8 minute read
1.1.2. Dos bastidores para a esfera pública
Os arquivos e todo o trabalho desenvolvido em torno da preservação e tratamento da documentação de arquivo e biblioteca são a estrutura central da Fundação Marques da Silva.
DOAÇÕES Não tendo sido possível programar as habituais sessões públicas de assinatura de protocolos de doação e apresentação de acervos, foram apenas noticiadas e registadas peças doadas ou registos fotográficos de reuniões decorridas nas instalações da Fundação.
FRANCISCO GRANJA Com a documentação a ser recolhida ainda em 2019, num processo apoiado por Clara Pimenta do Vale e César Romão, foi apenas a 30 de junho que foi formalizada a doação com a assinatura do protocolo pela Presidente, Fátima Vieira, e o Vice-Presidente, Luís Urbano, em representação da instituição e, pela família de Francisco Granja, por Maria Júlia Granja e Helena Pato Granja, esposa e filha deste arquiteto. O acervo é constituído por centenas de registos de projeto (peças desenhadas e escritas), fotografias e revistas de arquitetura e urbanismo a documentar o percurso de um arquiteto que foi discípulo de Marques da Silva. Francisco Granja projetou,
entre outras obras, o Cineteatro Vale Formoso, a Garagem da Peugeot, ou o conjunto de edifícios residenciais para a rua António José da Costa, no Porto. A documentação doada começou, em 2020, a ser alvo de tratamento arquivístico e de ações de conservação e restauro, tendo em vista a sua futura disponibilização. Até ao final do ano, foram restauradas 10 peças desenhadas e 1 painel fotográfico.
CARLOS CARVALHO DIAS E JOSÉ PORTO Sendo ampliações de doações já existentes, foram partilhadas notícias relativas à entrada da nova documentação que, no caso do arquiteto Carlos Carvalho Dias referem-se agora à decisão de doar todo o seu arquivo e biblioteca profissionais à instituição que, até à data, apenas tinha incorporado os registos relativos à sua participação no Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal. Ainda a propósito deste gesto, Alexandra Saraiva publicou uma entrevista na revista Archivoz Magazine de setembro, onde este Arquiteto expõe um conjunto de reflexões sobre a preservação da memória no domínio da Arquitetura. Também o acervo de José Porto cresceu. São mais de uma dezena de esquissos, onde se destacam os estudos para o Clube Náutico da Beira, projeto desenvolvido na década de 40 do século XX. Documentos raros, recentemente encontrados e agora entregues à Fundação Marques da Silva pelo Arquiteto Abílio Mourão.
PROJETO DE HIGIENIZAÇÃO, ACONDICIONAMENTO E DIGITALIZAÇÃO A decisão de se proceder à implementação em larga escala de ações de conservação e restauro para higienização e reacondicionamento de documentação, visando mais de 20.000 documentos pertencentes ao acervo de Raúl Hestnes Ferreira, bem como a decisão de se proceder à digitalização de mais de 7.ooo documentos transversais à documentação de 12 arquitetos representa um forte investimento em ações de prevenção e salvaguarda documental com evidentes contributos para otimizar o seu futuro estudo e divulgação. São ações que se situam num claro cumprimento dos compromissos assumidos com os seus doadores e um sentido de responsabilidade para com a missão que preside a instituição. Mas foi também um momento único pela conjugação num mesmo período temporal de sobreposição de múltiplas fases de abordagem sobre um mesmo universo documental: preservação (arquivo e tratamento); estudo (investigação e montagem de projetos expositivos); divulgação (as exposições per si) e que a Fundação não deixou passar sem proceder à montagem de um vídeo que pedagogicamente ilustra estas fases, dando a conhecer os bastidores do trabalho desenvolvido na Fundação: foi com esse vídeo que se deu as boas vindas a 2021. Mas ao longo destas operações, houve a preocupação de recolher registos (fotográficos e em vídeo) para os documentar e ir partilhando, a par e passo, a sua evolução com o público.
No caso da documentação relativa ao acervo de Raúl Hestnes Ferreira, registos que permaneciam inéditos ou se julgavam perdidos foram encontrados e já possibilitaram a publicação de 3 comunicações de Alexandra Saraiva: “Hestnes Ferreira between European timelessness and North American classicism”, na AMPS Proceedings Series 17.1. Education, Design and Practice; “Hestnes Ferreira´s Proposal for Amsterdam City Hall Competition - Analyzed in continuity with Louis Kahn”, publicada no Journal of Architecture and Urbanism; e um estudo sobre os projetos candidatos à Ópera da Bastilha de Raúl Hestnes Ferreira, Alfredo Matos Ferreira e Manuel Graça Dias a apresentar em 2020, no Colóquio Grands Projets: Urban legacies of the late XX century.
Para o Dia Internacional dos Museus, a 18 de maio, foi lançado o vídeo De Paris para o Porto: o restauro dos desenhos de Marques da Silva do atelier Laloux. Enquanto se aguardava o momento de reabertura das instalações, portanto sob confi namento, este dia foi sinalizado com uma iniciativa digital: um olhar pedagógico para tornar visível o processo de restauro dos desenhos realizados durante
a formação de José Marques da Silva em Paris, entre 1890 e 1896, enquanto aluno da Escola de Belas Artes e jovem aprendiz de arquiteto no atelier de Victor Laloux. Falamos de 68 desenhos de arquitetura, 10 desenhos de modelo e ornamento, 44 enunciados e 2 memórias descritivas - hoje parte integrante do acervo da Fundação Marques da Silva - que foram alvo de um amplo e meticuloso processo de restauro, em grande parte realizado por Ana Freitas, da Oficina de Conservação e Restauro de Documentos Gráficos da Universidade do Porto.
O ACESSO DIGITAL À CONSULTA DE DOCUMENTOS Só em 2020, 7 novos Sistemas de Informação foram integrados e abertos à consulta pública no Arquivo Digital que a instituição tem alojado na plataforma AtoM. Uma conquista importante que foi sinalizada em dois momentos. O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, 18 de abril, tornouse pretexto para divulgar a disponibilização dos Sistemas de Informação de Bartolomeu Costa Cabral, Fernando Lanhas, Raúl Hestnes Ferreira e Rui Goes Ferreira. Em junho, foi divulgada a presença em arquivo digital de Octávio Lixa Filgueiras e Manuel Teles. Em setembro, com a entrada de nova documentação, o Sistema de Informação de José Porto.
ARQUITETURA FALADA Em tempo de confinamento, a Casa Comum da UP lançou o desafio e a Fundação Marques da Silva respondeu com a proposta de realização de duas linhas de podcasts: “Escritos Escolhidos” e “Passa-a-Palavra: falemos de arquitetura”. O primeiro, tomando de empréstimo o título do último livro publicado no âmbito da tradução da obra escrita de Giorgio Grassi, “Escritos Escolhidos”, centra-se na leitura de textos escritos por arquitetos que pertencem ao universo desta Fundação, isto é, com destaque para os escritos de arquitetos cujos acervos foram confiados a esta instituição. Inéditos ou já publicados, são sempre textos que pretendem oferecer um outro olhar sobre quem os escreveu ou sobre a matéria que abordam. “Passa-a-Palavra: falemos de arquitetura”, em contrapartida, estabelece uma ligação ativa e dinâmica com a comunidade de arquitetos. Tendo como ponto de partida, o testemunho do Diretor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, cada participante foi convidado a revelar o projeto ou obra que tem um lugar de referência na sua visão do mundo da Arquitetura, lançando por sua vez o desafio a um outro arquiteto que será o participante seguinte.
Estes programas foram pensados e conduzidos por Paula Abrunhosa, com produção de Paulo Gusmão. Até ao final de 2020 foram publicados 32 programas no total:
ESCRITOS ESCOLHIDOS (ABRIL-DEZEMBRO 2020):
#1: José Marques da Silva: Carta ao Presidente do Senado da Câmara Municipal do Porto (1915) | Arquivo Digital:documentosrelativos à abertura da Avenida #2: Fernando Távora: O granito da minha infância (1999) #3: Alcino Soutinho: Um país de países (s.d.) #4: Alexandre Alves Costa: Apresentação de Maria de Sousa (1996) #5: Bartolomeu Costa Cabral: Arquitectura: passado, presente, futuro (2015) #6: Álvaro Siza: Vittorio Gregotti (1989) e Gravura de Picasso (2020) #7: Raúl Hestnes Ferreira: À volta de Carlos de Oliveira (s.d.) #8: José Carlos Loureiro: Palácio do Freixo (1981) #9: Sergio Fernandez: Vill´Alcina (2006) #10: Álvaro Siza: Barragán (1994) e António Quadros (1991) #11: Fernando Tavora: Casa da Covilhã, Guimarães (1983) | Arquivo Digital FIMS #12: Sobre Arménio Losa: textos de Álvaro Siza, Alcinho Soutinho, Jorge Gigante e Fernando Távora (1988) #13: José Porto: Ante projeto para o Coliseu do Porto (1938) | ebook Coliseu do Porto #14: Fernando Lanhas: pensamentos a vários tempos (s.d.) #15: Octávio Lixa Filgueiras: “Usina”, in Requiem às Glórias do Mundo (1949) #16: Fernando Távora: Taliesin (1960) #17: Álvaro Siza: Le Corbusier (2020)
PASSA-A-PALAVRA: FALEMOS DE ARQUITETURA
(ABRIL-DEZEMBRO 2020):
#1: João Pedro Xavier: Pavilhão Barcelona, Mies van der Rohe - Barcelona #2: Nuno Brandão Costa: Basílica de São Lourenço, Filippo Brunelleschi - Florença #3: Pedro Ramalho: Casas geminadas na Werkund, Adolf Loos - Viena #4: João Pedro Serôdio: Casa Farnsworth, Mies van der Rohe - Illinois #5: Francisco Vieira de Campos: Casa em Porto Manso, Eduardo Souto de Moura - Baião #6: Graça Correia: Lafayette Park, Mies van der Rohe - Detroit #7: Nuno Valentim: Casa Barragan, Luis Barragán - México #8: José Gigante: A “rota Corbusier” - França #9: João Mendes Ribeiro: Neues Museum, David Chipperfi el - Berlim #10: Andreia Garcia: Capela das Irmãs Clarissas Capuchinhas, Luis Barragán - México #11: Carlos Antunes: Arquiteturas sem arquitetos: ninhos #12: Harry Wolf: Pavilhão Barcelona, Mies van der Rohe - Barcelona* #13: Robert McCarter: Unity Temple, Frank Lloyd Wright - Oak Park, Illinois #14: Sandra Barclay: Casa Curutchet - La Plata, Buenos Aires