ficha fichatécnica técnica Capa: fotografia de Rodrigo Miragaia Email: fstopzine@gmail.com Website: http://issuu.com/fstopzine Facebook: https://www.facebook.com/ fstopzine Todas as fotografias e texto são da autoria dos respectivos autores e não podem ser usados sem a sua permissão.
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bruno miguel castro
patr铆cia ricardo
jo茫o mascarenhas
pedro ivan // pics of you
Rodrigo Miragaia
editorial editorial As linhas arquitecturais e geométricas de MOTIEF, as memórias de viagem de Bruno Miguel Castro, a cor tóxica dos diários visuais de Patrícia Ricardo, a irreverência da juventude de João Mascarenhas, o nu humanizador de Pedro Ivan e a poluição visual de Rodrigo Miragaia – são provas da complexidade e versatilidade da fotografia; conceitos antigos e esquecidos num mundo modernizado em que o imediato e o impacto social da selfie parecem destorcer a razão de existência e a importância desta arte.
MOTIEF MOTIEF vive em Lisboa e tenta encontrar o seu lugar por entre várias áreas artísticas. cargocollective.com/motief facebook.com/motiefofficial
Mais do que visual, o ambiente é preenchido por uma estética humana com a qual nos confrontamos diariamente. Ainda assim, ao inundar o nosso campo de visão, esta antropomorfose escapa ao nosso escrutínio e pensamento. Este trabalho foca-se na arquitectura e seus detalhes, jogando com a relação entre diferentes elementos e a sua (de)composição.
bruno miguel castro Nasceu em Lisboa, 1979. Estudou Comunicação, mas desde 2012 que se dedica à gestão de projectos de internacionalização. O analógico veio depois do digital, num percurso do limpo para o sujo, do novo para o moderno. O seu percurso fotográfico está ligado ao Movimento de Expressão Fotográfica, com quem colabora de forma permanente, e nos últimos anos tem-se dedicado a uma abordagem documental, à procura de caminho. Distribui o olhar por projectos tanto em Portugal como algures fora de fronteiras, num movimento que se quer tanto fluido quanto sujeito às paragens que a vida impõe. http://bmdcastro.wix.com/ animatografo
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é um projecto de fundo, de registo ficcional da Viagem. Nos últimos anos percorri milhares de quilómetros por dezenas de países, usualmente sozinho, em missão de observação do quotidiano de quem está, cidade após cidade, hotéis que se sucedem, corredores alongados ao início da noite. As imagens construídas, que serão absorvidas por outras ao longo do tempo, tentam olhar para o que os espaços foram ou podem ainda ser, um documentarismo de viagem ficcional de quem imagina quem se sentou na cadeira à entrada do quarto.
Travel spaces #1 Hamburg 1976. The thoughts surfaced at the same speed they were spit and jetted out, like wandering clouds. I cannot pack, but about that, too, I cared increasingly less. Instead of packing I kept buying new suitcases in all different sizes. Hopelessly sobered I stored the suitcases in each other like Matryoshka dolls and departed. At every border, suffering from strong feelings of loss, I left a suitcase at customs.
Travel Spaces #2 Stockholm, 1984. You know that warmth is a substantive feeling, going after your gums every other morning. The idea is not to overcome loneliness, but then again your hair turns grey in the summer, overlooking the passage of time by children that used to know you. Buy a pack of cigarettes, why don’t you. Even if only to throw at swans on the corner of the old town, aggressively. You know the next trip is as empty as a full cup. And then another one. By November all lights have faded, and the option is to stare.
Travel Spaces #3 Rome, 1972. Stop your rapid eye movement. Yes, the heat overcomes and all nights are the rumor of lost causes, even if only at a glance. An african women passes by. You should address only the landscapes that truly deserve dreaming of, as if the other suitcases give away books of foreign kingdoms. How graphic is January on the Tevere?
Travel spaces #4 Poland, 1949. Everybody knows I smoke enough for a couple of cats to have their territory controlled. Childhood wasn’t more than locked windows, and all blankets just assured that summer would arrive on any given year, questioning the village on their efforts, or possibly looking in aw at young girls that have no other book. You should mesure cups the same way. Forget the stripes in the memory of your family.
Travel spaces #5 Helsinki, 2003. Mask the light, if you will. Somebody may acuse the intimate landscape of having a view on the other side of the street, but the truth cannot be broken. Yes, the mornings are having a bad month and even when the snow awakes the ducks from their latitude above the peer, all fires, numb or plastic, are a reality taken for chocolate. Old images fill your anxieties of food.
Travel spaces #6 Shanghai, 2030. Shoot. The light is no obstacle for your drama, and all birds dead past century are waiting for your wave, religious type. Wake up. Sleep in the shower. Close the lights. Feel up.
Travel Spaces #7 Mumbai, 1965. Yes, it is true that all men are moved by the cheer value of smell, when the youngsters are no more than potencial criminals. Even so, take the curtains up to the utopia of a harsh light. Always regret all the images you lost over your sleep.
Travel Spaces #8 Ahmedabad, 2013. Between sea and the surface of dust, the dead man travels without thinking of the hours.
Travel Spaces #9 Beira, 1979. All the air is a permanente cauldron, here or in the permanent sensation of traveling.
patrícia ricardo Nasci em 1986 no Alentejo, mudei-me para o Ribatejo e cresci com uma vontade indómita de ser Jacques-Yves Cousteau, acabando por me licenciar em Biologia Marinha. Hoje vivo entre um rio e um mar e confesso que, apesar de não me vestir de gaivota todos os dias, sou muito feliz. A fotografia apareceu ainda na adolescência e cresceu daí. Reservada e envergonhada colocava tudo em imagens, e de forma espontânea e autodidacta, aprendi a fotografar. Hoje, já sem vergonha, admito que a fotografia me preenche todos os espaços (vazios). Alio, em
alguns dos meus projectos, a escrita à fotografia; se um dia me perguntarem qual é a vertente fotográfica em que se insere o meu trabalho irei apenas explicar que depende sempre daquilo sobre o qual me apetece conversar. E é isso, não existe uma temática concreta onde, efectivamente, a minha fotografia se possa inserir. Ainda assim, atrevo-me a dizer que os diários visuais são aquilo que mais me preenche não fossem eles grande parte de mim e dos meus. http://patriciaisabelricardo.com/
Estas fotografias pertencem à segunda viagem pela Turquia e são, no fundo, um diário de bordo. Fiz esta viagem em Dezembro de 2013 e, tal como no ano anterior, passei o ano neste país e voltei no primeiro dia do ano seguinte. Sensação incrível. Não tenho como descrever isto e na verdade falta-me sempre o dom da palavra para conseguir traduzir as imagens que trago gravadas no filme e na memória. É o patriotismo que se entranha no ar, o quotidiano que se entranha na pele e a convivência que se entranha em nós, evidentemente. A língua deixa de ser um entrave
e só queremos que, de uma forma ou de outra, não se esqueçam do quão gostámos que se cruzassem connosco naquele passeio ou naquela rua. Nós, com tanta saudade, não vos esquecemos. De repente, os cânticos e as orações de um dos templos daquele sítio através das colunas instaladas numa qualquer esquina atravessada. E arrepia-se a pele, vem o sorriso de dentro e sente-se, indubitavelmente, toda beleza de tudo aquilo em que podíamos acreditar. E vive-se profundamente.
“Ainda faltavam 2 dias para abalarmos e já sentia necessidade de escrever alguma coisa sobre isto. Não escrevi. Sabia que ia ser especial mas só depois de ver as imagens, um mês depois, é que consegui perceber o quão. O poder das gaivotas é impressionante e o vento bate-nos na cara com força. A senhora das camisolas, o rapaz da comida, a estação de comboios, as mãos frias, o coração quente, os pássaros; o cemitério em frente ao hotel onde fomos tão
bem recebidos, os chás típicos seguidos de todas as refeições, as longas caminhadas pelas ruas compridas e atarefadas, a cidade europeia que geograficamente está também em território asiático. Acreditem em mim: teria muito prazer em contar-vos por palavras mas prefiro fazê-lo através destas imagens. São muitas, é verdade, mas são sinceras. Peito cheio.”
joão mascarenhas Algarvio de gema, nascido em 1982, vive entre o Olhão e Lisboa. Licenciado em Professor de Educação Visual, encontra-se desempregado como muitos dos professores em Portugal. E foi numa situação de desemprego que transformou a fotografia numa profissão onde inicialmente seria apenas um hobby. Dedicou-se à fotografia através de amigos que pertenciam ao panorama do skate nacional, onde pouco a pouco foi conseguindo publicar fotografias em revistas portuguesas e europeias de Skate. www.joaomascarenhas.com
misled youth
A série “misled Youth” aborda temas na vida de skaters, momentos por trás de todas aquelas fotografias de manobras que aparecem nas revistas, procurando registar momentos desviados da pessoa comum, pela forma como estes se relacionam com espaços comuns que não têm interesse numa visão generalista, tornando-os assim com um propósito de criação e vivência, ou seja, no fundo procura mostrar numa visão pessoal, os comportamentos e modos de vida destes jovens que criam, vivem e são desviados de uma pessoa comum.
pedro ivan // pics of you O meu trabalho não passa pela fotografia, mas os meus gostos pessoais sim. Sou um fotógrafo amador, portanto. Tenho referências de outros trabalhos fotográficos, mas em último caso a minha maior inspiração são os locais que visito e que conheço e as pessoas com quem me cruzo. O meu trabalho é experiencial e reflecte a minha vida, por isso mesmo não considero a minha página do tumblr como um portefólio mas como um diário fotográfico. Os meus temas mais reincidentes são a paisagem, arquitectura e o nú. Em trabalho tenho visitado
várias cidades, que percorro nas poucas horas vagas que tenho e que tento preservar ao máximo nos inúmeros rolos que vou gastanto. Apresento aqui 3 mini séries que considero representativas do meu trabalho. http://picsofyou.tumblr.com/ https://www.facebook.com/ picsofyouphotography
A linguagem corporal pode definir por si só uma fotografia e, nesta série, o centro é sem dúvida o ambiente emocional do modelo. Mais do que formas abstractas, estas pessoas são atitudes, estados de espírito e histórias possíveis que tentei capturar com a minha câmara.
O nu é secundário nestas fotografias, no sentido em que não é erótico ou sexualizado, mas antes humanizador. Assim, estas paisagens e ambientes abertos e vazios passam a ter um elemento familiar e com o qual é possível relacionar-me. Como se fossem a prova da existência destes locais, da sua própria tangibilidade.
São paulo foi uma oportunidade única para o meu trabalho fotográfico. A cidade é a intersecção da Natureza, em grande força e escala, com arquitectura de proporções tremendas e com multidões sempre em movimento. Obviamente que São Paulo é diferente de tudo o que eu já tinha fotografado, mas no entanto consegui abstrair-me dos milhões de pessoas que nela habitam e contar a história de uma cidade que dia após dia resiste ao abraço da selva que a consome e que no entanto a reflecte através da intensidade dos seus ciclos.
rodrigo miragaia Sou olhos, sou som, sou bala. Sou orgânico efémero, atravessado por luz. Sou vibração, sou juventude conturbada, perdido em idade madura. Duvido das imagens, tenho intenção subliminar. Sou erro, sou acaso, sou construção, dispersão, repetição. Sou cliché, sou mancha, nódoa, sou deslavado e retorcido. Fotografia, fotossíntese, electropulsão. Sou enquadramento, sou geometria, sou desordem. Assassino, voyeur, pintor de mágoas e desesperos. Sou vida, morte, suor, suspiro e memória etérea. Equilibrista, contorcionista, desilusionista, pornógrafo. http://rodrigomiragaia.blogspot. pt/
Twisted Swan é um livro de tensões. Clareza e poluição visual. Identidade e ocultação. Gentileza e agressividade. Um lago artificial, feito à nossa semelhança. Há tentativas repetidas de atingir resultados. Processos. Obsessões. Insignificâncias. Um certo desespero. Urgência de agir. Urgência de viver. Fotografias de fotografias. Gerações de fotografias. A imagem degrada-se. Perde a ilusão. Desilude. Mas ganha um novo corpo, com rugas e cicatrizes, marcas de um tempo imposto. A imagem torna-se opaca. A perspectiva é um triângulo. Existe agora só uma mancha de tinta e resquícios de uma manipulação abusiva. Um novo silêncio.