Revista Greenpeace 4/2009

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ConferĂŞncia do Clima Greenpeace vai Ă s ruas

Entrevista

out - nov - dez | 2009

greenpeace.org.br

Revista

Luiz Gylvan Meira Filho



Inês, 10 anos, manda recado para Lula © Greenpeace/AF Rodrigues

sumário

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A volta dos floresticidas

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Incríveis coincidências

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Novas luzes

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Verde nas ruas

11 Em ação

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A hora da decisão

14 Green na web 15 Entrevista: Luiz Gylvan Meira Filho 16 Riqueza no sertão

© Greenpeace/Rodrigo Baleia

carta aos colaboradores

capa

E

is que, aos 43 minutos do segundo tempo, os chefes de Estado acordaram da letargia com que andavam tratando a questão climática e passaram dar um mínimo de importância à Conferência do Clima, que acontece agora em dezembro em Copenhague. Todos os governantes dos países considerados peças-chave na negociação – Brasil, China, Índia, Indonésia, Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão e Alemanha – prometeram comparecer ao encontro. A chance de os países saírem da Dinamarca com um acordo para a redução de emissões legalmente vinculante é improvável. Portanto, a esperança, renovada com a presença dos principais líderes na reunião, é que se possa produzir um acordo político sobre o clima forte o suficiente para, ao longo de 2010, ser traduzido em um tratado entre nações. O Greenpeace, modéstia à parte, merece um crédito nessa decisão tomada por gente como Lula, Obama e Sarkozy de viajar à Dinamarca. Há seis meses, a organização tomou a decisão de ir às ruas em diversas cidades do mundo para botar pressão para que os governantes comparecessem em pessoa em Copenhague e levassem na bagagem metas de redução de emissões de gases estufa ousadas. Nesse quesito, infelizmente, os líderes mundiais demonstraram falta de ambição. É o caso de Lula. Ele anunciou as metas brasileiras – redução entre 36% e 39%, tendo como base o crescimento projetado de nossas emissões até 2020 – na 2ª semana de novembro, mas correu da raia na hora de se comprometer com elas. Disse que são metas voluntárias. Lula também se recusou a adotar o desmatamento zero no país e tampouco tem um plano claro para aumentar a participação das gerações eólica e solar na matriz energética nacional. Na esteira do presidente brasileiro, a China prometeu reduções entre 25% e 40% até 2020 também usando como base o ano de 2005. A meta, do mesmo modo que as de Lula, poderia ter sido mais ousada. Em termos de falta de ambição e liderança, no entanto, ninguém barrou o americano Barack Obama. Governando o país com maior emissão histórica do planeta, ele prometeu uma pífia redução de 3% em relação aos níveis americanos de emissão de 1990, menos do que os Estados Unidos se comprometeram a reduzir quando assinaram o Protocolo de Kyoto. Apesar de muita gente ter ficado satisfeita com essas metas e a decisão dos líderes de ir à Copenhague, o Greenpeace decidiu não abaixar a guarda, porque isso não basta. As metas precisam ser mais ambiciosas. E os países ricos têm que colocar dinheiro na mesa para ações de adaptação, mitigação e combate ao ddesmatamento. É preciso, portanto, ficarmos vigilantes para evitar que um acordo medíocre acabe sendo vendido pelos políticos como vitória. Seria pura maquiagem verde. Este é um momento de decisão que exige coragem e liderança para se alcançar um acordo que salve o clima. Por isso, continuamos nas ruas. E é essa história que a última edição da revista do Greenpeace de 2009 conta nas próximas páginas. Boa leitura.

18 Quando mais é menos 19 Foto oportunidade

Marcelo Furtado Diretor Executivo Greenpeace Brasil

O Greenpeace é uma organização global e independente que promove campanhas para defender o meio ambiente e a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Nós investigamos, expomos e confrontamos os responsáveis por danos ambientais. Também defendemos soluções ambientalmente seguras e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações e inspiramos pessoas a se tornarem responsáveis pelo planeta. O Greenpeace não aceita dinheiro de governos, partidos ou empresas. Ele existe graças às contribuições de milhões de colaboradores em todo o mundo. São eles que garantem a nossa independência. |3


amazônia

A volta dos floresticidas Manoel Francisco Brito

As sirenes do Greenpeace cantaram alto no último dia 27 de outubro na sala da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados.

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á quase uma década, a bancada ruralista trabalha de maneira diligente para derrubar o Código Florestal. Este ano, ela voltou, como se imaginava, a apontar suas motosserras contra nossas florestas. Mas de um jeito, pelo menos na aparência, diferente. Seu discurso tingiu-se de verde para reescrever a história do Brasil. Nele, a agricultura brasileira aparece como vítima, sufocada pelo excesso de proteção às árvores. Mas nem por isso, jura a turma da motosserra, há rancores. Como prova de suas intenções de paz com a floresta, os ruralistas agora empunham a bandeira do desmatamento zero. Em troca, pedem o que chamam de “modernização” do Código Florestal. A visão de modernidade da bancada da motosserra, no entan4

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to, descrita em quase uma dezena de projetos de lei que estão tramitando na Câmara Federal, significa primeiro institucionalizar o passado. Ela prevê a anistia para quem desmatou, a compensação de passivos ambientais fora das bacias hidrográficas onde os crimes ocorreram e a redução do percentual de reserva legal no Cerrado e na Amazônia. Quanto ao futuro, apesar das promessas de convivência pacífica com as florestas, os projetos dos motosserristas entregam aos estados o direito de legislar sobre o ambiente e a diminuição das áreas de proteção permanente, como margens de rios, encostas e nascentes. Com vigor renovado pela ameaça de um decreto presidencial que define a data-limite de 11 de dezembro deste ano para a regu-

larização definitiva de passivos ambientais de produtores rurais, seus representantes no Congresso foram à luta. Conseguiram apoio do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), para instalar uma Comissão Especial para apreciar seis projetos de lei que pretendem desmantelar a legislação ambiental brasileira. Ela é controlada pela bancada da motosserra e tem como relator o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que de uns tempos para cá resolveu não mais esconder a sua antipatia em relação às árvores. O trabalho do Greenpeace de oposição às mudanças concentrou-se nessa Comissão. Os ruralistas, no entanto, abriram sorrateiramente uma nova frente para empurrar adiante suas propostas. Na surdina, marcaram reunião no dia 27 de outubro na Comissão de Meio Ambiente para votar o projeto de lei 6424, do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que também propõe anistiar desmatadores e


© Greenpeace/Felipe Barra

Ativistas do Greenpeace protestam contra mudanças no Código Florestal durante reunião da Comissão de Meio Ambiente da Câmara: a ação impediu votação de projeto de lei que ruralistas queriam fazer na surdina.

autoriza compensações ambientais fora dos biomas onde foram acumulados. Mas o ardil foi descoberto e o Greenpeace compareceu à reunião com sirenes para denunciar a manobra e impedir que ela fosse concretizada. A Comissão ainda estava discutindo trâmites burocráticos quando ativistas do Greenpeace se acorrentaram às mesas da sala, abriram uma faixa que dizia “A bancada da motosserra quer acabar com as nossas florestas” e dispararam sirenes, para chamar atenção para o absurdo do que acontecia e, se possível, paralisar os trabalhos da Comissão. Deu tudo certo. O barulho atraiu primeiro a segurança. Depois, o público que passava pela porta da sala da Comissão. A turma da motosserra incitava os seguranças a arrancarem os ativistas de lá à força. A multidão, batendo palmas, berrava: “Não prende, não prende”. O deputado Edson Duarte (PV-BA), vigilante, cuidava para que os ativistas não fossem agredidos. A confusão durou uma hora. Os ativistas foram presos. Mas a votação não prosseguiu porque os líderes dos partidos que abrigam motosserristas ou simpatizantes, uma constelação que vai do DEM e do PSDB ao PT, PMDB e PcdoB, foram até a Comissão pedir que seus membros adiassem a votação. O barulho também serviu para acordar a imprensa para os ataques que estão sendo tramados no Congresso contra as florestas brasileiras. Sob a luz dos holofotes, na semana seguinte, a bancada da motosserra enfiou a viola no saco, e adiou mais uma vez a votação do projeto de lei 6424, sem definir uma nova data para apreciá-lo. “Graças à pressão da sociedade e da imprensa, eles recuaram”,

disse Marcio Astrini, da campanha Amazônia do Greenpeace. Mas a parada não está ganha. O governo deu indicações de que vai adiar a entrada em vigor do decreto presidencial sobre regularização de passivos ambientais. Não se sabe ainda para quando. E o ministro Carlos Minc anunciou que Lula pretende pôr fim a toda essa discussão enviando uma Medida Provisória ao Congresso propondo um novo Código Florestal. Mas não diz quando. Juntando tudo isso à vigilância do Greenpeace e da imprensa, a indicação é que definitivamente a bancada ruralista está afiando suas motosserras para voltar à briga em 2010. Mas sua pressão antifloresta não diminuiu.

De dentro do próprio governo, ela continua a emitir mensagens de puro terrorismo ambiental através do ministro Reinhold Stephanes, da Agricultura. O ministro insiste que, se a legislação ambiental brasileira não for mudada no Congresso, ela será modificada de “forma irracional”, com agricultores indo para as ruas e usando tratores para fechar estradas. Stephanes reclama que o Código Florestal e o decreto de Lula que deveria entrar em vigor em 11 de dezembro jogarão milhões de agricultores na ilegalidade. Curiosa a visão do ministro. A lei existe. Ilegais, portanto, os milhões de agricultores a que ele se refere já estão.

> gado na amazônia

Olho no futuro do agronegócio O Congresso brasileiro, definitivamente, não tem a menor ideia de onde está o futuro. Mas a pecuária na Amazônia, felizmente, tem. Em cerimônia realizada no auditório da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo no início de outubro, os quatro maiores frigoríficos brasileiros – JBS-Friboi, Marfrig, Bertin e Minerva – assinaram um compromisso de seis pontos elaborado pelo Greenpeace se comprometendo a não processar mais em suas plantas carne e derivados de gado criado em áreas recém-desmatadas da floresta amazônica. “A adesão dos frigoríficos demonstra que eles estão garantindo a so-

brevivência de seus negócios num mundo cada vez menos tolerante à devastação ambiental”, disse Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace. Uma semana depois do encontro na FGV-SP, os frigoríficos se reuniram para decidir como implementar o compromisso. Formaram um grupo presidido pela JBS e coordenado por Marfrig e Minerva para tocar um plano de monitoramento de sua cadeia de fornecimento. Em seis meses, prometem, estarão aptos a monitorar se seus fornecedores diretos estão cumprindo a exigência de engordar bois sem devastar áreas de floresta. MFB

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nuclear

Incríveis coincidências Vânia Alves

Moradores do entorno da mina de urânio das INB, em Caetité (BA), contam que estão aumentando os casos de leucemia na região, doença comum em pessoas expostas à radiação.

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ma vez por mês Francisco Alcindo dos Santos, 64 anos, dirige cerca de treze horas pelos mais de mil quilômetros que separam Caetité, no sertão da Bahia, de Maceió (AL) para fazer tratamento de leucemia, doença comum em pessoas expostas a altos índices de radiação. Valdemir Chagas há meses não vê a irmã Itamar, que era sua vizinha e agora está passando uma temporada em São Paulo para tratar o mesmo mal. Em outubro deste ano, depois de dois anos com a doença, a professora Dulce da Silva Pereira não resistiu e morreu. Além da leucemia, Francisco, Dulce e Itamar têm em comum uma relação com a mina de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), localizada na zona rural de Caetité. As duas mulheres moravam nos arredores do local onde é extraído o urânio que abastece as usinas nucleares Angra I e Angra II. Santos foi um dos primeiros empregados da empresa, onde trabalhou por quase dez anos.

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Ele conta que os funcionários não sabiam, nem de longe, do risco que corriam. “Eles falavam que a gente podia pegar o urânio com a mão. Muitas vezes eu, como outros trabalhadores, me sujei com o licor de urânio, e a única coisa que a empresa fazia era mandar a gente tomar banho”, conta. Os três casos de leucemia não são os únicos entre os moradores dos arredores da mina. Padre Osvaldino Barbosa conta mais cinco. “O interessante é que eu rodo todos os bairros da cidade, mas as pessoas com leucemia que eu encontro moram todas na mesma região”, diz. A “coincidência”, dizem os moradores da cidade, é completamente ignorada pelas INB.

Manipulação Quando o Greenpeace voltou a Caetité, em outubro deste ano, um ano depois de o escândalo da extração de urânio ter sido deflagrado, encontrou a cidade em polvorosa. As INB espertamente lançaram um

as pessoas com leucemia que eu encontro moram todas na mesma região “boletim informativo”, cujo único intuito foi desinformar. A manchete da ocasião era “Pesquisa científica comprova: mineração de urânio não aumentou casos de câncer”. O texto era uma manipulação dos primeiros resultados da pesquisa sobre a saúde da população local encomendada pelas INB para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com dez anos de atraso. Ao contrário do que diz a publicação das INB, em entrevista por e-mail, o coordenador da pesquisa, o médico Antonio Sérgio Almeida Fonseca, disse que “tudo o


© Greenpeace/Lunaé Parracho

© Greenpeace/Vânia Alves

A neta de Valdir Chagas, vizinho das INB, nasceu sem um dos braços. O agricultor conta ainda que na propriedade dele nasceram dois bezerros sem duas patas e um pintinho sem os pés. A família reclama de dores de cabeça e enjoo constante. Ele suspeita que os problemas tenham sido causados pelo urânio.

que foi encontrado nessa primeira etapa não representa resultado definitivo e nem conclusivo. Trata-se de observações iniciais e tendências”. Além disso, esse estudo isolado não é comprovação de nada. A falta de estudos anteriores à implantação da mina compromete as comparações sobre os impactos na saúde da população em função da instalação das INB. “O pior é que, mesmo antes de o trabalho ser finalizado, a empresa já está manipulando os dados”, diz André Amaral, coordenador da campanha de Nuclear do Greenpeace. “Esse estudo era uma das condições para a mina operar, mas só começou a ser feito agora, depois de muita pressão da sociedade.” Uma das principais dificuldades dos pesquisadores em avaliar o número de casos de câncer é que com frequência as mortes são registradas como causa desconhecida – o que acontece em outros municípios baianos também. Ele afirmou também que “o início da atividade de exploração de Caetité tem pouco mais de

dez anos, tempo insuficiente para uma avaliação mais conclusiva”.

Gerações futuras A consolidação dos dados estatísticos sobre a doença do município só se dará com as próximas gerações. Por enquanto, as duas crianças que nasceram com problema de má-formação na região – uma sem um dos braços e outra sem uma das pernas – são consideradas apenas casos isolados, desprezados pelas INB, frutos de uma incrível coincidência. Uma das crianças é neta de Valdemir Chagas, o mesmo que está com a irmã doente. “Eu acredito que ela nasceu assim por causa do urânio”, disse. A casa dele é vizinha da mina. Na propriedade nasceram dois bezerros sem duas patas e um pintinho sem os pés. Chagas conta que toda a família sente dores de cabeça e enjoos quase diariamente. “Mas eles nunca mandaram um médico aqui para ver o que está acontecendo com a gente.”

> caetité, BA

Vazamentos na surdina A comunidade do entorno da mina de Caetité está exposta ao urânio pela contaminação da água – como denunciou o Greenpeace – e pela poeira provocada pela explosão das pedras de urânio na mina. Diariamente, por volta do meio-dia, o almoço dos moradores é interrompido pela explosão, que de tão forte chega a provocar rachaduras nas casas. Além disso, de tempos em tempos acontecem vazamentos de materiais radioativos. Em novembro, o Ibama multou as INB em um R$ 1 milhão porque a empresa tentou esconder um vazamento por mais de treze dias. A empresa descumpriu a condicionante da Licença Ambiental, que determina que o Ibama deve ser informado imediatamente sobre qualquer acidente na mina. O Ibama foi acionado pelo Greenpeace. Não foi a primeira vez que as INB tentam esconder um vazamento. Esse é o comportamento-padrão da empresa sempre que acontece um acidente. Em 2000, ela demorou seis meses para avisar sobre um vazamento.

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renováveis

Novas luzes

Vânia Alves

Banco Mundial e Agência Internacional de Energia reconhecem a urgência das medidas de combate às mudanças climáticas e propõem alternativas energéticas para cortar as emissões

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o grupo de energia da USP, que aponta um potencial de redução de 29% só no Brasil. “O custo médio da aplicação de medidas de eficiência energética é inferior a qualquer tipo de geração elétrica, incluindo as hidrelétricas”, diz Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace. Os economistas do Banco Mundial dizem ainda que enfrentar a crise climática vai exigir a construção de obras de infra-estrutura capazes de resistir aos fenômenos extremos. Outro grande desafio será articular políticas capazes de combater o aquecimento global e de, simultaneamente, aumentar a produção de alimentos o suficiente para alimentar mais de 3 bilhões de pessoas em 40 anos. O relatório da Agência Internacional de Energia começa com um recado simples e direto do secretário-executivo, Nobuo Tanaka: “Se o mundo mantiver as políticas atuais de energia e clima, as consequências das mudanças climáticas serão severas”. O documento erra, no entanto ao apontar a Captura e o Armazenamento de Carbono (CCS) como a grande saída para o problema. “Essa é uma tecnologia que ainda não está ao alcance dos países em desenvolvimento. A solução são as energias renováveis, como a eólica e a solar”, diz Baitelo.

A solução são as energias renováveis, como a eólica e a solar Ricardo Baitelo, Greenpeace

© Greenpeace/Rodrigo Baleia

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s mais céticos tiveram, em outubro, novas provas da urgência das mudanças climáticas. Duas grandes entidades internacionais do setor econômico, o Banco Mundial e o IEA (sigla em inglês da Agência Internacional de Energia), adiantaram o lançamento de seus relatórios anuais para tentar influenciar as decisões que serão tomadas na Conferência do Clima de Copenhague. Pela primeira vez, o assunto aquecimento global é o tema central do relatório “World Development Report”, publicado anualmente pelo Banco Mundial desde 1978. De acordo com o guia, nos próximos 20 anos cerca de US$ 475 bilhões terão de ser investidos no Terceiro Mundo no combate e adaptação às mudanças do clima. Metade desse valor deve ser aplicado em programas de eficiência energética. O estudo diz ainda que o consumo de energia na indústria e no setor elétrico poderia ser reduzido em 20% a 30% com o uso de tecnologias já disponíveis e melhores práticas. Nas próximas décadas, diz o relatório, novos sistemas energéticos precisam ser adotados para promover uma redução entre 50% a 80% das emissões globais de CO 2. O relatório do Greenpeace “[R] evolução Energética”, lançado em 2007, já trazia estudo da Gepea,


capa

Verde

nas ruas Cristina Amorim

Uma sequência de ações públicas, organizadas pelo Greenpeace, mobilizou e inspirou milhares de pessoas a expressarem sua preocupação com o planeta.

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© Greenpeace/Otavio Valle

ma onda verde tomou as ruas de oito capitais brasileiras no segundo semestre de 2009. As atividades aconteceram em Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Porto Alegre, Salvador, São Paulo, Recife e Rio, onde o Greenpeace tem grupos permanentes de ativistas. Eles chamaram a população a pensar sobre o impacto ambiental de seus estilos de vida e a cobrar do governo compromissos efetivo na preservação da natureza.

Contagem regressiva

© Greenpeace/Alexandre Cappi

Em 29 de agosto, um “apitaço” acordou a população de oito capitais brasileiras para os 100 dias que faltavam para o início da COP-15, reunião que em dezembro decide em Copenhague, na Dinamarca, o que cada país fará para combater as mudanças do clima. A data marcou o lançamento de relógios com a contagem regressiva para a conferência.

Pecuária e o clima “Vaquinhas” alertaram a população sobre os impactos da pecuária, a principal responsável pelo desmatamento da Amazônia, no clima. A destruição da floresta é a maior fonte brasileira de gases do efeito estufa, que provocam o aquecimento global. A grande maioria da área desmatada, 80%, é ocupada pela pecuária, com um modelo pouco eficiente de produção.

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Multas verdes © Greenpeace

Ativistas vestidos com roupas similares à dos órgãos fiscalizadores de trânsito aplicaram “multas” simbólicas em motoristas de oito capitais. O foco eram carros com apenas uma pessoa, veículos utilitários movidos a combustíveis fósseis e motoristas que não respeitam pedestres e ciclistas. Quando queimam combustível, os carros emitem dióxido de carbono (CO2), o principal gás do efeito estufa.

© Greenpeace/João Marcos Rosa

Dia Mundial Sem Carro Vagas vivas (quando o espaço na rua que seria ocupado por um carro estacionado é usado para promover uma atividade com a população) variaram em cada cidade: em Salvador, as pessoas pouderam ler sobre meio ambiente em uma biblioteca com pufes e almofadas; no Rio, ativistas fantasiados convidavam a população a assinarem uma petição levada ao presidente Lula, que pedia uma atitude mais firme que a atual para lidar com a crise climática.

Nova geração O Greenpeace foi a escolas brasileiras para levar informações sobre meio ambiente. Voluntários fizeram palestras em quase 50 escolas, falando com aproximadamente 13 mil alunos, sobre o aquecimento global, problema que tem impacto direto em suas vidas e em seu futuro.

© GP

Limpeza de praias

© Greenpeace/Lunaé Parracho

No Dia Mundial de Limpeza de Praias, voluntários estiveram em Itanhaém (SP), Rio, Salvador e Recife recolhendo papéis, garrafas, latas, sacolas plásticas e outros objetos poluentes e levando informações para a população sobre o destino correto do lixo. Esse tipo de poluição prejudica a saúde dos oceanos. Mares doentes podem potencializar a crise do clima. A atividade foi realizada em apoio ao trabalho de outras organizações não governamentais que já realizam essa tarefa anualmente, como a Ecosurfi, a Biotaquática e o Instituto Aqualung.

Homem-solar Um novo garoto-propaganda, o homem-placa solar, carregava a mensagem “Eu gero energia – pergunte-me como”. Em um capacete, uma pequena placa solar era suficiente para acender lâmpadas em suas mãos. A energia solar é viável, não gera gases do efeito estufa e é uma alternativa a todas as usinas termelétricas fósseis e nucleares instaladas no país. Contudo, ela não conta com nenhum tipo de incentivo por parte do governo. 10

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Um banner gigante, com mais de 9 mil metros quadrados e 1,5 mil tonelada, foi montado no gramado da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, chamando a atenção do presidente Lula para fazer mais contra o aquecimento global. De perto, é possível ver que cada um dos 130 pedaços que o compõem foram assinados pelos brasileiros, preocupados com o futuro do planeta.

© Greenpeace

© Greenpeace/Lunaé Parracho

Na frente do Teatro Municipal de São Paulo, as pessoas mandaram um recado sonoro para os líderes mundiais: é preciso agir agora para controlar o aquecimento global. Ativistas fantasiados de vaquinhas, animais marinhos e homem-placa solar convidaram as pessoas no local para conduzir instrumentos musicais. As fantasias representam temas que carecem de cuidado por parte do governo federal.

Banner gigante

Um orelhão itinerante rodou capitais brasileiras para incentivar a população a ligar para o gabinete da Presidência e da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, para pedir a Lula e Obama irem para Copenhague. Lula apresentou um plano para reduzir as emissões nacionais de gases do efeito estufa, mas menos ambicioso do que poderia ser.

© Greenpeace/Guilherme Santos

Dia Internacional da Alimentação No dia 16 de outubro, ativistas foram para as ruas para alertar a população dos impactos dos nossos hábitos alimentares no meio ambiente. A proposta era provocar o debate de forma descontraída, com o jogo “o que você come pode salvar o planeta”. A escolha de alimentos livre de transgênicos, peixes que não correm risco de extinção e carne que não venha de áreas desmatadas ajuda a manter o planeta saudável.

Mães pelo Clima Ninguém se preocupa mais com o futuro do planeta do que pais e avós. Por isso, os voluntários do Greenpeace saíram às ruas para pedir a essas pessoas que enviem uma mensagem aos governantes exigindo que atuem de forma responsável e ajam para controlar o aquecimento global. Quem quiser, ainda pode participar enviando uma foto pelo site www.greenpeace.org.br/ maespeloclima.

Filme novo Às vésperas do Natal, sai do forno o novo filme publicitário do Greenpeace. A propaganda baseia-se numa colagem de imagens com ações e protestos do Greenpeace, retratando uma das muitas formas com que a organização defende a natureza e aponta os culpados pela sua destruição. O filme também informa para quem ainda não sabe que o Greenpeace se sustenta por meio de doações individuais. Para mais informações sobre veiculação, entre em contato com guilherme.alves@greenpeace.org

© Greenpeace/Alberto César

Barulhaço

© Greenpeace

© Greenpeace/Alexandre Cappi

Alô, Lula?

Exposição no litoral Entre os dias 12 e 19 de dezembro, o Greenpeace apresenta a exposição “Salvar o planeta, é agora ou agora”, no shopping Miramar, em Santos (SP). Os visitantes podem ver imagens dos impactos das mudanças climáticas (como a elevação dos níveis dos mares e a perda de biodiversidade), suas causas (desmatamento e uso de fontes poluentes de energia) e as soluções propostas pelo Greenpeace – preservação da Amazônia, uso de fontes renováveis de energia e criação de áreas marinhas protegidas. Os processos de seleção de novos voluntários são abertos periodicamente. Todos os colaboradores são convidados a participar.

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clima

A hora da decisão Caroline Donatti e Cristina Amorim

Conferência do Clima começa em Copenhague com muitas dúvidas, poucos consensos e apenas uma certeza: é preciso agir agora para controlar o aquecimento global.

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ntre 7 e 18 de dezembro, acontece em Copenhague (Dinamarca) a Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP-15. É a 15ª reunião do tipo, e a mais importante de todas. Isso porque o aquecimento global é uma realidade – não mais uma expectativa e muito menos uma dúvida – e controlá-lo exige uma ação enérgica agora. Este é um momento único na história da humanidade. As mudanças climáticas ameaçam não apenas essa geração, mas especialmente as que ainda virão. Se nada for feito, a Terra de 2040 será muito diferente da de hoje. Por isso, os líderes mundiais precisam chegar a um acordo em Copenhague que impeça os efeitos mais perigosos do aquecimento, especialmente sobre as pessoas mais vulneráveis e pobres, como mais chuvas, mais secas, subida dos oceanos e dificuldades para cultivar alimentos. Quanto mais tempo demora-se para o acordo ser fechado, mais difícil e caro se torna contornar a crise climática.

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Esse acordo já é chamado de o mais complexo de todos. Isso porque a grande maioria das quase 200 nações que participam da Convenção do Clima da ONU não deixa seus interesses de lado em prol do bem comum. Cada país deve cortar suas emissões de gases do efeito estufa (uns muito, outros menos), o que exige investimentos pesados em novas formas de produção e padrões de consumo. E ninguém quer mudar, com medo de perder terreno econômico e político. “A importância desta reunião foi escalonada. Onde antes se viam ministros do meio ambiente hoje estão os líderes dos países. As decisões sobre o clima passam por decisões sobre a economia”, diz João Talocchi, coordenador da Campanha de Clima do Greenpeace. Desde a conferência realizada em Bali, em 2007, a sociedade exige que os países industrializados trabalhem para assumir um compromisso mais arrojado de redução de emissões, com uma redução de 40% das emissões globais de CO2, em comparação a 1990, até 2020.

Glossário da

Conferência do Clima COP-15: a Conferência do Clima, ou 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima Responsabilidade comum, porém diferenciada: todos os países causam o aquecimento global (responsabilidade comum), mas os países industrializados, que emitem gases do efeito estufa há mais tempo e com mais intensidade, têm um papel maior do que os países em desenvolvimento Responsabilidade histórica: quem emite gases estufa há mais tempo tem de cortar mais


© Greenpeace

© Greenpeace/Rodrigo Baleia

os e Rafael Ventura, Maíra Fainguelernt il as resentarão o Br voluntários que rep tude na vigília da juven em Copenhague

Ativistas do Greenpeace, em protesto em Manaus, mandam recado para líderes globais destravarem as negociações pelo novo tratado climático

Já os países em desenvolvimento, especialmente os emergentes, têm o desafio de crescer levando em conta que é proibido jogar ainda mais gases estufa na atmosfera. Para isso, é necessário trocar o modelo tradicional de crescimento, que deteriora a natureza, por um de baixo carbono, baseado em energias renováveis, tecnologia e empregos verdes. Ricos e pobres têm uma parcela de culpa e também de responsabilidade para encontrar uma solução. Se os países menos desenvolvidos se inspirarem no estilo de vida dos países do hemisfério norte, o planeta não vai suportar tanto carbono nem terá recursos naturais suficientes para prover tudo o que a humanidade deseja. “Os governantes têm de colocar a ciência e a sobrevivência da humanidade na frente da política para que o planeta não sofra um colapso climático”, afirma Talocchi.

Copenhague começa com um documento com 164 páginas, que reflete o que foi negociado e redigido até novembro, no último encontro oficial dos negociadores em Barcelona. É muita coisa, até porque ele conta com muitas dúvidas e poucos consensos. Os países desenvolvidos sabem que têm de pagar a maior parte da conta, mas querem reduzir ao máximo sua participação. Outros pontos que ainda rendem calorosas discussões são quanto as nações industrializadas vão doar para as menos favorecidas se adaptarem à nova realidade e promoverem cortes em suas emissões de gases, além do mais de que forma as florestas – cujas derrubada e conversão em pasto e cultivo respondem com 20% das emissões globais – podem ser mantidas em pé. Acompanhe a COP15 em www.greenpeace.org.br/clima e www.greenblog.org.br.

Nossa turma em Copenhague O Brasil será um dos 15 países que participarão da vigília da juventude, durante a COP-15, organizada pelo Greenpeace. Dois dos nossos voluntários – Rafael Ventura, 20 anos, e Maíra Borges Fainguelernt, 24 – embarcaram para Copenhague e, junto com outros 30 jovens de 15 diferentes países, farão uma grande mobilização para pressionar os líderes mundiais a assumirem um compromisso contundente pelo clima. Uma tenda na principal praça de Copenhague vai servir de ponto de apoio. No local haverá apresentações artísticas, exibições de filmes e, claro, muita conversa com quem estiver passando. Além do plantão na praça, os voluntários farão um roteiro pelas embaixadas dos seus países de origem para sensibilizar os embaixadores a defenderem o clima. Os jovens também serão os anfitriões do navio do Greenpeace, Rainbow Warrior, que ficará aberto para visitação pública durante a COP. A comitiva do Greenpeace Brasil não para no Rafael e na Maíra. Outros dois ativistas e mais cinco pessoas do escritório estão em Copenhague para acompanhar de perto as negociações. VA

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green n@ web

Web.ambientalismo Edu Santaela

A internet encurtou a distância entre as pessoas e as notícias, mas foram as redes sociais que fizeram das duas uma coisa só. Agora as pessoas são também fonte de informação, ao mesmo tempo espectador e protagonista. Nesse mundo 2.0, informação de qualidade é ouro. Não à toa que, em poucos instantes, a mensagem do Greenpeace se espalha na web, engajando as pessoas a participar das campanhas e exigindo a atenção das autoridades para os problemas ambientais expostos. Isso coloca a organização como top 1 no Twitter entre as ONGs ambientais no Brasil, por exemplo. O trabalho online do Greenpeace mobiliza um enorme número de pessoas – colaboradores, ciberativistas, voluntários e simpatizantes –, que replicam informações sobre nossos protestos, comentam sobre as imagens e divulgam as fotos e os vídeos, além de assinar petições e convidar seus contatos a fazer o mesmo.

www.flickr.com/photos/greenpeacebrasil

Com aproximadamente 43 mil seguidores, o perfil no Twitter exibe dicas ecológicas, links e informações em tempo real de nossas atividades. O Greenpeace Brasil é o campeão de seguidores entre todos os escritórios no mundo.

www.greenblog.org.br O “lado B” da notícia aparece no blog do Greenpeace: análises, curiosidades, histórias adicionais e comentários sobre o que sai na imprensa sobre meio ambiente aparecem nos posts, assim como comentários dos coordenadores das campanhas. 14

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www.orkut.com.br/Community?cmm=71272

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Nos dois maiores sites de compartilhamento de imagens, os vídeos e as fotos do Greenpeace são publicados toda semana. É possível replicar as galerias e os playlists em seus sites, blogs e perfis br internet afora. reen

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entrevista

“É um anúncio, não um plano” Cristina Amorim

Luiz Gylvan Meira Filho

Revista do Greenpeace Qual é sua avaliação do plano anunciado pelo governo brasileiro de reduzir as emissões de gases do efeito estufa? Luiz Gylvan Na minha opinião, esse plano ainda está sendo elaborado. Foi feito um anúncio de um plano, e um texto ainda está em trâmite no Congresso, então precisamos saber o que vai sair de lá. Tem um lado muito bom, que é o governo dizer claramente, em público, que considera que o Brasil deve fazer sua parte no esforço global. Mas tão importante quanto o anúncio é saber os números exatos, que não estão claros. De que forma falta clareza? Sobre mudança de uso do solo, sabemos que haverá uma redução de emissões em relação a uma média, tirada a partir do cálculo de determinados anos. A outra parte indica uma redução em relação a um nível hipotético de 2020, que fica sujeita a uma discussão se a projeção é boa ou não. Qual é o problema de trabalhar com uma redução de emissões de gases estufa baseada em uma

projeção de crescimento? Os Estados Unidos, por exemplo, apresentaram uma proposta de corte de 17% de suas emissões em relação a 2005. Tudo bem, porque 2005 está no passado, é possível comparar com os números europeus, por exemplo. No caso do Brasil, existe essa complicação adicional de projeção hipotética, que uma hora precisa ser traduzida para toneladas de CO2, que é o que conta. Os países em desenvolvimento trabalham com a redução em cima de uma projeção hipotética. Estão errados? Trabalhar com relação a uma projeção hipotética é retórica política. No momento, o lado bom é

(...) tão importante quanto o anúncio é saber os números exatos, que não estão claros

© Antonio Cruz/ABr

O astrofísico , ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), foi um dos negociadores do Protocolo de Kyoto e. Engenheiro eletrônico, formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA/CTA), é também ex-presidente da Agência Espacial Brasileira. Ele comemora o fato de o governo brasileiro ter assumido sua responsabilidade no combate ao aquecimento global, mas alerta: dizer que vai reduzir emissões de gases estufa em cima de uma projeção, como o Brasil diz que fará, é “retórica política”. que o Brasil diz que precisa fazer sua parte. Além da projeção hipotética, temos vistos países indicarem cortes em relação a 1990 e a 2005. Dentro da Convenção de Clima da ONU, é preciso trabalhar com 1990 apenas? Isso não está escrito em lugar nenhum. O Protocolo de Kyoto adotou 1990 como ano-base porque foi nesse ano que o primeiro relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) foi publicado, e os modelos climáticos do IPCC usam 1990. Os governos podem falar o que quiser. Demora cinco minutos para colocar informações de 2005 no patamar de 1990. Alguns países têm aventado o fim do Protocolo de Kyoto. Ele é necessário? O Protocolo de Kyoto não expira em 2012, como tem-se dito, ele vai continuar. O que foi acordado em Bali (na 13ª Conferência do Clima) é que haveria outro acordo que incluísse todos os países da Convenção do Clima das Nações Unidas paralelo ao protocolo. E ele é necessário enquanto não existir esse novo acordo.

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alimentação

Riqueza no sertão Danielle Bambace |Fotos Lunaé Parracho

A 415 quilômetros de João Pessoa, encravado no sertão nordestino, cresce um dos protagonistas de uma história que dura quase quatro séculos – e que agora está ameaçada. Santana dos Garrotes

O arroz vermelho, variedade introduzida pelos portugueses no Brasil no século XVI, é a fonte de renda de dezenas de famílias no município de Santana dos Garrotes (PB), no Vale do Piancó. O grão começa a ser redescoberto pelo restante do país e já pode ser encontrado em grandes centros de consumo – o chef Alex Atala o adicionou no cardápio do seu restaurante Dalva e Dito, por exemplo. Caso o arroz transgênico seja aprovado para cultivo no Brasil – o pedido está em análise pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) –, a cultura tradicional do arroz vermelho pode sumir. Na Paraíba a produção é orgânica e realizada em solo seco, após muitos séculos de melhoramento genético. Em agosto, o Greenpeace foi à região para conhecer um pouco melhor as comunidades que promovem essa produção e arrecadar informações para a Semana da Alimentação. Realizada em outubro, mostrou à população como os nossos hábitos alimentares podem ajudar a salvar o planeta.

acima A variedade teve o seu cultivo proibido em 1772 pela Coroa portuguesa, porque sua produção não interessava aos grandes mercados da época. Mesmo com a proibição, migrou para o interior da Paraíba, onde hoje tem grande expressão. esquerda Os sistemas de cultivo da região ainda são baseados essencialmente na agricultura familiar e de subsistência. O plantio quase não utiliza insumos, os arados são movidos a tração animal e a semeadura é feita manualmente. direita Produzido em pequena escala, o arroz vermelho passa por um processo de secagem à luz do sol. Feito isso, o grão é armazenado ainda com casca em pequenos celeiros. 16

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abaixo Leonor Tereza de Lima, 55 anos. Mãe de seis filhos, “dona Leonor” orgulha-se de ter sustentado a família com o trabalho árduo na roça e o arroz vermelho na mesa. Tradicionalmente, o grão é parte da dieta de mulheres parturientes. A crença dá conta de que ele aumenta a produção de leite materno.

acima Edmilson Teixeira, 58 anos, opera máquina beneficiadora conhecida como “descascadeira”. Apesar da pouca velocidade de produção, a máquina é a única da comunidade de Serra Branca. esquerda Por ser integral, o arroz vermelho é naturalmente mais nutritivo que o arroz branco polido. Seu farelo é utilizado na fabricação de compostos alimentares que combatem a desnutrição em crianças. abaixo Terezinha Ângelo de Araújo, 68 anos, é conhecida pela sua receita de arroz-doce. Cozida na rapadura, a iguaria tem lugar reservado na mesa quase diariamente.

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oceanos

cartas

© Greenpeace/Nick Cobbing

Quando mais é menos

Coisas simples que ajudam muito “Algumas atitudes na minha vida estou mudando para melhor. São coisas simples, que cada um pode fazer. Um exemplo é não jogar qualquer papelzinho no chão, deixar nos bolsos ou na bolsa que você usa até encontrar uma lixeira, que é o lugar certo para deixar o lixo. Se a gente somar o esforço, vamos mudar o planeta para melhor!” Leonardo Cipriano Duarte, por e-mail

Laura Fuser

Você também pode mandar seu

Extinção da espécie mais nobre de atum se aproxima após aprovação de cota de pesca maior do que sua capacidade de reprodução.

Mais de quarenta países da Comissão Internacional de Conservação de Atuns do Atlântico (Iccat) se reuniram na cidade de Porto de Galinhas (PE) em novembro para decretar o fim inglório da espécie mais nobre de atum, o atum-azul. O último parecer dos cientistas aponta que, para recuperar 50% do estoque de atum-azul até 2023, seria preciso impor uma cota-limite de pesca no leste do Atlântico de até 8 mil toneladas. Mesmo sob a responsabilidade de preservar o peixe, a Iccat cedeu à pressão da Comunidade Europeia, de países do Mediterrâneo e do Japão e determinou uma cota-limite de 13.500 toneladas. A Iccat tem histórico de ceder a pressões políticas. No ano passado, mesmo sob a responsabilidade de conservar o peixe, a comissão determinou uma cota de pesca no Mediterrâneo 47% maior do que a recomendada por cientistas. Foi o golpe de misericórdia em uma população já ameaçada: hoje, o estoque local está em colapso. “A situação do peixe no Mediterrâneo comprova que a política da Iccat se encontra falida e que o órgão precisa retomar a liderança de proteção das espécies ameaçadas”, afirma Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de Oceanos do Greenpeace. “A única medida que pode ser tomada agora para evitar a extinção do atum-azul é interromper sua pesca até que os estoques voltem a um patamar sustentável.” No Brasil, o atum-azul foi extinto (...) a política da na década de 80 – após essa data, Iccat se encontra falida registrou-se um pequeno cardume, o que não foi suficiente para mudar sua situação. e o órgão precisa Sua história repete a de outros estoretomar a liderança de ques marinhos, vítimas de má gestão e de um modelo de pesca industrial que proteção das espécies captura mais do que a capacidade de recuperação das espécies exploradas. No mundo, 75% dos recursos pesameaçadas queiros encontram-se ameaçados. O Leandra Gonçalves, coordenadora da cenário no Brasil é pior, atingindo até campanha de Oceanos do Greenpeace. 80% de nossos estoques.

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ASSOCIAÇÃO CIVIL GREENPEACE Conselho diretor

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Cristina Amorim (MTb 29391) Danielle Bambace Caroline Donatti Danielle Bambace Laura Fuser Vânia Alves Gabi Juns D’lippi

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Floresta negra

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© Greenpeace/Jiri Rezac

Dois ativistas brasileiros, Ricardo Monge (foto) e Luana Adario, participaram, em outubro, de bloqueios em minas de betume no norte do Canadá. O betume é uma fonte de petróleo, e uma grande reserva encontra-se sob a floresta boreal. Para ser utilizado, o petróleo precisa ser separado da areia: a mistura escura é retirada das encostas e processada dia e noite para dar origem ao líquido negro. Essa extração é hoje um dos maiores desastres ambientais do planeta, pois contamina a água com compostos químicos, desmata a floresta boreal, impacta gravemente a saúde de moradores e é um enorme vilão do aquecimento global. O setor é o maior emissor individual de gases estufa no Canadá.


© Greenpeace/Pedro Armestre

RAINBOW WARRIOR

O Rainbon Warrior esteve em Maiorca, na Espanha, para um protesto contra o uso de carvão, uma das fontes energéticas que mais emitem gases do efeito estufa. Os ativistas interceptaram uma carga de carvão colombiano e esticaram uma faixa com uma mensagem para o presidente da Espanha que dizia: “Pare as mudanças climáticas”. O protesto foi realizado na mesma época do último encontro preparatório para a Conferência do Clima, que será realizada em dezembro em Copenhague.

ARCTIC SUNRISE

Os navios são plataformas fundamentais para o trabalho do Greenpeace. Essa frota verde viaja pelos quatro cantos do mundo e funciona como um verdadeiro escritório móvel – para expor e confrontar os responsáveis pelos crimes ambientais ou documentar as agressões em áreas remotas do planeta.

ESPERANZA

Na Nova Zelândia o Esperanza foi usado em uma ação contra a Fronterra, maior exportadora de laticínios do mundo, que usa ração à base de palma extraída das florestas da Indonésia para alimentar seu gado. Sempre atrás de baratear sua proteção às custas do meio ambiente, a Fronterra abastece suas máquinas com carvão. Para expor os crimes ambientais da Fronterra e cobrar providências do governo, o Esperanza interceptou um barco carregado de palma para ração no porto de Taranaki, na costa oeste da Nova Zelândia, e os ativistas escreveram no casco: “Fronterra crime ambiental”.

Para acompanhar o paradeiro dos navios em imagens ao vivo acesse: http://www.greenpeace.org/international/photosvideos/ship-webcams

A passagem do Artic Sunrise pela Noruega foi marcada por um protesto contra o uso de carvão. Usando máscaras dos líderes das nações que mais emitem no mundo, os ativistas abriram uma faixa com a mensagem: “Carvão queimado. Ártico derretido”. Depois o navio seguiu para a França, onde os ativistas ocuparam o navio Happy Ranger, que levava um carregamento de equipamentos nucleares, para finalmente partir rumo a Copenhague. Na Dinamarca, o navio participa da programação do Greenpeace durante a reunião do clima.

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© Greenpeace/Christian Aslund © Greenpeace/Nigel Marple


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