Copyright © 2018 by Eduardo H. K. Oliveira Revisão Samara Kouzak Guilherme Bezerra Rodrigues Alessandra Ângela Capa Douglas Lucas Edição de imagens Pedro Mafra Projeto gráfico e diagramação Silvana de Barros Panzoldo
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO (CIP) 048m Oliveira, Eduardo Henrique Kouzak O manual do Bitcoin: tudo o que você precisa saber para não perder tempo nem dinheiro / Eduardo Henrique Kouzak Oliveira ; prefácio Samy Dana. – Brasília, DF: [s.n.], 2018. ISBN 978-85-5697-430-3 1. Tecnologia. 2. Finanças. I Título. CDD: 600 omanualdobitcoin@gmail.com www.omanualdobitcoin.com
AGRADECIMENTOS
Esta produção é o resultado da soma de esforços de muitas pessoas, que contribuíram decisivamente para torná-la realidade. Gostaria de agradecer, antes de tudo a Deus, pelo dom da vida, pela saúde e pelo acesso às ferramentas necessárias para adquirir e produzir conhecimento. Aos meus pais, Dimas e Bárbara Oliveira, a quem eu tudo devo, pelo exemplo, proteção, amor e dedicação empenhados durante toda minha existência e mesmo antes da concepção. À minha irmã Juliana Oliveira, pelo companheirismo e exemplo, mesmo sendo consideravelmente mais jovem. Ao meu cunhado Guilherme Rodrigues, pela amizade, incentivo desde o primeiro rascunho e pela perícia na revisão do texto. Aos meus sogros George e Selma Kouzak, meus segundos pais, pelo carinho e apoio incondicional a todos os nossos projetos de vida. À minha amada esposa Samara Kouzak, a melhor metade de mim e verdadeiro porto seguro. Por fazer-me melhor ao seu lado, amar-me e oferecerme inúmeras razões para viver. Pela sua participação direta no livro, sem a qual ele não existiria. E principalmente na minha vida, sem a qual ela não teria graça. À minha querida família, por ser uma base inesgotável de fé e retidão, e por depositarem confiança em mim, muitas vezes mais do que eu mesmo. Aos meus pacientes e colegas de trabalho, membros de uma segunda e enorme família, por me guiarem e por me inspirarem no ofício diário. Aos meus amigos, pela lealdade, autenticidade e capacidade de tornar os dias mais leves e divertidos. Ao meu amigo Daniel Salomão, por prestar inestimável consultoria editorial a este estreante escritor. Ao meu amigo Pedro Mafra, pela gentileza de edição das imagens contidas no
livro. Ao Samy Dana, pelo prestígio e generosidade em emprestar seu valioso tempo na composição do prefácio. Aos demais profissionais envolvidos, pela atenção aos mínimos detalhes e profissionalismo. Um verdadeiro time de pessoas talentosas e comprometidas. Aos colaboradores desconhecidos e anônimos que, ao despertar dúvidas, contradições e oportunas reflexões, enriqueceram e propiciaram subsídios fundamentais para a elaboração do texto. Agradeço sobretudo a você, caro leitor, por despertar-me inexplicável empolgação durante a redação deste livro. O seu carinho, a sua atenção e seu verdadeiro interesse pelo conteúdo desta obra são as recompensas mais honrosas com as quais eu poderia sonhar. A todos que contribuíram para a concretização desta missão, o meu muito obrigado!
Aos nossos futuros filhos, que possam viver em uma sociedade mais informada, justa e livre.
SUMÁRIO
Agradecimentos Prefácio Introdução PARTE I
DECIFRANDO O UNIVERSO DOS BITCOINS capítulo 1 O QUE É O BITCOIN E POR QUE DEVO ME IMPORTAR? capítulo 2 NASCE UMA MOEDA DESCENTRALIZADA capítulo 3 O FUNCIONAMENTO DA BLOCKCHAIN capítulo 4 QUEM SÃO OS MINERADORES DO SÉCULO XXI? capítulo 5 JARGÕES DO CRIPTOMUNDO capítulo 6 A PIZZA DE MEIO BILHÃO DE REAIS capítulo 7 FIGHT OR FLIGHT capítulo 8 MITOS E VERDADES PARTE II
ECONOMÊS EM BOM PORTUGUÊS capítulo 9 HISTÓRIA DO DINHEIRO – DO ESCAMBO AO MASTERCARD capítulo 10 UM ANTÍDOTO CONTRA INFLACIONÁRIO capítulo 11 POR QUE O LASTRO PODE SER DESIMPORTANTE capítulo 12 MOEDA DE TROCA OU RESERVA DE VALOR? capítulo 13 O ALTO CUSTO DOS ATRAVESSADORES capítulo 14 LIBERDADE POLÍTICO-MONETÁRIA capítulo 15 CETICISMO DOS ATORES TRADICIONAIS PARTE III
PASSO A PASSO: COMO COMPRAR, PROTEGER E UTILIZAR SEUS BITCOINS capítulo 16 AFINAL, QUANTO INVESTIR? capítulo 17 COMPRANDO SEUS PRIMEIROS BITCOINS capítulo 18 UMA CORRETORA PARA CHAMAR DE SUA capítulo 19 COMO CONFIGURAR UMA HOT WALLET capítulo 20 GUARDE SEUS BITCOINS DENTRO DO COFRE capítulo 21 CONVERTENDO BITCOINS EM REAIS
capítulo 22 CUIDADO COM OS LADRÕES VIRTUAIS PARTE IV
BITCOIN EM PAUTA capítulo 23 OS POLÊMICOS FORKS E COMO SE PREPARAR capítulo 24 COMO EXPLICAR AOS AMIGOS E FAMILIARES? capítulo 25 O QUE JÁ SE PODE PAGAR COM BITCOINS capítulo 26 É POSSÍVEL MELHORAR O MUNDO COM BITCOINS? capítulo 27 E SE FOR UMA BOLHA? capítulo 28 ALTCOINS E A BUSCA DA MOEDA PERFEITA capítulo 29 REGULAÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO capítulo 30 O QUE PODEMOS ESPERAR? Referências bibliográficas Sobre o autor
PREFÁCIO
A palavra Bitcoin não passou despercebida por ninguém em 2017. Mesmo aqueles que não possuem muito interesse em conhecer a fundo sobre aplicações financeiras de renda variável voltaram seus olhos para a criptomoeda. O alvoroço geral em torno do assunto se deve à rápida valorização que a moeda virtual alcançou. O sonho do dinheiro fácil é uma armadilha comum para qualquer ser humano. Ver o colega ao lado ganhando dinheiro rapidamente é uma tentação contagiosa para angariar cada vez mais investidores adeptos ao Bitcoin. Mas até que ponto essa valorização pode chegar? E se o valor despencar repentinamente? Mais além, o que está por trás dessa rápida valorização? Antes de investir qualquer quantia no ativo, o mais importante é conhecer o terreno onde se está pisando. EDUARDO H. K. OLIVEIRA é um entusiasta do tema e traz informações mais detalhadas sobre o funcionamento de uma criptomoeda e a tecnologia presente por trás das moedas virtuais. Aos interessados em ingressar neste mundo, ele aponta os caminhos para investir na moeda, com uma parte dedicada a um passo a passo. Por fim, coloca alguns contrapontos importantes, como a possibilidade de o investimento acabar se tornando uma bolha financeira. Eu inclusive acredito que haja uma bolha financeira formada e não recomendo o investimento. Este risco, inclusive, foi ressaltado também por economistas de renome e ganhadores do prêmio Nobel, como Robert Shiller, Joseph Stiglitz e Jean Tirole. Diante das incertezas e a curiosidade gerada em torno do Bitcoin, a leitura traz maiores esclarecimentos sobre o tema. Independentemente do apetite do leitor para investir neste novo tipo de ativo, a obra é interessante para trazer mais familiaridade com as criptomoedas - que provavelmente continuarão em pauta ainda por muito tempo, independente dos rumos do Bitcoin no futuro.
Tendo em vista um cenário de avanço constante de tecnologias como Blockchain e Inteligência Artificial ocupando cada vez mais espaço em todas as esferas, nada mais saudável do que buscar atualizações sobre como essas tecnologias estão impactando o mercado financeiro. Dito isso, boa leitura a todos! Samy Dana SAMY DANA possui graduação e mestrado em Economia, Doutorado em Administração e Ph.D. in Business. É professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas, âncora do programa Conta Corrente (Globo News), comentarista da Rádio Globo e da TV Globo nos telejornais Hora 1, SP1 e Jornal da Globo. É também colunista da Portal G1 de notícias e do Jornal O GLOBO. Possui mais de 15 anos de experiência em consultorias e apresentação de palestras. É autor de vários livros ligados a finanças, economia e negócios.
INTRODUÇÃO
“Os investimentos em conhecimento geram os melhores dividendos.” – BENJAMIN FRANKLIN O Bitcoin é o assunto do momento. Viveu nos últimos anos e, em especial a partir de 2016, uma impressionante valorização, ganhando, dessa forma, a atenção de todo o mundo, desde pessoas comuns à crítica especializada. O fenômeno criptográfico já é considerado por muitos a maior invenção desde o surgimento da internet, com potencial de verdadeiramente revolucionar a infraestrutura financeira mundial. Porém, como todo assunto da moda, ele também divide opiniões. Economistas prestigiados recomendam muita cautela ao negociá-los, evitando-se alocar quantidades significativas de capital, devido à alta volatilidade e significativo risco de perdas. É exagero dizer que o Bitcoin irá mudar a forma como lidamos com o dinheiro? Qual é o seu papel na economia brasileira e no mundo? Ele é seguro, afinal? Como funciona? Por que sua cotação flutua com tanta rapidez? Por que alguns acreditam que ele seguirá se valorizando e adquirindo cada vez mais adeptos enquanto outros profetizam o colapso e o estouro de uma bolha? O que e como fazer para inserir-me definitivamente neste controverso universo? Para responder a essas e tantas outras perguntas, procurei reunir neste livro informações práticas e teóricas contextualizadas, cujo principal objetivo será introduzir você, leitor, neste interessante, e por vezes nebuloso, mundo das criptomoedas. Para tornar nosso passeio mais didático, dividiremos o livro em quatro partes:
Na primeira, o objetivo será fazê-lo compreender a essência do funcionamento do Bitcoin. Embora atualmente seja quase impossível ligar a televisão ou navegar na internet sem ouvirmos falar no assunto, poucos veículos se prestam realmente a explicar o que está por detrás da moeda. Igualmente, há na rede muitas informações desorganizadas, o que gera ainda mais confusão em meio a termos técnicos e pouco intuitivos. Nesse bloco, focaremos na origem do Bitcoin, em como é constituído e como a computação mantém a confiabilidade do sistema, além de explicar quem são e como atuam os mineradores. Também veremos como tem se comportado a cotação nos últimos anos, avaliando o seu histórico de volatilidade. E, por fim, um tira dúvidas sobre mitos e verdades acerca do Bitcoin. A segunda parte é dedicada a aproximar o leitor de conceitos econômicos básicos, contextualizando-os à realidade do Bitcoin. Como ele se insere no mercado? Que papéis ele já exerce ou poderá alcançar? Como ocorreu a evolução do dinheiro desde os seus primórdios até os dias atuais? Veremos ainda como populações em situações de fragilidade têm visto no Bitcoin uma chance contra as crises que assolam seus países. Conceitos muito bem conhecidos por economistas, mas alheios à maioria de nós, traduzidos em bom português. Na terceira parte, um passo a passo sobre como comprar e armazenar de forma segura seus primeiros Bitcoins. Além disso, dicas fundamentais para protegê-los contra a ação de hackers e pessoas mal-intencionadas. É a parte essencialmente prática do livro, repleta de ilustrações que o auxiliarão a prosseguir, minimizando a chance de eventuais erros. A quarta e última parte do livro foi reservada para assuntos quentes na comunidade, que envolvem o presente e o futuro do Bitcoin. Falaremos sobre a sua regulamentação no Brasil e no mundo, como posicionar-se diante das atualizações do sistema, como já é possível utilizar seus Bitcoins e como reagir diante do risco de manobras especulativas sobre o mercado da criptomoeda. Espero que gostem do resultado deste humilde e árduo trabalho, realizado sobretudo com bastante carinho e dedicação. Pretendo, sinceramente, contribuir
com a democratização da informação, e incentivar reflexões e debates acerca dessas recentes inovações tecnológicas. Boa leitura!
PARTE I
DECIFRANDO O UNIVERSO DOS BITCOINS
capítulo 1 O QUE É O BITCOIN E POR QUE DEVO ME IMPORTAR? “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.” – CHARLES DARWIN O Bitcoin é uma nova forma de dinheiro. Diferentemente das moedas tradicionais, ele funciona em uma rede interconectada de computadores, por meio da criptografia. É, pois, uma moeda exclusivamente digital. O Bitcoin foi lançado em 2009, por um programador anônimo identificado pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto. Desde então, o seu protocolo, desenhado em código livre, já foi testado e desafiado por quase uma década, sem registrar qualquer falha grave. Isso surpreende até os maiores especialistas em tecnologia. Mas como funciona afinal uma moeda digital? Moeda digital (ou criptomoeda) é aquela criada, armazenada e utilizada exclusivamente a partir de dispositivos eletrônicos, como um computador ou um smartphone. Ao contrário das demais, como o dólar, o euro ou real, o Bitcoin não é controlado por um Banco Central ou qualquer instituição governamental. Por isso, o Bitcoin acumula a característica de ser uma moeda descentralizada, que prescinde de uma autoridade única. Ele foi inicialmente lançado como um meio de pagamento eletrônico, para a compra de produtos ou serviços. Mas, com o passar dos anos, sua utilidade foi muito mais além. Qualquer pessoa pode transferir diretamente recursos para um familiar ou um amigo, dentro ou fora de seu país, ou mesmo contribuir com organizações não governamentais sem a participação de intermediários. É uma moeda sem fronteiras. E, diante das crescentes
valorizações, tem ainda despertado o interesse de poupadores, que veem no Bitcoin uma oportunidade de manter (ou ampliar) seu poder de compra futuro. Todas as transações realizadas na rede são registradas em um grande livro contábil, chamado Blockchain. Esses registros são públicos, ou seja, qualquer um pode acessar. No entanto, a confidencialidade é garantida pela criptografia. O usuário não é identificado pelo seu nome real, mas sim por um código ou uma sequência alfanumérica, tal como uma conta de e-mail. Com transações diretas entre os usuários, elimina-se não apenas barreiras geográficas, mas custos de atravessadores e burocracia. E ganha-se tempo. A segurança é garantida por usuários avançados, chamados mineradores, que emprestam poder computacional para a validação de testes criptográficos. Eles são capazes de avaliar se uma transação é ou não idônea e atuam como um ponto fundamental de confiança entre as partes. Como recompensa pelo seu trabalho de manter a segurança da rede, recebem novas moedas. Porém, a reserva de bitcoins é finita e a sua disponibilidade se dá em passos cada vez mais lentos. Isso tudo foi programado para evitar que o seu preço se desvalorize. Desde a primeira transação, realizada em 2010, quando 1 bitcoin valia menos que 1 centavo de dólar, a moeda já experimentou quedas e expressivas valorizações. Sete anos após, teve seu valor multiplicado quase 5 milhões de vezes e ganhou de vez popularidade. Apenas em 2017, a variação positiva foi superior a 1.200%, atingindo o recorde de US$ 20 mil por bitcoin. Já ostenta o quinto lugar entre as moedas com maior circulação no mundo. Hoje, diversas empresas tradicionais como Microsoft, Dell e Amazon aceitam o Bitcoin como meio de pagamento. E não estão sozinhos. Estima-se que mais de 1 milhão de estabelecimentos já realizem negociações com a moeda. Enquanto o Bitcoin ganha protagonismo na nova forma de transacionar, a aparente complexidade do seu funcionamento pode desafortunadamente acabar afastando muitas pessoas, que desejam aprender seus mecanismos, mas os julgam difíceis demais para si. Garanto que você perceberá, ao final do livro, que nada disso é tão complicado quanto antes parecia. Qualquer cidadão pode começar a comprar, guardar e mesmo utilizar seus bitcoins. Para isso, basta um
CPF, uma conta bancária e acesso à Internet. Obviamente você não é obrigado, nem é meu objetivo convencê-lo a fazer isso. O foco aqui é esclarecer, debater, estimular reflexões, tornando-o apto a pensar criticamente – e não mais pelos outros – e incentivá-lo a tomar as suas próprias decisões. Embora haja controvérsias quanto à precificação futura do Bitcoin, ninguém duvida da capacidade disruptiva e revolucionária que a invenção de Satoshi Nakamoto representa para o futuro. Enquanto entender o Bitcoin pode ser visto de forma simplória como um objeto de interesse restrito, é bastante provável que em um futuro (muito) próximo entender suas bases não seja mais uma questão de escolha, mas sim de real e cotidiana necessidade. Antecipar-se à compreensão desta incrível tecnologia, que chegou para modificar a forma com que as pessoas transacionam e, em sentido mais amplo, interagem entre si, é inevitável. Aqueles que vencerem a barreira da inércia e mergulharem a fundo na busca da informação e do conhecimento, estarão também, sem dúvida, mais capacitados a realizar escolhas mais acertadas e inteligentes.
capítulo 2 NASCE UMA MOEDA DESCENTRALIZADA “Com a moeda eletrônica baseada em prova criptográfica, sem a necessidade de confiar num terceiro intermediário, o dinheiro pode sim ser seguro e as transações sem tanta dificuldade.” – SATOSHI NAKAMOTO, CRIADOR DO BITCOIN
Logo após a crise financeira global de 2008, enquanto crescia a desconfiança em torno da economia centralizada, uma pessoa (ou grupo de pessoas) sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto1 publicou em um fórum de estudiosos em criptografia um white paper denominado “Bitcoin: Um sistema eletrônico de
dinheiro ponto a ponto”. O documento, publicado em 1º de novembro daquele ano, está disponível online.2 Até então, nenhum dos veteranos do fórum havia ouvido falar em Nakamoto. Ele nunca tinha postado nada na internet. Nenhuma busca no poderoso robô de buscas do Google resultou em qualquer informação relevante sobre ele. Claramente, era um pseudônimo. A ideia em si não era original, várias tentativas de criação de moedas virtuais haviam fracassado antes. A diferença, segundo seu criador, estava na rede P2P (ponto a ponto) descentralizada, na qual os próprios usuários validariam as transações e emitiriam novas moedas, sem a necessidade de nenhum intermediário. Apesar de uma ou outra resposta, seu manifesto não chegou exatamente a empolgar a comunidade. Mas contrariando todas as probabilidades, Nakamoto insistiu no desenvolvimento do código, disponibilizando-o para quem quisesse baixá-lo a fim de se iniciar a rede de Bitcoins. O livro-razão3 do Bitcoin, a chamada Blockchain, começou em 3 de janeiro de 2009, as 18:15 UTC, por Satoshi Nakamoto. O primeiro bloco é conhecido como o “bloco gênesis”. Seu primeiro registro foi uma única transação pagando a recompensa de 50 novos bitcoins ao seu criador.4 Embora o Bitcoin já tivesse sido materializado na forma de software, e não figurasse mais apenas no campo das ideias, o ceticismo permaneceu. Membros do grupo de discussões questionavam como Nakamoto faria para valorar a moeda. De fato, por mais de um ano, não houve mercado e seu valor monetário era praticamente nulo. Apenas em 2010, com mais de um ano de vida do protocolo, o usuário “Lazlo” entrou para a história ao realizar a primeira troca de bitcoins por um produto real: duas pizzas. Naquele momento, inaugurou-se a primeira cotação do Bitcoin, com cada unidade valendo menos que meio centavo de dólar. Quase nada, mas pelo menos já era superior a zero. Poucos demonstraram alguma disposição em minerar, mas os que fizeram puderam acumular milhares de bitcoins com certa facilidade. O interesse inicial em torno dos bitcoins era muito mais “acadêmico” do que monetário.
Afinal, o bitcoin não passava de um projeto obscuro, criado por um programador desconhecido, sem o apoio financeiro de qualquer governo nem instituições, que contrariava o que se ensinava acerca do dinheiro até então. Não passava de uma obra tecnológica, sem qualquer aplicação objetiva ou alcance. Mas o bitcoin foi correndo de ouvido em ouvido e decolou. Sete anos depois, os mesmos 10 mil bitcoins utilizados na primeira transação da história da moeda valeriam uma fortuna. O sistema como um todo tem se mostrado inviolável durante quase uma década. Os atentados registrados envolveram roubos de senhas ou ataques a casas de câmbio e indivíduos com vulnerabilidades em seus computadores. Mas em nenhum momento, desde sua criação, um hacker conseguiu subverter o código do Bitcoin a seu favor. Um assalto qualquer a um banco, embora seja um episódio infeliz e requeira medidas adicionais de segurança, não implica que o Real esteja corrompido! A rapidez e baixo custo de transações, independentemente de fronteiras e de autoridades centralizadoras, e a privacidade através de transações anônimas conquistaram cada vez mais adeptos. O modelo tradicional de segurança baseado em um controle central evoluiu cada vez mais para outro descentralizado, livre, distribuído e consensual. A discussão em torno do dinheiro criptográfico chegou às universidades. E também à mídia, sendo hoje um dos assuntos de maior destaque nos principais veículos de comunicação. Empresas de todos os setores voltam seus olhos para as aplicabilidades da moeda. Também é notória a preocupação dos governos. Como veremos em capítulo adiante, um número considerável de países já concluiu ou está em fase de regulamentação das moedas virtuais. A Blockchain tornou-se o maior marco revolucionário desde a invenção da internet. E seu primeiro experimento, o Bitcoin, é a personificação de um casamento genialmente arquitetado entre duas grandes ciências: a economia e a computação. O bitcoin em si poderá até ser moldado e quem sabe suplantado por uma moeda alternativa, mas a façanha de Nakamoto terá deixado para sempre seu legado em nossa história.
capítulo 3 O FUNCIONAMENTO DA BLOCKCHAIN “Eu acho que a internet vai ser uma das principais forças para reduzir o papel do governo. A única coisa que está faltando, mas que em breve será desenvolvida, é um dinheiro eletrônico confiável.” – MILTON FRIEDMAN5 Se você chegou até aqui, é provável que esteja curioso e ávido para decifrar essa palavra mágica por detrás do Bitcoin. Blockchain é um tema atual e recorrente em todo o mundo, embora ainda pareça um conceito difícil de engolir para algumas pessoas. Vamos simplificar? Em primeiro lugar, discutiremos o papel de um intermediário de confiança entre pessoas e empresas, até que possamos compreender a ruptura que a Blockchain representará nesse processo. Historicamente, as transações em dinheiro ou de valores de qualquer natureza (imóveis, outras propriedades, títulos, etc.), para serem concretizadas, e sobretudo acreditadas, dependem de intermediários que garantam a fé dessa transação. São eles: bancos, tabeliões de cartórios e repartições públicas, dentre outros. Eles executam tarefas como autenticação e guarda de registros, e dessa forma atestam a veracidade e distribuem confiança às partes envolvidas. Se você decidir realizar um empréstimo bancário, é provável que antes a instituição credora solicite o levantamento de vários documentos e a autenticação de suas cópias em um cartório. O escrivão é quem dá fé que aquele documento é de fato verdadeiro. Se após contrair essa dívida, você não conseguir honrá-la, o banco lançará mão de medidas judiciais ou extrajudiciais tendentes a garantir o seu pagamento. Assim, um bem dado como garantia poderá eventualmente ser bloqueado. E
você não poderá negociá-lo ou utilizá-lo para obter um novo empréstimo, até que tenha dado baixa à essa pendência. Isso ocorre pois, ao efetuar uma transferência de propriedade, poderá ser requisitada uma declaração “Nada consta”, atestando que o bem está desimpedido. No mundo da Blockchain, essas tarefas não são realizadas por um órgão central ou uma autarquia, mas por todos que participam da rede formando espécies de “nós”. Para ser validada uma informação, que é pública, é necessário o consenso entre os “nós”.6 Esse tipo de auditoria descentralizada é ainda mais delicado quando se tratam de ativos digitais. Ao contrário de um bem material, um ativo digital, como bitcoins, ações e propriedades intelectuais, estão contidos em um arquivo, e poderiam ser facilmente replicados. Isso criaria um problema conhecido como “dupla despesa” (o ato de gastar a mesma unidade de valor mais de uma vez). O risco do uso fraudulento de um ativo impediu até o momento transferência direta entre pessoas e empresas, necessitando de um intermediário que coordenasse o processo. Por exemplo, quando você acessa o seu Internet Banking e faz uma transferência, necessita de um terceiro – o banco, que bloqueia momentaneamente o seu saldo (ou retira o equivalente ao valor a ser transferido) e o reabilita após ter acusado o banco de destino que uma quantia de igual valor monetário deve figurar no destinatário. Nesse caso, um intermediário não é o bastante e são necessários dois intermediários para que haja a compensação, que pode levar de minutos a dias para ser efetuada, dependendo da complexidade (transferências interbancárias, remessa de valores ao exterior, etc.). Além do tempo consumido e da ameaça à privacidade do usuário, toda essa sequência de eventos vem, em geral, acrescida de elevadas taxas operacionais. Mas, e se houvesse uma maneira de realizar transações digitais sem nenhum intermediário? Por exemplo, enviar instantaneamente um valor para um filho que faz um intercâmbio em outro país, comprar uma viagem no Pacífico Sul ou simplesmente investir na bolsa de valores da Indonésia? Essa revolucionária tecnologia já existe e seu potencial inclui praticamente qualquer atividade que atualmente ainda dependa de terceiros, incluindo bancos e outras instituições
financeiras, o mercado imobiliário, seguros, áreas jurídicas, de saúde e do setor público, dentre outros. Apresento-lhe a Blockchain. Afinal, como ela funciona? Vamos imaginar que você esteja redigindo sua tese de mestrado e, várias vezes na semana, necessita enviar o arquivo .DOC (Microsoft Word) para que seu orientador o revise e corrija eventuais erros. A cada vez que você lhe envia o arquivo, fica impossibilitado de prosseguir a redação, já que tem de esperá-lo retornar o arquivo. Caso resolvesse modificá-lo ao mesmo tempo que o revisor, as alterações de um dos dois seriam perdidas. Com o surgimento do GoogleDocs (ou o equivalente Office 365, da Microsoft), você e seu orientador podem agora, e de forma simultânea, revisar o arquivo, já que este não está fisicamente com um nem o outro, mas sim, compartilhado por ambos no ambiente da nuvem. As modificações são instantaneamente atualizadas e um já visualiza as edições do outro. Raciocínio muito semelhante pode ser utilizado para se compreender a Blockchain. Ela atua como um grande livro-razão, visível e acessível universalmente, e todos compartilham a versão mais atual, que se atualiza a cada 10 minutos. Mas aqui há uma particularidade: os dados são sempre adicionados, jamais subtraídos ou modificados. Uma vez inseridos, os registros são permanentemente visíveis e não podem ser desfeitos. Quando alguém inicia uma transação na rede Bitcoin, ela é informada em tempo real para todos os computadores (nós) que compõem a rede P2P ou peerto-peer (ponto a ponto). Através de cálculos criptográficos, a rede de nós verifica e valida a transação.7 Essa transação é combinada com outras que estão acontecendo naquele momento e se agrupam em um bloco de dados. Esse bloco é, por fim, adicionado a essa enorme planilha compartilhada Blockchain (cadeia de blocos, em tradução livre). Este novo bloco, uma vez encaixado, torna-se inviolável e permanente na cadeia de blocos. A transação é, pois, completada.8
Fig. 3-1. Transação de bitcoins pela Blockchain (Crédito: Adaptado de Thomson Reuters)
Antes de finalizar, é importante definirmos um outro conceito: o hash – a impressão digital de cada bloco. O hash é criado a partir dos dados contidos no novo bloco e funciona como uma assinatura deste. Um novo bloco também contém dados do bloco anterior, ou seja, o sistema é construído sobre si mesmo. Por exemplo, o Bloco 1 – contendo suas informações – gera o Hash 0. O Bloco 2 agrega seu próprio conteúdo ao Hash 0, e gera o Hash 1, e assim sucessivamente. Dessa forma, o hash vai assinar o conteúdo do bloco. Assim, evita-se fraudes, uma vez que é difícil voltar e manipular um bloco individualmente.9 Da mesma forma que uma unidade de criptomoeda foi transmitida, também contratos, registros ou outros tipos de informações podem o ser, de forma que esse movimento tenha sido permanentemente registrado na nossa enorme planilha, podendo ser futuramente e indefinidamente consultado.
Figura 3-2. Formação dos blocos e hash.
Como um arranha-céu que vai sendo erguido a partir do primeiro bloco, a Blockchain − criada para ser a base do Bitcoin − teve o seu primeiro bloco depositado em 2009 por Satoshi Nakamoto. Até hoje ele pode ser consultado, bem como os próximos blocos (ou andares) que foram sucessivamente encaixados nos anos seguintes. Este grande edifício do nosso exemplo é o “livro de registros” utilizado pelo Bitcoin, a chamada Blockchain, onde cada transação é registrada de forma cronológica e linear, sendo também digitalmente assinada para garantir sua integridade e veracidade. A aprovação de cada transação depende de um consenso, o que previne fraudes.10 Embora nenhuma transação possua identificações diretas de quem participou dela (como nome, documentos ou e-mail), cada uma delas possui uma assinatura digital, o hash anteriormente descrito. Toda pessoa pode verificar qualquer transação: basta acessar sites como Blockchain.info11 e digitar o número do hash. Caso ele esteja correto, a transação poderá ser visualizada.12 Assim como a internet, a Blockchain carrega consigo uma robustez intrínseca. Ao armazenar blocos de informações descentralizadas, isso traz duas consequências: primeiramente, impede que seja controlada por qualquer entidade. Em outras palavras, ninguém é dono da Blockchain e ao mesmo tempo ela pertence a todos, sendo pública por definição. Isso traz transparência e isenção ao sistema. Em segundo lugar, não pode ser corrompida em um ponto
central de fragilidade, tendo sido operada, até o presente momento, sem um único ponto de falha significativa. Os impactos potenciais da tecnologia Blockchain na sociedade e na economia global são extremamente significativos. Entre as empresas que já podem se beneficiar da Blockchain estão bancos, corretoras e seguradoras, além de companhias de logística, saúde, análise de dados, desenvolvimento de aplicações, economia colaborativa e consultorias. Sally Davies, repórter do Financial Times, disse que “Blockchain é para o Bitcoin o que a internet é para o e-mail. Um grande sistema eletrônico, em cima do qual você pode criar aplicativos. A moeda é apenas uma delas”.13 No campo da saúde, para exemplificar, um problema recorrente em todo o mundo é como compartilhar os registros médicos de um paciente frequentemente fragmentados entre diversas clínicas e hospitais -, e ao mesmo tempo proteger a sua privacidade. Para resolver essa questão, um time de pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) testaram uma aplicação-piloto chamada MedRec.14 Foram registrados os exames de sangue, histórico de vacinação, prescrições médicas e outros registros terapêuticos. Os resultados foram tão positivos que já se planeja ampliar a avaliação para outros locais. Outras possíveis aplicações seriam no aperfeiçoamento da segurança de documentos oficiais. Imagine o exemplo dos passaportes. No futuro, o governo poderia continuar emitindo o documento, mas talvez você não precisaria mais carregar uma versão física dele no bolso. Um sistema de reconhecimento facial no setor de imigração encontraria seu passaporte na nuvem Blockchain e faria a verificação. Uma solução semelhante poderia substituir também a carteira de motorista. Assim, você não mais necessitaria carregar sua CNH para dirigir aqui ou em qualquer lugar do mundo. Se for parado em uma blitz, a polícia escanearia seus dados biométricos (íris ou digitais) e teria pleno acesso à rede Blockchain, sabendo imediatamente se sua habilitação está em dia e se há ou não alguma pendência. Esse sistema seria muito mais resistente a violações do que os
documentos físicos emitidos pelos órgãos oficiais, frequentemente alvos de falsificações. Com uma lista cada vez maior de usos no mundo real, a tecnologia Blockchain tem a chance de revolucionar a forma como trocamos informações. Ela nasceu para aumentar a confiabilidade nas relações entre empresas e indivíduos e tem se provado bastante eficaz no seu propósito. O potencial de ruptura da tecnologia é imenso, inclusive ameaçando os antigos intermediários que mantêm modelos de negócios tradicionais baseados em garantia de confiança, como tabeliões e autoridades públicas de registro de automóveis, casamentos, propriedades, patentes, passaportes, registros médicos, entre outros.15 As transações em moeda virtual são apenas o começo. Como qualquer tecnologia emergente e inovadora, ninguém pode prever o futuro da tecnologia Blockchain. Mais que isso, especialistas afirmam que as mais incríveis e empolgantes aplicações e plataformas que poderão se beneficiar da Blockchain ainda estão por ser inventadas.
capítulo 4 QUEM SÃO OS MINERADORES DO SÉCULO XXI? “Eu não apenas uso o cérebro que tenho, mas todos os que consigo pegar emprestado.” – WOODROW WILSON Para que o sistema Bitcoin funcione, é necessário processar e validar as transações. Para isso, é utilizada uma rede de computadores conectados pela internet que formam a rede descentralizada do Bitcoin. Qualquer pessoa pode se juntar à rede e agregar capacidade computacional. Ao resolver problemas matemáticos complexos, novos Bitcoins são emitidos e entram em circulação na rede. O minerador de Bitcoins é, portanto, um usuário amador ou profissional, que se ocupa de acompanhar essas transações em tempo real e validá-las. Isso é importante, por exemplo, para evitar que um mesmo Bitcoin seja utilizado em duplicidade. Esse trabalho é fundamental para evitar fraudes, e quanto mais houver pessoas dispostas a empenharem seus esforços e computadores na rede do Bitcoin, mais seguras e rápidas serão as transações. Mas aí você deve estar se perguntando: “Ok, por que alguém faria isso?” Pois bem, não se trata de puro altruísmo. O minerador recebe por operação uma pequena taxa daquela pessoa que transferiu um valor ou realizou uma compra. Além disso, a geração de novos Bitcoins ao longo do tempo é distribuída a quem contribuiu com poder de processamento cedido à rede, ou seja, os mineradores. Esses incentivos econômicos permitem a remuneração dos operadores do sistema, os mineradores, garantindo em contrapartida transações ágeis e
confiáveis. Em outras palavras, a mineração é o que leva o Bitcoin adiante, e ao mesmo tempo o mantém seguro para todos. O termo mineração é, pois, uma analogia àquela que ocorre com as demais commodities, sendo o ouro a mais conhecida delas. Assim como o reluzente metal, aqueles que trabalham na mineração do Bitcoin empenham seu esforço em troca de uma recompensa. Para minerar, além de computadores com uma alta capacidade de processamento, gasta-se energia elétrica. Por esse motivo, é mais barato minerar em países onde a energia custa menos, o que, convenhamos, não é exatamente o caso do Brasil. Assim como o ouro, o Bitcoin vai se tornando mais escasso conforme é minerado. À medida que mais mineradores se juntam à rede, a dificuldade em obter novos bitcoins aumenta. Como pagamento pelo árduo trabalho de minerar o próximo bloco, o minerador tem o direito de adicionar uma transação para si no bloco gerado. É o único momento em que bitcoins são criados. Em 2009, quando o Bitcoin foi lançado, aqueles que mineravam recebiam 50 bitcoins por bloco inserido. Em 2012, essa recompensa passou para 25, e quatro anos após, em 2016, para 12,5 bitcoins. Esse mecanismo, chamado de halving (divisão pela metade, em tradução livre) foi desenhado por Satoshi Nakamoto para controlar a criação e a inflação da moeda, e prevê que o prêmio pela mineração seja reduzido em 50% a cada 4 anos. Foi ainda definido, em seu algoritmo, um limite máximo de emissão de 21 milhões de BTCs, sendo que 95% terão sido descobertos até 2030. Assim, o número total de Bitcoins em circulação, atualmente na casa dos 17 milhões, deverá crescer em um ritmo cada vez mais lento, até que o último bitcoin seja emitido, no ano de 2140.16
Figura 4-1. Bitcoins em circulação. (Crédito: Blockchain.info)
Mas como isso ocorre de fato? Onde estão escondidos os bitcoins restantes e que tipo de problemas são necessários solucionar para gerá-los? Bem, o processo de mineração consiste em tentar decifrar códigos com valores criptografados emitidos pelo software. Essas emissões são sequências de bits geradas pelo algoritmo do programa. Envolvem equações matemáticas altamente complexas.17 Num primeiro momento esse assunto parece um tanto difícil de compreender, não? Concordo com você. Facilitará nosso entendimento se lembrarmos de um velho conceito do ensino fundamental. Aposto que você deve se lembrar da professora do primário, quem provavelmente lhe apresentou pela primeira vez os números primos. E o que eles têm a ver com criptografia e mineração de bitcoins? Vejamos: Por definição, número primo é qualquer número p cujo conjunto dos divisores não inversíveis não é vazio, e todos os seus elementos são produtos de p por números inteiros inversíveis. Complexo? Calma lá! Isso nada mais significa que números primos são aqueles divisíveis apenas por 1 e por eles mesmos.18 Por
exemplo: 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23 e por aí vai. Citar sequencialmente os primeiros números primos não é tarefa difícil e pode até mesmo lhe entreter por alguns segundos. No entanto, conforme o avanço, é possível que seu cérebro comece a exibir sinais de fadiga e a tarefa fique menos atraente. Quer ver? 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53, 59, 61... Por muito tempo, imaginou-se que a aplicação dos números primos era extremamente limitada fora da matemática. Isto começou a mudar na década de 1970, quando os conceitos de criptografia de chave pública foram inventados, nos quais os números primos formaram a base dos primeiros algoritmos.19 O teorema fundamental da aritmética afirma que qualquer número natural diferente de 1 pode ser escrito de forma única (desconsiderando a ordem) como um produto de números primos: este processo se chama decomposição em fatores primos (fatoração)20 e você deve se lembrar de alguns deveres de casa que incluíam esses problemas. Por exemplo: o número 26 pode ser fatorado em 2 e 13. Já 44 é divisível em 2, 2 e 11. 1.870 é quebrável em 2, 5, 11 e 17. Enquanto isso, 510.510 pode ser quebrado em 2, 3, 5, 7, 11, 13 e 17. Já deu para entender, né? Não importa o quão grande for o número, ele pode ser fatorado. Mas, e quando falamos em números de 50 dígitos? 1 mil dígitos? 1 milhão de dígitos? Euclides, 300 a.C., já demonstrava a existência de centenas de números primos.21 Ainda hoje, matemáticos do mundo inteiro especulam se existirá ou não uma quantidade infinita deles. Você poderia ficar chocado, mas há concursos com prêmios generosos àqueles que se dispuserem a descobrir números primos jamais antes descritos, tal como a descoberta de estrelas nas distantes galáxias. Na internet, o projeto GIMPS (Great Internet Mersenne Prime Search) utiliza a potência combinada dos computadores pessoais dos participantes para realizar os cálculos necessários para encontrá-los. Curtis Cooper, um matemático da Universidade do Missouri, descobriu em janeiro de 2016 o que hoje é considerado o maior número primo calculado (pelo
menos até o início de 2018), contendo mais de 22 milhões de dígitos (quase 5 milhões a mais que o recorde anterior).22 Se fossem manuscritos em folhas de papel levariam mais de 3 meses. E se fossem impressos ocupariam um livro com cerca de 7 mil páginas. Provavelmente não seria um grande sucesso de vendas. Por seu feito, Cooper faturou 3 mil dólares. Acredita-se que, por volta de 2025, deva ser encontrado o primeiro número primo com 1 bilhão de dígitos.23 A questão é que quanto maior um número qualquer, mais difícil é para fatorálo. Até hoje, não foi descoberto um método eficiente de quebrar números enormes em primos, a não ser por força bruta, ou seja, por tentativa e erro. Só que quando falamos em algarismos realmente muito grandes, podem ser necessários muitos anos, mesmo com grande poder computacional, para conseguir chegar ao resultado correto. No entanto, fazer o caminho inverso e criar um número gigantesco é bastante fácil. Basta multiplicar dois números primos gigantes para chegar a um algarismo (não primo) ainda maior e quase impossível de fatorar à força. Se você não conhece aqueles dois números usados inicialmente, é muito difícil descobri-los à força. E é aí que entra a criptografia, que nada mais é do que uma forma de usar a matemática para garantir a segurança dos dados. Tudo que um computador puder fazer facilmente sem que possa ser desfeito com simplicidade será do interesse das tecnologias de encriptação e segurança.24 Assim como resolver as equações que levam aos números primos torna-se uma tarefa cada vez mais complexa e demorada, o mesmo ocorre com os problemas criptográficos que envolvem a emissão de novos bitcoins. Assim como Curtis Cooper dedica-se à descoberta de novos números primos, mineradores do mundo inteiro, desde o seu vizinho ao magnata chinês, investem nessa atividade e por ela são remunerados. Limitações à atividade de minerar incluem a dispendiosa conta de luz gerada por computadores rodando programas dia e noite, além do alto investimento necessário para adquirir hardwares capazes de resolver os problemas matemáticos acima descritos, cada vez mais extensos e complexos.
Felizmente, foi projetado na gênese do Bitcoin um equilíbrio entre disponibilidade da moeda, custos de transações e taxas de remuneração, de tal forma que a atividade dos mineradores permaneça indefinidamente viável e atrativa. Mesmo quando não houver mais bitcoins para serem garimpados, seu duro trabalho será pago pelas taxas de confirmação. É isso o que permite, em outra análise, a estabilidade do sistema, sua inviolabilidade e agilidade nas transações.
capítulo 5 JARGÕES DO CRIPTOMUNDO “Pense com independência. Seja o enxadrista, não as peças do xadrez.” – RALPH CHARELL Jargão significa “código linguístico próprio de um grupo sociocultural ou profissional com vocabulário especial, difícil de compreender ou incompreensível para os não iniciados” (HOUAISS). Como toda tribo, os entusiastas das criptomoedas também utilizam alguns termos e jargões, que quando excessivos podem fazer as outras pessoas se sentirem deslocadas. Você sabe o que significa DUT? FOMO? Mão de alface? Divirta-se com os termos mais comuns no criptomundo: ALAVANCAGEM:
realizar uma dívida para negociar valores exponencialmente maiores, com o objetivo de auferir lucros, porém correndo riscos também mais elevados.
ALTCOINS: refere-se às demais criptomoedas, que não o Bitcoin. BEARISH/BEAR: quedas abruptas no preço de um determinado ativo, diante do
pessimismo do mercado quanto à sua perspectiva de valorizações. Faz alusão à patada de um urso, de cima para baixo. BLOCKCHAIN (CADEIA DE BLOCOS): é uma tecnologia que visa a descentralização
como medida de segurança. Funciona como um livro-razão público, partilhado por todos os nós e universal. Cria consenso e confiança na comunicação direta entre duas partes, ou seja, sem intermediários. Cresce constantemente à medida que novos blocos completos lhe são adicionados por um conjunto de registros. Os blocos são adicionados à Blockchain de modo
linear e cronológico. A Blockchain possui informação completa sobre endereços e saldos desde o bloco primordial até o bloco mais recentemente concluído. A Blockchain é vista como a principal inovação tecnológica do Bitcoin. O projeto original tem servido de inspiração para o surgimento de novas criptomoedas e de bancos de dados distribuídos. BOOK (OU ORDER BOOK): livro de ordens de compra e vendas de determinada
moeda em uma Exchange. BULLISH/BULL:
altas abruptas no preço de um determinado ativo, diante do otimismo do mercado quanto à sua perspectiva de valorizações. Faz alusão à chifrada do touro, de baixo para cima.
BUY WALL/SELL WALL:
quando a força compradora (volume de ordens de compra) impede que o preço caia, ou a força vendedora impede que o preço suba, conforme a lei da oferta e da demanda, formando uma “parede” no market depth.
CONSENSUS (CONSENSO): é o pilar central das Blockchain abertas, como a do
Bitcoin e de outras criptomoedas. Atingir o consenso é um processo de tomada de decisão complexo, mas necessário, para que um sistema opere de maneira verdadeiramente descentralizada. É obtido a partir dos utilizadores que operam como “nós” na rede e sinalizam as suas preferências em relação a alterações e atualizações no código. Se uma quantidade suficiente de “nós” aceitar uma mudança no código, então aquela alteração é implementada por todos os participantes da rede antes que novos blocos sejam adicionados à Blockchain. CRIPTOGRAFIA: é a tecnologia usada para transformar uma informação da sua
forma original para outra impossível de ser identificada, permitindo a sua transmissão segura. A intenção é que apenas o destinatário, de posse da chave privada, possa decodificar aquela informação. CRYPTOCURRENCY (CRIPTOMOEDA): o Bitcoin abriu caminho a uma nova geração
de moedas virtuais descentralizadas, ponto a ponto, também designadas como
criptomoedas, um subgrupo das moedas digitais que utiliza a criptografia. Hoje já há centenas de novas criptomoedas, sendo que o Bitcoin continua sendo o de maior marketcap. DAPPS (APLICAÇÃO DESCENTRALIZADA): é um aplicativo ou software autônomo,
de código livre, que pode ser atualizado ou modificado pelos usuários da rede mediante consenso.25 DAY TRADER: trader que faz movimentos rápidos, montando-os e desmontando-
os no mesmo dia. DEEP WEB:
Refere-se ao conteúdo da internet que não é indexado pelos mecanismos de busca-padrão, ou seja, não faz parte da internet aberta. Pode ser eventualmente usada para fins ilícitos.
DESPEJAR: ato de vender uma grande quantidade da moeda enquanto ela está
subindo, causando um Dump. DISTRIBUTED LEDGER (LIVRO-RAZÃO DISTRIBUÍDO): outro termo para descrever
Blockchain. Utilizam como base as redes peer-to-peer (ponto a ponto) para criar um sistema confiável de verificação. DUMP: é quando o preço cai muito repentinamente. É o oposto de Pump. EXCHANGE (CORRETORA OU CASA DE CÂMBIO): plataforma online para comprar e
vender criptomoedas utilizando moedas tradicionais (fiduciárias) ou para executar trocas entre diferentes criptomoedas. FEES:
taxas, pequena porcentagem que o usuário paga para a rede a cada transação.
FOMO: Fear of Missing Out! Medo de ficar de fora de alguma alta. Isso gera mais
interesse na moeda, fazendo com que ela se valorize. FORK: é a criação de uma versão alternativa de uma Blockchain em andamento,
normalmente porque um conjunto de mineradores começam a hash. Pode ser causado maliciosamente por um grupo de mineradores, ganhando muito controle sobre a rede graças a um bug no sistema; ou quando uma equipe de
desenvolvimento, intencionalmente, decide introduzir novos recursos em uma nova versão de um cliente. Um fork é bem-sucedido quando se torna a versão mais longa do bloco. FUD: Fear, Uncertainty and Doubt (medo, incerteza e dúvida). Efeito que gera
uma panic sell ou corrida às vendas, provocando baixas nos preços. HARD FORK:
é uma alteração na Blockchain que torna válidos os blocos/transações anteriormente inválidos e, portanto, exige que todos os usuários o atualizem.
HASH POWER: é o poder computacional de mineração. As moedas virtuais são
criadas quando mineradores resolvem complexos problemas matemáticos ao verificar e armazenar dados em blocos. Criar esses blocos requer uma quantidade cada vez maior de energia e poder computacional. HASH: pode ser entendido como a assinatura do bloco de informações. HASHING: é o processo de verificação da Blockchain que utiliza um algoritmo de
autenticação. HEDGE:
é uma estratégia de proteção para investimentos de risco, que visa proteger operações financeiras contra grandes variações de preço de um determinado ativo. O objetivo do hedge não é ter lucro, mas travar os preços, evitando que tenham uma alteração indesejada.
HODL:
trocadilho com a palavra hold (ver abaixo), jargão utilizado com frequência entre os entusiastas das criptomoedas.
HOLD: segurar a moeda, confiando em uma valorização futura. HYPE: é qualquer assunto quente, sobre o qual todos falam e comentam. ICO (INITIAL COIN OFFERING): É como uma pré-venda de alguma moeda. Os
adquirentes transferem capital aos programadores, apostando que, após o lançamento, ela valha mais do que se investiu na pré-venda. Uma analogia interessante seria como comprar um imóvel na planta.
IMMUTABILITY (IMUTABILIDADE):
significa que, uma vez que um bloco é verificado e adicionado à Blockchain, o seu conteúdo não pode ser editado. É a chave para a confiança e funcionamento da Blockchain.
INTERNET DAS COISAS (DO INGLÊS, INTERNET OF THINGS, IOT): é a rede de objetos
físicos, veículos, prédios e outros que possuam tecnologia embarcada, como sensores e conexão com rede capaz de coletar e transmitir dados. KNOW YOUR CLIENT, KYC (CONHEÇA SEU CLIENTE): é o conjunto de regras que
obriga às corretoras a exigir de seus usuários informações básicas de identificação antes de permitir transações entre moedas fiduciárias e criptomoedas. Variam conforme a jurisdição. Visa evitar que as pessoas utilizem as moedas virtuais para fins ilícitos. LENDING:
deixar seus bitcoins ou altcoins emprestados, rendendo uma porcentagem de juros.
LONG: aposta na alta de uma moeda. O contrário de Short. MÃO DE ALFACE (WEAK HAND): oposto de holder/hodler. Aquele que se livra
rapidamente de seus ativos, temerosos de um movimento de baixa. MARGIN TRADING: negociar alavancado com ativos emprestados pela corretora. MARKET CAP / MARKET CAPITALIZATION: valor de mercado. MINER (MINEIRO OU MINERADOR):
é quem dedica poder computacional para validar e manter a Blockchain. São recompensados por seu trabalho recebendo novas criptomoedas. Ou seja, são eles quem “encontram” os bitcoins.
MOEDAS FIAT (MOEDAS FIDUCIÁRIAS): fiat é a moeda oficial de qualquer país em
que é impressa e emitida pelo Banco Central ou outra autoridade governamental (por exemplo, o Dólar ou o Real). É qualquer título não conversível, ou seja, não é lastreado a nenhum metal (ouro, prata) e não tem nenhum valor intrínseco. Seu valor advém da confiança que as pessoas têm em quem emitiu o título, além da obrigatoriedade em lei de sua adoção.
MULTI-SIG (ASSINATURA-MÚLTIPLA): refere-se a um address que necessita de mais
de uma chave privada para transferência de fundos. Pode ser do interesse de empresas que não desejam que uma pessoa possa individualmente transferir fundos ou em situações privadas que seja útil dividir responsabilidades. NÓ OU NODO (NODE): cada computador conectado à rede Blockchain, cuja tarefa é
validar as transações. Cada nó possui uma cópia da Blockchain. OPEN SOURCE: código aberto. É um modelo de desenvolvimento que torna livre a
redistribuição de um projeto, dando a possibilidade para que qualquer um possa lê-lo ou modificá-lo. ORDER MAKER: tipo de ordem de venda ou compra que aguarda o preço atingir o
valor desejado. Essas ordens entram no book (ou livro de ofertas) e podem ter taxas de comissão mais baratas. ORDER TAKER: uma ordem que “toma” a vez das outras que estão no book. É
executada imediatamente por já ter alguma ordem vendendo mais barato do que o preço de compra do usuário, ou comprando mais caro do que o preço de venda. ORPHAN BLOCK (BLOCO ÓRFÃO): é um bloco na rede Blockchain que não faz mais
parte de uma cadeia de blocos válida, e que fez parte de um fork que foi descartado. PAPER WALLET: é uma folha impressa contendo um ou mais endereços bitcoins
públicos e suas chaves privadas correspondentes. Muitas vezes usado para armazenar bitcoins com segurança, em vez de se utilizar carteiras de software, que podem ser corrompidas, ou carteiras on-line, que podem sofrer ataques hackers. Uma forma útil de armazenamento “frio” (off-line) de bitcoin. PEER-TO-PEER, P2P (PONTO A PONTO): É uma arquitetura de redes de computadores
onde cada um dos pontos ou “nós” da rede funciona tanto como cliente quanto como servidor, permitindo compartilhamentos de serviços e dados sem a necessidade de um servidor único central.
POOL: é quando vários mineradores se juntam e mineram um bloco, a fim de
repartir a recompensa entre eles. Os pools ou piscinas de mineração são uma maneira útil de aumentar sua probabilidade de explorar com êxito um bloco à medida que a dificuldade aumenta e executar essa tarefa por conta própria torna-se impraticável. PRIVATE KEY (CHAVE PRIVADA):
é o código secreto que permite que os seus bitcoins sejam gastos. Toda carteira bitcoin contém uma ou mais chaves privadas. Elas estão matematicamente relacionadas a todos os endereços bitcoins gerados para a carteira. É uma estranha sequência de letras e números. Veja um exemplo: L3LPsR71Z4nkttAAjmm6pdBkGkehP3sFktA9mmFECt1ZgYYuPLn9.
PROOF-OF-WORK, POW (PROVA DE TRABALHO): é um dado que é difícil (custoso ou
demorado) de se produzir, mas de fácil verificação com vistas à sua validação por todos. O Bitcoin usa o sistema Hashcash de prova de trabalho. PUMP: quando o preço da moeda valoriza muito repentinamente. É o oposto de
Dump. SATOSHI: é a menor subdivisão de um bitcoin atualmente disponível, equivalente
a um centésimo de milionésimo de bitcoin (0,00000001 BTC). SHA-256: é uma função criptográfica utilizada como base do sistema de trabalho
do Bitcoin. SHORT: aposta na queda de uma moeda. É o oposto de Long. SOFT FORK: é uma alteração no protocolo Bitcoin que restringe as regras. Essas
mudanças são compatíveis com versões anteriores e de consenso de toda a comunidade. STOP-LIMIT / STOP:
tipo de ordem de compra ou venda que é ativada automaticamente após o ativo atingir um valor determinado.
TOR:
um protocolo anônimo usado por pessoas que querem privacidade ou ocultar sua identidade online.
TRADE / TRADING: compra e venda de ativos. TRADER: é um investidor do mercado financeiro que busca lucrar com operações,
beneficiando-se da volatilidade do mercado. VOLATILIDADE: é a flutuação de preços de um ativo ao longo do tempo. WALLET (CARTEIRA):
ferramenta para armazenamento de bitcoins para uso posterior. Uma carteira contém as chaves privadas associadas aos endereços bitcoins. Pode ser on-line (hot) ou off-line (cold).
capítulo 6 A PIZZA DE MEIO BILHÃO DE REAIS “Liberdade significa responsabilidade. É por isso que a maior parte dos homens a teme.” – GEORGE BERNARD SHAW No dia 18 de maio de 2010, um desenvolvedor chamado Laszlo Hanyecz postou um pedido despretensioso no fórum Bitcointalk.org26, perguntando se alguém aceitaria 10 mil bitcoins em troca de duas pizzas. “Gosto de cebolas, pimentões, cogumelos, pepperoni...” – escreveu. No dia 22 de maio, apenas quatro dias após, Jeremy Sturdivant − um adolescente que usava o nome de Jercos −, aceitou os 10 mil bitcoins e enviou duas pizzas do Papa John’s Pizza para a casa de Hanyecz, em Jacksonville, Flórida. Logo, postou um Hanyecz entusiasmado: “Gostaria de informar a todos que troquei com sucesso 10 mil bitcoins por duas pizzas”, ao lado da foto.
Figura 6-1. Primeira compra realizada com bitcoins (Crédito: Laszlo Hanyecz)
Naquela época, esses 10 mil bitcoins valiam cerca de US$ 41. O que ninguém imaginava era o potencial explosivo do Bitcoin, verificado em seguida. Sete anos depois, o seu valor unitário ultrapassou os U$ 20 mil. No começo do ano de 2018, aqueles mesmos 10 mil BTC já valiam mais de R$ 500 milhões.
Figura 6-1. Cotação histórica do Bitcoin em dólares americanos (Crédito: Blockchain.info)
Em 2013, em entrevista ao The New York Times, Hanyecz negou se arrepender da compra. “Era como se os bitcoins não tivessem qualquer valor
naquela época, então a ideia de negociá-los por pizza era algo incrível”. Desde então, 22 de maio é apelidado de Bitcoin Pizza Day. Os fornecedores de pizza em todo o mundo oferecem descontos aos usuários de bitcoin para comemorar a compra do Laszlo. E a comunidade adotou o Índice Pizza, que é o valor dos bitcoins gastos nas pizzas. Iniciado em US$ 41, quando a transação de fato ocorreu, aumentou significativamente seu valor desde então, totalizando cerca de US$ 150 milhões (ou R$ 500 milhões) no início de 2018. Esse icônico fato nos dá uma dimensão da valorização exponencial obtida pela criptomoeda nos últimos anos, e ainda mais expressivamente em 2017. Os dados da tabela abaixo, publicados pela revista Exame, dão a medida precisa do histórico: quem comprou apenas R$ 100 em bitcoins em 2011, teria R$ 120 mil, considerando a cotação à época da publicação da reportagem, em setembro de 2017.27 Tabela 6-1. Valor estimado a partir da conversão de R$ 100 em bitcoins em diferentes datas (Crédito: Revista Exame)
R$ 100 Preço do BTC Quantidade Quanto convertidos em na data da compra comprada aprox. valeriam hoje* 31/08/2011
R$ 15,00
6,67
R$ 120.000,00
31/08/2012
R$ 23,57
4,24
R$ 76.368,26
31/08/2013
R$ 319,95
0,31
R$ 5.625,88
31/08/2014
R$ 1.245,00
0,08
R$ 1.445,78
31/08/2015
R$ 869,04
0,12
R$ 2.071,24
31/08/2016
R$ 1.947,92
0,05
R$ 924,06
* Considera cotação de 31 de agosto de 2017, de 18 mil reais.
Mas a reportagem adverte: “Do mesmo jeito que a moeda virtual teve uma valorização expressiva de 2011 para cá, ela pode inverter a tendência e devolver parte do ganho a qualquer momento.” Veja a seguir um ranking comparativo entre o retorno obtido em Bitcoin e demais investimentos e índices no ano de 2017. 28 Tabela 6-2. Comparação entre rentabilidade de diversas aplicações no ano de 2017 (Crédito: Adaptado do site G1.globo.com e Blockchain.info)
(em %) Bitcoin
1.283,96
Ibovespa
26,86
Euro
16,25
Ouro
13,89
Fundos de Investimento em Renda Fixa*
10,3
Fundos DI*
10,16
CDB*
9,38
Poupança
6,61
IPCA
2,95
Dólar
1,99
IGPM
-0,52
* Considerada rentabilidade média.
O mercado das criptomoedas fechou o ano de 2017 com capitalização de 600 bilhões de dólares, dos quais o Bitcoin representava quase metade. Isso mesmo, mais de meio TRILHÃO de dólares. De acordo com o site CoinMarketCap.com, essa capitalização era de apenas US$ 18 bilhões no início de 2017, demonstrando escalada superior a 3.000% naquele ano. Além dos aumentos expressivos em sua cotação, o volume diário de negociações também disparou: no início de 2017, eram trocados cerca de US$ 100 milhões em bitcoins diariamente; cerca de um ano depois, já ultrapassava US$ 10 bilhões, em média. Para algumas pessoas, esse é o retrato de uma bolha especulativa, prestes a estourar. Para outros, entretanto, essa valorização nada mais é do que a fiel expressão da escassez da moeda diante de uma demanda em franca expansão. Outros já projetam o arrefecimento de sua volatilidade e um crescimento mais lento nos próximos anos. As recentes entradas do Bitcoin nos mercados de contratos futuros na CBOE (Chicago Board Options Exchange) e a respeitável CME (Chicago Mercantile
Exchange), maior bolsa de mercadorias do mundo, trouxeram ainda mais expectativa e um novo rali de alta. Enquanto se firma, a moeda ainda enfrenta alta e incômoda volatilidade, especialmente quando há notícias de ataques cibernéticos a casas de câmbio virtuais. A volatilidade significa que é arriscado armazenar um ativo − em qualquer data, seu valor pode aumentar ou diminuir bruscamente. Para comparação, a volatilidade do ouro é em torno de 1,2%, enquanto a de outras grandes moedas ficam na média entre 0,5% e 1,0%.29 O site btcvol.info monitora a volatilidade do Bitcoin. Veja a seguir:
Figura 6-3. Volatilidade histórica do Bitcoin (Crédito: Btcvol.info)
Percebe-se que, embora ainda girando em torno de 5% no início de 2018, a volatilidade histórica do Bitcoin tem apresentado uma tendência de redução significativa em relação à experimentada nos anos anteriores. No pós-Brexit, a Libra esterlina chegou a apresentar maior volatilidade que o próprio bitcoin30, demonstrando que as moedas fiduciárias também não estão imunes a turbulências. Apenas em 2017, mesmo com a assombrosa valorização acumulada, o bitcoin sofreu nada menos do que seis quedas expressivas, superiores a 30% no intervalo de poucos dias. É verdade que acabou recuperando-se a seguir, mas
quem comprou nos topos e vendeu às pressas na baixa, provavelmente amargou um forte prejuízo. O gráfico a seguir ilustra a verdadeira montanha russa que se sucedeu naquele ano.31
Figura 6-4. Movimentos de alta e baixa da cotação do Bitcoin em 2017, em escala logarítmica (Crédito: TradingView)
Não obstante, ninguém pode precisar com exatidão o caminho que o Bitcoin irá seguir, mas seu histórico de valorização faz dele nada menos que um fenômeno, a ser acompanhado bem de perto por todos. Do público leigo ao especializado, não faltam olhares curiosos, de cobiça, mas também de genuíno interesse no estudo de seu potencial.
capítulo 7 FIGHT OR FLIGHT “Aquele que souber quando pode lutar e quando não pode será vitorioso.” – SUN TZU Ninguém quer cometer erros, particularmente no que se refere ao seu dinheiro. Nesse caso, errar não significa apenas ter desferido um golpe contra seu ego, mas contra sua própria saúde financeira. No entanto, nenhum bom investidor tem 100% de acertos. Os erros são inevitáveis. Para aprendermos com eles e nos tornarmos investidores e pessoas melhores, primeiro necessitamos ser capazes de reconhecer quando eles acontecem. Discutir acertos e erros, promover um intercâmbio de feedbacks e buscar incessantemente o conhecimento é o caminho mais promissor para o aperfeiçoamento. Na vida e nos negócios, aprendemos desde cedo que há duas formas principais de experimentar o erro: por ação e por omissão. Errar por ação significa que decidimos deliberadamente realizar algo. Imbuídos do know-how teórico para desempenhar determinada tarefa ou simplesmente motivados por feeling e, em alguns casos, pelo ardiloso instinto do impulso, fomos ativos e executamos uma determinada ação, porém percebemos mais tarde que era melhor tê-la evitado. Quantas vezes, após um comentário inoportuno, pensamos conosco mesmos: “Perdi a oportunidade de ficar calado”? Muita gente é excessivamente resiliente com o erro e acredita que, tentando sempre, um dia acertará. “É errando que se aprende”, dizem. Como disse, os erros são comuns ao nosso processo de aprendizado, mas eles podem e devem ser calibrados com a nossa experiência e também das outras pessoas. Errar é
humano, mas insistir no erro não é inteligente. Do empirismo vem também outra máxima: “Devemos aprender com o erro dos outros”. Tendo isso em mente, é fácil se compreender que esse raciocínio se aplica a premissas testadas anteriormente. Por você ou por seus semelhantes. Mas, e quando navegamos por águas virgens? O que fazer quando simplesmente não existe um histórico, uma base comparativa e tudo é inédito? O que fazer: agir ou observar? Ficar ou correr? Na medicina, estudamos o mecanismo chamado “luta e fuga”. Foi descrita pelo fisiologista Walter Bradford Cannon em 1927. Sua teoria Fight or Flight diz que os animais (logicamente isso nos inclui) reagem às ameaças com uma descarga comum do sistema nervoso simpático, fazendo com que o animal permaneça e lute ou fuja para se defender. Essa teoria envolve a participação de hormônios de estresse e neurotransmissores – entre eles a adrenalina, o cortisol e a acetilcolina –, que interagem entre si em complexas reações moleculares. O objetivo é dar ao corpo maior força e velocidade em antecipação à luta ou à corrida. No mundo moderno, as nossas reações de luta ou fuga são bem mais específicas. Claro que ainda é possível ter de acioná-la diante de um raro encontro com um animal feroz ou com um assaltante portando um revólver. Mas, na maioria das vezes, poderemos contar com tempo suficiente para analisarmos as opções e, assim, tomarmos a decisão que nos parece mais correta. Entretanto, em um mundo cada vez mais competitivo e acelerado, às vezes acabamos acreditando que se não reagirmos imediatamente, seremos assolados por uma irremediável sensação de perda de oportunidade. Muitas crianças já sofrem com a pressão que lhes é precocemente imputada. Devem agir como adultos que ainda não são. E nós, adultos, temos de agir como seres infalíveis que também não somos. Os arrependimentos que carregamos ao longo da vida podem ser ainda mais fortes. Quem nunca se perdeu em um pensamento: “E se eu tivesse aproveitado aquela proposta de emprego?” “E se eu tivesse escolhido outra carreira?” Muitas vezes, agimos por medo da própria inação. Ambas, ação e omissão, têm
consequências. Positivas e negativas. A antecipação de seus resultados nem sempre é matemática. Nem sempre é previsível. Obviamente, a inércia absoluta também pode ser prejudicial. Se nos paralisarmos diante da grande responsabilidade de definir rumos, fatalmente pagaremos um alto custo lá na frente. É o chamado custo de oportunidade. É o oposto do benefício que teria sido obtido se uma ação, não tomada, tivesse sido feita − a oportunidade perdida. Este é um conceito usado na economia. Exemplificando em termos financeiros, imagine que você descubra uma nota de R$ 100,00 que permaneceu esquecida dentro do bolso de uma calça por cinco anos. Intuitivamente, você abrirá um sorriso, pois será como se tivesse acabado de ganhar R$ 100,00. Mas na realidade, aquela nota que está lá não brotou do nada, você já a possuía antes. E, provavelmente, em vez de ganhar dinheiro, você perdeu. A mesma nota já não vale hoje o mesmo que cinco anos atrás, pois parte de seu valor foi consumido pela inflação. Além do mais, caso tivesse incluído esses R$ 100,00 no montante dos seus investimentos, que lhe renderam, por exemplo, 5% ao ano mais inflação, você teria hoje R$ 127,00 mais correção. Isso certamente teria sido possível, pois tanto você não precisava dela naquele momento que acabou deixando-a esquecida. Esses R$ 27,00 são o custo da oportunidade perdida e tem um importante significado em finanças. Hoje, diante da euforia em torno do Bitcoin, é comum as pessoas projetarem a não aquisição da moeda no passado a um suposto e elevado custo de oportunidade perdido. Às vezes, culpam-se por não terem adquirido bitcoins sob o pretexto de que já estavam no topo e arrependem-se por verem que continuou a se multiplicar meses depois. Não há o que se falar em custo de oportunidade nesse caso. As estrondosas valorizações passadas não significam automaticamente que a compra de bitcoins em momentos de maior incerteza tivesse sido uma atitude inteligente. Não se penitencie por isso. Aposto que nem Nakamoto Satoshi imaginou que o Bitcoin fosse tão longe. Como em todos os crescimentos exponenciais, o topo pode ser renovado sucessivamente. Desde que você não esteja entre os últimos, haverá sempre pontos de entrada.
Por outro lado, caso as projeções não se confirmem, a conta será mais amarga para aquele que foi mais ousado e preferiu “errar por ação”. Não há certo ou errado, sobretudo em algo que não tem qualquer paralelo na história e não é, portanto, passível de comparações. Não falo isso apenas para lhe tirar o peso das costas. Essa hesitação provavelmente foi e pode continuar sendo a atitude mais assertiva. Cada um tem o seu próprio limite para suportar riscos. E ainda que, em algum momento futuro, o Bitcoin venha a ser adotado universalmente como moeda de troca ou reserva de valor, ele ainda não é e tampouco está na iminência de ser um porto realmente seguro. Meu melhor conselho diante de dúvidas é buscar ativamente a informação. O conhecimento é sempre bem-vindo. Quanto mais você estudar, compreender e analisar criticamente uma realidade, mais bem preparado você estará para tomar decisões corretas na sua vida. A menos que você esteja diante de um leão faminto, não deixe o senso de urgência e o impulso determinar as suas escolhas. Troque a pressa pela serenidade. Troque o risco ignorado pelo risco conhecido e calculado. Na maioria das vezes, você poderá voltar e ter uma nova oportunidade. Mais do que se gabar dos acertos impulsivos, fortuitos, você se orgulhará genuinamente daqueles em que você sabia aonde queria chegar. Aqui cabe um aviso: nem sempre a nova oportunidade será tão boa quanto a que passou. Seja prudente, mas não durma no ponto! Caso o Bitcoin efetivamente prospere, você já terá largado com ampla vantagem. E ela não se contabilizará necessariamente pela quantia em sua carteira. O conhecimento acumulado antes dos demais é o que lhe permitirá continuar tomando as melhores decisões.
capítulo 8 MITOS E VERDADES “As novas opiniões são sempre suspeitas e geralmente opostas, por nenhum outro motivo além do fato de ainda não serem comuns.” – JOHN LOCKE Diante da falta de informações confiáveis sobre um assunto, é natural que surjam especulações que logo se espalham. Algumas delas verdadeiras, outras nem tanto, acabam embaralhando-se e prejudicando a compreensão sobre o tema. Devido à rapidez da informação adquirida na internet, não temos tempo de processá-la. E nos esquecemos de questioná-la. Os mitos fazem parte do nosso dia a dia. Estão presentes nas crenças populares e mais recentemente nas correntes de e-mails e aplicativos de mensagens instantâneas. Às vezes, é difícil separar o joio do trigo. A seguir, listei algumas afirmações atribuídas ao Bitcoin. Provavelmente você já escutou ou escutará algumas delas por aí. Não tenho a pretensão de refutar opiniões, tampouco endossá-las. Mas é possível fazer um breve exercício de análise de coerência. Vamos juntos? BITCOIN É UMA MOEDA ANÔNIMA PARCIALMENTE VERDADE
As casas de câmbio de bitcoins, também conhecidas como Exchanges, têm regras rígidas quanto à identidade. É fato que as transações por meio de bitcoins possuem maior privacidade. Emitentes e destinatários são identificados na Blockchain apenas pela chave pública, uma combinação de letras e números. No entanto, podem sim ser rastreados por meio de técnicas já utilizadas para investigar e-mails e tráfego de informação digital. Seria o equivalente a um usuário que navega na web sob um
pseudônimo, mas que poderia ser rastreado pelas autoridades, em caso de envolvimento em crimes cibernéticos. O BITCOIN É ILEGAL EM NOSSO PAÍS MITO
O bitcoin é legal no Brasil e na maior parte do mundo. Isso não significa dizer, porém, que seja regulamentado. Até hoje muitas ferramentas online carecem de melhor definição por parte dos legisladores, mas nem por isso são consideradas à margem da lei. Inclusive a Receita Federal já orienta sobre como os contribuintes devem declarar seus bitcoins no ajuste do Imposto de Renda (ver Capítulo 29). No momento da publicação deste livro, existem apenas sete países onde seu uso é considerado ilegal: Argélia, Bangladesh, Bolívia, Equador, Marrocos, Nepal e Quirguistão.32 BITCOIN SÓ PODE SER UTILIZADO PARA COMPRAS NA INTERNET MITO
O bitcoin é uma moeda descentralizada entre usuários interconectados na grande rede. No entanto, já é aceito em centenas de milhares de estabelecimentos físicos no mundo todo, e esse número não para de crescer. BITCOIN É UM ESQUEMA DE PIRÂMIDE MITO
Uma pirâmide, também chamada Ponzi, requer um fundador inicial que convence as demais pessoas de lucro fácil. Não existe um ponto central de poder no Bitcoin, pois é um sistema descentralizado. Um esquema Ponzi sempre exige que novos investidores paguem os investidores anteriores. Este não é o caso do Bitcoin, pois o sistema pode funcionar com praticamente qualquer número de usuários. No entanto, a rede é mais forte ao ser usada por mais pessoas.33 BITCOIN É UTILIZADO POR CRIMINOSOS VERDADE
Por ser mais difícil rastrear – embora não impossível, como vimos −, o Bitcoin foi associado como a ferramenta preferida por pessoas que atuam na chamada Deep Web. Vale lembrar que isso não torna a moeda uma arma do crime, tampouco que deva ser evitada devido ao mau uso que alguns poucos fazem dela. Inúmeras pessoas já utilizam bitcoins para economizar 10-20% em compras pela Amazon e outras varejistas, ou para enviar recursos para organizações humanitárias, por exemplo. Por outro lado, lembremos que, todos os dias, criminosos sequestram em troca de dólares ou reais, vendem drogas, armas ou praticam corrupção em moeda corrente. A MINERAÇÃO CONSOME ENERGIA ELÉTRICA VERDADE
Como vimos, a mineração depende essencialmente de poder computacional e energia elétrica. Aqui, o uso da energia serve para um propósito na rede, que é o de proteger todas as transações através da mineração. Essa atividade é essencialmente útil para provar que alguém gastou recursos na expectativa de obter uma recompensa em troca de seus esforços. A prova de trabalho ou proof-of-work (PoW), como se chama em inglês, atua como um mecanismo de prevenção contra ataques na rede Bitcoin. Se você considera que Bitcoin seja importante, então a mineração não é um desperdício de energia elétrica. Da mesma forma, se você acredita nas moedas fiduciárias, todo o gasto de energia para produzi-las não é um desperdício. BITCOIN NÃO TEM NADA DE ESPECIAL EM RELAÇÃO ÀS DEMAIS CRIPTOMOEDAS MITO
O Bitcoin é a moeda virtual original, sendo as demais Altcoins geralmente derivadas do Bitcoin ou de ramificações da sua Blockchain. O Bitcoin é limitado a apenas 21 milhões de moedas, enquanto a maioria delas é muito maior em volume. A segurança da Blockchain tem se mostrado à prova de hackers desde a sua criação há 10 anos, em 2008. Os Bitcoins podem transportar até 1.000 bits de informações digitais
(chaves, combinações, assinaturas, etc.) por moeda e podem ser divididos em milionésimos de unidades, conforme necessário, para microtransações. O BITCOIN NÃO TRAZ NENHUMA NOVIDADE EM RELAÇÃO AO DÓLAR OU O OURO MITO
O Bitcoin tem aumentado significativamente seu valor ante o Dólar. Em comparação, o Dólar perde valor a cada ano desde a Segunda Guerra Mundial. Dólares (assim como a maioria das moedas) só podem ser divididos 100 vezes. Bitcoin? 100 milhões de vezes. As moedas fiduciárias são controladas por corporações, enquanto o Bitcoin é descentralizado. Ao contrário do ouro, você já pode utilizar bitcoins para comprar bens e serviços diretamente. O ouro é mais difícil de se transportar, armazenar e converter em moedas fiduciárias. Bitcoins, sendo arquivos digitais, são muito mais práticos nesses aspectos. OS GOVERNOS PODEM PROIBIR O BITCOIN VERDADE
Embora a tendência global seja de reconhecimento das criptomoedas pelos governos, uma minoria impôs restrições ao seu uso. O Bitcoin não está sob a jurisdição de nenhuma autoridade ou censura, funcionando como uma rede descentralizada autorregulada de usuários espalhados por todo o globo. Dessa forma, as instituições têm poder limitado para interferir na utilização das moedas digitais. Mas podem dificultar a conversão de entrada e saída a partir das moedas oficiais. No que tange à regulamentação internacional, o Japão criou recentemente um marco regulatório para empresas que usam bitcoin, a fim de liberá-lo para uso no dia a dia. Na mesma linha, há ampla aceitação no mercado consumidor de países desenvolvidos da Europa, Ásia e América do Norte. É POSSÍVEL GANHAR BITCOINS GRATUITAMENTE
VERDADE
Existe pela web o que se conhece popularmente como faucets ou “torneiras de Bitcoin”. Esses sites prometem satoshis − frações de uma moeda completa − em troca de preenchimento de códigos captcha ou da sua participação em eventos promocionais. Todavia, o valor de satoshis é irrisório pelo custo-benefício do tempo gasto. QUALQUER UM PODE MINERAR BITCOINS VERDADE
Qualquer pessoa pode se aventurar no mundo da mineração e ser remunerada por isso. Contudo, cabe lembrar que nos últimos anos a mineração tem exigido hardwares ultra potentes, além do elevado custo de energia elétrica para fazê-los rodar. Com a necessidade de altos recursos, a maior parte da mineração hoje é praticada por consórcios de usuários ou megainvestidores. 1. Embora tenha havido muita especulação em torno da verdadeira identidade de Satoshi Nakamoto, ela permanece desconhecida até os dias de hoje. 2. NAKAMOTO, S. Bitcoin: a peer-to-peer electronic cash system. Bitcoin.org, 1º nov. 2008. Disponível em: <https://bitcoin.org/bitcoin.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2017. 3. De forma resumida, o livro-razão é um registro de movimentações contábeis agrupadas, usualmente utilizado por empresas. 4. WIKIPEDIA. Mineração de Bitcoin. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Minera%C3%A7%C3%A3o_de_Bitcoin>. Acesso em: 23 nov. 2017. 5. Friedman (1912-2016) foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia e considerado um dos pensadores mais influentes do século XX. Um dos líderes da chamada Escola de Chicago, defendeu durante toda sua vida que os mercados concorrenciais, livres da intervenção estatal, levariam ao funcionamento mais eficiente da Economia. Previu, ainda nos anos 90, o surgimento de uma moeda digital confiável a partir da internet, ou seja, mais de uma década antes do lançamento do Bitcoin. 6. PRUSTY, N. Building Blockchain projects. Birmingham: PACKT Publishing Limited, 2017. 7. SWAN, M. Blockchain : blueprint for a new economy. Sebastopol, CA: OReilly Media, 2015. 8. ANTONOPOULOS, A. M. Mastering bitcoin: programming the open Blockchain. Sebastopol, CA: OReilly Media, 2017. 9. DRESCHER, D. Blockchain basics: a non-technical introduction in 25 steps. New York: Apress, 2017. 10. SCHIAVON, G. Mineração de Bitcoin: entenda como funciona. Foxbit, 24 out. 2016. Disponível em: <https://blog.foxbit.com.br/mineracao-de-bitcoin-entenda-como-funciona>. Acesso em: 21 nov. 2017. 11. Aqui vale um adendo. Não confundir Blockchain (a plataforma utilizada pelo Bitcoin), com o site Blockchain.info (um site privado que dentre outras ferramentas, permite a consulta das transações publicadas envolvendo a rede Blockchain).
12. ROLIM, L. Blockchain: entenda o que é e como funciona essa tecnologia revolucionária! Disponível em: <https://atlasproj.com/blog/blockchain-como-funciona>. Acesso em: 12 dez. 2017. 13. DAVIES, S. How bitcoin and its blockchain work. Financial Times, 3 fev. 2015. Disponível em: <https://www.ft.com/video/2be94381-66dc-3320-a292-6a1cde0a3d5f>. Acesso em: 13 nov. 2017. 14. MEDREC. What is MedRec? Disponível em: <https://medrec.media.mit.edu>. Acesso em: 21 nov. 2017. 15. TAPSCOTT, D. Blockchain revolution: how the technology behind bitcoin is changing money, business, and the world. New York: Portfolio-Penguin, 2016. 16. SCHIAVON, G. Os bitcoins vão acabar? Entenda a marca dos 21 milhões de BTC. Foxbit, 10 abr. 2017. Disponível em: <https://blog.foxbit.com.br/os-bitcoins-vao-acabar-entenda-marca-dos-21-milhoesde-btc>. Acesso em: 10 dez. 2017. 17. SCHIAVON, G. Mineração de Bitcoin: entenda como funciona. Foxbit, 3 out. 2017. Disponível em: <https://blog.foxbit.com.br/mineracao-de-bitcoin-entenda-como-funciona>. Acesso em: 10 dez. 2017. 18. VIANNA, J. J. L. Elementos de arithmetica. 15. ed. Rio de Janeiro: 1914. p. 59. 19. WIKIPEDIA. Prime number. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Prime_number>. Acesso em: 19 dez. 2017. 20. WIKIPEDIA. Número primo. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%BAmero_primo>. Acesso em: 19 dez. 2017. 21. EUCLIDES. Os elementos. Livro IX, Proposição. 22. Great Internet Mersenne Prime Search. GIMPS, 7 jan. 2016. Disponível em: <https://www.mersenne.org>. Acesso em: 21 dez. 2017. 23. REVISTA VEJA. Cientistas descobrem o maior número primo – e ele tem mais de 22 milhões de dígitos. Veja, 6 maio 2016. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/ciencia/cientistas-descobrem-o-maiornumero-primo-e-ele-tem-mais-de-22-milhoes-de-digitos>. Acesso em: 21 dez. 2017. 24. SANTINO, R. Entenda por que os números primos são importantes nos dias atuais. Olhar Digital, 21 jan. 2016. Disponível em: <https://olhardigital.com.br/fique_seguro/noticia/entenda-por-que-os-numerosprimos-sao-importantes-nos-dias-atuais/54584>. Acesso em: 20 dez. 2017. 25. RAVAL, S. Decentralized applications. Sebastopol, CA: OReilly Media, 2016. 26. LASZLO. Pizza for bitcoins? Bitcoin Forum, 18 maio 2010. Disponível em: <https://bitcointalk.org/index.php?topic=137.0>. Acesso em: 22 dez. 2017. 27. FIGO, A. Quem comprou R$ 100 em bitcoins há seis anos hoje tem R$ 120 mil. Exame, 1º set. 2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/quem-comprou-r-100-em-bitcoins-ha-seis-anoshoje-tem-r-120-mil>. Acesso em: 3 dez. 2017. 28. ALVARENGA D. Ibovespa foi melhor investimento em 2017; veja ranking de aplicações. G1 Economia. 28 dezembro 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/educacaofinanceira/noticia/ibovespa-foi-melhor-investimento-em-2017-veja-ranking-de-aplicacoes.ghtml>. Acesso em: 4 jan 2018. 29. BUY BITCOIN WORLDWIDE. The Bitcoin volatility index. Disponível em: <https://www.buybitcoinworldwide.com/volatility-index>. Acesso em: 14 dez. 2017. 30. PETERSEIL, Y. Brexit turns Bitcoin into an unlikely haven currency: chart. Bloomberg, 8 jul. 2016. Disponível em: <https://www.bloomberg.com/news/articles/2016-07-08/brexit-turns-bitcoin-into-anunlikely-haven-currency-chart>. Acesso em: 14 nov. 2017. 31. TRADINGVIEW. Bitcoin: 2017 year of the bulls. 22 dez. 2017. Disponível em: <https://www.tradingview.com/chart/BTCUSD/ZrcaxO5C-Bitcoin-2017-year-of-the-bulls>. Acesso em: 23 dez. 2017.
32. WIKIPEDIA. Legality of bitcoin by country or territory. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Legality_of_bitcoin_by_country_or_territory>. Acesso em: 15 dez. 2017. 33. BITCOIN MAGAZINE. Top 10 myths about Bitcoin. Nasdaq, 13 maio 2016. Disponível em: <http://www.nasdaq.com/article/top-10-myths-about-bitcoin-cm620562>. Acesso em: 30 nov. 2017.
PARTE II
ECONOMÊS EM BOM PORTUGUÊS
capítulo 9 HISTÓRIA DO DINHEIRO – DO ESCAMBO AO MASTERCARD “A mudança é a lei da vida. E aqueles que olham apenas para o passado ou presente, certamente perderão o futuro” – JOHN F. KENNEDY A história do dinheiro poderia facilmente preencher uma grande biblioteca. O assunto como um todo é muito extenso. O propósito deste capítulo é bem mais simplista. Vamos aqui fazer uma breve retrospectiva de como as pessoas negociavam entre si antes do surgimento do dinheiro, como ele surgiu, modificou-se e como sua evolução poderá facilitar nossas vidas em um futuro próximo. A cronologia do dinheiro começa com o escambo, passa pela moeda, pelo papel e, hoje, quase todo mundo já prefere o plástico. Por volta de 6.000 a.C., o escambo (ou troca de mercadorias), foi introduzido pelas tribos da Mesopotâmia e adotado pelos fenícios. Os babilônios também desenvolveram um sistema de trocas aperfeiçoado.34 O crescente desenvolvimento da pecuária e agricultura fizeram com que a produção ultrapassasse a necessidade das tribos, gerando um excedente, que era então trocado por bens ou mercadorias de outras tribos. Todo o tipo de itens era trocado: alimentos, chás, armas, artefatos e especiarias. Na Roma Antiga, o sal se tornou tão popular e valioso que era utilizado para o pagamento dos soldados. Daí a origem do termo salário. Na Idade Média, os europeus navegaram o mundo para trocar artesanato e peles de animais por sedas e perfumes.
Por mais que o escambo tenha prevalecido por séculos como um sistema satisfatório, ele esbarrava em sérias dificuldades que, ao longo do tempo, acabaram por catalisar sua substituição pelo dinheiro.35 Em primeiro lugar, era necessário vencer o problema da dupla coincidência de desejos. Vamos supor que você tivesse um monte de bananas e quisesse um par de sapatos; não seria suficiente encontrar alguém que tivesse sapatos ou alguém que quisesse bananas. Para fazer o comércio, seria necessário encontrar alguém que tivesse sapatos e estivesse disposto a trocá-los por bananas. Uma segunda dificuldade do escambo era o troco. Quanto de uma mercadoria era equivalente a certa quantidade de outra? Imagine isso com centenas de itens disponíveis. Em um sistema de troca, a lista de preço seria um documento muito complicado, pois cada mercadoria teria que ser citada em termos de qualquer outra. Como retornar o troco após a troca de itens não equivalentes? O terceiro entrave decorria da indivisibilidade de alguns bens de troca. Imagine que você seja um alfaiate e necessite de carne. Para sua sorte, o açougueiro necessita de um casaco. Mas caso lhe baste um quilo de carne, o valor do casaco excederia em muito o valor correspondente. Você não poderia cortá-lo sem destruir o seu valor. A troca de mercadorias depende, pois, das necessidades particulares de cada indivíduo ou comunidade e, geralmente, uma quantidade limitada de alguns itens é suficiente para produzir satisfação. Para superar tamanhas limitações do sistema de trocas, começaram a surgir mercadorias que pudessem ser aceitas como um bem temporário. Por exemplo, você poderia trocar o seu casaco em sal. Trocaria parte desse sal por um quilo de carne. E manteria o restante para uso futuro. Ao longo da história, outros itens foram úteis no propósito de mercadoria comum de troca: conchas, metais preciosos, gado36, facas, discos de pedra, dentre outros. O que credenciava a aceitação desses itens era o valor que as pessoas lhe davam em função de sua utilidade, beleza ou raridade. Mas nem sempre esse meio de troca era o mais prático. Imagine a dificuldade de se transportar alguns deles para realizar negócios em terras distantes.
Em cerca de 1.100 a.C., os chineses começaram a usar miniaturas de ferramentas em bronze para realizar trocas, o que mais tarde deu origem às primeiras moedas em formato de disco metálico, tal como hoje conhecemos.37 No século VIII a.C., na Lídia, atualmente território turco, as moedas foram muito difundidas e se tornaram o principal meio de troca. Eram fabricadas a partir de uma liga metálica oriunda da fusão entre ouro e prata, em partes iguais. O problema emergente disso é que, a cada troca efetuada, era necessário realizar a sua pesagem. Então, para agilizar esse processo, as moedas passaram a ser marcadas com o seu peso correspondente já no momento da fabricação. No século seguinte, os gregos foram os responsáveis pela criação de uma moeda metálica com um valor padronizado pelo Estado. Logo os demais impérios apressaram-se em abraçar essa padronização, pois isso facilitava a cobrança de impostos, além da construção de forças militares. Com a padronização de valores, o fluxo de bens e serviços se intensificou. Mesmo as camadas menos abastadas passaram a experimentar itens antes inacessíveis. Não demorou para surgirem os bancos pioneiros. Estes eram originários das oficinas de ourives, locais seguros onde os senhores feudais depositavam o seu ouro. De forma pragmática, os novos responsáveis pelo arquivamento do metal começaram a emitir papéis que representavam uma quantidade específica de ouro, dando aos seus donos o direito de resgatar tal quantidade a qualquer momento. E assim surgiram os primeiros cheques bancários.38 Por sua vez, a China inauguraria a segunda grande revolução na história do dinheiro: o papel-moeda. Distribuído pela dinastia por volta do ano de 600 a.C., as cédulas acabaram, porém, não se espalhando para outros lugares. E caíram em desuso no fim do século XIV. Somente em 1661 as notas reapareceram na Europa, mais precisamente na Suécia e, a partir de então, difundiram-se para o restante do mundo.39 O dinheiro ficou mais portátil, o comércio avançou e a contabilidade tornou-se mais fluida.
Por fim, o cartão de crédito teve seu início com as companhias de combustível no início do século XX. Com ele, os clientes podiam fazer compras quando estivessem distantes de suas casas e em locais onde fosse difícil conseguir dinheiro vivo. Há quem considere a invenção do cartão de crédito como sendo a terceira revolução monetária. Hoje, apenas um décimo da oferta total de dinheiro nos EUA existe sob a forma de papel e moedas. O restante é o que conhecemos como moeda escritural, ou seja, aquela que existe apenas no livro dos bancos, intangível e imaterial por sua natureza. A Suécia, por exemplo, já está bastante adiantada no processo de substituição do dinheiro de papel pelo eletrônico. As cédulas devem se transformar, em menos de cinco anos, em meras peças de museu, e o país europeu poderá se tornar a primeira nação cashless do mundo. Até as nossas moedinhas estão sendo substituídas a ritmos mais lentos. Em um futuro não distante, é possível que sua utilidade não vá além dos jogos de cara ou coroa.40 Nos dias atuais, não é mais necessário encontrarmos um sapateiro que queira bananas. E a evolução do dinheiro continua ininterrupta, caminhando a passos largos rumo a virtualização completa da moeda. Segundo o antropólogo Jack Weatherford, “(...) com a informática, o dinheiro se transformou em impulsos eletrônicos invisíveis, livres do espaço, do tempo e do controle de governos e corporações”.41 Serão as criptomoedas o novo meio de troca do terceiro milênio?
capítulo 10 UM ANTÍDOTO CONTRA INFLACIONÁRIO “Os americanos estão ficando mais fortes. Vinte anos atrás, eram necessárias duas pessoas para carregar dez dólares em compras feitas na mercearia da esquina. Hoje, um garoto de cinco anos consegue fazer isso sozinho.” – HENNY YOUNGMAN Quando eu era pequeno, meus pais costumavam me levar para fazer compras. Eu ficava admirado com a velocidade com que trabalhavam as máquinas de etiquetar preços e seus operadores. Poucas horas depois, o etiquetador já estava ali estampando novos preços, repetindo tudo outra vez. A Era da Hiperinflação dominou o cenário econômico nas décadas de 1980 e 1990 em nosso país. Os preços chegavam a dobrar entre um mês e outro. Rapidamente, o salário perdia seu poder de compra. Isso gerava um corre-corre aos supermercados e filas quilométricas em todo início de mês. Era comum ver racionamento de alguns produtos, com limite de unidades por cliente. Prateleiras esvaziavam-se em minutos. As pessoas compravam e estocavam tudo o que podiam em casa. As famosas compras do mês tornaram-se comuns e até hoje persistem como hábito residual em muitas famílias. Caso você tenha menos de 30 anos, pode pensar que estamos narrando um roteiro de filme apocalíptico, ou descrevendo cenas de países mergulhados em guerra civil. Mas foi exatamente o que ocorreu por aqui no período que antecedeu o Plano Real. Pergunte aos mais velhos. Nos últimos anos, o fantasma da inflação voltou a nos assombrar. Fenômenos climáticos contribuíram para a alta dos preços dos alimentos e derivados. Mas,
sobretudo, a desastrosa política econômica dos últimos governos fez despertar o dragão hibernado. Para conter a alta, o Banco Central foi obrigado a elevar a taxa básica de juros. A taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) não representa os juros reais pagos pelo consumidor, mas é um índice de referência para a definição de todas as demais taxas da economia. É também o principal instrumento do Banco Central (BC) para controle da inflação. Quando o Comitê de Política Monetária (COPOM) decide aumentá-la, o crédito fica mais caro ao consumidor e, consequentemente, o consumo das famílias se retrai. Com a demanda reduzida e um excesso de oferta de bens e serviços, os preços desaceleram. A alta dos juros traz ainda um grave efeito colateral: o aumento da dívida pública. Estando atrelada à SELIC, ela se avoluma. Com menos dinheiro em caixa, temos ainda mais cortes em investimentos na saúde pública, educação e segurança, por exemplo. Mas calma lá. Se falta dinheiro para investir, por que o Banco Central simplesmente não emite mais dinheiro? Poderia pagar as dívidas e de quebra sobrariam recursos para as áreas prioritárias. Afinal, ele é o emissor do Real. Parece uma boa ideia, não? Apesar de possuir, nestes termos, máquinas de fazer dinheiro, essa é a pior das alternativas. Seria como se o BC jogasse ainda mais combustível sobre os preços. A expansão monetária, em vez de uma política austera, traz como maior consequência o descontrole das chamas inflacionárias. Quer dizer então que os governos jamais morderam a maçã da tentação de imprimir dinheiro? A história do último século responde bem a essa pergunta. Até a Primeira Guerra Mundial, vigorou de forma bastante satisfatória no mundo o chamado padrão-ouro. Vejamos por que ele foi tão importante para o amadurecimento da economia moderna. Com o desenvolvimento das moedas nacionais, as nações adquiriram discricionariedade para definir suas políticas. Eram diretamente responsáveis pela forma como a moeda funcionava dentro de seus territórios. No entanto, com
a intensificação do processo de globalização, as políticas de um país passaram a interferir nas do seu vizinho, já que havia fluxo de dinheiro e mercadorias entre as fronteiras. Para estabelecer um certo equilíbrio, as nações capitalistas concordaram entre si em atrelar suas moedas a uma determinada quantidade correspondente de ouro, já bastante difundido no globo. Assim, ao converter o valor de seu dinheiro em ouro, definiu-se o que fora chamado de lastro. Para cada excedente de ouro proveniente das exportações (que ia para os cofres do governo), acrescentavamse em circulação cédulas equivalentes a esse montante. A grande sacada do padrão-ouro é que o valioso metal sempre foi limitado. Sem poder minerá-lo indefinidamente, os governos não poderiam imprimir dinheiro a bel-prazer. Assim, a emissão baseada em lastro foi fundamental para que se criasse a confiança no comércio entre as nações e no jovem sistema financeiro global. O padrão-ouro conferiu estabilidade às taxas de câmbio. Os exportadores, sabedores de que não poderiam confiar na desvalorização da moeda para melhorar sua competividade, não viam alternativa senão otimizar custos e melhorar sua eficiência. Os bancos privados, fiéis guardiões do ouro da burguesia emergente, perceberam que poderiam emitir mais comprovantes de depósito do que o que havia em seus cofres, já que dificilmente as pessoas retiravam todo o ouro que haviam depositado. E começaram a fazer empréstimos em troca do pagamento de juros, numa proporção mais alavancada do que aquela que de fato detinham. Literalmente, foi aí que os bancos fizeram surgir dinheiro do nada, trazendo riscos inflacionários e de insolvência. A irresponsabilidade dos atores financeiros acabou mais tarde culminando em sucessivas crises.42 A alavancagem do dinheiro fabricado se agravou a partir de 1914. Com a Primeira Guerra Mundial, as alianças políticas mudaram, o endividamento internacional aumentou e as finanças públicas se deterioraram. As dívidas decorrentes do conflito forçaram os países a imprimir mais dinheiro para pagálas, mesmo sem lastro em ouro. A partir de então, as coisas degringolaram.
Seguiu-se, no pós-guerra, um período hiperinflacionário. Logo, o padrão-ouro, que garantiu décadas de estabilidade monetária, acabou abandonado de vez. Para se ter uma ideia, a Alemanha, grande derrotada na Primeira Guerra, viu a quantidade de dinheiro circulante quase quadruplicar. Para piorar, como indenização aos vencedores, foram obrigados a pagar cerca de 33 bilhões de dólares em ouro ou moeda estrangeira, já que o marco alemão estava bastante desvalorizado. As reservas do metal praticamente se esgotaram. A emissão de notas sem qualquer tipo de lastro tornou-se inevitável. Cinco anos após o fim da guerra, cada cédula de marco valia em ouro apenas uma mísera fração do que valia em 1914. O Banco Central alemão chegou a emitir cédulas de 100.000.000.000.000 (100 trilhões) de marcos. Hoje nenhum país utiliza mais o lastro em ouro. E nem sempre o padrão-ouro é lembrado com tantas paixões. Embora tenha funcionado a contento enquanto vigente, não chegou perto de ser a forma mais sustentável de se estabelecer a mútua confiança entre os povos. Para o jornalista Alexandre Versignassi, autor de Crash – Uma Breve História da Economia, o padrão-ouro “no fundo era um sistema imbecil. [...] é só pensar: manter o padrão-ouro consistia em desenterrar o metal em uma mina, num grotão qualquer, para enterrá-lo de novo nos cofres dos bancos. […] Era o planeta inteiro mobilizando uma força soberba de trabalho para minerar e transportar o metal. Tudo com a única função de fazer as pessoas acreditarem que o dinheiro de papel que elas carregavam não era só papel.”43 No caso do Bitcoin, ao contrário do dinheiro em papel, não se pode criar unidades da criptomoeda. Como falamos nos capítulos anteriores, o Bitcoin foi projetado em sua gênese para ampliar sua disponibilidade em ritmos progressivamente menores. Quando o último Bitcoin for minerado em 2140, circularão somente cerca de 21 milhões de bitcoins. Caso a procura pela moeda continue a crescer no mundo, ao passo em que a oferta tende à estabilidade, a consequência esperada é um aumento do seu poder de compra. Por exemplo, aquela pizza comprada em 2010 por 10 mil bitcoins hoje poderia ir para a sua mesa por apenas uma pequena fração de um único BTC. Trazendo para o nosso
mundo real, é como se a pizza estivesse mais barata hoje do que alguns anos atrás. Se a quantidade não aumenta, as pressões inflacionárias diminuem e podem até inverter-se. É por isso que se diz que o bitcoin tem o potencial de ser uma moeda deflacionária. A deflação é aquele estado em que os preços se reduzem e o poder de compra aumenta. É o movimento diametralmente oposto à inflação. Aqui cabe abrir parênteses. Assim como a inflação é o meio mais cruel de empobrecimento de uma população, na medida em que seu dinheiro comprará cada vez menos, a deflação também pode ser ruim. A teoria da espiral deflacionária diz que, se é esperada queda dos preços, as pessoas tendem a adiar suas compras para conseguir se beneficiar dos preços mais baixos. Essa queda da demanda faria com que os comerciantes abaixassem ainda mais os preços de suas mercadorias para estimular o consumo imediato, reduzindo indiretamente a produção e o crescimento, como num efeito cascata. Entretanto, essa teoria é controversa mesmo entre economistas. Além disso, o Bitcoin já provou não seguir exatamente as mesmas regras e padrões aplicáveis às moedas tradicionais. Na prática, percebeu-se em ambientes deflacionários, que o desconto de preços praticados tende a compensar o ímpeto poupador do comprador, por vezes superando-o. No médio prazo, tende-se ao reequilíbrio da oferta versus demanda e, consequentemente, dos preços. Se existe algum consenso, é o de que a inflação é perniciosa, atingindo com maior violência as camadas mais pobres da população. Não é, portanto, mais saudável que um teórico risco deflacionário. Nesse cenário, o Bitcoin poderia se revelar como uma providencial ferramenta capaz de frear a desvalorização do dinheiro da população.
capítulo 11 POR QUE O LASTRO PODE SER DESIMPORTANTE “A primeira regra de qualquer tecnologia utilizada num negócio é que a automação aplicada a uma operação eficiente vai aumentar a eficiência. A segunda é que a automação aplicada a uma operação ineficiente vai aumentar a ineficiência.” – BILL GATES Vimos anteriormente como o padrão-ouro foi fundamental para garantir a confiança nas moedas fiduciárias nacionais. O ouro reluzia confiança sobre as notas de papel, tornando-as suas autênticas substitutas. E, desde que permanecesse em depósito, as pessoas tinham fé no dinheiro que circulava e no governo que a emitia. Em relação à realidade das criptomoedas, muito se tem discutido quanto à suposta ausência de lastro. É sabido que o Bitcoin não é lastreado em ouro, tampouco em uma moeda fiduciária. Descentralizado, também não é garantido por qualquer instituição governamental. Além disso, não há um valor intrínseco ao Bitcoin. Se não representar um efetivo poder de troca por bens ou serviços, um Bitcoin nada mais é que uma sequência encadeada de zeros e uns.44 Afinal, não seria um grotesco retrocesso uma moeda desfalcada de lastro? E que moeda é essa que só existe em nossa imaginação? Primeiramente, a imaterialidade (ou a intangibilidade, no jargão economês) não é nenhuma novidade. A maioria das economias modernas é baseada hoje na moeda escritural45, o dinheiro criado pelos bancos.
Em segundo lugar, o lastro não é necessário ao Bitcoin e já vamos entender o porquê. Em um mundo onde o padrão-ouro foi abandonado, as moedas fiduciárias atuais passaram a se sustentar sob dois pilares: o curso forçado e a confiança no emissor. O curso forçado significa que, por força da lei, os cidadãos são obrigados a adotar a moeda oficial do seu país. Por exemplo: não utilizamos o Real porque o comparamos com outras moedas e concluímos sê-lo o mais estável e promissor. Nós utilizamos o Real simplesmente por determinação do Estado. O nosso Banco Central, tal qual os demais do mundo, detém o monopólio sobre a moeda corrente. Sem o curso forçado, dificilmente as moedas ruins sobreviveriam. Por sua vez, é fundamental que o emissor conquiste a confiança dos destinatários de seus títulos. Imagine que um determinado Banco Central decida imprimir cédulas indiscriminadamente. Essa atitude velhaca, tão logo percebida pelo mercado, se revelaria um verdadeiro tiro no pé. Com a confiança arruinada, seria inútil a desesperada medida. Valendo cada vez menos, seriam necessárias várias unidades de dinheiro para comprar os itens mais básicos. Em pouco tempo, “zeros” teriam de ser acrescentados às notas desvalorizadas, em meio a inflação galopante. Déjà-vu? Numa era em que reinava a mútua desconfiança, o ouro cumpria papel primordial. A sua disponibilidade limitada e a impossibilidade de forjá-lo, o credenciava a um fiador comum entre duas partes nem sempre tão harmônicas. É importante frisar que o ouro não teria tido sucesso não fosse sua relativa escassez. Ainda que a cada dia mais ouro seja minerado, estima-se que ele seja finito na natureza. Se os colonizadores europeus gozaram de fartas e inexploradas jazidas, hoje para extrai-lo são empregadas técnicas cada vez mais dispendiosas e proporcionalmente menos rentáveis. Daí percebemos como o Bitcoin é novamente inovador desde sua criação. Ao contrário de um simples arquivo digital, facilmente replicável, a concepção fria e inexorável da matemática criptográfica viabiliza essa propriedade de escassez programada. Paulatinamente, os últimos bitcoins serão minerados até meados do
próximo século e em velocidade cada vez menor, necessitando de esforços progressivamente maiores.46 O Bitcoin lastreia-se, portanto, em si próprio. Em sua escassez algorítmica, ou melhor, na sua oferta inelástica. Ele não pode ser inventado ou criado, apenas minerado conforme prevê o seu código inviolável. Assim, é importante entendermos que o lastro não é uma exigência teórica de uma moeda, mas apenas um arremedo prático contra práticas irresponsáveis dos emissores de papel. Seria perfeitamente dispensável caso houvesse outra maneira eficaz de assegurar a diligência das casas de moeda. Se o lastro é um disciplinador que atua sobre a emissão de uma moeda, pode-se dizer que há diferentes formas de se “lastreá-la”, e o Bitcoin adotou desde a sua gênese a mais eficiente delas.
capítulo 12 MOEDA DE TROCA OU RESERVA DE VALOR? “Se você gosta de ouro, há muitas razões pelas quais você deveria gostar do Bitcoin.” – CAMERON WINKLEVOSS Aristóteles, antes mesmo dos economistas modernos, acreditava que a vida humana numa comunidade política seria impossível sem o mercado e o dinheiro. Um sistema econômico justo e igualitário exigiria a adoção de um padrão de equivalência comum, baseado na confiança entre seus usuários. Como vimos, antes de seu uso como lastro, o ouro desempenhou importante papel como moeda de troca. E não foi à toa. Alguns fatores contribuíram para sua aceitação universal: a facilidade de manuseio, a não perecibilidade e a dificuldade em falsificá-lo. Foi por excelência a moeda de troca dominante por longos períodos. Antes sequer de obter esse status, porém, o ouro já era bastante valorizado pelas pessoas. Era de grande utilidade na fabricação de joias e adornos, em função da sua beleza, brilho e raridade. Ou seja, ele sempre teve um valor próprio – ou intrínseco, como diriam os economistas. Já o papel-moeda, que posteriormente substituiu o ouro, não possui qualquer valor intrínseco. Uma cédula de papel não vale por si só, mas pelas mercadorias e serviços que pode comprar. Ainda que tenha o autógrafo de seu artista preferido ou a combinação da Mega Sena, não deixa de ser um pedaço de papel. O valor que acreditamos que ele tenha é fruto da confiança que compartilhamos com nossos pares que, de fato, aquele bilhete valha algo.
E o ouro, tendo perdido sua função de lastro, que função ocuparia hoje em dia? Por que ainda hoje vemos falar em cotações do ouro nos jornais, já que o seu valor intrínseco (para confecção de joias, por exemplo) por si só não parece ser o bastante para atrair tamanho interesse? O ouro tem se mostrado um fiel aliado àqueles que lhe confiam suas poupanças. O objetivo é manter o poder de compra ao longo dos anos. Diferentemente dos investimentos de risco, que podem sucumbir da noite para o dia, o ouro tem se valorizado constantemente por décadas, repondo a inflação. É o que os economistas chamariam de reserva de valor, na qual se busca preservar (e se possível elevar) o valor de compra futuro. Dito isso, a pergunta que surge é: qual papel o Bitcoin deverá assumir – moeda de troca, reserva de valor, ambos, ou nenhum deles? Utilizar o Bitcoin como proteção de capital tem sido o objetivo de muitos investidores. Isso se deve ao fato de não poder ser inflacionado como as moedas de curso forçado, além de sua proteção pela criptografia da Blockchain, sendo, portanto, invulnerável a fraudes; por último, é especialmente útil em economias em situação de fragilidade, pois pode representar uma opção mais estável em relação à moeda oficial do país em crise. Assim, o Bitcoin pode ter alguma utilidade como reserva de valor. Mas, como tudo pode falhar, não é recomendável alocar uma proporção considerável do seu patrimônio na criptomoeda, caso queira protegê-lo, pois ainda é considerada um investimento de altíssimo risco. E como moeda de troca, o Bitcoin é útil? Essa talvez tenha sido a ideia central na sua concepção. É muito cedo para definirmos se algum dia ele ocupará de fato esse papel no nosso dia a dia. Mais precoce ainda é afirmar que chegará a ameaçar as moedas nacionais. O que se sabe por enquanto é que já há centenas de milhares de empresas no mundo que aceitam pagamento em bitcoins, incluindo grandes empresas como Paypal e Microsoft. Em termos de volume circulante, os números também impressionam. O Bitcoin já é a quinta moeda no mundo, tendo deixado para trás moedas poderosas como o Rublo russo e a Libra esterlina e, mais recentemente, a moeda
oficial da Índia, a Rúpia. As quatro moedas à sua frente são o Yen, o Yuan, o Euro e o Dólar. Já há mais bitcoins que reais em circulação, o que obviamente não nos surpreende. Esses números são, naturalmente, um pouco distorcidos, porque o valor em circulação de uma moeda não reflete o seu valor total. No entanto, os números revelam o poder substancial do Bitcoin em termos de interações cambiais.47 Há ainda uma terceira função da moeda reconhecida por economistas, que é a chamada unidade de conta. Isso significa ser o referencial das trocas, o instrumento pelo qual as mercadorias são cotadas. No Brasil temos o Real como referência para a precificação dos bens e serviços. Então, se você for ao cinema, o valor do ingresso será listado em reais, por exemplo, R$ 40,00. Mas poderia ser 0,001 BTC. Hoje, o Bitcoin está distante de ser utilizado como unidade de conta, ou reviveríamos as emoções das etiquetadoras alterando os preços de minuto a minuto, como nas décadas de 80 e 90. Para que isso ocorra um dia, a sua volatilidade necessita ser vencida primeiramente. Antes de encerrar o capítulo, gostaria de fazer uma breve pausa para balanço. Não um balanço patrimonial em bitcoins. Mas um balanço do quanto já avançamos até este momento do livro. Se você não é economista, talvez alguns termos como valor intrínseco, intangibilidade, oferta inelástica e reserva de valor tenham sido novos para você. A partir de agora, garanto que não se sentirá mais perdido na próxima vez em que estiver discutindo sobre Bitcoin em uma roda de amigos. Você não irá se satisfazer apenas com o palpite alheio e desinformado de que o “Bitcoin é uma bolha” (ou de que “não é”, proferido igualmente por pessoas que repetem o que ouvem), pois já conhece grande parte dos fundamentos dessa moeda digital e é capaz de contextualizá-la no processo evolutivo do dinheiro. A intenção deste livro não é lhe convencer das vantagens ou tampouco lhe assustar com os riscos, mas torná-lo capaz de tecer uma análise crítica, do ponto de vista de um cidadão comum acerca da moeda que pode dominar nosso futuro. Afinal, caso isso ocorra, o Bitcoin não será mais assunto de nerds fanáticos por
engenharia computacional, mas estará presente no dia a dia de cada pessoa, de crianças a adultos de todas as idades. Agora que já digerimos o economês que nos afastava do mundo do Bitcoin, sugiro que relaxe por alguns instantes ou simplesmente tome um copo de água, pois após poucos capítulos onde terminaremos de discutir o impacto potencial do Bitcoin na economia, será hora de iniciarmos a Parte III desse livro, a mais prática delas. Com o seu livro em mãos, prometo-lhe ensinar o passo a passo, de forma didática, para embarcar de vez no mundo do Bitcoin. Com ilustrações, detalharemos os primeiros passos para criar sua conta em uma Exchange, comprar seus primeiros bitcoins e guardá-los de forma segura. E quem sabe até utilizá-los, se desejar.
capítulo 13 O ALTO CUSTO DOS ATRAVESSADORES “Escolhemos colocar nosso dinheiro e fé em uma estrutura matemática livre de política e de erro humano.” – TYLER WINKLEVOSS Segundo dados do Banco Central, as vendas em cartões de crédito e débito movimentaram mais de R$ 1 trilhão em 201648, representando um aumento nominal em relação ao ano anterior de cerca de 3 e 10%, respectivamente. No mesmo período, houve uma queda de 12% no valor das movimentações por meio de cheques. A Cielo, principal credenciadora de cartões no país, tem mais de 2 milhões de estabelecimentos ativos em seu cadastro, e esse número tem crescido nos últimos anos. Enquanto o plástico substitui rapidamente as notas de papel, em breve poderá avistar em seu retrovisor um possível sucessor se aproximando para a ultrapassagem. Uma das principais vantagens das moedas criptográficas está justamente nos custos mais baixos de operação, ao eliminar atravessadores. Você sabe quem são esses atravessadores e quanto é necessário para bancálos? Vamos supor que ao fim de um jantar com seu acompanhante em um dos seus restaurantes favoritos, o garçom lhes traga uma conta de R$ 150,00. Seguramente, ele já terá a mão uma máquina de cartões, a forma preferida dos seus clientes para pagamentos. E afinal, convenhamos, hoje em dia quase ninguém carrega dinheiro na carteira. Quando muito, apenas uma pequena quantia para emergências.
Você fica bastante satisfeito, afinal terá até 30 dias paga pagar a fatura e, com sorte, ainda poderá acumular milhas. Mas há sempre o outro lado da moeda. O dono do restaurante só receberá o valor daquele jantar após os mesmos 30 dias. Não se engane: de algum modo, o custo desse crédito será repassado a você! Mas vamos com calma, que estamos apenas começando. Suponhamos que você pague sua fatura em dia – isto é, sem as astronômicas multas e juros de até 400% ao ano –, vários atravessadores do sistema ainda morderão o seu dinheiro antes de chegar ao destino final. O primeiro deles é o emissor, ou seja, o banco que lhe forneceu o cartão − não necessariamente aquele onde você é correntista – em troca do pagamento de uma anuidade. O emissor irá reter da conta do jantar algo como 1,5 a 2% e, em seguida, repassará o que sobrar ao próximo da cadeia de atravessadores: o credenciador. Essa taxa retida é chamada tarifa de intercâmbio. Pois bem, o credenciador (a empresa da maquininha) receberá, por sua vez, o valor descontado e dará também a sua mordida: é a chamada tarifa de desconto. Cabe ressaltar que, além dela, o credenciador cobra do comerciante o aluguel mensal da máquina, que pode chegar a cerca de R$ 150,00 por mês. Advinha quem vai arcar com mais esse custo? Por fim, temos a bandeira, que é a marca que estampa o seu cartão de crédito: Visa, Mastercard, American Express, dentre outros. A abocanhada praticada pela empresa da bandeira do cartão chama-se tarifa de acesso. Essa tarifa é cobrada tanto do emissor (banco) quanto do credenciador (da maquininha). Esse pedágio por utilizar a “marca” do cartão consome outros 3 a 3,5% da sua conta. Está anotando? Daqueles R$ 150,00 impressos no bilhete do garçom, nada menos do que 5% ou R$ 7,50 são apenas para pagar os intermediários (tarifas de intercâmbio, de desconto e de acesso). Este é o valor cobrado pelos componentes dessa lesiva cadeia, responsável tão somente por fazer o dinheiro sair do seu bolso para o do comerciante. Ou pelo menos uma parte dele, né?
Figura 13-1. Custos de atravessadores envolvendo uma típica compra com cartão de crédito.
Veja que estamos tratando de uma simples operação à vista. Desconsideramos, pois, outras taxas que podem ser cobradas pelos atravessadores, incidentes sobre parcelamentos ou atrasos no pagamento da fatura, incluindo multas e juros. Tampouco estamos considerando os pesados impostos sobre produção e comercialização de bens e serviços, que não são objeto específico dessa reflexão. Estamos aqui nos concentrando apenas no custo do atravessamento – ou intermédio, como queira – dos pagamentos via cartão de crédito, para exemplificar a modalidade preferida pela população hoje em dia.
É igualmente necessário destacar que o nosso exercício mental simula uma transação doméstica ou local. Imagine agora que o delicioso jantar ocorra durante uma viagem internacional. Dessa forma, transportar o dinheiro do seu bolso para o do estabelecimento lhe custaria muito mais. Além do IOF, as taxas agregadas de câmbio nem sempre serão tão digeríveis quanto o apetitoso jantar. Experimente só enviar dinheiro para outro país. Para quem possui parentes no exterior, viaja ou está morando fora, essa necessidade é recorrente, seja com o interesse de enviar ou receber recursos. Nesse caso, prepare-se para enfrentar obstáculos burocráticos, prazos demorados e, claro, abocanhadas mais vorazes dos atravessadores, que podem chegar a retirar para si até 10% do seu montante. Nesse contexto, a transação em moeda digital surge como uma ferramenta capaz de dinamizar essa troca. No universo das criptomoedas, não há fronteiras. Tanto faz transferir um valor para a padaria da esquina ou para outro continente. O processo é realizado da mesma forma, com muito mais agilidade, transparência e sobretudo menos taxas envolvidas, já que não há os tradicionais atravessadores. Além disso, a rede funciona 24 horas por dia, livre de inconveniências como o expediente bancário, feriados e greves. Talvez você já tenha ouvido que as transferências em bitcoins são diretas entre usuários, não envolvem intermediários e, portanto, são gratuitas. Isso está parcialmente impreciso. De fato, não há bancos, credenciadoras ou empresas de bandeiras no percurso do dinheiro. Ainda assim, há necessidade de se auditar o livro de registro de blocos (Blockchain). Conferir se os pagamentos são autênticos e evitar o duplo gasto é tarefa dos mineradores. Como ninguém trabalha de graça, eles são justamente recompensados pelos seus esforços, como já vimos anteriormente.49 Mas, para o usuário final, esse custo é infinitamente mais baixo que aquele praticado pelo sistema tradicional. De fato, o crescimento explosivo do Bitcoin tem trazido o problema da escalabilidade para as mesas de discussões. O congestionamento da rede faz com que as taxas no momento não sejam tão baratas quanto as outrora praticadas. Mas é próprio da tecnologia da Blockchain
a adaptabilidade do seu código para problemas previstos, para os quais as soluções também são alcançáveis (ver Capítulo 23), uma vez que a descentralização favorece o amplo debate e soluções surgem com muito mais facilidade. Enquanto o consenso não vem, a paciência pode ser a chave para obter custos mais baixos. Algumas carteiras personalizáveis permitem ao usuário definir a taxa paga aos mineradores. Usualmente, uma transação típica leva até 10 minutos para ser confirmada, o prazo com que cada bloco é adicionado à rede. Mas pode levar várias horas, a depender do tráfego. Se esperar não é um incômodo para você, pode ser interessante optar por envios de baixa prioridade, que contam com taxas muito mais em conta. Na próxima parte do livro, voltaremos a falar nos custos envolvidos na movimentação da criptomoeda, especialmente aqueles cobrados pelas casas de câmbio virtuais. Por enquanto, é suficiente enxergarmos que a transação de valores através dos atores tradicionais (em especial os bancos, bandeiras e credenciadores) tira para cada um deles fatias consideráveis do seu bolo. Em um mundo que preza por eficiência e sustentabilidade, o dinheiro virtual chega trazendo enormes expectativas de otimização de custos e prazos para transações globais.
capítulo 14 LIBERDADE POLÍTICO-MONETÁRIA “O dinheiro não criará sucesso, mas a liberdade em fazê-lo sim.” – NELSON MANDELA Enquanto a crise econômica em países como a Venezuela e Zimbabwe diminui a oferta de empregos, o abastecimento de mercadorias e o poder de compra de seus consumidores, o interesse dessas populações pelas criptomoedas só aumenta, em especial pelo Bitcoin. Há um histórico de má gestão sobretudo nos países da América Latina e África no que concerne à quantidade de moeda circulante. O populismo, a falta de uma cultura de educação e responsabilidade financeira pelo Estado, e de um projeto de gestão, associados a uma baixa escolaridade e discernimento das camadas mais pobres, ora vítimas e objetos de sua ação, contribuem de forma significativa para adoção de medidas econômicas inflacionárias nos países em desenvolvimento.50 A inflação é uma das formas mais nefastas com que o Estado e seus burocratas podem atentar contra a população. Sob o enfoque monetário, pode-se concluir que a inflação chega a ser um ato de fraude cometido por uma autoridade central, em detrimento aos geradores de riquezas, os indivíduos. A Venezuela é hoje o país com a taxa de inflação mais elevada do mundo. A ditadura socialista sofreu com uma rápida queda nos preços do petróleo, lançando toda sua economia em turbulência. A inflação fechou 2017 com alta de 2.700%, deixando muitas pessoas sem necessidades básicas. O país está imprimindo notas de alta denominação para que os cidadãos não tenham que
levar sacolas de dinheiro para os supermercados, mas isso não resolve o problema da pobreza. Por lá, um outro ponto de apoio ao crescimento do Bitcoin é o baixo custo da energia elétrica, o que é uma vantagem para os mineradores. O desemprego e o baixo salário mínimo são também fortes incentivos à mineração, atividade que vem se tornando uma importante fonte de renda para um número crescente de famílias. A moeda virtual também tem permitido aos venezuelanos a importação de itens que se esgotaram no mercado doméstico. Há ainda aqueles que utilizam bitcoins para enviar remessas a familiares que se asilaram em outros países e, por fim, os que confiam na criptomoeda como proteção contra a desvalorização do Bolívar. Todos esses fatores têm feito do nosso vizinho em crise um terreno fértil ao avanço da moeda, onde a aceitação no comércio local está em plena expansão. Não coincidentemente, os recentes entraves entre EUA e Coréia do Norte têm provocado picos de valorização da moeda nos momentos mais turbulentos entre os dois países. Em entrevista para a Bloomberg, Alistair Milne, diretor de investimentos e cofundador de um fundo de hedge de US$ 22 milhões que investe em ativos de criptografia, afirmou que “o Bitcoin é um refúgio seguro para pessoas de todo o mundo que não confiam em seus governos”. Segundo ele, “existem muitos países onde as pessoas procuram um bem não que não seja vulnerável a instituições em colapso”.51 Mais icônico ainda é o caso do Zimbabwe, o antigo “celeiro da África”. Além da fome, dos altos preços da gasolina e da escassez de água, o país também sofre uma alta inflação e desvalorização da moeda. O Zimbabwe desistiu de sua própria moeda em 2009, mesmo ano em que o Bitcoin nasceu, depois que a hiperinflação levou à impressão de notas de até 100 trilhões de dólares, que não valiam quase nada. A nação se viu povoada de verdadeiros “bilionários” famintos. Atualmente, o país usa o Dólar americano; contudo, também são usualmente adotados o Rand sul-africano, o Pula do Botswana, a Libra esterlina
e o Euro, além do dinheiro digital. O Bitcoin multiplicou-se no país africano, chegando a ser negociado com prêmio de até 100% ante seu valor no mercado internacional.
Figura 14-1. Cédula de 100 trilhões de dólares do Zimbábue (Crédito: Wikipedia)
Outra vantagem da não alcançabilidade do dinheiro virtual pelo Estado seria a proteção ao confisco estatal. Em 2013, o fantasma do Plano Collor desembarcou na Europa. Para combater a crise econômica, o governo do Chipre aprovou o confisco a contas de seus cidadãos. Foi o suficiente para amedrontar a população de outros países europeus em crise, como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda. A medida escancarou mais uma vez a quebra de confiança nos governos e no sistema bancário, que se dissipava lentamente desde a crise bancária de 2008. Em 2016, a Índia viveu um episódio semelhante. O governo indiano subitamente baniu as notas de 500 e 1.000 rúpias (o equivalente aproximadamente a R$ 25 e 50, respectivamente). A medida pretendia coibir o mercado negro e o pagamento de propinas, pois ambos utilizam exclusivamente dinheiro vivo e preferencialmente em alto valor nominal. Em vez disso, a medida atabalhoada provocou uma crise de liquidez sem precedentes. Em um país de 1,25 bilhão de pessoas − em sua maioria desbancarizadas −, o caos e desespero tomaram conta da sua população. Em três dias, casas de câmbio, bancos, caixas eletrônicos e hotéis ficaram sem dinheiro vivo. Da noite para o
dia, milhões de pessoas que tinham essas cédulas se viram impedidas de comprar qualquer coisa com elas, até mesmo os itens mais básicos. Nesse sentido, a Blockchain significa uma ruptura na concepção do dinheiro, posicionando a tecnologia a favor das sociedades mais oprimidas, econômica ou politicamente. Ideais de liberdade monetária, que possibilitem ao indivíduo eleger a sua moeda e decidir onde gastar seus recursos, estão em destaque. A descentralização da moeda pode finalmente tirar seu controle das mãos de ferro opressoras de alguns governos ditatoriais. Esse tema tende a esquentar nos próximos anos e tudo leva a crer que as discussões acerca das moedas digitais terão sobre si o foco dos holofotes internacionais. Se prosperarem, a separação entre Estado e moeda pode inaugurar um irremediável e libertário caminho da nossa história.
capítulo 15 CETICISMO DOS ATORES TRADICIONAIS “Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam.” – MARTIN LUTHER KING JR. O JP Morgan é uma das principais instituições financeiras do mundo, também uma das maiores empresas a negociarem ações na bolsa de valores. Dito isso, não é de se estranhar o fato de a empresa ver com suspeitas qualquer tipo de alternativa pouco convencional ao sistema financeiro global, como é o caso das criptomoedas. Em conferência realizada em Nova Iorque em setembro de 2017, Jamie Dimon, presidente do banco, foi enfático ao afirmar que o Bitcoin “é uma fraude” e que invariavelmente essa bolha vai estourar.52 Além disso, Dimon defendeu que as criptomoedas servem apenas a interesses criminosos e afirmou ainda que demitiria qualquer funcionário de seu banco que fosse tolo o suficiente para se envolver em transações com bitcoins. O discurso não parecia ser compartilhado por Nikolaos Panigirtzoglou, estrategista do mesmo banco. Segundo ele, com o início das negociações de contratos futuros, o Bitcoin aproxima-se de classes de ativos mais tradicionais, podendo se tornar uma maneira confiável de armazenar patrimônio no longo prazo. Por sua vez, o excêntrico gênio da indústria de antivírus, John McAfee, foi mais contundente na resposta ao presidente do JP Morgan. McAfee, que vendeu sua empresa à Intel e hoje ocupa-se de minerar a criptomoeda, disse que respeita Dimon, mas desafiou suas críticas e, em tom provocativo, fez uma aposta no
Twitter. Em setembro de 2017, projetou que o Bitcoin chegaria a US$ 500.000 até o ano de 2020. Dois meses após, elevou ainda mais suas expectativas. De acordo com John, sua previsão anterior baseou-se em um modelo que previa o Bitcoin a US$ 5 mil ao final de 2017, mas ele acelerou muito mais rápido que poderia ter imaginado e, portanto, estaria elevando suas previsões para US$ 1 milhão ao final de 2020. Naquela mesma linha de Dimon, outros banqueiros têm expresso seu ceticismo em relação à estabilidade e resistência do Bitcoin. Axel Weber, do UBS Group, disse que o Bitcoin não tem valor intrínseco porque ninguém garante a moeda. Em relação à Blockchain, Weber foi mais otimista e disse que a Blockchain poderia ter aceitação no longo prazo. Enquanto isso, o CEO do Credit Suisse Group, Tidjane Thiam, disse que “atualmente, o único motivo para comprar ou vender bitcoins é ganhar dinheiro, a própria definição de especulação e de bolha”. Uma pesquisa publicada pela Natixis Investment Managers mostrou que 64% dos investidores institucionais (bancos, seguradoras, fundos e outras entidades que investem no mercado de capitais, incluindo as estatais) acreditam que as altas sequenciais da cotação do Bitcoin sejam indícios de que o mercado vive uma bolha. O levantamento foi feito com 500 investidores institucionais do mundo todo, responsáveis por mais de US$ 19 trilhões em ativos.53 E ainda tem aqueles que se posicionam em cima do muro. Enquanto o bilionário e cofundador do Paypal Peter Thiel é um grande entusiasta e tem espalhado aos quatro cantos do mundo que o potencial do Bitcoin está sendo subestimado, sem mostrar a mesma empolgação para as demais criptomoedas, seu parceiro e também cofundador da mesma empresa, Max Levchin, revelou ser um grande fã da tecnologia Blockchain, mas ainda está indeciso em relação ao Bitcoin. Se os críticos estarão com a razão, ou os otimistas se darão bem por terem enxergado antes dos demais a oportunidade, é uma dúvida para a qual ainda não temos respostas. Um ponto de convergência é que o Bitcoin e a Blockchain devem ser enxergados como inovações disruptivas, com enorme potencial e
elevado risco. Alguns preferem se concentrar no potencial. Mas, fazê-lo sem um olhar sóbrio acerca do risco subjacente é um grande erro, tanto quanto a insistente cegueira daqueles que teimam em negá-lo.
34. SCHUMPETER, J. A. History of economic analysis. London: Routledge, 1994. 35. JEVONS, W. S. Money and the mechanism of exchange. New York: D. Appleton and Co, 1876. 36. A atual moeda indiana Rúpia vem do termo em sânscrito (a linguagem da antiga Índia) “rupa”, que significa “gado”. 37. CREDIT CRITICS. A brief history of money. Disponível em: <https://creditcritics.com/a-briefhistory-of-money>. Acesso em: 26 nov. 2017. 38. HISTÓRIA DE TUDO. História do cheque. Disponível em: <http://www.historiadetudo.com/historiado-cheque>. Acesso em: 26 nov. 2017. 39. SUPERINTERESSANTE. Como surgiu o dinheiro? Superinteressante, 31 out. 2016. Disponível em: <https://super.abril.com.br/cultura/como-surgiu-o-dinheiro>. Acesso em: 1º dez. 2017. 40. BANCO CENTRAL DO BRASIL. O dinheiro no Brasil. Museu de Valores do Banco Central. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/museu-espacos/dinheirobrasileiro/histdinbr.asp? idpai=MUSEU>. Acesso em: 4 dez. 2017. 41. WEATHERFORD, J. A história do dinheiro. Rio de Janeiro: Campus, 2005. 42. Hoje, a maioria dos países adota o sistema de reserva fracionária, que permite aos bancos fazerem empréstimos ou investimentos em valor muito superior ao valor dos depósitos sob sua guarda, mantendo em reserva apenas uma pequena fração desses depósitos. Esse sistema se baseia na crença de que os depositantes não sacarão o seu dinheiro ao mesmo tempo. Se o fizessem, os bancos não teriam como atender a demanda, ou seja, quebrariam. 43. VERSIGNASSI, A. Crash: uma breve história da economia. São Paulo: Leya, 2011. 44. Bit (simplificação para dígito binário, Binary digit em inglês) é a menor unidade de informação que pode ser armazenada ou transmitida, usada na Computação e na Teoria da Informação. Um bit pode assumir somente 2 valores: 0 ou 1, corte ou passagem de energia respectivamente. 45. A moeda bancária ou moeda escritural consiste nos depósitos à vista existentes nos bancos ou em outras instituições creditícias. 46. LANCELOT, R. Whats the deal with Bitcoins? Pennington, NY: People Tested, 2013. 47. BUCK, J. Bitcoin is 6th largest currency in the world by circulation. The Cointelegraph, 2 dez. 2017. Disponível em: <https://cointelegraph.com/news/bitcoin-is-6th-largest-currency-in-the-world-bycirculation>. Acesso em: 3 dez. 2017. 48. CAMPOS, E. Cartões de crédito e débito movimentaram mais de R$ 1 trilhão em 2016. Valor Econômico, 10 jul. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/financas/5032900/cartoes-de-creditoe-debito-movimentaram-mais-de-r-1-trilhao-em-2016>. Acesso em: 13 nov. 2017. 49. KELLY, B. The Bitcoin big bang: how alternative currencies are about to change the world. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2015. 50. ASSAF FILHO, A. A tecnologia e a liberdade monetária. Administradores.com, 30 nov. 2017. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/a-tecnologia-e-aliberdade-monetaria/108165>. Acesso em: 13 dez. 2017. 51. URBAN, R. Bitcoin Is the new crisis currency. Bloomberg, 17 nov. 2017. Disponível em: <https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-17/bitcoin-emerges-as-crisis-currency-in-hotspotssuch-as-zimbabwe>. Acesso em: 20 dez. 2017. 52. Pouco mais de três meses após seu inflamado discurso, o polêmico CEO da JP Morgan Chages, Jamie Dimon, voltou atrás. Em entrevista exclusiva ao canal americano Fox Business, afirmou estar arrependido de dizer que Bitcoin é uma “fraude”. “A Blockchain é real”. E acrescentou: “(...), eu só tenho uma opinião diferente de outras pessoas. Não me interessa muito este assunto”.
MARTIN, K. JPMorgan Chase CEO Jamie Dimon regrets saying Bitcoin is a ‘fraud,’ but still isn’t interested in it. Fox Business, 9 jan. 2018. Disponível em: <http://www.foxbusiness.com/markets/2018/01/09/exclusive-jpmorgan-chase-chairman-ceo-jamie-dimonregrets-saying-bitcoin-is-fraud-but-still-isnt-interested-in-it.html>. Acesso em: 11 jan. 2018. 53. GAZETA DO POVO. Para 64% dos investidores institucionais, bitcoin é uma bolha, diz pesquisa. Gazeta do Povo, 7 dez. 2017. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/economia/livreiniciativa/para-64-dos-investidores-institucionais-bitcoin-e-uma-bolha-diz-pesquisa9w1vpu8y22gnke9qwhsnmmxy9>. Acesso em: 21 dez. 2017.
PARTE III
PASSO A PASSO: COMO COMPRAR, PROTEGER E UTILIZAR SEUS BITCOINS
capítulo 16 AFINAL, QUANTO INVESTIR? “Todos os caminhos da ação são arriscados, então a prudência não está em evitar o perigo (o que é impossível), mas em calcular o risco e agir decisivamente.” – NICOLAU MAQUIAVEL Enquanto bolsas do mundo inteiro discutem a criação de mercados futuros e outras modalidades de investimento nas criptomoedas, você já pode adquirir bitcoins e negociá-los diretamente através de uma casa de câmbio de moedas virtuais. Assim, chegamos a um ponto crucial: quanto investir? Não há uma resposta exata para essa pergunta. Em primeiro lugar, o Bitcoin não deve ser encarado como um investimento, pelo menos por enquanto. Não se pode eleger um ativo tão volátil e inconstante como opção adequada para reserva de valor. Da mesma forma, vimos anteriormente que o Bitcoin poderá não se tornar tão cedo uma plena moeda de troca. Por todas as vantagens dessa incrível invenção, podemos até torcer verdadeiramente para que isso ocorra. Mas enquanto não ocorre, o Bitcoin deve ser encarado como um ativo especulativo, de elevadíssimo risco. Para tanto, não se permita expor além de um limite que você considera confortável, caso tudo dê errado. Isso irá variar conforme a realidade de cada pessoa. Antes de tudo, você já é um investidor? Já possui um colchão de segurança54 para eventuais emergências? Possui uma carteira de investimentos equilibrada entre renda fixa e variável de acordo com seu perfil de agressividade, estabilidade na carreira, metas pessoais e profissionais? Se você respondeu não a qualquer dessas perguntas, este pode não ser o melhor momento para pensar em ativos de risco. Procure um profissional qualificado, como um consultor de
investimentos recomendado por pessoas de sua confiança. Ele lhe ajudará a traçar planos de investimento mais condizentes com o seu momento. Caso você já tenha o hábito de investir regularmente e não deposite nos bitcoins a ilusão de se tornar rico, além de compreender o elevado risco envolvido, e ainda deseje agregar uma exposição limitada, continue lendo os próximos capítulos. No universo das criptomoedas, tão importante quanto a preocupação em torno da segurança digital, é você realizar uma leitura muito sóbria acerca do seu comportamento. Estabelecer previamente planos e não agir por impulsos é fundamental. Não permita que a ganância o empurre para a ladeira incerta da especulação. Tenha cuidado redobrado com falsas promessas, garantias de ganhos fáceis e histórias inverídicas. Quanto maior o potencial de retorno, maiores os riscos. É seu dever conhecêlos. O próprio Banco Central classificou a compra e venda de bitcoins como sujeita a riscos “imponderáveis”. Nesse ponto cabe uma crítica. Embora não se saiba até onde o Bitcoin poderá valorizar-se nos próximos anos, o risco de perda não é imponderável, desde que você não opere alavancado, ou seja, com dinheiro emprestado. Por outro lado, o risco de perda é bem conhecido, mesmo no mais catastrófico dos cenários. Limita-se a 100% daquele capital investido. Para isso é fundamental fazer uma programação prudente do máximo que pode se expor. Se o Bitcoin micar, ou virar pó no jargão dos investidores, você não terá comprometido uma fração significativa e o restante dos seus investimentos continuará a nadar em águas calmas. Caso você dê sorte ou, por um ponto de vista diferente, prove que estava certo quanto às perspectivas da moeda, será remunerado com uma baita valorização. “E se eu me arrepender de não ter investido mais?” Volte a lembrar dos seus investimentos. Por mais que a renda variável ofereça um maior potencial de lucro, são as alocações mais conservadoras quem dão robustez à sua poupança, amortecendo as volatilidades. Um time vencedor não se faz só de atacantes. Os
zagueiros podem não ser seus artilheiros, mas são eles os responsáveis pela defesa da sua trave e por evitar que você seja eliminado. Assim, somente você poderá responder o quanto irá alocar. Essa decisão envolve variáveis completamente individuais. Para algumas pessoas que já tenham uma sólida carteira de investimentos, um orçamento disciplinado e segurança nos seus rendimentos, assumir uma exposição de 1% em qualquer modalidade de risco pode ser uma opção tolerável, caso o pior ocorra. Outros, mais experientes, chegam a dedicar frações ainda maiores para especulação. Por outro lado, pessoas endividadas ou que não tenham um colchão de segurança sequer deveriam cogitar essa possibilidade, devendo ficar longe desta e qualquer outra operação de risco. Lembre-se: o excesso de confiança pode destruir seus investimentos.55 Afinal, sua meta não é sair na frente no placar, nem se limita a vencer o jogo. Seu objetivo é ganhar o campeonato! Para isso, você precisa dos melhores jogadores. E é fundamental um time equilibrado. Estando convicto do seu limite, temos ainda um outro ponto de atenção: o das perdas em razão de ataques virtuais ou de erros durante a compra ou utilizações de bitcoins, uma vez que se trata de uma situação inédita. Assim, eu sugiro fortemente que, independentemente do quanto você irá definir como tolerável para os seus aportes em bitcoins, faça antes uma operação completa inaugural, que chamaremos de Operação Caloura. Para isso, sugiro dedicar o valor de R$ 250,00 (o mínimo aceito por algumas corretoras). Obviamente, não se trata ainda de um investimento, nem especulação. Por mais que o mercado dobrasse o valor de um bitcoin, R$ 250,00 de lucro não te deixariam tão satisfeito assim. Mas não se esqueça que um erro no seu primeiro trade poderia levar tudo a perder e você nunca mais teria acesso à sua carteira. Caso isso ocorra, tenho certeza que você estará muito mais aliviado de ter comprometido apenas R$ 250,00 no seu processo de treinamento do que um valor mais significativo. Considere-o um custo de aprendizado, aquele que lhe terá aberto as portas do sistema e lhe treinado para as próximas operações.
A seguir, percorreremos juntos os primeiros passos para realizar sua Operação Caloura, e dessa forma adquirir os seus primeiros bitcoins.
capítulo 17 COMPRANDO SEUS PRIMEIROS BITCOINS “Você deve aprender as regras do jogo. E então você deve jogar melhor do que qualquer outra pessoa.” – ALBERT EINSTEIN Chegamos ao momento mais prático e emocionante do livro! Vamos apresentar-lhe os passos necessários para converter reais nos seus primeiros bitcoins (ou frações dele, os satoshis). Garanto que, ao contrário do que pudesse lhe parecer, concluirá que não se trata de nenhuma tarefa excessivamente complicada. Para isso, seguiremos as etapas e mostraremos as ilustrações de duas das principais corretoras brasileiras: a FoxBit e o Mercado Bitcoin. No capítulo seguinte, apresentaremos um comparativo mais completo entre as principais Exchanges brasileiras, com foco sobretudo nas taxas cobradas pelas diversas modalidades de transação. No momento da publicação deste livro, a FoxBit ostenta o posto de maior volume e liquidez dentre as Exchanges brasileiras. Por outro lado, o Mercado Bitcoin, há mais tempo em funcionamento, possui a maior carteira de clientes. Mas sua escolha não deverá necessariamente se restringir a uma dessas duas opções. Além disso, os passos apresentados diferem muito pouco entre si e as demais disponíveis no país. Pesquise, informe-se! Ao optar por uma Exchange, esteja ciente de fazê-lo sob sua própria responsabilidade. Lembre-se que a negociação de bitcoins, embora legal, não é regulada nem pelo Banco Central, pois não é oficialmente uma moeda, nem pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pois não é valor mobiliário. Portanto, também não conta com a garantia do FGC.56 Ao negociar através da plataforma de uma
Exchange, você estará confiando tão somente na reputação dela. Seu dinheiro estará muito mais seguro assim que você movê-lo da Exchange para uma wallet. Não se preocupe por enquanto, logo você aprenderá como fazê-lo. Como prometi, verá que o passo a passo a seguir não apresenta qualquer mistério.
FOXBIT 1º PASSO: FAÇA O CADASTRO Abra o site da FoxBit (https://foxbit.exchange) e clique em Registrar. Preencha os campos solicitados e confirme. Você será solicitado a digitar novamente o seu e-mail. Em seguida, digite o código de confirmação que foi enviado para o e-mail cadastrado. Se desejar, marque Confiar neste computador por 30 dias para não ter que repetir a confirmação do código a cada acesso. Obs.: Esteja certo de estar operando a partir de um computador confiável. Para maiores dicas sobre segurança, veja o Capítulo 22.
Figura 17-1. Exemplo de cadastro para novos usuários em uma Exchange (FoxBit)
2º PASSO: VERIFICANDO A SUA CONTA Devido a leis internacionais contra lavagem de dinheiro e leis federais, os depósitos e saques em moeda local só estarão disponíveis para clientes com contas verificadas.
Figura 17-2. Passo-a-passo para verificação de conta.
No menu da esquerda, clique em Verificar a sua conta. Preencha seus dados pessoais corretamente e envie os documentos conforme solicitado.
Em períodos de alta demanda, esse processo pode levar alguns dias. Em caso de demora, contate a sua corretora. 3º PASSO: TRANSFERINDO RECURSOS DO SEU BANCO PARA A CORRETORA Na aba lateral esquerda, clique em Depósitos. Na próxima janela, clique em Depositar Real. Escolha o Banco que você é correntista. Se ele não estiver listado, escolha Outros Bancos. Se não for correntista, opte por Dinheiro na Boca do Caixa.
Figura 17-3. Transferência de recursos de uma conta bancária para a Exchange
Atente-se para os prazos de confirmação (que podem ainda sofrer atrasos em períodos de alta demanda) e os limites para valores mínimos e máximos. Infringir essas condições poderá fazer com que seu depósito não seja confirmado, além de sujeitar-lhe a multas. Para agilizar a identificação do seu depósito, utilize alguns centavos no final em vez de valores cheios. Ex.: R$ 2.000,14. Lembre-se: se essa for sua primeira operação, recomendamos fortemente que o faça com um valor pouco significativo. No caso da FoxBit, o mínimo permitido é R$ 250,00. Anote os dados informados para depósito, tais como agência e conta e vá para seu Internet Banking. Após a transferência, tire uma foto ou um printscreen do comprovante. Retorne à sua plataforma da FoxBit. Na mesma aba Depósito, identifique o seu depósito pendente na lista e clique em Enviar Comprovante.
Figura 17-4. Depósito em R$ aguardando confirmação pela Exchange
Localize o arquivo da foto ou printscreen e clique em Enviar. Assim que o depósito for identificado pela Exchange, você será comunicado por e-mail e o saldo constará na barra superior da sua plataforma. Essa confirmação geralmente ocorre em poucos minutos, mas pode levar horas a dias em períodos de alta demanda. Em caso de atrasos, verifique diretamente com a sua corretora. 4º PASSO: COMPRANDO SEUS PRIMEIROS BITCOINS Aqui vale uma pausa. Intuitivamente, você pode desejar clicar em Comprar ou Vender. Esse é um método possível, mas aqui você estará
comprando bitcoins a preço de mercado. Isso significa que os primeiros da lista do livro de ofertas serão utilizados para definir sua compra até a quantidade estipulada. Sua ordem será executada (ordem ativa) e a comissão cobrada será de 0,5%. Se você não tem pressa, pode lançar uma ordem passiva, ou seja, com valor de compra inferior ao anunciado pelos vendedores naquele momento. Isso significa que sua oferta de compra ficará listada até que um vendedor aceite negociar com você por aquela cotação. A ordem passiva é comissionada pela metade da taxa, 0,25%. Se tiver optado pela segunda opção, clique em Livro de ofertas. Você terá ainda a chance de ver as ofertas para compra (à esquerda, listados em ordem decrescente de valor) e para venda (à direita, listados em ordem crescente de valor). O que lhe interessa nesse momento é a coluna VENDA, pois você é o comprador.
Figura 17-5. Livro de ofertas e formulário para compra ou venda de bitcoins
No campo Comprar BTC, digite a quantidade de bitcoins ou frações que deseja comprar e o valor que está disposto a pagar (para uma ordem passiva, escolha um valor abaixo do mínimo que está sendo praticado no livro de ofertas). Assim que clicar em Comprar, você poderá acompanhar sua ordem listada na coluna COMPRA. Se estiver posicionada entre as primeiras, é possível que logo seja executada. Mais uma vez, você será notificado assim que sua operação for concluída. A qualquer momento, poderá modificá-la, cancelá-la ou alterá-la para uma ordem ativa (a preço de mercado), para execução imediata. PARABÉNS! Você é o mais novo proprietário de bitcoins no mercado. Verifique se o saldo em BRL e BTC, na barra superior, foram atualizados corretamente. 5º PASSO: SACANDO BITCOINS PARA SUA CARTEIRA Já falamos anteriormente que a Exchange é um ambiente apenas para conversão de moedas. Deixar seus bitcoins sob custódia dela lhe expõe a riscos desnecessários. Seus recursos estarão muito mais seguros em uma carteira cuja chave privada apenas você possua. No menu da esquerda, clique em Saques e em seguida Sacar Bitcoin.
Figura 17-6. Saque de bitcoins da Exchange para uma wallet privada
Defina a quantidade a enviar para sua carteira. O máximo disponível será o seu saldo menos a taxa de transação. Cole o endereço da sua carteira (você verá como criar uma adiante) e confirme. O tempo para confirmação, assim como a maioria das transações na rede é em torno de 10 minutos. Atenção: certifique-se de que você tenha a chave privada da carteira de destino. Assim, você poderá movimentar seus saldos no futuro. Viu como foi simples? Vamos ver agora como realizar o mesmo procedimento em outra Exchange.
MERCADO BITCOIN 1º PASSO: FAÇA O CADASTRO
Abra o site do Mercado Bitcoin (https://www.mercadobitcoin.com.br) e clique em Cadastre-se. Preencha os campos solicitados e confirme. Crie uma senha com no mínimo 8 caracteres contendo letras e números. Clique no link enviado para seu e-mail para ativar a conta criada. Obs.: Esteja certo de estar operando a partir de um computador confiável. Para maiores dicas sobre segurança, veja o Capítulo 22.
Figura 17-7. Exemplo de cadastro para novos usuários em uma Exchange (Mercado Bitcoin)
2º PASSO: VERIFICANDO SUA CONTA Devido a leis internacionais contra lavagem de dinheiro e leis federais, é necessária a verificação da identidade do cliente.
No canto superior direito, clique sobre o seu nome > Configurações > Cadastro > VIP.
Figura 17-8. Passo-a-passo para verificação de conta
Envie uma foto digitalizada de um dos documentos aceitos. Em seguida, clique em Selfie e siga as orientações.
Figura 17-9. Verificação de conta (continuação)
Apesar do alerta de alta demanda, no teste realizado esses passos foram confirmados em menos de 30 minutos. Caso haja uma demora superior a 48 horas, contate a sua corretora. 3º PASSO: INCREMENTANDO A SEGURANÇA DA SUA CONTA Se você também for neurótico por segurança, clique sobre seu nome no canto superior direito > Configurações > Segurança > Checklist de segurança. Siga todos os passos, que incluem habilitação de autenticação em dois passos, criação de palavra segura e alteração de senha para uma mais
forte. Esses passos não são obrigatórios, mas com certeza lhe garantirão um sono mais tranquilo. Uma vez concluída, você obterá a mensagem abaixo e estará pronto para iniciar suas operações.
Figura 17-10. Checklist de segurança concluído
4º PASSO: TRANSFERINDO RECURSOS DO SEU BANCO PARA A CORRETORA Na página principal da plataforma, aba lateral esquerda, clique em Depósito. Caso você seja cliente de um dos bancos listados, escolha-o para transferências mais rápidas. Caso contrário, você pode realizar uma TED. Atente-se para os prazos para confirmação (que podem ainda sofrer atrasos em períodos de alta demanda) e os limites para valores mínimos e máximos. Infringir essas condições pode lhe sujeitar a multas, além de não ter seu depósito confirmado. Para agilizar a identificação do seu depósito, utilize alguns centavos no final em vez de valores cheios. Ex.: R$ 2.000,14. Lembre-se: se essa for sua primeira operação, recomendamos fortemente que o faça com um valor pouco significativo. No caso do Mercado Bitcoin, o mínimo permitido é R$ 50,00. Anote os dados informados para depósito, tais como agência e conta e vá para seu Internet Banking. Após a transferência, tire uma foto ou um printscreen do comprovante.
Figura 17-11. Transferência de recursos de uma conta bancária para a Exchange
Retorne à sua plataforma e anexe o comprovante. Assim que o depósito for identificado pela Exchange, você será comunicado por e-mail e o saldo constará na aba lateral esquerda da sua plataforma. Essa confirmação geralmente ocorre em poucos minutos, mas pode levar horas a dias, em períodos de alta demanda. Em caso de atrasos, contate diretamente a sua corretora. 5º PASSO: COMPRANDO SEUS PRIMEIROS BITCOINS Na aba lateral esquerda, abaixo de Bitcoin, clique em Comprar. Defina o valor em R$ que deseja utilizar.
Note que automaticamente o sistema converterá para a quantidade em bitcoins de acordo com a cotação atual e também calculará a taxa de comissão a ser paga à Exchange. Confirme clicando em Comprar.
Figura 17-12. Formulário para compra de bitcoins
PARABÉNS! Você é o mais novo proprietário de bitcoins no mercado. Verifique se o saldo em reais e bitcoins foram atualizados corretamente. Posicione o cursor sobre o saldo em Bitcoins para ver todas as casas decimais.
Figura 17-13. Saldos atualizados em reais e na moeda virtual.
6º PASSO: TRANSFERINDO BITCOINS PARA SUA CARTEIRA Já falamos anteriormente que a Exchange é um ambiente apenas para conversão de moedas. Deixar seus bitcoins sob sua custódia lhe expõe a
riscos desnecessários. Seus recursos estarão muito mais seguros em uma carteira cuja chave privada apenas você possua. Dito isso, clique no menu à esquerda em Transferir.
Figura 17-14. Transferência (ou saque) de bitcoins da Exchange para uma wallet privada
Cole o endereço da sua carteira (você verá como criar uma adiante). Defina a quantidade a enviar para sua carteira. O mínimo é 0,001 BTC. O máximo será o quanto tem em caixa menos o reservado para a taxa dos mineradores.
Clique em Mostrar opções avançadas para definir a taxa de mineração de acordo com a prioridade desejada. O Mercado Bitcoin permite que você personalize essa taxa, porém lembre-se que caso ela esteja muito baixa, poderá permanecer na fila de espera por horas ou dias. Assim, recomendo que você escolha uma das opções pré-definidas, condizentes com a realidade atual de mercado. Se você habilitou a verificação em dois passos, acesse o App do seu celular e cole o código dentro do tempo de validade. O tempo para confirmação dessa transação dependerá da prioridade acima definida. Você já sabe disso, mas não custa relembrar: as transferências em bitcoin são definitivas e, uma vez realizadas, não podem ser canceladas. Importante: certifique-se de que você tenha a chave privada da carteira de destino. Somente assim você poderá movimentar seus saldos no futuro. Não perca a atenção. Embora comprar e armazenar bitcoins não seja o bichopapão que muitos imaginam, um erro ou exposição de suas senhas a pessoas mal-intencionadas pode fazer com que você perca todo o investimento. Prossiga com a sua Operação Caloura até o final e, somente após se sentir confortável, faça uma compra maior. Antes de finalizarmos o capítulo, gostaria de esclarecer um ponto importante. Em períodos de congestionamento da rede, as taxas de mineração podem acabar ficando proporcionalmente muito caras para pequenas transferências, como 50 reais. Não desanime, o propósito da Operação Caloura é treiná-lo, habituá-lo à essa rotina. Quando sentir-se apto a movimentar cifras menores, essas taxas significarão muito pouco ou quase nada, uma vez que não guardam relação de proporcionalidade com o valor transacionado.
capítulo 18 UMA CORRETORA PARA CHAMAR DE SUA “O conhecimento de nada serve, a não ser que se ponha em prática.” – ANTON CHEKHOV Como vimos, um ponto crucial é decidir a partir de qual corretora realizar o intercâmbio entre reais e bitcoins. Para auxiliá-lo em uma escolha minimamente embasada, preparei a tabela a seguir que resume as taxas praticadas pelas principais Exchanges brasileiras. Você pode também, perfeitamente, ter contas em mais de uma delas. Para se beneficiar da diferença de comissões cobradas, é possível utilizar uma para depósito e compra e outra para saque, por exemplo, como melhor lhe convier. Devo lembrar que algumas corretoras tradicionais de investimento estão em processo acelerado de adaptação ao mercado das criptomoedas e, muito em breve, prometem oferecer essa modalidade a seus clientes. A chegada de instituições de peso deve trazer maior fluxo e concorrência ao mercado. Com isso, torcemos para que possamos desfrutar de taxas cada vez mais baixas (quem sabe até isenção total delas, como forma de atração a novos clientes) e melhoria na qualidade dos serviços prestados. Tabela 18-1. Comparativo de custos para depósitos e saques de reais e bitcoins entre as principais Exchanges disponíveis no Brasil Depósitos Arena Bitcoin
BitcoinToYou
Zero
Saques
Ordens
Zero
0,39% + R$ 9,00 para bancos não conveniados
0,00150 0,25% 0,25% BTC
1,89% + R$ 8,00 para Zero bancos não conveniados
1,89% + R$ 8,00 para bancos não conveniados
0,00095 0,60% 0,25% BTC
(mín. R$ 2,99)
(mín. R$ 2,99)
Bitcoin Trade
Zero
Zero
0,99% + R$ 4,90
Variável 0,50% 0,50%
Braziliex
Zero
Zero
0,25% + R$ 9,00
0,00100 0,50% 0,50% BTC
flowBTC
0,50% (mín. R$ 5,00)
Zero
1,19% + R$ 8,00 para bancos não conveniados (mín. R$ 5,00)
0,00150 0,35% 0,35% BTC
FoxBit
Zero
Zero
1,39% + R$ 9,50 para bancos não conveniados
0,00120 0,50% 0,25% BTC
Mercado Bitcoin
1,99% + R$ 2,90
Zero
1,99% + R$ 2,90
Variável 0,30% 0,70%
Negocie Coins
Zero
Zero
0,90% + R$ 8,90 para bancos não conveniados (mín. R$ 1,50)
0,00100 Até Até BTC 0,40% 0,30%
Walltime
Zero
Zero
1,23% + R$ 9,00 para bancos não conveniados
0,00070 0,40% 0,20% BTC
Ficou na dúvida quanto ao significado das colunas anteriores? Entenda-as melhor a seguir e veja quando se aplicarão cada uma das taxas de comissão. Tabela 18-2. Significado das taxas de depósito e saque e denominações de ordens no livro de ofertas
Taxa de depósito em R$
Taxa de depósito em BTC
O que é
Quando se aplica
Comissão paga à Exchange para receber dinheiro em reais proveniente do seu Banco.
Quando você tem capital em reais e deseja adquirir bitcoins através de uma corretora.
Obs.: Isso não inclui a taxa da TED que você pagará ao seu Banco, caso a sua conta e a corretora trabalhem com bancos diferentes. Comissão paga à Exchange para receber depósito em bitcoins. Note que todas as corretoras listadas isentam essa tarifa.
Quando você tem bitcoins em sua wallet, por exemplo, e deseja convertê-los em reais para posteriormente enviá-los de volta ao seu banco.
Taxa de Comissão devida à Exchange para enviar o seu Quando você deseja, por exemplo, desfazer-se saque saldo em reais para o seu banco. de parte ou toda a alocação em bitcoins, em R$ retornando os recursos para seu banco. Taxa de Comissão devida aos mineradores e recolhida Etapa fundamental, que consiste em retirar os saque pela Exchange para enviar o seu saldo em seus bitcoins da Exchange e guardá-los em em bitcoins para outra carteira. Essa taxa é bastante maior segurança em uma hot ou cold wallet.
BTC
dinâmica e varia em função do congestionamento da rede.
Ordem Passiva
Aquela que você emite e deixa no Livro de Ofertas, esperando comprador ou vendedor. É também chamada de Order Maker ou Ordem Formadora. Obs.: Note como algumas corretoras cobram taxas mais baixas para ordem passiva em relação à ativa.
Ordem Ativa
Aquela que você já compra ou vende instantaneamente, ao primeiro preço que estão oferecendo. É também chamada de Order Taker ou Ordem Tomadora.
Quando você deseja pagar menos do que se está vendendo ou vender por mais que o mercado está pagando. Nesse caso sua ordem entrará na fila e será executada ao atingir o valor definido.
Quando você tem pressa para que sua ordem seja imediatamente executada a preço de mercado.
Figura 18-1. Esquema ilustrativo demonstrando taxas de depósitos e saques para negociação de bitcoins
Observações importantes: Devido à alta demanda recente, algumas corretoras chegaram a enfrentar atrasos de horas até muitos dias para aprovação de cadastro ou mesmo para processamento de ordens de compra e venda. Para evitar transtornos e aborrecimentos, cheque antes a situação com a sua corretora. Algumas corretoras estipulam limites de valores para transações diárias. Em algumas delas, usuários verificados – ou seja, que
enviaram documentos adicionais comprovando sua identidade –, podem ter limites maiores concedidos. A depender da liquidez, a própria cotação pode variar consideravelmente entre as diversas corretoras. Algumas corretoras reservam-se o direito de aguardar até três blocos (confirmações) na Blockchain para liberar o seu depósito em BTC, especialmente para usuários não verificados, a fim de proteger-se contra o risco do gasto duplo. Isso leva em média 30 minutos. As corretoras mudam constantemente os seus valores de corretagem. Confira sempre os valores mais atualizados com sua corretora.
capítulo 19 COMO CONFIGURAR UMA HOT WALLET “Regra nº 1: Nunca perca dinheiro. Regra nº 2: Não esqueça a regra nº 1.” – WARREN BUFFET Depois de comprar seus primeiros bitcoins em uma casa de câmbio, é fundamental que você os transfira para sua carteira ou wallet. Além de permitir que suas moedas fiquem em um lugar seguro, você evita problemas como o famoso caso da Mt. Gox, uma casa de câmbio japonesa que foi alvo de um ataque hacker e perdeu mais de 850 mil bitcoins próprios e de seus clientes, o que representava cerca de 6% da moeda em circulação na época.57 As moedas virtuais utilizam duas chaves: pública e privada. Parece complicado? Nem tanto. A chave pública é uma sequência de letras e números visível a todos e que pode ser identificada na Blockchain. A chave privada é mantida apenas pelo usuário que possui a criptomoeda e é necessária para acessar a sua carteira. Assim, a chave pública pode ser compartilhada com outras pessoas sem problemas58. Se você deseja que alguém lhe envie fundos, é esse o endereço que você irá informar à outra pessoa. Já a chave privada tem de ser protegida e não deve ser revelada ou anotada em locais vulneráveis, pois pode ser alvo de hackers ou pessoas mal-intencionadas. É como a sua conta de e-mail. Você repassa o endereço, mas caso as pessoas descubram a sua senha poderão apagar as suas mensagens ou enviar e-mails se passando por você.
Há duas formas de carteira: hot e cold. De uma forma simplista, podemos dizer que as primeiras estão conectadas à internet e as segundas não. Vamos entender as vantagens e desvantagens de cada uma delas. Neste capítulo aprenderemos a configurar as hot wallets (carteiras quentes) ou carteiras online. Elas estão conectadas à internet e, portanto, têm a conveniência de serem instantaneamente acessíveis. Se desejar realizar uma compra, pagar uma conta ou enviar fundos, esse é o método mais prático. Algumas hot wallets são compatíveis inclusive com as principais plataformas de smartphones, trazendo seus bitcoins literalmente para a palma da sua mão. Por outro lado, estando na nuvem, podem ser alvo de hackers e não é recomendável que você deixe grandes quantias nessas carteiras. Você pode deixar uma pequena quantidade em hot wallets portáteis para o dia a dia, assim como você anda com notas de dinheiro para uma rápida necessidade. Veja as principais wallets conectadas à Internet: Bitcoin Core: é carteira de Bitcoin original e completa, que pode ser baixada no seu computador desktop. Ela oferece segurança de alto nível, privacidade e estabilidade. No entanto, tem poucas funcionalidades além de consumir bastante memória e espaço no seu HD. Electrum (https:\\electrum.org): aplicativo multiplataforma (Windows, Linux, OSX e Android) de código aberto. Isso significa que é possível ter certeza do que esses programas fazem, então você não corre o risco de o programador estar “espionando” suas chaves privadas. Uma opção mais rápida em relação à carteira oficial. Ótima opção tanto para iniciantes quanto usuários avançados. Além disso, possui suporte multi-sig, caso você deseje, por exemplo, que a sua carteira ou de sua empresa requeira duas ou mais assinaturas para realizar transações. Permite optar entre taxas de mineração prioritárias ou mais econômicas. Você pode ainda utilizá-lo como cold storage em um computador que não tenha acesso à internet.
Mycelium (https://wallet.mycelium.com): uma das carteiras mais seguras e populares, disponível para celulares nas plataformas Android e iOS. Também programada em código aberto, traz a função de proteger suas chaves no próprio dispositivo, sem ter de confiar em serviços de terceiros. É uma carteira HD (abreviação de Hierarchical Deterministic). As carteiras HD utilizam-se de uma sequência de 12 palavras aleatórias (seed). Pela sua simplicidade, é bastante recomendada para iniciantes. Tomaremos como exemplo o Mycelium, para explicar o passo a passo de como criar uma carteira quente ou hot wallet. Utilizamos a versão disponível para iPhones. Portanto, pode variar em relação à versão disponível para Android, bem como sofrer atualizações. Embora ainda cada software de carteira possua suas próprias particularidades, os princípios são bem parecidos e podem ser extrapolados a partir desse exemplo. 1º PASSO: CRIAÇÃO DA CARTEIRA Baixe o aplicativo Mycelium Wallet e instale-o a partir da App Store ou Google Play. Abra o aplicativo e clique em New Wallet. Você poderá ser solicitado para “chacoalhar” seu celular para agregar aleatoriedade e gerar uma chave única à sua carteira. 2º PASSO: FAZENDO UM BACKUP Em seguida, clique em Backup now (ou Backup later para postergar essa etapa). Lembre-se de que o backup é essencial para que você restaure sua carteira e não perca seus fundos, em caso de danos ou furto do celular. Clique em Start e anote a sequência de palavras em um papel que possa ser guardado em local seguro. Em seguida, para ter certeza de que
anotou corretamente, você será solicitado repetir as 12 palavras separadas por espaço. Avance e clique em Finish. 3º PASSO: RECEBER BITCOINS Para receber bitcoins na sua wallet, é necessário informar à contraparte a sua chave pública. Para descobri-la, clique em Receive. Ela se encontrará abaixo do QR Code.
Figura 19-1. Como receber bitcoins em uma hot wallet (Mycelium)
Como é uma sequência de letras e números muito grande, você pode simplificar o envio clicando no botão de compartilhar e escolher um destinatário em qualquer aplicativo (ex.: e-mail, Whatsapp, etc.).
Caso a pessoa que irá lhe enviar bitcoins esteja próxima, você pode simplesmente apresentar o QR code gerado. Para facilitar ainda mais, você pode definir a quantidade de bitcoins a serem recebidos. Com isso, basta a pessoa apontar a câmera e confirmar no aplicativo dela. Você também pode enviar seus créditos da Exchange para sua carteira realizando estes mesmos passos. Nesse caso, basta colar o endereço da sua wallet no campo de envio da sua Exchange e definir a quantidade a ser enviada. Lembre-se que deixar dinheiro na Exchange não é considerada uma prática segura. 4º PASSO: VERIFICAR SALDO Clique em Balance para verificar o saldo de bitcoins disponíveis em sua wallet. Algumas pessoas podem ter dificuldade para dimensionar valores em bitcoins. Nesse caso, basta clicar sobre o saldo e escolher uma das moedas listadas − Dólar, por exemplo −, e o sistema converterá automaticamente o valor na moeda selecionada, facilitando a visualização. Lembre-se que após realizar a transferência para sua wallet é necessário aguardar alguns minutos para que o valor conste no seu saldo.
Figura 19-2. Visualizando saldo de bitcoins convertidos em outras moedas
5º PASSO: ENVIAR BITCOINS O processo de envio de bitcoins também é bastante simples e intuitivo. Na aba principal, clique no botão Send.
Se houver um QR code, libere o acesso do App à câmera e simplesmente aponte-a.
Figura 19-3. Como enviar bitcoins a partir de uma hot wallet
Na ausência do QR code, cole o endereço Bitcoin do destinatário, defina o valor a ser transferido e a moeda (no caso, BTC refere-se a bitcoins). Em Miner fee, você pode definir se deseja uma transferência prioritária ou econômica. O custo irá variar em função do tempo para processar a operação. Clique em Send para confirmar a transação. 6º PASSO: VERIFICAR HISTÓRICO Clique na aba Transactions para verificar todos os créditos enviados ou recebidos.
Figura 19-4. Visualização do extrato de transações da sua carteira
capítulo 20 GUARDE SEUS BITCOINS DENTRO DO COFRE “A verdade é que nenhum banco de dados on-line substituirá seu jornal impresso diário.” – CLIFFORD STOLL Vimos no capítulo anterior como criar e utilizar uma hot wallet. Elas são extremamente práticas para transações de bitcoins do dia a dia ou de elevada frequência. No entanto, estão sujeitas aos riscos envolvendo a rede de computadores. Portanto, não se recomenda armazenar valores altos, assim como você provavelmente não andaria nas ruas com muitas notas de dinheiro na carteira. Para grandes quantidades de bitcoins, como aqueles casos em que a intenção do portador é guardá-los na expectativa de uma futura valorização, recomendase as cold wallets ou carteiras frias. Como são carteiras off-line, não estão à mercê de hackers. Portanto, o armazenamento frio provê o mais elevado nível de segurança para a sua poupança. Como desvantagens, são menos práticas que as hot wallets e estão sujeitas a danos físicos ou perda.59 Há basicamente duas modalidades de cold storage, as hardware wallets e as carteiras de papel, também conhecidas como paper wallets. No caso das hardware wallets, você deve adquirir um dispositivo, que se assemelha fisicamente a um pendrive. Após depositar seus bitcoins, você poderá guardá-los em um cofre ou outro lugar seguro. As duas principais hardware wallets do mercado são a Trezor e a Ledger.60 A Ledger Nano S (www.ledgerwallet.com) pode ser comprada no site da sua fabricante por 79 euros e permite o armazenamento das principais moedas
digitais existentes. Assim como as hot wallets, há uma sequência seed que pode ser utilizada para restauração, em caso de perda ou danos à sua carteira física. Uma tela OLED embutida permite verificar e confirmar cada transação. Mesmo se inserida em computadores não confiáveis, todas as transações ocorrem dentro de um ambiente seguro e, para serem confirmadas, dependem que você pressione um botão, aumentando ainda mais a segurança. A Trezor (https://trezor.io) foi por um tempo a única hardware wallet existente. Pode ser adquirido por 89 euros e também oferece a segurança do cold storage e facilidade de recuperação em caso de perda do dispositivo. Em 2015 foi lançado a KeepKey (https://www.keepkey.com), que custa 129 dólares e conta com uma tela maior e alguns recursos adicionais de segurança em relação às demais. Todos os dispositivos são suficientemente seguros, não havendo também grandes diferenças quanto à praticidade. A decisão sobre qual escolher será baseada, principalmente, no preço e preferências de design. Qualquer que seja a sua escolha, seu dinheiro estará seguro com uma delas. Ao optar por uma hardware wallet, você está confiando no fabricante. Em se tratando de um dos três citados, não há nenhum problema nisso. Mas é necessário atentar-se para evitar falsificações ou carteiras usadas que possam ter sido hackeadas. Por isso é importante que sejam adquiridas diretamente dos seus fabricantes. Caso o seu nível de desconfiança seja ainda maior, ou caso você deseje uma opção gratuita, sem abrir mão da conveniência do armazenamento off-line, uma opção bastante interessante são as paper wallets. Esta é uma alternativa simples para quem não quer adquirir uma hardware wallet, mas quer ter seus recursos armazenados com segurança máxima. Você só irá necessitar de um computador que não esteja (e, se possível, não volte a estar) conectado à internet, papel e preferencialmente uma impressora. Abaixo, um passo a passo para você criar a sua paper wallet. 1º PASSO: ACESSAR O SITE
Acesse o site Bitaddress.org, deixe-o aberto e desconecte o computador da internet (cabo ethernet e wireless). Caso o computador a ser utilizado não possua internet, você pode acessar o site de outro equipamento, salvar a página (botão direito do mouse > Salvar como...) e copiá-lo para o computador a ser utilizado. 2º PASSO: GERANDO O BITCOIN ADDRESS Mova o seu mouse pela tela para adicionar aleatoriedade ao processo, até o indicador de progressão mostrar 100%.
Figura 20-1. Como gerar uma paper wallet a partir do Bitaddress.org
3º PASSO: IMPRIMA A SUA PAPER WALLET Clique em PRINT para imprimir a sua paper wallet e guarde uma ou mais cópias no cofre ou outro local seguro. Verifique que há duas chaves alfanuméricas, cada uma delas associada a um QR code. A chave da esquerda é a chave pública, o seu Bitcoin
address. Você pode fornecê-lo a terceiros, sem riscos. Já o da direita é a chave privada ou private key. Não permita o acesso dessa última a ninguém que não seja de sua estrita confiança, pois ela será utilizada para movimentar seus fundos.
Figura 20-2. Exemplo de endereços e QR codes correspondentes das chaves pública e privada de sua recém-criada paper wallet
4º PASSO: RECEBA SEUS BITCOINS DA EXCHANGE PARA A SUA PAPER WALLET Vá ao site da sua Exchange. Copie e cole o Bitcoin address ou chavepública da sua carteira (aquela associada ao QR code da esquerda). Lembre-se: você só deve fazer esse passo após imprimir a Private Key. Tenha certeza de que esta esteja perfeitamente legível. Imprima mais de uma cópia, preferencialmente. Atenção: para máxima segurança, recomenda-se que você não volte a conectar à internet o computador utilizado na geração da sua carteira de papel, assim como restrinja o seu acesso físico a pessoas de confiança.
Lembre-se: você é seu próprio banco. Portanto, é o único responsável pela segurança dos seus bitcoins. Isso é especialmente verdadeiro no caso da paper wallet. Caso você perca sua private key, jamais poderá recuperar seu saldo. Como pode parecer temerário confiar parte da sua riqueza a um pedaço de papel e tinta (vulneráveis a água e fogo, por exemplo), você pode salvar uma cópia das suas chaves em um pendrive, em arquivo de texto, por exemplo, e guardá-lo em outro local distante do primeiro e igualmente seguro. É também recomendável informar um familiar próximo ou outra pessoa de extrema confiança onde encontrar suas paper wallets, em caso de um evento inesperado.
capítulo 21 CONVERTENDO BITCOINS EM REAIS “A única opção na vida que é quase sempre a errada é ir embora e escolher não estar no jogo.” – BILL CLINTON É bastante simples sacar seus bitcoins. Para retirar o valor equivalente em reais para a conta do seu banco, por exemplo, necessitamos da interface de uma Exchange, assim como fizemos para transformar reais em bitcoins, no Capítulo 17. Pergunte à sua corretora sobre os custos de conversão e evite pagar taxas excessivas. Caso você esteja utilizando uma hot wallet, já vimos no Capítulo 19 como enviar fundos. Nesse caso, basta colocar como destinatário o endereço da carteira da sua corretora. Você fará o mesmo no caso das hardware wallets. Mas se você desejar sacar o valor a partir de uma paper wallet, há um passo adicional. Primeiramente, necessitamos importar a sua carteira para um cliente online. A forma mais simples é através do site Blockchain.info.61 Tenha muito cuidado com esses passos. Nunca é demais lembrar que você deve realizar todos esses passos com a Operação Caloura (aquela de R$ 250,00) antes de executá-los com montantes maiores. Atente-se ao fato de que, ao importar a sua paper wallet para a Blockchain.info ou qualquer outro cliente P2P, você a estará transportando do ambiente off-line para o on-line. Portanto, para minimizar riscos, esteja certo de fazê-lo em um computador seguro. Para maiores informações, veja no próximo capítulo como proteger-se. Vamos ao passo a passo para importar a sua paper wallet na Blockchain.info e converter seus bitcoins em notas de real outra vez, caso essa seja sua intenção.
1º PASSO: CRIANDO UMA CONTA NA BLOCKCHAIN.INFO Acesse o site https://blockchain.info/wallet e clique em Sign up. Insira seu e-mail e uma senha forte. Aceite os termos e clique em Continuar. 2º PASSO: TORNE O AMBIENTE MAIS SEGURO ANTES DE PROSSEGUIR Acesse o seu e-mail utilizado no cadastro. Você terá recebido uma mensagem da Blockchain.info. Clique no botão de confirmação no corpo do e-mail. Volte à janela da Blockchain.info no seu navegador. Clique em Configurações > Segurança. Clique em Frase de Recuperação e imprima-a. Escreva nessa folha as 12 palavras geradas na ordem apresentada. Em seguida, reescreva as que lhe forem solicitadas e clique em concluir.
Figura 21-1. Folha de registro impresso das 12 palavras sequenciais para recuperação da sua wallet (Blockchain.info Wallet)
Figura 21-2. Verificação de palavras-chave
Em dica de senha, você pode definir um lembrete para ajudá-lo em caso de esquecimento. E, abaixo, ainda tem a opção de criar uma segunda senha. Assegure-se de não as perder. Clique em Verificação em Dois Passos e no círculo da direita para adicionar seu número de celular. Siga o próximo passo. Você receberá um SMS. Confirme-o.
Figura 21-3. Campo para digitar o código enviado por SMS para ativação da verificação em dois passos
Pronto, sua conta na Blockchain.info estará muito mais segura a partir desse momento. 3º PASSO: IMPORTE SUA PAPER WALLET Novamente na página da sua carteira, clique em Configurações > Endereços > Importar Endereço. Cole a chave privada da sua paper wallet. A seguir, confirme a sua segunda senha, se a tiver criado no passo anterior. Uma alternativa ao último passo é colar a sua chave pública. Nesse caso, você será requisitado a digitar a private key da sua paper wallet na próxima vez em que desejar movimentar esses fundos. Se fizer isso, continue mantendo a paper wallet em um local seguro e acessível. 4º PASSO: TRANSFIRA OS RECURSOS DA SUA WALLET PARA A CORRETORA Na página principal da sua Blockchain.info wallet, clique em Enviar. Cole o endereço da wallet fornecido pela sua corretora ou escaneie o QR code correspondente. Defina a quantidade de BTCs a ser transferida e taxa de mineração e clique em Continuar. Em poucos minutos, seu dinheiro estará disponível na corretora, disponível para saque.
Figura 21-4. Campo para enviar seus bitcoins para a wallet da corretora
Em vez de sacar os fundos para a Exchange, você pode dar outra destinação aos seus recursos. É possível utilizá-los, por exemplo, para realizar uma compra ou pagar por um serviço. Nesse caso, em vez de inserir o endereço da Exchange, substitua-o pelo do destinatário. Você ainda pode utilizar a interface da Blockchain.info como ponte para enviar seu saldo para uma outra hot wallet de sua preferência.
capítulo 22 CUIDADO COM OS LADRÕES VIRTUAIS “O difícil na vida não é ganhar dinheiro, mas sim mantê-lo.” – JOHN MCAFEE O mercado da criptomoeda ganhou milhões de novos adeptos nos últimos anos. Apenas no Brasil, já há mais de 1 milhão de pessoas físicas nesse mercado, contra 613 mil investindo na B3 (Bovespa).62 Muitos dos recém-chegados desconhecem os riscos, tornando-se uma presa fácil para hackers. Os ataques por meio de malwares e phishings são apenas alguns exemplos de oportunidade de furto. Então, qual seria a melhor maneira de proteger os seus investimentos contra os ladrões virtuais? Não há solução perfeita. Mas assim como no mundo físico, há várias medidas para tornarmo-nos menos vulneráveis a invasões. Veja um roteiro simples que, se corretamente seguido, pode lhe prevenir de muita dor de cabeça.
CUIDADOS COM SEU COMPUTADOR Antes de tudo, utilize sempre um computador confiável, com proteção antivírus e anti-spyware de alto nível. Jamais acesse contas de corretoras ou hot wallets através de redes públicas, incluindo Wi-Fi de cafés e shoppings, bibliotecas ou LAN houses. Mantenha seu navegador atualizado. Dê preferência aos mais seguros, como o Google Chrome ou Firefox. E desabilite todas as extensões e plug-ins.
Memorize a URL da sua corretora. Jamais confie em links buscados no Google ou recebidos por e-mail. Cuidado com Phishing, maneira que os hackers utilizam para lhe redirecionar a sites falsos, a fim de pescar suas senhas. Ex.: blockchain.ifno poderia ser um phishing do verdadeiro site blockchain.info. Fique alerta! Não clique em links ou imagens recebidos por e-mail. De modo geral, a comunicação realizada entre as corretoras e seus clientes é através de e-mail em modo texto. Na dúvida, ligue para sua corretora.
CUIDADOS COM SUAS SENHAS Ninguém está autorizado a solicitar a sua senha. Portanto, desconfie se alguém perguntá-la, mesmo que se identifique como um funcionário da sua corretora, por exemplo. Prefira senhas que possam ser memorizadas. Se for necessário anotálas, guarde-as em local seguro. Crie senhas fortes, contendo combinações de letras maiúsculas e minúsculas, números e caracteres especiais. Quanto maior a quantidade de caracteres, mais difícil de ser quebrada. Alguns serviços permitem recuperação de senhas. Outros, por motivos de segurança, não. Reflita honestamente sobre a chance de você esquecer a senha recém-criada. Faça uma senha forte, mas uma senha que você irá lembrar. Ou anote-a em local seguro. Certamente você já perdeu em definitivo acesso a algum um e-mail ou outro serviço por esquecimento de senha. Você não vai querer fazer o mesmo com dinheiro, certo? Evite senhas óbvias, como números em sequência, o seu próprio nome ou datas de aniversário. Por mais tentador que seja, jamais utilize para proteger seu dinheiro virtual a mesma senha de e-mails, redes sociais, etc. Elas são um alvo
fácil para hackers devido à quantidade de vezes e a diversidade de computadores com que você acessa essas contas. Troque sua senha periodicamente. Ou sempre que você desconfiar que ela possa ter sido comprometida.
CUIDADOS COM SUA WALLET Lembre-se: hot wallets são para pequenas quantias do dia a dia. Não deixe muito dinheiro guardado nelas. Para isso, existem as cold wallets: não tão práticas, mas muito mais seguras. Se você decidir comprar uma hardware wallet, faça-o diretamente com o fabricante. Jamais adquira uma usada ou no mercado paralelo, pois ela poderá conter um malware embutido. Algumas Exchanges e carteiras trabalham com a autenticação em dois passos. Se o seu serviço for compatível com essa tecnologia, baixe e configure o app Authy no seu celular (iOS ou Android). Para habilitar, basta apontar a câmera do seu celular para o QR code fornecido pelo serviço compatível. Assim, você necessitará da senha mais o token fornecido pelo app para acessar seus fundos. Isso cria uma segunda camada de proteção para o caso de um hacker violar a sua senha. Tenha sempre em mente: no universo das criptomoedas, você é o seu próprio banco. Se você perder a sua chave privada, você não tem o seu dinheiro. Se a segurança dela for comprometida, seu dinheiro também será. Leve a sério a sua chave. Faça backups. Não um, mas vários. Quantos forem necessários. Siga o exemplo da mãe natureza! Seu DNA foi replicado em todas as células do seu corpo por uma boa razão. Você pode perder milhões delas, e sempre haverá uma cópia. Mantenha cópias de suas senhas não memorizáveis e seeds em um papel. E guarde-o em locais seguros.
CUIDADOS COM SEU COMPORTAMENTO Mantenha seu celular próximo ao realizar operações. Algumas corretoras podem utilizar confirmações por SMS ou ligações. Se você tiver habilitado a autenticação em dois passos, necessitará confirmar o token recebido. Jamais pule a Operação Calouro. Ela é fundamental para que você se ambiente com as plataformas das corretoras e das wallets. Se cometer um erro na sua primeira operação, o prejuízo será bem menor. Jamais aja por impulso. Trace suas metas e siga-as à risca! Ao lidar com dinheiro, controle a euforia e não deixe o emocional sobrepujar o seu lado racional. Limite os danos. Não comprometa mais do que poderia suportar a perda. 54. Termo comum entre os investidores, que se tornou popular com o livro Pai Rico, Pai Pobre. É uma reserva que todos devem ter para casos de emergências, como a perda de um emprego ou problemas de saúde. Deve ser o equivalente a todas as suas despesas mensais, multiplicado por 6 a 12 meses, sendo preferencialmente alocado em investimentos conservadores, como alguns fundos de renda fixa de liquidez diária. 55. DIPIETRO, J. Day trading stocks the wall street way: a proprietary method for intra-day. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2015. 56. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é uma associação sem fins lucrativos mantida pelos bancos, que garante uma série de investimentos de renda fixa, até um valor máximo de R$ 250 mil por banco por CPF. Isso significa que, no caso de falência do emissor de um dos títulos cobertos, os investidores têm seus investimentos ressarcidos. Para contratos firmados a partir de 22 de dezembro de 2017, a soma dessas coberturas também foi limitada a até R$ 1 milhão por investidor, mantidos os limites de R$ 250 mil em cada banco. 57. POPPER, N. Digital gold: Bitcoin and the inside story of the misfits and millionaires trying to reinvent money. New York, NY: Harper, an Imprint of HarperCollins, 2015. 58. Lembre-se que o saldo de uma carteira Bitcoin não é oculto. Assim, se alguém tiver a sua chave pública, poderá vê-lo, mas não gastá-lo. 59. BARSKI, C. Bitcoin for the befuddled. San Francisco: No Starch Press, 2015. 60. SZMIGIELSKI, A. Bitcoin essentials: gain insights into Bitcoin, a cryptocurrency and a powerful technology, to optimize your Bitcoin mining techniques. Birmingham: Packt Publishing, 2016. 61. Novamente, não confunda o site privado Blockchain.info, aqui utilizado, com o livro descentralizado onde são registradas as transações de bitcoins, conhecido como Blockchain, que abordamos no capítulo 3. 62. JARDIM, L. Bitcoins já atraem 1 milhão de brasileiros. O Globo, 10 dez. 2017. Disponível em: <http://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/bitcoins-ja-atraem-1-milhao-de-brasileiros.html>. Acesso em: 11 dez. 2017.
PARTE IV
BITCOIN EM PAUTA
capítulo 23 OS POLÊMICOS FORKS E COMO SE PREPARAR “Sempre que você se encontra do lado da maioria, é hora de fazer uma pausa e refletir.” – MARK TWAIN Agora que você já sabe como comprar e proteger seus bitcoins, vamos aprofundar mais a discussão de alguns temas pertinentes. No universo das criptomoedas, alguns termos frequentemente surgem e nem sempre são de fácil compreensão. Neste capítulo, iremos entender o que são os forks, quais as diferenças entre os soft forks e hard forks e o que eles significam para o futuro da principal moeda digital: o Bitcoin. Provavelmente você já ouviu falar neles. Ou, ao pesquisar sobre criptomoedas, pode ter se deparado com os calorosos debates diante das expectativas de um fork iminente na rede Bitcoin. Forks nada mais são que atualizações no código de uma criptomoeda. Assim como um programa de computador ou um aplicativo do seu celular sofrem atualizações, o mesmo ocorre com os protocolos de uma moeda virtual. A princípio, o objetivo de um fork é aprimorar a sua funcionalidade. Aqui, porém, há uma particularidade. Como o Bitcoin é um software de código livre e, portanto, não tem um “dono”, os forks são desenvolvidos por indivíduos ou grupos independentes, e dependem de um consenso na comunidade para sua aplicação. A depender desse consenso, os forks podem ser didaticamente divididos em soft forks ou hard forks.
Soft forks são implementações que visam corrigir pequenos problemas, de forma suave, como o próprio nome sugere. Os soft forks são compatíveis com a versão original do Bitcoin e são consensuais entre os usuários da rede. Com o soft fork, somente os mineradores terão que atualizar a plataforma e os usuários poderão continuar recebendo os novos blocos mesmo rodando “nós” antigos. Geralmente os soft forks visam adicionar regras mais rígidas que, portanto, permanecerão compatíveis com as anteriores. O SegWit, ativado em agosto de 2017, é um ótimo exemplo de um soft fork, que acrescentou melhorias no tráfego, reduzindo custos e tempo de espera. Já os hard forks são modificações em que algumas regras anteriores são desfeitas ou relaxadas. Isso pode ser fundamental para tornar o sistema mais ágil e menos redundante, por exemplo. Os blocos produzidos a partir das novas regras só são considerados válidos por clientes atualizados. Muitas vezes pode ser difícil obter consenso acerca das modificações a serem implementadas. No cenário mais extremo, a dissidência pode acabar dando origem a uma nova moeda. Ou seja, a moeda antiga bifurca-se em duas Blockchains, assim como uma estrada que se bifurca em duas rotas distintas. Portanto, elas compartilharão o mesmo histórico prévio, mas seguirão caminhos independentes e poderão coexistir paralelamente, com parte dos usuários aderindo à nova moeda e outra permanecendo na anterior. O perigo real é o seguinte: os soft forks são reversíveis, pois seguir as novas regras é opcional. Os hard forks são irreversíveis, e qualquer erro no código ou comportamento imprevisto na rede só pode ser corrigido através de outro hard fork. Isso pode levar rapidamente a um buraco profundo.63 Podemos simplificar esse raciocínio fazendo uma analogia com as atualizações do seu Windows. Os soft forks seriam as atualizações periódicas, que ocorrem quase diariamente e muitas vezes independem da sua ciência, ocorrendo em segundo plano. Por outro lado, caso surjam novas funcionalidades, com mudanças drásticas no código de programação, será possível instalar um novo sistema operacional (migrando do Windows 7 para o Windows 10, por exemplo). Essa já seria uma analogia aos hard forks. Nesse caso, alguns
aplicativos antigos poderão não mais ser compatíveis com o novo sistema. Alguns usuários podem preferir, por diversas razões não migrar. Estar com a versão mais recente não garante estar com a melhor delas. Basta lembrar o fiasco que foi o lançamento do Windows 8, repleto de bugs. Muitos usuários tiveram de formatar suas máquinas e retornar ao Windows 7. Se o hard fork culminar no desdobramento em duas versões da moeda, elas percorrerão caminhos independentes e não intercambiáveis. Aquela que tiver mais adeptos, agregará maior sequência de blocos e será, portanto, mais valorizada pelo mercado. Normalmente quando surge uma moeda derivada de um fork, todos os que possuíam a original passam a possuir também uma quantidade equivalente da altcoin, geralmente na proporção de 1 para 1, dobrando a quantidade absoluta de moedas. Por isso alguns o interpretam como a possibilidade de “dinheiro grátis”. Mas o sucesso de uma pode custar o insucesso da outra. Além disso, um fork mal executado pode trazer ainda mais confusão para um mercado que luta por mais aceitação. O Bitcoin Cash (iniciado em agosto de 2017) e o Bitcoin Gold (outubro de 2017) são exemplos de versões modificadas do Bitcoin, porém nenhuma delas foi capaz de ameaçar a hegemonia da moeda original até o momento. O intuito desses recentes hard forks foi corrigir o problema do engarrafamento da rede Blockchain. Com um aumento exponencial no tráfego, as transações têm enfrentado alguns atrasos e aumentos nos custos de aprovação. Isso é mais notório para transferência de pequenas quantidades de dinheiro − pouco atrativas aos mineradores −, podendo resultar em longas filas para confirmação. Assim, soluções que visem tornar os blocos mais leves ou ampliem a sua capacidade de trânsito são bem-vindas e devem ser estimuladas. Assim como na política, é essencial o debate em busca de consensos, nem sempre tangíveis. O pluralismo partidário − quando não vinculado às más práticas − reflete a diversidade de ideias. A criação de uma nova criptomoeda pode até ser positiva. No caso do Bitcoin Cash, removeu descontes da rede Bitcoin, dando-lhes a própria Altcoin.64 Novamente, assim como na política, a
fundação de uma nova moeda pode camuflar intenções escusas. Por isso, um hard fork pode ser visto com bastante desconfiança por parte da comunidade e das instituições que lidam com as criptomoedas. Vejamos o exemplo da polêmica envolvendo o Bitcoin Gold. Segundo seus desenvolvedores, a nova moeda tem o propósito de descentralizar a mineração do bitcoin, hoje restrita a poucos grandes grupos de mineradores, e de se tornar uma melhor reserva de valor, por isso o nome Gold (ouro, em português). Diferentemente do Bitcoin, o Bitcoin Gold usa a Equihash como proof-of-work, um algoritmo resistente ao ASIC (Circuitos Aplicados Integrados Específicos), responsáveis pela atual mineração do Bitcoin. Isso permite que qualquer pessoa possa minerar Bitcoin Gold utilizando um computador comum (GPU). A ideia é dar aos usuários comuns a chance de “minerar” sem que eles dependam de uma escala de operações maior formada essencialmente por computadores ultrapotentes (ASIC).65 No entanto, os idealizadores do Bitcoin Gold foram acusados de falta de transparência e de não cumprirem premissas básicas de segurança. Além disso, pré-mineraram cerca de 100 mil unidades da moeda antes do fork e temia-se que eles despejassem essa quantidade no mercado tão logo fossem abertas as negociações. As duas principais Exchanges brasileiras tiveram posicionamentos opostos em relação à esse fork. Enquanto a Foxbit, alegando primar pela segurança de seus usuários, declarou que não participaria do hard fork, o Mercado Bitcoin ofereceu suporte completo à nova criptomoeda. Por sua vez, a Bittrex, imponente casa de moedas com sede nos EUA, ofereceu suporte ao fork, garantindo aos seus clientes a conversibilidade dos bitcoins na nova moeda. Porém, emitiu alertas que refletiam aquelas preocupações da Foxbit. Cabe lembrar que uma vez que os seus bitcoins estão custodiados por uma Exchange, você ficará à mercê da decisão delas quanto à participação ou não em um hard fork. Caso você tenha uma opinião divergente da sua corretora, deverá sacar os fundos para a sua própria wallet (hot ou cold wallet) antes da data do fork. Com a sua senha privada, você poderá resgatar a nova moeda assim que disponibilizadas ferramentas compatíveis. E ainda que não seja simpático à nova
moeda, poderá vendê-la em uma Exchange que dê suporte. Além disso, como dito anteriormente, manter fundos em uma Exchange nunca é a atitude mais segura. Aliás, os especialistas recomendam bastante cautela durante os hard forks. Os sistemas das novas moedas podem ser bastante instáveis no seu início, aumentando a chance de perdas. Sugere-se aguardar até que a comunidade avalie a confiabilidade do novo sistema. Caso se confirme tratar-se de um hard fork idôneo e haja carteiras ou Exchanges que deem suporte a ele, você poderá a qualquer momento resgatar seu saldo. Para isso, é importante guardar ambas chaves pública e privada da carteira que continha saldo em bitcoins no momento do fork. À medida em que a moeda amadurece, novas atualizações estão a caminho. Os forks podem ajudar a renovar os ânimos do mercado com alguma dificuldade que venha a surgir na Blockchain. Mas podem também esconder intenções maliciosas.66 Não se precipitar é fundamental.
capítulo 24 COMO EXPLICAR AOS AMIGOS E FAMILIARES? “Toda pessoa informada precisa conhecer sobre o Bitcoin, porque ele pode ser uma das invenções mais importantes do mundo.” – LEON LOUW Se ainda não lhe ocorreu, talvez em breve você se depare com a seguinte situação: Como explicar a alguém completamente alheio a este universo o que é um Bitcoin? Como ele funciona? Por que é tão importante e as pessoas não param de falar sobre esse assunto? Ou ainda: por que gastar dinheiro “real” para trocar por outro “virtual”? Reservei para você um pequeno resumo que pode lhe auxiliar a sair dessa encruzilhada e explicar, de forma bem simples, para um público ainda não iniciado no universo da criptografia. Talvez eles lhe deixem em paz e parem de achar que você está ficando louco ou – o que é mais provável − até se interessem por aprender mais sobre esse assunto. Você verá que não é uma tarefa impossível! Antes disso, vai uma dica: não há necessidade de se explicar o que são nós, hashes ou forks. Ao menos, não nesse primeiro contato. Evite também jargões ou termos técnicos. Não empurre seu interlocutor para fora da zona de conforto. Já há uma chuva de informações maçantes, desorganizadas e pouco intuitivas, capazes de deixar qualquer um entediado. Sempre há duas formas de explicar a mesma coisa. Opte pela mais didática e você ganhará o interesse genuíno do seu ouvinte. Com a assimilação de novos
conceitos, a curiosidade será estimulada e aí o aprofundamento será mais fluido. Coloque-se igualmente disponível para responder às dúvidas que certamente se seguirão. Você verá como é prazeroso intercambiar conhecimentos acerca da aplicabilidade dessa tecnologia. Vejamos como é simples transmitir a uma pessoa leiga as premissas básicas sobre o que é e para que serve o Bitcoin: 1º PONTO: É COMO DINHEIRO, MAS DIGITAL Bitcoin pode ser interpretado como uma moeda, assim como o Real, o Dólar e o Euro. Mas um dinheiro apenas digital, eletrônico. Lembra, de alguma forma, o seu próprio Internet Banking. Você pode utilizá-lo para pagar contas, realizar compras, fazer ou receber transferências. Tudo pela internet. Aqui há, entretanto, diferenças fundamentais. Enquanto as moedas oficiais são emitidas por um Banco Central, controlada sob regras impostas pelo Estado, o Bitcoin não possui um órgão centralizador. Pelo contrário, é uma moeda descentralizada. Por isso também é extremamente segura. As transações são permanentemente registradas em um livro público (Blockchain) e compartilhado por todos. Os usuários são identificados apenas por uma sequência alfanumérica, conhecida como chave pública, e não pelos seus nomes ou CPFs. A chave pública seria como o número da sua conta corrente, que você pode compartilhar com qualquer pessoa, até mesmo para receber um depósito. Por outro lado, a chave privada é utilizada para movimentar o saldo da sua carteira. Seria o equivalente à senha do banco que, como sabemos, você deve protegê-la com bastante segurança, pois é o que lhe permite acesso e controle sobre seus recursos. Além da descentralização, outra vantagem é que aqui não são necessários intermediários, enquanto no sistema financeiro tradicional os bancos e as operadoras de cartão de crédito atuam como tal. As transações são realizadas diretamente entre quem envia e quem recebe o dinheiro. Isso traz duas consequências práticas. A primeira delas é agilidade. Valores podem ser enviados para qualquer parte do mundo quase instantaneamente, enquanto
remessas internacionais pelo método tradicional chegam a levar 2 dias úteis ou mais para compensação. A segunda consequência é o menor custo dessas operações. Sem intermediários, desconta-se apenas uma pequena comissão dada aos mineradores (usuários que garantem a confiabilidade da rede), incomparavelmente menores que os custos habituais de envios em moeda estrangeira. 2º PONTO: EXPLIQUE A MINERAÇÃO COM ANALOGIAS Após seu interlocutor ter assimilado o bitcoin como um dinheiro digital, a próxima pergunta que lhe surgirá é: De onde vêm os bitcoins? Você tem um bitcoin? Como faz para consegui-los? Mais uma vez, use e abuse das analogias. É sempre mais fácil entender um novo conceito sob a óptica de outro já conhecido. Essa é uma valiosa estratégia, inclusive utilizada já diversas vezes aqui ao longo dos capítulos. Aposto que você assimilou alguns conceitos mais complexos relacionando-os a situações práticas ou mesmo do seu dia a dia. Pois bem, usaremos o exemplo de uma jazida de um cristal ou metal precioso qualquer. Para evitar confusões com outras propriedades monetárias do ouro, vamos falar de diamantes. Todos sabem que os diamantes são muito raros, recompensando o espinhoso ofício da extração a quem os encontrar. Assim como há pessoas empenhadas na mineração de diamantes, o mesmo ocorre com os bitcoins. Os garimpeiros de bitcoins dedicam seus esforços para que, encontrando algumas porções dele, possam armazená-los ou mesmo trocá-los por dinheiro “de verdade”. Já foi mais fácil encontrar diamantes. Hoje, é um trabalho muito complicado e cada vez mais se tornará, à medida que o diamante será mais difícil de ser extraído. Essa árdua tarefa demanda não apenas o esforço humano, mas sobretudo o emprego de supermáquinas e, portanto, um considerável consumo de energia. No entanto, continua e provavelmente continuará sendo algo lucrativo, pois o diamante tem se mantido muito valioso ao longo do tempo, especialmente quando ele fica mais raro.
As máquinas de extração que, no caso do diamante tem de realizar cálculos para determinar o local de maior probabilidade de obter êxito, aqui são ultracomputadores, que realizam cálculos matemáticos para vencer a criptografia que “esconde” os bitcoins a serem minerados. Embora você possa tentar a sorte sozinho, é pouco provável que saia encontrando diamantes por aí com tanta facilidade. Então pode se juntar a outros interessados e formar grandes consórcios de mineração. Com a complexidade crescente, isso acaba ao longo do tempo ficando sob a responsabilidade de grandes investidores ou pessoas com bastante capital para bancar os custos da extração. No caso do Bitcoin é o mesmo raciocínio. Embora qualquer um possa minerar, essa missão é mais factível para grandes consórcios de usuários ou megainvestidores que possam bancar o dispendioso maquinário. Se você não é um minerador de diamantes, ainda assim é possível comprá-lo em casas especializadas. Para isso, pode pagar em reais, dólares, ou qualquer outra moeda aceita, desembolsando o preço de mercado naquele momento. Dependendo do capital que queira gastar, você pode comprar uma imponente ou, se não, apenas uma pequena pedrinha do cristal. Igualmente, por mais valioso que esteja um bitcoin, a sua perfeita divisibilidade possibilita que você adquira apenas a fração que o seu bolso permitir. 3º PONTO: PARA QUE EU TERIA BITCOINS? Seu interlocutor leigo, a essa altura, já compreende o que é o dinheiro digital e o conceito de mineração. Mas pode estar ainda em dúvidas quanto à utilidade prática dessa moeda. Pois bem, similarmente ao dinheiro físico, o Bitcoin também pode ser utilizado para comprar mercadorias (como um livro ou uma bicicleta, por exemplo) ou serviços (como a corrida do Uber ou um jantar no seu restaurante predileto). Obviamente, isso dependerá de o Bitcoin estar listado como um dos meios de pagamento aceitos pelo estabelecimento.
Enquanto é relativamente fácil encontrar empresas online que aceitam o Bitcoin, ele ainda é menos difundido nas lojas físicas, pelo menos em nosso país. Mas essa realidade tende a mudar conforme a moeda amadurece e se torna mais conhecida, o que efetivamente vem ocorrendo de forma rápida no mundo todo. No Japão, 260 mil locais já aceitam a moeda. Em milhares de caixas espalhados pelas grandes cidades, você já pode trocar bitcoins por ienes (a moeda local) e vice-versa. Esse mesmo movimento tem sido seguido por diversos países. Mas essa não é a única função do Bitcoin. Voltando à nossa analogia com o diamante, você pode guardar aquela pequena pedra para vendê-la no futuro, acreditando na sua valorização, porém correndo-se um grande risco. Pode ser que, no futuro, ela valha muito mais ou muito menos do que você pagou. Caso você seja menos apegado, outro destino possível é doar sua pedra preciosa para uma instituição de caridade. Assim, ela poderá vendê-la e financiar seus projetos filantrópicos. Ou você pode ainda deixá-la como patrimônio para seus herdeiros. Mas o que tem verdadeiramente atraído as pessoas ao Bitcoin é sua recente valorização. Só em 2017, a moeda subiu mais de 1.200%. Algumas pessoas têm visto uma oportunidade de lucrar com sua meteórica alta, mas devem estar cientes do elevado risco que correm, já que não há quaisquer precedentes e ninguém sabe onde o mercado pode parar.
capítulo 25 O QUE JÁ SE PODE PAGAR COM BITCOINS “Tudo parece impossível até que seja feito.” – NELSON MANDELA Até pouco tempo, apenas algumas lojas virtuais aceitavam pagamentos em bitcoins. Mas esse cenário mudou radicalmente, especialmente no último ano. A aceitação do Bitcoin como forma de pagamento tem crescido constantemente, de forma que cada vez mais lojas físicas estão aderindo à moeda. Ou seja, é possível que você também realize pagamentos em criptomoedas em breve. Como dito, o Japão é um dos países mais avançados na aceitação do Bitcoin. Até janeiro de 2017, a Coincheck, principal casa de câmbios virtuais no país, havia habilitado cerca de 5 mil estabelecimentos, dentre eles famosos hotéiscápsula, empresas de gestão imobiliária e até mesmo uma exclusiva rede de restaurantes. Esse número ganhou novas proporções em abril do mesmo ano, quando a Exchange anunciou uma nova parceria para credenciar outros 260 mil estabelecimentos. No Brasil, as primeiras capitais a despontar nesse mesmo rumo foram São Paulo e, curiosamente, Aracaju. De lojas de calçados a clínicas veterinárias, a lista não para de crescer. Tanto que o site Coinmap.org criou um mapa no estilo Google Maps, alimentado em tempo real pelos próprios usuários. Esse site aponta os locais no mapa que aceitam bitcoins como pagamento para bens e serviços. E você pode ainda filtrar por região ou por tipo de estabelecimento. Grandes redes internacionais não perderam tempo e também já anunciaram compatibilidade com a tecnologia, por exemplo, a cadeia de hotéis Howard Johnson, presente em diversas cidades do mundo. Mesmo assim, caso você
decida se hospedar em um hotel concorrente, também é possível. Basta fechar seu pacote com a agência de viagens Destinia (http://destinia.com.br), por exemplo, e utilizar seus satoshis para pagar pela viagem completa. Se sua praia é garimpar descontos, que tal comprar desde livros a produtos eletrônicos na Amazon, até 30% mais baratos, utilizando seus bitcoins? Para isso, acesse o site Purse.io e veja como obter seu cupom. Sabia que até sua conta de luz ou telefone já pode ser quitada com a moeda? Para isso, utilize os serviços do Pague com Bitcoin (https://paguecombitcoin.com) ou BitBol (https://www.bitbol.com.br). A Dell (http://www.dell.com.br) foi uma das primeiras a aderir ao Bitcoin como meio de pagamento. Adicione ao carrinho computadores, tablets ou outros eletrônicos e escolha a opção no checkout. A gigante Microsoft também não ficou de fora e permite que seus clientes comprem jogos, vídeos e aplicativos para as plataformas Windows, Windows Phone e Xbox. Você pode ainda presentear um amigo, familiar ou a si mesmo (por que não?) comprando um vale presente na Gyft (www.gyft.com) ou eGifter (www.egifter.com) usando seus bitcoins. As redes têm parcerias com grandes varejistas, como Starbucks, Domino’s, Nike, iTunes, American Airlines e Royal Caribbean. Você pode tomar o seu café preferido ou quem sabe reservar um cruzeiro para o Caribe. Pode até mesmo chamar um Uber! Que tal alugar um apartamento em Copacabana para o Réveillon? O hotel Copa Apartments, oferece suporte para pagamentos na moeda com o Bitpagos. E se você quiser viajar para ainda mais longe, a companhia Virgin Galatic promete a experiência única de uma viagem espacial. O bilionário Richard Branson, que está à frente desta e de outras 500 empresas, afirma que os primeiros turistas já deverão embarcar nos próximos meses e não demorou em anunciar que os tickets poderão ser adquiridos em bitcoins. Nada mais futurístico do que pagar uma ida ao espaço usando dinheiro virtual, não é mesmo? Gastar seus bitcoins já foi impossível. Hoje não é mais. A lista de varejistas que aceitam pagamentos com Bitcoin em todo o mundo não para de crescer. Para
aqueles que ainda não fazem parte da lista, há maneiras fáceis de converter seus Bitcoins em dinheiro para comprar quase tudo o que quiser. Com um número crescente de adeptos, muitas empresas enxergam na nova tecnologia uma imperdível oportunidade estratégica e correm contra o tempo para oferecer novos meios de pagamento a consumidores cada vez mais digitais.
capítulo 26 É POSSÍVEL MELHORAR O MUNDO COM BITCOINS? “Alguém que vive dentro de suas possibilidades sofre de falta de imaginação.” – OSCAR WILDE Já vimos em capítulo anterior como o aprisionamento de uma população sob o monopólio monetário do Estado pode empobrecer seus membros, e expô-los ao perene risco de confiscos e expropriações. Para o economista Walter Williams67, as razões de uma sociedade se enriquecer são muito variadas. Já “as causas da pobreza são bastante simples e diretas”68, sendo a insegurança jurídica quanto à propriedade uma das principais. Para ele, “uma maneira de avaliar a proteção dos direitos humanos é perguntar até que ponto o Estado protege o intercâmbio voluntário e a propriedade privada.” O temor dessas e de outras arbitrariedades torna, segundo o economista, extremamente difícil fazer planejamentos. A impossibilidade de estabelecer políticas de longo prazo condena, especialmente países da África e América Latina, à perpetuação da pobreza. Nesse sentido, o Bitcoin poderia assumir um papel ímpar dentre todos os tipos de propriedade, pois a sua posse é eterna tal que nenhuma entidade governamental poderia tirá-la. O dinheiro fiduciário, ouro, imóveis ou qualquer outra forma de riqueza podem ser levadas à força pelo Estado, mas uma moeda fora de seu alcance estaria intrinsecamente blindada. Em tom profético, Williams complementa: “Quando a pobreza passar a ser vista como resultado da intervenção imprudente de alguns governos — como regulamentações, burocratização, tributação e inflação — e da falta de capacidade produtiva, políticas mais efetivas surgirão.”
A moeda tem ainda o potencial de transformar a economia dos mercados emergentes ao se propor a atender populações desbancarizadas. De acordo com o Banco mundial, apesar da forte expansão da inclusão financeira nos últimos anos, 2,5 bilhões de pessoas e outras 200 milhões de micro e pequenas empresas no mundo ainda não possuem acesso a crédito e serviços financeiros básicos. Esse é um problema crítico que afeta o desenvolvimento das economias locais e a geração de empregos, especialmente em países emergentes da América Latina, Ásia e África. O Banco Mundial considera a universalização do acesso financeiro como passo fundamental para atingir sua missão de erradicar a pobreza e melhorar as condições de vida nos países em desenvolvimento. Algumas organizações já se movimentam para oferecer soluções a essas pessoas e pequenas empresas marginalizadas e, com o auxílio da tecnologia do Bitcoin, ajudá-las a obter pela primeira vez o que poderiam chamar de uma conta bancária, dinamizando também o comércio local. Além do potencial impacto na economia mundial, há diversas outras possibilidades transformadoras para os detentores do dinheiro virtual, entre elas, o apoio a causas humanitárias. Um número cada vez maior de associações de caridade tem adotado o Bitcoin para financiar as suas missões. Consequentemente, amplia-se o leque de potenciais doadores, alcançando pessoas até então menos envolvidas. Os doadores virtuais podem ainda contar com total privacidade garantida pela criptografia e, a depender da legislação local, obter também benefícios fiscais. Sem ter de encarar fronteiras, as doações chegam mais rapidamente ao destinatário. E isso faz toda a diferença. As taxas são sensivelmente menores que em métodos tradicionais − como os cartões de crédito ou débito. Algumas operadoras chegam até mesmo a isentar os custos de transação para doações voltadas à caridade, o que significa que elas serão 100% destinadas a quem mais precisa. A United Way (https://www.unitedway.org) é a maior organização de filantropia do mundo. Foi fundada nos EUA há mais de 125 anos. Hoje, está presente em mais de 40 países e mobiliza anualmente 2,9 milhões de voluntários,
9,6 milhões de investidores sociais (doadores individuais) e US$ 5,3 bilhões em prol das comunidades carentes. É uma nobre oportunidade para ajudar a melhorar a vida de cerca de 50 milhões de pessoas, com programas nas áreas da educação, saúde e geração de renda. Se você é um ativista ambiental e se preocupa com o desmatamento ilegal na Amazônia ou com o impacto de algumas indústrias sobre o ecossistema, pode ajudar o Greenpeace (https://www.greenpeace.org.br) em sua missão utilizando o dinheiro virtual. O Greenpeace não aceita doações de empresas ou governos, apenas de indivíduos. Portanto, adotar o Bitcoin em seu modelo de negócios é uma excelente estratégia. Não há valores mínimos. Qualquer quantia é bemvinda. Mesmo com o avanço da ciência e da tecnologia, sabemos atualmente que uma a cada sete crianças no mundo vai para a cama com fome, todas as noites. Você pode somar forças ao Save the Children, por intermédio do BitPay (https://bitpay.com), na missão de trazer mais conforto e esperança a 157 milhões de crianças. É possível utilizar a plataforma também para contribuir com a Cruz Vermelha, sem quaisquer cobranças de taxas de processamento. A BitGive Foundation (https://www.bitgivefoundation.org), primeira empresa do terceiro setor a trabalhar exclusivamente com a moeda digital, é a representação mais clara da filantropia contemporânea. Fundada em 2013, seu propósito é aproximar a inovação tecnológica às causas humanitárias. Com a generosidade da comunidade internacional, ela apoia diversas entidades que prestam caridade, incluindo algumas das listadas acima. A tecnologia Blockchain permite aos doadores rastrear transações em uma plataforma pública, em tempo real. Assim, é possível ver como os recursos são gastos e garantir que eles alcancem seu destino final. Há ainda iniciativas de levantamento de recursos na moeda em benefício a grupos de resistência política contra regimes totalitários, que de outra forma conseguiriam facilmente asfixiar o apoio financeiro tradicional. Assim, anteriormente visto como uma moeda associada ao submundo ilícito, o preconceito em torno do Bitcoin vai se pulverizando. Cada vez mais, ele é
encarado como uma nova tecnologia aliada, com potencial de nos ajudar a resolver antigos problemas.
capítulo 27 E SE FOR UMA BOLHA? “Apenas um tolo testa a profundidade da água com ambos os pés.” – PROVÉRBIO AFRICANO Afinal: moeda do futuro ou bolha especulativa? À medida em que se valoriza em ritmos impressionantes, aumentam na mesma proporção as discussões quanto aos rumos da moeda, com defensores ferrenhos de ambos os lados. O Bitcoin já apresentava fortes valorizações em 2017, quando ganhou ainda mais fôlego com a sua entrada no mercado de derivativos. A partir de dezembro, ninguém menos que a CME (Chicago Mercantile Exchange), maior bolsa de mercadorias do mundo, passou a oferecer em sua plataforma a negociação de contratos futuros, dias após da sua rival CBOE (Chicago Board Options Exchange ) fazer o mesmo. Esse era o gás necessário para um novo rali, que fez a moeda encostar pela primeira vez na barreira dos US$ 20 mil e encerrar o ano com forte valorização superior a 1.200%, surpreendendo até os mais otimistas. Tamanho fenômeno não poderia passar despercebido pelos críticos e gerou fortes reações de todos os lados. Estrategistas de investimento e especialistas em finanças, que já viam desde o início do ano paralelismo com a famosa bolha “ponto com”, que estourou em 2001, aumentaram a advertência quanto ao risco de colapso. Uma bolha é caracterizada por uma alta generalizada gerada por excesso de confiança, e uma posterior queda dos preços. Na famosa crise da internet, o índice Nasdaq subiu mais de 1.000% em menos de uma década. Em 10 de março de 2000, atingiu seu pico de 5.132 pontos. Posteriormente, chegou a cair 78% nos 30 meses seguintes, depois necessitando de alguns anos até se recuperar.
Algumas empresas − como a Pets.com e Webvam − foram à falência e fecharam as portas. Outras, como eBay e Amazon.com, posteriormente se recuperaram e chegaram a superar seus valores recordes do ápice daquele ano.
Figura 27-1. Gráfico histórico do Índice Nasdaq demonstrando forte desvalorização após o ano 2000 (Crédito: Google Finance)
O episódio não chegou a acabar com a internet. Hoje, empresas como Google, Apple, Microsoft, Amazon e Facebook, tornaram-se muito mais sólidas, e fazem parte do nosso dia a dia. Mas é inegável que levou à bancarrota milhares de investidores, cegados por sua ganância desenfreada, e trouxe uma severa crise em sequência. Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel em 2008, foi enfático ao afirmar que a recente valorização das moedas virtuais é uma bolha. Outros economistas apontam para os possíveis perigos associados à moeda virtual. “O entusiasmo pelo Bitcoin é desproporcional à sua aplicação imediata”, sublinhou Robert Shiller. Por sua vez, Jean Tirole referiu que o Bitcoin “é um recurso sem valor intrínseco”.69 Para o analista Martin Tillier, comentarista e colaborador da Nasdaq, o estrelismo exagerado em torno do Bitcoin somado à alavancagem são a receita do desastre, e aconselha cautela àqueles que detêm a moeda.70 Não é de hoje, tampouco, que parte da mídia especializada aponta indícios de bolha. Em 2011, Timothy B. Lee escreveu para a Forbes: “Está cada vez mais claro que o preço recorde de US$ 32 em 8 de junho representasse o pico de uma bolha especulativa, que agora está estourando”.71 E estourou mesmo: o preço do
Bitcoin desabou para 2 dólares no fim daquele ano e só voltou ao patamar de 30 dólares em março de 2013. Novos ralis e novos estouros foram se seguindo. No fim de 2017, ressurgiram as especulações acerca do estouro de uma nova bolha, quando rapidamente o valor do Bitcoin caiu 33%. Ao analisarmos o gráfico histórico em escala logarítmica, percebemos que esses movimentos não são nenhuma novidade. Como dito, já ocorreram em diversas outras ocasiões, inclusive com quedas ainda mais expressivas. E provavelmente continuarão ocorrendo. Não obstante, os preços voltaram a subir posteriormente, pelo menos até o presente momento. Vejamos o que ocorreu de 2011 a 2017:
Figura 27-2. Gráfico em escala logarítmica demonstrando movimentos de baixa seguidos de recuperação na cotação do Bitcoin desde 2011 (Adaptado de The Chart Master, CNBC.com)
Apesar das quedas verificadas, a tendência de alta se manteve para aqueles que seguraram o ativo nos piores momentos de panic sell. Para efeitos de comparação, um investidor que tivesse alocado US$ 1 mil na compra de bitcoins em 2011 ou, alternativamente, em ações de respeitadas multinacionais, teria colhido ao fim de 2017 os seguintes retornos:72 Tabela 27-1. Comparativo de retornos ao fim de 2017 a partir de um investimento hipotético de US$ 1 mil em 2011 (Adaptado de The Chart Master, CNBC.com) Apple
US$ 3,8 mil
Amazon
US$ 6,5 mil
Tesla
US$ 12,5 mil
Nvidia
US$ 12,7 mil
Bitcoin US$ 37 milhões
É patente não fechar os olhos para a valorização histórica da moeda, merecedora de um olhar atento sobre seu potencial. A valorização do Bitcoin é vista com naturalidade por alguns, resultado do aumento do interesse versus sua escassez. Para eles, não há razões de comparações com crises passadas e as semelhanças não vão além da euforia. São incrédulos em relação à teoria da bolha: “Bitcoin não é uma empresa que poderia perder rentabilidade e frustrar seus acionistas”, dizem. Também refutam comparações com a crise das hipotecas sub-prime do ano de 2008, provocada por fraudes comandadas pelos grandes bancos.73 “O Bitcoin não é a bolha, é a agulha que vai furar o sistema tradicional”, diz Rudá Pellini, sócio da plataforma de investimento Wise&Trust.74 Os irmãos gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss são exemplos de plenos entusiastas no futuro da moeda. Anteriormente famosos por disputas judiciais contra Mark Zuckerberg pela ideia original do Facebook, depois de serem indenizados em cerca de US$ 65 milhões, os gêmeos compraram o equivalente a US$ 11 milhões na criptomoeda. Quando a cotação ultrapassou US$ 11.400, tornaram-se oficialmente os primeiros bilionários conhecidos no mercado de bitcoins. Apesar da espetacular valorização de seu patrimônio, eles não pensam em vender tão cedo. “Nós acreditamos que ainda seja, provavelmente, um dos melhores investimentos no mundo e que será por décadas”, diz Tyler. Como commodity rara, eles acreditam que o Bitcoin possa superar o ouro como reserva de valor, devido à sua capacidade de prosseguir se inovando. 75 Segundo os otimistas quanto ao futuro da moeda, um dos seus principais desafios − a baixa aceitação inicial − está sendo paulatinamente superado. Após o Japão inclui-la como meio oficial de pagamento, muitos países correram para regulamentá-la. Antes restrito a poucos sites de comércio online, o Bitcoin ganhou a adesão de milhões de estabelecimentos físicos no mundo, atraídos
pelas taxas mais baratas e a perspectiva de um meio mais resistente a fraudes. Além disso, em situações de crise econômica e descrédito das moedas locais, como na Venezuela e Zimbabwe, o Bitcoin também já teria ensaiado papéis de moeda de troca e reserva de valor, alistando-se como uma alternativa viável. De fato, o estouro de uma eventual bolha especulativa pode não significar por si só um determinante para o avanço ou não da moeda criptográfica. A cotação do Bitcoin seria secundária em relação à expansão da plataforma, que traz inegáveis vantagens comparativas às demais formas de pagamento. Esse seria um assunto a preocupar muito mais os especuladores que os potenciais beneficiários de suas propriedades tecnológicas. Não importa o quanto o Bitcoin seja revolucionário em sua concepção. Ninguém discute o potencial das Blockchains. Mas tudo isso é muito recente. As leis de mercado são diretamente influenciadas por fatores psicológicos, impossíveis de serem previstos. Histerias coletivas podem jogar os preços para cima ou para baixo em questão de minutos, relegando qualquer racionalidade para segundo plano. Uma forte correção poderia trazer até mais austeridade para um mercado que se regozija de agigantada euforia. Espera-se ainda que a expansão da aceitação da moeda culmine em uma volatilidade mais moderada. Uma moeda líquida e menos volátil fatalmente se tornaria menos interessante à cobiça dos especuladores. Esse amadurecimento seria fundamental para a reorientação do Bitcoin rumo aos seus desígnios originais. Se se trata ou não de uma bolha, não sabemos. Como vimos, as opiniões são tão conflitantes quanto apaixonadas. Cada ala reúne uma fartura de motivos para apontar o seu prognóstico. Mas a razão não parece sujeita a reivindicações no momento. As discussões continuarão. Se você compreende o cenário de incertezas mas, por outro lado, não se contentará em assistir aos próximos capítulos do lado de fora do estádio, há uma única saída razoável: limitar sua exposição. Seja piedoso com o seu dinheiro. Ele é fruto do seu suado e penoso trabalho. Qualquer negligência resultará em uma onerosa conta. E talvez você não possa pagá-la na moeda de sua preferência.
Volto a insistir: não exponha uma quantia significativa do seu patrimônio, por mais otimista e entusiasta que você seja. Você possui uma vantagem muito grande em limitar sua alocação. No melhor cenário, caso se consolide como uma moeda forte, as projeções apontam para potenciais de valorização muito mais altos que os vividos até aqui e seu pequeno aporte poderia se tornar verdadeiramente grande. No cenário ruim, caso o mercado pare de enxergar sustentáculos à moeda, você suspirará aliviado por ter comprometido apenas irrisória quantia. Use a assimetria a seu favor. Ainda que sua situação lhe permita, utilize o excedente para cultivar o hábito saudável do investimento regular. Os ativos conservadores na sua carteira sim têm chances reais de lhe prover a segurança futura e devem estar sempre no seu foco. Você não precisa prever o futuro. Mas você tem a obrigação de agir com responsabilidade, pois a dúvida, no momento, é o único objeto realmente concreto.
capítulo 28 ALTCOINS E A BUSCA DA MOEDA PERFEITA “Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança.” – NICOLAU MAQUIAVEL O Bitcoin não está sozinho! Embora sua hegemonia jamais tenha sido ameaçada, existem milhares de alternativas hoje disponíveis. São as chamadas Altcoins, que resumidamente são todas as moedas que não o Bitcoin. No momento da publicação desse livro, segundo o site CoinMarketCap.com, há cerca de 1.500 moedas virtuais, mas a quase totalidade delas tem um marketcap pouco expressivo. O mercado como um todo alcança mais de meio trilhão de dólares, e é dominado com larga vantagem pelo Bitcoin. Cada uma das Altcoins apresenta diferenças sutis em relação ao seu código, recursos disponíveis ou propósitos. Algumas foram desenvolvidas para suprir deficiências do Bitcoin, outras são originárias de hard forks. Há aquelas com propósitos bem específicos e outras cujo surgimento está vinculado intimamente à especulação. Muitas pessoas que não pegaram a onda inicial do Bitcoin acreditam que uma ou outra possa seguir o mesmo sucesso da invenção de Satoshi Nakamoto. Em um provável cenário em que a maioria delas provavelmente desaparecerá, investir em Altcoins é visto por alguns como um investimento tão barato quanto improvável de oferecer um retorno concreto. Mas há realmente talentosos programadores e grandes corporações dispostas a investir alto na criptografia e no desenvolvimento de novas moedas.
Vejamos as de maior relevância no mercado atual e quais são as perspectivas em torno delas:
ETHEREUM: Atualmente é a segunda moeda mais importante, após o Bitcoin. Seu sistema é a base para outras moedas. A maioria das ICOs (Initial Coin Offerings) usam Ethereum. Tem um custo de transações bem menor que o do Bitcoin e atualmente detém o segundo marketcap. De acordo com os seus desenvolvedores, o que torna o Ethereum diferente do Bitcoin é que ele visa levar a tecnologia da Blockchain e os contratos inteligentes para “tudo” que possa ser programado: votações, nomes de domínio, transações financeiras, crowdfunding, governança de empresas e estados, contratos e acordos de qualquer tipo e até mesmo propriedade intelectual. Em 2016, houve um polêmico fork na rede como tentativa de recuperá-la de um ataque. Esse desdobramento deu origem ao Ethereum Classic, que embora não se encontre na lista das 5 principais moedas, ainda prospera.76
BITCOINCASH E BITCOIN GOLD: Já abordados nos capítulos sobre forks, o BitcoinCash é resultado de um desmembramento da rede Bitcoin, destinado a ter transações mais rápidas. O Bitcoin Gold, também com origem semelhante, tem como objetivo principal favorecer a mineração por usuários comuns com uma placa GPU (processador gráfico, como os modelos NVIDIA), tirando dos grandes grupos o monopólio sobre a mineração. Embora ainda seja improvável que essas moedas tomem o lugar do Bitcoin, são Altcoins interessantes e podem em algum momento vir a desafiá-lo.
RIPPLE Apesar de figurar entre as cinco principais moedas, o Ripple não goza da mesma publicidade e apresenta muitas diferenças em relação às demais Altcoins. Inicialmente foi concebido como uma rede de pagamentos entre instituições
financeiras, e por isso tem atraído a atenção de bancos, que veem no Ripple o potencial de acelerar pagamentos e reduzir tarifas. Os bancos American Express e Santander já anunciaram parcerias para processar transações transfronteiriças. Além disso, grupos como Google Ventures e a IDG Capital Partners injetaram investimentos em seu desenvolvimento. Outra diferença é que não se trata de uma moeda descentralizada, mas controlada por uma empresa, que já criou todas as 100 bilhões de unidades (portanto, não está aberta a minerações por usuários), e disponibilizou metade para circulação. O restante será gradualmente lançado no mercado. Alguns indivíduos veem o Ripple como a antítese do que as criptomoedas deveriam representar, qual seja a independência de bancos e a transação entre indivíduos livre de terceiros.
IOTA É uma moeda popular com uma grande oferta, tendo um dos maiores marketcaps atualmente. Trata-se de uma criptomoeda descentralizada e de microtransações voltadas à Internet das Coisas (IoT). Parte do princípio que a demanda por pagamentos aumentará à medida que cada vez mais dispositivos se comuniquem entre si. Ao contrário das principais moedas que utilizam a Blockchain, utiliza um método diferente chamado Tangle, que é responsável pela autenticação das transações e por evitar o duplo gasto. A IOTA poderia ser fundamental para pagamentos rápidos, através de caixas eletrônicos, máquinas de venda automática e medidores de estacionamento, por exemplo.77
LITECOIN Já foi considerada por muitos a segunda moeda digital mais importante e está frequentemente entre as Top 5 em marketcap. É muito semelhante ao Bitcoin, porém custa muito menos. Possui algumas diferenças em relação à moeda que a inspirou: a rede processa cada bloco em 2,5 minutos em vez de 10 minutos; e irá produzir 84 milhões de milhões de unidades, o que representa o quádruplo da rede Bitcoin. Ao contrário do Bitcoin e da maioria das Altcoins, baseadas em SHA-256, o Litecoin utiliza a função scrypt no seu algoritmo de provas de
trabalho. Esta função tem como objetivo prevenir que a mineração em GPU e ASIC tenha uma vantagem significativa sobre o CPU, tornando factível a mineração a partir de computadores comuns.78 O Bitcoin é, de longe, a criptomoeda mais popular e difundida. O sistema foi genialmente projetado e logo ganhou a atenção de todo o mundo. Mas carrega o ônus de ter sido o primeiro e, com seu uso em larga escala, começam a surgir desafios nem sempre tão previsíveis quando da sua gênese. Nesse contexto, as Altcoins surgem com a missão de resolver parte dessas imperfeições. Ainda pouco valorizadas, acredita-se que alguma delas possa conquistar o mercado, se efetivamente se provar superior. Adivinhar qual delas irá ostentar o papel de protagonista, se é que isso ocorrerá, é uma tarefa quase impossível. Além disso, alternativas melhores e mais inovadoras poderão surgir a qualquer momento. Ao mesmo tempo, ninguém duvida da plasticidade do Bitcoin em se modificar ao longo da trajetória, em prol do pleno atendimento das demandas de sua comunidade. Se isso ocorrer, poderá resumir as Altcoins a um breve capítulo experimental da universalização da moeda virtual. Seja como for, a descentralização e a inter-relação com a tecnologia criptográfica parecem ser os caminhos mais propícios à plena democratização e modernização do dinheiro.
capítulo 29 REGULAÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO “Quando o Bitcoin é convertido de moeda a dinheiro físico, essa interface deve ser mantida sob algumas ressalvas regulamentares. Penso que, dentro do universo Bitcoin, um algoritmo que substitui as funções do governo ... [isso] é realmente muito interessante” – AL GORE Tendo em vista o fato de que bitcoins não são emitidos, endossados ou regulados por qualquer Banco Central, uma questão pertinente é: o Bitcoin é legal ou ilegal? Embora a maioria dos países não torne ilegal o uso do Bitcoin, seu status como dinheiro (ou commodity) varia, com diferentes implicações regulatórias. Enquanto alguns países permitiram explicitamente seu uso para fins lícitos, outros o proibiram ou restringiram. Como vimos anteriormente, apenas Argélia, Bangladesh, Bolívia, Equador, Marrocos, Nepal e Quirguistão consideram o seu uso ilegal. Naturalmente, dado o pouco tempo de vida do Bitcoin, seu status legal ainda aguarda definição em muitos países. O Japão assumiu um papel vanguardista na regulamentação do Bitcoin. Em abril de 2017, alterou sua lei de serviços de pagamento, passando a aceitar as moedas digitais como forma legal para tal finalidade. Além disso, a Agência de Serviços Financeiros do Japão (FSA, na sigla em inglês) aprovou oficialmente, em setembro do mesmo ano, a operação de 11 corretoras de criptomoedas. Não coincidentemente, o volume de negócios decolou no país desde então. Por lá, os caixas eletrônicos que trocam dinheiro comum por Bitcoin conhecidos como BTMs, estão espalhados por todo o país, e é possível até pagar
contas com um desconto especial para formas de pagamento usando a criptomoeda. Contudo, após o colapso da Mt Gox, a maior Exchange de Bitcoin do país, que foi supostamente hackeada, perdendo 850 mil bitcoins, os reguladores japoneses entraram em ação. Ao invés de tentarem deter o uso das criptomoedas, eles divulgaram regulamentos que exigiam permutas para manter reservas de capital, mantendo os fundos dos clientes separados e também implementaram os procedimentos de KYC (Know Your Client)79, identificando as pessoas com quem eles estão fazendo negócios.80 Nos EUA, o Departamento do Tesouro publicou diretrizes sobre o uso de moedas virtuais, definindo que as empresas de serviços monetários devam aplicar medidas contra lavagem de dinheiro e KYC. Além disso, cada Estado definiu ou não regras mais específicas em torno do Bitcoin e demais criptomoedas. O estado do Arizona, por exemplo, que já aprovou em maio de 2017 as assinaturas da Blockchain e os contratos inteligentes como válidos, agora discute implementar pagamentos de impostos em Bitcoin.81 A bolsa de Chicago anunciou em dezembro de 2017 o início da negociação de contratos futuros em Bitcoin, fornecendo uma plataforma de negociação regulamentada para esse fim. Enquanto isso, a Nasdaq – que reúne as principais empresas de tecnologia do mundo – também planeja lançar um contrato futuro com base em Bitcoin em 2018 e outras importantes bolsas no mundo já se movimentam nesse sentido. Por outro lado, a China vive em meio às incertezas, e parece ter dado um passo na contramão global. O Partido Comunista chinês ordenou que fechassem todas as Exchanges de criptomoedas e vetou a emissão de novas moedas, as ICOs, fazendo a cotação do Bitcoin despencar. Posteriormente, essa queda se mostrou ser apenas temporária, e o Bitcoin prosseguiu sua busca por novos recordes de alta após alguns dias. Enquanto executivos de Bitcoin foram proibidos de deixar o país asiático, mineradores já se preparam para mudar para países vizinhos. No entanto, as autoridades não demonstram claramente, até o momento, planos de suspender as transações de varejo da moeda.
A União Europeia ainda não aprovou legislação específica em relação ao status do Bitcoin como moeda, mas declarou que a tributação de impostos não é aplicável à conversão entre moeda tradicional (fiat) e Bitcoin. É possível que o Banco Central europeu possa ter uma atitude de “comprador cuidadoso” em relação às moedas digitais em vez de tentar uma regulamentação ou proibição definitiva.82 Como se nota, autoridades de todo o mundo estão lutando para lidar com a tecnologia Blockchain e as moedas digitais. Os reguladores parecem estar de certa forma confusos, com países como a China assumindo uma abordagem restritiva, enquanto o Japão assume uma postura completamente liberal e vários governos no mundo aguardam as cenas do próximo capítulo. São abundantes, no entanto, alertas das autoridades quanto aos riscos envolvendo a negociação com bitcoins. Em 2012, o FBI publicou um documento destacando seus medos em torno de Bitcoin, expressando sua preocupação de que criminosos poderiam estar utilizando bitcoins para atividades ilícitas sem serem rastreados. No ano seguinte, a mesma agência fechou o Silk Road, um site baseado na Deep Web (plataforma utilizada para venda de produtos ilegais), em que havia comercialização de drogas, armas e outros produtos ilícitos usando a plataforma TOR de navegação anônima. Em discurso inflamado, o senador Charles Schumer explicitamente associou o uso do Bitcoin às compras realizadas nesse site. Após o fechamento do site, algumas pessoas chegaram a apontar que poderia ser o fim do Bitcoin. Mas, contrariando as expectativas, o volume de transações caiu apenas discretamente, e logo voltou a subir. Com a prisão do seu fundador, Ross Ulbricht, o FBI levou a leilão público cerca de 50 mil bitcoins apreendidos na operação, colocando-os de volta à circulação. O valor estimado à época era de US$ 18,6 milhões. No Brasil, o Banco Central emitiu em novembro de 2017 um comunicado no qual alerta sobre os riscos decorrentes da guarda e negociação das moedas virtuais.83 Veja-o na íntegra a seguir:
COMUNICADO Nº 31.379, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2017 Alerta sobre os riscos decorrentes de operações de guarda e negociação das denominadas moedas virtuais. 1. Considerando o crescente interesse dos agentes econômicos (sociedade e instituições) nas denominadas moedas virtuais, o Banco Central do Brasil alerta que estas não são emitidas nem garantidas por qualquer autoridade monetária, por isso não têm garantia de conversão para moedas soberanas, e tampouco são lastreadas em ativo real de qualquer espécie, ficando todo o risco com os detentores. Seu valor decorre exclusivamente da confiança conferida pelos indivíduos ao seu emissor. 2. A compra e a guarda das denominadas moedas virtuais com finalidade especulativa estão sujeitas a riscos imponderáveis, incluindo, nesse caso, a possibilidade de perda de todo o capital investido, além da típica variação de seu preço. O armazenamento das moedas virtuais também apresenta o risco de o detentor desses ativos sofrer perdas patrimoniais. 3. Destaca-se que as moedas virtuais, se utilizadas em atividades ilícitas, podem expor seus detentores a investigações conduzidas pelas autoridades públicas visando a apurar as responsabilidades penais e administrativas. 4. As empresas que negociam ou guardam as chamadas moedas virtuais em nome dos usuários, pessoas naturais ou jurídicas, não são reguladas, autorizadas ou supervisionadas pelo Banco Central do Brasil. Não há, no arcabouço legal e regulatório relacionado com o Sistema Financeiro Nacional, dispositivo específico sobre moedas virtuais. O Banco Central do Brasil, particularmente, não regula nem supervisiona operações com moedas virtuais. 5. A denominada moeda virtual não se confunde com a definição de moeda eletrônica de que trata a Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, e sua regulamentação por meio de atos normativos editados pelo Banco Central do Brasil, conforme diretrizes do Conselho Monetário Nacional. Nos termos da definição constante nesse arcabouço regulatório consideram-se moeda eletrônica “os recursos em reais armazenados em dispositivo ou sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento”. Moeda eletrônica, portanto, é um modo de expressão de créditos denominados em reais. Por sua vez, as chamadas moedas virtuais não são referenciadas em reais ou em outras moedas estabelecidas por governos soberanos. 6. É importante ressaltar que as operações com moedas virtuais e com outros instrumentos conexos que impliquem transferências internacionais referenciadas em moedas estrangeiras não afastam a obrigatoriedade de se observar as normas cambiais, em especial a realização de transações exclusivamente por meio de instituições autorizadas pelo Banco Central do Brasil a operar no mercado de câmbio. 7. Embora as moedas virtuais tenham sido tema de debate internacional e de manifestações de autoridades monetárias e de outras autoridades públicas, não foi identificada, até a presente data, pelos organismos internacionais, a necessidade de regulamentação desses ativos. No Brasil, por enquanto, não se observam riscos relevantes para o Sistema Financeiro Nacional. Contudo, o Banco Central do Brasil permanece atento à evolução do uso das moedas virtuais, bem como acompanha as
discussões nos foros internacionais sobre a matéria para fins de adoção de eventuais medidas, se for o caso, observadas as atribuições dos órgãos e das entidades competentes. 8. Por fim, o Banco Central do Brasil afirma seu compromisso de apoiar as inovações financeiras, inclusive as baseadas em novas tecnologias que tornem o sistema financeiro mais seguro e eficiente. Otávio Ribeiro Damaso (Diretor de Regulação) Reinaldo Le Grazie (Diretor de Política Monetária)
Em resumo, embora o Banco Central do Brasil não endosse o uso das criptomoedas, isentando-se de quaisquer responsabilidades decorrentes do seu uso, os cidadãos brasileiros são livres para adquiri-las e movimentá-las. No Congresso Nacional, tramita o projeto de lei nº 2.303/2015 que visa incluir as moedas digitais na categoria de meios de pagamento, sob a supervisão do Banco Central. No entanto, há enormes desafios a esta regulação, desde o estabelecimento em lei do Real como moeda única até a dificuldade em se definir a natureza jurídica das criptomoedas. Há dúvidas se elas poderiam ser consideradas, no âmbito da nossa legislação, como moedas ou valores imobiliários. Além disso, preocupa o Banco Central a possibilidade de serem utilizadas como instrumento de evasão de divisas. Há ainda o impasse que diz respeito à legislação e a prevenção dos crimes de lavagem de dinheiro, já que as operações com moedas digitais dificultam a identificação das partes envolvidas. Por enquanto, como não é classificado como moeda, o cidadão brasileiro não está obrigado a recolher impostos sobre sua circulação. Apesar disso, o fisco determina que quem possuir mais de R$ 1 mil em bitcoins, deve declará-lo no ajuste anual do Imposto de Renda. No software disponibilizado pela Receita, deve-se declará-los como “Outros bens e direitos”, código 99. Na caixa “Discriminação”, deve-se anotar a quantidade de moedas que você possui, pelo seu valor de aquisição. Além disso, quem obtiver lucros com a venda da moeda deve recolher a tributação de 15%, em caso de lucros até R$ 5 milhões. Esta alíquota sobe para 17,5% nos ganhos entre R$ 5 e 10 milhões, para 20% nos ganhos entre R$ 10 e 30 milhões e para 22,5% nos lucros acima de R$ 30 milhões. Contribuintes que
contabilizarem vendas mensais inferiores a R$ 35 mil estão isentos desse recolhimento. Para realizar a quitação com o fisco, é necessário baixar o Programa de Apuração dos Ganhos de Capital, disponível no site da Receita Federal. Concluindo, é improvável que os governos possam efetivamente proibir o uso das criptomoedas, já que elas se instalam num ambiente criptográfico livre de intromissões externas. No entanto, isso não os impede de arbitrarem os pontos de entrada e saída do mundo fiat, ou seja, o momento no qual os cidadãos convertem as moedas nacionais em criptomoedas ou fazem o caminho inverso. É necessário relembrar que essa teórica liberdade monetária não autoriza o cidadão a praticar atos que violem as leis locais. Igualmente, sendo independente de bancos e instituições governamentais, é importante frisar que não há garantia alguma contra eventuais perdas que possam ocorrer. A despeito da aparente confusão das autoridades acerca de como gerenciar e regulamentar as criptomoedas, sua popularidade não para de crescer. Isso torna provável que alguns governos enxerguem no médio prazo a necessidade e potencialidades dessa regulamentação. Com isso, o mapa regulatório do Bitcoin no mundo tende a ser extremamente dinâmico e se modificar ao longo dos próximos meses ou anos.
capítulo 30 O QUE PODEMOS ESPERAR? “Todo mundo aqui tem a sensação de que agora é um daqueles momentos em que estamos influenciando o futuro.” – STEVE JOBS Em um futuro previsível, muitos dos atuais métodos de pagamento continuarão a ser utilizados em todo o mundo. Cartões de crédito, cartões de débito e serviços de pagamento online − como Paypal − ainda serão extremamente populares. No entanto, as criptomoedas estão caindo rapidamente no gosto de consumidores, ao mesmo passo em que despertam interesse de empresas e a atenção dos governos. Talvez uma das principais barreiras ao seu pleno desenvolvimento, seja a regulação estatal, que se mostra cada dia mais urgente. Uma reação em cadeia com adesão crescente de novas empresas que hoje apenas observam à sombra, mas que comecem a se sentir obrigadas a aderir ao movimento para não perder concorrência, será essencial à sobrevivência do Bitcoin. Embora, à primeira vista, pareça haver uma oposição entre o dinheiro tradicional e a moeda digital, não se tratam de modelos mutuamente excludentes, mas sim complementares. Apesar de a estabilização do Bitcoin não parecer próxima e de não sabermos se, e quanto tempo ele sobreviverá, a tendência é que seja, ao mínimo, um importante complemento às moedas fiduciárias, ao reduzir os custos das operações e cortar distâncias. A adesão da moeda por agentes do mercado financeiro tradicional, como bolsas de valores, corretoras e grupos de investimento, pode injetar bilhões de novos dólares no seu marketcap. Digno de nota, a enorme capitalização já existente no mercado das criptomoedas − que ultrapassa meio trilhão de dólares −, torna cada vez menos provável que ele se dissolva.
Caso a base de usuários continue a crescer consideravelmente, a liquidez do Bitcoin poderá domar em parte a sua volatilidade, afastando especuladores e favorecendo usos mais racionais. Não podemos nos esquecer, ainda, que o próprio protocolo do Bitcoin deverá evoluir. Ele é o primeiro aplicativo escrito sobre a plataforma Blockchain, uma revolucionária tecnologia de criar, trocar informações e armazená-las sem qualquer intermediário. O Orkut foi transformador enquanto rede social, mas foi superado pelo Facebook. Outros aplicativos como ICQ, MySpace e MSN tiveram seus momentos de glória e foram fundamentais para catalisar os seus sucessores. Hoje temos Twitter, LinkedIn, Instagram, dentre outros tantos. BlackBerry e Nokia também inauguram uma época, e hoje cederam lugar a seus sucessores. Outras Altcoins poderão assumir o trono e fazer ainda melhor que o Bitcoin. É possível que a mais completa moeda digital sequer tenha sido inventada! Além da finalidade monetária, diversas outras aplicações à Blockchain inexoravelmente estão por serem lançadas. Seja como tecnologia de banco de dados, como facilitador de pagamentos, transferência de propriedades ou com algum uso que ainda não conhecemos, os fundamentos que deram origem à criptomoeda estarão seguramente presentes de diversas formas em nosso dia a dia. Talvez o principal legado de toda essa inovação seja a descentralização da confiança e da segurança digitais. Antes concentrados sob uma autoridade central, um ponto único e naturalmente vulnerável, parte-se agora para o compartilhamento ponto a ponto, transparente, público, distribuído e consensual. Representa mais do que uma simples quebra de paradigma técnico no intercâmbio de dados, traz uma ruptura na forma com que os indivíduos se relacionam entre si. Aos enaltecedores da liberdade, trata-se de uma inédita oportunidade na história mundial de o cidadão controlar seu próprio dinheiro, sem necessidade de um órgão central, deixando uma marca eterna de liberdade no mercado financeiro.
À época do advento da internet, não poderíamos ter previsto seus usos atuais em todos os aspectos da vida. Da mesma forma, o Bitcoin é uma tecnologia Blockchain em plena evolução, com enormes perspectivas, tanto para empresas quanto para indivíduos. Adicionalmente, o livre código da Blockchain favorecerá que mentes criativas aliadas ao capital de investidores em tecnologia, desenvolvam no mundo todo novos usos e aplicações com potencial de mudanças ainda inimagináveis. 63. MARQUES, D. Não tenha medo do fork, só existe um Bitcoin. Guia do Bitcoin, 16 out. 2017. Disponível em: <https://guiadobitcoin.com.br/nao-tenha-medo-do-fork-so-existe-um-bitcoin>. Acesso em: 21 nov. 2017. 64. O termo altcoin refere-se a qualquer criptomoeda que não o Bitcoin. 65. BLOG MERCADO BITCOIN. Bitcoin gold no mercado Bitcoin. 23 out. 2017. Disponível em: <https://blog.mercadobitcoin.com.br/bitcoin-gold-no-mercado-bitcoin-bd1e2a44040b>. Acesso em: 11 nov. 2017. 66. CAETANO, R. Learning Bitcoin: embrace the new world of fiance by leveraging the power of cryptocurrencies using Bitcoin and the Blockchain. Birmingham: Packt Pub, 2015. 67. Filho de mãe solteira, negro, nasceu bem antes dos movimentos de direitos civis – no qual se destacou Martin Luther King Jr. Williams tornou-se um dos economistas libertários mais brilhantes e influentes dos EUA. Segundo Richard Rahn, do The Washington Times, foi abençoado por ter uma mãe trabalhadora e que transmitiu princípios da educação e excelência a seu filho, apesar dos escassos recursos. Astuto o suficiente para agarrar oportunidades que outros deixaram ignorar, entendeu que o trabalho duro pode resultar em uma vida melhor. Além disso, nunca teve medo de modificar suas opiniões e tampouco de falar verdades ao poder, apesar das ameaças. Walter Williams é hoje professor honorário de economia da George Mason University, autor de mais de uma dezena de livros e mais de uma centena de publicações em notórios e respeitados periódicos acadêmicos. RAHN, R. A towering success story. The Washington Times, 20 dez 2010. Disponível em: <https://www.washingtontimes.com/news/2010/dec/20/a-towering-success-story>. Acesso em: 12 dez. 2017. 68. WILLIAMS, W. Poverty Is Easy to Explain. Foundation for Economic Education. 21 abr 2011. Disponível em: <https://fee.org/articles/poverty-is-easy-to-explain>. Acesso em: 12 dez. 2017. 69. DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Economistas céticos face à valorização da moeda virtual ‘bitcoin’. Diário de Notícias, 1º dez. 2017. Disponível em: <https://www.dn.pt/lusa/interior/economistas-ceticos-face-avalorizacao-da-moeda-virtual-bitcoin-8958129.html>. Acesso em: 6 dez 2017. 70. TILLIER, M. Is Bitcoin in bubble trouble? Nasdaq, 30 nov. 2017. Disponível em: <http://www.nasdaq.com/article/is-bitcoin-in-bubble-trouble-cm884905>. Acesso em: 18 dez. 2017. 71. LEE, T. B. The Bitcoin crash. Forbes, 7 ago. 2011. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/timothylee/2011/08/07/the-bitcoin-crash>. Acesso em: 1º dez. 2017. 72. WORTH, C. Amidst the crypto carnage, technician says now could be your best chance to buy bitcoin. CNBC, 22 dez. 2017. Disponível em: <https://www.cnbc.com/video/2017/12/22/amidst-the-cryptocarnage-technician-says-now-could-be-your-best-chance-to-buy-bitcoin.html>. Acesso em: 25 dez. 2017. [Adaptado]
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SOBRE O AUTOR
Eduardo H.K. Oliveira tem 31 anos, é médico formado pela Universidade de Brasília em 2009. Posteriormente, especializou-se em dermatologia e concluiu seus estudos em cirurgia e oncologia cutânea no Reino Unido. Também é ex-professor universitário, empresário, investidor e um verdadeiro entusiasta de tecnologia. É aficionado por soluções que proponham transformar a vida das pessoas. Despertado desde muito jovem para a educação financeira, também demonstrou engajamento no estudo de política, economia e empreendedorismo. Iniciou seus estudos em moedas virtuais em 2013 e, devido à crescente busca por novas informações sobre esse assunto, decidiu escrever esta obra com o intuito de compartilhar seus conhecimentos.
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