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N.º 212 Fevereiro 2010 Mensal 2,00 €
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Viagens
Bélgica e Holanda, terras e gentes do Mar do Norte
Entrevista Zeinal Bava, Presidente da PT
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Sumário
Na capa Fotografia: Humberto Lopes
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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR
VIAGENS
Bélgica e Holanda Terras e gentes do Mar do Norte Da capital belga até Amesterdão são duas centenas de quilómetros sobre terra plana, atalhando por algumas das mais interessantes paisagens urbanas e naturais de dois países vizinhos do Mar do Norte. É este o périplo de um dos programas de viagem INATEL para a próxima Primavera, por terras da Bélgica e da Holanda
16 EDITORIAL
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CONCURSO DE FOTOGRAFIA
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NOTÍCIAS PAIXÕES
Carlos Medeiros: economista, actor e fotógrafo
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CENTENÁRIO DA REPÚBLICA
As comemorações do centenário da República abrem com a inauguração da exposição «Resistência. Da alternativa republicana à luta contra a ditadura (1891-1974)». As imagens, entre fotografias e gravuras, estão expostas no Centro Português de Fotografia, no Porto, até 5 de Outubro.
OLHO VIVO TEMPO GLOBAL A CASA NA ÁRVORE
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O TEMPO E AS PALAVRAS
INATEL 75 ANOS
Maria Alice Vila Fabião
No ano do 75º aniversário da Fundação, a TL foi tentar saber junto de duas gerações de associados o que os motiva a integrarem esta casa. O desporto ganha aos pontos.
OS CONTOS
CRÓNICA João Alferes Gonçalves
55 74
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Artur Semedo
DO ZAMBUJAL
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Zeinal Bava, Presidente da PT Dialogante, bom comunicador e activo defensor do trabalho em equipa, o líder da PT acredita no crescente sucesso, interno e externo, da empresa, sem menosprezar os vectores social e ambiental, questões centrais do nosso tempo. “É preciso acreditar nas pessoas, promover o talento, estimular quem inova…”, defende Zeinal Bava, em entrevista à TL.
MEMÓRIA
Com as laranjas chinesas, Portugal virou nome de fruta.
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ENTREVISTA
BOA VIDA
36 PORTFÓLIO
Uruguai: Pátria dos Gaúchos CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos, Novos Livros e Cartaz
Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Guiomar Belo Marques, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, Joaquim Durão, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lourdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, José Lattas, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, João Aguiar, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Patrícia Strecht, Telef. 210027156; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Membro da Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 156.697 exemplares
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Editorial
V í t o r Ra m a l h o
Novo cartão, novas vantagens
A
salvaguarda e o reforço da auto-sustentabilidade da nossa Fundação envolvem preocupações que não podem deixar de estar sempre presentes. Estes objectivos determinam opções complexas e, nesta fase, uma via muito estreita de acção face à crise existente. São, porém, um imperativo que se impõe por si. É fundamentado nele que foi estabelecida a estratégia a prosseguir, afectando até ao limite do possível verbas orçamentais significativas para a abertura de novas unidades hoteleiras e para a requalificação dos equipamentos mais degradados, aprofundando e alargando em simultâneo as actividades em todos os domínios, com racionalização da nossa estrutura e dos meios materiais e humanos. Não se pode, em circunstância alguma, seguir outra via senão esta, de rigor, sob pena de corrermos sérios riscos. Este caminho reforça a qualidade, tem os olhos postos nos associados, que são a nossa razão de ser e atende ao interesse dos trabalhadores que permanecerão, para além de transitoriedade do mandato dos administradores, como garantia do futuro. Para esta estratégia é necessário não esquecer o equilíbrio entre as nossas receitas e as nossas despesas. As transformações e as profundas reformas exigíveis já empreendidas e a empreender, não são isentas de dúvidas e interrogações sendo obrigação do conselho de administração dar-lhes respostas. É o caso por exemplo da alteração da quota dos associados individuais fixada para 2010: um aumento anual de 2 euros, ou seja o equivalente a menos de 17 cêntimos por mês. Entretanto, as regalias de que os associados beneficiarão com o novo cartão, cujo modelo é publicitado nesta revista e que será distribuído a partir de Março, compensarão largamente este pequeno aumento, mas, na verdade, insuficiente para responder às despe-
sas estimadas em 2010 em mais de 80 milhões de euros. Daí a inevitável e razoável actualização das tabelas de preços das unidades hoteleiras, dos parques de campismo e do turismo rural, em função da qualidade dos equipamentos. Estas tabelas, estudadas em profundidade, são competitivamente muito vantajosas na dupla relação alojamento/restauração, como não poderia deixar de ser. É importante ter-se presente que os preços das tabelas divulgadas apresentam um desconto de 20% para os associados – o que pode ter passado desapercebido na leitura – e que estes continuarão a ter total prioridade sobre os não associados. O desconto para os associados é ainda mais significativo para os reformados, pensionistas e deficientes com um grau de desvalorização superior a 60%. Qualquer associado que faça as reservas ao balcão das nossas unidades deverá solicitar ser esclarecido sobre os preçários em concreto e eventuais promoções que estejam a ser feitas. Com o objectivo ainda de fazer crescer a família Inatel, foi concebida uma campanha publicitária para angariação de novos associados. Para evitar despesas desnecessárias essa campanha, na componente televisiva e de cartazes, tem o logótipo IN, que as agências, e apenas estas, passarão a ter na fachada a partir da requalificação de que vão ser objecto. Em circunstância alguma a nossa marca, INATEL, que goza de grande notoriedade, credibilidade e confiança deixará de existir. Pelo contrário – terá de ser cada vez mais defendida e divulgada. É a nossa própria identidade, que está em causa e que tem de ser cuidada, como a menina dos nossos olhos. Pela passagem do 75.º aniversário, que este ano comemoramos, os vários eventos que assinalarão a efeméride terão este facto bem presente, como oportunamente se compreenderá com a divulgação do programa. I FEV 2010 |
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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt
Viva a Malta do Liceu A edição de Janeiro da vossa revista faz referência na página 15 ao lançamento de um livro intitulado "Viva a Malta do Liceu", dedicado ao Liceu Salvador Correia de Sá, de Luanda. Estudei na Escola Preparatória D. João I anexa ao liceu e gostaria de adquirir um livro, agradeço que me indiquem como proceder. Fernando Abreu, Zambujal NR: O livro "Viva a Malta do Liceu" poderá ser adquirido nas livrarias. Mais informações sobre a Associação dos antigos alunos do liceu Salvador Correia de Sá em www.salvadorcorreia.org
Ginásio do 1ºMaio Como utilizador do ginásio de musculação existente no complexo de piscinas do Estádio 1º de Maio, em Lisboa, verifico que há longa data o sistema de insuflação e exaustão do ar no ginásio não funciona e cria situações de grande desconforto, podendo mesmo causar problemas de saúde (…). Álvaro Costa, (por e-mail)
NR: A Fundação Inatel já reparou o equipamento e tem feito com regularidade manutenção ao sistema de ar condicionado. No entanto, a situação irá ficar totalmente solucionada após obras de requalificação do Parque de Jogos 1º de Maio a iniciar brevemente, que prevê a construção de raiz de um novo espaço com um SPA, para onde será deslocada essa modalidade.
50 anos na INATEL Completaram, neste primeiro bimestre, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os membros associados: Francisco Manuel Campos, de Vila Nova de Gaia; Alberto Emanuel Rodrigues, de Porto; Alcino Ferreira Campos, de Valongo; Rosária Bernardina Leitão Saiote, de Vendas Novas; Dário Antunes Maurício, de Sintra; Leonel Barata Campos e Jerónimo António Carapinha, de Lisboa; Álvaro Lopes Ribeiro, de Almeirim; José Narciso Jesus Vieira, de Odivelas; Abel João Graça Costa, de Vila Franca de Xira; Rita Batista Camarada, de Sintra; Jorge Manuel Miranda Branco, de Vila Franca de Xira; Maria José Belas Gomes Jacinto, de Amadora.
Coluna do Provedor
Kalidás Barreto provedor@inatel.pt
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O DRAMA das barreiras arquitectónicas para deficientes motores são, de vez em quando, lembradas por esse mundo fora; é bonito e "demonstra" solidariedade. E, todavia a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, afirma "o direito igual de todas as pessoas com deficiência viverem na comunidade, com escolhas iguais às outras pessoas" e que os Estados-membros garantam "o pleno gozo deste direito e a sua total inclusão e participação na comunidade". E a legislação em vigor (Lei nº38/2004, de 18 de Agosto) determina "a promoção de uma sociedade para todos através da eliminação de barreiras e da adopção de medidas que visem a plena participação da pessoa com deficiência". Outros diplomas defendem que "são devidas ao Estado acções cuja finalidade seja garantir e assegurar os direitos das pessoas com necessidades especiais". Vem o tema a propósito de um nosso associado paraplégico que nos manifestou o seu des-
gosto pela falta dessas condições numa das nossas Unidades. Comprovamos esse facto, mas estamos em condições de informar que, apesar das lacunas existentes, não há indiferença, mas sim uma grande vontade de objectivamente ir melhorando as condições dos nossos associados com deficiências motoras, uma vez que a INATEL já tem Unidades devidamente equipadas. Os responsáveis da Fundação não esquecem a especificidade de alguns associados que não podem sentir-se descriminados; é nesse sentido que se está a trabalhar, é essa a justiça que se quer fazer. Assim, o Departamento de Obras informanos que prevê solucionar essas lacunas s até 2011. Aliás, foram recentemente assinados dois protocolos assinados com duas entidades, a Associação Nacional dos Deficientes Sinistrados no Trabalho e a "Miminhos aos Avós", uma rede de empresas que se dedica à prestação de serviços e apoio ao envelhecimento. I
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Fotografia
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XIV Concurso “Tempo Livre”
Fotos premiadas
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[ 1 ] José Pestana, Lisboa Sócio n.º 284337 [ 2 ] Sérgio Guerra, S. João do Estoril Sócio n.º 204212 [ 3 ] José Monica, V.N.de Stº. André Sócio n.º 247128 [2]
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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os membros associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês.
Menções honrosas [ a ] Fernando Ledo, Viana do Castelo Sócio n.º 349141 [ b ] Carolina Conceição, Torres Novas Sócio n.º 479731 [ c ] Fausto Lima, Oeiras Sócio n.º 198088
[a]
4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos beneficiários associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado da Inatel. 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano
[b]
9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites ou um fim de semana para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL». 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, com a validade de um ano, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2010, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso.
[c]
11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Notícias
"Moedas om História"
Inatel investe nos Açores G No processo de análise e requalificação dos equipamentos da Fundação Inatel, o Conselho de Administração (CA) constatou uma profunda degradação nas instalações de Angra do Heroísmo que impossibilitavam o seu normal funcionamento. Foram, por isso, iniciadas obras de adaptação do pavilhão para a criação das condições adequadas ao trabalho dos seus funcionários e colaboradores. No mesmo sentido vão ser projectadas obras para o interior das instalações da Inatel na cidade da Horta e que motivaram, há anos, o aluguer de um espaço provisório para
funcionamento da respectiva delegação. Paralelamente aos trabalhos de requalificação, entendeu o CA avançar com um programa de investimento e dignificação da presença da Fundação na região açoriana, de que são já exemplo as duas excelentes unidades hoteleiras nas ilhas Flores e Graciosa, recentemente inauguradas. Entretanto, e no âmbito de um plano de gestão integrada destes equipamentos, o CA está a envidar esforços para a escolha de um novo Delegado regional em substituição do anterior responsável que deixou o cargo por incompatibilidade de funções.
Parque da Caparica (Errata) Na nota i), referente ao Inatel Parque da Caparica, onde se lê: "U.A/Tenda com duas pessoas e estacionamento privado anual com pagamento (2x600 euros) em Janeiro e Junho" dever-se-á ler: "U.A/Tenda com duas pessoas e estacionamento privado anual com pagamento em (2x800 euros) em Janeiro e Junho."
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G O Banco de Portugal lançou por ocasião das comemorações dos seus 160 anos a obra "Moedas com História", dois volumes com peças numismáticas pertencentes a uma vasta colecção de interesse para o estudo da evolução da moeda, em particular, da que circulou em território português. Do Séc. VII a.C. à actualidade, das barras ou lingotes de ouro e prata ao euro, o bem documentado e ilustrado livro - que pode ser adquirido nos serviços do BP -
contribui para o conhecimento da história monetária dos vários sistemas de comércio e para a análise da evolução do conceito estético reflectido na iconografia de cada peça. Sobre a mesma temática, e a merecer uma visita, está patente ao público, no Museu do Banco de Portugal, na Av. Almirante Reis nº 71 - 2º, em Lisboa, uma interessante mostra da evolução da moeda portuguesa.
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Novos Protocolos G No
passado dia 19 de Janeiro a foram assinados protocolos de cooperação entre a Fundação Inatel representada por Vítor Ramalho, presidente, e José Moreira Marques, vogal do a Administração - com a Associação Mutualista Aduaneira, representada pelo seu presidente Carlos José Almeida da Silva, e com a Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal, representada também pelo seu presidente, Joaquim Pereira Pires. A par da cooperação dos novos CCD's nas vertentes cultural e desportiva da Fundação, os seus associados beneficiarão das tarifas aplicadas aos beneficiários não associados da Inatel, que prevêem um desconto de 10 por cento nos diversos serviços proporcionados pela FI.
Crato acolhe Mundial da Orientação
Imagens da celebração dos protocolos com a Federação dos Sindicatos (em cima) e Associação Mutualista Aduaneira
BTL cresce GA
G Centenas
de atletas estrangeiros, oríundos de vinte países, vão participar, nos dias 20 e 21 do corrente numa prova de Orientação Pedestre, organização do Grupo Desportivo dos Quatro Caminhos, em parceria com a Câmara Municipal do Crato e a Federação Portuguesa de Orientação. Esta IV Edição do Norte Alentejano O'Meeting (NAOM), apadrinhada por figuras nacionais, como o jornalista e escritor Mário Zambujal e a atleta Fernanda Ribeiro, decorrerá na Aldeia da Mata e na Herdade da Lage do Meio - Dia. O evento desportivo de 2010 ganha especial relevo ao ser pontuável para o ranking Mundial, item que coloca o NAOM sob o olhar atento dos adeptos da Orientação a nível planetário.
Inatel esteve presente na BTL Feira Internacional de Turismo de Lisboa, com um sugestivo stand onde sobressaiu o novo logótipo - IN - para as lojas e agências da Fundação. Nesta 22ª edição da BTL surgiram, registe-se, indicações positivas para o ano turístico que agora tem início,
com destaque para o crescente interesse e presença do contingente profissional internacional. A BTL 2010 teve um total de 70.000 visitantes e o contingente internacional superou os 900, um crescimento superior a 50%, face ao ano anterior.
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Notícias
De Março a Maio
Turismo Sénior renovado G No
passado dia 08 de Janeiro foi efectuado, pelo Provedor do Associado, Kalidás Barrreto, na sede da Fundação INATEL, o sorteio da 3ª fase do Turismo Sénior que relacionou cada letra do alfabeto com os dias de inscrição, o que, para comodidade dos participantes, evitará a existência de filas de espera nas agências aderentes. Assim, a partir da data indicada, poderá inscrever-se apenas o participante cujo primeiro nome se inicie pela respectiva letra. O (s) acompanhante (s) deverá (ão) efectuar a inscrição em conjunto com o participante. O participante deverá ser obrigatoriamente o sénior de mais idade que conste no boletim de inscrição que for apresentado.
Contudo, não é assegurada a garantia de lugar, nem a existência de vaga para a viagem pretendida.
Novidades na 3ª fase Para além da novidade de uma terceira fase, a ocorrer de 14 de Março a 30 de Maio, o Programa Turismo Sénior em curso apresenta outras novidades, designadamente as partidas aos Domingos e Viagens e Rotas Temáticas, casos das "Rota dos Casinos - Os Musicais", " Rota dos Teatros", " Rota das Aldeias Históricas" e "Rota da Dança" (idas a discotecas para um pezinho de dança ao som das músicas preferidas e "Noites de Música ao Vivo", na respectiva unidade hoteleira). Também é diferente o modo como
são seleccionados os pontos de partida e de final de cada viagem. No acto de inscrição, deve indicar - se a localidade preferencial de partida e de regresso para a sua viagem. Por outro lado, e sempre que se inscrever nas agências Inatel ou nas agências de viagens, deverá liquidar, de imediato, a totalidade do valor da inscrição, não sendo necessário deslocar-se a dependências bancárias para efectuar quaisquer pagamentos relacionados com a inscrição. Linha de marcação directa: 210 027 084 (apenas a partir do dia 04 de Março). Mais informações nas Agências Inatel e Agências de Viagens aderentes. Inatel Social: T. 210 027 142 | inatelsocial@inatel.pt | www.inatel.pt
"Lenços dos Namorados" G Até
28 de Fevereiro, a "Arte da Terra" (Rua Augusto Rosa, 40, junto à Sé de Lisboa) de 2010, pode ser vista a exposição "Lenços dos Namorados", uma arte tradicional, surgida nos salões senhoriais do século XVII, onde jovens educadas, prendadas, bordavam os seus sentimentos, com talento e rigor para encantar os jovens amados a quem se destinavam. Com os conhecimentos de ponto de cruz - adquiridos durante a infância - a moça em idade casadoira, bordava o seu lenço, com as quadras e as simbologias que brotavam da sua imaginação. Neste trabalho estavam presentes valores que eram caros a jovens em idade de casar, tais como a fidelidade, dedicação, amor e/ou amizade... 12
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Como é sabido, o Minho surge por excelência - como a região de origem dos Lenços dos Namorados, tendo a Aliança Artesanal de Vila Verde, assumido um papel
preponderante na recuperação rigorosa desta arte popular, entidade com a qual a "A Arte da Terra" tem ao longo da ultima década - realizado as maiores exposições do tema.
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Preços 2010 das Unidades Hoteleiras
Vasco Araújo no Museu da Cidade G No
G Como
sucede todos os anos, a Fundação Inatel publicou no início do ano as novas tabelas de preços a praticar nas Unidades Hoteleiras em 2010. Estas novas tabelas resultam da necessidade de adequar a gestão da Fundação Inatel às novas condições legais e financeiras em que passou a inscrever-se a sua acção, acautelando para este sector económico da sua actividade uma rentabilidade que não ponha em causa, mas antes contribua para, os fins sociais que são a principal missão da Fundação – na ocupação dos tempos livres de trabalhadores e reformados, na cultura e no desporto, na inclusão e solidariedade social. Esta política de racionalização e profissionalização da gestão dos estabelecimentos hoteleiros, tem sido acompanhada por um grande esforço – organizativo e financeiro – no sentido de, apesar da gravíssima crise nacional e internacional que vivemos, ampliar e valorizar a qualidade dos serviços ao dispor dos nossos beneficiários. Por outro lado, ao passar a ter um estatuto de Fundação privada de utilidade pública, a INATEL alargou o seu âmbito a todos os trabalhadores, no activo ou reformados, sejam ou não seus associados. Isto obrigou à alteração das tabelas, que passaram a ter um preço de balcão, válido para todos os beneficiários, sobre o qual se aplicam os descontos comerciais e, também, um desconto de 20% para os
beneficiários associados. Assim, em 2010 mantiveram-se praticamente inalterados os preços do alojamento para os associados (com excepção de Linhares da Beira, porque se verificou que os preços aprovados no final de 2009 não permitiam suportar aos custos de exploração desta unidade). A nova realidade estatutária obrigou igualmente à segmentação e à flexibilidade na fixação dos preços, tendo em conta a notória diferença de condições e de qualidade de alojamento dos nossos hotéis, alguns classificáveis com 4 estrelas e outros sem atingir sequer a categoria de 2 estrelas. A exemplo do que se passa em toda a hotelaria, também nas nossas unidades hoteleiras se fazem promoções regulares com baixas de preço e os directores das unidades estão autorizados a praticar preços inferiores aos de tabela, dentro de limites razoáveis e sempre que a ocupação das suas unidades o justifique, sendo que no caso dos fins-de-semana, só serão praticados preços de época alta se a estadia não incluir nenhum dia útil. Finalmente, quanto à situação dos reformados, pensionistas e pessoas com um grau de deficiência igual ou superior a 60%, as tabelas publicadas omitiram, por lapso, as suas condições especiais de utilização, em que se mantém o valor global de desconto praticado em 2009 sobre o preço de balcão. Ou seja: 20%+15% = 35% na época baixa e 20%+10%= 30% na época média.
Museu da Cidade (Campo Grande 245, Lisboa) está patente, até 7 de Março, uma exposição individual do escultor Vasco Araújo. Intitulada Debret, a mostra - um conjunto de 15 esculturas - reflecte uma interpretação da relação social entre brancos e negros, portugueses e africanos, senhores e escravos no Brasil do século XIX. Expostas no Pavilhão Branco do Museu, as 15 peças são o resultado da combinação de quatro elementos distintos mesas, ovos, figuras e citações de Padre António Vieira - e de uma reflexão inspirada na obra do pintor Jean-Baptiste Debret, artista francês do séc. XIX que, a convite do Príncipe Regente D. João VI, integrou a missão francesa para o Brasil. Debret demonstrou a sua paixão pelo imenso território através de pinturas, aguarelas, desenhos e gravuras dando-nos uma visão histórica, política, cultural e social do Brasil dessa época. O trabalho de Vasco Araújo (Lisboa, 1975) está publicado em vários livros e catálogos e representado em várias colecções, públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, casos do Centre Pompidou (Paris), do Museu Colecção Berardo, do Museu de Arte Moderna e Contemporânea da Gulbenkian, da Fundação de Serralves (Portugal) e do Museo Nacional Reina Sofia (Madrid). Horário: Terça a Domingo, das 10h às 13h e 14h às 18h. Encerra à segunda-feira e feriados. FEV 2010 |
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Zeinal Bava
Presidente da PT
“É preciso acreditar nas pessoas…” preciso acreditar nas pessoas, promover o talento, estimular quem inova…”, defende em entrevista à TL o Presidente Executivo da Portugal Telecom. Licenciado em Engenharia Electrónica e Electrotécnica pela University College of London, Zeinal Bava (Moçambique, 1966) iniciou funções na PT, há 11 anos, na área da Multimédia, depois de importantes cargos em empresas internacionais (Merrill Lynch International, Deutsche Morgan Grenfell e Warburg Dillon Read). O dinamismo, talento e capacidade de liderança revelados em momentos difíceis e de crescimento da PT explicam a notável ascensão de Zeinal Bava à presidência de uma das mais importantes e inovadoras empresas nacionais. Dialogante, bom comunicador e activo defensor do trabalho em equipa, o líder da PT acredita no crescente sucesso, interno e externo, da empresa, sem menosprezar os vectores social e ambiental, questões centrais do nosso tempo.
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Portugal, Brasil e África continuam a ser as geografias estratégicas da PT? São esses, de facto, os três mercados de maior foco e onde a PT aposta como prioridades estratégicas. Em Portugal acreditamos que a PT está preparada para continuar a impulsionar uma transformação no sector das telecomunicações através da sua aposta interna na inovação, com os seus parceiros internacionais e investimentos em infra-estruturas ímpares na Europa. O sucesso da aposta estratégica incide em todos os segmentos onde actua – residencial, pessoal, PMEs e Corporativo - englobando as plataformas fixo e móvel. Para o residencial e empresarial, a PT aposta numa solução inovadora de televisão por subscrição, o MEO, que é já um caso de referência a nível europeu. O MEO disponibiliza uma oferta pioneira em Portugal, com funcionalidades como o Videoclube, o Guia TV e a Gravação Digital. Em Setembro de 2009, e apenas 18 meses após lançamento, o MEO ultrapassou os 500 mil clientes que representam uma quota de mercado acima de 20%. Para o segmento pessoal (TMN) e empresarial, a PT identificou a internet no telemóvel como a principal alavanca de crescimento para o negócio móvel, num mercado já com elevadas taxas de penetração. Com uma estratégia inovadora, centrada numa oferta de internet de banda larga com cobertura de elevada qualidade e smartphones, a TMN reforçou a sua liderança do mercado português, que é hoje o terceiro país da União Europeia em penetração de cartões de dados de banda larga móvel. A componente internacional tem um peso muito relevante para a PT pois acreditamos que o nosso crescimento será fortemente suportado pelas geografias de elevado potencial como o Brasil e África. Sobretudo o Brasil… O Brasil é um mercado absolutamente estratégico para nós. Tanto eu como o nosso administrador financeiro passamos uma semana em cada cinco no Brasil. São duas semanas em cinco, demonstrando o investimento significativo que a gestão da PT está a fazer, empenhada em consolidar a transformação profunda que conseguimos realizar na VIVO. Essa transformação foi um desafio exigente. Migrámos para a tecnologia GSM semelhante à existente na Europa. Integrámos as FEV 2010 |
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sete empresas operacionais que detínhamos. Expandimos a nossa presença para o Estado de Minas Gerais e para o de Nordeste, passando a ter cobertura nacional. Mobilizámos, quer nós quer a Telefónica, quadros nossos para fazer um acompanhamento que a VIVO antes não tinha, para a implementação destas várias mudanças. Diversificámos a nossa base de fornecedores. Ou seja, fizemos um trabalho de execução operacional, muito assente nas valências que a PT e a Telefónica levaram para a VIVO. A Vivo é, aliás, líder no mercado brasileiro… É com uma quota de 30% num mercado que já tem mais de 165 milhões de cartões. É um dos nossos activos mais relevantes. Acreditamos que o próximo fenómeno de crescimento será a banda larga móvel pois a infra-estrutura fixa é muito díspar da europeia. No Brasil 90% das ligações à internet têm hoje uma velocidade de 1Mbps, e as demais 10% de 2Mbps. A PT já lançou a banda A PT acredita larga móvel com velocidades de que o acesso aos 3.6 Mbps por segundo e vamos melhores conteúdos continuar a investir para atingir é crítico para velocidades de até 7.2Mbps. a estratégia TV Temos ainda planeado desenvolde qualquer ver os primeiros pilotos de LTE, operador. Long Term Evolution ou seja 4G, este ano com vista a atingir a prazo velocidades de pelo menos 50 Mbps. Cremos, assim, que o Brasil fará o salto no acesso à internet directamente para o móvel. A longo prazo, o mercado de cartões poderá ser muito superior a 200 milhões de cartões SIM. Em África é mais complicado? Relativamente a África, embora as operações sejam 5% das receitas, representam já cerca de 20% do resultado líquido da PT. África é já um continente com uma população de mais de mil milhões de pessoas, por isso olhamos para o crescimento em África como um objectivo estratégico. Tipicamente pensamos na África Subsariana, mas olhamos para onde efectivamente existirem oportunidades de investimento para criarmos valor e onde tivermos alguma afinidade cultural – não tem de ser só linguística, pode ser a forma como vemos o sector, a tecnologia, aquilo que a tecnologia pode fazer para o país e para a qualidade de vida dos seus cidadãos. Na Ásia vive metade da população mundial.
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Não é mercado atractivo para a PT? A PT está presente no continente asiático através da Timor Telecom e da Companhia das Telecomunicações de Macau. O compromisso da PT com esta região é visível num ambicioso plano estratégico para a Timor Telecom que visa elevar Timor, como país, a um novo patamar na sociedade da informação. O nosso plano para a Timor Telecom desenvolve-se sobre três eixos: a melhoria das infra-estruturas existentes, a melhoria contínua dos serviços disponibilizados no mercado e o lançamento de uma nova marca que seja mais próxima das pessoas e um símbolo também para Timor. Mas a China é o grande mercado asiático e mundial… A PT tem abordado a Ásia como um mercado muito atractivo para o estabelecimento de parcerias estratégicas com fornecedores líderes no sector ao nível mundial, nomeadamente na China e na Coreia do Sul. Recentemente, na China, a PT estabeleceu acordos com a Huawei e com a ZTE, duas empresas sediadas em Shenzhen, considerada o Silicon Valley da China. Os parceiros chineses partilharão com a PT as soluções mais avançadas a nível de redes móveis e fixas, bem como equipamentos terminais, mantendo a PT sempre na vanguarda da inovação tecnológica. Na Coreia, a PT estabeleceu acordos com duas das mais conceituadas empresas de electrónica, a Samsung e a LG. Estas parcerias serão críticas para a PT continuar a disponibilizar aos seus clientes os serviços de ponta que a evolução tecnológica irá ditar na televisão. Esteve em Moçambique, há cerca de um ano, numa viagem de saudade e negócios, para apresentar o projecto do portal SAPO Moçambique e o computador portátil Magalhães. O projecto avançou? Ambos os projectos avançaram. Lançámos o Portal SAPO Moçambique que já demonstra forte adesão por parte dos moçambicanos e foram entregues 1.000 computadores Magalhães para dinamizar a Sociedade do Conhecimento. Mas, em Moçambique, a aposta da PT vai muito para além do negócio do SAPO Moçambique e da presença nas Listas Telefónicas de Moçambique. No âmbito de implementação de uma estratégia de aproximação ao meio académico e empresarial, a PT assinou com a Academia de Ciências de Moçambique um acordo de cooperação a nível do
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programa CMU - Carnegie Mellon University, uma das mais prestigiadas Universidades norte-americanas - para apoiar a participação de quadros moçambicanos em acções de formação avançada. Há, ainda, investimentos em Cabo Verde, S. Tomé, Namíbia e Botswana… África assume uma importância vital para a PT. A PT está neste continente há mais de 20 anos: para além de Moçambique, a PT está presente em Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Namíbia e Quénia. A PT tem feito uma aposta significativa na melhoria das infraestruturas dos países onde tem investido e na introdução de produtos inovadores e acessíveis à população. Na Namíbia, por exemplo, tem sido feito um trabalho extraordinário. A MTC lançou a primeira oferta convergente fixo-móvel, semelhante ao OfficeBox que foi lançado em Portugal, tendo como target o segmento empresarial. Inspirado no sucesso do projecto e-Escolas português, a MTC assinou um acordo com o Governo da Namíbia para o lançamento do ConnectED, com o objectivo de massificar o acesso à internet em banda larga por parte dos estudantes. E em Angola, um país que está a desempenhar o papel de player regional? Angola tem um potencial muito significativo. Acreditamos em Angola desde há muito. Temos muitos bons parceiros e já lá estamos há 10 anos através da UNITEL. O desenvolvimento e crescimento de Angola é uma referência no mundo. Desde o final da guerra, por exemplo, segundo valores do Economic Intelligence Unit, Angola registou um crescimento real médio anual do PIB de mais de 16%. São números impressionantes dos quais poucos países no mundo se podem orgulhar. A UNITEL tem assistido a um crescimento e desenvolvimento notáveis. Por exemplo, a nível de subscritores estes cresceram mais de 30% no último ano. Em termos de internet de banda larga móvel, já disponibilizamos uma oferta a 7,2 Mbps. Disse, recentemente, estar muito satisfeito com a relação que a PT tem com as três televisões. Significa isso que a PT desistiu, em definitivo, de ser accionista de qualquer um dos canais privados após a frustrada tentativa na TVI? Temos excelentes parcerias com todas os operadores de televisão, o que nos permite garantir mais e melhores conteúdos para os nossos clien-
tes. Um bom exemplo é o acordo de parceria com a SIC que permitiu lançar recentemente o canal SIC K, com conteúdos para o público infantil adaptado ao nosso mercado e em exclusivo no MEO. Para além da distribuição de canais temáticos da SIC, a parceria estende-se à internet, com as páginas da SIC integradas na rede SAPO. A PT acredita que o acesso aos melhores conteúdos é crítico para a estratégia TV de qualquer operador. Conteúdos como o futebol, conteúdos nacionais como seja a informação e cinema e séries, assumem um papel chave no processo de escolha dos consumidores do seu provedor de serviços de televisão paga. Afirmou também não ter dúvidas, hoje, de que o MEO vai liderar, a médio prazo, a escolha de televisão dos portugueses. Em que baseia tal certeza? A confiança dos nossos mais de 500 mil clientes, traduzida na Temos excelentes quota de mercado acima de 20%, parcerias com todas alcançada em um ano e meio, é os operadores de um estímulo para fazermos mais televisão, o que nos e melhor e não temos dúvidas que permite garantir mais iremos atingir a liderança do mere melhores conteúdos cado e libertar-nos deste coletepara os nossos de-forças que existe hoje no merclientes… cado dos conteúdos. A nossa estratégia passa por atingir uma massa crítica mínima a partir da qual vamos poder ditar a nossa própria agenda na área dos conteúdos. Não será uma meta demasiado ambiciosa? O sucesso já alcançado, e a prosseguir, deve-se a uma oferta pioneira e inovadora lançada no mercado português, no ano de 2008, assente em quatro vectores. Em primeiro lugar, excelência nos conteúdos. Com mais de 120 canais, 9 dos quais em alta definição e mais de 2.000 títulos disponíveis no Videoclube, a PT disponibiliza aos clientes MEO os melhores e mais abrangentes conteúdos do mercado. Em segundo lugar, funcionalidades inovadoras. O MEO introduziu um novo conceito em Portugal, a televisão não-linear, com funcionalidades como a Pausa TV, que permite parar e retomar a emissão em tempo real, e a Gravação Digital, possibilitando a gravação de séries televisivas, tanto a partir do comando da TV como do computador ou telemóvel. O MEO proporciona
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ainda uma experiência personalizada e interactiva, com espaços pessoais, visualização de fotos do computador na televisão, múltiplos jogos e espaços de informação. Em terceiro lugar, uma solução multi-ecrã. A PT apostou numa experiência de televisão similar independente do ecrã, TV ou telemóvel, ou da tecnologia que estamos a utilizar, ADSL, fibra ou satélite IPTV. Hoje podemos utilizar o serviço MEO para ver televisão também no nosso telemóvel. Em quarto lugar, uma comunicação disruptiva. O lançamento do serviço e comunicação de campanhas pelos Gato Fedorento foram realizados de um modo disruptivo e inovador em Portugal. Como resultado deste esforço, as marcas comerciais da PT, MEO e TMN, são as mais recordadas em Portugal em 2009 tendo em conta os dados disponíveis à data. A oferta de TV da PT supera a da concorrência a todos os níveis.. E o investimento na fibra óptica? Os consumidores Pretendemos assegurar a lidecomeçam a rança de mercado a prazo através reconhecer que ter da continuada aposta numa oferfibra mesmo até à ta diferenciadora. Para este fim, o casa vale a pena investimento que está a ser realizado numa infra-estrutura de fibra óptica será chave e vai colocar o nosso país entre os países mais desenvolvidos no mundo. Esta nova tecnologia, que permite levar fibra mesmo até casa dos clientes permitirá oferecer novos serviços com uma qualidade inigualável em outras plataformas. Estamos satisfeitos em verificar que, em zonas onde temos fibra e ADSL, já estamos a vender mais fibra do que ADSL. E os consumidores têm noção dessas vantagens da fibra óptica? Os consumidores começam a reconhecer que ter fibra mesmo até à casa vale a pena porque garante melhor qualidade de serviço, fiabilidade e uma experiência de televisão e internet mais rica. A fibra garante uma largura de banda que vai, por exemplo, dar mais TVs em HD, TV em 3D e internet com velocidades muito acima de 100Mbps. A título de exemplo, o download de um filme de qualidade equivalente a DVD (5GB) leva cerca de uma hora e meia com uma largura de banda standard de 8 Mbps. Com uma ligação a 100 Mbps demora apenas oito minutos, e uma ligação de 1
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Gbps, ao alcance da tecnologia de fibra, permitirá reduzir este tempo para apenas 45 segundos. A PT tem 70 milhões de clientes e quer chegar aos 100 milhões. Que previsão de tempo faz essa meta? Atingir os 100 milhões de clientes é um dos cinco objectivos estratégicos da PT, e que reflectem uma ambiciosa agenda de crescimento para o triénio de 2009 a 2011: atingir 100 milhões de clientes; gerar dois terços das receitas em operações internacionais; liderar em todas as geografias e segmentos; atingir um desempenho de quartil superior a nível operacional, financeiro e de retorno accionista; e, por último, posicionar a PT como uma referência a nível da sustentabilidade. E em Portugal? Em Portugal, atingimos os sete milhões de clientes no segmento pessoal, reforçando a liderança da TMN, e alcançámos meio milhão de clientes MEO e acreditamos que vamos ser também líderes na televisão. Na banda larga fixa, foi ultrapassada a marca dos 800 mil clientes. O maior potencial de crescimento está, porém, no Brasil... O Brasil apresenta, de facto, um grande potencial de crescimento, em particular no que diz respeito a clientes de banda larga móvel e também de crescimento de subscritores de voz móvel. As estimativas indicam um crescimento de 11%/ano até 2011, com a aquisição de mais de 50 milhões de clientes. Assim, o Brasil terá um contributo decisivo para atingir o objectivo de 100 milhões de clientes. A PT está em condições de resistir a qualquer OPA, tal como aconteceu com a tentativa da Sonae? Como já disse anteriormente a OPA foi um toque de despertar para a PT. Alguém via mais valor nos activos da PT do que aquele que estávamos a conseguir comunicar ao mercado e a extrair do negócio. A proposta do nosso Conselho de Administração teve amplo apoio dos nossos accionistas e após a OPA, a PT tornou-se numa empresa mais ambiciosa, mais centrada no cliente e, ainda com mais disciplina no que diz respeito a controlo de custos e nas decisões de onde investir. O mercado tem reconhecido claramente o trabalho da PT e a nossa empresa em 2009 foi a segunda empresa europeia que maior valor criou para os seus accionistas e a primeira da Zona Euro.
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Estamos, assim, mais bem preparados para enfrentar o futuro garantindo criação de valor nos mercados onde operamos e para os nossos accionistas. Ter uma maioria accionista de capital estrangeiro não põe em risco o controlo futuro da PT? A PT é uma empresa cotada e, como tal, está exposta ao mercado de capitais e às leis da procura e da oferta. É também uma empresa de base accionista diversificada com cerca de 35% dos accionistas em Portugal, 25% nos EUA e 40% no resto do Mundo. Os nossos cinco objectivos estratégicos são conhecidos e os nossos accionistas têm-nos apoiado e estão empenhados no nosso projecto. Estamos cotados na Euronext, NYSE e listada nos índices DJ Stoxx e FTSE4Good, índice que inclui empresas mundiais que respeitam critérios de sustentabilidade, e cumprimos por isso as regras mais exigentes de corporate governance. Esteve com o Presidente Lula a quem ofereceu camisolas de Cristiano Ronaldo. O Presidente brasileiro usa o VIVO? Também falaram de futebol? Foi um privilégio ter conhecido o Presidente Lula. Tivemos oportunidade de discutir diversas matérias, e, em particular, tive a possibilidade de expor a nossa visão de como se poderia estimular o crescimento da banda larga móvel e dessa forma democratizar o acesso à internet.
Trabalhou igualmente na banca de investimentos. Trocaria a presidência da PT pela presidência de um dos grandes bancos nacionais? Sinto-me muito privilegiado por poder dar um contributo numa etapa tão entusiasmante da vida da PT quanto esta que estamos a viver. O sector e a nossa empresa estão a viver um período de transformação profunda, da qual a criação de uma cultura interna de mérito, aumento de exposição internacional e a construção de uma rede de fibra óptica para os próximos 100 anos são apenas exemplos. Todos na PT estamos muito entusiasmados e comprometidos com este projecto. Admitiu, em entrevista à RTP, ser um homem poupado e argumentou que “o dinheiro tem que ser bem gasto…”. Que investimentos aconselharia a outros gestores? Acções? Imobiliário? Agricultura?... Portugal é um país que oferece em algumas áreas óptimas oportunidades de investimento. Temos de vencer um problema que é sobretudo de atitude. É preciso acreditar nas pessoas, promover o talento, estimular quem inova e acarinhar quem inovando pode errar, mas não deixa de procurar soluções para fazer diferente e melhor. Temos excelentes profissionais, excelentes cérebros, uma geração de gente nova com muita vontade de mostrar o que vale – há que criar oportunidades e acreditar no país – temos de FEV 2010 |
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apostar na criação de um círculo virtuoso. Só assim poderemos evitar que a nossa massa cinzenta emigre… e infelizmente há muitos casos desses no nosso país. Quanto a investimentos concretos penso que as pessoas devem procurar diversificar, adequar os investimentos às suas possibilidades e consultar os especialistas que estão mais capacitados para ajudar a tomar opções de investimento concretas. Prometeu criar cinco mil postos de trabalho em 2009… A PT em Maio já tinha contribuído com a criação de cerca de 800 novos postos de trabalho e estimamos que no final do ano esse número tenha passado para cerca de 1100 postos de trabalho. Os 5.000 estimados resultam de forma indirecta se incluirmos as indústrias fornecedoras e todos os nossos parceiros envolvidos no projecto de desenvolvimento da rede de fibra óptica. Atingir os 100 A componente social da PT é um milhões de clientes objectivo ínsito à sua visão é um dos cinco empresarial? Em que medida e objectivos porquê? estratégicos da PT A sustentabilidade é um dos propósitos últimos da PT. Podemos categorizar a nossa intervenção em três níveis. A nível económico, a PT tem um papel significativo na economia do país, sendo um dos maiores investidores em território nacional com um investimento de 647 milhões de euros em 2008. Desenvolveu várias iniciativas de mitigação de risco e de gestão da sustentabilidade que permitem assegurar não só a sua sustentabilidade mas também o seu crescimento futuro: mais de 10.000 colaboradores dependem directamente do seu sucesso económico. Os operadores de Telecom têm uma importância na economia que vai para além do seu sector. De acordo com a revista The Economist, um aumento de 10 pontos percentuais (p.p.) na penetração de internet pode originar um aumento de 1,4 p.p. no PIB, ou um aumento de 10 p.p. na penetração do móvel, pode originar um aumento de 0,8 p.p no PIB. E a nível social? A nível social, a influência da PT na sociedade sempre extravasou largamente a esfera das tele-
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comunicações. A Fundação PT tem sido um veículo privilegiado na promoção de actividades com impacto global na sociedade e tem uma actividade centrada em três áreas: combate à infoexclusão, na educação e na saúde. Por exemplo desenvolvemos o serviço BabyCare para a Maternidade Alfredo da Costa e para a Maternidade Júlio Dinis, no Porto, que permite aos pais de bebés prematuros acompanha-los remotamente via Internet (mais de 300 por ano). Outro exemplo vivo da nossa actuação são os 400 sistemas de TeleAula criados pela PT Inovação que possibilitam a alunos em regime domiciliário ou hospitalar prosseguir com os seus estudos. A questão ambiental está na ordem do dia… A nível ambiental actuamos de forma directa visando reduzir o impacto da nossa actividade e indirecta catalisando aumentos de produtividade e soluções de virtualização nos restantes sectores da economia. O impacto directo da PT incide em torno de quatro eixos: redução do consumo de energia e promoção de utilização de energias renováveis, gestão de resíduos e emissões atmosféricas de gases de efeito de estufa, redução do impacto visual, sonoro e de campos electromagnéticos das antenas e por último redução de consumo de recursos. Criou bibliotecas e promoveu o ensino de inglês na PT. Os trabalhadores têm aderido? A adesão a estas duas iniciativas espelha o seu sucesso. As “Bibliotecas PT” disponibilizam livros, filmes e jogos gratuitamente aos colaboradores, que podem ser distribuídos via correio interno. Em 2009 foram requisitados mais de 11.000 exemplares e a biblioteca tem cerca de 4.000 títulos disponíveis. O programa “PT Junior in England” tem por objectivo investir no desenvolvimento sócio-educativo dos filhos dos colaboradores pela realização de cursos de verão em Inglaterra. Durante a estadia, os jovens frequentam um curso intensivo de inglês, diversas actividades desportivas, recreativas e culturais. Neste programa, em 2009, contámos com a participação de mais de 70 filhos de colaboradores. A aposta na formação dos nossos colaboradores e dos jovens é o garante do sucesso futuro da nossa empresa e do nosso país.I Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)
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Exposição no CPF, no Porto
A República em imagens As comemorações do centenário da República abrem com a inauguração da exposição «Resistência. Da alternativa republicana à luta contra a ditadura (1891-1974)». As imagens, entre fotografias e gravuras, estão expostas no Centro Português de Fotografia, no Porto, até 5 de Outubro. ESTA É UMA das duas grandes exposições a realizar no âmbito das comemorações (a outra terá lugar em Lisboa na Cordoaria, comissariada pelo Prof. Luís Farinha) e é a que abrange um espaço de tempo maior, reunindo, igualmente, o acervo mais significativo. As mais de três centenas de imagens – foi feita uma opção por reproduções em vez de originais - incluem um valioso património fotográfico, além de um lote de gravuras, constituindo todo este acervo um
expressivo testemunho de momentos importantes da história da República. A este material junta-se, ainda, a reprodução de um conjunto de documentos, com o propósito de oferecer uma ampla contextualização do tema. O espaço de tempo abrangido pela exposição vai de 1890, o ano do Ultimato inglês, até ao dia 25 de Abril de 1974, e a temática “centra-se nos ideais republicanos, no caminho até à República, de 1890 ao 5 de Outubro de 1910, depois nas FEV 2010 |
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Nas duas fotos desta página, imagens do Cinco de Outubro Aurélio Paz dos Reis Centro Português de Fotografia
reformas da República, na primeira República, depois no golpe militar do 16 de Maio, e a partir daí a atenção é posta, sobretudo, na resistência à ditadura, até à reposição da ordem democrática em 1974”. A síntese é de Teresa Siza, responsável pela selecção de imagens, que partilha com Miguel Loff, autor do guião científico, o comissariado desta iniciativa, cuja concepção gráfica tem assinatura de Andrew Howard. A exposição «Resistência. Da alternativa republicana à luta contra a ditadura (1891-1974)» permanecerá aberta ao público até ao próximo dia 5 de Outubro no histórico edifício da antiga Cadeia da Relação, actualmente sede do Centro Português de Fotografia.
Nomes fundamentais da fotografia portuguesa As imagens que podemos ver na exposição têm uma proveniência muito diversificada e dão uma ideia da importância documental e estética destes testemunhos da vida política portuguesa durante o último século. A iniciativa tem para Teresa Siza um interesse adicional, que é o de “mostrar que há um património de imagens muito rico, que está disponível”. São imagens disponibilizadas por vários arquivos públicos, como a Direcção-Geral de Arquivos (a Torre do Tombo), o Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa, a Fundação Mário Soares, a Biblioteca Nacional, a Hemeroteca de Lisboa, a Assembleia da 24
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República, o Arquivo Histórico Militar de Lisboa e vários coleccionadores particulares. Teresa Siza destaca “as imagens dos presos do 31 de Janeiro e as imagens do Reviralho, cedidas pelo engenheiro Mário Marques, as imagens da colecção do Dr. Artur Santos Silva, sobretudo do período da campanha de Humberto Delgado, e as imagens cedidas pelo Dr. Ribeiro dos Santos, referentes ao período do MUD, que se seguiu imediatamente ao fim da guerra de 39-45, e à campanha do General Norton de Matos”. Entre os documentos seleccionados para funcionarem como suporte de contextualização encontram-se “documentos de campanhas da resistência, os primeiríssimos da CGT, alguns documentos da PIDE, da Monarquia do Norte, documentos do PCP, documentação do Tarrafal, documentos que são, na sua maior parte, desconhecidos”. O conteúdo de toda esta documentação é fundamental para o exercício e leitura das imagens, como propõe a Directora do Centro Português de Fotografia: “As fotografias por si só não contam histórias. Nunca acreditei naquela ideia de que uma imagem vale por mil palavras. As imagens servem para apoiar as histórias e para facultar a essas histórias uma entrada que é mais emocional e que fica marcada por esses ícones que todos nós conhecemos. Acredito que uma boa fotografia atrai-nos mais para dentro da história do que uma má imagem”. Nessa linha se definiu um dos critérios de
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selecção das imagens da exposição, não se tendo procurado “apenas imagens ilustrativas, mas sobretudo imagens boas”. Esta escolha de imagens tem, consequentemente, uma outra característica, que alarga ainda mais o interesse da exposição, já que alguns dos nomes de referência da fotografia portuguesa do último século estão ali representados: Joshua Benoliel, Aurélio Paz dos Reis, Domingos Alvão, Anselmo Franco ou Ferreira da Cunha. “Muitos dos grande autores, fotojornalistas e documentalistas da fotografia portuguesa centraram a sua atenção nestes acontecimentos”, lembra Teresa Siza.
Portugal nas guerras Ao período que antecedeu a implantação da República foi dada também uma atenção particular pelo lugar que alguns acontecimentos tiveram para o desfecho do 5 de Outubro: há imagens e documentos de contextualização que evocam a reacção ao Ultimato, o clima de reivindicação social, todo um “mal-estar que foi rentabilizado pelo Partido Republicano”. Quando não há imagens referentes a um determinado período ou acontecimento, são as gravuras que assumem a função evocativa e documental, como acontece com o episódio do 31 de Janeiro. Apenas existem imagens da prisão dos revoltosos, que depois foram transportados para Leixões, para bordo dos navios «Índia» e «Moçambique». “Curiosamente, é mais difícil encontrar imagens da resistência nos tempos
mais próximos do 25 de Abril. Há acções de resistência que foram importantíssimas, acções que pelo seu carácter não foram fotografadas como, por exemplo, o assalto da Figueira da Foz ou desvio do avião da TAP”. Mas a exposição conta com imagens de um outro acontecimento do mesmo género, o do desvio do navio Santa Maria, imagens que vieram do arquivo da PIDE e da Torre do Tombo. A questão colonial está bastante presente ao longo da exposição, a começar logo na segunda década do século XX, à época da Grande Guerra. Nessa altura, “o temor que se tinha das eventuais investidas alemãs nas colónias fez com que Portugal entrasse na guerra antes, mandando contingentes para África, muito antes de mandar tropas para a Flandres”. Seria esse o prelúdio de uma ocupação militar que teria contornos mais trágicos algumas décadas depois, já em pleno Estado Novo. Desse tempo, há imagens de uma trincheira em África, imagens pouco divulgadas, assim como do embarque de tropas e da presença militar portuguesa em Moçambique. A exposição integra ainda módulos com imagem em movimento, com a cooperação do arquivo da Cinemateca Nacional. Nessas imagens se pode ver, por exemplo, um registo da visita de Sidónio Pais ao Porto a imagens da viagem de Bernardino Machado à Flandres, em visita ao corpo expedicionário português. I Humberto Lopes
À esquerda, Músicos e sargentos de «Infanteria 10» e, à direita, discurso de Felizardo Lima a bordo do navio «Moçambique» Photographia Universal Colecção Mário Marques
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Bélgica e Holanda Terras e gentes do Mar do Norte Da capital belga até Amesterdão são duas centenas de quilómetros sobre terra plana, atalhando por algumas das mais interessantes paisagens urbanas e naturais de dois países vizinhos do Mar do Norte. É este o périplo de um dos programas de viagem INATEL para a próxima Primavera, por terras da Bélgica e da Holanda.
Atomium em Bruxelas. Na página de direita, em cima, pormenor de Amesterdão e, em baixo, bordadeira em Bruges
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O PONTO DE PARTIDA é a primeira cidade europeia – em termos políticos, face à sua condição de sede de algumas das mais importantes instituições políticas da EU. Mas Bruxelas é bastante mais do que fica a dever a essa circunstância: é um autêntico caleidoscópio cultural que ultrapassa o mosaico do velho continente, integrando mesmo na fatia de população de origem estrangeira (um quarto do total) gente proveniente
de quase todo o planeta. Se os portugueses, por exemplo, estão bem representados (na zona do Chaussé d’Ixelles há mercearias, cafés e residentes de origem e fala lusitana), outras nacionalidades e culturas há que têm pés bem firmes na capital belga. O Norte de África plantou bandeiras lá para as bandas de Saint-Josse e Schaerbeek, mas também do Midi e de Marolles, não muito longe da Grand Place. Do continente africano há outras presenças e expressões e não apenas em termos populacionais. Vale a pena anotar o valioso acervo do museu de arte africana de Tervuren. Mas quanto à diversidade de gentes, não fica grande dúvida: há muito tempo que a orla do Mar do Norte deixou de ser domicílio exclusivo de vikings ou aparentados. Nestes passeios flamengos, a Grand Place, ágora central da capital belga, classificada pela UNESCO como Património Mundial, é um dos pontos fortes da agenda. Outros, de particular relevo, são a Catedral de St. Michel e o Atomium, estrutura futurista erguida por ocasião da Exposição Universal de 1958. O templo tem raiz no século XI e obteve o seu perfil gótico nas obras renovação realizadas no século XIII. Os vitrais
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No sentido dos ponteiros do relógio: Amesterdão (Estação Central), Bruges, jardim em Keukenhof e Antuérpia
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merecem uma atenção especial – os de Bernard van Orley, artista belga do século XVI, são os mais interessantes. Quanto ao Atomium, uma estrutura com cerca de cem metros de altura, foi obra do engenheiro André Waterkeyn e dos arquitectos André e Jean Polak, pretendendo-se representar, então, a confiança no progresso tecnológico e a vontade de construir um universo de relações harmoniosas e pacíficas entre todas as nações.
Campanários como montanhas O segundo dia é preenchido, ainda, com andanças pelo “plat pays” de Brel. Duas cidades emblemáticas da cultura e da história flamengas – Bruges e Anvers (ou Brugge e Antwerpen, na matriz linguística flamenga) – aproximam-nos do Mar do Norte e da fronteira holandesa. Da primeira, registe-se como nota primordial a impressiva matriz medieval de Bruges – identificável no urbanismo e na arquitectura gótica omnipresente no casario que rodeia os canais da cidade, turisticamente percorridos por lanchas a abarrotar de visitantes. Esta “Veneza do Norte” nasceu do esplendor económico dos séculos XIII e XIV e conserva desses tempos eloquentes testemunhos, como o do Grote Markt, a grande praça
central, com a sua torre com oitenta e três metros de altura. Se Bruges é uma jóia patrimonial e turística, Antuérpia, que conserva também bela arquitectura flamenga e gótica no espaço do Grote Markt, nas ruas periféricas e na catedral, é ainda hoje um dos grandes portos da Europa e um pólo importante da economia belga. Centro de importância mundial da indústria de lapidação de diamantes, Antuérpia contribui com quase dez por cento do PIB da Bélgica. Mas a segunda cidade do país é também a pátria de Rubens e de Van Dick – artistas bem representados nos museus. Brel cantou as catedrais belgas como “uniques montagnes” de um país plano: o campanário da catedral de Antuérpia faz justiça à ideia, com os seus (mais de) 120 metros de altura. O templo conserva também algumas obras essenciais assinadas por Rubens.
Edifício da Bolsa de Bruxelas e, na página da esquerda, em baixo, moinho em Kinderdjik
Moinhos, pólders e arquitectura moderna Kinderdjik passa por ser o lugar que, em todo o mundo, reúne o maior número de moinhos e em melhor estado de conservação. Pela sua importância e significado para a conservação da região (servem para controlar o nível de água dos canais), esta FEV 2010 |
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Pormenor de Haia e, na página da direita, Roterdão
rede de moinhos holandeses foi classificada pela UNESCO, em 1997, como Património Mundial. Os mais antigos destes moinhos “de drenagem” foram construídos em 1738, num local habitado, pelo menos, desde o século X e hoje ocupados por pólders. Estão todos operacionais e alguns deles abertos ao público, podendo os visitantes observar o seu funcionamento, assim como alguns dos espaços habitacionais dos seus antigos inquilinos, gente de vida equilibrada entre terra e água. A caminho de Haia, a paragem seguinte é Roterdão, cidade portuária que mantém um lugar cimeiro entre as suas congéneres europeias e que foi até 2004 o porto mais movimentado do mundo. No delta formado pelo Reno e pelo Mosela estende-se uma vasta área industrial, da qual se pode ter uma vista geral do topo da torre Euromast, um moderno miradouro com mais de 180 metros de altura.
A cidade foi violentamente bombardeada em 1940 pela aviação nazi e ficou bastante destruída. A sua gente reergueu-a das cinzas, embora apenas tenham restado alguns quarteirões com edifícios antigos. Roterdão tem sido nas últimas décadas um laboratório de arquitectura moderna e essa é hoje uma das imagens de marca da cidade de Erasmo. O Berlage Institut e o Netherlands Architecture Institute, escolas e laboratórios de arquitectura, têm sido protagonistas dessa história, que legou à paisagem urbana várias torres com mais de cem metros de altura, como a Torre Montevideu. Haia, a capital politica da Holanda, fica à distância de uma pequena viagem, no caminho para Amesterdão. Além de acolher o Governo holandês, Haia é, ainda, a sede de várias instituições da ONU, o que faz da cidade a capital jurídica da organização internacional. A tradição de acolhimento de instituições judiciais vem do século XIX, quando, ali foi organizada, em 1899, a primeira conferência mundial de paz. Foi sede da Liga das Nações e nela funcionam actualmente vários tribunais internacionais. Dezenas de organizações internacionais têm em Haia o seu quartel-general como, por exemplo, o Eurojust. Antes da jornada para Amesterdão, um breve salto ao litoral: Shevennigen, à beira de Haia, é uma estância balnear com ares de início de século – passado. A imagem paradigmática é ali a cúpula do Kurhaus, uma espécie de coroa do extenso areal. O edifício, concebido como sala de concertos e hotel, foi construído em 1885. No final dos anos 60 do século passado parecia condenado à ruína, sendo salvo pela classificação como edifício de valor histórico. É hoje hotel e casino.
Adeus ao Mar do Norte Mais ainda do que Bruxelas, Amesterdão é uma paleta multicultural. A cidade acolhe inúmeras minorias étnicas, um universo em que as populações das antigas colónias holandesas, sobretudo da Indonésia e das Antilhas, figuram com destaque. Há em Amesterdão uma infinidade de seduções, susceptíveis de cativar díspares sensibilidades, dos mercados de flores – o Bloemenmarkt, no canal Singel, será talvez o mais emblemático – ao Museu dos Trópicos e ao Museu Van Gogh, com o seu incomparável acervo de obras do pintor holandês. A (suposta) casa de Anne 30
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Frank, na Prinsegracht, os “cafés castanhos” (tingidos pelo fumo de tabaco de décadas), as coffee shops, a navegação pelos canais, o frenesi da Estação Central, o ambiente festivo e fervilhante da Damstraat, são outras montras da identidade e do quotidiano da gente local, a confirmar que sem pessoas os lugares são pouco mais do que nada. A propósito, a feira da ladra de Waterlooplein significa também uma porta de entrada na intimidade da vida urbana de Amesterdão. Aí se pode encontrar, entre colorida animação, quase tudo à venda: roupas, velharias, livros ou bicicletas em segunda mão. A partir de Amesterdão, há vários itinerários possíveis, a começar pela região do Zaan, ao alcance de uma breve viagem de comboio suburbano. A aldeia de Zaanse Schans é uma pérola de conservação arquitectónica e símbolo de um certo universo rural holandês. Um pouco mais distantes, mas ainda facilmente integráveis no roteiro de um dia, estão as atracções programadas para o último dia de viagem: o espantoso mercado de flores de Aalsmeer, tido como o maior do género em todo o mundo – vinte milhões de flores mudam de mãos todos os
dias - e o parque de Keukenhof, que detém também um recorde, o de maior jardim do planeta. Abril e Maio são os meses ideais para observar o esplendor das carismáticas tulipas. O adeus à Holanda ensaia-se à beira-mar, em Volendam. A velha aldeia de pescadores é um relicário de casinhas típicas e ruelas tomadas pelo comércio e actividades turísticas, mas cultiva, como outras povoações holandesas do género, um certo não-sei-quê de recato – ou de autoestima - que a protege de um turismo sem rei nem roque. I Humberto Lopes (texto e fotos)
Viagens INATEL Bélgica & Holanda é um dos destinos que - sob o lema “A Descoberta da Europa Cultural”- a Inatel Turismo programou para a primeira semana de Maio próximo, com partidas de Lisboa no dia 4 e regresso a 9. O preço por pessoa, em quarto duplo, é de 1.457 euros, incluindo passagem aérea Lisboa-Bruxelas /Amesterdão, taxas de aeroporto, acompanhamento de guia, cinco noites de alojamento, transporte em autocarro de turismo, refeições e guias locais em Amesterdão, Bruges, Antuérpia, Haia e Bruxelas.
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Amigos para sempre Numa altura em que a Fundação Inatel celebra 75 anos de vida, fomos tentar saber junto de duas gerações de associados o que os motiva a integrarem esta casa. O desporto ganha aos pontos. 32
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TINHA 18 ANOS quando foi inscrever-se na altura à FNAT, a então Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho. O emprego na Seguradora Fidelidade proporcionava-lhe jogar basquete, um desporto em que revela nunca ter sido “um grande artista”, mas para que pudesse participar nas competições teria de se fazer sócio da FNAT. Assim foi. “Sou o 49!”. Já lá vão 68 anos. E o que leva alguém a manter-se associado tantos anos? Raul Martins, não hesita: “Nunca desisti nem desistirei porque a Inatel para mim era e é uma coisa muito boa, eles é que quase me empurraram para o desporto”. E sempre que eram organizadas actividades no Estádio 1º de Maio, os amigos não necessitavam de o chamar duas vezes “lá estava logo nesse dia”, diz sorridente. Quando trabalhava na Seguradora Fidelidade chegou a ir algumas vezes almoçar ao refeitório da FNAT, já sedeada na Calçada de Santana. De desporto, ainda frequentou as aulas de ginástica durante uns tempos. “Agora o desporto que mais pratico na Inatel são as férias” afirma por entre risos. Mas não se pense que o faz só depois de ter deixado a vida activa. “Eu sou casado há 63 anos e comecei a ir de férias logo nos primeiros anos de casado”. O casal Raul e Luísa não abdicam do termalismo. Quando a vida profissional de Raul era mais agitada, a esposa chegou a fazer num ano as duas temporadas de férias Inatel. A agilidade com que ainda hoje, já octogenária, continua a desempenhar as tarefas domésticas, confessa Luísa, “Devo-a aos tratamentos termais na Inatel, no Centro de S. Pedro do Sul e agora mais recentemente também no de Vila da Feira”. E desfia um rol de cuidados terapêuticos recebidos. Na vida profissional, Raul Martins esteve 42 anos ligado à Ford Lusitana, e chegou a acompanhar o grupo desportivo do pessoal da empresa (CCD) nas competições da Inatel. Mas à medida que ia escalando o sucesso profissional, foi-se estreitando o tempo dedicado ao lazer. E depois, pelo meio, meteu-se “a bola”, como chama à actividade de árbitro que exerceu em paralelo com já intensa vida laboral. “Nessa altura a FNAT ficou um pouco para trás”. Começou aos 18 anos a arbitrar jogos dos juniores mas em breve chegaria ao topo da carreira, à primeira divisão e a árbitro de futebol internacional. Um certo dia, o então director da Ford Lusitana disse que lhe queria atribuir um novo lugar mas foi bem claro: “Não
to posso dar porque passas as semanas a passear na Europa”. E a carreira fulgurante na arbitragem foi interrompida logo nesse dia e sem hesitar. Tinha pouco mais de 40 anos de idade. “Ali é que me pagam. Ali é que me interessa”, respondeu aos colegas árbitros que o tentavam demover da ideia. “Eu fazia um Benfica-Sporting e recebia 500 escudos (2,5 Euros) e ainda descontava 10% para o Fundo de Arbitragem, acabava por ganhar 450 (2,25 Euros)”. Quando informa a empresa do abandono definitivo do apito e do fato preto, “Deram-me um aumento de 5 contos e quinhentos por mês (27,5 Euros)”, o que era uma pequena fortuna para a época, já que os ordenados rondavam os 1.500 a 2.000 escudos (7,5 a 10 Euros). A reforma chegou naturalmente aos 65 anos e na empresa houve festa de homenagem com direito a fogo de artifício e tudo. Na altura disse: “Agora não faço mais nada!” Para logo de seguida corrigir: “Faço apenas uma coisa, mas é de graça: faço o IRS às pessoas amigas e conhecidas”. E vive tranquilamente no concelho da Amadora, por entre os pré-
Raul Martins começou aos 18 anos a arbitrar jogos dos juniores mas em breve chegaria ao topo da carreira, à primeira divisão e a árbitro de futebol internacional
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Os irmãos Vasco e Matilde Conceição, de 19 e 17 anos, associados há um ano, estes lisboetas praticam natação no Estádio 1º de Maio
mios profissionais e as fotografias a actuar como árbitro nos relvados de Portugal e da Europa. Uma aventura desportiva que começou na FNAT, como gosta de sublinhar. “A Inatel foi e é sagrada porque para além de gostar muito de tudo o que promove, arranjei lá muitos amigos também”.
A voz aos novos A prática desportiva sempre foi estimulada na família, ou não fossem os irmãos Vasco e Matilde Conceição, de 19 e 17 anos, filhos de um nadador federado. Associados há um ano, estes lisboetas frequentam o Estádio 1º de Maio, onde praticam natação. “Escolhemos a Inatel por dois motivos simples: fica próximo da nossa casa e permitenos praticar um desporto muito completo”, revela Matilde. Vasco sublinha ainda que o facto de a irmã estar a terminar o secundário e de ele já estar na faculdade leva-os a estarem muito focados nos estudos e com o tempo dedicado ao desporto a ter de se adaptar a épocas de exames nacionais e de frequências. A natação em regime livre é a solução perfeita, concordam. Mas a ligação a esta instituição não é de agora. “O meu pai é sócio desde sempre”, afirma Vasco. E eles, em criança, deram as primeiras braçadas nas piscinas que hoje frequentam. “O Colégio Inglês tinha protocolo com a Inatel e nós íamos com os nossos colegas para a natação no Estádio 34
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1º de Maio, na altura eu tinha uns 6 anos e a minha irmã 4, e adorávamos”. A prática deste desporto revelou-se ainda benéfico para Matilde ao nível da saúde, já que na altura sofria de asma – e veio a sentir melhoras. À medida que foram crescendo ela foi preferindo a ginástica e treinava horas consecutivas. Já ele não dispensava o futebol e o rugby. O professor de natação bem que os tentou seduzir para a competição mas nenhum quis seguir as braçadas do pai. Vasco revela mesmo preferir os desportos de equipa, “Era incapaz de competir num desporto tão individualista como a natação”. E ambos, chegados aos 14-15 anos, abandonaram os mergulhos, “por incompatibilidade de horários”, revela Matilde. Agora estão de tal modo entusiasmados com a natação em regime livre que “Conseguimos convencer uma amiga a tornar-se sócia da Inatel e a acompanhar-nos”. Recomendaram a instituição, diz Vasco, por “Praticar preços acessíveis e favorecer a prática do desporto, o que é fundamental para o organismo e para o crescimento de uma pessoa tanto a nível social como do seu próprio bem-estar”. Enquanto puder e os horários o permitirem, a solo ou na companhia da irmã, este estudante da Faculdade de Economia de Lisboa vai continuar a praticar desporto na Inatel. I Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)
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Uruguai Pátria dos Gaúchos HABITAM o Uruguai três milhões e 300 mil criaturas, captando a metrópole Montevideu três quartos dessa gente. A par com Cuba é o país com o maior nível de literacia e com o melhor sistema de saúde da América Latina. Esta pátria de gaúchos, terra natal de Carlos Gardel e de Mário Benedetti, ocupa o terceiro lugar no ranking do índice mundial de sustentabilidade ambiental. Numa região com alguns dos maiores lençóis freáticos do mundo abundam fazendas e estâncias de águas termais. O
litoral disponibiliza praias para todos os gostos. Com ondas ou sem elas, de areia grossa ou areia fina, marítimas ou fluviais, todas com interessante biodiversidade – tartarugas, lobos-marinhos e a baleia branca austral. Mas é em Colónia de Sacramento, cidade fundada pelos portugueses em 1680, que reside o principal encanto. Os uruguaios consideram-na a sua jóia da coroa, o único património do país classificado pela Unesco. I Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)
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Carlos Medeiros Marcas artísticas Debaixo de uma pérgola, à sombra de frondosas árvores com os troncos revestidos de hera, Carlos Medeiros confessa que o “atrevimento” tem sido o motor da sua vida. Há as escolhas, sem dúvida. Interferem nos rumos, nos trajectos, no que for. Entre outras coisas é actor. Gosta de estar no palco, dos projectores e dos aplausos do público. Mas abraçou a fotografia com paixão. FILHO ÚNICO, nasceu nos Açores em 1945. A
No filme ‘Porto Santo’ e, ao lado, em ‘Concerto para Omenov e nitroglicerina’
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partir dos 16 anos veio estudar para Lisboa onde “os horizontes eram mais vastos”. Os pais, típica família da classe média, sonhavam com o regresso dele às origens, seguindo-se o trivial. Casamento e netos que, embevecidos, “levariam a passear nos jardins”. Não aconteceu nada disso. É solteiro e isso não trouxe mal ao mundo. Licenciado em Economia, depois de cumprir o serviço militar em Moçambique, empregou-se
nos CTTs. Hoje está reformado. Curiosamente foi o violino que lhe abriu as portas do teatro. Em 1975, fervilhavam as urgências revolucionárias, quando entrou no espectáculo infantil Bão que João Mota encenou na Comuna. “Limitava-me a tocar violino, um instrumento que domino desde criança. Entretanto deu-se uma cisão no grupo. Acompanhei a Manuela de Freitas e o José Mário Branco que fundaram o Teatro do Mundo. Aí participei no Terramoto no Chile de Heinrich von Kleist e noutras peças já com direito à palavra”, sublinha. Em abono da verdade nunca levou os estudos do violino muito a peito. “Para avançar tinha de me dedicar por inteiro, acabei por desistir”. Actualmente, tornou-se um objecto decorativo. Com as cordas partidas e o arco apodrecido, repousa pendurado numa das paredes da sala. Depois, surge-lhe de rompante o cinema. José Mário Grilo, viu-o no palco do Teatro Dona Maria e achou que correspondia a um dos personagens de “O Processo do Rei”, ainda em fase de preparação. Agarrou a oportunidade. “Desempenhei o papel de Conde de Castelo Melhor”, relata. Repete a experiência com o mesmo realizador, desta vez em Os Olhos da Ásia. “Tornei-me mais
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ou menos conhecido nos meios e o Vicente Jorge Silva convida-me para entrar no Porto Santo, uma fita com um argumento interessante mas que não foi apreciada pelos críticos, se calhar injustamente. Em 2005, fiz de pai da protagonista no filme Viúva Rica Solteira Não Fica do Fonseca e Costa. A minha carreira nas artes cinematográficas resume-se a estes quatro filmes”, conclui. Com o teatro existe uma relação mais consistente e cimentada. É colaborador desde há uns anos da companhia Fatias de Cá que se encontra radicada em Tomar. Já tinha trabalhado com o Carlos Carvalheiro, o director do grupo, e a certa altura viu-se dentro da peça Tamara de Lempicka do canadiano John Krizanc que conta a história de dez personagens que vivem em casa de Gabriele D `Annunzio, o poeta e dramaturgo italiano que foi um dos ideólogos do fascismo. “Aos fins-de-semana lá vou ter com eles, é uma grande
família”. No plano internacional avulta a experiência no Teatro Nacional de Toulouse. Onze sessões, durante seis meses, para um público francês. Em cena uma peça baseada na novela Sefarad de Antonio Muñoz Molina. “Ao lado de actores franceses a falar uma língua que não era a minha”, salienta. Atrevimento ou ousadia revela-se nos seus projectos fotográficos. Começou de máquina na mão a registar não os tais “instantes decisivos” mas o que o olhar lhe pedia. “Fotografava sem qualquer critério. Sempre desejei ser pintor. Na fotografia o quadro está feito, só falta disparar, mas não pode ser a torto e a direito”, explica. Ultimamente, antes de disparar a sua Canon analógica, faz uma espécie de guião. Cria um conceito. Como é que se fotografa a ideia de ausência e de perda? “De repente, lembrei-me das Cartas da Soror Mariana e pensei numa encenação com a Fernanda Neves a representar a freira. No dia em que íamos iniciar a
“Vivemos num beco sem saída, as soluções têm de ser globais...” “Prefiro a Foz do Arelho ao Dubai que é o artificialismo total…”
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Uma das suas fotografias que integram a série “Cartas Portuguesas”
sessão a máquina caíu ao chão e partiu-se. O arranjo demorou uns meses e, entretanto, decidi concentrar-me só na memória e no olhar, no que a freira vê e recorda. Então, montei em minha casa uma cela com uma estética que remetia para a pintura do século XVII. Do Caravaggio, do Vermeer e até da Josefa de Óbidos”. Costuma optar pelo preto e branco, desta vez utilizou a cor. “Com o apoio da Secretaria Regional dos Açores apresentou o trabalho na Galeria de Artes de Ponta Delgada. Foi um evento que meteu leitura encenada das Cartas, a cargo de quatro actores, e música operática de Cecilia Bartolli. “O espaço cénico abrangia toda a galeria, que funciona numa antiga igreja desactivada, e o público ocupava o altar-mor. Reunimos ali mais de 100 pessoas”. Carlos Medeiros não se contentou em disparar à queima-roupa, antes se perfila como um ficcionista das imagens. Atraem-no os interiores, os espaços vazios e melancólicos onde se impõe a arquitectura num jogo de sombras e de contrastes. Admira particularmente o estilo de Paulo Nozollino, nas “suas fracas pretensões”, como diz num assomo de modéstia, era aquilo que gostaria de fazer. No seu percurso, sem contar com as inúmeras exposições que lhe engrossam o currículo, sobressai a retrospectiva que teve no Centro Português de Fotografia do Porto. Ainda na gaveta está o trabalho Insónia que reúne um conjunto de fotografias com influências da pintura de Edward Hooper e dos filmes negros americanos dos anos 40 e 50, onde se moviam mulheres fatais em ambientes expressionistas. “Sou um frequentador assíduo da Cinemateca. Recentemente descobri a fotografia de John Alton que escreveu o livro Painting with Light. É fantástico e colaborou em vários filmes de Anthony Mann”. 42
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Dos Açores, onde mantém uma casa, guarda lembranças nostálgicas. “Na minha adolescência nem sequer havia televisão, só escutávamos a rádio. O mundo chegava-nos com filtros através do Paris Mach, da Flama e de outras revistas vindas do continente. Os dias demoravam imenso tempo a passar”, recorda. Deixava-se ficar horas esquecidas na avenida marginal de Ponta Delgada com o olhar fixo no oceano. Não perdeu esse pendor contemplativo, embora esteja atento ao que o rodeia. Sem ser um activista, considera-se um homem de esquerda. Mostra-se pessimista quanto ao futuro. “Vivemos num beco sem saída, as soluções têm de ser globais, não é um país sozinho que vai mudar o sistema”, afirma. Agora, os dias passam num ápice. Todas as manhãs vai ao ginásio, de tarde organiza as fotografias ou entrega-se à elaboração dos projectos. “Estou a recuperar algumas canções das bandas sonoras dos filmes da década de cinquenta. Do tipo Pat Boone, Doris Day ou Frank Sinatra que pretendo colocar como música de fundo na exposição Insónia. Ando a magicar na hipótese de me fotografar na pele de várias personalidades, até já descobri uma escada em caracol de um prédio de quatro andares que alberga uma galeria de arte, na zona do Cais do Sodré. Estou também a ultimar um trabalho com o título de As velas ardem sem pavio que irá ser mostrado em França”, acrescenta. Longe dos apetites de gourmet, prefere restaurantes vegetarianos ou macrobióticos. No entanto, não rejeita um “bom vinho”. Distingue entre amigos de verdade e conhecidos, categoria que tenta evitar. “Não me interessam nada as conversas sobre dinheiro, acções de empresas, viagens e ambientes exóticas. Prefiro a Foz do Arelho ao Dubai que é o artificialismo total”. É cliente habitual do Hotel do Facho, na Foz do Arelho, que “conserva uma certa atmosfera literária perdida no tempo”. Menciona os quartos reduzidos ao indispensável, as janelas abertas para o mar, a bebida tomada junto à lareira nas noites invernais. As fotografias das rochas e dos ilhéus açorianos que ostentam a sua assinatura. “Foi uma oferta”. A conversa com Carlos Medeiros desenvolvese por si mesma, interminável. Um prazer. I Lourdes Féria
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Artur Semedo Actor, galã, realizador, benfiquista e tudo Roubei, propositadamente, este título a uma prosa que o realizador Fernando Lopes escreveu no «Público» quando morreu Artur Semedo. Naquele título está tudo o que era o Artur.
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E talvez mais. Talvez também o que escreveu António Lobo Antunes, na mesma hora em que Semedo partiu: «chamavam-te marialva, galã, machista, irónico, sei lá que mais, quando, na minha ideia, me lembraste sempre esses artistas de circo que dispõem uma mesa no centro da pista, em cima da mesa sete ou oito varinhas verticais, no topo de cada varinha um prato de loiça, e correm, aflitos, de um lado para o outro, a agitar as varinhas de forma a que os pratos continuem a rodar e nenhum deles tombe e se quebre. No teu caso parecia-me que cada prato era uma lágrima. Deus sabe o esforço que fizeste mas nunca deixaste cair nenhuma.» Este belo texto de Lobo Antunes, que foi grande amigo de Artur Semedo, põe o ponto final na ternura que o actor derramava à sua volta. Sim, o Artur era um homem terno, doce e apaixonado. Apaixonado por tudo, pelo cinema, pelo teatro, pelas mulheres, pelos amigos, pelo Benfica. Se ele pudesse ter visto a bandeira do Benfica a meia haste quando o seu funeral passou pelo seu querido Estádio da Luz, teria sorrido feliz.
Semedo, Carlos José Teixeira e Emília Vilas numa cena do filme “Chaimite” (1953) do realizador Brun do Canto.
A história da luva preta Muita gente ficava intrigada quando via Artur Semedo com uma luva preta na sua mão direita. O mistério da luva preta era afinal uma forma de aquecer a mão que, depois de um acidente com um copo partido, ficara com os tendões afectados e para sempre irremediavelmente fria. A luva preta era, também a sua imagem de marca. Artur Semedo era o realizador da luva preta, o homem de «O Dinheiro dos Pobres» (1956), «Malteses, burgueses e às vezes» (1973), «O Rei das Berlengas» (1977), «O Barão de Altamira» (1987), «O Querido Lilás» (1987). O homem de teatro «A Rainha do Ferro Velho» com Laura Alves e «Meu Amor é Traiçoeiro» também com Laura, «O Vison Voador» ao lado de Raul Solnado, teatro de revista ,«Mini-Saias» ou «Mulheres à Vela», enfim, Artur Semedo foi homem de sete ofícios, de muitas viagens (Angola, Moçambique, Brasil), de muitos enredos.
Vítor de Sousa, Herman José e Artur Semedo no filme “O Querido lilás”. Em baixo Mário Viegas e Artur Semedo, actor e realizador do filme “O Rei das Berlengas”
A missa das Sete Artur Semedo era, todos o sabiam, um benfiquista ferrenho, um benfiquista a quem o clube fazia febre e esfarelava os ossos. Quando ia ao Estádio da Luz ver jogar o Benfica costumava dizer que ia FEV 2010 |
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Memória
à catedral à missa das sete. E, apesar do Benfica ter sido sempre «a sua religião», Artur tinha orgulho em dizer que era amigo de Pinto da Costa, o mesmo Pinto da Costa que vi, triste e sombrio, no velório de Artur Semedo, o mesmo Pinto da Costa que, disse-me o Artur, vinha a Lisboa para o visitar no Hospital Curry Cabral, onde o actor acabaria por morrer. Semedo foi grande amigo de outro grande senhor da Lisboa boémia chamado Diniz Machado. Diniz era sportinguista e o Artur, conta Lobo Antunes, dizia-lhe: «como podes ser um homem às riscas? O Diniz a sorrir, como se pode ser de clubes às riscas...» E retomo o texto bonito que o amigo António Lobo Antunes escreveu na hora da morte de Artur. «Ao ver a tua fotografia no jornal e a legenda «Morreu Artur Semedo», confesso que me preocupei. Para tirar dúvidas perguntei-te – Morreste? E fiquei logo sossegado dado que escutei a tua gargalhada breve, senti as tuas mãos nos meus ombros, vi o teu bigode a dizer-me, como de costume – Meu querido e percebi que apenas tinhas ido embora mais cedo porque a Pilar estava à espera.» Pilar foi a mulher com quem Artur Semedo viveu os seus últimos anos.
De Arronches para a Luz
Uma das primeiras fotos artísticas de Semedo para o Álbum dos Artistas Em baixo, Artur Semedo e Armando Cortez no exame final do Conservatório
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Natural de Arronches, alentejano da raia, Artur cedo demonstrou um talento natural para o teatro e até José Régio, que foi seu professor no liceu de Portalegre, escreveu uma peça de teatro para o pequeno Artur representar. O destino estava traçado desde então e mesmo os pais, latifundiários e com militares na família, não conseguiram desviar o rapaz da cena teatral. Ainda passou pelo Colégio Militar de onde acabou por ser expulso e o resto já se sabe como decorreu. Teatro, cinema, televisão, rádio, imprensa, não houve meio onde Artur Semedo não desse largas à criatividade e ao talento. Gostava de dizer que a Luz sempre o seguiu na vida. De facto morava na Luz, o Colégio Militar está situado na Luz e o seu clube do coração vive na Luz. Apetece-me perguntar, como Lobo Antunes, «morreste?». E ainda hoje me custa a acreditar. Mas já faz nove anos este mês de Fevereiro. I Maria João Duarte
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O ressonar das crianças
Arroz imune a inundações Um grupo de cientistas do Instituto para a Investigação do Arroz de Bangladesh presume estar em vias de conseguir três novas variedades de arroz resistente às sazonais inundações dos arrozais, sendo que uma delas está já a ser cultivada na Índia com, tudo indica, bons resultados, aguardando-se para este novo ano os resultados das outras duas. A expectativa é grande, uma vez que a obterem-se resultados positivos, estas variedades podem vir a resolver os problemas da fome de milhões de pessoas. O projecto envolve cientistas de diversos países e recorre a técnicas não transgénicas.
Vaidade que vem de longe Quem supõe que apesar de nosso antepassado o Homem de Neandertal era muito diferente daquilo em que nos tornámos, pelas suas características primitivas, pode desenganar-se. Continuamos a carregar connosco algumas matrizes herdadas e que se reflectem nos acessórios que teimamos em usar, convencidos de que esses enfeites nos embelezam. Uma equipa de cientistas, que trabalha numa estação arqueológica Neandertal, no sul de Espanha, afirma possuir provas de que esses nossos ancestrais não só usavam colares como se maquilhavam, há 50 mil anos. Segundo a BBC noticiou, a equipa britânica, dirigida pelo professor João Zilhão, concluiu que os Neandertal tinham pensamento simbólico, eram vaidosos e sofisticados. O paleontólogo Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, confirma ser errada a ideia de que os Neandertal eram brutos e rudes e que essa ideia é um preconceito infundado, indo mesmo mais longe: "Quando os fanáticos de futebol se comportam mal, ou os políticos defendem pontos de vista reaccionários, é normal que lhes chamem Neandertal, e não me parece que os tablóides vão mudar muito em breve os seus títulos". 48
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Um simples teste à urina pode vir a tornarse numa útil ferramenta no diagnóstico da origem do ressonar das crianças, uma vez que se em muitos casos este se deve a uma simples obstrução das fossas nasais, noutros pode denunciar problemas mais complexos. Segundo o resultado de um trabalho realizado por investigadores da Universidade de Chicago e publicado no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, os cientistas analisaram o caso de 90 crianças que sofrem de problemas respiratórios durante o sono e concluíram que aquelas às quais foi diagnosticado um ressonar perigoso apresentavam um índice elevado de proteínas na urina. Apesar de considerarem que esta experiência necessita ser repetida, os investigadores acreditam que o resultado não será diferente.
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G u i o m a r B e l o M a r q u e s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )
ABC do cérebro humano Com 100 biliões de neurónios, o cérebro humano continua a ter, apesar dos avanços da ciência, um lado misterioso. No inesgotável desejo de saber mais que tem ocupado os homens, mas muito particularmente os cientistas, vai-se avançando no conhecimento do órgão mais complexo do corpo humano. Van Wedeen, um professor de radiologia da Universidade de Havard, decidiu construir um modelo tridimensional digital do cérebro, possuindo um nível de pormenor que pode permitir saber um pouco mais sobre o seu funcionamento. Segundo Wedeen acredita, esta tridimensionalidade será suficiente para criar um mapa das áreas activas. Apesar das críticas de que tem sido alvo por parte de quem considera que esta solução de estudo não resolve todas as incógnitas, o professor de radiologia continua convencido que nesta nova década conseguirá obter informações inéditas através deste modelo. Pelo menos, Van Wedeen não deixa os seus créditos em mãos alheias, e anda com um número elevado de neurónios muito activos. Resta saber de que se ocupam os inactivos.
Um incontornável 'perfume' Pertencer ao sexo masculino é como viver na corda bamba. Pelo menos assim parece acontecer com os sinais que os homens libertam descontroladamente, entre os quais o suor marca pontos. A essa conclusão chegou a professora assistente de psicologia na Universidade de Rice, Denise Chen, depois de ter realizado uma curiosa experiência destinada a comprovar que as mulheres são seres capazes de reconhecer a atracção sexual de um homem através do cheiro do seu suor. A metodologia seguida não foi transcendente: bastou-lhe submeter um grupo de masculinos voluntários ao visionamento de vídeos de conteúdo educacional e uns tantos outros de erotismo explícito. Entretanto, foram-lhes recolhidas amostras de suor enquanto viam uns e outros vídeos, às quais se extraiu a essência odorífica. Posteriormente, foi solicitado a 19 mulheres, com idades entre os 20 e os 30 anos, que cheirassem as fragrâncias. Desconhecendo as proveniências, os cérebros femininos reagiram diferentemente às recolhas obtidas durante um e outro vídeo. Vá lá um homem saber como disfarçar…
O apêndice útil do corpo Não raras vezes nos perguntamos qual a razão para possuirmos um órgão de que displicentemente nos libertamos quando deixa de funcionar. Afinal, se continuamos a viver como antes depois de os cirurgiões o sonegarem do nosso organismo, porque não estripá-lo à nascença, evitando futuras peritonites, eventualmente mortais? A verdade é que, tratandose de um literalmente apêndice que carregamos desinteressadamente, ele tem a sua função, segundo revelou o Journal of Evolutionary Biology, baseando-se em pesquisas realizadas pela Faculdade de Medicina da Universidade do Arizona que concluíram tratar-se de um órgão que tem a muito importante função de se ocupar das nossas bactérias mais interiormente sobreviventes. Competelhe, segundo perceberam, produzir micróbios que controlam e estimulam a nossa flora intestinal, actuando ao nível do sistema imunitário e facilitando-lhe a tarefa de regular as funções da nossa flora perante o risco de infecção do intestino e cólon. Ora aí está como tudo na Natureza desempenha a sua função.
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O Estado Providência António Re b e l o de Sousa (*)
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uando se procura analisar o papel do Estado na economia, parte-se, em muitos casos, de algumas simplificações analíticas que importa assinalar. Uma primeira simplificação que, de alguma forma, resulta das contribuições teóricas de clássicos como Pigou, consiste em se partir do pressuposto de que não existe desemprego involuntário (mas, tão somente, desemprego friccional ou desemprego voluntário), pelo que se estaria sempre em pleno-emprego. Ora, conforme nos explica – e bem – Keynes na sua “Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro”, “a procura efectiva associada ao pleno emprego é um caso especial que só se verifica quando a propensão marginal a consumir e o incentivo para investir se encontram numa relação mútua particular”1. Logo, a hipótese clássica só se verifica quando a poupança é igual ao investimento (i.e., quando o investimento é igual ao excedente do preço da oferta global de produção resultante do pleno emprego sobre o consumo da comunidade). Todavia, para Keynes, a igualdade entre a poupança e o investimento não se verifica “ex-ante” mas sim “ex-post”, o que implica a necessidade de adopção de mecanismos de intervenção que contribuam para que se criem as condições propiciadoras do pleno-emprego. Daí o papel relevante do Estado em termos de gestão macroeconómica e a indispensabilidade de implementação de programas de investimento público em situação de recessão (uma vez que, inclusive, os agentes empresariais condicionam a decisão de investir às expectativas de evolução da procura e as decisões de produção à procura de bens de equipamento). Uma segunda simplificação analítica tem que ver com a confusão que alguns sectores estabelecem entre o nível de desenvolvimento e os dados existentes sobre o rendimento médio das famílias ou o PIB – Produto Interno Bruto “per capita”. 50
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Ora, conforme Paul Krugman explica – e bem – no seu recente livro “A consciência de um liberal”, o estudo do grau de desenvolvimento de uma qualquer sociedade (de acordo com uma perspectiva não economicista, que contemple, inclusive, a Teoria da Relatividade Económica e a Teoria dos Três Diamantes do Bem-Estar) passa, também, pela análise do grau de assimetrização existente. E para a análise do grau de assimetrização faz mais sentido atender ao conceito de mediana do que ao conceito de média. Por outras palavras, faz mais sentido considerar-se a evolução do rendimento mediano das famílias (rendimento disponível) do que do PIB p.c.. Uma terceira simplificação analítica consiste em procurar-se explicar a assimetrização que se tem vindo a registar, a nível mundial, apenas a partir da crescente procura de qualificações (“skill-biased technical change”). Ora, sendo certo que a mudança tecnológica orientada para a qualificação contribui para um certo agravamento da assimetrização (com realce para os sectores em que se registam externalidades em cadeia), não faz sentido reconduzir a explicação da mesma a esta problemática, tanto mais que a dita assimetrização se verifica no seio dos próprios segmentos de mão-de-obra mais qualificada. A título de exemplo, se compararmos a evolução dos salários dos professores universitários mais qualificados das melhores universidades americanas com a evolução dos salários dos gestores das 300 maiores empresas dos EUA, constatamos que se registou um fenómeno de assimetrização. Mais, se se proceder a uma análise detalhada, chegamos à conclusão de que, mesmo no segmento dos gestores, se registou uma assimetrização não directamente relacionada com a produtividade marginal alcançada pelos mesmos. Alguns autores limitam-se a medir a produtividade marginal dos gestores a partir dos lucros obtidos (o que se apresenta discutível, uma vez que não são os únicos responsáveis pelos mesmos). Mas, mesmo utilizando essa metodologia, nem sempre se regista uma relação directa entre a efectiva rendibilidade das empresas e as remunerações dos gestores, havendo, em muitos casos, o aparecimento de uma economia de cumplicidade endogâmica, com a concretização de alianças entre uma nova tecnoestrutura emergente (com uma função objectivo de “playing for short run profit and diversification”) e alguns “business angels”. A quarta simplificação analítica resulta de se considerar que a única forma das economias desenvolvidas ocidentais competirem, no futuro, com as novas economias asiáticas emergentes consiste em rever o tipo de modelo de socieda-
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de, pondo em causa, radicalmente, o Estado Providência. Um liberal-conservador dirá, de imediato, que o PIB Simplificando, admite-se que a única forma de obter francês é, tão-somente, de 74% do PIB americano. ganhos de competitividade face aos países asiáticos está na Mas, é preciso não esquecer que a percentagem de popuredução dos custos comparativos e, para tal, afigurar-se-ia lação em actividade em França é bem menor do que nos necessário pôr em causa o Estado Providência. EUA, uma vez que a entrada no mercado de trabalho se Nada de mais enganoso. opera, em média, mais tarde e a idade de reforma se apreSe a única forma de os países europeus e dos EUA pas- senta inferior. sarem a ser competitivos com o que se convencionou desigSe se considerar o PIB por trabalhador francês empreganar de NIC’s – “New Industrialized Countries” passasse pela do, em 2006, o valor obtido é, apenas, inferior em 10% ao redução dos custos, não seria, seguramente, com uma dimi- americano. nuição dos encargos salariais e sociais da ordem dos 30 ou E se considerar que, em média, o horário de trabalho do 40% que se resolveria o problema. francês é de 86 a 88% relativamente ao Seria, isso sim, necessário dividir do americano, chegamos à conclusão – E assim como por 3 ou por 4 os encargos salariais algo surpreendente, para alguns – de Krugman nos fala da (salários directos e indirectos mais que a produtividade/hora se apresenta necessidade de afirmar encargos sociais), o que mesmo os semelhante para o francês e para o uma “consciência liberal” políticos europeus e americanos americano (produtividade/hora do fac(entendida na versão mais conservadores sabem ser, totaltor produtivo trabalho). americana), faz sentido, mente, impossível. E afigura-se discutível afirmar que para um europeu e nos A quinta e última simplificação o nível de Bem-Estar (ou, se se quiser, tempos de hoje, referir a analítica consiste em se considerar de “felicidade colectiva”) em França é indispensabilidade de que o sector privado é, necessariamenor do que nos EUA. afirmar uma consciência mente, eficiente e que o sector públiMais, não se descortina qualquer genuinamente de centroco se apresenta, necessariamente, tendência, mesmo nos sectores conseresquerda. ineficiente. vadores, para pôr em causa, radicalTrata-se de uma simplificação mente, o Estado Providência. semelhante àquela que os fundamentalistas marxistas-leniEis as cinco simplificações analíticas que estão na orinistas faziam (e, ainda, fazem), nos termos da qual com a gem de algumas grandes divergências de modelo de socienova sociedade comunista surgia o homem bom, honesto e, dade e de políticas económico-sociais. por isso mesmo, incorruptível. E, em meu entender, é na própria percepção destas simO sector privado nem sempre funciona bem. E existem plificações que deverá radicar a consciência do “centro falhas de mercado que têm que ver com a problemática dos esquerda”. bens públicos, com as externalidades, com a adulteração Para o centro esquerda não faz sentido partir do pressudos mecanismos concorrenciais e com a indivisibilidade e posto de que se está sempre em pleno-emprego, graças à a impossibilidade de exclusão, associadas aos grandes automaticidade dos mecanismos reequilibradores do mernúmeros. cado, nem tão pouco adoptar uma visão economicista da Como, aliás, o Estado, nem sempre funciona bem. E exis- análise dos fenómenos económicos ou considerar a assimetem as falhas de Estado que têm que ver com o facto de o trização como uma inevitabilidade histórica, ou, ainda, pôr preço indirecto do bem público se apresentar, em muitos em causa, em termos radicais, o Estado Providência. casos, dissociado da utilidade marginal resultante da sua E assim como Krugman nos fala da necessidade de afirfruição ou, ainda, com as funções-objectivo do burocrata mar uma “consciência liberal” (entendida na versão ameri(com ou sem zonas de autonomia decisória). cana), faz sentido, para um europeu e nos tempos de hoje, E nem sempre o nível de bem-estar de um país em que o referir a indispensabilidade de afirmar uma consciência Estado-Providência tem uma dimensão relativa menor se genuinamente de centro-esquerda. apresenta maior do que o nível de bem-estar de um país Nem mais, nem menos… I com um Estado Providência forte. Em França, como relembra Paul Krugman, quem estiver (*) - Professor Associado com Agregação da Universidade Técnica desempregado tem os serviços de saúde assegurados pelo de Lisboa. Governo e recebe ajuda na alimentação e na habitação, bem (1) - Keynes, John Maynard – “Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro”, pág. 3. como, por exemplo, para as despesas com o infantário.
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A Casa na árvore Susana Neves
O Sol no copo Com as laranjas chinesas Portugal transformou-se em nome de fruta.
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a Biblioteca Nacional existe uma litografia de uma saloia vendendo “laranja da China” em Lisboa. Datada de 1832, a estampa mostra a vendedora e o seu burro com albarda mas não permite ver o fruto. A esta figura típica corresponderia um pregão, talvez não muito diferente de «Mééc`à la-rããnja da China» (ou seja, “Merca, vendo laranjas da China”), o qual segundo o investigador Vítor Manuel Adrião, ainda se ouviria nas ruas da capital em 1864 (“Pregões Saloios”, reproduzidos online). Também na poesia de Sóror Maria do Céu (1658-1753), monja, escritora e dramaturga barroca encontramos uma referência à «laranja da China», muito embora não se perceba bem se a religiosa portuguesa se refere à origem ancestral de todas as laranjeiras (introduzidas pelos árabes
Gravura de Nicolas Fran Regnault. Em cima, O Jardim das Hespérides, de Lord Frederick Leighton, 1892.
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na Península Ibérica a partir da Ásia, laranja em arábico diz-se naranj) ou se a uma espécie em particular — “Citrus aurantium sinensis Gall.”, nome científico em latim para designar “laranjeira da China”. Escreve Sóror Maria do Céu no seu belíssimo português seiscentista: «A Laranja he belleza, e o segura, [o assegura]/ Quem vê de hum Laranjal a formosura,/Vem cercadas de espinhos como Rosas,/ Que sempre são esquivas e formosas./ Em tudo a formosura dá tributo,/ He bella em flor, em folha, em ser, em fruto,/ Parece de ouro, e mente,/ Que a belleza da terra é apparente,/ E por esta terrestre hireis à China,/ Quando hum pasto não daes pela Divina,/ O`quantas vezes erra,/ Quem conhecendo o Ceo, namora a Terra». A paixão que a “laranja da China” poderia provocar não assentava apenas na sua beleza, nem na possível evocação do mítico Jardim das Hespérides (coincidindo com a lendária árvore que segundo os gregos produzia as tão desejadas “maçãs de ouro”, fonte de imortalidade) nem tão pouco nas qualidades terapêuticas contra o escorbuto (também conhecido por “mal-de-Luanda”) para o qual os navegadores portugueses já no século XV, antes de todos os outros, tinham encontrado remédio noutras espécies de laranja (como a amarga “Citrus aurantium L.”) plantadas amplamente entre nós desde a fundação da nacio-
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nalidade, com fins ornamentais, aromáticos e outras aplicações medicinais. Portugal era a “Terra das Laranjas”. Leia-se a “Descrição do Reino de Portugal”, de Duarte Nunes de Leão, em 1610: «Em Lisboa (…) cujas quintãs todas são huns jardins em que para perpetua verdura plantão laranjaes, della carregão sempre os estrangeiros que a ella vem dos Estados da Flandres, e outras partes do Norte para Inglaterra infinidade de laranjas e limões: e de cada um dos logares do seo contorno se poderião muitas provincias sustentar e encher dessa fructa, como são os mosteiros de Bethlem [Belém], de S. Bento, e das quintãs que vão ao longo do Tejo até Povos, de Sintra, de Collares, e da ribeira de Barcarena». E o autor prossegue referindo-se à elevada produtividade de laranjas no Norte, Beiras e Alentejo para concluir: «Finalmente desta fructa he tão provida a terra que na Primavera em qualquer logar que se ache huma pessoa lhe cheirará a flôr de laranja». O motivo que levou os nautas portugueses a trazerem do Oriente essa espécie, da família das Rutaceae, e quase dois séculos mais tarde, levaria o rei D. Pedro II, por Alvará de 30 de Janeiro de 1671, a proibir a sua exportação para outros países, que muito a cobiçavam, até porque representava a entrada de muitas divisas, assentava no facto do seu fruto ser o mais doce. Graças ao dinamismo dos lusitanos, a quem nessa altura não faltava empreendedorismo no comércio deste fruto, e à intensa e contínua procura por parte dos estrangeiros, pensou-se durante vários séculos que tinham sido eles os introdutores da laranja doce (Citrus sinensis L. Osbeck) na Europa. A notícia da plantação de uma laranjeira provinda da China num jardim de Xabregas, pertencente ao governador de Macau, D. Francisco de Mascarenhas, em 1635, contribuiu ainda mais para reforçar a convicção de que Portugal cumprira esse papel pioneiro, contudo, conforme explica José E. Mendes Ferrão em “A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses”, (Ed. 2005), é pouco provável que os árabes não
tivessem também introduzido a “laranjeira doce”, podendo o sabor não ser tão doce em virtude do clima não o propiciar e os «cultivares» introduzidos não serem os mais «afinados». A verdade é que toda a laranja doce passou a ser vendida como sendo da China e em vários países quando se fala de laranja doce ainda se diz Portugal, é o que acontece na Itália (portogallo), no Curdistão (portoghal) ou na Grécia (portugales). Em "sumo", sem as laranjas os navegadores portugueses teriam apodrecido pela boca muito antes de chegarem à Índia. Quem sabe senão é preciso um reino de laranjais para se forjar a "fera e indómita gente". I FEV 2010 |
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62 CONSUMO Em cada época de saldos, há sempre consumidores a reclamar. Relembramos algumas regras básicas sobre este tema. Pág. 56 LIVRO ABERTO Em destaque a publicação de “1 Homem Divido Vale por 2”, excelente catálogo da exposição dedicada a Luiz Pacheco. Pág. 58 ARTES Atenção à exposição “Desenho a Preto e Branco e a Cores – Antologia Gráfica, 1958-2009”, de Skapinakis, até 14 de Fevereiro, em Cascais. Pág. 60 MÚSICAS “The Fall” o mais recente CD de originais de Norah Jones, e o regresso do brasileiro Seu Jorge, com “América Brasil”, gravado ao vivo. Pág. 62 NO PALCO O Trindade apresenta “Não se ganha, não se paga”, adaptação da peça de Dario Fo, “Non Si Paga, Non Si Paga! ”. Pág. 64 CINEMA EM CASA “As Praias de Agnés”, de Agnés Varda, e “Sacanas sem Lei”, de Quentin Tarantino, integram as escolhas para Fevereiro. Pág. 66 GRANDE ECRÃ Em foco, as estreias dos últimos filmes de Ken Loach (“O Meu amigo Eric”), e Martin Scorsese (“Shutter Island”). Pág. 67 TEMPO INFORMÁTICO Há novas alternativas de espaço, apesar do aumento constante da capacidade dos discos rígidos, dos externos e das pen drives. Pág. 68 VOLANTE Chegaram já às estradas de algumas cidades europeias as primeiras unidades da segunda geração do Smart fortwo eléctrico. Pág. 69 À MESA Começa a subir os rios para desovar em Fevereiro e em Março/Abril acasala. Por esta altura é que está mais gorda e de carne mais firme e saborosa: a lampreia, a divina. Pág. 70 SAÚDE Os estudos que têm vindo a ser feitos um pouco por todo o mundo dão nota positiva para o consumo moderado e contínuo de café. Pág. 72
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Boavida|Consumo
Vamos aos saldos? Já se escreveu tanto sobre saldos, que somos levados a pensar não haver um só consumidor sem a informação necessária para saber como deve agir em todas as situações. Pura ilusão! Em cada época de saldos, há sempre consumidores a reclamar. Assim sendo, nada melhor do que voltar a lembrar algumas regras básicas sobre este tema, tão caro a milhares de pessoas. Carlos Barbosa de Oliveira
Regras a fixar uitos consumidores andam confusos. Habituados a encontrar em diversas lojas e em épocas distintas, letreiros informativos com a menção de "descontos", " promoções" "baixa de preços", "reduções", "liquidação total" e "saldos", ficam com a sensação de que a época dos saldos, tal como o Natal, " é quando um homem quiser". Mas não é bem assim… Os saldos consistem na venda de produtos efectuada, em fim de estação, a um preço inferior ao praticado na época normal, no mesmo estabelecimento comercial. As épocas em que se podem efectuar estão definidas por lei e ocorrem apenas duas vezes por ano: de 28 de Dezembro a 28 de Fevereiro e de 15 de Julho a 15 de Setembro. Fora dessas épocas pode haver promoções e liquidações., que são coisas diferentes como adiante explicarei. As épocas de saldos também estão sujeitas a regras que, muitas vezes, os consumidores desconhecem e, na euforia da compra, acabam por ter dissabores.
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PRODUTO COM DEFEITO
Uma das situações mais frequentes é o consumidor não se aperceber que está a comprar um produto com defeito e só quando chega a casa o detecta. A reacção instantânea é voltar à loja, no dia seguinte, exigindo a troca do produto. No entanto, o consumidor só pode exigir a troca se a loja não tiver cumprido de acordo com o que a lei estipula. A venda de produtos com defeito, em épocas de saldo é legal, sendo apenas obrigação do comerciante assinalar os artigos com defeito por meio de letreiros ou rótulos, perceptíveis e visíveis ao consumidor, para que este tenha conhecimento sobre as características do bem a adquirir. Esta informação, nos termos da Lei de Defesa do Consumidor, tem de ser prestada sob pena de, não o sendo, ter a loja de proceder à reparação do bem, à sua substituição, redução do preço, ou à resolução do contrato. Caso seja prestada a informação de "produtos
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-Verifique a qualidade do produto. Não dê apenas atenção ao preço. -Para além do preço afixado, verifique se o preço anterior, também está afixado. -Veja bem as medidas, as cores, os tecidos e a etiquetagem. Os artigos em saldo devem ter a mesma qualidade, a menor preço. - Excepto quando o defeito está identificado, o comerciante não se pode recusar a fazer uma troca. - Não se esqueça que, por comprar em saldo, não perde os seus direitos. Pode apresentar a sua reclamação nos Centros de Arbitragem de Conflitos de Consumo ou nos Centros de Informação Autárquica ao Consumidor (da área da sua residência).
com defeito", não tem o consumidor legitimidade de exigir a troca. Um pouco diferente é a situação em que os estabelecimentos colocam avisos anunciando que não se trocam artigos em época de saldos. Esta informação não está conforme as regras legais porque, se um produto com defeito não estiver exposto em local destacado da venda dos restantes bens sem defeito, com um aviso bem visível que assinale de forma precisa o defeito, o consumidor tem direito a exigir a troca do produto, ou a devolução do dinheiro. AFIXAÇÃO DE PREÇOS
De acordo com o regime legal aplicável aos saldos, os letreiros, listas ou etiquetas devem exibir
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o novo preço e o preço anteriormente praticado ou, em substituição deste, a percentagem de redução. Por exemplo: "Camisas com redução de 40%" Nestes casos, cada produto deve indicar, de forma visível, qual o seu preço antes de se iniciar a época de saldos. Outra situação frequente é o consumidor tentar a devolução do dinheiro, por ter encontrado, numa outra loja, um produto exactamente igual ao que acabou de comprar, a preços mais baixos. Neste caso, só por mera cortesia comercial é que os estabelecimentos comerciais aceitam a substituição do bem, optando por vezes, pela entrega de vales no mesmo valor do
bem adquirido. No entanto, não há qualquer obrigação de o fazerem. MODO DE PAGAMENTO
Por vezes, durante as épocas de saldos, alguns estabelecimentos colocam avisos informando os consumidores que não aceitam cheques, ou pagamentos efectuados com cartões de crédito/débito. Noutras situações, fazem depender a aceitação desta modalidade de pagamento, do acréscimo de uma determinada percentagens sobre o preço indicado. Estas práticas são ilegais. O comerciante é obrigado a aceitar todos os meios de pagamento habitualmente disponíveis sendo-lhe vedado efectuar ou praticar qualquer variação de preço do bem em função do meio de pagamento utilizado. PROMOÇÕES E LIQUIDAÇÕES
As práticas comerciais com redução de preço integram, com exclusão de quaisquer outras, as modalidades de venda em saldos, as promoções e a liquidação de produtos, cada uma com características específicas, mas devendo todas respeitar igualmente os direitos dos consumidores. No entanto há algumas características que distinguem cada uma delas As promoções são vendas a um preço inferior ao habitual ou com condições mais vantajosas. Tal como os saldos, têm a finalidade de escoar existências e aumentar o volume de vendas ou, ainda, quando se verifique um lançamento de um novo produto no mercado. Podem acontecer em qualquer momento considerado oportuno pelo comerciante mas nunca em simultâneo com o período de saldos. A liquidação é outra possibilidade de baixa de preços. Esta figura resulta da ocorrência de motivos específicos que determinem a interrupção da venda ou da actividade do estabelecimento: decisão judicial; cessação da actividade comercial; mudança de ramo; trespasse ou cessação de exploração do estabelecimento comercial; realização de obras ou por danos provocados nas existências por motivos de força maior.
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De Michael Jackson e Luiz Pacheco à profecia Maia Com o mundo a viver uma época de turbulência e incerteza, estão criadas as condições para que muitos busquem as respostas, por certo controversas e sem base científica, que constam das grandes profecias.
José Jorge Letria
ma delas é a dos Maias, que dá este mundo em que vivemos condenado ao desaparecimento físico em 2012, ou seja daqui a dois escassos anos. Como o tema contém todos os ingredientes necessários para mexer com as emoções e os medos do público em geral, sobre ele foram publicados vários livros nos últimos anos e produzido um filme que esteve mais de dois meses em exibição nas salas portuguesas, com êxito. Uma das obras de referência sobre o tema do fim do mundo em 2012 é “O Livro do Destino” (Estrela Polar), de Carlos Barrios, que explica em detalhe o conteúdo da profecia Maia e aquilo que nela é mais ou menos consistente e fiável. Uma coisa, entretanto, é certa: com ou sem profecia Maia, o mundo todos os dias acaba para milhares de seres humanos, a começar pelas crianças que morrem de fome e de doença em África. Para essas, não há profecia trágica ou de esperança que altere o seu destino por enquanto inelutável. Até 2012, e seguramente depois dessa baliza cronológica, muita água continuará a correr debaixo das pontes e pode dizer-se que se os governantes mundiais não travarem o aquecimento global, o mundo nem precisa da profecia Maia para ver o fim dos seus e nossos dias.
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POR FALAR em destino trágico, faz sentido recordar o de Michael Jackson,
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falecido em circunstâncias ainda não totalmente apuradas no ano que terminou. Figura única e inimitável dos estúdios e dos palcos, Jackson, que viveu entre 1958 e 2009, é objecto de uma nova abordagem biográfica no livro “Michael Jackson-a Lenda”(P. Europa-América), de Chas Newkey-Burden, integrado na colecção Grandes Biografias. Estamos em presença de um olhar rigoroso e bem fundamentado sobre uma das vidas mais marcantes do mundo do espectáculo, em termos globais, na segunda metade do século XX. Michael Jackson conquistou, ainda em vida, pelas melhores e pelas piores razões, o estatuto de mito, que o seu trágico desaparecimento veio reforçar, abrindo também as portas ao êxito de biografias como aquela de que aqui se dá notícia. COM A CHANCELA dupla da D. Quixote e da Biblioteca
Nacional, destaque-se a publicação de “1 Homem Divido Vale por 2”, excelente catálogo da exposição dedicada a Luiz Pacheco, um dos mais talentosos e polémicos criadores literários portugueses do século XX. Comissariada por Luís Gomes, a exposição esteve na origem desta edição de grande qualidade gráfica e que inclui reveladores depoimentos sobre a vida e a obra
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Centenário da República, da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, agora em fase de reestruturação no que toca à sua política editorial. Embora se trate de uma agenda de secretária, é também um livro de grande qualidade textual e iconográfica sobre um acontecimento que marcou, há um século, a história da Europa e do mundo. Um contributo para a valorização de uma memória histórica inapagável. COM COORDENAÇÃO de Maria Helena da Rocha Pereira, José Ribeiro Ferreira e Francisco de Oliveira, destaque para a bela edição “Horácio e a sua Perenidade”, com a chancela do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra e do Centro Internacional de Latinidade Leopold Senghor. Uma obra rigorosa e iluminadora sobre um dos maiores poetas da Antiguidade. A RELAÇÃO turbulenta e fascinante de Marilyn Monroe
de Luiz Pacheco, libertino e transgressor que nunca deixou de provocar e desafiar o sistema moral e social de que desde a juventude se quis marginalizar. LUÍS DE CAMÕES, e sobretudo a
sua genial e intemporal obra lírica, justificam sempre uma revisitação que conduza ao deslumbramento e à descoberta ou redescoberta. É essa a proposta da Planeta ao editar, numa obra de excelente qualidade gráfica, “Sonetos e Outros Poemas”, uma edição bilingue (português-inglês), com organização e tradução do investigador norte-americano radicado em Portugal Richard Zenith e ilustrações de João Fazenda. Um belo livro de poemas que pode ser oferecido e lido em qualquer época do ano ou das nossas vidas, já que o que nele está escrito nasceu para ser universal e intemporal, como todas as grandes obras do génio criador. EM ANO de comemoração do centenário da instauração
da República, relevo para a publicação da Agenda
com o dramaturgo Arthur Miller está na base do excelente “O Génio e a Deusa”(Bizâncio), de Jeffrey Meyers, uma empolgante narrativa biográfica que nos revela, em toda a sua profundidade, um amor que não resistiu à pressão mediática, às grandes tensões da época e às contradições de quem o protagonizou. Para ler com gosto. EM MATÉRIA de ficção narrativa, destaque para “Terra
Nova” Dom Quixote), de Anthony Sá, obra de estreia de um jovem português que cresceu e foi educado no seio da comunidade portuguesa de Toronto. A acção da narrativa decorre entre a aldeia portuguesa de Lomba da Maia e a cidade de Toronto. O autor revela qualidades como narrador que justificam que fiquemos atentos ao seu percurso. Destaque, igualmente, para a sempre oportuna reedição do já clássico “Conversa n’A Catedral” (Dom Quixote), do peruano Mário Vargas Llosa, um dos grandes narradores contemporâneos, sempre surpreendente pela vitalidade e pela diversidade temática. COM A CHANCELA da Terramar, foi publicado o livro “Contributos para a História dos Tapetes de Arraiolos”, de Bruno Lopes, licenciado em História. Uma abordagem interessante e elucidativa sobre um sector relevante do nosso património artístico nacional de raiz popular.
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Boavida|Artes
Nikias Skapinakis Pintor do silêncio e da cor A exposição Desenho a Preto e Branco e a Cores - Antologia Gráfica, 1958-2009 que Nikias Skapinakis está a mostrar até 14 de Fevereiro no Centro Cultural de Cascais, pelo seu carácter antológico, é a melhor introdução à obra deste artista, pintor de méritos firmados.
Rodrigues Vaz
barcando um vasto período da sua profícua produção de obra gráfica, destes 42 trabalhos deste artista de origem grega merece particular referência o conjunto de 13 desenhos em papel kraft e de 12 ilustrações para a edição de 1958 do romance Quando os lobos uivam, de Aquilino Ribeiro. Sobre esta exposição escreveu o próprio artista que "em 1962 comecei a pintar uma vista de marquises nas traseiras de uma rua de Lisboa. Ao contrário do que habitualmente fazia, não empreguei logo a cor na definição dos planos mas desenhei-os utilizando um óleo acastanhado. Depois, pintei o céu com um azul esverdeado, recortando o perfil dos prédios; preparava-me para introduzir a cor no monocromatismo da composição quando verifiquei que tal não era possível…". O virtuosismo técnico, aliado à delicadeza dos motivos, tão expressivos em desenhos e gravuras como na pintura, sugere uma certa inflexão de regresso às origens sem apagar os traços de uma evolução do figurativo para o abstracto e do preto e branco para as cores fortes, estas sobretudo nas serigrafias, como é bem patente nas peças agora em exposição. Pintura do silêncio e da cor, a obra de Skapinakis tende a evoluir, nos anos mais próximos, como acentuou recentemente Ana Filipa Candeias, no sentido de uma maior economia e concisão no tratamento da forma
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(?gurativa ou abstracta), para atingir uma dimensão quase purista em telas monocromáticas. MARÍLIA VIEGAS NA CIDIARTE
Por sua vez, Marília Viegas apresenta na Galeria Cidiarte, em Lisboa, um conjunto de pinturas a óleo intitulado "Entre Cidades", prosseguindo um percurso temático que lhe é caro, revisitando de novo a arquitectura de uma forma encantatória, no limiar de um certo fantástico roçando entre o sonho e o mistério, como motivo inspiratório principal da criação artística. Jogando com os efeitos da patine e de um colorido suave de
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tons leves mas, ao mesmo tempo, calorosos, a sugerir a passagem do tempo que só a História sabe dar, Marília Viegas navega com à vontade por labirintos dos quais só ela sabe os segredos, partilhando-os connosco numa familiaridade tão natural como lógica. Como diz Margarida Calado, "A sua cidade nunca "engoliu" o campo, deixa-se envolver por ele, a sua arquitectura foi clássica para se tornar de um tempo indefinido, do tempo do sonho, em que clássico, medieval, renascentista ou barroco se fundem, na medida em que afloram à sua mente criadora. A paisagem é uma constante na arte ocidental ou oriental. As cidades/paisagem de Marília Viegas representam a sua visão poética e onírica do mundo."
Homenagem a Marianela de Vasconcelos Entretanto, o Centro de Artes e do Espectáculo de Sever do Vouga tem patente uma exposição de homenagem à escritora e artista plástica Marianela de Vasconcelos, natural do concelho e falecida em 2007, no Algarve, onde residia. Sob o título Marianela de Vasconcelos - Um Olhar a Cores, trata-se de uma retrospectiva englobando as primeiras obras executadas durante a frequência do liceu, e as derradeiras, produzidas depois dos 40 anos, após frequentar o curso de Pintura da Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa. No Algarve, dedicou-se, quase a tempo inteiro à pintura, apesar de, como jornalista free-lancer, ter continuado a escrever para jornais e revistas locais e nacionais. Em 1990, Marianela de Vasconcelos foi convidada pela Câmara Municipal de Sever do Vouga a expor individualmente o seu trabalho, constituído maioritariamente por aguarelas. De 1990 a 2007, apresentou a sua pintura em mais de meia centena de exposições, individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro. I
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Boavida|Músicas
Novo álbum de Norah Jones e reposição de Seu Jorge ao Vivo “The Fall” é o título genérico do mais recente CD de originais da norte-americana Norah Jones. O brasileiro Seu Jorge, por sua vez, reapareceu no mercado discográfico com o álbum “América Brasil”, desta vez “o CD ao vivo”.
Jacquire King, produtor e engenheiro de som que trabalhou com, entre outros, os Kings of Leon e Tom Waits. Os melómanos mais exigentes poderão apontar, aqui ou ali, algumas “cedências”, no sentido “comercial” do termo. “The Fall” é, apesar de tudo, mais um muito bom trabalho discográfico de Norah Jones, que nos brinda com 13 canções alinhadas num crescendo que “agarra” o ouvinte do primeiro até ao último tema. SEU JORGE E RUI VELOSO AO VIVO
Vítor Ribeiro
ditado pela Blue Note, “The Fall” é o quarto álbum de estúdio da cantora, escritora e compositora Norah Jones que, desde a sua aparição em 2002 até hoje, vendeu mais de 36 milhões de discos em todo o mundo. Filha do músico e compositor indiano Ravi Shankar, que na década de 60 do século XX atingiu alguma notoriedade ao colaborar com os Beatles, Norah desde cedo enveredou pelo jazz e pelo blues, que têm marcado de forma indelével a obra da cantora. Em “The Fall”, porem, Norah Jones, com perceptível cuidado, tenta desbravar “terreno” pela área pop/rock, talvez na esperança de conquistar outros públicos, sem no entanto ostracizar os “consumidores” fidelizados ao longo de oito anos de carreira. Nesta busca de diferentes caminhos, a intérprete fez-se acompanhar de novos colaboradores, designadamente de
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Do cantor e compositor brasileiro Seu Jorge acaba de ser lançado “América Brasil, o cd ao vivo”. O álbum agora editado trata-se essencialmente de uma reposição do CD “América Brasil”, de 2007, mas desta feita gravado ao vivo e com a inclusão sete temas (ao todo são 14) que não integraram o trabalho original. A crítica política tem caracterizado a obra deste autor, que tenta alertar quem o ouve para os graves desequilíbrios económicos e sociais que afectam a Humanidade. Por fim, uma chamada de atenção para o álbum “Rui Veloso ao Vivo no Pavilhão Atlântico”. Aqui se reúnem um CD e um DVD que nos dão conta de um memorável espectáculo efectuado pelo cantor e compositor, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa e no qual participaram Mariza, Rio Grande, Luz Casal e Jorge Vadio. É sempre bom ouvir (e ver) Rui Veloso interpretar Chico Fininho, Porto Côvo, Porto Sentido, Lado Lunar, Rapariguinha do Shopping… I
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Boavida|No Palco
“Não se ganha, não se paga” Numa adaptação à crítica realidade portuguesa actual da comédia do Nobel de Literatura italiano, Dario Fo, “Non Si Paga, Non Si Paga! ”(1974), o Teatro da Trindade tem em cena, em Fevereiro, a peça “Não se ganha, não se paga”, com encenação de Maria Emília Correia.
Maria Mesquita
ario, autor de mais de 40 peças teatrais, lança, com a sua mulher, a actriz Franca Rame, no início dos anos 70, o grupo, Nuova Scena, integrado por militantes do PC italiano. O novo grupo dará lugar ao Collettivo Teatrale la Comune, que realiza apresentações teatrais em fábricas, parques, ginásios esportivos e outros locais pouco convencionais, caso de “Non Si Paga, Non Si Paga”, estreada em 1974. As peças de Fo retratam, habitualmente, cenários onde o povo, vítima das sociedades capitalistas e consumistas, tem última palavra. Revolucionário convicto, fiel aos seus princípios e ideais socialistas, Fez de tudo dentro do mundo do teatro, encenou, representou, escreveu, sempre com o objectivo de contar histórias onde os acontecimentos fossem realmente verídicos e ilustradores de uma realidade anti burgesa. Na peça, agora em cena no Trindade, adaptada à realidade portuguesa actual, fala-se da a vida de duas mulheres, uma delas desempregada, outra a trabalhar a prazo num call-center, “emprego” cada vez mais procurado por todos aqueles que precisam de labutar, de sobreviver ou de sustentar uma família. Num cenário onde os produtos são cada vez mais caros, devido à constante especulação financeira, as duas mulheres resolvem, através de métodos menos ortodoxos, contornar o aumento de bens alimentares, enganando a polícia e os próprios maridos. Ninguém as pode censurar e acabamos por ter uma comédia inteligente sobre as chamadas classes médias-baixas, a sua forma de luta e sobrevivência, num mundo onde o fosso social é cada vez maior. “Esta é uma peça de teatro – sublinha Maria Emília Correia - que fala da “arraia miúda”, da “gente de fato
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macaco”, como ainda há dias ouvi chamar-lhes, displicentemente, num debate televisivo. Pessoas que, afinal, trazem a raiva no estômago, porque quase vazio. Raiva que deverá ser eficiente na hora da luta. E porque esta massa de homens não abdicará do direito de viver, a sua indicação provocativa tornar-se-á grandemente incómoda para os instalados.” “Em Não se paga! diz-se uma época, a nossa, e seus destinos manipulados por oportunistas e cidadãos sem escrúpulos”, acrescenta a encenadora. FICHA TÉCNICA: Autoria: Dario Fo; Encenação: Maria Emília
Correia; Interpretação: Cristina Cavalinhos, Horácio Manuel, Lucinda Loureiro, Luís Gaspar, Rogério Vieira e os músicos Iryna Brazhnik e Ricardo Torres; Direcção Musical: Tiago Derriça Cenografia: Rui Francisco; Figurinos: José António Tenente; Assistência de Encenação: Pedro Morais; Assistência de Cenografia: Joana Gomes
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“A MÃE”
Estreada no início de Janeiro, pelo Teatro de Almada, “A Mãe”, de Brecht (1898-1956), pode ser vista agora, até 21 do corrente, no Porto, no Teatro Nacional de S. João. Censurada e banida pelo regime nazi aquando da sua estreia original, a peça do grande dramaturgo alemão, inspirada em “A Mãe”, de Gorki, tem como background histórico a crise e a guerra que antecedem a Revolução Soviética. Escrita por Bertold Brecht nos anos 30 e estreada em 1932, retrata a sociedade czarista através da história da personagem principal, Pelagea Vlassova, viúva de um operário e mãe de um operário, que vive para a família mas que, aos poucos, se vai transformando de dona de casa conformada e apaziguadora, numa lutadora e revolucionária. A notável encenação de Joaquim Benite, apoiada na eficaz cenografia de Jean-Guy Lecaut e nas canções ao vivo Hanns Eisler, culmina na apoteose de Pelagea Vlassova – brilhante interpretação de Teresa Gafeira - como portaestandarte da nova utopia socialista em defesa das classes pobres e desprotegidas da Rússia imperial. FICHA TÉCNICA: Autoria: Bertolt Brecht; Tradução da peça e
das letras das canções: Yvette K. Centeno, Teresa Balté; Encenação: Joaquim Benite; Direcção musical: Fernando Fontes; Cenografia: Jean-Guy Lecat; Figurinos: Sónia Benite, Ana Rita Fernandes; Desenho de luz: José Carlos Nascimento; Voz e elocução: Luís Madureira; Assistência de encenação: Rodrigo Francisco; Interpretação: Alberto Quaresma, André Albuquerque, Carlos Gonçalves, Carlos Santos, Celestino Silva, Daniel Fialho, Laura Barbeiro, Luzia Paramés, Manuel Mendonça, Marco Trindade, Marques D’Arede, Miguel Martins, Paulo Guerreiro, Paulo Matos, Pedro Walter, Sofia Correia, Teresa Gafeira, Teresa Mónica; Produção: Teatro Municipal de Almada; Classificação etária: Maiores de 12 anos
“BLACKBIRD” NO NACIONAL
Quando estreou na Inglaterra, o seu autor, David Harrower, pensou que poderia causar um forte impacto. Nunca imaginou, contudo, que a peça “Blackbird”, trazida agora por Tiago Guedes ao Teatro Nacional D. Maria II, tivesse o êxito que sucedeu à estreia. Ray tem 56 anos, passou 4 na prisão, mudou de identidade e se pudesse, teria mudado a sua vida e memória. Una, tem apenas 27 anos e a única coisa que quis esquecer foi a humilhação pela qual passou ao longo da sua adolescência. Quando se reencontram, passados 15 anos, todas as emoções estão à flor da pele. Ambos se apaixonaram, embora seja raro aos 12 anos uma rapariga poder-se apaixonar literalmente por um homem de 40. O que para muitos foi considerado um abuso de poder, um acto de pedofilia por um “amigo de família” é agora debatido pelas duas personagens em confronto. É, aliás, Una quem aborda o tema, quem relembra o sucedido, entrando em jogos de poder com Ray, agora completamente impotente face à situação… Blackbird não pertence ao grupo de peças tradicionalmente moralistas que pretendem dar lições aos espectadores. É contudo uma peça fortemente sequenciada, onde todas as falas são cruas e duras, onde se aborda um tema delicado sem se deixar tornar ridículo ou comum. Para ver até 21 de Fevereiro. FICHA TÉCNICA: Autor: David Harrower; Tradução e
encenação: Tiago Guedes; Cenário e figurinos: Joana Rosa; Desenho de luz: Nuno Meira; Interpretação: Miguel Guilherme, Isabel Abreu, Constança Rosado, Filipa Rebelo, Margarida Lopes; Produção: TNDM II em colaboração com TAKE IT EASY
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Boavida|Cinema em casa
"Povo que canta não morre…" Para o mês mais breve do ano apostamos no cinema-documento, destacando o "Povo que Canta", de Ivan Dias e Manuel Rocha, um belo trabalho de recolha e divulgação da tradição musical portuguesa, e o e autobiográfico "As Praias de Agnés", de Agnés Varda. O leque de escolhas completa-se com o regresso de Quentin Tarantino, "Sacanas sem Lei", e o mais recente filme Michael Apted, "Amazing Grace". Sérgio Alves POVO QUE CANTA
reúne um grupo de soldados
conhece o companheiro e pai
inglês quer abolir a escravatu-
No início da década de 1970,
judeus com o objectivo de
dos seus filhos, o cineasta
ra no Império britânico. Com o
Michel Giacometti e o rea-
eliminar oficiais inimigos e a
Jacques Demy ("Os Chapéus
apoio e inspiração da sua mu-
lizador Alfredo Tropa viajaram
jovem Shosanna planeia vin-
de Chuva de Cherburgo").
lher ele vai lutar até ao limite
pelo País de Norte a Sul e Ilhas
gar-se pela morte da sua
Começa a filmar (é o tempo da
das suas forças para conseguir
á procura das tradições musi-
família. Do outro lado da bar-
Nouvelle Vague), viaja pelo
os seus objectivos, enfrentan-
cais portuguesas. Trinta anos
ricada o Coronel Hans Landa
Mundo (de China a Cuba) e
do porém, os obstáculos e pre-
depois, o produtor Ivan Dias
semeia o terror pela popu-
fixa residência nos EUA onde
conceitos duma maioria parla-
("Fados") e o
lação francesa… O regresso
participa nos
mentar que se lhe opõe.
músico Manuel
de Quentin Tarantino é outra
movimentos
Amazing Grace, nome de uma
Rocha (Brigada
boa oportunidade para teste-
cívicos. Anos
belíssima canção inglesa do
Victor Jara),
munhar o talento deste rea-
depois regres-
século XVIII, é um drama
retomaram o itin-
lizador que marcou os anos
sa definitiva-
histórico sobre a luta pela
erário com uma pequena
90 com obras como Cães
mente a
abolição da escravatura, dirigi-
equipa de seis pessoas e,
Danados e Pulp Fiction. Neste
França onde prossegue a sua
do por Michael Apted que
durante dois anos, recolheram
Sacanas sem Lei, projecto de
actividade artística: como pro-
reparte o seu trabalho pelo
imagens e sons das diversas
uma década de trabalho,
dutora, realizadora, autora e
cinema ("Nell" e "Enigma") e
regiões portuguesas. Exibido
Tarantino afirma-se como um
artista plástica - esteve pre-
pela televisão ("Roma"). Com
pela RTP em 2005, Povo que
dos sérios can-
sente na Fundação de
uma realização segura e atenta
Canta é um retrato do país,
didatos aos
Serralves em 2009. Candidato
aos detalhes, verosímil
uma viagem aos costumes e
Óscares deste
aos Óscares deste ano, As
(cenários e guarda-roupa exce-
tradições nacionais. O conjun-
ano graças à
Praias de Agnés é um trabalho
lentes), um elenco competente
to de seis discos, agora edita-
superior quali-
notável de Agnés Varda que,
- destaque para
dos - Minho e Madeira, Trás-
dade do argu-
recorrendo a fotos de família,
o veterano
os-Montes, Beiras, Alentejo,
mento, diálogos e intérpretes.
cenas dos seus filmes, pin-
Albert Finney -
Açores e Algarve -, inclui dois
TÍTULO ORIGINAL: Inglorious
turas, instalações e inter-
e uma temática
extras de peso: uma biografia
Bastards; REALIZAÇÃO: Quentin
venções artísticas, conduz-nos
fundamental
de Giacometti e um concerto
Trantino; COM: Brad Pitt,
às praias, lugares e pessoas da
da Brigada Victor Jara. E como
Mélanie Laurent, Christoph
sua vida, num registo dinâmi-
da dignidade universal do ser
diz a canção espanhola dos
Waltz, Eli Roth, Diane Kruger,
co e, por vezes, surpreendente.
humano, Amazing Grace dá
tempos da guerra civil: "Povo
Michael Fassbender;
Em suma, uma revisitação sin-
um importante contributo
que canta não morre"!
EUA/Alemanha, 153m, cor,
gular, para memória futura, da
para um melhor entendimento
TÍTULO ORIGINAL: Povo que
2009; EDIÇÃO: Universal
segunda metade do século XX.
da democracia e sociedade
Canta; AUTORES: Ivan Dias e
na afirmação
TÍTULO ORIGINAL: Les Plages d'
inglesas. TÍTULO ORIGINAL: Amazing
Manuel Rocha; Documen-
AS PRAIAS DE AGNÉS
Agnés; REALIZAÇÃO: Agnés
tário,Portugal, 609m, cor, 2009;
Nascida em Bruxelas, Agnés
Varda; Documentário; França,
Grace; REALIZAÇÃO: Michael
EDIÇÃO: Zon Lusomundo
Varda vai crescer em Sète
110m, cor, 2008;
Apted; COM: Ioan Gruffudd,
(porto do Sul de França) até
EDIÇÃO: Midas Filmes
Romola Garai, Benedict
SACANAS SEM LEI
aos 17 anos. Deixa, então, as
Numa Europa ocupada, a
praias da infância para estudar
AMAZING GRACE
resistência antinazi organiza-
para Paris, onde inicia uma
No final do séc.XVIII, William
117m, cor, 2006;
se: o tenente Aldo Raine
carreira de fotógrafa e onde
Wilbeforce, jovem parlamentar
EDIÇÃO: Zon Lusomundo
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Cumberbatch, Albert Finney, Michael Gambon; GB/EUA,
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Boavida|Grande Ecrã
Dois cineastas de culto O corrente mês é especialmente marcado pelas estreias dos últimos filmes de Ken Loach e Martin Scorsese.
Joaquim Diabinho
sto quer dizer que motivos de júbilo (dito modestamente: motivos de prazer) maior não faltarão aos seus muitos e fervorosos admiradores, porque se trata, desde logo, do (re)encontro com um duo de cineastas de enorme talento e prestígio, reveladores de uma imensa capacidade criativa, cujas obras quase sempre nos fascinam e nunca nos deixam indiferentes. Celebrizado pelo seu estilo de cinema realista e temática social, Ken Loach, regressa ao universo dos menos favorecidos e á sua habitual Imagens de “Looking for Eric” e, em baixo, de “Shutter Island” visão critica da sociedade e dos temLoach filma com talento, dá à narrativa um grau de pos que vivemos, em tom bem humorado, com “Looking fluidez enorme e revela-se particularmente hábil no equifor Eric”(em português, “O meu amigo Eric”, nas telas a líbrio entre a comédia e a tragédia. Além do mais, o autor 11), uma comédia dramática que se perfila como um de “Kes – Os dois indomáveis”e “Chuva de Pedras” mostra manifesto “optimista e humanista da sociedade contema sua paixão pelo futebol mas não perde a oportunidade porânea em plena crise”(palavras do júri Ecumênico do de desferir críticas à mercantilização dos grandes clubes, Festival de Cannes): a história de Eric um empregado dos à violência urbana e policial e pôr o dedo na ferida nos correios de meia-idade, em crise depressiva, que recebe dramas familiares e na frustação de vidas aparentemente “visitas” esporádicas do seu maior ídolo imaginário, Eric sem sentido. Uma pequena grande curiosidade: a ideia Cantona, do Manchester United para lhe dar conselhos e original de “Looking for Eric” veio do próprio Cantona. ajudá-lo a superar dores do passado. Após o refinadíssimo “The Departed – Entre Inimigos”, Martin Scorsese tomou a ousadia de adaptar uma obra do escritor Dennis Lehane, o mesmo autor de “Mystic River”, que deu a Clint Eastwood um dos seus momentos máximos. Trata-se de “Shutter Island” - com estreia anunciada para dia 25 - uma fábula carregada de mistério ambientada num hospital psiquiátrico e que narra a investigação policial ao desaparecimento de uma perigosa psicopata. Perfeccionista como sempre. Scorsese faz uma reconstituição de época notável para além de exibir a sua habitual esplêndida capacidade narrativa. Vale entretanto destacar as interpretações competentes de Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Max von Sydow, Michele Williams e Ben Kingsley.I
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Boavida|Tempo informático
Problemas de espaço Apesar do aumento constante da capacidade dos discos rígidos, dos externos e das pen drives, é raro o utilizador que não se queixa da falta de espaço. 1
Gil Montalverne
ajuda@gil.com.pt
s diversas aplicações com que trabalhamos exigem cada vez mais espaço para a sua instalação e há mais ficheiros na Internet que queremos ter no PC, mais filmes, mais imagens, tudo enfim que desejamos conservar. Em breve tudo isso será resolvido com a chamada “cloud computing” ou computação na nuvem. Esta nuvem é a WEB ou o espaço onde ela existe e onde passaremos a ter “algures no espaço” tudo o que é 2 necessário: programas e ficheiros. Não haverá necessidade de instalação de programas, serviços e armazenamento de dados, mas apenas os dispositivos de entrada (teclado, mouse) e saída (monitor) para os utilizadores. Aliás já está a acontecer para muitas empresas. Ora guardar arquivos na web, utilizar programas virtuais deixando de lado os computadores domésticos e reforçar a ideia que tudo é de todos, e ninguém é de ninguém, pode não ser uma coisa que seria bem vista por todos. Mas por agora e no que diz respeito aos utilizadores domésticos, já existem vários espaços na Net que podemos usar gratuitamente. São bastante práticos para neles podermos guardar o que quisermos, imagens, músicas e todo o tipo de documentos ou pastas, e a eles aceder em qualquer lugar a partir de qualquer computador com ligação à Internet a partir de casa, do trabalho ou quando viaja. O Google tem a Gmail drive (1) que fica mesmo acessível na pasta “O Meu Computador” como qualquer outro disco rígido mas neste caso virtual. Com a capacidade de 25 Gigas, basta instalar um pequeno aplicativo e ter uma conta Gmail para o conseguir e depois é só arrastar para a drive o que entendermos apenas com o limite de 10 megas por ficheiro. Procure no Google “Gmail drive” e faça o download do aplicativo gmailfs114.zip. A Microsoft possui também a drive virtual “Skydrive” (2) a que se acede simplesmente com uma conta no hotmail e fazendo o respectivo login. A Skydrive não é visível n’O Meu Computador mas tem a vantagem de permitir alojar, em várias pastas pessoais ou públicas, ficheiros de 25 megas num espaço de 25 Gigas.
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Mas já que falámos em espaço, falemos nas suas 3 dimensões, o que em informática - e não só - se denomina 3D. No grande espaço que é a Feira Internacional da Electrónica de Consumo ou CES, foram em Janeiro apresentadas as grandes novidades. E no que diz respeito a 3D causou sensação o novo dispositivo CEL TV da Toshiba que converte todo o conteúdo 2D em 3D, quase em tempo real. Também a ASUS apresentou os seus mais recentes portáteis criados para fornecer o melhor entretenimento multimédia, conforto e estilo. A nova série N vem equipada com a tecnologia SonicMaster que fornece uma das melhores experiências áudio jamais vistas num portátil. I
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Smart fortwo eléctrico chega à Europa Desde finais de Novembro que chegaram às estradas de algumas cidades europeias as primeiras unidades da segunda geração do Smart fortwo eléctrico, que entrou agora em fase de produção, na fábrica da marca em Hambach, França.
Carlos Blanco
assado o período experimental com as unidades de pré-série, a versão de produção está pronta para a primeira fase de vendas. A segunda geração do fortwo eléctrico passa a contar com uma bateria de iões de lítio, fornecidas pela Tesla Motors, empresa que passou a ter 10 por cento do seu capital entregue ao grupo Daimler, capazes de alimentar o motor eléctrico de 41 cavalos, e 120 Nm de binário máximo. A bateria pode ser recarregada numa convencional tomada de 220 Volt: três horas serão suficientes para uma autonomia entre 30 e 40 km, enquanto 8 horas de carregamento permitirá uma autonomia de 115 km, mais que suficiente para a maioria das deslocações do dia-a-dia nas cidades. A Smart revela que, com base nas actuais tarifas de electricidade, o custo de utilização do fortwo eléctrico ficará por dois euros por cada cem quilómetros percorridos. Quanto a performances, a Smart anuncia uma acele-
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ração dos 0 aos 100 km/h em 6,5 segundos e uma velocidade máxima de 100 km/h. Por enquanto, o fortwo eléctrico estará disponível em leasing em algumas cidades europeias e dos EUA, chegando ao mercado global apenas em 2012.I FEV 2010 |
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Boavida|À mesa
Lampreia, a divina, mas só para quem gosta “Lampreia. Peixe que é parecido com a enguia; vive no alto mar e aventura-se nos rios na Primavera; há as que pesam até sete libras; a sua forma é a da cobra, a sua cor é de um castanho esverdeado pintalgado de manchas douradas e pontos pretos; a sua pele ventral é menos escura.” (“Petit Dictionaire de Cuisine”, Alexandre Dumas)
David Lopes Ramos
lampreia é um petisco controverso. Mesmo adeptos jurados da boa mesa não a suportam. Não eu, que, para a comer com arroz ou à bordalesa, faço todos os anos umas boas centenas de quilómetros. Estamos no tempo delas – começam a subir os rios para desovar em Fevereiro, em Março/Abril acasalam, por esta altura é que estão mais gordas e de carne mais firme e saborosa —, vale a pena dar algumas indicações sobre onde se pode comer lampreia, a que alguns chamam divina. Antes, porém, diga-se que estes ciclóstomos de aspecto algo inquietante – não são peixe nem são carne – aparecem, em Portugal, nos rios Minho, Lima, Cávado, Douro, Mondego, Tejo, Guadiana e seus afluentes. Em geral são cozinhadas num molho em que o seu próprio sangue e vinhos tinto e branco, havendo também já quem as cozinhe em vinho do Porto vintage, são elementos essenciais, fazendo-se acompanhar por arroz ou pão. Maria de Lourdes Modesto, na sua “Cozinha Tradicional Portuguesa” (Editorial Verbo, 1ª edição 1982), regista 11 receitas de lampreia, oito das quais com arroz, uma de escabeche, uma “à transmontana” com pão frito em azeite e “à bordalesa” com pão torrado. Sobre esta última receita, a lampreia à bordalesa, em que o bicharoco é estufado “num refogado pouco puxado com as cebolas cortadas às rodelas picadas, o dente de alho picado e o azeite”, a que ainda se juntam salsa, pimenta em grão e sal, pode questionar-se a fidelidade em relação à receita original, que é francesa e da região de Bordéus. Quem se quiser aperceber das diferenças, consultará com proveito o “Larousse
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ANDRÉ LETRIA
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Gastronomique”. Atente-se no que é preciso para o cozinhado bordalês: uma lampreia viva; manteiga; cebolas; cenouras; molho de cheiros; dentes de alho; duas garrafas de vinho tinto de Bordéus; conhaque; alho francês; presunto; farinha; sal; pimenta; pimenta de Caiena; salsa; e uma côdeas de pão fritas em manteiga. A receita portuguesa, minhota, quase nada tem a ver com a francesa. Entre nós, a lampreia, actualmente, come-se sobretudo com um arroz de cabidela. Quando não havia arroz, era de outra forma e só o começou a haver em abundância no século XIX. E fica melhor se confeccionada com arroz carolino, pois, pela sua textura, embebe-se melhor dos aromas e sabores do ciclóstomo, do que com o infelizmente cada vez mais usado arroz agulha, cujo ponto de cozedura é mais fácil de ser controlado pelos cozinheiros. É mais fácil encontrarmos pratos de lampreia em restaurantes do Minho (Monção, Melgaço, Caminha, Ponte de Lima, Ponte da Barca, Viana do Castelo...), de Entre-os-Rios, da região de Coimbra, do que em casas de
comida do Sul. Mas quem quiser passar por uma experiência radical, o mais que tem é marcar mesa no restaurante “Lena”, de D. Helena, em Belver, junto à barragem do mesmo nome, onde a lampreia tem a particularidade de ser temperada com coentros, poejos e hortelã da ribeira. Em Lisboa, entre outros, vale a pena ir à Adega da Tia Matilde, Verde Mar e Solar dos Presuntos comer a lampreia. No Minho já a comi, e sempre com muito agrado e boas digestões, na Bagoeira, em Barcelos; nos Camelo, tanto da Apúlia, como de Santa Marta de Portuzelo; na Adega do Sossego, em Paderne, Melgaço; ou na Quinta do Prazo, em Valença, onde a chefe Amaya Guterres, uma notável cozinheira, ousou confeccionar a lampreia com Porto vintage. É servida com um molho sedoso saborosíssimo, o qual permite que o prato seja acompanhado com um tinto, que não o verde que pinta as paredes brancas da malguinha. Poderá ser menos castiço, mas lampreia com um bom tinto duriense ainda jovem é, para os apreciadores, uma coisa que fica na memória. I
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Boavida|Saúde
Beba o seu café e relaxe... Acredite que pode tomar tranquilamente o seu cafezinho sem ter de se sentir culpado. Os resultados dos estudos que têm vindo a ser feitos um pouco por todo o mundo dão nota positiva para o consumo moderado e contínuo de café.
M. Augusta Drago
medicofamília@clix.pt
café é de longe o psico-fármaco mais consumido no mundo inteiro. A história da sua origem não está esclarecida e encontra-se envolta em muitas lendas, mas seguramente é muito antiga e remonta, segundo se julga, aos inícios do século XV, na África Oriental, onde hoje se situa a Etiópia. Conta-se que um pastor da região de Kaffa verificou que algumas das suas ovelhas, que tinham comido os frutos vermelhos do cafeeiro, se mostravam mais alegres e activas. Curioso, ele também quis experimentar o seu efeito e sentiu-se igualmente ágil e alegre como os animais. A sua experiência foi transmitida a outras pessoas e sempre com sucesso até aos nossos dias. Desde logo as pessoas perceberam que a infusão do café lhes melhorava o humor e combatia o sono, pelo que passou a ser apreciada. O seu consumo estendeu-se primeiro ao oriente e, a partir do XVII, à Europa. A percepção errada quanto ao consumo de café, que ainda perdura, poderá eventualmente dever-se ao facto deste fruto ter sido, no seu início, exclusivamente comercializado e muito apreciado pelos árabes. Os cristãos, de então consideravam-na uma bebida impura… O café foi introduzido no nosso país juntamente com os frutos exóticos e as especiarias trazidas do oriente. Existe hoje uma enorme quantidade de bebidas que contêm café em quantidades muito variáveis, as quais dependem das diferenças no processamento das sementes, o que conduz a diferentes concentrações de cafeína. Médicos que fazem investigação no nosso país, como o Prof. Dr. Rodrigo Cunha, do Instituto de Bioquímica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, vêm a público denunciar a desinformação que existe sobre os efeitos mais frequentes relacionados com o consumo de café.
O
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Os estudos realizados indicam, e já foi amplamente divulgado, que o consumo moderado, regular e continuado de café tem um efeito protector face às doenças neurodegenerativas, como a Doença de Parkinson e a Doença de Alzheimer. Isto significa que o consumo considerado baixo a moderado vai de 1 a 3/4 chávenas de café/dia e que esta prática continuada faz com que as alterações degenerativas do sistema nervoso, que são previsíveis com a idade, possam ser adiadas ou até mesmo evitadas. As investigações em curso indicam que nos próximos anos poderemos provar que o café é benéfico para os doentes com insuficiência cardíaca e respiratória, bem como tem efeito na melhoria da resposta individual às infecções. Como se isto não bastasse, o café é um óptimo estimulante do humor, da memória e da atenção. Estudam-se hoje novos medicamentos com base no café para tratar doenças neurológicas como a depressão, a hiperactividade e o défice de atenção das crianças. Convém chamar a atenção para o consumo de cafeína pelas crianças. A cafeína está presente no chocolate e em alguns refrigerantes. O que se recomenda é que uma criança até aos 10 anos não deva consumir mais de 85 mg de cafeína por dia. Só para ter uma ideia, estima-se que um café “expresso” português tenha em média cerca de 75 mg por chávena. Quando tomada em excesso, tanto por crianças como por adultos, a cafeína tem efeitos desagradáveis como nervosismo, agitação e alterações gastrointestinais, entre outras. O café faz parte de uma alimentação rica e variada. Porque melhora o humor e a concentração favorece o convívio social e mantém-nos alerta nos períodos activos do dia, mas como tudo, deve ser tomado de acordo com as condições físicas de cada um. I
ANDRÉ LETRIA
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ClubeTempoLivre > Passatempos Palavras Cruzadas | por José Lattas
VERTICAIS: 1-Içar; Cobertos de matos. 2-Povos primitivos da Península Ibérica; Elogiado. 3-Retaguarda (pl.); Virgula. 4-Lavrar; Com pouca frequência; Alcatrão. 5-Tira para fora; Artimanhas. 6-Prep.; Exorbitas; Suspiros. 7-Lareira; Cruéis; Antiga cidade da Caldeia. 8-Pedra preciosa; Religião fundada por Buda. 9-Pequeno poema da Idade Média; Náiade; Prata (s.q.). 10-A minha pessoa; Líquido muito volátil; Prep.. 11-Idolatrar; Tensos. 12-Papel moeda; Vertigem; Artéria. 13-Ovelhum; Tronco limpo de ramos; Ataque de paralisia (pop.). 14-Girara; Favorito. 15-Adicione; Corporação de vereadores.
2
3
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7
8
9 10 11 12 13 14 15
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES SOLUÇÕES: (Horizontais) 1-ISABEL; LEONOR. 2-ABAR; MARAU; OVOS. 3-LEGAS; RUI; ATIDO. 4-ARARAS; B EMANAM. 5-ROS; FAMINTA; ORE. 6-S; RAIA; AERO; A. 7-M; CA; SUBIR; UT; C. 8-AGORA; SUA; TROVA. 9-TAMARA; D; CEARAM. 10-OBA; TIMIDOS; OLA. 11AS; PÉS; S; MOR; IR. 12-ODRES; UMA; SUADA. 13-SOEZ; DROGA; AROS.
HORIZONTAIS: 1-Duas rainhas portuguesas, muito lembradas pela sua bondade. 2-Pôr abas; Mariola; Sem eles, não há omeletas. 3-Doas; Nome masculino; Confiado. 4Grandes aves trepadoras; Exalam. 5-Estão em “prosas”; Esfomeada; Reze. 6-Fronteira; Elemento com ideia de ar. 7Símbolo químico do cálcio; Ascender; Antiga nota musical. 8-Nesta hora; Transpira; Cantiga. 9-Fruto da Tamareira; Comeram à ceia. 10-Grande vaso de barro, para vinhos, nos banquetes romanos; Medrosos; Folha de palmeira indiana que servia para escrever. 11-Apelido do 3º. GovernadorGeral do Brasil; Hastes; Causa (pop.). 12-Sacos de pele de animais, para líquidos; Certa; Ressumada. 13-Vil; Estupefaciente; Argolas.
1
Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
N.º 13 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado
N.º 13
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SOLUÇÕES
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Cartaz > ClubeTempoLivre
Feminino no Pavilhão
COIMBRA
PORTO
Atletismo
Pintura
Dia 7 - 25º Grande Prémio
até ao dia 28 das 09h às
Btt
Vale Açor, prova aberta a
18h00 - Exposição de
dia 7 às 10h00 - passeio de
todos os atletas, em Vila Vale
Pintura “Caretos” de Maria
BTT na Serra de Valongo em
de Açor; dia 15 - I Trail por
Virgínia Pereira, na Galeria
Gondomar. Concentração
Terras de Sicó, 20km, na
da Agência INATEL do
junto às Piscinas de São
Serra de Sicó e aldeias do
Porto.
Pedro da Cova, org. CCD
Municipal de Gueifães.
Gondomar Cultural.
Concelho de Condeixa-aNova, mais informações na
Cinema
Caminhada
Agência Inatel.
dia 24 às 21h30 - “Filha da
dia 21 às 9h30 - 2ª
Guerra”, de Jasmila Zbanic,
Marcha/Caminhada de 2010
Futebol
M/12, no Auditório da
na Cidade da Lixa (12 km).
Futebol
Dias 7, 21 e 28 - 13ª, 14ª e
Agência Inatel.
Org. CCD Rancho Folclórico
dias 7, 14, 21 e 28 às 15h00 -
de Macieira da Lixa.
realizam-se vários jogos de
15ª jornadas da Taça Inatel
VIANA DO CASTELO
futebol de 11 (Taça Fundação
de Futebol 2009/10.
Atletismo
Voleibol: dia 22 - início da
dia 7 às 10h00 - torneio de
Voleibol
Inatel). Informações na
Liga Voleibol, informações na
Corta-Mato no Parque
dia 5 às 22h30 - Torneio
Agência Inatel de Viana do
Agência Inatel.
Desportivo de Ramalde.
Amizade em Voleibol
Castelo.
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ClubeTempoLivre > Novos livros
CASA DA POESIA
costumes e saberes de
EUROPA AMÉRICA
geração em geração é
para desenterrar um ossário com 2000 anos. Um tesouro
fundamental para preservar
NO TEMPO EM QUE
com implicações médicas e
a memória e identidade de
OUTROS HOMENS VIVIAM
eclesiásticas avassaladoras
um povo.
NA TERRA
que o arqueólogo se apressa
Nesta obra, dedicada a
Novas Perspectivas sobre as
a revelar ao cardeal. Na
Mora, a autora regista
Nossas Origens
tentativa de proteger a sua
momentos marcantes do dia-
Jean-Jacques Hublin e
igreja, o cardeal recorre à
a-dia das várias
ajuda de Stapleton, num
comunidades do concelho
Bernard Seytre 200 pg. | 18,50 (PVP)
de Mora praticados durante
O livro revela as novas
não perder!
décadas. São usos e
técnicas que permitem
ESCRITO(S) NO AR
costumes que permitem
analisar a estrutura
ILUMINE A SUA VIDA
José-António Chocolate 94 pg. + CD | 13 (PVP)
“saborear a alma e as
molecular do esqueleto dos
vivências transmitidas.”.
nossos ancestrais,
Diane Cooper 200 pg. | 17,49 (PVP)
excelente thriller médico a
descodificar os seus genes e
Um livro sobre as leis do
aborda várias temáticas fruto
ARNEIRO DO MAR
reconstituir a sua dieta
Universo - as grandes leis
da vivência do autor e do
Romance ao Entardecer
alimentar de forma a
que regem as
mundos, outras paragens,
Silvério Manata 280 pg. | 15 (PVP)
compreender melhor a sua evolução.
nossas
leituras e lugares.
“O povoado já não é
O Homem é uma amálgama
vidas - e a
Inclui um CD com onze
nenhuma pasmaceira
de espécies marcada pela
forma
canções musicadas e
ocupada por gente soez. (…)
coexistência de diferentes
como as
compostas por João Roque,
linhagens e inúmeras
utilizámos
a partir de poemas que
extinções. O estudo dos
despertaram a criatividade
símios – chimpanzés e
uma vida de sonho. A autora,
deste músico.
gorilas semelhantes
famosa pelos temas
geneticamente ao homem
metafísicos, explica como
pode ajudar a compreender
podemos estar em sintonia
melhor o comportamento
com o Universo e ter uma
humano.
vida plena de paz, amor,
Um livro de poesia que
conhecimento de outros
COLIBRI A LUZ DA CAL AO CANTO DO LUME
para criar
saúde, prosperidade e
Tradição oral do Concelho de
INTERVENÇÃO
sucesso. A qualidade de vida
Mora
Robin Cook 22,90 (PVP)
vem da alma e tudo o que
A autópsia a um jovem
nosso estado de espírito.
os matizes do campo e da
tratado por um quiropata,
Quando entender a sua vida,
cidade aparecem cada vez
leva Jack Stapleton a
as suas circunstâncias e
mais sumidos. As
investigar às medicinas
motivações, será dono do
assimetrias esbatem-se e o
alternativas. Pelo percurso
seu destino.
modo de vida rural funde-se
cruza-se com dois antigos
no urbano, tão asinha
colegas, Shawn (um
quanto o permitem os
arqueólogo de renome) e
atalhos do éter e do
James (um cardeal em Nova
atapetado asfalto. Ser da
Iorque).
província já não é ser
Entretanto, a descoberta de
provinciano.”
um antigo códice num souq
Joaninha Duarte 362 pg. |18 (PVP) A transmissão oral de
no Cairo leva Shawn ao túmulo de São Pedro, na cripta da basílica em Roma, 76
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nos acontece é um reflexo do
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FALAR COM OS MORTOS
feitiços e surpresas,
Konstantinos 384 pg.|20,90 (PVP)
acompanhada por um crocodilo cantante e pelas
SAIBA AFIRMAR-SE!
O autor, especialista em
melodias que não param de
Robert E. Alberti e Michael L.
fenómenos paranormais,
soar.
Emmons 356 pg. | 19,50 (PVP)
descreve passo a passo sete
SINAIS DE FOGO
Um manual recomendado
formas para estabelecer contacto com o mundo dos
ROMA EDITORA
por terapeutas e considerado
espíritos. Um guia que revela as
informação sobre vários
O GRANDE CONCERTO NA
técnicas experimentadas
alimentos (supostamente)
INSECTOLÂNDIA
com sucesso, pelo autor, ao
dotados de efeitos
longo de doze anos e mostra
afrodisíacos que despertam
José Rogeiro e Zé Manuel 38 pg.+CD áudio | 14,90 (PVP)
como podemos usar um
os sentidos e garantem
Quem não
comum aparelho electrónico
prazeres diversos.
gosta de ouvir um grilo
(gravador de cassetes, câmara de vídeo e
A PRINCESA E O SAPO
cantar, ver
computador) para
uma abelha
estabelecer contacto com os
Walt Disney Company 112 pg. | 13,95 (PVP)
mortos, ou simplesmente
As mágicas terras de Nova
flor, acompanhar o voo de
gravar fenómenos
Orleães, em Louisiana,
uma borboleta, perceber o
fantasmagóricos.
servem de cenário ao
vaivém das formigas? E se
uma referência na área da
musical da Disney
estes e outros insectos se
assertividade e da
protagonizado pela princesa
juntassem num grande e
autoconfiança, destinado a
Tiana. A jovem viverá uma
memorável concerto numa
pessoas com dificuldade em
terna história de amor,
quente e bela noite de Verão?
exprimir de forma clara e
COZINHA PARA O AMOR
Um livro da colecção
frontal os seus pensamentos
Andre-Ana Cavelius 80 pg. | 12,50 (PVP)
“Histórias pintadas com
e desejos.
música” cujos direitos de
Aprenda defender
Alimentos gostosos, luz de
autor revertem a favor da
serenamente os seus pontos
velas, champanhe, música e
Operação Nariz Vermelho.
de vista, acredite em si
EVEREST EDITORA
pousar numa
um suave aroma no ar, são
mesmo e nas suas
alguns dos ingredientes
potencialidades, saiba
indispensáveis para um bem
superar obstáculos e
sucedido encontro amoroso.
contrariedades com
Um livro fundamental para
tranquilidade e sem
dar um toque de classe aos
desrespeitar os outros.
seus encontros, que inclui
Glória Lambelho
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ClubeTempoLivre > Cupões e Passatempo NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2010
DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube TempoLivre
2,74
Euros
VALIDADE 31de Dezembro/2010
DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
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VALIDADE 31de Dezembro/2010
Remeter para Fundação INATEL – Clube Tempo Livre (Livros), Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado.
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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
“Crianças do infortúnio” – “os Restavecs” Haiti – século XXI Sem pais / as crianças do infortúnio / vagueiam / como estrelas solitárias / como fósforos acesos / como fogos de bengala / que ardem sem fim / como anjos caídos / sem casas / nem portas / nem janelas[…] / As crianças do infortúnio / vagueiam / semelhantes a flores do abismo [...] / alheias / ao iminente / ocaso da terra [...] / 1 Tarek William Saab , in : Los niños del infortunio, Memorias de la Misión Médica Cubana en Pakistán, Ed. Plaza, Havana, 2006 Trad. MAVF
primeiro som a povoar-me o silêncio foi o do relógio.
O
ciadora. Evito-as. Uma paralisante intensidade do sentir
Uma vez mais, tinha-me esquecido da minha capaci-
impele-me ao silêncio mais absoluto. Aparentemente, tudo foi
dade, ainda que ilusória, de sustar o tempo, fazendo
dito e redito, com grande profusão de palavras. Excepto…
parar o pêndulo de latão do velho relógio Jérémie
Mais do que as imagens, persegue-me a ideia dos órfãos do
Girod, que tinha contado todos os minutos do longo casamento
terramoto, das “crianças do infortúnio”, que sempre são elas as
de uma bisavó por afinidade. Com esse gesto, reiterado vez por
mais desprotegidas nestas catástrofes. Tarek Saab, refere-se às víti-
outra, pensava que detinha, se não o fluir do tempo-vida, pelo
mas do terramoto que em 2005 assolou o Paquistão; eu penso
menos a consciência desse fluir, na fracção de segundo que me
agora nas crianças do Haiti, e mais especificamente, naquelas de
parecesse digna de nela me eternizar durante algum tempo – ape-
quem ninguém fala: nos 300 000 “Restavecs” ou “Restaveks”,
nas durante algum tempo, que a ideia de uma eternidade verda-
sem estatuto oficialmente reconhecido como tal, que por eles
deiramente eterna sempre se me afigurou extremamente enfas-
escrevo, que, duplamente “crianças do infortúnio”, são eles quem
tiante. Uma vez mais, porém, tinha-me esquecido de o fazer.
põe as palavras nos meus dedos atónitos.
A primeira badalada das doze interrompeu-me a leitura; a últi-
Fruto da pobreza extrema reinante no país, reminiscência
ma projectou-me de rompante para o novo ano, cuja chegada esta-
infantil de um antigo regime esclavagista, os “Restavecs” (desig-
va a ser celebrada lá fora, entre o raivar do temporal e ruidosos
nação que só teria lugar num dicionário infernal), termo crioulo,
rituais propiciatórios da passagem de ano. 2010 era o ano em que
do francês “reste avec”, “está com…”, são crianças enviadas pelos
todas as expectativas do mundo iriam tornar-se realidade: a crise,
pais sem recursos para casa de alguém, a quem ficam a “perten-
a fome, a dor e, entre outras coisas, o CO2 iriam desaparecer; desaparecer iriam também todos os guantanamos e corredores da
cer”, na maior parte dos casos, como pequenos escravos, objectos
morte; os dias iriam amanhecer vestidos de riso, sem rostos per-
regime de trabalho pesado será de sol-a-sol, a troco de alguma
versos a povoar as esquinas e os gabinetes dos detentores dos
comida, de uma esteira para dormir e, não raramente, de violen-
poderes decisórios. Não obstante as tempestades de chuva, de vento e de neve, a
tos castigos corporais. [Vez por outra, um mais feliz tem acesso à 2 educação ou foge ao sistema ]. Se do sexo feminino, além de
Europa mantinha a esperança leibnitziana de, em 2010, vivermos,
escrava, é, frequentemente, escrava sexual dos membros mascu-
finalmente, no melhor dos mundos possíveis.
linos da família. Se engravida, é posta na rua. É também entre os
sem valor. Podem não ter mais de cinco ou seis anos, que o seu
No 12º dia, contudo, a notícia deflagra e atinge-nos como
“Restavecs” haitianos que os vizinhos Dominicanos e os benemé-
bomba de fragmentação: “Um terramoto destruiu Haiti”; “Haiti já
ritos americanos da rica Florida recrutam os seus objectos sexuais
não existe”; “Dezenas de milhar de pessoas estão sob os escom-
a preços de saldo.
bros”… Os focos do mundo estão assestados sobre o pequeno país,
Haiti. Século XXI. Ano 2010. Com quem “ficarão” agora os
ou antes, sobre o cadáver do pequeno país que, sob o domínio
“Restavecs” que sobreviveram e que já eram órfãos antes do terra-
francês, no séc. XVIII, chegou a ser a colónia mais próspera do
moto? I
Novo Mundo e actualmente é o país mais pobre de toda a América Latina. Observam-no. Dissecam-no. Fazem-lhe um “post mortem”.
1 Advogado, especialista em Direitos Humanos. Venezuela, 1963
As imagens põem à prova a capacidade de imaginação de
2 Ver: Jean-Robert Cadet, RESTAVEC, from Haitian child to
qualquer realizador de filmes de terror – de que não sou apre-
Middle-class American , 1998 FEV 2010 |
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Os contos do
A hora má
N
ada poderia incomodar mais Julião Abílio do que a convocatória para integrar o júri de um caso judicial. Tanto mais tratando-se de um homicídio passional -segundo os autos, um jovem matara o insolente que lhe tinha roubado a namorada. Em qualquer circunstância, Julião Abílio detestaria o papel de jurado, mas perturbava-o particularmente emitir opinião – de culpado ou inocente – acerca do tipo que iria sentar-se no banco dos réus. Tentou furtar-se alegando doenças impeditivas, deveres profissionais e o facto de conhecer pessoalmente Ilídio Tenim, o falecido, pianista de bar, homem da noite, um folgazão, mas incapaz de magoar uma mosca. Em vão. A nomeação manteve-se e Julião Abílio Rosário Lemos viu-se num gabinete com os outros três jurados: Amilcar Farraguinho, funcionário público; Carolina Freitas Pinto, professora do ensino secundário; e Tomázia Carumas, proprietária de pastelaria no bairro da ocorrência. Seria de aguardar que essa reunião prévia se debruçasse unicamente sobre o delito em causa. A comerciante Tomásia, no entanto, parecia mais preocupada com a onda de assaltos a estabelecimentos comerciais que varria aquela zona da cidade. Sabia-se que o arrojado assaltante se alçava da rua aos apartamentos sobrepostos às lojas, por sabê-los devolutos ou habitados por pessoa só e de idade avançada. Neste caso, adormecia o empecilho com jacto de gás antes de abrir no chão um buraco que lhe permitia o acesso ao estabelecimento por baixo. Sempre assim. Na lista dos últimos meses figuravam duas ourivesarias, uma casa de penhores, a pastelaria de Tomázia – dois sábados consecutivos – uma funerária , a loja de antiguidades , uma agência bancária e a boutique “De Classe”. Homem ou mulher, com ou sem cúmplices, a audaciosa personagem saía como entrava , pela janela violadado do primeiro piso. Tanto movimento pressupunha força braçal, o que, segundo as deduções
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policiais, envolvia a presença de uma corda. Esse, porém, e mau grado a obsessão de Tomázia, era assunto secundário no momento. Encontravam-se ali para contribuir, com a sua inteligência e o seu amor à verdade, para a consumação da Justiça. Confesso que não faço ideia – disse Amílcar, o funcionário. – A acusação baseia-se no facto de o arguido Ermelindo ter afirmado, diante de testemunhas, que havia de matar o malvado que lhe seduzira a namorada. Existem mais provas ou indícios? A ver vamos. É bom lembrar, porém, que juras de mata e esfola são banais e noventa e nove em cada cem não passam daí. Já Carolina Freitas Pinto reservava a opinião para quando observasse, na sala do tribunal, a cara do acusado: – Os olhos, a expressão, o tom da voz dele. Ouvir e ver uma pessoa ajuda a saber do que ela é capaz. Bem sei, há criminosos com cara de anjos e, na inversa, gente com ar sinistro que é incapaz de matar uma galinha. De qualquer modo, não costumo enganar-me nos meus juízos. A primeira audiência ocorreria três dias depois e a reunião servia para que os jurados se conhecessem e trocassem as primeiras impressões sobre o labéu acusatório. Em dois pontos se mostraram desde logo de pleno acordo: cumpria-lhes actuar à altura da delicada função para que haviam sido convocados e crime tão hediondo não poderia ficar sem punição. Ilídio Tenim, o morto, era um homem à beira dos trinta e, se alguns colegas de trabalho o detestavam pela rigidez, outros eram pródigos nos louvores à inteireza do seu carácter. – O Ilídio Tenim conheci-o eu – disse Julião – era um tipo teimoso mas cortava a direito. Não merecia morte assim, apunhalado de madrugada sem que ninguém lhe acudisse. E pergunto eu: só porque se enamorou pela Ivete, realmente linda de morrer, e a tirou dos braços deste Ermelindo? Não sei, não sei. ANDRÉ LETRIA
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Tomázia gostaria, acima de tudo e de todos, de ver preso e julgado o malandrim que surripiava dinheiro e pertences dos comerciantes na zona. Quando o apanhassem, se é que algum dia o apanhavam, então, sim, ela não iria perder uma única audiência do julgamento, de preferência refastelada nas primeira filas. Agora, um tanto a contragosto, desempenharia o seu papel de jurada, consciente da responsabilidade. Deu especial atenção á professora Carolina quando esta dissertou sobre os envolvimentos da paixão que, em si mesma, é um sentimento superior quando interpretada como sublimação do amor. Mas pode escorregar para o ódio e para a violência, lembrou Carolina, e nesse ponto Julião Abílio disse: – Ninguém está livre de uma má hora . Ao contrário do habitual, o julgamento foi breve: três sessões a ouvir advogados e testemunhas sem que se desfizessem dúvidas. A sentença – absolvido por falta de provas – resumiu o
embaraço de juízes e jurados mas não agradou ao réu Ermelindo que reclamou o direito à declaração de inocência. Nesse sentido, seguiria o caso para segunda instância. – E vale a pena? Vem dar no mesmo – considerou Amílcar. – Não é o mesmo – objectou a professora. Esta sentença deixa no ar uma suspeita e mancha a boa imagem de um cidadão. – O que eu receio – cortou Tomázia – é que absolva o canalha que me leva o dinheiro da caixa e nem escapam os pastéis de nata . Silencioso, Julião Abílio meditava. A contradição instalara-se na sua mente, oscilando entre a satisfação e a angústia pele sentença do tribunal. Ninguém está livre de uma hora má – repetiu-se. Escutara a alusão da professora aos impulsos perversos da paixão e gostaria de a ter ouvido falar do desespero. Também o desespero conduz à irreflexão e a actos extremos. Um desesperado é alguém que mergulha no vazio da esperança e na aflição incontrolável. A partir daí pode chegar a hora má. Recordou, sombrio, o momento em que ele próprio, Julião Abílio Rosário Lemos, fiel de armazém e assaltante de horas vagas, pulava de um primeiro andar, consumado novo assalto. Em frente, imóvel, com os olhos redondos de surpresa, encontrava-se Ilídio Tenim, de regresso a casa, findo o serão musical. Julião conhecia-lhe o carácter e a rectidão, ele não deixaria de o denunciar. Nesse preciso momento também no desespero que precipitaria a hora má: dois golpes de navalha, vibrados com a confusa noção de que só se salvaria calando-o de vez. I FEV 2010 |
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Crónica
Kytos João Alferes Gonçalves
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K
ytos significa «obrigado», em finlandês. É a primeira palavra que um estrangeiro aprende e, se visita o país como turista, é também a última. Talvez alguns esforçados comunicadores decorem mais uma meia-dúzia, mas que ninguém tenha ilusões: nunca nenhum estrangeiro aprenderá a falar um finlandês irrepreensível. A complexidade da língua, a par com o Pai Natal, a neve e a Nokia, resumem a visão que o estrangeiro médio tem da Finlândia. Tímidos e reservados por natureza, os finlandeses mantêm no dia-a-dia um low profile que se reflecte em todos os aspectos da vida do país. Às vezes, há atitudes que podem ser confundidas com xenofobia, mas que não são mais do que a reacção de um povo que viveu durante muitos anos espartilhado entre vizinhos poderosos. Eu pensava que conhecia melhor a Finlândia – tanto quanto um jornalista pode conhecer um país onde nunca pôs os pés. Até ao dia em que a Finlândia entrou na minha vida e me deu um neto luso-finlandês. E aí fui percebendo, pouco a pouco, como os finlandeses construíram num país inóspito durante meio ano uma sociedade em que qualquer cidadão do mundo gostaria de viver. Há medidas políticas que são fáceis de replicar noutros países: a oferta de um enxoval completo a cada criança que nasce; as multas de trânsito indexadas ao rendimento pessoal (quem ganha mais paga mais e quem ganha muito paga, mesmo, muito mais); a protecção no desemprego (a assistência social vai bater à porta dos que perdem o emprego para saber que necessidades têm). É uma questão de disponibilidade orçamental e de prioridades políticas. No mesmo plano, os sindicatos na Finlândia são organismos fortes e respeitados, tanto pelo estado como pelas empresas. A sindicalização é um acto natural e inquestionável. Tudo isso é bom, mas o melhor não existe por decreto. No dia em que o meu filho se casou, a madrinha (portuguesa) tinha-se esquecido de levar
qualquer documento de identificação e já estava a antever todas as dificuldades burocráticas a que estamos habituados por cá. Enganou-se. Bastou dizer à funcionária que a madrinha se tinha esquecido dos documentos e perguntar se havia algum inconveniente. Que não, disse ela. Pois se a madrinha estava ali, porque é que havia de duvidar que era ela? Os finlandeses são intrinsecamente honestos e acreditam nas pessoas. Nas zonas de estacionamento gratuito e condicionado, por exemplo, há que deixar no carro um cartão com as horas de início do estacionamento. É claro que ninguém pensa em adiantar o marcador. Nem sequer os estrangeiros. Não com medo da fiscalização ou por vergonha, mas porque sabem que toda a gente age com civismo e não se sentiriam bem com a sua consciência.
U
ma das coisas em que não pude deixar de reparar foi nos parques infantis que existem junto a cada bloco de apartamentos. Mais ou menos um parque para cada três blocos. Têm os equipamentos típicos dos parques infantis, sem esquecer a clássica caixa de areia. Mas o mais surpreendente foi ver em todas as caixas, sem excepção, uma dúzia de brinquedos, desde as pás e os baldes às escavadoras e camionetas. Na primeira caixa ainda perguntei se era esquecimento e se os brinquedos não desapareciam, mas a resposta veio com um sorriso: «É mesmo assim. Os brinquedos são para partilhar». É evidente que os finlandeses não são seres do outro mundo e tudo isto tem explicação. Um dos factores que está na base do seu comportamento responsável e da atitude para com os outros é a educação que recebem. A sociedade finlandesa tem um dos mais elevados índices de leitura do mundo — em especial entre os jovens — e o estado não poupa investimentos na cultura. Sempre que regresso da Finlândia, dou por mim a pensar no tempo que Portugal levará a atingir aquele grau de evolução. Está nas nossas mãos abreviálo. Começando, talvez, por ler jornais. I
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