ÁGAPE x EROS_RESUMO_Nov 2012

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Ágape x Eros

As únicas naturezas que existem... Novembro/2012

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Sumário 1. Deus é Ágape

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2. A prisão eros .......................................................................

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3. O dilema da mistura .............................................................

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4. Vivendo a natureza de Deus Referências bibliográficas

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1. Deus é Ágape “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1 João 4.7, 8).

O amor [ágape1] não é de natureza humana; na verdade, é estranho ao homem. Sua origem está em Deus – brota da própria natureza divina. Sua essência é a autodoação sacrificial, o que pode implicar em perdas para aquele que ama. A Bíblia nos ensina que Deus é amor. Vemos o amor de Deus ilustrado em João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito...”.

A Bíblia também nos mostra que Deus é “Um” e, ao mesmo tempo, um “Nós”: “Ouça [Shemá2], ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor” (Deuteronômio 6.4; Marcos 12.29). “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança’” (Gênesis 1.26; ver também 3.22, 11.7 e Isaías 6.8).

Jürgen Moltmann escreve: “Ágape não pode ser consumado por um único indivíduo. Uma individualidade não pode se comunicar a si própria. Se Deus é amor, Ele é – ao mesmo tempo – Aquele que ama, a Pessoa amada e o próprio Amor... Quando olhamos para o amor, olhamos para a Trindade, pois o Amante, o Amado e o Amor são Três” (The Trinity and the Kingdom, p.57).

As três Pessoas da Divindade – Pai, Filho e Espírito Santo – são Indivíduos relacionais que habitam na eternidade, um com o outro e um dentro do outro em perfeita unidade — sem perda de identidade! Sem individualidade, não há sentido falar em união; para que Eles possam amar e interagir deve haver individualidade!

Deus é um “Nós”

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O Pai, o Filho, e o Espírito Santo, juntos, são um só Deus vivo porque compartilham uma única vida de natureza generosa e sacrificial. Ágape é o amor em que Deus doa a si mesmo, gerando um ninho de descanso relacional, que Jesus chamou de REINO DE DEUS. Pai, Filho e Espírito se doam individualmente, um para o outro, procurando sempre glorificar o outro, nunca a si mesmos. Neste “ninho do Reino”, cada um procura somente dar, nunca tomar ou calcular uma vantagem própria; portanto, não existe entre Eles desconfiança, medo, engano, orgulho, competição, acusação ou encobrimento. Cada um está em plena paz e descanso no amor e na doação dos outros – na vida transparente e única dividida por todos. O Evangelho de João, de modo especial, nos revela esta maravilhosa e dinâmica interação que existe entre as Pessoas da Trindade: “O Pai ama o Filho e entregou tudo em suas mãos” (3.35). “Pois o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz” (5.20). “Todavia é preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço o que meu Pai me ordenou” (14.31). “Então Jesus disse: ‘Quando vocês levantarem o Filho do homem, saberão que Eu Sou, e que nada faço de mim mesmo, mas falo exatamente o que o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho, pois sempre faço o que lhe agrada’” (8.28, 29). “Quando vier o Conselheiro, que eu enviarei a vocês da parte do Pai, o Espírito da verdade que provém do Pai, ele testemunhará a meu respeito” (15.26). “Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês” (16.13, 14).

Ágape, uma “seta reta” Ágape sempre procura o bem maior da pessoa amada. Não usa coisas ou pessoas em benefício próprio. Continua amando sem levar em conta o desempenho do outro e sem calcular qualquer recompensa. Não ama por causa da beleza ou valor encontrados. Ágape é o amor autoconcedido; tem a ver com a escolha – a vontade – não com as emoções.

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Esta é a forma mais elevada de amor. Todas as outras formas são baseadas em reciprocidade e condições predeterminadas. Ágape é incondicional. Podemos escolher vincular condições ao nosso amor, mas, na mesma proporção em que o fizermos, não estaremos amando com ágape. Estaremos oferecendo apenas uma troca, não um presente. O verdadeiro amor deve ser (e sempre será) um presente. Neste estudo, ilustramos o amor ágape com uma seta reta: Ágape

Como Deus se revelou Deus se revelou a nós. Se Ele não tivesse se revelado, não teríamos como conhecê-lo. Quando Moisés quis ver a Glória de Deus, o Senhor lhe disse que proclamaria seu Nome diante dele (Êxodo 33.18, 19). Deus associou sua Glória ao seu Nome. Em seguida, Ele se revelou a Moisés com sete atributos. Estes atributos revelam o “DNA” divino — as características de Ágape. Êxodo 34.6, 7 — O Nome de Deus

1. Compaixão

5. Fidelidade [Verdade]

2. Misericórdia [Graça]

6. Perdão

3. Longanimidade

7. Justiça

4. Amor de aliança 1. COMPAIXÃO: [verbo hebraico: raham] Ter compaixão, apiedar-se, sofrer com alguém; retrata uma simpatia profunda e gentil e uma tristeza sentida por outra pessoa que passa por aflição ou infortúnio, acompanhadas por um desejo de aliviar o sofrimento (opõe-se a indiferença, impiedade). A forma singular do substantivo era usada para ventre materno. Os escritores do Velho Testamento julgavam o ventre (ou as entranhas) como a sede de emoções afetuosas e ternas (Gênesis 43.30; Zacarias 7.9). A palavra aparece 47 vezes no VT, e de longe Deus é o mais frequente sujeito e seu povo aflito é o objeto (2 Rs 13.23; Is 14.1; 30.18; 60.10; Jr 31.20). 2. MISERICÓRDIA: [sentido próprio do verbo hanan – “ter misericórdia”] Curvar-se ou inclinar-se em sinal de bondade para com alguém inferior; favorecer, conceder, abençoar. Enquanto a compaixão é um sentimento, a misericórdia implica em AÇÃO – aquilo que fazemos pela pessoa que está sofrendo. Também comunica GRAÇA [NT], isto é, trata a pessoa com alteza, dignidade (como Davi fez com Mefibosete). Misericórdia é uma ação dada de forma digna. (Ver também Êxodo 22.26, 27; 2 Samuel 12.22; Salmo 116.5.)

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3. LONGANIMIDADE: Tardio em iras [’aph]. Significa não exasperar-se facilmente; ser capaz de suportar ofensas pacientemente. A ira do Senhor é um tema frequente no VT, que descreve como Ele reluta ao exercê-la e o quão impetuosa ela é (Salmo 30.5; 78.38; Jeremias 51.45). 4. AMOR DE ALIANÇA: [hesedh] Esta palavra é citada mais de 200 vezes no VT! Hesedh é um amor forte, constante, infalível, duradouro, imutável. O texto clássico para se compreender o significado e a importância desta palavra é o Salmo 136 onde ela é usada 26 vezes para proclamar que a bondade e o amor de Deus são eternos. Este Salmo focaliza a completa extensão da ação de Deus desde a criação até a redenção – tudo aconteceu, está acontecendo, e continuará a acontecer por causa da bondade e fidelidade do Senhor em suas alianças! Hesedh está intimamente ligada ao conceito de aliança, pelo que sempre procura por uma resposta. Deus convida o homem para a unidade da Trindade (João 17.21– 23). A Bíblia ensina que Deus é “Zeloso” (“Ciumento”, ver Êxodo 34.14; Tiago 4.5). Mas hesedh nos mostra que Ele não tem ciúmes de nós, e sim por nós — em nosso favor, tal como acontece na Trindade. Deus espera uma resposta – não para tirar vantagem – mas para nos introduzir na mesma unidade com Ele! Hesedh fala de uma aliança que não será quebrada. (Deuteronômio 7.9, 12; Jeremias 2.2; Oséias 6.4–6.) 5. FIDELIDADE: [emeth] Certeza, verdade, confiabilidade. As palavras de Deus (Salmo 119.160; Daniel 10.21) e suas ações (Neemias 9.33) são caracterizadas por esta palavra. Deus fala a verdade e se mantém na verdade (Números 14.17–20). 6. PERDÃO: [nasah] Carregar. Neste sentido, a palavra é usada especialmente com referência a carregar a culpa ou a punição do pecado (Gênesis 4.13; Levítico 5.1). Isso flui facilmente para o conceito de alguém carregar, de maneira representativa ou substitutiva, a culpa de outra pessoa (Levítico 10.17; 16.22). Deus mesmo “carrega” com as nossas transgressões (Deuteronômio 1.30, 31; Isaías 53.12). 7. JUSTIÇA: “Ao culpado não tem por inocente”. [ts^edaqah] Justiça, ações retas, atitudes corretas. A palavra descreve a postura e as ações de Deus, as quais Ele espera que seu povo também preserve. Ele é inequivocadamente justo; a justiça é inteiramente sua prerrogativa. Também é sinônima de verdade ou integridade. Justiça faz parte da própria essência de Deus e, portanto, não se mistura à iniquidade. Onde quer que se encontre iniquidade, os juízos de Deus estarão presentes. Assim como o amor de Deus não pode ser interrompido, sua justiça também não pode!

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Jesus revelou os mesmos atributos “O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus 1.3).

O Verbo se fez carne para que realmente pudéssemos ver o Pai e vir a confiar nele! Jesus revelou todas as qualidades do Pai de uma forma mais próxima: Compaixão e misericórdia Longanimidade Amor de aliança Graça e verdade Perdão Justiça

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Marcos 1.40, 41 Mateus 12.19, 20 João 13.1 e 15.9 João 1.14 1 Pedro 2.24 Jo 5.22, 27; At 17.31

Estes são os atributos comunicáveis de Deus que Ele deseja formar em nós. Pela Cruz, entramos em união com Ele. Isso significa que já temos estas qualidades em nós para serem desenvolvidas (Romanos 5.5; Gálatas 3.27; 4.19)! “Porque a vontade de meu Pai é que todo o que olhar [contemplar, olhar com interesse e atenção aos detalhes] para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.40). “E todos nós, que com a face descoberta contemplamos [espelhar-se, i.e., ver-se refletido] a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito” (2 Coríntios 3.18).

O apóstolo Paulo declara que quando contemplamos a glória do Senhor, somos transformados na mesma imagem dele pelo Espírito do Senhor. Então, de um degrau de glória a outro, refletimos o que contemplamos. A fim de entender plenamente o amor Ágape, precisamos olhar para a Trindade. Ao contemplar e admirar a Trindade, nossa vida será transformada!

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Notas capítulo 1 1

Acredita-se que os escritores do Novo Testamento tiveram de criar uma nova palavra – ágape – para descrever a nova qualidade de vida introduzida no mundo por Cristo. Fora do NT, ela raramente ocorre nos manuscritos gregos existentes no período. Houve objeção ao uso de eros e até mesmo phileo [amor de amizade] já que estas palavras haviam sido exploradas pela mitologia grega e por religiões pagãs “eróticas”. O fato é que os tradutores da Septuaginta adotaram ágape para traduzir a palavra hebraica para amor (raiz: ahebh) – um conceito muito frequente no Velho Testamento, encontrado em diversas formas. Deus ama Israel e é dever de Israel amar a Deus, ao próximo, e até ao estrangeiro (Dt 10.15; Os 11.11; Dt 6.4; 11.1; Lv 19.18; Dt 10.19). A diferença entre o ensino dos dois testamentos sobre ágape é que, enquanto o VT tentava organizá-lo na forma de mandamentos da Lei (e, com isso, perdia espontaneidade), o NT o trata como uma realidade escatológica — uma qualidade de vida no tempo presente, a qual foi derramada “em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5.5). Mas, tanto no Velho como no Novo Testamento, ágape [] difere de eros [] em que este opera com base na atratividade do objeto amado, enquanto que ágape ama até o “não amável”, o repulsivo, e aqueles que não têm nada a oferecer em retorno. Assim, é uma palavra que descreve com exatidão a graça de Deus em seus tratamentos com o homem. Ágape é uma palavra que pertence exclusivamente à comunidade cristã. É um amor virtualmente desconhecido dos escritores de fora do Novo Testamento. A palavra eros não é usada no NT (Alan Richardson). 2

Para os judeus, Deuteronômio 6.4–9 é o texto mais importante do Velho Testamento. O próprio Senhor Jesus chamou a instrução de 6.5 de “o primeiro e grande mandamento” (Mt 22.36–38). Os judeus se referem a esta passagem como o “SHEMÁ”, que é a primeira palavra no texto. Esta palavra significa ouvir, ou dar ouvidos, com o sentido de obedecer. Moisés está ensinando não somente a prioridade da crença em um só Deus, mas também um meio de preservar esta crença. O Shemá constitui a profissão de fé central do monoteísmo judaico que afirma: “Deus é Um e somente Um”. Para os cristãos, entretanto, o Shemá é um reconhecimento e uma celebração da UNIDADE de três Pessoas Eternas. Estas três Pessoas são Um Deus; três Indivíduos distintos em perfeita unidade. Isso não é politeísmo – é TRI-UNIDADE!

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2. A prisão eros C. S. Lewis disse: “O pecado original fez com que a criação se tornasse ‘encurvada’”. Isto é, o centro de nossas vidas se tornou o nosso “eu”, em vez de ser Deus que nos criou. Toda a criação foi afetada! O resultado disso foi que todo o nosso modo de pensar ficou contaminado por uma obsessão — queremos seguir o nosso próprio caminho: “Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar [vida: cuidando daquilo que o Pai entregou, e frutificando; atenção para o Pai, não para si mesmo]. E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal [ágape e eros; despertamento para o amor próprio, a atenção a si mesmo, o interesse próprio] não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás [ficarás estéril, sem vida, sem capacidade de dar fruto]. Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus [ausência total de preocupação consigo mesmos, de atenção a si mesmos] e não se envergonhavam. “Mas a serpente [Satanás], mais sagaz que todos os animais selváticos [eros, de natureza predadora] que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos [para focar em si mesmo, para buscar realização e satisfação própria] e, como Deus [colocarás o centro em si mesmo], sereis conhecedores do bem e do mal [estarás despertado para a vida alternativa de eros]. “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer [desejos dominadores da carne], agradável aos olhos [desejos dominadores dos olhos] e árvore desejável para dar entendimento [centrado em si mesmo, soberba e arrogância da vida], tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu. Abriram-se, então, os olhos de ambos [consciência e foco em si mesmos]; e, percebendo que estavam nus... esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim [alienados do Pai, cortados da Fonte da Vida, fora do ninho de descanso – espiritualmente mortos]” (Gênesis 2.15–17, 25; 3.1–8, RA).

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A serpente apelou ao apetite da alma do homem, convidando-o a começar a pensar e agir a partir do seu ego como o novo centro de sua existência. Adão e Eva agiram contra Deus e a favor de si mesmos; permitiram que seu apetite por autogratificação, vontade própria e realização pessoal tomasse efetivamente o lugar da sensibilidade e do foco no Pai. O ego degenerado é incapaz de negar ou, até mesmo, de adiar a satisfação de si mesmo em favor dos interesses do Pai – está morto! T. Austin Sparks explica: “O inimigo, o enganador, chegou à alma do homem e, ao invés de reagir à investida do inimigo por meio do seu espírito em comunhão com Deus, o homem respondeu com os desejos da sua alma. Saiu da esfera do espírito e reagiu na alma. O que é a alma? É a razão, as emoções, os sentimentos, os desejos e, evidentemente, a escolha, a vontade. E o inimigo apelou para os desejos e conquistou a vontade por meio do engano” (Christ the Power of God).

O resultado de tudo isso foi que o homem – juntamente com toda a criação – ficou cativo debaixo de uma verdadeira “prisão eros”: “Pois ela [a natureza criada] foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Romanos 8.20, 21).

Ilustrando a prisão eros

Houve uma curva... A curva se fechou...

Paredes mais grossas; Barras mais fortes!

grossas

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Este processo se repete continuamente em áreas específicas da vida humana: sexo, pornografia, álcool, dinheiro, etc. Toda a sociedade gira sem parar dentro dessa prisão eros!

Origem da palavra Como vimos, eros é uma palavra grega que não é usada no Novo Testamento1, devido ao seu uso frequente na mitologia grega e cultos pagãos. Seu significado primário era a ideia de obter, possuir e controlar. Na filosofia grega, passou a denotar aquilo que é amado com o objetivo de satisfação pessoal. Foi a partir dessa postura que a palavra adquiriu sua conotação sexual e pornográfica. Seu sentido original não era este — tinha mais a ver com viver em função de obter vantagem pessoal, isto é, tomar dos outros para preservar, promover ou satisfazer a si mesmo. Eros sempre aponta para o eu, é autorreferencial. Se o examinarmos por um “microscópio” o que vamos ver é isto:

Por esta razão, eros é a raiz de todos os pecados. Não apenas é autocentrado, mas se torna autoconsumista – voltando-se cada vez mais para si mesmo. De fato, o símbolo grego para eros era uma serpente devorando a própria cauda:

Símbolo grego para eros

Infelizmente, fomos “equipados” com eros ao nascer, por causa do pecado original. Neste estudo, escolhemos esta palavra para representar a natureza terrena ou pecaminosa e a ilustramos com uma seta curva — um gancho:

Eros

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Mesmo quando aparece em forma de “amor”, eros só pensa em tomar – é o amor humano, temporário e condicional, que se baseia no interesse próprio. Joseph Manning o descreve assim: “‘Eu te amo porque você me ama’ — amor condicional: só é dado com a condição de ser correspondido. ‘Eu te amo porque quero que você me ame’ — amor de barganha: baseia-se na perspectiva de um amor futuro. ‘Eu te amo porque você já demonstrou seu amor por mim’ — obedece à lei do retorno: amor dado somente porque a pessoa já recebeu no passado o mesmo tipo de amor. ‘Eu te amo porque você é atraente’ — amor físico: dado de acordo com as características físicas de determinada pessoa. ‘Eu te amo porque você pensa como eu’ — amor social: de acordo com a filosofia de vida da pessoa amada. ‘Eu te amo porque é uma questão de religião’ — amor por obrigação moral: é a dissimulação da falta de amor, escondida atrás da atitude ‘Eu não gosto dele, mas tolero, ou aceito, porque minha religião exige’” (O Milagre do Amor Ágape, p. 107).

Como eros se manifesta Eros se manifesta na forma de sete gigantes. Estes são desejos compulsivos que nos escravizam. Não são coisas que chegam até nós — elas vêm de dentro de nós!

Sete gigantes 1. Boa imagem

5. Intenções ocultas

2. Sentir-se bem

6. Obter vantagem pessoal

3. Ter razão

7. Não ser incomodado

4. Estar no controle

1. BOA IMAGEM. Manter uma boa aparência (a qualquer preço); fazer tudo o que está ao alcance a fim de criar e manter uma boa imagem. Não podemos ser nós mesmos. Precisamos “fazer alguma coisa” para que os outros pensem que somos melhores do que realmente somos. Além disso, queremos criar uma reputação que não tem fundamento na verdade (Mateus 6.1; Atos 5.1, 2). É uma das causas de ansiedade. Revela-se também como temor do homem e busca anormal por aprovação humana (Provérbios 29.25; Gálatas 1.10). 2. SENTIR-SE BEM. Este gigante é o retrato do que a Escritura identifica como autossatisfação, que nos leva a buscar a satisfação dos sentidos de uma forma que isso nos controla, tornando-se efetivamente nossa “força motriz” (Tiago 4.1–3). É a fonte ou causa primária de todo comportamento compulsivo ou que causa dependência (álcool, sexo, drogas, etc. — a raiz é a tentativa de estar ou sentir-se bem). Exige que voltemos nossa atenção mais para as emoções do que para a realidade.

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3. TER RAZÃO. Este gigante nos deixa inseguros, ansiosos e incapazes de admitir que podemos estar errados. Ninguém pode “ganhar a discussão”; estamos sempre certos e os outros sempre errados (ver Jó 40.8!). Visto que a nossa mente domina nossas emoções, somos focados, controlados e extremamente comprometidos com nossas avaliações, ideias e conceitos. Temos medo de estar errados ou de ser desafiados, o que nos torna cada vez mais rígidos (uma forma de obstinação e rebelião). Este gigante nos confere um pervertido “dom de onisciência” que nos faz pensar que sabemos tudo, mas nos deixa com vergonha e medo de ser expostos. Geralmente se utiliza da ira como mecanismo de proteção para não ser descoberto. 4. ESTAR NO CONTROLE. Este gigante não possui segurança interior para lidar com as incertezas da vida e acredita que o mundo (pessoas e eventos) possa ser mantido sob seu controle. Achamos que, se estivermos com as “mãos no volante”, todos estarão a salvo e os resultados estarão garantidos. Por causa dele, não podemos participar de qualquer coisa, de todo o coração, se não estivermos na liderança. Pessoas controladoras usam e consomem aqueles que as amam. Usam a necessidade de relacionamento das pessoas como instrumento para manter seu controle sobre elas. Isso não quer dizer que não amem aqueles que estão sob sua liderança, mas há uma mistura em seu amor (não ministram pensando apenas em abençoar). (Ver Isaías 14.13, 14; Lucas 4.6; 3 João 9.) 5. INTENÇÕES OCULTAS. É quando agimos com hipocrisia ou segundas intenções. Com este gigante em operação, armamos emboscadas com motivos ocultos, espreitando a fraqueza e a vulnerabilidade das pessoas, prontos para disparar a armadilha, que havia sido disfarçada e armada com mentiras ou meias-verdades. As pessoas não podem confiar em nós porque nossas palavras possuem significados ocultos. Deus também não pode confiar em nós. Algumas dessas “agendas ocultas” são evidentes e de curto prazo; outras são mais sutis, mais complexas e elaboradas e podem levar anos para serem concluídas (João 6.26; 2 Coríntios 4.2; Judas 16). 6. OBTER VANTAGEM PESSOAL. Também nos torna desonestos e inconfiáveis. Não podemos amar a Deus ou as pessoas quando queremos ganhar alguma coisa com o relacionamento de um jeito que diminui a outra parte. Cada oportunidade, amizade ou evento é avaliado pela pergunta: “O que eu ganho com isso?” (ver João 6.30). Tentamos usar as pessoas para nossos próprios interesses — o que causa separação (1 Coríntios 13.5). Não nos importamos com seus anseios, mas apenas em como elas podem nos ajudar a atingir nossas metas. Estamos constantemente articulando títulos, posições ou reconhecimento. Até atos de serviço podem esconder este gigante quando praticados “de olho na recompensa”.

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7. NÃO SER INCOMODADO. Não queremos nos envolver com pessoas ou situações que possam nos tirar da nossa zona de conforto, ou que exijam tempo, dinheiro, nos importunem ou talvez nos façam perder o respeito das pessoas. É um estilo de vida tão fechado e protegido que não deixamos que nada nem ninguém o toque. Se quisermos viver para agradar ao Pai, precisaremos tratar com este gigante. Ele diz: “Eu Te seguirei, mas não posso ir tão longe!” Esta é a diferença entre admiração por Cristo e identificação com Ele (ver Lucas 10.30–37; Mateus 25.35, 36). Quando eros se manifesta de uma dessas formas ou numa combinação delas, acabamos seguindo o nosso próprio caminho e perdemos a comunhão com o Pai. Assim como Satanás iludiu Eva no jardim dizendo que ela poderia ser “como Deus”, somos enganados quando achamos que podemos seguir o nosso próprio caminho (Isaías 53.6). Estes sete gigantes são os “outros deuses” que colocamos à frente do Deus Ágape. Eles são poderosos porque representam “pagamentos de eros”. Eles se apresentam como recompensas. Somente quando o Pai nos revela seu amor começamos a perceber que estes gigantes, na verdade, são como imitações baratas! O que vamos escolher? As “recompensas” de eros ou a liberdade do Caminho Ágape?

Dois tipos de prisão eros Licenciosidade

Religião

Lucas 18.18–23 — O jovem rico [Materialismo].

Lucas 15.25–32 — O irmão mais velho do filho pródigo.

2 Tm 4.10 — “Pois Demas 3 João 9 — “...Diotrefes, que amando [ágape] este mundo, gosta muito de ser o mais abandonou-me...”. importante entre eles”. Eros se manifesta tanto no mundanismo (o sistema de vida dominado por Satanás – Efésios 2.2), como na religiosidade – o esforço humano para tentar agradar a Deus por meio de observâncias religiosas ou de certo “padrão moral”. Vemos nos textos acima que, enquanto Demas foi de uma vez para o mundo, Diotrefes permaneceu na igreja. No entanto, seu desejo de ser “o líder” estava contaminado por eros. Paulo advertiu severamente os cristãos filipenses a tomarem cuidado com pessoas que se envolviam na obra de Deus por ambição, ou seja, movidas pela natureza eros (ver Filipenses 2.19–22; 3.17–19)! Toda tentação tem como objetivo nos levar por um desses desvios a fim de obtermos alguma vantagem pessoal. Ambos nos levam a perder a comunhão com o Pai!

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Predadores e parasitas Eros produz predadores e parasitas. Predadores [agressivos] dominam pessoas e situações visando seus próprios interesses. Usam as pessoas abertamente e, em geral, têm como característica a ira. Parasitas [passivos], por outro lado, controlam as pessoas de maneiras mais sutis. Tiram vantagem da generosidade dos outros enquanto se negam a fazer qualquer coisa para retribuir. São como “sanguessugas” — grudam nas pessoas e as usam, recusando-se a produzir qualquer coisa útil. Ambos – predadores e parasitas – nos dizem: “Você é chamado para suprir as minhas necessidades!”. Jesus confrontava eros na vida de seus discípulos. Ele queria seguidores que fossem livres do controle dos sete gigantes (João 8.32, 36). Contudo, sem a ajuda de Deus, o máximo que podemos conseguir é uma mistura tóxica entre eros e ágape que irá parecer atrativa o bastante para enganar, enquanto venenosa o bastante para roubar e destruir. Depois que nos damos conta dessa mistura, começamos a percebê-la em tudo que fazemos. Quais são os nossos motivos? Qual a nossa força motriz? Somos capazes de ministrar às pessoas simplesmente porque Deus as ama? Ou estamos buscando alguma coisa para nós mesmos? Temos “agendas” ou intenções ocultas?

Nota capítulo 2 1

A língua grega (na qual o Novo Testamento foi escrito) possui várias palavras para amor, enquanto que, em Português, temos somente uma. Quando digo “eu amo a Deus” e “eu amo meu cãozinho” a palavra “amo” certamente não tem a mesma profundidade de significado. Embora o foco do nosso estudo seja ágape e eros, é importante conhecer também o sentido básico de mais duas palavras gregas: A palavra storge, cujo significado essencial é o de “afeição natural”. É o amor entre familiares, especialmente entre pais e filhos. A palavra é usada duas vezes no NT, ambas em conotações negativas, dando a entender a perda de vínculos familiares. Em Romanos 1.31, Paulo a usa em sua descrição da corrupção da raça humana, o que irá agravar-se ainda mais nos últimos dias (2 Timóteo 3.3). Jesus apontou o erro daqueles que usavam a religião como pretexto para fugir da responsabilidade de cuidar dos pais (Marcos 7.11, 12). O apóstolo Paulo ensina que uma pessoa que não cuida da sua família é “pior que um descrente” (1 Timóteo 5.8); e phileo, que significa “gostar de”, “importar-se afetuosamente com”, “tratar com carinho”, “ter ligação pessoal com”. É um amor de emoção e amizade, movido por qualidades inerentes à pessoa amada. Phileo abrange todos os aspectos das relações humanas, incluindo aqueles entre esposos e esposas, pais e filhos, irmãos e irmãs. É um relacionamento que nasce a partir de um vínculo emocional. Enquanto storge envolve laços consanguíneos, phileo envolve a alma. É a união de duas ou mais almas em uma só. No livro de Atos, vemos que a Igreja vivia como se fosse “uma só alma” (4.32). Somos exortados a crescer em amor phileo (Romanos 12.10; Hebreus 13.1; 1 Pedro 1.22).

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3. O dilema da mistura Antes de estudar como as naturezas ágape e eros se misturam em nossas vidas, vamos compará-las a duas reações nucleares que vão nos ajudar a entender como elas são radicalmente opostas.

Ágape é como a reação nuclear de fusão — dois ou mais átomos de hidrogênio, cada um com seu próprio núcleo se combinam ou se fundem para formar um átomo de hélio com um núcleo. Esta reação ocorre no Sol e nas estrelas e é responsável por 99% da energia utilizável que há na Terra (liberada na forma de partículas de luz chamadas fótons – a energia que provê calor, fotossíntese, crescimento e vida).

= FUSÃO NUCLEAR

= UNIÃO

VIDA

Eros é como a fissão nuclear — este tipo de reação raramente ocorre de forma espontânea na natureza. A energia nuclear é o resultado do processo de fissão nuclear artificial: um núcleo atômico é dividido em dois ou mais núcleos, o que libera radioatividade. Também ocorre liberação de energia; no entanto, na reação natural de fusão a energia liberada é de três a quatro vezes maior!

= FISSÃO NUCLEAR (DIVISÃO)

= RADIOATIVIDADE

RISCO BIOLÓGICO

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Contrastando Ágape e eros Ágape = poder da fusão

Eros = poder da fissão

 “O amor... não procura seus interesses” (1 Coríntios 13.4, 5).

 “Quem se isola, busca interesses

 Núcleos de átomos distintos se fundem formando um único átomo.

 Um núcleo dividido em dois ou mais núcleos distintos.

 Natureza divina compartilhada na Trindade. Autodoação sacrificial, dinâmica interpessoal e relacional, sem perda de individualidade, mas em perfeita unidade.

 Dinâmica autorreferencial, autogratificante do amor próprio originada em Lúcifer. No homem, é chamada de “carne” (Gálatas 5.20). Produz predadores e parasitas que tomam dos outros para agradar, enriquecer ou reforçar a própria individualidade (2 Timóteo 3.1–5).

 Divino — próprio da Trindade: indivíduos livres se doam em unidade.

 Iníquo — contrário à Trindade: individualismo, independência, autonomia dirigida por autossatisfação.

 Autosacrifício — impulso espiritual de ágape que procura perder seu núcleo para unir-se a Deus em Cristo. Ímpeto essencial que produz fusão, com consequente liberação de energia que produz vida.

 Autopreservação — impulso carnal de eros no homem natural que busca preservar seu núcleo por meio de fissão, separando-se de Deus para buscar seus próprios interesses. Aufere energia a partir de divisão, gerando destruição e morte.

egoístas...” (Provérbios 18.1).

Toda a vida humana pode ser ilustrada por estas duas setas. Existem apenas dois tipos de pessoas — doadores x tomadores!

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Origem de eros Ao estudar a ciência da fusão, descobrimos que existe uma força elementar na natureza, no interior dos átomos, que é a fonte de toda a energia. Esta é a força que mantém todas as coisas unidas, sem que se “soltem” umas das outras. A origem do Universo está na Trindade. Logo, a força que criou o Universo e que está por trás de toda a criação é o amor ágape de Deus! “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (Colossenses 1.15–17).

Houve um tempo no Universo em que tudo era Ágape — tudo era fusão! Infelizmente, entrou no Universo um elemento de fissão: “Você era inculpável em seus caminhos desde o dia em que foi criado até que se achou maldade [iniquidade] em você” (Ezequiel 28.15). “Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! Você que dizia no seu coração: ‘[Eu] Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo’” (Isaías 14.12–14; compare com Filipenses 2.5–8!).

As passagens acima indicam que a iniquidade [hebraico: awel – toda forma de distorção ou desvio em relação à perfeita vontade de Deus] se formou primeiramente no coração de Lúcifer. Sua formosura, resplendor e tesouros eram tais que, num determinado momento, um pensamento distorcido encheu-lhe o coração — seu esplendor e riquezas se tornaram mais importantes para ele do que o próprio Criador! Ele achou que poderia se “separar” e se tornar semelhante a Deus; ele agiu sobre o princípio da fissão!

Eros na Igreja Fissão é uma grande fonte de energia. Muitas coisas “funcionam” sobre este princípio. O capitalismo é um bom exemplo disso. É totalmente baseado em “direitos individuais” e na “propriedade privada”. Vemos este princípio em toda a sociedade e até mesmo na Igreja! As pessoas não se interessam muito pela obra de Deus quando isso não lhes dá a oportunidade de “estar à frente do ministério” ou de, ao menos, serem “notadas” na igreja. Em casos de divisão, vemos que muitos “arregaçam as mangas para servir ao Senhor...”. Quantas denominações existem hoje no mundo? Quantos ministérios independentes? É o princípio da fissão operando.

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O texto abaixo nos mostra como o poder da fissão [terreno, demoníaco] pode operar dentro de uma igreja e o contrasta fortemente com o poder da fusão [que vem do alto]: “Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria. Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso, nem neguem a verdade. Esse tipo de ‘sabedoria’ não vem do céu, mas é terrena, não é espiritual e é demoníaca. Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males. Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores” (Tiago 3.13–18).

Eros também tem levado muitos a torcerem a Palavra de Deus a fim de obter vantagens para si próprios. Por exemplo, o texto de Atos 20.35 – “Mais bemaventurada coisa é dar do que receber” – tem como propósito suprir as necessidades entre o povo de Deus por meio da ajuda mútua. Se uma “torção eros” for aplicada a este verso, ele pode ser facilmente usado para “levantar dinheiro para a ‘obra de Deus’”. Isso acontece todos os dias. O que originalmente nos foi dado em ágape é distorcido por eros a fim de manipular e controlar. Distorcemos a própria Palavra que nos foi dada para endireitar o “gancho eros” em nós! Versículos são usados como “ganchos”!

A mistura das duas naturezas “Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio” (Romanos 7.15).

Este é o dilema humano — a mistura das duas naturezas. A Bíblia diz que estávamos mortos em “delitos e pecados”, isto é, mortos em eros. Quando Cristo se tornou nosso Senhor e Salvador pessoal através do novo nascimento, Ele nos deu uma nova natureza. “Porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu” (Rm 5.5).

Agora, eros disputa com ágape para controlar nossos desejos. Eles se misturam e estão sempre em conflito entre si (Gálatas 5.17). Se eros não for deslocado irá contaminar nosso relacionamento com Deus e com os outros:

A mistura

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Se eu amar a Deus “com um gancho” [eros] — vou amar aos outros “com um gancho” também. (“Eu te amo por aquilo que você pode fazer por mim!”) amo a Deus

amo aos outros

Se eu aprender a amar a Deus “com uma seta reta” [ágape] — posso aprender a amar aos outros “com uma seta reta” também! amo a Deus

amo aos outros

Quando amamos com base em nossas necessidades, as pessoas “frustram nossas expectativas”. Quando nosso amor se torna controlador ou possessivo, afastamos as pessoas. Eros foca em si mesmo e destrói os relacionamentos! As promessas que já quebramos nos fazem lembrar que a força de vontade humana jamais irá vencer eros. Só Ágape — o próprio Deus — pode produzir ágape em nós. Quando seguimos nosso próprio caminho (controlados por eros), somos levados para um estilo de vida cíclico, isto é, ficamos dando voltas num movimento de involução no qual terminamos com raiva... assustados... maldosos... sozinhos...

Espiral em involução

“Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?” (Romanos 7.24).

A pergunta não é o que, mas quem me libertará? O resultado da luta depende do foco da nossa afeição. O que ou a quem amamos?

Como lidamos com essa mistura? Eros tem força porque é uma forma de amor. Se amarmos as coisas deste mundo, vamos centrar nossas vidas nelas. Ágape tem força porque é o amor de Deus. Quando focamos em Deus, amamos as coisas eternas. Nós nos tornamos aquilo que amamos. A luta entre as duas naturezas é uma luta entre o que ou quem amamos. Se estivermos comprometidos com nós mesmos, nossos planos, agendas, a resposta é clara: amamos a nós mesmos. O resultado será algum tipo de prisão eros. A luta entre as duas naturezas talvez não nos deixe agradecidos pela força de eros, mas realmente nos ajuda a entender por que precisamos de um relacionamento íntimo e crescente com Deus. Em Colossenses 3.2, Paulo diz: “Mantenham o pensamento nas coisas do alto”. Isto é, “mudem seu foco; concentrem-se em Deus...”. A luta é real, mas existe vitória!

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A resposta de Deus Quando cedemos às tentações de forma consistente, interrompemos o estilo de vida linear com propósito e direção. Começamos a viver de forma cíclica como uma espiral em involução. Como um tornado, esta espiral causa destruição por onde passa e nos deixa com sentimentos de raiva, medo, ódio e solidão. Deus não fica assistindo a tudo isso sem fazer nada. Ele não apenas conhece o nosso dilema, mas providenciou um caminho de escape. Deus nos “vence pelo cansaço” porque um estilo de vida cíclico simplesmente não funciona! No final, vamos chegar ao fundo da espiral e Ele estará ali nos esperando com uma palavra especial. Ele trará pressões e correções com o propósito de nos fazer voltar para Ele!

Satisfação verdadeira Satanás sabe que a autossatisfação da natureza eros é o método mais eficaz de nos escravizar. Atos de gratificação própria são um meio para se chegar a um fim, passos para chegar ao objetivo eros – a autossatisfação. Entretanto, esta “autossatisfação” é um mito, a miragem cruel do inimigo, a mentira original da serpente que ela tem perpetuado eficazmente em todas as gerações. “O justo [filho generoso da natureza Ágape] tem o bastante para satisfazer o seu apetite, mas o estômago dos perversos passa fome [é insaciável]” (Provérbios 13.25, RA). As tentativas de obter satisfação pessoal são totalmente fúteis já que nossos apetites da alma e da carne jamais podem ser satisfeitos. Satanás, o pai falso, mantém o homem numa coleira bem curta, tendo despertado seu apetite para a autogratificação e o feito dependente disso! Embora o amor ágape implique em doação, sacrifício e até mesmo perdas, nele encontraremos a verdadeira satisfação. Jesus disse: “Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará” (Lucas 17.33, RA). Quanto mais nos doamos, mais somos preenchidos. O Filho abandonou toda a sua glória, se doou totalmente — e foi totalmente preenchido pela Divindade: “... embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo...” (Filipenses 2.6, 7). “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e, por estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude” (Colossenses 2.9, 10).

Nada se compara ao amor ágape! Ele é a fonte de toda a plenitude. Eros, ao contrário, toma tudo para si — mas está sempre vazio; nada é o bastante, está sempre procurando por mais! Quando nos doamos a Deus e ao próximo, somos preenchidos pelo próprio Deus. É o poder da fusão!

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4. Vivendo a natureza de Deus Vida linear x vida cíclica LINEAR: Tudo que Deus faz tem um começo e um fim, existe progresso. Seu propósito para nós é uma vida linear, uma vida com direção e propósito, que irá chegar ao seu destino.

CÍCLICA: Voltamos aos mesmos problemas; nossa força de vontade acaba falhando e repetimos os mesmos erros. Este tipo de comportamento pode nos levar ao desespero e se tornar uma fonte de pressão que nos levará a um verdadeiro encontro com Deus.

 Vimos em Romanos 8 que toda a criação foi submetida à “inutilidade”. Nada pode ser mais “inútil” do que andar em círculos! Quando Deus quer nos resistir, Ele nos deixa andando em círculos... Em sua providência, Deus permite que circunstâncias da vida se repitam continuamente até que sejamos capazes de discernir o que Ele está tentando nos dizer e decidamos segui-lo. Foi isso que aconteceu com os israelitas no deserto quando eles repetidamente deram voltas no mesmo monte: “Então demos meia-volta e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho, como o Senhor me havia ordenado. E por muitos anos caminhamos em redor dos montes de Seir. Então o Senhor me disse: ‘Vocês já caminharam bastante tempo ao redor destas montanhas; agora andem para o norte’” (Deuteronômio 2.1–3).

De um modo completo e perfeito, Deus nos ama demais para permitir que hábitos destrutivos ou prioridades erradas controlem as nossas vidas. Ele age em nossas circunstâncias para nos levar de volta a Ele, pensando sempre no que é melhor para nós. Amar a Deus (pelo que Ele é; não pelo que Ele faz) é o melhor para nós porque nos “tira” de nós mesmos! Deus planejou uma vida linear para seus filhos. Nossa liberdade como filhos de Deus é iniciar uma jornada e chegar aonde queremos chegar.

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“Síndrome dos punhos cerrados” x liberdade Você já se pegou quebrando uma promessa que fez para alguém ou para si próprio? O que você faz quando isso acontece? Range os dentes e tenta com mais força? Esta é a “síndrome dos punhos cerrados”. Como numa conhecida historinha infantil, os portadores dessa síndrome dizem: “Acho que consigo, acho que consigo!” Infelizmente, nossa força de vontade acaba falhando. Eros é mais forte que a força de vontade humana. O comportamento cíclico é o que faz o alarme disparar! LIBERDADE, na Bíblia, é a habilidade de começar e parar — é o fruto do Espírito chamado domínio próprio (Gálatas 5.22, 23). É a habilidade para comer um biscoito e não o pacote inteiro, ou para rejeitar pensamentos impuros que venham à nossa mente. Não é autocontrole; é o controle de Deus. Escolhemos a liberdade de Deus e Ele nos dá capacidade para começar e parar.

A Palavra que vem de Deus Quando alguma coisa na esfera do mundo ou da religião se torna mais importante para nós do que a comunhão com o Pai, caímos numa prisão eros. Enquanto andamos em círculos, desperdiçamos um tempo precioso que poderia ser gasto num estilo de vida linear, fazendo progresso rumo à semelhança de Cristo. Para que Deus possa nos confrontar em nossas prisões eros, precisamos estar cansados de tudo que não funciona. O padrão cíclico nos traz pressões que nos levam a buscar o Pai. Ele já tem uma palavra preparada que precisamos ouvir. Nem sempre é uma palavra que queremos ouvir; é uma “seta reta” – ágape – com o propósito de quebrar a prisão na qual estamos! A Palavra que vem de Deus pode vir na forma de um verso das Escrituras, uma canção, um testemunho, um sermão, um estudo bíblico ou a confrontação de um amigo cristão. Nem toda “palavra” vem, necessariamente, de Deus. Teste as palavras com as Escrituras. Os recursos de Deus são ilimitados quando estamos prontos para ouvir dele. Ele escolhe a maneira e o método que será mais efetivo para cada um de nós. Esta palavra específica de Deus é como o cajado de um pastor, puxando-nos da beira do barranco e nos colocando de volta no caminho. Ouvir uma palavra do Pai e agir sobre ela é a única maneira de sair de uma prisão eros. “Jesus respondeu: ‘Está escrito: Nem só de pão [Materialismo] viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’” (Mateus 4.4).

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A Palavra que vem de Deus

1. Estou numa prisão eros; 2. Preciso de uma palavra específica de Deus; 3. Deus fala em meio à minha situação; 4. A palavra que vem de Deus é ágape.

Qual o papel de Cristo? Jesus é o nosso Salvador: “Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3.23).

Só Jesus é qualificado para ser o nosso Salvador porque Ele foi o único ser humano que nasceu “sem um gancho”. Se Jesus não tivesse nascido de uma virgem, Ele não poderia ser o nosso Salvador. “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5.19).

Quando olhamos para Jesus, vemos o caráter de Deus (compaixão, misericórdia, amor de aliança, etc.). Deus veio a nós como ÁGAPE ENCARNADO.

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“O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus 1.3). “Jesus respondeu: ‘Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai’” (João 14.9).

Jesus é o nosso modelo. Ele foi o primeiro ser humano cujo centro estava fora de si mesmo. Ele não tinha a mistura eros/ágape. Sua única “agenda” era fazer a vontade do Pai.

A veste nupcial “Mas quando o rei entrou para ver os convidados, notou ali um homem que não estava usando veste nupcial. E lhe perguntou: ‘Amigo, como você entrou aqui sem veste nupcial?’ O homem emudeceu” (Mateus 22.11, 12).

Quando experimentamos o novo nascimento em Jesus Cristo, Deus nos deu a justiça de Cristo! A veste nupcial – o manto da justiça divina – é a cobertura completa que torna possível experimentar uma vida linear de comunhão com o Pai. É uma expressão do favor de Deus. Deus se deleita em nós, como um noivo se deleita em olhar para sua noiva. “Pois ele me vestiu com as vestes da salvação e sobre mim pôs o manto da justiça, qual noivo que adorna a cabeça como um sacerdote, qual noiva que se enfeita com joias” (Isaías 61.10).

Infelizmente, queremos “ganhar” ou nos tornar “merecedores” desse dom. Como resultado, entramos facilmente pelo caminho da religião a fim de tentar provar nossa “dignidade” para com Deus. Nossa justiça própria não é mais suficiente para nos cobrir do que uma pilha de trapos imundos (Isaías 64.6). O caminho da religiosidade não nos dá acesso ao Pai. Através da veste nupcial, Deus nos vê perfeitos em Cristo. Embaixo dela ainda há falhas e a mistura eros/ágape, mas nossos pecados estão cobertos. Podemos descansar na obra completa de Cristo. Este manto de justiça é o “veículo” no qual fazemos nossa jornada. Por ser a justiça de Cristo, este veículo é completamente confiável.

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A veste nupcial

Fator Adão Rm 3.23

Revestindo-se do “novo eu” — justiça imputada Cl 3.10

Justiça operando em nós a transformação do Reino Gl 4.19

Sendo moldados à sua imagem — justiça transmitida Rm 8.28–30

Às vezes (até mesmo de modo inconsciente), tentamos viver a vida cristã como se ainda estivéssemos debaixo da Lei. No entanto, sabemos que jamais poderíamos alcançar o padrão de justiça de Deus por meio da Lei porque – por mais que tentássemos guardá-la – sempre ficaríamos aquém de suas exigências (Tiago 2.10)! A justiça que vem pela fé em Cristo nos é imputada e completa. Não há nada que possa ser acrescentado a ela. Em Cristo, temos um padrão de justiça absolutamente perfeito diante de Deus. Não há mais acusações contra nós (Colossenses 2.14). Isso não significa que somos pessoas perfeitas – nem de longe! Significa que Jesus Cristo é perfeito e que temos a justiça dele creditada em nosso favor por causa de nossa fé nele. Aos olhos de Deus, somos perfeitos! Se nos recusarmos a permanecer na justiça que Cristo nos proveu, seremos forçados a criar “nossa própria justiça”: “Porquanto, ignorando a justiça que vem de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se submeteram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê” (Romanos 10.3, 4).

Infelizmente, achamos fácil convencer a nós mesmos de nossa “justiça pessoal” porque, quando olhamos à nossa volta, temos a impressão de que somos “bonzinhos” em relação aos outros. Contudo, o padrão de justiça de Deus é infinitamente mais alto do que o nosso.

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Jesus mostrou o requisito para aqueles que quiserem lutar para ir ao céu com as próprias forças: “Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai celestial de vocês” (Mateus 5.48). O padrão para quem quiser ser justo diante de Deus por si mesmo não é nada menos que perfeição absoluta – não apenas “tentar com muito empenho”, ou “ser sincero”, mas guardar sem falta alguma tudo o que Deus planejou para o homem. Nitidamente, aqueles que acreditam que podem ganhar a vida eterna por suas boas obras têm um entendimento distorcido da santidade de Deus e do que significa ser justo aos olhos dele. Se a justiça pudesse ser obtida pela Lei, não haveria razão para a Cruz. Uma vez que os fariseus haviam “aperfeiçoado” um sistema de “obediência” à Lei, Jesus poderia ter adaptado para nós um estilo de vida baseado em “permanência na Lei”. Em vez disso, Jesus escolheu obedecer ao Pai e ir ao Calvário em nosso lugar. Se a justiça pudesse ser obtida pelas obras, Jesus simplesmente poderia ter dado continuidade ao seu ministério de cura e libertação. Embora Ele curasse muitas doenças e alimentasse multidões, ainda assim afirmou que era necessário ser rejeitado, morto e ressuscitar ao terceiro dia (Lucas 9.22). Em vez da Lei ou boas obras, a justiça veio pelo dom da graça. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8, 9, ACF). “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Coríntios 5.21).

Jesus pode “endireitar os nossos ganchos” Este é um processo de duas faces: Primeiro, Cristo nos dá de sua justiça imputada. Este dom ou presente nos é dado na salvação. Como vimos, não somos salvos por obras “para que ninguém se glorie”. Se a salvação é um dom, não há nada que possamos fazer para “merecê-la”. Como numa transferência bancária, a justiça de Cristo é transferida para a nossa “conta”. Mas isso não é tudo que o Senhor fez por nós. Ele também, continuamente, nos transmite de sua justiça. Esta ação nos dá a esperança de nos tornarmos semelhantes a Ele: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2.20). “Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vocês” (4.19).

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Como vemos nos textos acima, Cristo vive em nós. É por isso que temos o potencial de nos tornarmos como Ele. Cristo nos dá de sua própria natureza – dia a dia e pouco a pouco – à medida que nos alimentamos dele. Estamos acostumados a pensar na salvação a partir de um ponto de vista autorreferencial. Mas o processo de salvação tem o propósito de nos “tirar” de nós mesmos e nos colocar “em Cristo”. A vida de Cristo transmitida ao discípulo é o que costumamos chamar de “processo de santificação”, “ser moldados à imagem de Cristo”, ou “o caráter de Cristo formado em nós”. Algumas denominações tratam o assunto de maneira um pouco diferente, mas a essência é a mesma: (1) JUSTIÇA IMPUTADA: o dom de Deus no momento da salvação; este é o “veículo” no qual fazemos nossa jornada; (2) JUSTIÇA TRANSMITIDA: quando a natureza ágape do Pai é transmitida ao cristão a fim de mudar sua vida prática; este é o “combustível” necessário para a jornada. “Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!” (Romanos 5.10).

Este é o único caminho para a verdadeira liberdade. Esta liberdade não é alcançada pela força de vontade humana. Não é uma simulação – uma atitude religiosa para fazer os outros pensarem que somos “espirituais”. Permanecemos na vida de Cristo que nos foi transmitida e vivemos por sua vida!

Segurança, identidade e pertencimento Na veste nupcial encontramos também três coisas pelas quais ansiamos, mas não somos capazes de gerar por nós mesmos – elas precisam vir do alto!

1. SEGURANÇA 2. IDENTIDADE 3. PERTENCIMENTO

1. INSEGURANÇA no lugar de:

2. ILEGITIMIDADE

Causa de:

Vergonha oculta

2. ABANDONO

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Isso significa que:  Ninguém pode acrescentar ou tirar coisa alguma de nós;  A veste nupcial é completa em si mesma;  Este manto de justiça nos liberta dos sete gigantes de eros;  Quando temos segurança, identidade e pertencimento, somos abertos para mudanças. Segurança Identidade Pertencimento

Insegurança

Abertos para Ilegitimidade mudanças Abandono

Fechados para mudanças

Quando nos sentimos inseguros, ilegítimos ou abandonados não somos livres para mudar. Pessoas inseguras acham difícil mudar porque não possuem um fundamento estável e confiável para suas vidas. Por outro lado, indivíduos seguros possuem uma identidade própria que não se sente ameaçada por mudanças. Quando experimentamos SEGURANÇA, IDENTIDADE e PERTENCIMENTO, somos livres para mudar. Uma mudança iniciada por Deus sempre terá como objetivo nos moldar à imagem de seu Filho. Sabemos que Jesus é a exata expressão do Pai. Podemos estar certos de que a imagem de Jesus inclui compaixão, misericórdia, longanimidade; na imagem dele, seremos fiéis às alianças, verdadeiros, perdoadores e justos. Refletiremos o amor ágape de Deus. Mostraremos mudanças que honrem o Pai! Não tenha medo do processo de mudança de Deus. O amor dele sempre procura o nosso bem. O Pai não tem intenções ocultas nem busca vantagem pessoal! Em vez disso, Ele nos atrai para um relacionamento que é o verdadeiro anseio do nosso coração. Confiança na completa aceitação de Deus é o que, no final das contas, nos faz mudar. A confiança vem de saber que somos completos em Cristo, cobertos pela veste nupcial. Então começamos a ser libertos do mundo, das tentações, e dos sete gigantes. Não precisamos mais de uma “boa imagem”; não precisamos “ter razão”; não somos mais governados por nossos sentidos... Podemos ouvir Deus dizendo: “Não faça mais isso... Não volte naquele lugar... Não quero que você vá naquela direção...”. Ágape pode quebrar o comportamento cíclico e nos fazer andar em liberdade!

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Permanecendo em Jesus Como vimos, o objetivo da tentação é nos demover para o caminho da licenciosidade ou da religião. Por causa de seu amor, Deus traz pressões sobre nós com o objetivo de nos manter em seu Caminho Ágape. Ficamos no Caminho à medida que aprendemos a permanecer em Cristo. A palavra permanecer [Strong #3306: meno – permanecer em ou com alguém; unido com essa pessoa no coração, em pensamento e em vontade] aparece 120 vezes nas Escrituras. Quem nos ensina seu significado é o apóstolo João que a utiliza mais de 80 vezes em seus escritos! Dois versos de seu evangelho nos dão a essência do que ela significa em nossa vida cristã: “O Filho não pode fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer” (5.19). “Sem mim vocês não podem fazer coisa alguma” (15.5).

Permanecer fala de uma dependência ininterrupta da Pessoa de Jesus Cristo, através da qual a “Seiva” [Vida] da Videira possa fluir em nossa mente, vontade e emoções. Neste estado quieto de dependência em fé ocorre a transformação da nossa personalidade que glorifica o Pai (15.8). É impossível aprender a permanecer em Cristo pela fé enquanto não tivermos entendido claramente a veste nupcial – a justiça de Deus em nós. A habilidade de permanecer é o oposto de esforçar-se. Permanecer produz liberdade, fruto e libera a glória do Pai. Às vezes esta permanência pode parecer uma atitude passiva, porque é quieta e despretensiosa, mas esperar em Deus é uma ordem para nós (Isaías 64.4). Se não aprendermos a habilidade de permanecer, iremos secar (15.6) e falhar em produzir o fruto que o Pai deseja – Cristo formado em nós. Maturidade espiritual significa permanecer [estar continuamente, apoiar-se e estar seguro] no amor de Deus em qualquer situação, contradição ou crise que se apresentar a nós em nossa jornada: Permanecer difere do que chamamos de “meios de graça” (oração, estudo bíblico, igreja, etc.). Estes meios nos ajudam a cultivar nossa vida espiritual e a crescer na semelhança de Cristo. Permanecer, por outro lado, é aprender a ficar firmes (posicionados, apoiados) na justiça de Cristo, inabaláveis nas crises, quando pressões ou tentações vêm sobre nós e enquanto Deus faz o que Ele precisa fazer em nós. Permanecer é o oposto de esforçar-se. Esforçar-se é tentar viver a vida cristã com as próprias forças – fazendo algo para que “as coisas aconteçam”. Esforçar-se nega a verdade de que é Cristo quem opera em nós (Fp 2.13).

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Permanecer é uma habilidade a ser aprendida [como esquiar ou andar de bicicleta] — No texto de Efésios 6.10–14, Paulo usa a expressão “ficar firmes” três vezes: “E, havendo feito tudo, ficar firmes” (v. 13, ACF). Aprendemos a ficar firmes na veste nupcial de Cristo sem nos demover para um lado ou outro na direção de um falso alvo. Não queremos falsos alvos porque já encontramos o Verdadeiro! Uma vez focados no Pai, nos movemos na direção dele.

Sendo podados A fim de permanecer na Videira, nós, os ramos, devemos ser podados. Diariamente, Deus procura remover qualquer coisa de nossas vidas que fique entre nós e Ele. Comunhão é muito importante para Deus para que Ele permita que ervas daninhas e espinhos a obstruam. Cooperamos com Ele neste processo quando abraçamos seu trabalho de poda como parte vital de nosso crescimento e vitalidade espirituais. Contudo, ninguém jamais disse que acharíamos este trabalho agradável ou prazeroso. Este processo continuamente nos leva a experimentar “minigetsêmanis”. Encontramo-nos orando como Jesus: “Se for possível, afasta de mim este cálice”. Quando permanecemos nele, aprendemos a declarar nossa confiança nos planos e propósitos de Deus. Por fim, somos capazes de orar: “Contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres” (Mateus 26.39). Esta oração de aceitação é nossa forma de afirmar que o nosso relacionamento com Deus é mais importante do que seguir o nosso próprio caminho! Como Jesus, agradar ao Pai se torna o foco de nossas vidas. Aceitamos seu trabalho de poda como um ato de seu amor Ágape. Sabemos que Deus nunca remove algo para nos prejudicar ou ferir. Na verdade, sua poda repara e restaura. Podemos descansar no amor daquele que nos prometeu sua proteção e provisão. Como aprendemos isso? Paramos de lutar contra Ele e descansamos em seu amor. A fim de aprender a permanecer, precisamos ficar firmes, não perguntando “o que” ou “por que”, mas respondendo a “Quem” — o Deus em cuja natureza podemos confiar. Nem sempre podemos saber o que Deus está fazendo, mas sempre podemos saber quem Ele é!

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Adotados e naturalizados “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5.6, RA).

Jesus nos deu uma definição bem simples de justiça: “Eu faço sempre o que lhe agrada” (João 8.29). O Pai proveu para nós essa mesma justiça viva na forma de comida e bebida. A vida no Corpo e no Sangue de Jesus é o poder que nos capacita a agir contra o nosso amor e vontade próprios e a fazer e nos tornar a vontade do Pai. Esta não é apenas a justiça legal de Cristo, que Ele nos deu como dádiva, quando nos cobriu com sua própria vida como base legal da nossa justificação e aceitação; antes, é a resposta ao convite do Filho: “Tomai sobre vós o meu jugo [consciência do Pai] e aprendei [filiação Ágape] de mim” (Mateus 11.29). Primeiro fomos adotados oficialmente pelo Pai; agora, precisamos ser naturalizados para que os valores, os hábitos e a própria vida do Pai se tornem parte de nossa essência. Fome de justiça é uma função do espírito do filho, empenhando-se para afirmar sua semelhança genética com o Pai. Fome e sede de justiça ocupa uma posição central e crucial nas bem-aventuranças (ver Mateus 5.3–12): 1. ESVAZIAMENTO. As primeiras três bem-aventuranças descrevem um processo necessário de esvaziamento; a “cruz diária” trata com a natureza eros: “Bem-aventurados os pobres de espírito [esvaziados do orgulho focado em si mesmo: eu sou, eu tenho...]; bem-aventurados os que choram [esvaziados pela perda]; bem-aventurados os mansos [esvaziados pela humilhação], porque herdarão...”. 2. FOME. O esvaziamento precipita a condição abençoada da quarta bemaventurança central: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”. 3. FARTOS. Aqueles que estão vazios têm fome, e os que têm fome são saciados com a natureza Ágape do Filho: “Bem-aventurados os misericordiosos [DNA de Deus]; bem-aventurados os limpos de coração [livres de eros, motivados por Ágape]; bem-aventurados os pacificadores [que se sacrificam para trazer paz entre homens carnais], pois serão chamados filhos de Deus. Bemaventurados os perseguidos por causa da justiça [filiação provada, testada]...”.

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As raízes de Ágape são esvaziamento de si mesmo, perda e humilhação que desencadeiam fome espiritual, um verdadeiro apetite por justiça; os frutos são a vida do próprio Filho, infusões de sua natureza Ágape, do seu Espírito. Verdadeira fome espiritual não é um apetite para usar Deus para satisfazer a si mesmo, mas uma fome de ser deslocado, substituído pelo Filho para agradar ao Pai. Por esse processo regenerador de substituição, o Pai está transformando órfãos que só queriam agradar a si mesmos em filhos naturalizados, habilitados para viver e participar do ninho de descanso de sua família divina – o REINO DE DEUS!

Nosso Alimento espiritual “Trabalhai, não pela comida que perece [satisfação de si mesmo], mas pela comida que permanece para a vida eterna [unidade de autodoação com Deus], a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo [Ágape genuíno]... Eu sou o pão da vida... Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo [que está espiritualmente morto] é a minha carne... Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes [literalmente, no grego, “se não mastigardes”] a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos [estareis mortos, estéreis, incapazes de reproduzir o Ágape sacrificial do Pai]. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna [relacionamento qualitativo Ágape que o Pai, o Filho e o Espírito Santo compartilham desde a eternidade]; e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida [não o fruto falsificado da árvore do autoconhecimento]. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele [unidade, a vida do Filho assimilada por nós]. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá” (João 6.27, 35, 51, 53–57, RA).

Deus quer que estejamos vivos, sensíveis, focados nele, por meio do seu Filho, para que possamos corresponder num relacionamento de autodoação com Ele. Ele procura ressuscitar nossa fome espiritual através de uma filiação que nos tornará conscientes do Pai; por isso, Ele deu o próprio Filho para ser nosso alimento espiritual. Por meio da carne e do sangue de Jesus, o REINO DE DEUS nos é acessível. Está tão perto de nós quanto um “prato de comida”. Da mesma forma que ao mastigar e ingerir a comida, ela se torna parte de nós, o Filho de Deus está dizendo que Ele e nós podemos ser um só – como carne e osso (1 Coríntios 6.17). Sua vida pode ser unida à nossa, de forma que a nossa energia vital venha totalmente dele. Este alimento verdadeiro – o próprio Jesus – é a Fonte da Vida que nunca acaba. Deus está disponível a todos os que creem e, como o alimento, pode morar dentro do ser humano!

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Referências bibliográficas Bob Mumford. The Agape Road: Journey to Intimacy With The Father. Destiny Image Publishers Inc., 2002/2006. Eric Mumford. Eating Jesus – Part I (2010). Eric Mumford. Fusion of the Trinity Notes (2011). Joseph Manning. O Milagre do Amor Ágape. Editora Vida, 2006. Chuck Smith. Por Que a Graça Transforma. Monte Calvário Publicações, 2010. Ana Mendez Ferrel. Iniquidade. Editora Propósito Eterno, 2009. Peter Tan. Growing in Agape Love. Peter Tan Evangelism, 2008. Bíblia de Estudo Plenitude. Sociedade Bíblica do Brasil, 2001. Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. CPAD, 2011. Http://www.revistaimpacto.com.br/cppi-2012-christopher-walker-2 (áudios). As citações bíblicas são da versão NVI, exceto quando indicado.

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