Tempo Livre Setembro/Outubro 2018

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 13• SET-OUT 2018

culturas mediterrânicas


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ÍNDICE

TL SET-OUT 2018 3

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Entrevista: Yasmine Hamdan

Viajando com livros

Memórias de Júlio Isidro

Desporto: Super Taça de Lisboa

Viagem: Madeira – Festa da Flor

Teatro da Trindade Inatel

Contos do Zambujal

Fotorreportagem: FESTIVAL CIOFF

A Casa na árvore

Entrevista: Joana Lucas

Campeonato gastronómico

Coluna do Provedor | Notícias

Ver Ouvir

Passatempos Agenda

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capa

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Editorial

FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel

Mediterrâneo um Mar que Une

D ilustração

Gonçalo Viana

e Lisboa, onde concluiu o curso de arquitectura, Gonçalo Viana mudou-se para Macau e aí assinou as suas primeiras colaborações no âmbito da ilustração editorial. Viveu alguns anos em Londres, trabalhando como arquitecto, sem nunca perder de vista a ideia de tornarse ilustrador, carreira que iniciou em 2002. Da formação em arquitectura perdurou o vínculo à geometria, que desde cedo lhe pontuou o trabalho gráfico e continua a estruturar o seu trabalho de ilustrador. Tendo já publicado nos principais títulos da imprensa portuguesa, as suas ilustrações são também presença assídua em publicações internacionais, incluindo o prestigiado The New York Times. O seu traço de pendor conceptual foi reconhecido pela Society for News Design, pela revista Creative Quarterly e pela colectânea 200 Best Illustrators Worldwide, da Lüerzer’s Archive. Em 2008, ganhou o Prémio Stuart para melhor ilustração e cartoon de imprensa. Em 2011, as ilustrações para o livro Esqueci-me Como Se Chama foram também distinguidas pela revista 3x3 na selecção anual de ilustração infantil.

P

ortugal é o produto de muitas culturas. Das tribos ibéricas que cá viviam, destas, a maior parte com uma forte influência mediterrânica, a Sul, aos povos que depois cá chegaram, Norte de África, da Grécia, da Ásia menor, os romanos, todos eles eram influenciados genuinamente pela mundância mediterrânica. Os Visigodos, os Suevos, inclusive, e outros, quando se juntaram a nós, sobretudo no Norte, tinham também a sua forte influência mediterrânica. Os primeiros vindos dos Balcãs, numa relação conflituosa com os Otomanos, e os segundos da Germânia, antes dominada pelos romanos. O Mediterrâneo, esse grande Mar-Lago, sempre foi meio de comércio, logo de diálogo, de trocas culturais e, até aos descobrimentos, da Índia chegavam os produtos e as culturas à atual Turquia, Síria ou Líbano, e daqui as influências e esses bens disseminavam-se entre os Povos que ladeavam este mar. Foi também palco de Guerras, mas sempre o comércio se impôs e os Povos se cruzaram. Vivemos momentos em que o Mediterrâneo é palco de conflitos culturais e cenário de morte. As suas raízes, contudo, são dum mundo de sentires e culturas comuns, com mais pontes de que divergências inconciliáveis. Na vida diária. Nos deuses. Na moral e na Ética. Na Ciência. Na Linguagem. Na forma de ver o Mundo. Foi neste contexto, e perante a sua Missão, que a Fundação Inatel se candidatou, junto do CIOFF, uma organização que reúne uma centena de organizações nacionais mundiais, e regula os Festivais Internacionais de Folclore e Arte Popular, a organizar, em Lisboa, um Festival das Culturas Mediterrânicas. Lisboa é, precisamente, a Cidade atlântica mais mediterrânica. Profundamente mediterrânica, e nela juntando, também, as influências africanas e sul-americanas, e até orientais, decorrentes da presença dos portugueses pelo Mundo. O evento juntou, desta vivência mediterrânica, o Folclore, a Música, a Gastronomia, o Cinema, as várias Artes e a Academia, no Parque Primeiro de Maio. Para perceber e viver o Mediterrâneo. Por lá passaram mais de dez mil pessoas, quase cinco dezenas de grupos de danças de 13 países, músicos, artesãos, e muito convívio. O CIOFF considerou que foi o mais importante evento organizado, no âmbito da Europa do Sul, secção a que pertencemos, dos últimos 15 anos. A Inatel continua assim na sua Missão. Promover o Diálogo Cultural, a Paz e o acesso à Cultura de todos.

Jornal Tempo Livre | email: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Lucinda Lopes Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ publicidade@inatel.pt Impressão Lidergraf Sustainable Printing – Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde Tel. 252 103 300 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 € Tiragem deste número 116.857 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt


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Entrevista

Yasmine Hamdan A mulher que fez da música a sua terra prometida A família fugiu à guerra civil do Líbano. Andou de país em país e de hotel em hotel. Quando regressou à terra sentiu que não era de lado nenhum. A música salvou-a. A conversa foi no Festival das Músicas do Mundo, em Sines

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asmine Hamdan encontrou a sua terra, o lugar onde se sentia pertencer, na música. “Por causa da guerra civil Libanesa tive de saltar a minha infância”, diz, na conversa que tivemos com a cantora. “Eu tive de andar de país em país, estabelecer ligações, ao mesmo tempo que me continuava a sentir estrangeira. Dá uma certa liberdade sentir que não se pertence a nenhum lado, mas por outro lado torna-nos sós. A música foi o lugar que eu construí para me salvar”. Nasceu em 1976, quando a guerra civil começava a incendiar o Líbano, os pais eram militantes de esquerda e saíram do país. A família foi vivendo no Dubai, Grécia, normalmente em hotéis. Nas rádios, Hamdan ia descobrindo as músicas da lendária cantora egípcia Umm Kullthum, ao mesmo tempo que ouvia os The Cures, Madonna, Prince e a música local árabe. Em 1991, depois da invasão iraquiana do Kuwait, a família regressou de carro, numa aventurosa viagem, para o Líbano. Hamdan sentia-se como peixe fora de água no seu país. Não se reconhecia nos códigos sociais existentes na chamada, antes da guerra, Suíça do Médio Oriente, em que a riqueza opulenta convivia com a pobreza esmagadora, em que as pessoas

tinham o destino traçado por divisões religiosas e tribais. Começou a estudar Psicologia, mas foi a música que construiu aquilo que viria a ser a sua terra. Encontrou Zeid Hamdan, amigo que tem um apelido igual ao seu, apesar de não ser seu familiar, e começou a cantar em árabe, canções influenciadas pela voz do cantor sírio Asmahan e pelas canções de amor de Abdel Wahab. Músicas que misturavam o árabe com as roupagens da música moderna, do trip-hop e do rock. “Era o fim da guerra civil, tudo parecia novamente possível de fazer, havia muita esperança, e no entanto as marcas da guerra continuavam presentes”, recordou Yasmine Hamdan ao “New York Times”. O grupo da dupla do Hamdan foi baptizada de Soapkills e foi o primeiro conjunto a misturar as culturas arábicas e música moderna ocidental na região. “Queríamos ser considerados um grupo árabe, mas livre, novo e diferente”, confessou a cantora ao jornal norteamericano. O grupo tornou-se uma espécie de porta-estandarte de um movimento underground com novas bandas e uma atitude que outros consideravam de desafio provocador. “Eu não queria provocar pessoas, estava revoltada e havia simplesmente coisas que eu considerava insuportáveis”, diz-nos.

Mas apesar disso, Yasmine sentia-se sufocada em Beirute, onde os horizontes eram, de alguma forma, limitados e sobretudo as condições de vida e de trabalho dos artistas eram precárias. Foi viver sozinha para Paris. Regressando periodicamente ao Líbano. Fazendo a sua vida entre esses dois mundos. Uns anos depois, conheceu o realizador palestiniano Elia Suleiman que tinha usado duas canções dos Sopakils para o seu notável filme “A Intervenção Divina”. Casaram-se anos depois. Quando começaram as revoluções da Primavera Árabe sentiu um vento de esperança: “senti-me estimulada e livre. Senti que a juventude finalmente começava a tomar a palavra e a ter voz. Mas sei que todas as mudanças precisam de tempo e que a situação continua muito complicada na região”. A sua música mistura a cultura árabe em vestes alternativas, cantando o amor e a política, procurando uma terra para aqueles que não aceitam os poderosos de sempre e a herança de miséria no Médio Oriente. “Eu gosto de usar material e influências clássicas com liberdade. Misturar segundas vozes, com diferentes tipos de estruturas de melodias, mais pop, indianas misturadas com influências árabes. Estou interessada num diálogo entre tradição e modernidade”, confessou

a um jornalista norte-americano. Foi nos bastidores do Festival das Músicas do Mundo, onde a sua voz cortou a noite no castelo de Sines, que tivemos esta breve entrevista. É-se sempre estrangeiro num país que está em guerra civil? Depende se partilhamos, ou não, as razões ou a história dessa guerra civil. Mas de alguma forma somos todos estrangeiros nessa situação. Pelo menos, em relação ao que me diz respeito, passados tantos anos há muitas coisas nessa guerra que eu nunca conseguirei aceitar. Adorno dizia que era impossível fazer poesia depois de Auschwitz. É possível fazer poesia e cantar depois do massacre de milhares de refugiados palestinianos nos campos de Sabra e Chatila em Beirute? Sabra e Chatila são histórias terríveis que eu ouvi contar, porque era demasiado pequena na altura em que sucederam. Mas é possível continuar a fazer poesia, porque há sempre emoções, sentimentos e o sentido de que é necessário corrigir e fazer justiça em relação ao que se passou. É preciso perceber que fazemos parte dessa história, somos produto dela e relacionamo-nos com ela, e que temos de tomar posição sobre ela. Para mim, a única forma em que isso faz sentido é nesse espaço livre de criação em que


TL SET-OUT 2018 5 beatriz lorena

posso encontrar pessoas, em que pode acontecer o anti-Sabra e Chatila, em que pode haver poesia, e em que posso tentar compreender as coisas da guerra no Líbano que permanecem totalmente incompreensíveis para mim. Apesar de saber que será sempre uma guerra que ao limite será totalmente absurda e fratricida. Partiu do Líbano muito nova, viveu no Dubai, Grécia e Kowait e depois regressou ao Líbano. O que sentiu nesse momento? Sentiu que fazia parte desse lugar de regresso? Senti muitas coisas, mixed feelings. Por uma parte estava excitada, o Líbano é um lugar muito interessante que transmite muita energia – embora nem sempre positiva – que pode atrair. A mim deu-me a energia para começar a criar música. Mas é verdade que a ideia de pertença sempre me escapou e se calhar sempre me fez sofrer. E provavelmente foi sorte minha, porque podendo ser uma fragilidade permite-te a liberdade de conseguir distanciar-te e ter uma visão crítica das coisas. Não fazer parte de um grupo, não jogar um jogo, não aceitar um código e não ser marioneta disso. Uma espécie de indentidades fraticidas como escrevia o seu compatriota Amin Maalouf. É isso.

“O Líbano é um lugar muito interessante que transmite muita energia – embora nem sempre positiva – que pode atrair. A mim deume a energia para começar a criar música”

Começou a fazer música como? Comecei a fazer música por acidente. Estava desesperada. Não me sentia pertencer a nada. Estava numa boa escola, mas muito burguesa, sentia-me como peixe fora de água. Havia muitos privilegiados nessa escola. Sentia-me um zombie. Não percebia os códigos. Sentia-me diferente. Não me sentia à vontade nem com essa gente, nem comigo mesma. Penso que procurei um lugar e com a música encontrei alguma coisa que me permitiu não só ter um sítio de refúgio, como encontrar um lugar onde pudesse existir e afirmar-me. Toda a gente que conhecia à minha volta tinha herdado o que eram; não falo só do dinheiro e dos conhecimentos sociais, mas da própria mentalidade. Eu não queria isso. Sentia-me um bocadinho um electrão livre. Eu sempre desejei fazer música mas era muito tímida. Quando comecei a fazer música ultrapassei a minha timidez mas também consegui afirmar-me enquanto mulher. Fazia escolhas que quebravam com a tradição e com aquilo que esperavam de mim. Foi também feito como uma provocação o facto de começar a cantar em árabe uma música que não era vista como sendo árabe? As pessoas viram-na como uma provocação porque havia

enormemente de preconceitos. É preciso ver que o Líbano era pequeno e que eu toquei música árabe que era suposto ser quase sagrada e em que não é permitido mexer. Posso ter sido provocadora, mas eu não queria chocar as pessoas. O que acontecia é que eu sentia uma verdadeira rebelião em mim: havia coisas que eu não conseguia aceitar. Não queria aceitar determinadas leis, não queria aderir à autocensura. Mais tarde, eu compreendi que procurei sempre essa liberdade. E quando nos meios de comunicação árabes me diziam que eu provocava, que era assim e assado, eu pensava que não era uma história de provocação. Era simplesmente porque eu não aceitava as coisas e portanto eu tratava de propor outras coisas. Batime sempre por essa liberdade. Vivi num país árabe e estive algumas vezes no Sahara Ocidental. Ao longo dos anos senti que havia uma espécie de retrocesso em relação ao papel das mulheres, acha que isso é verdadeiro? As mulheres são muito centrais no mundo árabe. O problema é que o mundo árabe foi feito refém pelos homens, depois pela religião e finalmente por um sistema corrompido a vários níveis. Não se trata simplesmente de uma guerra entre homens e mulheres – é um todo. Eu acho que a mulher foi colocada como um problema simplesmente para distrair, porque realmente as pessoas que estão no poder no mundo árabe, tirando depois das Primaveras Árabes, estão no poder desde sempre e por herança. Fizeram as guerras para estarem no poder. Em conclusão, é uma dominação política e económica em que a mulher surge como um suposto problema, em muitos casos para distrair. A religião e a mulher são assuntos delicados com os quais é possível manipular as massas. Para ser uma mulher forte no Médio Oriente é preciso uma enorme qualidade e ser 100% forte. Por isso há muitas mulheres excepcionais e até homens. Há pessoas que se batem por um futuro melhor e por pontos de vistas progressistas. Para mudar é necessária uma intervenção divina (nome de um dos filmes mais conhecidos de Elia Suleiman, realizador palestiniano e companheiro da cantora)? (Risos). Penso que o mundo árabe é uma intervenção divina, só não sei por qual Deus. Penso que o facto de tentarem separar homens e mulheres, homossexuais e heterossexuais é para dividir para reinar. É isso que querem as pessoas que estão no poder. Precisam de nos dividir para ficarem com os seus privilégios. É preciso muitos homens e mulheres para conseguirmos libertar a sociedade de uma determinada maneira. Às vezes perguntam-me o que penso da repressão de um determinado grupo. Eu sinto-me próxima, identificome, sinto-me triste em relação aos homossexuais que são perseguidos, aos jornalistas que são presos ou aos curdos que são reprimidos na Turquia. Estamos todos juntos, queremos todos uma sociedade mais progressista. Não a chamo demo-liberal, mas de facto mais igualitária. Penso que é bom unirmonos. Procuramos todos um certo ideal em que certos valores são prioritários. De formas diferentes, esse combate vai encontrar-nos a todos, fazendo esse combate comum.

Nuno Ramos de Almeida


fotorREPORTAGEM

6 TL SET-OUT 2018

Cerimónia de Abertura do Festival CIOFF Culturas Mediterrânicas

FESTIVAL CIOFF Culturas Mediterrânicas

Presidente da Fundação Inatel e presidente do CIOFF Mundial, Philippe Beaussant, na Cerimónia de Abertura do Festival CIOFF Culturas Mediterrânicas

Folk N’ROLL

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, numa visita guiada pelo Festival na companhia do presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino

De 12 a 16 de setembro o Parque de Jogos 1.º de Maio Inatel foi palco do Festival CIOFF Culturas Mediterrânicas

C

inco Dias. 12 Países convidados. Mais de 30.000 participantes. 52 Grupos nacionais e internacionais, e mais de 1000 artistas. Juntos num único espaço onde se celebrou a tradição, a cultura e a tolerância, onde o aplauso não escolheu país, língua ou cor. O Festival CIOFF Culturas Mediterrânicas deu um passo na aceitação da diferença e foi distinguido, por esse e outros motivos, durante o Congresso Mundial do CIOFF, realizado em Ufa, Rússia, como umas das 3 boas práticas do CIOFF. Maria João Costa (texto) Beatriz Lorena (fotos)

Concerto de Ricardo Ribeiro e Rahib Abou - Khalil Quartet

Chemerika Folklore Choir (GB)

Animação de Rua

Coros y Danzas Mazantini de Ciudad Real, Espanha

Concerto de Joana Amendoeira

Grupo Folclórico de Faro

Sines Corfu – Educational & Cultural

Youth Folk Dance Ensemble, Turquia

Encerramento do Festival CIOFF



8 TL SET-OUT 2018

Viajando com livros

ALMADA NEGREIROS, IDENTIFICAÇÃO COM LISBOA

A relação com a cidade que lhe abriu o caminho para a arte, a literatura e outras formas de intervenção e que também lhe consagrou a memória Por António Valdemar

A

diversidade de percursos de Almada Negreiros, o artista plástico, o poeta, o romancista, o novelista, o dramaturgo e o panfletário tem uma relação de diálogo com Lisboa. Foi tão íntima essa relação física e cultural que se poderia dizer que Lisboa era a sua casa. O tempo de Almada Negreiros em Paris foi rápido e disperso. Já o tempo de Madrid foi mais demorado e teve consequências decisivas na sua obra. Uma das mais relevantes terá sido o contacto direto e profissional com a arquitetura permitindo-lhe, no regresso a Portugal, integrar-se nas equipas que realizaram grandes edifícios e incluíram trabalhos de Almada com dimensões assinaláveis. O Chiado, com a sua vida cultural e social, ficou associado aos primeiros e mais incendiários anos da afirmação de Almada Negreiros. Apresentou-se, em 1912, no Iº Salão dos Humoristas, que decorreu no Grémio Literário, que reuniu desenhadores, pintores e escultores jovens que introduziram a arte moderna em Portugal. E quando não é no Chiado é nas suas fronteiras que o deparamos nos momentos mais exuberantes e mais provocatórios. Realizou, a primeira exposição individual, em 1913, na Escola Internacional, na rua da Emenda. A Ilustração Portuguesa referiu a exposição, reproduziu alguns desenhos, publicou a fotografia de Almada. Entretanto, Fernando Pessoa escreveu sobre Almada: «Eu creio que ele tem talento. Basta reparar que ao sorriso do seu lápis, se liga o polimorfismo da sua arte para voltarmos as costas a conceder-lhe inteligência absoluta.» Começou a visibilidade pública de Almada. Mas começou, sobretudo, o convívio e cumplicidade com Pessoa. Abria-se o caminho para o Orpheu. Almada viveu, escreveu, desenhou, pintou, na rua do Alecrim, uma das fronteiras do Chiado. Em 1915, o ano do Orpheu, tinha 22 anos. A colaboração no Orpheu limitou-se a pequenos textos com o título genérico Frisos e que se podem inserir na área moderada do primeiro número daquela revista. As garras e as asas de Almada vão evidenciar-se no Manifesto Anti Dantas, na Cena do Ódio e na Engomadeira. O Manifesto Anti Dantas tornou-se a ofensiva mais feroz contra Júlio Dantas figura do maior destaque na literatura, no teatro e na política, ao mesmo tempo que arrasou outras personalidades e atingiu as instituições mais conceituadas.

A renovação da língua portuguesa ocorreu com a Ode Triunfal e a Ode Marítima de Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos e com a Cena do Ódio de Almada Negreiros que está em paralelo com a desconstrução criativa e o furor épico de Álvaro de Campos e a Engomadeira, também de Almada Negreiros. Modelo da escrita e da inovação narrativa a Engomadeira assinala um outro ciclo perante a língua e o imaginário de Eça de Queiroz, que já se demarcara de Camilo e de Herculano. E o episódio da chave antecipou o surrealismo. Em França e em Portugal. A rutura com a escrita tradicional vai prosseguir no romance Nome de Guerra, a principal obra de ficção de Almada que também denuncia os comportamentos institucionalizados. «Temos sempre – adverte – de perder o nosso tempo em desfazer o bem que os outros fizeram por nós». Em 14 de Abril de 1917, Almada apre-

sentou no São Luís (antigo Teatro República) O Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX, uma explosão de energia para romper a indiferença e sacudir a rotina. Também, em 1917, em Novembro participou na revista Portugal Futurista, outro marco fundamental que reuniu a colaboração de Robert e Sonia Delaunay, de Marinetti, de Apollinaire, de Blaise Cendrars e de outras personalidades do futurismo internacional. Publica os manifestos futuristas de Almada e Álvaro de Campos. Um dos focos da polémica introduzida pelo Portugal Futurista foi o texto de Almada Negreiros Saltimbancos – «contrastes simultâneos», de cunho intersecionista. Desencadeou escândalo ao pormenorizar: «soldados em exercício na parada do quartel, garanhões militares em ato de cobrição de éguas, paisagem rural e paisagem de circo». Portugal participava na guerra e esta alusão direta ao que se verificava com

as atividades do Corpo Expedicionário português levou a polícia a apreender o primeiro e único número do Portugal Futurista. Um mês depois, Diaghilev e companhia dos Bailados Russos ao chegarem a Lisboa são apanhados de surpresa com a revolução de Sidónio Pais. Apesar disso realizam dois memoráveis espetáculos, no Teatro de São Carlos e no Coliseu de Lisboa. Em Abril de 1918, Almada Negreiros fez a coreografia e desenhou os figurinos do bailado A Princesa dos Sapatos de Ferro. Pisou o palco e interpretou os papéis da Bruxa e do Diabo. Vai ser ainda no Largo do Calhariz, outra fronteira do Chiado, que Almada proferiu na Liga Naval, em Maio de 1921, a conferência A Invenção do Dia Claro, um ano depois publicada em livro com a chancela da Olisipo, uma das aventuras editoriais de Fernando Pessoa. Estabeleceu o reencontro da poesia com o desenho e a pintura; aprofundou a reflexão sobre a linguagem e através dela sobre a condição humana. Outra proclamação futurista de Almada Negreiros verificou-se no Chiado Terrasse, a 18 de dezembro de 1921, no Comício dos Novos. Presidiu Gualdino Gomes e, entre a assistência perplexa, via-se a Preta Fernanda, dona da mais famosa casa de prostituição. Foi um dos escolhidos para decorar a Brasileira do Chiado que, juntamente com o Bristol Club, promoveu em espaços públicos a consagração da arte moderna. Expôs, ao regressar de Espanha, nos anos 30, na UP, uma galeria na rua Serpa Pinto, dirigida por António Pedro, onde Vieira da Silva apresentou os primeiros trabalhos. A editorial Ática, fundada por Luís de Montalvor, um dos participantes do Orpheu – e autor do título da revista – teve a primeira sede na esquina da rua do Carmo, com a rua Garrett. Ao lançar, a partir de 1942, a obra ortónima e heterónima de Fernando Pessoa, Montalvor colocou na capa de cada volume um desenho de Almada, um Pégaso, símbolo mitológico e vivo da poesia em movimento. A amizade com Fernando Amado incorporou-o na história do Centro Nacional de Cultura ao debater, em 1946, a «posição do artista na sociedade». O vínculo de Almada a Lisboa decorreu nos seus cafés, nos seus teatros, nos seus clubes, nas suas livrarias, nos seus museus, nas suas galerias e nas suas próprias esquinas. Sem procurar fazer um levanta-

mento exaustivo, acrescento que residiu mais de 30 anos no Rato. Morava na rua S. Filipe Nery e tinha atelier na rua Rodrigo da Fonseca. Está representado nos mais diversos bairros e, em muitos deles, em contacto diário com a população e com todos os que chegam a Lisboa. Retratado pelo pintor Júlio Pomar e pelo cartoonista António, em duas estações do Metro. Pinturas e desenhos de Almada, transpostas para azulejo, revestem outra estação do Metro. No Porto de Lisboa, as duas gares marítimas, a de Alcântara e a da Rocha de Conde de Óbidos, têm frescos de Almada, com alusões ao Tejo, à expansão marítima, à história de Lisboa, a motivos e figuras celebrados por Cesário Verde, o poeta da cidade e um dos mestres da geração de Orpheu, em especial Fernando Pessoa e Almada Negreiros. Na Avenida da Liberdade, na antiga sede do Diário de Notícias, o primeiro edifício construído de raiz, em Portugal, para instalar um jornal e todos os seus departamentos ficou com a marca de Almada: na fachada e nos frescos do grande átrio e, ainda no rés-do-chão, no espaço de acesso à redação e administração. Próximo no Hotel Ritz, três grandes tapeçarias, com recriações do Centauro, ocupam parte do salão principal. Nas Avenidas Novas, a igreja de Fátima, o primeiro edifício de arquitetura moderna na arte religiosa, ficou com vitrais de Almada Negreiros. Perto, a Fundação Gulbenkian tem logo no átrio o painel Começar, a síntese do encontro de Almada com a geometria. No Campo Grande, na cidade universitária preencheu, com a representação de figuras tutelares as fachadas da Reitoria, da Faculdade de Direito e da Faculdade de Letras. Nesta última destacam-se Fernando Pessoa e os heterónimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Ainda não ganhara dimensão nacional e internacional Bernardo Soares. Apenas se conheciam fragmentos do Livro do Desassossego. A memória de Almada Negreiros perdura nos museus e em grandes edifícios públicos que marcaram a transformação e expansão da cidade, num diálogo com as vanguardas europeias. Deu o nome a uma rua, nos Olivais; e a uma escola, na Charneca do Lumiar. Está consagrado num monumento (próximo do viaduto Duarte Pacheco) e noutro monumento, na avenida Ribeira das Naus, junto ao Tejo, uma estrutura de ferro que incorpora o auto-retrato de 1949. Para Almada, Lisboa constituiu a arena dos grandes combates, uma das linhas de intervenção do grupo e da geração de Orpheu, num momento histórico da cultura portuguesa. Lisboa foi a casa de Almada, onde cabia a ambição de atingir o mundo.


TL SET-OUT 2018 9

A Casa na árvore Conjunto de Pimenteirasbastarda fotografado numa propriedade privada no Algarve

Como a Árvore da resina do Peru venceu a “rainha das especiarias” Por Susana Neves

O triunfo da bastarda

L

eio numa enciclopédia francesa, de 1803, que as folhas da Pimenteira-bastarda (Schinus molle L.) uma vez partidas conseguem mover-se na água. Surpreendida com esta informação, e querendo testar a sua veracidade, vou de propósito à Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, onde se encontra uma bonita árvore desta espécie de Anacardiácea (à qual também pertencem, entre outros, o cajueiro, o sumagre e a manga), e com o máximo de cuidado colho uma só folha. Feita a experiência em casa, observo os pedaços de folha a deslizarem na água, cada um a seu tempo e em diferentes direcções, como se um brevíssimo suspiro os empurrasse, enquanto à superfície da água, uma mancha quase imperceptível alastra. Esta mancha é, na realidade, “o suco resinoso que se escapa subitamente da abertura dos veios rompidos nas folhas”, e por impulso as faz movimentar. Apesar desta singularidade botânica nos lembrar que a Pimenteira-bastarda ou Falsa-pimenteira é a Árvore da Resina do Peru – outrora usada no embalsamamento dos reis Incas, segundo relato seiscentista do missionário jesuíta e escritor espanhol Bernabé Cobo (1582-1657) –, o nome comum pelo qual ficou conhecida baseia-se no facto dos seus frutos terem sido usados como pimenta barata ou, em alguns casos, para falsificar as pimentas verdadeiras, como a Piper nigrum L., originária da Índia. A Pimenteira-bastarda, também chamada Pimenta rosa, não é uma liana, trepadeira, como a pimenta verdadeira (que inclui várias plantas pertencentes à família das Piperáceas), nem o seu fruto, que consumimos geralmente misturado com o de outras pimentas, chegou a valer ouro e prata como aconteceu ao fruto da “rainha das especiarias”. No entanto, na cultura andina pré-hispânica e mesmo durante

o período de colonização espanhola do Peru, os índios tinham-lhe muito apreço, consideravam-na “árvore sagrada”, e não só pela resina que libertava. Era “uma árvore de muitas virtudes”, entre as quais, a de servir para fazer “vinho”, explica José de Acosta (1540-1600), missionário jesuíta e naturalista espanhol, no livro Historia Natural y moral de las Indias, publicado em Marselha, em 1590. Numa obra posterior, intitulada Primera parte de los Commentarios Reales de los Incas, editada em Lisboa, em 1609, o Inca Garcilaso de la Vega (1539-1616), designa-a por Arbol Mulli e acrescenta-lhe outras utilizações. A partir dos seus frutos, os índios produziam não só uma bebida fermentada mas também mel e vinagre. Através das palavras de Garcilaso de la Vega, primeiro autor mestiço no Peru colonizado, percebe-se que os frutos da Pimenteira-bastarda não eram o condimento preferi-

do dos índios, que temperavam guisados, cozidos e assados com uma grande variedade de pimentos. A função principal da Arbol Mulli era a medicinal, podendo ser prescrita no tratamento de doenças do aparelho urinário, através da ingestão da bebida fermentada dos seus frutos, ou a partir de uma decocção das folhas como desinfectante e repelente, aplicado directamente na pele para afastar a sarna e curar chagas antigas. Usavam-se ainda os ramos mais tenros como pauzinhos para limpar os dentes. Crescendo na alta e árida montanha ou na selva andina quase impenetrável, onde muitos missionários se perdiam, sendo necessário subir ao cimo das árvores mais altas para avistar o caminho, a árvore Mulli, Molle ou Pirul (tal como é conhecida no México onde foi aclimatada em meados do século XVI), pela sua grande resiliência em solos pobres, esforço reprodutivo (as

Pormenor dos frutos e folhas da Pimenteira-bastarda

árvores fêmeas adultas chegam a produzir dez mil frutos por ano) e capacidade de inibir bioquimicamente o crescimento de outras plantas (alelopatia), tornar-se-ia indispensável à sobrevivência dos índios e conseguiria expandir-se, renascendo depois da produção de carvão ter condenado ao abate bosques inteiros. A arbol del Molle podia não ser o “ouro” do Império Inca, não só porque havia ouro em abundância mas também porque a coca ocupava esse lugar entre as plantas. Porém, tal como chupar bolas de coca permitia ao homem do correio Inca percorrer maior número de quilómetros (as distâncias eram medidas em cocadas, ou seja, em função do número de bolas de coca consumidas), a bebida fermentada a partir dos seus frutos (chicha de Molle) associada a outras substâncias tóxicas, facilitava a viagem para a vida eterna, desde logo porque com ela se drogavam as crianças destinadas aos sacrifícios. Uma utilização que confirmava o seu estatuto de “árvore da vida”, desempenhando em algumas lendas andinas também o papel de justiceira capaz de repor o poder dos índios face à violência exercida pelos colonizadores espanhóis. Numa dessas lendas, um índio Tomatito, chamado Teneke, apaixona-se por Marisol, uma bela jovem espanhola. Ao saber dos seus encontros, o pai de Marisol não só afasta a filha do jovem índio, como depois de ele morrer de desgosto e renascer sob a forma de uma Molle, manda cortar a árvore e matar todos os seus rebentos para que nunca mais voltem a nascer. Porém, não é bem-sucedido, porque Marisol regressa a Espanha levando consigo muitas sementes, e por todo o lado onde passou, nasceram novas árvores. Susana Neves [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]


10 TL SET-OUT 2018

MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO

MÚSICA COM ALMA

Em dois dias, o mundo perdeu a Rainha da música soul e o mundo cá de casa, ficou mais pobre com a partida do Rei da guitarra-rock. Aretha Franklin e o Phil Mendrix continuam a fazer-se ouvir na memória de tantos de nós.

“N

dr

dr

ão foi em vão” é uma frase do tema “Calmas são as imagens” , composto por Filipe Mendes, muito antes de ser chamado Phil Mendrix. A nossa geração sabe o

que valeu a pena. Não foi em vão que o Filipe viveu e fez viver o rock português durante mais de meio século. As suas mãos nas cordas da guitarra foram sempre muito mais estimulantes para nós, do que os seus ídolos, deste Jimmy Hendrix a Eric Clapton. Porque ele era dos nossos e estava cá. No final desta sua estrada que é a minha e da geração dos heroicos anos 60, recordo os Chinchilas em 64 a tocar no Programa Juvenil da RTP, num tempo em que o rock era atentado à paz e à união nacional. Lá estava eu, engravatadinho a apresentá-los. E o Festival de Música Moderna da Costa do Sol que o grupo venceu, tudo debaixo de olho dos protetores de boca do regime. Assisti ao Concurso Yé-Yé no Monumental a abarrotar, com apresentação de Henrique Mendes. Lá estavam os Chinchilas e o Filipe de cabelo cada vez maior. Em 1971 foi Vilar de Mouros com Elton John e Manfred Mann, os Chinchilas e o entusiasmo do Filipe, formados à pressa para o festival. Estive com eles, eu que fui o moço forçado para apresentar a vedeta britânica. Os portugueses cantavam “I’m a believer” dos Monkees, depois do disco de 45 rotações que os lançou nas radiotelefonias. Passou por tantos grupos este homem tranquilo no trato, doce na voz, mas gritante nos acordes da guitarra: Os Fluido, os Psico, os Roxigénio que apresentei na Febre de Sábado da Manhã e no Passeio dos Alegres e os Charruas que resistem ao tempo, não perdem de ouvido os anos 60, onde ele era convidado quase obrigatório. Onde fosse preciso e houvesse algo de original e diferente para mostrar, lá estava o Filipe rebaptizado Phil Mendrix, com os Ena Pá 2000 e os Irmãos Catita. O Filipe Mendes falava baixo e tocava alto. Consta que dedilhou a guitarra quase até ao último sopro. Pela minha parte e com estas amputações cada vez mais permanentes nos meus dias – sim porque nós só temos vida em sintonia com os outros – sinto uma angustiante falta de Roxigénio para continuar a respirar. Hoje o Phil, amanhã mais um de nós até ao adeus no singular. Não quis estar nas cerimónias de despedida do rock’n’roll man e fui para longe. No fundo, poupei lágrimas ao vivo, quando “Calmas são as imagens e o canto

da noite” se aproxima. Mas estive no concerto no dia seguinte ao funeral que seria do Phil, e onde ele não já não foi tocar. Outros, os Charruas e amigos, fizeram com que o guitarrista do sorriso franco estivesse em palco. Foi em Santarém num largo ao ar livre e numa noite mágica, porque morrer não é acabar. O Filipe/Phil Mendrix não faltou ao encontro marcado há meses na zona velha da cidade, numa noite de convívio com os sons dos anos que nunca passam. Os Charruas, com o rock’n’roll man como sócio honorário da banda, teriam nos seus solos elétricos e eletrizantes, momentos altos do concerto. Lá estivemos todos para aplaudir o artista o que não estava, estando, durante hora e meia de música da boa, daquela que como certos vinhos (e há enólogos nos Charruas) apuram com o tempo. As suas músicas favoritas passaram pelo palco e encheram a praça que vibrava entre lágrimas e aplausos. Amigos e admiradores fizeram quilómetros para o aplaudir de pé, a Kátia Guerreiro que é uma grande fadista e que faz da memória grata um ponto de honra, cantou a fechar com um coro de todos nós, o “Hey Jude”. Fui chamado de improviso para falar do Phil que conheço desde os anos 60, e consegui disfarçar, muito mal, a dor que me travava a voz. Saí do palco a exigir “Respect” por todos os artistas de todo o mundo e em particular deste nosso. Quando ainda vibravam nos nossos corações os solos de guitarra deste amigo

que não perdemos, partia também Aretha Franklin. Aretha está para a eternidade como a rainha da soul music, a tal que vem da alma para a alma de quem a quiser sentir. Guardo-a na minha memória porque nasci na rádio com o “Respect” um single da editora Atlantic que passei até à última espira. E depois, a emoção quando recebia novos singles com temas inesquecíveis como “Chain of fools”, “Think” ou a incomensurável oração “I say a little prayer”. Esta senhora que nos deixou, ficando connosco para sempre, veio dos coros de Igreja para fazer de cada palco por onde passou, catedrais de respeito, solidariedade e amor pelo próximo. Jamais esquecerei o álbum “Young, gifted and black” onde a cantora se assumia jovem, dotada… mas preta. Para quem perdeu a mãe aos dez anos e cujo pai, o reverendo Franklin foi assassinado a tiro, a condição de mulher negra foi uma montanha que ela escalou com enorme coragem. No filme de vida que acontece aquando da morte de alguém que amamos, guardo a Gala dos Grammys onde se atreveu a cantar a ária Nessun Dorma da ópera Turandot de Puccini em substituição de Luciano Pavarotti. Sublime atrevimento. E ouço como se fosse agora, o dueto com George Michael, “I knew you were waiting for me”. De facto é possível amar vozes e comungar almas com pessoas que nunca conhecemos e estarmos com elas de mão dada. Aretha Franklin faz parte de mim, uma ínfima parte, porque é de tantos milhões

de almas que cresceram com ela. Obama que sorriu em 2009 quando da sua tomada de posse com a rainha a cantar para ele, por ele e por uma América a todas as cores e sem muros que envergonhem a sua liberdade. Obama que chorou – e que bem que fica ver um homem poderoso, deixar-se envolver pela ternura das boas almas – no Kennedy Center na homenagem a Carole King, quando Aretha cantou “You make me feel like a natural woman”. Quando me sinto em baixo, revejo este momento e se chorar, que choro sempre, fico com outra esperança num mundo com mais “Respect”. Aretha não partiu, e isto não constitui o lugar-comum dos elogios fúnebres. Dela guardo os singles de 67 e 68 quando também eu tinha a alma cheia de esperança de viver na rádio uma era de comunicação feita de humanidade. Tenho a certeza de que a eternidade subiu ao paraíso, onde a voz de Aretha Franklin será acompanhada por um enorme coro de anjos. É bom, reconforta e suaviza a ideia da última viagem, imaginarmos que nas estrelas, Aretha e o nosso Filipe/Phil, se juntaram a Otis Redding, Marvin Gaye, Whitney Houston, Natalie Cole, Amy Winehouse, Billie Holiday, George Michael, Michael Jackson, e tantos outros. Acabados de se apresentarem, quero acreditar, que vão acontecer diálogos musicais, brilhantes como as estrelas que já ocupam o passeio celeste da fama. Quando os amigos partem fica um vazio irrespirável, mas como a morte não existe... há sempre uma manhã que nasce.


APOIA

Texto

Michael Frayn

Encenação

Fernando Gomes

A PIOR COMÉDIA DO MUNDO Com

Ana Cloe, Cristóvão Campos, Elsa Galvão, Fernando Gomes, Inês Aires Pereira, Jorge Mourato, josé Pedro Gomes, Paula Só e Samuel Alves Coprodução

Teatro da Trindade INATEL e Força de Produção

A partir de 12 set COPRODUÇÃO

PARCEIROS TEATRO DA TRINDADE INATEL

APOIOS

MEDIA PARTNERS

M12

2018

© Pedro Macedo / Framed Photos


12 TL SET-OUT 2018

Entrevista Joana Lucas

Turismo e restauração apropriam-se de uma certa ideia de Dieta Mediterrânica A Dieta Mediterrânica foi inscrita na lista de Património Imaterial da Humanidade em 2010 por iniciativa de cinco países, cada qual com a sua comunidade representativa (Espanha/Soria, Itália/ Cilento, Grécia/Koroni, Marrocos/Chefchaouen, Chipre/Agros), e reinscrita em 2013 para incluir outros dois (Croácia/Hvar e Brac e Portugal/Tavira)

J

oana Lucas, doutorada em Antropologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, procura desvendar os efeitos dessa classificação. No seu pósdoutoramento, esta investigadora, que faz parte do CRIA-IUL, debruçase sobre a patrimonialização da Dieta Mediterrânica, estudando os casos concretos de Tavira e Chefchaouen. Que efeito se nota em Tavira da classificação da Dieta Mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade? Tavira, enquanto comunidade representativa da candidatura da Dieta Mediterrânica em Portugal, funciona hoje em dia como a face mais visível e mediática desta patrimonialização, nomeadamente através da realização anual da Feira da Dieta Mediterrânica que teve em 2018 a sua sexta edição. Para além desta dimensão, assistimos a diversas apropriações de uma ideia de Dieta Mediterrânica por parte dos sectores do turismo e da restauração, que obviamente terão toda a legitimidade para o fazer. E em Chefchaouen? Em Chefchaouen, ao contrário de Tavira, não existe nenhum evento institucional que promova a Dieta Mediterrânica. A dimensão institucional está presente por exemplo na tentativa de museificação da Dieta Mediterrânica através da construção do “Musée Municipal de l’alimentation Méditerranéenne”, que abrirá nos próximos meses. Foram

igualmente levadas a cabo uma série de iniciativas ligadas à promoção e à divulgação da Dieta Mediterrânica, tais como a reabilitação dos fornos tradicionais de pão espalhados pela medina, a definição de circuitos turísticos que contemplem a visita a estes fornos e, numa outra escala e com um impacto bastante diferente, a implementação de uma feira com produtos agrícolas da região (Souk Beldi), que funciona duas vezes por semana e que opera como canal privilegiado de contacto directo com os produtores agrícolas locais. Qual o motivo pelo qual escolheu estes dois territórios em específico para fazer este estudo? Entre as sete cidades que encabeçaram a candidatura da Dieta Mediterrânica à UNESCO em 2013, Tavira pareceu-me uma escolha óbvia e pertinente: o facto de ser a representante da candidatura portuguesa permitir-me-ia procurar perceber a operacionalidade e a gestão de um discurso e de uma narrativa de pertença que ora procura capitalizar uma identidade atlântica, ora se vira para o mediterrâneo na tentativa de estabelecer conexões e rentabilizar uma pertença que se pode inscrever, estrategicamente, nas lógicas da economia política da patrimonialização que vai tendo lugar em muitos lugares do Mediterrâneo. A escolha de Marrocos, o único país não europeu a integrar a candidatura aprovada pela UNESCO em 2013 (e depois em 2015), pretendia igualmente aferir sobre a gestão da nova ordem patrimonial num

contexto de aproximação à Europa e ao Mediterrâneo que desafia, à semelhança de Portugal, a própria geografia nacional, essencialmente atlântica, e o isola em relação aos restantes países africanos do mediterrâneo. Acabei por escolher os países – e as suas cidades representativas perante a UNESCO – que me pareceu que mais desafiavam as categorias e as cartografias mais óbvias de uma ideia de mediterrâneo geograficamente construída. Paralelamente, e no caso de Chefchaouen, interessava-me perceber como se operava, num país de maioria muçulmana e inscrito culturalmente na região do Magrebe, a gestão de uma candidatura transnacional essencialmente ligada a uma ideia de sul da Europa e seus referentes identitários. Há quem diga que o espaço mediterrânico vai até aonde vão as oliveiras, mas há países, como Egipto, Malta ou Israel, que usam muito pouco azeite na cozinha. Afinal, onde começa e acaba o espaço mediterrânico? Não sei onde começa e acaba o espaço mediterrânico. Ao longo dos últimos anos tenho contactado com a opinião de geógrafos, agrónomos, arqueólogos e antropólogos em relação ao assunto e cruzado diferentes visões e perspectivas em relação a essas fronteiras – que tanto podem ser reais como imaginárias. No entanto interessa-me, mais do que definir essas fronteiras, perceber que discursos são mobilizados – nacional e localmente – em relação a elas por diferentes actores sociais: por um lado quais são os discursos que surgem

ligados a esferas do poder e com origem não raras vezes em estratégias políticas e geopolíticas de afirmação dos territórios e dos estados nação num determinado momento histórico; por outro lado perceber como se situam nesses espaços as pessoas que os habitam e que discursos produzem sobre uma ideia de pertença a um espaço geográfico e/ou cultural que é o seu. O Mediterrâneo é “um quadro mental”? Se olharmos para a própria candidatura da Dieta Mediterrânica a património cultural imaterial da humanidade, vemos como o carácter transnacional levou a que a ênfase fosse deslocada da geografia para as práticas e para uma ideia de “modo de vida” que, esse sim, poderia ser partilhado ou mais facilmente percepcionado enquanto “património comum”, num plano que se sobreporia a todas as diferenças nacionais, regionais, culturais e religiosas que existem no Mediterrâneo. O vinho não é consumido nos países de maioria muçulmana da margem Sul do Mediterrâneo, mas assume grande protagonismo nos países de maioria cristã da margem Norte do Mediterrano. O mesmo acontece com o consumo de porco. A religião é ou não uma fronteira? Não creio que a religião seja uma fronteira. Creio que tão importante como olhar para as semelhanças é olhar para as diferenças. Aqui, a religião enforma e contextualiza algumas dessas diferenças. O consumo de álcool não é generalizado em muitas sociedades muçulmanas mas existe – com diferentes graus de


TL SET-OUT 2018 13 beatriz lorena

visibilidade, é certo, e Marrocos tem-se assumido ao longo dos últimos anos como país produtor de vinho, com uma notável diversidade de castas e variedade de produtos vinícolas que se vão assumindo no mercado internacional mas também no mercado interno. Aliás, para a região que estou actualmente a estudar – a zona do Riffe marroquino – algumas fontes históricas referem o consumo de mosto de uva fermentado durante o período do Inverno como um elemento importante das práticas alimentares das populações locais. Disse que, mais do que definir fronteiras, lhe interessa perceber os discursos que são mobilizados pelos vários actores sociais. Que discursos são proferidos pelas esferas do poder de um lado e de outro? O discurso que parte das esferas do poder é, com alguma recorrência, aquele que procura de alguma forma inventar uma correspondência – local, regional ou nacional – para uma ideia de Dieta Mediterrânica que se presta a distintas leituras e interpretações. Na maior parte dos casos, tem-se optado por relacionar a Dieta Mediterrânica mais com um conjunto de práticas, enquanto “estilo de vida”, do que com ingredientes e gastronomias muito específicas. Paralelamente, existe sem dúvida a enfatização e a mobilização de um discurso de pendor mediterranista – que é operativo quer em Tavira quer em Chefchaouen – e que se traduz na tentativa de inclusão no universo de uma nova ordem patrimonial,

procurando rentabilizar uma pertença que se pode inscrever, estrategicamente, nas lógicas da economia política da patrimonialização que vai tendo lugar em muitos outros lugares do Mediterrâneo. No Mediterrâneo cruzam-se turistas, que amiúde vão da margem Norte, com migrantes, que amiúde vão da margem Sul. Costuma observá-los no seu trabalho de campo? O turismo e os turistas constituem uma dimensão importante da minha pesquisa, não só porque não podemos ignorar que estão abundantemente presentes quer em Tavira quer em Chefchaouen, mas também porque o património é transformado facilmente em mercadoria para consumo turístico. Essa mercadorização do património é um dos principais anseios de parte significativa das populações locais, quer em Tavira quer em Chefchaouen, localidades onde a economia do turismo assume um papel determinante. Diria que estas pessoas se enxergam umas às outras? Sem querer entrar em generalizações, diria que os turistas do Norte enxergam sem dúvida os migrantes do Sul – eles entram-nos casa dentro através das notícias que de forma trágica nos chegam sobre os seus destinos – mas existe uma dificuldade maior em nos colocarmos na sua pele, e daí inferirmos sobre as suas aspirações legítimas em mudar de vida e a sua urgência em fazê-lo. No contexto actual o Mediterrâneo tem assumido muitas vezes o papel

“Na maior parte dos casos, temse optado por relacionar a Dieta Mediterrânica mais com um conjunto de práticas, enquanto ‘estilo de vida’, do que com ingredientes e gastronomias muito específicas”

de cemitério. Enquanto estudiosa do Mediterrâneo, como recebe essas notícias? No encerramento da Conferência Internacional “Mediterrâneo: Território dos 5 Sentidos”, a antropóloga Maria Cardeira da Silva defendeu um “humanismo tático radical e incondicional” que deveria levar à unidade e solidariedade social e política em torno do Mediterrâneo, que deve ser particularmente dirigido através de uma forte mobilização cívica e política direcionada para a questão dos refugiados e às leis da imigração. É desse lado que eu me quero colocar. Pela quinta vez, no final de Setembro Lisboa acolhe um festival pensado para celebrar a diversidade social e cultural do Mediterrâneo através do cinema. Até que ponto actividades como o “Olhares do Mediterrâneo - cinema no feminino”, que teve o apoio da Fundação Inatel, podem ajudar (ou não) a construir coesão social? Creio que actividades como esta contribuem essencialmente para dar visibilidade ao “outro” e à importância da alteridade na nossa forma de olhar e conceber o mundo em que vivemos. Não creio no entanto que devamos olhar para o “outro” a partir de uma ideia de multiculturalismo de lapela, ou mera celebração de uma ideia de convivência e diversidade cultural. O presente político exige muito mais do que isso, e exige muito mais de nós. Ana Cristina Pereira [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]


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desporto

Super Taça de Lisboa No dia 18 de novembro, estudantes e liga Inatel num confronto dentro das 4 linhas

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esde 2016 que a Fundação Inatel e a ADSL – Associação Desportiva do Ensino Superior de Lisboa, levam a jogo a Super Taça de Lisboa. Um dia dedicado às diferentes modalidades desportivas presentes em ambos os campeonatos. O objetivo da competição é colocar em prova os vencedores dos Campeonatos Universitários de Lisboa contra os vence-

dores dos Campeonatos Regionais de Lisboa da Inatel. A ADSL conta no momento com mais de 2000 atletas, 900 jogos, 200 equipas, jovens, competitivos, com garra, são eles os jogadores, treinadores que a Fundação Inatel tem demonstrado vontade em estar cada vez mais perto. A paixão e respeito pelo desporto amador é comum, e como promotora de competições desportivas, a Inatel viu na ADSL um parceiro valioso.

No dia 18 de novembro, o Parque de Jogos 1.º de maio receberá a III Supertaça de Lisboa, onde irão estar frente a frente os vencedores da Fase Distrital da Fundação Inatel e os vencedores das competições da ADESL nas modalidades de Basquetebol Masculino e Feminino, Voleibol Masculino e Feminino, Futebol Masculino, Futsal Masculino e Andebol Masculino e Ténis de Mesa Misto. Esta iniciativa proporciona aos atletas da Fundação um momento de competição

Fotos: Beatriz Lorena

fora dos quadros competitivos standard sendo ainda uma oportunidade para demonstrar as formações desportivas e de equipas Inatel. Em 2018 as duas entidades envolvidas em articulação decidiram introduzir uma vertente social na competição apoiando uma IPSS. Esta recolha realizar-se-á não só no dia da competição, mas também nas semanas anteriores. E no final do dia, será esta IPSS a real vencedora.

FASE NACIONAL DA TAÇA FUNDAÇÃO INATEL

A 5 de outubro foi entregue a primeira Taça da competição futebol 11 Inatel, uma nova competição para os amantes “da bola” e para quem joga com a camisola da Fundação

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campeonato de Futebol 11 da Fundação Inatel, de norte a sul do país, cresce todos os anos e para responder à vontade e às necessidades das mesmas equipas, a Fundação Inatel iniciou no dia 22 de setembro uma nova competição, a Fase Nacional da Taça Fundação Inatel, uma competição disputada no sistema de eliminatórias entre os vencedores das Fases Distritais da Taça Fundação Inatel na época 2017/2018. A introdução desta nova competição permite à Fundação Inatel aumentar o número de jogos realizados, bem como o tempo de atividade, uma vontade expressa dos CCD. Esta nova competição aumenta a competição saudável na Fase Distrital da Taça Fundação Inatel, uma competição que se tornou obrigatória apenas na época 2017/2018 adquirindo um formato uniformizado. Esta prova, a Fase Nacional da Taça Fundação Inatel é a primeira competição do ano desportivo, uma prova que dá um “arranque” mais ambicioso e audaz às equipas em competição, numa época em que anteriormente estariam menos ativos. Em 2018 pela primeira vez um CCD levanta a Taça de vencedor desta competição. Os quartos-de-final jogaram-se nos dias 22 e 23 de setembro, as meias-finais no fim de semana de 29 e 30 de setembro, e a final no dia 5 de outubro.

Maria João Costa

Esta nova competição aumenta a competição saudável na Fase Distrital da Taça Fundação Inatel



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CAMPEONATO GASTRONÓMICO INATEL

ENTRE-OS-RIOS: BOA MESA A equipa da unidade hoteleira Inatel Entre-os-Rios, que foi a terceira finalista, apresentou um menu com as suas especialidades culinárias Fotos: Beatriz Lorena

ESPETINHO DE CAMARÃO COM ANANÁS Ingredientes 1 kg de Camarão 20/30; Piripíri q.b.; Sal grosso q.b.; 300g Limão; 2 Folhas de Louro; 200 g Margarina; Alho q.b.; Coentros q.b.; 2 cl Vinho Verde Branco; 2 cl Whisky; 1 Abacaxi médio Preparação Cozer o camarão a gosto. Colocar numa sertã todos os ingredientes. Deixar ferver um bocadinho e colocar o camarão a gratinar nesta marinada. Cortar o abacaxi aos bocados em forma de leque e juntar à marinada. Depois de tudo cozinhado, retirar do lume. Com os paus preparados, formar a espetada com dois camarões e dois bocados de ananás. Depois de todas estarem preparadas, colocar numa travessa, juntando a marinada que resta do cozinhado.

BACALHAU À DOIS RIOS Ingredientes 2,5 kg Lombos de Bacalhau; 1 kg Cebola; Alho seco q.b.; Piripíri q.b.; Sal q.b.; Noz-moscada q.b.; 0,5 l Azeite; 2 kg de Batata branca;100 g Margarina; 200 g Limão; 0,5 l Leite meio gordo;1 kg Pão ralado; 6 Ovos; 500 g Rabanetes; 200 g Pickles Preparação Cortar as cebolas em meias luas e o alho picado, colocar num tabuleiro de ir ao forno. Bater os ovos com o piripíri e o sal a gosto, passando o bacalhau pelo ovo e de seguida pelo pão ralado. Colocar no tabuleiro, regando com azeite, e levar ao forno a 160o C. Cozer as batatas com sal a 90o C durante 30 minutos. Quando cozidas, reduzir a puré, juntando o leite, a noz-moscada e a margarina, mexendo sempre até levantar fervura. Retirar o tabuleiro do forno e colocar o puré. Levar ao forno durante 10 minutos a gratinar. Decorar com rabanetes.

VITELA COM FOLHADO DE MAÇÃ

Ingredientes 2 kg Vitela de assar; 500 g Cebola; Alho Seco q.b.; 0,1 l Vinho verde branco; Sal grosso q.b.; Salsa q.b.; Piripíri q.b.; 0,4 l Azeite; Pimentão q.b.; Louro q.b.; 1 kg Maçã golden; 2 Bases de massa folhada; 2,5 kg Grelo de nabo Preparação Temperar a vitela com vinho, alho picado, cebola à meia lua, sal, piripíri, azeite e pimentão doce. Envolver todos os ingredientes e colocar a carne na marinada cerca 4 horas. Levar a carne com toda esta marinada ao forno a 160o C durante uma hora. Depois de assada,

cortar a mesma em fatias e colocar numa travessa, regando com o molho da confeção. Cozer os grelos com sal e azeite. Partir a maçã em gomos muito finos e colocar os mesmos em água quente e sal durante 1 minuto. De seguida, retirar. Cortar a massa folhada em tiras da mesma espessura do gomo da maçã, colocar a maçã e ir enrolando e colocando gomos de maçã até formar uma flor. Colocar numa forma individual de alumínio e levar ao forno cerca de 5 minutos, até ficar com aspeto dourado e estaladiço. Por fim, colocar o folhado de maçã na travessa de servir a vitela, juntamente com os grelos.

LEITE CREME

Ingredientes 1,5 l Leite meio gordo; 200 g Açúcar; 2 Paus de canela; 2 Cascas de limão; 2 Cascas de laranja; 1 Vagem de baunilha; 6 Gemas de ovo; 5 Colheres de sopa de farinha de amido Preparação Num recipiente de ir ao lume, colocar o açúcar, o pau de canela, a casca de limão, a casca de laranja, a vagem de baunilha e o leite, reservando um pouco. Deixar ferver durante 10 minutos. Noutro recipiente, colocar o restante leite, a farinha de amido e as gemas. Envolver bem e adicionar ao leite que está ao lume, mexendo energeticamente para não ficar com coágulos, até ficar espesso. Por fim, colocar num pirex de ir ao forno, aguardando um pouco para ficar consistente. Depois de estar consistente polvilhar com açúcar granulado, queimar com pá quente e levar ao forno.


TL SET-OUT 2018 17

Viagem

Madeira FLOR EM FESTA Com a chegada da primavera, a cidade do Funchal torna-se um grande palco floral. Praças e ruas enchem-se de cores, música e alegria com a Festa da Flor

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Francisco correia

ouco antes da aterragem, o primeiro contacto com os encantos da ilha. À chegada, durante a tarde, os jardins da capital madeirense oferecem-nos múltiplas hipóteses de surpresa e deleite. No dia seguinte passeamos pela costa sul, com paragem na vila piscatória de Câmara de Lobos. Continuamos em direção ao Cabo Girão (580 m de altitude), o promontório mais alto da Europa. Seguimos para a Ribeira Brava. Após uma breve pausa continuamos até à costa norte, atravessando a Encumeada. Passamos por São Vicente, uma das mais antigas povoações da ilha, conhecida pelas pitorescas ruas e igreja barroca. Seguimos para Porto Moniz para ver as piscinas naturais. O regresso ao hotel será feito pelo Paul da Serra, único planalto da ilha (cerca de 1.600 m de altitude), com tonalidades maravilhosas nesta estação do ano. De manhã visitamos o centro do Funchal, que integra o Núcleo Histórico de Santa Maria, datado de 1425, início do povoamento da ilha da Madeira. Passagem pela popular Praça do Peixe, inserida no Mercado dos Lavradores, construído em 1941, onde estão expostos legumes e frutos exóticos, orquídeas, estrelícias, antúrios e muitas outras flores. Seguimos caminho para visitar uma fábrica de bordados, onde assistimos à execução de alguns trabalhos do famoso artesanato regional. Mais tarde, no Jardim Botânico, apreciamos inúmeras plantas tropicais de todo o mundo, e a partir dos diversos miradouros, uma magnífica vista sobre cidade. Antes de regressar ao hotel, tempo ainda para uma prova do famoso vinho da Madeira.

Celebrar a primavera Novo dia. A primeira paragem é na Camacha, pequena vila situada a poucos quilómetros do Funchal, muito conhecida pela indústria de vime e pelos grupos tradicionais de folclore. Continuamos em direção ao terceiro pico mais alto da ilha, o Pico do Arieiro (1.818 m de altitude), que oferece uma vista deslumbrante. Descemos em direção à costa norte, com destino ao par-

Francisco correia

MAGIA DA FESTA DA FLOR: MADEIRA

Datas: 1 a 6 de maio 2019 Partidas: Porto | Lisboa Informações: Tel. 211 155 779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

que natural de Ribeiro Frio, local conhecido como ponto de partida para alguns passeios nas levadas. Continuamos até Santana, vila caracterizada por pequenas casas triangulares cobertas de colmo. Ainda passamos por Porto da Cruz, Portela e Machico, onde João Gonçalves Zarco desembarcou pela primeira vez na ilha. Durante a Festa da Flor há exposições de flores tropicais, tapetes florais, música e cortejos. Milhares de visitantes assistem

ao Cortejo Alegórico da Flor, formado por dezenas de carros alegóricos, decorados por múltiplas espécies florais, que percorrem as ruas acompanhados de centenas de figurantes, com trajes exuberantes e coloridos. A 5 de maio tudo estará a postos para o grande cortejo da Festa da Flor. Este é um dos acontecimentos mais aguardados na Madeira, que se realiza desde 1979, para celebrar a chegada da primavera.


18 TL SET-OUT 2018 Fotos: Beatriz Lorena

Coluna DO provedor

Manuel Camacho

provedor.inatel@inatel.pt

C FESTIVAL CIOFF une Países do mediterrâneo no Palco de Lisboa O Festival CIOFF Culturas Mediterrânicas, uma organização CIOFF Portugal presidida pela Fundação Inatel, conseguiu unir os países do mediterrâneo no palco de Lisboa, cidade, que para o presidente da Fundação Inatel, “resulta da genética cultural que fomos importando do norte de África, da Grécia, do Líbano, dos antigos Fenícios, e que fomos exportando para África e para América – em comunidades como o Brasil e Cabo Verde que resultam desta interseção cultural – e que este Mediterrâneo uniu. Desde a transformação dos fados para mornas ou para outras músicas de saudades, neste espaço onde Lisboa é milenarmente uma cidade cosmopolita que foi capaz de fazer esta fusão das várias heranças do Mediterrâneo”. Uma herança de “sentires” que levou à reflexão ao ISCTE, nos dias 12 e 13 de setembro, a Conferência Mediterrâneo – Território dos 5 Sentidos, uma conferência que pretendia “ajudar a refletir de que forma somos feitos a partir do mediterrâneo”, segundo Francisco Madelino. Cláudio Torres, arqueólogo, um dos 22 oradores que juntou mais de 250 pessoas ao longo de dois dias, deixou claro que estamos errados e que “se isto agora nos está a acontecer, está a cair-nos em cima, e por isso é que vale a pena tocar, mexer outra vez e entender o que é essa história do Mediterrâneo”. E neste momento, o que nos “cai em cima”, e que está no centro de uma tensão político-demográfica, é a migração. Países que atravessam pobreza, guerras e que encontram na Europa a esperança, mas que ao mesmo tempo se confrontam com dificuldade em tornar o sonho, do “El Dourado Europeu”, realidade. “Nós esquecemo-nos que o Mediterrâneo tem duas partes, tem o Sul e tem o Norte, entre o Islão e o Cristão, e que nós pensamos que é nessas duas metades que estão os bons e os maus, os maus no Sul e os bons no Norte (…) historicamente isto não é verdade. Em tempos históricos foi o mesmo de um lado e do outro, a mesma civilização, a mesma religião e a mesma cultura, e nós é que a dividimos, a esquar-

tejamos e que empurramos os outros para o outro lado como os maus, os inimigos”, conclui Cláudio Torres. Quando a música e a dança se misturam no mesmo espaço, num Festival CIOFF, não existem “outros”, mas sim o “nós”, os 52 grupos nacionais e internacionais, e os mais de 1000 artistas, que responderam à pergunta do presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino: “Está na agenda 2030, e é importante que hoje se responda: Como é que

nós construímos sociedades sustentáveis, não apenas do ponto de vista ambiental, mas do ponto de vista sociocultural, isto é, que as grandes metrópoles urbanas são capazes de conviver em culturas distintas em que cada um é capaz de aceitar o outro.” O Festival CIOFF Culturas Mediterrâneas deu um passo nesse sentido com a distinção, durante o Congresso Mundial do CIOFF, realizado em Ufa, na Rússia, de umas das 3 boas práticas do CIOFF. M.J.C.

om a chegada de mais um outono vem aquela ideia pré-concebida do “cair da folha” e do avançar da idade, mas ao mesmo tempo vive-se a alegria das “vindimas” seguida da abertura do vinho novo que culmina nos “magustos” em honra do solidário São Martinho. Parece, assim, ser a época dos contrastes. Se por um lado temos a alegria e a “Festa”, por outro encontramos a natureza despindo as árvores e escurecendo os céus com as suas trovoadas de outono. Apesar de as alterações climatéricas terem vindo a produzir cada vez mais fenómenos naturais desfasados da época em que se vive, verdade é que a tradição acaba por se sobrepor aos “desaires” da natureza, para os quais a irresponsabilidade do ser humano tanto contribui. É por isso que as aulas continuam a iniciar-se poucos dias antes do começo do outono, a rentrée cultural arranca na segunda quinzena de setembro e até conseguimos encontrar o homem das castanhas com o seu carrinho fumegante no meio de uns 30º graus à sombra. É também nesta altura do ano que, a par do início das aulas, arranca a agenda cultural com as suas novidades: livros, cinema, teatro e outros espetáculos. ... E já que falámos em rentrée cultural, deixem-me aconselhar-vos uma ida ao Teatro da Trindade para ver a peça “A pior comédia do mundo” que estará em cena até 27 de janeiro de 2019. Vai ser de certeza um bom começo de outono. Bom espetáculo!


TL SET-OUT 2018 19

ERRADICAR A FOME – INATEL debate novo objetivo Agenda 2030 A Fundação Inatel compromete-se, até 2019, debater os 17 objetivos da “Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável”.

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“Agenda 2030” é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), definida e aprovada, por unanimidade, por 193 Estados-membros presentes durante a cimeira promovida pela mesma entidade em Nova Iorque, entre 25 e 27 de setembro de 2015. A Inatel levou à reflexão temas como «Erradicar a pobreza», «Saúde de Qualidade», «Educação de Qualidade», «Proteger a Vida Marinha» e «Proteger a Vida Terrestre». O último debate, «Erradicar a Fome», levou a Setúbal especialistas das diversas áreas para trazerem a público a necessidade de acabar com a fome e de garantir o acesso, para todas as pessoas, a uma alimentação de qualidade, nutritiva e suficiente durante todo o ano. «Erradicar a Fome. Alcançar a Segurança Alimentar. Melhorar a Nutrição e Promover a Agricultura Sustentável», o primeiro dos 17 Objetivos. Não somos o Flash Gordon – não tomamos uma pílula e ficamos alimentados, a alimentação adequada é um direito, um direito que ainda não é de todos. Em números totais – apontados pela FAO em 2018 – uma em cada nove pessoas passa fome, com 515 milhões na Ásia, 256,5 milhões em África e 39 milhões na América Latina e Caraíbas. Portugal está em linha com os países europeus, mantendo uma taxa inferior a 2,5 por cento da população com sinais de subnutrição desde 2004/2006 – número que segundo a Secretária de Estado terá ainda mais tendência para diminuir “Temos à disposição um conjunto de situações que as pessoas podem requerer para não se encontrarem nessa situação, inclusive temos a distribuição de cabazes para pessoas em situações mais vulneráveis e mais débeis. Apesar de a erradicação da fome ser um dos objetivos para o desenvolvimento a atingir até 2030, os sinais alarmantes do aumento da insegurança alimentar e diversas formas de má alimentação, ainda estão mui-

Beatriz Lorena

to presentes, desde a obesidade nos adultos aos atrasos de crescimento nas crianças, há muito por fazer. A consciencialização, a educação e o conhecimento sobre como e o que fazer para que cada cidadão participe ativamente é um caminho que vem acompanhado com iniciativas como a SmartFarmer, a Zero Desperdício, ou até mesmo o movimento Sangue na Guelra – Manifesto 0.0, projetos que deixaram a marca no debate da Agenda 2030. João Nunes Fernandes, presidente da Oikos – SmartFarmer, mostrou que é possível aproximar os pequenos agricultores/produtores dos consumidores numa altura em que há mais procura. “Hoje há uma maior preocupação por comer melhor e maior diversidade e isso só pode ser garantido com uma relação direta com o produtor e nesse sentido a SmartFarmer tem essa vantagem de ligação direta”, explicou o presidente da Oikos. Sobre as consequências positivas que esta aproximação traz, João Nunes Fernandes enaltece o bom uso das tecnologias para “encurtar a cadeia, inclusive a logística que é sempre uma problemática, e essa aproximação do consumidor mais próximo da produção tem um impacto menor no ambiente”. A ocupação dos terrenos agrícolas é outra

das vantagens, “a manutenção de pessoas ligadas à terra, e para que as pessoas fiquem no território têm que ter uma fonte de rendimento, e a fonte de rendimento que sempre tiveram foi a agricultura. Se eles deixarem de produzir vamos gastar muito mais no combate aos incêndios, um custo muito maior para nós, contribuintes”, finaliza. Paula Policarpo, co-fundadora da Zero Desperdício levou uma visão diferente e de como é possível aproveitar e reutilizar frutas e legumes do dia-a-dia que num primeiro momento poderiam acabar no lixo. Dar uma nova vida, “queremos encontrar uma solução para manter (os alimentos) na cadeia de valor, porque aquilo que se transforme que nasce tem sempre uma utilidade”, tentando sempre reduzir, ao máximo, o desperdício, o resíduo que possa ser produzido. A atuar em mais de 20 localidades, em parceria com a sociedade local e IPSS, a

Zero Desperdício encontra também nas unidades hoteleiras Inatel um parceiro, “a Fundação Inatel é um dos doadores do movimento Zero Desperdício. Celebramos o protocolo com a Inatel para todas as unidades hoteleiras, em 2013, e põem à nossa disposição e nós repercutimos nas IPSS e no tecido social – quem vai recolher – as sobras diárias das unidades hoteleiras”, contou Paula Policarpo. Na sessão de encerramento, a Secretária de Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, deixou claro que o objetivo para 2030 está bem definido: “Chegarmos a 2030 com uma situação social mais coesa, em que as pessoas disponham, ou de rendimentos, diretamente das suas condições de trabalho, ou através de apoios sociais que têm sido amplamente reforçados para que cada vez menos tenhamos situações de risco de pobreza, principalmente junto dos setores mais vulneráveis: crianças, idosos, pessoas com deficiência que são os mais marginalizados naquelas que são as franjas da procura ativa de emprego.” No mesmo dia, 19 de setembro, foi ainda homenageado D. Manuel Martins, “Bispo Vermelho”, que durante os 23 anos em que foi bispo de Setúbal, e foi quem teve a audácia de denunciar o desemprego, a fome e o trabalho infantil. Uma voz incómoda até ao fim, morreu em 2017, com 90 anos. “Isto para ser verdade, tem que ser todos os dias”, a ajuda aos sem-abrigos. Frase que Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa lembra durante a homenagem. O presidente da Cáritas lembrou o amor do Bispo D. Manuel Martins por Setúbal, e como, vindo do Norte, foi rejeitado por todos. Recordou também algumas das suas facetas menos esperadas como, quando no segundo dia percorreu a cidade para decorar o nome de cada rua. Arnaldo Cerqueira, sobrinho de D. Manuel Martins agradeceu a homenagem sem esconder a emoção do momento. M.J.C.

FUNDAÇÃO INATEL APOIA CANDIDATURA DAS BANDAS FILARMÓNICAS À UNESCO

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Câmara Municipal de Alcácer do Sal teve a iniciativa e a Inatel uniu-se para que as Bandas Filarmónicas sejam Património Cultural e Imaterial. “Esta é uma candidatura apenas para que a UNESCO constate aquilo que já sabemos, (Bandas Filarmónicas) como património cultural e imaterial da humanidade”, disse o presidente da Fundação Inatel após a Cerimónia de Apresentação da Intenção das Bandas Filarmónicas a Património Imaterial e Cultural da Humanidade, que decorreu no passado dia 1 de setembro, dia Nacional das Bandas Filarmónicas, no Teatro da Trindade Inatel. A iniciativa partiu da CM de Alcácer do Sal, que para Vítor Proença, presidente da CM de Alcácer do Sal é motivo de orgulho “nunca ninguém se tinha lembrado, é uma ousadia da nossa parte”. Uma ousadia que se explica quando existe 700 bandas num país com 308 concelhos. “As bandas filarmónicas portuguesas, em particular, necessitavam de uma candidatura desta natureza, focada na música, focada nos instrumentistas, músicos, compositores e maestros e será importante para valorizar o que se tem feito ao lon-

Fotos: Beatriz Lorena

go de tantas gerações”, acrescenta Vítor Proença. O processo de candidatura à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura tem como coordenador o antropólogo Paulo Lima, que já esteve envolvido noutras candidaturas, como a do fado, cante alentejano e da arte do fabrico de chocalhos. “Uma candidatura que mostra como a tradição está viva e renovada permanentemente, é uma manifestação moderna e contemporânea com profundas raízes na história”, é assim que a Fundação Inatel vê as bandas do país, e é um dos motivos que faz com a Inatel esteja perto desde o primeiro momento, na candidatura, na formação e continuação das Bandas Filarmónicas. O final do dia 1 de setembro terminou com um concerto esgotado na Aula Magna de Lisboa com a banda dos Bombeiros de Loures, os coros emCANTUS – Associação Coral de Odivelas e Camerata Vocal de Torres Vedras, bem como a soprano Carla Caramujo, o tenor Carlos Guilherme e o barítono Armando Possante, sob direção musical de Jorge Camacho. M.J.C.


20 TL SET-OUT 2018

DOIS TEXTOS PREMIADOS EM CENA NO TRINDADE A Pior Comédia do Mundo, de Michael Frayn, na Sala Carmen Dolores. Boa Noite Mãe, de Marsha Norman, na Sala Estúdio. Duas boas razões para visitar o Teatro da Trindade Inatel. Filipe Ferreira

A PIOR COMÉDIA DO MUNDO Uma companhia de teatro pretende levar à cena uma farsa intitulada “Tudo Nu”… O ponto de partida para esta divertida comédia de Michael Frayn, ao longo da qual o público vai poder assistir, não apenas à representação da farsa, mas também a ensaios e cenas de bastidores. É o “Teatro dentro do Teatro”. Entre a comédia e a farsa, um espetáculo que é sobretudo uma delirante paródia. Uma paródia ao estilo teatral, e também aos seus intervenientes: encenador, atores e técnicos. A ideia de escrever uma comédia sobre “o outro lado do espelho”, surgiu a Michael Frayn, enquanto assistia em bastidores à representação de uma peça sua, que provavelmente não correu da melhor maneira, e que, com o seu inegável sentido de humor o levou a pensar: “um espetáculo que dê a conhecer estes cromos vai certamente fazer a delícia do público!”. E assim nasceu “Noises Off ”, que viria a ser uma das suas comédias de maior êxito e a mais representada em todo o mundo, onde, através de três momentos: um ensaio, a estreia e depois em digressão, se revela um olhar delirante sobre o teatro, e o drama de bastidores que se vive durante a preparação do espetáculo e ao subir à cena. Os atores esquecem falas, confundem entradas e saídas, trocam adereços, questionam o encenador! Tentam, com desastrosos improvisos, resolver o que está a correr mal, alteram o enredo da peça, e o resultado acaba por ser “A Pior Comédia do Mundo”. Um micro-cosmos que é o dos atores em espetáculo, mas que sintetiza todos os comportamentos humanos: ambições, fraquezas, joguinhos de poder, paixões, ciúmes, rivalidades, brigas! Tal como afirma o encenador de “Tudo Nu”… É o Teatro! … É a Comédia! … É a Vida! Não posso deixar de estar grato pelo convite que me foi dirigido para encenar este espetáculo, e ainda para interpretar uma das personagens, um duplo desafio que me deixou entusiasmado, mas ao mesmo tempo receoso! Se é certo que nos últimos quarenta anos o humor e a comédia têm estado sempre presentes nos meus espetáculos … certo é também que esta comédia, devido às suas invulgares características, é uma experiência nova, difícil, mas ao mesmo tempo – e por isso mesmo – um aliciante desafio! Impossível de levar a cabo sem o apoio, entusiasmo e generosidade de uma excelente equipa de produção, atores, técnicos, e ainda a colaboração preciosa de Sónia Aragão, uma assistente que muito contribuiu para a construção deste trabalho. A minha enorme gratidão a todos.

Pedro Macedo/framed photos

Representar no palco da sala Carmen Dolores, neste lindíssimo Teatro da Trindade, é uma honra e um prazer. Foi mais um sonho que se tornou realidade! (Texto de Fernando Gomes, encenador do espetáculo.)

A PIOR COMÉDIA DO MUNDO 12 setembro a 27 janeiro* Sala Carmen Dolores | M12 Quarta a sábado 21:00 | Domingo 16:30 * Entre 29 outubro e 21 novembro não há espetáculo

BOA NOITE MÃE “Nós temos uma vida boa, as duas”, diz Telma, mãe de Luísa. Esta noite vai ser especial na vida destas duas mulheres que vivem juntas na mesma casa, mas em mundos diferentes, porque Luísa diz à mãe que vai terminar com

a vida nas próximas duas horas. Desde o primeiro momento que acompanhamos os rituais tranquilos e ordeiros de Luísa, enquanto o sol se põe sobre uma pequena casa de classe média numa zona rural, onde toda a sua atenção vai para o cumprimento de uma lista que foi elaborada para não deixar nada por fazer neste seu último dia de vida. São tarefas monótonas e enervantes como encher frascos de doces, deixar o frigorífico com produtos dentro do prazo, cancelar jornais, mas sempre a controlar o tempo para não fugir ao seu objetivo. Ao completar cada tarefa, ela assinala na sua lista, a cada segundo que passa a sua determinação é admirável. A revelação de Luísa, chega sem raiva, confrontos, histerias ou lágrimas. Esta não é uma decisão precipitada, ela já pensa nisto há pelo menos dez anos. Num espetáculo com 90 minutos com um texto de Marsha Norman, vamos assistir à tentativa de persuasão da mãe para que a filha abandone esta sua intenção macabra, recorrendo a vários estratagemas que irão deixar quem vai ver este espe-

táculo preso a cada palavra dita. À medida que a noite avança, ela é forçada a perceber que, para Luísa, a sobrevivência está fora de questão. Mas é Luísa que controla a história. O retrato de uma mulher que calmamente planeja a sua própria morte, indo ao ponto de sugerir como a sua mãe deveria lidar com ela no funeral, é totalmente convincente. Seu exterior frio, ausente de arrependimento ou emoção de qualquer espécie, oblitera qualquer piedade que possamos sentir por ela. Nós não acabamos a desejar a morte dela, mas percebemos, como Luísa parece ter sabido o tempo todo, que a morte nada mais é do que um aspeto da vida que às vezes é atrasado por forças além do nosso controle. Tudo o que ela faz é acelerar um pouco as coisas. “Não vamos ter mais conversas como esta, porque é precisamente o que vem a seguir que tornou esta conversa tão boa”, diz Luísa. A autora não acreditava no início que este texto tivesse uma grande aceitação do público devido ao seu humor negro, mas logo nos ensaios e na primeira vez que subiu ao palco percebeu o seu potencial. O espetáculo teve quatro nomeações ao Tony, incluindo a melhor peça, um prémio Pulitzer em 1983 e uma versão cinematográfica adaptada pela autora em 1986. Hoje é um texto representado em todo o mundo e vai ser apresentado pela terceira vez em Portugal, com as atrizes Ângela Pinto e Sylvie Dias e encenação de Hélder Gamboa, numa coprodução do Teatro da Trindade com a Tenda Produções. (Texto de Hélder Gamboa, encenador do espetáculo.)

BOA NOITE MÃE 17 outubro a 25 novembro Sala Estúdio | M18 Quarta a sábado 21:30 | Domingo 17:00


TL SET-OUT 2018 21

VER

OUVIR

A representação da bondade Operação Shock & Awe, de Rob Reiner | EUA, 2017 Com: Woody Harrelson, James Marsden, Tommy Lee Jones. •Um grupo de quatro jornalistas investiga e denuncia como falsas as justificações apresentadas pelo governo norteamericano para a invasão do Iraque e o derrube do regime de Saddam Hussein. O filme que, por momentos, traz à memória “Os Homens do Presidente” é mais assertivo e não perde tempo com explicações. Baseado numa história verídica.

Feliz como Lázzaro, de Alice Rohrwacher | Itália, 2018 Com: Adriano Tardiolo, Agnese Graziani, Luca Chikovani. •Uma “fábula social metafórica” sobre a bondade. Uma fantasia carregada de realismo mágico. A história de Lazzaro, um jovem camponês excepcionalmente bondoso, gentil e delicado – “incapaz de ver o mal nos outros” – que um dia, graças a uma amizade preciosa, vai conhecer o mundo moderno. “Premiado em Cannes – “melhor argumento”.

Cold War – Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski | Polónia/França/Reino Unido, 2018 Com: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc. •Um romance tumultuoso – entre um musicólogo e uma jovem cantora – sob o pano de fundo da ‘guerra fria’, na Polónia “estalinista”. Visualmente deslumbrante, de tirar o fôlego. Os tons monocromáticos da fotografia ajudam à atmosfera do drama e “ligam-no” à ambiência da Europa dividida, em dois mundos opostos. Premiado em Cannes – “melhor realizador”.

O Caderno Negro, de Valeria Sarmiento | Portugal/França, 2018 Com: Lou de Laâge, Stanislas Merhar, Niels Schneider. •Adaptação livre da obra, “Livro Negro de Padre Dinis”, de Camilo Castelo Branco. Um filme de época (finais do séc. XVIII) que narra a odisseia de um pequeno órfão e de sua jovem ama italiana, ambos de origens misteriosas. Destaque para o “cast”, onde pontificam também David Caracol, Vasco Varela da Silva, Tiago Varela da Silva e a participação especial de Grégoire Leprince-Ringuet, Victoria Guerra, Joana Ribeiro e Catarina Wallenstein.

Happy Hour/Hora Feliz (Parte 1), de Ryûsuke Hamaguchi | Japão, 2015 Com: Sachie Tanaka, Hazuki Kikuchi, Maiko Mihara, Rira Kawamura. •De um dos maiores cineastas nipónicos da actualidade, um retrato intimista sublime do quotidiano de quatro mulheres. Reflexão sobre a desigualdade feminina numa sociedade profundamente patriarcal, o filme – que aborda também a condição da mulher divorciada – exibe um poder narrativo assaz invulgar. Sensível e tocante. A Aparição, de Xavier Giannoli | França, 2017 Com: Vincent Lindon e Galatea Bellugi. •Um jornalista com créditos firmados na investigação recebe do Vaticano um pedido invulgar: apurar a autenticidade de uma alegada aparição numa pequena localidade francesa. Uma reflexão sobre o mistério da fé, o dom de si, a dúvida, e a impostura.

Verão 1993, de Carla Simón | Espanha, 2017 Com: Laia Artigas, Paula Robles, Bruna Cusí. •Um drama de crescimento, delicado e comovente, sobre a infância e a morte. O filme (autobiográfico) narra a relação tensa e difícil de uma rapariguinha órfã de seis anos que vai viver o seu primeiro Verão com uma nova família adoptiva. Para o crítico da Village Voice, “Verão 1993” é “uma obra extraordinária e bela de luto e memória”. Premiado em Berlim – “melhor primeira obra” e “grande prémio do júri”/ Generation kplus.

Joaquim Diabinho [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

O outono, novas cores e novas sonoridades…

Álbum “Masana Temples”, de Kikagaku Moyo

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om o outono já entranhado no nosso quotidiano e nas nossas audições diárias apresento aos leitores, novas e velhas sonoridades que irão passar por várias cidades do país. E como nem só no verão existem Festivais, durante o mês de novembro temos a 9.ª edição do Misty Fest, que tem como slogan publicitário, “A melhor música nas melhores salas”! Com uma agenda muito especial a levar a música às cidades de Lisboa, Porto, Coimbra, Loulé, Braga e Ponta Delgada, o Misty Fest apresenta nomes como Scott Matthew, Avishai Cohen, Anna Von Hausswollf, Andrea Motis, PianOrquestra, Danças Ocultas, Beatriz Nunes, entre outros. Deste festival destacamos dois concertos: O primeiro vai para os portugueses Danças Ocultas. O grupo de culto dos amantes da fusão da música tradicional portuguesa apresenta-se neste festival de outono com um repertório novo e em colaboração com o brasileiro Jaques Morelenbaum. Colocando a tradicional concertina na ribalta, tornando-a num instrumento de salas de concerto, os Danças Ocultas, já com um reconhecimento internacional vão estar em Coimbra, no Convento de São Francisco no dia 31 de outubro, em Lisboa no Teatro Tivoli BBVA a 3 de novembro, em Aveiro a 4 de novembro no Teatro Aveirense e a 21 de novembro na Casa da Música no Porto. O outro destaque vai para o Israelita Avishai Cohen – uma referência incontornável do jazz contemporâneo. Traz a Portugal os seus mais recentes trabalhos – “From Darkness” e “1970”. O músico foi descoberto na cena jazzística americana pela mão de Chick Corea no final dos anos 90 mantendo-se nos seus projetos até 2003. O seu trio fará uma mini tournée pelo país sob o

cunho do Misty Fest e as datas são para marcar na agenda: 20 de novembro no Porto, Casa da música; 22 de novembro em Lisboa no CCB, a 21 de novembro no Convento de São Francisco, em Coimbra, e a 25 de novembro, no Cine Teatro Louletano, em Loulé. O cantor e contrabaixista estará acompanhado de Noam David na bateria e Elchin Shirinov no piano. Para quem gosta de rock e está desejoso de descobrir música nova aqui deixo a minha sugestão. Foi no verão de 2012 que surgiu em Tokyo a banda Kikagaku Moyo (traduzido como Padrões Geométricos). Este grupo composto por artistas da cena underground de rock japonês com influências do krautrock, do psicadelismo, do folk e do punk são já conhecidos do público português. Estiveram em Lisboa nos passados anos de 2015 e 2016 a apresentar o álbum “House in the Tall Grass”. Provocando vários sentimentos ao ouvinte como a introspeção ou explosões arrebatadoras, o grupo tem um forte caráter experimental, por vezes rejeitando estruturas em favor da improvisação outras vezes melodiosos e contemplativos, mantendo uma liberdade estilística característica da sua sonoridade. É composto por um quinteto com um instrumental de duas guitarras, baixo, bateria e sitar. Vão estar a apresentar o seu quarto álbum “Masana Temples” de 2018 a 2 de dezembro no Círculo Católico de Operários do Porto e a 3 de dezembro na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. Para os mais destemidos é um concerto a não perder! Com os dias mais curtos, mudança de temperatura e o chá já inserido no ritual quotidiano, desafio os leitores a combater a astenia outonal com uma dose diária de boa música e uma agenda repleta de bons concertos! Susana Cruz


22 TL SET-OUT 2018

Os contos do zambujal

O DITO POR NÃO DITO

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ceitou. Mais que ter anunciado, foi ela quem anunciou aos familiares e amigos, reunidos na sua bela residência, que sou o noivo e vamos casar não tarda. Eu não esperava. É verdade que caprichei em namoro cerrado mas, sejamos francos, não estou nada apaixonado por esta Nelvira de pelo na venta, desinteressante de cara, de corpo e de espírito. Enamorei-me, sim, pela casa dela, vasta e virada para o rio, tal como pela quinta de sua propriedade no Ribatejo, sem esquecer os automóveis, o grande, de alta cilindrada, e o utilitário para as voltas na cidade. Conheci-lhe os reais atractivos através de um amigo comum. Adoro a casa. Fascina-me a quinta. Seduzem-me os carros. Então, apliquei-me no patuá para que tudo me caísse nos braços. Ontem, depois do jantar, ela insistiu para que mostrasse aos convivas os meus dotes de tenor: – Canta umas árias do Rigolleto, Geraldo. Fui muito aplaudido. E ela, que me tinha apresentado sem referência a qualquer relação amorosa, pediu silêncio e deu a novidade – novidade inclusive para mim: – O Geraldo e eu estamos noivos. O casamento é no mês que vem. Não sei explicar o meu desassossego interior. Por um lado radiante como alguém premiado na lotaria, ao invés desolado por me afastar definitivamente da Manuela. A Manuela é o máximo. De cara, de corpo e de espírito. Só detesto a casa onde vive, um nicho alugado e ainda mais sombrio que o meu. Imagino o desgosto que lhe vou dar mas tem de compreender, é a vida.

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oje vamos encontrar-nos, a Nelvira e eu, no bar de um hotel de luxo. Com ela tudo é em grande. Como de costume farei o gesto de quem se propõe pagar a conta demorando o tempo suficiente para ela avançar com o cartão dourado. Arrasto a conversa. Há pormenores que devo esclarecer, habilmente, podem achar-me interesseiro mas jamais imprudente. E digo: – Cruzei-me ontem com o Policarpo e a Mabília. Casal esquisito. Ele é senhor de

uma fortuna e ela sem nada a que chame seu. É deplorável. Os meus pais casaram-se em comunhão geral de bens, na minha família não há casais separados de bens e haveres. Que achas tu da situação do Policarpo, rico, e da mulher, pobretana? – Acho péssima – disse ela. – União verdadeira deve juntar as posses de cada um. Respirei fundo, o meu futuro abria-se claro e farto. No entanto, estranho duas rugas entre os sobrolhos de Nelvira, ela nunca tem boa cara mas hoje exagera. – Que se passa, meu amor? – Problemas – responde, seca. – Não podem ser importantes. Que problemas pode ter uma mulher como tu, a quem não falta nada e, ainda por cima, vai ter-me por marido? – Só me restas tu. De resto, perdemos tudo. – Perdemos? Quem? – A família, eu. Metido em negócios ruinosos, ludibriado por gente sem escrúpulos, o meu pai caiu na falência total. Aquele apartamento que tu apreciavas, a quinta no Ribatejo, até os carros, tudo passou das penhoras para as mãos dos credores. Paciência, é a vida. Devo ter empalidecido, senti-me à beira de desfalecer. Todavia o meu cérebro trabalhava acelerado. Que dizer? Que fazer? Por fim quebrei doloroso silêncio: – Calma, querida, cá estamos nós para enfrentar as dificuldades. Temos de ser

Respirei fundo, o meu futuro abriase claro e farto. No entanto, estranho duas rugas entre os sobrolhos de Nelvira, ela nunca tem boa cara mas hoje exagera. – Que se passa, meu amor? – Problemas – responde, seca.

Mário Zambujal

lúcidos. Na realidade, eu não estou certo de querer casar-me, perder a liberdade de solteiro, olha, entrava no teu apartamento de luxo e, ai, as saudades que eu já tinha da minha alegre casinha! Por coincidência, vinha dizer-te hoje que, quanto a casamento, é preferível tirar o cavalinho da chuva. Não estão reunidas as condições. Foi então que ela me surpreendeu. Desatou num riso convulsivo, engasgava-se na sucessão de gargalhadas. – Ainda bem que concordas – disse eu. – Perfeitamente – e ria-se, ria-se. – Desmascarei-te, Geraldo. Tudo o que acabo de dizer-te é falso, um teste para avaliar quem realmente és. Não tenhas pena de mim, continuo dona da casa, da quinta no Ribatejo, dos carros. E agora estou ainda mais contente por não me casar com um trafulha como tu. Levantou-se e ria-se ainda quando saiu porta fora.

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tordoado, sentei-me num banco do jardim, tentando pensar. Doía-me a cabeça, censurei a ingenuidade de cair na esparrela do vivaço. E pensei em Manuela, a mulher que realmente me deslumbrava.

Liguei: – Manuela! Olá, minha deusa, daqui o Geraldo. Há quanto tempo não nos vemos? Dois meses? Imperdoável. Tenho andado envolvido nuns enredos, tudo resolvido, na maior, chegou o tempo de passarmos a casal. Para já, esta noite vamos dar um passeio. Talvez até dançar. Ela tem sempre uma voz calorosa, doce, disse: – Ainda bem que ligaste, Geraldo. Tenho de te pedir desculpa pelo silêncio mas nestas alturas os afazeres são muitos. Lembras-te daquele senhor de certa idade que me mandava flores e chocolates? Eu, tonta, troçava dos avanços dele. E, olha, casamo-nos ontem, estamos de partida para Roma. Matrimónio em comunhão geral de bens, calcula, vivo numa casa enorme com vista para o rio, temos outra casa na praia, uma quinta, três carros. E mais coisas, ele é um homem abastado, melhor dizendo, somos abastados. Engraçado, sempre pensei que acabaria por casar contigo. Mas é a vida. Tive sorte, Geraldo.


TL SET-OUT 2018 23

Passatempos

agenda inatel

Palavras cruzadas POR josé lattas 1

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ATIVIDADES CULTURAIS E DESPORTIVAS

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ÉVORA

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HORIZONTAIS: 1-Afortunado; Aprendo. 2-Carimbo; Sigla da Autoridade para as Condições do Trabalho. 3-Apelido de poe-ta português (1740-1811). 4-Absoluta; Pequena sela, sem arção. 5-Acautelado; Cabeça. 6-Câmbio; Ainda. 7-Nome de flor; Cádmio (s.q.); Nota musical. 8-Pronome possessivo (fem.) (inv.); Normas. 9-Esbanjador; Elemento de composição de palavras, que expressa a ideia de montanha, altura. 10-Alcançava; Diz-se dos batráquios, que apresentam quatro membros e não têm cauda. 11-Pão ou bolo feito de farinha de milho; Viela.

VERTICAIS: 1-Nota que vale metade da semicolcheia; Divindade egípcia, que segundo a lenda grega, era filho de Zeus e Niobe, e rei de Argos. 2-Aconteces; Pretidão. 3-Contencioso. 4-Inofensivos; Expor. 5-Cuidar; Elemento que indica a ideia de amina. 6-Telúrio (s.q.); Molibdénio (s.q.) (inv.); Biscaia. 7-Proveitos; Comediante. 8-Estofo; Prefixo que exprime a ideia de em frente, inversão, oposição. 9-Saltas Quinhão. 10-Numeral cardinal (inv.); Motivo.11-Alcance; Separo.

Soluções:

Exposição Festival Internacional de Arte Jovem 2018 – Até 16 de novembro, Salão Nobre. Exposição resultante do Festival de Arte Jovem 2018, realizado em Évora há vários anos, e destinado a jovens artistas entre os 6 e 19 anos, selecionados no seu país de origem através de concursos internacionais. Exposição Pintura – 2 de NOV até 23 de NOV, GALERIA INATEL. Exposição de Maria Luísa Ferro. Os seus trabalhos são norteados sobretudo pelo património do imenso sul alentejano. Exposição Comemorações 100 Aniversário Juventude Sport Clube – 5 de DEZEMBRO a 5 de JANEIRO 2019, GALERIA INATEL. A exposição comemorativa do 100.o Aniversário do Juventude Sport Clube, de Évora, pretende retratar a história do Clube através de objetos e imagens elucidativas do todo o seu percurso histórico.

de leituras dos textos vencedores do Concurso Inatel/Teatro Novos Textos são coordenadas e apresentadas por Eleonora Marino Duarte.

SANTARÉM

LISBOA

Domingos com música: Projecto Pedagógico Sinfonix, Cultivarte – Associação Quarteto de Clarinetes de Lisboa, 28 de outubro, 25 de novembro e 16 de dezembro, pelas 11h30, no salão nobre do Teatro da Trindade Inatel. Criado em 2004, o Sinfonix tem-se afirmado como um projeto de sensibilização musical inovador. A Cultivarte, que conta com a especialização dos seus membros, proporciona aos jovens o contacto com a música ao vivo e os seus diferentes géneros musicais.

TRADISSONS – Festival de Música Tradicional Portuguesa, 9 e 10 de novembro, no Centro Cultural Gil Vicente, Sardoal. A Fundação Inatel, com a parceria com o Município do Sardoal, realiza a 1.a edição do “Tradissons”, um festival de música tradicional de várias regiões do país, workshops, exposições, cinema, e um magusto de São Martinho.

1-FELIZ; BEBO. 2-SINETE; ACT. 3-F; TOLENTINO. 4-ÚNICA; SELIM. 5-SEGURO; CACO. 6-ÁGIO; MAIS. 7-ROSA; CD; MI. 8-AUS; MÉTODOS. 9-PRÓDIGO; ORO. 10-IA; ANUROS; L. 11-S; BROA; BECO.

VISEU

Sudoku POR Jorge Barata dos Santos Problema n.011 Prencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado.

Soluções:

MANTEIGAS

Encontro Nacional de Caminheiros – Caminhada Rota das Faias, 27 e 28 de outubro. Uma atividade de aventura em outdoor promovida pela Fundação Inatel, em parceria com a Associação de Desporto para Todos, de Coimbra. Informações: UOL Inatel de Coimbra | Tel. 239 853 385.

PONTA DELGADA

LEITURAS DRAMATIZADAS DE TEXTOS PARA TEATRO – 28 DE NOVEMBRO, 21H, TEATRO MICAELENSE. “A Noite Despe-se no Escuro” de João Santos Lopes, texto vencedor do 1.o prémio do Concurso Inatel Teatro Novos textos 2016/2017. As sessões

III Trail Subida à Serra de São Macário, 11 de novembro. Trail longo (34 km), Trail curto (20 km), Caminhada e Mini Trail (8 km). Iniciativa da Fundação Inatel em parceria com o CCD Grupo Todo o Terreno SPS e apoio da Câmara Municipal de São Pedro do Sul. Informações: UOL Inatel de Viseu | Tel. 232 423 762.



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