Revista Funcionalismo em perspectiva Edição nº 05 --- 2012.1

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Cadernos de Estudos Linguísticos da Universidade Federal do Ceará

Funcionalismo em perspectiva

Fortaleza- Ceará

Edição nº 05 ---- 2012.1



´

CADERNOS DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Funcionalismo em perspectiva

Edição nº 05

2012.1


Coordenação e Supervisão Claudete Lima

Revisão Gisele Barroso Benício Vanessa Paulino Venâncio Suellen Moraes de Sousa Renata Denipoti Cavalcante e Silva Kelmy Vânia Camurça da Silva

Formatação Alcilene Aguiar Pimenta Eveline Tomaz Souza Bruno Pereira Magalhães Larissa Pedrosa Valente

Produção Aliny da Silva Portela Maria Camila Barros Alcântara Daniel Victor da Silva Souza


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.......................................................................6 SEÇÃO 1: ANÁLISE FUNCIONALISTA NA PERSPECTIVA DE FIGURA E FUNDO.....................................................................7 Uma análise funcionalista na perspectiva de figura e fundo em: La siesta del martes.......................................................................8 SEÇÃO 2: FUNÇÃO INTERPESSOAL.........................................23 A função interpessoal nos textos de opinião................................ 24 SEÇÃO 3: MODALIDADE DEÔNTICA NO DISCURSO POLÍTICO............................................................................. 37 A modalidade deôntica na construção do discurso político....................................................................... ............38 A modalidade deôntica no discurso político...................................49 SEÇÃO 4: INDETERMINAÇÃO DO AGENTE..............................61 A indeterminação do agente no português oral de países africanos.................................................................................62 SEÇÃO 5: GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO ”DAR“..................74 A gramaticalização do verbo ”dar“, no português brasileiro, nos séculos XIX e XX......................................................................75


6

APRESENTAÇÃO

A Revista Caderno de Estudos Linguísticos da Universidade Federal do Ceará é uma página voltada aos alunos do Curso de Letras, mais especificamente aos alunos da disciplina Linguística: Funcionalismo, ministrada pela Profa. Dra. Claudete Lima. Em sua 5ª edição, no semestre de 2012.1, o caderno de estudos apresenta os resultados das produções acadêmicas realizadas pelos alunos da referida disciplina, como critério de avaliação. Os artigos foram elaborados, organizados e publicados em coletividade, no qual professora dividiu a turma em três equipes para que pudéssemos chegar a esta edição, sendo estas: Revisão, Formatação e Publicação. Os artigos apresentados nessa edição foram oriundos das inúmeras leituras e discussões em sala de aula, além das leituras extraclasses, que sempre nos eram recomendadas pela Profa. Claudete, visto que a vertente Funcionalista é bastante abrangente e rica em conteúdos. Os trabalhos abordam temas referente à língua e seus usos, à luz de renomados teóricos como: Givón, Halliday, Hopper, Dik, entre outros. Nosso esforço em realizar esse trabalho foi com o objetivo de disponibilizar aos leitores bancos de dados para futuras pesquisas e motivar alunos da graduação a ingressarem, efetivamente, na carreira acadêmica. Deixamos nossos agradecimentos à querida Profa. Claudete Lima, que nos acompanhou durante todo o processo de construção do material, aqui apresentado, e nos motivou a nunca desistir.

Gratos, A Edição


7

Seção 1

ANÁLISE FUNCIONALISTA NA PERSPECTIVA DE FIGURA E FUNDO


8

UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA NA PERSPECTIVA DE FIGURA E FUNDO EM: LA SIESTA DEL MARTES

1

Alcilene Aguiar PIMENTA 2 Maria Camila Barros ALCÂNTARA 3 Resumo: Apresentamos neste artigo um estudo sobre Figura e Fundo a partir da perspectiva de análise hierárquica sugerida por Silveira (1990). Adotamos como objeto de estudo o conto La siesta del martes do escritor colombiano Gabriel García Márquez. Analisamos o texto em sua versão original, portanto, em língua espanhola. Durante o processo de análise subdividimos a narrativa com base na estrutura proposta por Adam (1992): situação inicial; compilação; (re) ações; resolução e situação final. Assim, procuramos identificar a frequência das ocorrências de orações figura e orações fundo em cada uma das partes que compõem o gênero conto. Além disso, investigamos o grau de fundidade das orações Fundo em relação às orações Figura. Desse modo, nosso objetivo neste trabalho foi verificar em que momento desse tipo de narração ocorre Figura ou Fundo com mais intensidade. Palavras-chave: Narrativa; Conto; Figura; Fundo.

INTRODUÇÃO Quando vemos uma imagem, um texto, um livro, dentre outros, percebemos de imediato o que é mais relevante ou o que está se destacando no desenho ou no texto, dessa forma ativamos nossas competências linguísticas para inferir o que se destaca e fazer hipóteses. Nesse

caso,

estaríamos

nos

utilizando

dos

conceitos

dos

planos

discursivos de Figura e Fundo, propostos Silveira (1990, apud, Conceição 2010), em que a Figura é o elemento de maior destaque dentro de determinado texto, que desencadeia papel fundamental dentro do campo inserido, à medida que Fundo é o elemento que dá suporte para a Figura, servindo como cenário e amplificando ou comentando o que é mais 1

Artigo apresentado como um dos critérios de avaliação da disciplina Linguística: Funcionalismo, ministrada pela profª Drª Claudete Lima. 2 Graduanda em Letras Português/Espanhol e suas respectivas literaturas pela Universidade Federal do Ceará. . E-mail: alcilene.ufc@gmail.com 3 Graduanda em Letras Português/Espanhol e suas respectivas literaturas pela Universidade Federal do Ceará. . E-mail: Camila.letrasufc@gmail.com


9 importante em um texto, no caso a Figura, e “que estaria elencado em mais de um nível, uns mais próximos da Figura e outros mais distantes. Os mais próximos da Figura são, assim como ela, mais objetivos, isto é, são mais icônicos.” (CONCEIÇÃO, 2010). Se

analisássemos

um

anúncio,

extrairíamos,

a

princípio,

o

objeto/coisa anunciado, isso seria Figura, posteriormente, visualizaríamos as informações complementares a respeito desse objeto/coisa, como valores, prazos e etc. Nesse caso, isso seria um exemplo de Fundo. Com base nas teorias de Figura e Fundo e no modelo de análise hierárquica de Silveira (1990), analisamos o conto La siesta del martes do escritor colombiano Gabriel García Márquez, publicado em 1962. Analisamos o texto em sua versão original, portanto, em língua espanhola. Durante o processo de análise subdividimos a narrativa com base na estrutura proposta por Adam (1992). Nosso objetivo maior foi identificar em que partes da narração apresentada através do gênero conto ocorrem Figura ou Fundo com mais intensidade. Apresentamos uma subdivisão da narrativa para, assim, analisarmos a frequência de orações figura e orações fundo existentes. O presente artigo foi composto por cinco seções, de modo que, além dessa breve Introdução, expomos a seguir os Pressupostos teóricos da pesquisa e, posteriormente, os Procedimentos metodológicos, a Análise e discussão dos resultados e, por fim, as Considerações finais. 1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS Conforme Bonini (2005), que trabalhou a noção de Sequência Textual na análise pragmático-textual proposta por Adam (1992), sequência narrativa é uma sucessão de fatos ou eventos, onde, por sua vez, ocorre uma sucessão de eventos, nesse aspecto um evento/fato será sempre a consequência de outro evento/fato; o texto é desenrolado por ter uma unidade temática, ou seja, deverá privilegiar um agente que desencadeará toda a função da narrativa. Aparecem, ainda, predicados transformados no qual um fato implicará na transformação das características do


10 personagem; apresenta-se um processo, ou seja, a narrativa vai sempre conter um começo, um meio e um fim; uma intriga, onde o autor sustentará os fatos narrados e uma moral que, implícita ou não, trará reflexões sobre o tema da narrativa. A figura abaixo mostra os eventos da narrativa segundo a proposta de Adam apontada por Bonini (BONINE, 2005, apud, ADAM, 1952) onde o teórico subdivide a sequência narrativa em cinco momentos explícitos: situação inicial; compilação; (re) ações; resolução e situação final.

Figura 1

Para Adam (ADAM, 1992, p. 28, apud, BENINE, 2005) sequência é um esquema de interação dentro de um gênero que explicita a organização das proposições em argumentos característicos que apresenta: 1) uma rede relacional hierárquica, ou seja, uma grandeza decomponível em partes ligadas entre si e ligadas ao todo que elas constituem, assim como o modelo de gráfico apresentado por Blancafort (2007) em seu trabalho e 2) uma entidade relativamente autônoma, dotada de uma organização interna que lhe é própria, como podemos perceber na figura abaixo.


11

Figura 2

Por meio desse modelo, podemos fazer inferências sobre a análise a partir

do

recorte

do

corpus

onde

observamos

os

momentos

de

figuratividade, tendo como base os aspectos apresentados acima: situação inicial; complicação, desencadeamento 1;

(Re) Ações ou avaliação;

Resolução, desencadeamento 2; situação final e moral. Feita essa prévia teórica

sobre

sequência

narrativa,

apresentamos

a

seguir

alguns

pressupostos teóricos sobre Figura e Fundo. Levando em consideração a proposta teórica referente à Figura e Fundo de Chedier (2007, apud, Hopper, 1979), percebemos que a Figura pode ser comparada ao “esqueleto” de um texto, ou seja, à sua estrutura base, seu plano mais saliente, já para Fundo Hopper denominou como aquilo que serve de cenário, ajudando, amplificando ou comentando o que é mais importante em um texto, sendo um plano discursivo que dá suporte para o que está sendo transmitido pela figura. Conforme explica Conceição (2010), as orações figura se referem a um evento dinâmico e ativo e possuem verbos pontuais e perfectivos, diferentemente

das

orações

fundo,

que

possuem

durativos/estáticos e imperfectivos. Vejamos a tabela a seguir:

verbos


12 FIGURA Perfectum Sequência cronológica

FUNDO Imperfectivo Simultaneidade e superposição cronológica de uma situação C com o evento A e/ou B Visão do evento como um todo, Visão de uma situação ou do qual a completude é um pré- acontecimento requisito necessário do qual a completude não é um para o evento subsequente. pré-requisito necessário para os eventos subsequentes. Identidade do sujeito com cada Frequentes mudanças de sujeito. episódio discreto. Distribuição não-marcada do foco Distribuição do foco marcada, na por exemplo, foco no sujeito, oração, com pressuposição do foco na sentença adverbial. sujeito e asserção no sujeito e seus complementos imediatos. Tópicos humanos Variedade de tópicos, incluindo fenômenos naturais. Eventos dinâmicos, cinéticos. Situações estáticas, descritivas. Realis Irrealis Figura 3

Percebemos

na

primeira

coluna,

referente

a

Figura,

que

as

características tendem a afirmar a proposta de Hopper (1972), onde a oração Figura segue uma sequência cronológica, e apresenta eventos dinâmicos e cinéticos, já a segunda, referente a orações Fundo, apresenta características de

Simultaneidade e superposição cronológica de uma

situação referente a oração Figura e possuem uma situação estática. Conceição (2010) apresenta a proposta de Silveira (1990), onde esta propõe a ideia de uma hierarquia de fundidade, pois, como bem afirma a autora, as funções das cláusulas Fundo, que ampliam e comentam as afirmações feitas pela Figura são, por sua vez, muito amplas e poderiam ser mais bem especificadas.


13 “Essa hierarquia está organizada em uma gradação que vai do nível mais relevante, ou seja, a Figura, até um Fundo com menor grau de Relevância. O Fundo, portanto, é que estaria elencado em mais de um nível, uns mais próximos da Figura e outros mais distantes. Os mais próximos da Figura são, assim como ela, mais objetivos, isto é, são mais icônicos... A outra característica foi o relacionamento funcional que se estabelece entre alguns tipos de Fundo.” (CONCEIÇÃO, 2010)

Com base nessa ideia de hierarquia, a autora propõe cinco níveis de Fundidade: Grau de Categoria objetividade (do mais para o menos icônico)

Fundo 1

Fundo 2

Fundo 3

Como são

Tipo de cláusulasFundo (relação funcional entre as cláusulas)

-Apresentação do Cláusulas-Fundo evento; Mais próximo do que -Apresentação do real, mais apresentam cenário; concreto. informações -Apresentação dos concretas participantes; sobre o evento. -Apresentação da fala dos participantes. Cláusulas-Fundo - Especificação do que tempo; Ainda mais através de - Especificação de próximo do real. circunstancias, modo; especificam o - Especificação de âmbito finalidade. em que os fatos se deram. Próximo da Cláusulas-Fundo -Especificação do estrutura que referente; do texto (mais especificam -Especificação de abstrato vocábulos processo/ação. e elaborado da cláusula linguisticamente) anterior. Próximo da Cláusulas-Fundo -Especificação de interpretação do que causa;


14 Fundo 4

Fundo 5

falante ao assistir especificam ao relações evento inferidas dos fatos narrados. Cláusulas-Fundo Próximo do ato que de narração. apresentam interferências do falante no evento que está narrando.

-Especificação de consequência; -Especificação de adversidade. - Apresentação opinião; -Apresentação resumo; -Apresentação duvida; -Apresentação conclusão; -Apresentação canal.

de de de de de

Figura 4

Na figura acima (CONCEIÇÃO 2010, p.33, apud, SILVEIRA, 1990), a autora do trabalho piloto, Silveira (1990), apresenta as categorias de fundo, sue grau de objetividade, como elas são, e quais Tipo de cláusulasFundo. Na primeira coluna observamos as categorias, sendo, Fundo 1, Fundo 2, Fundo 3, Fundo 4 e Fundo 5. Na segunda coluna observamos o grau de objetividade, referente a cada categoria de Fundo. Na terceira coluna a autora apresenta como são as categorias de Fundo. Por fim, na última coluna são expostos os tipos de Cláusulas-Fundo. Fazendo um paralelo entre a primeira e a última categoria, pudemos observar que o Fundo 1 é mais próximo do real, de modo que as Cláusulas-Fundo apresentam informações concretas sobre o evento, bem como, ilustram o evento, o cenário, os participantes e a fala dos participantes. Entretanto, diferentemente do Fundo 1, o Fundo 5 é mais próximo do ato de narração, as Cláusulas-Fundo mostram interferências do falante no evento que está sendo narrado, além de apresentar opinião, resumo, dúvida, conclusão e canal. Dessa forma, o último se distancia do ato real, ou seja, está mais distante da Figura.


15 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Realizamos

uma

investigação

exploratória

de

cunho

quali-

quantitativo, que se delineou como bibliográfica, uma vez que para dar início à pesquisa nos debruçamos na leitura dos textos teóricos que embasaram nosso trabalho, e que nosso objeto de estudo é um texto oriundo de publicação oficial. Como mencionado anteriormente, fizemos uma análise funcionalista na perspectiva de Figura e Fundo do conto La siesta del martes, de Gabriel García Márquez. O referido conto é parte da coleção intitulada Los funerales de la Mamá Grande, escrita em 1962. Em La siesta del martes é mostrado um período da história colombiana chamado “La violencia”. Esse momento histórico iniciou-se em 1948 e durou até 1957. Entre os acontecimentos da época existia um conflito sangrento entre o partido conservador y o partido liberal, que terminou com a ditadura do general Gustavo Rojas Pinilla. As situações mostradas no conto são reflexos de momentos característicos de “La violencia”, vivenciados pelo próprio autor: opressão, medo e a perda da esperança por parte dos colombianos que sofreram por muitos anos, tanto durante, como depois desse fatídico período, ou seja, neste conto Márquez expõe exemplos de situações angustiantes vividas pelo seu povo. Trata-se de um conto relativamente curto, pois tem pouco mais de quatro páginas. É protagonizado por uma mulher que vai visitar o túmulo do filho, juntamente com sua filha mais nova. Para chegar à pequena cidade, as duas enfrentam uma longa viagem de trem, grande parte do enredo se desenvolve nesse percurso, contudo, os momentos esclarecedores da história se passam na cidadezinha. Analisamos o texto em sua versão original, ou seja, em língua espanhola. Durante o processo de análise subdividimos a narrativa com base na estrutura proposta por Adam (1992): situação inicial; compilação; (re) ações; resolução e situação final, gerando, assim cinco categorias de análise. De posse das categorias definidas, começamos o processo de


16 análise dos dados. Primeiramente, identificamos dentro do texto todas as orações Figura e todas as orações Fundo.

Em um segundo momento,

procuramos visualizar a frequência das ocorrências dessas orações em cada uma das partes da narrativa e, posteriormente, analisamos os níveis de fundidade das orações Fundo, de acordo com o modelo hierárquico de Silveira (1990). Para ilustrar melhor os resultados obtidos, elaboramos gráficos e tabelas que serão expostos na análise. 3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Nesta seção apresentamos a análise e discussão sobre os dados estudados no que diz respeito à questão Figura e Fundo.

Ao lermos

atentamente o conto La siesta del martes de Gabriel Garcia Márquez, fizemos uma categorização desse corpus, baseada na estrutura narrativa proposta por Adam (1992). Desse modo, o conto foi subdividido em cinco categorias de análise. Vejamos a seguir um panorama geral dessa subdivisão. Partes do conto Orações Figura

Orações Fundo

Total

Situação inicial

25

40

65

Complicação

08

13

21

(Re) Ações

07

04

11

Resoluções

04

02

06

Situação final

08

12

20

Figura 5

Como mostra a tabela acima, na parte classificada como situação inicial havia 65 orações, sendo que 25 foram identificadas como orações Figura e 40 como orações Fundo. A existência de mais orações Fundo nesse momento da narrativa se deve ao fato de que ao apresentar a história o autor foi construindo o ambiente em que as ações aconteceriam. Somente na sétima oração é que ele começa a apresentar ações das personagens: uma mulher e uma menina viajantes. “—Es mejor que subas el vidrio—dijo la mujer—.” A partir de então as orações Figura


17 aparecem com mais frequência, entretanto, ainda há um predomínio das orações Fundo. Na complicação, segunda categoria de análise, fase que pode ser denominada também de desencadeamento da situação inicial e que tem uma relação de causalidade com as partes subsequentes, contabilizamos um total de 21 orações, 8 Figura e 13 Fundo. Ainda que o percentual de orações Figura tenha aumentado, se comparado ao percentual da categoria anterior, as orações Fundo permanecem como maioria. Contudo, ao adentrarmos no próximo bloco de análise, percebemos uma inversão. Em (re) ações, há mais orações Figura e menos orações Fundo. De 11 orações no total, apenas 4 são Fundo. Este momento, provavelmente, seria classificado como clímax se estivéssemos utilizando outros teóricos, mas, conforme a proposta de Adam (1992), podemos classificar assim, pois é o momento da narrativa que ocorre maior unidade de ação.

A

partir desse momento ocorreu um segundo desencadeamento, ou seja, se desenvolveu a parte da narrativa nomeada como resoluções. Em resoluções visualizamos 6 orações, das quais apenas 2 eram Fundo: “—Se tuvo que sacar todos los dientes —intervino la niña. —Así es—confirmó la mujer—.” Na situação final as orações fundo voltam a aparecer com mais intensidade, das 20 orações desse trecho, 12 eram Fundo e apenas 8 Figura. Vejamos abaixo um gráfico que sintetiza os percentuais encontrados.


18

Figura 6

Após essa breve análise estatística entre as orações Figura e orações Fundo dentro do conto La siesta del martes,

passamos ao

momento fundamental de nosso estudo, a análise dos níveis de fundidade das orações Fundo existentes nessa narrativa.

Conforme dissemos na

seção Fundamentos teóricos, utilizamos em nossa análise o modelo hierárquico postulado por Silveira (1990). A seguir, faremos a análise desses níveis em cada uma das categorias. Em nossa análise, buscamos identificar os níveis de Fundidade apontados por Silveira (1990) que se caracterizam como: Orações Fundo 1 - Apresentação do evento, apresentação do Cenário, apresentação dos participantes,

apresentação

Especificação

do

tempo,

da

fala

dos

especificação

de

participantes; modo,

Fundo

especificação

2

de

finalidade; Fundo 3 - Especificação do referente, especificação de processo/ação; Fundo 4 - Especificação de causa, especificação de consequência, especificação de adversidade; e Fundo 5 - Apresentação de Opinião, apresentação de resumo, apresentação de dúvida, apresentação de conclusão; apresentação de canal. Em seguida, observemos trechos do nosso corpus.


19 1 – Descrição do Cenário: “Al otro lado del camino, en intempestivos espacios

sin

sembrar,

habia

oficinas

con

ventiladores

eléctricos,

campamentos de ladrillos rojos y residencias con sillas y mesitas blancas en las terrazas entre palmeras y rosales polvorientos.” 2 – Descrição de Tempo: “Eran las once de la mañana y todavia no había empezado el calor.” 3 – Descrição de Ação/Processo: “La mujer le dió la peineta” Nos

planos

discursivos

(Re)

Ação,

Resolução

e

Situação

Final

percebemos que as orações Figura estão mais presentes na narrativa, pois notamos a presença de verbos perfectivos, eventos dinâmicos e ativos, ou seja, verbos que exprimem ação: 1 - Es el ladrón que mataron aquí la semana pasada —dijo la mujer en el mismo tono—. Yo soy su madre. 2 – La mujer contestó cuando acabó de firmar. 3 - La mujer garabateó su nombre, sosteniendo la cartera bajo la axila. 4 - La mujer continuó inalterable: —Yo le decía que nunca robara nada que le hiciera falta a alguien para comer, y él me hacía caso. Nos exemplos acima, percebemos nitidamente os elementos que constituem os planos das orações Figura

e

Fundo,

sendo, essas

informações, principais e secundárias. Ambas de fundamental importância para a narrativa. As orações Figura caracterizadas por ações concretas são mais perceptíveis, já e as orações Fundo caracterizadas por ações irreais estão mais para o plano da subjetividade fazendo com que dessa forma o leitor organize as informações referentes ao texto, de acordo com sua percepção ou sua intenção comunicativa. Após analisar todos os níveis de fundidade das orações Fundo encontradas no conto La siesta del martes, obtivemos os seguintes resultados:


20 Estrutura/ Orações Orações Orações Orações Orações Orações Plano Figura Fundo 1 Fundo 2 Fundo 3 Fundo 4 Fundo 5 Discursivo Situação 25/65 22/40 8/40 4/40 4/40 2/40 Inicial (40,9%) (32,5%) (11,8%) (5,4%) (5,4%) (2,9%) Complicação

08/21 9/13 (38,9%) (42,3%)

0/13 (0%)

1/13 (4,7%)

0/13 (0%)

3/13 (14,1%)

(Re) Ação

07/11 2/4 (63,6%) (18,2%)

0/4 (0%)

0/4 (0%)

0/4 (0%)

2/4 (18,2%)

Resolução

04/06 (66,6%)

2/2 (33,4)

0/2 (0%)

0/2 (0%)

0/2 (0%)

0/2 (0%)

Situação Final

08/20 (40%)

10/12 (50%)

0/12 (0%)

2/12 (10%)

0/12 (0%)

0/12 (0%)

52/119 (43,6%)

45/71 (63,3%)

Total

8/71 (11,6%)

7/71 (9,8%)

4/71 (5,5%)

7/71 (9,8%)

Figura 7

Com base nos números da tabela acima, podemos inferir que nos planos discursivos, situação inicial e Complicação há predomínio das orações Fundo, caracterizadas pela notoriedade de situações táticas, descritivas, como a descrição do cenário, dos personagens, especificação do tempo, dentre outras características. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, constatamos a ocorrência de orações Fundo em todos os momentos da subdivisão do texto, conforme o modelo de Adam (1992). Além disso, pudemos visualizar os cinco níveis de fundidade propostos por Silveira (1990), contudo, em percentuais distintos de acordo com o momento da narrativa. Assim, na Situação inicial e na complicação, observamos os cinco níveis de Fundidade, porém, o nível 1 está presente em maior quantidade, ou seja, 22 das 40 orações. Os demais níveis foram encontrados em número menor, nos mostrando que nessa parte do texto as ações são


21 mais próximas do ato narrativo.

Na (Re)Ação e Resolução, percebemos

que os níveis 2, 3 e 4 não estão presentes, pois, trata-se de uma parte da enredo em que ocorre o desenvolvimento da trama e, nesse contexto, os personagens têm papel mais ativo. Na Situação final, observamos uma maior predominância do nível 1, sendo que os níveis de Fundidade 2, 4 e 5 não aparecem, devido ao fato dessa parte da sequência narrativa ser mais próxima do real. Em vista disso, verificamos a existência de orações principais e secundárias, sendo que estas representam as ações secundárias, as quais têm função importantíssima para a narrativa, pois são elementos que complementam as ações principais. REFERÊNCIAS ADAM, J-M. Le récit. Paris: Presses Universitaires de France, 1984. Le texte narratif. Paris: Nathan, 1985. ALVES; Gabriela Roberto do Vale, FERREIRA; Mayar de Souza. Planos discursivos nos contos de Clarice Lispecto: Uma análise funcionalista, In: Cadernos de estudos linguísticos da Universidade Federal do Ceará. Ed. nbº 3, Fortaleza, 2011. BLANCAFORT; Helena Calsamiglia y WALL; Amparo Tusóu. Las cosas del decir. Barcelona, Editora Ariel, 2007. BONINI, Adair. A noção de sequência textual na análise pragmáticotextual de Jean-Michel Adam. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTAROTH, D. Gêneros, teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005. CHEDIER, Carolina Moreira. Perfil de figura fundo em crianças com e sem queixas escolares / Carolina Moreira Chedier. Rio de Janeiro, 2007 106 f.: il. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, 2007.


22 CONCEIÇÃO, Priscila Thaiss. Compreensão de Figura e Fundo em TextosLiterários. Relatório Técnico-Científico apresentado ao CNPq. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras/ Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008, mimeo. MÁRQUEZ, Gabriel García. Sequência de Cuadragésimo cuarta edición en la

Editorial

Sudamericana

Septiembre

de

2001

IMPRESO

EN

LA

ARGENTINA Queda hecho el depósito que previene la ley 11.723.© 1962, Editorial

Sudamericana

S.A.®Humberto

531,

Aires.www.edsudamericana.com.arISBN 950-07-0091-3© 1962.

Buenos


23

Seção 2

FUNÇÃO INTERPESSOAL


24

A FUNÇÃO INTERPESSOAL NOS TEXTOS DE OPINIÃO1 Gisele Barroso BENICIO 2 Vanessa Paulino VENANCIO Resumo: O presente artigo terá como foco de sua análise a função interpessoal encontrada em textos de opinião. Analisaremos o nosso corpus de acordo com a teoria da valoração no intuito de perceber as diversas manifestações de opiniões expressas pelo autor dos editoriais escolhidos em nosso trabalho. Esse corpus é composto pelos textos do gênero editorial tirados da Folha de S. Paulo, “Da fala ao grunhido”, “Desfazendo equívocos” e “Preconceito cultural”, ambos de Ferreira Gullar. Apresentaremos as categorias de valoração que serão abordadas em nossa análise, restringindo-nos ao que será mais relevante em nossa pesquisa. Deixaremos claro que o nosso enfoque se concentrará na categoria de julgamento, buscando, desta forma, compreendermos qual o grau de argumentação utilizado pelo autor de nosso corpus ao sustentar suas proposições e ideias. Devemos ressaltar que nos valeremos dos resultados mais abrangentes a fim de que possamos demonstrar os aspectos gerais e que sejam coerentes com o propósito geral observado nos editoriais analisados. Palavras-chave: valoração; julgamento; argumentação.

INTRODUÇÃO A teoria da valoração, utilizada como embasamento teórico em nossa pesquisa, fundamenta-se em categorias de análises em textos. Surgida a partir de uma abordagem funcionalista, essa teoria possui uma sistematização própria para analisar a avaliação e a perspectiva utilizada na produção de um texto, não importando qual seja o seu gênero. No entanto, utilizaremos textos de opinião a fim de valorizarmos nossa proposta de análise. Iremos, doravante, demonstrar as categorias básicas de valoração, dando maior enfoque naquela que será utilizada por nós nesta pesquisa. Temos na teoria da valoração um interesse em analisar a perspectiva funcional das sentenças, não dando, assim, uma importância primordial à forma; tendo em vista que o enfoque é dado nas questões sociais que são embasadas na construção dos textos e discursos. Os indivíduos constroem seus textos adotando determinadas posições que 1

Trabalho realizado mediante a disciplina Língua Portuguesa: Funcionalismo, ministrada pela Prof. Dra. Claudete Lima em junho de 2012. 2 Graduandas do Curso de Letras-Português da Universidade Federal do Ceará – UFC.


25

são

concebidas

em

um

universo

social;

portanto,

buscaremos

compreender esses mecanismos de construção tendo como base as categorias

de

valoração,

a

saber:

afeto,

julgamento,

apreciação.

Ressaltamos, de antemão, que nos focaremos na categoria julgamento com o intuito de encontrarmos resultados condizentes com a proporção da força argumentativa utilizada em nosso corpus. Em síntese, buscaremos ratificar a pretensão de nossa pesquisa que se concentra numa relação dialógica entre a questão temática e os recursos de argumentação e julgamento, com o intuito de atestar a participação

do

autor

no

processo

dialógico

de

suas

proposições

enunciativas. 1. FUNDAMENTAÇÃO Para a fundamentação teórica selecionamos, prioritariamente, o artigo “Valoração – a linguagem da avaliação e da perspectiva”, de Peter White, a fim de deixarmos claro nosso ponto de vista acerca do corpus analisado. Como foi dito anteriormente, a abordagem utilizada pela valoração, quer de avaliações positivas, quer de negativas, sugere um agrupamento dos campos semânticos afeto, julgamento, apreciação. Deter-nos-emos, pois, na categoria julgamento, a qual é divida em dois grupos: um que lida com a estima social e outro que é guiado pelas sanções sociais. Todavia, apesar de o julgamento construir suas posições e relação ao comportamento humano, devido ao recorte feito em relação aos campos semânticos, iremos, em nossa análise, abstrair as categorias de julgamento, ampliando o uso desses conceitos, também, para seres inanimados. Durante nossa análise, utilizaremos a obra A argumentação (2008), de Christian Plantin, com seu modelo dialogal que propõe um novo modo de pensar a atividade argumentativa, expandindo-a. Segundo Plantin (2008), nesse modelo a enunciação situa-se contra o pano de fundo do diálogo.


26

Enfim, dialogaremos as duas perspectivas, a da argumentação e a da valoração, com o propósito de abordar a função interpessoal evidenciada nos textos analisados. 2. METODOLOGIA A metodologia utilizada para esta análise acerca da função interpessoal nos textos de opinião fará usoda teoria da valoração, visto que essa análise é prioritariamente qualitativa, e não quantitativa. Dessa forma, em nossa conclusão, após a análise do corpus e das ocorrências extraídas deste, iremos ver quais formas de julgamento foram mais recorrentes e, também, as que foram menos usuais a fim de flagrarmos com que intenção o autor utilizou tal forma, qual a isotopia presente no texto. 3. O RECURSO DE JULGAMENTO DE VERACIDADE EM DA FALA AO GRUNHIDO Para esta análise usamos, sistematicamente, as técnicas de valoração dialogadas com a forma de argumentar e com a perspectiva que são utilizadas nos textos. Nosso fim último, depois de coletar o corpus, é perceber qual a mensagem que o autor desejou transmitir - nos, através dos recursos menos utilizados e dos mais frequentes no texto. Esse tipo de julgamento, prioritariamente, utiliza para codificação desta mesma categoria o adjetivo, salvo em alguns exemplos nos quais teremos a presença também de expressões, substantivos e advérbios. Como podemos observar nos respectivos exemplos: Está, portanto, implícito que não me considero dono da verdade, que nem sempre tenho razão porque há questões complexas demais para meu entendimento. (...) “todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”.


27

Não vejo um professor de medicina afirmando que a tuberculose não é doença, mas um modo diferente de saúde, e que o melhor para o pulmão é fumar charutos. 3

Ferreira Gullar inicia seu texto assinalando como tem sido visto por algumas pessoas e como ele se porta em relação à opinião da sociedade, isso fica ilustrado no excerto seguinte: “Desconfio que, depois de desfrutar durante quase toda a vida da fama de rebelde, estou sendo tido, por certa gente, como conservador e reacionário. Não ligo para isso e até me divirto, lembrando a célebre frase de Millôr Fernandes, segundo o qual “todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”.A explicativa acerca da “fama” negativa do autor deve-se ao posicionamento deste em relação ao uso da língua, tal fato é explanado posteriormente. Nesse trecho citado é possível perceber o uso do recurso veracidade nos adjetivos “conservador e reacionário”, ambos com valor negativo. Durante a narrativa, Ferreira Gullar tece seu textoem cima de uma justificativa tanto para a conotação negativa que recebeu, quanto para atestar que sua hipótese é verídica. Todavia, também há a presença de outros recursos como a propriedade, a capacidade e a normalidade. É interessante observar que estes foram utilizados também a serviço da hipótese posposta pelo autor. O recurso da propriedade demonstra que Ferreira Gullar não está acima da crítica, visto que possui “fama de rebelde”; enquanto que a capacidade, perceptível através do adjetivo “célebre”, viabiliza a exaltação das ideias de Millôr Fernandes que é usado em prol da ideologia do autor. Por fim, o recurso da normalidade visível em “todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”,ilustra, através de uma metáfora que utiliza o uso do nome de dois escritores, costumes antagônicos no âmbito da fala que irão ser colocados em disputa durante a tessitura do texto, no qual um será exaltado e o outro desprestigiado. 3

As citações seguintes presente nas análises são referentes ao nosso corpus: Da fala ao grunhido, Desfazendo equívocos e Preconceito cultural, ambos do Ferreira Gullar.


28

É perceptível que o recurso da normalidade também é usado com frequência no texto, porém ele não é o principal, pois se constitui um programa de uso para o recurso da veracidade. Para exemplificar cito o autor: Se está certo dizer “dois mais dois é cinco”, então a regra gramatical, que determina a concordância do verbo com o sujeito, de nada vale.

E ainda: É verdade que ninguém morre por falar errado, mas, certamente, dizendo “nós vai” e desconhecendo as normas da língua, nunca entrará para a universidade, como entrou nosso professor.

Notamos

por

meio

dos

excertos

acima

que

o

recurso

da

normalidade nos expõe as duas maneiras de falar presentes no texto, sendo que as estimas sociais vêm carregadas ora com valor positivo, “certo”, ora com valor negativo, “errado”. Prosseguindo

em

nossa

análise,

Ferreira

Gullar,durante

o

texto,alterna quanto ao tipo de julgamento veracidade, ora com valor positivo, ora com valor negativo, visto que no texto Da fala ao grunhido são levantadas duas hipóteses a respeito da língua, mais propriamente do modo de falar, que diz respeito à norma padrão e à coloquial. Portanto, o autor, embora inicie levantando questionamentos e hipóteses, posicionase em relação aos padrões de linguagem, mostrando-se favorável a um padrão e desfavorável ao outro. Como podemos ver em tais trechos. Cito um exemplo. Outro dia, ouvi um professor de português afirmar que, em matéria de idioma, não existe certo nem errado, ou seja, tudo está certo.

Dessa forma, o autor faz uso dos elementos contrários para ratificar sua opinião acerca do uso da linguagem. Sendo assim, expõe de forma

sutil

seu

posicionamento

sem

parecer

uma ideia

absoluta.

Criticamente, utiliza metáforas e exemplos do cotidiano a fim de mostrar o que se contrapõe a sua ideia, aquilo que tem caráter contraditório.


29

Não vejo um professor de medicina afirmando que a tuberculose não é doença, mas um modo diferente de saúde, e que o melhor para o pulmão é fumar charutos.

Concluindo nossa análise, temos o autor Ferreira Gullar,no decorrer do editorial, mudando o tipo de voz de declaração para atribuição, no intuito de tornar seu texto mais imparcial, já que este foi redigido em primeira pessoa. Tal prerrogativa e tantas outras compõem um polo de argumentos que atestam a visão do autor a fim de tornar indubitável seu posicionamento que prioriza o uso padrão da língua. Essa transição da voz de declaração para atribuição pode ser vista nestes fragmentos, respectivamente: “Por isso, às vezes, se não concordo, fico em dúvida, a me perguntar se estou certo ou não”, “Pode o leitor alegar que a época é outra, mais dinâmica, e que a globalização tende a misturar as línguas como nunca ocorreu antes”, isto é, no primeiro extrato o discurso está em primeira pessoa, enquanto que o segundo está em terceira pessoa. Portanto, o recurso veracidade priorizado nesse texto sanciona atitudes sociais, com valores positivos e negativos, e dessa forma, elogia uma ideia e condena outra, dialogicamente. Em suma, para firmar definitivamente essa análise expomos o último parágrafo do editorial: (...) Isso de falar correto é coisa velha, e o que importa é que as pessoas se entenda, ainda que apenas grunhindo.

Nesse excerto o autor, de forma peculiar, conclui seu texto rematando a ideia contrária, contudo não no intuito de afirmá-la, mas de criticá-la ao dizer que o modo de falar que se distancia do padrão constitui-se um “grunhindo”, mesmo que viabilize a comunicação. 4. O JULGAMENTO DE VERACIDADE EM DESFAZENDO EQUÍVOCOS


30

Doravante iniciaremos nossa análise tentando compreender de que maneira o autor do texto Desfazendo equívocos procurou demonstrar sua argumentação em torno do tema abordado em seu discurso. Como já se pode inferir a partir do título, o autor procurou transmitir

aos

seus

leitores

uma

verdade

condicionada

pelo

seu

pensamento e pelo seu modo de experienciar o conhecimento de mundo. O texto centraliza-se na questão do movimento neoconcreto brasileiro e, para início de conversa, Ferreira Gullar, autor do texto em análise, apresenta uma proposta equivocada acerca de sua pessoa em relação ao grupo concretista paulista. Para ilustrar a forma de argumentação utilizada pelo autor, temos o seguinte excerto: “Costuma-se afirmar que o movimento neoconcreto nasceu da ruptura minha com o grupo concretista paulista, o que não é verdade”. Concluímos a partir daí, que o propósito primeiro do autor foi explicitar a verdade considerada por ele equivocada. Em seguida, acompanhando o percursogerativo de sentido do texto, temos o refutar da ideia exposta anteriormente. Isso nos comprova a tese do modelo dialogal da argumentação, em que a situação argumentativa é desenvolvida pelo confronto de pontos de vista em contradição. “Em particular, as justificativas podem se fazer acompanhar de uma série de ações concretas, coorientadas pelas falas e visando tornar sensíveis as posições defendidas.” (PLANTIN, 2008, p.65).Tomando como base esse processo dialogal da argumentação, fortaleceremos o nosso propósito de atestar a força argumentativa utilizada no processo. Logo adiante, temos a posição do autor evidenciada no discurso com o intuito de contradizer e refutar a opinião equivocada que permanecia até então. Na verdade, a ideia de caracterizar o grupo de artistas do Rio, até entãoconsiderados concretistas, como neoconcretos nasceu da constatação de que o que faziam diferia muito do que se considerava arte concreta. Não foi uma invenção minha, e sim uma constatação. (Grifo nosso)


31

O que temos nesse excerto é, segundo a teoria da valoração, um julgamento de veracidade do tipo positiva, em que atestamos a voz do autor explicitamente, numa declaração. Observamos ainda, que o discurso inicia-se com a expressão na verdade, o que alega uma nova visão acerca de um argumento que já foi demonstrado anteriormente. Destarte, o discurso toma uma nova dimensão, enveredando para uma proposta de veracidade que se completa com a expressão final e sim uma constatação. Prosseguindo em nossa análise, verificamos que em alguns pontos o autor valeu-se dos recursos de julgamento Capacidade e Usualidade. Isso nos chamou atenção pelo fato de o discurso tomar novas proporções que não foram lançadas no contexto fortuitamente. Embora tenhamos atestado um maior privilégio na categoria de julgamento Veracidade, a questão da utilização dos outros recursos supracitados nos revela um texto que, para atingir o seu ápice argumentativo, enfatiza o recurso de Capacidade, com o intuito de pôr em xeque a validez do discurso alheio. É interessantíssimo o emprego de tal recurso, uma vez que um texto que se focasse apenas em uma categoria de julgamento tornar-se-ia enfadonho ede pouca credibilidade. Se pensássemos em um discurso que a todo o momento

refere-se

poderíamos

ao

concebê-lo

discurso como

do

outro

enfraquecido

como

não

do

ponto

verdadeiro, de

vista

argumentativo. O discurso torna-se capcioso na medida em que o leitor arguto percebe a utilização de tais recursos esporádicos, mas não fortuitos. No

trecho

“A

ideia

de

atribuir

um

novo

nome

a

essas

experiências não teve nada a ver com a rivalidade entre mim e os poetas concretistas paulistas.”; observamos mais uma vez a desconstrução de conceitos prévios que estariam impregnados na concepção dos seus leitores. Desta vez, notamos que aparece uma voz radical de declaração enfatizando a razão do autor naquilo de que se pretende convencer. Dando

prosseguimento

ao

nosso

raciocínio,

verificamos

que

indubitavelmente a presença do recurso de julgamento Veracidade está presente no decorrer de todo o discurso produzido. A função interpessoal


32

é evidente em todos os seus aspectos, até mesmo quando o autor se vale de vozes alheias, seja confirmando-a ou contradizendo-a, pois procura dessa forma dar maior credibilidade a sua opinião. No excerto “Não pretendo afirmar que a criação artística se dá às cegas, por mera intuição.”; notamos uma preocupação do autor em se justificar perante o seu leitor, de forma a não dar margem para possíveis interpretações que não correspondam ao verdadeiro intuito do discurso produzido. E, destarte, a categoria de Veracidade é mais uma vez reafirmada. Ao fim do texto analisado, temos, naturalmente, uma conclusão e síntese da proposta do discurso efetuado. Isso fica comprovado neste trecho: “Finalmente, devo esclarecer que não me afastei da arte neoconcreta por ter rompido com ela e com meus companheiros.” Temos ao todo uma declaração, em que a voz do autor predomina em sua grande maioria com a utilização dos recursos de Veracidade, primordialmente, Capacidade e Usualidade. Em conclusão, podemos afirmar que a categoria Veracidade teria a maior probabilidade de ocorrer em virtude do título e do assunto, e isso não nos foi surpresa, porém o que nos promoveu curiosidade foi a forma de trabalhar os recursos de julgamento em um âmbito de argumentação dialógica no tocante aos pontos de vista em contradição. Concebemos então, o encontro do discurso com o contradiscurso na função interpessoal do texto. 5. O RECURSO DE NORMALIDADE EM PRECONCEITO CULTURAL O que temos no texto de opinião Preconceito cultural, de Ferreira Gullar, é uma discussão sobre a definição de literaturanegra concebida ultimamente

como

uma

literatura

escrita

por

negros

e

mulatos.

Prosseguindo na linha de raciocínio do autor, encontramos como recurso abrangente a categoria de julgamento Normalidade, e é com o propósito


33

de atestarmos com que intenção foi utilizada tal categoria que iniciaremos nosso estudo. Como convém a um texto argumentativo-dialógico, o editorial em análise inicia-se com uma visão que a posteriori o autor irá refutar: “De alguns anos para cá, passou-se a falar em literatura negra brasileira para definir uma literatura escrita por negros e mulatos. Tenho dúvidas da pertinência de uma tal designação. E me lembrei de que, no campo das artes plásticas, em começos do século 20, falava-se de uma escultura negra, mas, creio eu, de maneira apropriada. (Grifo nosso)

Podemos

observar

que

além

do

refutamento

da

proposta

convencional temos a voz declarativa que se propõe a pôr em xeque a validez da definição de literatura negra brasileira. A princípio não vemos um tom de reprovação radical por parte do autor, porém ele cria uma dúvida, o que para Plantin, (2008, p.64), “Do ponto de vista psicológico, pode se fazer acompanhar de um estado de desconforto psicológico do tipo ‘inquietação’.”. O que se pode observar logo em seguida é que o autor põe em evidência uma voz de terceiros, atribuindo um juízo de valor positivo acerca do que foi dito. É nesse momento que o uso da categoria de julgamento Normalidade vai aparecer nitidamente com a expressão maneira apropriada. Temos um julgamento que tange o comportamento humano em relação ao modo de se referir à escultura negra. O recurso Normalidade, aqui entendido como comportamento e maneira de agir, ficou explicitado como positivo, dando-nos a ideia de aprovação do autor na opinião concebida. No parágrafo seguinte, temos as palavras do autor: Certamente, os estudiosos reconhecem que, sem o negro e sua criatividade, seu modo próprio de encarar a vida e mudá-la em festa e beleza, não seríamos quem somos. Mas teria sentido, agora, pretender separar, no samba, na dança, no Carnaval, o que é negro do que não é? (Grifo nosso)


34

No

excerto

supracitado,

observamos

a

noção

de

pergunta

argumentativa, em que o proponente elabora uma pergunta, argumenta e, por último, conclui, oferecendo, ele mesmo, uma resposta à sua indagação. Assim, a argumentação constrói-se a partir de perguntas e respostas que formam um conflito discursivo. No mesmo parágrafo é possível apreender a interpessoalidade, aqui efetivada na Normalidade, no momento em que ele deixa transparecer a sua opinião antes mesmo de concluir a pergunta. Basta atentarmos para a expressão teria sentido logo no início da frase. Prosseguindo em nossa análise temos: “Mas, infelizmente, na literatura, essa descriminação começa a surgir. Não acredito que vá muito longe, uma vez que é destituída de fundamento, mas, de qualquer maneira, contribuirá para criar confusão.”. Temos nesse pequeno trecho, três expressões de julgamento do autor que podem convergir na questão do comportamento perante a concepção errônea que se tem de literatura negra no Brasil. Durante a tessitura do texto, temos a utilização de outros recursos de julgamento, a saber: Tenacidade, Capacidade e Veracidade, para ficar nos mais utilizados. Isso comprova o que já foi mencionado na análise do texto anterior e reflete na concepção de escrita do autor escolhido. Os recursos de julgamento nos auxiliam, destarte, a compreendermos os mecanismos de construção e de intenção do autor. Finalizando

nossa

análise

do

texto

Preconceito

cultural,

conseguimos atestar mediante os recursos de julgamento da teoria da valoração a categoria de Normalidade como a mais relevante nesse texto, o que valoriza e explica de certa forma, o título; uma vez que o preconceito está atrelado ao comportamento humano. Como parágrafo de fechamento, temos: Contra toda evidência, afirmam que só quando se formar no Brasil um grande público afrodescendente os escritores negros serão reconhecidos, como se só quem é negro tivesse isenção para gostar de literatura escrita por negros. Dizer isso ou é tolice ou má-fé.


35

Apenas reiterando o que já foi mencionado, observamos nesse parágrafo a síntese da opinião do autor, que se vale, mais uma vez da categoria de Normalidade, agora numa acepção negativa. CONCLUSÃO Podemos concluir, a partir das análises dos textos, que a categoria da valoração lança um olhar avaliativo sobre estes, de forma a nos orientar quanto à apreensão do sentido do texto. Os recursos de julgamentos estão divididos em dois grandes grupos: o da estima social e o da sanção social. No primeiro temos os respectivos recursos normalidade, capacidade e tenacidade. Enquanto que no segundo, de semelhante modo, temos a veracidade e a propriedade. De acordo com a análise de nosso corpus teremos como principais recursos: a veracidade, que será o recurso recorrente tanto no texto Da fala ao grunhido como no Desfazendo equívocos e a normalidade presente em Preconceito cultural, ambos de Ferreira Gullar. Enfim,

nos

dois

primeiros

textos

o

autor

posiciona-se,

favoravelmente, em relação a uma ideia apresentada com valor eufórico. No primeiro, tecendo essas ideias análogas de forma que levante argumentos para confirmar seu posicionamento e antiargumentos para negar aquilo que lhe é contrário; alternando, portanto, o recurso veracidade utilizado ora com valor positivo, ora negativo. Já no segundo ele também através do recurso da veracidade vai desconstruindo a ideia presente, já institucionalizada, por isso que esta sanção social se constituirá

numa

condenação,

terá

valor,prioritariamente,

negativo.

Enquanto que no terceiro vigora o recurso da normalidade a fim de fazer jus

ao

título

Preconceito

cultural,

o

qual

faz

referência

a

um

comportamento social, neste caso, com valor negativo, uma crítica. Temos, no entanto, um trabalho que utiliza poucos recursos da teoria

da

valoração,

e

dessa

forma,

deixamos

em

aberto

várias


36

possibilidades de estudo que façam uso da mesma teoria aqui utilizada como embasamento. BIBLIOGRAFIA GULLAR, Ferreira. Da fala ao grunhindo. E8 ilustrada. Folha de São Paulo. _______________. Desfazendo equívocos. E10 ilustrada. Folha de São Paulo. _______________. Preconceito cultural. E12 ilustrada. Folha de São Paulo. PLANTIN, Christian. A argumentação. Tradução Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. WHITE, Peter. “Valoração – a linguagem da avaliação e da perspectiva”. Linguagem em (Dis)curso (2004).


37

Seção 3

MODALIDADE DEÔNTICA NO DISCURSO POLÍTICO


38

A MODALIDADE DEÔNTICA NA CONSTRUÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO Eveline TOMAZ SOUZA1 RESUMO: O presente trabalho apresenta uma pesquisa voltada para a contribuição dada pela categoria modalidade deôntica na construção do discurso político. A modalidade deôntica é vista como um processo de construção textual ligada aos conceitos de permissão, obrigação e proibição, necessariamente. Partindo de uma visão geral de modalidade relacionada à elaboração de sentido dentro do discurso, trabalhamos com os conceitos de modalidade deôntica e dos valores deônticos bem como as aplicações dessas concepções no discurso de posse do presidente americano Barack Obama. PALAVRAS-CHAVE: POLÍTICO.

MODALIDADE

DEÔNTICA,

VALORES

DEÔNTICOS,

DISCURSO

ABSTRACT: This paper presents a research focused on the contribution by category deontic modality in the construction of political discourse. Deontic modality is seen as a process of textual construction linked to the concepts of permission, obligation and prohibition, necessarily. Starting with an overview of the modality related to the development of meaning within the discourse, we work with the concepts of deontic modality and deontic values as well as applications of these concepts in the inauguration speech of the American President Barack Obama. KEYWORDS: DEONTIC MODALITY, DEONTIC VALUES, POLITICAL SPEECH.

INTRODUÇÃO A

Modalidade

está

relacionada

com

os

elementos

discursivos(permissão, obrigação, possibilidade, necessidade), utilizadas pelo falante como a finalidade de levar o ouvinte a ação. É uma categoria constituída de elementos pragmático-discursivos,diretamente ligados ao discurso do falante e às situações de fala. Em se tratando dessas categorias,é sabido que nos discursos políticos, uma gama considerável desses elementos está presente em forma verbal, deadjetivos, de substantivos ou de advérbios.Apresenta-se então a forma de expressão que traz a modalidade constituída no discurso, seja ele político ou de qualquer outro gênero.

1

Graduanda em Letras Português-Inglês, com trabalho orientado pela profa. Dra. Claudete Lima na disciplina de Funcionalismo, na Universidade Federal do Ceará - UFC.


39 Focando o pensamento e análise no discurso político e, sendo eles uma fonte de estudo que desperta um interesse por parte de muitos, decidimos por escrever este trabalho com a finalidade de observar como a modalidade é construída dentro do discurso político e a forma como essa construção é dada. Foi escolhido então, para análise, o discurso de posse do presidente americano Barack Obama. Será interessante observar como a modalidade vai se delineando dentro de um discurso em língua estrangeira composto por fortes elementos culturais e históricos que diferem da realidade do nosso país. Tomaremos como base os conceitos de Lyons (1977), Dick (1997) e Pessoa (2007) que nos forneceram a base necessária para discorrer sobre Modalidade Deôntica o que tornou viável a identificação dos elementos relacionados a essa categoria dentro de um discurso. Seguindo os postulados dos autores citados, a primeira parte desse trabalho abordará os conceitos referentes a Modalidade e ao subgrupo, Modalidade Deôntica, apresentando

definições

que

tornarão

desse

estudo,

nosso

trabalho

claro

e

compreensível. Na

segunda

parte

será

expostos

os

dados

encontrados no discurso citado e uma categorização dos mesmos. Em seguida,

na terceira

parte

do

artigo, discutiremos

a relação

dos

modalizadores com a mensagem que o falante objetivou passar com seu discurso. Esperamos, dessa maneira, tornar evidente o uso dos modalizadores nesse tipo de texto bem como mostrar para os leitores desse artigo formas de uso da Modalidade Deôntica em discursos políticos e modos de análise que podem ser utilizados em outros trabalhos futuros. UM BREVE OLHAR SOBRE MODALIDADE O linguista Pessoa (2007) defende que Modalidade é um domínio semântico-discursivo, uma vez que o falante faz uso dos modalizadores para a construção de sentido dentro do discurso.É a maneira como o


40 falante vai direcionando o discurso, seja para um sentido mais permissivo, proibitório ou obrigatório, de modo que a sua mensagem expresse o valor desejado. A

modalidade

é

tida

como

elaborada

em

termos

funcionais

envolvendo o discurso do falante e a impressão do ouvinte em relação ao processo de comunicação. Também, o uso de Modalidade abre um leque de possibilidades de expressão discursiva, ou seja, o discurso do falante pode ser recuperado mesmo quando o uso de modalizadores não esteja explicitado. De uma maneira mais geral, podemos olhar para a Modalidade como uma gramaticalização das atitudes e opiniões dos sujeitos. Para uma início de análise é necessário a observação de dois constituintes: o predicado e seus argumentos bem como suas relações. A Modalidade vai exprimir gradativamente a intenção do falante face ao conteúdo proposicional do enunciado por ele produzido. Os valores de possibilidade, permissão, obrigação, necessidade se relacionam de forma equivalente. A Modalidade linguística pode ser expressa por uma grande variedade de formas que vão, em conjunto, tornando viável a finalidade da mensagem: meios morfológicos, prosódicos e os elementos lexicais e sintáticos. Os valores modais dividem-se em diferentes graus sendo os mais comuns o grau deôntico e o grau epistêmico (relaciona-se com a ideia de possibilidade) que fazem uso de diferentes modalizadores que lhe darão o aspecto modalizador. Como já exposto, centraremos nossa atenção na modalidade deôntica. MODALIDADE DEÔNTICA A Modalidade deôntica está relacionada à ideia de possibilidade ou necessidade presente nos atos de falas e que dizem respeito à mensagem que o falante pretende construir. O indivíduo, ao fazer uso da modalidade deôntica, dá uma direção ao discurso, manipulando-o de forma a


41 despertar no ouvinte uma expressão voltada à permissão, obrigação ou proibição. Podemos

afirmar

que

a

modalidade

deôntica

está

ligada

intrinsecamente aos sujeitos, ocorrendo principalmente com elementos proposicionais dinâmicos. O falante vai fazer uso de elementos de forma a impor, permitir, proibir o interlocutor quanto à realização do conteúdo proposicional. Segundo Lyons (1977), a modalidade deôntica teria sua origem na função desiderativa da linguagem: A origem da modalidade deôntica, como tem sido frequentemente sugerida, é buscada nas funções desiderativa e instrumental da linguagem: isso quer dizer que, no uso da linguagem, ela serve, de um lado para expressar ou designar vontades e desejos e, de outro, para conseguir que algo seja feito, com a imposição da própria vontade a outros agentes (Lyons, 1977).

De acordo com Dick (1997) a modalidade deôntica está situada na predicação relacionada à função representacional da linguagem; o autor propõe assim uma organização da frase em camadas com uma tentativa de formalização da estrutura frasal de forma que a frase já apresenta todas as funções definidas. Estabelece-se então a modalidade deôntica como possuidora de um componente interpessoal, uma vez que tem como papel a modalização, o direcionamento da mensagem com o intuito de levar o interlocutor à ação. É interessante comentar a noção de futuridade presente na modalidade deôntica no que se refere ao discurso político, no caso, um discurso de posse que traz uma série de comprometimentos, obrigações, permissões que devem ser realizados num tempo futuro. No que tangem os valores deônticos, Lyons (1977) relaciona a noção de permissão à possibilidade e a noção de obrigação à necessidade. É interessante notar que essas noções podem aparecer diretamente e indiretamente dentro do discurso bem como podem estar relacionadas


42 direta e indiretamente entre si, o que podem conferir ao discurso sentidos diferentes. Daí, é importante salientar que esses limites nem sempre poderão ser identificados considerando que no uso prático a utilização de modalizadores pode variar no sentido e a sua relação com os elementos satélites nem sempre é facilmente definida. A PRESENÇA DOS VALORES DEÔNTICOS NO DISCURSO DE BARACK OBAMA Nessa seção do trabalho apresentaremos os dados coletados no discurso de posse do presidente americano, relatando a forma como a ocorrência se apresenta bem como o valor expresso por ela. Os critérios de análise dar-se-á do seguinte modo: na tabela a seguir estão organizadas na ordem em que aparecem no discurso as sentenças nas quais há presença de modalizadores e a categorização desses quanto à forma (verbo, adjetivo, substantivo, advérbio) e o valor(permissão,

obrigação,

proibição)por

eles

expresso.

A

seguir

discutiremos a relação desses modalizadores dentro do discurso bem como o sentido expresso por esses elementos. Tabela 1 Ocorrência de frases com agentes modalizadores no discurso de Obama OCORRÊNCIA 1.

VALOR

Assim deve ser para essa Permissão

geração de americanos.

sugestiva

FORMA Verbo auxiliar modal

2.”um temor persistente que faz Obrigação

Verbo

com que a próxima geração deva reduzir

auxiliar

suas perspectivas.”

modal

3.Mas

saiba

disso

América,eles Obrigação

Verbo Pleno


43 serão resolvidos.” 4.”todos

são

livres

e

todos Permissão

Verbo pleno

merecem a oportunidade de perseguir concessiva sua plena medida de felicidade.” 5.”compreendemos

que

a

grandeza Obrigação

Verbo

nunca é um fato consumado, deve ser

auxiliar

merecida.”

modal

6.”A

partir

de

hoje

devemos

nos Obrigação

Verbo pleno

7.”(...)vamos agir, não apenas para Obrigação

Verbo pleno

reerguer(...)” criar novos empregos(…)” 8.”(...)os dólares públicos terão de Obrigação

Verbo pleno

prestar contas.” 9.

Obrigação

Verbo pleno

10.”Não pediremos desculpas pelo Obrigação

Verbo pleno

”(...)trabalharemosincansavelmente(...)” nosso modo de vida(...)” 11. ”(…) e que a América deve

e advérbio Obrigação

exercer seu papel trazendo uma nova era

auxiliar

de paz.” 12. “(…)nós os derrotaremos

Verbo modal

Obrigação

Verbo pleno

13.”(...)prometemos trabalhar ao Obrigação

Verbo pleno

seu lado.” 14.”(...)o mundo mudou, devemos Permissão mudar com ele.”

sugestiva

Verbo auxiliar modal

15.”(...)é exatamente este espírito Permissão que deve habitar em todos.”

sugestiva

Verbo auxiliar modal

16.”pois por mais que o governo Obrigação possa fazer e deva fazer(...)”

Verbo auxiliar


44 modal 17.”(...)todas as raças e todas as Permissão fés

podemhoje

se

unir

Verbo

em autorizada

auxiliar

comemoração(...)”

modal

18. ”(...) meu pai menos de 60 anos Permissão

Verbo auxiliar

atrás, talvez não fosse atendido hoje pode se autorizada

modal

colocar diante de você.”

19. “Quando a resposta for sim, Permissão pretendemos seguir em frente.”

Verbo pleno

autorizada

Podemos perceber a maior ocorrência do verbo auxiliar modalizador dever ora funcionando com modalizador de permissão, ora como obrigação

e

quando

acompanhado

do

advérbio

de

negação

não

funcionando como modalizador de proibição. Na sentença (1) “Assim deve ser para essa geração de americanos” o falante propõe algo ao ouvinte, tenta mostrar que esse estado é o estado ideal e que deve ser seguido. Já na ocorrência (2) “um temor persistente que faz com que a próxima geração deva reduzir suas perspectivas” o verbo auxiliar modalizador carrega a ideia de obrigação, pois a próxima geração será obrigada a reduzir suas perspectivas diante do temor que persiste. Na terceira sentença (3) “Mas saiba disso América, eles serão resolvidos” o verbo pleno nessa sentença sugere a ideia de obrigação, o comprometimento do falante diante de uma situação desfavorável. Em (4) “todos são livres e todos merecem a oportunidade de perseguir sua plena medida de felicidade” expõem-se uma permissão concedida para os indivíduos em geral, o uso do verbo pleno merecem reforça o sentido de direito adquirido. Na sentença (5) “compreendemos que a grandeza nunca é um fato consumado, deve ser merecida”, compreendemos o verbo modal dever ligado ao sentido de negação do advérbio nunca dando a ideia de obrigação, pois a grandeza do qual está sendo falada somente será alcançada por merecimento.


45 Nas construções (6) ”A partir de hoje devemos nos reerguer (...)” e (7)” (...) vamos agir, não apenas para criar novos empregos (…)” temos os verbos dever e ir como verbos plenos ligados a ideia de obrigação conjunta, sendo que em ambos os verbos podemos recuperar

o

sujeito.Aqui,fazendo uso do nosso conhecimento de mundo,é sabido que tal discurso foi proferido num momento de grande turbulência econômica nos EUA, o que também nos permitir compreender o sentido que o falante constrói. É evidente o sentido de obrigação nas sentenças que seguirão nas quais tem o uso de verbos plenos terão, trabalharemos, pediremos vinculado

ao

derrotaremos

advérbio e

de

negação

prometemos,mais

não, uma

o

verbo vez

auxiliar

deve,

ressaltando

o

comprometimento do falante tendo em vista a sua situação no momento do discurso,(8) “(...) os dólares públicos terão de prestar contar”,(9) ”(...)trabalharemos incansavelmente(...)”, (10) “Não pediremos desculpas pelo nosso modo de vida (...)”, (11) ”(…) e que a América deve exercer seu papel trazendo uma nova era de paz”,(12) “(…)nós os derrotaremos” e (13) “(...) prometemos trabalhar ao seu lado”. Quando defendemos que estes verbos levam consigo a ideia de obrigação, estamos levando em consideração a figura que o falante representa, além de promessas, tal discurso apresenta o papel que um presidente deve exercer. Esse papel é de conhecimento de toda a sociedade, mas, no discurso, a exposição dessas obrigações serve para passar aos ouvintes o compromisso do falante. Ligadas à ideia de permissão sugestiva temos as sentenças (14) “(...)o mundo mudou, devemos mudar com ele” e (15) “(...)é exatamente este espírito que deve habitar em todos”. Em ambas as frases temos o verbo modal dever funcionando como modalizador nos dando a ideia de algo que é permitido aos ouvintes e ao mesmo tempo sugerindo que determinada ação seja realizada. Na sentença seguinte temos a presença de dois modalizadores, um epistêmico (possibilidade) e um deôntico (obrigação). O verbo auxiliar


46 modal

dever

traz

consigo

novamente

a

relação

de

obrigação,

comprometimento do governo com a sociedade, nessa ocorrência temos a presença

da

possibilidade(modalidade

epistêmica)

e

obrigação

(modalidade deôntica) , “(16) pois por mais que o governo possa fazer e deva fazer(...)”. Em (17) “(...)todas as raças e todas as fés podem hoje se unir em comemoração(...)” e (18) “(...) meu pai menos de 60 anos atrás, talvez não fosse atendido hoje pode se colocar diante de você”, podemos classificar como permissão concessiva muito próxima da ideia de possibilidade, mas considerando a realidade histórica em que o falante está inserido, o advérbio de tempo hoje revela-nos passa osentido de algo permitido atualmente, concedido pelos agentes que tanto lutaram para a concretização desta ação; como dissemos, muito próximo à ideia de possibilidade. Já em (19) “Quando a resposta for sim, pretendemos seguir em frente”, o verbo pleno pretendemos também funcionando com modalizador de permissão concessiva,deixa claro na sentença a ideia de permissão que poderá ser concedida mediante a resposta positiva do ouvinte. É interessante salientar que se faz necessário um total contato com o corpus utilizado. Seria interessante que o leitor desse artigo entendesse o sentido geral do discurso do presidente americano, tendo em vista a construção que o agente vai moldando com o suporte dado pelos modalizadores. Como nesse trabalho apenas o uso da modalidade deôntica foi analisada,muitos trechos e passagens do discurso com modalidade epistêmica presente foram ignorados e apenas aqueles com ligação direta, ou seja, que também trazia a modalidade deôntica foram colhidos. Por fim, é importante observar que não houve nenhuma

ocorrência

de

modalizador

proibitivo.

Pode-se

comentar,

historicamente falando, que o discurso do presidente americano focou na turbulência pela qual o país estava passando na época de sua eleição, portanto, fez-se necessário o maior uso possível de modalizadores ligados


47 a obrigação por parte do falante, de modo a passar a sensação de esperança para o povo americano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto podemos observar que, no tocante ao uso da modalidade deôntica, o discurso foi construído em sua maior parte ligado à ideia de obrigação fazendo uso ora do verbo auxiliar modal dever, ora com verbos plenos no tempo futuro, resgatando o caráter de futuridade da

modalidade

deôntica.Seguido

da

ideia

de

obrigação,

temos

a

construção do sentido de permissão que caminha lado a lado com a ideia de possibilidade (modalidade epistêmica).O resultado não surpreende, pois o que se espera de um discurso político é o comprometimento do falante que expõe suas obrigações, o que dali para frente será viável para aquela sociedade. Podemos então afirmar que a modalidade deôntica é um suporte de extrema importância para a construção do discurso político considerando que o esperado no desenvolver desse tipo de discurso são as ideias de obrigação, necessariamente, e é esse um dos sentidos abrangidos pela modalidade deôntica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Berlin/

New

York:

Mounton

de

Gruyter,

1997a.

Disponível

em

http://www.googlebooks.com.br/. Acesso em 26 de maio de 2012. DIK. C. S. The Theory of Funcional Grammar . Vol. 1. Ed by Hengeveld (Kees). LYONS, John. Semantics.

Vo l.

2. Cambridge: Cambridge University

Press, 1977. Disponível em http://www.googlebooks.com.br/. Acesso em 26 de maio de 2012.


48 PESSOA, Nadja Paulino. Modalidade deôntica e persuasão no discurso publicitário. 2007. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Programa de PósGraduação em Lingüística, Universidade Federal do Ceará - UFC, Fortaleza, 2007.


49 A MODALIDADE DEÔNTICA NO DISCURSO POLÍTICO1

Aliny da Silva PORTELA2

Resumo: O discurso político se configura em um palco onde ideologias são manifestadas e o discurso do “dever” se faz pertinente. Tendo isso em vista, o presente artigo objetiva analisar as formas de expressão da modalidade deôntica nos discursos políticos do senador baiano João Durval. Para tanto, através de uma concepção funcionalista dos estudos linguísticos, verificaremos como se apresentam as variáveis de valor deôntico (proibição, permissão sugestiva, permissão autorizada, permissão concessiva, obrigação) e as formas de expressão (verbo pleno, verbo auxiliar modal, adjetivo, substantivo, advérbio) com que se manifestam no corpus selecionado. Esse, por sua vez, consiste de três discursos (Habilitação para motoboys e mototaxistas; Revitalização dos portos da Bahia; Regulamentação da profissão de vendedor ambulante) proferidos, respectivamente, nos anos de 2007, 2009 e 2010 no Senado Federal. Palavras-chave: valores modais; modalidade deôntica; discurso político.

INTRODUÇÃO

O ato de interação verbal, a partir de em um viés funcionalista, é compreendido

como

a

tentativa

de

locutores

e

interlocutores

de

transformar as informações pragmáticas dos indivíduos com os quais estabelecem interação. Visando esta transformação, o falante vale-se de expressões

modais

para

construir

em

seu

discurso

um

percurso

persuasivo. De acordo com suas intenções pragmáticas, os falantes tendem a apresentar determinadas expressões modais. Modalidade aqui compreendida, como bem nos elucida Cervoni (apud MENEZES, 2006), como “um ponto de vista do sujeito falante sobre o conteúdo proposicional de seu enunciado”. Assim, três modalidades, segundo Menezes (2006), foram estabelecidas pelos lógicos de acordo 1 Artigo elaborado como atividade avaliativa para disciplina Funcionalismo, ministrada pela professora Claudete Lima em 2012.1. 2 Graduanda em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


50 com o eixo da existência, o eixo do conhecimento e o eixo da conduta. O primeiro eixo estaria relacionado à modalidade alética, o segundo à de modalidade epistêmica e o último à modalidade deôntica. A modalidade alética compreende a determinação do valor de verdade dos enunciados. A modalidade epistêmica, por sua vez, compreende a possibilidade ou a necessidade da verdade da proposição. Já a modalidade deôntica aborda a possibilidade e/ou a necessidade de atos executados por agentes moralmente responsáveis. É preciso salientar, entretanto, que o referente artigo trabalha com a

modalização

linguística

e

que,

embora

apresentem

suas

particularidades, os estudos lógicos ou linguísticos acerca da modalização, segundo Menezes (2006), orientam-se pela classificação dessas três modalidades. Compreendendo a natureza persuasiva dos discursos políticos, o referente artigo pretende analisar a expressão da modalidade deôntica nos discursos Habilitação para motoboys e mototaxistas; Revitalização dos portos da Bahia e Regulamentação da profissão de vendedor ambulante, proferidos pelo senador João Durval. Através da análise de variáveis de valor deôntico e de suas formas de expressão, pretendemos compreender como o discurso, ao se utilizar da específica modalidade, constrói os argumentos

persuasivos

para

garantir

a

mudança

pragmática

dos

indivíduos participantes do ato de interação verbal. É importante, contudo, esmiuçar o conceito de modalidade deôntica.

MODALIDADE DEÔNTICA Segundo Menezes (2006, p. 40), Lyons compreende modalidade deôntica como a proposição vinculada à necessidade ou à possibilidade de atos realizados por agentes moralmente responsáveis, temos, então o Estado de Coisas a ser obtido. É importante lembrar, entretanto, que os


51 conceitos de obrigação, da proibição e da permissão estão diretamente vinculados a um conjunto de crenças sociais, ou seja, passam pelo crivo de convenções sociais e culturais, do reconhecimento dos membros de uma sociedade dos valores e pesos presentes nestas normas. Norteados pelos valores reconhecidos em uma determinada sociedade é que podemos estabelecer aquilo que se apreende como obrigatório, permitido ou proibido. Segundo Kalinowski (1976 apud MENEZES, 2006), à modalidade deôntica destinam-se os valores modais de obrigação, proibição e permissão. Menezes (2006) nos esclarece ainda mais o assunto ao apontar as características observadas por Lyons, a saber: a) A modalidade deôntica relaciona-se à necessidade ou possibilidade de atos realizados por agentes moralmente responsáveis; b) A

modalidade

deôntica

mantém

intrínseca

conexão

com

a

futuridade; c) A necessidade deôntica tipicamente procede ou deriva de alguma origem ou causa. Em síntese, a modalidade deôntica apresenta os valores vinculados ao dever. Pautados nesta percepção, podemos partir ao corpus.

METODOLOGIA

Estabelecendo como corpus do trabalho os discursos Habilitação para motoboys e mototaxistas; Revitalização dos portos da Bahia e Regulamentação da profissão de vendedor ambulante, proferidos pelo senador João Durval no Senado Federal, analisaremos as formas de expressão da modalidade deôntica, verificando como se apresentam as


52 variáveis de valor deôntico (proibição, permissão sugestiva, permissão autorizada, permissão concessiva, obrigação) e as formas de expressão (verbo pleno, verbo auxiliar modal, adjetivo, substantivo, advérbio) com que se manifestam no corpus selecionado. Para uma melhor compreensão, estabelecemos a seguinte legenda: D01- discurso Habilitação para motoboys e mototaxistas; D02- discurso Revitalização dos portos da Bahia D03- discurso Regulamentação da profissão de vendedor ambulante P- parágrafo L- linha Ex: D01P02L09- discurso 1; parágrafo 02; linha 09

LEVANTAMENTO DE DADOS

Abaixo, encontra-se a tabela referente às ocorrências detectadas: OCORRÊNCIAS

REFERÊNCIA

1. Em outras palavras, a iniciativa visa a D01P02L02 incorporar ao CTB as condições indispensáveis pelos condutores para prestação de serviços remunerados em veículos de duas ou três rodas. 2. Para preencher tal D01P03L01 lacuna, faz-se mister, contudo, a criação de

VALOR

FORMA

Obrigação

Adjetivo

Obrigação

Adjetivo


53 uma categoria específica no Código de Trânsito para a habilitação destes condutores. 3. A Constituição D01P04L02 Federal estabelece que cabe à União legislar sobre trânsito e transporte.

Obrigação

Verbo pleno

Proibição

Verbo pleno

D01P08L05

Proibição

Verbo pleno

D01P10L02

Obrigação

Adjetivo

4. Em que pesem as D01P07L06 tentativas de as cidades regulamentarem a atividade, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) proíbe expressamente motos de fazerem transporte comercial de passageiros. 5. Nessa ordem, vigora ainda uma resolução do Contran que veda o uso de motos para o transporte comercial de passageiros.

6. Ainda segundo os mesmos especialistas, as poucas pesquisas sobre o tema no Brasil indicam que o “mototáxi” é notadamente importante para as classes de renda mais baixa, que não são bem atendidas pelo


54 transporte público.

7. Podemos até detectar laivos do liberalismo econômico a prevalecer nas decisões da época, na busca de um desenvolvimento autônomo, mas não menos dissociado da ação do Estado.

8. Nas memórias da refundação do Brasil, vale frisar que, por ocasião da fuga da coroa portuguesa para a América, a família real e toda a sua comitiva tiveram o privilégio de serem acolhidas em uma baía sob as bênçãos de todos os santos.

9. Senhoras e Senhores Senadores, é preciso destacar, com veemência, que não se trata aqui, de uma realidade transitória: os ambulantes estão aí, nos grandes centros urbanos, e aí estão para ficar.

D02P02L01

Permissão

Verbo pleno

sugestiva

D02P05L05

Permissão

Locução verbal

concessiva

D03P06L01

Obrigação

Adjetivo


55 10. O poder público D03P06L04 deve passar a encarálos como trabalhadores que têm de ser assistidos — e não combatidos ou perseguidos como se transgressores fossem.

Obrigação

Verbo auxiliar modal

D03P08L04

Obrigação

Verbo auxiliar modal

D03P09L01

Proibição

Verbo pleno

D03P10L02

Obrigação

Verbo auxiliar modal

11. Urge fazê-lo, pois, apesar de gerar renda, o trabalho informal não contribui com a estrutura fiscal ou previdenciária, o que acarreta males consideráveis para o Estado, à sociedade como um todo, e ao próprio trabalhador informal, que permanece vulnerável — ele e sua família — a qualquer sem intercorrência, dispor de mínima cobertura legal.

12. Em quarto lugar, já restou claro que não adianta simplesmente proibir o trabalho do ambulante.

13. Senhoras e Senhores Senadores, o processo de regulamentação profissional dos vendedores


56 ambulantes deve ser efetuado em ambiente aberto e democrático, com a colaboração de representantes do Estado, de especialistas, da comunidade, dos trabalhadores e dos próprios lojistas legalizados.

14. Senhor Presidente, é de fundamental importância lastrear a regulamentação no fato de que essas pessoas foram subtraídas ao mercado de trabalho formal por uma contingência que lhes escapa à vontade, e precisam auferir rendimentos como qualquer um de nós, por via de seu esforço pessoal intenso.

D03P11L01

Obrigação

Adjetivo

ANÁLISE DE DADOS

Pautados nas ocorrências apresentadas acima, podemos perceber que o valor deôntico obrigação se faz pertinente nos três discursos políticos, ganhando ainda mais relevância em D03. Tal fenômeno, a partir de uma análise contextual, pode ser justificado pela finalidade pragmática do senador João Durval em persuadir os ouvintes de seu discurso acerca


57 das propostas apresentadas pelo mesmo ao Senado Federal. Valendo-se, portanto, do consenso social de “bom”, “belo” e “verdadeiro”, por exemplo, o senador estabelece a base de suas propostas e relembra o compromisso do Senado, dos representantes políticos com esses valores. Por promover em suas propostas os valores socialmente estimados, o falante instaura, então, em seu discurso os valores vinculados à noção do dever. Embora o valor deôntico obrigação se caracterize como mais relevante, dada a frequência com que se manifesta nos três discursos, os valores dêonticos proibição e permissão também são encontrados, como verificamos no gráfico abaixo:

Valores Deônticos 14% 1OBRIGAÇÃ 22%

2 PROIBIÇÃ O

64%

3 PERMISSÃ O

Gráfico 1: Valores deônticos instaurados nos discursos políticos

Como verificado no gráfico, o valor deôntico proibição é recorrente em 22% das ocorrências coletadas, sendo utilizado para demonstrar o quadro

de

mototaxistas

leis

acerca

(D01)

e

da da

legalidade

do

regulamentação

trabalho do

de

motoboys,

vendedor

ambulante

(D03)que pretende ser modificado pelas propostas do político em um


58 futuro próximo. Tal posicionamento pode ser conferido nos exemplos abaixo: a) Nessa ordem, vigora ainda uma resolução do Contran que veda o uso de motos para o transporte comercial de passageiros. (D01) b) Em quarto lugar, já restou claro que não adianta simplesmente proibir o trabalho do ambulante. (D03) O valor deôntico permissão, por sua vez, representado em 14% das ocorrências se exemplifica nas seguintes orações em D02: a) Podemos até prevalecer

nas

detectar

laivos do

decisões

da

liberalismo

época,

na

econômico

busca

de

a

um

desenvolvimento autônomo, mas não menos dissociado da ação do Estado. b) Nas memórias da refundação do Brasil, vale frisar que, por ocasião da fuga da coroa portuguesa para a América, a família real e toda a sua comitiva tiveram o privilégio de serem acolhidas em uma baía sob as bênçãos de todos os santos. O valor deôntico obrigação, como já citado, possui maior relevância nos três discursos, representando 64% das ocorrências e exemplificado na oração seguinte: a) O poder público deve passar a encará-los como trabalhadores que têm de ser assistidos — e não combatidos ou perseguidos como se transgressores fossem. Quanto à relação entre os valores deônticos instaurados e suas formas de expressão encontramos seus dados na tabela abaixo:


59 VALOR DEÔNTICO

FORMAS DE EXPRESSÃO ADJETIVO

VERBO PLENO VERBO AUX. LOC. VERBAL MODAL

Obrigação

55,6%

11,1%

33,3%

------------------

Permissão

-----------------

50%

Proibição

-----------------

100%

----------------50%

----------------------------------

Verificamos, então, que a forma predominante para o valor deôntico obrigação foi o adjetivo. Para o valor permissão temos uma divisão equilibrada entre as formas de verbo pleno e de locução verbal. O valor proibição, por sua vez, teve apenas uma forma de expressão, o verbo pleno. As seguintes orações exemplificam estes fenômenos: a) Senhor Presidente, é de fundamental importância lastrear a regulamentação no fato de que essas pessoas foram subtraídas ao mercado de trabalho formal por uma contingência que lhes escapa à vontade, e precisam auferir rendimentos como qualquer um de nós, por via de seu esforço pessoal intenso. (D03) b) Podemos até prevalecer

nas

detectar

laivos do

decisões

da

liberalismo

época,

na

econômico

busca

de

a

um

desenvolvimento autônomo, mas não menos dissociado da ação do Estado. (D02) c) Nessa ordem, vigora ainda uma resolução do Contran que veda o uso de motos para o transporte comercial de passageiros. (D01)

CONCLUSÃO


60 O discurso político por representar o palco onde ideologias e obrigações são apresentadas, estas sempre pautadas no consenso social, vale-se como estratégia de persuasão da modalidade

deôntica, a

modalidade, do dever. Nos discursos do senador João Durval, apresentados como corpus deste

trabalho,

encontramos

o

valor

deôntico

obrigação

como

preponderante. Tal fenômeno pode ser explicado a partir da finalidade pragmática do discurso, que pretende convencer os ouvintes a aderiram aos posicionamentos propostos pelo político.

REFERÊNCIAS DISCURSO POLÍTICO DO SENADOR JOÃO DURVAL. Disponível em: http://www.senado.gov.br/senadores/senador/joaodurval/midia/publicaca o/Discursos_Joao_Durval.pdf. Acesso em: 20 Abril 2012. MENEZES, Léia

Cruz de. A modalidade deôntica na construção da

persuasão em discursos políticos. Fortaleza, 2006. PESSOA,

Nadja

Paulino.

Modalidade

Discurso Publicitário. Fortaleza, 2007.

deôntica

e

Persuasão

no


61

Seção 4

INDETERMINAÇÃO DO AGENTE


62

A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE NO PORTUGUÊS ORAL DE PAÍSES AFRICANOS Bruno Pereira MAGALHÃES Larissa PEDROSA

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar as diversas formas de indeterminação do agente no português falado em países africanos, e suas motivações discursivas para a realização desse fenômeno na língua. Para tanto, utilizamos de dados colhidos de conversas transcritas entre falantes africanos, mais precisamente de Angola e Cabo Verde. Primeiramente, fizemos a análise das conversas, para depois, destacarmos os casos de agente indeterminado no discurso dos falantes do nosso corpus. Através dos resultados obtidos em nossa pesquisa, identificamos um uso frequente de pronomes indefinidos e de verbos na 3ª pessoa do plural no português angolano, enquanto que, em Cabo Verde, a divisão se dá entre os pronomes indefinidos e a passiva sintética, havendo neste uma distribuição maior do que naquele.

Palavras-chave: Indeterminação; agente; africanos. INTRODUÇÃO O

presente

artigo

verificará

a

frequência

do

uso

da

indeterminação do agente no português africano, mais precisamente no português falado em Angola e em Cabo Verde. De

acordo

com

a

gramática

normativa,

o

sujeito

é

indeterminado quando não há possibilidade de detectar a quem se refere o predicado, podendo ser expresso de duas maneiras segundo José de Nicola (2009, p.406) “seja porque o próprio falante não tem essa informação, seja porque o falante não quer identificar o sujeito”. Por exemplo, na frase “consideravam-no um traidor” pode-se recuperar o sujeito da oração através do contexto em que ela foi enunciada. Já na frase “precisa-se de pessoas solidárias” não há interesse em identificar o agente, pois a intencionalidade é de generalizar a informação.


63 Além dessas formas gramaticais de indeterminação, o uso de pronomes

indefinidos

também

caracteriza,

semanticamente,

a

indeterminação do sujeito. Por exemplo, na frase “alguém falou que a gente vendeu 56 copias nos EUA, o que é um absurdo”. Sabe-se que existe um agente, mas não somos capazes de determiná-lo a partir de dados tão imprecisos, é necessário um conhecimento prévio do assunto abordado. Por fim, o autor José de Nicola classifica as situações de uso da indeterminação

do

sujeito

em

indefinição

(exemplo

1

e

3),

generalização (exemplo 2) e dissimulação quando remetemos a frase “dizem que o filme não é muito bom” no lugar de “eu acho que o filme não é bom” ou “o filme não é bom”. A dissimulação, neste caso, procura suavizar a opinião do falante. Dentro de uma perspectiva funcionalista, a indeterminação do agente é munida de uma classificação mais ampla dos recursos pragmáticos. É neste contexto, que o presente trabalho, com base nas abordagens realizadas na nossa pesquisa irá se fundamentar. Através dos casos em que há a indeterminação do agente, sejam através de: 

Nominalização: São os casos em que substantivamos um verbo, utilizando-o na função sintática de sujeito da oração. Ex.: A saída do jogador não foi bem vista pela torcida.

Pronome discurso

indefinido: de

modo

Referem-se

vago,

à

impreciso

3ª ou

pessoa

do

genérico,

representando pessoas, coisas ou lugares. Ex.: Não entendo certas pessoas. 

Impessoal não-pronominal: É reconhecido pelo uso do verbo em 3ª pessoa do plural, sem fazer referência a


64 nenhum

pronome,

deixando

assim,

o

agente

indeterminado. Ex.: Fizeram as pazes ontem mesmo. Obs.:

Quando

indeterminar

o

fazemos

o

agente,

uso

estamos

da

pessoa

protegendo

a

para sua

identificação, ou por não conhecermos, ou por não ser importante a sua identificação. Portanto, o verbo pode se referir tanto a um grupo de pessoas, como a uma só pessoa. 

Passiva sintética: A voz passiva sintética é formada por um verbo transitivo direto ou bitransitivo, na 3ª pessoa (singular ou plural) mais a partícula apassivadora “se”. Ex.: Praticaram-se ações solidárias.

Passiva analítica: A voz passiva analítica é construída com o verbo ser ou estar, acompanhado de um verbo principal no particípio (sendo esse verbo transitivo direto ou bitransitivo), mais um agente da passiva. Ex.: Ações solidárias foram praticadas. Obs.: Esse tipo de passiva é usada para dar mais ênfase à ação do que o próprio agente. No exemplo acima, o falante diz “Ações solidárias foram praticadas”, mas não diz quem as praticou. Observa-se que o mais importante é a ação, ou seja, que elas foram praticadas.

Média pronominal (1), não-pronominal (2) e média perifrástica (3): São os tipos de voz média existentes na língua portuguesa. É um ponto na gramática que causa muita polêmica, tanto que são poucas gramáticas tradicionais que tratam sobre o assunto, pois alguns autores desconsideram a existência da voz média no português, outros a consideram como um subtipo da voz


65 reflexiva, e ainda há outros que defendem uma ligação entre a voz média e a voz passiva. Vejamos o que diz a professora Claudete Lima sobre o tema: A voz média, por exemplo, mantém com a passiva e a reflexiva relações tão estreitas em português que, muitas vezes, se confunde com estas. A descrição que predomina nas gramáticas tradicionais é reflexo dessa dificuldade, uma vez que os autores mostram flutuações na classificação de determinadas formas como exemplos de voz média, de passiva, ou reflexiva. Até mesmo na lingüística há indícios dessa dificuldade, quando autores, como Camara Jr. Não definem bem a voz médio-passiva, ilustrada por casos como vendem-se casas, bastante discutidos na linguística tradicional e moderna, para as quais têm-se dado interpretações diversas. (LIMA, 2005, p. 545)

Ex.: (1) A porta fechou-se. (2) A porta ficou fechada. (3) A porta está fechada.

A nossa pesquisa tem como corpus a entrevista de alguns nativos africanos que falam o português, sendo os países em destaque Angola e Cabo Verde. Buscaremos, então, através da análise dos discursos destes falantes do português, de origem africana, em situações formais e informais, abordar e identificar as formas de indeterminação do agente. Da mesma forma, buscaremos tratar sobre o estatuto informacional do sintagma e identidade do agente. SOBRE A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE Começaremos o nosso trabalho apresentando primeiramente com uma explicação sobre a indeterminação do agente, como o falante consegue alcançá-lo durante um discurso e por qual razão utilizá-lo.


66 Essa temática vem sendo bastante pesquisada por especialistas da área, principalmente, pelos linguistas funcionalistas, por ser um tema que causa bastantes dúvidas nos falantes, a indeterminação do agente vem chamando bastante atenção destes profissionais. Existem muitas divergências, sobretudo, com relação à terminologia. Isso se percebe quando observamos um trecho do artigo Questões sobre a “indeterminação” do sujeito, de Gredson dos Santos. O autor conclui que: A partir das considerações de Rollemberget al e Bechara, e admitindo-se como plausível a hipótese de que o sujeito é uma função sintática que responde às necessidades estruturais do sistema do PB e que a agentividade está ligada ao aspecto semântico do sistema, podendo ela ser um traço de sujeito ou de outro termo sintático, adota-se neste trabalho a posição de que, na verdade, não faz sentido falar em indeterminação do sujeto em contextos como os que aqui são analisados, mas sim em indeterminação do agente da ação inidicada pelo verbo – é o que acontece, por exemplo, num enunciado como eu fui assaltado, em que a função de sujeito cabe ao pronome, mas o agente não está especificado. (SANTOS, 2006, p. 15) Aqui, o autor se refere ao português brasileiro, mas levando em conta que o sistema linguístico utilizado pelos brasileiros e o sistema linguístico africano dos países pesquisados é o mesmo, com poucas diferenças de ordem cultura e geográfica, podemos afirmar, com base nesse trecho citado, que o autor reconhece que nem sempre o agente vai corresponder ao sujeito, isso quer dizer, que se o falante indeterminar o agente de uma oração, isso não significa que o sujeito será indeterminado. Em um outro trabalho que se intitula Abragência pessoal dos processos de indeterminação do agente, Tupiná (1984), resume bem o assunto por nós abordado:


67 A indeterminação corresponde ao cárater de indiferenciação, falta de individualidade ou de especificidade de um termo, capaz de conferir ao enunciado um teor de imprecisão e generalidade, em decorrência do ponto de vista do emissor. (TUPINÁ, 1984, p. 63)

Como se sabe o falante possui várias formas de conseguir essa indeterminação em uma oração, porém, não conseguimos encontrar todas as formas de indeterminação do agente, pela falta de algumas, ou por falta de atenção dos autores desta pesquisa. Com isso, buscamos evitar discussões sobre possíveis dúvidas acerca do assunto, por esse motivo, nos atemos pura e simplesmente na pesquisa de dados sobre a temática e analisar os seus resultados.

METODOLOGIA Para

iniciar

a

nossa

análise,

coletamos

amostras

de

indeterminação do agente no português falado em Angola e Cabo Verde. Essas amostras fazem parte do projeto Português Falado, coordenado pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Retiramos do corpus indicado 95 ocorrências na forma de frases completas com agente indeterminado. Utilizamos 7 textos transcritos para a coleta dos dados, sendo 3 para a analise do português falado no Cabo Verde, nos quais participaram 3 homens cujas profissões são as seguintes: marinheiro, tipografo e comerciante e 4 para a analise do português falado na Angola, nos quais participaram 1 estudante de curso superior e 3 profissionais formados em curso superior. Posteriormente, classificamos e organizamos os dados de acordo

com

os

seguintes

critérios:

codificação

(nominalização,

pronome indefinido, impessoal não-pronominal, passiva sintética, passiva analítica, média pronominal, média não-pronominal ou média perifrástica), estatuto informacional do sintagma nominal (novo, inferível ou velho) e identidade do agente (desconhecida, inferível, dada anaforicamente ou dada situacionalmente).


68 Finalmente, através desta categorização podemos analisar cada ocorrência individualmente de acordo com a frequência de uso em diferentes contextos e explorar diferentes motivações discursivas. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Dentro

das

ocorrências

coletadas

construímos

6

quadros

comparativos quantitativos e averiguamos qualitativamente alguns exemplos, indicando as frequências de uso das categorias escolhidas para analise no decorrer dos diálogos examinados dos países africanos, Angola e Cabo Verde. A primeira categoria diz respeito à codificação, ou seja, como a indeterminação do agente se apresenta. O que podemos constatar através do quadro 1.1é que o uso do pronome indefinido é o mais frequente no português falado na Angola, principalmente o pronome “você”, entre as 27 ocorrências de pronome indefinido, 15 são formadas pelo pronome “você”,ou seja, 55,55%. O segundo mais frequente é o pronome “algum” e suas variações aparecendo 3 vezes, ou seja, 11,11%. Como exemplos, destacamos as seguintes frases: “se você estiver debaixo de uma árvore a apanhar chuva...” (A Guerra e o Ambiente) “... o que não quer dizer que alguns angolanos...” (O ensino em Angola) Exceto o pronome “outros” que apareceram2 vezes, o restante dos pronomes indefinidos aparecem apenas uma vez. Quadro 1.1 – Angola

Codificação

N° de ocorrências

Nominalização

0

(não

apareceu

identificada) Pronome indefinido

27

ou

não

foi


69 Impessoal não-pronominal

13

Passiva sintética

08

Passiva analítica

01

Média Pronominal

0

(não

apareceu

ou

não

foi

ou

não

foi

ou

não

foi

identificada) Média não-pronominal

0

(não

apareceu

identificada) Média Perifrástica

0

(não

apareceu

identificada)

Em seguida, analisando o quadro das ocorrências do português falado

em

Cabo

Verde

(quadro

1.2),

constatamos

que,

diferentemente dos resultados obtidos no quadro 1.1, a forma encontrada mais frequente no discurso foi a estrutura passiva analítica, como por exemplo, na frase: “... é um catalogo que é editado em Espanha...” (Coleccionismo) Vale ressaltar que o uso de nominalizações que estavam ausentes no corpus angolano, apareceu em 5 ocorrências no corpus cabo-verdeano, ou seja, 11,6%. A presença do verbo impessoal não-pronominal foi bastante frequente, assim como nas ocorrências do corpus angolano. Quadro 1.2 – Cabo Verde

Codificação

N° de ocorrências

Nominalização

5

Pronome indefinido

6

Impessoal não-pronominal

12

Passiva sintética

07

Passiva analítica

13

Média Pronominal

0

(não

apareceu

identificada)

ou

não

foi


70 0

Média não-pronominal

(não

apareceu

ou

não

foi

ou

não

foi

identificada) Média Perifrástica

0

(não

apareceu

identificada)

Não verificamos nenhuma ocorrência de média pronominal, média não-pronominal e média perifrástica. A segunda categoria de classificação refere-se ao estatuto informacional do sintagma nominal. De acordo com os quadros 2.1 e 2.2 apuramos o número de ocorrências inéditas (novo), não podem ser deduzidas (inferível) e repetidas (velho). Quadro 2.1 – Angola

Estatuto informacional

N° de ocorrências

Novo

9

Inferível

15

Velho

25

Quadro 2.2 – Cabo Verde

Estatuto informacional

N° de ocorrências

Novo

10

Inferível

23

Velho

12

Enfim, classificamos a identidade do agente, como sendo desconhecido,

inferível,

dado

anaforicamente

ou

dado

situacionalmente. No exemplo abaixo notamos que devido ao uso do pronome indefinido “tudo” a oração não permite a dedução do agente, ou seja, classifica-se como inferível.


71 “... desde que haja vontade politica dos governos, tudo se pode fazer...”(A guerra e o ambiente) Nos próximos exemplos, notamos que o uso da estrutura passiva analítica, passiva sintética e verbo impessoal não pronominal, a identidade do agente não pode ser reconhecida mas, sabemos que ele existe. Há o interesse do falante em generalizar a informação ou em ocultar a identidade desse agente por falta de conhecimento ou por vontade própria em não revelar. “... a historia nunca foi contada devidamente...” (As mornas) “... apanhava-se, servia-se então para os pratos pequenos.” (Colher de panela). “... e então dizem que o sentimento...” (As mornas) Nas

orações

em

que

podemos

resgatar

o

agente

anaforicamente aparecem, em sua maioria, através de verbos impessoais não-pronominais. O que significa que se retornarmos ao ponto inicial da informação a identidade do agente será revelada, como no exemplo a seguir: “... e comiam bem porque este prato leva muito...” (Colher de panela) Através da leitura constatamos que o agente da oração são “trabalhadores”. Enfim, a identidade do agente também pode ser resgatada através do contexto. Observe o seguinte exemplo: “... você trabalha com o padre Horacio desde quando?” (Meninos de rua) O

entrevistador

questiona

o

entrevistado,

através

desse

contexto, sabendo que se trata de um diálogo entre duas pessoas somos capazes de deduzir a identidade do agente.

Quadro 3.1 – Angola

Identidade do agente

N° de ocorrências


72 Desconhecido

10

Inferivel

3

Dado anaforicamente

21

Dado situacionalmente

15

Quadro 3.2 – Cabo Verde

Identidade do agente

N° de ocorrências

Desconhecido

18

Inferivel

8

Dado anaforicamente

12

Dado situacionalmente

6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente artigo, buscamos trabalhar com as mais variadas formas de indeterminar um agente em uma oração e quais são as motivações discursivas do falante. Para isso, usamos um corpus com 95 orações e analisamos os possíveis casos de indeterminação. Evitamos falar sobre questões que causassem alguma dúvida, como por exemplo, a voz média quanto ao seu uso. Por uma questão de tempo, e principalmente, embasamento teórico para tratá-la aqui neste trabalho, pois não teríamos condições de desenvolvê-la. Por fim, conseguimos analisar a grande ocorrência de pronomes indefinidos como “você(s)”, que generalizam o sujeito na oração. Percebemos com isso, o uso de diferentes formas de utilizar o pronome indefinido, através de verbos transitivos diretos, impessoais, e até mesmo de ligação. Podemos identificar também uso frequente da passiva sintética e inexistência da passiva sintética para a indeterminação do agente, no corpus angolano.


73 Já no corpus cabo-verdeano, há uma distribuição bem maior de usos para a indeterminação do agente, dando ênfase para o grande uso da passiva analítica na maioria dos casos, algo inexistente no corpus angolano, como o surgimento da nominalização, que não aparece na fala dos angolanos. É evidente que este trabalho não consegue abranger todo o assunto, pois a língua portuguesa é bastante rica, para não dizer complexa, o que leva a muitos linguistas a divergirem, dificultando a análise de muitos casos. Contudo, esperamos ajudar a aqueles que buscam informações sobre a temática da indeterminação do agente. REFERÊNCIAS ALMEIDA,

Nilson

Teixeira

de.

Gramática

da

Língua

Portuguesa

para

Concursos, vestibulares, ENEM, colégios técnicos e militares/ Nilson Teixeira de Almeida. -- 9. ed. rev. e atual. -- São Paulo: Saraiva, 2009. De Nicola, José. Gramática: palavra, frase e texto/ José de Nicola; colaboração Lorena Menon – São Paulo: Scipione, 2009. LIMA, Maria Claudete. Reflexões sobre a medialidade em português. Estudos em homenagem ao Professor Doutor Mário Vilela, vol. 2, 2005, pág. 545. Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4585.pdf. Acesso em: 27 mai. 2012 SANTOS, Gredson dos. Questões sobre a “indeterminação” do sujeito. Disponível em: http://www.inventario.ufba.br/05/pdf/gsantos.pdf. Acesso em: 30 mai. 2011. TUPINÁ,

Heloísa

Marques.

Abrangência

Pessoal

dos

Processos

de

Indeterminação do Agente: ALFA, Revista de Linguística. Vol. 28, p. 63-69, 1984, São Paulo.


74

Seção 5

GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO ”DAR“


75

A GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO “DAR”, NO PORTUGUÊS BRASILEIRO, NOS SÉCULOS XIX E XX. Kelmy CAMURÇA Suellen MORAES* Resumo: No artigo em questão, apresentamos diversas ocorrências com o verbo “dar” no português do Brasil, durante os séculos XIX e XX. O objetivo desse trabalho é apresentar as diferenças do comportamento léxico-gramatical de “dar” apresentando-o em diversos contextos interacionais, provando assim a multifuncionalidade desse verbo no Português Brasileiro. Além do objetivo mencionado trata-se também de explicar de acordo com a vertente funcionalista, que a língua é um instrumento de interação social e portanto não deve ser interpretada de forma autônoma. Assim a análise, dividida em três etapas: Pesquisa, coleta de dados e categorização de “dar”. Não se restringiram somente às descrições sintáticosemânticas. Através de dados coletados e das pesquisas realizadas por teóricos conceituados como Travaglia (1996), Heine et alii (1991), Esteves (2008) e Neves (1994), observamos que ao se analisar um verbo deve-se ir mais além dos conteúdos normativos.De acordo com o corpus que analisamos, verificamos a categorização verbal de “dar” em construções orais e escritas no português brasileiro e confirmamos a importância de se ampliar os estudos gramaticais tradicionais. Palavras-chave: Gramaticalização. Dar. Categorização.

INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como tema a gramaticalização do verbo dar. Com base no corpus do português, nos séculos XIX e XX, investigaremos as ocorrências do verbo e verificaremos seus usos e valores. O verbo dar pode ser caracterizado de varias formas: dar modal, dar lexical, dar aspectual e dar discursivo. A análise sobre construções com o verbo dar exigiu que nós fôssemos atrás de alguns conceitos funcionalistas e para tanto iremos nos fundamentar essencialmente em Neves 2004 e outras pesquisas. A multifuncionalidade da língua passou a constituir o ponto de partida para este trabalho. Procuramos analisar e descrever as formas do verbo dar tanto semanticamente, como sintático-discursivo. Ao tratarmos a língua como instrumento de interação social e que serve como meio de comunicação, o artigo, que investigará essas ocorrências do verbo dar no português brasileiro, irá apoiar-se na teoria funcionalista que tem por prioridade o uso da língua voltando-se para as relações entre língua *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


76 mais geral como um todo e a comunição entre os indivíduos. Este trabalho se justifica já que muitos são as formas que o verbo dar pode exercer num determinado contexto. Sabemos que esse verbo sofre processo de gramaticalização ao apresentar em frases valores discursivos, outras vezes valores de verbo suporte entre outros que analisaremos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Sabemos que a língua é um instrumento de interação social e que serve como meio de comunicação entre os usuários. Sabemos também, que este instrumento interacional pode ser modificado de acordo com o meio social de cada usuário. De acordo com Neves (2008), o Funcionalismo constitui: Uma teoria da organização gramatical das línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria global da interação social.

Observamos então, que a Linguística Funcionalista prioriza o estudo da língua como um todo e as diversas modalidades que os indivíduos apresentam no momento da comunicação. Neves (2008) considera ainda em sua vertente funcionalista que a língua é um instrumento de interação social e que jamais deve ser considerada como autônoma sabendo que está sujeita à modificações advindas do uso, determinando assim, a sua estrutura gramatical. Segundo Esteves (2008) os funcionalistas diziam que a fala, em transformação constante, é responsável por gerar o sistema linguístico. Essa ideia defendida por Esteves (2008) reflete bastante no local/ espaço em que o discurso se desenvolve, envolvendo assim, as situações comunicativas que são guiadas por diferentes contextos sociais. Dentro

da

vertente

funcionalista,

tratamos a gramaticalização do verbo. Para adiante esclarecermos melhor o tema devemos nos valer de conceitos de gramaticalização. Muitos teóricos funcionalistas tratam dessa temática. Devemos também nos situar de que a *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


77 gramaticalização não é uma descoberta recente da linguística. Sua origem remete às propostas gramaticais dos gregos e, sobretudo, foi muito utilizada pelos comparatistas do século XIX em suas análises. Vejamos mais abaixo alguns conceitos sobre gramaticalização. Com base em Heine et alii (1991) a cadeia da gramaticalização do verbo dar é descrita da seguinte forma: verbo-predicador e verbo-suporte. De acordo com o teórico deve-se analisar também o comportamento sintáticosemântico desse verbo pondo em relevância o papel da frequência no processo de gramaticalização desse item verbal. De acordo com Travaglia (2001) os verbos gramaticais eram resultados de uma mudança linguística chamada de gramaticalização que se entende como a passagem de um item gramatical a outro mais gramatical ainda.

3. METODOLOGIA A presente pesquisa é uma analise do processo de gramaticalização sofrido pelo verbo dar. É uma pesquisa de caráter histórico, comparativo já que iremos investigar as ocorrências em dois séculos, XIX e XX. O trabalho teve como base artigos, livros, sites, monografias, teses elaboradas no século XXI e que se inserem dentro da teoria funcionalista. No estudo prévio da pesquisa, foram selecionadas algumas definições que

são

essencias

para

uma

boa

compreensão

do

que

vem

a

ser

gramaticalização e os tipos de verbo dar. Para poder categorizá-lo foi necessário deter-nos em definições de verbo – suporte, expressão idiomática, verbo pleno, entre outras. A análise do artigo esta dividida em três etapas: primeiramente pesquisamos

sobre

gramaticalização

no

geral

e

também

sobre

a

gramaticalização do verbo dar. Em seguida passamos para a segunda etapa que foi a coleta das ocorrencias de frases em que apareça o verbo dar no *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


78 corpus do português, seculos XIX e XX. Organizamos as frases encontradas em lista (Frases completas e incompletas). Identificamos cada ocorrência coletada com as informações necessárias, no caso do texto (linha, fonte e resumo dos dados em gráfico). A última e terceira etapa foi a de categorização dos dados coletados. Nesta etapa categorizamos cada ocorrência conforme o tempo verbal, o modo verbal, a codificação do verbo na frase, o tipo de verbo (Dar) se é lexical, modal, aspectual ou discursivo, o período e ou século em que a frase se insere (XIX ou XX). Dentro dessas três etapas podemos observar as frequências, os fatores que levaram cada categorização e o contexto em que estão inseridas.

4. ANÁLISE DE DADOS:  Frases do Século XIX em que aparece o verbo dar: 1-

“Quem perdeu hum cavalo sellado procure-o em caza de Manoel

Joaquim de Santa Anna morador no Jogo da bola na Rua do Alecrim, a quem dando os signaes certos, e pagando-lhes as despezas não duvida entrega-lo.”(E-B-81-Ja-016) Tempo verbal: presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical-transferência de posse 2-

“Quem achasse hum menino de idade de 4 anos, bem parecido, o

queira mandar pôr em sua casa na Rua da Lapa do Desterro, casa número 40, que seu pagará toda a despeza que se tiver feito com elle, e dará o seu premio a quem o achar.”(E-B-81-Ja-018) Tempo verbal:futuro *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


79 Modo verbal: indicativo Codificação:dar lexical – transferência de posse 3-(...)

“Macário

não

pôde dar todos

os

pormenores

característicos daquela assembleia.”(SINGULARIDADES DE

históricos

e

UMA RAPARIGA

LOURA Autor: Eça de Queirós) Tempo verbal:pretérito Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal

4-“ Viam-na de manhã, quando saía, dar bons-dias à vizinhança e sorrir às pecadoras mendigas, que nas tabernas jantavam gravamos por qualquer pataco, ter com elas palestras.” A RUIVA Autor FIALHO DE ALMEIDA Tempo verbal:pretérito imperfeito Modo verbal:indicativo Codificação: dar modal

5- “E o santo rapaz, contra todas as profecias dos velhotes da aldeia, pendurara a baixa, encaixilhada com pau vinhático, à cabeceira da cama; trocara o bonnet pelo chapéu de palha de abas largas; arregaçara as mangas da camisa, para mostrar que os braços se lhe não tinham emaciado nem amolecido na ociosidade da tarimba, e fora oferecer o trabalho desses braços a quem lhe quisesse dar em troca um pouco de pão para a mãe e para ele.” O ZÉ SARGENTO-Autor PEDRO IVO Tempo verbal:futuro Modo verbal:subjuntivo Codificação:dar lexical *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


80

6- “Um dia Margarida, em frente daquele rasgo assombroso de valentia que colocara Tadeu ao lado dos maiores heróis, pusera-se grave, meditativa, e apontando com serena majestade para a lua que se reflectia num tanque do jardim, pedira a lua ao seu amigo Tadeu! Está claro que ele lha não pôde dar, mas gostou daquilo! Pais.” UMA HISTÓRIA VERDADEIRA-Autor MARIA AMÁLIA VAZ DE CARVALHO Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 7- “Deixe-se estar quieto. Não vê que não pode sair deste quarto senão à noite? pronunciou a voz enrouquecida de Tadeu. E sem dar mais atenção ao seu odioso hóspede, pôs-se a arranjar papéis, uma trouxa de roupa, algumas velhas relíquias, os retratos dos seus dous pequeninos, dos seus netos como ele lhes chamava.” (UMA HISTÓRIA VERDADEIRA, Autor: MARIA AMÁLIA VAZ DE CARVALHO) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 8- “Nós, cá os da serra - com mil diabos! -, nem lenha temos muitas vezes no Inverno, nem uma pinga pra nos aquecer! Quando a rapariga fez quinze anos, disse-lhe o pai solenemente: - que ela estava uma mulher feita, que lhe era preciso trabalhar, que o amanho da casa lhe deixava muita hora livre para outra ocupação; que ele era pobre e o pouco que tinha lhe custara muita baga de suor para o ganhar; que a preguiça nem o próprio Diabo a queria, e que nada havia como o trabalho para dar saúde e vigor.” (A FRECHA DA MISARELA. Autor:ABEL BOTELHO) Tempo verbal:presente *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


81 Modo verbal:indicativo Codificação:expressão fixa- dar + SN

9- “ O termômetro continuava a dar as mesmas indicações elevadas; era inexorável e despiedado, como a figura sinistra dum Inquisidor, ele tão frágil, tão leve, tão delicado na aparência! - Que espírito do mal o houvera construído? - murmurava o doutor” (A DOENÇA DA MIMI. Autor: JOSÉ AUGUSTO VIEIRA) Tempo verbal: presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal -oração no infinitivo 10- “(...) Sabia, por informações, da existência da cadeirinha e indaguei quem na vila, me poderia dar uma carta que me introduzisse junto da fidalga.” (O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA. Autor: CONDE DE ARNOSO) Tempo verbal:futuro Modo verbal: indicativo Codificação:dar aspectual-verbo + SN 11- “Como a porta da igreja do convento estava aberta, ocorreu-me que o sacristão me poderia dar informações que naquele momento tanto desejava. ao entrar na igreja experimentei uma agradável sensação de bem estar.” (O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA. Autor: CONDE DE ARNOSO) Tempo verbal:pretérito imperfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


82 12- “Nestas circunstancias tao felizes eh, que eu tenho julgado poder dar ao público

este

Compendio

Histórico

das

Sciencias,

e

Bellas

Artes.”(

Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva) Tempo verbal:futuro Modo verbal: indicativo Codificação:dar lexical 13) " (...) e muito mais, porque ninguém pôde tomar parte, ou na prática, ou na conversa sólidamente, sem que tenha razoens bastantes, para dar a conhecer

a

todos

a

utilidade,

que

ha,

de

qualquer

Sciencia,

ou

Arte.”(Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação: dar discursivo – dar + a + SN 14) “(...) que se deve ensinar, por respeito a todas as ciencias, ou Artes, á curiosa

mocidade,

a

quem

pretendemos dar alguma

educaçaõ.”

(Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 15) “ Depois da utilidade desta pequena Obra, já reconhecida do Público, e depois de todos os trabalhos, que se tem tomado para lhe dar perfeiçaõ, podemos ter boas esperanças, de que ella seja geralmente adoptada por todos, para dar á mocidade noçoens fundamentaes, verdadeiras, e exactas de todas as cousas.”(Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva).

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


83 Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 16) “Depois da utilidade desta pequena Obra, já reconhecida do Público, e depois de todos os trabalhos, que se tem tomado para lhe dar perfeiçaõ, podemos ter boas esperanças, de que ella seja geralmente adoptada por todos,

para dar á

mocidade

noçoens

fundamentaes,

verdadeiras”(...)

Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação: dar lexical 17) “ (…) e Fradique assumiu para mim a estatura dum desses seres que, pela sedução ou pelo génio, como Alcibiades ou como Goethe, dominam uma Civilização, e dela colhem deliciosamente tudo o que ela pode dar em gostos e em triunfos.” (Correspondência de Fradique Mendes Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal;indicativo Codificação:dar lexical 18) “ O inglês dirá:-«É ir ao serviço ao domingo, bem vestido, cantar hinos». O hindu dirá:-«É fazer poojah todos os dias e dar o tributo ao Mahadeo».”( Correspondência de Fradique Mendes Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


84 19) “ Vim dar uma vista de olhos à fazenda. ao pé de Amélia uma rapariga acamava couves numa canastra.” (O Crime do Padre Amaro Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 20) “Não tem que dar ordens aos escravos nem que se preocupar com arranjos domésticos: a casa é simples: paredes de mármore ou de tijolo pintado, tapetes macios e fundos e algum vaso precioso, num nicho, entre as frestas que servem de janelas.”( Correspondência de Fradique Mendes Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 21) “As ruas que vinham dar à Praça, tortuosas, tenebrosas, com um lampião mortiço, pareciam desabitadas.”( O Crime do Padre Amaro Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:pretérito Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 22) “Vim dar uma vista de olhos. E agora toca ao almocinho, hem? - Se é servido.. disse a S. Joaneira. Agostinho, muito galante, ofereceu o braço à mamã.”( O Crime do Padre Amaro Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


85 Codificação:dar discursivo 23) “ Henrique veio dar a mão a Mariana, lançando um olhar de desprezo a Salustiano, que o pagou com seu costumeiro sorrir sarcástico.”( Os Dois Amores Autor Joaquim Manuel de Macedo). Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 24) “Como a porta da igreja do convento estava aberta, ocorreu-me que o sacristão me poderia dar informações que naquele momento tanto desejava.”( O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA Autor CONDE DE ARNOSO) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 25) “(...) e que nada havia como o trabalho para dar saúde e vigor.” (A FRECHA DA MISARELA Autor ABEL BOTELHO) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 26) “ Pois eu queria-os todos meus, só pra uma coisa.. pra lhos dar! - Ora agora, que lembrança! Vossemecê está a reinar.. - Não estou, Aninhas.. Queria-os pra lhos dar, pra mais nada, não! - Fracos desejos tem você!”( A FRECHA DA MISARELA Autor ABEL BOTELHO) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


86 Codificação:dar lexical 27) “ A pequenina Maria viera; muito de manso, com uma tranquilidade extraordinária, dar ao papá o beijo da noite.”( A FRECHA DA MISARELA Autor ABEL BOTELHO) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação: dar lexical 28) “O exército vitorioso ia tomar posse do Castelo de Faria, que lhe prometera dar nas mãos o seu cativo alcaide.” (O CASTELO DE FARIA Autor ALEXANDRE HERCULANO) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 29) “O Agostinho sugeriu que este final alerta podia dar lugar à réplica jocosa - Alerta está!”( O Crime do Padre Amaro Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 30) “ Não te posso dar um banquete, mas hás-de ter uma sopa e um assado(...)” ( Os Maias Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


87 31) “ (...) e uma rica procissão na rua, e boas vozes, e respeito, imagens de dar gosto, ninguém bate cá os nossos portugueses.. Calei-me, esmagado.”( A Reliquia Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:presente Modo verbal: indicativo Codificação:dar discursivo 32) “ Para dar de beber às éguas, paramos numa linda fonte que um cedro assombreava. ( A Reliquia Autor Eça de Queirós) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal 33) “ (...) em Vossa Lingua adverte que, para este fim, não pode elle dar melhor documento do que ella está dando.”( Paiva:Enfermidades Autor Manuel José de Paiva) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal 34) “O certo he que as curas que se fazem com palavras, sempre foraõ reputadas por indecentes. Só huma satisfaçaõ póde dar o Autor a quem ler este livro, em taõ discreto reparo; porque, se nelle se acharem alguns periodos radicados em racionaveis fundamentos, signal he da melhora que se deseja, a discriçaõ com que se falla: mas se todos forem criticados por intrepidos, indoutos, e inconcludentes; desde agora se declaraõ por naõ ditos; para que naõ chegando a confirmar-se a offença, não fique sem remedio a infermidade.

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


88 Ja que as doenças da lingua tanto se diffundem que até inficcionaõ ao Medico que a està...”( Paiva:Enfermidades Autor Manuel José de Paiva) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 35) “(...) occasião de falar da sua pessoa, apresenta-se cheio de si mesmo. --------- - Estes defeitos não escapárão á perspicacia dos seus contenporaneos, sis corruptæ eloquentiæ, e de Quintiliano, o qual, depois de enumerar estes mesmos defeitos, todavia o justifica de muitos delles, como pode ver-se, lendo o Capitulo X. Do livro XII. Das suas Instituições Oratorias. §. 5. Ácerca do parallelo entre Demódtenes o Cicero tem escrito muito os Criticos, desde Quintiliano até aos nossos dias; falando porêm somente dos modernos, a pluralidade dos Criticos Francezes inclina-se a dar preferencia ao ultimo: com tudo do commum sentir dos seus nacionaes se separou Fenelon nas suas Reflexõs sobre a Rhetorica e sobre a Poetica, que é um curtoTratado, o qual seve de continuação aos seus Dialogos sobre a eloquencia, e são tão belas, e felizes as suas expressões, que merecem ser aqui copiadas: " Não me demorarei em dizer, que Demóstenes me parece superior a Cicero: Protesto, que ninguem tanto, como eu, admira Cicero; elle aformosêa tudo quanto toca, ennobrece a (...)” (Carvalho:Eloquencia Autor Francisco Freire de Carvalho) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 36) “ (...)bem arranhada lhe ficou; inda bem! - Inda bem, querida Aninhas! E o ladrão do almudeiro.. - Fez-se negro de raiva com o insulto; e, sem dizer palavra, começou a ajuntar o que estava pelo chão, pérolas, oiro.. jóias, bem lindas eram elas! e meteu tudo nos golpes do saio, e foi-se sem mais Deus te *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


89 salve do que um sumido Tu mo pagarás, que ia rosnando pela escada abaixo. Tens razão para ter medo, filha; agora o vejo eu; mas ainda lhe havemos de dar remédio. - Quem? - Eu.. nós, se Deus quiser; nós e a nossa boa fortuna. - Nós! Tu com dezasseis anos e eu com vinte, teu tio na corte, meu marido em Lisboa, que havemos nós de fazer, mulheres, sós e sem ninguém? Sem ninguém! - Sem ninguém não, que aqui tenho a minha madrinha e padroeira, a minha senhora Sant' Ana. - E eu o meu Vasco, que há-de fazer o milagre sem ser(...)”( Arco de Sanct'Anna Autor Almeida Garrett) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 37) “naufrágio geral, é necessário corrermos a pontapés os intrujões que se apoderaram dos cimos, arrogando-se o título de chefes e ditadores, em todos os ramos da administração e da vida pública, e antepondo ao bem do Estado a sua ânsia de gozos e riquezas, traída em toda a linha banditismo que nem sequer já perde tempo em disfarçar ~se! Porém esta nossa jeremiada vai longa, e compilaremos rápido os pontos principais exposição. Não temos um museu d' artes decorativas, nem em embrião sequer, e é indispensável criá-lo, se com alguma seriedade cuidamos de dar hausto, levantamento do nível estético quer no consumidor, quer no produtor, aos nossos antigos centros de actividade industrial. Não temos uma colecção móveis d' arte a que os artistas ignorantes se reportem, nós que possuimos dos primeiros marceneiros e restauradores de móveis do mundo. Não temos um gabinete de ourivesaria, constituido com exemplares das nossas oficinas da Renascença, nós que ainda hoje executamos com uma perfeição manual surpreendente, os trabalhos mais arriscados de lavrantaria e filigranagem. Senhores dos primeiros canteiros do mundo, não(...)”( Almeida:Gatos1 Autor Fialho de Almeida) Tempo verbal:presente *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


90 Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal 38) “(...)

alta, hein? Falta só que S. M. lhe mande saber da saúde ao

cagarrão. Eduardo d' Abreu pronunciou há dias na sala dos deputados a palavra " malta ". Estiveram para se atirar a ele uns dez ou doze, e agora, ao discutir-se a prisão do Mendonça Cortez, suspeito de falsário e ladrão em dois processos, um praxista das dúzias, que tem feito reputação parlamentar sobre motivos do modo de propor, verbera nos Pares o não se ter " respeitado o regulamento " mantendo o tunante à solta - naturalmente para lhe dar tempo de fugir (1). Nesta dispersão de blandícias com que os soltos pretendem talvez tapar a boca aos catrafilados, é consolador ver um simples moço de café dando lições d' atitude à sociedade. Há quatro dias vem ao Martinho um portador do Limoeiro, pedir almoço para o digno Par. Resposta do Valentim: - Num se pode. O xerbicio é de prata. 18 de Fevereiro. - (PEQUENA FÁBULA). Meto a mão na algibeira.. depara-se-me um ramo de loiro, restos da coroa(...)”( Almeida:Gatos5 Autor Fialho de Almeida) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 39) “catástrofes antigas, pretexto para mágicas d' estofos hilariantes, móveis de preço e imobilizações d' actores em quadros vivos. Não vale confranger desta franqueza. Os defeitos que aponto não dizem exclusivamente à arte da pintura, mas são chancela das gerações pensantes actuais. Todos enfermam deles,

historiadores,

actores,

dramaturgos,

caricaturistas,

arquitectos,

louceiros e músicos. Além do que, Malhoa tem' por companheiro d' infortúnio, o extincto Lupi, cujo quadro da Câmara Municipal não é superior como sonho histórico, à grande tela que a Pombaleida acaba de lhe dar. Iniciando a resenha por personagens d' importância, venho a cair do Marquês de Pombal, *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


91 no rei D. Carlos, de quem Malhoa produz um retrato de generalíssimo, com mais medalhas do que a carroça do Conceição Silva das bolachas. Painel para o Tribuna de Contas, diz o catálogo, e logo se vê pela emproada atitude, cambando sobre a esquerda, pela brasa do olho e o ar legiferante que é pintura para infundir respeito aos conselheiros. Na pala do capacete, o reflexo do (...)”( Almeida:Gatos5 Autor Fialho de Almeida) Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 40) “ (...( e reis da velha Europa sobre as virtudes e trato dos seus povos, a quando pela questão inglesa me passou pela cabeça abdicar, recapitula-se sobre rigorosíssimas estatísticas que é no meu reino que formilham, de cima a baixo, maiores e mais cafrarias de malandros. Aos que pois me lançam em rosto a dinastia mórbida de D. João IV e descendentes, contraporei essoutras de políticos inábeis, de gentis-homens cínicos, de burguesia soma e de plebe sem vergonha, que é a história da sociedade portuguesa de há trezentos anos para cá. Povos e reis, podemo-nos dar as mãos pelo conjunto homogéneo que fazemos, repartir quinhões iguais na glória de havermos feito deste rectângulo de paisagem um dos manicómios mais típicos da degenerescência humana em desfilada p' rà demência. Bem sei que abrindo os livros da história, toda a responsabilidade do mal é debitada aos reis, e toda a causalidade do bem pertence aos povos: o caso de resto explica-se por os monarcas não serem historiadores nem jornalistas, e por as casas reais serem já bastante pobres para poderem arrematar a consciência dos Plutarcos.( Almeida:Gatos6 Autor Fialho de Almeida)

pág 5 - 41... que dão as vadiações! - Pior poderia ser. Não

morreu ninguém, graças a Deus. - Lá vêm eles! Afinal a escolta assomava no cotovelo do caminho. Vinham três homens com as mãos para trás, amarradas com cordas. Vinham cercados por uns doze cabras de cacete, um sujeito de óculos com cara de defunto, muitos curiosos e uns parentes dos presos. A um *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


92 sinal da Guida, a autoridade, que montava um cavalo ruço, fez parar o grupo em frente à latada. O Silveira, que era um dos melros, tentou dar um passo fora do fecha-fecha, mas os guardas o repeliram: - Tá bebo, cabra! Você fazse besta. Você aqui não ginga, não, cabra! - Cabra, não faça ação! ameaçava o outro. Aqui o prisioneiro ergue a cabeça, empina-se e grita: - Valha-me, Seá Dona Guidinha do Poço! Era a voz do pobre Silveira, minha gente! Com esta invocação fatídica, em uns manifestou-se um sentimento de piedade, em outros de indignação. Todos conheciam que a intercessão.” Dona Guidinha do Poço Autor Manoel de Oliveira Paiva Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 42) “é mágica? - É mais do que isso; é um anjo. - Anjo.. nesse caso não me canso em ir procurá-la, porque é coisa que não existe mais neste mundo. Não te canses mesmo, minha velha; tu não a encontrarás; nem ela virá cá. Ela é do céu; não pode descer a este inferno em que estou penando. XIV A LAVADEIRA No dia seguinte bem cedo a boa velha veio pressurosa acordar Elias. - Levante-se, meu moço; o dia amanheceu bonito, e tenho uma bela notícia para lhe dar. - Boa notícia para mim.. não é possível! para mim.. neste mundo já não pode haver notícia nem boa nem má. A única boa notícia que me poderiam dar era que já morri. - Qual! quem fala agora em morrer.. doulhe parte que temos agora aqui perto uma bela vizinhança: já Vmcê. não ficará tão sozinho. - Vizinhança! oh! que bela nova! tomara que me deixem sozinho, e que eu nunca lhes veja a cara. Senão me mudarei ainda.” O Garimpeiro Autor Bernardo Guimarães. Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


93

43) “ (...) que nesse sacrifício arrastavas mais uma vítima.. - Oh! se me lembrava.. mas eu nem notícias tinha de ti.. e, mesmo que as tivesse, a não estares em circunstâncias de valer a meu pai, levarias a mal esse sacrifício, se infelizmente se consumasse.. - Não, minha Lúcia.. eu não teria remédio senão admirar-te, embora se me estalasse de dor o coração. Mas a carta que te escrevi do Sincorá, acaso não chegou-te às mãos? - Chegou, Elias; mas em que momento, meu Deus? Eu acabava de dar o meu consentimento, de comprometer solenemente a minha palavra para com meu pai; já era tarde. Faz idéia de quanto era triste e desesperadora a minha posição. - Pobre Lúcia! quanto és boa.. quanto és adorável e sublime! Se antes eu te amava, de hoje em diante eu te admiro, eu te adoro, e não me julgo digno do amor de uma criatura tão superior, de um anjo, de que o mundo não é digno.” - Se não te julgasse digno. O Garimpeiro Autor Bernardo Guimarães. Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 44)” (...) qual punha por baixo da porta a quantia devida. Nunca nenhum se ausentou sem ter primeiro cumprido o seu dever, com a proverbial probidade do matuto e do sertanejo do norte. No tocante ao traje, ver um dos matutos era o mesmo que ver os demais. Camisa por cima de ceroulas de algodão - eis em que ele consistia. Todos tinham os pés nus, e quase todos por cima do cós das ceroulas o longo cinto de fio, cofre portátil onde traziam o dinheiro, terminando

em

cordões

com

bolotas

nas

pontas,

os

quais

serviam

para dar muitas voltas em torno da cintura antes do laço final. Metida entre o cinto e o cós guardava cada um sua faca de ponta presa pela orelha da bainha. Da arma só aparecia o cabo, figurando a cabeça de uma serpente que tinha o restante do corpo oculto. Já era noite, e dentro do rancho lançava crepuscular claridade o candeeiro de azeite, que pendia, por uma corda corrediça, de um *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


94 dos caibros da coberta. Alguns dos rancheiros estavam com as mangas arregaçadas como se foram prestes.” O Matuto Autor Franklin Távora Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 45)” (...) não. Se ele quisesse, me tratava de outra moda. Como é então que ele te trata? - Eu não sei dizer como é, não, meu padrinho. Eu só sei que Lourenço é mau e ingrato. Triste e cabisbaixa, a menina poz-se a chorar. Era muito intensa a dor que feria seu coração. Não chores, pequena, disse Francisco abalado. Hei de fazer que ele venha a casar contigo. Pede bem a que eu não morra. Tanto farei que ele mesmo é que me há de pedir licença para dar este passo. Secreto pressentimento, porém, dizia à menina, não obstante este formal compromisso do matuto, que nem o coração de Lourenço nem sua mão lhe pertenceriam jamais. Entretanto a esperança que tais palavras infundiram em seu espírito, entrou ai como luz serena e divina. Momentos depois, voltaram todos para casa, conduzindo as mãos-de-milho. A uns derramavam-se espigas pelas costas, a outros caiam os atilhos dos braços, ou das mãos. Marianinha, enquanto os demais tinham a atenção concentrada na colheita”. O Matuto -Autor Franklin Távora Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 46) “(...)não sei o que faça.. JÚLIA - Vamos para dentro, e prudência.. AMÁLIA - Quero matá-lo com um desengano agora mesmo.. JÚLIA - Temos tempo: para brigar nunca é tarde. Vamos, vamos.. (Como que lutam, mas Júlia a leva para a alcova). CENA IV JULIANO JULIANO - Estou acabrunhado! O movimento do cavalo e a frescura da manhã fizeram-me algum bem: bebi muito, bebi *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


95 demais, mas tenho a cabeça aliviada. Bebi muito vinho e comi pouco. Vamos dormir, se eu puder dormir! Ah! é preciso dar tréguas a esta vida de lutas e de sobressaltos. A ociosidade, o amor próprio, uma vaidade ruinosa e a sociedade em que vivo arrojaram-me nesta vida e nesta comédia sombria, que poderá acabar em drama! Quem seria aquela dama que acompanhava Clarice? Desmaiou quando ou proferia esses lugares comuns, essas frases banais de todos os tempos! Não era Carolina, porque essa não desmaiaria; seria.. (Pensa) Não; é impossível! A tanto se não abalançaria.” É tímida, e virtuosa. Os Lobisomens - Autor Araújo Porto Alegre Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 47) “o seguinte, á parte) Agora: bravo! (Dançam) Bravo, madame; bravo, chevalier. Allons, du courage. 1. Prendi o rato na ratoeira, Tinha o focinho já na melgueira. 2. Ganhei a aposta, tenho calecha; Vou dar em cheio, bater a brecha. 3. (Estribilho na 2ª parte) Cartinha amada, foste um tesouro! Achei o fio, e que fio d' ouro! 4. (Na repetição) Oh, que finura! Oh, que requinte! Tenho calecha, vou dar no vinte. 1. Pobre da tola, está na esparrela; E o maganão zombando dela. 2. Anda por fora; come a fartar, E a pobre em casa, e a jejuar. 3. Ele na rua, buscando tocas; Ela encerrada, comendo mocas! 4. Que padre mestre, que meninório! Que diplomata, oh! que finório. 1. O meu tratante também queria Levar a vida na fadaria; 2. Mas eu cortei-lhe o jogo no meio, Triunfei”. Os Lobisomens Autor Araújo Porto Alegre Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo

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96 48) GASPARINO - É um serviço, minha senhora, que pode e até deve prestar todo o amigo dedicado e fiel. MARIQUINHAS - Estou ciente, Senhor Gasparino: está cumprida a sua missão? GASPARINO (Tirando uma carta do bolso) Pediu-me mais que lhe entregasse este - párfumé - e que dissesse a Vossa Excelência que, já que ele próprio não podia manifestar os seus sentimentos, confiava ao papel os arcanos de sua alma, pede-lhe resposta. (Entrega a carta) MARIQUINHAS (Rasgando a carta) - Diga-lhe que a melhor resposta que lhe posso dar é esta. GASPARINO - O que fez, minha senhora? Vossa Excelência rasgou uma página cheia de inspiração e de sentimento! Uma página que encerra as confissões de uma alma apaixonada! É preciso não ter coração! O Barão ama-a como um louco, adora-a e em nome de tudo que Vossa Excelência tem de mais caro e de mais santo, em nome de sua mãe, eu peçolhe, suplico-lhe de joelhos (Ajoelhando-se) que alimente essa paixão que pode levá-lo à sepultura. CENA XI OS MESMOS. Tipos da Atualidade Autor Joaquim José da França Júnior Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal 49) Só Este, que um deus cruel arremessou à vida, Marcando-o com o sinal da sua maldição, - Este desabrochou como a erva má, nascida Apenas para aos pés ser calcada no chão. De motejo em motejo arrasta a alma ferida.. Sem constância no amor, dentro do coração Sente, crespa, crescer a selva retorcida Dos pensamentos maus, filhos da solidão. Longos dias sem sol! noites de eterno luto! Alma cega, perdida à toa no caminho! Roto casco de nau, desprezado no mar! E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto; E, homem, há de morrer como viveu: sozinho! Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar! A um violinista Quando do teu violino, as asas entreabrindo Mansamente no espaço, iam-se as notas quérulas, Anjos de olhos azuis, às duas mãos partindo

Os seus cofres de pérolas, - Minhas crenças de

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97 amor, esquecidas em calma No fundo da memória, ouvindo-as recebiam Novo alento, e outra vez do oceano de minh'alma. Alma Inquieta Autor Olavo Bilac Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 50) AMBRÓSIO - É o que eu também digo; mas como preveni-las? FLORÊNCIA - Faze o que entenderes, meu amorzinho. AMBRÓSIO - Eu já te disse há mais de três meses o que era preciso fazermos para atalhar esse mal. Amas a tua filha, o que é muito natural, mas amas ainda mais a ti mesma.. FLORÊNCIA O que também é muito natural.. AMBRÓSIO - Que dúvida! E eu julgo que podes conciliar esses dois pontos, fazendo Emília professar em um convento. Sim, que seja freira. Não terás nesse caso de dar legítima alguma, apenas um insignificante dote - e farás ação meritória. FLORÊNCIA - Coitadinha! Sempre tenho pena dela; o convento é tão triste! AMBRÓSIO - É essa compaixão malentendida! O que é este mundo? Um pélago de enganos e traições, um escolho em que naufragam a felicidade e as doces ilusões da vida. E o que é o convento? Porto de salvação e ventura, asilo da virtude, único abrigo da inocência e verdadeira felicidade.. E deve uma mãe carinhosa hesitar na escolha. O Noviço Autor Martins Pena. Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo  Análise de frases so Século XX em que aparece o verbo dar 1)(...)Então com o porte financeiro que o governo vai ter para os dois próximos anos acho que terá condições de enfrentar esse problemas. Se for prioritário para Bauru a construção do hospital, diante de tantos outros problemas que serão apresentados pela cidade, não tenho dúvida que o *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


98 governo vai colaborar. Se for outra a prioridade o governador também vai dar seu apoio.(...) Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal 2)O que não faz sentido é deslocar um assistente da Sebes (Secretaria do Bem-Estar Social) para outra secretaria. Nós vamos terminar com os privilégios que alguns têm. Tem uns que são contrados para dar aula e, de repente, vai para um cargo administrativo. Não tem sentido. Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal 3) “É preciso dar um ganho para que essa criançada saia da rua, com uma profissão.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 4) “A população ainda tem dúvida sobre a ciência em relação à morte cerebral. Mas hoje a ciência é capaz de dar o diagnóstico de morte cerebral com uma certeza de 100%, com a realização dos exames necessários.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal

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99 5) “Ninguém ama mais alguém ou alguma coisa do que aquele que está disposto a dar a vida por esse alguém, por essa coisa.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 6) “O fortalecimento do municipalismo seria uma das saídas. Há um tipo de movimento nos mais diversos lugares que até agora não conseguiu dar nenhuma dentada efetiva, digamos, nos donos da oligarquia, seja dos bancos, da mídia, das montadoras, dos latifundiários.” Tempo verbal:pretérito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 7) “O PDT quer mesmo dar um fim à aliança política que mantém com o PSDB há cerca de seis anos? Flávio Torres - Olha, o PDT se ressente na forma como essa aliança tem se processado na prática.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 8) “A experiência que tive na Area Externa e na fiscalização do BC e o que foi revelado pela CPI dos precatórios é que a legislação nos dá poucos elementos para trabalhar. Para dar um exemplo na área cambial: o BC identifica um laranja numa operação em Foz de Iguaçu, um sujeito sem condição econômica, que recebe em sua conta um depósito de US$ 5 milhões e saca no dia seguinte em espécie, em reais.”

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100 Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 9)”A globalização não faz milagres. Não sou economista e não gosto desse negócio de dar chute. Mas acho que se vem atribuindo muita coisa à globalização, como se ela fosse uma espécie de serva de um poder invisível, do qual não se fala.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 10) “Para se ter uma estrutura salarial justa, o ideal é que a diferença entre o menor e o maior salário seja muito mais comprimida. Para que aí o governo possa ter condições de dar bons salários aos mais baixos na carreira e salários justos aos que estão no topo.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 11) “Sempre houve essa perspectiva de grupo itinerante, mas resolvi dar um tempo, porque estava cansado. No mês que vem vamos para Portugal apresentar Ubu. Quanto à ópera de Mozart, ela foi cancelada porque o festival francês não conseguiu levantar o dinheiro da produção.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 12) “Como vai ficar o projeto Costa Dourada? Guerra - Iremos convocar agentes privados brasileiros ou não, para dar continuidade ao projeto.

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101 Achamos que o Costa Dourada devia ter começado onde já existe uma certa estrutura econômica, inclusive porque iria favorecer uma comunidade muito mais ampla.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 13) “Quanto a ter sucesso na quase criação da República Democrática do Congo, fazendo daquele imenso, rico e cobiçado país, realizando sonho de Patrice Lumumba, bem, essa é uma tarefa que ultrapassa a potencialidade de um homem só. Kabila tem de ser prudente, dar cada passo com firmeza, ter em linha de conta a realidade cultural dos povos do Congo, não inventar soluções

apressadas

para

problemas

antigos,

resistir

às

pressões

ocidentalizantes, negociar, negociar sem perder de vista os objetivos que se propos quando iniciou a luta contra Mobuto.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 14) “A lei não permite que se configure o crime perfeitamente. Vou dar um exemplo: o fiscal do BC chega na agência de turismo e lá enfrenta uma porta blindada, com uma câmera na frente e três, quatro seguranças armados”. Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical

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102 15) “Franco - Mas isso será natural. As (--) estrangeiras instalam-se aqui olhando o mercado interno, que vai dar a elas uma escala inicial grande e isso já é atrativo em si que as coloca numa posição de exportar.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 16) “É lógico que ainda pode melhorar, mas tenho certeza de que isso acontecerá. Foi praticamente um milagre o que ele fez. Em tão pouco tempo dar uma arrancada dessas. Esse feito tem um valor pessoal enorme. Mas ele deve tomar cuidado com a badalaçao e a cobrança.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 17) “O que o Guga fez foi sensacional, extraordinário. Mas se tiver um mau resultado começam a dizer que foi sorte, não vai dar mais, está acabado. O que eu diria para ele é: " Vá com calma, siga como está porque está muito bom, você não tem a obrigação de ser um ídolo ". Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 18) “E, quando não for possível atuar sobre os fluxos de receitas e de gastos, a reforma patrimonial e o uso de ativos, na privatização. Não cabe ao governo dar sugestões a governadores, que têm secretariado competente para decidir a combinação dessas coisas.”

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103 Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 19) “Perguntei se ele iria investigar o caso e ele disse que sim. Mas, quando estive na secretaria, dois dias depois, disseram que ele tinha entrado em licença. Estado - Como foi o desaparecimento de Lauristo? Marília - Ele foi convidado a dar um depoimento. Enquanto estava depondo, o delegado Firmino Sodré, que está com o inquérito, pediu a prisão preventiva dele ao juiz. Mas o juiz Luís Belchior não foi encontrado pelo pessoal.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 20) “Uma vez, lendo num jornal, depois de ter tido uma atuação muito boa, o repórter analisou da seguinte forma: " O Gottardo esteve bem, mas não foi ao ataque " Fiquei impressionado. Olha só a análise dele, acho que precisa haver equilíbrio em tudo. Procuro tê-lo na minha vida profissional e na maneira de jogar, ser eficiente. Não dar sossego aos atacantes, pertubá-los, orientar meus companheiros.. Não posso enganar, pois senão estaria enganando há 14 anos.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 21) “Foi tudo em tempo real. Estávamos lá na hora em que as coisas ocorriam. Isso é incomum na TV. Nosso programa é quase uma gincana. Não existe aquele esquema careta de figurino e maquiador. Estado - O Brasil Legal não será mais temático? Casé - O programa, a partir deste ano, passa a ter *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


104 dispositivos. Vou dar outro exemplo: Passamos 12 dias em Sergipe, gravando um programa cujo dispositivo será a fotografia.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 22) “JC - Você nunca teve outra profissão, senão o esporte? Simone - Eu sou funcionária pública municipal há 24 anos, porque, minha mae, antes de falecer, me fez prestar um concurso. Ela achava que eu tinha que ter um emprego. ao longo desses anos todos, eu estive em diversas repartições, mas sempre dei um jeito de mexer com esporte. Formei escolinha de basquete em todas as escolas de bairro dessa cidade por onde passei. Eu também sou Assistente Social e, quando estava cuidando de uma horta para crianças carentes, dei um jeito de colocar um aro lá na horta e treinava os garotos mesmo na terra. Além disso, sou treinadora da equipe de basquete do Anglo e da categoria mini da Luso.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo erbal:indicativo Codificação:dar discursivo 23)" OP - Que apelo você faria a esses dirigentes tricolores? Croinha: " Eu peço aos torcedores do Fortaleza, aqueles a quem eu dei tantas glórias, que me ajudem, que eu realmente estou precisando de ajuda. Estou com a casa atrasada, água e luz, e tem a dieta que a doutora passou, para eu manter, todo dia, na minha refeição, que é muita verdura, frutas e leite, e eu estou sem dinheiro para poder comprar esses alimentos “. Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


105 Codificação:dar lexical 24) “Não é nenhuma apologia de uma pessoa que não ganhou a eleição. Obviamente que quando entrei, inclusive amanha (dia 28 de maio) vai fazer um ano que eu recebi o inesperado convite para ser candidata a Prefeitura de Fortaleza, estava consciente de que eu estava entrando tarde; de que era muito difícil a batalha. Mas dei o meu nome, o meu suor, a minha luta, os meus sonhos, as minhas aspirações. OP - A senhora acha que a escolha do seu nome foi tarde? SF - Foi tarde sem dúvida alguma.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 25) “Demorei a perceber a razão. Mas me dei conta de que a explicação estava na minha biografia. Como você deve saber, tive uma infância atormentada. Meu pai foi assassinado por motivos políticos quando eu tinha apenas 3 anos. No final da década de 50, procurei escrever uma biografia do meu pai, chamada A Vida do Cavaleiro Suassuna. Desisti, pois era doloroso demais. Então, resolvi deixar para lá e fui escrever um romance. Um dia, dei o que já tinha feito para minha irma ler e ela ficou assustada.”

Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 26) “Apolonio - É. Pancadas, pau-de - arara, injeçoes. Um médico ficava ao lado. Não sei quanto tempo fui torturado. Estava com 58 anos. Quando eu bati neles me senti tão seguro, tão tranqüilo, que me dizia: " Eles podem até me matar, mas eu já dei o troco " Se se pode dizer assim, fiquei à vontade debaixo dos maus-tratos. Resolvi mostrar a eles que um comunista não geme *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


106 diante deles. Fiquei apertando os dentes e não me arrancaram um grito, um gemido.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 27) “Decidi, então, arrumar um armário, onde encontrei uma flauta antiga do Exército austríaco, um flajolete, e comecei a estudá-la e a fazer música. Foi como dei meus primeiros passos para a música. Tive também o que chamávamos de detector: uma caixinha pequena com cristal em que a gente procurava a estação com agulha e ouvia música de Paris e Londres. Foram as minhas primeiras sinfonias, óperas e operetas e apaixonei-me por tudo aquilo.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 28) “Entre outros ele sugeria Woody Allen, Bernardo Bertolucci, Milos Forman, Godard, Peter Greenaway e Alain Resnais, para quem eu dei o meu voto, mas o vitorioso foi mesmo o Bergman e lá em Paris eles divulgaram que ele ganhou por unanimidade. Não engoli muito bem essa história toda.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 29) “Ele me incentivou tanto que, a um certo ponto, me perguntei: e por que não? Quando eu era jovem, fiz críticas muito duras à academia. Mas agora, não. Se aparecerem os votos, eu aceito. Já dei alguns telefonemas, já fiz as primeiras sondagens. Se sentir que tenho alguma chance, me candidatarei.”

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107 Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 30) “Inf. - pronto () L.A. - () Inf. - não eu eu tirei eu eu resumi eu só tirei as partes principais () - porque isso aqui é o é o é o livro todo - certo? - então eu tirei partes ma / tirei xerox mais da parte de () o que é que ele tá pedindo e os - os testes como aplica como corrente L.A. - () sobre todas as () que a gente viu não é isso? Inf. - uhm-hum - é é: aquele material que eu dei pra: H. como também - tem as folhinhas né? - eu coloquei as folhinhas - então eu tenho o livro - que tem todo o material e se vendia antiamente nas livrarias as folhinhas do teste - eu coloquei também atrás pra vocês - então nessas duas folhas aqui tem uma que diz como que como aplica - a outra como corrige esa aqui é a folha onde tem a parte de recorte e onde a criança tem que fazer o desenho das figuras - e aqui são as figuras que(...)”

Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 31) “Ele me pediu o nome dessa pessoa. Eu dei. Ele ligou para a secretária e pediu que o localizasse. Em cinco minutos, quando já cruzávamos a segunda avenida, ela ligou de volta. Meu editor virou-se para mim, ainda no telefone com a secretária, e disse: " Na verdade, foi mais fácil do que parecia.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 32) “O Diário Associado tinha o Campanella. Tinha aquela revista.. Tinha aquela revista que concorria com a Manchete e O Cruzeiro.. Como é que era o *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


108 nome dela? Mundo Ilustrado, bonita revista também. E aí foi assim. Aí eu fui como repórter, eu fui olhando, olhando. Até que um dia peguei a máquina e fotografei. Fotografei e tal e dei uma capa. Dei uma sorte que eu dei uma capa. EVIRT: Qual foi a capa? SCARPINO: Foi a garota de Ipanema.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 33) “Ela estendeu o rosto para um beijinho. - Três pra casar - pediu. Dei um, sem tocar na pele. Ou na camada de maquiagem entre minha boca e a pele dela. Peguei um monte de laudas e saí cor-rendo.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 34) “Você fica mais bonita e mais amena quando está namorando. - Hoje de manhã levei o maior susto quando me olhei no espelho. Não só por causa da minha aparência, mas porque me dei conta que há muito tempo não me via, apenas olhava, distraída. Você sabe o que significa quando a gente se desinteressa pelo corpo - disse Lena, que não se afligia tanto com a própria decadência física, mas com a desoladora sensação de desistência.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 35) “Isso era sempre o mais melancólico. Em tudo, aquela memória de outros tempos mais dignos, escondida ali no teatro, nos canteiros da avenida São Luís, nas vidraças da estação da Luz, na redação do Diário da Cidade, nos casarões sobreviventes da avenida Paulista, por toda a parte. Tempos, pensei, *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


109 tempos melhores. E dei de cara com minha própria imagem refletida entre as racha-duras de um espelho.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 36) “Daí que Francisco de Assis Rodano, reduzido a tição, a cinzas ou a nada, continuou oficialmente vivo, tornando-se assim o único fantasma da história humana com existência comprovada e legal. Não dei muita importância ao nosso primeiro encontro. Andava eu pelos sete ou oito anos quando tomei conhecimento daquele primo distante, que de fato o era, ao menos topograficamente: morava eu no Rio, e ele em Barra do Piraí.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal 37) “Claro! Você me disse que ela não era mais virgem e que você tinha feito papel de otário.. - Eu menti. Ela abortou, depois que eu lhe dei uns tapas, sem qualquer motivo. Eu estava bêbado..ela fugiu de mim e voltou para a casa dos pais.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 38) “Para nossa surpresa, o motorista saiu de debaixo do carro e apanhou por trás do assento um saco de farinha com rapadura. Eu só dei uma das minhas duas latas de leite condensado. Estrela me mandou guardar a outra para mais

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


110 tarde - não se sabia o que ainda vinha pela frente, ela mesma tinha sonegado os biscoitos.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 39) “Suassuna - Como pessoas nos entendíamos muito bem. Tínhamos carinho mútuo e ele, em particular, me dava razão em vários assuntos. Eu vivia dizendo que ele estava equivocado. O maracatu não precisa do apoio do rock. ao contrário, quando ele se apoiava sobre o rock saía contaminado.” Tempo verbal:pretérito imperfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 40 “)A organização tem como membros: industriais, economistas e cientistas, sendo o seu número limitado a 100. Foi criada em 1968, após um encontro na Academia dei Lincei, Roma. Procura levar a cabo novas políticas, bem como tomar posições para solucionar alguns dos problemas mundiais que as organizações e políticas nacionais tradicionais não conseguem resolver.” Tempo verbal:pretérito perfeito Modo verbal:indicativo Codificação:dar modal 41) “A luta tâmil, no final de 1998, viria a dar novos frutos, com a reconquista de cidades importantes no Norte, tais como Mankulam e Kilinochchi.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


111 Codificação:dar discursivo 42) “Saturno leva cerca de 10 horas e 14 minutos a dar uma volta completa em torno do seu eixo, se a medida for tirada na equador; em latitudes mais elevadas leva 10 horas e 40 minutos.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 43) “Sem perceber nada do que se passara, entrou e sentou no banco da frente dando ordem de partida, mas não sem antes dar uma passadinha pela igreja. Duda tinha se embrenhado terra adentro, e nem pra almoçar voltou. Aproveitou o dia pra fazer coisas fora dos seus costumes e pensar.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar aspectual 44) “O testemunho humano está em a base de o projeto editorial de a revista Marie Claire ed. Globo, que você dirigiu por três anos, e de Quarenta. Qual é a importância de o testemunho, para você? Gosto muito de esta coisa de a Marie Claire de dar voz a as pessoas.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 45) “Lamarca é um doido, temperamental, violento e sem cultura, a serviço de terceiros, só sabe dar tiros e venerar líderes estrangeiros, no Ribeira, corríamos risco de vida, enquanto ele desfrutava com suas amantes os dólares *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


112 roubados,

enquanto

isso,

os

líderes

da

tal

revolução

a

veranear

no

exterior..disse para as câmeras.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 46) “A custo conseguiu segurá-lo pela manga quando ele já descia o último degrau do terraço: - Nas atuais circunstâncias seria impossível tirá-la de lá. Mas vou dar uns passos, tenho amizades de influência na política, talvez lhe consiga uma cadeira de professora em Itu mesmo.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 47) “Sob o poder da vara, o barco ia rio acima, a dar folga para a corrente, que nesse como noutros pontos de passagem do Zêzere ê bastante rápida. E na grande massa de água que assim fluia, estonteadoramente, refletiam-se as estrêlas do cêu. - Desembuche duma vez, carago!” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 48)" A água nasce assim, não é mesmo ", pergunta. " Tenho pensado em bailarinos sentados sobre um reservatório, sem se dar conta de que têm algo que toda a humanidade quer e, evidentemente, essa é também uma metáfora sobre a importância da arte nos tempos de agora”. Tempo verbal:presente *Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


113 Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo 49) “Para os professores, esta é a afirmação total de ligação de a comunidade a a escola, referiu Maria Lucília, professora de o 3º e 4º anos de a Escola Monte Estoril. Sobretudo porque os docentes não recebem formação para poderem dar aulas de ginástica a os seus alunos.” Tempo verbal:futuro Modo verbal:indicativo Codificação:dar lexical 50) “É portuguesa, mas iniciou a carreira artística em Espanha como cantora e bailarina. Arriscou em dar a o fado um novo look.” Tempo verbal:presente Modo verbal:indicativo Codificação:dar discursivo. Através

dos

dados

coletados,

observamos

as

diferenças

do

comportamento léxico-gramatical de “dar” apresentado em diversos contextos interacionais, provando assim a multifuncionalidade desse verbo no Português Brasileiro. 

Resumindo a análise de dados tivemos então:

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


114 A GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO “DAR”, NO PORTUGUÊS BRASILEIRO, NOS SÉCULOS XIX E XX.

80% 60%

"dar" lexical

40%

"dar" discursivo

20%

"dar" aspectual

0%

século XIX

século XX

CONCLUSÃO Concluindo o trabalho realizado, constatamos que durante o século XIX e XX a grande maioria das situações analisadas sobre o verbo “dar” se concretizou em apresentar o determinado verbo como lexical, ou seja, quando há transferência de posse. Vimos que uma pequena parte das frases, analisadas durante os determinados séculos, se destinaram a apresentar-se ora como discursivo, ou seja, como expressões fixas, ou ainda como aspectual que se concretiza quando temos o verbo dar ligado ao sintagma nominal. Acreditamos que a pesquisa realizada e apresentada aqui servirá de base para diversas pessoas que sintam a curiosidade de conhecer um pouco mais sobre gramaticalização do verbo “Dar” na Língua Portuguesa, durante os séculos XIX e XX, descobrindo então os diversos valores que o mesmo pode assumir em diversas estruturas frasais.

REFERÊNCIA

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


115 CASTILHO, Ataliba T. de A gramaticalização. Estudos Linguísticos e literários, 19. Salvador: UFBA, mar. 1997, p. 25-64. de Janeiro , UFRJ, Dissertação de Mestrado, 1986. HEINE , B. et alii. From Cognition to Grammar- Evidence from African Languages. IN: E.TRAUGOTT & B. HEINE (eds.). Approaches to Grammaticalization , v.1, Amsterdam / Filadélfia: John Benjamins Publishing Company , 1991 ( 1991a) , pp. 149-187. MARTELLOTA, M.E.T. O presente do indicativo no discurso: implicações semânticas e gramaticais. Rio MOURA NEVES , M.H. M. 1994 Uma visão geral da gramática funcional. ALFA , V. 38 , PP. 109-127. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O aspecto verbal no português: a categoria e sua expressão. Uberlândia – MG: Ed. Da UFU, 1981 (1ª Ed.), 1985 (Ed. Ver.) e 1996 (3ª Ed.).

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.


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