6 minute read

Semicondutores, estrelas no setor tecnológico

SEMI CONDU TORES

ESTRELAS NO SETOR TECNOLÓGICO

Estas empresas oferecem um forte potencial de crescimento graças, entre outras coisas, ao 5G e à eletrificação de setores para combater as mudanças climáticas. Mas há que não esquecer os riscos.

Os semicondutores tornaram-se um dos grupos mais brilhantes do setor de tecnologia. O índice Philadelphia Sox (específico para o segmento de semicondutores) aumentou 150% desde o início da pandemia e triplicou o seu valor nos últimos cinco anos. Qual é a chave para o bom desempenho do setor? Sem dúvida, os novos segmentos de mercado que usam cada vez mais semicondutores. Um exemplo muito ilustrativo é o mercado de data centers para cloud.

Uma década atrás, praticamente não existia. Hoje, representa 30% do consumo mundial de chips.

Além do crescimento espetacular dos ganhos, o setor teve um re-rating (expansão de múltiplo). Ou seja, os investidores hoje pagam mais pelo lucro das empresas porque reduziram sua ciclicidade e, consequentemente, a sua volatilidade nos resultados. O mercado de semicondutores vai crescer nos próximos anos sem a necessidade de uma economia dinâmica.

ESCASSEZ DE OFERTA

Nas últimas semanas, o setor ganhou manchetes devido à escassez de oferta para atender a uma procura robusta, especialmente em algumas áreas. O confinamento devido à COVID afetou a cadeia de abastecimento destas empresas a tal ponto que não conseguem atender à procura dos seus clientes. Na sua mais recente publicação de resultados, a Infineon, a mais exposta ao setor automóvel, estimou em 2,5 milhões os carros que não pôde produzir por falta de capacidade. Estamos a ver, pela primeira vez numa década, problemas para adquirir televisores ou eletrodomésticos por falta de stock.

MERCADO DE SEMICONDUCTORES POR SEGMENTOS DE MERCADO

INDÚSTRIA 12%

CONSUMO 13% COMUNICAÇÕES 33%

AUTOMÓVEL 13%

Fonte: Kepler. DATA CENTERS 29%

O MERCADO DE SEMICONDUTORES VAI CRESCER NOS PRÓXIMOS ANOS SEM A NECESSIDADE DE UMA ECONOMIA DINÂMICA

CRESCIMENTO ESTIMADO CAGR 2020-23

AUTOMÓVEIS 13%

INDÚSTRIA

MERCADO TOTAL

DATA CENTERS 9%

8% 12%

COMUNICAÇÕES 8%

CONSUMO 7%

Fonte: Kepler. 0% 5% 10% 15%

Isto pode durar? Nós achamos que sim. Em alguns setores, esta situação pode prolongar-se até o início do próximo ano, mas deve-se levar em conta que, com a reabertura da economia, grande parte dos gastos dos consumidores passará de bens duradouros para serviços, amenizando a procura e elevando a capacidade. Muitas empresas nesta situação duplicaram os pedidos para garantir a sua capacidade. Isto também não é sustentável.

Estamos atrasados para investir no setor? Honestamente, acho que não. O setor ainda é negociado em linha com o S&P 500 e oferece um potencial de crescimento muito mais forte, especialmente a médio e longo prazo. Estamos num bom momento por dois motivos principais: o 5G está a chegar, o que permite que muito mais dispositivos eletrónicos sejam conectados à rede (a internet das coisas ou IoT), e a eletrificação de setores para lutar contra as mudanças climáticas.

Porém, a seleção de valores será fundamental, uma vez que parte dos segmentos, como PCs ou terminais, oferecem menos potencial do que, por exemplo, o carro elétrico. No tema IoT, somos especialmente positivos em relação às aplicações relacionadas à saúde e ao uso industrial.

Nas últimas semanas, ao construir os nossos portefólios, a exposição estrutural a semicondutores foi uma das decisões que menos nos demorou a tomar. Empresas como Infineon, Nvi-

A SELEÇÃO DE VALORES SERÁ CHAVE, JÁ QUE PARTE DOS SEGMENTOS, COMO OS PC OU TERMINAIS, OFERECEM MENOS POTENCIAL DO QUE, POR EXEMPLO, O CARRO ELÉCTRICO

dia, ASML ou TSMC, se as coisas não mudarem muito, farão parte do nosso portefólio nos próximos anos.

AMPLO POTENCIAL

O setor está atualmente dividido em cinco grandes segmentos: comunicações e redes móveis, que representam 33% do mercado; data centers, que respondem por 29%; carros (13% do total); produtos eletrónicos de consumo (13%) e indústria (12%).

Dos subsetores, o nosso preferido, sem dúvida, é o automóvel elétrico, área em que vemos um potencial de crescimento próximo de 15% para os próximos três anos contra 9% para o setor de agregados. A outra com maior potencial de crescimento, na nossa opinião, é a industrial, na qual o 5G tem um papel importante. Empresas como a Siemens estão a comprar espetro para ter redes próprias na sua cadeia produtiva.

Outro aspeto que gostamos no setor é a mudança no modelo de muitas empresas, que fecharam as suas fábricas e terceirizaram a produção como a Taiwan Semiconductors, Global Foundries ou Samsung.

Antigamente, situações como a atual de mercado representavam um grande risco para o setor, uma vez que a capacidade demorava quase um ano para entrar em operação, as empresas gastavam grandes somas de dinheiro em capex e muitas vezes a procura caía com a entrada de nova capacidade. Agora estão a concentrar-se na conceção e design do chip e na administração dos timings (embora às vezes a produção não entregue os chips no prazo, como aconteceu no ano passado por causa do COVID).

Além desta mudança de modelo, assistimos também a uma espetacular consolidação do setor: em 2020, com o mundo encerrado pela COVID, vimos oito grandes operações empresariais no setor (algumas delas ainda não aprovadas pelo regulador).

Por fim, e apesar de todos os aspetos positivos já mencionados, não podemos esquecer os riscos a que esta indústria está exposta. Em primeiro lugar, o económico. Embora as empresas de semicondutores tenham reduzido a sua ciclicidade, uma queda na atividade certamente afetará as suas vendas, especialmente nas empresas mais cíclicas, como eletrónica de consumo ou PC. Em segundo lugar, a regulamentação. Na época de Donald Trump, percebemos a importância estratégica do setor para as grandes potências. Situações possíveis como a da Huawei podem ser repetidas. Ter as melhores empresas de chips é fundamental nas agendas de todos os países, por isso pudemos ver decisões políticas que afetam as empresas do setor.

A OPINIÃO DE

ANA CARRISSO Senior sales manager, Fidelity International

ANALISTAS DA FIDELITY ESPERAM QUE AS PRESSÕES INFLACIONÁRIAS CONTINUEM A SUBIR POR AGORA

Mais de dois terços dos nossos analistas esperam que os custos não relacionados com a força de trabalho aumentem nos próximos seis meses, à medida que maior procura e bottlenecks na cadeia de fornecimento elevam preços das matérias-primas. É particularmente verdade nos projetos do setor da energia (os estímulos dos governos impulsionam uma forte procura) e nas empresas industriais (dada a vulnerabilidade ao aumento de preços das commodities). Muitos também esperam que os custos relacionados com o trabalho aumentem, embora em proporção menor do que aqueles que esperam um aumento nos custos não relacionados. A contínua escassez de mão de obra explica em parte isso, com os estímulos dos governos e as preocupações com o COVID-19, mantendo alguns funcionários do setor mineiro e de energia em casa. Há uma tendência semelhante nos bens de consumo discricionário. Um aumento do suporte do governo durante a pandemia diminuiu a urgência de alguns trabalhadores retornarem ao trabalho. A pressão política para aumentar o salário mínimo também está a aumentar as expetativas de custos com o trabalho, depois de Joe Biden ter assinado uma ordem executiva que exige que os empreiteiros federais paguem pelo menos 15 dólares por hora. Ao mesmo tempo, o número de horas de trabalho sobe à medida que as economias reabrem e a lotação das lojas volta ao normal. As pressões inflacionárias provavelmente vão persistir.

This article is from: