Segunda parte do livro "Os Contos de Grimm"

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Os Contos de Grimm Um conto clรกssico escrito por Irmรฃos Grimm Editado por

Laura Zanirato Gabriela Pereira EDITORA NOVA FRONTEIRA


SumĂĄrio

Cinderela 3 Branca de neve 13 Bela e a fera 16 Bela adormecida 23 Peter Pan 26

Rapunzel

29 O gato de botas 34 JoĂŁo e Maria 37 A pequena sereia 40

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Contos de Grimm Nem todos os contos sĂŁo de fadas!

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Cinderela

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Contos do Grimm

Era

uma vez a mulher de um homem muito rico adoeceu e, quando sentiu que a morte ia se aproximando, pediu á sua única filha que se aproximasse de seu leito e lhe disse: _Minha querida filha, seja sempre humilde e dedicada para que Deus esteja sempre do seu lado, e, lá do céu, eu ficarei cuidando de você, dita essas palavras, fechou os olhos e morreu. A menina ia todos os dias visitar a sepultura da mãe e chorava, sem jamais esquecer os conselhos maternos, continuava humilde e dedicada. Quando chegou o inverno, a neve formou um verdadeiro lençol sobre seu túmulo e, na primavera, com a chegada do sol, o lençol se desfez. Foi aí, então, que o pai tornou a casar-se, a nova esposa trouxe consigo para casa, duas filhas que apesar da bela aparência, eram invejosas e abrigavam a maldade em seus corações, a partir de então, começou um período de muito sofrimento para a pobre menina. -Essa boba vai morar conosco! Perguntaram elas. - quem quer comer pão deve fazer para merecê-lo. Ela que vá para a cozinha! Tiraram-lhes as belas roupas, fizeram-na vestir uma velha túnica cor de cinza e, para calçar, lhe deram tamancos da madeira. - Olhem só para a princesa vaidosa como ela está arrumada! Gritaram elas, rindo e empurrando a menina para a cozinha, ali tinha ela que trabalhar da manha à noite, levantar de madrugada, buscar água, acender o fogo, cozinhar e lavar, além disso, suas irmãs tudo faziam para magoá-la; zombavam dela e jogavam grãos de lentilha e de ervilha na cinza para que a menina tivesse que recolhê-los. À noite, quando estava cansada, não tinha uma cama na qual pudesse se deitar, tendo que dormir ao lado do fogão, no meio das cinzas. E como sempre estivesse empoeirada e suja, passaram

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a chama-la de Cinderela. Certa vez, como o pai tivesse decidido ir a uma feira, perguntou a suas filhas o que desejavam que ele lhes trouxesse. - Belas roupas! disse a primeira. - Pedras e pérolas preciosas! pediu a segunda. - E você, Cinderela, o que quer de presente - Pai, na sua volta, traga-me o primeiro galho de árvore que bater em seu chapéu, ele comprou roupas, pérolas e pedras preciosas para as duas filhas de sua mulher, e na volta, quando cavalgava pela floresta, o galho de um arbusto fez cair o seu chapéu. O pai de quebrou-o e o levou para a filha. Chegou em casa deu às irmãs o que elas tinham pedido e, para Cinderela, entregou o galho do arbusto, que era um tipo de amendoeira. Cinderela agradeceu e foi ao túmulo da mãe, onde o plantou. A pobre menina chorou tanto que as lágrimas que rolavam de seu rosto serviram para regar a planta. O pequeno galho cresceu e transformou-se numa bela árvore. Três vezes ao dia Cinderela ia até lá, onde chorava e rezava, e todas as vezes vinha um pássaro branco que pousava na árvore e, cada vez que a menina manifestava um desejo, este era prontamente atendido pelo pássaro. Aconteceu que o rei organizou uma festa que deveria durar três dias e para qual seriam convidadas todas as moças do reino, a fim de que seu filho escolhesse uma noiva entre elas. Quando souberam que também compareceriam ao baile, as duas irmãs ficaram exultantes de alegria, chamaram Cinderela e ordenaram: - Penteie nossos cabelos, escove nossos sapatos e aperte nossos cintos, pois vamos a um baile no palácio do rei! A pobre cinderela obedeceu, mas começou a chorar, pois também gostaria de ir ao baile e, para isso, pediu permissão à madrasta, você, Cinderela - falou ela - está toda empoeirada e suja e quer ir à festa Você não tem vestido nem sapatos e quer dançar

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E, encerrando a conversa, disse: - Eu despejei uma bacia de lentilhas nas cinzas do borralho; se, em duas horas, você juntar todos os grãos, poderá ir conosco. A menina foi até o jardim pela porta dos fundos e chamou: - Queridas pombinhas, todas as pombinhas, todas as avezinhas do céu, venham me ajudar a catar as lentilhas! As boas na panelinha! as ruins na goelinha! Duas pombinhas brancas entraram voando pela janela da cozinha e logo depois mais outras e, finalmente, um bando de todas as avezinhas do céu pousaram sobre as cinzas. E as pombinhas acenaram com a cabecinha e começaram a pic, pic, picm e os outros pássaros também começaram a pic, pic, pic, e juntaram todas as lentilhas, colocando as boas dentro da bacia. Mal se passara uma hora, o trabalho já estava pronto e eles foram embora. Então a menina, contente, levou a bacia para a madrasta, pensando que assim poderia ir a festa. Mas ela falou: - Não, Cinderela, você não tem roupas e não sabe dançar; todos zombariam de você. A menina pôs se a chorar, e a madrasta então lhe disse: - Se você conseguir, em uma hora, catar das cinzas duas bacias de lentilha, então poderá ir conosco. E pensou: "Isto ela jamais conseguirá". Depois de ter despejado as duas bacias de lentilhas na cinza, a menina novamente foi ao jardim pela porta dos fundos e chamou: - Pombinhas mandas, queridas pombinhas, todas as pombinhas, todas as avezinhas do céu, venham me ajudar a catar as lentilhas! As boas na panelinha! as ruins na goelinha! E pela janela da cozinha chegaram duas pombinhas brancas e depois mais outras e, finalmente, um bando de todas as avezinhas do céu pousaram na cinza. E as pombinhas acenaram a cabecinha e começaram a pic, pic, pic, e colocaram

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todas as lentilhas dentro da bacia. Antes de se ter completado meia hora, todas já estavam prontas e voaram pela janela. Então a menina, contente, levou a bacia para a madrasta, acreditando que agora poderia ir à festa. Mas esta tornou a falar: - De nada adiante; você não pode ir conosco, pois não tem vestido e não sabe dançar. passaríamos vergonha por sua causa. Dito isso, virou-lhe as costas e foi embora com as duas filhas orgulhosas. Quando já não havia mais ninguém em casa, Cinderela foi até o túmulo da mãe e, debaixo da amendoeira, falou: - Te sacode, arvorezinha, e balança, ouro e prata sobre mil lança! Então o pássaro jogou um vestido bordado com ouro e prata e um par de sapatinhos feitos de seda e prata. Apressadamente a menina vestiu-se e foi à festa. Suas irmãs e madrasta não a reconheceram e pensaram que fosse alguma princesa de algum reino distante, tão linda estava em seu vestido dourado. jamais lhe passou pela cabeça que pudesse ser Cinderela, pois estavam certas de que ela ficara em casa, toda suja, catando lentilhas na cinza. O príncipe, assim que a viu, foi ao seu encontro e, tomando-a pela mão, convidou-a para dançar. se algum outro jovem vinha tirá-la para dançar ele dizia: - Esta é a minha dançarina. Cinderela dançou até anoitecer, quando, então, quis voltar para casa. Mas o príncipe falou: - Eu vou junto para acompanhá-la! Pois ele queria saber de onde vinha tão bela moça. Mas ela conseguiu escapar, escondendo-se na casinha das pombas. O príncipe esperou até que o pai da menina chegasse e lhe contou que ela havia pulado para o pombal. O velho pensou "Será Cinderela" e mandou buscar um machado para derrubar a casa das pombinhas, mas lá dentro não havia nin-

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guém, quando entraram em casa, Cinderela estava deitada nas cinzas, com sua roupa suja, e só uma pequena lamparina acesa pendia da chaminé. Ela rapidamente havia pulado pela parte detrás do pombal e, correndo até amendoeira, tirara o vestido e o colocara sobre o túmulo, de onde o pássaro o levou. Tornando, então a vestir seus pobres trapos, recolhera-se para a cozinha, deitando-se nas cinzas. No outro dia, quando os pais e irmãs já haviam saído novamente para a festa, Cinderela foi até a amendoeira e falou: - Te sacode, arvorezinha, e balança, ouro e prata sobre mil lança! E o pássaro jogou um vestido ainda mais bonito que o do dia anterior. Quando ela apareceu na festa, assim vestida, todos se admiraram da sua beleza. Mas o príncipe, que estava à espera de sua chegada, logo a pegou pela mão e com ela dançou toda a noite. Se algum outro jovem a convidava para dançar, ele dizia: - Esta é minha dançarina. Quando anoiteceu, Cinderela quis ir embora, e o príncipe a seguiu para descobrir onde ela morava. Mas ela conseguiu escapar dele pulando para o jardim que ficava atrás da casa. ali existia uma grande e linda árvore, na qual estavam penduradas as mais deliciosas peras, e ela subiu pelos galhos com a agilidade de um esquilo, de tal modo que o príncipe não pôde ver para onde ela tinha ido. O príncipe esperou até que o pai da menina chegasse e lhe falou: - A jovem desconhecida escapou, eu acho que ela se escondeu na pereira. O pai pensou "Serpa Cinderela" e mandou buscar um machado para derrubar a árvore, mas lá não encontrou ninguém. Quando entraram na cozinha, Cinderela estava deitada nas cinzas com suas roupas sujas. Como no dia anterior, a menina tinha pulado da árvore para o outro lado e, ás pressas, devolvera ao pássaro, pousado na amendoeira, o belo vestido,

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tornando a enfiar-se em sua roupa cinza e suja. No terceiro dia, quando os pais e as irmãs já havia saído para a festa, Cinderela foi novamente à sepultura da mãe e pediu à arvorezinha: - Te sacode, arvorezinha, e balança, ouro e prata sobre mil lança! Então o pássaro jogou um vestido tão lindo e brilhante como jamais se vira outro igual, e sapatinhos feitos todo de ouro. Quando chegou ao palácio assim vestida, ninguém sabia o que dizer de tanta admiração. O príncipe dançou só com ela e, quando alguém a convidava para dançar, ele dizia: - Esta é a minha dançarina. Ao cair a noite, Cinderela quis ir embora, e o príncipe decidiu acompanha-la, mas ela conseguiu escapar tão depressa que ele não pôde segui-la. Desta vez, porém, o príncipe tinha posto em prática o seguinte plano: mandara passar piche em toda escadaria e, quando Cinderela desceu correndo, o sapatinho esquerdo ficou preso em dos degraus. O príncipe o recolheu e viu como era pequeno, mimoso e todo de ouro. Na manha seguinte foi á casa do pai de Cinderela e lhe disse: - A jovem em cujo pé servir este sapatinho de ouro será a minha esposa. As duas irmãs ficaram felizes, pois tinham pés bonitos. A mais velha pegou o sapatinho e foi para o quarto, pois queria prova-lo na presença da mãe. Mas não conseguiu fazer com que seu dedão entrasse, porque o sapatinho era muito pequeno. Então a mãe lhe alcançou uma faca dizendo: - Corte fora o dedão! Quando você for rainha, não mais precisará andar a pé. A moça cortou fora o dedão e, fingindo não sentir dor, foi até ao príncipe. Este a levou no seu cavalo como sua noiva, tomando a direção do palácio. Mas, ao passarem pela sepultura, que ficava no caminho, havia duas pombinhas pousadas na amendoeira que gritavam:

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Ruc, ruc, ruc, ruc Há sangue no sapato! O sapato está muito pequeno! A noiva certa ainda está em casa! Então o príncipe olhou para o pé da moça e viu como o sangue escorria pelo sapato. Dando meia-volta com o seu cavalo, levou a falsa noiva para casa e falou que essa não era a moça certa, e pediu que a outra irmã experimentasse o sapato. Esta foi também até o quarto e conseguiu fazer com que seu dedão entrasse, mas desta vez quem não coube no sapatinho foi seu calcanhar, que era muito grande. Ai a mãe lhe alcançou uma faca dizendo: - Corte um pedaço do calcanhar! Quando você for rainha, não precisara mais andar a pé. A moça cortou um pedaço do calcanhar, enfiou o pé no sapato, disfarçou a dor e foi até ao príncipe. Então ele a levou como sua noiva e cavalgou com ela em direção ao castelo. Ao passarem pela amendoeira, as duas pombinhas gritaram: Ruc, ruc, ruc, ruc Há sangue no sapato! O sapato está muito pequeno! A noiva certa ainda está em casa! O príncipe olhou para o pé da noiva e viu como o sangue escorria pelo sapato e como manchava a meia branca. Deu meia volta e levou a falsa noiva para casa. - Esta não é a moça certa! falou ele. Vocês têm outra filha - Não! respondeu o homem, são a da minha falecida esposa, mas é uma pequena maltratada Cinderela, que certamente não poderá ser sua noiva. Mesmo assim o príncipe mandou que a chamassem, mas a madrasta respondeu: - Ah, não, ela está muito suja, não pode ser vista desse jeito. Mas ele queria vê-la de qualquer maneira e, assim, tiveram que chamar Cinderela. rapidamente ela lavou as mãos e o rosto e, foi até ao príncipe, curvou-se diante dele, que lhe deu o sapatinho de ouro. Então ele se sentou num banquinho, tirou o pé do tamanco pesado de madeira e o colocou dentro do sapato, que lhe serviu perfeitamente. E, quando levantou e

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olhou no rosto do príncipe, este reconheceu a bela moça com quem havia dançado, e exclamou: - Esta é a noiva certa! A madrasta e as duas irmãs levaram um susto e empalideceram, mas o príncipe levou Cinderela e ajudou a subir na carruagem. E, quando passaram pelo portão, as duas pombinhas gritaram: Ruc, ruc, ruc, ruc Não há mais sangue o sapato! O sapato não é pequeno! A noiva certa é essa mesma! Dito isso, as duas pombas vieram voando e sentaram, uma no ombro direito e outra no ombro esquerdo de Cinderela. Quando o casamento estava para realizar, as falsas irmãs, interesseiras como eram, procuraram se aproximar de Cinderela para partilharem de sua felicidade. Quando os noivos estavam indo para a igreja, a mais velha colocou-se ao lado direito do casal, e a mais moça, do lado esquerdo. Então, cada uma das pombas arrancou com uma bicada um dos olhos de cada uma das irmãs. Na saída a mais velha colocou-se do lado esquerdo, e a mais moça do lado direito. E então cada uma das pombas arrancou o outro olho de cada uma das irmãs, e assim elas receberam o castigo merecido por sua maldade e falsidade, ficando cegas para o resto da vida.

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Branca de Neve

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Era

uma rainha costurava, no inverno, ao lado de uma janela negra como o ébano. Ao lançar o olhar para a neve, picou o dedo com a agulha, e três gotas de sangue pingaram sobre a neve, o que a deixou admirada e a fez pensar que, se tivesse uma filha, gostaria que fosse "alva como a neve, rubra como o sangue e negra como o ébano da janela".Não tardou, e a princesa teve uma filha de descrições idênticas ao seu pedido: branca como a neve, com os cabelos negros como o ébano e os lábios vermelhos como o sangue. Mas, tão logo sua filha veio ao mundo, a rainha morreu. O pai deu à filha o nome de Branca de Neve, e logo tornou a casar com uma mulher arrogante e vaidosa, possuidora de um espelho mágico que só falava a verdade.Constantemente a rainha consultava seu espelho, perguntando quem era a mais bela do mundo, ao que ele sempre respondia: "Senhora Rainha, vós sois a mais bela". Mas Branca de Neve cresceu e, um dia a madrasta perguntou: "Quem é a mais bela de todas?", e o espelho não tardou a dizer: "Você é bela, rainha, isso é verdade, mas Branca de Neve possui mais beleza."Cheia de inveja, a Rainha contratou um caçador e ordenou que ele matasse Branca de Neve e lhe trouxesse seu coração como prova, na esperança de voltar a ser a mais bela. O caçador ficou inseguro, mas aceitou o trabalho. Pronto para matar a bela princesa, o caçador desistiu ao ver que ela era a moça mais bela que já havia encontrado, e rapidamente a mandou fugir e se esconder na floresta; para enganar a rainha, entregou a ela o coração de um jovem veado. A rainha assou o coração e o comeu, acreditando ser de Branca de Neve mas, ao consultar o espelho mágico, ele continuou a dizer que Branca de Neve era a mais bela.Branca de Neve fugiu pela floresta, até encontrar uma casinha e, ao entrar, descobriu que lá moravam sete anões. Como era muito gentil, limpou toda a casa e, cansada pelo esforço que fez, adormeceu na cama dos anões. À

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noite, ao chegarem, os anões levaram um susto, mas logo se acalmaram ao perceber que era apenas uma bela moça, e que a mesma tinha arrumado toda a casa. Como agradecimento, eles cederam sua casa como esconderijo para Branca de Neve, com a condição de ela continuar deixando-a tão limpa e agradável.A rainha não tardou a descobrir o esconderijo de Branca de Neve e resolveu matá-la; disfarçada em mascate, foi até a casa dos anõezinhos. Chegando lá, ofereceu um laço de fita a Branca de Neve, que aceitou. A rainha ofereceu ajuda para amarrar o laço em volta da cintura de Branca de Neve e, ao fazê-lo, apertou-o com tanta força que Branca de Neve desmaiou. Quando os anões chegaram e viram Branca de Neve sufocada pelo laço de fita, rapidamente o cortaram e ela voltou a respirar.A rainha novamente descobriu que Branca de Neve não estava morta, e voltou a se disfarçar, mas desta vez como uma velha senhora que vendia escovas de cabelo, na verdade envenenadas. Ao dar a primeira escovada, Branca de Neve caiu no chão, desmaida. Quando os anões chegaram e a viram, rapidamente retiraram a escova de seus cabelos e ela acordou.A rainha, já enlouquecida de fúria, decidiu usar outro método: uma maçã enfeitiçada. Dessa vez, disfarçou-se de fazendeira e ofereceu uma maçã; Branca de Neve ficou em dúvida, mas a Rainha cortou a maçã ao meio e comeu a parte que não estava enfeitiçada, e Branca de Neve aceitou e comeu o outro pedaço, enfeitiçado. A maçã engasgou na garganta de Branca de Neve, que ficou sem ar. Quando os anões chegaram e viram Branca de Neve desacordada, tentaram ajudá-la, mas não sabiam o que causara tudo aquilo, e pensaram que ela estava morta. Por achá-la tão linda, os anões não tiveram coragem de enterrá-la, e a puseram em um caixão de vidro.Certo dia, um príncipe que andava pelas redondezas avistou o caixão de vidro, e dentro a bela donzela. Ficou tão apaixonado, que perguntou aos anões se podia levá-la para seu castelo, ao que eles aceitaram e os servos do

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príncipe a colocaram na carruagem. No caminho, a carruagem tropeçou, e o pedaço de maçã que estava na garganta de Branca de Neve saiu, e ela pôde novamente respirar, abriu os olhos e levantou a tampa do caixão.O príncipe a pediu em casamento, e convidou para a festa a rainha má, que compareceu, morrendo de inveja. Como castigo, ao sair do palácio, acabou tropeçando num par de botas de ferro que estavam aquecidas. As botas fixaram-se na rainha e a obrigaram a dançar; ela dançou e dançou até, finalmente, cair morta.

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Bela e a fera

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uma vez um rico comerciante que tinha três filhas, cada uma mais encantadora que a outra. A mais moça era tão linda de mente, corpo e coração que a chamavam de Bela. O pai dava às filhas tudo o que queriam, e também uma boa educação. As duas irmãs mais velhas não ligavam muito para essa parte, gostavam mesmo era de se vestir elegantemente e dançar a noite inteira. Já Bela adorava livros, achava uma maravilha ler e tocar cravo. E quando era os tendentes vinham aos montes pedir sua mão, sempre dizia: “Não, vou ficar mais um pouco com meu pai”. As três moças viveram como princesas até o dia em que o comerciante recebeu um recado lhe informando que sua frota de navios havia afundado no mar, durante uma tempestade. De repente, ele estava endividado até o pescoço. Em menos de um mês teve de vender tudo o que possuía e mudar com a família para uma casinha pequena caindo aos pedaços, que ficava no meio de um bosque e era rodeada por um terreno abandonado. No início, as três meninas choraram, se lamentaram, se revoltaram... As duas mais velhas não se conformavam. Dormiam até tarde e, quando acordavam, reclamavam da vida. Bela, no entanto, começou a olhar à sua volta e a perceber como aquele bosque era bonito. Tratou de fazer uma horta e criar um bando de gansos e um rebanho de cabras. Alimentava seus bichos todos os dias e descobriu que podia trabalhar como qualquer outra pessoa. Mesmo assim, eles viviam na pobreza. Um dia, o comerciante recebeu outra mensagem dizendo que um dos seus barcoshavia chegado ao porto a duras penas e que, se ele fosse correndo para a cidade, ainda poderia resgatar uma parte da mercadoria. Antes de partir, o pai chamou as três filhas e lhes perguntou: — O que vocês querem que eu traga da cidade? A primeira filha pediu roupas; a segunda, joias. Bela achou que roupas e joias não a ajudariam no trabalho. A coisa de que mais sentia falta

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quando cuidava da horta era das rosas. Se o pai pudesse lhe trazer uma rosa, ela plantaria uma roseira. O pai foi o mais depressa que pôde, mas, quando chegou ao porto, o navio já tinha sido esvaziado pelos credores e não sobrou nada para ele. Resolveu voltar logo porque não tinha dinheiro nem para passar a noite numa pousadinha, e assim partiu. Seu cavalo já estava se cansando, e a noite logo ia cair. De repente, o tempo fechou e começou a chover. E com a chuva chegou também a neve. Antes que se desse conta, ele tinha se perdido. Na esperança de que o cavalo soubesse voltar para casa, deixou que ele escolhesse o caminho. De fato, não demorou muito para avistar uma luz ao longe. Entraram numa trilhazinha estreita margeada por altas árvores. O cavalo avançava aos trancos e barrancos, contra o vento, a chuva e a neve, em direção àquela luz que estava a cada passo mais brilhante. Chegou então a um jardim que rodeava um grande castelo. O lugar tinha um ar diferente do clima gelado do bosque. Parecia mais quente, quase como se nele reinasse a primavera. O comerciante apeou e levou sua montaria para o estábulo, que estava vazio. Deu os grãos que encontrou em um balde a seu cavalo, penteou-o e foi bater na porta do castelo. Ninguém atendeu. A porta não estava trancada. O comerciante entrou e andou por um corredor comprido até uma lareira, que produzia chamas brilhantes. Diante da lareira havia uma mesa posta, com frango assado, pão fresco e uma garrafa de vinho. Ele chamou por alguém, mas não teve resposta. Passado um tempo, não pôde mais resistir. Sentou diante do fogo numa cadeira confortável e comeu o frango inteiro. Depois de uns copos de vinho, adormeceu ali mesmo. Dormiu a noite inteira. Quando acordou, a mesa estava limpa e posta com chocolate quente, pãezinhos frescos e esfarrapada tinha desaparecido, e em seu lugar havia outra de lã grossa. Ele se levantou, vestiu a e saiu para enfrentar o novo dia. Ninguém

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apareceu quando foi buscar o cavalo, então selou-o e estava pronto para deixar o castelo. Ao passar pelo último trecho do jardim, o comerciante viu uma roseira e se lembrou da promessa que havia feito a Bela. Quando pegou a rosa mais formosa, ouviu um rugido: uma fera furiosa pulou em cima dele, que caiu de joelhos. A Fera um ser coberto de pelos olhava o homem do alto. Como se atreve a roubar minhas rosas? — Rosnou a Fera. — Meu senhor, eu não pretendia roubar... — Não me chame de “senhor”. Sou uma fera, então o comerciante —, não quis roubar você. — Então por que está levando o que mais aprecio? — Só cortei uma rosa para minha filha. É tudo o que ela queria. — Eu sempre mato quem rouba minhas rosas — disse a Fera —, mas se sua filha estiver disposta a vir ao castelo em seu lugar, não tirarei sua vida. — Oh, não! Eu jamais permitiria! O comerciante chorou, chorou, mas estava claro que a Fera não mudaria de ideia. Para ganhar tempo e poder se despedir da família, o comerciante disse que ia buscar sua filha, a mais moça das três. Com um peso no coração, montou no cavalo e voltou para casa. Quando chegou à sua casinha, Bela foi ao seu encontro, toda feliz por ver o pai. Viu na mão dele a rosa que tinha trazido para ela. O pai contou às três filhas a história da Fera. Bela ficou em silêncio. As duas mais velhas, no entanto, se queixaram e protestaram furiosas: Bela, como sempre, tinha criado problema com mais um de seus estranhos pedidos. Ela quebrou o silêncio e disse ao pai: — Pai, não se preocupe. Nunca tive medo das feras dos bosques. Por que haveria de temer uma fera que vive em um castelo? Amanhã vou lá com você conhecer essa Fera. O pai protestou, mas na manhã seguinte atravessaram o bosque em direção ao castelo. Seu cavalo se dirigia para lá sem hesitar, como se conhecesse o caminho. Enquanto Bela ajudava o pai a deixar os cavalos no estábulo, ninguém apareceu. Eles abriram a

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porta do castelo e seguiram pelo corredor comprido até a lareira que ainda crepitava, diante de outro jantar bem servido e intocado. Bela estava nervosa, mas, apesar disso, conseguiu comer. Quando terminaram de jantar e se perguntavam o que aconteceria, ouviram um estrondo de portas e passos pesados que se aproximavam. Ali estava a Fera. Era um ser enorme, peludo, horrível e assustador. Bela se encolheu. A Fera se aproximou e perguntou amavelmente: — Bela, você veio por vontade própria? — Vim, meu senhor — respondeu ela fazendo uma reverência com a cabeça. — Não sou seu senhor. Sou uma fera. — Sim, por vontade própria, Fera — disse, encarando-o. Ele pareceu sorrir sob a sua pelagem e disse: — Muito bem, então. Despeça-se do seu pai, que deve ir embora. Bela abraçou o pai e acompanhou-o até a porta. Depois se virou para ver a Fera, que a levou para um cômodo no final das escadas. Na porta havia uma tabuleta que dizia: “Quarto da Bela”. A moça lhe deu boa-noite, entrou e fechou a porta. Nunca havia visto um aposento como aquele. Estava repleto de coisas que ela amava: livros, música e até passarinhos que entravam e saíam voando pelas janelas. Olhou para o jardim do castelo, cheio de rosas e de perfumes da primavera, e pensou consigo mesma: “Eu poderia viver aqui o resto da vida”. Na manhã seguinte, Bela começou a explorar o castelo e os jardins dos fundos. Cada dia ficava mais feliz. De noite, a Fera aparecia para o jantar falava amavelmente com ela. Bela começou a ansiar pela sua companhia. Todas as noites, terminada a refeição, ele lhe fazia a mesma pergunta: — Bela, você se casaria comigo? — Oh, não, Fera, nunca poderia me casar com você — respondia a moça. Passava o tempo e a Fera continuava a formular a mesma pergunta, que Bela respondia do mesmo modo. Até que Bela começou a sentir falta da família. Uma noite, notando sua tristeza, a Fera lhe perguntou o que a afligia. — Fera — disse ela —, eu queria ver meu pai. A Fera baixou a cabeça. — Vá

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olhar no espelho do seu quarto. No quarto, Bela viu seu pai no espelho, doente, com péssima aparência. No dia seguinte, suplicou à Fera que a deixasse ir até sua casa. — Você está livre para ir e vir quando quiser — disse a Fera. — Tome este anel. Ponha-o no dedo, vire-o, faça o pedido e estará na sua casa. Mas lembre-se: se ficar tempo demais, você despedaçará meu coração. Quando chegar a hora de voltar, ponha o anel no dedo novamente e vire-o outra vez. Naquela noite, depois de jantar, Bela girou o anel no dedo. De repente, viu-se na porta do quarto de seu pai. Ele pulou da cama, como se tivesse se recuperado no instante em que a viu. Bela contou a seu pai sobre o castelo, mostrou as roupas delicadas e as joias que a Fera lhe dera. As irmãs mais velhas ouviam a caçula mortas de inveja. Quando Bela tentou dar a elas tudo o que a Fera tinha lhe dado, as roupas e joias desapareceram das mãos das irmãs. Então, elas confabularam contra Bela: fingiriam ficar tristes cada vez que Bela falasse que iria embora. Quem sabe se, conseguindo segurá-la bastante, a Fera se irritaria e a atacaria quando ela voltasse para o castelo. E assim fizeram. Toda vez que Bela anunciava que tinha de ir, as irmãs esfregavam cebola nos olhos e choravam falsamente, rogando que não fosse embora. Então ela ficava um pouco mais, e uma coisa ia levando à outra. Bela via que seu pai melhorava e deixava os dias passarem sem contá-los. Uma noite, ela teve um sonho. Viu a Fera diante da fonte do jardim, morrendo. Bela acordou sentindo tanta saudade da Fera que achou que seu coração ia arrebentar. Pegou o anel na mesa, girou-o em seu dedo e desejou voltar para o castelo. Uma vez lá, correu para seu quarto e pôs o melhor vestido a fim de esperar a Fera para jantar. Mas esperou em vão, porque ele não apareceu. Bela procurou-o por todo o castelo até que, finalmente, encontrou-o no chão junto da fonte do jardim, onde o tinha visto em seu sonho. Deitou a cabeça em seu peito e pôs-se a chorar:

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— Minha Fera, eu não sabia o quanto te amava. Encheu o rosto da Fera de lágrimas e beijos. A Fera se agitou, tentou se levantar e acabou conseguindo ficar de pé... depois de ter se transformado num belo homem! — Quem é você? — gritou Bela — Sou a sua Fera — respondeu o homem —, um príncipe aprisionado no corpo de um animal até que uma mulher me amasse pelo que sou, apesar da minha aparência. Bela, você se casaria comigo? — Sim! Não perderia você de modo nenhum, pouco me importa a forma que tenha! Ao pronunciar essas palavras, o castelo na penumbra se iluminou por completo e as roseiras murchas floresceram de novo. Pouco tempo depois, eles se casaram na presença das irmãs e do pai de Bela. O bondoso pai estava muito alegre, mas os corações de suas irmãs estavam tão endurecidos pela inveja que seus corpos se converteram em pedra. Elas viraram duas estátuas, que ficaram para sempre observando a felicidade de Bela e de seu esposo.

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Bela Adormecida

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Contos do Grimm

Era

uma vez, uma rainha que teve uma filha linda, o rei convidou todas as fadas do reino para o batismo, mas infelizmente se esqueceu de uma, a mais velha delas, pois tinha apenas 12 pratos de ouro, e haviam treze fadas no total. Mesmo não sendo convidada, a fada esquecida, já velha e que também era uma bruxa, foi ao batismo, interrompendo a cerimônia com um furacão, aborrecida por não ser convidada a fada má jogou uma maldição na linda criança Aurora: ''No dia em que completar 16 anos, a sua linda filha espetará o dedo no fuso de uma roca de fiar e morrerá''.[ E assim, a bruxa desapareceu como fumaça. Sabendo disso, o rei proibiu a fiação em todo reino, para que assim sua filha pudesse crescer e viver em paz. Mas quando completou 16 anos, a princesa descobriu uma sala secreta, onde uma velha estava a fiar, e curiosa, ela mexeu na roda de tear e assim, espetou o seu dedo, fazendo com que uma pequena farpa de madeira ficasse presa dentro de sua unha. Chega a parte que foi censurada através dos anos pelo teor sexual, pois adormecida, a bela é estuprada ainda dormindo, por um príncipe que a engravida de gêmeos, depois de nove meses, ainda adormecida, dá a luz aos bebês que a procura de comida, se arrastam para mamar, mas um dos bebês começa a chupar acidentalmente, os dedos da princesa até que suga a lasca de madeira de dentro do dedo da adormecida, e assim se quebra a maldição, e o bebê morre engasgado e a menina acorda confusa, procurando o pai de seus filhos e vai até o reino vizinho encontrá-lo. Acontece que o príncipe estuprador já era casado e, quando sua esposa descobre que ele teve gêmeos com outra, resolve matar as crianças e servi-las para o príncipe comer. Felizmente, o cozinheiro encarregado do infanticídio se nega a matar os gêmeos e os esconde em casa. Então a rainha traída resolve se vingar de Aurora e manda montar uma enorme fogueira para queimá-la viva.

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Aurora está quase sendo jogada no fogo quando o príncipe interrompe a vingança. Ele então coloca mais um crime em sua ficha. Além de estuprador, vira homicida: joga a esposa no fogo e finalmente se casa com a Bela Adormecida.

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Peter Pan

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Era

uma vez Peter Pan um clássico da Disney, emocionou centenas de pessoas pelo mundo todo e fez todos nós compreendermos mais sobre o quanto é triste ter que deixar de ser criança e enfrentar o mundo adulto. Porém, a versão de J. M. Barrie de 1904 para o teatro não é tão linda e delicada assim. As coisas começam a ficar ruins quando descobrimos que, na verdade, o verdadeiro vilão da história era Peter Pan. Isso mesmo, você ouviu certo, na verdade o Capitão Gancho foi colocado na peça apenas para distrair o público do verdadeiro vilão. Mas por que vilão? Já percebeu que Pan sequestrava meninos apenas para se divertir? O pior é que não havia realmente uma mágica que impedisse o crescimento das crianças, então para realizar seu sonho de jamais crescer, Peter literalmente cortava os pequenos. Isso mesmo, ele matava os que estavam mais crescidos ou quando haviam muitos deles na Ilha, durante as grandes batalhas contra o Capitão Gancho isso também acontecia, já que o nosso anti-herói simplesmente mudava de lado e começava a golpear e matar os jovens de sua própria equipe. É claro que nada disso era realmente mostrado ao longo da peça, porém algumas frases em alguns diálogos davam a entender exatamente isso e o autor jamais se pronunciou sobre o assunto. O perturbador é que dizem que Peter Pan tinha estas cruéis atitudes apenas porque isso o divertia, mudava sua rotina e dava sentido a sua imortalidade. Mudando um pouco de assunto, lembra-se do extremo ciúme que Sininho sentia de Wendy? Pois é, no conto original as coisas passam bastante do limite quando a fadinha convence Tootles, um dos garotos perdidos, de que a menina é, na verdade, um pássaro que Pan quer matar, porém não consegue. Acreditando que lhe fará um grande favor, o pequeno corre pela ilha com um arco e flechas e acerta Wendy que quase morre. Quando descobre

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que foi enganado, o jovem Tootles morre de vergonha e implora a Peter Pan que o mate, já que não conseguirá viver com esta tristeza em seu coração. Porém, Pan não gosta de ser mandado nem obrigado, por isso permite que a criança continue vivendo. Mas voltando ao Capitão Gancho, este é o único adulto que vive ainda na Terra do Nunca para desafiar Peter, suas diferenças em geral são sempre levadas a duelos sanguinários que não tem fim. Em um destes duelos, o Capitão consegue ferir gravemente o jovem com seu gancho, então Pan foge para longe e deita na beira do mar, esperando que a morte chegue. Ao se questionar sobre o mundo, a vida e o que faz, Peter Pan acaba se recuperando e volta para acabar com o Capitão Gancho. Durante o Duelo Final, Pan dá duros golpes no Capitão e acaba o derrubando do navio. Quando ele alcança a água, o mesmo Crocodilo que lhe comeu a mão e chega e brutalmente o devora por inteiro.

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Rapunzel

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Era

uma vez um casal que há muito tempo desejava inutilmente ter um filho. Os anos se passavam, e seu sonho não se realizava. Afinal, um belo dia, a mulher percebeu que Deus ouvira suas preces. Ela ia ter uma criança! Por uma janelinha que havia na parte dos fundos da casa deles, era possível ver, no quintal vizinho, um magnífico jardim cheio das mais lindas flores e das mais viçosas hortaliças. Mas em torno de tudo se erguia um muro altíssimo, que ninguém se atrevia a escalar. Afinal, era a propriedade de uma feiticeira muito temida e poderosa. Um dia, espiando pela janelinha, a mulher se admirou ao ver um canteiro cheio dos mais belos pés de rabanete que jamais imaginara. As folhas eram tão verdes e fresquinhas que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de provar os rabanetes. A cada dia seu desejo aumentava mais. Mas ela sabia que não havia jeito de conseguir o que queria e por isso foi ficando triste, abatida e com um aspecto doentio, até que um dia o marido se assustou e perguntou: - O que está acontecendo contigo, querida? - Ah! - respondeu ela. - Se não comer um rabanete do jardim da feiticeira, vou morrer logo, logo! O marido, que a amava muito, pensou: "Não posso deixar minha mulher morrer… Tenho que conseguir esses rabanetes, custe o que custar!" Ao anoitecer, ele encostou uma escada no muro, pulou para o quintal vizinho, arrancou apressadamente um punhado de rabanetes e levou para a mulher. Mais que depressa, ela preparou uma salada que comeu imediatamente, deliciada. Ela achou o sabor da salada tão bom, mas tão bom, que no dia seguinte seu desejo de comer rabanetes ficou ainda mais forte. Para sossegá-la, o marido prometeu-lhe que iria buscar mais um pouco.

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Quando a noite chegou, pulou novamente o muro mas, mal pisou no chão do outro lado, levou um tremendo susto: de pé, diante dele, estava a feiticeira. - Como se atreve a entrar no meu quintal como um ladrão, para roubar meus rabanetes? - perguntou ela com os olhos chispando de raiva. - Vai ver só o que te espera! - Oh! Tenha piedade! - implorou o homem. - Só fiz isso porque fui obrigado! Minha mulher viu seus rabanetes pela nossa janela e sentiu tanta vontade de comê-los, mas tanta vontade, que na certa morrerá se eu não levar alguns! A feiticeira se acalmou e disse: - Se é assim como diz, deixo você levar quantos rabanetes quiser, mas com uma condição: irá me dar a criança que sua mulher vai ter. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe, e nada lhe faltará. O homem estava tão apavorado, que concordou. Pouco tempo depois, o bebê nasceu. Era uma menina. A feiticeira surgiu no mesmo instante, deu à criança o nome de Rapunzel e levou-a embora. Rapunzel cresceu e se tomou a mais linda criança sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira trancou-a no alto de uma torre, no meio da floresta. A torre não possuía nem escada, nem porta: apenas uma janelinha, no lugar mais alto. Quando a velha desejava entrar, ficava embaixo da janela e gritava: - Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças! Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da velha, abria a janela, desenrolava as tranças e jogava-as para fora. As tranças caíam vinte metros abaixo, e por elas a feiticeira subia. Alguns anos depois, o filho do rei estava cavalgando pela floresta e passou perto da torre. Ouviu um canto tão bonito que parou, encantado. Rapunzel, para espantar a solidão, cantava para si mesma

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com sua doce voz. Imediatamente o príncipe quis subir, procurou uma porta por toda parte, mas não encontrou. Inconformado, voltou para casa. Mas o maravilhoso canto tocara seu coração de tal maneira que ele começou a ir para a floresta todos os dias, querendo ouvi-lo outra vez. Em uma dessas vezes, o príncipe estava descansando atrás de uma árvore e viu a feiticeira aproximar-se da torre e gritar: "Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!." E viu quando a feiticeira subiu pelas tranças. "É essa a escada pela qual se sobe?," pensou o príncipe. "Pois eu vou tentar a sorte…." No dia seguinte, quando escureceu, ele se aproximou da torre e, bem embaixo da janelinha, gritou: - Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças! As tranças caíram pela janela abaixo, e ele subiu. Rapunzel ficou muito assustada ao vê-lo entrar, pois jamais tinha visto um homem. Mas o príncipe falou-lhe com muita doçura e contou como seu coração ficara transtornado desde que a ouvira cantar, explicando que não teria sossego enquanto não a conhecesse. Rapunzel foi se acalmando, e quando o príncipe lhe perguntou se o aceitava como marido, reparou que ele era jovem e belo, e pensou: "Ele é mil vezes preferível à velha senhora…." E, pondo a mão dela sobre a dele, respondeu: - Sim! Eu quero ir com você! Mas não sei como descer… Sempre que vier me ver, traga uma meada de seda. Com ela vou trançar uma escada e, quando ficar pronta, eu desço, e você me leva no seu cavalo. Combinaram que ele sempre viria ao cair da noite, porque a velha costumava vir durante o dia. Assim foi, e a feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel, sem querer, perguntou a ela:

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- Diga-me, senhora, como é que lhe custa tanto subir, enquanto o jovem filho do rei chega aqui num instantinho? - Ah, menina ruim! - gritou a feiticeira. - Pensei que tinha isolado você do mundo, e você me engana! Na sua fúria, agarrou Rapunzel pelo cabelos e esbofeteou-a. Depois, com a outra mão, pegou uma tesoura e tec, tec! cortou as belas tranças, largando-as no chão. Não contente, a malvada levou a pobre menina para um deserto e abandonou-a ali, para que sofresse e passasse todo tipo de privação. Na tarde do mesmo dia em que Rapunzel foi expulsa, a feiticeira prendeu as longas tranças num gancho da janela e ficou esperando. Quando o príncipe veio e chamou: "Rapunzel! Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!," ela deixou as tranças caírem para fora e ficou esperando. Ao entrar, o pobre rapaz não encontrou sua querida Rapunzel, mas sim a terrível feiticeira. Com um olhar chamejante de ódio, ela gritou zombeteira: - Ah, ah! Você veio buscar sua amada? Pois a linda avezinha não está mais no ninho, nem canta mais! O gato apanhou-a, levou-a, e agora vai arranhar os seus olhos! Nunca mais você verá Rapunzel! Ela está perdida para você! Ao ouvir isso, o príncipe ficou fora de si e, em seu desespero, se atirou pela janela. O jovem não morreu, mas caiu sobre espinhos que furaram seus olhos e ele ficou cego. Desesperado, ficou perambulando pela floresta, alimentando-se apenas de frutos e raízes, sem fazer outra coisa que se lamentar e chorar a perda da amada. Passaram-se os anos. Um dia, por acaso, o príncipe chegou ao deserto no qual Rapunzel vivia, na maior tristeza, com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina, que haviam nascido ali. Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, o príncipe caminhou na direção de Rapunzel. Assim que chegou perto, ela

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Ogatodebotas

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Era

uma

vez um lavrador trabalhara muito, durante a vida toda, ganhando sempre o suficiente para o sustento da família. Quando faleceu, deixou sua herança para os filhos: um sítio, um burrinho e um gato. Ao filho mais velho coube o sítio; ao segundo, o burrinho; e o caçula ficou com o gato. Este último, nada satisfeito com o que lhe coubera, resmungou: "Meus irmãos sobreviverão honestamente. Mas, e eu? O que vou fazer? Talvez possa jantar o gato e com o couro fazer um tamborim. Mas, e depois?" O gato logo endireitou as orelhas, querendo ouvir melhor um assunto de tamanho interesse. Então, percebendo que precisava agir, foi dizendo: - Não se desespere, patrãozinho, pois eu tenho um plano. Consiga-me um par de botas e um saco de pano, e deixe o resto comigo. O jovem achou que valeria a pena tentar; afinal, o gato parecia inteligente e astuto. Deu-lhe então um saco e um par de botas, desejou-lhe muito boa sorte, e deixou-o partir. O gato dirigiu-se a uma mata na qual sabia que viviam coelhos de carne deliciosa. Mas eram bichos difíceis de apanhar. O esperto bichano enfiou no saco um punhado de farelo e outro de capim. Deixou o saco no chão e ficou bem pertinho, imóvel, à espera de que algum coelho jovem e inexperiente caísse na arapuca. Nosso gato esperou pacientemente. Por fim, viu suas esperanças se tornarem realidade: um coelhinho se enfiou no saco, atraído pelo cheiro do farelo, e começou a comer tranquila e gostosamente. Rápido como um relâmpago, o felino passou um cordão na abertura do saco e prendeu o coelho. Com a caça nas costas, dirigiu-se ao palácio real. - Quero falar com o rei - disse aos guardas, com ares de

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muita importância. Foi conduzido à presença real. Afinal, não era sempre que um gato aparecia pedindo audiência. Na presença do soberano, o gato se curvou em respeitoso cumprimento. - Majestade! Meu patrão, o marquês de Sacobotas, me encarregou de oferecer-lhe este coelho, caçado nas matas de propriedade dele. O rei, que apreciava muito carne de coelho, se alegrou com o presente: - Diga a seu patrão que agradeço muito a gentileza. Alguns dias depois, o gato apanhou duas grandes rolinhas numa emboscada, num campo de milho. Guardou as aves no saco e foi logo levá-las ao rei. O rei aceitou com todo prazer essa segunda oferta, pois adorava carne de rolinha! Nos meses seguintes, o gato continuou indo à corte para levar caças ao rei, sempre agradando muito ao paladar do soberano. A cada novo presente, afirmava que as carnes vinham das terras de seu patrão, o marquês de Sacobotas. Um dia, quando estava saindo do palácio, escutou a conversa de dois criados: - Amanhã o rei passará de carruagem pelas margens do rio, junto com sua filha, a mais bela moça de todo o reino. O gato correu logo ao patrão, dizendo: - Patrãozinho, se seguir meus conselhos poderá se tornar rico, nobre e feliz. - E o que deverei fazer? - perguntou o jovem patrão, confiante no gato que herdara. - Amanhã você deverá ir ao rio e tomar banho no lugar exato em que eu indicar. O resto, deixe comigo. No dia seguinte, enquanto se banhava nas águas do rio, o rapaz viu se aproximar o rei, acompanhado pela princesa e por alguns nobres. O gato, que lá estava à espera, saiu de

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trás de uma moita e começou a gritar, com todo o fôlego: - Socorro! Socorro! Ajudem o marquês de Sacobotas, ele está se afogando no rio! Ajudem! O rei escutou os gritos e reconheceu o gato que tantas vezes lhe levara carnes deliciosas. Imediatamente deu ordens aos guardas para que corressem e acudissem o marquês de Sacobotas. Enquanto o jovem estava sendo retirado do rio, nosso gato se aproximou da carruagem real dizendo, com o ar mais entristecido do mundo: - Majestade, meu patrão estava tomando banho no rio e chegaram uns ladrões, que levaram toda a roupa dele. E agora, como ele poderá se apresentar a Vossa Majestade, inteiramente nu? Na verdade, o gato, muito vivo, havia escondido os trapos do moço embaixo de umas pedras... Mas o rei, penalizado, ordenou a um de seus guardas que corresse ao palácio e pegasse umas roupas para o pobre marquês espoliado. A roupa trazida era esplêndida. Com ela, o falso marquês, que aliás era um jovem bem bonito, ficou com ótima aparência. Logo a princesa se apaixonou pelo jovem, e o rei convidou-o a subir na carruagem, para juntos continuarem o passeio. Mas, e o gato? O gato, contente com o sucesso inicial do seu projeto, correu na frente da carruagem, que avançava lentamente. Um pouco adiante, viu um grupo de lavradores capinando. O gato fez uma careta bem feia e gritou com um vozeirão ameaçador: - Atenção! O rei passará aqui já, já! Se vocês não disserem que esse campo pertence ao marquês de Sacobotas, serão todos demitidos! Assustadíssimos, os coitados juraram que obedeceriam. Quando o rei, curioso, perguntou aos lavradores a quem per-

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JoĂŁo e Maria

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Era

uma vez entre 1315 e 1317 um rígido inverno tomou conta da Europa seguido de um verão repleto de chuvas. Todas essas mudanças climáticas trouxeram perdas incalculáveis o campo, fazendo com que as pessoas passassem fome. Desesperados, alguns pais decidiam devorar seus filhos para poder sobreviver, enquanto outros simplesmente os abandonavam na floresta. Pesquisadores acreditam que, muito antes dos Irmãos Grimm, este conto surgiu na França e se chamava As Crianças Perdidas. Ele contava a história de Jacques e Toinon, um casal que não consegue mais sustentar sua família e decide abandonar seus dois filhos, Jean com 12 anos e Jeanette com 8. Certo dia, a mãe das crianças os leva para passear no bosque quando, de repente, consegue os despistar e vai embora aos prantos. Sozinhos, Jean e Jeanette decidem subir no topo de uma árvore para se localizarem e de lá avisam duas casas: Uma com telhado branco e outra com telhado vermelho. Juntos, os dois decidem que deveriam ir até a casa com telhado vermelho sem muitas razões aparentes. Ao chegarem lá, descobrem que a moradora da casa é uma senhora de idade muito gentil e simpática que os recebe de bom grado, sua única exigência é que não façam muito barulho, já que se seu marido descobrisse que haviam crianças em casa, as devoraria. O grande problema é que, na verdade, a senhora era esposa do Demônio! Como as crianças eram cristãs e rezavam constantemente por seus pais, o monstro logo sentiu seus cheiros e fez de Jean um prisioneiro. Como as duas crianças estavam muito magras, ele começou um processo de engorde para, enfim, poder devorar Jean e depois Jeanette. Era a própria irmã que deveria todos os dias alimentar seu irmão aprisionado. Depois de algumas semanas, o Demônio começou a fazer testes para descobrir se Jean já estava no ponto, porém muito esperta, Jeannete cortou o

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rabo de um rato e entregou ao seu irmão para que utilizasse como se fosse seu próprio dedo. Os dois espertos conseguiram enganar o tinhoso por duas vezes, porém a farsa foi descoberta na terceira e, enfurecido, o Demônio decidiu que construiria uma guilhotina para arrancar a cabeça de Jean. Desesperados com a morte se aproximando, Jean e Jeanette se unem mais uma vez para tentar se safar desta terrível situação. Quando a guilhotina fica finalmente pronta, o Coisa Ruim decide que irá dar um passeio, então os irmãos chamam a senhora que os acolheu e pergunta como aquele instrumento funcionaria. Assim, a mulher coloca sua própria cabeça na posição e Jean a amarra enquanto Jeanette Libera a lâmina e corta o pescoço da idosa. Então, os dois fogem com a carroça do Demônio que está repleta de ouro e prata, mas logo ele descobre sobre a fuga e vai atrás das crianças com sangue nos olhos. Então, uma lavadeira que morava próxima deles disse que havia visto os dois cruzarem um rio e oferece ajuda para o demônio passar por ali também. Ela corta seus longos cabelos e estende por todo o trajeto do rio, porem quando o monstro chega ao meio da água ela puxa sua ponte improvisada com toda a força, fazendo com que o Demônio caísse e morresse afogado. Assim, Jean e Jeanette conseguem voltar para a casa e dão a seus pais toda a fortuna que conseguiram resgatar, podendo viver felizes para sempre.

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A pequena Sereia

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Era

uma vez, a pequena sereia era a filha caçula do rei Tritão, era uma sereia diferente das outras cinco irmãs. Era muito quieta, não era difícil vê-la distante e pensativa. Desde os dez anos, a Pequena Sereia guardava uma estátua de um jovem príncipe que havia encontrado num navio naufragado. Passava às vezes horas contemplando a estátua, que aguçava ainda mais sua vontade de conhecer o mundo da superfície. Porém esse seu desejo só poderia ser realizado quando completasse quinze anos, nessa idade é dada a permissão para as sereias nadarem até a superfície do mar. Para a Pequena Sereia esse dia especial parecia nunca chegar. Ela acompanhava a cada ano, os quinze anos de cada uma das suas irmãs, ansiosa para que o seu dia chegasse em breve também, e escutava atento o relato de cada uma delas sobre tudo aquilo que viram. As irmãs contavam sobre os barulhos da cidade, as luzes, o céu, os pássaros, sobre as pessoas, animais, eram tantas as novidades que só aumentava o desejo da Pequena Sereia de conhecer aquele mundo. A Pequena Sereia queria ver as cores douradas que surgiam no céu, quando o sol de escondia no horizonte. A chuva, com as nuvens cor de chumbo. Conhecer o arco-íris, as flores, as montanhas, as plantas. Às vezes as cinco irmãs subiam juntas à superfície para passear, e a Pequena sereia ficava triste em seu quarto, no castelo, sentia uma enorme angústia e uma coisa estranha, parecia ter vontade de chorar, embora as sereias não chorem, pois não têm lágrimas. Até que o dia tão esperado chegou, o coração da Pequena Sereia saltitava de felicidade. Recebeu de presente da sua avó um colar de pérolas, símbolo da realeza. A pequena sereia chegou à superfície na hora do pôr–do-sol.

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Contos do Grimm

O céu estava dourado com nuvens rosadas. Ela ficou maravilhada com o que via. Ela avistou um grande navio com três mastros e nadou até ele. O céu escureceu e no navio foram acesas centenas de lanternas coloridas. A sereiazinha nadou contornando o navio e, pela escotilha do salão viu pessoas alegres, dançando. Um rapaz em especial, chamou-lhe atenção. Passadas algumas horas, o vento começou a soprar forte. A lua e as estrelas sumiram do céu e começaram a surgir trovões e relâmpagos. O mar estava revolto, ondas gigantescas atacavam o navio. Os marujos assustados, retiraram as velas do navio. As pessoas gritavam assustadas. O navio balançava muito, até que uma onda gigantesca o tombou para o lado. A escuridão foi total. Um raio iluminou o céu e a Pequena Sereia viu pessoas gritando e tentando se salvar nadando. De repente a sereiazinha viu o príncipe. Ele estava se afogando. Ela sentia que tinha que ajudá-lo. Ela nadou entre os destroços do navio e o alcançou. O jovem príncipe estava desmaiado. Ela segurou firmemente, mantendo a cabeça dele para fora da água, e flutuou com ele até a tempestade passar. Ao raiar do sol, a sereiazinha verificou que o príncipe respirava tranqüilamente. Ela ficou aliviada em ver que ele estava bem, ficou tão contente que o beijou. Nadou com ele até uma praia, o dentou na areia e escondeu-se atrás das rochas. Ela viu que existia algumas casinhas por perto, certamente alguém o encontraria. Logo uma jovem apareceu na praia e foi caminhando na direção do rapaz. O , que até então, estava desmaiado acordou e sorriu para a moça. A moça correu para buscar ajuda e em pouco tempo o príncipe foi levado ao vilarejo.

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A sereiazinha ficou aliviada por ter salvado o jovem, mas ficou triste, pois temia não vê-lo novamente. A Pequena Sereia voltou para o seu castelo no fundo do mar. As irmãs a encontraram triste e quieta. Após longa insistência das irmãs, a sereiazinha contou-lhes toda a sua aventura. Uma das irmãs sabia quem era o príncipe e sabia que ele morava em um castelo à beira-mar. As seis sereias nadaram até lá. Esconderam-se atrás de uns rochedos, esperaram até que viram o príncipe e viram que ele estava bem. A pequena sereia pensava muito no jovem príncipe. Ela daria sua vida para ser humana e encontrar-se com o príncipe nem que fosse só por um dia. Seu pai, o rei Tritão estava preocupado com a filha, nem as festas no palácio alegravam a jovem sereia. Ela nem cantava mais nas festas, todos adoravam ouvi-la cantar, sua voz era linda. Numa noite, a Pequena Sereia tomou uma decisão: foi procurar à feiticeira do mar. •A feiticeira é uma bruxa, mora no meio dos redemoinhos, cercada de plantas cheias de espinhos e animais peçonhentas e perigosas. A sereiazinha acreditava que a única pessoa capaz de ajudá-la a transformar-se em humana, seria a feiticeira. A feiticeira concordou em lhe dar duas pernas, mas a sereiazinha só se tornaria humana se o príncipe se apaixonasse e casasse com ela. Avisou que a sereiazinha sentiria terríveis dores nas pernas para o resto da vida e nunca mais poderia voltas ao fundo do mar. Caso o príncipe não se apaixonasse por ela e casasse com outra moça, depois da noite do casamento, o primeiro raio de sol transformaria a Pequena Sereia em espuma. A sereiazinha ficou assustada, mas aceitou correr o risco, pois queria estar com o seu amado.

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Em troca dos serviços da feiticeira, a jovem lhe daria a sua voz. Mesmo assim, a sereiazinha aceitou a proposta, estava decidida a tentar. A feiticeira deu-lhe um frasco contendo a poção que lhe daria as pernas. Em seguida roubou-lhe a voz. A sereiazinha não se despediu de ninguém, nadou em direção ao palácio do príncipe. Foi então, que ela tomou a poção dada pela feiticeira. Imediatamente sentiu terríveis dores como se punhais lhe rasgassem a cauda. A dor foi tamanha que a jovem não agüentou e desmaiou. Quando amanheceu a princesa acordou, na praia, ao seu lado estava o príncipe, olhando-a curioso e preocupado. A sereiazinha percebeu que estava sem roupa, e possuía duas pernas no lugar de sua cauda. Cobriu-se então com seus longos cabelos. O príncipe quis saber seu nome e o que acontecera. Porém, a jovem não conseguia falar, não tinha mais sua voz. O príncipe a levou para o palácio, onde foi cuidada e alimentada. A sereiazinha passou a viver feliz naquele lugar ao lado do príncipe. Sofria terríveis dores sempre que andava, era como se algo furasse seus pés. Mas nada era superior a sua felicidade em estar com o seu amado. Cada dia que passava, o príncipe gostava mais da pequena sereia, As pessoas do palácio também se encantavam com a pequena sereia. Porém o coração do príncipe e seus pensamentos pertenciam à jovem que o encontrara na praia, ele achava que ela o havia salvo. Um dia a pequena sereia descobriu que o rei planejava casar o príncipe com a filha do rei vizinho. Eles fariam uma viagem de navio para conhecer a futura noiva. A pequena sereia ficou muito triste, se o príncipe se casasse com outra ela morreria. Ficou cheia de esperança quando o jovem príncipe lhe confidenciou que nãos e casaria com a jovem escolhida pelo seu pai, pois já

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amava outra moça. A sereiazinha acompanhou a família real na viagem. Na hora em que conheceu a futura noiva, o príncipe ficou encantado, era a mesma moça da praia. A pequena sereia viu que o príncipe estava apaixonado. Naquela mesma noite ele casou-se com a jovem princesa, a moça da praia. Enquanto todos festejavam, a princesa sofria de tristeza. Foi então para o convés observar o mar. Nesse momento ela viu suas irmãs, todas de cabelos curtos. Deram seus cabelos à feiticeira em troca de um punhal mágico. A Pequena Sereia precisaria matar seu amado com aquele punhal, antes do amanhecer, assim, poderia voltar a ser sereia e viver no fundo do mar, a sereiazinha muito triste pegou o punhal, foi até o quarto do príncipe e vendo-o dormindo tranqüilo ao lado da sua esposa, saiu correndo dali. A sereiazinha tinha um coração bom, e seu amor era verdadeiro, não poderia jamais matar o seu amado. Sendo assim, ela se dirigiu ao convés do navio, já estava amanhecendo. A sereiazinha, então, atirou-se no mar, no mesmo instante o primeiro raio de sol surgiu no horizonte, e assim o feitiço se realizou, a Pequena Sereia virou espuma branca do mar.

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