Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FCT-UNESP

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Centro Terapêutico Araki: Proposta Projetual de Espaço de Cura em Presidente Prudente, SP

Francine de Noronha Trevisan



‘‘Não busco ser entendido, busco ser livre’’. Santiago Calatrava



Dedicatória

Aos meus pais, Adriana e Paulo e aos meus irmãos, Heloisa, Cesar Augusto e Olavo amores da minha vida.



Agradecimentos Em primeiro lugar aos meus pais pelo amor incondicional, incentivo, por muitas vezes colocarem minha formação como prioridade e não medirem esforços para meu sucesso, por tornarem possível a realização do sonho de cursar Arquitetura e Urbanismo em uma universidade de qualidade e prestigiada mundialmente. A toda minha família que sempre me apoiou e contribuiu para o meu sucesso. Em segundo lugar a mim por ter conseguido manter o equilíbrio mental durante esse período conturbado que foi o desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação. A esta instituição pública da qual sinto muito orgulho de fazer parte, especialmente ao seu corpo docente que além da competência e dignidade se superam diariamente em batalhas para garantir educação de qualidade em um momento em que a universidade pública é alvo de um processo de desmanche, mas seremos sempre resistência!

A minha orientadora Doutora Carolina Lotufo Bartholomei, pela paciência, suporte e incentivos durante todo o processo para a consolidação do presente trabalho. À Jinx, minha gatinha linda que sempre absorveu minhas energias negativas com abraços nos momentos difíceis. As minhas amigas Julia, Iasmim e Gianna que durante esses anos foram minha família e tornaram minha jornada mais fácil, aos meus amigos de Minas Gerais que sempre estiveram presentes, mesmo que à distância, à Maria Clara, Marcelo, Carol e Yedda que sempre me deram suporte e torceram por mim, à Maria pela paciência e o auxílio. À minha grande amiga Carla Paris que sempre esteve literalmente ao meu lado, aguentando meus momentos mais estressantes e não desistindo de mim. Enm, muito obrigada a todos que estiveram presentes durante esses anos de emoções e momentos maravilhosos!



FRANCINE DE NORONHA TREVISAN

Centro Terapêutico Araki: Proposta Projetual de Espaço de Cura em Presidente Prudente, SP

UNESP - Universidade Estadual Paulista ’’Júlio de Mesquita Filho’’ FCT - Faculdade de Ciências e Tecnologia Campus de Presidente Prudente.

Orientadora: Prof. Dra. Carolina Lotufo Bueno Bartholomei

Presidente Prudente, 2019



RESUMO O presente trabalho visa apresentar um conjunto de informações levantadas sobre como a arquitetura pode auxiliar nos processos de cura e tratamentos utilizando as práticas da medicina alternativa voltadas para a rede pública a m de servir como embasamento para o projeto proposto ao nal do curso de Arquitetura e Urbanismo, na disciplina Trabalho Final de Graduação II. Fo i p o s s í v e l o b s e r v a r v á r i o s problemas e desaos em projetar espaços de cura de qualidade para a saúde pública. Trazendo grandes oportunidades para o projeto. As práticas integrativas e complementares no SUS valorizam recursos e métodos não biomédicos relativos ao processo de saúde e bem-estar, enriquecem estratégias de diagnóstico e prossionais, além de favorecer o pluralismo médico no Brasil.

No nal do século XX e início do século XXI, a mudança no modelo de atenção médica se estabelece, trazendo o foco da assistência para o paciente e não mais para a doença e, à medida que conceitos como promoção da saúde, qualidade de vida, humanização e suporte psicossocial se consolidam, a arquitetura é provocada a indicar soluções para estes novos ambientes hospitalares buscando colocar estes espaços como catalisadores nos processos de cura. O projeto proposto busca apresentar um espaço de vivência, contemplação e conexão com a natureza e o próprio ser, implantando práticas da medicina alternativa disponibilizadas pelo sistema único de saúde, colocando o espaço arquitetônico como coadjuvante nos processos de tratamentos biomédicos.

Palavras-chave: Práticas Integrativas e Complementares; Arquitetura nos espaços de Cura; Instrumento Público de Saúde.



ABSTRACT The present work aims to present a set of information about how architecture can assist in healing processes and treatments using alternative medicine practices directed to the public network in order to serve as a basis for the proposed project at the end of the Architecture and Urbanism course, presented in the Final Graduation Work II subject. It was possible to observe several problems and challenges in designing quality healing spaces for public health. Bringing great opportunities to the project. Integrative and complementary practices in the SUS value non-biomedical resources and methods related to the health and well-being process, enrich diagnostic and professional strategies, as well as favoring medical pluralism in Brazil.

In the late twentieth and early twenty-rst century, the change in the medical care model is established, focusing the care on the patient and no longer on the disease and, as concepts such as health promotion, quality of life, humanization and psychosocial support are consolidated, the architecture is provoked to indicate solutions to these new hospital environments seeking to place these spaces as catalysts in the healing processes. The proposed project seeks to present a living space, contemplation and connection with nature and the human being, implanting practices of alternative medicine made available by the unique health system, placing the architectural space as a coadjuvant in the processes of biomedical treatments.

Keywords : Integrative and Complementary Practices; Architecture in the spaces of Healing; Public Health Instrument.



Índice INTRODUÇÃO

CAP. I CAP. II CAP. III CAP. IV

Contextualização Histórica dos Espaços e Práticas de Cura

A Arquitetura e a Medicina Alternativa

Referências Projetuais: Experiências Nacionais e Internacionais em Bem-estar e Equilíbrio

Centro Terapeutico Araki: Proposta Projetual de Espaço de Cura em Presidente Prudente, SP

REFERÊNCIAS

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Introdução O presente trabalho tem por objetivo estudar as formas de se projetar ambientes de cura, principalmente abrangendo técnicas da medicina alternativa. Assim como discutir a relação entre saúde, doença e o espaço terapêutico e sua ligação com a natureza. Trazendo considerações sobre os novos rumos da arquitetura hospitalar e terapêutica a m de propor um projeto que contemple práticas complementares em um ambiente que se abre de forma convidativa para todo seu entorno, se relacionando de forma harmoniosa na dinâmica do bairro. A área de saúde vem sofrendo mudanças ao longo do tempo em função de novas tecnologias, políticas e práticas de saúde. O papel do ambiente como coadjuvante nos processos de restabelecimento de pacientes tem sido um ponto a se considerar em estudos e pesquisas cientícas.

Que têm apontado para uma considerável inuência desses espaços nos resultados biomédicos. Visto que o conceito de saúde não se restringe à ausência de patologia biológica, mas abrange todo o contexto em que o paciente está inserido; social, físico, econômico, psicológico, cultural, étnico, etc. Com base nessa gama de aspectos a serem considerados, os ambientes terapêuticos vêm sendo repensados a m de atender com qualidade todos os aspectos para que se alcance o bem-estar físico mental dos enfermos. Após análises sobre saúde física e mental no contexto brasileiro, pôde-se observar a crescente demanda por técnicas alternativas de cura que não abrangem apenas sintomas e tratamentos físicos, com uso de medicamentos – tal fator também foi observado no contexto mundial, reexo de uma mudança na forma de pensar contemporânea, visto que o estresse e depressão podem se manifestar de maneira somáticas ou psicológicas no organismo.

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As principais formas físicas tendo o estresse como fator desencadeante são doenças gastrointestinais, cardiovasculares, respiratórias, músculo - esqueléticas, dermatológicas e imunológicas. E entre as consequências psicológicas do estresse excessivo encontram-se doenças como ansiedade difusa ou generalizada, insônia, esquizofrenia, episódios maníacodepressivos e depressão. Tais patologias estão relacionadas direta ou indiretamente às principais causas de mortes no mundo inteiro. A busca por práticas saudáveis cresce cada vez mais, principalmente as práticas milenares orientais, como yoga, reiki, toterapia, meditação, entre outras. Com isso, o Governo Federal lançou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) colocando a disposição pública 29 técnicas da medicina alternativa. Com o crescimento dessa área, vem o papel do arquiteto de repensar e projetar espaços médicos de qualidade para que se

possam englobar tanto as práticas da medicina comum quanto as práticas complementares de uso para diagnóstico e auxílio. Visto que um espaço de qualidade e bem equilibrado no meio em que se situa serve também como um catalisador nos processos de cura e recuperação de patologias físicas e psicológicas. Ou seja, a arquitetura exerce um papel fundamental nos processos de cura, pois toda sua estrutura se reete na experiência do usuário desse ambiente, então cabe ao arquiteto a responsabilidade de criar espaços bem resolvidos e confortáveis para momentos de fragilidade do ser. Vemos desde a antiguidade, o uso de elementos da natureza como base para a qualidade de vida, bem-estar físico, mental e espiritual em várias culturas, podendo citar como exemplo os povos gregos, romanos, egípcios, chineses, entre muitos outros. Na idade média os mosteiros atendem às necessidades de saúde de


grande parte da população, rearmando a religiosidade e o misticismo nos processos de cura. A revolução industrial trouxe consigo a maquinização em todos os setores, inclusive o de saúde. As guerras trouxeram grandes avanços no desenvolvimento de medicamentos e tratamentos biomédicos, devido principalmente às necessidades militares do período. Em vista de tais mudanças no contexto histórico e na forma de se pensar a relação do homem com as patologias, pode-se observar uma crescente procura por retomar ideias antigas ligadas ao entendimento do homem como um ser complexo, a humanização de ambientes terapêuticos vem tomando espaço na arquitetura, a exemplo disso podemos observar os trabalhos de João Figueiras Lima, o Lelé, principalmente nos hospitais da rede Sarah Kubitschek, onde o arquiteto procura acrescentar elementos artísticos e conectar os espaços à natureza buscando leveza e tranquilidade que são reetidas nos

pacientes e suas respostas aos tratamentos que ali são realizados.

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Contextualização Histórica dos Espaços e Práticas de Cura


Ao longo do tempo a população de diversas culturas e etnias utilizam dos elementos a natureza como base para a qualidade de vida, bem-estar e cura física, mental e espiritual. Por isso, entre a Antiguidade e a Idade Média, os cuidados e assistência aos enfermos eram prestados por sacerdotes e representantes de ordens religiosas, ou também por amadores que praticavam “medicina popular”, de acordo com (TOLEDO, 2004, pág. 93). O Antigo Egito e Mesopotâmia tiveram contribuições para o conhecimento cientíco e medicinal, entre os anos de 3000 e 2778 a.C. os processos de cura egípcios eram famosos no mundo mediterrâneo, estes possuíam forte ligação com o misticismo e valores religiosos e culturais do Egito.Apesar do lento progresso, os egípcios antigos aprenderam muito sobre a anatomia humana graças à tradição de mumicação. Ao preparar os mortos tinham a oportunidade de analisar partes do corpo e associá-las à doenças e seu entendimento. Com isso aprenderam o suciente

para fazer cirurgias e colocação de prótese tanto em vivos quanto em mortos - sinais que puderam ser encontrados nas múmias, desde a perfuração de crânios até a remoção de tumores, a Imagem 1 mostra um oculista tratando um paciente. Imagem 1: Oculista tratando paciente.

Fonte: National Geographic Espanha. Encontrado em:https://www.nationalgeographic.com.es/historia/gran des-reportajes/la-medicina-en-egipto_6289/1


A relação egípcia com a morte aponta para um grande apego ao passado, trazendo os templos como grandes construções mortuárias do período. Um exemplo de templo mortuário é o Templo de Hatshepsut, conhecido como “a maravilha das maravilhas ", que homenageia Amon-Rá, deus Sol, situado no complexo de Deir Elbari, na margem ocidental do rio Nilo, Imagem 2.

Imagem 2: Templo de Hatshepsut - "A maravilha das maravilhas". Fonte: Wikipedia. Encontrado em: https://pt.wikiped ia.org/wiki/Templo_mortu%C3%A1rio_de_Hatexepsute

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Na Grécia Antiga as enfermidades eram tratadas de forma holística. Ali se formou os pilares dos tratamentos médicos. Entre eles a nooterapia, que consistia-se na cura da mente e a metanóia, entendida como a transformação dos sentimentos. Dessa forma, procurou-se despertar o homem para sua essência, através da ideia do “conhecer-te a ti mesmo”. A racionalidade grega coexistiu com o misticismo e os espaços de cura eram pensados de forma a proporcionar bem estar e conforto aos enfermos, os templos eram construídos próximos a fontes termais, deixando o espaço rico em paisagens e conforto como forma de auxílio à cura, a Imagem 3 apresenta Asclepeion, deus grego da medicina e da cura, e a Imagem 4 o templo dedicado a ele. Além da inuência do misticismo na base da cura, os espaços eram pensados com a nalidade de proporcionar contato com a natureza, pois assumiam que esse contato inuenciava as questões de conforto e bem-estar dos enfermos, Boing (2003).

Fonte: Wikipedia. Encontrada em: https:/ /es.wikipedia.org /wiki/Asclepeion_de_Epidauro

Imagem 3: Estátua de Asclepeion.


Imagem 4: Planta baixa do templo de Asclepeion de Epidaurus. Fonte: Wikipedia. Encontrado em: https: //es. wikipedia.org/wiki/Asclepeion_de_Epidauro

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Para os Sacerdotes de Asclépio (Epidauro) as harmatíai - erros ou não mediação provocavam sensações e ideias que se instalavam na mente do ser e causava doenças físicas. Com o tempo foram sendo implementadas ervas e cirurgias nos processos de cura nesse período, porém a cura integral era dada por meio da metanoia. O santuário para Epidauro possuía também a função de centro cultural e de lazer, visto que entre as construções encontravam-se um Odéon (pequeno teatro), um Teatro - que inclusive é o mais bem conservado do mundo grego, construído no século IV a.C. pelo grande arquiteto Policleto, observado na Imagem 5 - um estádio para as competições esportivas que ocorriam de quatro em quatro anos, um ginásio para exercícios físicos, uma biblioteca e numerosas obras de arte, de acordo com Scheila Rotondaro Koch em seu artigo sobre Asclépion. Imagem 5: Teatro do Santuário de Epidauro.

Fonte: Wikipedia. Modicada pela autora, encontrada em: https://www.fragatasurprise.com/2013/03/epidauros espetacular.html


Durante o Império Romano a preocupação com a saúde pública foi de grande importância, as cidades foram providas de esgotos, latrinas públicas, casas de banho, fontes para distribuição de água potável, principalmente por meio de aquedutos quilométricos, a Imagem 6 mostra um esquema de como era feita a captação da água e o caminho pelos aquedutos da fonte à cidade. Imagem 6: Esquema de como funcionava a captação de água e seu caminho pelo aqueduto.

fonte

canal

tanque

cidade

Fonte: Autora, 2018.

Nesse período foram criados hospitais militares dentro dos fortes, os Valetudinários, a Imagem 7 retrata as ruínas de um Valetudinário localizado em Nova, na Mésia Inferior do mundo Romano - atual Svistov, Bulgária. Com o intuito de acolher e assegurar a prestação de cuidados à soldados, escravos e gladiadores feridos. A tipologia era pensada de forma a garantir ventilação e iluminação naturais. O prédio possuía um pátio interno onde os quartos ao redor eram voltados para este pátio, além de

corredores de distribuição que permitiam ventilação natural pela cobertura. (MIQUELIN, 1992). A instituição hospitalar medieval estava associada ao domínio da caridade cristã. Portanto reunia diversas funções, tais como casa de caridade, asilo, orfanato, albergue para forasteiros e peregrinos, casa para pobres e desamparados e espaço de cura. Um exemplo desse tipo de instituição é o Mosteiro de Maulbronn que pode ser visto na Imagem 8 - construído há cerca de 400

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Imagem 7: Ruínas de um Valetudinário.

Imagem 8: Mosteiro de Maulbronn.

Fonte: Wikipédia, encontrada em: ht tps://pt.wikipedia.org/wiki/Valetudin%C3%A1rio

Fonte: Wikipedia, encontrada em: https://pt. wikipedia.org/wiki/Mosteiro_de_Maulbronn

anos por monges, situado entre o que hoje seria Heidelberg e Stuttgart na Alemanha, desde 1993 é considerado patrimônio mundial pela UNESCO.

A doença era explicada como um castigo divino, por isso eram tratadas por sacerdotes e religiosos nos monastérios, que serviam de refúgio para doentes pobres e geralmente possuíam uma farmácia e um jardim com ervas medicinais para uso na cura dos enfermos e estudos sobre suas ações em tais processos. Os ambientes e técnicas terapêuticas da época podem ser considerados uma mistura entre conhecimentos da antiguidade, inuências espirituais e xamânicas; inclusive a astrologia tinha grande papel nos processos de cura.

À partir do século VI o quadro dos enfermos e espaços de cura passou por uma grande transformação. Onde os asilos para enfermos foram regulamentados, dividindose entre “nosocomia” que possuíam maior semelhança com os hospitais atuais; “lobotrophia” que recebiam pessoas com doenças mais graves e praticamente sem esperanças de cura; e “hospitia” que serviam de abrigo para viajantes.


Imagem 9: Hospital St. Jean Angers.

Apesar da forte inuência desses espaços no modelo moderno de hospital, a idade das trevas trazia consigo a ideia de doença associada a morte. Os hospitais eram construídos de forma a manter a d o e n ç a “ e n c l a u s u r a d a” , v i s a n d o a “proteção” dos que estavam do lado de fora. A peste negra, a lepra e a varíola assombravam a população da Europa Medieval e, segundo estudos, dizimaram cerca de 1/3 da população na segunda metade do século XIV. Na Imagem 9, do Hospital de la Santa Creu em Barcelona, é possível observar as estruturas em pedras e a tipologia que seguia a dos hospitais da época, assemelhando-se a prisões, com pouca iluminação e ventilação natural devido as janelas altas e estreitas que se tornavam pequenas com relação à grande dimensão do espaço e às espessuras das paredes, deixando o interior escuro e insalubre complicando ainda mais os casos de doenças transmissíveis. Os leitos eram separados por

Fonte: Wikipedia, encontrada em: https :// fr.wikipedia.org/wiki/H%C3%B4pital_Saint-Jean

cortinas pesadas que eram verdadeiros focos de infecções pelas condições precárias de higiene, além da qualidade interna do ar ser prejudicada ainda mais pelas lareiras e fornos a carvão que aqueciam os ambientes. Esses espaços para cura de patologias biológicas nada mais eram do que casas de morte - chamados de Salle de Mourir frequentemente os enfermos eram deixados nesses espaços para morrer (COSTI, 2002). Com o enfraquecimento do poder da Igreja e do regime feudal, os ambientes terapêuticos e de cura, mantidos por esta,

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entram em decadência. Transferindo para a iniciativa laica os serviços de cuidados aos doentes e desamparados. Designa-se ao hospital geral - instituição lantrópica - a responsabilidade de auxílio material e espiritual. Já no período renascentista, houve maior preocupação com as condições sanitárias dos pacientes e, com isso melhorias nas construções. As tipologias predominantes caracterizavam-se por suas Imagem 10: Hospital Santa Maria Nuova.

F o n t e : h t t p s : / / w w w. d o n a l d h e a l d . c o m /pages/books/2727/giuseppe-zocchi/veduta-dellospedale-e-della-piazza-di-s-maria-nuova-t-xvi

formas em cruz, L, T e U. Com corredores que rodeavam um pátio interno, permitindo maior iluminação, ventilação e melhorando a circulação nos ambientes. A Imagem 10 mostra um dos principais hospitais do renascimento, o hospital de Santa Maria Nuova, em Florença, a pintura de Giuseppe Zocchi, intitulada “Venduta dello Spedale, e della Piazza di S. Maria Nuova. T.XVI. O humanismo trouxe consigo as questões da natureza do corpo, os artistas renascentistas procediam dissecações e estudavam a anatomia, trazendo grandes avanços nas questões de funcionalidade do corpo humano. As inovações abrangeram diversas áreas relacionadas com a saúde e bem-estar. A ora proveniente do Novo Mundo mereceu vários estudos cientícos e passou a ser introduzida nos jardins botânicos dos hospitais e faculdades de medicina como objetos de estudo e tratamento de enfermidades. À partir do século XVIII o hospital passa a ser visto como instrumento destinado à cura.


Imagem 11: Modelo de enfermaria Nightingale Hospital de Dona Estefânia

No século XIX a arquitetura hospitalar foca sua preocupação em questões referentes à salubridade das edicações e conforto ambiental. Na Inglaterra, Florence Nightingale foi pioneira nos projetos de humanização dos espaços terapêuticos, principalmente dos hospitais militares ingleses. Ela procurou solucionar problemas de ventilação, iluminação e conforto espacial, voltando o olhar para o enfermo. A enfermaria Nightingale caracterizava-se por um longo e estreito salão com leitos, pé-direito reduzido permitindo maior controle da temperatura e janelas dos dois lados, proporcionando a ventilação cruzada e entrada de luz natural, como mostra o modelo de enfermaria Nightingale na Imagem 11. No século XX , cresce signicativamente o número de hospitais no mundo. Dando espaço ao modelo vertical, devido a elevação do valor do solo, consequência do crescimento urbano. Com o avanço tecnológico, os progressos terapêuticos reduziram o tempo

F o n t e : h t t p : / / o t h a u d o b l o g. b l o g s p o t . c o m /2013/11/arquitetura-e-saude-visao-historica.html

dos pacientes nos hospitais, trazendo como consequência a despreocupação com a humanização dos espaços terapêuticos. A reorganização do campo hospitalar transforma as práticas terapêuticas e, nesse ponto da história, os processos de cura se relacionam diretamente com os hospitais e a ciência, colocando o paciente em segundo plano no processo de construção destes espaços.

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A revolução industrial trouxe consigo a maquinização em todos os setores, inclusive o de saúde, nesse ponto, as máquinas começam a ser colocadas à frente da sociedade. A pintura do alemão Robert Friedrich Stieler, explorada na Imagem 12, retrata a poluição das máquinas na era industrial, ponto considerável na relação com a qualidade precária de saúde nessa época.

Com as guerras houve também um maior estímulo para o desenvolvimento de medicamentos e tratamentos médicos, devido principalmente às necessidades militares nesse período. Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma expressiva amplicação dos serviços de atenção à saúde, com o avanço e complexidade de novas tecnologias, abrangendo novas áreas de especialização.

Imagem 12: As fábricas químicas da BASF - Robert Friedrich Stiele 1881, Ludwigshafen, Alemanha.

pacientes nos hospitais, trazendo como consequência a despreocupação com a humanização dos espaços terapêuticos. A reorganização do campo hospitalar transforma as práticas terapêuticas e, nesse ponto da história, os processos de cura se relacionam diretamente com os hospitais e a ciência, colocando o paciente em segundo plano no processo de construção destes espaços.

Fonte: Wikipedia, encontrada em: https: //pt.wikipedia.org /wiki/ Revolu% C3%A7%C3%A3 _Industrial


Consequentemente, os ambientes terapêuticos tiveram a necessidade de expansão de suas instalações. As atividades internas passaram a ser divididas em departamentos de acordo com sua funcionalidade, a m de produzir um complexo integrado e funcional. Esse ambiente concentrado e especializado, tornou-se uma unidade fabril e a arquitetura reetiu, com as construções modernistas, a despersonalização desses, com a valorização da funcionalidade em detrimento da estética. A intenção da arquitetura hospitalar moderna era resolver problemas práticos e econômicos, com elementos padronizados como em uma linha de produção. A tecnologia foi tomando espaço cada vez maior e os projetos foram sendo pensados para atender as necessidades tecnológicas, não do paciente em si. Do mesmo modo que o hospital abrigo da Idade Média e o hospital lugar de exclusão de enfermos indesejáveis do século XVIII, o hospital pós revolução industrial,

assume uma nova função no modelo capitalista. A função utilitária, como lugar de produção de lucro e mais valia, uma “caixa de curar ”. Pois os serviços médicos tornaram-se produtos e adquiriram valor de mercado. Porém tal modelo vem sendo repensado, devido à vários estudos que apontam a falta de bem-estar e aumento dos problemas relacionados ao estresse. O ser humano não é uma máquina, mas sim um ser de sistema complexo abrangendo corpo físico, aspectos psicológicos e emocionais, além da inuência quase que direta do meio onde se encontra. Saúde não consiste em falta de doenças biológicas, mas sim desequilíbrio do sistema. Quando fatores ambientais, econômicos e sociais estão em crise, isso reete diretamente na sociedade e no ser, cada um de sua forma única. Nesse ponto, entende-se que fatores externos devem ser considerados para que se obtenham melhores resultados nos processos de cura, melhoria da saúde/bem-estar da sociedade.

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Imagem 13: Santa Casa de Santos, 1940. Pavilhão – Tuberculosos.

O contexto hospitalar brasileiro começa em 1543, com o mais antigo hospital do país, a Santa Casa de Santos, retratada a seguir na Imagem 13.

Fonte: Imagem publicada em Actas Ciba nº 5, ano VIII, maio de 1941, página 136.


Imagem 14: Hospital da Lagoa, RJ.

O modelo arquitetônico do bloco vertical se popularizou durante o modernismo no Brasil. Arquitetos como Oscar Niemeyer e Rino Levi tiveram suas contribuições nesse período, à exemplo o Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro, projetado por Niemeyer e inaugurado em 1958, apresentado na Imagem 14. Quando tratamos da arquitetura hospitalar e bioclimática no Brasil e as melhorias nas questões de humanização dos ambientes terapêuticos, devemos dar destaque ao arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, que procurou em seus projetos abranger questões sociais, econômicos e culturais do país. Nos hospitais da rede Sarah Kubitschek, a integração entre as práticas terapêuticas e os ambientes reete sua qualidade na contribuição para os processos de cura.

Fonte: Wikipedia, encontrada em:https:// ptwikipedia.org /wiki/Hospital_da_Lagoa.

“Ao projetar hospitais feitos para curar, Lelé devolve ao edifício hospitalar a capacidade de contribuir para o processo da cura. Ao projetá-los com essa nalidade resgata um objetivo que surge no nal no século XVIII e que não vem sendo enfatizada por boa parte da arquitetura hospitalar contemporânea.” SANTOS, M; BURSZTYN, I. 2004.

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Assim, como reação ao desamparo e ansiedade da realidade pós-moderna, observa-se uma forte tendência pela busca de tratamentos alternativos para acalmar a mente frente ao estresse da contemporaneidade. Tal tendência voltou os olhos da ciência e tecnologia para a medicina tradicional e práticas alternativas. Estudos à respeito da ligação de tais com a qualidade de vida têm trazido as práticas para mais perto da população. Como é o caso do programa de Práticas Integrativas e complementares do governo federal que disponibiliza tratamentos da medicina alternativa na atenção primária de saúde pública. A Organização Mundial de Saúde (OMS) entende como Medicina Tradicional e Complementar um agrupamento de técnicas e competências que não são consideradas partes integrantes do conjunto de práticas da medicina convencional. Abrangendo uma ampla gama de terapias, abordagens e sistemas de cura advindos de várias etnias e

partes integrantes do conjunto de práticas da medicina convencional. Abrangendo uma ampla gama de terapias, abordagens e sistemas de cura advindos de várias etnias e culturas, algumas delas seguindo tradições, milenares passadas por gerações. Por medicina alternativa entende-se racionalidades e práticas que partilham de uma perspectiva vitalista, centrada na experiência de vida do paciente, com ênfase no doente e não na doença; e integradora, de caráter não intervencionista. A terapia é chamada complementar quando usada somada à tratamentos da medicina ortodoxa e entendida como alternativa quando usada isoladamente como único tratamento. Frequentemente as pessoas procuram tais técnicas visando melhorar a saúde e bem-estar e aliviar os sintomas e efeitos colaterais do tratamento convencional.


A Arquitetura e a Medicina Alternativa


A arquitetura tem a capacidade de promover a experimentação de diversas sensações em seus usuários e estabelecer conexões entre este e os elementos que compõem um determinado espaço. A partir dessa relação que se estabelece entre o ser e o lugar surgiu o termo “humanização” ao qual entende-se, segundo Mezzomo como: milenares passadas por gerações. “Valor, na medida em que resgata o respeito à vida humana. Abrange circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano.” MEZZOMO apud HOREVICZ; CUNTO, 2007, p.17.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem incentivando cada vez mais a incorporação de tais práticas na Atenção Primária de Saúde (APS) com a estratégia sobre medicina tradicional 2002-2005, lançada em 2001. A OMS divulgou o documento WHO Traditional Medicine Strategy 2014-2023 onde avalia a utilização mundial de PICs, apontando uma estimativa de mais de 100 milhões de europeus, um

número maior de usuários na África, Ásia, Austrália e Estados Unidos, além de destacar que tais práticas movimentaram cerca de 83,1 bilhões de dólares em 2012 em consumo de produtos da medicina tradicional Chinesa e 14,8 bilhões de dólares em 2008 com produtos naturais, nos EUA. Tais conceitos vêm sendo difundidos, especialmente nos ambientes hospitalares, devido as recentes transformações no modo de pensar tais ambientes visto que o foco deixou de ser a doença, diagnóstico e tratamento e passou a se direcionar para o bem-estar do Ser, compreendido como parte da natureza. Logo, cabe ao arquiteto pensar e repensar os espaços de cura considerando a edicação como parte auxiliar nos processos de melhoria das condições físicas e psicológicas dos pacientes e seus familiares. Visto que a denição semântica da palavra hospital tem sua origem no latim hospit alis que deriva de hospes, que signica estrangeiro, hóspede, por extensão, o que hospeda, que abriga.


Hospital é, segundo denições do Ministério da Saúde: “Parte integrante de uma organização médica e social, cuja função básica consiste em proporcionar à população assistência médica integral, curativa e preventiva, sob quaisquer regimes de atendimento, inclusive o domiciliar, constituindo-se também em centro de educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como de encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente.” (BRASÍLIA, 1997, pág. 11).

Após análises sobre o sistema de saúde e a demanda por práticas alternativas no Brasil e no mundo, pode-se observar a crescente procura por tais técnicas de cura que não abrangem apenas sintomas e tratamentos físicos com uso de medicamentos visando o m do sintoma, mas também métodos que procuram entender e considerar toda a complexidade do ser e suas necessidades físicas, mentais e emocionais. Colocando o Ser humano como dotado de corpo, mente e alma e as patologias como não apenas doenças a serem tratadas mas como um desequilíbrio entre essas três estruturas do ser. Essa procura maior pelo bem-estar físico e mental reete as necessidades do homem na era contemporânea, onde o estresse e a depressão ganham visibilidade e são colocadas como causas diretas ou indiretas de distúrbios psicológicos, além de estarem no top três entre as causas de mortes direta ou indiretamente, no mundo todo de acordo com dados da OMS. Esta deniu na Conferência de Alma Ata que: “Saúde é o estado de mais completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidade” (Organização Mundial de Saúde – Conferência de Alma Ata, 1978). A medicina ortodoxa conta com pesquisas e tecnologia avançada para se reformular a cada dia e obter melhores resultados em tratamento, diagnóstico e pesquisa, porém tanta tecnologia encarece os tratamentos, gerando gastos públicos e listas de espera gigantescas no sistema público de saúde principalmente no contexto

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do Brasil, onde a maior parte da tecnologia é importada de outros países, encarecendo ainda mais o produto nal. Tais fatores causam maior descontentamento nos pacientes, como apontado por Giddens sobre o contexto britânico, porém o quadro não se diferencia no Brasil. Em decorrência do Iluminismo e Revolução Industrial, por volta de 1770, começaram os primeiros lampejos sobre a humanização dos ambientes de cura, colocando o homem como elemento integrante da natureza. Com o crescimento pela busca de práticas de cura não ortodoxas, vem a relação do espaço para com o funcionamento e qualidade desses processos. Segundo Toledo sobre a denição de humanização hospitalar e a importância da relação entre prossionais de saúde e arquitetos: “A humanização da atenção à saúde poderá reverter esse processo que a medicina e a arquitetura hospitalar se unam em torno de um novo paradigma, voltado para a promoção da saúde e para o conforto físico e psicológico do paciente, elevado à condição de sujeito do processo terapêutico (...).” (TOLEDO, 2008, pág. 116).

A arquitetura contribui nos processos de cura ao passo que entende o indivíduo como um ser complexo que abrange corpo, mente e alma e necessita de cuidados complexos, sua relação não está apenas no contexto físico, mental, social e econômico. A natureza e o ambiente também carregam relevante importância nesse contexto, visto que espaços que possuem contato com a natureza exercem grande inuência na melhoria dos pacientes, segundo estudos. Essa nova forma de pensar os ambientes terapêuticos instiga o arquiteto a projetar tais espaços com maior eciência, procurando incorporar princípios funcionais, econômicos, sociais e ambientais. Levando em consideração o bem-estar físico e mental do paciente e sua família, a m de amparar o paciente nesse momento de dor e fragilidade, com qualidade para que se possam englobar tanto as práticas da medicina ortodoxa quanto as práticas


complementares de uso para diagnóstico e auxílio. Visto que os ambientes possuem a capacidade de inuenciar positiva ou negativamente seus usuários, deve-se então pensar os espaços da melhor maneira, atribuindo a este o papel de catalisador nos processo de cura e recuperação de patologias físicas e mentais. Nos deparamos com novas formas de pensar tais espaços. “O conceito de humanização do atendimento tem sido largamente aplicado nos mais recentes projetos em arquitetura da saúde, representando o desdobramento de um novo enfoque, centrado no usuário, que passa a ser entendido de forma holística, como parte de um contexto, e não mais como um conjunto de sintomas e patologias a serem estudadas pelas especialidades médicas (...)” (FONTES, 2004, pág. 59).

A humanização dos edifícios hospitalares é uma dessas temáticas que vêm sendo estudadas e aplicadas à arquitetura terapêutica. Ela vai além da cura física do paciente, prezando sua cura psicológico. Já que este ambiente possui grande participação na rotina dos enfermos. Nada mais justo do que pensar tais espaços com o máximo de aconchego possível. No mundo todo vêm se difundindo espaços que relacionam as práticas ortodoxas da medicina com técnicas alternativas a m de alcançar resultados mais rápidos e melhores nos processos de

cura. Tais como traz na Imagem 15 do Hospital Universidade Robert Debré, na França, que procura comunicar o ambiente terapêutico com a cidade por meio de uma galeria pública entre o hospital e terraçosjardins permitindo a relação do paciente com a vida urbana. O Nemour Children’s Hospital, em Orlando, Flórida (EUA), Imagem 16, se mostra referência mundial em ambientes terapêuticos pediátricos, oferecendo amplos jardins sensoriais e espaços lúdicos, como pode ser observado na vista interna de uma parte do edifício na Imagem 17.

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Imagem 15: Hospital Universidade Robert Debré, França.

Fonte: http://robertdebre.aphp.fr/ Imagem 16: Nemour Children’s Hospital, Orlando - EUA.

Imagem 17: Nemour Children’s Hospital, Orlando - EUA.

Fonte: Archdaily. Encontrada em: https :/ /www. archdaily.com.br/br/01-163632/hospital-infantilnemours-slash-tanley-baeman-and-sears

Fonte: Archdaily. Encontrada em: https://www. archdaily.com.br/ br/01-163632/hospital-infantilnemours-slash-tanley-baeman-and-sears


O Carter Health Design, em suas mais de 600 pesquisas que relacionam a arquitetura terapêutica e recuperação de doentes obteve resultados signicantes sobre essas temáticas. Apontando os novos hospitais infantis como espaços que reduzem o estresse prossional, melhorando seu desempenho e a adesão dos enfermos aos tratamentos, aumenta a sensação de segurança nos pacientes, além de diminuir o estresse dos mesmos e suas famílias, ainda melhora os processos de recuperação. Os quartos são equipados para acomodar os pais das crianças, trazendo-os para mais perto dos processos terapêuticos. Tais intervenções não encarecem signicativamente as construções. “As melhorias que zemos baseadas em design-evidência corresponderam a apenas 2,5% de um projeto que custou US$ 150 milhões”, segundo a arquiteta Cheryl Herbert, responsável pelo projeto do Dublin Methodist Hospital (Eua), apresentado na imagem 18. Imagem 18: Dublin Methodist Hospital.

Fonte: Plataforma online do próprio hospital. Encontrada em: https: //newsroom.ohiohealth.com/ohiohealthdublin-methodist-hosptial-turns-10/

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No que diz respeito à humanização dos ambientes terapêuticos brasileiros, o arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé) é um grande exemplo, pois procura adicionar às suas obras dos hospitais da Rede Sarah instrumentos que contribuam para a cura dos pacientes. Tais como espaços coletivos juntos à jardins, aproveitamento de iluminação e ventilação naturais e uso obras de arte. Além de trazer o conceito de lar à seus projetos, apontando para a importância da qualidade do espaço e a relação da aproximação e vínculo dos enfermos e seus familiares com o espaço de cura. Como pode ser observado na Imagem 19 do Centro de reabilitação infantil no Sarah do Rio de Janeiro. Outra técnica de destaque adotada pelos hospitais, que traz a humanização dos espaços de cura e auxilia nos tratamentos biomédicos, é o jardim sensorial. Cuja função de ativação de percepções adormecidas no pacientes, com o estímulo dos sentidos adormecidos ou limitados.

Por meio de técnicas de contato para estimular o tato – contato direto com as plantas; olfato –estimulado pelos aromas de ervas, ores e plantas medicinais; audição – além do ambiente natural aberto, o som dos pássaros, insetos e do próprio vento têm grande importância na terapia; paladar – com a experimentação de frutas, ervas e plantas medicinais, em forma natural ou em chás e infusões; visão – já que todo o conjunto possui cores, volumes e formatos orgânicos. O Hospital público Infantil Darcy Vargas em São Paulo, é destinado ao tratamento de doenças de alta complexidade em crianças, Imagem 20, apresenta o espaço para relaxamento que conta como instrumento um jardim terapêutico e sensorial que levou cerca de nove meses para ser consolidado em 90 m² por meio de trabalho voluntário e possui árvores frutíferas como pés de acerola, jabuticaba e romã, ervas terapêuticas como lavanda, hortelã e erva-doce.


Imagem 19:Centro Internacional SARAH de Neurorreabilitação e Neurociências, RJ, Lelé, 2009.

Imagem 20: Jardim do hospital público infantil Darcy Vargas, São Paulo.

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Fonte:http://www.sarah.br/a-rede-sarah/nossasunidades/unidade-rio/

Fonte: https://www.hypeness.com.br /2015 /03/ cobertura-hypeness-fomos-ver-de-perto-o-novojardim-terapeutico-cheio-de-graftis-num-hospitalpublico-infantil-em-sao-paulo/

Inaugurado em 1995, o Solo Sagrado às margens da represa de Guarapiranga, em São Paulo, é uma grande inspiração para a arquitetura de ambientes terapêuticos vinculados à práticas relacionadas à natureza e elevação espiritual, como podese observar na imagem 21, o espaço possui grande relação com a natureza. É considerado um dos maiores ambientes para a contemplação da natureza e meditação unindo traços do ocidente e oriente no Brasil. Sua área traz o sossego e beleza de paisagens naturais harmonizando os espaços.

É interessante evidenciar que a limpeza do local é feita pelos próprios usuários voluntários que se reúnem em grupos mensais para realizar mutirões de limpeza, sendo um espaço auto-gerido pela comunidade messiânica brasileira. “Ao retalhar o seu objeto em múltiplas especialidades e subespecialidades, a medicina vem falhando naquele que deveria ser seu principal objetivo: aliviar o sofrimento e produzir bemestar" (SANTOS et al, 2003).

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Imagem 21:Solo Sagrado de Guarapiranga, São Paulo.

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Fonte: http://www.messianica.org.br/solosagrado-de-guarapiranga-apresentacao

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), denominadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como medicinas tradicionais e complementares, foram institucionalizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), aprovada pela Portaria GM/MS nº 971, de 3 de maio de 2006. A PNPIC coloca a disposição pública técnicas da medicina entendida como alternativa. Tais práticas buscam estimular os mecanismos naturais de

prevenção de agravos e promoção da saúde por meio de tecnologias ecazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. Entre as inúmeras práticas compreendidas como pertencentes à medicina alternativa, 29 são atendidas pelo programa do governo, entre elas se encontram: acupuntura com aplicação de ventosas/moxa, acupuntura com inserção de agulhas, arteterapia que engloba várias terapias, auriculoterapia, auto-massagem,


Gráco 1:Solo Sagrado de Guarapiranga, São Paulo.

ayurveda, biodança ou dança circular, crenoterapia ou termalismo, eletroestimulação, toterapia, homeopatia, massoterapia, medicina antroposóca, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia, reexoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária, yoga e outras que não constam nos dados do portal das PICS. Tais práticas ampliam as abordagens de cuidado e as possibilidades terapêuticas para os usuários, garantindo uma maior integralidade e resolutividade da atenção à saúde. O seguinte gráco 1 analisa de forma quantitativa a produção ambulatorial por procedimento de PICS no SUS, entre o período de 2015 e 2017, dados da C o o r d e n a ç ã o N a c i o n a l d e Pr á t i c a s Integrativas e Complementares em Saúde (CNPICS).

Fonte: Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (CNPICS).

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“Nesse sentido, o levantamento da inserção corrobora a necessidade de que o desenvolvimento da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS deve ser entendido como continuidade do processo de implantação do SUS, na medida em que favorece de forma efetiva o cumprimento dos princípios e diretrizes que regem o sistema. Considerando o indivíduo na sua dimensão global – sem perder de vista a sua singularidade, quando da explicação de seus processos de adoecimento e de saúde –, a MNPC corrobora para a integralidade da atenção à saúde, princípio este que requer também a interação das ações e serviços existentes no SUS.” (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, 2ª edição. Brasília - DF, 2015. pág. 63).

Com relação à experimentação de práticas compreendidas como alternativas, eu tenho alguma bagagem pessoal. Quando criança eu tinha crises terríveis de enxaqueca e possuía muitas restrições alimentares por conta da mesma, foi uma experiência muito marcante para mim pois eu era uma criança diferente das outras, não podia comer nada em festas de aniversários, tinha crises terríveis em qualquer hora do dia e só queria car deitada no escuro quando atacava, meus pais tentaram vários tratamentos ortodoxos, mas sem resultados, por m me levaram a um médico homeopata e com um tratamento de seis meses eu quei curada dos sintomas e até hoje não tive mais crises e continuo me tratando com médicos

homeopatas sempre que preciso. Mais tarde, na adolescência eu z tratamento para ansiedade com acupuntura, os resultados também foram muito bons, porém as sessões não ultrapassaram 10, com relação ao ambiente, a clínica onde eu fazia a terapia era no centro da cidade, em um edifício de salas para alugar, não possuía nada de especial. Além destas eu também já z tratamentos para ansiedade com toterápicos e massoterapia, além de ter participado de sessões de musicoterapia e reiki direto na natureza e praticar meditação, nesse caso também tenho preferência para ambientes com relação direta com a natureza, sinto que os resultados são mais duradouros e rápidos. Com as minhas


experiências somadas aos estudos apresentados até aqui e outros interesses próprios como a geobiologia, permacultura e sustentabilidade no geral, comecei a questionar sobre espaços de cura e a relação que eles poderiam ter com a natureza e sua força como coadjuvante em processos de restauração do equilíbrio corpo-mente-alma do ser e como consequência o bem-estar. Com relação aos ambientes onde essas práticas são oferecidas, é possível observar na seguinte Imagem 22 de uma Unidade Básica de Saúde, um espaço para práticas de Yoga, meditação e terapia comunitária que consiste-se em uma sala com iluminação e ventilação articiais. Não deixa de ser um espaço que possibilita tais práticas, porém, a qualidade deste seria muito maior se pensado de forma a relacionar o espaço com a natureza, principalmente nas questões de troca de energia que tais práticas proporcionam. A maioria das PICS são feitas em salas simples de multiuso dentro de UBSs, clínicas e hospitais; distribuídas entre cerca de 1.708

municípios – quase 30% dos municípios do país. Porém, as práticas mais comuns são homeopatia e toterapia enquanto que as outras cam mais concentradas em grandes centros urbanos, principalmente no estado de São Paulo, como é possível observar no gráco 2 que apresenta a distribuição de PICS entre os estados e no gráco 3 que apresenta a porcentagem de estados ou municípios que possuem algum programa para a implementação das PICS no SUS. Imagem 22: Sala onde acontecem práticas de yoga e meditação.

Fonte: Acervo pessoal, 2018.

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Gráco 2: Distribuição por estado da insersão das Práticas Integrativas e Complementares no SUS, baseado em questionários respondidos. Brasília, 2016.

Fonte: National Policy on Integrative and Complementary Practices of the SUS, traduzido e editado pela autora.. Gráco 3: Percentual de estados e/ou municípios que possuem lei ou ato institucional para a criação de serviços em Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília, 2006.

6,52%

93,48%

Fonte: National Policy on Integrative and Complementary Practices of the SUS, traduzido e editado pela autora.

Pude observar que, mesmo com o aumento da procura por essas práticas, ainda se encontra em “construção” a ideia da relação com o espaço e o processo de cura, relacionados à esse tipo de técnica, principalmente devido ao fato das bases cientícas e acadêmicas com relação a eciência da medicina alternativa ainda são fracas. Não há grandes empresas farmacêuticas nanciando pesquisas em tais áreas, como há para técnicas da medicina ortodoxa. O que torna esses métodos menos difundidos. Porém, entre as práticas entendidas como alternativas encontram-se


várias técnicas milenares, principalmente da cultura oriental que utilizam de elementos naturais e interpretam o homem como um sistema complexo composto por corpo físico, mente e energia, que quando doente revela que algum desses quesitos encontra-se em desequilíbrio. Buscando assim, trazer de volta o equilíbrio ao sistema por meio de práticas abrangendo todos os três pontos e restaurando o bem-estar no paciente. Porém, não se pode descartar a capacidade de diagnóstico e tratamento da medicina ortodoxa, com fortes bases cientícas e estudos cada vez mais inovadores a m de se obter a máxima eciência com tecnologia. Por isso é interessante o uso em conjuntos das práticas, fazendo da medicina alternativa um complemento à ortodoxa e vice-versa. Quando pensamos em projeto arquitetônico, não estamos lidando apenas com uma forma construída, arquitetura não existe por si só, ela precisa do homem para existir e ser sentida, vivida e observada, em

todos os sentidos, pois aquele espaço será direta e indiretamente responsável por vários acontecimentos que reetirão no ser que o ocupará. A responsabilidade é ainda maior quando se projeta espaços terapêuticos pois o intuito é que esses ambientes possam suprir as necessidades básicas e melhorar as condições dos pacientes em situação de fragilidade e desequilíbrio da saúde física e emocional. Estudos indicam que o estresse em hospitais piora o quadro dos enfermos e consequentemente da família destes, pois não é apenas a cura da patologia biológica que se busca, mas sim um entendimento de um sistema complexo que é o indivíduo, o espaço onde está inserido, a situação econômica em que vive – aqui falamos não apenas do indivíduo mas de toda a comunidade onde ele está inserido, ou seja, um país com baixos índices de desenvolvimento socioeconômico, os indivíduos se encontram em uma posição mais suscetível à problemas psicológicos e

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emocionais que reetem na saúde física. O homem é produto da natureza e, por isso, deve ser compreendido associado à ela. No decorrer de nossa evolução adquirimos a capacidade de analisar e manipular as situações e objetos ao redor para nossas próprias necessidades de sobrevivência. Mesmo com a nossa racionalidade não podemos negar a inevitável fusão entre o ser pensante e o meio natural. Fusão esta que nos torna únicos no papel de explicar a natureza com base na lógica, a evolução do conhecimento, fruto dessa capacidade de raciocínio lógico do homem, possibilitou maior controle do meio e sua utilização como instrumento e não apenas por instinto animal, tal capacidade é o que nos diferencia de outros seres do planeta. Porém esse poder racional de dominação da natureza humana e utilização indiscriminada de recursos naturais trouxe consequências devastadoras ao meio ambiente, gerando desequilíbrio e quebra

de sistemas da cadeia de vida. Somos os principais responsáveis por larga destruição dos ecossistemas, todas as espécies agridem de certa forma, porém em menor escala dos ecossistemas, todas as espécies agridem de certa forma, porém em menor escala. A partir da Revolução Industrial, a cultura do homem passa a ser a maior ameaça à natureza trazendo a necessidade de repensar as ações e práticas do ser com relação ao meio no mundo contemporâneo. Assim, surgiram leis e normas a m de equilibrar a conduta humana e diminuir os impactos ambientais. Tais normas procuram além de tudo manter a vida no planeta, pois os impactos ambientais trazem consequências possivelmente irreversíveis ao planeta, dessa forma, o homem corre tanto perigo quanto a natureza, já que somos parte integrante do ecossistema. Esses pontos reetem na arquitetura, apontando para um entendimento mais holístico da relação com o meio. O crescimento da arquitetura sustentável e procura por técnicas


alternativas e menos agressivas é uma tentativa nos processos de melhorar a qualidade dos espaços causando o mínimo de impacto ambiental possível. Além de procurar estreitar e fortalecer os laços com nosso lócus por meio do contato com a natureza, gerando o sentimento de comunidade e interligação entre espécies. A humanização dos espaços também entra como opção nesses processos de interligação do homem com seu ser e meio original. Com base nos dados apresentados foi possível compreender os espaços de cura e as necessidades para repensar o planejamento dos mesmos, visto que, nesses ambientes ocorrem diversos tratamentos em momentos de grande fragilidade do ser e de seus familiares, trazendo a atenção para o paciente a m de restaurar sua saúde e garantir bem-estar. Com isso, entende-se a importância da arquitetura nos ambientes terapêuticos, pois será naquele espaço que o paciente irá passar parte do seu dia ou vários dias,

dependendo da doença e dos processos de cura. Dessa forma, optei por desenvolver um projeto de um espaço de cura destinado às Práticas Integrativas e Complementares, as PICS, reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A ideia de projetar um retiro para práticas Integrativas e Complementares na saúde pública surgiu de uma extensa pesquisa sobre a história dos espaços de cura, os instrumentos de saúde pública, a demanda e disponibilidade das técnicas alternativas no contexto público de saúde do país e a relação da arquitetura com tais ambientes. Onde me deparei com espaços simples, sem exploração da criatividade e elementos da natureza como participantes e catalisadores nos processos terapêuticos. Além de uma visível falta de espaços qualicados e que englobam várias práticas em conjunto. Por esses e outros fatores, se torna

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importante repensar os processos de criação de ambientes terapêuticos, colocando a arquitetura como coadjuvante nos processos de cura e tratamento de cura e tratamento. Não apenas como um edifício construído, mas sim um espaço de qualidade que está direta e indiretamente relacionado com os aspectos psicológicos dos seus usuários. Além de ser um espaço carregado de energia, onde há intensa dinâmica social. Dessa forma, venho propor uma forma alternativa de espaço de cura, priorizando aspectos psicológicos e sensíveis do ser humano, a m de tentar projetar um espaço de qualidade que proporcione bemestar e amparo aos seus usuários, não apenas aos pacientes mas seus familiares e prossionais.


Referências Projetuais: Experiências Nacionais e Internacionais em Bemestar e Equilíbrio


O seguinte capítulo oferece um compilado de quatro projetos escolhidos que possuem características que serão importantes para que eu consiga resolver questões projetuais, principalmente ligadas à materialidade, técnicas e relações harmoniosas de espaços. Entre os projetos estão três nacionais e um internacional, sendo eles:

Casa em Samambaia A entrada do edifício se instala em um deck de madeira de demolição, que também serve de espaço de permanência para a família, imagem 23. Imagem 23: Croqui espaço de entrada. .

Fonte: Autora, 2019.

O projeto arquitetônico e de iluminação de 2014 por Rodrigo Simão Arquitetura, com parcerias para o projeto de engenharia estrutural em concreto e projeto de fundação por Alvaro Moraes Arquitetura, projeto de interiores e paisagismo por Rodrigo Simão Arquitetura e Katharina Welper, projeto de instalações hidráulicas e e l é t r i c a s p o r Ve g a E n g e n h a r i a e coordenação de Rodrigo Simão Arquitetura. A residência familiar abrange uma área de 375 metros quadrados no município de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil. O projeto foi elaborado para o arquiteto e sua família, a proposta era preservar ao máximo a topograa natural, a ora e as pedras locais proporcionando funcionalidade e contato direto com a natureza.


O projeto permite uma grande uidez, além da forte relação com a paisagem da região, como podemos observar na imagem 24 os pers de aço da estrutura permitem vencer grandes vãos, tal característica unida às aberturas de vidro tornam o visual leve e equilíbrio na relação edifício-natureza. O piso é feito de concreto polido, garantindo alta resistência a abrasão e impactos. As paredes e lajes também são de concreto moldados in loco.

As escadas são executadas em pers de aço reciclado e os degraus de tábuas de peroba rosa, a materialidade industrial do projeto traz resultados incríveis ao visual e bastante resistência estrutural, a junção do aço, pedra, madeira e vidro utilizados no projeto de forma harmoniosa. O corte também destaca a incidência do sol na obra, visto que a cobertura curvada com o ponto mais alto inclinado para o nascer do sol permite que a iluminação natural percorra a

Imagem 24: Croqui de estudo.

Fonte: Autora, 2019.

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iluminação natural percorra a casa durante todo o dia pelos painéis de vidro que unem a cobertura de telha shingle e a estrutura. Os pilares de tubos de aço preenchidos com concreto auto adensável possuem resistência e durabilidade garantidas, enquanto o vidro das aberturas transmite leveza ao projeto. Para evitar umidade e animais, o arquiteto optou por apoiar a estrutura e erguê-la em muros de pedra, um ponto muito interessante do projeto é o uso de espécies nativas já existentes no local como paisagismo, permitindo que estas se mantenham intactas atravessando lajes e decks em certos pontos como observa-se na imagem 25. Imagem 25: Croqui de estudo.

Fonte: Autora, 2019.


Mirante do Gavião Amazon Lodge O projeto do hotel é de 2014 do escritório Atelier O’Reilly está situado em um terreno de 27.000 metros quadrados à beira do Rio Negro e em frente ao Parque Nacional de Anavilhanas, o segundo maior arquipélago uvial do mundo, no município de Novo Airão, Amazonas, Brasil. Sua área construída é de 1.678 metros quadrados. Os autores são Patrícia O’Reilly, Armando Prieto e Jean Dallazem em parceria com Clariça Lima Paisagismo no projeto paisagístico e de interior, Denki Serviços Técnicos nas instalações elétricas e hidráulicas, Callia Estruturas de Madeira responsável por tais, Benedictis Engenharia responsável pelas estruturas de alvenaria, Ana Spina Lighting Designer responsável pela luminotécnica do projeto e a Construtora Comercial Tone encarregada do gerenciamento e construção de tal.

a oresta tropical Amazônia quanto as navegações do local, o complexo possibilita a contemplação do rio Negro, as acomodações são rústicas e artesanais buscando possibilitar uma experiência incrível aos hóspedes integrando natureza, água e o ser. Na imagem 26 é possível observar a relação da construção com a natureza, a ideia é de que a forma arredondada do edifício tenha uma relação equilibrada com a natureza. A obra gerou emprego para a região durante sua execução e após, contribuindo, dessa forma, com a comunidade ribeirinha.

A ideia nasceu da necessidade de uma pousada que se relacionasse tanto com

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Imagem 26: Croqui de estudo.. Fonte: Autora, 2019.


A sustentabilidade é um ponto muito importante no projeto, os autores procuraram aproveitar ao máximo as características de clima com renovação de ar por meio da ventilação cruzada e iluminação natural como vemos na imagem 27, materiais e tecnologias locais, foi usada tecnologia de construção de barco conhecimento local passado de pai para lho - e madeira de reorestamento para a execução.

A área também foi revitalizada com espécies nativas, o que contribui para o bioma local e procurou-se preservar a vegetação existente. Outras técnicas empregadas no complexo foram utilização e captação de água de chuva, aquecimento e energia solar, além de uma horta orgânica e compostagem para completar o planejamento sustentável do projeto. O projeto foi pensado como um barco invertido que repousa sobre o terreno

Imagem 27: Croqui de estudo.

Fonte: Autora, 2019.


por meio decks apoiados em palatas - construção típica na região - desenhando caminhos elevados pelo terreno, dessa forma, o projeto respeita a topograa original, diminuindo os impactos no solo, tal técnica também permite ventilação inferior reduzindo a temperatura interna da construção. Como vemos na imagem 28 o complexo é composto por recepção, mirante vertical que pode ser observado na imagem 29, conjunto de apartamentos e restaurante com áreas de permanência e piscina, além de caminhos elevados e pier. Imagem 28:Croqui de estudo.

Fonte: Autora, 2019.

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Imagem 29: Croqui de estudo.

Fonte: Autora, 2019.

Capela Joá O projeto de 2014 conta com uma área de 43 metros quadrados pensado pelo grupo Bernardes Arquitetura com parceria para o projeto de luminotécnica com o grupo Wall Lamp, o projeto estrutural em madeira com a Ita Construtora e em metal com o engenheiro João Gabriel Silva Freire , executado pela construtora Construviva, está localizado em Joá, região metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil.(Imagem 30). O local foi escolhido buscando trazer

Imagem 30: Croqui planta.

Fonte: Autora, 2019.


Imagem 31: Croqui de estudo.

para a construção a presença da natureza, do mar e do céu para uma experiência mais completa, além da necessidade de um espaço mais silencioso e acolhedor. O conceito foi denido pela simplicidade e a topograa foi um desao para a implantação da capela, como pode ser observado na imagem 31 o local é bastante inclinado pois se encontra em um morro. Tais questões foram resolvidas elevando pórticos de madeira laminada sobre um deck, o revestimento é feito com placas de vidro trazendo a oresta para junto da experiência, os materiais escolhidos e sua simplicidade, Imagem 32. Do interior da Capela, pode-se observar a oresta por meio dos intervalos do pórtico que foi pensado de maneira a criar um ritmo com o espaçamento entre eles e o visual orientando, a visão para o oceano, trazendo a relação com a água presente no local para a proposta. Um dos pilares que sustentam o deck é elevado servindo como a parte vertical de uma cruz que se encontra emoldurada junto à vista do mar.

Fonte: Autora, 2019.

Imagem 32: Croqui de estudo.

Fonte: Autora, 2019.

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Centro de Medicina Biológica O projeto de 2013 dos arquitetos Camilo Corces e Philippe Game e o Nomade Estudio como colaborador, está localizado na rua Palena, 3374, em La Florida, região Metropolitana de Santiago, no Chile. abrangendo uma área de 233 metros quadrados. O Centro de Medicina Biológica é um Imagem 33: Croqui de estudo.

espaço onde a medicina tradicional oriental e a medicina alemã se unem em prol do bem-estar e cura do ser humano, situado na pré Cordilheira dos Andes, no setor de Lo Cañas, em Santiago, uma das cidades mais contaminadas da América Latina, a intenção do projeto é oferecer um ambiente tranquilo, silencioso e aconchegante para as práticas da medicina biológica que ali ocorrem. O desao do projeto era elaborar um ambiente de recolhimento, quietude e contemplação na maior e mais movimentada cidade do Chile. Foi pensada então uma estrutura com ripas de madeira para separar a construção do estacionamento e rua e criar uma atmosfera mais íntima para os pacientes. A mostra a planta do projeto onde pode ser observada a construção em “U”, Imagem 33, permitindo que os espaços comuns se abram para o pátio interno onde é possível experimentar a relação com a natureza e a água, visto que este é um fator importante pois o terreno se encontra próximo ao cruzamento de dois rios.

Fonte: Autora, 2019.


A relação com a natureza possui um importante papel, principalmente por relacionar grande parte da origem da medicina a esta. O projeto é pensado com uma lagoa interna feita com pedras do Cerro San Ramón que adentra o uma pequena parte do edifício - trazendo essa relação com a água para dentro dele - um jardim compõe o pátio e convida a todos para experimentar a natureza em um espaço de contemplação, a imagem 34 deixa bem denida a relação do pátio interno com o projeto.

Os materiais utilizados no projeto são basicamente madeira e vidro, tanto no ambiente interno quanto no externo a m de manter essa relação equilibrada. As estruturas também são em madeira e a cobertura feita com telhas shingle, garantindo o conforto térmico do edifício. O pátio interno é separado da edicação por grandes painéis de vidro que conguram um visual livre na relação interno-externo da construção, a imagem 35 permite uma ideia simplicada desta relação.

Imagem 34: Croqui de estudo.

Fonte: Autora, 2019.

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Imagem 35:Croqui de estudo.

Fonte: Autora, 2019.

A imagem 36 permite entender a uidez do edifício e a relação entre os espaços, onde há ambientes comuns bem qualicados e abertos mas também salas fechadas para as práticas. A construção é separada do pátio por painéis de vidro que permitem iluminação natural em praticamente todo o espaço interno, a

sala de espera se abre ao pátio por um curto deck de madeira enquanto as salas médicas possuem as janelas voltadas para o lado externo onde é trabalhado o paisagismo e não para o pátio interno, garantindo um caráter mais íntimo aos pacientes sem perder a relação com a natureza.


Imagem 36: Croqui de estudo.

A análise dos projetos de referência apresentados, permitiu que eu compreendesse técnicas e materiais, além das relações do ser com o espaço e os elementos que eu procuro trabalhar no minha proposta de projeto.

Fonte: Autora, 2019.

Outro ponto interessante é a sala de Yoga que possui abertura para outro deck externo. No geral, o projeto integra simplicidade e funcionalidade garantindo qualidade e trazendo a natureza para junto das técnicas que ali são oferecidas. “Assim, doutores e equipe médica são presentes não apenas no eterno deslar de pacientes, mas também na temporalidade da natureza que os rodeia.” (Descrição da equipe do projeto segundo o archdaily).

As principais características avaliadas foram materiais e técnicas sustentáveis ou com o mínimo impacto ambiental possível; relação do espaço, ser e natureza em ambientes de reexão e contemplação; a relação com a água que também faz parte da minha proposta projetual foi abordada em todos os projetos; além da busca por exemplos de como trabalhar com a topograa sem que haja muitos desvios de terra. Ao explorar a forma como os autores dos projetos resolvem tais questões, eu pude afunilar as características que irão funcionar de forma eciente no contexto que o meu projeto está inserido.

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Centro Terapeutico Araki: Proposta Projetual de Espaço de Cura em Presidente Prudente, SP


Levando em consideração que o espaço exerce grande inuência sobre as pessoas que o utilizam, somado à necessidade de momentos e ambientes de fuga do estresse, correria do cotidiano e do caos da cidade, formou-se a ideia de projetar um retiro para práticas de cura que possibilitasse ativar a conexão com a natureza, que está presente em todos os seres vivos do planeta, buscando o bemestar e equilíbrio do ser. A ideia iniciou-se com a intenção de projetar um espaço para contemplar as técnicas oferecidas pelo Sistema Único de Saúde do programa de Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), a qual procura atuar nos campos de prevenção, manutenção e recuperação da saúde baseado nos modelos de atenção humanizada e centrada na integralidade do indivíduo, segundo a cartilha da PNPIC. Dentre as 29 terapias oferecidas pelo PNPIC foram escolhidas 16 práticas às quais englobam:

Acupuntura: que consiste-se em uma prática da medicinal tradicional chinesa desenvolvida a cerca de 5 mil anos e introduzida no Brasil no nal do século XIX pelos imigrantes orientais . Assim como a maioria das técnicas da medicina tradicional oriental, ela baseia-se no ser humano e os sistemas que o envolvem, ou seja, os sintomas clínicos não são o centro da atenção para o tratamento e sim o ser humano e o sistema complexo que o envolve e reete no equilíbrio de seu bemestar, como fatores emocionais, físicos e mentais. Como a acupuntura utiliza-se de agulhas ou moxas - produção de calor por meio da queima de erva-, a auriculoterapia utiliza-se de pequenas agulhas ou sementes posicionadas em determinados pontos a m de estimular a liberação e produção de substâncias pelo organismo para o tratamento. É indicada geralmente em processos inamatórios e para a melhoria de dores de origem músculo-esquelético - englobando


tensão emocional, artroses, lesões por exercícios repetitivos, lesão de tecidos e problemas de postura; em casos de patologias psíquicas como insônia, estresse, depressão e outros transtornos; doenças viscerais como gastrite, asma, bronquite, rinite e outras; e doenças neurológicas como bromialgia, enxaquecas, dores neuropáticas e até dores crônicas e menstruais, outro fator observado é a melhoria na imunidade de pacientes que usam de tal método. Arteterapia: Arte como forma de expressão. O primeiro a usar as expressões artísticas associadas à psicoterapia foi o psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung, para ele a arte era um instrumento para o homem organizar seu “caos interior”. Já seu mestre, Freud, acreditava que os impulsos sexuais reprimidos por não serem aceitos pela sociedade são projetados na arte e desviados gerando satisfação, por meio da sublimação. No Brasil, a arteterapia como coadjuvante

repercutida por Osório Cesar (1895-1979) – criador da Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri, no Hospital Psiquiátrico de Juqueri (região metropolitana de São Paulo) e organizador da primeira Exposição de Arte do Hospital do Juqueri, no Museu de Arte de São Paulo, em 1948 - e Nise da Silveira (1905-1999) que defende a arteterapia como caminho alternativo e mais humano no campo dos tratamentos psiquiátricos. A arteterapia tem uma função psíquica, serve como instrumento para o indivíduo expressar seus sentimentos, impulsos reprimidos e outros fatores inconscientes, dessa forma, auxilia nos processos de compreendimento e resolução de conitos que serão analisados pelo prossional competente à área. Tal método abrange várias formas de expressão, tais quais o desenho, a pintura, a colagem e a escrita criativa que estão diretamente ligados aos estímulos visuais e a fantasia; a modelagem, a construção com sucata, o bordado que estão ligados também as sensações táteis; a

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dramatização, contar histórias, a musicoterapia, movimento e dança (biodança/dança circular) que estão ligados aos estímulos sonoros, corporais e a fantasia. É uma arte livre que se conecta a um processo terapêutico.

que a doença se localiza, resistência e vitalidade, rotina diária, hábitos alimentares, gravidade das condições clínicas, condição de digestão, detalhes pessoais, sociais, situação econômica e ambiental do indivíduo.

As técnicas artísticas serão oferecidas em um ateliê permeável que permitirá o indivíduo ou grupo entrar em contato com o meio externo e os outros espaços artísticos por meio de paredes móveis que podem ou não ser abertas e fechadas para formar novos espaços, dando movimento e liberdade ao edifício e aos pacientes.

Os tratamentos levam em consideração a singularidade de cada pessoa, de acordo com o dosha (humores biológicos). São utilizadas técnicas de relaxamento, massagens, plantas medicinais, minerais, posturas corporais (ásanas), técnicas respiratórias (pranayamas), posições e exercícios (mudras) e cuidado dietético.

Ayurveda: uma forma de compreensão da vida. Observação, experiência e uso de recursos naturais para desenvolver um sistema único de cuidado. Agrega princípios de saúde do corpo físico, de forma a não desvinculá-los e considerando os campos energéticos, mentais e espirituais. A investigação diagnóstica leva em conta tecidos corporais afetados, humor, local em

Biodança ou Dança Circular: Baseado em experiências do crescimento pessoal induzido pela música, movimento e emoção. A Fim de aumentar a resistência ao estresse, promover a renovação orgânica e melhorar a comunicação. Por meio do ritmo, da melodia e dos movimentos delicados e profundos, os integrantes da roda são estimulados a respeitar, aceitar e honrar as


diversidades.

individualidade.

Massoterapia: Consiste-se em técnicas milenares de massagem, a m de estimular a circulação sanguínea e melhorar a pressão arterial, aliviar dores musculares e diminuir o estresse, a ansiedade e melhorar a qualidade do sono, auxiliar na eliminação de toxinas do organismo e melhorar o metabolismo, além de promover bem-estar e fortalecer o sistema imunológico.

Meditação: A meditação é uma prática milenar de tranquilização da mente. No ocidente, a meditação começou a fazer parte do estudo cientíco no início dos anos 70, com o cardiologista e professor da faculdade de medicina de Harvard (EUA), Dr. Herbert Benson, ele observou benefícios da meditação, yoga e exercícios respiratórios no tratamento e recuperação de seus pacientes e denominou “Resposta ao Relaxamento” o conjunto de resultados obtidos com a prática recorrente destas. De acordo com pesquisadores, a atividade cerebral durante a meditação ativa o sistema límbico – entendido como o conjunto de estruturas cerebrais responsáveis pela interferência principalmente nos processos de emoção e motivação, atenção, memória e aprendizagem. Nesse momento há estimulação do hipotálamo, gerando uma leve sensação de prazer. Consequentemente a prática pode

Medicina Antroposóca: É o conjunto de teorias e práticas da medicina moderna (terapias físicas, arteterapia e aconselhamento) e medicamentos antroposócos e homeopáticos. Se fundamenta no entendimento espiritualcientíco do ser humano que considera o bem-estar e doenças como eventos ligados ao corpo, mente e espírito do indivíduo. Realizando a abordagem holística (salutogenesis) que enfoca os fatores que sustentam a saúde humana através do reforço da siologia do paciente e da

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e resultar em efeitos de curta a longa duração, possui efeito psicossomática e contribui para melhorias emocionais e cognitivas, além de físicas, espirituais e sociais. (KOENIG, 1998 p.86). A ideia é levar a prática para o ambiente externo para que se tenha maior troca entre paciente e natureza. Musicoterapia: Utiliza a música e seus elementos – som, ritmo, melodia e harmonia – como instrumento para facilitar e promover a melhoria em aspectos como a comunicação, aprendizagem, mobilização, organização, expressão, entre outros. A Fim de atender necessidades espirituais, sociais e cognitivas. Naturopatia: Vai além de uma terapia, é um estilo de vida que baseado na ideia de que o ser tem a capacidade de curar a si mesmo livrando-se de hábitos entendidos como tóxicos, resume-se ao reequilíbrio do organismo por meio de práticas que melhoram as defesas naturais do corpo.

A técnica surgiu na Europa do século XIX com o intuito de retornar à natureza em represália às formas de cura no período da revolução industrial. Era recomendado o contato com o sol, o ar e a água a m de retomar o equilíbrio das funções orgânicas. É indicada para diversas doenças, como anemia, artrite e alergias. A naturopatia une diversas terapias, tais como homeopatia, toterapia, massoterapia, hidroterapia, arteterapia, musicoterapia, técnicas de respiração, meditação e muitas outras. Osteopatia: É um método de diagnóstico e forma de tratamento manual das disfunções articulares e tecidos, muito utilizado em condições dolorosas da coluna cervical e membros superiores. Através de técnicas de manipulação, tratamentos para ATM (?) e mobilidade para vísceras, aos poucos vai melhorando a mecânica dessas articulações, órgãos e tecidos.


Quiropraxia: É uma técnica que trata alterações no sistema neuro-músculoesquelético por meio do manuseio corporal a m de promover o ajuste e alinhamento da coluna vertebral. Esta consiste - se em estruturas (vértebras) que formam um canal que carrega a medula espinhal e nervos conectados a diversas partes do corpo e funcionam como agente acionadores de ações, ou seja, a coluna é a interligação entre o cérebro que envia comandos, por meio dos nervos nesse canal, até os músculos, que o executam. O prossional entende o organismo como um sistema complexo e relaciona a prática a outros tratamentos, como exercícios especícos para cada caso, conselhos comportamentais, métodos contra o estresse, melhoria na postura e alongamentos. Os benefícios vão desde aumento da qualidade de vida e bem-estar, melhoria dos sistemas respiratório e digestivo, até diminuição signicativa do estresse,

reparação da postura e exibilidade, alívio de diversos tipos de dores e relaxamento. Reexoterapia: É uma técnica de tratamento por meio de estímulos em áreas reexas, pesquisas apontam para sua origem há mais de cinco mil anos na China. As principais áreas reexas são mãos, pés, orelhas, coluna, face e crânio. Parte do princípio de que o corpo é atravessado por meridianos que o dividem em diferentes regiões, cada uma delas tem seu reexo. A técnica consiste-se em uma técnica especíca de aplicação de pressão nos pontos reexos que permite a reativação da homeostase e o equilíbrio das regiões do corpo com bloqueio. É recomendada principalmente em casos de enxaquecas e cefaleias, problemas no trato digestivo, excretor, endócrino e respiratório, além de auxiliar em dores musculares e nas articulações, também diminui o estresse. Reiki: É uma técnica japonesa cuja

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etimologia é interpretada como a junção de “REI”, entendida como a energia cósmica universal que seria a energia da criação ou sabedoria divina, e “KI”, energia vital presente em todos os seres vivos; juntos representam a energia vital universal que pode ser despertada por qualquer pessoa visando a harmonização da energia vital. Consiste-se na canalização da frequência energética por meio do toque ou aproximação das mãos em pontos especícos onde se localizam os principais chakras e pelo olhar de um terapeuta habilitado, tal técnica desfaz bloqueios (nós energéticos) eliminando toxinas e equilibrando o uxo de energia vital (KI).

e síndrome do pânico, aumento da criatividade e autocontrole, fortalecimento do sistema imunológico. Shantala: É a prática de massagem em bebês e crianças, sendo uma série de movimentos pelo corpo, que permite despertar a ampliação do vínculo cuidador – bebê. Promove a saúde integral, reforçando vínculos afetivos, cooperação, conança, criatividade, equilíbrio físico e emocional.

A prática leva em consideração dimensões da consciência, do corpo e das emoções, promovendo a cura espiritual, mental, emocional e física.

Além de exercitar a consciência corporal do bebê ou criança, aumentando, assim sua noção de espaço e limites corporais, também promove a harmonização e equilíbrio dos sistemas imunológicos, respiratórios, digestivos, circulatórios e linfáticos e melhoria no sistema motor.

Os principais efeitos são relaxamento, sensação de bem-estar, redução do estresse e ansiedade, equilibrio emocional e hormonal, diminuição de toxinas no corpo, dos sintomas da depressão

Terapia Comunitária: A terapia geralmente é oferecida em espaços públicos já que tem como objetivo promover a construção de laços sociais, apoio emocional, troca de


experiências, prevenção ao adoecimento, diminuição do isolamento social e melhorar a consciência coletiva, de sociedade e comunidade. Procura valorizar a herança cultural e o conhecimento dos antepassados indígenas, africanos, europeus e orientais. Yoga: É uma losoa que trabalha a harmonização de corpo e mente, ou seja, trabalha os aspectos físicos, mentais, energéticos e espirituais visando a unicação do ser humano em Si e por si mesmo. Hatha yoga: fortalece corpo e mente através das posturas psicofísicas (ásanas), técnicas de respiração (pranayamas), concentração e de relaxamento. Benefícios: redução do estresse, regulação do sistema nervoso e respiratório, equilíbrio do sono, aumento da vitalidade psicofísica, equilíbrio da produção hormonal, fortalecimento do sistema imunológico, aumento da capacidade de concentração e de criatividade e a promoção

da reeducação mental com consequente melhoria dos quadros de humor, o que reverbera na qualidade de vida. J o n Ka b a t- Z i n n , p r o f e s s o r d e medicina da Universidade de Massachusetts também descobriu que a prática da meditação e yoga reduziram a dependência de analgésicos e os sintomas de dores crônicas em pacientes analisados. (KABATZINN, 1985, p.163). Após uma longa pesquisa sobre espaços de cura, sua história e a forma como eram e são pensados. Constatou-se que a tecnologia ao mesmo tempo que auxilia também afasta os espaços da escala humana, voltando o centro hospitalar para a doença e não para o paciente, o que reete em ambientes frios, isolados da natureza. A reexão sobre a humanização em espaços de cura surge para tentar resgatar o equilíbrio abrangendo circunstâncias sociais, éticas, culturais e emocionais do ser e colocar o homem como centro da atenção destes a m de promover bem-estar físico e emocional ao usuário, com ambientes

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acolhedores e convidativos. Procura resgatar valores humanísticos que foram deixados de lado em função da mecanização dos ambientes terapêuticos, fato que se observa até hoje com a construção de espaços quase como uma linha de produção, onde apenas se ergue uma caixa cheia de salas que servirão para o atendimento e adiciona-se iluminação e ventilação articiais. “O que torna um ambiente “humanizado” são atributos que lhe conferem escala e características compatíveis com as dimensões siológicas, psicológicas e morfológicas que o indivíduo carrega em si, assegurando alguma capacidade que este ambiente tem de interagir de maneira benéca, agradável com seu usuário.” (CIACO, 2010, p. 66).

Nesse sentido, segundo Ciaco, o que torna um ambiente humanizado é a conexão do paciente com o espaço. A composição do ambiente e a maneira como se dá as distribuições espaciais neste, criam atmosferas e energias que serão absorvidas e vivenciadas pelos pacientes e usuários daquele espaço.

Por isso, é muito importante que os elementos escolhidos para compor um ambiente terapêutico promovam conforto psicológico ao usuário, que se encontra em uma situação de vulnerabilidade. Dessa forma, o ambiente bem planejado servirá de catalisador nos processos de cura, podendo reetir positivamente nos processos terapêuticos. Para Ciaco (2010), o local onde o edifício é inserido é um ponto muito importante, já que este deve estar em harmonia com seu entorno, além de se considerar a topograa, insolação e os ventos dominantes da região para que, dessa forma se possa obter o máximo aproveitamento das condições de conforto ambiental. Dessa forma, o processo para escolha do lugar foi minucioso. A princípio foi traçado um polígono demarcando pontos chaves para o projeto. Esses pontos demarcados situavam-se em hospitais da cidade de Presidente Prudente. O polígono delimitante abrangia


áreas entre o Hospital Regional Doutor Domingos Leonardo Cerávolo, o Hospital Iamada, Hospital e Maternidade Morumbi e a Santa Casa da Misericórdia. A partir destes pontos foi possível seguir com a escolha, o próximo passo foi escolher áreas livres possíveis para a implantação do projeto. Foram apuradas 4 áreas, sendo elas:

Área 2 - Próxima ao parque do povo, localizada entre as Avenidas 11 de Maio e Hiroshi Yoshio Comendador, na mesma quadra da Cardiovida Clínica Cardiológica. Em uma Z3 com área de 20.142 m² e perímetro de 594,64 metros. Imagem 38: Área 2.

Área 1 - Em frente ao SESC e fundo da UNESP, localizada entre as ruas Artur Whitaker e Hélio Pereti, no Jardim Campo Belo, a cerca de 208 metros do Hospital Iamada. Área de 6.243 m² e perímetro de 324,52 metros. Porém, a área se encontra em uma Zona Especial, com fundo de vale. Imagem 37: Área 1.

Fonte: Google Street View, 2018. Modicada pela autora.

Fonte: Google Street View, 2018. Modicada pela autora.

Área 3 - Área usado em Projeto de Arquitetura III, entre as ruas Antônio Silvestre e Sebastião Crelis, a aproximadamente 200 metros da rodovia Raposo Tavares, em uma ZI1 (Zona Industrial não poluitiva) a cerca de 164 metros de uma APP, com área próxima a

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45.084 m² e perímetro de 909,81 metros.

Imagem 40: Área 4.

Imagem 39: Área 3.

Fonte: Google Street View, 2018. Modicada pela autora.

Área 4 - Atrás do Colégio Anglo Prudentino, localizada entre o Jardim Colina e o Jardim Aquinópolis, com acesso pela rua Antônio Carlos Rodrigues, em uma Z3 com APP a cerca de 170 metros ao sul da área. Com área de aproximadamente 64.737 m² e perímetro de 1,26 quilômetros. Após analisar os prós e contras das áreas pré pontuadas, foi adotada a área 4. Sua localização na cidade foi um ponto importante, pois ao redor da área encontrase vários prédios relacionados ao tema proposto.

Fonte: Google Street View, 2018. Modicada pela autora.

Esta área se encontra próxima a uma APP, o que foi outro ponto crucial para a escolha da mesma, pois a relação com a água é um ponto importante na elaboração do projeto. A 244 metros a nordeste encontra-se o Templo Budista Nissenji, a cerca de 309 metros a nordeste localiza-se o Hospital Regional, a aproximadamente 615 metros a noroeste encontra-se o Hospital e Maternidade Morumbi e a cerca de 1 quilômetro a noroeste situa-se o Hospital Iamada.


Hospital Regional

MAPA Vegetação Localização da Área de Intervenção e Entorno Vegetativo Predominante Área de intervenção Córrego do Ferreirinha Área de vegetação predominante m

Fonte: Elaborado pela autora com base no Google Earth, 2018.


A área está localizada em uma Z3, de acordo com o mapa de Zoneamento a seguir, tal zona se caracteriza por se tratar de uma Zona Residencial de Alta Densidade Populacional de Interesse Social , e ocupação horizontal e vertical.


Esses espaços estão relacionados tanto com a cultura oriental, de onde tem origem a maioria das práticas oferecidas pela PNPIC, no caso do templo, e com a medicina ortodoxa que também possui grande importância nos processos de cura, já que a união entre estas e as práticas integrativas e complementares garante resultados mais rápidos e duradouros em tais processos. A imagem 42 apresenta o mapa de vias, onde é possível observar a proximidade da área com a rodovia Raposo Tavares, uma via estrutural expressa, com alta capacidade de volume de automóveis, caracterizada por trânsito rápido. As vias arteriais primárias constituídas pelas avenidas Joaquim Constantino, da Saudade, e Luis Cezário. E as vias arteriais secundárias rua Padre João Goetz e rua José Bongiovani. As vias coletoras que levam até á área são a rua Anna Gerbasi, rua Antônio Molina e Antônio Almodova. Por m, a via local que leva diretamente ao terreno é a rua Antônio Carlos Rodrigues e a via local que circunda parte do mesmo é a rua Álvaro Pinto Ribeiro.

Imagem 42: Mapa de Hierarquia de Vias.

Fonte: Autora, 2018.


Com relação ao entorno, a imagem 43 traz o mapa de uso e ocupação aponta para uma região de uso predominantemente residencial unifamiliar. A maioria das habitações são térreas ou com até 2 pavimentos, com exceção de alguns prédios de mais de 4 pavimentos. A região abriga

grande número de trabalhadores e estudantes da área de saúde devido à proximidade com o Hospital Regional de Presidente Prudente, o que fortalece a integração do projeto ao bairro, seus moradores e usuários. Imagem 43: Uso e ocupação.

Fonte: Autora, 2018.


Hospital Regional A presença da água foi um ponto decisivo na etapa de escolha do local, que se encontra a aproximadamente 164 metros de uma Área de Preservação Permanente, por onde passa o córrego Ferreirinha, a imagem 43 traz o mapa de localização e mostra a

450m

MAPA Localização Localização da Área de Intervenção e Entorno Área de intervenção Córrego do Ferreirinha Curvas de nível

m

Fonte: Elaborado pela autora com base no Google Earth, 2018.

região escolhida e sua relação com o córrego e as curvas de nível de 10 em 10 metros aponta para uma área com declividade acentuada, que surge inicialmente como um desao para se pensar o projeto.


Partindo dos princípios apontados anteriormente, para a proposta do Centro Terapêutico Araki foi pensado um programa para separar as áreas de atuação. A princípio foi elaborado um uxograma (imagem 45) que separava a área em blocos.

O pré-dimensionamento foi feito prevendo 792 metros quadrados para os blocos de atividades, além destes, a ideia também contemplava estacionamento para uso preferencial, um parque fazendo a ligação dos espaços construídos com a natureza, jardim sensorial e espaços de contemplação.

Imagem 45: Fluxograma inicial.

Fonte: Autora, 2018.


O pré-dimensionamento foi feito prevendo 792 metros quadrados para os blocos de atividades, além destes, a ideia também contemplava estacionamento para uso preferencial, um parque fazendo a ligação dos espaços construídos com a natureza, jardim sensorial e espaços de contemplação. O bloco administrativo, com aproximadamente 117 m², contendo: Duas sala multiuso para reuniões - com dimensões de 3,6 x 4,5 metros totalizando 16,2 m² por sala; Quatro salas de consulta para prossionais como nutricionistas, psicólogos, médicos e enfermeiros, com dimensões de 2,1 x 3 metros, totalizando 6,3 m² por sala; Cozinha, com dimensões de 3,6 x 3 metros, totalizando 10,8 m²; Banheiros, com dimensões de 6,8 x 3,6 metros, totalizando 24,48 m²; Secretaria com sala de estar, com dimensões de 4 x 4,5 metros, totalizando 18 m²;

Despensa, com dimensões de 2 x 3 metros, totalizando 6 m². Bloco das artes, com aproximadamente 163 m², contendo: Ateliê de artes e música, com dimensões de 10 x 7 metros, totalizando 70m²; Pátio ao ar livre para atividades em grupo, com aproximadamente 93m². Bloco das atividades ao ar livre, com aproximadamente 144 m². Bloco de áreas molhadas, com aproximadamente 98 m², contendo: Sauna para dez pessoas, com dimensões de 2,5 x 3 metros, totalizando 7,5m²; Sanitários com trocadores, com dimensões de 7,2 x 7,2 metros, totalizando 51,84m². Horta com raio de 3,5 metros, totalizando 38,5m² aproximadamente. Bloco com salas para práticas com maca, com aproximadamente 270 m², contendo: Seis espaços para acupuntura, com dimensões de 3 x 5 metros, totalizando 90

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Seguindo a ideia de separação por blocos, a próxima etapa foi trabalhar com escalas menores a m de dimensionar os espaços de forma a gerar uma volumetria que estivesse em harmonia com o terreno. O primeiro passo foi repensar a divisão dos blocos, pois a ideia era de se projetar um espaço simples, convidativo e acolhedor, não apenas às pessoas que buscassem as práticas ali oferecidas mas também que fosse proposto um ambiente de

Imagem 46: Estudos para as plantas.

qualidade para permanência a qualquer hora do dia, a ideia era criar espaços de contemplação e vivência com a natureza. A imagem 46 a seguir referem-se aos primeiros croquis da planta dos blocos, nesse ponto ainda não havia sido estipulada uma linguagem para trabalhar os espaços. Dessa forma, os espaços se conguraram de maneiras diferentes e ocupando áreas maiores.

Fonte: Autora, 2018.


O próximo passo contou com estudos que deram origem a um programa simplicado, a imagem 46 apresenta um croqui de estudos para a planta, já implantada no lote. Foram pensadas a distribuição espacial adequada, a necessidade de acessibilidade do prédio diante à topograa, as possibilidades visuais, insolação e ventos predominantes, além da relação interior-exterior que queria se obter em conjunto com a presença da natureza. Imagem 46: Croquis de estudo da planta.

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Fonte: Autora, 2018.


A nova dinâmica da separação de áreas foi feita para não separar usuário de funcionário, a proposta partiu-se da exibilidade de espaços e liberdade de usos. Dessa forma, buscou-se trabalhar tais elementos com o intuito de proporcionar e estimular ao máximo os sentidos. Assim, foram pensados 3 blocos que se abrem e fecham quando necessário mas permitem que os espaços de permanência sejam utilizados a qualquer hora, a imagem 47 traz um estudo simples da disposição dos blocos pensado inicialmente. O número 3 também inuenciou na divisão, por se tratar de um número que representa a perfeição em várias culturas. O bloco 1 é o maior, com aproximadamente 179,8 metros quadrados de área coberta mais 40,4 metros de área de contemplação, integra recepção, sala de espera, área molhada com sanitários e uma pequena cozinha tanto para uso dos usuários quanto dos funcionários, grandes áreas de circulação além de um espaço de contemplação que se estabelece em um deck voltado para a APP. O bloco 2 com aproximadamente 77,25 metros quadrados de área coberta e 51,35 metros quadrados de deck para permanência, compreende as terapias voltadas à arte, divido entre espaço de música e dança e atelier com várias possibilidades de visuais, abrindo-se por meio de portas e janelas de vidro para o deck que permeia entre os dois espaços, a APP, a rua e o bloco 1, o bloco 2 é elevado a 2 metros do chão, pois abaixo encontra-se um jardim Imagem 47: Croquis de estudo do corte.

Fonte: Autora, 2018.


sensorial e piscina natural por onde passa a água da chuva e é levada até o córrego a m de se restaurar a nascente que está presente a cerca de 160 metros do prédio. O acesso se dá por meio de duas rampas, a primeira liga o bloco 1 ao 2 e a segunda, o bloco 3 ao 2. O bloco 3 engloba as terapias mais ligadas ao corpo, com 3 salas onde são feitas as terapias mais íntimas e corporais, como acupuntura, ayurveda, massoterapia, medicina antroposóca, osteopatia, quiropraxia, reexoterapia e reiki, onde o silêncio e a privacidade são pontos importantes para a qualidade das mesmas. No mesmo patamar encontra uma sala onde podem ser oferecidas shantala e terapia comunitária, além de servir como opção para a meditação e yoga. Para garantir a conexão com a natureza e estimular as trocas com o ambiente externo, foi pensado um telhado verde para práticas corporais como meditação, naturopatia, terapia comunitária e yoga, o acesso se dá por uma rampa entre o bloco 2 e 3 e uma escada entre o deck do bloco 3 e a cobertura. A imagem 48 apresenta um croqui do pré dimensionamento, feito como estudo das áreas onde os blocos começaram a ganhar forma.

Imagem 48: Croqui estudos.

Fonte: Autora, 2018.


Para que todos os usuários do espaço se sintam confortáveis, foram feitos estudos de conforto luminoso, térmico e acústico, além da humanização dos espaços por meio da disposição adequada das áreas e

levando em consideração os recursos naturais, tais quais insolação, ventilação e topograa com a intenção de diminuir ao máximo os impactos na área escolhida. A imagem 49 apresenta um croqui de um corte de estudos do projeto.

Imagem 49: Croqui corte esquemático.

Fonte: Autora, 2019.


Imagem 50: Croqui da fundação.

A materialidade foi pensada para proporcionar conforto e segurança dos usuários e funcionários, possibilitar a conexão com a natureza, garantir qualidade e resistência à estrutura, buscando materiais com maior vida útil para diminuir os gastos com manutenção visto que a ideia consolida-se em um espaço público que além de oferecer as práticas terapêuticas também sirva de ambiente de permanência e contemplação, além da preocupação com a sustentabilidade. Para resolver a topograa foi escolhido elevar a maior parte possível dos espaços e manter ao seu nível de origem a m de facilitar o uxo de pessoas e o acesso as entradas, além de diminuir os riscos de problemas futuros com possíveis patologias oriundas de movimentação de terras, vide corte AA da prancha técnica. A fundação escolhida foi um sistema de estacas de concreto armado associado aos pilares metálicos de perl H como pode ser observado na imagem 50 de um detalhamento da estrutura de fundação.

Fonte: Autora, 2019.

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Seguindo o esquema de detalhamento, a imagem 16 apresenta estudos da estrutura metálica dos pilares em perl H que estendem-se desde a fundação até o pé direito dos edifícios, conduzem as cargas distribuídas pela grelha metálica quadrada (imagem 51 e 52) até a fundação. O aço foi escolhido para garantir a resistência estrutural e aumentar a vida útil da obra. Imagem 51 e 52: Estrutura metálica dos pilares e

detalhamento da grelha metálica.

Fonte: Autora, 2019.


A estrutura metálica serve de apoio para todo o edifício, inclusive para os decks de pinus tratado por autoclave, uma opção sustentável e economicamente viável, estabelecendo a conexão entre interior e exterior, os decks foram adotados para garantir a permeabilidade do solo e manter as características da topograa mais próximas das naturais. A madeira também foi usada nas estruturas de guarda corpo devido à baixa condução de calor do material. Para a vedação optou-se por blocos pré-fabricados de concreto celular am de transpassar leveza estética e estrutural, promover economia de energia elétrica devido a maior diculdade de trocas de calor garantindo, dessa forma, o conforto térmico e acústico dos ambientes, resistência contra fogo, umidade e outros agentes causadores de patologias, além de ser uma opção mais rápida e de fácil manuseio e sua uidez reduz gastos com equipamentos e mão de obra. A ideia de edifícios uidos e

dinâmicos que se abrem para espaços comuns de contemplação se reforça com as aberturas, as portas constituídas de folhas de vidro que deslizam para dentro da parede -já que o bloco de concreto celular é facilmente cortado permitindo esse tipo de integração são associados à portas articuladas de metal para garantir a seguridade dos espaços internos quando fechados após os horários de atendimento, deixado apenas as áreas comuns abertas. As janelas constituem-se de folhas de vidro, nas áreas molhadas encontram-se em uma faixa acima permitindo explorar a ventilação cruzada nesses ambientes, isso somado à orientação destes espaços, que se encontram na fachada noroeste garantindo maior iluminação e ventilação nesses espaços, diminuindo possíveis problemas de umidade. A cobertura é apoiada sobre vigas de metal em perl I para garantir estabilidade e permitir vencer grandes vãos, no caso, o vão adotado foi de 6 metros para pilares de 15 centímetros, apoiando vigas de 25

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centímetros de altura. A cobertura dos blocos 1 e 2 foram resolvidas com telha termoacústica (sanduíche) para garantir o isolamento térmico e acústico dos espaços, promover economia de energia por diminuir a necessidade do uso de ventilação e refrigeração articiais e ter fácil manutenção, outro fator importante é a redução do alastramento de chamas que o material proporciona, tal fator unido ao concreto celular garantem maior resistência ao fogo. Já o bloco 3 possui teto verde onde algumas terapias corporais como yoga, m e d i t a ç ã o , d a n ç a c i r c u l a r, t e r a p i a

comunitária entre outras, podem ser oferecidas, trazendo a natureza também para os espaços construídos. O teto verde é composto pela laje de concreto, uma camada para o controle de vapor, uma manta de isolamento, uma camada de membrana asfáltica impermeável, uma camada de drenagem com manta geotêxtil, uma camada drenante, uma camada ltrante, uma camada de terra e por último a vegetação, a imagem 53 traz o esquema das camadas. A inclinação utilizada foi de 3%. Imagem 53: Esquema das camadas do teto verde.

Fonte: Autora, 2019.


As caixas d’água são colocadas na laje permitindo o uso da gravidade para resolver as questões dos sanitários. Para o projeto paisagístico foi pensado trabalhar com elementos a m de agregar ao projeto um certo toque convidativo, dessa forma foram escolhidas espécies frutíferas como jabuticabeira, goiabeira, amoreira e pé de acerola, além de ervas que estimulam os sentidos, como lavanda, hortelã, capim-limão e camomila, que também foram pensadas para o consumo. Uma piscina natural, a qual pode ser observada no corte técnico, foi implantada abaixo do bloco 2 para captação da água da chuva sendo esta direcionada, por meio de espelhos d’água e canalização, até o córrego Ferreirinha, a aproximadamente 164 metros da implantação. Dessa forma foram acrescentadas ao projeto ervas repelentes de insetos, inclusive o aedes aegypti, como a citronela, manjericão e erva-cidreira. A imagem 54 apresenta um corte com estudos bem detalhados do projeto. Imagem 54: Corte esquemático, sem escalq.

Fonte: Autora, 2019.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente trabalho, foi realizada uma revisão bibliográca sobre o funcionamento do Sistema Único de Saúde voltado para a política nacional de práticas integrativas e complementares, assim como o estudo sobre a humanização dos ambientes de cura visando a busca por espaço onde o homem é compreendido como um ser complexo e colocado como centro da atenção e a promoção do bemestar e equilíbrio são resultantes de um processo envolvendo técnicas com o projeto arquitetônico como catalisador dos mesmos. A ideia de um refúgio dentro da cidade, onde é possível se estabelecer uma conexão com os elementos naturais que proporcionam trocas energéticas. Nesse sentido, foi proposta a implantação do Centro Terapêutico Araki, título esse que tem origem no nome do bairro onde o mesmo se localiza, após uma breve pesquisa sobre o signicado da palavra, foi constatado que sua origem vem de um sobrenome que signica árvore silvestre,

sobrenome que signica árvore silvestre, dessa forma, o título foi aplicado ao projeto pois se relaciona de maneira direta com o que é proposto. Num contexto geral, o trabalho expôs a relevância do planejamento adequado e do desenvolvimento de ambientes de qualidade para a promoção do bem-estar e desenvolvimento dos processos de cura a m de se estabelecer uma relação benéca entre usuário, espaço construído e a natureza. Os estudos e análises resultaram em um projeto único, que traz qualidades arquitetônicas interessantes e necessárias com o objetivo de quebrar paradigmas quanto à visão ortodoxa de se pensar os espaços de cura. Dessa forma, a proposta projetual se completa por meio do texto e das pranchas técnicas apresentadas, planejando um espaço para o oferecimento das Práticas Integrativas e Complementares em um ambiente de qualidade que proporciona uma conexão com a natureza a m de promover uma relação do homem com sua


origem e seu íntimo. A ideia tanto das práticas quanto do projeto é a de estreitar os laços entre ser e ambiente, mostrando que é possível alcançar um estado de equilíbrio e respeito com a natureza mesmo dentro de um centro urbano consolidado. A fuga do caos cotidiano encontra refúgio nos mais simples detalhes.

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