TFG | Estação Central da EFNOB - Gabriel Aureliana Ishida

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ESTAÇÃO CENTRAL DA EFNOB A multifuncionalidade aplicada ao patrimônio industrial como espaço de possibilidade e futuro



Trabalho Final de Graduação em Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC)

Estação Central da EFNOB A multifuncionalidade aplicada ao patrimônio industrial como espaço de possibilidade e futuro

Gabriel Aureliana Ishida Orientador: Profo Dro Samir Hernandes Tenório Gomes

Bauru, 2021



As riquezas de valores culturais contidas nos espaços patrimoniais estão presentes de forma oculta, aguardando para serem exploradas e evidenciadas.



AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Silvio e Rita por estarem sempre presentes na minha vida, auxiliando e dando base para minha formação acadêmica e pessoal. À minha irmã Natália pelas conversas e apoios durante meu período letivo. Ao meu orientador Samir, pela excelência e experiência nos atendimentos. Aos meus amigos e amigas: Larissa, Anderson, Natasha, Danilo e Mike, por terem sido fundamentais nessa etapa da minha vida, sendo muitas vezes grandes conselheiros e companheiros essenciais nesse processo.


SUMÁRIO INTRODUÇÃO

13

JUSTIFICATIVA

18

OBJETIVOS

20

METODOLOGIA

21

1.

25

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 1.2

A FERROVIA EM BAURU: FORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO URBANA

26

A ESTAÇÃO CENTRAL DA EFNOB

38

1.2.1

SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO

38

1.2.2

RELAÇÃO DE PROXIMIDADE COM O CENTRO URBANO DE BAURU

54

1.3

OBSERVAÇÕES ACERCA DO USO MULTIFUNCIONAL EM EDIFICAÇÕES

70

1.4

ESTUDOS DE CASO

75

1.4.1 1.4.2

1.5

ESPAÇO DE ARTE CONTEMPORÂNEA NO ANTIGO CONVENTO DA MADRE DE DIOS – sol89

76

CASARÃO DA INOVAÇÃO CASSINA – Laurent Troost Architectures

82

INTRODUÇÃO AO PROJETO

92


1.5.1

1.5.2

2.

92

1.5.1.1

PLANO DIRETOR

92

1.5.1.2

PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO INDUSTRIAL

102

1.5.1.3

ESPECIALISTAS

108

INSTITUIÇÕES E GRUPOS SOCIAIS ATUANTES

O PROJETO

2.1 2.2 2.3

3. 4.

DIRETRIZES EXTERNAS

113

119

DIRETRIZES PROJETUAIS

120

PROJETO URBANO

123

PROJETO ARQUITETÔNICO

132

2.3.1 2.3.2

PLANTAS ORIGINAIS

134

PROGRAMA DE NECESSIDADES

138

2.3.3

PROPOSTA PROJETUAL

140

2.3.3.1 TÉRREO

142

2.3.3.2 1° ANDAR

152

2.3.3.3 2° ANDAR 2.3.3.4 DETALHES E COMPLEMENTOS DO PROJETO

161 167

CONSIDERAÇÕES FINAIS

172

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

174


RESUMO

Os espaços ferroviários presentes na cidade de Bauru, em sua maioria, encontram-se atualmente em estado de degradação e descaso. As mudanças geradas pela transição do sistema ferroviário para o rodoviário acabaram por modificar a mentalidade urbana da cidade, resultando em focos voltados para o centro urbano, e para os demais pontos de interesse da cidade. Consequentemente, os elementos ligados à ferrovia perderam seu protagonismo e sofreram processo de degradação. Um desses elementos, o qual a pesquisa se aprofundará, é a Estação Central da EFNOB, edificação de atuação simbólica e intrínseca na história da formação e desenvolvimento da cidade.

O presente trabalho tem como finalidade a criação de uma proposta

projetual arquitetônica, reativando a conexão entre o centro urbano e a estação ferroviária, gerando novos usos em seu interior. A proposta de reabilitação tem como fundamentação os estudos referentes à preservação do patrimônio

industrial e ao uso multifuncional como meio de promover desenvolvimento tanto a nível arquitetônico, quanto urbano, estimulando suas possibilidades e potencialidades.

Palavras-chave: Estação Central da EFNOB; reabilitação do patrimônio; patrimônio industrial; uso multifuncional; memória coletiva; Bauru.


ABSTRACT

Most of the railway spaces located in the city of Bauru are currently in a state of degradation and neglect. The changes generated by the transition from the railroad to the road system ended up modifying the urban mentality of the city, resulting in focuses directed to the urban center, and the other city locations. Consequently, the elements connected to the railway lost their protagonism and suffered degradation process. One of these elements, which the research will deepen, is the EFNOB Central Station, a building with symbolic and intrinsic activity in the city’s formation and development history.

This work aims to create an architectural project proposal, reactivating the connection between the urban center and the railway station, generating new uses in its interior. The rehabilitation proposal is based on studies related to the preservation of Industrial Heritage and multifunctional use as a means of promoting development both at an architectural and urban level, stimulating its possibilities and potential.

Keywords: EFNOB Central Station; heritage rehabilitation; industrial heritage; multifunctional use; collective memory; Bauru.


Figura 1: Vista do pátio ferroviário de Bauru, com destaque à antiga Estação Central da EFNOB (localizado no lado superior esquerdo da figura). Fonte: Acervo pessoal.

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INTRODUÇÃO

A Estação Central da EFNOB, elemento simbólico do desenvolvimento urbano de Bauru, é considerada a estação protagonista no período de auge do sistema ferroviário na região, sendo sede do quilômetro zero das linhas férreas pertencentes à Companhia Noroeste. Sua importância se dá pelo fato de ser uma edificação que, atualmente, ainda carrega traços de art déco, e por ter sido peça fundamental na estruturação e no estímulo à prosperidade das atividades centrais, que perduram até os dias atuais.

Atualmente, a estação é tombada pelo Condephaat e Codepac, porém se encontra em situação de abandono e ociosidade, necessitando ser incluída nas atividades do centro de Bauru. Quando se trata da relação do edifício com o centro, é essencial que se compreenda as raízes dessa interação e o entendimento de novas possibilidades de uso para esse espaço. A multifuncionalidade atua nesse sentido, em proporcionar diversidade ao seu entorno, quando bem incorporada ao projeto, e estimular transformações a nível urbano.

O caos urbano e a dinâmica acelerada são características que acompanham a vida contemporânea na maioria das cidades, sendo prejudiciais ao bem estar e a qualidade de vida da população. É de suma importância que nos dias atuais se repense a forma com que nos relacionamos com a cidade.

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Geralmente, na maioria dos Planos Diretores e zoneamentos urbanos municipais, o espaço de trabalho e de moradia são pensados separadamente e sem nenhuma relação, podendo engessar o desenvolvimento de possíveis interrelações no meio urbano e impactar inclusive na economia da cidade, desembocando em uma série de complicações de gestão e investimento. Há, com isso, maiores gastos com transporte e infraestrutura para suprir as distâncias, possibilitando a geração de novos problemas urbanos e influenciando na qualidade de vida da população. Os espaços e edifícios multifuncionais surgem como representação de um novo paradigma do viver na cidade.

Em Bauru, é notável a presença de espaços desocupados e inativos. Espaços os quais já atuaram com protagonismo como fonte econômica e de desenvolvimento da cidade, como a ferrovia, o pátio ferroviário e suas edificações constituintes, exemplares da arquitetura industrial. São locais considerados patrimônio industrial do município, que carregam consigo a importância histórico-cultural em suas presenças e materialidades, e também a potencialidade de se tornarem espaços de futuro, de possibilidade de uso e inclusão.

Figura 2: Relação visual entre o centro da cidade (ao fundo), a Estação Central e gare da NOB, e os demais elementosferroviários abandonados. Fonte: Acervo pessoal.

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Quanto mais o conhecimento se acumula menos somos capazes de compreender o significado de um processo concreto, a globalização e o vazio e, sobretudo, a perda do elo crucial entre o ser humano e o seu entorno imediato. SIMAL (1998, p. 9, tradução nossa).

15


É essencial que se ressalte, nos dias atuais, a conexão entre o ser humano e o ambiente que o circunda, podendo ser retomada e salientada quando tratamos o patrimônio industrial como meio para isso. É de suma importância preservar a memória coletiva da população com relação a historicidade da cidade em que se inserem, bem como transformar o olhar de vazio e de descaso que se tem com relação às edificações e aos espaços industriais abandonados para um olhar de possibilidade, de futuro e de potencial atrativo.

Essa tendência de intervenção arquitetônica em antigos espaços produtivos e obsoletos conferem, em uma visão econômica, menor custo em reformas e reabilitação se comparado com a construção que se inicia a partir de uma nova planta. Favorece, também, o reciclo de materiais de construção por se reutilizar de uma estrutura já consolidada. Além disso, proporciona a simbiose entre a tecnicidade dos dias atuais e a riqueza cultural das construções mais antigas, resultando na qualidade arquitetônica e social, que dificilmente é possível de se obter com as novas construções.

Figura 3: Linhas ferroviárias da antiga EFNOB. Fonte: Acervo pessoal.

16


17


JUSTIFICATIVA

Atualmente, diversas propostas projetuais são produzidas com a temática do patrimônio histórico no Brasil, porém na maioria das vezes não há uma continuidade posterior ao projeto produzido, há a falta de interesse por parte dos proprietários ou do poder público em tornar esses projetos realidade. Isso pode ocorrer devido a motivos políticos, financeiros, ou, simplesmente, interesses divergentes. Com isso, os projetos propostos acabam não saindo do papel. Por essa razão, torna-se necessário o entendimento das questões que permeiam a temática do patrimônio e a exploração de novas formas de se tratar a questão.

A transdisciplinaridade envolvendo os espaços patrimoniais deve ser explorada, pois são locais de possibilidade, que podem ser incluídos na malha urbana do município.

Os edifícios multifuncionais, nesse quesito, atuam muito bem no sentido de incorporar e incluir diversas atividades em proximidade espacial. O programa de atividades em edifícios de uso multifuncional pode gerar melhorias na economia local, atraindo investidores, pequenas e grandes empresas. Geralmente, espaços de potencial de desenvolvimento econômico são de interesses comumente recorrentes na vida urbana. Espaços de coworking, entretenimento, lazer, cultura, esporte, comércios e serviços podem ser agregados, dependendo das necessidades da área em questão. Relacionar esses espaços em locais que possuem grande bagagem histórica, cultural e social, como é o caso do patrimônio industrial, pode vir a criar relações essenciais e tão necessárias tanto para a centralidade urbana, quanto para a preservação do edifício.

18


O Patrimônio Industrial precisa ser pensado hoje a partir de uma abordagem renovada capaz de se tornar um cenário de ação transdisciplinar diante das complexas variáveis que afetam os locais de trabalho, (...). Carta de Patrimônio Industrial de Sevilla (2018, p. 15)

19


OBJETIVOS

O presente trabalho tem como finalidade a criação de proposta projetual arquitetônica de reabilitação da Estação Central da EFNOB, considerada patrimônio industrial tombado. Para isso, é necessário o entendimento da historicidade do edifício e do local em que está inserido, além da compreensão das interrelações que a estação tem com seu entorno atual, no caso, o centro de Bauru.

Os objetivos específicos deste estudo consistem em: Estudo bibliográfico com relação à história da formação e desenvolvimento de Bauru, com enfoque no sistema ferroviário como norteador desse processo. Estudos referentes, especificamente, à Estação Central da EFNOB, desde suas raízes históricas, até sua situação nos dias atuais. Compreender a dinâmica da zona central bauruense e suas necessidades urbanas, como contexto que permeará a proposta de projeto. Possibilitar o entendimento do uso multifuncional e sua atuação como transformador do meio e potencializador de diversidade. Promover relações entre a Estação Central, o centro de Bauru e a implantação do uso multifuncional como proposta tanto da melhoria da vida urbana quanto da inclusão e preservação do patrimônio. Estudos de caso para referenciar o projeto. Criação de proposta projetual arquitetônica de reabilitação da Estação Central da EFNOB, e de diretrizes para seu entorno.

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METODOLOGIA

Inicialmente, aplicou-se o processo de walkthrough que consistiu em visitas direcionadas através de percursos criados pelo autor, margeando a extensão que compreende o pátio ferroviário de Bauru, especificamente com proximidade em relação ao centro urbano bauruense, com a finalidade de se desvendar edificações em potencial para a aplicação de estudos e investigações relacionadas ao tema. Alguns fatores como o contexto de localização, a relação com o centro de Bauru, as dimensões físicas do edifício e a facilidade de acesso foram essenciais na escolha do local, o qual se definiu ao fim do método de walkthrough como sendo a Estação Central da EFNOB.

Tendo em vista a finalidade de se produzir uma proposta projetual de intervenção, reabilitação e a implantação do uso multifuncional na antiga Estação Central da Companhia Noroeste é necessário compreender sua historicidade e importância para a cidade. Para isso, a pesquisa tem como metodologia estudos e investigações a respeito da historicidade urbana de Bauru com relação às influências que a ferrovia e a estação em questão exerceram sobre a formação e desenvolvimento urbano da cidade.

Posteriormente, incorporam-se estudos referentes ao uso multifuncional no contexto atual do séc. XXI e seus benefícios para a centralidade urbana, bem como os apontamentos de alguns autores, de questões que permeiam o patrimônio arquitetônico industrial e do Plano Diretor que direcionarão o projeto de intervenção ao patrimônio, além dos grupos sociais e instituições que atualmente ocupam e atuam em alguns espaços da Estação Central, sendo considerados elementos indispensáveis na incorporação ao projeto.

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Os estudos urbanos e do patrimônio referentes à essa pesquisa foram elaborados por meio de visita in loco, coleta de dados e informações da área em pesquisa documental, estudo de mapas e diagramas fornecidos pela prefeitura municipal e fotografias como método de entendimento das múltiplas relações presentes na área.

Em relação a proposta projetual, foram efetuados estudos de projetos de reabilitação do patrimônio como referência, sendo eles: o Casarão da Inovação Cassina, de Laurent Troost Architectures; e o Espaço de Arte Contemporânea no antigo Convento da Madre de Dios, de sol89.

Vale ressaltar que as pesquisas documentais e toda a revisão bibliográfica foram executadas em meio ao período de quarentena nacional (Covid-19), devido às recomendações do Ministério da Saúde. Dessa forma, não foi possível se ter acesso presencial aos locais que contêm material de pesquisa, como o Museu Regional Ferroviário de Bauru, ou aplicação de entrevistas com a população diretamente. Visto isso, a pesquisa foi embasada em artigos científicos, sites, revistas digitais e livros disponíveis virtualmente.

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Estação Central da EFNOB

Centro de Bauru

Figura 4: Mapa de localização da Estação Central da EFNOB. Fonte: Mapa do Google Maps personalizado pelo autor.

23


Figura 5 : Trilhos ferroviários na cidade de Bauru. Fonte: Acervo pessoal.

24


1.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

25


1.1 A FERROVIA EM BAURU: FORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO URBANA Os primórdios da formação urbana da cidade de Bauru, entre meados do século XIX e início do século XX, se dá principalmente com uma intensa atmosfera esperançosa com relação à chegada das ferrovias. Assim como diversas cidades criadas mais ao oeste do Estado de São Paulo, Bauru tinha potencial, como diretriz nacional, de se tornar local de escoamento das produções agrícolas da época, como o algodão, o amendoim e a mamona (SCHIAVON, 2017). Transportaria também o principal produto, de grande comercialização, sendo um dos principais potencializadores econômicos do país: o café. Além disso, a região se localizava em uma posição estratégica para a conexão viária com direção ao oeste do estado e Centro-Oeste do país, até então pouco explorado (GHIRARDELLO, 2020).

A ferrovia constituía-se em fluxo rápido e dominante de coisas, pessoas e informação, integrando regiões. Além do transporte dos produtos da agricultura e indústria, os trens permitiam o deslocamento da notícia, informações, boatos, revistas, livros, manuais, almanaques, jornais, catálogos, vendedores, comerciantes, encomendas, turistas, trabalhadores, aventureiros, migrantes e imigrantes. Até mesmo o correio e o telégrafo eram serviços realizados pelas empresas ferroviárias que possuíam a estrutura necessária. (LOSNAK, 2011 apud MARTINES, 2013, p.34) 26


Nota-se a partir do trecho referenciado que a ferrovia era sinônimo de desenvolvimento na época. A implantação de um sistema ferroviário acompanharia o intenso comércio agrícola em potencial, bem como possibilitaria o desenvolvimento econômico e urbano da região oeste do Estado de São Paulo.

O primeiro arruamento do território se inicia, em 1888, com base em saídas de ligação com cidades vizinhas, no caso, Agudos, Fortaleza e Lençóis (Figura 6). A configuração espacial urbana é traçada com um viés racional, representado pela malha quadriculada, em xadrez.

Figura 6 : Mapa com a reconstituição do traçado urbano em malha ortogonal de 1884. Fonte: Ghirardello (1992, p. 55) apud Ghirardello (2020, p. 21)

27


Nota-se que nesse momento das primeiras formações urbanas, a futura

seguinte, outro Decreto, o de nº. 493, seguido pelo de

implantação de ferrovias na região já era uma ideia promissora e estava

nº. 504, de 18 de dezembro de 1897, já aprovava os

conectada intimamente à mentalidade do traçado de origem da cidade de

estudos definitivos referentes à vinda da Companhia

Bauru, bem como a busca pela conexão com as cidades mais próximas.

Paulista, de Dois Córregos para Bauru, sinal que as ferrovias brevemente chegariam.

Em 1896, o Patrimônio do Espírito Santo de Fortaleza, até então sede do município, deixa de o ser e a transferência é efetuada para a vila de Bauru, tornando-se protagonista e sede da municipalidade, com aprovação do Governo do Estado. Posteriormente, Bauru recebe o título de cidade e passa a receber administração de forma direta, através do mandato de coronéis, também latifundiários. A extensão do município alcançava as divisas do Estado de Mato Grosso e o crescente desenvolvimento da economia e produção cafeeira tornava Bauru um local promissor, reforçado pela ideia da breve chegada do sistema ferroviário na região (GHIRARDELLO, 2020).

Algumas concessões e aprovações por parte do Estado já se manifestavam nos anos de 1896 e 1897, contribuindo para o firmamento das futuras atividades de companhias ferroviárias na cidade. Assim explicita Ghirardello (2020, p. 29), de forma esclarecedora:

O futuro de Bauru era alvissareiro, pois o Decreto nº. 374, de 15 de julho de 1896, da Assembleia Legislativa do Estado, concedia à Companhia União Sorocabana e Ituana, como era denominada no período, licença para linha de Lençóis para Bauru. No ano

28


A implantação de estradas de ferro na região representava a introdução da lógica moderna na organização espacial urbana, propiciando o desenvolvimento na vida social, econômica, política e cultural de Bauru (MARTINES, 2013).

A partir desse momento, a atenção voltada à cidade de Bauru se tornou crescente. Em 1904, Bauru é escolhida para se tornar ponta de linha, de onde partiriam linhas ferroviárias com destino a zona noroeste paulista e abrigaria um grande nó ferroviário que induziria linhas para diversas cidades, incentivando regiões até então pouco exploradas do estado (Figura 7). Já em 1905, Bauru recebe as instalações da Companhia Sorocabana e as construções da Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (CEFNOB) ¹, e, em 1908, a presença do Presidente da República Afonso Pena que inaugura mais uma nova etapa do avanço dos trilhos da CEFNOB, um importante marco na história da cidade (GHIRARDELLO, 2020).

¹ Posteriormente, em 1917, a companhia é denominada Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), como se conhece atualmente.

29


Figura 7 : Percurso das linhas férreas da CEFNOB em sua inauguração. Fonte: Desenho de André Stevaux, AZEVEDO, 1950 apud GHIRARDELLO, 2002.

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As ferrovias da Noroeste se tornariam instrumento de expansão e de avanço para o interior do estado, transformando pequenas zonas agrárias e de pastagens em centros urbanos povoados (AZEVEDO, 1950 apud MARTINES, 2013).

As articulações no interior do Estado de São Paulo foram motivadas devido a presença da Estrada de Ferro Sorocabana, pois a cidade passou a ter ligação com o Norte do Paraná, até a cidade de Londrina/PR, enquanto a Companhia Paulista Estrada de Ferro gerava conexões com a São Paulo Railway e com o Porto de Santos (LÔVO, 2013).

Bauru que, inicialmente, era apenas um pequeno povoado com seus comércios básicos, pousadas, atendendo viajantes e ocupações rurais e urbanas das redondezas, passa a se tornar uma cidade de papel estratégico de desenvolvimento em escala nacional.

Com a chegada das ferrovias, a cidade de Bauru, consequentemente, passou a sofrer transformações econômicas e urbanas. É interessante destacar o aumento populacional na cidade, que contava com pessoas vindas de diversos lugares do país em busca de oportunidades de trabalho. Nessa época algumas grandes empresas no ramo industrial instalavam-se com suas unidades nas terras bauruenses, como a Sanbra, Anderson Clayton, Matarazzo e Cia. Antártica Paulista (SCHIAVON, 2017).

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A vinda de pessoas a Bauru não se restringia somente de origem nacional, muitos trabalhadores imigrantes, como os engenheiros franceses que lideraram as obras da CEFNOB, buscavam a cidade como destino definitivo, com o objetivo de estabilizar-se no local com suas famílias. Muitos vinham para trabalhar na própria cidade, a qual passava a demandar novos serviços com a chegada das companhias ferroviárias, outros buscavam prestar serviços nas obras da CEFNOB (GHIRARDELLO, 2020).

O processo de ocupação da cidade, gradativamente, se tornava mais complexa, resultando em mudanças na vida urbana local. O aumento populacional gerou a necessidade de se fornecer abrigo aos novos moradores, sendo comum a criação de pensões improvisadas e de hotéis para receber os viajantes. Pôdese notar diversas transformações na vida urbana dos moradores locais, como indica Ghirardello (2020, p. 34):

Junto com imigrantes virão moradores de outros cantos do país no sentido de conseguirem trabalho na ferrovia, entretanto, devido ao perigo das atividades, às doenças, à má fama dos indígenas e às centenas de mortes nas obras da CEFNOB, haverá dificuldade de se conseguir a quantidade necessária de operários. Para tanto os empreiteiros lançarão mão de prisioneiros que trarão mais violência ao processo de ocupação da zona.

32


No início de 1910, a terceira companhia ferroviária se instala em Bauru: a Companhia Paulista. Diferentemente das demais, suas linhas férreas se desviam do curso do rio, adentrando e atravessando a malha urbana. Forma-se, contudo, um dos maiores entroncamentos ferroviários do país, e Bauru passa a sofrer um grande aumento de sua população, alcançando aproximadamente a marca de 10 mil habitantes (GHIRARDELLO, 2020).

A base para o desenvolvimento urbano da cidade se dá a partir da implantação das estações ferroviárias em solo urbano, sendo o ponto de partida para futuras obras de infraestrutura, sistema viário, edificações, espaços livres e os loteamentos de bairros em suas proximidades, com atividades de investimento privado. Bauru passa a desenvolver seu comércio e serviço local que, com o tempo, torna-se a força econômica da cidade, não se restringindo mais somente à produção cafeeira, a qual sofre um processo de enfraquecimento já no final dos anos 1920, amplificada pelo crack na bolsa de Nova York e final da Velha República. Nessa mesma década, após a retomada de posse da Companhia pela União em 1917, a cidade passou a receber mais novos funcionários, por consequência da transferência da sede da CEFNOB da Capital Federal para Bauru, fato justificável devido ao quilômetro zero da Companhia estar localizada na cidade. Nesse mesmo momento, a CEFNOB passa a se denominar EFNOB (Estrada de Ferro Noroeste do Brasil), ou simplesmente, NOB, como se tem conhecimento nos dias atuais (GHIRARDELLO, 2020).

33


Na década de 1960 e 1970, considerado o período áureo do centro de Bauru, a Rua Batista de Carvalho (Figura 8) torna-se local de grande concentração comercial da cidade, enquanto, por outro lado, as viagens pelo transporte ferroviário são cada vez menos procuradas. Segundo o IBGE (v. XII, 1956) apud Schiavon (2017, p. 14), a cidade de Bauru apresentava:

(...) todos os aspectos característicos de uma grande cidade moderna: intenso movimento de hotéis, boa iluminação pública, várias linhas de transporte coletivo, cinemas, hospitais, é um ativo centro cultural, estendendo, nesse campo, sua influência até Mato Grosso, sua indústria tinha alcançado ampla diversificação, comercialmente comanda quase toda a exportação das três linhas férreas que aí se encontram. Bauru teve papel de relevante importância no povoamento regional da Noroeste e Sorocabana, e ainda hoje possui grande contingente de operários ferroviários nas companhias que servem a zona.

34


Figura 8: Rua Batista de Carvalho, década de 1940. Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru.

35


Já na década de 1980, era notável a decadência das ferrovias no contexto

definitivamente de existir, muito embora já estivesse

nacional e local, ocasionada pelo crescente desenvolvimento do transporte

precário e decadente há pelo menos duas décadas,

rodoviário. A construção, em agosto de 1980, da nova rodoviária na cidade,

sendo seu encerramento apenas a última gota do

no cruzamento da Avenida Nações Unidas com a Nuno de Assis localizadas

agonizante processo.

fora do perímetro do centro de Bauru, acabou gerando maior decadência ao centro urbano bauruense, considerado por Ghirardello (2020) um “Péssimo cenário para o centro da cidade.”

A partir da década de 1990 e começo do século XXI, os investimentos imobiliários no âmbito comercial e de serviço se intensificam, porém em áreas voltadas mais no sentido norte-sul da cidade, mais especificamente, próximas a Avenida Getúlio Vargas, diluindo o foco em exclusividade que o centro da cidade possuía até então.

A situação ferroviária e central bauruense já apresentava mudanças. Dessa forma, Ghirardello (2020, p. 218) aponta:

Uma das pontas do eixo e sua grande força desde o início do século, se extingue definitivamente no ano de 1996 com a concessão privada da ferrovia que se volta apenas ao transporte de cargas, dando as costas à cidade e abandonando as edificações principais. O transporte de passageiros deixa

36


A extinção dos trens para passageiros ocorre na década de 90, e a antiga

férrea, as construções residenciais na época de grande

RFFSA ² , empresa a qual havia encampado a EFNOB em 1957, se torna

prestígio ao transporte ferroviário, importantes elementos

uma empresa privada. A partir daí, a empresa Novoeste assume o controle

de testemunho a história de Bauru.

da área, desligando os usos da estação central e das oficinas, restringindo somente ao funcionamento das linhas ferroviárias (LÔVO, 2013).

É essencial preservar tais elementos, ao mesmo tempo em que se necessita dar uso, promover a ocupação desses

Com o tempo, nenhuma outra obra significativa foi executada, ocasionando no abandono e precarização das estações e demais

espaços que se encontram abandonados, desarticulados e precários, como se observa atualmente.

edificações, anteriormente pertencentes a EFNOB. Atualmente, a empresa América Latina Logística Malha Paulista AS (ALL) e a empresa Rumo Logística possuem o uso das linhas férreas, utilizando-as para transporte de cargas (LÔVO, 2013).

As ferrovias e toda sua infraestrutura complementar, sejam edificações, espaços destinados às atividades, aos acessos ou como suporte para o funcionamento do sistema, são elementos indissociáveis e intrínsecos à formação e desenvolvimento de Bauru. Alguns desses elementos perduram até os dias atuais, tanto a nível urbano, como a configuração das vias, a disposição da malha, as praças e os núcleos comerciais, quanto a nível arquitetônico, sendo as estações ferroviárias, as oficinas, a própria linha

² Rede Ferroviária Federal SA, empresa mista formada por 18 empresas ferroviárias.

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1.2 A ESTAÇÃO CENTRAL DA EFNOB 1.2.1 SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO

A Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (CEFNOB), que posteriormente, em fevereiro de 1917, foi denominada Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), ou simplesmente Noroeste do Brasil ou Noroeste, como é tratada geralmente, teve o início de sua construção em solo bauruense em 1905, através das diretivas do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro com o objetivo de expandir a conexão ferroviária do Estado de São Paulo com sentido ao atual Mato Grosso do Sul e para ocupação da zona noroeste do estado (GHIRARDELLO, 2020). A figura a seguir (Figura 9) evidencia as linhas férreas da EFNOB na cidade:

Figura 9: Fotografia aérea dos trilhos e oficinas da EFNOB, em Bauru. Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru apud Buranelli (2015).

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Assim, Ghirardello (2002) afirma: “Nesse aspecto, a CEFNOB será a primeira estrada de ferro no Estado de São Paulo a “abrir” territórios e não como suas predecessoras a acompanhar a produção cafeeira.” As obras da CEFNOB viriam a atingir a escala nacional, sendo de extrema importância histórica para Bauru e para o país. A primeira estação da CEFNOB (Figura 10) foi construída no final do ano de 1905, sua materialidade era de alvenaria e, posteriormente, ampliada em madeira. O acesso para a edificação se dava pelo grande portão situado na extremidade da Avenida Rodrigues Alves, sendo o mesmo acesso utilizado para a estação da Companhia Sorocabana, na época. O traçado da ferrovia se estendeu por grandes extensões territoriais, e em 1910, alcançou a divisa do Estado no Rio-Paraná, formando pequenos povoados às margens da linha férrea (Figura 11) (GHIRARDELLO, 2020).

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Figura 10: Fotografia da primeira estação da CEFNOB. Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru.

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Figura 11: Estações-povoados formados a partir do trajeto ferroviário da CEFNOB. Interessante destacar a cidade de Bauru como quilômetro zero do trajeto. Fonte: Desenho de André Stevaux apud Ghirardello, 2002, p. 15.

41


Na década de 1920 já se estudavam projetos para a nova estação ferroviária da NOB. Inicialmente, as características estéticas da estação eram de linguagem eclética (Figura 12) e o projeto acabou não sendo executado, mas em uma última versão ³, considerada de linguagem déco (Figura 13), em 1939, a Estação Central da EFNOB (Figura 14) é aprovada e construída após posteriores modificações. A escolha pelo último projeto se deu por questões de viabilidade e contextualização histórica. A materialidade da Estação Central da NOB era composta de concreto armado, material que ganhava destaque na época onde o aço e o concreto passavam a ser produto nacional, durante o Estado Novo (GHIRARDELLO, 2020). Juntamente com a construção da nova edificação, a Estação Central contava também com criação da primeira gare do Brasil (Figura 15), com estrutura de concreto armado, fugindo das armações metálicas importadas, que costumavam ser utilizadas no país (GHIRARDELLO, 2020).

³ A versão projetual da Estação Central da NOB que teve sua construção concluída foi obra do Engenheiro Arquiteto José Hugo Speche.

42


Figura 12: Fachada frontal do projeto para Estação da NOB, 1922. A obra não foi executada. Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru.

43


Figura 13: Fachada frontal do projeto para Estação da NOB, 1934. Fonte: Relatório da Diretoria referente ao exercício de 1933 apud Pallotta, 2014.

Figura 14: Construção da estação central da EFNOB . Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru apud Buranelli (2015).

44


Figura 15: Fotografia da gare da estação central da NOB, 1999. Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru.

O projeto inicial da estação foi feito pelo arquiteto Dácio A. Moraes, finalizado em 1934, já sendo pensado para atender as atividades administrativas e de serviços das três companhias ferroviárias. O corpo central do edifício (50% do total) seria destinado ao uso da EFNOB, enquanto as suas duas extremidades (outros 50% do total) seriam utilizadas pela Companhia Paulista e Companhia Sorocabana (Figura 16) (ALBANO, 2013).

45


Figura 16: Recorte de fotografia da Estação Central da EFNOB, 2016. Nota-se, à esquerda, a presença da sigla “EFS”, referente à Estrada de Ferro Sorocabana, estampada na fachada da extremidade da edificação; e também, mais abaixo, a presença da pequena marquise de concreto armado, onde se localizava a entrada de acesso às salas de serviço da Companhia Sorocabana. Fonte: Fotografia de Priscila Medeiros para publicação de reportagem no site da prefeitura de Bauru 4.

4

46

Disponível em: <https://www2.bauru.sp.gov.br/materia.aspx?n=24931>. Acesso em 29 de março, 2021.


A Estação Central teve o início de sua construção em 1935, sendo administrada pela empresa Leão, Ribeiro & Cia, responsável pelas obras (NEVES, 1958 apud MARTINES, 2013). O edifício contava com dois pavimentos, sendo o térreo para uso de serviço de tráfego de passageiros das três companhias ativas (EFNOB, Sorocabana e Paulista), e o pavimento superior destinado aos escritórios de administração das companhias (MARTINES, 2013).

Em 1935, período o qual se iniciaram as obras da construção da nova estação, houveram alguns apontamentos por parte dos engenheiros da ferrovia em relação a baixa resistência que o solo exercia para as fundações projetadas. Por essa razão, o engenheiro José Hugo Specht realiza um novo projeto da estação (Figura 17), ainda no mesmo ano, com base no projeto pré-existente, realizando certos ajustes a nível estrutural e também estético. As janelas se tornam mais estreitas e altas, a fachada é menos trabalhada, com um aspecto mais limpo, o comprimento da edificação é de aproximadamente a 180 metros, com três pavimentos e com a presença de um grande relógio ao centro. A materialidade se dá em concreto armado (material muito utilizado na época e bastante estimulado pela política de fomento a indústria) para as estruturas e tijolo de barro para o contraventamento (ALBANO, 2013).

47


Devido à larga fachada da nova estação da EFNOB, a Praça Machado de Mello serviu como um espaço de visualização para a Estação Central (Figura 18), dando certo “respiro” entre a imponente fachada e o restante da cidade logo a sua frente. Assim destaca Ghirardello (2020, p.197):

A ausência de vegetação e a implantação da estação em cota ligeiramente mais baixa que a esquina da Rua Batista, oferecia posicionamento visual perfeito para aquele que seria o “edifício símbolo” da cidade. São inúmeras as imagens fotográficas a partir desse ângulo, nas quais se percebe o quanto era conveniente existir uma área livre sem qualquer elemento que pudesse concorrer com o prédio e “distrair” o olhar. A praça continuava a serviço da NOB.

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Figura 17: Elevação frontal do projeto de José Hugo Specht, com características próximas ao projeto de Dácio A. Moraes, porém com traços mais clássicos. Fonte: Fotomontagem de Lucas Albano, 2012. Albano, 2013, p. 38


Figura 18: Vista frontal da estação central da NOB e o espaço da Praça Machado de Mello, 1939. Fonte: Museu ferroviário Regional de Bauru.

Considerado um edifício de escala monumental, a Estação Central apresentava uma arquitetura simples e clara, e representava a modernidade e a forte presença do Estado (ALBANO, 2013). A linguagem déco, característica estética da estação, pode ser melhor descrita, segundo Conde (1997) apud Albano (2013, p.37):

5

(...) as composições axiais, a tripartição vertical dos edifícios em base, corpo e coroamento, a predominância de cheios sobre vazios, as varandas semi-embutidas, a articulação e escalonamento de planos e volumes, a conteção decorativa, a integração arquitetura/ interiores/design, a valorização dos acessos e portarias, o uso de tecnologia construtivas modernas (concreto armado, elevadores, sistemas elétricos e hidráulicos).

5

CONDE, Luiz Paulo. Conferência: Art Déco: Modernidade antes do movimento moderno. Rio de Janeiro, 1997.

49


Além da edificação principal, a estação contava com a presença da gare (Figura 19), que servia de cobertura para o embarque e desembarque de pessoas. Inicialmente pensada em estrutura metálica, como indicado no corte (Figura 20), a ideia foi substituída pelo sistema de estrutura em concreto armado. A iluminação natural era proporcionada pela presença de lanternins na cobertura, que por sua vez, era constituída por telhas de amianto (ALBANO, 2013).

Figura 19: Cobertura da gare, nos dias atuais. Fonte: Acervo pessoal, 2016.

50


Figura 20: Corte do Projeto da Estação Central e da gare. Fonte: Centro de Memória Regional de Bauru apud Ghirardello (2020, p. 134).

Através dos estudos históricos da cidade de Bauru, notase que a Estação Central da EFNOB, arquitetonicamente e historicamente, possui grande destaque e importância para a cidade de Bauru, assim como aponta Lôvo (2013, p. 18):

51


O complexo arquitetônico pertencente à antiga sede da EFNOB do Brasil, localizado na cidade de Bauru, é um dos maiores e melhores exemplares de edifícios ferroviários existentes no Brasil. Sua preservação e salvação, do parcial abandono que se encontra atualmente são de fundamental importância para a cidade de Bauru, para São Paulo, e por que não dizer, para o Brasil.

52


É essencial que se mantenha viva sua historicidade nos dias atuais, ao mesmo tempo em que é necessário incluí-la na dinâmica atual da cidade. A Estação Central é tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru (Codepac) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), porém o abandono e as más condições desse patrimônio arquitetônico e ferroviário são perceptíveis.

É notável o potencial que essa edificação possui, justificada pela sua dimensão e estética imponentes. A grandiosidade espacial se expressou em meados de 1939, onde a Estação Central pôde comportar três empresas ferroviárias, Sorocabana, Paulista e EFNOB, em seu espaço interior. Não somente na esfera arquitetônica, como também no âmbito urbano, a estação gerou uma intrínseca relação com o centro da cidade, desde os primórdios da sua construção, momento o qual Bauru recebeu grandes investimentos públicos e privados, sendo um local simbólico para a cidade.

53


A ESTAÇÃO CENTRAL DA EFNOB 1.2.2 RELAÇÃO DE PROXIMIDADE COM O CENTRO URBANO DE BAURU

Após a chegada da companhia ferroviária, o desenvolvimento de Bauru se tornou crescente. Devido ao aumento populacional e consequentemente o acelerado investimento em comércios e serviços na cidade, houve a necessidade de se adaptar e proporcionar melhorias na infraestrutura local. Em 1917, após a transferência da sede da companhia da Capital Federal para Bauru, ocorreu a doação para a prefeitura do terreno triangular (Figura 21), situado em frente à estação (GHIRARDELLO, 2020).

Figura 21: Fotografia da Praça Machado de Mello, provavelmente já na década de 1930. Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru.

54


O espaço doado passa a ser local de acesso para o transporte ferroviário, antes sendo feito pelo grande portão da Avenida Rodrigues Alves, agora o acesso se dá pela Rua Batista de Carvalho e pela Praça Machado de Mello (Figura 22), nome dado em homenagem a Machado de Mello, responsável pela doação da área em questão (GHIRARDELLO, 2020).

Figura 22: Fotografia da Praça Machado de Mello, década de 1930. Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru 6.

6

Disponível em: <https://www.projetomuseuferroviario.com.br/praca-machado-de-mello/>. Acesso em 16 de março, 2021

55


Após a construção da segunda estação da EFNOB, diversas outras obras, mais ao centro da cidade, foram criadas em art déco, como o Edifício Abelha (Figura 23), justamente sob influência da linguagem da estação. Linguagem a qual era considerada na época, popularmente, como uma manifestação com viés “futurista” (GHIRARDELLO, 2020).

Figura 23: Recorte, feita pelo autor, de fotografia atual do Edifício Abelha, construído na década de 1930. Fonte: Fotografia de Priscila Medeiros. Disponível no site do Codepac 8 em: <https://sites.bauru. sp.gov.br/codepac/bem_detalhes.aspx?id=5>. Acesso em 16 de março, 2021.

8

56

Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru.


Por volta da década de 1980, com a decadência das atividades ferroviárias, a prosperidade da cidade de Bauru se intensificou em suas áreas de comércio e de serviço. Fato que foi possível devido aos investimentos que ocorreram na cidade com a chegada das companhias ferroviárias e a vinda de pessoas em busca de trabalho.

O desenvolvimento do centro se deu essencialmente pela presença da Estação Central da EFNOB, e pelo seu acesso através da Batista de Carvalho e Praça Machado de Mello. Vale ressaltar que houveram grandes investimentos em serviços de hotelaria, com a criação de diversos hotéis nos arredores da grande estação, por exemplo, os hotéis Cariani (Figura 24), Estoril (Figura 25) e Milanese (Figura 26), que atualmente são tombados pelo Codepac (GHIRARDELLO, 2020).

57


Figura 24: Fotografia atual do Hotel Cariani. Fonte: Fotografia de Priscila Medeiros. Disponível no site do Codepac em: <https:// sites.bauru.sp.gov.br/codepac/bem_ detalhes.aspx?id=20>. Acesso em 16 de março, 2021

58


Figura 25: - Fotografia atual do Hotel Estoril. Fonte: Fotografia de Priscila Medeiros. Disponível no site do Codepac em: <https:// sites.bauru.sp.gov.br/codepac/bem_ detalhes.aspx?id=21>. Acesso em 16 de março, 2021.

59


Figura 26: Fotografia atual do Hotel Milanese. Fonte: Fotografia de Priscila Medeiros. Disponível no site do Codepac em: <https:// sites.bauru.sp.gov.br/codepac/bem_ detalhes.aspx?id=22>. Acesso em 16 de março, 2021.

60


Outra grande transformação urbana na cidade, devido ao protagonismo das companhias ferroviárias, foi a criação e, posteriormente, o alargamento da Avenida Rodrigues Alves (Figura 27). Criada com a intenção de fornecer acessibilidade para o acesso à estação da Sorocabana e à primeira estação da CEFNOB (Figura 28), sua ampliação ocorreu devido a necessidade de atender a demanda crescente do fluxo de movimento para as estações. As atividades na NOB influenciavam diretamente na economia e movimentação da cidade, principalmente no centro. Ghirardello (2020, p. 203) aponta algumas dessa influências:

Era grande a magnitude das ferrovias e especialmente da NOB para a economia da cidade, em decorrência do número expressivo de bauruenses ali empregados. Dia de pagamento da Noroeste era garantia de movimento na Rua Batista de Carvalho e boas vendas para os comerciantes. Em contraponto, as greves e paralisações dos ferroviários também refletiam fortemente na cidade. A presença de um atuante sindicato de ferroviários, criado em 1933, correntemente teve efeito poderoso no trabalho e na política partidária de Bauru.

61


Figura 27: Avenida Rodrigues Alves, provavelmente na década de 1920. Fonte: Museu Ferroviário Regional de Bauru.

62


Figura 28: Vista aérea da cidade de Bauru, provavelmente no ano de 1938. É possível de se observar na imagem a Avenida Rodrigues Alves e o grande portão de acesso para a NOB e Sorocabana. Fonte: Illustração fevereiro de 1947 9­ .

9

Brasileira,

Disponível em: < http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/bauru.htm>. Acesso em 16 de março, 2021.

63


A concentração do comércio e da prestação de serviços na área onde

a fundamental necessidade de se revitalizar o centro de Bauru,

se situa a Rua Batista de Carvalho (atual Calçadão) e a Rua Primeiro de

com o intuito de recuperar as atividades e o fluxo populacional

Agosto está intimamente relacionada à instalação da Estação Central

nesses períodos de inatividade (JUNIOR et al., 2009).

da EFNOB, em 1939, que atraiu para suas proximidades grandes investimentos públicos e privados. Dessa forma, indica Junior e Santos (2009, p. 206) em artigo para revista:

De acordo com Jane Jacobs (2011), o esvaziamento dos centros comerciais geralmente está atrelado ao não cumprimento, em totalidade, dos quatro pontos considerados fundamentais para o

Ocorre que devido o entroncamento ferroviário, muitas famílias faziam baldeação na estação ferroviária e passavam horas ou até mesmo dias na cidade e consequentemente realizavam compras nesta rua. Logo a expansão comercial fez da Rua Primeiro de Agosto, que juntamente com a Rua Batista de Carvalho iniciavam-se na estação ferroviária, o pólo de comércio da cidade, ou seja, o seu centro comercial.

A partir daí ocorreram expansões econômicas e urbanas no centro de Bauru, até os dias atuais. A questão mais recente com relação a centralidade bauruense se dá pelo fato das mudanças ligadas ao uso e ocupação, na qual ocorre uma diminuição do movimento e esvaziamento do centro nos períodos noturnos e nos finais de semana, tendendo a deterioração da área. Algumas representações como a Prefeitura Municipal, o Sindicato do Comércio Varejista, a Associação Empresas do Calçadão e o Grupo Pró-Bauru consideram

64

desempenho de seu potencial, são eles:


1

O distrito, e sem dúvida o maior número possível de segmentos que o compõem, deve atender a mais de uma função principal; de preferência, a mais de duas. Estas devem garantir a presença de pessoas que saiam de casa em horários diferentes e estejam nos lugares por motivos diferentes, mas sejam capazes de utilizar boa parte da infraestrutura.

2

A maioria das quadras deve ser curta; ou seja, as ruas e as

3

O distrito deve ter uma combinação de edifícios com idades e

oportunidades de virar esquinas devem ser frequentes.

estados de conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios antigos, de modo a gerar rendimento econômico variado. Essa mistura deve ser bem compacta.

4

Deve haver densidade suficientemente alta de pessoas, sejam quais forem seus propósitos. Isso inclui alta concentração de pessoas cujo propósito é morar lá. (JACOBS, 2011, cap. 7)

65


Com base nos apontamentos de Jacobs e tomando o caso de Bauru como contexto, o estímulo à criação de novos usos principais 10 pode contribuir, e claramente combinado com os outros fatores apontados, com a revitalização do centro. A Estação Central da EFNOB, que se encontra em situação de abandono nos dias atuais, tem grande potencial e estrutura para a implantação de novos usos em sua edificação e em seus espaços complementares. O fato da estação se encontrar próxima ao Calçadão, e contando com elementos históricos

Mas deve-se manter uma boa combinação de prédios antigos e, ao serem mantidos, eles se terão tornado mais do que o mero testemunho da decadência do passado ou uma evidência do fracasso. Eles se terão tornado abrigo necessário – e valioso para o bairro – para vários tipos de diversidade de retorno médio, baixo e nulo. (JACOBS, 2011, cap. 10)

em sua proximidade, como os hotéis históricos, a Praça Machado de Mello, os escritórios da NOB, a gare, e a estação Sorocabana, por exemplo, torna-se esperançosamente viável a aplicação do projeto de reabilitação.

Outro ponto elencado por Jane Jacobs (2011) é a inclusão de edifícios antigos no plano de revitalização de área centrais, devido ao fato de pequenas empresas poderem se instalar nos imóveis com baixo custo em comparação com edifícios novos. Assim indica a autora:

Termo comumente utilizado por Jacobs (2011), em sua obra “Morte e vida de grandes cidades”, que denomina os usos, sejam eles comerciais, culturais, de serviço, que atuam como atrativos populacionais, o grande destaque da área em que se encontra. 10

66


O estímulo da diversidade é um fator fundamental na constância de uso no centro urbano, sendo assim, a mescla de uso, impulsionada pela reativação de edificações antigas, pode ser benéfico ao desenvolvimento da área no entorno da estação central. Segundo Jane Jacobs (2011), a variedade de uso também pode propiciar a diversidade de pessoas no centro urbano, conforme explicita no trecho a seguir:

Mas, mais do que isso, onde quer que vejamos um distrito com um comércio exuberantemente variado e abundante, descobriremos ainda que ele também possui muitos outros tipos de diversidade, como variedade de opções culturais, variedade de panoramas e grande variedade na população e nos frequentadores. É mais do que uma coincidência. As mesmas condições físicas e econômicas que geram um comércio diversificado estão intimamente relacionadas à criação, ou à presença, de outros tipos de variedade urbana. (JACOBS, 2011, cap. 7)

67


As possibilidades de multiusos na edificação da Estação Central podem permitir a mescla de diferentes grupos de pessoas, estimulando diversas atividades que geralmente não se encontram em locais próximos. Ao se pensar a estação como local de procura, seja por pessoas do próprio centro ou de outras regiões da cidade, por consequência, o movimento nas ruas e espaços de seu entorno serão estimulados. Dependendo dos usos implantados, esse estímulo de acesso ao interior da edificação tem possibilidade de se estender para além do horário comercial, com uso noturno ou nos finais de semana, por exemplo.

A Estação Central da EFNOB possui em suas raízes históricas, a intrínseca conexão e influência sobre o centro de Bauru. Antes com propósitos ligados às atividades ferroviárias e ao estímulo do desenvolvimento comercial e de serviços na área, atualmente pode vir a se tornar um elemento impulsionador de um novo desenvolvimento do centro da cidade, fazendo parte na contribuição da solução de expressivas necessidades atuais que o centro possui. Aliado à implementação de uso multifuncional, que atenda também os horários não comerciais, potencialmente torna-se coerente a implantação de uma proposta de projeto de reabilitação da estação.

68


A forte influência sobre o centro de Bauru, com a chegada das instalações da Noroeste na cidade, principalmente com a construção da Estação Central, se refletiu no traçado urbano da área, através de transformações espaciais como o alargamento de avenida, intervenções sobre o traçado urbano pré-estabelecido, a atração de investimentos públicos e privados para a cidade, o desenvolvimento de infraestruturas locais, como iluminação pública, água, pavimentação, entre outros elementos importantíssimos para a potencialização do centro bauruense (MARTINES, 2013). O fomento às atividades hoteleiras, a construção de escolas, moradias, comércios e serviços e a conexão gerada com outras diversas regiões do estado promoveram a mescla de diferentes atividades e grupos de pessoas, o que gerou a prosperidade da cidade. É fundamental destacar tais fatores, pois é essencial que se tenha consciência da importância do elemento patrimonial arquitetônico que é a Estação Central da EFNOB para a identidade histórica e cultural de Bauru, potencializando a necessidade de inclusão desse patrimônio na vida urbana atual da cidade.

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1.3 OBSERVAÇÕES ACERCA DO USO MULTIFUNCIONAL EM EDIFICAÇÕES

O compartilhamento de uma mesma edificação para fins diferentes, sejam eles comerciais, de serviço, habitacionais, institucionais, é denominado como uso multifuncional. Essa forma tipológica arquitetônica representa um novo paradigma na maneira de se viver e experienciar o espaço (NARDELLI et al., 2005). Segundo pesquisa de docentes da Universidade Presbiteriana Mackenzie 11, a retomada da implantação da multifuncionalidade em edificações nos dias atuais é vista como forma de solução para a revitalização e reocupação de áreas centrais urbanas.

O programa multifuncional aplicado em edifícios pode favorecer a geração de diversidade no local, ao mesmo tempo em que atua no sentido de “desafogar”, aliviar, a mobilidade na área central, “são absorvidos como instrumento de revitalização e intensificação urbanas”, como afirma Dziura (2003). Por se tratar de múltiplos usos em um mesmo local, não há a necessidade de grandes deslocamentos pela cidade por parte das pessoas que buscam alcançar destinos diferentes, e sim, no caso, os usos passariam a estar atrelados a um mesmo espaço. Segundo Nardelli et al. (2005, p.3):

Disponível em: <https://docplayer.com.br/5202391-Arquitetura-multifuncional-paulistana-forma-tecnica-e-integracao-urbana.html>. Acesso em 20 de março, 2021. 11

70


A partir daí a concentração humana decorrente da organização da produção em torno de plantas produtivas localizadas em território urbano se impôs como um novo desafio a ser vencido. De um lado, buscando novas formas de organização do sítio urbano em si, repensando os sistemas de circulação e transporte de pessoas e mercadorias e a sua respectiva localização geográfica e, de outro, repensando o

As questões urbanas que permeiam os dias atuais levam muito em consideração a questão da falta de segurança nos centros urbanos, principalmente nos períodos em que ocorrem a diminuição do fluxo de pessoas e de atividades. Alguns fatores são responsáveis por essa situação recorrente, dentre elas: a monofuncionalidade e a falta de diversidade. Assim destaca Dziura (2003, p. 24):

programa dos edifícios que, então, demandariam escalas de construção jamais imaginadas.

Alguns fatos urbanos atuais se fazem necessários destacar, principalmente a ausência de espaços

Nesse trecho nota-se que, assim como as cidades urbanas necessitam ser repensadas sistematicamente para atender certas demandas e mudanças contextuais, repensar programas nos edifícios também pode contribuir como estratégia de intervenção urbana. O

públicos como apropriação do espaço pelos habitantes da cidade e a insegurança que provoca a segregação urbana. Além disso, a monofuncionalidade, isto é, ausência da diversidade funcional em alguns locais, ruas

uso multifuncional em edificações também pode beneficiar a cidade

mal iluminadas, calçadas desprovidas de qualidades

no âmbito econômico, pois de acordo com Nardelli et al. (2005, p. 3),

mínimas, parques urbanos segregados, quarteirões

“(...) a idéia de separar as funções urbanas não só não corresponde à

muito longos, falta de definição precisa entre espaços

melhoria da qualidade de vida nas cidades, como também implica em

públicos e privados, excesso de espaços imprecisos ou

profundas deseconomias, exigindo investimentos pesados e contínuos

residuais, mau equacionamento do convívio automóvel

na infra-estrutura urbana.”.

- pedestre, são alguns dos elementos físicos e espaciais que corroem a urbanidade.

71


A falta de estímulo à diversidade acaba sendo um fator determinante na vitalidade de espaços públicos. Um local que possui pouca diversidade de públicos e usos passa a sofrer com o esvaziamento em períodos fora do horário comercial, devido ao baixo fluxo de pedestres nas ruas, contribuindo para a insegurança do lugar e por consequência, acaba sendo um dos motivos para que a população passe a ocupar ainda menos esses espaços públicos (DZIURA, 2003).

Quando se trata do desenvolvimento da vitalidade dos centros urbanos, é essencial o estímulo à concentração de pessoas que ocupem a mesma área com propósitos diferentes. Nesse quesito, torna-se necessário ocupar edifícios que se encontram em estado de ociosidade ou abandono. De acordo com Dziura (2003), “a rearquitetura é tratada como um aspecto concreto da arquitetura multifuncional urbana”. A proposta de implantação de novos usos em edificações já consolidadas, porém que se encontram inativas é coerente e possui grande potencial para estimular a vitalidade das áreas centrais.

Outra questão importante de se destacar, é a criação de espaços de possibilidade, ou seja, espaços que são suscetíveis às mudanças, que possam atender diversas funções se necessário.

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Deste modo, os edifícios que resultam suscetíveis de modificações tenderão a uma vida útil mais prolongada e serão mais eficientes no uso dos seus recursos.

Essa flexibilidade de uso pode ser explorada em projetos arquitetônicos multifuncionais como forma de promover a vida útil do edifício, além de torná-lo menos rígido em termos de uso e ocupação.

Portanto, projetar essa flexibilidade de uso propõe que os espaços sejam vivos e diversificados. (DZIURA, 2003, p. 33)

É notável a intrínseca relação que a arquitetura multifuncional tem com o seu entorno. Segundo PEREZ (1999) apud Dziura (2003), é necessário que a inserção de uma obra no tecido urbano seja feita de forma adequada, e muitos fatores exercem influência sobre a obra, como a forma do terreno, a condição dos edifícios vizinhos, as características da rua, possíveis elementos integradores ao projeto, ou seja, são fatores que exigem o posicionamento da obra em questão. Não é possível tratar a questão da multifuncionalidade sem que sejam elencados os fatores externos e as relações que elas exercem no edifício, e vice-versa.

De acordo com Althoff (2017), os edifícios multifuncionais podem proporcionar uma interessante relação de espaços de permanência, convivência, voltados ao público. A permeabilidade pode ser um grande fator de qualidade espacial em edifícios, integrando o uso público com uso semipúblico. A presença de comércio, juntamente com a combinação de acessos permitem uma maior atração de pessoas ao interior do edifício, sendo o pavimento térreo o local de possibilidades e com potencialidades de integração (DZIURA, 2009 apud ALTHOFF, 2017).

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1.4 ESTUDOS DE CASO Para o estudo de projetos com a temática do patrimônio arquitetônico foram selecionados dois casos: O Espaço de Arte Contemporânea no antigo Convento da Madre de Dios, localizado na Espanha; e o Casarão da Inovação Cassina, localizado no Brasil.

Figura 29: Fachada, pós intervenção, do Casarão da Inovação Cassina. Fonte: Fotografia de Joana França. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/958210/ casarao-da-inovacao-cassinalaurent-troost-architectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

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1.4.1 ESPAÇO DE ARTE CONTEMPORÂNEA NO ANTIGO CONVENTO DA MADRE DE DIOS – sol89 O Espaço de Arte Contemporânea, projetado pela equipe de projetos da sol89, localiza-se em Sevilha, na Espanha, e utiliza-se da edificação do antigo convento da Madre de Dios.

O projeto de intervenção ao patrimônio, finalizado em 2014, possui uma área de 830m² e busca incorporar, como contexto, a constante transformação que a edificação passou ao longo dos anos.

Figura 30: Fachada, pós intervenção, do Espaço de Arte Contemporânea. Fonte: Fotografia de Fernando Alda. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/766260/ espaco-de-arte-contemporaneano-antigo-convento-da-madrede-dios-sol89>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

76


77


A criação se inicia a partir da reflexão que se instaura em relação ao processo de criação na arte contemporânea. Segundo a equipe, muitas expressões de arte contemporânea incorporam o espaço arquitetônico como matéria de trabalho. É essencial que o espaço de exposição não deva ser estático no tempo, mas sim como um espaço sem limites, estando disponível para que cada exposição o complete.

Figura 31: Exposição de arte, com destaque à materialidade exposta da edificação patrimonial. Fonte: Fotografia de Fernando Alda. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/766260/ espaco-de-arte-contemporaneano-antigo-convento-da-madrede-dios-sol89>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

78


As paredes e o teto da edificação são cobertos por lâminas de madeira, com espaçamentos que permitem a visualização dos tijolos originais e suas marcas temporais.

A equipe da sol89 afirma que a intervenção age como uma instalação inicial no espaço, como uma exposição temporária e suscetível a mudanças conforme as criações de arte contemporânea se dão ao longo do tempo. Mantém-se essencialmente o sentido da importância patrimonial do edifício: a matéria, o espaço e a luz, ao invés de decorações, ornamentos e estilos.

Figura 32: Materialidade evidente dos tijolos originais e ruídos temporais. Fonte: Fotografia de Fernando Alda. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/766260/ espaco-de-arte-contemporaneano-antigo-convento-da-madrede-dios-sol89>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

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Figura 33: Isométrica explodida do projeto de reabilitação com indicações das intervenções aplicadas à edificação original. Fonte: Disponibilizado pela equipe de projeto, em site. DIsponível em <https://www.archdaily. com.br/br/766260/espaco-dearte-contemporanea-no-antigoconvento-da-madre-de-diossol89>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

Figura 34: Estrutura atual metálica com fechamento em vidro em contraste com a materialidade do antigo convento. Fonte: Fotografia de Fernando Alda. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/766260/ espaco-de-arte-contemporaneano-antigo-convento-da-madrede-dios-sol89>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

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1.4.2 CASARÃO DA INOVAÇÃO CASSINA – Laurent Troost Architectures De acordo com a equipe de projeto Laurent Troos Architectures, o Casarão da Inovação Cassina, localizado em Manaus, no Brasil, abriga espaços de coworking, com ênfase no encontro de economistas digitais, com espaços multifuncionais, salões, salas de reuniões, laboratórios, salas de formação e restaurante.

O projeto compreende uma área de 1586 m² e foi executado no ano de 2020, sendo um projeto recente.

Figura 35: Vista da entrada. Fonte: Fotografia de Joana França. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/958210/ casarao-da-inovacao-cassinalaurent-troost-architectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

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Figura 36: Casarão em estado de degradação, antes da reforma e reabilitação. Fonte: Disponível em <https:// www.archdaily.com.br/br/958210/ casarao-da-inovacao-cassinalaurent-troost-architectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

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Figura 37: Casarão após a reforma e reabilitação. Fonte: Fotografia de Joana França. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/958210/ casarao-da-inovacao-cassinalaurent-troost-architectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

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A edificação foi construída em 1896, e a partir de 1960 a arquitetura passou pelo processo de desativação e degradação. Um dos pontos interessantes que a equipe de projeto destaca é a bela fachada da construção, a qual obteve com o decorrer do tempo o aspecto de desgaste, suscitando diversas reflexões a respeito da história e da ação do tempo a quem a observa. A vegetação crescendo em sua fachada, combinada com as ruínas geradas pelo processo de degradação traz certa potencialidade poética e plástica à imagem do patrimônio.

A arquitetura do Casarão Cassina possui grande importância histórico-cultural para a cidade, sendo a última fachada com argamassa pigmentada com pó de arenito avermelhado. A preservação da argamassa passou por um processo minucioso de restauro, a fim de tornar visível a especificidade do material e impedir que o mesmo se desgaste, ainda mais, com o passar do tempo.

86


Figura 38: Fachada Sul e fachada Leste, respectivamente. Fonte: Disponibilizado pela equipe de projeto, em site. Disponível em <https://www.archdaily. com.br/br/958210/casarao-dainovacao-cassina-laurent-troostarchitectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

Figura 39: Corte longitudinal e corte transversal, respectivamente. Fonte: Disponibilizado pela equipe de projeto, em site. Disponível em <https://www.archdaily. com.br/br/958210/casarao-dainovacao-cassina-laurent-troostarchitectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

87


O projeto consiste na relação do imaginário das ruínas com a implantação de um jardim na fachada traseira da edificação e certa relação também com a floresta amazônica, através do acesso ao interior do casarão pela passarela que percorre sobre o jardim tropical. Implanta-se, no interior do casarão, elementos ligados à atualidade, com o uso do aço nas estruturas e o conceito de sustentabilidade passiva. É estimulada a ventilação cruzada em todos os andares e a insolação que atinge a fachada leste é tratada termicamente com o uso de aletas de vidro temperado, gerando uma fachada ventilada de dupla face, contendo o calor no exterior da edificação.

Figura 40: Contraste das novas estruturas com a fachada histórica mantida no projeto. Fonte: Fotografia de Joana França. Disponível em <https://www.archdaily.com. br/br/958210/casarao-dainovacao-cassina-laurenttroost-architectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

88


A mescla entre passado histórico, por meio da exposição da materialidade e da arquitetura, e o tempo presente, pela escolha dos novos usos e elementos ligados à tecnologia, contemporaneidade e virtualidade, geram ambientes com relações únicas.

Figura 41: Espaço de trabalho atual. Fonte: Fotografia de Joana França. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/958210/ casarao-da-inovacao-cassinalaurent-troost-architectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

Figura 42: Espaço de trabalho atual. Fonte: Fotografia de Joana França. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/958210/ casarao-da-inovacao-cassinalaurent-troost-architectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

89


Figura 43: Nova cobertura com vista para a cidade. Fonte: Fotografia de Joana França. Disponível em <https://www. archdaily.com.br/br/958210/ casarao-da-inovacao-cassinalaurent-troost-architectures>. Acesso em 23 de agosto, 2021.

(...), o Cassina é a síntese dos ciclos econômicos de Manaus: a era da borracha, seu declínio, a era do Distrito Industrial e a era da nova economia digital. Laurent Troost Architectures

90


91


1.5 INTRODUÇÃO AO PROJETO 1.5.1 DIRETRIZES EXTERNAS

Este capítulo aborda algumas diretrizes que serão consideradas para a posterior etapa de proposta projetual para a reabilitação da antiga Estação Central da EFNOB. Toma-se como base as diretrizes que se aplicam ao tema, como algumas questões a respeito do patrimônio cultural e histórico, direcionamentos que o Plano Diretor Municipal de Bauru indica para a área, e algumas diretrizes apontadas por autores especialistas no tema.

1.5.1.1 PLANO DIRETOR A Constituição de 1988 12, especificamente no Artigo 182, a respeito das políticas urbanas, em seu parágrafo 1°, define: “A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.”. A função social é tratada também pelo mesmo artigo como objetivo, definido por lei, das políticas de desenvolvimento urbano municipal. Sendo assim, é dever do poder público municipal “ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.”.

12

92

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 04 de abril, 2021.


O plano diretor municipal é instrumento obrigatório, segundo à Constituição Federal, em cidades com mais de vinte mil habitantes, como é o caso de Bauru. Dessa forma, a propriedade urbana deve se atentar às diretrizes definidas pelo plano diretor da cidade.

A respeito da antiga Estação Central da EFNOB, o uso da edificação não se encontra em estabilidade, sendo, geralmente, utilizado temporariamente para eventos e algumas atividades de certa parcela da população. Na maior parte do tempo, a estação se encontra em ociosidade, o que o caracteriza como um edifício subutilizado. Assim define Clemente (2012):

§ 4º

É facultado ao poder público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo

O termo subutilizado figura no texto para definir aqueles

Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos,

imóveis que ainda têm uso e/ou ocupação, mesmo que

em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o

parciais ou temporários, e onde se verifica um processo

valor real da indenização e os juros legais.

de desestabilização, deterioração ou ociosidade. O artigo 182 também elenca posicionamentos com relação às propriedades subutilizadas, em seu parágrafo 4°:

93


, Lei nº 10.257 de 10 de julho de 2001,

A proposta de reabilitar a Estação Central da antiga companhia

regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição, definindo diretrizes

Noroeste, patrimônio ferroviário de Bauru, segue em contribuição

gerais da política urbana. Assim destaca-se o Artigo 2°, ressaltando

para o cumprimento das leis definidas pelo Estatuto da Cidade

algumas diretrizes importantes para a temática da pesquisa:

e pela Constituição de 1988, as quais visam o desenvolvimento

O Estatuto da Cidade

13

adequado às políticas urbanas nos municípios. Art. 2o

O Plano Diretor (2008)

14

de Bauru elenca algumas diretrizes

A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno

para a área que compreende a Estação Central da EFNOB, e seu

desenvolvimento das funções sociais da cidade e da

entorno. Com isso, inicialmente, vale destacar como se dão as

propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:

classificações urbanas para a área.

(...) XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que

De acordo com o Mapa de Macrozoneamento do município

tenha resultado a valorização de imóveis urbanos;

(Figura 29), o centro da cidade de Bauru, onde se localiza a Estação

(...)

Central, está inclusa na Macrozona Urbana. O plano diretor,

XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente

portanto, destaca como objetivos gerais para a macrozona: a

natural e construído, do patrimônio cultural, histórico,

ordenação e controle da ocupação do solo, de modo a consolidar

artístico, paisagístico e arqueológico; (grifo nosso)

uma cidade compacta com sustentabilidade ambiental; e garantia da função social da propriedade urbana, evitando a formação de vazios urbanos não utilizados ou subutilizados (DEMACAMP, 2020) 15.

13

Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11148940/artigo-2-da-lei-n-10257-de-10-de-julho-de-2001>. Acesso em 04 de abril, 2021.

14

Disponível em: <https://sites.bauru.sp.gov.br/planodiretor/lei.aspx>. Acesso em 04 de abril, 2021.

Demacamp - Planejamento, Projeto e Consultoria S/S Ltda. Estudo preliminar para discussão do Plano Diretor participativo de Bauru. Documento de estrutura e conteúdo discutidos durante a Capacitação do Plano Diretor Participativo de Bauru. Bauru, 2020. Disponível em: <https:// pdbauru2019.webflow.io/p-documentos/documentos>. Acesso em 04 de abril, 2021. 15

94


Figura 44: Mapa Digital Macrozoneamento de Bauru.

do

Fonte: Site do novo Plano Diretor de Bauru. Disponível em: <https:// pdbauru2019.webflow.io/pdocumentos/documentos>. Acesso em 02 de abril, 2021.

95


Conforme o Zoneamento do município, produzido pelo Plano

Zona de Interesse Histórico-Cultural I”, como indicado na figura

Diretor, o centro bauruense localiza-se na “ZC - Zona Central”,

(Figura 30). Para tais zonas, são dadas as seguintes diretrizes, de

enquanto a Estação Central da EFNOB localiza-se em uma “ZIH 1 -

acordo com Demacamp (2020):

ZONA ZC - Zona Central

DESCRIÇÃO

OBJETIVOS GERAIS

Núcleo urbano original, com predomínio dos

1 - Propiciar a retomada do caráter de centralidade

usos comercial e de serviços. Passa por processo

principal da Zona, por meio de projeto estratégico

de esvaziamento populacional e abandono das

que integre revitalização do espaço, proteção ao

edificações, embora ainda seja a referência

patrimônio histórico-cultural, incentivo a alternativas

principal de comércio popular.

de desenvolvimento econômico, criação e retomada de espaços para atividades e manifestações culturais. 2 - Exigir o cumprimento da função social da propriedade, dado o grande número de imóveis vazios e subutilizados. 3 - Incentivar o uso misto, de modo a ampliar a vitalidade urbana. 4 - Otimizar a utilização da infraestrutura existente, com adensamento populacional.

ZIH 1 - Zona de Interesse Histórico-Cultural 1

Polígono delimitado no zoneamento atual

Preservar e recuperar o patrimônio ferroviário,

como Zona de Interesse Histórico e Cultural + Vila

reurbanizar o entorno das edificações tombadas e

Falcão + trecho inicial da Rua Araujo Leite.

estimular usos relacionados ao turismo históricocultural. Desenvolver projeto de corredor cultural.

96


Figura 45: Classificação da área que contém a Estação Central da EFNOB como “Zona de Interesse Histórico Cultural 1”, enquanto seu entorno é classificado como Zona Central. A localização da estação e a classificação desta área estão destacadas pelo autor no mapa e na tabela. Fonte: Montagem, recorte e destaques feitos pelo autor, utilizando-se de mapa digital disponível no site do novo Plano Diretor de Bauru. Disponível em: <https://pdbauru2019.webflow. io/p-documentos/documentos>. Acesso em 04 de abril, 2021.

97


Em relação ao uso do solo, o centro de Bauru é considerado uma “ZCC Zona Estritamente Comercial”. De acordo com o Mapa de Uso Real do Solo (Figura 21), nota-se a grande presença de comércios e serviços próximos à Avenida Rodrigues Alves e a Rua Batista de Carvalho (calçadão). A Estação Central da EFNOB é considerada de uso institucional, o que de certa forma indica uma tendência ao desenvolvimento deste tipo de atividade no edifício, uma vez que os escritórios da antiga Companhia Noroeste, localizadas ao lado da estação, atualmente, está em uso pelo Museu Ferroviário Regional de Bauru (Figura 22).

Figura 46: Uso do Solo referente ao centro de Bauru. Fonte: Montagem e recorte feitos pelo autor, utilizando-se de mapa digital disponível no site do novo Plano Diretor de Bauru. Disponível em: <https://pdbauru2019.webflow. io/p-documentos/documentos>. Acesso em 04 de abril, 2021.

98


99


Figura 47: Museu Ferroviário Regional de Bauru, nos dias atuais. Fonte: Matéria de Claudia Di Gregorio (julho de 2017) para “Revista Atenção - Bauru e região” (revista digital). Disponível em: <https:// revistaatencao.com.br/ferias-no-museuferroviario-de-bauru-oferece-atividadesgratuitas-para-todas-as-idades/>. Acesso em 04 de abril, 2021.

O Plano Diretor de 2008 também reconhece o “esvaziamento” da área central, e segundo seu Artigo 25 algumas diretrizes são apontadas para o centro urbano:

I - requalificação das áreas públicas; II - melhoria do sistema viário, da iluminação, da arborização e do mobiliário urbano; III - incentivos à moradia e comércio noturno; IV - incentivos à recuperação e valorização de prédios tombados e de interesse histórico–cultural; V - incentivo à ocupação dos imóveis ao longo da orla ferroviária; VI - incentivo à instalação de serviços públicos; VII - utilização de operação urbana consorciada ou consórcio municipal; VIII - utilização da transferência do direito de construir. BAURU (2008) apud GHIRARDELLO (2020, p. 228 – 229)

100


A proposta de reabilitação do patrimônio industrial de grande importância histórico-cultural para Bauru que é a Estação Central da Noroeste levará em consideração as diretrizes elencadas pelo Plano Diretor e pelas legislações federais. Nota-se que o cumprimento da função social da propriedade é fator essencial para o desenvolvimento urbano.

A estação como espaço em degradação, descaso e ociosidade vai contra os objetivos definidos em lei, sendo fundamental reativar esse espaço arquitetônico de grande potencialidade. A implantação do uso multifuncional contribuiria para o estímulo ao uso misto e, consequentemente, para a vitalidade do centro, também mantidas como objetivos documentados por parte da gestão municipal. Além disso, o Plano Diretor considera importante o estímulo às atividades culturais, ligadas ao turismo histórico-cultural, e às atividades comerciais noturnas na área. O “esvaziamento” que ocorre no centro nos horários não comerciais e noturnos, a subutilização e abandono de edificações históricas, como os hotéis próximos a Estação da NOB, a própria estação, e diversos outros edifícios são problemáticas que devem ser solucionadas. Sendo assim, a proposta de reabilitação surgiria como estímulo e contribuição para o tratamento de tais questões.

101


1.5.1.2 PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO INDUSTRIAL A Estação Central da EFNOB, objeto de estudo, é considerada patrimônio arquitetônico industrial. A definição de patrimônio iIndustrial é apresentada segundo a Carta de Nizhny Tagil (2003):

ferroviárias, foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) em 2018, sendo o Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru) responsável pelo tombamento definitivo das construções e elementos mais representativos da história (GHIRARDELLO, 2020). A Estação Central da antiga EFNOB

O patrimônio industrial consiste dos vestígios da cultura

foi tombada pelo Codepac no ano de 2000.

industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetural ou científico. Esses vestígios consistem de prédios ou máquinas, oficinas, moinhos e fábricas,

De acordo com o próprio site

16

do Codepac, a definição do

termo “tombamento” é descrita da seguinte forma:

minas e locais para processamento e refinamento, armazéns (warehouses) e galpões, de locais onde a energia é gerada, transmitida e utilizada, transporte e toda a sua infra-estrutura, assim como de locais usados para atividades sociais relacionadas à indústria, tais como habitação, locais para culto e para a educação. (CARTA DE NIHZNY TAGIL, 2003 apud MENEGUELLO, 2005, p. 133)

O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados.

O complexo ferroviário de Bauru, que consiste nos edifícios de caráter industrial, administrativos, as vilas operárias, estações e espaços livres formados pelas instalações das três companhias

16

102

Disponível em: <https://sites.bauru.sp.gov.br/codepac/termos.aspx>. Acesso em 8 de abril, 2021.


Atualmente, a estação é propriedade da Prefeitura Municipal. A aplicação da legislação específica para o patrimônio arquitetônico, como mencionada no trecho, é fundamental quando se trata da criação de proposta projetual nesses espaços.

(...) Recomenda-se, sobretudo, a supressão de toda publicidade, de toda presença abusiva de postes ou fios telegráficos, de toda indústria ruidosa, mesmo de altas chaminés, na vizinhança ou na proximidade dos monumentos, de arte ou história. (CARTA DE ATENAS, 1931 apud IPHAN p. 2)

As Cartas Patrimoniais são documentos que apresentam desde conceitos a diretrizes com relação às ações administrativas, documentações, preservação de bens, planos de conservação, manutenção e restauro de um patrimônio, seja histórico, artístico ou cultural. O presente trabalho pretende abordar algumas das diretrizes contidas em cartas patrimoniais que são relevantes para dar base à proposta de projeto.

A carta também considera que a garantia de conservação dos monumentos e das obras só é mantida pelo interesse da própria população. O interesse, por sua vez, pode ser estimulado através de ações do Poder Público para que se promova a educação e o hábito de respeito ao patrimônio local, favorecendo a proteção do mesmo.

Segundo a Carta de Atenas, de outubro de 1931, em projetos de restauração é recomendável que se respeite a obra histórica e artística do passado, sem que se prejudique o estilo de nenhuma época. É necessário valorizar os monumentos e suas proximidades, tomando os devidos cuidados especiais, dentre eles:

A Carta de Veneza, de maio de 1964, foi criada com foco em gerar um plano internacional de conservação e restauração de bens culturais em uma ação interdisciplinar. Elencados em uma série de artigos, algumas considerações importantes são definidas.

103


A carta menciona a manutenção como processo fundamental na conservação dos monumentos, devendo ser executada de forma constante. De acordo com os artigos 5° e 6°, a conservação deve ser destinada a uma função útil à sociedade, não devendo gerar alterações na disposição e decoração dos edifícios, sendo proibidas quaisquer modificações que alterem as relações de volumes e de cores das construções. Também é definido, segundo o artigo 8°, que “os elementos de escultura, pintura ou decoração que são parte integrante do monumento não lhes podem ser retirados a não ser que essa medida seja a única capaz de assegurar sua conservação.”. Deve-se, portanto, estar atento a essas medidas quando se trata de projeto.

Um ponto importante elencado pela Carta de Veneza (1964), é a questão do julgamento de valor dos elementos presentes na edificação histórica, o qual não deve depender somente do autor do projeto, como indicado no artigo 11°:

104

Art. 11o

As contribuições válidas de todas as épocas para a edificação do monumento devem ser respeitadas, visto que a unidade de estilo não é a finalidade a alcançar no curso de uma restauração, a exibição de uma etapa subjacente só se justifica em circunstâncias excepcionais e quando o que se elimina é de pouco interesse e o material que é revelado é de grande valor histórico, arqueológico, ou estético, e seu estado de conservação é considerado satisfatório. O julgamento do valor dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode ser eliminado não podem depender somente do autor do projeto. (CARTA DE VENEZA, 1964 apud IPHAN p. 3)


Visto isso, compreende-se que o projeto de reabilitação da Estação Central da EFNOB, na presente pesquisa, deve ser entendido como uma proposta, mesmo que subsidiada por questões legislativas a respeito do tratamento ao patrimônio. A proposta é destinada a ser reavaliada de maneira multidisciplinar, caso seja tomada como proposta a ser executada, pois como indica o artigo destacado: “O julgamento do valor dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode ser eliminado não podem depender somente do autor do projeto. “.

É importante ressaltar que, de acordo com o Artigo 12°, quando se trata da substituição de elementos faltantes no conjunto do patrimônio, os elementos implantados devem atuar em harmonia com o conjunto, e por outro lado, devem se distinguir das partes originais, a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de história. O mesmo vale para o acréscimo de elementos, que devem respeitar todas as partes interessantes do edifício, seu esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição original, e suas relações com o ambiente, como expressos no Artigo 13° da Carta de Veneza (1964).

105


O assunto também é abordado na Carta do Restauro (1972) com relação à restauração: “Uma exigência fundamental da restauração é respeitar e salvaguardar a autenticidade dos elementos construtivos. Este princípio deve sempre guiar e condicionar a escolha das operações” (CARTA DO RESTAURO, 6 de abril de 1972 apud IPHAN, p. 9).

A Carta de Brasília de 1995 aborda a questão da autenticidade do patrimônio e promove apontamentos para a conservação da autenticidade. Assim, declara:

A intervenção contemporânea deve resgatar o caráter do edifício ou do conjunto – destarte rubricando sua autenticidade – sem transformar sua essência e equilíbrio, sem se deixar envolver em arbitrariedades, mas enaltecendo seus valores. A adoção de novos usos para aqueles edifícios de valor cultural é factível sempre que exista reconhecimento apriorístico do edifício e diagnóstico preciso de quais as intervenções que ele aceita e suporta. Em todos os casos, é fundamental a qualidade de intervenção, e que os novos elementos a serem introduzidos sejam de caráter reversível e se harmonizem com o conjunto. Em edifícios e conjuntos de valor cultural, as fachadas, a mera cenografia, os fragmentos, as colagens, as moldagens são desaconselhadas porque levam à perda da autenticidade intrínseca do bem. (CARTA DE BRASÍLIA, 1995 apud IPHAN, p. 4. Grifo nosso.)

106


A partir deste trecho é compreensível a importância de se

O trecho ressalta o mínimo de impacto sobre o bem patrimonial

estudar a maneira com que a intervenção se instaura no patrimônio.

que se deve ter nas propostas de intervenção ao patrimônio, o que

É essencial que se preserve a autenticidade do bem, e que a

é de suma importância para se evitar qualquer descaracterização

intervenção seja de caráter reversível e harmonioso com o conjunto

ou influência negativa sobre o bem histórico. O entorno também é

tombado.

abordado, no Artigo 8°, como elemento a ser preservado:

A Carta de Burra de 1980, em seu artigo 7°, esclarece a respeito do que se tratam as medidas compatíveis com o patrimônio:

Art. 8o

A conservação de um bem exige a manutenção de um entorno visual apropriado, no plano das formas, da escala,

Art. 7o

das cores, da textura, dos materiais, etc. Não deverão

As opções assim efetuadas determinarão as futuras destinações consideradas compatíveis para o bem. As destinações compatíveis são as que implicam a ausência de qualquer modificação, modificações reversíveis em seu conjunto ou, ainda, modificações cujo impacto sobre as partes da substância que apresentam uma significação

ser permitidas qualquer nova construção, nem qualquer demolição ou modificação susceptíveis de causar prejuízo ao entorno. A introdução de elementos estranhos ao meio circundante, que prejudiquem a apreciação ou fruição do bem, deve ser proibida. (CARTA DE BURRA, 1980 apud IPHAN, p. 2)

cultural seja o menor possível. (CARTA DE BURRA, 1980 apud IPHAN, p. 2)

107


1.5.1.3 ESPECIALISTAS Quando se trata de patrimônio e restauração, Beatriz Mugayar Kühl é referência no campo de pesquisa. Em sua obra Restauração hoje: projeto e criatividade (2006), a autora destaca princípios essenciais da restauração, que serão levados em conta na proposta de projeto:

• distinguibilidade: – restauração não propõe tempo como reversível – não pode induzir o observador ao engano – deve documentar a si própria. • reversibilidade ou “re-trabalhabilidade”: – restauração não deve impedir, tem, antes, de facilitar qualquer intervenção futura (Brandi, 2004: 48); – portanto, não pode alterar a obra em sua substância – deve-se inserir com propriedade e de modo respeitoso. • mínima intervenção – pois a restauração não pode desnaturar o documento histórico nem a obra como imagem figurada. • compatibilidade de técnicas e materiais – levar em conta a consistência física do objeto – tratamento com técnicas compatíveis = não nocivas – eficácia comprovada através de muitos anos”. (KÜHL, 2006, p. 3)

108


O ato de preservação do patrimônio não se trata necessariamente de se conservar o patrimônio em sua totalidade, da mesma forma que não se trata de demolir ou transformar tudo. Segundo Kühl (2006), é necessário que se faça escolhas conscientes sobre os elementos a serem preservados e valorizados, com base em estudos aprofundados, preservando suas características essenciais, a fim de assegurar a salvaguarda e a real inserção desses elementos na vida das pessoas.

A restauração, de acordo com a autora, é um ato crítico, sendo inserido no tempo presente. O patrimônio deve ser tratado de maneira a garantir sua transmissão para as próximas gerações, visando o futuro. Fundamentalmente, a restauração é um “ato de respeito pelo passado, interpretado no presente e voltado para o futuro, para que os bens culturais possam continuar a ser efetivos e fidedignos suportes da memória coletiva.” (KÜHL, 2006, p. 5) 17.

Já a respeito dos centros urbanos, Jane Jacobs, em sua obra Morte e vida de grandes cidades (2011), gera diversas reflexões. Algumas dessas reflexões são elucidativas na temática em que esta pesquisa se encontra, valendo ressaltar alguns pontos elencados por Jacobs, os quais ainda não foram abordados em momentos anteriores.

KÜHL, Beatriz M. Algumas questões relativas ao patrimônio industrial e à sua preservação. Patrimônio. Revista Eletrônica do IPHAN, São Paulo, n. 4, 2006. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/algumas_questoes_relativas_ao_patrimonio.pdf>. Acesso em 28 de março, 2021.

17

109


As cidades, no entanto, são o lugar ideal para supermercados e salas de cinema comuns mais confeitarias, padarias finas, mercearias de produtos estrangeiros, cinemas de arte e assim por diante, todos os quais convivem entre si, o comum com o inusitado, o grande com o pequeno. (JACOBS, 2011, cap. 7) De acordo com o trecho, nota-se a importância da mescla e da relação existente entre comércios e serviços em uma área. De certa forma, alguns pequenos estabelecimentos podem ser essenciais para a manutenção das atividades e da permanência da população, bem como os usos principais, os grandes estabelecimentos, atuam no

Nilson Ghirardello, em sua obra Bauru em temas urbanos (2020), faz apontamentos mais específicos com relação ao centro de Bauru e a Estação Central da Noroeste, definindo algumas diretrizes. O autor deixa claro que é necessário tomar medidas multifatoriais e também o envolvimento de recursos do poder público e da iniciativa privada.

A renovação do centro, segundo Ghirardello (2020), deve ser tratado com enfoque na preservação, restauração e na implantação de novos usos no Complexo Ferroviário de Bauru tombado pelo Condephaat, pois traria qualidade e força para a zona central.

sentido de atração. Sendo assim, ambos agem em conjunto para a sustentação do público e a vitalidade do local. Assim, conclui Jacobs

Os remanescentes da NOB, de acordo com o autor, são

(2011, cap. 8): “E, por fim, esse novo uso (ou usos) deve combinar

considerados os maiores e mais significativos patrimônios

com o perfil do distrito, e nunca atuar em sentido contrário.”. Deve-se

ferroviários

estimular a complementação para não ocorrer a autodestruição da

relacionados à cultura histórica, como indicado no trecho:

diversidade no centro urbano.

110

da

cidade,

podendo

ser

implantados

usos


A cidade poderia concentrar suas atenções nesse conjunto

• Aumentar o número de habitações para que novos

e daí formar o que poderia ser o mais relevante museu

moradores residam no centro;

ferroviário do país, devido ao acervo existente tanto de peças rodantes, como de máquinas, mobiliário, documentos, etc. O Museu Ferroviário Regional de Bauru poderia ser ampliado com a possibilidade de expor as grandes peças, mais interessantes para o público leigo, e claro, oferecer a experiência de vivenciar passeios de “Maria Fumaça”, atividade que acontecia até poucos anos atrás. GHIRARDELLO (2020, p. 319)

• Construção de condomínios verticais (moradias) populares para trabalhadores do centro; • Necessidade de atividades culturais para os moradores do centro, como também atrativo para outras pessoas se dirigirem ao centro; • Redução de violência; • Assistência social aos marginalizados que ocupam o

A preservação do patrimônio deve garantir aos cidadãos bauruenses seus referenciais locais, ou seja, gerar consciência da historicidade do local em que se insere, e os bens devem refletir o seu “cotidiano, o trabalho, o lazer, dos cidadãos e dos antepassados.” (GHIRARDELLO, 2020).

centro; • Ausência de atividade para a terceira idade, como também para crianças na Praça Rui Barbosa; • Falta de limpeza, de iluminação e de arborização. (CURUCI, 2006 apud JUNIOR et al, 2009, p. 207.)

Outros autores também evidenciam diretrizes para a Zona Central de Bauru. Curuci (2006) elucida alguns pontos importantes a serem considerados:

111


Alguns hotéis históricos situados próximos a Estação Central se encontram em estado de abandono, em deterioração, descumprindo sua função social indicada pelo Plano Diretor Municipal. A necessidade de se aumentar o número de habitações no centro, como indicado no trecho, pode ser atendido com a implantação desse tipo uso nessas propriedades que se encontram inativas.

Claramente, aliado a projetos de reabilitação e de restauro das edificações, há o potencial nessas áreas próximas ao complexo ferroviário de se incorporar, juntamente com a reabilitação da Estação Central da EFNOB, projetos com finalidade de uso habitacional, tão necessários para a revitalização do centro de Bauru e para a manifestação da diversidade, essencial para a sustentação da proposta na estação.

112


INTRODUÇÃO AO PROJETO 1.5.2 INSTITUIÇÕES E GRUPOS SOCIAIS ATUANTES

Apesar da Estação Central da EFNOB atualmente se encontrar em situação de abandono e deterioração, o espaço ainda é utilizado de forma parcial, e por vezes, temporária por diversos grupos sociais atuantes e instituições. Vale, portanto, ressaltar quais grupos e instituições ocupam a estação, e possivelmente, integrálos à proposta de reabilitação do patrimônio.

O Museu Histórico Municipal de Bauru e a Secretaria Municipal da Cultura são duas instituições que geralmente promovem eventos e ações na estação. Segundo o site Social Bauru

, em uma matéria de Juliana Oba (2018)

18

, há a

19

indicação e breve explicação dos grupos sociais que ocupam a estação da NOB, são eles:

Associação Cultural de Tradição Afro-brasileira (ACTABB) Ocupa uma das salas da estação e tem como objetivo trabalhar a autoestima e identidade da comunidade.

Associação Bauruense de Letras (ABL) Possui sede em uma das salas da estação e tem como objetivo o culto da língua portuguesa e suas literaturas.

­ Disponível em: <https://www.socialbauru.com.br/>. Acesso em 10 de abril, 2021. 19 Disponível em: <https://www.socialbauru.com.br/2018/04/09/alem-da-estacao-tudo-que-rola-ferroviaria-bauru/>. Acesso em 10 de abril, 2021. 18

113


Associação de Teatro de Bauru e Região (ATB)

Associação de Preservação Ferroviária e de Ferromodelismo de Bauru (APFFB)

Possui como objetivo, segundo o presidente da ATB, promover e estabelecer uma ampla rede, fortalecendo os

Tem como objetivo preservar material ferroviário e divulgar o

laços entre os profissionais que atuam na área. Além de

ferromodelismo. O grupo também possui acervo com peças de

proporcionar condições para o intercâmbio técnico, a troca

locomotivas, placas, buzinas entre outros materiais recolhidos.

de experiências, espetáculos e atividades complementares. A associação também possui relações com outros grupos de pesquisa como teatro de rua, teatro infantil, teatro contemporâneo e todo tipo de profissional ligado à classe teatral.

Sociedade Amigos da Cultura (SAC) Possui o objetivo de fomentar a cultura e possibilitar aos artistas locais uma representação jurídica, promovendo a inscrição de projetos em editais de cultura.

Clube de Carros Antigos do Centro Oeste Paulista Tem como objetivo preservar a história da indústria automotiva e dos carros.

O Museu Ferroviário Regional de Bauru atua no edifício vizinho à Estação Central, no local onde eram os escritórios da antiga Noroeste. A instituição promove serviços ligados à preservação da história e da memória da identidade coletiva, por meio de atividades sociais,

Casa de Cultura Hip Hop Tem como objetivo a produção cultural voltada ao

culturais, educacionais, de pesquisa e exposições culturais, além de alguns eventos locais, como o “Encontro Histórico Ferroviário e de Ferromodelismo de Bauru”

20

e exposições como a “Voz Travestida”

desenvolvimento local dos 5 elementos do Hip Hop

(2017) 21.

(Graffiti, DJ, MC, Breaking e Conhecimento). O grupo oferece

A Estação também abriga outras instituições, são elas:

atividades gratuitas e diárias à população

Mais informações disponíveis em: <https://www2.bauru.sp.gov.br/materia.aspx?n=35126>. Acesso em 10 de abril, 2021. Mais informações disponíveis em: <https://www.vivendobauru.com.br/museu-historico-municipal-de-bauru-promove-exposicao-voz-travestida-a-partir-de-segunda-feira/>. Acesso em 10 de abril, 2021.

20 21

114


ARACI (Associação Indígena) Segundo a página da associação 22 , possui como objetivo maior a difusão da cultura dos povos indígenas para sociedade, fomentando informações e discussões sobre a questão indígena, levando em consideração os direitos tradicionais desses povos elencados na Constituição Federal, também com atenção na Lei 11.645, art. 31 da Convenção nº 169 da O.I.T e art. 215 da Constituição Brasileira. A figura ao lado (Figura 33) confere o registro fotográfico da exposição que ocorreu em 2017 na estação:

Orquestra e Banda Sinfônica Municipal De acordo com os sites dos grupos

24

, possuem como

objetivo atuar além do ensino musical, despertando e estimulando a integração do grupo, a autoafirmação, cooperação, disciplina e respeito.

Figura 48: Exposição na gare da NOB, 2017. Fonte: Fotografia de Henrique P. de Aquino publicado em página da Araci Cultura Indígena, em rede social 23.

Disponível em: <https://araciculturaindigena.blogspot.com/>. Acesso em 10 de abril, 2021. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo?fbid=1666836293346373&set=pcb.1666840933345909>. Acesso em 07 de abril, 2021. 24 Disponíveis em: <https://www2.bauru.sp.gov.br/cultura/orquestra_municipal.aspx> e <https://www2.bauru.sp.gov.br/cultura/banda_municipal. aspx>. Acesso em 10 de abril, 2021. 22 23

115


A Secretaria Municipal da Cultura, instrumento de desenvolvimento da política cultural em Bauru, também promove alguns eventos e ações na estação, também em suas proximidades, como o “Sarau da Estação” 25 , o “Dia Nacional do Samba” 26 e cursos de teoria musical na

Figura 49: Ensaio da orquestra na gare da estação, 2017. Fonte: Fotografia da Orquestra Sinfônica Municipal de Bauru, em rede social 28.

“Banda e Orquestra Sinfônicas Municipais” 27.

­ Mais informações disponíveis em: <https://www.vivendobauru.com.br/sarau-do-viaduto-acontece-na-estacao-ferroviaria-neste-sabado/>. Acesso em 10 de abril, 2021. 25

Mais informações disponíveis em: <https://www.vivendobauru.com.br/cultura-leva-samba-para-a-praca-machado-de-melo/>. Acesso em 10 de abril, 2021.

26

Mais informações disponíveis em: <https://www.vivendobauru.com.br/cultura-abre-inscricoes-para-o-curso-da-banda-e-orquestra-municipal/>. Acesso em 10 de abril, 2021. 27

28

116

Disponível em: <https://www.facebook.com/orquestrabauru/photos/1547452135300877>. Acesso em 22 de agosto, 2021.


117


118


2.

O PROJETO

119


2.1 DIRETRIZES PROJETUAIS

Bauru - SP

A proposta projetual se inicia a partir de uma visão mais ampla, da reconexão da estação da EFNOB com o centro comercial de Bauru. Leva-se em consideração as diretrizes externas abordadas na presente pesquisa como norteadora das decisões de projeto. Os itens destacados no mapa referem-se às áreas de enfoque, estabelecendo diretrizes para cada contexto local. Centro - Bauru

1

Priorizar o uso misto (comercial e habitacional) nas quadras próximas à estação como incentivo à ocupação do centro urbano, visando estimular a vitalidade e diversidade local.

2

Repensar o espaço urbano e a relação entre pedestres e automóveis, tendo como base a prioridade do fluxo de pessoas vindas da Rua Batista de Carvalho rumo à estação.

3

Propor o projeto de reabilitação da Estação da EFNOB, incorporando o uso multifuncional na edificação (comercial, serviço e institucional) e acessibilidade aos usuários. Dar sequência à proposta de corredor cultural prevista no plano diretor, utilizando-se da gare como espaço de turismo cultural, incluindo o Museu Ferroviário Regional de Bauru.

120

Projeto


osto

e Ag eiro d

m

R. Pri

osto

de Ag o r i e m ri

R. P

3

1 rvalho

e Ca tista d

2

Car sta de

i

R. Bat

valho

Av.

Av

igues . Rodr

Alves

R. Ba

gues Rodri

Alves N

121


R. Primeiro de Agosto

R. Gérson França

Praça Machado de Mello

R. Batista de Carvalho

R. Gérson França

122

Av. Rodrigues Alves

Av. Rodrigues Alves


2.2 PROJETO URBANO O projeto urbano se concentra nas proximidades da estação,

se faz bastante presente como gerador de microclima,

possibilitando maior facilidade de acesso do pedestre vindo do

extremamente essencial no meio urbano, nos dias atuais. Em

calçadão (Rua Batista de Carvalho). Adota-se como partido o modelo

relação à iluminação pública, propõe-se a fiação subterrânea

de espaço compartilhado, no qual retira-se a prioridade do automóvel,

como forma de proporcionar maiores possibilidades de uso do

com a redução da velocidade e o aumento da atenção voltada aos

espaço público seja no período diurno ou noturno.

pedestres, tornando-se um local mais seguro e harmonioso. A praça Machado de Mello é mantida como espaço de Propõe-se o uso do piso intertravado ao projeto, com variação das cores de acordo com cada uso específico do espaço. A arborização

contemplação e atua na transição espacial entre o centro e a estação central.

123


ACESSOS E SENTIDO DO AUTOMÓVEL

R. Primeiro de Agosto

Av. Pedro de Toledo

R. Alfredo Ruiz 124

R. Monsenhor Claro


O acesso do automóvel se dá através das seguintes vias:

A saída dos veículos se dão através das seguintes vias:

No cruzamento da Rua Primeiro de Agosto com a Rua

No cruzamento da Avenida Pedro de Toledo com a

Gérson França.

Avenida Rodrigues Alves.

No cruzamento da Rua Monsenhor Claro com a Avenida

No cruzamento da Rua Alfredo Ruiz com a Avenida

Rodrigues Alves.

Rodrigues Alves.

No projeto urbano, há o estreitamento da via destinada ao automóvel, a fim de promover a redução da velocidade e aumento da atenção por parte do motorista, favorecendo a segurança do pedestre no entorno.

LEGENDA

Sentido do automóvel Acesso à área de carga e descarga da NOB Piso destinado ao automóvel Asfalto 125


ACESSOS E USO DO PEDESTRE

Praça Machado de Mello

R. Batista de Carvalho

126


As atividades comerciais presentes no calçadão (R. Batista de Carvalho) geram um grande fluxo de pessoas nas proximidades da estação. A proposta de qualificar o espaço do entorno da edificação promove maior atração desse público. A acessibilidade é estimulada através da proposta de espaço compartilhado e da presença de ambientes que contemplem à população. A praça como elemento de acolhimento e área de lazer, o piso como conexão entre a estação e o centro urbano comercial, e a vegetação como qualidade e conforto voltada à escala do pedestre.

LEGENDA

Acesso do pedestre ao edifício Piso destinado ao pedestre

127


ACESSO

128


PRAÇA MACHADO DE MELLO

129


USO NOTURNO

130


A implementação do incentivo ao uso misto no entorno do projeto aliado à iluminação de qualidade para o uso noturno, atuariam de forma favorável às atividades que ocorrem fora do período comercial. Habitar o centro, gerar atrativos e estimular a presença da população nos espaços públicos são elementos essenciais para a vitalidade e diversidade urbana, desencadeando em uma série de benefícios como aumento da segurança, geração de renda e emprego na área.

131


2.3 PROJETO ARQUITETÔNICO A proposta projetual para a Estação Central da EFNOB inclui a

De certa forma é importante que um espaço de

presença da gare como elemento essencial na incorporação ao projeto.

propriedade municipal, como é o caso da Estação Central, possa gerar retorno econômico e renda necessária para a

A estação, como elemento principal de intervenção, apresenta grandes possibilidades de uso, devido suas grandes dimensões. Os usos propostos vão de acordo com as necessidades locais, estando eles concentrados em três grandes enfoques:

O uso de serviço Atendendo a proposta de gerar diversidade local, por meio da incorporação de pequenas e grandes empresas em parceria públicoprivada com a prefeitura municipal. O uso institucional e cultural Mencionado no plano diretor e em harmonia com o Museu Regional de Bauru, edificação vizinha à estação. Também engloba as instituições e grupos sociais atuantes na cidade. O uso comercial e público Promovendo permeabilidade na relação entre a rua e a edificação, com atividades que geram retorno financeiro à antiga estação.

132

manutenção das atividades, que seja benéfico também à população e aos usuários do espaço.


133


2.3.1 PLANTAS ORIGINAIS

As plantas técnicas da edificação foram repassadas digitalmente a partir da documentação encontrada na obra de Ludmilla Pauleto 29.

Figura 50: Planta do térreo, 1° Andar e 2° Andar, respectivamente. Fonte: Centro de Memória Regional UNESP/ RFFS.A. Bauru apud Pauleto, 2006.

PAULETO, Ludmilla Sandim Tidei de Lima. Diretrizes para intervenções em edificações ferroviárias de interesse histórico no estado de São Paulo: As estações da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006. 29

134


N

PLANTA DO TÉRREO 25

2 1

3

7 6

4

8

10

9

11

12

5

LEGENDA

Paredes Colunas estruturais

29

22 23

14 15

18

17

13

19

26

24

21

27

31 32

33

35 37

30

28

32

34

36

20

16

1

Bagagem Importação

14

Tel.

27

Copa

2

“Jormães”

15

“Telegrapho N.O.B.”

28

Cozinha

3

Correio

16

Fretes N.O.B.

29

Botequim

4

Mictórios e W.C.

17

Bilheteria E.F.S.

30

Vestiário

5

Toillete

18

Bilheteria C.P.

31

Hall

6

“Escala e Sala Comdosição”

19

Hall Central

32

Pagadoria

7

“Archivo e Depósito”

20

Passes e Cadernetas N.O.B.

33

“Publico”

8

“Ante-Sala”

21

Bilheteria 1ª N.O.B.

34

“Telegrapho C.P.”

9

Chefe E.F.S.

22

Bilheteria 2ª N.O.B.

35

“Ante-Sala”

10

“Publico”

23

Sala de Espera

36

Chefe C.P.

11

“Telegrapho E.F.S.”

24

Restaurante

37

Bagagem Exportação

12

“Agemte N.O.B.”

25

Mictório e W.C.

13

Malas N.O.B.

26

Lavabo e W.C.

135


N

PLANTA DO 1° ANDAR

2

3

1

4

5

8

13

9 6

10

11

14

15

19

21

20

12

7

16

17

22

23

24

30

25

18

28

27

29

26

LEGENDA

Paredes Colunas estruturais

136

1

Ajudante da 1ª Divisão

11

Administração da 2ª Divisão

21

Toillete

2

Mictórios e W.C.

12

Contabilidade

22

Portaria

3

Toillete

13

“Archivo”

23

Espera

4

Saleta

14

“Protocelo”

24

Secretaria

5

Portaria

15

Saleta

25

Tel.

6

“Archivo”

16

Saleta

26

Lavabo e W.C.

7

Chefe da 2ª Divisão

17

“Thesouraria”

27

Gabinete Reserva

8

“Chapeos”

18

“Ante-Sala”

28

“Directoria”

9

Hall

19

Mictórios e W.C.

29

“Secretario”

10

Ajudante da 2ª Divisão e Movimento

20

Hall

30

Secretaria


N

PLANTA DO 2° ANDAR

2

3

1

6 5

11

7

8

9

10

Paredes Colunas estruturais

14

15

16 19

12

4

LEGENDA

13

17

18

1

S.V.B. - Contadoria Tomada de Contas

8

Contabilidade

15

Portaria

2

Mictórios e W.C.

9

Contabilidade

16

“Archivo”

3

Toillete

10

Administração da 3ª Divisão

17

“Residencia”

4

Saleta

11

Mictórios e W.C.

18

Chefe da 3ª Divisão

5

“Guarda-Livros”

12

Hall

19

Ajudante da 3ª Divisão

6

“Chapeos”

13

Toillete

7

Hall

14

“Chapeos”

137


2.3.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES O programa de necessidades da proposta projetual se estrutura a partir dos três principais usos mencionados anteriormente: Uso comercial, de serviço e institucional/cultural.

TÉRREO Com a finalidade de conectar os usos do edifício com seu entorno, o pavimento térreo se apresenta como grande potencializador das interrelações cotidianas, com a implantação do uso comercial e público. Para o incentivo ao uso noturno, torna-se necessário criar espaços de atração à população. Dessa forma, segue abaixo o programa de necessidades para o térreo da estação: Palco para apresentações e shows Áreas de estar e permanência Salas comerciais para locação Área de exposição de arte Banheiros Praça de Alimentação Usos complementares Área de serviço

138

2° ANDAR 1° ANDAR TÉRREO


1° ANDAR

2° ANDAR

Implantação do uso institucional, com espaços destinados aos

Destinado ao uso de serviço, com a proposta de coworking,

grupos sociais e instituições que possam também estarem ligadas

espaços ligados às atividades profissionais da população. O

diretamente com o público, estimulando práticas culturais e sociais no

programa de necessidades do 2° andar se dá da seguinte forma:

edifício. Para o 1° andar da estação se estabelece o seguinte programa de necessidades:

Salão de Atividades Espaço de Coworking

Salão para atividades sociais e culturais

Administração da Estação da EFNOB

Salas institucionais para locação

Auditório

Salas comerciais para locação

Praça de Alimentação

Espaço de teatro

Salas de serviço para locação

Salão para apresentações musicais

Banheiros e vestiários

Biblioteca pública e sala de estudos

Usos complementares

Áreas de estar e permanência

Área de serviço

Banheiros Usos complementares Área de serviço 139


2.3.3 PROPOSTA PROJETUAL

ESTRUTURA ORIGINAL EXPOSTA

Tendo em vista as diretrizes, o programa de necessidades e as intenções de projeto, a proposta de reabilitação da Estação Central conta com diversos focos distintos para cada uso específico. A presença dos elementos de vegetação no interior do edifício são essenciais para a criação de espaços de transição e áreas de estar, a implantação de rampas atuam na acessibilidade em todos os pavimentos

A estação conta com um sistema estrutural de pilar e viga. Dessa forma, nota-se a importância de se destacar a materiallidade da estrutura para que se preserve as características originais do patrimônio. Propõe-se a remoção da pintura que recobre as colunas e vigas, expondo a textura do concreto armado.

O projeto manifesta-se como um complemento e reforço à edificação, sendo assim, alguns elementos originais foram mantidos, como os degraus das escadarias da estação, as esquadrias da fachada, o piso do hall central, os letreiros e placas que permanecem na estação até os dias atuais, e os portões de acesso principais, devidamente restaurados. Os elementos novos adicionados ao projeto possuem características e materialidade atuais, a fim de se ter nítida a relação entre passado e presente.

140

DEGRAUS ORIGINAIS


ESQUADRIAS DA FACHADA Outro ponto importante a se destacar é a necessidade de uma avaliação técnica, a fim de se obter um laudo técnico a respeito da resistência estrutural da estação. Por se tratar de uma edificação antiga e com o grande programa de necessidades proposto, o ponto de partida para a execução do projeto seria esse estudo mais aprofundado, resultando, ou não, na necessidade de se reforçar a estrutura pré-existente.

LETREIRO DE ENTRADA ORIGINAL

PISO DO HALL CENTRAL

141


PORTÕES DE ACESSO RESTAURADOS E NOVA ESTRUTURA ANEXADA

PROPOSTA DE ESTRUTURA NOVA PORTÕES RESTAURADOS

142


2.3.3.1 TÉRREO

Entende-se o pavimento térreo como o espaço de maior contato direto com a população, há essa busca pela permeabilidade e pelo estímulo ao caráter atrativo de pessoas. Nessa área são propostos ambientes de diferentes funções.

Os espaços destinados ao comércio em contato direto com o público atuam como conexão entre as atividades que ocorrem no centro urbano e o interior da edificação.

O pátio central da edificação, em seu térreo, é o principal ambiente de recepção. Dessa forma, usos ligados às atividades de lazer, entretenimento e bem estar são propostos, estimulando o uso tanto no período diurno quanto noturno. A permeabilidade do pavimento térreo permite o fluxo de pessoas, transitando entre a gare e a rua em frente à estação.

Outro espaço proposto é o de exposição artística, como forma de gerar conexão de uso com o Museu Ferroviário Regional de Bauru, edificação vizinha à estação. Assim como a gare da estação, cujo uso passa a ser destinado às atividades culturais, com a exposição das locomotivas restauradas, proposta de lanchonete dentro do vagão, espaços de contemplação através do mobiliário e possíveis eventos de passeio de trem.

143


20

4

6

1

2

7

11

8

5

3

10

9

PLANTA BAIXA - TÉRREO

144

1

Área de carga e descarga

5

Área comercial/ salas para locação

2

Escadaria de acesso

6

Área de estar

3

Hall

7

Sala de energia

4

Reservatório de água

8

Banheiros

12

6 13


N

20

4 6

11

8

7

17

15

5

18

14

2

1

19

16

9

3

9

Bloco de acesso

13

Hall central

17

Área de serviço

10

Praça de Alimentação

14

Palco

18

Sala de reunião

11

Recepção

15

Reserva técnica

19

Administração

12

Elevador central

16

Área de exposição

20

Gare

Paredes Colunas estruturais Vegetação 145


1

2

PLANTA DE LAYOUT - TÉRREO 146

PERSPECTIVAS:

1

Área comercial

2

Hall central


N

3

4

3

Acesso à gare

4

Área de exposição 147


1

LOCALIZAÇÃO NA PLANTA

O espaço comercial proposto estimula a geração de renda e as trocas comerciais no interior da edificação. Se localiza próximo ao portão de acesso de uma das extremidades da estação, facilitando a entrada e saída das pessoas. O ambiente favorece a atração da população à edificação, possibilitando a mescla de diferentes distintos.

148

pessoas

com

propósitos

ÁREA COMERCIAL


LOCALIZAÇÃO NA PLANTA

2 ENTRADA PRINCIPAL DO TÉRREO

A estrutura nova metálica anexada aos portões de acesso do hall central possuem telas de led embutidas, podendo atuar como letreiros informativos, mapas interativos, recursos audiovisuais, entre outras funções. A estrutura também marca a relação entre o tempo presente e o passado histórico, como um elemento referencial e simbólico.

149


3 RECEPÇÃO E ACESSO À GARE

LOCALIZAÇÃO NA PLANTA

O acesso que se dá entre o hall central e o pátio da gare é marcado pela presença de grandes aberturas, já pré-existentes, com o restauro dos portões de acesso e a presença dos letreiros originais da NOB, testemunhando

o

passado

histórico

bastante visível ao público. O balcão de recepção atua como fonte de informação à população, na documentação e contolre da programação de eventos no térreo.

150


LOCALIZAÇÃO NA PLANTA

4 ÁREA DE EXPOSIÇÃO

A área de exposição permite que a população tenha acesso à cultura e arte. O espaço dialoga com o uso do Museu Regional Ferroviário de Bauru, vizinho à estação, criando a possibilidade de artistas locais exporem suas artes ao público, gerando visibilidade e valor às expressões culturais na cidade de Bauru.

151


2.3.3.2 1° ANDAR

O 1° andar é destinado ao uso institucional, sendo assim, todos os ambientes dão suporte às manifestações de atividades ligadas às instituições e grupos sociais.

A proposta de salas para locação destinadas ao uso institucional permitem a inclusão de diversos grupos, não só dos grupos sociais listados anteriormente na pesquisa, mas também aos possíveis futuros grupos e instituições que buscam um espaço fixo para promover suas atividades.

Alguns ambientes permitem o acesso ao público, como o salão de atividades na área central da estação, as salas de teatro e música, a biblioteca e salas de estudo. Vale ressaltar que a partir do 1° andar, a vista para a cidade se torna um elemento bastante apreciável. As múltiplas aberturas na fachada permitem esse recurso, sendo agregadas pelo projeto de intervenção.

Novos acessos foram criados, anexados externamente à edificação, com o intuito de promover maior mobilidade por parte dos usuários do espaço. Além dos acessos verticais localizados no interior da edificação, os anexos atuam como forma de dinamizar a dispersão e o fluxo das pessoas.

152


ESCADARIA LATERAL ANEXADA À ESTAÇÃO

153


16

5

4 3

1

154

10

8

3

2

PLANTA BAIXA - 1° ANDAR

3

9 3

6

12

7

1

Escadaria de acesso

5

Banheiros

2

Sala de teatro

6

Bloco de acesso

3

Área institucional/ salas para locação

7

Sala de estudos

4

Sala de energia

8

Biblioteca


N

16

11

3

5

13

4 3

3

14

1 6

3 15

9

Área de estar

13

Área de serviço

10

Elevador central

14

Sala dos instrumentos

11

Copa

15

Salão de música

12

Salão de Atividades

16

Reservatório de água

Paredes Colunas estruturais Vegetação 155


1

2

PLANTA DE LAYOUT - 1° ANDAR 156

PERSPECTIVAS:

1

Sala de teatro

2

Biblioteca


N

3

3

Salão de atividades 157


LOCALIZAÇÃO NA PLANTA

Destaca-se a sala de teatro como um espaço projetado de uso específico, onde ocorrem atividades ligadas às artes cênicas. A sala pode ser utilizada para gravações, apresentações e aulas de teatro da Associação de Teatro de Bauru e Região (ATB), e demais instituições.

158

1

SALA DE TEATRO


LOCALIZAÇÃO NA PLANTA

2 BIBLIOTECA

Projetada com o intuito de ser aberta ao público, a biblioteca é o espaço onde as atenções se voltam a leitura e aos estudos, com a presença da sala de estudos. A administração desse espaço pode ser feita pela equipe administrativa ligada à prefeitura bauruense, com a possibilidade de se cadastrar leitores que possuem o desejo de alugar e doar livros, revistas, por exemplo.

159


LOCALIZAÇÃO NA PLANTA

O salão de atividades é o espaço de possibilidade. Projetado como um ambiente mais livre, o salão pode ser utilizado por grupos e instituições que necessitam de um espaço mais amplo para suas atividades, como o breakdance da Casa de Cultura Hip Hop, expressões culturais do grupo ARACI (Associação Indígena), exposição de livros e obras de escritores independentes, entre outras.

160

3 SALÃO DE ATIVIDADES


2.3.3.3 2° ANDAR

No 2° andar da estação, a proposta se concentra no uso de serviço. Espaços que possuem o intuito de atender à população, sejam pequenas ou grandes empresas e empreendimentos.

As salas para locação de uso de serviço do 2° andar podem se tornar clínicas, escritórios, ateliês, ou seja, usos que já pertencem ao cotidiano da vida bauruense, dividindo um mesmo local, que é a estação central.

Algumas metodologias de trabalho mais recentes, como os espaços de coworking, os workshops para cursos abertos ao público, a interação entre pequenas e grandes empresas, são inerentes à realidade do mercado de trabalho em que a sociedade está vivendo, nos dias atuais. Trazer esses novos espaços de trabalho são essenciais nessa conexão entre o passado histórico e a dinâmica atual.

161


27

3

4

2

5

6

9

8

10

7

162

14

2

1

PLANTA BAIXA - 2° ANDAR

11

10

10

1

Escadaria de acesso

7

Bloco de acesso

2

Área para serviço/ salas para locação

8

Despensa

3

Copa

9

Cozinha

4

Área de serviço

10

5

Sala de energia

11

Área de alimentação Recepção

6

Banheiros

12

Armazém

6

12 13


N

27

15

16

16

16

4

18

18

5

6

21

18

11

25 20

4

19

17

18

7

22

26

15 12

23

1

24

13

Salão de atividades

19

Área de estar

25

Escritório

14

Elevador

20

Espaço de coworking

26

Sala de câmeras

15

21

Armazenamento

27

Reservatório de água

16

Copa Administração

22

Auditório

17

Vestiários

23

Tesouraria

18

Salas de reuniões

24

Diretoria

Paredes Colunas estruturais Vegetação 163


1

PLANTA DE LAYOUT - 2° ANDAR 164

PERSPECTIVAS:

1

Sala de serviço


N

165


1

LOCALIZAÇÃO NA PLANTA

Para as salas de serviço disponíveis para

locação

tem-se

este

exemplo

de como poderia ser implantado um escritório de arquitetura em uma das salas.

166

SALA DE SERVIÇO


2.3.3.4 DETALHES E COMPLEMENTOS DO PROJETO

Em relação à distribuição de energia no projeto, cada pavimento da estação possui duas salas de energia, sendo localizadas em proximidade às extremidades do edifício, opostas uma em relação a outra. Dessa forma a distribuição de energia do pavimento se inicia a partir da sala de energia e percorre até a metade de seu respectivo pavimento da estação. A outra metade é de responsabilidade da segunda sala de energia neste mesmo pavimento.

Já a distribuição da água é feita a partir de dois grandes reservatórios de água anexados na parte traseira da edificação, responsáveis por abastecer os três pavimentos da antiga estação central da EFNOB.

N

PLANTA BAIXA - TÉRREO

Reservatório de água Sala de energia

167


A respeito do conforto térmico no interior da estação central, é

estação. Para a ventilação artifical, através de exaustores e ares-

proposto a ventilação cruzada por meio das aberturas previstas na

condicionados, as tubulações percorrem um caminho, próximas

fachada traseira da edificação. Algumas aberturas são mantidas

às vigas principais, e acessam as colunas de ventilação, que

próximas ao forro, em uma altura considerável, para que o ar quente

por sua vez, levam essas tubulações em direção ao telhado da

possa sair, enquanto o ar renovado entra pela fachada frontal da

edificação, local onde ocorre a dispersão do ar captado.

ORIENTAÇÃO SOLAR E SENTIDO PREDOMINANTE DOS VENTOS EM BAURU

W

E

168

SE


PLANTA - VENTILAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL

PLANTA BAIXA - TÉRREO

N

Entrada do ar Saída do ar Coluna de ventilação

CORTE - VENTILAÇÃO CRUZADA 169


Nota-se que as dimensões espaciais da estação central são

A imponente fachada da antiga Estação Central da EFNOB pode

bem acentuadas e as distâncias entre os espaços são bem

ser entendida como um elemento de potencial cultural e turístico.

extensas. Em relação ao fluxo de trânsito das pessoas no edifício,

Há, portanto, a possibilidade de se criar intervenções que não

em caso de incêndio, ou qualquer outra eventual situação, a

agridam o patrimônio, como o uso de projeções mapeadas para

dispersão do público não se daria de forma favorável apenas

alterar a percepção que se tem do edifício, o uso de decorações

pelos dois blocos de acesso internos à estação. Dessa forma é

em datas festivas, entre outras formas de manifestação artística.

proposto duas escadarias externas ao edifício, com o propósito justamente de possibilitar novas rotas de fuga, ao mesmo tempo em que facilitaria o acesso aos pavimentos superiores, tornando essa transição mais ágil.

N

FLUXO E ACESSOS DOS USUÁRIOS NA ESTAÇÃO

PLANTA BAIXA - 2° ANDAR

Acesso interior à edificação Acesso exterior à edificação Elevador central Fluxo dos usuários

170


171


3.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade de Bauru encontra-se em uma situação privilegiada, no ponto de vista da riqueza patrimonial que ainda está presente em seu território urbano, nos dias atuais. O passado histórico de uma cidade formada e desenvolvida a partir de estratégias ligadas às atividades ferroviárias deixou, em seus espaços e elementos industriais, marcas temporais desse processo tão importante para a identidade cultural de Bauru.

A importância histórica que Bauru possui, com relação ao período de atividade ferroviária no país, é grandiosa. A cidade foi palco do maior entroncamento ferroviário no país, sediando linhas férreas que tinham a finalidade de gerar ligação com o oeste do país, sendo a Estação Central da EFNOB o principal elemento que simboliza esse processo.

Além da vasta riqueza arquitetônica, seja na monumentalidade do edifício ou nas suas características de art decó, a Estação Central possui grande potencial de influência no centro de Bauru. A inatividade e ociosidade em que a edificação se encontra, nos dias atuais, permitem sua degradação, e a longo prazo, resulta na impossibilidade de se ocupar esse espaço. É fundamental que o poder público promova inicialmente a restauração da Estação Central da EFNOB, também a nível estrutural, para que traga longevidade à edificação.

172


A proposta de projeto de intervenção na estação é essencial para a reinclusão da edificação na dinâmica do centro de Bauru e para impedir que a ociosidade e a degradação se manifestem novamente. O uso multifuncional potencializa as múltiplas interrelações que possam ocorrer no espaço, gerando diversidade, benefícios sócio-culturais e econômicos para a cidade.

As mudanças que a implantação de um projeto de reabilitação do patrimônio na Estação Central podem gerar vão além das questões práticas e imediatas. A longo prazo podem ocorrer grandes mudanças na mentalidade e na visão que se tem com os espaços antigos abandonados.

A ideia que se tem de atualidade e futuro não consiste somente na busca por novas tecnologias, invenções e novas construções, mas também consiste nessa tendência a uma visão mais inclusiva e sustentável. Reutilizar espaços patrimoniais, ricos em história e identidade cultural é também uma ação de futuro.

Assim como em Bauru, diversos outros locais no país possuem espaços e elementos patrimoniais aguardando para serem evidenciados e incluídos na dinâmica atual das cidades. A preservação e inclusão do patrimônio histórico e arquitetônico no Brasil é uma das chaves principais para a construção de uma sociedade com valores mais conscientes, conectada com suas raízes históricas e com o meio em que vivem.

173


4.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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181


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