Ilpf

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS AGROPECUÁRIAS

Ao adotar essa Tecnologia Social, o produtor tem a possibilidade de produzir mais em uma mesma área agricultável.

ILPF ILPF

INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUÁRIA FLORESTA




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Índice

Etapas da Integração

Acredito que esta é a grande solução para colocar o Brasil em situação diferenciada, tornando o País muito mais competitivo e capaz de produzir a custos mais baixos tanto o grão e o boi quanto o leite e a madeira. Minha opinião é de que se trata de uma evolução altamente favorável ao futuro do Brasil. Alysson Paolinelli (Ex-Ministro da Agricultura)

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ILPF em números


Conclusão Oportunidade de Negócio

Capítulo 3 Plantio e Manejo da Floresta

Capítulo 2 Adequação do Solo

Iniciativas Inteligentes Rede de Fomento

Capítulo 1 Sistemas de Integração

Introdução ILPF em números

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06 13 24 26 33 44

ILPF em números

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Tecnologia socialmente justa Tecnologia Social combina aumento da produção com preservação do meio ambiente

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ILPF em números


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sta cartilha apresenta os benefícios para a implantação da tecnologia social “Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF) ”. Esse sistema de produção proporciona ganhos econômicos, ambientais e sociais. Assim, gera muitos ganhos para o homem tanto do campo quanto da cidade. A implantação da ILPF em uma propriedade possibilita a recuperação de áreas degradadas. Ao mesmo tempo, com a intensificação do uso da terra aumenta os efeitos complementares entre as diferentes espécies cultivadas, dentre elas e a criação de animais. Essa combinação proporciona benefícios simultâneos para as atividades e, de forma sustentável, uma maior produção por área. Isso acontece porque a introdução da ILPF otimiza o uso do solo com a produção de grãos e madeira em áreas de pastagens. Essa mudança melhora a produtividade das pastagens, beneficiadas pelo aproveitamento da adubação residual da lavoura, maior oferta de nutrientes e aumento de matéria orgânica no solo. Ao adotar essa Tecnologia Social, o produtor tem a possibilidade de produzir em uma mesma área agricultável, diferentes culturas agrícolas. “A Integração tem sido a menina Esse sistema é considerado inovador, mas na Europa, dos olhos da EMBRAPA, que tem desde a Idade Média, são investido tempo e dinheiro em seu conhecidas várias formas de plantios associados entre desenvolvimento e divulgação.” culturas anuais e culturas perenes ou entre culturas frutíferas e árvores madeireiras. No Brasil, os imigrantes europeus trouxeram a cultura da associação de plantios, que foi adaptada às condições climáticas do País. No Rio Grande do Sul, por exemplo, é comum a integração entre a cultura do arroz inundado e as pastagens. A ILPF é um ensinamento que vem do passado para melhorar o futuro da vida no planeta. Isso porque esse sistema, que integra o plantio de árvores, grãos e forragens, tem como grande objetivo a mudança da forma de uso da terra. Apresenta-se como estratégia para maximizar os efeitos desejáveis no ambiente, sendo capaz de aliar o aumento da produtividade com a conservação de recursos naturais no ILPF em números

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processo de intensificação de uso de áreas já desmatadas. A implantação da ILPF tem como um dos principais objetivos a recuperação das pastagens. Na verdade, plantar lavouras em áreas degradadas já é uma solução utilizada pelos produtores rurais com o objetivo de devolver a capacidade produtiva dos pastos e dos solos. Porém, essa prática vem se modernizando com a inclusão de técnicas combinadas que geram alta produtividade. Com foco na adoção de boas práticas agropecuárias e aumento da eficiência com o uso de máquinas, equipamentos e mão de obra, a ILPF minimiza os impactos da agricultura sobre o meio ambiente. Possibilita, também, gerar emprego e renda e melhorar as condições sociais no meio rural. Assim, é uma Tecnologia Social implantada

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ILPF em números


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sob os pilares da sustentabilidade: economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente justa. A ILPF pode ser associada a outras tecnologias sociais, como a Produção Agroecológica Integrada Sustentável (PAIS) e, principalmente, o Balde Cheio, possibilitando, por intermédio da arborização das pastagens, maiores rendimentos na produção de leite. A história da ILPF é recente e ainda está em construção. A primeira experiência no Cerrado teve início em 1994, com o plantio de eucalipto integrado com cultivo de grãos e braquiária e criação de gado. A partir dos bons resultados da ILPF, instituições de pesquisa e extensão rural criaram unidades de referência tecnológica (URT) nos diferentes biomas do Brasil. Elas têm a função de validar e implementar a alternativa tecnológica mais adequada às características da exploração conduzida pelo produtor rural. Essas unidades também servem de modelo para quem quiser conferir o sistema de perto. Como o sistema contribui para a melhora da sociedade como um todo? O sistema contribui para a menor demanda por agroquímicos, devido à quebra do ciclo de pragas, doenças e com menores custos de produção. O aumento da oferta de alimentos pode ser promovido sem a necessidade de novos desmatamentos, ao mesmo tempo em que

A ILPF atendendo aos pilares da sustentabilidade: ser economicamente viável, ambientalmente adequado e socialmente aceito. áreas agrícolas degradadas ou de baixa produtividade podem ser recuperadas. A forma e a intensidade da adoção do conjunto de tecnologias que compõem a ILPF dependem, entre outros fatores, dos objetivos do produtor e da infraestrutura disponível em cada propriedade. O pecuarista pode decidir utilizar o sistema para a implantação de pastagens ou para a sua recuperação, no caso de estarem degradadas. Pode, também, implantar o sistema silvipastoril (floresta + pasto), com o objetivo de explorar produtos madeireiros e não madeireiros, além dos produtos da pecuária. O agricultor pode utilizar o consórcio ou a rotação de culturas para produzir o sistema plantio direto da safra seguinte. Já o produtor que deseja exercer as atividades integradas pode utilizar a ILPF para implantar um sistema agrícola sustentável, com a utilização dos princípios da rotação de culturas e do consórcio entre culturas anuais, capins e árvores, produzindo na mesma propriedade grãos, carne ou leite e produtos madeireiros e não madeireiros ao longo do ano.

ILPF em números

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O que é a

ILPF?

A integração lavoura pecuária floresta (ILPF) é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área.

Pode ser feita em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades.Esta forma de sistema integrado busca otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade, diversificando a produção e gerando produtos de qualidade. Com isso reduz a pressão sobre a abertura de novas áreas. Dadas as características dos diversos sistemas de ILPF é fundamental a implementação de um conjunto de estratégias e ações de comunicação que possam apoiar mais efetivamente a rede de transferência de tecnologia e contribuir para ampliar a adoção de sistemas ILPF pelo setor produtivo, bem como de um conjunto de ações educativas, na forma de um programa integrado e continuado de capacitação em ILPF, na modalidade mista (educação à distância e presencial). A comunicação para ILPF deve ser criativa, com estratégias e ações ajustadas às realidades das diversas regiões e aos perfis dos diferentes produtores, sejam empreendedores rurais, agricultores familiares ou assentados de reforma agrária. 10

ILPF em números

ENTRE OS PRODUTORES que usam a ILPF, a previsão é de que o espaço médio destinado à ILPF chega a 20,6% da área agricultável das propriedades em 2030. MATO GROSSO 1.501.016 ha MATO GROSSO DO SUL 2.085.518 ha RIO GRANDE DO SUL 1.457.900 ha

ENTRE OS PECUARISTAS 84% DOS

29% DOS

35% DOS

PECUARISTAS

PECUARISTAS

PECUARISTAS

estão satisfeitos

que usam

que não fazem

com os sistemas

ILPF adotaram

afirmam que

de Integração

sistema entre

adotariam a

ILPF.

2011 e 2015.

tecnologia


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11,5 MILHÕES de hectares é a área estimada com ILPF no Brasil.

208,5 MILHÕES de hectares é a área ocupada pelo agronegócio.

1% ocuapdo pelo sistema ILF 9% ocuapdo pelo sistema ILPF 7% ocuapdo pelo sistema IPF

83% DAS INTEGRAÇÕES ocupado pelo sistema ILP

MINAS GERAIS 1.046.878 ha GOIÁS E DF 943.934 ha

Estimativa de hectares de integração por estado: Estimativa desenvolvida a partir de dados obtidos pelo kleffmann group Área com mais de 900 mil ha Área com mais de 400 mil ha Área com mais de 40 mil ha Área com menos de 20 mil ha

*Valores extrapolados a partir dos dados da pesquisa com base nas áreas sob uso agropecuário

ILPF em números

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ILPF no Brasil

Pesquisa encomendada pela Rede de Fomento ILPF e realizada pelo Kleffmann Group na safra 2015/2016 estimando a quantidade de hectares ocupada pelos sistemas de integração. Área sob uso agropecuário (ha) Área com integração (ha)

0

Estado SANTA CATARINA RIO GRANDE DO SUL PARANÁ SÃO PAULO RIO DE JANEIRO MINAS GERAIS ESPÍRITO SANTO MATO GROSSO DO SUL MATO GROSSO GOIÁS E DF SERGIPE RIO GRANDE DO NORTE PIAUÍ PERNAMBUCO PARAÍBA MARANHÃO CEARÁ BAHIA ALAGOAS TOCANTINS RORAIMA RONDÔNIA PARÁ AMAPÁ AMAZONAS ACRE

10

20

678.893 3.517.399 1.457.900 7.108.887 416.517 9.387.407 861.140 14.916.482 11.981 1.016.170 1.046.878 19.217.726 118.121 1.186.482 2.085.518 19.504.048 1.501.016 30.957.213 943.934 19.745.814 1.774 1.281.116 74.119 5.599.900 74.119 5.599.900 217.673 4.273.523 136.217 2.152.310 69.087 4.797.636 41.380 5.142.852 545.778 21.996.268 4.619 1.555.272 500.302 8.065.233 18.422 710.225 78.258 6.700.660 427.378 13.493.870 0 242.498 9.407 2.221.744 321 1.550.224

RESULTADOS

A pesquisa estimou que o Brasil conta com 11.468.124 ha com sistemas integrados de produção agropecuária. Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Sul possuem as maiores áreas com ILPF. O estado da região Sul lidera a lista em termos de área relativa, ou seja, tem o maior percentual da área agricultável utilizado com algum sistema integrado. *Valores extrapolados a partir dos dados da pesquisa com base nas áreas sob uso agropecuário

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ILPF em números

30 milhões de (ha)


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Capítulo 1 Sistemas de integração

Sistemas de Integração

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NOVOS

SISTEMAS

ILPF é um sistema de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes do agro ecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica da atividade agropecuária. Esta forma de sistema integrado busca otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade, diversificando a produção e gerando produtos de qualidade. Com isso reduz a pressão sobre a abertura de novas áreas. Dadas as características dos diversos sistemas 14

Sistemas de Integração

de ILPF é fundamental a implementação de um conjunto de estratégias e ações de comunicação que possam apoiar mais efetivamente a rede de transferência de tecnologia e contribuir para ampliar a adoção de sistemas ILPF pelo setor produtivo, bem como de um conjunto de ações educativas, na forma de um programa integrado e continuado de capacitação em ILPF, na modalidade mista (educação à distância e presencial). A comunicação para ILPF deve ser criativa, com estratégias e ações ajustadas às realidades das diversas regiões e aos perfis dos diferentes produtores, sejam empreendedores rurais, agricultores familiares ou assentados de reforma agrária.


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Modalidades do sistema de ILPF

O sistema de ILPF pode ser classificado em quatro modalidades: Integração lavoura-pecuária (ILP) ou sistema agropastoril É o sistema de produção que integra os componentes agrícola e pecuário, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área e no mesmo ano agrícola ou por múltiplos anos.

Integração lavoura-floresta (ILF) ou sistema silviagrícola É o sistema de produção que integra os componentes florestal e agrícola pela consorciação de espécies arbóreas e agrícolas perenes ou a consorciação de espécies arbóreas e agrícolas (anuais) em rotação e/ou sucessão.

Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) ou sistema agrossilvipastoril É o sistema de produção que integra os componentes agrícola e pecuário, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área e no mesmo ano agrícola ou por múltiplos anos, em consórcio com o componente florestal.

Integração pecuária-floresta (IPF) ou sistema silvipastoril É o sistema de produção que integra os componente pecuário e florestal, em consórcio, trazendo conforto térmico para o gado, por consequência uma prática para o bem estar do animal durante todo o processo.

Significado dos termos consórcio, sucessão e rotação de culturas CONSÓRCIO

O consórcio é um sistema de cultivo no qual duas ou mais espécies vegetais são cultivadas na mesma área simultaneamente.

ROTAÇÃO

A rotação ocorre quando há alternância de espécies vegetais, ocupando o mesmo espaço físico e período do ano.

SUCESSÃO

A sucessão de cultivos ocorre quando diferentes espécies vegetais são semeadas, uma após a colheita da outra, dentro do mesmo ano agrícola.

*Independentemente da forma como são classificados ou denominados, os sistemas de integração são sistemas mistos de produção agropecuária e seguem os mesmos princípios, em especial a diversificação de atividades.

Sistemas de Integração

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Consórcio, sucessão e rotação de culturas empregados na estratégia de ILPF a estratégia de ILPF, pode ocorrer um consórcio de uma cultura anual com uma espécie forrageira até que, após a colheita da cultura anual, a forrageira predomine e o uso da terra passe a ser pastoril e não mais agrícola. Nessa fase, o sistema muda de status e passa a ser uma sucessão, no sistema agropastoril (ou ILP). Há ainda o cultivo consorciado com a semeadura defasada, que é o caso das espécies forrageiras semeadas tardiamente (em sobressemeadura), como, por exemplo, na cultura da soja (Glycine

max). Em sistemas mais complexos com a presença de árvores, pode ocorrer consórcio de uma cultura anual com árvores. Nessa fase, o sistema será silviagrícola (ou ILF). Após a colheita da cultura anual e o início do pastejo, o sistema será silvipastoril (ou IPF). A partir dessa dinâmica, no mesmo ano agrícola ou na dimensão temporal predeterminada, configura-se o agrossilvipastoril (ou ILPF). As árvores não estarão em sucessão nem em rotação com as lavouras e/ou pastagens, mas sim em consórcio com elas.

Tecnologia em expansão

16

Sistemas de Integração

10,28

12

7,89

9,08

10

4,05

6

2,6

3,32

4

4,78

5,51

6,7

8

2

1,87

Em dez anos, a área ocupada pela ILPF aumentou em quase 10 milhões de hectares. O gráfico ao lado mostra a projeção da expansão do sistema produtivo, prevista pela Plataforma ABC, considerando-se uma evolução linear entre 2005 e 2015. Segundo pesquisadores, hoje a ILPF está espalhada por todo o Estado do Centro-Oeste, mas é nos polos mais fortes de grãos que os produtores têm apostado na alternativa.

11,47

Evolução da área de adoção ILPF, em milhões de hectares

0 2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015


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Benefícios ILPF Entre os principais benefícios da ILPF estão:

Otimização e intensificação da ciclagem de nutrientes no solo.

Melhoramento da qualidade e conservação das características produtivas do solo.

Melhoria do bem-estar animal em decorrência do conforto térmico.

Manutenção da biodiversidade e sustentabilidade da agropecuária.

Diversificação da produção e aumento da produção de grão, carne, leite e madeira.

Redução na pressão pela abertura de novas áreas com vegetação nativa.

Maior eficiência de utilização de recursos naturais.

Redução da sazonalidade do uso da mão de obra.

Mitigação das emissões de gases causadores do efeito estufa.

Geração de empregos diretos e indiretos.

Sistemas de Integração

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Uma nova forma de produção rural Sistema de integração para ILPF

Modalidades da estratégia de ILPF

Os princípios são os seguintes:

• São implantadas de forma simultânea, e podem se tornar sistemas mistos ao longo do tempo.

• No primeiro momento, como um sistema de ILF ou silviagrícola.

• Diversificação das atividades de produção rural.

• No segundo momento, podem se transformar em um sistema IPF ou silvipastoril.

• Ocorrência e proveito de efeitos sinérgicos decorrentes das atividades de produção rural desenvolvidas na mesma área ao longo do tempo.

• É possível que sejam adotados separadamente, ou seja, somente ILP, ou somente IPF, ILF ou ILPF. • Mas, na prática, os sistemas de integração com componente florestal (em razão do crescimento mais lento das árvores) normalmente são implantados:

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Sistemas de Integração

• No final, reunindo essas fases, resultam em um sistema de ILPF ou agrossilvipastoril.

• Aumento da viabilidade econômica e da sustentabilidade ambiental de propriedades rurais.


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Sistema de ILPF Sistema de ILPF, como nova forma de produção rural Nas condições tropicais do Brasil, pode-se afirmar que os sistemas de integração se caracterizam por ser uma nova forma de produção rural. Porém, apesar desse contexto ser recente, os sistemas agrossilvipastoris (ou ILPF) são conhecidos desde a antiguidade, com vários tipos de plantios associados entre culturas anuais e culturas perenes ou entre frutíferas e árvores madeireiras, bem como a criação de animais entre árvores, remontando relatos de vários escritores romanos do século 1 d.C. Diferença entre o sistema agropastoril (ou ILP) e o sistema agrossilvipastoril (ou ILPF): Ambos os sistemas promovem a integração de atividades.

Entretanto, o sistema agropastoril (ou ILP) não contempla o componente florestal, enquanto o sistema agrossilvipastoril (ou ILPF) e os outros sistemas de integração (IPF e ILF) caracterizam-se pela presença desse componente. Os sistemas de integração com componente florestal são baseados no arranjo espacial de aleias (em inglês, alley cropping), em que as árvores são plantadas em faixas ou renques de linhas simples ou linhas múltiplas com espaçamentos amplos, e o cultivo de culturas anuais e/ou espécies forrageiras ocorre nos espaços entre as linhas de árvores (ou seja, nas aleias). Sistemas de Integração

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Semelhanças entre o sistema de ILPF e o sistema agroflorestal (SAF) As modalidades de integração com componente florestal e assemelham, conceitualmente, com a classificação de SAFs, em suas vertentes silviagrícola, silvipastoril e agrossilvipastoril. Porém, o uso equivocado da terminologia SAF tem sido encontrado na literatura como resultado tanto de falhas relacionadas à tradução, especialmente da língua inglesa para a portuguesa, quanto da inobservância da etimologia dos elementos formadores dos termos e, ainda, de erros gramaticais. Alguns autores analisam a possibilidade de padronizar a terminologia empregada em SAF no Brasil, sugerindo que o termo “agroflorestais” (originado do termo em inglês agroforestry) seja o ideal para abranger todos os sistemas de uso da terra agrossilvicultural, silvipastoril e agrossilvipastoril, pois envolve as relações entre cultivos agrícolas e/ou criação de animais e atividades florestais. É comum encontrar a denominação de SAF para utilização de diversas espécies em conjunto em áreas sob sistema “ecológico” ou “orgânico” de produção. Os sistemas de integração, ou ILPF, enquanto estratégia de produção sustentável, apresentam classificação mais abrangente, incluindo, além desses sistemas, o sistema agropastoril, ou seja, ILP, pode ser utilizado em propriedades de qualquer tamanho ou tipo de produção (familiar ou empresarial). 20

Sistemas de Integração

Conceito de agrossilvicultura Existe, atualmente, na literatura uma grande variedade de termos que são empregados para denominar e conceituar a prática de combinar espécies florestais com culturas agrícolas e/ou com a pecuária. A agrossilvicultura pode ser considerada como a ciência que estuda os SAFs, que, por sua vez, apresentam-se como um conjunto de técnicas alternativas de utilização dos recursos naturais, nos quais espécies florestais são utilizadas em associação a cultivos agrícolas e/ou animais em uma mesma superfície. De uma forma abrangente, a agrossilvicultura se assemelha, conceitualmente, com os sistemas de integração que contêm o componente florestal.

Reconstruir a floresta junto com a produtividade e a segurança alimentar - Sergio Olaya (Especialista em sistemas agroflorestais)


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Tecnologia de arborização de pastagens no sistema de ILPF A arborização de pastagens é uma forma de IPF, ou seja, de sistema silvipastoril. Essa arborização prevê a introdução direta de árvores (nativas ou exóticas) em áreas já utilizadas com pastagens, sem que se proceda à eliminação da pastagem ou utilização de lavouras para implantação do sistema em todo território brasileiro. Arborizar pastos em áreas já abertas pode otimizar a produção pecuária, pois aumenta a diversificação de renda da propriedade, promove o bem-estar animal, entre outras vantagens. A manutenção e condução de espécies em regeneração natural em pastagens já estabelecidas, por meio de roçagem seletiva, é também uma forma de arborização. Adoção da estratégia de ILPF, nas atividades de produção rural (lavoura, pecuária e floresta) É comum a combinação (por meio de consórcio, sucessão ou rotação de culturas) somente de duas atividades. No entanto, é no sistema de ILPF que ocorre maior diversificação e maior intensidade de efeitos sinérgicos.

A simples rotação entre período de cultivos de lavouras alternadamente com período de produção pecuária em pasto é uma das formas de ILP. As formas mais comumente utilizadas de ILP, considerando-se os objetivos da produção, estão na Tabela 1.

Possíveis usos do sistema Objetivo da produção

Formas de integração lavoura-pecuária

Pastagem

Carne e/ou leite + pastejo de cultivos

Pastagem

Carne e/ou leite + forragem conservada

Pastagem

Carne e/ou leite + grãos/fibras

Grãos/Fibras

Pastagem + carne e/ou leite

Grãos/Fibras

Pastagem + palhada

Tabela 1. Usos do sistema de integração lavoura-pecuária (ILP).

Sistemas de Integração

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Aplicação do sistema de ILP em fazendas onde coexistem agricultura e pecuária em áreas separadas. Ainda que uma atividade se beneficie da outra, para que sejam obtidos os efeitos sinérgicos e todos os benefícios do sistema, as atividades de agricultura e de pecuária devem ser estabelecidas em rotação, consórcio ou sucessão na mesma área.

Formas mais comuns do sistema de ILP O sistema de ILP pode ser adotado de diversas formas, com diferentes composições de espécies agrícolas e forrageiras em diferentes arranjos. Entretanto, as formas mais comuns têm as seguintes características: envolvem a consorciação de culturas agrícolas com forrageiras em safra ou safrinha; após a colheita da cultura agrícola, a pastagem tem curta permanência (de 4 meses até, no máximo, 4 anos); com a eliminação sequencial da pastagem, ocorre formação de palhada para o sistema de plantio direto da cultura agrícola subsequente e novo ciclo de rotação. ILPF e ILP como sistemas de produção sustentáveis São alternativas para conciliar a produção de alimentos, fibras e energia, aliando viabilidade econômica com sustentabilidade ambiental. A demanda crescente por alimentos, bioenergia e produtos florestais, em contraposição à necessidade de redução de desmatamento e mitigação da emissão de gases de efeito estufa (GEEs), requer soluções que permitam incentivar o desenvolvimento socioeconômico, sem comprometer a sustentabilidade dos recursos naturais. A intensificação do uso da terra em áreas agrícolas e pastoris e o aumento da eficiência dos sistemas de produção podem contribuir para harmonizar esses interesses. A integração é uma forma de produzir a mesma quantidade de produto, ou até aumentar a produção, sem a necessidade de incorporar novas áreas a processo produtivo, característica que tem sido denominada de “efeito poupa-terra”.

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Sistemas de Integração


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Sistemas sustentáveis Sustentabilidade dos sistemas de integração e estímulo ou pagamento por serviços ecossistêmicos no futuro: A adoção de sistemas de integração concilia coeficiência com desenvolvimento socioeconômico e aumentar produtividade agropecuária com conservação de recursos naturais. Portanto, a estratégia e os diferentes sistemas de ILPF, adotados segundo os conceitos da agricultura conservacionista, levam o agroecossistema a produzir alimentos, fibras, madeira e energia, e ainda a gerar renda ao produtor e segurança alimentar, além de ser um provedor de serviços ambientais em benefício da sociedade.

Sistemas de integração e sua contribuição com o desenvolvimento sustentável do setor agropecuário brasileiro • Tecnicamente eficientes: reduzem a emissão dos gases que provocam os GEEs e permitem o aumento de produtividade na mesma área. • Economicamente viáveis: melhoram a utilização dos recursos e da terra, pois diversificam, suplementam e/ou ampliam receitas, com promoção da diminuição dos riscos ambientais no solo. • Socialmente justos: podem ser aplicados em qualquer tamanho de propriedade, geram empregos diretos e indiretos, aumentam e distribuem melhor a renda, aumentam a competitividade do agronegócio brasileiro e contribuem para a segurança alimentar e de abastecimento do País. • Ambientalmente responsáveis: priorizam a utilização de práticas conservacionistas e de uso mais eficiente da terra.

Viabilidade dos sistemas de ILPF em relação aos sistemas de produção monoculturais Os modelos monoculturais, com base em práticas inadequadas não sustentáveis, têm causado perda de produtividade, ocorrência de pragas e doenças, além de degradação do solo e dos recursos naturais, ou seja, apresentam sinais de fragilidade, em virtude da elevada demanda por energia e por recursos naturais. Além disso, os sistemas com base na monocultura têm alto risco econômico, pois não são diversificados. Já os sistemas de integração promovem a diversificação de atividades, com maior estabilidade de renda, aumento da biodiversidade e interações biofísicas sinérgicas entre os componentes, com benefícios à produtividade agropecuária e à sustentabilidade das propriedades rurais. Sistemas de Integração

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O que é Rede de fomento?

!

A CADA DIA CRESCE MAIS NO BRASIL...

Transferência de tecnologia em sistemas integrados, Estimula e promove programas de pesquisa, educação e cultura.

Pesquisa encomendada pela

Rede de Fomento (texto)

relação com os produtores.

Rede de Fomento ILPF e realizada pelo Kleffmann Group para os sistemas de integração e sua

Gabriel Calixto (gráfico)

A Rede de Fomento ILPF é uma parceria público privada formada pelas empresas Cocamar, Dow AgroScience, John Deere, Parker, Syngenta e a Embrapa. Seu objetivo é o de acelerar uma extensa adoção dos sistemas de integração lavoura pecuária floresta por produtores rurais como parte de um esforço visando a intensificação sustentável da agricultura brasileira. Iniciada em 2012, a Rede, que é co-financiada pelas empresas privadas e pela Embrapa, apoia uma rede com um total de 97 Unidades de Referência Tecnológicas (URTs) distribuídas em todos os biomas brasileiros e que envolve a participação de 19 Centros de Pesquisas da Embrapa.

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ILPF em números

Safra 2015/2016

72%

dos entrevistados conhecem a ILPF, independentemente de adotarem ou não.

92% Safra 2015/2016

No estado do Mato Grosso esse percentual é de 92% dos produtores entrevistados.

Queremos ter uma rede de experimentos em conjunto, de longa duração e com um protocolo mínimo em comum entre eles. - Renato Rodrigues (presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF)


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URT`s

Distribuição das Unidades de Referência Tecnológica (URT`s) nos Biomas

? COMO FUNCIONAM? As URTs são áreas de produtores rurais ou de instituições ligadas ao setor produtivo em que é adotada alguma configuração de ILPF. Estas áreas têm acompanhamento da equipe técnica da Embrapa e servem para avaliar tecnologias. SUA IMPORTÂNCIA São importantes instrumentos para a transferência de tecnologia, recebendo visitas técnicas e

Localização das unidades

dias de campo.

por Bioma brasileiro: Pampa Amazônia

APRENDIZAGEM Também sao

Cerrado

utilizadas como instrumento

Mata Atlântica

de aprendizagem em

Caatinga

processos de capacitação

Pantanal

de consultores privados

Unidade de Referência Tecnológica

e agentes públicos de assistência técnica e extensão rural.

ILPF em números

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Capítulo 2

Adequação das áreas degradadas e marginais

Planejamento para implantação da ILPF O primeiro passo para a implantação da ILPF é fazer o diagnóstico da propriedade. Para isso, o produtor deve buscar o apoio de um técnico, que fará o levantamento da situação atual da área. Na verdade, esse profissional irá fazer uma radiografia da região, para identificar as potencialidades e limitações existentes. Após o diagnóstico é que será possível fazer o planejamento, com o estabelecimento de metas, cronograma de atividades e avaliação dos resultados do sistema ILPF. Para fazer o diagnóstico, o técnico deverá seguir um roteiro capaz de nortear o levantamento das informações necessárias para elaborar o projeto. Ele terá que buscar informações sobre a

infraestrutura disponível na propriedade, como maquinário, pessoal e experiências com as atividades desenvolvidas. Sobre as atividades, deverá levantar os índices técnicos obtidos, as práticas tecnológicas utilizadas e o nível de gestão do negócio. Informações tais como: se existem ou não cercas na propriedade e se há necessidade de adequação das estradas.No diagnóstico também devem constar as características da área onde o sistema será implantado curvas de nível e de construção de terraços. O técnico incluirá no estudo informações sobre as condições de solo e clima da região onde o sistema será implantado,como exemplo, avaliação da umidade relativa do ar e altitude.


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Assistência técnica A assistência técnica se tornou um dos pontos mais importantes para o desenvolvimento de produtores e produções rurais em todas as regiões território brasileiro. omo a ILPF representa uma mudança no modelo de exploração e gestão da atividade agropecuária, é fundamental que o produtor conte com uma boa assistência técnica em todas as fases do projeto. Assim, o produtor, com a orientação do técnico, deverá eleger o sistema produtivo que será adotado. O desejável é implantar o sistema em uma parte da propriedade, sendo recomendado não ultrapassar 20% da área. A cada ano pode ser iniciada a implantação em uma nova área, dentro do limite da capacidade de pagamento do produtor e do respeito à sustentabilidade ambiental. A princípio, como uma das funções da ILPF é recuperar 28

Adequação do solo

áreas degradadas, essas costumam ser as primeiras alternativas na escolha do local de implantação do sistema na propriedade. Para que o planejamento traçado para introduzir a nova tecnologia na propriedade tenha sucesso, é preciso não descuidar do acompanhamento. O técnico e o produtor devem estar atentos para o cumprimento de todas as etapas e metas previstas no projeto. A efetiva implantação do projeto deve ser avaliada periodicamente. É esse acompanhamento que possibilitará, se necessário, a correção de rumos em tempo hábil. Com esse procedimento, é possível evitar prejuízos ao produtor e o descrédito no técnico e até no sistema produtivo.


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“Se alguém está com um problema de saúde, busca um médico. Se o produtor quer implantar um sistema que não conhece, busca um especialista na área, de quem receberá orientação, a fim de cometer menos erros nesse processo. Errar é natural, pois só erra quem faz.” - Lourival Vilela

“Para definir seu sistema, é preciso antes considerar alguns fatores, como maquinário e local da plantação, bem como a proximidade ou não do asfalto e a mão de obra disponível para sua instalação e manutenção. Apráticos. ” - Yula Cadette

“Hoje nós temos a opção de produzir madeira para: carvão para alimentar siderúrgicas, estaqueamento, mourões ou postes de energia. E, dependendo do manejo, podemos produzir madeira para a construção de móveis. ” - Francisco Guimarães

Pesquisador da Embrapa

Engenheira Agrônoma

Agricultor Familiar

Preparação do solo Como preparar o terreno para introduzir a ILPF A adequação ou limpeza do terreno para a implantação da ILPF depende da estratégia que será adotada para a propriedade. Se no planejamento está previsto o plantio de culturas agrícolas no primeiro ou primeiros anos, na maioria das vezes, a limpeza é feita em toda a área. O preparo do solo, no caso de áreas que nunca foram cultivadas, inclui a retirada de todo o material lenhoso. Para isso, é utilizada gradagem pesada e gradagem niveladora. Devem ser demarcadas as curvas de nível e, se for necessário, deve ser feita a construção de terraços, para evitar a erosão. Se a área já tiver sido cultivada ou for pastagem, uma alternativa é fazer a dessecação das plantas existentes com aplicação de produtos indicados pela pesquisa e registrados no Ministério da Agricultura.

Correção do solo nos sistemas de integração Recuperar a fertilidade do solo, de acordo com os resultados que a análise indicou, é a primeira medida para a adoção da ILPF. Há uma tendência de o produtor rural escolher áreas menos aptas à agricultura, áreas de pastagens ou ociosas para a implantação da ILPF. É comum que essas áreas selecionadas para receber o sistema sejam de baixa fertilidade natural. Como será feito um uso mais intensivo do solo, haverá uma maior demanda de nutrientes. Assim, quanto melhor for a correção, melhor a lavoura e a floresta vão responder em produtividade. Da mesma forma, melhor vai responder o capim estabelecido em sequência à lavoura. A pastagem vai aproveitar o residual de fertilizantes deixado pelas lavouras cultivadas na mesma área. Adequação do solo

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Processo para a preparação do solo

As modalidades de integração com componente florestal Após a mistura dos corretivos no solo, o terreno é preparado para o plantio da lavoura e da floresta. A preparação do solo é feita com gradagem, que incorpora os corretivos à terra fazendo o desmanche dos torrões e o nivelamento do terreno. Em pastos degradados é necessário fazer a correção com calcário e fertilizantes. Para as espécies de eucalipto existem informações mais específicas, que também poderão servir de base para auxílio na definição da adubação daquelas espécies que não possuem recomendações. A calagem ou aplicação de calcário é

necessária quando o solo apresenta baixos níveis de cálcio e magnésio, aliados à ausência desses nutrientes nos fertilizantes utilizados. O dinheiro investido nessa correção é devolvido de forma rápida com a colheita da primeira lavoura, de quatro a cinco meses após o plantio. No solo, ainda fica o residual dos fertilizantes, que servirão para nutrir as árvores e os próximos plantios de lavoura e pasto. Geralmente, a partir do terceiro plantio de lavoura, é estabelecida a pastagem. A receita das lavouras vai amortizar o custo de implantação do pasto e da floresta.

SAIBA MAIS A correção do solo deve ser feita de 60 a 90 dias antes do plantio, com o solo úmido. A aplicação e a incorporação dos corretivos devem ser feitas com grade, para até 20 cm de profundidade, e com arado, para até 40 cm de profundidade.

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Adequação do solo

Efeitos de sistemas de integração solo Beneficia a matéria orgânica do decorrentes do sistema de ILP, pois, nesse sistema, a pastagem se desenvolve de forma vigorosa, com elevada produção tanto da parte aérea quanto do sistema radicular. Ao ser dessecada para a semeadura das culturas subsequentes, haverá a decomposição desse material e liberação gradativa de nutrientes. Assim, tanto a palhada na superfície, quanto as raízes da forrageira, são fontes de matéria orgânica do solo. Entre outros benefícios gerados pelos resíduos orgânicos, destacam-se a menor variação e os níveis mais adequados de temperatura e umidade, bem como o fornecimento de energia (carbono) e nutrientes para a maioria das populações microbianas.


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Controle de erosão em áreas com sistemas de integração Com a inserção do componente forrageiro, o agricultor consegue atender plenamente os fundamentos exigidos para o correto funcionamento do SPD, especialmente quanto à cobertura permanente do solo, que é obtida quando a pastagem é implantada, pastejada e, posteriormente, dessecada para a semeadura da cultura subsequente. Nesse caso, o solo totalmente coberto pela palhada estará protegido do impacto das gotas de chuva prevenindo a ocorrência de erosão. No entanto, apenas a cobertura do solo não é suficiente para o total controle da erosão. É necessário o uso de práticas complementares tradicionais como a implantação e/ou manutenção de um sistema de terraceamento. Deve-se destacar também o papel do componente florestal no sistema, que tem efeitos benéficos na captação da chuva e controle do escoamento superficial quando em plantios em linhas ou renques em nível.

Dinâmica da água no solo O uso de sistemas de integração (ex.: ILP) resulta em maior cobertura e aumento da quantidade de matéria orgânica no solo e melhoria da sua estrutura e, com isso, proporciona melhoria na dinâmica diante de maiores taxas de infiltração da água das chuvas, redução das perdas por evaporação e do escoamento superficial (e,

consequentemente, da erosão) e aumento da capacidade de retenção de água no solo. De uma maneira geral, essas melhorias asseguram às plantas maior quantidade de água disponibilizada para elas ao longo do seu ciclo de cultivo. O sombreamento, no caso de consórcio com árvores nos sistemas de IPF, ILF e ILPF, reduz as perdas por evaporação do solo. Além disso, as árvores também contribuem para reduzir a velocidade do vento, e isso diminui a perda de água por evapotranspiração das culturas intercalares. “Analisando a recuperação de áreas degradadas, acredito que a sociedade tem apresentado melhores resultados na questão ambiental, porque está dando a devida atenção à conservação do solo, à conservação da água, à questão de crédito de carbono e às demais questões ambientais. Ao implantar o sistema, o produtor, além de reduzir os riscos na sua atividade, aumentando o retorno financeiro, embeleza sua propriedade e colabora para a melhoria do meio ambiente, incluindo o componente arbóreo na área. Com isso, contribui também com a sociedade.” - Maria Celuta Pesquisadora da EPAMIG

Adequação do solo

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Estrutura do solo na utilização de sistema Os sistemas de ILP, bem como de ILPF, têm como vantagem o uso do SPD, que contribui para a conservação da estrutura. A presença das pastagens é benéfica ao solo, pois, de modo geral, elas têm a capacidade de manter, ou até mesmo aumentar, o teor de matéria orgânica do solo, em contraste com os cultivos anuais. A grande quantidade de resíduos de material orgânico e o abundante sistema radicular das gramíneas, que estão em constante renovação, são benéficos ao solo. O emaranhado de raízes no solo forma uma rede que une partículas ou pequenos agregados para formação de estruturas maiores. Ao longo dos anos, as raízes mortas vão deixando galerias no solo, que servem para crescimento de novas raízes, condução de ar, água ou nutrientes. Por sua vez, o não revolvimento do solo conserva a organização de sua estrutura. Vale ressaltar, ainda, que o pastejo pelo gado, quando bem manejado, contribui para aumentar os efeitos benéficos do sistema radicular.

Rotação de culturas no solo O ideal para a implantação do sistema ILPF é fazer três cultivos de grãos, em rotação de cultura (arroz/soja/milho, consorciado com capim), para formar a pastagem. Isso porque, em geral, são necessários de dois a três anos para recuperar a fertilidade do solo. Nesse intervalo de tempo são plantadas, em média, as três lavouras, 32

Adequação do solo

obedecendo à rotação de culturas e de acordo com a realidade de cada região do País. A primeira lavoura, preferencialmente, deve ser uma cultura que exija menos nutrientes do solo, como o arroz. A segunda cultura pode ser feijão, soja ou milho, consorciado com uma leguminosa. Essa segunda cultura também vai atuar no enriquecimento de nutrientes para o solo, principalmente o nitrogênio.

O pastejo pelo gado, quando bem manejado, contribui para aumentar os efeitos benéficos do sistema radicular. Lembrando que, nos solos degradados, a maior carência é por nitrogênio. No lugar do cultivo de lavouras, pode ser implantada uma leguminosa com função de adubo verde, isto é, utilizada apenas para a recuperação do solo. Na implantação sucessiva de lavouras, é desejável fazer o plantio direto, conhecido também como plantio na palha, visando à conservação do solo e da água. Simultaneamente, a floresta implantada no primeiro ano está crescendo. Após o terceiro ano não é recomendável mais fazer lavoura, porque o sombreamento proporcionado pelas árvores em crescimento prejudica a plantação. Já a pastagem é menos afetada.


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Capítulo 3

Plantio e Manejo da Floresta

Adequação do solo

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Principais benefícios econômicos esperados com componente florestal Os benefícios econômicos são os mesmos do sistema de ILP, acrescidos dos ganhos com os produtos extraídos do componente florestal, advindos de várias possibilidades de cultivos florestais, como de eucalipto (Eucalyptus sp.) ou acácia-negra (Acacia mearnsii) – madeira grossa para serraria ou lenha, carvão, palanques para cerca, cacos para celulose, etc. Plantio de erva-mate (Ilex paraguariensis), citros/pessegueiros (Prunus persica), entre outros.

Eucalipto Tradicionalmente, as espécies florestais mais plantadas no Brasil pertencem ao gênero Eucalyptus. Em seguida, vêm as dos gêneros Pinus, Acacia e Tectona. Entre as justificativas para o maior 34

Plantio e Manejo da Floresta

plantio de espécies de eucalipto estão a adaptação às diferentes condições climáticas, rápido crescimento, potencial de produção de madeira para usos múltiplos, disponibilidade de mudas, conhecimento silvicultural e existência de material genético melhorado. A evolução da silvicultura clonal vem contribuindo para uma maior disponibilidade de mudas clonais no mercado, facilitando o acesso a materiais genéticos de alto potencial produtivo.


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Procedimentos para implantação de sistemas de ILPF com componente florestal Vários procedimentos devem ser considerados. Os principais são os seguintes: Econômicos • Analisar a adequabilidade da espécie arbórea na região e fazer estudo do mercado, com a finalidade de identificar as espécies com produtos economicamente promissores para a região. • Estudar o mercado regional para assegurar a aquisição de insumos e a viabilidade de comercialização dos produtos do sistema (principalmente para produtos madeireiros e não madeireiros). • Estabelecer planejamento em médio e longo prazo com base nos princípios da rotação e diversificação de culturas. • Analisar a capacidade de investimento e/ou buscar fontes de financiamento acessíveis para a aquisição de animais, máquinas, mudas florestais, etc. • Implantar o sistema mais viável e adequado à realidade da região e do tipo de propriedade rural. Técnicos • Capacitar pessoas para a compreensão de dois aspectos essenciais: motivos para combinar árvores com lavouras e/ ou com pastagens e forma de combinar lavouras

(cultivos anuais e/ou forrageiras), pecuária (gado) e árvores (para produtos e/ou serviços). • Procurar profissionais experientes para assistência técnica e/ ou consultoria. • Diagnosticar as áreas com maior potencial, setorizar a propriedade e iniciar o sistema aos poucos (20% a 30% da propriedade). • Fazer o preparo do solo, analisar o tipo de solo, realizar a correção e adubação do solo e os tratos culturais . • Definir o número de linhas por faixa ou renque de árvore. • Definir a distância entre as faixas ou renques (largura das aleias ou ruas), por exemplo, pela dimensão de equipamentos disponíveis (com razões dessas dimensões, uma vez, duas vezes, etc.). • Demarcar as linhas de plantio das árvores antes do plantio da lavoura. • Plantar as árvores em nível e a jusante de terraços (se houver). • Plantar as lavouras com afastamento das linhas de árvore em, pelo menos, 1 m de cada lado. • Planejar a entrada de animais preferencialmente após o estabelecimento das árvores.

Plantio e Manejo da Floresta

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Integração florestal

Utilização de Clones O uso de clones para abastecimento de uma nova floresta dentro do sistema ILPF deve passar por criteriosa análise de viabilidade técnica. Primeiramente, o produtor deve possuir informações seguras de que determinado clone esteja adaptado às condições locais de clima e solo, assim como ter conhecimento das práticas culturais que irão promover o melhor desenvolvimento da planta. Isso inclui o preparo do solo e adubação. O segundo ponto a considerar são as características de aptidão do clone, considerando a finalidade da produção, isto é, madeira para o uso nobre, lenha, celulose etc. Além do eucalipto, outras espécies florestais com potencial para produção de madeira têm sido utilizadas na ILPF. Ao escolher a espécie que irá implantar, o produtor deve ficar atento para a disponibilidade de mudas, levando em consideração informações sobre a qualidade fisiológica e genética, bem como a disponibilidade na época planejada para o plantio. Com o diagnóstico detalhado em mãos, é possível a elaboração de um bom planejamento tanto do uso da terra quanto das oportunidades de mercado. FIQUE ATENTO:

O produtor ainda deve considerar que a maioria dos de produção de carvão vegetal e celulose. 36

Plantio e Manejo da Floresta

“Na fase inicial da implantação podem aparecer algumas dificuldades.“ - Francisco Guimarães (Agricultor Familiar)


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Etapas para obter uma floresta com boa produtividade Para garantir o sucesso da implantação da floresta e obter povoamentos com boa produtividade e qualidade é necessário observar uma sequência de etapas. A primeira ação é fazer a demarcação da área que irá receber a floresta. Em áreas planas, as linhas de plantio das árvores poderão ser demarcadas no sentido leste/ oeste, mas em áreas com declividade deverão ser demarcadas acompanhando as curvas de nível. As árvores poderão ser

implantadas em linhas, fileiras únicas ou renques (agrupamentos de linhas) com duas, três, quatro ou até mais fileiras, conforme o arranjo escolhido no planejamento, em função das características e infraestrutura da propriedade e da finalidade da produção. Deve-se ficar muito atento para a marcação uniforme do espaçamento entre plantas, entre fileiras e entre renques. O produtor deve ter atenção permanente na prevenção de incêndios, utilizando a construção de aceiros e conscientizando os seus vizinhos a evitarem as queimadas.

Plantio e Manejo da Floresta

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Espaçamento ideal entre árvores Respeitar o espaçamento adequado entre as plantas proporciona a cada árvore a área suficiente para o desenvolvimento do seu sistema radicular e aéreo. Para definir o espaçamento mais adequado ao plantio, o produtor deve considerar: o propósito da plantação; as circunstâncias favoráveis para a poda e desbaste; a possibilidade de mecanização das operações; e a fertilidade do solo. O espaçamento ideal será aquele que propicie melhor forma e qualidade da madeira.

No plantio tradicional ou monocultivo de floresta, os espaçamentos utilizados mais comuns são: 2m x 2m; 2,5m x 2,5m; 3m x 1,5m e 3m x 2m. Na ILPF, o espaçamento é maior, de 9 a 10, 12, 14 ou mais metros entre linhas e de 2 a 4 metros entre plantas.

Podem ser utilizados espaçamentos maiores entre fileiras ou renques de árvores, em função das máquinas disponíveis na propriedade, isto é, conforme a largura da barra de pulverizadores, da semeadora e da plataforma da colhedora. 38

ILPF em números

TEMPO DE CRESCER Média de anos para o crescimentos das principais árvores produzidas no Brasil Ácacia Eucalipto

7 a 10 anos 5 a 7 anos 15 a 20 anos

Pinheiro Cedro Jatobá

8 a 10 anos 30 a 60 anos


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!

FIQUE ATENTO:

Se o terreno for plano, o plantio da floresta deve ser no sentido leste/oeste para aproveitar maior insolação nas entrelinhas. Em solos com declividade, o plantio deverá ser feito em nível, priorizando a conservação do solo.

O espaçamento mais amplo resulta em menor quantidade de plantas na área. A vantagem é o melhor acesso de máquinas no momento do plantio e dos tratos culturais. Da mesma forma, facilita a retirada da madeira, emprega menos mão de obra no plantio e tratos culturais. As desvantagens são a maior necessidade de tratos culturais e menor desrama natural.

O eucalipto é a árvore mais utilizada por produtores para utilizar os sistemas com componentes arboreos - Karina Mendez (produtora rural)

LINHAS DE PLANTIO Na ILPF, o plantio da floresta poderá ser feito em linha única, dupla, tripla ou quádrupla, em plantios com espaçamentos maiores entre renques, para permitir maior incidência de luz nas entrelinhas, de acordo com a finalidade do projeto. Ou seja, o agrupamento de mais ou menos árvores será decidido de acordo com a atividade desenvolvida em consórcio com a pecuária ou a agricultura. ILPF em números

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Subsolagem e adubação de plantio O eucalipto, assim como as demais espécies de rápido crescimento, se desenvolve melhor em solos bem preparados. Melhor resultado tem sido obtido com a subsolagem na linha de plantio a uma profundidade em torno de 60 centímetros, utilizando a adubação profunda com fonte solúvel ou parcialmente solúvel de fósforo. Essa operação é eficaz quando realizada com solo na faixa de umidade adequada. O subsolador rompe a camada endurecida abaixo da camada arável. A descompactação vai reduzir a densidade e elevar a porosidade do solo. Com isso, estimula-se o enraizamento e o crescimento das raízes das plantas, bem como aumenta-se a permeabilidade e a taxa de infiltração de água no solo. A subsolagem também contribui para a melhor incorporação dos adubos, uma vez que a adubação inicial da floresta é feita apenas na linha de plantio. Não havendo possibilidade de ser feita a subsolagem, a recomendação é fazer a abertura de covas com, no mínimo, 60 cm de profundidade. Distribuição das mudas Atualmente, a maioria das mudas de espécies florestais cultivadas é produzida 40

Plantio e Manejo da Floresta

em tubetes plásticos, com pequeno volume de substrato. Dessa forma, possuem baixa capacidade de armazenamento de água. Em caso de deficiência hídrica, seguida por elevadas temperaturas, as plantas podem enfrentar condições de estresse, comprometendo o índice de pegamento das mudas.

Hora de plantar O plantio deve ser feito imediatamente após o tratamento das mudas com produtos específicos, preferencialmente em dias chuvosos, pois o solo estará com umidade adequada, contribuindo para a sobrevivência da planta. Se houver estiagem, o produtor deve irrigar a terra no momento do plantio. A rega com um a dois litros de água por planta é suficiente para assegurar o pegamento das mudas. Outra indicação para o período de seca é fazer uso de hidrogel. Esse produto deve ser aplicado na cova imediatamente antes do plantio. Sua função é manter a umidade próxima às raízes da muda. A forma do plantio pode ser: manual, semi-mecanizado ou mecanizado, de acordo com a realidade de cada produtor. Deve ser analisada, ainda, a disponibilidade de mão de obra para a execução da tarefa, a declividade do terreno e o tipo de preparo de solo.


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Adubação de cobertura, controle de pragas e capinas De 30 a 60 dias após o plantio, é hora de fazer a adubação de cobertura. Ao mesmo tempo, deve ser mantido o controle sistemático de formigas e cupins. Os cuidados com a floresta também passam pela realização de capinas periódicas. A periodicidade do controle de ervas daninhas na área do plantio vai depender das características da vegetação invasora e da rapidez de crescimento das plantas cultivadas. Geralmente, pelo menos no primeiro ano de plantio, são necessárias três capinas, principalmente no período das chuvas. No segundo ano, são recomendadas duas roçadas e, no terceiro ano, apenas uma. O uso da capina não mecânica também pode ser adotado. A cultura que está sendo explorada economicamente deve ser protegida do contato com os produtos utilizados mediante o uso de barreiras de proteção. Na floresta de eucalipto, a capina deve ser feita até a árvore atingir três metros de altura. A partir do momento em que a planta atinge essa altura, o controle de plantas invasoras deixa de ser prioridade. Nos dois primeiros anos de implantação da floresta, o aconselhável é fazer a adubação de cobertura em duas parcelas, pois isso favorece o melhor enraizamento da planta. Até o terceiro ano da floresta é aconselhável continuar a fazer a adubação de cobertura. A adubação é sempre feita no período chuvoso. Pode ser feita duas vezes ao ano ou em uma única aplicação, de acordo com as características do solo, isto é: em solo arenoso, deve ser parcelada e, em solo argiloso, pode ser em dosagem única. Nessas adubações, de acordo com a indicação técnica, deve ser avaliada a necessidade de boro, cobre e zinco.

Muda O colo da muda deve ficar nivelado com a superfície do solo

Solo Replantio De 7 a 15 dias depois do plantio, deve ser feito o replantio. O produtor deve avaliar a porcentagem de falhas e, se for superior a 10%, decidir pelo replantio. Essa recolocação das mudas tem a finalidade de manter a densidade desejada do povoamento e diminuir a irregularidade de altura entre plantas. Por isso, as mudas utilizadas no replantio devem ter a mesma idade e dimensão das mudas já plantadas, para que não haja diferenças no crescimento. De acordo com as condições climáticas da região, poderá ser necessário irrigar as mudas uma vez por semana. A necessidade de rega será determinada de acordo com a orientação técnica. A irrigação artificial, nesse período de implantação das mudas, deverá continuar até o período das chuvas. FIQUE ATENTO: Tanto no plantio como no replantio e fundamental que as mudas sejam colocadas na profundidade adequada e que o solo seja compactado ao seu redor para a retirada do ar

Plantio e Manejo da Floresta

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Desrama A desrama ou poda lateral consiste na retirada dos galhos laterais das árvores até no máximo 1/3 da sua altura. No eucalipto, ela deve ser realizada preferencialmente no período da seca, quando o diâmetro de altura do peito (DAP) atingir 8 a 10 cm. A desrama deve ser repetida mais uma ou duas vezes, conforme a necessidade e objetivo da produção florestal. Para a produção de lenha para carvão, a desrama não é necessária, porém é aconselhável, uma vez que vai permitir maior penetração de luz nas entrelinhas, o que favorece a lavoura e a pastagem que estão intercaladas com as linhas de floresta. Do quarto ao sexto ano do plantio, de acordo com as condições de desenvolvimento da floresta, é possível fazer desbaste ou raleio com o corte seletivo de árvores, para a produção de lenha para energia e de estacas para tratamento visando à utilização em cercas, currais, pergolados, construção de parques infantis etc.

Corte das árvores, rebrota Se o produtor desejar antecipar a receita da floresta, pode aproximar mais as plantas no momento do plantio, deixando uma distância entre elas de 1,5 a 2,5 m. Assim, entre o quarto e o sexto ano, o produtor fará o desbaste retirando linhas e intercalando o desbaste entre plantas na linha seguinte e assim sucessivamente, podendo destinar a madeira para produção de estacas para tratamento. As árvores que sobrarem, mais espaçadas, podem ser conduzidas para a produção de madeira para serraria ou postes para eletrificação. Se a opção for a produção de madeira, é preciso eliminar a rebrota sucessivamente, utilizando os diversos métodos possíveis, até as árvores que estão sendo conduzidas atingirem o ponto de corte. Já se o objetivo da floresta 42

Plantio e Manejo da Floresta


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for a produção de lenha para carvão, no sexto ou sétimo ano após o plantio é possível fazer o primeiro corte. Nesse caso, o produtor conduzirá a brotação fazendo o desbaste dos brotos mais fracos, deixando de um a três brotos mais fortes, distribuídos de forma equidistante no tronco. Devem ser retomadas as adubações de cobertura, conforme recomendações técnicas. O segundo corte é feito entre o sexto e o sétimo ano. Esse processo pode ser repetido uma última vez. Aí já é hora de renovar a floresta. Manejamento de tocos de árvores após os cortes Se o planejamento foi adequado, as faixas de terra onde foram plantados os renques arbóreos são determinadas para a produção de madeira. Assim, depois do corte das árvores, novas

mudas poderão ser plantadas nos espaços entre os tocos deixados para apodrecerem no local. É desejável que os tocos e as raízes permaneçam no local e se transformem em matéria orgânica para o solo da área. Muito do que se espera de fixação de carbono pelas árvores em sistemas de ILPF está justamente nas raízes que ficam no solo. Nos desbastes e/ou colheita, o corte das árvores deve ser feito rente ao solo, pois isso favorece a morte do toco e seu apodrecimento. Algumas espécies arbóreas têm alta capacidade de rebrota e algumas práticas podem ser adotadas para a eliminação da brotação: 1) descolamento da casca do toco; 2) corte rente ao solo e enterrio do toco; 3) aplicação de herbicida; 4) combinação das práticas 1, 2 e/ou 3.

Plantio e Manejo da Floresta

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Conclusão O sistema ILPF representa uma grande oportunidade de negócio. Há mercado potencial e em crescimento para grãos, carne e leite e, especialmente, madeira. A grande demanda por energia, e consequentemente, a crescente necessidade de plantio de eucalipto para transformação em carvão colocam a madeira das florestas de eucalipto como um produto de venda assegurada. Na integração, a receita que a lavoura e a pecuária proporcionam cobrem os custos de implantação da floresta. Esta é conhecida como poupança verde, pois a receita da madeira é lucro. Entre as alternativas de floresta, o eucalipto é a mais versátil, por ser mais adaptável e exigir menos tempo para o corte. Em uma pastagem revigorada do sistema ILPF, é possível manter de duas a três cabeças de gado por hectare, no lugar de, no máximo, uma por hectare na criação extensiva. Na pecuária extensiva, o produtor ganha de R$ 150,00 a R$ 250,00 por hectare/ ano. Na ILPF, o ganho pode ser de R$ 1.500,00 a R$ 2.500,00 por hectare/ano. Para a lavoura, a ILPF reduz a incidência de pragas, doenças 44

ILPF em números

e ervas daninhas com a rotação de culturas. Essa prática também diminui o uso de insumos. Para o gado, proporciona uma maior oferta de alimento (capim) de qualidade, inclusive na entressafra, e conforto térmico com o sombreamento ofertado pela floresta. O cultivo da floresta com finalidade de uso nobre da madeira (postes, serraria, construção civil etc.) poderá gerar, num futuro breve, uma renda extra com a comercialização de créditos de carbono sequestrado na madeira, além de contribuir para a redução do aquecimento global e para a mitigação do desmatamento. O produtor reduz riscos e dribla dificuldades que possam surgir, como as climáticas ou de mercado. O estabelecimento do sistema ILPF também melhora a oferta de trabalho no campo, devido à redução da sazonalidade no uso da mão de obra. A alternância das atividades lavoura, pecuária e floresta também é positiva, pois essas atividades exigem mão de obra mais especializada, o que pode reverter em ganho para o trabalhador, que, devidamente capacitado, terá uma remuneração melhor.


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ILPF em números

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