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Questão do Tempo | pág

Questão de Tempo

Por Wladymir Ferraz de Camargo Lins

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“Será que é tempo que lhe falta pra perceber. Será que temos este tempo pra perder. E quem quer saber... a vida é tão rara” (Lenine)

Na Mitologia romana, o deus Saturno representava o tempo, a dissolução, a abundância, a renovação periódica e a libertação. O sábado, dia do descanso, é dedicado a ele. Para os gregos, Cronos era o deus que personificava o tempo. Era um dos titãs, filho do céu (Urano) e da terra (Gaia). Com receio da maldição de Urano de que um de seus filhos iria destroná-lo, devorava todos ao nascimento; porém Zeus foi salvo e com ajuda dos irmãos, derrotou Cronos e ganhou o dom da imortalidade.

Para os gregos Chronos era o nome atribuído ao “tempo dos homens”, o tempo físico, que é cronológico e segue uma sequência; e kairós, que possui natureza qualitativa, o momento oportuno, o “tempo de Deus”.

Na visão da medicina de Hipócrates, a doença desenvolve seu processo durante certo tempo até o momento crucial, chamado krisis (crise), quando a doença se define. O bom médico precisa perceber e identificar o kairós (momento oportuno de agir), para ter efetividade de resultados.

Para alguns filósofos atomistas, como Epicuro, Demócrito e Lucrécio, a criação do mundo estava relacionada a um momento oportuno de combinação e dissociação. O conceito de tempo linear foi estabelecido na cultura judaico-cristã, representando um começo, um ato de criação de Deus.

Na concepção de Isaac Newton o tempo era considerado uma unidade linear, independente do espaço. Albert Einstein referiu que “a diferença entre passado, presente e futuro é uma persistente ilusão”. A noção de tempo é relativa, pois está vinculada à velocidade, não tem um valor absoluto. Para Einstein, o tempo e o espaço formam uma unidade cósmica indissolúvel.

As teorias da Física Quântica são sustentadas pelo princípio da incerteza, onde seria impossível medir simultaneamente a posição e velocidade de uma partícula. No cinema, filmes como “Back to the future” referem uma utopia a realidade como viagens no tempo. Os conceitos de causalidade e tempo são indissociáveis da natureza humana.

A noção de tempo é percebida por nossos sentidos, sendo estabelecido via processos psicossomáticos, portanto, sujeito às distorções perceptivas. Expressões como: “o tempo voou”, “o ano passou depressa”, “essa reunião não acaba”... são analisadas em função de nossa subjetividade.

Quando o físico Benjamin Franklin (1706-1790), influenciado pelo filósofo Teofrasto (372-288 a.C), disse “time is money”, queria dizer que o tempo é o bem mais precioso que possuímos, frase depois corrompida pelos ideais do capitalismo selvagem. Cazuza em sua canção de 1988 proclamou que “o tempo não para”, onde a passagem do tempo é inevitável e desejável para libertarmos.

Como instrumento de regulação e normatização da sociedade, ocorre a noção de tempo social urbano após a Revolução Industrial, no século XIX. Surgem os relógios urbanos em locais estratégicos das cidades como estações ferroviárias e praças públicas. E também os relógios de ponto e apitos de fábricas para indicar e demarcar os turnos de trabalho.

A rotina e os compromissos do dia a dia faz com que tenhamos que elencar prioridades e como toda escolha, o que não entra neste rol causa algum tipo de sofrimento. São amizades que não conseguimos estar sempre próximos, pessoas queridas que não vemos frequentemente, práticas que que gostariamos de exercer com maior frequência.

Segundo o conceito de sincronicidade proposto por Carl Jung (psiquiatra 1875-1961), os acontecimentos não se definem por relação causal e sim por relação de significado. O não gerenciamento do tempo traz dores e sofrimento.

O uso do tempo de forma indevida pode nos tornar enfermo. Existem lesões adquiridas pelo uso excessivo de computadores, criando uma geração doentia, refém da mídia do novo milênio. Distúrbios de sono (insônia, sonolência, bruxismo, etc.), distúrbios mentais, mentes desorganizadas e inquietas, distúrbios alimentares (obesidade, anorexia, bulimia, etc.) dentre outras consequências da administração incorreta do tempo.

Mudança de hábitos que tragam alegria e espontaneidade é premente neste estágio. Estar presente no momento presente; viver o aqui e agora sem ficar impactado com os arrependimentos do passado e ansiedades do futuro são indicações positivas que aliviam a dor.

Se investisse mais em nosso protagonismo perante a vida, talvez não ficasse tão angustiado com a questão do tempo. Alice perguntou ao coelho branco – quando é para sempre? E ele respondeu – nunca, jamais. (Lewis Caroll)

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