CASA BORN: Estudo de intervenção e restauro no patrimônio arquitetônico de Lajeado

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SA97 estudo de intervenção e restauro no patrimônio arquitetônico de Lajeado

HISTÓRICO Em 1835 já havia muitos moradores em ambas as margens do Rio Taquari. A colonização remonta a 1853, com o estabelecimento da Colônia Conventos, fundada por Antônio Fialho de Vargas. E em 20 de dezembro de 1939, foi a Vila de Lajeado elevada à categoria de cidade. O edifício “Casa Born” foi construído em meados de 1922, as margens do Rio Taquari, hoje na Rua Oswaldo Aranha, 793, lado ímpar, setor 2, quadra 26, lote 48, na cidade de Lajeado/RS e podemos dizer, com essa mesma configuração, ela é, ao longo de seus quase 100 anos de existência, o coração do local onde esta inserida, razão de ser de todo os edifícios históricos do entorno. No passado, a casa contribuiu com seu importante papel de comércio, sustento, e assim como as capelas, de centro de bairro. Ali, neste prédio em alvenaria com 2 pisos, medindo 221 m o térreo e 239 m o primeiro andar, totalizando 460 m de construção em um terreno com área de 665 m , chegavam os produtos pra serem negociados ou transformados. Ali havia o negócio e, em torno do negócio, a convivência, a conversa que converte, convence... Mas essa é outra história, que apenas tangencia a casa, Casa Born que ainda resiste ao tempo. A edificação toda de tijolos, coberta com telhas de barro e ainda cravada no solo, se mantém viva desde quando foi construída com o intuito de instalar uma loja, um empório comercial completo com materiais agrícolas, coloniais, tecidos e armarinhos. O que mais chama atenção na casa são os seus elementos originais, desde o piso de madeira aos acabamentos nas paredes. É um raro exemplo. A empresa foi fundada em 1922, pelo Sr. Julio Frederico Born, e tinha um ancoradouro próprio no Rio Taquari, visto o fácil tráfego fluvial da época onde o pólo comercial da cidade se situava junto aos trapiches do Rio Taquari, quando este ainda era navegável. Inicialmente a edificação foi projetada para ser comercial no térreo e residencial no primeiro pavimento, tipologia esta, que continuou até os últimos tempos. Primeiramente com a Casa Born, uma empresa familiar, onde os donos Sr. Júlio Frederico Born e Maria Emília Haesbert residiam no pavimento superior e possuíam o empório comercial no térreo. Também com a ajuda do filho, Bruno Born, braço direito do pai, tinham a representação do Banco Alemão para o Brasil, agência autorizada a efetuar qualquer transação bancária, tanto no interior quanto no exterior. A enchente de 1941 terminou com a navegação em Lajeado e a loja foi atingida levando a diretoria a transferir o estabelecimento para outro local, mais longe do Rio Taquari. O edifício continuou sendo utilizado, térreo para comércio e superior pra residência até os dias atuais. A pintura das portas e janelas, os frisos a meia altura, as vergas, os balcões, os balaustres tudo nos leva a uma atmosfera de sonho e cinema. Mas tudo é real e esta ali, na orla do Rio Taquari. Contudo, os moradores se sentiram pressionados por seus familiares a saírem do local por motivos de segurança ocasionados pela vulnerabilidade social e degradação ambiental do local. Mesmo assim este exemplar de arquitetura merece todo cuidado e respeito de preservação, e a marca do tempo, da idade, deve permanecer. Merece ser restaurado em poucos aspectos, e com muita delicadeza.

Gabriela da Silva Medeiros, acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univates, void.gabriela@gmail.com Giordano Francisco Delazeri acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univates, void.gabriela@gmail.com Jamile da Silva Weizenmann professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univates, jamilew@univates.br

"A restauração deve dirigir-se ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, sempre que isto seja possível, sem cometer uma falsificação artística ou uma falsificação histórica, e sem apagar as marcas do transcurso da obra de arte através do tempo." (Cesare Brandi )

proposta

“Eu defenderei até a morte o novo por causa do antigo e até a vida o antigo por causa do novo. O antigo que foi novo é tão novo como o mais novo” (Augusto de Campos)

novo volume

elevação frontal

elevação lateral

volume existente

RESUMO A adaptação de novo s programas funcionais em edificações antigas é uma recorrência no âmbito arquitetônico contemporâneo. A preservação desses artefatos está relacionada à importância cultural e histórica, além das potencialidades de usos que oferecem. Nesse contexto, insere-se o trabalho realizado na disciplina de Técnicas Retrospectivas, sobre o estudo de intervenção e restauro da casa Born, localizada na orla do Rio Taquari, na cidade de Lajeado/RS. O objetivo da proposta é refletir sobre a relevância do patrimônio construído para a cidade e apresentar estratégias de reabilitação para a antiga edificação, ressignificando o seu valor cultural, social e histórico. Assim como suprir a necessidade da cidade por um ambiente de disseminação de cultura. Para a concepção do projeto realiza-se, inicialmente, a etapa de levantamento histórico e a r q u i tetô n i c o d a e d i f i c a ç ã o a t r a v é s d e depoimentos, registros e fotografias para posterior análise. Nesse momento avalia-se também a estrutura da edificação, as patologias existentes e qual a melhor forma de intervir no edifício. Durante esse processo, é fundamental a investigação sobre as questões legais e o estudo das teorias e conceitos de preservação e restauro. Após, tem-se a etapa de lançamento da proposta de intervenção e a definição da nova função para a edificação. Através dos estudos realizados para a reabilitação da Casa Born, propõe-se a impl antação de um Centro Cultural que contemple espaços para atividades de música, dança, arte e teatro. Como resultado, o estudo de intervenção demonstra a aplicação dos conceitos e teorias sobre o patrimônio, contempla os aspectos funcionais e busca recuperar a volumetria original da casa articulando-a com a nova proposta. Além disso, o trabalho proporcionou a discussão e a reflexão do grupo acerca da valorização do patrimônio hi stórico-cultural nas c idades demonstrando que a reabilitação de uma edificação antiga pode trazer desenvolvimento e qualidade ao espaço urbano, preservando o passado das cidades e dialogando com o cenário contemporâneo.

planta baixa pav. 1

planta baixa pav. 2

patologias identificadas

“Devemos encarar a cultura como algo que vai da tradição a invenção. Temos de preservar o que de melhor criamos e construímos em nossa vida histórica, sob pena de nos aprisionarmos em um presente desfigurador. E temos que apostar no novo, porque ele é ingrediente fundamental de afirmação e de transformação de nossas comunidades e da sociedade. Esta dialética permanente entre tradição e invenção, somada a nossa abertura crítica para assimilar e recriar linguagens e informações produzidas em outros cantos do planeta é um traço central da cultura brasileira”.

“ (...) a reciclagem [de edifícios existentes] pode dar as cidades uma magia que jamais teriam obtido sendo mumificados como monumentos históricos.” (Philippe Robert)

planta baixa pav. 3


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