OLD is COOL

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old l o co is

nove m br o ’1 0

*

nú m er o ze ro

TiraAmos Poeira Pra

Você

* r$10 pratas

Vá de Vintasgdee Atitude e modismo quem ama o passado

Pedais de distorção

Entraram para a história do rock sem querer e se tornaram indispensáveis

Slashers ind

ústria da carnificina da década de 70 pulsa até hoje entre os cinéfilos




04

editorial

O tempo

é retrô É

da essência da humanidade só dar valor às coisa

s da vida quando elas já estão afastadas de nós, seja pelo decurso do temp o, pela distância ou até pela perda delas. É assim com a saúde e com dinheiro, que só ganham importância quando se está doente ou duro! Mas é assim também com aquele dia de verão na praia, em que tocava aque la música em todas as rádios, e que parece muito mais interessante dez anos depo is, ao ouvir a mesma melodia, do que quando o momento foi vivido intensamente. É assim que as pessoas passam a cultivar e cultua r coisas do passado: músicas, roupas, objetos e até memórias da infância, da adolescência ou da última estação. A nostalgia se consagra com o tempo. Mas, para algo se tornar retrô, não pode estar nem perto demais do hoje nem tão longe que fique velho. Deve – e ao mesmo tempo não pode – ser ultrapassado. É antigo e, às vezes, é novo de novo. A Old is Cool foi pensada para pessoas que não se dedicam a uma tribo, mas que consciente ou inconscientemente se reúne m em torno de um tema comum a todas elas: a arte e o comportamento que marc ou a sociedade em outras épocas. Nosso tempero é trazer para o leitor o reflexo desse passado na sociedade moderna. Vamos romper com a espiral histórica – a contraposição que se diz necessária à evolução –, criando uma ligação direta entre o presente e o passado. Nas próximas páginas, e nos próximos números, os leitores terão em mãos deliciosas reportagens e artigos que reúnem conce itos atemporais: o modo de ontem na moda de hoje. Boas recordações! As editoras



06

sumário

16 10 12 04 08 Dicas supimpas

Editorial

O tempo é retrô

Plunct Plact Zum

Novas velharias, por aqui e no mundo

22 Radiola

Como os pedais de distorção entraram para a história do rock sem querer

44

Moda bumerangue Chapéus, suspensórios e coletes nas passarelas masculinas

Rockabilly: tudo o que você precisa saber para curtir com os rockers

Estante

Quiz

Teste seus conhecimentos sobre o universo da música nos anos 70

HQs underground recheadas de escracho, pornografia e subversão

42 34 36 28

É tudo meu

Peter Pan

Telona

Filmes slashers, de pura carnificina, nunca foram para qualquer um

46 Lojinha do museu

Gadgets com a carinha de ontem e a tecnologia de hoje

Brinquedos inesquecíveis para quem a infância ainda não acabou

Eu vintage

O casal Vá de Vintage é retrô do amanhecer à hora de dormir

48 49 Fofoca retrô

O que os Novos Baianos aprontaram depois de Acabou Chorare

expediente

Essa publicação é um projeto experimental da Universidade Metodista de São Paulo Reitor Marcio de Moraes | Vice-reitor acadêmico Clovis Pinto de Castro | Diretor da Faculdade de Comunicação Paulo Rogério Tarsitano Coordenador do curso de Jornalismo Rodolfo Carlos Martino | Coordenadora dos projetos experimentais Verônica Patrícia Aravena Cortes | Orientador do projeto experimental Jorge Tarquini | conteúdo Alethéia Sudatti do Carmo, Cínthya Dávila e Patrícia Malta de Alencar | Colaborou nessa edição Ruy Castro | Projeto gráfico e direção de Arte Fernando Sciarra | Imagens Divulgação, banco de imagens e acervo pessoal | Impressão Ibep Gráfica. Proibida a reprodução parcial ou total sem prévia autorização.

Old que nao é cool

Ombreiras, boy bands, cigarrinhos da Pan e comerciais machistas

Mesinhas de centro nostálgicas trazem lembranças do cotidiano

Na minha época

Ruy Castro e a memória dos outros

cartas do leito r

Envie sugestões, críticas, dúvidas e elogios para oldiscool@ oldiscool.com.br



plunct plact zum

máximas

Tudo o que está bombando no universo da cultura retrô

Ferrugem no sangue Quem não se lembra da memorável cena do filme Bullitt (1968), com a perseguição de um Dodge Charger R/T pelo inconfundível Ford Mustang GT 390, com Steve McQueen na direção, pelas ladeiras de São Francisco? Não temos ladeiras como as americanas, mas é possível transformar seu carro em um possante de cinema. Em outras palavras, quem tem ferrugem no sangue já pode ter um Hot Rod na garagem. O preço da brincadeira varia de acordo com a emoção que o freguês procura. | Para saber mais: www.gsvtuning.com

Enquadro

Fashion

A Polícia Civil de São Paulo decidiu aderir ao visual re-

trô e voltará a ter viaturas com as cores branca e preta ou, como dizem os mais experientes, ônix e marfim. A instituição recebeu permissão do governo para voltar a usar as cores que ostentou durante 90 anos. Agora, sair por aí caminhando de madrugada com a mão no bolso e levar uma blitz pode ter até certo charme.

Meio

ova, Bossa N tana

Meio Paulis

São Paulo, Não é a maresia e o clima praiano que irão se instalar em Bossa mas a capital paulista ganhou uma filial da carioca Galeria antigos dos séculos XIX e XX, o local oferece Nova. Com um espaço charmoso cercado de móveis e objetos de grandes novidades para quem deseja adquirir música ambiente, atmosfera rica em detalhes e um museu nador e antiquário Fernando Barbosa, que insitens retrôs. O empreendimento é assinado pelo arquiteto, colecio 7 João Moura, 387 – Pinheiros – São Paulo (SP) – (11) 3876-177 talou seu negócio em um sobrado da década de 30. | Rua


08.09

Adaptaçoes de Sucesso

Ainda que o Woodstock não possa ser chamado de “coisa nossa” e nem o Sublime possa ser considerado o

Da

penteadeira da

Vovó

messias da surf music, o SWU Music & Arts Festival (Starts With You – Começa Com Você) veio para aumentar o

A marca carioca de cosméticos

time de eventos que apresentam soluções simples para um mundo melhor. De quebra, deu chance aos fãs do

gens padrão para dentro do ar-

rock californiano de matar as saudades da banda, que estourou no início da década de 90, e de cantar a uma

espírito luxuoso e retrô. Um dos

Granado mandou as embalamário e lançou a linha Pink, com destaques da coleção é a man-

só voz hits como Santeria e What I Got. Em 2010, o SWU foi realizado na Fazenda Maeda, em Itu, interior de São

teiga emoliente. Para melhorar,

Paulo. O movimento publicará, ainda neste ano, um relatório de sustentabilidade informando sobre os impactos

mente correta, confeccionada em papel reciclado. Além da

do evento. | Para saber mais: www.swu.com.br

a embalagem é ecologica-

manteiga emoliente também fazem parte da linha gel para os pés, sais de banho e esfoliantes corporais.

*

Navegar é

Possível

em viver um Cocotas e brotinhos que sempre sonharam um iate com sonho de uma noite de verão à beira de ny Deep já atmosfera retrô, no Mediterrâneo, com John desembolpodem ver seu delírio virar realidade. Basta na e o ator sar a bagatela de 130 mil dólares por sema garante o fretamento do arrojado iate batizado de Vajoliroja. No entanto, a única maneira de ver o galã em alto mar será em Piratas do Caribe. O comandante fica por conta do cliente.


dicas supimpas

“O psychobilly é o irmão malvado do nada santo rockabilly” QUal A DICA O rockabilly surgiu na década de 50 como uma mistura de rock’n’roll e country and western. O neologismo reúne os termos rock e hillbilly, que denominava, então, a música “caipira” norte-americana. Durante os anos 60, o ritmo perdeu a popularidade para o rock moderno dos Beatles, The Who, Rolling Stones, Animals e afins. Mas os anos 80 deram nova vida ao gênero. A juventude que ainda curtia rockabilly, mas também um som mais nervoso, pegou um pouco do punk e modificou o som e a temática daquele, criando o psychobilly. Em vez de falar sobre o verão, garotas, diversão e amor, passaram a discutir monstros, desilusões, tristezas e loucuras. Hoje se fala em subgêneros, como o powerpsycho, um psychobilly mais rápido, barulhento e pesado, e o psychoclassic, que retoma o original. Para quem já curte ou ficou curioso, rolam muitas festas temáticas, shows de bandas novas e tributos, bares segmentados e até lojas especializadas no figurino típico. De estilo musical a movimento urbano, para encontrar a turma basta procurar topetudos usando camisa “bowling”, calça jeans, sapatos creeper e a clássica jaqueta de couro de motociclista.

QUEM DÁ A DICA O editor de áudio e vídeo Yeis

da Silva de Lima é fanático por rockabilly desde criança, quando já ouvia Elvis Presley e assistia ao seriado americano Happy Days – produzido na década de 70, mas sobre os anos 50. Hoje cultiva amigos rockers e psychos em festas por todo o Brasil. Definindo-se como um cara “simplão”, sem grandes pretensões, Yeis imagina um dia abrir uma agência de turismo para excursionar mundo afora atrás de shows rockabilly e ensaia o slogan: “Quem quer ver o show do Stray Cats em Hamburgo?!”.


10.11

PARA DANÇAR The Clock Rock Bar. Bar especializado em rock anos 50 e 60, com decoração típica e shows ao vivo toda sexta, sábado e domingo. | Rua Turiassú, 806 www.theclock.com.br

PARA MARCAR NO CALENDÁRIO

Cidadão do Mundo Arte e Cultura. O

tradicional e antigo da cena

centro cultural promove shows e festas

psychobilly e rockabilly, atual-

com bandas rockabilly e psychobilly

mente na 16ª edição, organi-

da cena atual. | Rua Rio Grande do Sul, 73

zada pela Psychobilly Corpo-

– São Caetano do Sul (SP) – (11) 4225-1349 –

ration, sempre no segundo

www.cidadaodomundo.org.br

semestre do ano. | Curitiba (PR)

– Pompeia – São Paulo (SP) – (11) 3672-0845 –

Psycho Fest. Festival mais

– www.psychobillyfest.blogspot.com

Psycho Carnival. Também da Psychobilly Corporation, acontece sempre no primeiro

PARA CULTIVAR O VISUAL Barbearia 9 de Julho. Com clima anos 40 e 50, faz cortes à navalha. | Rua Augusta, 1.371, Lj. 105 – Centro – São Paulo (SP) – (11) 3283-0170 – www.barbearia9.com.br

Vilela Boots & Shoes. Para adquirir coturnos, creepers e outros pisantes da moda retrô. | Galeria do Rock – Avenida São João, 439 – São Paulo (SP) – (11) 3361-9315 – www.vilelaboots. com.br

Daddy-O’s. Site estrangeiro com roupas anos 50. | www.daddyos.com

PARA OUVIR NA VITROLA Elvis Presley, Buddy Holly, Johnny Cash, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Hillbilly Rawhide, Big Bad Voodoo Daddy, Stray Cats, Kães Vadius, Big Trep, Crazy Cavan ’n’ Rhythm Rockers, The Brian Setzer Orchestra, Bad Motors, Lady Cat e Seus Felinos Casanova, The Porres, Psycholatras, Coke Luxe,Sick Sick Sinners, The Meteors, Batmobile, Guana Batz, Crazy Legs, Alex Valenzi and The Hideaway Cats, Big Nitrons…

semestre do ano e já está na 11ª edição. | Curitiba (PR) – www.psychocarnival.com.br

Riobilly Festival. Na última edição, em julho deste ano, dois dias de festa reuniram 900 rockers em dois bares cariocas. A organização também promove festas menores ao longo do ano, como a Riobilly Party. | Rio de Janeiro (RJ) – www. riobilly.com

Pin Up’s Party – Baile Anos 50 e 60. O DJ Ivan Rocker promove diversas festas no ano com essa bandeira e ganhou credibilidade dos fãs. Uma delas é a DJ Rockabilly

Wild West Mercantile. Site estrangeiro

Party, que está na 9ª edição,

com roupas western. | www.wwmerc.com

PARA BEBER COM OS AMIGOS

com 9 horas de rockabilly tocando o set list do público. | São Paulo (SP) – www.fotolog.com.

PARA COMER COM ESTILO

American Graffiti Tattoo Rock

Memphis Burger. Para comer american bur-

Bar. Criado por um rockabilly e um

gers ao som anos 50 ao vivo. | Avenida Juscelino

“cabeludo”, como eles mesmos se

Kubitscheck, 181 – Itaim Bibi – São Paulo (SP) – (11)

denominam, reúne estúdio de tatuagem de dia e pub retrô à

3045-2451 – www.memphisburger.com.br

br/ivanrocker

noite. | Avenida Capitão João, 1.724 B – Vila Vitória – Mauá (SP) – (11) 7351-6364 – www.americangraffitibar.com.br

Aerolanche. Para saborear sanduíches de até 25 cm de altura, com trilha sonora

Garage Code Bar. Bar de motociclistas localizado dentro de um

rock’n’roll. | Rua Suíça, 617 – Parque das Nações –

lava-rápido e mecânica especializada. | Rua Ponta Delgada, 43 – Vila

Santo André (SP) – (11) 4976-3991

Olímpia – São Paulo (SP) – (11) 2495-1399 – www.garagecode.com.br

*


quiz

O que vocĂŞ sabe sobre o

universo musical

0 7 ? da dĂŠcada de


Uma das características dos anos 70 foi a ascensão de grandes estilos musicais. Qual importante movimento deu os seus primeiros

12.13

1

até hoje Qual memorável grupo de rock, que fãs, chegou possui um número incontável de 1970? ao fim no dia 31 de dezembro de

acordes nesse período? a) O rockabilly com Bill Haley e seus Cometas b) A lambada com o Grupo Kaoma

2

c) O reggae com The Wailers d) O grunge com o Nirvana e) O funk com o Bonde do Tigrão

Qual o nome do musical, lançado em 1975, que retrata a história de um garoto que ficou cego, surdo e mudo após presenciar o assassinato do pai?

Dentre as revelações musicais dos anos 70, uma delas merece um capítulo

a) High School Musical b) Evita c) Tommy

à parte, principalmente por destoar da grande maioria

A cantora Elis Regina teve um dos momentos mais

d) Saltimbancos e) Super Xuxa Contra o Baixo Astral

de grupos rebeldes que marcaram a década. Qual o nome desse grupo?

brilhantes da sua carreira no ano de 1975, com um show que até hoje é lembrado na história da MPB e que, mais tarde, virou disco homônimo. Qual o nome desse show?

O álbum De pé no chão, da cantora Beth Carvalho, lançado em 1978, contribuiu para a ascensão de um grupo de sam da time o por com bistas que ajudaram a batucada no Brasil. Que grupo é esse?

a) Dominó b) ABBA c) Patrulha do Samba d) As Marcianas e) Kiko Zambianchi

d) Yahoo e) Meia Soquete

a) Novos Baianos b) Beatles c) Menudos

4

a) Fundo de Quintal b) Inimigos da HP c) Raimundos d) Trem da Alegria e) Cartola

Resultados

6

a) Alta Rotatividade b) Emoções Sertanejas c) Eternamente Calipso

5

d) Falso Brilhante e) Nóis Capota mas Num Breca

1-c / 2-c / 3-b / 4-b / 5-a / 6-d

De 0 a 2 acertos

O ritmo dos anos 70 tocou e você não ouviu. Provavelmente estava rodopiando ouvindo um rockabilly e, na época do desbunde musical, você perdeu o compasso. Não se preocupe, sempre há tempo para se jogar nos embalos dessa década. Talvez você se sinta um pouco perdido com a variedade musical que marcou o período, mas quem consegue acompanhar o twist dos anos 50 ou a discoteca dos anos 80 sempre terá a chance de dançar no ritmo desbundado.

De 3 a 4 acertos

Você levou muito a sério aquela história dos anos 60 de sexo, drogas e rock’n’roll, declarou guerra à guerra e se rebelou contra a sociedade. No entanto, quando os anos 70 chegaram, você se embalou, mas não aguentou o ritmo e parou de dançar enquanto a festa estava apenas começando. Descanse, deixe a ressaca sessentista passar e retorne aos ritmos desbundados. Você já sabe o caminho, mas ainda precisa de um pouco de energia para acompanhar o som.

De 5 a 6 acertos

Sem sombra de dúvida, você viveu tudo o que pôde da variedade musical da década de 70 e ainda tem energia para contar as histórias que lembra. Reggae, gliter, punk, MPB, não importa o ritmo. Com o cromossomo do desbunde no DNA, você não é um dos órfãos de uma época que deixou saudades, mas sujeito de um passado não muito distante, que reverbera em alto e bom som até os dias de hoje.

*




estante

HQ d n u gro

r e d Un

e cha qu a e u q e t Tem gen rinhos d a u q em história supere d a is é só co década a d ir t par herói. A lguns a , m é r de 60, po ertente v a d s onista Qs não protag H s a d ndana mais mu isso... e t n e m ata eram ex ncar a de Ale TEXTO

Patrícia

Malt


d

16.17

F

ritz, the Cat era um gato bo-

compra. A partir dessa época, porém,

êmio e mulherengo. Os Freak

surge um mercado nacional, graças a

Brothers eram três irmãos à

um catequisador às avessas chama-

la Três Patetas. Alguns dos

do Carlos Zéfiro, que marcou a juven-

personagens mais conhecidos dos

tude brasileira com uma sessão pornô

quadrinhos underground – respectiva-

em HQ, introduzindo muitos garotos

mente dos norte-americanos Robert

ao universo adulto.

Crumb e Gilbert Shelton –, preenche-

Nessa mesma época, pós-Segun-

ram tirinhas de jornais e revistas com

da Guerra Mundial, o senador norte-

um humor ácido e sem pretensões

americano McCarthy, em meio a sua

morais. Do pornô ao escatológico,

histórica “caça às bruxas”, afetou

passando por política e zoofilia, o

profundamente a produção de HQ no

underground firmou-se como uma lite-

seu país com a imposição de um Co-

ratura marginal. Mas, para ser publi-

mics Code Authority, que, entre outras

cada e lida, teve que se virar sozinha.

disposições, vetava qualquer conte-

Com pequenas tiragens, rodadas em

údo de sexo ou violência nos quadri-

impressoras domésticas, e vendida de

nhos, numa tentativa leviana de prote-

mão em mão, garantiu seu espaço.

ger a “boa” pedagogia. Foi quando a

Hoje, grandes editoras investem em

literatura nos EUA ficou pasteurizada e

edições solenes.

careta, e, em consequência, a produção no Brasil estourou, já que a de-

A história do udigrudi.

Nos Esta-

dos Unidos, o lendário Robert Crumb sacudiu a juventude hippie no auge

manda estava criada, mas o material havia desaparecido. Foi quando Crumb e companhia

da expressão da contracultura com

publicaram a Zap e ofuscaram nova-

o lançamento da revista Zap Comix,

mente a produção nacional. “Nessa

em 1968 – o termo “comix” marcou o

época, quem apreciava, comprava

quadrinho underground em oposição

pronto [dos EUA], não criava”, lamen-

ao tradicional e comercial “comics”.

ta Gualberto Costa, idealizador do

Era o “verão do amor” em São Fran-

prêmio HQ Mix e proprietário da livraria

cisco, na Califórnia, e já no segundo

homônima. O quadrinho brasileiro só

exemplar reuniu grandes nomes inte-

seria produtivo e criativo

ressados em colaborar, como Gilbert

novamente com

Shelton, Rick Griffin, mais conhecido

a instauração

por trabalhos com a temática surf, e

do regime militar

Robert Williams, expoente da lowbrow

no País. Afinal, na

arte: o surrealismo pop das artes visuais, com referências underground. Sua influência foi massiva e cunhou o underground na linha do tempo das histórias em quadrinhos. No Brasil, antes da década de 50, importava-se todo tipo de material produzido nos Estados Unidos, pela boa qualidade e baixo custo de

Referência. Foi na Zap Comix, idealizada por Robert Crumb e que reuniu os melhores desenhistas das décadas de 60 e 70, que surgiram alguns dos personagens mais famosos do underground

Jornais e revistas preenchidos com humor acido e sem pretensoes morais


estante

Falar sobre as relacoes humanas com humor escatologico era mais prazeroso Vanguarda. Disco de Marisa Monte, Barulhinho Bom, foi uma homenagem póstuma a Carlos Zéfiro, que marcou a juventude brasileira com HQs pornográficas, conhecidas como “catecismos”

história da humanidade, a proibição

Chico e Paulo Caruso e até Angeli. O

lia, discutia, vendia a revista de mão

e a guerra sempre deram novo fôlego

grupo garantiu qualidade à publica-

em mão e fazia parte do movimento

às manifestações culturais. O quadri-

ção e incentivou novos trabalhos, mas

estudantil”, conta o veterano; mas teve

nista Marcatti, que nessa época ainda

a maioria seguiu carreira em áreas

uma vida curta, de 1976 a 1980. Fora

era apenas um adolescente, valoriza

correlatas, como a charge, o cartoon

do eixo Rio–São Paulo, também apa-

o movimento nacional, que ele prefere

e a ilustração.

receram publicações significativas,

chamar de independente: “Como o

Outras revistas apareceram na se-

como a Humor Sangrento, do Piauí;

estilo começou a ser relevante por

quência, como a Grilo, que, segundo

a Maturi, do Pará, que tinha como

aqui na ditadura, tinha uma conota-

Gualberto, pirateava as tiras america-

slogan ser “a menor revista under-

ção política, de contestação, e nesse

nas; O Bicho, que teve a maior tira-

ground do País”; a Casa de Tolerância,

sentido era até mais ousado do que o

gem; A Esperança do Porvir, que teve

do Paraná; entre outras que, de tão

produzido lá fora”.

até Evandro Mesquita, ex-Blitz, entre

underground, não se têm registro.

seus colaboradores; as contemporâ-

De norte a sul. Em 1972, no Brasil

neas Boca e Capa, uma vinculada à

Na calada da noite.

pós-Crumb, uma das primeiras publi-

FAAP e a outra, ao Mackenzie, sendo

década de 70, aos 15 anos, Mar-

cações que tiveram expressividade foi

essa a faculdade onde Gualberto es-

catti publicou sua primeira história,

a Balão, produzida pelos alunos da

tudava. “A Capa era formada por um

na revista Papagaio. Produzida com

ECA/USP. Por lá passaram cerca de

grupo de amigos que fazia tudo junto,

suporte do centro acadêmico do

60 profissionais, como Luiz Gê, Laerte,

como uma família: bebia, namorava,

colégio Equipe, de São Paulo (SP),

No final da


18.19

Reedição. Números 8 e 9 da revista Lôdo – um dos 40 títulos editados pela Pro-C –, publicados originalmente em 1986 e 1987, respectivamente, e reimpressos em edição comemorativa, em 2000

tinha entre seus criadores e colabora-

amigo acordava no meio da noite

Eu achava que tinha que passar uma

dores os Titãs Marcelo Fromer e Nando

para imprimir as revistas. Era 1981, e

mensagem. Mas um dia percebi que

Reis – nessa época, muitas revistas

de lá para cá a editora publicou mais

a gente não tem que ser messiânico

eram produzidas dentro de escolas e

de 40 títulos de quadrinhos, que são

nem dogmático, e sim fazer um regis-

universidades, por causa do alto custo

reeditados até hoje, mas agora sob

tro histórico do momento. Foi quando

da produção. Quando o quadrinista

demanda. A primeira revista impressa

comecei a falar sobre as relações hu-

começou a ver suas histórias publica-

na offset chamava-se Refugo, inspira-

manas e sexuais, mas com um humor

das com mais frequência, porém, o

da nas HQs comunitárias das escolas.

escatológico. E era bem mais praze-

mercado deu uma esfriada.

Mas Marcatti não conseguiu aglutinar

roso”. Frauzio é o único personagem

Ele teve que ter iniciativa para so-

um grupo e passou a se dedicar a

que criou durante sua carreira: “Quan-

breviver na área e, com o dinheiro de

revistas autorais e também de tercei-

do eu quero contar uma história com

uma herança recebida, investiu numa

ros, com uma tiragem média de 500

um político, o Frauzio é político; se

impressora offset. “Na época, essa má-

exemplares. Entre elas, Lôdo, Mijo, Sos-

quero um personagem gay, então

quina era de ponta; e pesava uns 100

laio, Creme de Milho com Bacon...

o Frauzio será gay”. E se surpreende

kg, era do tamanho de uma TV de 29

Com influência dos gibis da infân-

até hoje com o crescimento dele. “Eu

polegadas, de tubo”, lembra Marcatti,

cia, de Maurício de Souza e do guru

sempre ouvi autores dizerem isso, que

que tinha então 18 anos. “Eu coloquei

Gilbert Shelton, o autor se consolidou

o personagem ganhava vida própria,

ela no meu quarto e assim surgiu a

no estilo escrachado: “Meus quadri-

e achava uma besteira, mas eles ga-

editora Pro-C.” Segundo Gualberto, o

nhos eram muito conceituais no início.

nham mesmo!”


20

estante

Sempre ligado em referências cinematográficas, Marcatti se orgulha do prêmio de melhor roteiro que ganhou da HQ Mix com Mariposa, um livro de 80 páginas em que brinca com o tempo sem fazer uso de vícios recordatórios: “Sem ter que avisar: ‘agora é um flashback, viu leitor’”. Para ele, a narrativa é fundamental. “Eu sou quadrinista, não desenhista; se estiver com pressa, até faço uma imagem correndo, o que eu preciso mesmo é contar a história.” As longas HQs são uma marca do seu trabalho. Fazer uma tira, para ele, é como andar de bicicleta no banheiro: “Não tem espaço!”.

HQ indie. Foi nesse contexto que surgiu o quadrinho underground no mundo e no Brasil. Hoje, a história é diferente, existe espaço para quase

crumb!

A maior referência dos quadrinhos underground norte-americanos é o idealizador da Zap Comix, revista que oficializou o movimento, no final da década de 60, em plena expressão hippie. Foi na Zap que Crumb criou Mr. Natural, um ancião místico e natureba, sátira dos então populares gurus espirituais; e a tira Keep on Truckin’, que trazia quatro homens otimistas, sempre seguindo em frente, em cenários variados. Outros trabalhos renomados do herói underground incluem a capa do disco Cheap Thrills, de Janis Joplin; o personagem Fritz, the Cat, que por tornar-se tão popular foi morto pelo autor; e Gênesis, a versão católica da origem da vida em quadrinhos, lançada em 2009. Tão pudico, seu trabalho mais recente decepcionou alguns fãs. O desenhista, que tem como inspiração profissional o trabalho de Harvey Kurtzman, da revista Mad, é também colecionador de discos de vinil. Ele esteve no País em agosto deste ano para participar da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip (RJ), ao lado do amigo Gilbert Shelton.

qualquer tipo de conteúdo numa livraria ou banca de jornal. O paulistano Bruno D’Angelo, da nova geração, acha que todo quadrinho independente é underground: “Eu não sei dizer o que tem um, mas sei o que não tem: regras”. Ou seja, vale tudo o que o autor quiser. Nessa releitura, a oposição à guerra e a sexualidade escrachada dão lugar às discussões existenciais, ao niilismo e aos conflitos urbanos. “Mas se a editora absorve esse material, deixa de ser underground, não?”, questiona o próprio Bruno. Marcatti é ainda mais duro: “Se antes existia uma perseguição social, hoje existe perseguição econômica e editorial. Com o sucesso do Harry Potter, quem vai querer publicar o Marcatti?!”. Parece que sempre existirá espaço para a subversão.*



radiola

rock’n

z z u f

zia Pasteur, di já , o s a c a O s espíritos o a e c e r o v fa só oi assim preparados. F na; foi com a penicili pedais assim com os . Quando de distorção aumentar is u q a r le a g a e do tanto o volum e amplificador , todo ele distorceu u legal! mundo acho r Malta de Alenca TEXTO Patrícia


22.23

M

esmo quem não estava no rancho de Bethel, no interior de Nova York, pirando nas energias de

Woodstock, em 1969, recorda-se de imediato da melodia do hino nacional norte-americano tirado da guitarra distorcida de Jimi Hendrix. No mesmo show, Carlos Santana, Pete Townshend (The Who), Jerry Garcia (Grateful Dead) e muitos outros guitarristas abusaram do efeito distorcido, que, teoricamente, era uma imperfeição dos sistemas de amplificação. À medida que se aumentava o volume, o amplificador distorcia, por não conseguir reproduzir corretamente o som naquela intensidade. A princípio, isso era indesejável, pois transformava o som bonito da guitarra limpa em

os pedais permitiram fazer de forma controlada o que as vezes acontecia sem querer

uma massa dissonante e feia. Foi, en-

O primeiro pedal datado é de 1964. Já no ano seguinte, os Rolling Stones emplacaram Satisfaction e fizeram a distorção virar febre. Depois de quase 50 anos de criações, esse mercado cresceu e as opções viraram milhares, agora divididas em categorias, como distorção, reverberação, compressão, equalização, boost, etc. Eventualmente, surge um novo efeito, uma nova categoria e uma nova leva de pedais e tecnologias possíveis. Entre as opções que foram surgindo, destacaram-se a reverberação, eco ou delay, que podem ser facilmente percebidos nas músicas do U2, por exemplo. The Edge toca reverberando até três repetições por batida, então o som da sua guitarra parece múltiplo. Já o efeito da compressão limita a variação de volume da guitarra – no

tão, quando “os espíritos preparados”

Caixinha mágica.

decidiram, au contraire, explorar essa

distorção, portanto, é um interceptor

ajuda cada nota a soar uniforme, com

imperfeição.

entre a guitarra e o amplificador, que

intensidade semelhante, para dar a

gera distorção, normalmente pela

sensação de continuidade.

A transição de defeito para efeito

Um pedal de

caso de um dedilhado, o compressor

remonta à popularização da guitarra

saturação do transistor. Mas são vários

elétrica, que começou pelas mãos do

os efeitos que os pedais possibilitam

tes em frequências distintas: ressaltar

blueseiro Muddy Waters e se firmou

e, por isso, é usado mais de um ao

graves, cortar uma determinada

pelos acordes rock’n’roll de Chuck

mesmo tempo. Em geral, plugados em

frequência. Enquanto o boost faz basi-

Berry, Buddy Holly e turma. Mas para

guitarras e ainda em contrabaixos,

camente o mesmo que o equalizador,

fazer de propósito e de forma con-

mas pode-se brincar até com uma

mas sem discriminar as frequências:

trolada o que acontecia sem querer,

gaita, interceptando o instrumento e o

ele pode tanto aumentar o volume

foram criados os pedais de distorção.

microfone.

para destacar um solo de guitarra,

1923

É produzido o primeiro captador, que transforma a vibração das cordas de aço em sinais elétricos.

1931 Aparecem as primeiras guitarras havaianas elétricas: de braço longo e corpo redondo.

A equalização permite fazer ajus-

1941

Les Paul inventa a

primeira guitarra de corpo de madeira sólido, inspirada no violino maciço.


radiola Rock’n’roll. Na página anterior, o ícone Jimi Hendrix. Ao lado, Jimmy Page, no Festival de Glastonbury, em 1995

cido com o do amplificador distorcido”. Aquele som do rock anos 60 e 70, portanto, do fuzz, é uma categoria dentro dos pedais de distorção. “Expressões como ‘fuzz’ e ‘tonebender’ foram surgindo naturalmente; um fabricante usou, depois o outro quis pegar essa onda e a coisa foi indo”, explica Menegozzo. como aumentar a intensidade do

Fuzz.

sinal da guitarra para saturar um am-

pedais dos anos 60, chamados fuzz,

antiquado e muito selvagem, por ser

plificador mais facilmente – por essa

hoje não atendem aos que tentam

difícil de controlar. Mas para quem

segunda função ele é considerado o

imitar o amplificador distorcido na-

aprecia, é o caminho para reprodu-

“pai” dos pedais de distorção.

turalmente. Para Du Menegozzo, da

zir os timbres de guitarra daquele

O luthier brasileiro, ou, mais propria-

Curiosamente, os primeiros

Quem despreza o efeito o considera

brasileira Deep Trip Guitar Pedals, é

período. E ainda com certo charme

mente, pedal maker, Orlando Ferreira,

uma questão de evolução: “Quando

e identidade fortes, impossíveis de

que está à frente da Plan-9 Analog

toda guitarra era limpa, toda ‘sujeira’

ignorar: “Soam mais vivos, dão mais

Effects, é duro, porém, quanto à expec-

era parecida, né? À medida que se

personalidade ao som da guitarra”,

tativa que o equipamento oferece e

refinou a ideia e se diversificaram as

completa.

brinca: “Tudo depende de quem está

opções, percebeu-se que o som

Hoje são produzidos alguns am-

tocando!”.

do fuzz não era assim tão pare-

plificadores que vêm com diversos

1942 No Brasil, os músicos Dodô e Osmar, inventores dos trios elétricos de Carnaval da Bahia, criam a guitarra baiana.

1954

Leo Fender, depois de consolidar o braço não contínuo, lança a histórica Fender Stratocaster.

1958 Com formato arrojado, a Gibson Flying V levou mais de uma década para emplacar.


24.25

recursos embutidos. Mas as empre-

do por grandes guitarristas como

sas acabam optando pelos efeitos

David Gilmour (Pink Floyd) e John

mais genéricos, para agradar a um

Frusciante (Chili Peppers). Hoje em

público maior, então, no caso do

dia, esse pedal não está mais em

fuzz, o resultado não é o mesmo.

evidência.

Status. Como a moda é cíclica,

e outras bandas entraram na onda

Psicodelia artesanal. Os três modelos de fuzz da Deep Trip Guitar Pedals – Bog, Hellbender e Kriptone – incorporam o estilo musical e visual dos anos 60 e 70

Nos anos 80, The Police, Dire Straits porém, a popularidade dos pedais

da tecnologia digital nos amplifica-

é instável. Cada época tem um

dores e em algumas guitarras, o que

som. Cada som, um pedal. De vez

proporcionava um som mais puro.

em quando, a distorção é resgata-

“Mas para quem tem como referên-

da, com releituras das bandas que

cia os sons antigos, o digital, de tão

tocam nas rádios. Em tempos de

puro, fica asséptico, artificial. Transfor-

grunge, todo garoto queria um big

ma a brincadeira em matemática”,

muff (uma das subcategorias

alerta Menegozzo.

do fuzz), que já foi preferi-

1985

Sem a cabeça tradicional, aparece a Steinberger, construída em grafite e fibra de carbono.

O Nirvana, na década de 90, usa-

cada epoca tem um som. cada som, um pedal

2003 Com uma placa interna, a Line 6 Variax permite imitar o som de diversos modelos de guitarra, como Gibson e Fender, além de outros instrumentos.


26

radiola

playList va bastante o efeito. Mais recente-

embora com características bem

mente, uma onda de grupos como

diferentes, disponíveis só sob enco-

Strokes, White Stripes, The Hives e

menda.

companhia trouxe de volta um

A Plan-9 também investe neste

pouco disso para as hype lists, mas

resgate. Com a diferença de repro-

também já saíram de cena.

duzir pedais antigos, dos anos 50 e 60, utilizando componentes anti-

Trabalho artesanal.

Quem

gos, de fato. Para fazer as réplicas,

produzia pedais na década de 60

Ferreira enfrenta um pouco de difi-

eram as mesmas empresas que

culdade, pois algumas peças não

faziam instrumentos musicais ou

são nem sequer fabricadas mais:

empresas de eletrônica. Hoje, não

“Eu procuro o transistor na Santa

mais: existe um mercado próprio,

Ifigênia ou importo da Inglaterra

empresas que nasceram com essa

ou Alemanha. Mas eu tenho uma

finalidade. E a tendência é valorizar

perda de peças de 30% a 50%, que

as que se dedicam a um trabalho

acabam não servindo para o meu

artesanal.

produto”. Formado em História,

É o caso da Deep Trip, que pro-

com pós-graduações nas áreas de

duz cerca de 40 unidades por mês.

Filosofia e Sociologia, seu compro-

Localizada em São Paulo, a em-

misso é com a fidelidade histórica.

presa vende metade da produção

De linha, são cerca de dez pedais

para fora do País, principalmente

de distorção, principalmente de

para os Estados Unidos. Depois da

fuzz, mas ele está aberto para en-

graduação em Publicidade, Mene-

comendas específicas.

Para acompanhar a leitura, ouça a play list preparada pelo produtor do Trip FM*, Alexandre Potascheff!

Rocket 88 Ike Turner

Train Kept A-Rollin Johnny Burnette

Maybellene Chuck Berry

Born under a Bad Sign Albert King

Star Spangled Banner/ Purple Haze/solo (Medley) Jimi Hendrix

Soul Sacrifice Santana

White Room Cream

Good Times Bad Times

gozzo fez cursos de lutheria e ele-

O público deles, que paga

trônica para produzir pedais que

em torno de 400 reais por pedal

fizessem o som de antigamente,

– enquanto existem opções mais

porém com os recursos disponíveis

baratas e com mais recursos no

hoje, solucionando os problemas

mercado –, são músicos experien-

técnicos que existiam no passado.

tes: “Precisa passar por um calvário

Just Got Paid

A empresa já desenvolveu vários

para entender o que é qualidade

ZZ Top

protótipos, mas hoje comercializa

quando o assunto é pedal de dis-

apenas três pedais: todos de fuzz,

torção”, brinca Menegozzo.*

2005

É lançado o Guitar Hero, jogo para video game em que os competidores devem tocar clássicos do rock com uma guitarra de brinquedo que imita uma Gibson SG.

Led Zeppelin

Black Night Deep Purple

*Rádio Eldorado FM – 92,9 MHz, em SP

2010

A guitarra digital tem painel touchscreen no lugar das cordas e envia o som para os amplificadores por meio de cabos de rede.



telona

Gargantas cortadas, membros amputados, trilha sonora de gritos agonizantes e muito sangue escorrendo. Os filmes Slashers metem o pé na porta e mostram o que há de mais violento na sétima arte TEXTO Cínthya Dávila

Leatherface. Maníaco pronto para esquartejar uma de suas vítimas em O Massacre da Serra Elétrica


28.29

S

e nos anos 60 a intenção da indústria cultural era proliferar conceitos como

paz, amor, igualdade entre aos homens e repúdio à guerra arm in hine da, cantarolando Let the Suns s pelos campos ensolarados, os ano tes den 70 chegaram armados até os jae essa filosofia pacífica foi esquarte da e enterrada viva. Isso porque o cinema mostrava sem piedade, metáforas ou orçamen to, mas com muita criatividade, um novo estilo de fazer filmes de horror. Nascia naquela década um gênero

que tinha como única ideia matar, e de preferência inescrupulosamente sem pedir licença. Tranque portas e janelas, não

atenda o telefone e desconfie dos seus vizinhos. A partir de agora, você de entrará em contato com o que há o. mais assustador, nojento e desuman o com Mas todo mundo gosta e tem s referência cinematográfica: os filme coente slashers ou, como são vulgarm a”. nhecidos, “filmes de pura carnificin de Antagônicos às produções do terror psicológico, cuja atmosfera do a medo é sugerida e a temátic horror fica por conta da imaginação do espectador, os filmes slashers têm ir como principal característica exib

s de maneira exaltada, e muitas veze provocativa, pessoas morrendo. “Uma das características do gê-

nero é mostrar assassinatos em série percometidos por um psicopata, que segue e amedronta suas vítimas em uium local específico”, afirma o pesq sador e cinéfilo Leandro Caraça, de o São Paulo. Ele conta que locais com

nos, casas afastadas dos centros urba rcabanas, escolas e parques de dive são são os cenários mais propícios para esse tipo de filme.

Belos cadáveres.

Como todo

um psicopata que se preze precisa de ns alvo, ninguém melhor do que jove

atraentes com atributos de personificação do sonho americano para erserem os escolhidos. Já que as che leaders com feições angelicais e e os seios fartos aos 16 anos de idade fopre capitães de time de futebol sem a ram os queridinhos da América, nad melhor do que submeter pessoas es desse perfil a situações como cort e ras de membros, decapitações, tortu assassinatos a sangue frio. Segundo o pesquisador Vébis oaBatista, mostrar pessoas bem afeiç ra das em momentos de medo e tortu é uma ousadia estética. “Ninguém z estava acostumado a ver um rapa

bonitinho tendo o rosto pisado por uma pessoa feia e malvada. Costumamos acreditar que esse tipo de ções pessoa não passa por essas situa na vida, mas nos slashers isso é bem comum”, completa. No entanto, ele explica que mostrar pessoas sendo assassinadas de é maneira desumana e covarde não nos algo que surgiu inexplicavelmente a cad mar ada anos 70. “Foi uma déc o pelo desbunde, por catástrofes com rra o escândalo de Watergate e a Gue do Vietnã, que mostravam que algo to estava errado.” Para ele, o surgimen s dos slashers evidenciava muito mai o “Nã . série em do que assassinatos era uma avacalhação apenas para e transgredir, era o suor do desbund no cinema, como consequência da situação política do País.”

Assassinato do American Way of Life. Mais do que mostrar que

algo não cheirava bem, além dos cadáveres, na política social dos Esta dos Unidos, os filmes slashers também a tinham como intuito fazer uma crític

eà sociedade. O que pode ser perc es bido com a análise do enredo dess s as filmes. Como na maioria das veze vítimas são jovens atraentes, o mossi-

mento escolhido para que o assa


telona

Halloween. O psicopata Michael Myers aterrorizava a cidade de Haddonfield

no dê o bote nesses futuros cadáveres

no assassino era uma lembrança de

é justamente quando esses indivíduos

infância, de ter se afogado no lago

limitado, é preciso um planejamento

estão prestes a fazer “algo errado”

do acampamento em que passava

maior, uma certeza do que se quer e

para os padrões conservadores, como

férias, quando criança, enquanto os

saber fazer o que é necessário”, afir-

transar, usar drogas, dar uma festa en-

monitores desfrutavam dos prazeres

ma o artista plástico e cineasta Kapel

quanto trabalha de babá ou quando

da carne.

Furman. Era necessário fazer a lição

os pais não estão em casa. Outra característica marcante

“Quando se tem um orçamento

de casa e entender muito de cinema

Arquitetura da morte. Assim

para que o filme saísse bom.

é que, muitas vezes, os persongens

como a arte tem como conceito imi-

cometem esses assassinatos por vin-

tar a vida, o que faz dos filmes slashers

se faz um assassinato e, mais do

gança ou para sanar algum trauma

irresistíveis é que eles não só imitam,

que uma boa produção de efeitos

de infância. Os filmes de Jason são

mas dão closes e zooms na morte.

especiais, era necessário existir uma

um exemplo claro de que crianças

Vale lembrar que os anos 70 não

arquitetura da morte para que o

azaradas tornam-se adultos sanguiná-

contavam com tecnologias e recursos

espectador tivesse a impressão de

rios, pois sempre que o mascarado via

gráficos para compor a arquitetura da

que aquele fato era real. “Os efeitos

um casal tendo relações sexuais ele

morte dos slashers. Porém, ainda que

especiais são apenas o tempero. A

se enfurecia e arrancava gritos e ge-

não existissem as inovações high tech,

mistura de sons, fotografia e direção é

midos que não eram provenientes do

havia muita criatividade e esforço

que garante uma narrativa cinemato-

prazer, mas sim da dor e do sofrimento

manual para garantir a veracidade

gráfica”, conta.

das vítimas. O que despertava essa ira

das obras.

No entanto, não só de sangue

Em alguns casos, o rótulo tempero


30.31

Negão

Cheerleader

Ícones da vaidade americana, essas personagens dão o toque de beleza e sacanagem aos filmes slashers. Como na maioria das vezes são bonitas e burras, essas garotinhas saltitantes só servem para ficarem nuas, maltratar os outros jovens e estrear a cadeia de mortes que está por vir.

Capitão do time de futebol

Uma fusão de músculos e pseudocoragem, mas sem muita inteligência. Essas são algumas das características desses jovens que, na verdade, aparecem só para protagonizar as cenas de sacanagem com as cheerleaders. Depois que o assassino cansar de fatiar a gatinha, o grandalhão é o próximo.

Geralmente é o que imagina que algo de errado pode acontecer e, por isso, é o único que se opõe a passar a noite no parque de diversões ou ir naquela casa onde um grupo de jovens foi assassinado no último ano. Mas quem está interessado em pensar por si só nos filmes slashers? Obviamente ele vai e, como todo o resto do elenco, também morre.

Quase Herói

Ele não é o nerd, mas também não é o capitão do time de futebol. Apesar de parecer que não tem muita importância na escala de personagens ultracaracterizados, essa figura, na maioria das vezes é a que tenta salvar os companheiros custe o que custar. Às vezes paga com a própria vida, mas também pode se salvar.

Vítimas Carimbadas Os principais personagens dos filmes slashers

Nerd

É difícil entender o motivo que faz com que um nerd esteja no mesmo ambiente de uma cheerleader bonitona e de um atleta idiota, mas se não fosse essa ilustre figura da difamação social, os belos da história não teriam quem maltratar. E já que o menino franzino já não tem muita sorte na vida, não será em uma trama slasher que ele será alguém de destaque. Facada nele!

Psicopata

Heroína

Ela parece ser a única das mulheres dos filmes slashers que consegue realizar sinapse. No entanto, a maioria das pessoas não presta muita atenção nela no começo do filme. Além de inteligente, ela possui valores bem fundamentados e sobreviverá aos ataques do psicopata.

Responsável por tod as as emoções e morte s dos filmes slashers, o psicopata é caracter izado por personage ns que sofreram um tra uma irreversível em algum momento da infância ou adolescência e, ao invés de irem ao psicó logo, decidiram matar pessoas em série. Pa ra alguns, é um tremend o de um vilão, mas tem cadeira cativa no co ração de quem gosta de uma carnificina.


telona

Força. Laurie Strade consegue sobreviver em Halloween – A Noite do Terror

Heroínas

Fora dos Padrões

Ainda que grande parte do elenco de artistas dos slashers morra no

assassino e vira o jogo no final. Segundo a pesquisadora de

decorrer da trama, uma hora as

filmes de horror brasileiro Laura

opções de vítimas acabam e o

Cánape, essas personagens costu-

filme também. E, por incrível que

mam ter nomes unissex como Cris,

pareça, até nesse gênero cinema-

Taylor ou Billie e conquistam desta-

tográfico a máxima de que o bem

que ao longo do filme tornando-se

deve vencer está presente. No en-

mais agressivas e masculinizadas.

tanto, não pense que os cadáveres

“A marca dessas heroínas é fazer

executados voltam à vida como

um corte sem perfuração no psi-

se nada tivesse acontecido, pelo

copata. O símbolo faz alusão ao

contrário, na maioria das vezes os

órgão sexual feminvino e as armas

assassinos fazem tão bem o seu

utilizadas por essas mulheres

trabalho que o reconhecimento do

também possuem características

corpo torna-se impossível.

fálicas como facas, machados ou

Acontece que, assim como

motosserras.”

os assassinos possuem traumas

Esse tipo de personagem foi

e sofreram maus momentos na

nomeado como “Final Girl” pela crí-

infância, é comum existir no grupo-

tica de cinema Carol J. Clover em

alvo de adolescentes uma menina

seu livro Men, Women and Chain

introspectiva, virgem, inteligente e

Saws; Gender in the Modern Horror

com valores morais bem funda-

Film. A obra explica que para um

mentados, que parece não me-

filme slasher dar certo é preciso

recer muito destaque no filme. No

que uma mulher seja a heroína da

entanto, essa figura aparentemen-

trama, pois somente uma mulher

te inofensiva e vítima em potencial

tem potencial para ir do pânico ao

é quem dribla as armadilhas do

heroísmo sem se entregar.

Um estilo de fazer filmes que nao poupa ninguem da morte


32.33 Não importa se você está esquartejado, viu alguém na janela, seu carro não ultrapassa as barreiras metafó-

cinematográfica resultou em uma

pega, está recebendo ligações estra-

ricas e se apresenta no sentido

leva de filmes sem conteúdo, te-

nhas dizendo que você está marcado

literal. Prova disso é que é muito

mática, roteiro e qualidade. O que

para morrer. Você não pode deixar de

comum serem usados ingredien-

fazia com que os amantes de um

assistir nossa seleção de filmes slashers:

tes de cozinha nos filmes slashers.

bom cinema slasher desejassem a

“Já utilizei carne moída para fazer

morte ou “the end”, por favor.

tripas saindo da vítima e massa das minhas produções”, lembra o

Heróis feios, sujos e malvados. Já que a década do desbun-

artista plástico.

de mostrava que o sonho havia se

de pastel para fazer pele em uma

Em resumo, era preciso ter muita

O Massacre da Serra Elétrica 1973

perdido no espaço, por que não

esperteza, conhecimento de artes

abraçar e desfrutar do pesadelo?

plásticas e sangue quente corren-

No melhor estilo “desgraça pouca

do nas veias, para poder construir

é bobagem”, a receptividade do

uma temática de cenas de assassi-

público com esses filmes tem sido,

natos a sangue frio.

desde aquela época, mais de

Natal Negro 1974

amor do que de ódio.

Porrete velho é que faz vítima boa. É inegável que os

shers para extravasar, se divertir. É

avanços tecnológicos proporcio-

divertido sentir medo e levar sustos

nam grandes feitos para a huma-

sabendo que nada vai acontecer

nidade. Porém, quando o assunto

com você”, afirma Leandro Caraça.

é a qualidade de produção dos

Ele ressalta que existe uma identifi-

filmes slashers, esse tipo de recurso,

cação do público, principalmente

se não usado com cuidado, pode

adolescente, com os assassinos

acabar assassinando a licença

dos filmes slashers. “Os jovens se

poética do filme.

identificam com os monstros e

O motivo que faz com que a era

“As pessoas assistem aos sla-

adotam-no como ídolo, por ser

digital fique atrás dos arbustos das

um personagem que desestabiliza

produções slashers é o fato de que

tudo e foge dos padrões.”

o encanto desses filmes está justa-

Outro motivo, e talvez o mais

mente no trabalho minucioso e in-

óbvio, é que é divertido ver pessoas

tenso de maquiagem. “O trabalho

morrendo de forma desumana por

artesanal feito por maquiadores

razões aparentemente inexplicá-

proporcionava verossimilhança às

veis. Não importa se são os anos 70

cenas de filmes do gênero, fazen-

ou o período atual, os tempos mu-

do com que o público realmente

dam, a mentalidade das pessoas

achasse que aquela situação era

sofre alterações e a história recebe

real”, explica Leandro Caraça.

diferentes retoques e carcterísticas

Se nos anos 70 era preciso ter

Halloween - A Noite do Terror 1978

à medida que avançamos. No

criatividade e estômago forte para

entanto, sempre existirá uma ponta

fazer um filme de carnificina, os

de faca pronta para fazer mais

anos 90 só honraram o legado da

uma vítima, para fazer brilhar os

carnificina e enterraram a criativi-

olhos famintos por sangue. E que

dade. O desapego da qualidade

assim seja. *

Sexta-Feira 13 1980

Acampamento Sinistro 1983


peter pan

Alfredo Luiz Pessanha Manhães, de 46 anos, é professor e analista de sistemas. Ele começou a colecionar carrinhos em 2005 para seu Autorama, de 1976. Hoje, tem dois quartos para guardar os inúmeros itens, entre eles um conjunto alemão de soldadinhos de chumbo de 1890. O preferido, entretanto, é o MonteBras, um brinquedo que possibilita a montagem de diferentes objetos e formas. “Ele é especial TEXTO Alethéia Sudatti do Carmo

porque me lembra o Natal de

Brincando de

1969 com minha família. Nesse

lembrar

Quem não se lembra? Do Pogobol, Pense Bem, Genius, Falcon, Moranguinho, Lango Lango, Pega Vareta, Ferrorama... infância pode ter acabado

A

vezes fica guardado sem uso, mas

há pouco tempo ou há vá-

com muito cuidado.

dificilmente vai embora é a daquele

nostálgicos, colecionadores, curiosos

brinquedo que por algum motivo foi

ou simples simpatizantes podem se

o preferido, de estimação, que muitas

realizar na Galeria de Brinquedos An-

rios anos. Porém, se há uma lembrança dessa época que

Existe um lugar perfeito para a celebração desses sentimentos:

ano ganhamos o Monte-Bras e montamos um grande guindaste, enquanto minha mãe conversava com meus avós, ao nosso lado. Nossa família sempre foi muito unida e esse fato, em especial, ficou associado ao brinquedo.”


34.35

tigos. Instalada na Galeria

Caixa. Um grande diferencial para

Itapetininga, no Centro de

quem se interessa por brinquedos

São Paulo, tem vitrines e

antigos é a embalagem. Na vitrine

mais vitrines com raridades

de Marcelo, um simpático boneco

de diversas décadas. Algu-

do homem-aranha está lacrado na

mas delas são de Marcelo

caixa original, que data de 1977. “Se o

Patti, envolvido com brin-

brinquedo vem em boas condições,

quedos antigos há mais de

com a caixa e o manual originais, o

20 anos, quando começou

valor aumenta em até um terço, com-

a frequentar a tradicional

parado a quanto custaria sem eles”,

feirinha da Praça Benedito Calixto,

conta. Além da loja na galeria, os dois

O designer João Lima Júnior,

em Pinheiros, também em São Pau-

mantêm um site, outra forma que en-

38 anos, lamenta não ter

lo, conhecida principalmente pelas

contraram para mostrar seus produtos

guardado seus brinquedos

antiguidades.

e distribuí-los para todo o Brasil.

preferidos, mas simpatiza

Hoje, Marcelo é dono da loja Patti

com o retrô e lembra com

Toys, que possui um variado estoque

carinho de seu Espirotot, um

Os preferidos. Marcelo e Henrique

de brinquedos e ainda aceita enco-

vivem rodeados por tantos brinque-

conjunto de réguas para

mendas de itens raros e importados.

dos diferentes que nem sabem ao

desenhar, da década de 70,

Além da clientela fiel, sempre em

certo quantos são, mas cada um

que despertou sua habilida-

contato para saber das “novidades”,

tem o seu preferido, com uma história

de para essa arte bem cedo.

ele recebe pais querendo mostrar aos

para contar. Os dois compartilham

“Eu tinha de dois para três

filhos o que fazia parte da infância

a preferência por carros: o xodó de

anos e sempre parava para

deles, pessoas que não puderam ter

Marcelo é um Mustang vermelho da

ver esse brinquedo que

algo e que buscam depois de adul-

marca japonesa Bandai, presente da

ficava na vitrine, pois desde

tos, curiosos e muitos interessados nos

avó há 40 anos; já o amigo ganhou

pequeno eu sempre tive

coloridos jogos das décadas de 80 e

do padrinho um Ford Galaxie cinza,

vocação para desenhar.

90, como o famoso Genius, de quan-

bate e volta, da Estrela. “Eu sabia que

Quando ganhei o Espirotot,

do a tecnologia começava a dar as

já era muito caro na época em que

fiquei muito feliz, passava

caras na diversão das crianças.

meu padrinho comprou e gosta-

horas e horas desenhando com ele.”

O braço direito de Marcelo é Hen-

va muito dele, mas infelizmente, na

rique Purgailis, amigo que convidou

minha adolescência, deixei o carro

para transformar o hobby de mode-

de lado e nunca mais o vi.” Cheio de

lismo em profissão. Assim, Henrique

saudade, Henrique ainda guarda um

largou a carreira em consultoria de

cantinho para quando conseguir o

marketing e passou a customizar, per-

brinquedo de volta, e sabe que não

sonalizar e restaurar brinquedos, além

vai sair barato (é possível encontrá-lo

de comercializá-los com o amigo. O

em alguns sites – na caixa – por mais

trabalho é bem minucioso e leva tem-

de 3 mil reais).*

po, mas o resultado final é uma peça perfeita e exclusiva.

Para saber mais: www.pattitoys.com.br


eu vintage


36.37

Viva o Retrô TEXTO Alethéia Sudatti do Carmo

O que é retrô, afinal? O termo pode ser usado para designar objetos, moda, decoração, cultura em geral e, por que não dizer, também está presente no comportamento e nos hábitos das pessoas

H

oje, uma novidade dura

pouco. Os celulares mais bacanas são rapidamente trocados por novas versões

com mais funcionalidades, a TV de plasma, que há pouco era o que havia de mais moderno, já foi ultrapassada pela de LED – e logo será esquecida diante da tecnologia 3D. Por falar em 3D, o cinema também não é mais o mesmo: o que parecia ser sonho futurístico é bem real com óculos especiais e uma telona. A lista vai além de itens tecnológicos e alcança carros, eletrodomésticos, mobiliário, arquitetura...


eu vintage

Em meio a tantas coisas que em tão pouco tempo ficam datadas ou “fora de moda”, há muita gente na contramão, que busca no antigo a originalidade, e que agrega a cultura retrô a sua forma de vestir, de decorar a casa, de se divertir – e até mesmo de ver o mundo, encontrando beleza no que às vezes está escondido, mas presente no imaginário e que deu origem ao que temos hoje.

Para todas as idades. Gostar do retrô e incluir a cultura à personalidade e ao cotidiano não significa simplesmente ser saudosista, nostálgico e apreciar velharias. Nem é preciso ter muitos anos para se interessar pelo passado. Aliás, não ter vivido as décadas preferidas pode até dar a elas um quê de romantismo. Um casal jovem, nascido no final dos anos 80, por exemplo, poderia muito bem fazer apenas parte de

Embora a decada deles seja a de 90, os dois formam um simpatico casal com um toque vintage

peças novas com inspiração retrô ao lado de outras de brechós e algumas que já foram de sua mãe, avó e tias antes mesmo dela nascer. Óculos escuros e acessórios também estão na lista de achados que saíram empoeirados de armários alheios para o uso no dia a dia da garota, que guarda até hoje o primeiro vestido retrô, de bolinhas, de quando tinha 12 anos. Tiago também curte fuçar em brechós para compor o visual, mas sua paixão vintage é por refrigeradores antigos, aqueles arredondados, gorduchos e charmosos. Há cerca de seis anos ele começou a comprar peças, trocar o compressor, as borrachas, o termostato, o gás por outro menos prejudicial ao meio ambiente, e fazer nova pintura. Quando pronta, a geladeira é a mesma dos anos 50, 60, só que original, exclusiva e cheia de estilo.

uma geração antenada, cercada

Em casa também.

por modernidades e tecnologia

em eletrodomésticos, em casa, os

cada vez mais avançada. Mas não

móveis e objetos de decoração retrô

Thabata Guerra e Tiago DeCarli, que

também não podem faltar. “Eu gosto

compartilham a atração pelo que

bastante de móveis dos anos 70, bem

vem de décadas passadas e sabem

coloridos, e até com uma reforma

bem aproveitar o bom de hoje e de

que deixe mais novinho. O Tiago já

ontem. Embora a década deles seja

gosta mais de manter o objeto antigo

a de 90, os dois formam um simpático

na forma original, mais como era an-

casal com um toque vintage, o que

tes. Temos desde buffets com pés de

para ela significa dar importância

palito e cadeiras antigas até torradei-

ao passado e reconhecer valores

ras e muitos utensílios antigos.”

sentimentais em objetos, roupas e

E por falar

No momento, eles se divertem

acessórios antigos. “Tudo o que é an-

buscando apetrechos vintage para

tigo tem uma história, e é isso o que

rechear um apartamento compra-

buscamos.”

do pelo rapaz. Itens que remetem à

Thabata, que ganhou o nome por

infância do casal e outros bem mais

conta da personagem do seriado

antigos são escolhidos a dedo para

americano A Feiticeira, dos anos 60, se

fazer uma decoração descontraída

orgulha de ter em seu guarda-roupas

que reflita tudo isso. A reforma do


38.39

Semi novo. Fogões velhinhos também entram na brincadeira e ficam parecendo novos depois de passar pelas mãos do casal Eletrodomésticos. Além das reformas em refrigeradores, Thabata e Tiago renovam batedeiras e liquidificadores como o da página ao lado

lugar também não poderia fugir do

Negócios vintage.

estilo, por isso cemitérios de azule-

serem avessos às vantagens que

jos, brechós e ferros-velhos foram

a tecnologia pode oferecer, eles

muito visitados em busca de rarida-

se aliam a ela para falar sobre a

des, como ladrilhos artesanais e

temática retrô no blog Vá de Vintage

um par de pias de 1947 que, com

(www.vadevintage.wordpress.com).

aquelas cores usadas em louças

A página nasceu timidamente, há

da época, dão uma cara muito

pouco mais de um ano e meio, com

simpática aos banheiros.

o intuito de divulgar as reformas de

E quem acha que decoração

Longe de

geladeiras de Tiago e eventualmen-

vintage só se faz em antiquários e

te vendê-las sob encomenda, mas

brechós se engana, afinal, mistu-

ganhou público e tem hoje outro

radas às antiguidades originais

enfoque, falando sobre decoração,

estão peças novas em folha, mas

moda, hábitos, entretenimento, tudo

que obviamente acompanham e

relacionado ao retrô, com dicas e

sugerem o mesmo estilo das com-

achados, além de indicações de

panheiras.

sites nacionais e de outros países


eu vintage

que tratam do assunto. Para surpresa do casal, o blog fez sucesso. “Não imaginávamos

ganhou ainda mais espaço, virando

uma marca própria para produzir

um negócio rentável para a dupla.

geladeiras e adegas novas, mas

Cada reforma é feita de forma

inspiradas no design antigo que

a dimensão que ia tomar e isso

artesanal e demorada, e ao perce-

tanto faz sucesso, o que inclui cores

mostra que as pessoas sentem falta

ber que não daria mais conta de

e detalhes como puxadores e pra-

de mais informações sobre essa cul-

atender à grande demanda, Tiago,

teleiras. Com a convicção de que

tura.” Além do sucesso, aumentou a

que é publicitário, decidiu investir

antigamente as coisas eram mais

busca pelas geladeiras, e o vintage

na ideia de criar a Adélia Works,

duradouras e de melhor qualidade,

o vintage ganhou mais espaco, virando um negocio rentavel para a dupla

Trabalho sem stress. Os dois se divertem no meio das gorduchas, no galpão em que Tiago realiza as reformas Retrô com charme. Na página ao lado, Thabata faz pose de pin-up ao lado de uma das geladeiras renovadas


40.41

eles prometem trazer de volta tudo isso em seus produtos, com a vantagem de serem também ecologicamente corretos. Enquanto preparam tudo para o início das atividades da Adélia – nome emprestado daquele conhecido companheiro da geladeira, o pinguinzinho – eles vão de vintage, frequentando feirinhas de antiguidades, bares e lanchonetes temáticas, e revelam não ter uma década preferida. “Se pudéssemos fazer um tour de 1920 a 1960, seria ótimo!”

Adaptado ao dia a dia.

A

jornalista Chris Campos também é uma dessas pessoas ligadas no assunto. Com um site no ar há quase sete anos abordando o retorno de coisas legais do passado e novidades que têm isso como tendência, ela percebe um aumento do interesse pelo tema ultimamente, inclusive quanto aos lançamentos do mercado, que trazem de volta desenhos e linhas do tempo da vovó. “O que remete ao passado dá um certo conforto e as pessoas estão buscando isso”, explica ela. Sutilmente, ela também agrega elementos retrô à forma de se

antigamente que não faziam mal

lembram o passado, parece que

vestir, inspirada por vestidos bem

a ninguém. Pensando nisso, escre-

ser retrô está na moda, mas para

femininos, sapatinhos românticos e

veu o livro Almanaque das Festas

quem entende do assunto, como

maquiagem anos 60, “mas toman-

Instantâneas, uma compilação de

Thabata, não é só isso. “O retrô sem-

do cuidado para não ficar carica-

temas de festas, receitas e dicas

pre esteve na moda. É comum ver

ta”, como ela mesma alerta, até

de organização que incentiva o

pessoas com saias de cintura alta,

porque em pleno século XXI não

retorno do costume de receber em

bolsas Chanel, chapéu de feltro...

dá para viver como se vivia há 30,

casa, prática que parece estar um

Cada época sempre coloca um

40 anos.

pouco em desuso ultimamente.

item em alta. Acho isso importante,

Além do visual, Chris é a favor do resgate de alguns hábitos de

Com tantas novidades e lançamentos no mercado que re-

assim nunca esquecemos nossa história, a dos nossos pais e avós.”*


é tudo meu

Recordações em tamanho

real

Fotógrafo explora universo retrô e transforma embalagens em mesinhas de decoração descoladas TEXTO Cínthya Dávila

O

memorável seriado americano MacGyver mostrava as peripécias de um agente secreto

que utilizava itens não convencionais, como chiclete, clipe de papel e uma fita adesiva, para compor geringonças bem elaboradas como, por exemplo, uma bomba nuclear. Assim como o astro americano que transformava coisas simples em adereços de ostentação, o fotógrafo Felipe Reis descobriu, há quatro anos, que


42.43 peças simples, como uma caixa de

prima do trabalho

madeira, se bem trabalhadas, podem

fotógrafo ser

virar objetos de desejo e recordação.

composta por

Saudosista declarado e observador

de

objetos popula-

astuto, ele fundiu criatividade e nostal-

res e de baixo

gia e construiu mesinhas com temáti-

custo, suas me-

ca lúdica, tornando-se figura conheci-

sinhas não são

da no mundo do design e caçador de

encontradas em

lembranças de um tempo que deixou

qualquer padaria

saudades. “Sempre gostei de coisas

ou doceria. Por razões

de madeira. Um dia estava olhando

afetivas, Felipe prefere fazer

uma caixinha e vi que poderia virar

suas mesinhas por encomen-

uma mesinha de centro. Fui atrás das

da, através de um site, ao invés de

coisas menos óbvias e foi aí que tive a

disponibilizá-las nas lojas. “Gosto de

ideia”, lembra.

participar do processo de montagem

Logo em sua primeira grande

das mesinhas, talvez eu faça mais

criação, Felipe viu que podia brincar

pelo processo. Gosto de numerar mi-

com o fogo e achar a luz. Isso porque

nhas peças e saber para onde cada

sua estreia no ramo das mesinhas foi

uma delas vai”, explica.

inspirada em caixinhas de fósforo, al-

Outra razão que faz o fotógra-

cançando total verossimilhança com

fo preferir exclusividade não é tão

os itens originais: os fósforos Indiano,

afetiva, mas sim comercial. Segundo

Guarani e Queluz.

ele, disponibilizar as peças em lojas

Mais do que apenas ampliar e

faz com que o preço fique muito alto.

atribuir utilidade a ícones de consumo,

“Costumo vender as mesinhas por

a lâmpada na cabeça do fotógrafo

350 reais. Já houve mesas que foram

foi justamente trazer à tona de uma

vendidas por mil reais.”

forma inusitada elementos que faziam

Quando questionado sobre qual é

parte da vida das pessoas. E não de-

a peça mais procurada pelo público,

morou para que a produção de Felipe

Felipe responde com propriedade

aumentasse e ganhasse mais duas

que é a Paçoca Amor, que, segun-

peças. “Chiclete e paçoca são referên-

do ele, costuma ser útil não apenas

cias na vida das pessoas. Na minha in-

como decoração, mas também para

fância adorava carregar esses doces

consertar desajustes sentimentais.

no bolso, era muito divertido.”

Ele conta que uma vez recebeu uma

Ainda que doces e caixinhas de

encomenda de um rapaz que havia

fósforo vazias possam fazer alusão ao

feito uma grande besteira no relacio-

universo infantil, as mesinhas produ-

namento e precisava de alguma coi-

zidas por Felipe são mesmo brinca-

sa grande para simbolizar seu amor

deira de gente grande. “O tipo de

por sua companheira. Se foi grande

público que deseja adquirir as peças

o bastante, isso só o casal sabe, mas

costuma ser quem tem casa própria

Felipe garante que é suficiente para

e quer adquirir um item diferente, que

trazer boas lembranças.*

não costuma ser encontrado nas lojas”, afirma. Isso mesmo, apesar da matéria-

Para saber mais: http://blog.felipereis.com.br

Lembranças. As mesinhas brincam com a memória afetiva das pessoas


moda bumerangue

Nas passarelas de alta costura, antecipam-se as tendências retrô

Idas e vindas do mundo da moda

TEXTO Cínthya Dávila

S

egundo a sabedoria popular, “figurinha repetida não completa álbum”. Para os colecionadores, essa

máxima pode até ser verdade. No entanto, para quem gosta de estar antenado nas tendências da moda, não passa de uma profanação fashion. Isso porque itens que caíram no gosto e no desgosto das pessoas em décadas passadas, voltaram com toda a força para o guarda-roupa masculino, fazendo jus a outro ditado, que diz

que “quem esquece o passado corre o risco de revivê-lo”. Se você é do tipo de homem que costuma desdenhar do guarda-roupas dos seus parentes e toda vez que seu pai ou avô aparece com uma peça de roupa você se pergunta se aquele modelito saiu da era mezozóica ou pré-cambriana, saiba que, na verdade, esses looks são o que há de mais contemporâneo na industria têxtil. No entanto, ainda que o charme prevaleça, os anos passaram, os costumes mudaram e os signifi-

cados das roupas também. Sen do assim, o que antes era bre ga e nocivo aos olhos agora é coo l e pertence a quem gosta de estar bem vestido e descolado. “Algumas peças voltaram com um toque diferente, podemos chamar isso de releitura. Oco rre a mudança porque as peças significam um reflexo do tempo em que a sociedade vive”, afirma a personal stylist Natália Nunes, de Curitiba.


44.45

algumas peças que merecem ser tiradas do baú

Suspensórios

Coletes

Traumático para quem era jovem, porém necessário

Se antigamente os coletes serviam apenas para serem

estão os chapéus. Componente importante do modeli-

para os mais conservadores, os suspensórios costuma-

colocados juntos com os ternos e não tinham muita

vam ser muito utilizados na década de 50, quando

to dominical, eles se tornaram itens indispensáveis

representatividade no vestuário masculino, atualmente

a calça de alfaiataria era moda entre os homens,

entre homens descolados e moderninhos – dando um toque elegante ao look dos

eles são capazes de incrementar qualquer jeans e ca-

além de ajudar a compor o figurino das inconfundíveis

miseta branca. Natália conta que eles não chegaram

roupas de missa. Com o passar dos anos, eles foram

a sair completamente de moda, mas que atualmente

banalizados e abolidos dos guarda-roupas. Porém, o

são peças obrigatórias no vestuário masculino.

Chapéus

Um pouco menos odiados, mas também esquecidos

adeptos da filosofia “I wanna be a gangster” (eu quero ser um gangster). “Os chapéus podem ser um diferencial

caráter cíclico da moda fez

poderoso no guarda-roupa masculino, proporcionando um look elegante, mas sem

acessório. “Além dos suspensórios terem voltado, a moda

excessos. São bem-vindos em qualquer estação”, afir-

está cada vez mais livre. Esse tipo de peça pode ser

ma a personal stylist.

usado com camisas sociais, dando um ar mais despo-

*

sua parte e trouxe à tona o

jado ao visual, mas não existem muitas regras para eles”, explica.

As oscilações da indústria têxtil mostram que nenhuma peça pode ser totalmente descartada. Não se espante se em alguma estação o visual cavalaria estiver em alta.


lojinha do museu

Tecnologia

retro

46.47

Pode parecer contraditório, mas esses gadgets têm novidades tecnológicas fresquinhas em um visual antigo cheio de originalidade

iRetrofone Classic

lefone de er o design de um “te Tem um iPhone mas qu necte ia está a seu favor. Co disco”? Toda a tecnolog fone passado com o iRetro o iPhone e relembre o Etsy [www.etsy.com] Classic. US$195.00 na

Hub7

Sabe a fita cassete? Aquela que já está e virando raridade? Ela não foi esquecida o formato antigo ganha nova função: um hub! Para conectar pendrives, celulares, nas câmera digital e o que mais for preciso quatro portas USB 2.0 com um ar retrô. US$ 22.95 na Vat19 [www.vat19.com]


lego

vinilx

Estilo não vai faltar

quando esse toca-discos for ligado. O modelo Autorama da Crosley lembra os carros da década

estilo a Cheia de m para caixa de so to 3 vira obje Ipod e mp ato rm ção em fo de decora 259,00 no e Lego. R$ de peça d io.com.br] ww.pontofr [w io Fr to Pon

de 50, mas a tecnologia dele é atual, afinal, além de discos de vinil, o aparelho toca também CD e tem entradas USB e para cartão SD. R$1.480,00 na Cutler Presentes [www.cutlerpresentes.com.br]

Cheese!

emulator o game antiguiCom cara de controle de vide as vezes do nho, o Retro Game Emulator faz eles jogos PSP ou do Nintendo DSi para aqu . É um Pocket, nostálgicos como Sonic, Mario.. e ainda aceita que vem com 4GB de memória s de NES, SNES, micro SD para armazenar jogo esis e Neo Geo. Game Boy Advance, Sega Gen w.thinkgeek.com] US$99.99, na Think Geek [ww

Cheia de te cnologia, a Lumix DMCLX3PL-K Prem ium, Panaso n ic , grava vídeo em alta defi s nição, tem 10 .1 m egapixels de resolução, vi sor de 3’’, co ntroles manu foco, e outra ais de s característic a s q u e agradam profissionais e amadores. Para fugir do design é retrô óbvio, o com muito ch a rm e. R $ 2.699.00 no Compra facil [www. comprafacil.c om.br]

*


48

fofoca retrô

Eles misturaram ritmos

e inovaram a música, marcando o. O segundo época nos anos 70 e fazendo história também pelo seu comportamento alternativ lançado, o maior áldisco dos Novos Baianos, Acabou Chorare, foi eleito, mais de 30 anos depois de e vindas, reuniões bum de música brasileira de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Entre idas Novos Baianos? e desacordos, eles não serão esquecidos tão cedo, mas como andam aqueles

Baby do Brasil A ex-Baby Consuelo – ou simplesmente Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade – saiu de Niterói (RJ), para uma viagem até Salvador (BA), aos 17 anos e nunca mais foi a mesma. Lá conheceu os então futuros Novos Baianos, ao lado de quem viveu por dez anos. Depois, ela seguiu em carreira solo e ainda

conseguiu surpreender agronomia não foi retoa todos ao se tornar mada e ele segue na pastora evangélica em música, cantando Novos 2003 e fundar a igreja Baianos em um DVD Ministério do Espirito lançado recentemente. Santo de Deus em nome Pepeu Gomes. Já de Jesus. Paulinho foi considerado um dos Boca de Cantor dez melhores guitarristas era engenheiro agrôno- do mundo, e chegou a mo formado quando dizer que Dave Mustaine, decidiu largar tudo e vocalista da banda de virar hippie ao lado do trash metal Megadeth, grupo. Apesar da seo convidou a substituir paração, a carreira em o então guitarrista Marty

Friedman. Segundo ele, não aceitou por motivos pessoais e também por preferir morar no Brasil. Luiz Galvão. Se depender dele, o grupo não será esquecido mesmo, já que atualmente trabalha em um roteiro de um filme de ficção inspirado nos Novos Baianos.

Moraes Moreira. Ao lado do filho Davi,

lançou no ano passado um CD cheio de Novos Baianos e também de boa parte de sua carreira solo, iniciada em 1975, quando deixou o grupo. Embora vez ou outra participasse de reencontros com a banda, o último carnaval na Bahia foi palco de um desentendimento entre eles e agora só mantém contato com Pepeu.

*


49

old que não é cool

Boy bands

Ombreiras

Marcou os anos 80, dando poder às mulheres, que ficavam com ombros enormes, pontudos, quadrados ou fofinhos – com

A história começa bem,

aquela almofadinha que todo mundo arrancou fora quando a moda passou. A silhueta geométrica e futurista persiste e

em 70. Na década seguin-

com os Jackson 5, na década de 60, e os Bee Gees, te, já era tempo de Menudos, Polegar e New Kids on the Block. A partir de 1990, a “fórmula

vez por outra volta à cena. A ex-Spice Girl Victoria Beckham não deixa nenhuma das suas no armário. Pior, só quem inviste em

mágica” lançou toda a sorte de iniciativas:

dragonas nada sutis, a la Michael Jack-

cantando e dançando, com roupa igual ou

son, para adornar a peça.

personagens estereotipados, sendo alguns

dos Backstreet Boys aos irmãos Hanson. Para montar a sua, é só seguir a receita: meninos

irmãos, um ou outro homossexual e um realmente bom músico, que seguirá carreira solo.

Comerciais machistas Mulheres seminuas sensualizando cervejas estupidamente geladas? Não. Esses também são machistas, mas ainda não ficaram retrôs. Falamos daqueles em que a mulher era sempre submissa, às vezes uma tapada, que sonhava com eletrodomésticos. Uma pérola da Volkswagen para o Fusca resume chamadas que já foram populares. O anúncio vendia o baixo custo do conserto do carro assim: “Mais cedo ou mais tarde sua esposa vai dirigir. (...) Isso pode deixar você furioso, mas não vai deixar você pobre”!

Cigarrinhos da Pan Nem a dupla de garotos-propagandas politicamente correta – um branco e um negro – salva. Lançado em 1959, houve quem especulasse que o doce era uma estratégia de marketing da indústria tabagista, mas foi só uma grande sacada comercial que se valia do hábito das crianças de imitar os adultos. Com a repulsão maciça da sociedade, em 1996 os “cigarrinhos” viraram “rolinhos”, mas o novo nome não pegou e os pequenos continuam “pitando” o chocolate.

*


50

na minha época

A memória dos outros Enquanto o velho Al –Al Zheimer,você sabe – não vem

Alguns de meus livros de reconstituição histórica como Chega de saudade (1990, sobre a Bossa Nova), Ela é carioca (1999, sobre Ipanema) e Carnaval no fogo (2003, sobre o Rio), chamaram atenção em seus lançamentos pela quantidade de informações que continham. Mesmo assim, não faltaram alguns que, ao me encontrar na rua, paravam para dizer: “Você se esqueceu da Fulaninha no Chega de saudade. Ela já cantava O pato antes do João Gilberto!”. Ou: “Você não se lembrou da confeitaria Assim Assado, que ficava na Visconde de Pirajá, esquina com a Farme, no Ela é carioca. Tinha um papo-de-anjo de fazer chorar!”. Ou: “Você deixou de falar nas charretes puxadas a bode no Jardim de Alah, no Carnaval no fogo. Eu fazia bilu-bilu no cavanhaque do bode!”. Por esses discursos, supõe-se

lembrava mais disso!”. Mas, se o leitor sente falta de alguma coisa, acusa, condescendente: “Tudo bem, você não podia saber. Nem era nascido no tempo em que os rapazes do Clube dos Cafajestes namoravam em primeira mão [ou seja, comiam] todas as meninas bonitas do Rio”. Como convencê-los de que não faço livros com minha memória – mas com a memória dos outros? Se não fosse assim, como eu poderia me “lembrar” de coisas que, em grande maioria, aconteceram antes de eu nascer ou, pelo menos, de nascer para a vida prática? Livros como os citados e também biografias como O anjo pornográfico (1992, sobre Nelson Rodrigues), Estrela solitária (1995, sobre Garrincha) e Carmen – Uma biografia (2005, sobre Carmen Miranda) só puderam ser feitos porque de 150 a 200 pessoas foram ouvidas em cada um, muitas delas mais de

que os escritores tiram da própria memória os livros que visam

uma vez (ou mais de 30 vezes),

reconstituir um espaço ou uma época de uma cidade e quem

por livro. Para serem feitos, o autor

viveu neles. Se o leitor gosta do livro, elogia: “Puxa, mas você tem uma memória, hein? Como foi se

num total de quase mil entrevistas deve buscar no fundo de arquivos, armários e gavetas e, principalmente, no fundo da memória das pessoas (pessoas que conhece-

lembrar de que faziam sardinhadas à beira-mar no Arpoador em 1930?

ram, conviveram ou trabalharam

Nem minha avó, que estava lá, se

com o biografado; se também o namoraram, amaram ou odiaram,

por

RUY CASTRO

melhor ainda). Com seu arsenal de informações, ele pode definir com grande margem de acerto se aquilo que está ouvindo corresponde à verdade ou se é uma fantasia, bem ou mal intencionada. Pode acontecer, por exemplo, de a história estar absolutamente certa – exceto pela data, pelo cenário e pelo personagem. E tudo bem, porque não se pode exigir de uma fonte que, ao nos dar uma informação fresca e preciosa sobre o herói, saiba também situá-la com exatidão em termos de dia, mês e ano, ou, às vezes, década. O que você diria se aquela linda e famosa atriz da televisão – grande atriz, também –, viesse se queixar com você: “Puxa, Ruy, que sujeira. Você não se lembrou de me incluir no Ela é carioca. Nasci em Ipanema, passei a vida em Ipanema e até hoje moro em Ipanema. Por que não estou no seu livro?”. A resposta verdadeira seria cruel demais: “Porque conversei com quase 200 pessoas para fazer este livro e nenhuma se lembrou de você”. O jeito é assumir a culpa e uma caduquice precoce: “Xi, querida! É o velho Al, que já está chegando. O Al Zheimer, você sabe”. RUY CASTRO, se não lhe falha a memória, é escritor.




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