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A palavra que só a Igreja tem autoridade para dizer

Há tempos assisti a uma mesa redonda, na qual participavam dois filósofos italianos, e o tema em discussão era a “salvação”.

O que me impressionou foi a orientação que o debate seguiu, ou seja, de entender a “salvação” no sentido de plena saúde integral do homem, nas suas dimensões físicas, morais e espirituais, que estão permanentemente ameaçadas pela “morte”, que é um limite irrecusável, de modo que não há autêntica salvação, - que também pode ser entendida como libertação da escravatura ou redenção do pecado -, que não salve da morte. A salvação plena do homem só é real se for possível salvar da morte.

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Um dos filósofos participantes na mesa redonda era o italiano E. Severino, recentemente falecido, segundo o qual a razão da ciência e da filosofia em geral, o que move o homem a cultivar os diversos domínios do saber, é a tentativa de vencer a morte, tal o instinto, o desejo mais profundo de viver, que anima todos os seres vivos, particularmente o homem, para o qual a morte dos outros, como evocação da própria morte, é algo repugnante, contraditório do profundo desejo de viver. Não é, portanto, a admiração pela beleza e harmonia do Universo; não é a surpresa perante o facto de haver o ser e não o nada, embora tudo isto seja significativo, mas sim a luta contra a morte que está na origem das ciências e da filosofia. O medo perante a morte é que move o homem à procura, pela ciência e pela filosofia, se não a vencer a morte, pelo menos a encontrar para ela algum sentido. E a história da ciência e da filosofia é a narração desta busca de sentido, que cada geração recomeça de novo a percorrer o mesmo caminho, sem lhe encontrar uma resposta. A conclusão dessa mesa redonda foi que a morte não pode ser vencida: ela precisa de ser redimida, salva. ressuscitou! Aleluia”. Esta é a palavra que só a Igreja pode proclamar: Cristo venceu a morte, Cristo redimiu a morte e deu-nos o Seu Espírito para podermos participar nesta vitória: “Não temas: Eu sou o primeiro e o último. O que vive, conheci a morte, mas eis-me aqui vivo pelos séculos dos séculos. E tenho as chaves da Morte e do Inferno” (Ap 1,17-18).

Na Quinta-Feira Santa evocamos a agonia de Jesus no horto. Os Evangelhos narram a “tristeza de morte” que Jesus sentiu naquela hora. É uma das cenas que mais me toca em todo o Evangelho, na qual se manifesta a profunda humanidade de Jesus, o qual assumiu toda a nossa natureza mortal e o pavor perante a morte. Mas a narrativa pascal mostra-nos Aquele, que sentindo o horror perante a morte, na obediência filial até à morte – “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito” - venceu e redimiu a morte. S. Paulo proclama o querigma pascal; “morreu, segundo as Escrituras; ressuscitou, segundo as Escrituras” (1Cor 15,3-4).

Se a filosofia, segundo Severino, é movida pela tentativa de encontrar pelo menos um sentido para a morte, a teologia e o mistério da Igreja vivem na sua história – uma história da verdade e da caridade – do anúncio vitorioso da salvação da morte, porque a Igreja é a comunidade dos viventes, cuja missão é irradiar para o mundo o suave perfume de Cristo: “somos para Deus o bom odor de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem” (2Cor 2,15).

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