A Floresta Relíquia da Mata do Buçaco: conhecer para preservar Sónia Guerra, Rosa Pinho e Lísia Lopes Universidade de Aveiro 22-11-201
ÍNDICE • Floresta Relíquia - Mata Climácica da MNB • Património botânico • Habitats naturais • O Adernal da Floresta Relíquia • O Adernal em Portugal • Conservação da Floresta Relíquia – Projeto Life+ Bright • Espécies invasoras • Situação de referência • Intervenções florestais de controlo • Monitorização da flora e habita ts • Resultados • Considerações finais
FLORESTA RELÍQUIA - MATA CLIMÁCICA DA MNB A MNB possui 17ha constituídos por espécies da vegetação natural climácica representativa das florestas ancestrais da região, que constituem a Floresta Relíquia (FR).
extremo sudoeste da MNB exposição predominantemente a norte que corresponde à zona mais alta e declivosa da Mata do Buçaco
Composição florística da Mata Climácica: Espécies mesófilas de folha caduca (Atlânticas) Espécies esclerófitas de folha perene (mediterrânicas) Dos 173 taxa identificados na Mata Climácica, 26 são elementos com distribuição restrita (endemismos).
PATRIMÓNIO BOTÂNICO DA FLORESTA RELÍQUIA Endemismos registados na Mata Climácica do Buçaco. Segundo a Flora Iberica (Castroviego et al., 1986 - 2007).
Diretiva Habitats • Narcissus bulbocodium L. subsp. bulbocodium Anexo V • Narcissus triandrus L. subsp. pallidulus (Graells) Rivas Goday Anexo IV • Ruscus aculeatus L. Anexo V
HABITATS NATURAIS DA FLORESTA RELÍQUIA Habitats •
Subtipo do Habitat prioritário 5230 - Louriçal Matagais arborescentes de Laurus nobilis. (Bosquetes dominados por Laurus nobilis)
•
Subtipo do Habitat 9230 - Carvalhal Carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica
•
Variação (subtipo) não descrita do Habitat 5330 - Adernal Matos termomediterrânicos pré-desérticos. (Matagais altos dominados por Phillyrea latifolia) - semelhantes ao subtipo 5330pt3, Medronhais, mas com diferentes relações de dominância e codominância
O ADERNAL DA FLORESTA RELÍQUIA Comunidades vegetais a destacar - adernos (adernal) - habitat inédito em Portugal e possivelmente na Europa. Tipo de vegetação abundante no passado na região Centro - atualmente ocorre na Mata do Buçaco com maior expressão. Formações dominadas pelo aderno (Phillyrea latifolia) - com uma dimensão espacial pequena - relíquia biogeográfica.
Representam cerca de 8,4ha da FR- desde o largo da Cruz Alta até ao Passo de Caifás dominância de adernos de porte arbóreo (70100% de cobertura) - alguns povoamentos praticamente puros, constituído por exemplares notáveis.
O ADERNAL EM PORTUGAL
- Matas da Serra da Arrábida, com formações vegetais de adernos no estrato dominante;
- Mata dos Henriques/Parque Municipal do Bombarral, situada no centro da Vila do Bombarral possui um conjunto arbóreo caracterizado por uma relíquia da floresta autóctone da região oeste, com carrascos e adernos arbóreos, e que se encontra classificado como arvoredo de interesse público; - Bosque do Convento de Santo António do Varatojo, situado no alto de uma colina a poente da cidade de Torres Vedras, aparentemente faz parte da antiga cerca conventual da ordem dos Franciscanos e pelas suas características aparenta ser uma pequena relíquia da floresta primitiva da região oeste; - Bosque da Quinta das Lapas (na envolvente de uma das casas senhoriais mais antigas da região oeste); neste bosque que já foi coutada de caça, existem cerca de 2ha de um povoamento com adernos centenários.
CONSERVAÇÃO DA FLORESTA RELÍQUIA LIFE+ BRIGHT Bussaco´s Recovery from Invasions Generating Habitat Threats (LIFE10/NAT/PT/075) Promotor: Fundação Mata do Buçaco Parceiros: Universidade de Aveiro e Câmara Municipal da Malhada Implementação: finais de 2011 2016
Objetivos • Promover o controlo de espécies invasoras e preservar o elevado valor conservacionista associado à Floresta Relíquia.
• Travar a perda de biodiversidade da MNB devida a invasão de espécies exóticas com caráter invasor.
ESPÉCIES INVASORAS NA FLORESTA RELÍQUIA
SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA DA FLORESTA RELÍQUIA
ÁREAS OCUPADAS POR ESPÉCIE
Tradescantia fluminensis
1,214
Espécies Invasoras
Robinia pseudoacacia
0,004
Prunus laurocerasus
1,329
Pittosporum undulatum
1,688
Fascicularia bicolor
0,052
Ailanthus altissima
0,035
Acacia melanoxylon
2,051
Acacia dealbata
0,117 0
0,5
1
1,5
2
2,5
Área (em hectares) ocupada na Mata Climácica da MNB em Agosto de 2012
Área invadida global da Floresta Relíquia aproximadamente 6,49ha
INTERVENÇÕES FLORESTAIS DE CONTROLO •
Árvores e Arbustos
Indivíduos com mais de 2m - descasque do tronco - descasque combinado com corte. Cortam-se todos os rebentos, exceto o mais vigoroso que é descascado. Indivíduos de pequena dimensão - arranque de todos os indivíduos, puxando manualmente (desenraizamento) ou com auxílio de enxada • Herbáceas - Arranque manual e/ou enrolamento em tapete
MONITORIZAÇÃO DA FLORA E HABITATS
Técnicas: - Método do quadrado (medição de cobertura de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas) - Método do DAP (Diâmetro à Altura do Peito medição da cobertura basal das árvores) - Metodologia fitossociológica de Braun-Blanquet (comunidades fitossociológicas) Metodologia: 1. Definição de áreas mínimas de amostragem: - 100m2 para comunidades florestais - 1m2 para amostragem de Tradescantia fluminensis 2. Marcação de quadrados fixos de amostragem 3. Georreferenciação dos quadrados com recurso a GPS 4. Identificação e inventariação das espécies de flora 5. Levantamento de coberturas e medição de DAP´s
RESULTADOS – monitorização em Tradescantia fluminensis FRT1 - Tradescantia fluminensis (s/ cobertura) - Portas de Coimbra
0,3500
Tradescantia fluminensis Ruscus aculeatus Panicum repens Plântulas Phillyrea latifolia Geranium purpureum Mercurialis annua Tamus communis Urtica dioica Oxalis corniculata Polygonatum odoratum Arisarum vulgare Stellaria media Gramínea (cf) Oxalis pes-caprae Geranium molle Lamium maculatum Geranium robertianum Acacia sp.
0,3000
0,2500
0,2000
0,1500
0,1000
0,0500
0,0000 6 meses
1 ano
1,5 ano
2 anos
Teste não paramétrico de Friedman com p-value=0,05; diferenças significativas ao longo do tempo ao nível das medianas das % de cobertura levantadas 6 meses (Outono de 2012) após as intervenções realizadas.
RESULTADOS – monitorização de invasoras
em com. Florestal
Parcela FR9 - Interior do Adernal 0,3500
Ruscus aculeatus Laurus nobilis
0,3000
Phillyrea latifolia
0,2500
Phillyrea latifolia Acacia melanoxylon
0,2000
Quercus robur
0,1500
Smilax aspera Ilex aquifolium
0,1000
Cupressus lusitanica
0,0500
Acacia melanoxylon
Arbutus unedo
0,0000 antes
Viburnum tinus
depois
Teste da ANOVA para a % de cobertura por três estratos ao longo do tempo. Fator A: Tempo (antes, depois) e Fator B: Estratos (1-árboreo, 2-arbustivo, 3 - herbáceo) diferenças significativas nos estratos 1 e 2 ao longo do tempo, com p-value=0,05 Quadrado
Fatores da ANOVA
FR9 - Acacia melanoxylon tempo n=30 estrato tempo*estrato
F p-value Resultado F p-value (3estratos) (3estratos) (Anova (2estratos) (2estratos) 3estratos) 9,372 4,874 3,830
,005* ,016* ,034*
X H0 X H0 X H0
6,510 1,190 ,066
,023* ,294 ,802
Resultado (Anova 2estratos) X H0 √ H0 √ H0
CONSIDERAÇÕES FINAIS As espécies invasoras e potencialmente invasoras mais preocupantes são Acacia melanoxylon (2,051 ha) Pittosporum undulatum (1,688 ha), Prunus laurocerasus (1,329 ha) e Tradescantia fluminensis (1,214 ha); Acacia melanoxylon, Acacia longifolia e Pittosporum undulatum entram mais rapidamente em declínio após descasque (aproximadamente 4/5 meses); Efeito de controlo eficaz, principalmente nas parcelas de Tradescantia fluminensis esparsa e mista. Após remoção, existe um banco de sementes com capacidade regenerativa rico em espécies nativas; Tendência para alteração do coberto arbóreo em situação de pós-intervenção (pósBright) nos quadrados com a invasora dominante Acacia melanoxylon; Necessidade de dados equidistantes temporalmente de forma a confirmar as diferenças detetadas até à data, avaliar eventuais alterações nas comunidades vegetais nativas e validar a eficácia do projeto.
Obrigado! rpinho@ua.pt