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1. Os acervos: acolher, tratar, conservar, digitalizar e disponibilizar

Ainda que todos os acervos sejam alvo de atenção, nem todos se encontram no mesmo estado de tratamento documental no que se refere à descrição arquivística, acondicionamento e organização intelectual, ou mesmo disponibilização para consulta pública, situação resultante da confluência de múltiplas variantes: decorrente dos vários tempos que balizam a sua incorporação; devido à especificidade e/ou complexidade inerente a cada um destes Sistemas de Informação; pela possibilidade de captação de recursos financeiros e/ou humanos particularmente direcionados para o tratamento de registos documentais de um determinado arquiteto; ou até mesmo a existência de projetos de investigação, expositivos ou editorias que, incidindo num acervo específico condicionam o seu tratamento, global ou em parte, prioritário.

Em 2020 tornou-se imperativo assegurar a conclusão do processo de incorporação do arquivo profissional de Carlos Carvalho Dias, um arquiteto e urbanista, com um percurso iniciado nos anos cinquenta e que também passou pela área do património, com uma primeira doação à Fundação Marques da Silva dos registos relativos à sua participação no Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, efetuada em 2018. Em 2020, em nova doação, foram inventariadas e recolhidas mais 2 peças de mobiliário e 52 caixas com peças escritas e peças desenhadas, bem como biblioteca com livros e revistas especializadas. O Sistema de Informação do arquiteto José Porto, como já antecipado, foi igualmente ampliado com a integração de cerca de uma dezena de esquissos, onde sobressaem os desenhos datados da década de 40 do século XX para o Clube Náutico da Beira doados pelo arquiteto Abílio Mourão. O seu doador, conjuntamente com André Eduardo Tavares, apoiou o trabalho de identificação prévia destes desenhos, facilitando e abreviando o tratamento arquivístico dos materiais que já se encontram disponíveis para consulta. No caso do acervo do arquiteto Octávio Lixa Filgueiras, os 380 livros agora doados pelo seu filho, Carlos Filgueiras, foram inventariados, vindo juntar-se a um total de 1377 títulos

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catalogados, dos quais 158 se encontram inseridos no catálogo bibliográfico que a Fundação Marques da Silva disponibiliza para consulta pública na plataforma Aleph.

O tratamento documental dos acervos dos arquitetos Bartolomeu Costa Cabral e de Rui Goes Ferreira, compostos por peças desenhadas, escritas, fotografias e maquetas, iniciado em 2019, com recursos humanos especificamente dedicados a este trabalho, foi continuado em 2020. No que se refere

a Bartolomeu Costa Cabral, foi concluído o recenseamento e acondicionamento da documentação escrita, incluindo fotografi as, correspondente a 1.548 unidades de descrição. As peças desenhadas e as peças escritas dos processos de obra foram igualmente organizadas fi sicamente. Foi ainda criada a entrada do Arquivo de Bartolomeu Costa Cabral na plataforma digital de arquivos AtoM, bem como a correspondente árvore de classifi cação, tendo-se dado início ao processo de transferência dos dados relativos a este arquivo para a referida plataforma. A seção documental do arquivo pertencente ao GPA (Gabinete de Planeamento e Arquitetura) já depositado na Fundação - que se cruza e complementa parte da documentação existente no acervo do arquiteto Bartolomeu Costa Cabral, por este arquiteto ter sido durante um período da sua vida profi ssional colaborador daquele gabinete de arquitetura, constituída por peças desenhas e peças escritas relativas a 95 processos de obra, começou a ser recenseada e descrita. Até ao fi nal do ano 2020 foram descritas 431 unidades de peças escritas e 7 unidades de peças desenhadas. Quanto ao acervo de Rui Goes Ferreira, um arquivo de arquitetura com registos relativos a 184 processos de obra, fi cou concluída a operação de organização intelectual. Em sequência, deu-se início à organização física das peças desenhadas por obra e está em curso a inserção gradual de informação na plataforma digital de arquivo AtoM tendo em vista a sua representação e divulgação online. Estes dois acervos foram incluídos no projeto de digitalização iniciado no fi nal de 2020, pelo que contam com cerca de 1500 novas imagens digitais a eles associadas.

Para além dos 6 núcleos referidos, foi ainda continuado o tratamento documental dos acervos dos arquitetos Manuel Graça Dias, Manuel Teles, Fernando Lanhas, Manuel Marques de Aguiar, Octávio Lixa Filgueiras e Raúl Hestnes Ferreira, constituídos essencialmente por documentos escritos, peças escritas e peças desenhadas de processos de obra, fotografi as e maquetes. Mas também os núcleos bibliográfi cos de Rui Goes Ferreira (2), Alfredo Matos Ferreira (18) e Fernando Távora (293) foram catalogados.

A entrada em regime de teletrabalho, durante os meses de março e maio de 2020, tornou possível intensifi car o trabalho desenvolvido sobre as plataformas Aleph e AtoM (esta em open access), ferramentas privilegiadas para gestão e divulgação de conteúdos documentais. Foram assim criadas novas entradas para consulta

via web de acervos pertencentes a 7 arquitetos: Bartolomeu Costa Cabral e Rui Goes Ferreira, como já referido, mas também Fernando Lanhas, José Porto, Manuel Teles, Octávio Lixa Filgueiras e Raúl Hestnes Ferreira. Este foi também um meio de manter o contacto com o público em geral e os investigadores em particular, não obstante o encerramento temporário das instalações para atendimento presencial.

A Fundação Marques da Silva adjudicou ainda, durante o ano de 2020, a limpeza de sujidade superfi cial e remoção de elementos metálicos de 2,8 ml de documentação escrita e 30 rolos de peças desenhadas pertencentes ao atelier de Francisco Granja, à Ofi cina de Conservação e Restauro de documentos gráfi cos da Universidade do Porto, trabalho esse que será executado após conclusão da higienização dos 60 ml de documentação pertencente ao acervo de Raúl Hestnes Ferreira. Contudo, foram já restaurados 20 desenhos de arquitetura relativos ao CODA e ao projeto para um Hotel no Gerês, e uma prova fotográfi ca referente ao Cineteatro Vale Formoso. Com o adiamento para o mês de outubro das exposições, na sequência do surto pandémico, a instituição reprogramou-se viabilizando a materialização de outros projetos de grande importância no universo de interesses da Fundação.

Em primeiro lugar, o tratamento, higienização e reacondicionamento do acervo de Raúl Hestnes Ferreira, que resultou, no fi nal de 2020, na limpeza de 20.130 peças desenhadas e no recenseamento cerca de 900 pastas de peças desenhadas. A montagem desta operação em larga escala, e que se estende para 2021, implicou o delinear de uma logística complexa com a preparação de espaços de trabalho e a organização de uma equipa de 5 elementos, sob orientação da Ofi cina de Conservação e Restauro da Universidade do Porto, liderada por Ana Freitas. Daqui resultaram condições de formação a 3 estagiários da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e à instituição controlar e assegurar a preservação de um acervo, benefi ciando em simultâneo, de um apoio e aconselhamento especializado na área da conservação e restauro se estendeu a outras situações.

Em segundo lugar, a Fundação Marques da Silva, agora sem apoios externos, ativou uma nova operação de digitalização em grande escala. Desta vez, não sobre um acervo específi co, como foi o caso das digitalizações sobre os acervos de José Marques da Silva, de Fernando Távora e Alcino Soutinho, apoiadas pela Fundação Calouste Gulbenkian, mas transversal a 12 acervos. A digitalização, para além de contribuir para a preservação da documentação física, ao dispensar a sua manipulação como regra, otimiza as possibilidades de consulta e divulgação, sendo uma etapa fundamental no tratamento documental. Assim, com a colaboração da empresa Graf-IT, em 2020 foram digitalizados 7086 documentos, que o seguinte quadro discrimina:

Nº Refª Nome do Sistema de Informação Nº de Documentos Total de peças digitalizadas

1 Alfredo Matos Ferreira 44 860 2 Bartolomeu Costa Cabral 17 571 3 Fernando Lanhas 101 1146 3 Fernando Lanhas 101 1146 4 Fernando Távora 57 1168 5 José Carlos Loureiro 4 224 5 José Carlos Loureiro 4 224 6 José Marques da Silva 66 66 7 José Porto 30 239 7 José Porto 30 239 8 Manuel Marques de Aguiar 24 477 9 Maria José e David Moreira da Silva 5 282 9 Maria José e David Moreira da Silva 5 282 10 Octávio Lixa Filgueiras 24 316 11 Raúl Hestnes Ferreira 18 1045 11 Raúl Hestnes Ferreira 18 1045 12 Rui Goes Ferreira 25 692

Total 415 7.086

É importante ressalvar que um projeto de digitalização com esta dimensão pressupõe a defi nição de um plano estruturado de ações que envolve múltiplas etapas: estabelecimento de critérios para seleção prévia dos documentos; a separação das peças desenhadas selecionadas; quando necessário e possível - a sua higienização e planifi cação; recenseamento e organização cronológica das peças desenhadas dentro de cada obra; cotagem das peças desenhadas; a digitalização propriamente dita; a posterior arrumação do documento físico; o controlo de qualidade e tratamento intelectual do objeto digital; e, por fi m, a disponibilização online através da inserção dos novos conteúdos nas bases de dados e plataformas digitais.

Seja em resposta a pedido de investigadores, seja em função de projetos editoriais ou expositivos, a Fundação Marques da Silva continua a assegurar internamente a realização de digitalizações, destacando-se, em 2020, a realização de documentos pertencentes ao acervo de Fernando Távora, num total de 1.025 novas imagens digitais que acrescem às imagens realizadas externamente. A equipa técnica do Centro de Documentação da Fundação, composta por três elementos (Conceição Pratas, Ana Sofi a Ramos e José Gouveia) e reforçada por dois dos estagiários que colaboraram na operação de higienização do acervo de Raúl Hestnes Ferreira (Carlota Tavares e Alexandra Guedes) e pela contratação da estagiária que em 2019 realizou o tratamento da biblioteca de Octávio Lixa Filgueiras no contexto de um estágio curricular, agora em regime de estágio profi ssional (Adriana Martins), para além do trabalho já referenciado e do atendimento permanente a investigadores, continuou ainda a colaborar ativamente nos projetos expositivos levados a cabo na sede da instituição: Mais que Arquitetura e Siza: inédito e Desconhecido. Para além do apoio na preparação dos espaços de exposição; na seleção, cotagem, registo de controlo de saída e entrega de documentos a serem expostos na exposição Mais que Arquitetura; na adaptação às alterações espaciais decorrentes da montagem das exposições e dos projetos de digitalização e higienização em curso; por fi m, após a inauguração das exposições, a 17 de outubro, parte dos seus membros asseguraram também a vigilância dos espaços expositivos e o atendimento e orientação de visitantes.

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