby. — Você fingiu isso — eu disse, rindo amargamente. — Você fingiu lembrarse de mim no funeral. Tudo o que você sabia era que eu parecia uma ‘CDF irritante


235 da turma’ que sentava atr|s de você na aula de matem|tica. Você não tinha ideia de quem eu era. Você nem se importou em lembrar meu nome. — É, mas aí eu te conheci de novo — Adam protestou. — E eu estou feliz de ter feito isso, porque senão eu teria falhado para nós. — Não existe nós — eu disse, tirando seus dedos do meu braço com um pouco a mais de força de que o necessário. — Aqui estou eu, e aí está você. E você já está indo embora. — Jane? A voz de Dick soou a minha esquerda, dos fundos da loja. Ele olhava sombriamente para Adam, que nem percebera que outra pessoa tinha entrado na sala. — Está tudo bem — eu disse quietamente. Dick voltou ao escritório, para ficar perto de Andrea. Mas ele estava cuidando da gente. Eu não precisava ser psíquica para ver a raiva protetora que ele sentiu contra Adam. — Isso é algum tipo de punição? — Adam perguntou, flexionando os dedos machucados. — Porque eu não notei você quando éramos crianças? Bem, me desculpe. Desculpe-me não ter te visto. Mas as coisas estão diferentes agora. Você está diferente agora, especial. Eu vejo você. Não vejo nada além de você. É loucura. Não consigo parar de pensar em você. — Havia algo especial naquela época, Adam — eu disse severamente, empurrando-o para trás. — Olhe, Jane, me desculpe. Nós podemos dar certo. Adam avançou em minha direção, sua intenção de me beijar novamente queimando em seus olhos. Na melhor voz de persuasão que eu já usei, eu rosnei quando ele se arrastou na minha direção. — Adam, pare! Obedientemente, ele congelou no meio do caminho. E eu não tinha ideia do que falar para ele. Parecia ser contra todos os meus instintos mandá-lo embora, mas eu não queria mais ele perto de mim. Eu não podia ficar terrivelmente brava com ele. Ele não me queria. Ele nem sabia quem eu era. Ele queria alguma imagem de mim, alguma personagem imaginada que não tinha nada a ver comigo e tudo a ver com Adam querer se vangloriar no papel de garoto da cidade em que ele fazia parte. Bem, seus deveres com a própria imagem não eram problema meu.


236 Eu o conduzi; submisso como um cordeiro ao sacrifício, à porta. Eu segurei seus ombros e o forcei a encontrar meu olhar. — Eu quero que você me esqueça. Esqueça que eu sou uma vampira. Esqueça sobre ser fascinado por vampiros e todas as coisas sombrias. Você devia encontrar alguém como você. Eu quero que você encontre uma garota bonita, legal, uma garota que você realmente goste. Não só porque ela é sexy, mas porque você genuinamente gosta da companhia dela. Case-se, tenha muitos bebês, e seja feliz. A negação vacilou pelas feições de Adam. Seus olhos se apertaram, e então se arregalaram. Ele balançou a cabeça ligeiramente. Em um tom distraído e carcomido, ele disse: — Tenho que ir. — Eu sei — balancei a cabeça e abri a porta para ele. Com meu orgulho ferido, não pude evitar sentir que isso era mais do que ele merecia, falar para ele achar alguém com quem seja compatível. Parte de mim lamentou não tê-lo mandado ir para a esquina da Main Street, pelado, e ficar cantando “I’m a Little Teapot. — Tenho que ir — ele repetiu. Hesitou enquanto andava para a porta. — É — eu disse, dando um tapinha no ombro dele, e ele cambaleou para fora. Observei Adam descer a rua cambaleando até seu SUV, se esforçar para tirar as chaves do bolso, e ir embora. E eu lancei um tchau para o meu último desejo mortal.


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Capítulo 18 Não há informação disponível sobre trabalhos internos de um festival de were solteiros. Supõe-se que a teoria de destruição mutuamente assegurada previne discussão dos participantes. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Pelos padrões de Adam, Gabriel era claramente encantador, mesmo quando você leva em consideração um caso de sangue tomado e três mortes relatadas. Agora, bem ciente de quão boa eu tinha sido, eu me lancei nele quando ele bateu na porta aquela noite. E ele prontamente se desembaraçou dos meus braços e me pôs de pé. Merda. — Jane, há algo que você queira me contar? Gabriel tinha aquele ar de “você me decepcionou” no rosto, que me colocou em um autom|tico modo confessional. ― Esqueci de dizer { minha avó que ela vai se casar com um ghoul72. Gabriel me acertou com um olhar murcho. — Jane. — Tá bem, tá bem, eu não esqueci. Eu só não achei um modo de fazer isso ainda. Estava com um monte de coisas na cabeça. O funeral do Sr. Wainwright, a loja… — Vou refazer a pergunta. Gostaria de me dizer por que Dick me ligou para me recomendar que eu fosse { casa de Adam Morrow e, abre aspas, “metesse o pé na bunda dele”, por causa de algo que ele fez na loja? — ele perguntou; os caninos estendidos completamente, os olhos brilhando prateados. — Ou por que você positivamente soltou vapores por outro homem?

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Monstro folclórico associado com cemitérios e que consome carne humana, comumente classificado como morto-vivo.


238 — Estou sentindo um tom indesejado — eu o avisei. — O que eu tenho que fazer para tornar meus sentimentos claros para você, Jane? — ele trovejou. — Você está tentando me enlouquecer de propósito? Vou ter que seguir você pela cidade toda, juntando minhas queixas contra seus vários admiradores? — Que pergunta você quer que eu responda primeiro? — perguntei. — Quero saber quais são seus planos com o Sr. Morrow — ele cuspiu. — Você mesma disse que tinha fantasias com ele quando era mais nova. — Fantasias de estudante — eu o corrigi. — Eu disse “fantasias de estudante”, com ênfase no “estudante”. Não sou uma estudante há muitos anos. A voz de Gabriel ficou macia, respondendo ao meu tom quieto e calmo. — Ele foi o primeiro garoto que você amou, mesmo que não fosse recíproco. — Muito obrigada por colocar desta forma, muito sensível — eu olhei para ele. — E talvez alguma parte de você esteja encorajando as atenções dele — ele disse. — Seja para completar tais fantasias ou para vingar a garota tola e rejeitada que você foi. Eu continuei encarando ele em silêncio, chocada. — Você disse que era tola. Essas são suas palavras, não minhas — disse Gabriel, soando levemente apavorado quando encarou minha expressão nervosa. E de repente, eu estava exausta. Toda a confiança que eu tinha em nosso relacionamento simplesmente evaporou. Isso iria acabar um dia? Eu não podia ter uma conversa normal e calma com meu namorado? Ele nunca ia parar de usar aquela voz de pai decepcionado comigo? Respirei fundo, tentando manter minha voz o mais calma possível. — Achei que tivéssemos colocado um ponto final nesse assunto. Eu não quero estar com mais ninguém, Gabriel. Eu só quero você. Adam fez uma proposta, e eu o fiz saber que eu não queria nada com ele. Sem dizer uma palavra, ele virou nas solas dos sapatos e foi bravo para a porta. Usei minha velocidade sobre-humana para dar a volta nele e me colocar entre ele e a porta. — Não, não. Não. Deixe isso de lado. Deixe que eu cuido disso.


239 Acredite, eu cuidei da situação por mim mesma sem ferrar tudo completamente. Alem do mais, se alguém devia estar fazendo as perguntas aqui, era eu. Você desaparece cada vez que eu me viro, não atende ao telefone, não fica onde diz que vai ficar. Oh. Essa era uma das coisas que eu não planejei dizer alto. A boca de Gabriel estava apertada ao mesmo tempo em que seu rosto ficava cinza. — Não mude de assunto, Jane. Mas a porta estava aberta. E dane-se, eu precisava de respostas. Até Elinor tinha seus limites. Então eu tomei fôlego e escolhi minhas palavras cuidadosamente. — Gabriel, por favor, me diga a verdade. Por onde você esteve nesses últimos meses? Quem é Jeanine? — Isso não é algo que eu possa falar agora. — Então quando? — perguntei. — Por que você não pode me dizer? Por que você não me liga quando está fora da cidade? Qual é o grande segredo? — Não há um grande segredo, Jane. — Olhe, quando nós começamos isso você era enigmático, mas você não mentia para mim. — Eu não estou mentindo! — ele trovejou. Eu levantei as mãos. — Ótimo, editando a completa verdade para aliviar meus sentimentos. A questão é, você está escondendo as coisas de mim. Eu não quero ser essa garota, ok? Eu odeio ter que ficar aqui. Eu só estou tentando entender porque a pessoa que diz que me ama está mentindo para mim. — Não — ele disse, apertando meus ombros. — Confie em mim, não é tão ruim quanto qualquer situação que você já tenha se aproximado. — Então me diga o que está acontecendo para que eu pare de te aborrecer com isso! — Eu... eu não posso — ele disse, finalmente. — Que saco, Gabriel! — gritei, batendo o pé. Infelizmente, o impacto do meu sapato com o assoalho balançou um vaso de porcelana na prateleira alta, fazendo-o quebrar na cabeça de Gabriel.


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Bem, todos têm um pouco de Marianne em si. — Isso foi um acidente — eu o assegurei, me esquivando bem antes de ele cair no chão e fazer um cuco quebrar na minha cabeça. — Ai! Eu o empurrei forte, levando ele para se deitar no sofá da sala. Ele levantou em um estouro e usou sua velocidade sobre-humana para pular pela sala e me jogar no chão. Eu esperneei, esmagando seus dedos com meu salto. Ele berrou, pulando em um pé só e tombando do meu lado. Eu rolei sobre ele, puxando sua camisa enquanto o chamada de nomes sujos e irrepetíveis. Ele pegou meus pulsos, rolando e me segurando no chão. Ele ofegou e irrompeu num largo sorriso. Eu suspirei, dando palmadas no ombro dele. Eu coloquei minha blusa de volta no lugar e lutei para me desvencilhar das pernas dele. — Você está excitado, não está? — Não! — ele insistiu, parecendo ofendido por um momento, até seu rosto impassível quebrar e ele ser forçado a dizer. — Sim, sim, estou. Joguei minha cabeça para trás e resmunguei, balançando vários enfeites da estante com o som da minha frustração. Gabriel pareceu um pouco envergonhado. — Não posso evitar. Você sabe que eu adoro quando você está toda atrapalhada, defensiva e agressiva. — Isso é doentio. Gabriel, não podemos continuar isso. Não podemos resolver nossos problemas com sexo violento e obsceno. Gabriel gemeu, apoiando a testa no meu ombro. — Oh, nós não vamos passar por isso de novo, vamos? Violência e obscenidade funcionam com a gente, Jane. — Bem, isso não é uma maneira saudável de resolver as coisas. Nós precisamos aprender a usar nossas palavras. Eu vou começar. Quem é Jeanine? — Não é o que você pensa, Jane, te prometo. Quando for a hora certa, vou explicar tudo... Zeb irrompeu pela porta, sua cabeça enfaixada com gaze branca. Ele parecia ter acabado de escapar de uma cena de “Um Estranho no Ninho73”. 73

Filme de 1975.


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Eu resmunguei e fiz uso de várias palavras. Palavras obscenas, mas pelo menos eu estava usando alguma. Zeb estava claramente perturbado com a visão de nós dois, enroscados um no outro, mas ele nem insinuou se virar e ir embora. — Ei, Jolene queria que eu entregasse esses guias da festa de casamento, assim com certeza você estará ciente de suas obrigações no dia do nosso casamento. — Zeb, não é uma boa hora — eu disse a ele. Gabriel pareceu grato pela interrupção, mas ele não se importou em se levantar e vestir a camisa de volta. — Podemos falar do chapéu? — ele indicou a gaze com a cabeça, que, só reparei agora, estava manchada com sangue perto da orelha esquerda. — Está tudo bem — ele me garantiu enquanto Gabriel e eu nos desenroscávamos e ficávamos de pé. — Foi só um acidente. — Zeb, você está usando uma tipóia na cabeça — eu disse, inspecionando a bandagem e ganhando uma palmada na mão do noivo impaciente. — Você tirou a venda do olho! Ele suspirou. — Eu estava pescando com a família de Jolene, e o tio Burt lançou a isca para trás... — Você levou um anzol no olho? — eu me encolhi. — Oh, caramba! A minhoca ainda estava nele? Zeb fez uma careta. — Não, mas obrigado pela parte comovente. E notícias de última hora: a sala de emergência usa Super Cola em vez de pontos agora. — Ele sabia que você estava bem atrás dele, e jogou a isca para trás mesmo assim? — É, na verdade, antes de ele fazer isso, ele se inclinou para o Luke e disse “Olha isso” — Zeb murmurou. — Eu estou me cansando desta merda. Jolene não faz nada sobre isso. Eu estou começando a me perguntar… bem, eu só queria que eles parassem de ir atrás da minha cabeça. — Fora tudo isso, o que é que você percebeu te incomodar? Zeb revirou os olhos. — Não, eu percebi que incomoda o fato de Timothy Dalton ter a melhor posição na lista. Qual James Bond você seria?


242 — 007 Marcado para Morrer é muito pouco apreciado — eu fiquei amuada quando Gabriel me lançou um olhar surpreso. — Não sei se posso fazer isso — disse Zeb. — Não sei se posso me juntar com a família dela. Isso nunca vai parar, e ela nunca vai querer se separar deles. Eu simplesmente não entendo por que ela quer ficar perto deles. Ele olhou para mim, e uma camada de lágrimas que ainda não foram derramadas parecia escurecer seus olhos normalmente castanhos. — Jane, não há nada que você queira me contar? — Eu estou meio que fora do meu elemento aqui, Zeb — olhei para Gabriel. — Você pode conversar com ele, por favor? Ter um tipo de conversa de homem para homem? Gabriel limpou a garganta e pousou uma mão fraternal no ombro de Zeb. — Amar os membros da família não direciona os outros a panos quentes. Eu fiz uma cara de namorada brava para ele. Ele suspirou e se aprofundou na sabedoria. — Zeb, você está lidando com um monte de personalidades machoalfa dominantes aqui. Você tem que fazer algo para mostrar a eles que você não é um beta. Você tem que estabelecer dominância. Da próxima vez que os primos estiverem reunidos, vá até o maior e mais forte e o olhe bem em seus olhos. E diga para ele ir buscar algo para você. Use as palavras exatas. “Traga-me um refrigerante” ou “Traga-me uma cadeira.” Se ele hesitar, mantenha o olhar até ele ceder... ou senão ele vai te bater muito. De qualquer jeito, isso vai melhorar o respeito do bando por você. — Eu achei que era isso que você deveria fazer no primeiro dia na cadeia — eu murmurei. — Jolene te ama — disse Gabriel. — Não importa o que aconteça com a família dela, você tem que se concentrar nisso. — Ele lançou um olhar para mim. — E lembre-se que se ela faz coisas que não fazem sentido algum para você, ela pode estar tentando fazer o que é melhor para todos vocês. Eu estreitei os olhos para ele. Ele encolheu os ombros. Zeb estava aplacado com mais conselhos gerais de relacionamento e a promessa que Gabriel serviria como seu guarda-costas vampiro pessoal durante as festividades do casamento. Nós finalmente o empurramos pela porta, e eu me virei para Gabriel.


243 — Eu não acabei com você — eu disse a ele. Ele deu um sorriso preguiçoso. — Bem, isso é bom de ouvir. Eu olhei para ele, e foi como se ele de repente se lembrasse que nós estávamos no meio de uma discussão quando Zeb chegou. — Oh. Eu passei meus dedos nos dele e travei meu olhar nele. — Você quer manter um relacionamento comigo? ― Eu te amo, Jane. Mais do que eu j| amei alguém, eu te amo. Eu sorri com o sentimento quente que se espalhou pelo meu peito com essas palavras. Era como ter um coração batendo novamente. — Então não guarde as coisas de mim. — Só me dê mais um tempinho — ele implorou. — Eu te explico tudo quando for a hora certa. Só espere um pouquinho. Respirei fundo, olhando no fundo dos olhos de Gabriel. Se alguém tivesse provado sua devoção a mim, esse alguém era Gabriel. Mesmo que essa devoção fosse destrutiva, tinha um foco único, e era eu. Mantive seu interesse mesmo quando eu era só um ser humano “irritante”. Ele não levou em consideração meu cérebro ou minha personalidade, algo para conquistar. Ele havia me salvado. Ele havia matado por mim. Ele tinha me amado. E por tudo isso, eu devia a ele um pouco de confiança. — Eu também te amo — eu disse, colocando minhas mãos no rosto dele. Travei meus olhos com os dele, nivelando ele com meu olhar. — Então eu vou esperar. Eu quero que me conte o que está te causando tanta tensão. Talvez eu possa ajudar. Mas eu quero que você faça isso em seu próprio tempo. De qualquer modo, você deve saber que se esse tempo não chegar logo... Ele meneou a cabeça. — Você vai colocar em perigo todos os meus orifícios. Entendo. ― O correto é orifícios ou orifici74? ― perguntei. ― Estou chocado que você não saiba ― ele admitiu.

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Ela pergunta isso porque algumas palavras no plural trocam o s por i, como campus – campi.


244 Faltavam duas semanas até o casamento. Era uma longa noite na loja, e eu tinha desistido de separar as caixas depois de um traumático incidente no qual Dick teve de matar uma aranha enorme para mim. Eu juro que aquela coisa me perseguiu até em cima da cadeira. Quando Dick voltou, eu tive que colocar a caixa da aranha no beco e abri meu arquivo de anotações que Zeb tinha denominado “Operação Gigolô Não-Morto”. — O que você está fazendo? — Dick perguntou, perscrutando sobre meu ombro. — Oh, querida, isso é pior do que eu pensava. Garotas não passam noites de sexta-feira examinando relatórios de autópsia. — Quando foi que você conheceu uma garota normal? — perguntei. — Eu concordo. — Estou investigando o cara que minha avó vai casar. Ele não me parece certo. Ele bebe sangue de porco. De acordo com isso, ele está morto — mostrei a ele o atestado de óbito. — E ele foi casado várias vezes com mulheres que não fizeram passaram do primeiro aniversário de casamento. Ele não está registrado em nenhum banco de dados oficial de não-mortos, mas de acordo com a capela que fez seu enterro, ele foi para o túmulo intacto, então é possível que ele seja um vampiro. — Não seria mais fácil perguntar a ele se ele é um de nós? — Dick perguntou, examinando o relatório do legista de Wilbur. — Eu perguntaria, mas minha avó Ruthie parece estar ativamente me evitando. Ela não vai à casa da minha mãe se souber que estou lá. Ela vê quando eu ligo e não atende. Não me deixa perto de Wilbur, mas eu não sei se é porque ela está tentando esconder algo ou se ela está com medo que eu a complique. Não há endereço legítimo listado para esse cara, e as últimas três casas que ele dividiu com as noivas mortas foram vendidas. Fui ao seu túmulo ver se tinha algo anormal nele. Parecia normal. Eu estava prestes a desenterrá-lo e ver se o caixão estava vazio, porque é assim que os filmes de terror começam. Dick, você está ao menos, me escutando? — Huh — Dick disse, examinando o relatório de óbito de Wilbur. — Desculpe, não. Isso é esquisito. — Esquisito? Ha-ha. Esquisito para nós ou para o nosso território? Dick virou o papel para olhar melhor. — Bem, o enfermeiro que fez a reanimação cardiopulmonar nele, Jay Lemuels, eu conheço ele. É um de nós.


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— Onde podemos encontrar o Jay? — perguntei. Dick checou o relógio velho na parede. — A esta hora da noite, provavelmente na boate Rainn. É um bar de vampiros. Bom sangue, ruim sistema de som. Dick chocalhou as chaves no bolso. — O que você está fazendo? — perguntei. — Nós estamos indo — ele me disse. — A noite é uma criança, nós somos imortais, e há perguntas não respondidas. Se isso não é um caso para duas cervejas e carga de disfarce ridiculamente alta, eu não sei o que é. — Na última vez que eu saí pela cidade com você, eu acabei como suspeita do assassinato do Walter. — Eu estarei lá para ficar de olho em você. — Não sei se isso vai me manter longe de problemas ou vai me meter em problemas com mais eficiência. — Vamos — ele disse. — É a Noite do Karaokê. — Ok, mas você vai ter que cantar uma música de Kenny Rogers em falsete — eu disse, cutucando ele no peito. — Eu canto — disse ele, me passando a jaqueta. — Mas apenas porque minha versão de ’The Gambler” é sugestiva e erótica. — Meu Deus.

***

Nós subimos no transporte surrado de Dick, que cheirava suspeitosamente a corda queimada. Havia dúzias de garrafas de sangue vazias no chão e algo que poderia ter sido jeans Gap falsa. Eu me virei para ele. — Se nós formos parados, vou ter que


246 dizer ao bom policial que eu nunca te vi antes e não tenho ideia de como as caixas de som roubadas vieram parar em seu porta-malas? — Eu não dou desculpas de como eu vivo, só para falar — disse Dick. — Eu, ou simplesmente sou um homem de negócios, ou um servo da oferta e demanda. — Desde que alguém pague pela oferta, você encontra a demanda. Continuamos esta discussão filosófica de espírito empresarial até chegarmos ao estacionamento da boate Rainn. De fora, a boate era indefinível, por não ter janelas ou uma placa. A boate Rainn oferecia tudo-que-os-não-mortospodiam-beber de graça para atrair vampiros, tão simples que o sucesso é garantido. Os humanos eram as vacas de dinheiro que mantinham o lugar. Assim que chegamos à porta, o cheiro conquistador do sangue praticamente me deixou de joelhos. Desespero, medo, provocação. O cheiro acre e velho da necessidade. Era o tipo de lugar que Chris Hansen estava sempre mostrando no Dateline, onde humanos loucos se ofereciam como lanchinhos de meia-noite para vampiros sem dignidade. Estes são basicamente adolescentes que cresceram demais com muita maquiagem, muito couro. Na verdade, eles pareciam completos idiotas se as luzes estivessem acesas. O DJ só tocou dois |lbuns, “The Downward Spiral’ de Nine Inch Nails, e a trilha sonora de Blade. Era impróprio para o cenário, que era parecido com um bordel americano. Papel de parede vermelho com flocos, móveis talhados ornadamente sombrios, sofás de veludo vermelho, desconfortavelmente estilizado. Para ser honesta, parecia River Oaks antes de tia Jettie ter a posse da casa. Além dos candeeiros com bulbo de vidro, as únicas decorações de parede eram pinturas a óleo de figuras históricas que supostamente eram vampiros, desde Vlad O Empalador e Elizabeth Bathory a Mercy Brown. — Gabriel nunca te trouxe aqui? — Dick perguntou, reconhecendo minha expressão horrorizada. — Ele provavelmente acha isso blasfemo ou impatriótico ou um desses termos que basicamente significam que ele é um chato com nenhum senso de humor. — Você sabe que não me diverte quando diz uma coisa dessas — eu disse a ele. — Você diz que não está interessado em Andrea e eu sou só uma amiga. Você até mesmo concordou... bem, tolerou a presença de Gabriel. Por que você ainda faz esses comentários sobre ele?


247 Dick meditou por um momento. — Força do hábito. Que diab... — Dick foi interrompido quando um homem pálido e magro com cabelo ondulado mal tingido de preto o assustou — antes de mim — e beijou meus pés. Infelizmente, minhas sandálias estavam um tanto velhas, então eu posso imaginar quão assustador isso deve ter sido. — Uhm, posso te ajudar? — perguntei, finalmente lançando mão de chutá-lo levemente para tirá-lo do meu pé. Ele me observou atentamente. — Você é uma Solitária, não é? Uma Criança da Noite? — Eu não estou exatamente arrasando na cena social, mas eu não me classificaria como solitária. Não é como se eu tivesse um bando de gatos ou algo do tipo. Uma garota igualmente pálida com cabelos prateados e pegajosos e delineador manchado em volta dos olhos, juntou-se ao homem a meus pés. Dick riu silenciosamente, mas disfarçou isso tomando um grande gole de cerveja. — Nós queremos beber da fonte de sua sabedoria — suspirou a loira. — Mostre-nos o caminho — entoou o desengonçado de cabelo preto. — Jason... O de cabelo preto objetou. — Meu nome é Bowan Ravenswood, anciã. — Seu nome é Jason Turner, e nós fomos à escola de Bíblia de Férias juntos — eu puxei meu pé de seu aperto novamente. — Deixe-me... — Tire sua mão, ou será a última vez que você conhecerá o toque de uma mulher. Seu sorriso era fervoroso. — Eu seria feliz de ser iniciado por você. — Jason, vá para casa, ou vou fazer minha mãe ligar para a sua. Fiz uma careta para Dick quando a dupla pálida se retirou. — Você entendeu isso? — perguntei. — Isso é como uma versão vampira da equipe de funcionários de lanchonetes cantando ‘Parabéns para você’?


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Dick pareceu completamente inocente pela primeira vez desde que eu o conheci. — Não, isso foi completamente espontâneo. — Sua falta de malícia me entedia — eu disse, observando como Jason se aproximava de mais uma “Solit|ria” receptiva. Balancei a cabeça. Quando mais um jovem com cara de leite coalhado se aproximou com olhos suplicantes, eu levantei a mão e falei. — Não —― tomei um longo gole da minha bebida e fechei os olhos. Percebendo mágoa feminina, o bartender, um moreno alto com olhos castanhos bem delineados e uma cruz Ankh75 dourada na orelha, repôs minha bebida com um floreio e piscou para mim. — Então, o que te traz aqui hoje, além do karaokê? Dick limpou a garganta, tirando a atenção hesitante do bartender de mim. — Estamos procurando Jay. — Ele ainda te deve dinheiro? — perguntou o moreno. — Não quero nenhum problema, não com tanta gente aqui. — É, mas eu desisti de cobrar isso já faz um tempinho — disse Dick. — Jay tem mais histórias para solucionar que um episódio da Oprah. — Neste caso, ele está bem atrás de você, se aquecendo para o medley de Pat Benatar — disse o bartender, sorrindo para mim. — Pague umas bebidas a eles, e cada vampiro acha que ele é Celine Dion. Eu ri quando Dick se virou e viu um vampiro alto e loiro na máquina de karaokê. Jay quase sorriu, e então percebeu quem ele estava olhando e fugiu. — Vá para a saída dos fundos — Dick disse antes de se arremessar atrás dele pela multidão. — Pare ele se ele der a volta. — O que é isso, Cagney & Lacey76? — perguntei. — Eu não sou Tyne Daly. O bartender encolheu os ombros. — Faça isso lá fora, por favor. Dick pegou Jay antes de ele alcançar a porta da frente, fazendo minha volta em círculos ser desnecessária. 75 76

Cruz que significa imortalidade; é o símbolo da vida. Cagney & Lacey é um seriado policial americano da década de 80, estrelado por Tyne Daly.


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Jay tinha um rosto de anjo, mas aparentemente sem coluna. Queixo forte, nariz romano, lábios carnudos, os olhos azuis mais profundos que eu já vi na vida. E por causa dos paralelos com Adam, eu tive um pequeno desgosto momentâneo por ele. Seus olhos corriam violentamente quando eu me aproximei. — Isso é sobre o dinheiro que eu te devo? Porque eu não sabia onde te encontrar depois que seu trailer pegou fogo. Meu telefone foi cortado por causa de uma confusão com as contas. Meu cachorro ficou doente. Quem é ela? É seu guarda-costas? O que ela vai fazer? Ela vai arrancar meu nariz? Eu te disse cara, não é necessário. Eu consigo o dinheiro para você... — Não, Jay, eu já dei adeus ao dinheiro há muito tempo — disse Dick, olhando para mim. — Jay tem fixação em pessoas arrancando o nariz dele. — Para machucar este rosto? — eu disse. Tanto Jay quanto Dick me lançaram olhares vazios. — Ninguém me entende! — Jane, esse belo infame é o Jay — ele disse, levantando Jay e limpando seus ombros. — Jay, esta é minha amiga Jane. — E aí, como vai? — ele disse, sorrindo com alívio. — Dick me contou tudo sobre você. Nem tente — menti; meu tom de voz um pouco mais indecente do que eu normalmente uso em uma apresentação. Eu não serei cativada por um rosto bonito, eu juro. Não serei cativada por um rosto bonito. — Só porque não estou cobrando não quer dizer que não vou deixá-la te dar um chute no saco — Dick o preveniu. — Ela tem muita raiva reprimida. — Se não é pelo dinheiro, por que estão atrás de mim? — Jay se lamentou. Dick balançou a cabeça para mim, o que aparentemente significava que eu devia perguntar. Acho que eu era Tyne Daly. — Uns anos atrás, você trabalhava na Vila de Retiro Sunnyside... — É, eles me demitiram depois de algumas vigílias perdidas. Dá para acreditar nisso? — ele bufou, indignado. — Não dá mesmo. Na verdade, acho que tem mais a ver com você transformar um dos pacientes em um vampiro.


250 — O quê? — ele chorou. — Por que eu faria isso? Eles estavam meio mortos de qualquer jeito. — Então você não tem ideia de como Wilbur Goosen ainda está andando por aí? Jay me lançou um olhar inocente que eu tenho certeza que faria muitas garotas perderem suas bolsas e/ou suas roupas de baixo. — Não, não mesmo. Dick deu um peteleco na orelha de Jay. — Fale para ela, Jay. — Por que você fica fazendo isso? — perguntei quando Jay berrou. Dick parou de dar petelecos. — Porque isso o irrita. Muito. — Ok, ok, então eu transformei o velho. Nada de errado nisso — Jay insistiu. — Ele até me pagou mil dólares. Ele ia me caçar, cara. Eu precisava daquele emprego. Você sabe quantas vagas de enfermeiro noturno há para homens lá fora? Não muitas. As pessoas parecem pensar que não podem confiar em nós perto dos pacientes ou algo do tipo. — Nem posso imaginar por que — eu comentei, minha voz tão seca quanto poeira. — Eu nem dei a ele a dose completa. Só o suficiente para fazê-lo acordar em três dias. Tipo um baseado pela metade. — Então você o transformou mesmo em um ghoul? Que droga, Jay — Dick rosnou. — Você sabe que não devemos fazer isso. — Qual é o problema? — Jay se lamentou. — De qualquer jeito, não é como se ele tivesse sido muito forte. Eu mesma dei petelecos na orelha de Jay. — É, não tem acordo. Ele só esteve matando esposas humanas por mais ou menos quinze anos, mas o que são algumas senhoras? Quero dizer, você conseguiu mil dólares com o acordo, não foi? — O que isso tem a ver com você? — Jay se lamentou. — Eu ouvi falar de você. Você teve sua porção de discussões com o Conselho. — Eu vou ser a neta dele — eu disse, batendo em sua orelha de novo. — Idiota!


251 — Ow! — Jay chorou. — Deixe minhas orelhas em paz. Olhe, eu devia tirar Wilbur de casa antes do coronel chegar lá. Era parte do acordo. Ele não devia ser declarado morto ou deixar rastro de papel. Quero dizer, isso foi antes da “Saída”. Ninguém sabia que nós existíamos. Mas eu nunca tinha feito um vampiro antes. Eu não sabia como isso cansava. Eu fui deitar no meu porta-malas, e quando eu acordei já era de manhã, e o corpo tinha sido removido. Então eu fui à funerária... — Porque você esperava que ele tivesse sido embalsamado e não iria acordar. — Como eu ia saber que a família dele não iria pagar pelo funeral completo? — ele bufou. — Bastardos baratos. — Algumas pessoas — Dick balançou a cabeça de forma lastimável quanto partimos para o carro dele. — Então, estamos quites, certo? — Jay falou. — Não te devo nada, e você não chama o Conselho? Certo? Dick?

***

Exausta e confusa, afundei pela porta da frente em River Oaks e passei pela porta da sala de estar só para escorregar até parar e voltar de costas. Não, os olhos não mentem. Sr. Wainwright e Tia Jettie. Se beijando. — Que diab…? — eles se separaram em um pulo. — O que está acontecendo? Vocês estavam se beijando? — Não! — tia Jettie chorou. — Sim! — Sr. Wainwright admitiu. — Oh, vamos. Sair com vovô Fred não era suficiente, agora você mudou para o meu avô substituto? Espere, e o vovô Fred? Ele sabe? — Sim — disse tia Jettie, a leve insinuação de cor escorregando para suas bochechas translúcidas. — Ele estava muito chateado sobre isso. Ele e todos os seus outros avôs se recusam a falar comigo. Isso me separou de quase metade das pessoas mortas na cidade. Eu a encarei. — Então, vocês estavam se escondendo para ficar juntos.


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— Nós não queríamos te chatear nem te deixar preocupada — disse Sr. Wainwright. — Nós estamos apaixonados. — Oh, aham, quero dizer, estou feliz por vocês, mas isto é muito para absorver. Nós vamos lidar com isso depois, ok? Depois de eu dormir um pouco. Eu amo vocês, os dois. Mas, por tudo de bom e decente, fiquem invisíveis ou algo do tipo quando fizerem isso.


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Capítulo 19 Apesar de os clãs were darem especial ênfase à liderança masculina, é importante lembrar de mostrar respeito adequado às mulheres mais velhas do clã. Elas não perdem seus dentes até bem perto dos seus 90 anos. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Eu não sabia se ou como eu iria abordar vovó Ruthie com as informações de Jay acerca de Wilbur. Felizmente, essa decisão foi tomada das minhas mãos quando eu acordei algumas noites atrás para encontrá-la na minha sala. Com Wilbur. E os meus pais. E a minha irmã. Eu acho que não deveria ter ficado surpreendida. Não importa quantas vezes eu trocasse as fechaduras, vovó Ruthie sempre arranjava maneira de entrar. Sendo River Oaks seu lar ancestral, ela sentia que tinha o direito de ir e vir quando quisesse. Eu considerei uma cerca elétrica, mas Jettie disse que iria estragar a estética do imóvel. — O que vocês estão fazendo aqui? — eu perguntei. — Bem, eu pensei que como você não tem conseguido ir jantar ultimamente, nós traríamos o jantar a você. Eu vou só colocar isto no forno para mantê-lo quente — mamãe bateu suas mãos em seu entusiasmo de "assado em movimento". Ela ama ter a sua comida em turnê. — Eu queria dar a você e sua irmã tempo para se falarem. — Mamãe sussurrou-me enquanto se apressava para a cozinha. — Eu acho que ela está pronta para pedir-lhe desculpas. — Não poderia tê-la parado, huh? — murmurei para o meu pai. Ele balançou a cabeça tristemente. — Eu tentei. Eu realmente tentei. — Porque eu não deveria ser capaz de vir ver minha neta? — vovó Ruthie fungou, acariciando uma pastora de porcelana que Jettie tinha amado. — Além disso, eu cresci nesta casa. As portas de River Oaks nunca estão fechadas para um Early. Tia Jettie, que apareceu atrás da avó Ruthie, revirou os olhos.


254 — Elas estarão se eu conseguir aquela cerca elétrica — murmurei. Os lacrimejantes olhos azuis da avó se estreitaram. — O quê? — Nada, vovó — eu disse, me forçando a sentar sem qualquer ruído petulante. — Bem, eu acho que é agradável ver uma grande família se unindo desta maneira — Wilbur disse, ficando confortável no sofá e pegando o controle remoto. — Você tem o Canal Weather77, Janie? — Está perdendo o controle da tua própria casa, querida — tia Jettie disse. — Eu sei. — Bem, você vai nos oferecer algo para beber, ou normalmente deixa os teus hóspedes morrerem de sede? — vovó Ruthie exigiu em um tom que me fez levantar. Cara, ela era boa nisso. — Gostaria de um chá gelado? — perguntei. — Doce, por favor — ela disse. Jettie apareceu ao meu lado enquanto eu esvaziava a garrafa de chá. Para ser honesta, eu apenas a tinha por causa do Zeb e da Jolene, e não tinha ideia de quando tinha sido fabricada. — Coloque laxante. Vai lhe fazer bem. — Não comece — eu a adverti silenciosamente. — Vamos apenas fazer todo mundo sair daqui o mais rápido possível. — O que foi isso, querida? — mamãe perguntou enquanto ela procurava à toa em meus armários por pratos que estivessem suficientemente lavados para os padrões dela. — Nada — eu disse, derramando o chá em um copo apropriado, com limão. Sem laxante. Virei-me para encontrar Jenny de pé atrás de mim, de braços cruzados, maxilar apertado. — Sim?

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É um canal meteorológico de televisão por cabo e por satélite sediado em Atlanta, nos Estados Unidos.


255 Jenny ergueu as mãos. — Bem? — Bem o quê? — Bem, mamãe disse que tinha algo para me dizer — Jenny resmungou. — Ela disse que estava pronta para se desculpar. Eu atirei um olhar arrasador a mamãe. — Bem, isso é engraçado, porque mamãe me disse que você estava pronta para me pedir desculpas. — Porque eu iria te pedir desculpas? — Jenny exigiu. — Eu não sei, por me processar? E sinceramente, eu não acho que meu advogado irá apreciar que você esteja aqui agora. — Chega, meninas — mamãe suspirou. — Eu estou te processando para obter o que eu mereço! — Jenny chorou. — Confia em mim, você não quer o que merece — eu respondi. — Isto é obviamente inútil — Jenny resmungou. — Aproveite o seu jantar, mamãe. — Não, Jenny, não vá — mamãe gritou enquanto Jenny saía da cozinha. — Você tem apenas que ficar e conversar sobre isto. Vovó Ruthie deve ter bloqueado Jenny na sala, porque ela e Wilbur estavam fazendo a minha irmã marchar de volta para a cozinha. — Você não tem que ir, Jenny. Tem todo o direito de estar aqui — vovó lhe disse. — Vai ficar. — Sim, eu tenho certeza de que há coisas muito mais insultuosas que pode me dizer na minha própria casa — peguei uma garrafa de Tipo O Falso da geladeira porque eu sabia que isso iria incomodar Jenny muito mais. — Não é a tua casa — vovó Ruthie fungou. — Ela pertence a todos os Earlies. — Bem, isso é um bocado útil de informação. Eu vou manter vocês em mente na próxima vez que escrever o cheque do imposto sobre a propriedade. Ou o cheque para a nova caldeira. Ou da próxima vez que eu tenha que fazer reparos no telhado.


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Jenny bufou, indignada. — Se é um fardo tão... — Não é um fardo. Eu só estou farta de você e de vovó Ruthie falando como se tivesse simplesmente caído em uma casa maravilhosa que não precisa de manutenção. É preciso tempo, trabalho duro, e dinheiro para manter esta casa. E francamente, eu estou mais preparada para fazer isso do que qualquer um de vocês. — Porque é um vampiro — vovó disse desdenhosamente. — Sim, porque eu sou um vampiro. E sabe, essa foi a primeira vez que realmente disse a palavra que começa com V. Por isso obrigada. — Eu não quero voltar a este assunto novamente — vovó suspirou, afastando as minhas preocupações como insetos zumbindo. — Eu acho que não falamos deste assunto da primeira vez — eu disse. — Você essencialmente tem me ignorado e a qualquer menção de eu ser um vampiro. — Sabe, quando eu era jovem, as pessoas permaneciam mortas. — Lamento muito. Isto deve ser um verdadeiro transtorno para você. — Não seja insolente comigo! — ela gritou. Wilbur abanou o dedo para mim. — Mocinha, você tem que aprender a ter algum respeito para com os mais velhos. — Wilbur, eu não acho que queira se envolver nisto — eu lhe disse. — Vamos todos nos acalmar e falar disto como pessoas racionais — papai disse. — Jane, Jenny, parem com isso. Vocês estão perturbando o seu pai — mamãe disse, torcendo uma das minhas toalhas de cozinha em nós. — Sherry, silêncio. Jenny e Jane deveriam ter tido esta conversa há muito tempo. Eu acho que temos que deixá-las tê-la — papai tentou levar mamãe e vovó para fora da porta em direção à sala, mas vovó não se mexeu. — Não, há coisas que Jane precisa ouvir — insistiu Vovó Ruthie. — Todos vocês a tem mimado por muito tempo e a tem deixado dizer o que quer e fazer o


257 que quer sem consequências. É hora de ela ouvir a verdade sobre como esta família se sente sobre ela se deixar ser transformada em vampira. Nós estamos envergonhados, Jane. O que você se deixou tornar se reflete de forma negativa em todos nós. A cara de papai ficou vermelha, e ele realmente levantou a voz para gritar. — Não ponha palavras na minha boca, Ruthie... — E Jenny estava apenas tentando te mostrar o que vai enfrentar quando sair entre pessoas decentes — vovó fungou. — Pessoas decentes não querem um vampiro vivendo no seu bairro. Você só está fazendo as coisas mais difíceis para si mesma. Eu realmente acho que a melhor coisa a fazer é passar a casa para a Jenny. Ela pode vender a casa dela e dar-lhe algum desse dinheiro para começar de novo. — Ela finalmente perdeu a cabeça — Jettie sussurrou. — Alguém dê um tapa nela. Infernos, lhe dêem um tapa apenas para me entreterem. — Agora, mamãe, não está fazendo sentido nenhum! — mamãe exclamou. — Tem que se sentar e descansar. Não está em si mesma neste momento. — Começar de novo, onde, exatamente? — eu perguntei à vovó Ruthie, a calma gelada na minha voz fazendo a cor fugir das bochechas de mamãe. — Uma grande cidade, como Nova Iorque ou São Francisco, onde vai encontrar mais da sua espécie — ela disse, acariciando a minha mão por cerca de um milésimo de segundo antes de se afastar. — Em outras palavras, uma grande cidade que está a milhares de quilômetros de distância de você e de todos os que você conhece — eu disse no tom mais calmo que eu consegui. — Bem, sim — ela se endireitou, contente de eu estar vendo as coisas à sua maneira finalmente. Wilbur sorriu amplamente, as pontas dos seus caninos espiando minimamente sobre os seus lábios, enquanto ele embrulhava um braço em torno de minha avó. Ele parecia tão malditamente presunçoso que o que vem a seguir simplesmente escorregou para fora: — Sabe que mais, eu não ia fazer isto. Mas como você trouxe toda a coisa da vergonha não-morta, eu acho que deve saber que o seu futuro marido também não está plenamente vivo. — Jane, o que está dizendo? — mamãe perguntou.


258 — Ela está apenas sendo dramática — vovó Ruthie bufou. — Sabe como ela é. — Sim, eu simplesmente invento coisas aleatórias, como, por exemplo, que eu vi Wilbur sair de um bar de vampiros às quatro da manhã. E eu também fiz alguma pesquisa sobre as especiais batidas saudáveis macroscópicas que você tão carinhosamente carrega para ele, cujo ingrediente principal é Sus Scrofa Domesticus. Porco doméstico comum. Você tem transportado por aí sangue de porco na sua preciosa bolsa Aigner. Wilbur não respondeu. Ele apenas olhou para mim como se quisesse me fazer buracos de bala com os seus olhos marrons remelentos. Vovó, porém, voltou-se quatro diferentes tons raiva e parecia estar sem fala. Era bom demais para durar. — Pode ter ido longe demais — tia Jettie murmurou. — Que coisa horrível para se dizer! Por quê? Porque iria dizer tal coisa? — vovó Ruthie chorou. — Você sempre é tão sarcástica e ofensiva quando se trata dos seus avôs falsos. Tão ofensiva, tão crítica. Você acha que eu não ouço os seus pequenos comentários, mas eu ouço. Pode dizer-me porque acha que eu não mereço um pouco de felicidade, um pouco de conforto, nos meus últimos anos? — Você está tendo os seus últimos anos desde que eu estava no ensino médio! — eu gritei. — E eu acho que já teve mais do que a sua cota de felicidade e conforto nos teus últimos anos. — Porque não gosta de Wilbur? — vovó lamentou. — Não é que eu não goste de Wilbur. Eu não o conheço suficientemente bem para não gostar dele. Sem ofensa, Wilbur. Mas há coisas no seu passado que não batem certo, coisas que eu acho que deveria saber antes que se lance para a igreja novamente. Por exemplo, sabe quantas vezes ele já se casou? — Só uma vez, com a namorada do colegial — vovó disse, me dispensando. — Seis vezes — eu a corrigi, e assenti para o seu anel de noivado. — Você pode querer perguntar a si mesma quantas mulheres já usaram esse anel elegante ao longo dos anos. — Você me disse... você... você me disse que tinha sido só uma vez! — vovó Ruthie gritou, olhando para Wilbur e a sua mão esquerda em alternância e horror. — Eu não acho que você possa se dar ao luxo de atirar pedras aqui, Ruthie — papai disse.


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— John! — mamãe chorou. — Isso é tudo o que eu vou dizer! — papai disse, levantando os braços. — Oh, Wilbur foi casado uma vez, quando ainda estava vivo. Veja, ele na verdade morreu em 1993. Mas este ghoul bacharel não deixou que isso o mantivesse em baixo. Mamãe fez tsk tsk tsk. — Então, Jane, eu sei que está chateada, mas isso é uma coisa muito cruel de se dizer. — Não, Jane, não há razão para ser desagradável — disse Jenny distraidamente. Ela tinha empalidecido e estava sentada na mesa da cozinha, correndo os dedos sobre a suave madeira antiga. Ela parecia como se fosse explodir vários pedaços de madeira no meu tapete de pano feito à mão, nada como a dona de casa perfeita que ela é. — Quero dizer, ele é um ghoul real. Ele é um vampiro semi-transformado. Ele é a Splenda78 dos vampiros. Eu não acho que ele vá te machucar só por ser um ghoul. Eu apenas estou dizendo algo por causa da sua história. Eu tenho medo de que se case com ele e algo vá te acontecer — eu disse, percebendo que era a má verdade das palavras que deixaram a minha boca. — Sério? — Nós nem sempre nos demos bem, vovó, mas eu não te desejo mal de verdade. Vovó fungou. — Oh, Janie. O grau de abertura emocional provocou algum tipo de canal na psique de vovó Ruthie. Tive breves lampejos de seus pensamentos, como fotografias antigas pintadas à mão. Ela estava se lembrando de mim como uma menina, em um vestido de linho engomado rosa, pronta para ir à igreja. Entregando-lhe um cartão que eu tinha lhe feito para o seu aniversário. E depois as imagens voltaram para o tempo em que eu deitei o seu anel do casamento número três pela sua eliminação do lixo. A festa desastrosa de chá em que tropecei e derramei o conteúdo de minha xícara 78

Também conhecido como sulcralose, que é uma substância utilizada atualmente como alternativa aos adoçantes artificiais, ela diz aqui que o ghoul é como a sulcralose, não é bem vampiro, ou seja não é açúcar puro, então como é meio vampiro, é meio como um tipo de adoçante.


260 de chá na parte da frente do vestido de domingo da Sra. Neel. Todas as vezes que eu a tinha envergonhado. Todas as vezes que eu a decepcionei. Não era de admirar que eu tenha deixado algo assim me acontecer, ela estava pensando. Era só o clímax de uma vida dedicada a embaraçar a minha família. Se minha mãe a tivesse ouvido, vovó Ruthie pensou, e tivesse me enviado para uma escola reformatória no Novo México, eu agora já estaria casada com um motorista de caminhões de longa distância e já teria desaparecido. — Bem, todo o mundo tem problemas, Jane — vovó disse, dando a Wilbur um longo olhar avaliador. — Mas... mas... ghoul! — eu gaguejei. Wilbur bufou. — Oh, e você é tão nobre. Vampiros andando por aí todos mais poderosos do que nós. Como se vocês não tivessem todas as mesmas fraquezas que nós de meia-raça. Bem, eu tenho novidades para você, mocinha. Na minha época, os vampiros conheciam o seu lugar no mundo, debaixo do solo. Eu acho que é hora de eu te dar um pouco de amor duro. — Está falando sério? — eu perguntei. Wilbur levantou o seu punho como um pugilista de Atlantis City. — Hora de colocar o seu dinheiro onde a sua boca grande e com presas está, Jane. — Eu não vou te bater — eu lhe disse. — Além disso, não tem algumas regras antiquadas sobre bater em garotas? Wilbur me cercou, fazendo movimentos para praticar. — Como eu o vejo, você deixou de ser uma garota há algum tempo atrás. — Assim como a vovó — atirei as minhas mãos para a minha avó. — Além disso, não pode lutar comigo, velho. Não tem força vampírica. — Não, mas eu tenho isto — ele disse, puxando o punho da sua bengala e revelando uma estaca oculta. — Wilbur! — vovó Ruthie chorou. — O que diabos pensa que está fazendo? — Oh, vamos lá, quem é que esconde uma estaca na sua bengala? O que é a seguir? Vai tirar Tchacos79 da tua dentadura? — eu gritei.

79

Arma de madeira com uma corrente no meio.


261 — Wilbur, não se atreva! — vovó gritou. Wilbur voou para mim, uma bola surpreendentemente ágil de fúria geriátrica. Eu consegui agarrar a mão que tinha a estaca e me virar para não aterrissar em cima dele quando caímos no chão. Tanto para a segurança do seu quadril como do meu bem-estar mental. Infelizmente, Wilbur aproveitou e rolou em cima de mim, sua respiração com cheiro de queijo rançoso fazendo os meus olhos lacrimejarem. Eu assisti enquanto presas amareladas e tortas se estenderam dos caninos de Wilbur, uma longa linha de baba se estendendo entre os seus maxilares. Eu pressionei minha cabeça contra o chão de ladrilhos para tentar colocar tanta distância entre nossos rostos quanto possível. Fracamente, eu ouvi meu pai gritando, minha mão chorando, e o baque surdo da minha irmã desmaiando e deslizando para o chão. — Esta é minha família agora, Jane — Wilbur assobiou, suas sobrancelhas espigadas cor pimenta enrugando enquanto ele tentava tirar a estaca da minha mão. — E na minha família, não toleramos bocas petulantes. — Sai de cima de mim, seu velho... louco! — eu grunhi. Levou toda a força nas minhas pernas para chutar para cima e lançá-lo na geladeira. Wilbur caiu em uma pilha, seu pescoço fazendo um estalo doentio quando sua cabeça derrapou pelo azulejo. — Wilbur! — vovó gritou. — Jane! O que você fez? Eu me levantei, estalando minhas próprias vértebras para colocá-las no lugar enquanto minha família olhava com horror o corpo sem vida de Wilbur. O seu choque silencioso era palpável. Mamãe estava chorando em silêncio enquanto tentava freneticamente acordar uma Jenny inconsciente. Papai se aproximou de Wilbur, e depois tropeçou para trás quando os olhos de Wilbur se abriram de repente. — Isso foi totalmente desnecessário, mocinha — rosnou Wilbur, rolando para se pôr de joelhos e estalando o pescoço enquanto seus ossos curavam. Mamãe gritou e tremeu contra as pernas da mesa. Wilbur se levantou e zombou. — Você não tem respeito pelos mais velhos. — Eu acho que a coisa respeitosa a fazer seria simplesmente ficar lá e deixarlhe enfiar uma estaca em mim na minha própria cozinha — eu atirei o punhal de madeira ofensivo para o lixo. — E por falar nisso, duas palavras: pastilha de menta.


262 — Ora, sua pequena... — Wilbur rosnou. — Eu não vou ficar aqui para ser insultado assim. Ruthie, eu te ligo em breve. — Não, Wilbur, não vá! — vovó Ruthie chorou quando Wilbur pisou para fora da porta traseira. Ela se virou para mim, lábios completamente tremendo. — Jane, eu quero que vá se desculpar com Wilbur agora. — O quê? Não! Vovó bateu com o seu pequeno pé e apontou para a porta. — Esse homem vai ser seu avô, Jane. Tem que dar boa impressão. Eu olhei para a vovó. — Está brincando comigo? Eu te digo que ele pode ser o equivalente de Half-Moon Hollow a um Barba Azul, ele me ataca com uma estaca, e você ainda quer casar com ele? Vovó apertou os lábios. — Sabe, Jane, se você não fosse tão exigente, poderia ser você em pé no altar. — Ora, não vamos dizer algo que depois iremos nos arrepender — disse mamãe, que estava se recuperando lentamente da saída abrupta de Wilbur. Jenny, já consciente, ainda parecia um pouco verde. Com uma fungada na minha direção, vovó Ruthie agarrou sua capa da chuva. — Eu não vou colocar os pés nesta casa novamente até que se desculpe com Wilbur e comigo, Jane Enid Jameson. Enquanto a porta se fechava atrás dela eu gritei: — Posso ter isso por escrito? Jenny ficou de pé com as pernas bambas e mancou para a mesa, onde ela cuidadosamente deslizou sua bolsa em seu ombro. — Isto é demais para mim. Eu te ligo mais tarde, mamãe. — Espera, Jenny. Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo. Eu detesto isto. Eu odeio me sentir assim, não ser capaz de falar contigo sobre nada. Olha, tem havido suficientes... coisas emocionais para uma noite. Porque simplesmente não se senta e, você sabe, volte a uma cor normal, e nós iremos... — eu parei quando dei um empurrão na bolsa, no braço de Jenny e ouvi um barulho de tinir. — Que diabos? O que tem aí, Jen? — eu ri quando os olhos de Jenny se arregalaram. Ela agarrou a bolsa, desencadeando uma série de barulhos estridentes. — O que diabos você tem aqui, Jenny? — eu exigi, puxando a bolsa.


263 — Nada que seja da sua conta! — Jenny gritou. — É para uma aula que eu estou tomando. Eu puxei a bolsa para longe dela e olhei dentro, encontrando um conjunto de xícaras de porcelana gravadas com as iniciais de nossa bisavó, uma travessa de prata pesada para tortas, um conjunto esculpido em marfim de escova e pente, e várias peças de renda feitas algures no final de 1900. Estes itens tinham sido mantidos cuidadosamente exibidos em cômodos por toda a casa. O conjunto de escova e pente foi tirado da minha própria penteadeira. Olhei para a minha irmã, meu peito apertado e frio devido ao choque da traição. — Está me roubando? Entrou no meu quarto e me roubou? Tem alguma ideia... quero dizer, até seria de esperar que vovó Ruthie roube de mim, mas você? Eu nunca pensei que iria realmente descer tão baixo. — Não... não é roubar — Jenny gaguejou. — Eu só estou levando coisas que têm valor sentimental para mim. Algumas delas deveriam ser minhas, de qualquer maneira. Vovó Ruthie diz... — Vovó Ruthie não vive aqui. Ela não tem nada a dizer sobre o que sai desta casa e o que não sai. Acabamos de falar sobre isto, Jenny! — Eu mereço parte da herança de minha família! — Jenny gritou. — Você não pode verdadeiramente apreciar tudo o que tem. E não tem filhos a quem passá-las depois. — Oh, pelo amor de Deus. Tem razão, eu não posso passá-las para meus filhos. Mas sabe o que mais? Eu nunca vou morrer, o que significa que estarei sempre perto para cuidar dessas antiguidades preciosas que tanto adora. Significa também, que os teus filhos nunca vão herdá-las. E se alguma coisa acontecer comigo, eu vou deixar tudo para Zeb! — Não iria! — Jenny arfou. — Oh, sim, eu iria — eu ri. — E Zeb nunca usa porta-copos. Jenny gritou. — Mamãe! — Agora, meninas... — Pára de nos chamar de meninas, mamãe. Nós somos mulheres adultas, e nós temos problemas reais e documentados no tribunal — eu disse. — Pode simplesmente aceitar isso e escolher um lado? Diz à Jenny que é errado roubar de mim.


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— Você é que não partilha! — Jenny gritou, socando o meu braço. — Oh, por favor — eu bati no seu ombro e a lancei derrapando na mesa. — Eu vou tratá-las como mulheres adultas quando começarem a agir como mulheres adultas — mamãe disse, sua voz beirando a histeria. — E eu não vou escolher um lado, porque vocês estão ambas sendo ridículas. Agora, beijem-se e façam as pazes ou saiam da minha cozinha. — Na verdade é a minha cozinha — eu lembrei ela antes de me virar para Jenny. — Você, porém, deve sentir-se livre para sair. Já não é mais bem-vinda aqui. Mamãe apertou meu ombro. — Ora, Jane... — O quê? — eu exigi. — Ela tem sorte de eu não chamar a polícia para chutar sua bunda magra. — Oh, vai em frente e tenta — Jenny colocou a sua bolsa, agora vazia no ombro. ― Eu tenho certeza que os policiais teriam simpatia por alguma sanguessuga caloteira. Eles provavelmente me entregariam as chaves da casa. — Jenny — mamãe sussurrou, chocada com a utilização de uma calúnia para não-mortos. — Oh, pára com isso, mamãe. Para de protegê-la. Porque não podemos todos apenas dizê-lo? Jane é um vampiro repugnante e imundo. Ela se deixou ser mordida. Se eu tivesse feito isso, nunca mais falaria comigo novamente, mas como foi a Jane, está tudo bem. Todos nós apenas temos que aceitá-la, agir como se fosse normal. Mas não é normal! — Que tipo de cola tem cheirado? — eu exigi. — O que quer dizer com aceitála? Quando é que você alguma vez... — Cale-se, Jane! — Jenny latiu. — Eu nunca mais quero falar contigo novamente. Eu não te quero perto dos meus meninos. Eu não quero que vá a minha casa. Se eu te vir na rua, eu vou fingir que não te conheço. Mesmo quando as palavras machucaram, eu apertei a mandíbula e abri a porta traseira. — Bem, já deve ter um monte de prática nisso. Jenny marchou para fora em direção ao seu sedan e se atrapalhou com as chaves.


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— Aqui, você esqueceu isso! — eu gritei. Com visão tingida de vermelho, eu peguei a travessa de prata para tortas da mesa e a joguei na janela traseira do carro dela. Ela gritou quando o vidro explodiu, quebrando com uma sinfonia satisfatória de estalos. — É toda sua! Bati a porta da cozinha, estremecendo quando as queimaduras por causa da prata derramaram fumo nas minhas mãos. Vendo as expressões horrorizadas dos meus pais, eu me senti um pouco envergonhada. Eu fiz um meio aceno na direção da porta. — Ela é que começou.


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Capítulo 20 Como todos os casais, casais were irão discutir. Infelizmente para os machos, fêmeas were são muito melhores em esperar por uma desculpa, o que leva a rastejar. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Após muitas excursões de dever de madrinha, não me pareceu que fosse necessário eu assistir aos ensaios de casamento. Eu estava tão, tão errada. Zeb e Jolene iam se casar em uma clareira, a uma distância respeitável da casa, mas muito perto do celeiro. Com luzes de fadas amarradas nas árvores e luminárias na lagoa próxima, a noite tomou uma qualidade acolhedora tipo Senhor dos Anéis... ou talvez fosse Senhor dos Insetos. O lado da noiva estava ansioso para acabar com o ensaio uma vez que isso os colocaria um passo mais perto de comer. O lado do noivo era escasso. Mamãe Ginger aparentemente tinha dito à maioria dos seus parentes que o casamento fora cancelado após Jolene ter sido internada em um hospital para criminosos insanos. A primeira surpresa da noite foi a chegada de Dick com Andrea em seu braço. Ela parecia legal e composta em seu vestido de verão esvoaçante da cor da madrugada, sem dar qualquer sinal de estar sendo mantida como refém ou de estar sendo chantageada. Eu só podia supor que Dick finalmente a tinha encantado até à submissão. Claro, Dick ainda era Dick. Ele usava um smoking vintage falso, impresso em sua camiseta. Mas ele parecia estar em um êxtase feliz enquanto sentava Andrea do lado do noivo e tomou o seu lugar junto do lado da noiva. Eu pisquei para ele. — É bom saber que ocasionalmente o amor... ou o cortejo beirando o assédio incessante e implacável, ganha. Eu presumo que ela venha ao casamento também? — Eu acho que ela está esperando para ver como corre. Ela disse que me diria depois do jantar — Dick disse. Gabriel riu, fazendo Dick considerar suas palavras. — Sabe, soa triste quando eu digo isso assim em voz alta.


267 — Então, é como uma audição de namoro. É Shakespeariano, você se sacrificando no altar da dignidade — eu o assegurei. — Eu já estive com centen... — ele lançou um olhar especulativo para mim. ― Bem, um monte de mulheres. Eu gosto de mulheres. — Obviamente — Gabriel murmurou. — Eu gosto delas. Eu gosto do jeito como se vestem, como cheiram, do som das suas vozes, das suas risadas. Mas se uma mulher não gosta de mim, eu estou bem com isso. Há muito peixe no mar — ele disse. — Eu não sei por que o fato de esta mulher não gostar de mim me deixou louco. — Eu acho que é legal — eu disse. — Eu só queria ser linda e ter um tipo de sangue raro. Então eu poderia tornar os homens meus fantoches. — Eu não sou o fantoche de ninguém — ele rosnou. — Sim, você é — Gabriel riu. Ele gemeu, esfregando uma mão sobre o rosto. — Sim, eu sou. — Estou contente por Andrea estar te dando uma chance. Eu acho que vocês são diferentes o suficiente para que dê certo. Tenho que te dar o discurso de 'Magoa a minha amiga, e vai acordar com o meu pé alojado nas tuas regiões inferiores'? — eu perguntei. — Não — ele prometeu. — Mas eu acho que precisa reformular alguns dos seus discursos. Eles estão começando a soar meio repetitivos. Eu mostrei minha língua para ele. — Não, obrigado, eu estou saindo com uma pessoa — ele zombou. Uma Jolene ligeiramente frenética apareceu e nos organizou em nossa ordem de marcha. Zeb estava calmo, até mesmo feliz, fazendo Jolene rir enquanto a ajudava a descobrir onde iríamos ficar, como seguraríamos nossos braços. (Sério, o agarre no buquê foi um debate de cinco minutos.) Eu esperava que o seu comportamento estranho dos últimos meses tivesse sido só nervosismo e que agora que o casamento estava aí, ele fosse o velho Zeb amável novamente. Mesmo quando o tio Creed, o homem mais velho no clã de Jolene, que havia arranjado o certificado para poder fazer a cerimônia por e-mail, estava prestes a


268 começar a cerimônia, uma minivan enferrujada e azul rolou até à casa principal em uma nuvem de poeira. Uma linha de “uh-oh” se formou entre as sobrancelhas de Jolene. — Hmm, eu não sei quem é. — É Eula com o bolo! — mamãe Ginger gritou alegre. Entre a hostilidade aberta de sua família para com Zeb e mamãe Ginger encontrando falhas em tudo desde a decoração náutica ao fato de que o lugar onde o casamento ao ar livre iria acontecer, tinha o chão de terra, o último nervo de Jolene estava desgastado. Eu apertei seu ombro, lhe disse que ia receber a entrega, e atravessei o quintal o melhor que pude em saltos de três polegadas. Fumo saiu em uma nuvem quando Eula abriu a parte de trás da van. — Onde quer isto? — ela perguntou, sem se incomodar em retirar o cigarro pendendo de seu lábio. — Oh... não — o bolo de Jolene era um exercício de “Credos”. O gelo brilhava gordurosamente, realmente escorrendo essência de gordura pela caixa de fruta de papelão que Eula estava usando para o transportar. Jolene tinha planejado ter cordas daquelas de decoração para bolo em torno da parte inferior de cada camada, o que fazia este bolo parecer como algo feito por crianças com massa de modelar. Em vez das dicas sutis de azul da marinha e azul gelo, tudo estava de um tom azul tipo Monstro das Bolachas que deve ter gasto quase todo o frasco de corante alimentar. As camadas foram montadas em um ângulo de quarenta graus. E a coisa toda cheirava a fumo de tabaco. Jolene atravessou o quintal e estava ao meu lado em um piscar de olhos. — O que há de errado? — Você vai querer... — eu acenei para a van. A mandíbula de Jolene caiu quando ela viu o bolo. — Sim. Eu fiz uma saída rápida, pois o meu apoio como madrinha só chegava a um certo ponto. — O que está acontecendo? — Zeb perguntou enquanto observava Jolene tentando absorver a visão do seu bolo de casamento. Mimi seguiu os gritos agudos de Jolene até à van, onde ela teve uma reação semelhante ao bolo. — Ela pode demorar alguns minutos — eu disse a Zeb.


269 Zeb assistiu enquanto Jolene, Mimi e Eula tinham uma “discussão” bem alta. — Será que eu devo ir... — Jane, querida, porque não fica no lugar dela? — mamãe Ginger sugeriu, para horror de Zeb. — Mamãe, eu não acho que isso... — Você não pode fazer isso! — tio Creed disse. — Nós não podemos ter o ensaio sem a noiva — eu insisti. — Não, não seja boba — mamãe Ginger disse, me empurrando para o lugar ao lado de Zeb. — Assim, vocês parecem muito melhores de qualquer forma! Tal como eu sempre disse, você e Jane são como duas ervilhas em uma vagem. Zeb franziu a testa. Ele estava usando sua expressão de “tentando lembrar alguma coisa”, ou possivelmente a sua expressão de “eu cheiro algo engraçado”. De qualquer maneira, o jeito que ele estava olhando para mim era inquietante. Seus olhos estavam desfocados enquanto ele me olhava, atordoados. — Eu não posso casar com Jolene. Mamãe Ginger deu um grito vitorioso ao mesmo tempo que eu balbuciava. — O quê? Zeb apertou minhas mãos nas suas, apesar de todas as minhas tentativas de libertá-las. — Eu não posso casar com Jolene. Eu não posso viver uma mentira, Jane. Eu não posso ficar com ninguém que não seja você. Uma sinfonia de ofegos e rosnados furiosos varreu a família da noiva. Meus joelhos viraram geléia. Todo mundo estava silencioso e horrorizado, para além do chocado. — Desculpa? — veio de Gabriel. — Não não não não não não. Você e eu nunca nos sentimos assim em relação um ao outro — eu disse na minha voz lenta e deliberada. Eu me virei para Gabriel enquanto Zeb beijava a palma da minha mão. Dick olhou para nós, aparvalhado, sem saber se ria ou, bem, ria. Eu perguntei. — Isto é algum tipo de possessão ou feitiço? Por favor, me diz que isto é um feitiço. Zeb colocou seus braços em volta de mim, olhando nos meus olhos com um nível de carinho apenas visto quando os políticos estão se desculpando publicamente às esposas. — Eu lamento ter deixado isto ir tão longe, Jane. Jolene é uma garota legal, mas eu queria vingar-me de você por passar tanto tempo com


270 Gabriel, por não me amar de volta. Nós temos uma história tão longa juntos, Janie. Amizade e companheirismo, isso é o que vai nos manter felizes para o resto das nossas vidas. Sempre foi você, Janie. Você sempre foi a garota com quem eu quis passar o resto da minha vida. Você sempre foi a garota que eu quis me esperando no final do corredor. Isto tudo estava começando a soar terrivelmente familiar. Mamãe Ginger fez “awww” e exigiu que Floyd se levantasse e usasse a câmera descartável para gravar este belo momento. Jolene, que tinha deixado o “Grande Debate do Bolo” para investigar porque o noivo estava se aconchegando com outra mulher, gritou. — Zeb, querido, o que diabos está fazendo? Lonnie se levantou e olhou para Zeb com os olhos de um predador. — O que está acontecendo aqui? Zeb parecia triste, em pânico, ao ver sua noiva. Ele apertou seus lábios, e em seguida deixou escapar. — Eu não posso fazer isto, Jolene. Eu não posso. Eu não quero te magoar, mas eu não posso ficar contigo. Eu não posso continuar com este casamento. Jolene riu, olhando para mim para se convencer de que tudo isto era uma brincadeira. Eu balancei a cabeça, perplexa. — Zeb, isso não é engraçado. — Não é uma piada. Jolene, eu não posso casar contigo. Tudo isto, é errado. — O que está dizendo? — Jolene exigiu. — Eu te amo! Suor irrompeu na testa de Zeb enquanto ele vomitava as palavras: — Eu não te amo. Jolene soltou um grito estrangulado enquanto se afundava em uma cadeira perto de seu pai. Se olhar pudesse matar, Zeb estaria amarrado aos pés de Lonnie com uma maçã enfiada na boca. Mimi envolveu seus braços em torno da noiva aflita e murmurou sons suaves em seu pescoço. Atrás delas, uma parede de parentes lobisomens indignados e insultados se levantou, encarando a mim e a Zeb com os lábios e dentes arreganhados.


271 — Está fazendo a coisa certa, Zeb — mamãe Ginger arrulhou. — Eu te disse desde o começo, toda esta coisa de casamento foi um erro. Mimi se virou para mamãe Ginger e rosnou. Mas mamãe Ginger estava muito envolvida em seu triunfo para notar. — Vamos sair daqui, Jane — Zeb pegou minha mão e tentou me puxar para longe. As mãos de Gabriel apertaram meus ombros enquanto eu tentava me soltar. A voz de Gabriel era baixa e sem o mínimo vislumbre de bondade. — Vai embora agora, Zeb. Eu não acho que podemos te proteger se disser algo mais. — Eu não tenho certeza se quero fazê-lo — Dick murmurou. — Até eu tenho padrões. Recuando em direção ao carro, Zeb enviou a Jolene um último olhar triste. — Eu sinto muito. Mamãe Ginger e o resto dos Lavelles estavam prontos para ir e dirigindo-se para longe da fazenda em cerca de segundos. Jolene embebeu o ombro de sua mãe com soluços roucos e desesperados. Eu olhei para as primas, que riam por trás de suas mãos, e envolvi um braço em torno da noiva. — Eu não sei o que dizer. Detrás de nós, eu podia ouvir o tio Luke exigindo. — Bem, o que ela esperava? — Luke — o pai de Jolene rosnou. — Não, não, eu já segurei a minha língua por tempo suficiente — Luke disse. — Não está certo a filha do nosso alfa casando fora do clã, casando com um ser humano imundo de dois pés andantes. E agora ele fez exatamente o que todos nós dissemos que ele ia fazer. — Ei, ninguém fala do meu amigo desse jeito! — eu gritei. — Ele está sendo um babaca neste momento, mas ele ainda é meu amigo. — Se você fosse um homem, eu te golpearia até que estivesse cuspindo essas presas para fora pelo lado esquerdo da tua boca — Luke rosnou. — Se você fosse um homem, eu te golpearia de volta... ei! — eu me desviei quando ele me tentou dar um tapa.


272 Sem preâmbulo, corpos peludos voaram para mim de todos os lados. Várias tias e primos de Jolene, em forma de lobo, saltaram nas costas do tio dela. Não tinha nada a ver comigo pessoalmente. Atacar um convidado em propriedade do clã era outra vergonha para o clã. (Eu precisava começar a fazer uma lista.) A resposta deles revelou vários tios e primos que secretamente concordavam com a posição de Luke e os primos que estavam apenas querendo uma boa luta. Eu me agachei ao lado de um trator, quando vi Lucy, uma das primas e madrinha, que ainda estava em forma humana, pegar uma garrafa de Quinta de Boone e golpear a cabeça de Vance com ela. — Isso é normal? — eu gritei para Gabriel sobre o barulho. — Não é anormal — ele disse. — Cuidado com a cabeça. Me abaixei mesmo a tempo de me desviar de um bomba, explodindo de um plástico da tigela de ponche da tia Vonnie. Voonie, vendo isto, gritou com raiva, se transformou em lobo, e foi atrás do tio infeliz que a tinha jogado. Gabriel e eu nos arrastamos debaixo de uma mesa, onde Dick já tinha arrastado Andrea para uma segurança relativa. — O que nós fazemos? — eu perguntei. — Chamamos a polícia? Pegamos um monte de jornais enrolados? Gabriel cobriu-me contra os estilhaços de uma lâmpada para furacões que tinha sido atirada. — Acha mesmo que adicionar a polícia à mistura vai melhorar a situação? — Bom ponto — eu disse, esquivando-me dos sinos voadores de decoração feitos de papel. — Eu digo que devemos esperar que acabe — ele disse, me entregando um pequeno frasco. — E se Jolene fica com um olho roxo para as fotos do seu casamento? — Andrea perguntou em uma voz ligeiramente perturbada. — Eu acho que quando o noivo sai do ensaio de casamento, a última coisa com que a noiva tem que se preocupar é com fotos bonitas — Dick disse. — Wow — Andrea exclamou maravilhada quando Jolene ergueu um pneu de trator por cima de sua cabeça e o jogou em seu tio Tom.


273 — Bem, ela está em boa forma — eu disse. — E ela tem toda aquela força de lobisomem. Eu só não posso acreditar que Zeb fez isto. Isto não é como ele é. Ele ama Jolene. Ele não tem o tipo de coração que simplesmente para de amar. Gabriel concordou. — É diferente agora, mais forte. É como se seus pensamentos estivessem... filtrados. Alguns não são dele. Percebeu isso? — Eu tento não olhar dentro das cabeças dos meus amigos. Geralmente encontramos coisas que nos aborrecem. — Eu te disse que íamos ter uma noite inesquecível — Dick disse, acotovelando Andrea. — Sim. Eu acho que não vou ser capaz de esquecer isto, não importa quanta medicação me prescrevam — Andrea estremeceu quando ela derrubou um copo de vinho aromatizado à temperatura ambiente. — Cinco dólares em como Papai McClaine derruba Vance com uma enxada de algum tipo — Dick ofereceu em um esforço para aliviar o clima. — Dez em como ele usa as suas presas — Gabriel respondeu. Eu separei o seu aperto de mãos. — Uh-uh, vocês ainda há pouco tempo voltaram a falar um com o outro. Sem apostas. Além disso, não deveríamos ir atrás de Zeb? Depois que a poeira (e a salada de batata) tinha sido limpa, Jolene ficou sentada em uma mesa de piquenique quebrada, em uma clareira vazia. E ela estava nua novamente. Isso não poderia ser higiênico. — Oh, querida — eu a puxei para perto de mim (depois de eu a ter enrolado em uma tolha de mesa). — Eu não entendo o que aconteceu — Jolene fungou. — Tudo estava tão perfeito. — Acha que Zeb poderia estar usando drogas? — eu perguntei. Jolene me encarou. — Ok, não é exatamente algo que encaixa na sua personalidade, mas eu adivinharia muito mais "fumador de droga pesada" do que "idiota que largou o amor da sua vida no altar." — Você acha que eu sou o amor da vida dele?


274 — Claro que acho. Quem mais seria? Eu estou certa como o inferno que não sou eu. O que acha que fez Zeb... o que diabos aconteceu? — Zeb não andou bem durante meses. São pequenas coisas. Mas eu nunca pensei... eu nunca pensei que ele faria algo assim. — Você sabe que todas as coisas que Zeb disse, era apenas conversa louca, certo? Zeb não me ama realmente. Foi como se ele tivesse algum tipo de episódio dissociativo ou começasse a canalizar mamãe Ginger ou algo assim. Talvez ele apenas tenha ficado nervoso. — O Zeb que eu amo não teria ficado nervoso. Ele estava animado por casarmos. Como alguém poderia simplesmente mudar assim? Talvez eu devesse ter casado com o meu primo Vance, como o Tio Luke disse — Jolene empalideceu. — Eu tenho que cancelar tudo. Eu vou ter que ligar para duzentos dos meus familiares para lhes dizer que o casamento foi cancelado. E toda essa comida! E as pequenas fontes. E o iceberg! O que eu vou fazer com um iceberg de isopor de 9 metros? — O que ia fazer com ele depois do casamento? — eu perguntei. Ela olhou para mim através de lágrimas. — Olha, vamos apenas adiar o cancelamento. Toda a comida, as bebidas, vão durar durante dois dias, certo? Você simplesmente tem que se manter forte até o resto da semana. Não tome quaisquer decisões nem faça nenhum anúncio. Dá-me dois dias. Se até domingo eu não tiver um noivo disposto e arrependido, ajoelhado aos seus pés, então eu vou ajudar-lhe a afundar esse maldito iceberg de isopor. Jolene mordeu o lábio. — Ele te ama, Jolene. Ele nunca amou ninguém em toda a sua vida do jeito que ele te ama. — Dois dias — ela concordou. — Agora, eu apenas tenho que impedir a minha família de matá-lo. — Isso ajudaria, sim.


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Capítulo 21 Aquele que contesta um casamento de lobisomens se expõe a sérios danos. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Depois de falar para meia dúzia de lobisomens machos bravos para não caçarem meu melhor amigo como predadores raivosos, dirigi até a casa dos Lavelles e parei na entrada de carros. Eu tinha que falar com mamãe Ginger. Encorajada pelo seu sucesso na intromissão, ela estaria impossível de lidar. Eu seria sortuda se eu não acabasse sendo acertada com um dardo tranqüilizante e transportada para uma capela em Las Vegas. Eu a encontrei sentada na varanda em um velho sofá embolorado, roendo as unhas. Mamãe Ginger nunca roia as unhas. Ela dizia que as mãos eram a janela da frente da “loja” de uma garota, e você não poderia atrair um homem com uma janela da frente desarrumada. — Mamãe Ginger? — ela se virou, e eu vi verdadeiros rastros de lágrimas nas bochechas. Ela parecia muito pequena e vazia, com um rosto limpo e exposto e o cabelo preso em um rabo de cavalo. — Oh, Janie, você veio ver o Zeb? — Não, na verdade, mamãe Ginger. Vim ver você. — Bem, para que mais? Querida, meu garoto já disse tudo que precisava dizer — ela fungou e me deu um sorriso cansado. — Vocês dois precisam conversar, juntar as cabeças. Nós temos um casamento para planejar. — Não, mamãe Ginger, primeiramente precisamos falar sobre por que Zeb disse aquelas coisas. As coisas soaram horríveis como as coisas que você tem


276 falado. Eu não sei o que você fez ao Zeb para fazê-lo fazer isso, mas você precisa me contar. Porque o que quer que você tenha feito arruinou as vidas de Zeb e Jolene. — Não é verdade! — mamãe Ginger chorou, a voz falhando. Eu peguei seu queixo e a forcei a olhar nos meus olhos. Eu não queria ter que usar a voz persuasiva com ela, mas eu teria que usar. Finalmente, as lágrimas brotaram nos cantos dos olhos, e ela sussurrou. — Zeb está enrolado na cama, praticamente em um maldito coma. Ele se recusa a dizer uma palavra. — O cérebro dele provavelmente entrou em choque. Você não pode mexer com o subconsciente de alguém, induzi-los a fazerem coisas que são fundamentalmente opostas aos seus desejos do coração, e não esperar ter efeitos secundários. Ela se lamentou. — Não era para ser assim. Ele não devia ser tão... uma mãe sabe quando seu filho está sofrendo, Jane. E ele está tão infeliz. E eu fiz isso. Nos anos que eu conheço ela, mamãe Ginger nunca expressara remorso. Uma mudança no coração tão dramática assim poderia tê-la matado. Eu encontrei um pequeno conforto nisso. — Nunca quis fazer mal algum — ela choramingou. — Eu só estava me certificando que Zeb estava feliz. — Mas ele estava feliz, com Jolene. Ela o fazia muito feliz. E você pode consertar isso. Você só precisa me contar o que você fez para Zeb dizer todas essas coisas. — Mas ele quer você, Jane. Você o ouviu. Ele quer ficar com você. — Não, ele não quer. Eu sei que você quer que ele me queira. Nós duas sabemos o que ele realmente quer. — Mas eu perdi tanto tempo... — Você gastou muito tempo e energia tentando realizar a visão que tinha de nosso futuro. Mas o futuro que você quer, casamento e filhos, não é possível. Não posso ter filhos, mamãe Ginger. Eu sou uma vampira. Branqueando um belo tom de linho cru, mamãe Ginger ofegou e deu uma palmada na garganta. — Mas você é tão, tão...


277 — Normal? Sim, mas também sou uma criatura noturna chupadora de sangue. — Não posso acreditar. Você só está dizendo isso para eu não querer mais que você case com Zeb! — ela chorou, cambaleando para trás e tropeçando na cadeira de tecido. — Bem, você não está errada, mas ainda é verdade — eu estiquei a mão para ajudá-la a se levantar. — Eu sou uma vampira. Já faz quase um ano agora. E você não percebeu porque você tende a não prestar atenção quando as pessoas evoluem ou mudam. Zeb e eu não somos mais as crianças de seis anos que brincavam em casa. Não sou perigosa. Não para o Zeb e nem para você. Mas o lado bom é que enquanto eu não nunca, jamais, poderei te dar um neto, Jolene pode ter todas as crianças que ela e Zeb quiserem. Na verdade, há todas as chances de eles terem uma grande família. — Netos? — ela suspirou. — É, netos... bonitos, fortes e provavelmente muito atléticos. Mas antes temos que ajudar Zeb para que ele possa pedir desculpas a Jolene, profusamente, e se casarem. Mamãe Ginger suspirou, torcendo um lenço de papel em forma de tornado. — Levei Zeb à Madame Zelda e disse a ele que era para dor de cabeça. Era um alívio de stress, disse a ele. Madame Zelda poderia usar hipnose e imagens sugestivas para colocá-lo num estado mental melhor. Todas as vezes que ele disse a Jolene que ia fazer uns trabalhos domésticos, eu estava levando ele na Zelda. Ela passou semanas plantando pensamentos na cabeça dele. Coisas ruins sobre Jolene. Coisas boas sobre você. Eu a fiz dizer a ele que você era a única garota com quem ele poderia se casar, que você era a única garota que faria ele feliz. Que ele deveria ser mais agressivo com você e fazer você saber como ele se sente. Zelda corrigiu isso então cada vez que Zeb ouvia você falar a palavra “casamento”, ele faria algo para machucar os sentimentos de Jolene ou dar em cima de você. E ele não se lembraria de ter feito isso depois. Na minha cabeça, eu corria pelas conversas que tinham precedido o comportamento bizarro de Zeb. Em todas elas, nós estivemos falando sobre o casamento de alguma forma. Considerando que estávamos planejando o casamento de Zeb, isso era natural, inevitável. Mamãe Ginger tinha montado um campo minado para a gente. — O que te faz pensar que você tem o direito de fazer isso, mamãe Ginger? Você tem ideia da loucura que é isso?


278 — Eu só queria que todos fossem felizes! — ela gritou. — Nós nem tínhamos certeza de que estava funcionando, porque Zeb estava sendo muito resistente. Mas ele continuava voltando. Zelda fez com que ele não lembrasse nada exceto os pensamentos que ela colocava em seu cérebro. Não podíamos simplesmente o fazer dar um pé na bunda dela. — Porque no coração e na cabeça dele, ele ama Jolene — eu disse a ela. — Ele foi grosso com ela algumas vezes, disse algumas coisas que realmente magoaram. Ele me deu um tapa na bunda na frente do meu namorado vampiro, que o pôs em sério perigo... ah, é, Gabriel e Dick são vampiros também. Mas Jolene o ama muito, ela o perdoou por tudo isso. Então você tinha que fazer algo maior. Mamãe Ginger corou e limpou a máscara da bochecha. — Zelda fez com que ele dissesse a Jolene que ele não queria casar com ela, sempre que ouvia alguém dizer “ervilhas na vagem”. Ele repetiria todas as coisas que estivemos plantando em sua cabeça. — Bem, se existe uma palavra gatilho, tem de existir uma palavra de liberação, certo? Qual é? Mamãe Ginger corou. — Ela não me contou. Eu só paguei metade adiantada. Ela não ia me dar a palavra de liberação até eu pagar o restante. — Eu a encarei. Ela encolheu os ombros. — Eu queria ter certeza que tinha funcionado. — Bem, pague o resto! — Eu tentei. Ontem mais cedo, eu liguei para ela e disse que queria cancelar isso, que meu filho estava infeliz e que ela tinha que retirar tudo que fez. Eu devo ter usado algumas palavras que ela não gostou. ― Tipo...? Mamãe Ginger fungou. — Louca... velha pateta doida… bruxa dentuça. — Você parou para pensar que talvez não tenha sido uma boa ideia usar suas boas maneiras de telefone com a pessoa que tinha acesso ao subconsciente de seu filho? Mamãe Ginger estava soluçando energicamente agora, o que significava que ela não seria ajuda maior que isso. — Então eu preciso descobrir um psíquico especialista em hipnose e técnicas de controle mental para tentar arrancar informações dela?


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Mamãe Ginger balançou a cabeça lamentavelmente. — Ótimo. Depois de persuadir mamãe Ginger a não mover Zeb ou mexer mais com seu cérebro, segui suas direções molhadas até a loja na “frente do salão” de Madame Zelda na Rua Gaines. Madame Zelda morava em uma casa com pintura verde descascada e uma mão de madeira compensada gigante anunciando leituras de mão por cinco dólares. Toquei a campainha, e depois do som de pés se arrastando lá dentro, fui atendida por uma velhinha enrugada usando um xale roxo de franjinhas, uma longa saia indiana, e um anel de topázio esfumaçado do tamanho de uma maçaneta. Seus olhos estavam extremamente maquiados. E, de repente, meu estranho encontro com Esther Barnes fez sentido. — Oi, Sra. Barnes — eu disse, sorrindo graciosamente. — Sou Madame Zelda — disse Esther com um sotaque profundo da Transilvânia e obviamente falso enquanto me conduzia para o salão. Sua casa cheirava a frango frito de ontem e café requentado. Seu “escritório” parecia exatamente como você esperaria que uma psíquica de cinco dólares decoraria: cortinas de pérolas, velas fedidas, tecidos ocupados, e figurinos de anjo assustadores. — Eu não conheço esta Sra. Barnes de quem você fala. Ela gesticulou para eu sentar em uma pequena mesa de chá coberta com um sári, com uma enorme e ridícula bola de cristal no centro. — Engraçado. Você se parece muito com uma senhora que foi na livraria que eu trabalho. Devo estar enganada. — De fato — ela entoou. — Como posso lhe ser útil? — Bem, você esteve ajudando um amigo meu com algumas “dores de cabeça”. — Eu ajudo muitas pessoas — ela disse, os lábios se apertando tanto que eu pude ver o batom carmim cobrindo ainda mais as linhas finas em volta de sua boca. — Bem, este é um caso especial. Veja, ele entrou achando que estava indo para seu tratamento de seis sessões de duzentos dólares e jogo de tarô. E em vez disso, ele acabou com uma lavagem cerebral para pensar que estava apaixonado por alguém que não era sua noiva.


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— Você! — ela rugiu, o veneno em sua voz matando o sotaque falso, deixando sua voz fina, parecendo uma gaita mais uma vez. — Você é aquela “Jane” que ela não parava de falar. Se eu tivesse que ouvir mais uma vez quão maravilhosa você era, quantos bebês lindos vocês teriam, eu iria vomitar. Espere, espere! — repentinamente, ela desatou em risos. Cuidadosamente secando seus olhos, ela piou. — Ginger não sabe que você é uma vampira, sabe? — Não até recentemente. — Oh, isso é impagável! — ela chorou. — Todo este tempo, ela estava tramando para tirar o filho de uma garota perfeitamente boa e entregá-lo a uma vampira! Oh, você fez meu dia. — Bem, eu faço o que posso — eu disse de modo monótono enquanto ela acendia um longo cigarro marrom. — A questão é: o casamento de Zeb foi arruinado por causa da merda que você pôs na cabeça dele. Tendo alguma experiência na área psíquica, reconheço que você tenha algumas mudanças. Quero dizer, o que quer que você tenha feito comigo na loja, foi comovente. Minhas orelhas ficaram zumbindo por horas. — Um fraco rubor de orgulho se espalhou por suas bochechas enrugadas. — Agora, olhe, mamãe Ginger ainda te deve cem dólares. Eu estou disposta a te pagar quinhentos, assim nós podemos arrumar todo esse negócio sem sentimentos difíceis. Tudo que tem que fazer é desistir do fim do acordo e me entregar a palavra de liberação. Ela crispou os lábios. — Não. — O que você quer dizer com não? — Eu não faria isso por dinheiro nenhum — ela fungou. — Ginger Lavelle me insultou pessoal e profissionalmente. E ela é um grande pé no saco. Eu não quero ter nada a ver com ela. Ela merece o que ela tem. — Ela fixou o olhar em mim, e, com uma voz que reverberou no meu crânio, ela disse. — Agora, vá embora. Felizmente, eu estava preparada para o beijo psíquico, então ao mesmo tempo que seus esforços ferroavam um pouco, eles não faziam muito estrago. Eu balancei a cabeça. Ela pareceu aturdida pela minha reação. — Isso foi grosseria. Eu vim aqui de boa fé. E mamãe Ginger não está sofrendo, mas seu filho sim. Olhe, eu sei que ela é um pé no saco. É parte de seu encanto. E se alguma parte insultada sua tem a necessidade de caçá-la e hipnotizá-la para fazê-la pensar que é uma galinha ou uma nudista ou algo do tipo, eu estarei mais que disposta a olhar


281 para o outro lado. Céus, eu te pago extra para fazer isso. Eu considerarei como um presente de casamento para uma nora profundamente magoada. Eu a deixei de costas para a parede do salão e deixei meus caninos completamente expostos. — Eu não quero te machucar. Mas pelo meu amigo, eu faço o que for preciso para ter essa palavra. Você tem que reconsiderar... ow! Ela alcançara uma mesa lateral e puxou uma cruz de prata grande o suficiente para me fazer fugir com queimaduras. ―—Vampirinha tola, eu vi dentro de você. Você não tem estômago para matar. Você nem consegue se alimentar de humanos sem se torturar por isso. Você não machucaria uma velha senhora como eu. Ofegando e coçando as bolhas que se formavam em meus braços, eu cuspi. — Olhe senhora, tenho vinte e quatro horas para recuperar meu melhor amigo e levá-lo para o altar. Senão, ele nunca vai deixar o quarto de hóspedes dos pais de novo. Eu não subestimaria a profundidade da minha gentileza. E eu trouxe algo com que você não contava. — O que é? — Luvas — deslizei as luvas pretas do meu bolso e arranquei a cruz da mão da velha. — E meu grande e malvado criador mau. Gabriel! Gabriel entrou rapidamente na sala, seguido por Dick, um pouco mais devagar. — Qual é o plano? — Dick perguntou, esfregando as mãos e procurando por objetos de valor no cômodo. — Carnificina? Confusão? Pancadaria? Gabriel sorriu solicitamente e balançou a mão para Esther. Dick virou os olhos. — Droga. — Quê? — perguntei enquanto Dick andava até a velha trêmula. Gabriel riu silenciosamente ao mesmo tempo em que olhava as queimaduras sumindo nos meus braços. — Você nunca se perguntou sobre a natureza do dom vampírico de Dick? — Imaginei que estivesse fugindo de vendedores de enciclopédia ou escapando de algemas.


282 Gabriel sorriu e Dick afagou confortavelmente as mãos brancas como papel de Esther e a conduziu ao sof|. Ele foi buscar um copo d’|gua e voltou para ela enquanto ela se recuperava do “choque” de ter três vampiros estranhos em sua casa. — Dick pode ter o coração de qualquer mulher. Através de uma combinação de ferormônios, persuasão subliminar, e um charme antiquado, ele pode ter qualquer coisa que quiser delas... dinheiro, favores, certas palavras que ajudariam a destravar o cérebro de seu melhor amigo... — Seu poder especial de vampiro é manipulação de namoro? Espere, ele não está fazendo isso com Andrea, está? Porque isso é... estranho. — Não, ele raramente usa isso. Ele odeia se rebaixar a isso, sério. Então, ele fazer isso mostra o quanto ele gosta do Zeb. Usar seu dom não é como praticar esportes para ele. Se é que Dick adora a conquista. — Não sei se consigo ver isso — eu disse, balançando a cabeça com desgosto quando Dick puxou as mãos de Esther em seu peito másculo. Ela já estava arregalando os olhos para ele. — Mantenha Dick longe da minha avó. — Agora, Esther... posso te chamar de Esther, não posso? — Dick deu uma gargalhada, dando à senhora um sorriso atrevido e íntimo. — Parece ser vergonhoso para você se passar por qualquer nome exceto pelos nomes das rainhas mais famosas da história. Quando Esther deu uma risadinha coquete, me senti um tanto mal. — Isso não é certo. — Mas extremamente eficiente — Gabriel admitiu. — E você não tem a culpa de atacar uma cidadã mais velha pesando em sua consciência. Dick acariciou as mãos de Esther enquanto defendia seu caso, seus olhos verdes brilhantes a atraindo para mais perto pelo sofá. — Esther, querida, eu não te culpo por estar furiosa com aquela horrorosa Ginger Lavelle. Ela é uma mulher horrível, e eu pessoalmente não agüento vê-la, mas o filho dela é um bom garoto. Ele não merece esse tipo de mágoa. Agora, você tem um bom coração, Esther. Qualquer um pode ver isso. Você não quer acabar com um amor verdadeiro, quer? Por que você não vai em frente e me dá a palavra? — Eu disse exatamente a mesma coisa — eu me queixei. — Isso nunca vai... ah, vamos lá.


283 Gabriel sorriu afetadamente quando Esther sussurrou as palavras “como ervilhas e cenouras” no ouvido de Dick. Eu bufei. — Por que essa obsessão por ervilhas? Ela me ignorou quando Dick beijou suas duas mãos e suas bochechas. — Estamos quites, certo? — perguntei à irresponsável velha psíquica. — Você não vai voltar em um ano e usar alguma palavra secreta para fazê-lo se divorciar de Jolene e se juntar aos Krishnas ou coisa do tipo. Olá? — Ow, Esther não faria isso, faria? — Dick murmurou. — Dick, eventualmente, seu poder de escravização vai se esgotar — eu o lembrei quietamente. — Eu vi em seu cérebro. Não há nenhuma outra palavra. Esther não gosta muito de trabalho extra, não é, meu bem? — Dick beijou o topo de sua cabeça. — Não — Esther riu. — Me desculpe pelo desentendimento, Jane. Te verei de novo, Dick? — Talvez sim, talvez não — Dick riu. — Oh, por favor, venha — ela adulou. — Volte para me ver. Dick deu um mero sorriso e nos conduziu pela porta. — Bem, aprendi mais sobre você, que está sempre perturbando — eu o abracei com um braço puramente platônico. — Você é um cara muito mau, e espero que esteja sempre do meu lado. Zeb não era o tipo depressivo, então era desconcertante vê-lo num completo estado de Howard Hughes80, escondido no quarto de hóspedes da mãe, também conhecido como área de exibição de Preciosos Momentos. As paredes eram alinhadas com prateleiras onde ficavam figurinos cuidadosamente organizados, perfeitamente preservados em caixas de plástico. Pelo que podiam ver, havia crianças loiras, com grandes pupilas, congeladas para sempre enquanto pulavam na chuva em um belo tom pastel. Amontoado sob uma manta de chenille cor-derosa, Zeb encarava vagamente a parede.

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Essa expressão tem origem no filme “O Aviador”, onde eHoward Hughes se trancou num quarto por semanas sem falar com ninguém, deixou a barba crescer e urinava em garrafas.


284 — Não gosto desse lugar — Dick sussurrou depois de Floyd ter nos deixado entrar na casa e cair pesadamente em sua cadeira de descanso sem comentar nad. Mamãe Ginger tinha ido se deitar. — É como se todos os olhinhos te seguissem pela sala. Este é um lugar ruim. — Bem, ele não chateava antes, mas agora sim — Gabriel fez uma careta enquanto recuava de um anjo de pelúcia Preciosos Momentos que recitava o PaiNosso quando apertado. — Zeb — sussurrei, balançando seu ombro. — Zeb, nós estamos aqui. — Quem vai fazer as honras da casa? — Dick perguntou. — Acho que arrumar o cérebro do noivo é um serviço para um padrinho. — Mas acho que eu deveria fazer isso — Gabriel insistiu. — Eu tenho mais experiência em analisar cérebros humanos. — Soa grosseiro quando você fala assim — eu disse a ele. — E nenhum de nós vai fazer isso. Eu fiz uma ligação no caminho. Ouvimos Floyd abrir a porta da frente e resmungar. Jolene entrou pela porta do quarto. Ignorando o ambiente sinistro, seus olhos brotaram com a visão de seu noivo em um silêncio de pedra. Ela se enrolou nas costas dele e acariciou seus ombros, aconchegando a curva do pescoço dele com o nariz. — Zeb, querido, sou eu. Os braços de Zeb tremeram, mas seu olhar continuou fixo na parede. — Nossos amigos me disseram o que aconteceu, e o que você fez não foi culpa sua. Eu te amo, Zeb. E eu te perdôo. E eu quero que você saia dessa para nós podermos ter nosso casamento. Nós somos como ervilhas e cenouras, Zeb. Nós somos diferentes, mas nós somos um do outro. Você me ouviu? Como ervilhas e cenouras. Como um príncipe de um conto de fadas liberto por um feitiço, Zeb cuidadosamente flexionou os dedos e os fechou em volta da mão de Jolene. Ele respirou fundo e disse. — Eu sinto muito. O braço de Gabriel passou em volta de mim enquanto o casal sentava na cama e se abraçava. — Jolene, me desculpe — Zeb disse, os lábios tremendo. — Foi horrível. Senti-me como um fantoche. Meus lábios se mexiam, mas outra pessoa falava e eu


285 não conseguia parar as coisas que saíam da minha boca. Eu não quis dizer nada daquilo. E depois, eu simplesmente não queria viver sem você... — Shhh — ela deu uma risada, beijando o pescoço de Zeb. — Você pode passar o resto de nossas vidas compensando isso para mim. Para começar, escove os dentes. — Sua família — ele gemeu. — Eles vão me matar desta vez, não vão? Jolene balançou a cabeça. — Mamãe e papai os acalmaram bastante. Vance ainda quer te dar um chute na bunda, mas não acho que isso vá mudar. Eles estão, contudo, bem incomodados com sua mãe, então ela provavelmente deve esperar por uma ducha fria amanhã à noite na recepção. — Você ainda quer se casar comigo? — Eu me casaria com você agora mesmo nesta cama cercada por essas bonequinhas assustadoras, se você me pedisse — ela disse. — Por favor, não peça — Dick implorou. — Eu gostaria de sair daqui. Zeb sorriu para nós e Jolene afagou seu pescoço. — Obrigado, pessoal. Eu sorri. — Para que servem o padrinho e a melhor madrinha de casamento? Mamãe Ginger apareceu na porta, com os olhos tempestuosos e vermelhos. Cansada, tímida e arrependida, ela estava usando seu velho casaco azul, um pacote de lenços molhados no bolso. Jolene se levantou e cruzou o cômodo até ela com passos calculados. — Vai levar muito, muito... muito tempo mesmo para eu te perdoar totalmente por isso. Nós não vamos ter o tipo de relacionamento que nós duas queríamos. Você vai ter que ganhar seu jeito para ser bem-vinda em nossa casa. Mas eu amo seu filho, e eu vou passar o resto da minha vida tentando fazê-lo feliz. Se isso significar nós duas sendo civilizadas, uma com a outra, é o que vamos fazer. Entendeu? Mamãe Ginger balançou a cabeça gentilmente e saiu do caminho de Jolene. Jolene mandou um beijo para Zeb. — Eu te vejo amanhã à noite, querido. Eu serei aquela lá na frente de vestido branco.


286 — Ainda posso ir ao casamento? — mamãe Ginger perguntou em uma triste voz humilde. Zeb pensou e, pela primeira vez em sua vida, falou de modo severo com sua mãe. — Você pode ir, mamãe, mas você vai ser legal. Você vai ser doce como uma torta com Jolene e a família dela. — Mas Zeb... — Doce como uma torta — Zeb repetiu. — Mas eu... — Ginger, cala a boca! — com uma cerveja na mão, Floyd entrou na sala como um furacão, sacudindo o dedo no rosto de mamãe Ginger. — Você falou o suficiente para nós todos esses anos. E eu vou falar um pouco mais. Você vai estar em seu melhor comportamento amanhã. Você vai dizer àquela garota como o vestido dela é bonito. Vai dizer coisas boas sobre a comida, a decoração e tudo que chamar sua atenção. Vai oferecer ajuda no que você puder, até mesmo se isso significar limpar o galinheiro. Você vai pedir desculpas à família de Jolene como tem agido até agora, e você vai fazer o máximo para compensar isso nos próximos anos. Zeb e eu olhamos pasmos para o seu pai por causa do choque. Era a maior quantidade de palavras que nós tínhamos ouvido ele juntar desde que ele deixou um carburador cair no pé em 1989. — Floyd Lavelle, você nunca falou comigo assim em toda a sua vida — mamãe Ginger fungou, seus lábios tremendo. Aparentemente, sua culpa só ficou mais profunda. — Então é hora de começar — Floyd disse. Ele saiu da sala em passos largos depois de dar um tapa na bunda de mamãe Ginger. — Agora, todos fiquem quietos. Estou tentando ver o maldito jogo! Zeb riu. — Vou tomar um banho. Vou me casar amanhã! — Não sei como aceitar isso — mamãe Ginger disse, espremendo um lenço nos dedos. — Bem, eu planejaria engolir um grande pedaço de torta da humildade, mamãe Ginger — eu dei um tapa no braço dela e levei Dick e Gabriel para fora da sala. — Talvez dois.


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Capítulo 22 Uma recepção tradicional de um casamento lobisomem não inclui uma fila para recepção. Elas são desnecessárias uma vez que 90% da lista de convidados é constituída pelos familiares mais próximos do casal feliz. Rituais de Acasalamento e Costumes Amorosos dos Were

Foi um casamento tradicional do Sul. A noiva estava linda, é claro. A cerimônia foi realizada ao ar livre sob a lua cheia. O ar da primavera era quente e suave. As madrinhas estavam vestidas como aquelas bonecas feitas de malha que as pessoas usam para disfarçar rolos de papel higiênico. Jolene tinha escolhido "Mais Perto Meu Deus de Ti", como procissão, porque ela tinha lido que foi isso que a banda tocou no Titanic. Enquanto eu liderava o bando de mulheres vestidas como bolas de fungos, eu levei o meu tempo para procurar rostos conhecidos na multidão. Mamãe Ginger estava na frente, com um vestido de mãe-do-noivo azul completamente apropriado e recatado. Sua aparência ligeiramente deflacionada tinha muito mais a ver com o fato de ela ter passado a maior parte do dia amarrando pequenos laços em torno da âncora de chocolate do que com qualquer falta de entusiasmo da parte dela. Depois de uma severa reprimenda do Casal Alfa, a maioria da família de Jolene estava igualmente mansa e fizeram um grande esforço conjunto para criar o casamento dos sonhos de Jolene. Quando os membros vampiros da festa de casamento chegaram cedo naquela noite, o ar tinha um certo sentimento de "Vamos fazer um show!". As primas de Jolene estavam usando a sua agilidade de lobisomem para pendurar luzes cintilantes e lamparinas em ramos precários. Os tios limparam a bagunça criada durante a briga e montaram o altar. Tio Luke, que estava muito arrependido, passou a tarde ligando um motor de popa ao misterioso iceberg de isopor. E, claro, as tias fizeram o que elas sabem melhor: prepararam um banquete. Havia três mesas de piquenique cheias com cada tipo de animal assado que você possa imaginar, além de panelas, acompanhamentos, e saladas congeladas.


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E em um belo gesto de união familiar, Raylene conseguiu fazer um lindo bolo de casamento azul-gelo de quatro camadas com bonequinhos de Jolene e Zeb no topo de iceberg. E nada no bolo se parecia com um pênis. Era a obra-prima dos bolos de Raylene. Mesmo durante a procissão bastante piegas, a minha super audição de vampiro pegou Zeb dizendo a Gabriel no altar. — Eu sinto a necessidade de mencionar que, bem, eu amo vocês. Mesmo apesar de você ter tornado a minha melhor amiga em uma vampira, Gabriel, você é um cara muito legal. E Dick, eu realmente aprecio o que você fez com aquela senhora velha para descodificar o meu cérebro. Eu lamento ter sido um idiota ultimamente. Gabriel deu um tapa nas costas de Zeb. — Eu não tenho muitos amigos, Zeb. Mas você é, certamente, o melhor entre eles. Os dois homens sorriram um para o outro. Um momento de silêncio passou. Zeb pigarreou. — E, uh, me desculpe por dar um tapa no traseiro de Jane. Isso não vai acontecer novamente. Outro momento de silêncio, um pouco mais desconfortável. — Bem, isto é desconfortável — Dick murmurou. Zeb assentiu. — Sim. Gabriel sorriu quando eu passei o final no corredor e tomei o meu lugar. Fiel à sua palavra, ele estava deslumbrante em roupa formal, um smoking com corte antiquado e uma gravata de nó simples. Eu gostaria de saber a quanto tempo ele tinha o conjunto, mas eu acho que a resposta me aborreceria. A cerimônia foi curta e direto ao ponto, o que pode ter tido algo a ver com o curto período de concentração normal dos lobisomens e uma refeição a caminho. Não houve menção de "Se alguém aqui presente sabe de qualquer impedimento legal", o que não foi de modo algum não intencional. Não houve velas e, felizmente, nenhum solo. O casal feliz marchou ao som de "O Resgate do Titanic," o que foi estranhamente bizarro, considerando a situação. Zeb e Jolene embarcaram no iceberg enquanto um dos primos adolescentes de Jolene foi ao leme. Eles fizeram uma progressão abençoadamente lenta pela lagoa enquanto Zeb ficou atrás de Jolene, esticando os braços de ambos e gritando. — Eu sou o rei do mundo!


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— Eu realmente deveria ter adivinhado — eu disse a Dick enquanto estávamos em par no altar e nos dirigíamos para o corredor. — Eu acho que ninguém poderia ter imaginado aquilo — Dick me disse. Fomos levados diretamente para as mesas de recepção, enquanto Zeb e Jolene saíam do iceberg. O sorriso de Gabriel não podia ser contido quando ele se inclinou sobre a minha mão e a beijou. — Você é uma visão. Estreitei meus olhos para ele. — Como o tipo que você vê depois de uma dose saudável de bebida? — Não, você sabe, meio que parece algo que algumas das garotas mais promíscuas do meu tempo poderiam ter usado — Gabriel disse. — Em que planeta isso é um elogio? — eu exigi enquanto Dick ria. Após um número completamente desnecessário de fotos, eu puxei o casal feliz para um canto e tirei um envelope de um bolso da minha saia. (Ah, sim, o "Folhas e Sonhos" veio com bolsos.) — Eu tenho algo para vocês — eu disse. — Não são seiscentos dólares em tachos e panelas, mas eu acho que vocês vão gostar. — Já fez o suficiente, Janie — Zeb me assegurou. No entanto, eu entreguei o envelope a Jolene. Ela levantou uma sobrancelha para o papel que estava lá dentro. — É uma ação. — Para um pedaço de terra a cerca de metade do caminho entre a casa de Gabriel e a minha, nos cinquenta acres circundantes. Há também um cheque lá dentro para cobrir os custos de construção de uma casa novinha em folha. E isso, combinado com os custos estimados de renovação e retoque da loja, ainda me deixariam com bastante dinheiro, o que era desconcertante. Eu agora sentia a necessidade de realmente fazer algo por mim, mas não fazia ideia do que isso seria. Era como estar refém de um plano de aposentadoria. — Isso é muito doce — Zeb disse. — Mas nós acabamos de sair de uma situação em que nos sentimos obrigados...


290 — Vocês não me devem nada. É um presente. — Nós realmente gostaríamos de fazer o nosso próprio caminho — ele disse. — Tudo bem. Me dá um dólar — eu disse. — O quê? — Apenas me dá um dólar — eu disse. — Eu realmente não pensei em colocar a minha carteira nestas calças — ele disse. Dick revirou os olhos e pegou sua própria carteira, uma réplica igual à de Jules Winnfield em Pulp Fiction. — Nunca te vi tão ansioso para dar dinheiro — Gabriel disse a Dick. — Eu quero entrar — Dick disse. — Tudo o que eu lhes dei foi um desses grelhadores George Foreman. Dick entregou a nota a Zeb, que entregou a mim. Em troca, eu lhe entreguei o envelope. — Aí tem, acabou de adquirir uma parcela da minha terra por um dólar. — Eu não posso... — Zeb — eu disse em um tom de aviso. — Tudo bem, mas eu não posso aceitar o cheque. — Pense nele como um certificado de presente, um certificado de oferta realmente grande — eu lhe disse. Ele começou a protestar. — Pense nele como um certificado de presente, ou eu vou chutar o teu traseiro na sua própria recepção de casamento. — Sinto muito. Eu não posso levar a sério nada do que diz quando está vestida assim — Zeb disse. — Eu acho que devemos fazer o que ela diz — Jolene sussurrou quando eu lhe dei o olhar vampírico abrasador de condenação.


291 — Obrigado, Jane — Zeb disse, me abraçando ferozmente. — Eu amo vocês. Vão, se misturem — eu lhes disse após beijar a bochecha de Jolene. Andrea esgueirou-se ao meu lado para me entregar um copo plástico de champanhe cheio de espumante rosa. — Eu penso que é seguro. Eles não poriam carne aqui, não é? Eu bebi cautelosamente. — Parece que não. Como está indo? — eu perguntei, sinalizando com cabeça para Dick. — É.... ― ela me deu o gesto manual de assim-assim. — Ele está começando a me pressionar, e eu não gosto disso. Porque é que os homens sempre querem a única coisa que eles não podem ter? — Então vocês não estão...? — O quê... não, nós estamos fazendo como coelhos — disse ela, revirando os olhos. — Mas eu não o deixarei beber de mim. — Caramba, eu não preciso dessas imagens na minha cabeça! E não pense nisso quando estiver perto de mim, eu posso ver. Porque não deixa beber ele de você? — Porque seria muito parecido com o trabalho — ela disse. — Como uma massagista que não quer ir para casa e esfregar costas? — eu perguntei. — Sim, exatamente como aquele episódio de Seinfield. — Eu tenho um quadro limitado de referência — eu admiti quando o meu celular tocou no bolso do meu vestido. O identificador de chamadas disse que era a minha mãe. Andrea não estava nem um pouco ofendida quando eu atendi, uma vez que Dick tinha acabado de se aproximar com uma bandeja de petiscos que ele tinha conseguido pegar da mesa de buffet usando suas artimanhas vampíricas. Eu balancei minha cabeça e ri enquanto abria o telefone. Neste ponto, eu estava surpresa de Dick não os estar dando na boca dela. —Eu só queria ver se já tinha ligado para a sua irmã — mamãe disse, novamente dispensando uma saudação.


292 — Não, mas eu tenho feito um extenso inventário do conteúdo de River Oaks e encontrei um número alarmante de itens em falta. A próxima vez que você estiver na casa da Jenny, poderia procurar pelo vidro Depressão, um serviço para café de prata, e alguns leques? Eu preciso saber o que colocar no mandado de busca. Mamãe suspirou do outro lado da linha. — Você não está realmente pensando em ir à polícia, não é? Jane, isso seria tão embaraçoso para a família. Eu suspirei. — Eu não vou chamar a polícia, mamãe. Mas Jenny e vovó devem considerar tudo o que elas têm tirado ao longo dos anos como a sua herança. Essa é a sua parte do legado Early. Eu não quero ouvir mais nada sobre isso. Se Jenny quiser continuar com o processo, ela pode ir em frente. Eu posso pagar um advogado muito melhor agora. — Não pode, por favor... — Não, não posso — eu disse com firmeza enquanto pisava fora do círculo de luz, amor e família. Porque claramente, esse não era o lugar para esta conversa. Além disso, mamãe não estava ciente de que o casamento de Zeb era naquela noite, e eu podia apenas imaginar a tempestade de lágrimas que ocorreria se ela descobrisse que não tinha sido convidada. — Agora, falando da vovó, você teve notícias dela nas últimas 24 horas, ou devemos assumir que Wilbur já casou e enterrou outra mulher? — Na verdade, vovó Ruthie cancelou o casamento. — Por causa de algo que eu disse? — Oh, não, claro que não ― mamãe riu. ― Mas quando você começou a falar sobre quantas esposas Wilbur já teve, isso simplesmente revirou o estômago dela. Então ela percebeu que tinha estado casada quase tantas vezes quanto ele. ― Então ela percebeu que o seu reinado de terror matrimonial deveria acabar? — eu perguntei enquanto Gabriel se aproximava com copos cheios do que poderia ter sido uma versão Boone's Farm de champanhe. Mamãe bufou. — Algo assim. — Isso significa que eu devia contatar as autoridades por causa de Wilbur? — eu perguntei. — Ele aceitou bem a separação?


293 — Oh, não, ela não rompeu com ele. Ela diz que ainda quer namorar com ele — mamãe disse. — Eca! — eu disse. — Ele é um cara morto. Um olhar magoado passou pelo rosto de Gabriel. Eu disse silenciosamente com a boca. — Não é você — e em seguida apontei para o telefone e adicionei. — Wilbur. — Você está morta — mamãe apontou. — Eu sou um tipo diferente de morto. Eu sou um tipo legal de morto. Wilbur é todo sobre cheiro de cemitério e alimentação na base da cadeia alimentar. — Jane, deixa isso para lá. A sua avó é uma mulher adulta. Se ela quer namorar um homem morto, ela pode namorar um homem morto. — Não foi isso que você disse quando eu comecei a namorar com um homem morto — eu resmunguei. — Bem, eu só quero que seja simpática com Wilbur quando o vir no piquenique do Dia do Trabalho. — Eu não tenho que ser simpática com as pessoas que tentam espetar uma estaca em mim. — Jane, é ruim o suficiente que não esteja falando com Jenny. Não cause mais problemas com a tua avó. — Jenny roubou enfeites de mim, e eu parei de falar com ela. O que te faz pensar que eu vou responder melhor a alguém que tentou me estacar com uma bengala? Em uma manobra que teria feito um piloto da NASCAR orgulhoso, mamãe mudou o tema da conversa para mim. — Oh, querida, eu tenho querido te perguntar, você viu Adam Morrow recentemente? A mãe dele estava no salão de beleza hoje. Ela não tem conseguido falar com Adam há mais de um dia. — Não, eu não o vi desde que ele passou lá na loja no outro dia — eu disse. — Ele parecia... — estranho. Perverso. Com necessidade de medicação e terapia de reforço negativo. — Bem.


294 — Bem, se você o vir, diz-lhe para ligar para sua mãe — ela disse. — Não está certo fazer uma mãe se preocupar assim. — Eu direi. Olha, eu realmente tenho que ir, mamãe — eu disse quando o DJ pediu à multidão para limpar a pista para Jolene e Zeb terem a sua primeira dança como marido e mulher. Eu joguei a única desculpa que eu sabia que conseguiria fazer mamãe desligar o telefone. — Eu tenho um encontro hoje à noite. Com Gabriel. — Boa noite! — mamãe chiou, e prontamente desligou. Gabriel e eu observamos com interesse Zeb levar a sua recente esposa para a pista de dança e a introdução de flauta dolorosamente familiar, soou. — Oh, por favor me diz que ela não fez. — O quê? — Gabriel perguntou enquanto o soprano de Celine Dion chiou, "Every night in my dreams... Eu gemi. — Quem escolhe 'My Heart Will Go On, para sua música de primeira dança? — É uma bela canção. — É uma canção sobre pessoas morrendo. Pessoas congeladas morrendo. Não é exatamente o sentimento com que eu quereria começar a minha vida de casada. Mas então, porque eu estou surpreendida? — eu encolhi os ombros. — Ela tem um barco de imitação do Titanic. — O que você preferiria? ― ele bufou. ― Hungry Like the Wolf'81? ― Seria ou brilhante ou brilhantemente brega — eu concordei. — Ela está muito feliz — observou Gabriel. — Ah, não faça isso — eu disse. — Não me faça chorar. Eu assisti como Zeb girou sua esposa através da clareira com graça surpreendente. Jolene estava feliz. Ela tinha todas as coisas que eu queria para mim. Um homem cujo amor não podia ser questionado, ou, se ela podia questionálo, ela não o fez. Um bom controle sob a sua condição especial. Contentamento 81

Tradução literal: Esfomeado como o Lobo.


295 profissional. Pais que a adoravam e aceitavam, mesmo que outros membros da família não o fizessem. Eu olharia para Jolene, aprenderia com ela. Eu me perguntaria, "O que Jolene faria?" como a maioria das pessoas pergunta "O que Oprah faria?" Mesmo que isso significasse não perguntar ao meu namorado sobre a misteriosa e aparentemente desequilibrada Jeanine até que ele estivesse pronto para falar dela. Eu não procuraria problemas no meu relacionamento e nem iria criar problemas onde eles não existiam. Eu confiaria que Gabriel me ama. Mesmo que eu estivesse errada e no fim fosse mordida na bunda da pior forma. Virando-me para o meu namorado não-morto, eu o cutuquei de lado e lhe perguntei. — Vai dançar comigo ou quê? — Porque não pode esperar para ser convidada? — ele murmurou. — Você me conhece? — eu perguntei. ― Porque certamente j| deve ter descoberto isso até agora. Eu sou o contrário... e você ama isso. Ele deu de ombros. — Então, realmente, qual de nós é o demente? — eu perguntei. — A madrinha, o padrinho, e seus acompanhantes irão por favor se juntar ao casal feliz? — o DJ perguntou. — Agora você não tem escolha — eu lhe disse. Dick puxou Andrea para o meio da pista de dança e ofereceu um arco cortês. Andrea parecia vagamente embaraçada, mas riu quando ele a puxou para seus braços. Gabriel e eu fizemos uma entrada menos dramática. — Eu sou uma dançarina terrível — eu lhe disse. — Eu não me importo. ― ele me puxou para uma um passo simples de dança, que a minha graça vampírica mesmo assim não me ajudou a dominar. — Então, eu estive pensando. Eu sorri. — Isso pode ser perigoso.


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— Você ainda não usou a sua liquidação de vitória do jeito que queria. — Não é verdade. Vê como eles estão felizes — eu apontei com a cabeça para Jolene e Zeb. — Eu sei que foi preciso bastante dinheiro para isso. E vai ser preciso um bocado bem maior para começar a loja. — Que é a sua maneira inteligente de dizer que Ophelia te disse exatamente quanto eu recebi — eu lhe dei um sorriso irônico. — Eu não posso comentar — ele disse. — Porque Ophelia é mais assustadora do que você. — Não vou discutir isso. Mas eu vou ter um agradável e saudável ninho de ovos. Não tem que se preocupar comigo. — Bem, ambos sabemos que isso não é verdade. O ponto, a que raramente chegamos de forma não dolorosa, é que eu sei que queria gastar algum do seu dinheiro ilegal em viagens. Olhei-o desconfiada. — O que você fez? ― Nada ainda, mas diga a palavra, e estaremos em um avião. Eu vou manter a minha agenda em aberto. Imaginei que poderíamos começar em Londres e seguir pelo leste. Eu quero estar com você quando vir a Bibliothèque Nationale de France, assediar algum pobre gondoleiro em Veneza com perguntas. Eu vou mesmo à Torre Eiffel se quiser ser prosaica. Onde quiser ir, nós iremos. — Viajar? — eu perguntei. — Por quanto tempo? — Até que se canse de mim. — Quando podemos ir? — eu perguntei. — A partir de agora, se você quiser — ele disse. — Isso é um pouco rápido — eu ri. — Mas eu adoraria ir. Em breve. E nós iremos à Torre Eiffel, obrigada. — Eu sabia — ele disse. — No fundo, você é apenas uma boba sentimental romântica.


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Eu ri novamente, observando Jolene e Zeb circularem na pista. Deus me ajude, eu realmente comecei a ficar emocionada. — Às vezes. — Está chorando? — ele perguntou, levantando o meu queixo. — Não! — Boba romântica sentimental — ele disse novamente limpando as minhas lágrimas. — Eu realmente odeio esta música — eu resmunguei. Ele me girou para fora e me puxou. — Querida, vamos.

...FIM...

A série Jane Jameson continua em:

Nice Girls Don’t Live Forever


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Sobre a autora:


299

"All Creatures of the night get together After Dark"


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