gabriel demasi
1. eu 2. como penso imagens 3. livro 4. fotografia analógica 5. fotografia digital — celular 6. fotografia digital — câmera 7. textos 8. inspirações 9. cv
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“Somos aquilo para que olhamos”, escreveu o poetaJoseph Brodsky. Sou cor, forma, contorno, rosto, marca,movimento, meus olhos pertencem ao mundo. Sou Gabriel.Nasci e cresci em Campinas, no interior de São Paulo. Filhode Ana e Renato. O mais velho de três irmãos.
eu
Me formei em Comunicação Social - Jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro no final de 2016 e voltei para Campinas, onde minha família vive. Fiquei sem trabalho e acabei caindo de paraquedas no negócio da minha mãe, uma floricultura. Gostei da parte criativa, talvez por isso tenha levado tempo para entender que não é minha praia ter um negócio, e que devo seguir meu desejo. Meu desejo é aprender, praticar e trabalhar na indústria audiovisual. Na minha trajetória profissional, desde a época da faculdade, quando vivia no Rio e tinha que trabalhar para me sustentar, a prioridade sempre foram os estudos e a sobrevivência em si. Por isso, tive vários trabalhos que naturalmente foram surgindo: como jornalista, como revisor numa editora e, por fim, com cinema. Demorei para me dar conta de que uma vida tradicional, de procedimentos automáticos e burocráticos, não me preenche a alma, e acabei me afastando da arte. Agora, mais velho e experiente, vejo que não há escapatória. Minha vida sem arte não é vida.
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março de 1997
novembro de 1997
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Em suma, redijo, reviso, produzo, fotografo e também faço arranjos florais. Gosto de tudo que é cor, forma e movimento. Polivalente, multiuso, porque sei fazer muitas coisas, e curioso sobre tudo aquilo que ainda tenho que aprender. Na minha experiência em cinema, o que mais me fascinava não eram exatamente minhas tarefas de assistente de produção ou de direção (no backstage com os figurantes), e sim os raros momentos em que podia ficar um pouquinho, quase escondido, perto da diretora, ou do diretor de fotografia, observando as atrizes atuarem, a câmera, os movimentos, vendo como dirigir, enquadrar, como seguir o roteiro para dar vida ao que estávamos fazendo ali. 2002
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Minha relação com a linguagem se desdobra, com o passar dos anos e ao longo da criação de um repertório intelectual e afetivo, na direção de uma experiência de vida intrinsecamente ligada à narrativa: sentir o mundo e criar através de imagens que contam histórias. As percebo, registro e passo adiante. Desde os primórdios da minha formação, sempre me chamaram especialmente atenção as histórias que se passam em outros tempos e lugares. Para um menino de 4, 5 anos, era fascinante entender que Bela dizia “Bonjour, Madame!” porque estava naFrança, que a França era outro país, outro lugar, onde as pessoasfalam de outro jeito, se vestem de outro jeito, como Da Vinci queviaja no tempo e é recebido por Morgana em seu castelo nomeio de São Paulo. Já eram indícios de tempo e espaço. Maistarde, um requinte: era tudo mentira
2009
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Faço com instinto. Com sentimento. Sem muitos conhecimentos técnicos. Preciso aprender. Praticar. Trabalhar duro. Para me sentir realmente capaz de fazer audiovisual. E poder fazer com que a arte seja profissão, e não passatempo. Com esse portfólio, quero mostrar meu olhar
Descobri que as histórias são inventadas. Mas, ufa!, em algo ainda podia acreditar: a história da princesa Anastasia era real, e aquelas construções majestosas com pontas coloridas eram Moscou, aquela torre de ferro está em Paris e tem nome, Eiffel, e os vestidos de baile não eram feito por fadas-madrinhas, eram roupas de verdade que as pessoas usavam, diferentes das que eu via em Campinas — ou mesmo na mágica São Paulo —, porque nós estávamos em 1998 e eles, em 1900. Assistia muitas novelas também. Aprendia, então, presente e passado, hoje e outrora: tempo que passa em cada lugar, gente de cada lugar. E aprendia, gradualmente, a distinguir realidade, ficção e os diversos matizes entre elas.
2018
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Como afirma Martín Barbero em Os exercícios do ver, “a televisão ocupa um lugar estratégico nas dinâmicas da cultura cotidiana das maiorias, na transformação das sensibilidades, nos modos de construir imaginários e identidades”. Vejo a vida como se fosse filme. Quando estou com a câmera na mão, criando imagens estáticas, me pergunto o que diriam os personagens, como agiriam. O momento do disparo, da cena que se compõe para mim, é um presente. É um dos momentos da vida que mais gosto de viver. E sinto quase que o dever de registrálo porque conta uma bela história.
semana pasada
e a bagagem que carrego, de imagens, filmes, todo tipo de inspiração. Gostaria que ficasse claro que agora, com a fotografia, faço o que me vem naturalmente, com um objetivo estético, formal, que por ora é estático, mas que acredito ter potencial de tornar-se movimento, cena, diálogo, enquadramento. Minha aposta é que com prática e novas ferramentas, isso tudo pode ser sistematizado em algo mais completo e consistente. Recolher tudo que aprendi no caminho e aplicar em uma prática artística profissional. Ao terminar o intenso processo de seleção do material para o portfólio, depois de revirar meus arquivos, reler textos, rever as fotos, fiquei com a forte sensação de que me dedicaria a isso com enorme prazer todos os dias da minha vida. Que assim seja. 9
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como penso imagens
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Com a fotografia, busco reencantar o mundo. Repovoar o imaginário. Revelar, contar e recontar cenas. Ver e fazer ver histórias. Graças às narrativas que me antecedem, posso contar minha própria vida e ver o cenário da minha vida como um cenário possível de uma história. Sou um caçador de imagens nas ruas, capturando instantes, criando poéticas, estéticas, narrando minha própria vida e a dos que vejo. E o tempo: fotografar para reencontrar vestígios do passado, esquadrinhar o presente e projetar o futuro. É notável a presença de significantes icônicos, referências ao meu repertório cultural, afetivo, que repercutem na apreensão do leitor, que por sua vez interpreta segundo seu próprio universo. Como na teoria da iconofagia, de Baitello Junior — imagens devoram imagens; homens devoram imagens; imagens devoram os homens —, as imagens que produzo são ecos, repetições e reproduções de outras imagens.
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Somos novas imagens, recicladas, criamos novos ícones. Imagens são, nesse sentido, indomáveis: não são de ninguém, são pura expressão das ideias que representam. Em toda imagem há alguma referência às imagens que a precederam. Tomemos os filmes de Almodóvar — cuja vida está “determinada pela cor, se experimenta pelo excesso de cor — como ícone: suas cores se alimentam do imaginário latino, do barroco, da Coroa Espanhola, do México. Imortalizado por artistas como Frida Kahlo, que, por sua vez, tinha como ícone a tradição maia de adoração ao sol. Esse labirinto de referências está povoado por imagens que se devoram umas às outras. Os tons quentes, o vermelho e o amarelo, tão caros a Almodóvar, a Frida e à arte latina, não pertence a eles, são ideias de alegria, de calor, de uma vibração, são ícones. O que pretendo agora é colocar esses ícones em movimento, com o audiovisual. Por em prática minhas ideias visuais, com a magia da imagem em movimento.
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livro
Páginas do TCC Insta dizer: imagens, palavras e o poder da narrativa, produzido em 2016 sob orientação da Profa. Dra. Maria Cristina Franco Ferraz, da Escola de Comunicação da UFRJ.
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esboços das primeiras versþes do livro
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CINEMA - Allen dá sua festa à francesa
Terça, 28 de Maio de 2019..21:03 (-2 GMT)
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CINEMA - Allen dá sua festa à francesa Sex, 17 de Junho de 2011 12:40 (BR Press) - Batem os sinos da igreja. É meia noite. Um Peugeot antigo aparece na rua e convida o homem sentado nos degraus da escada a adentrar o universo de seus sonhos: os anos 20 parisienses. Cole Porter, Gertrude Stein, Dali, Buñuel, Hemingway, T.S Elliot, Picasso, Zelda e Scott Fitzgerald, Man Ray... Todos estes artistas e intelectuais estão reunidos em uma festa. E é para esta festa que Woody Allen convida o espectador em Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011), seu novo filme que estreia no Brasil nesta sexta (17/06).
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Marion Cotillard e Owen Wilson em cena de Meia Noite em Pari...
Allen apresenta a história de Gil Pender (Owen Wilson), um escritor californiano que viaja à Paris com sua futura esposa e seus sogros. Pender tem dificuldades para escrever seu romance e para aceitar que sua vida não é o que desejava. Ele sente nostalgia de um tempo que nem mesmo viveu. Até que descobre uma passagem para o que considera a "era de ouro". À meia noite ele deixa sua esposa no hotel para receber conselhos dos grandes mestres da literatura e se apaixonar por Adriana (Marion Cotillard), bela jovem francesa, amante de todo o círculo de surrealistas.
Textos escritos para O Redentor, revista do Festival de Cinema do Rio (edições de 2012 e 2015), colaborações para blogs de cinema, resenhas para a faculdade e textos pessoais.
Alter-ego em cartão postal Owen Wilson interpreta um personagem que é claramente o alter-ego do diretor que, em Meia Noite em Paris, não atua mais. Desajeitado, existencial, Wilson foi muito bem dirigido e atua com graça no papel do eterno sonhador.
CONTEÚDO Licenciamento Imediato Arquitetura Artes, Cultura e Entretenimento Beleza Comportamento Ciência Conflitos Diversos Decoração Design Economia, Negócios e Finanças Educação Esportes Geral
Neste possível blockbuster, vemos a verve do realismo fantástico de A Rosa Púrpura do Cairo misturada à leveza da comédia romântica e da metalinguagem.Diferente do filme anterior, Vicky Cristina Barcelona, com seus mosaicos, cores quentes e música vibrante, desta vez Woody Allen escolheu o glamour de Paris para enaltecer, como se mostrasse a um amigo cartões postais ou fotos de uma viagem deslumbrante. Ao longo de todo o filme, o diretor de fotografia iraniano Darius Khondji brinca com tons de bege e dourado – a aura da Cidade Luz – e encanta com longos planos-sequência, cenas sem corte em que a câmera acompanha o caminhar dos atores pelos bulevares e margens do Sena. Madame Bruni-Sarkozy Além das boas atuações de Rachel McAdams, Kathy Bates e Adrien Brody, Madame Bruni-Sarkozy também aparece na trama, em três cenas carregadas de sotaque frenchie. Porêm, poderia ser qualquer outra bela mulher francesa. Num golpe de marketing, Allen preferiu chamar a primeira-dama da França. No roteiro do cineasta nova-iorquino ainda vemos sua sagacidade e seu excêntrico senso de humor, mas há uma visível alteração no ritmo. Aos 75 anos, Woody Allen trocou de marcha. Do fulgor de Penélope Cruz para o charme de Marion Cotillard – o que, convenhamos, não teve o menor problema! Meia Noite em Paris não é um grande filme, mas retrata, com o primor de um mestre talvez já "açucarado" pela idade, uma belíssima cidade. Se em Paris É Uma Festa, Ernest Hemingway rendeu sua homenagem à capital francesa, sob a lente de Allen, Paris ganha mais uma declaração de amor. (Gabriel Demasi/Especial para BR Press)
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Midnight em Pânico
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Você sabe quem foi Wes Craven? Se você foi adolescente nos anos 1980 e já teve pesadelos com Freddy Krueger, ou nos 1990 e teve medo de ver o Ghostface, ou mesmo se viu esses ícones do terror reunidos em Todo mundo em pânico, nos anos 2000, então você sabe. Craven dirigiu os clássicos A hora do pesadelo e Pânico, entre outros sucessos. Em homenagem ao diretor, falecido em agosto, ao 76 anos, o Festival do Rio exibirá Pânico dentro da programação da mostra Midnight Movies. Nascido em 1939 em Cleveland, Craven foi o grande nome do subgênero do cinema de horror batizado de slasher movies (do inglês “slash”, que significa golpear com faca ou punhal), em que um serial killer aterroriza a
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sessões de gala
vida dos personagens sem um motivo aparente. Com Pânico, o diretor reinventou novamente o terror moderno. Mostrando a vida de jovens privilegiados de uma pacata cidade do interior da Califórnia, assombrados pela eminente presença de um assassino, o diretor marcou uma geração, trazendo ídolos como Neve Campbell, Rose McGowan, Drew Barrymore e Courteney Cox, então no auge de sua fama com o seriado Friends. “Era uma combinação de um esperto comentário social, sustos e diversão. Tudo embalado em um ritmo novelesco com um mistério no ar”, afirmou no lançamento do quarto filme da franquia, em 2011. Criado em um ambiente familiar de regras pro-
gALA sCReenings
testantes muito rígidas, Craven também critica o moralismo norte-americano através dos grupos que retrata: “A família é o melhor microcosmo para se trabalhar. Cresci numa família branca, de classe média, muito religiosa. Havia muitos segredos permeando as relações. Sentimentos e argumentos eram imediatamente refutados. E comecei a ver que enquanto nação, estávamos fazendo a mesma coisa”. Pânico é também recheado de metalinguagem, com diversas referências ao cinema de horror, tanto em tom de sátira como de homenagem. Na trama, o assassino liga para as suas vítimas e faz perguntas sobre filmes emblemáticos do gênero, e os personagens, envolvidos na atmosfera de tensão do
assassino à solta, discutem clichês do cinema e inclusive assistem ao clássico Halloween – A noite do terror, do mestre John Carpenter. Wes Craven faleceu no dia 30 de agosto, em sua casa, em Los Angeles, vítima de câncer, deixando uma grande legião de fãs e filmes emblemáticos da história do cinema. O Festival do Rio presta esta homenagem, relembrando o melhor de seu cinema. Por Gabriel Demasi
Confira os horários de PâniCo na Programação: 3/10, 23h59 – Cine Odeon – CCLSR 13/10, 21h30 – Cinépolis Lagoon 6 14/10, 16h30 – Kinoplex São Luiz 1
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Otelo de Shakespeare a Welles: a problemática da adaptação by Gabriel Demasi Otelo, o Mouro de Veneza, texto de William Shakespeare escrito por volta de 1600, foi a segunda obra que o cineasta estadunidense Orson Welles adaptou para o cinema – ele inclusive havia feito diversas montagens teatrais no início de sua carreira, nos Estados Unidos. Welles, que dirigiu o filme e atuou como o protagonista, o general mouro, com o rosto pintado de preto, enfrentou muitas dificuldades durante a produção do filme e falta de orçamento para concluir o projeto, que se estendeu por 14 anos entre as décadas de 1940 e 1950. Rodado em Veneza e no Marrocos, uma das principais questões foi a engenharia de som, que não era adequada para as cenas externas; muitas cenas foram dubladas posteriormente. O próprio diretor não chegou a ver o filme finalizado. Em 1992, Michael Radford restaurou o filme, melhorando a qualidade da imagem e dos efeitos sonoros, com a aprovação da filha de Welles. A recepção da crítica e do público em relação ao filme não podia ser menos controversa, já que toda adaptação por si só automaticamente desencadeia uma série de julgamentos dos espectadores, ávidos por comparar e analisar as escolhas do roteiro e da direção – e isso fica ainda mais grave em se tratando de Orson Welles, que já era uma figura aclamada no cinema, e, sobretudo, por falarmos de Shakespeare, um dos bastiões da cultura anglo‑saxã. Poderíamos talvez comparar a empreitada de Welles ao filmar uma obra de Shakespeare, aos olhos anglo‑saxões, com Manoel de Oliveira se filmasse baseado em Camões ou Fernando Pessoa, para a cultura portuguesa, ou Nelson Pereira dos Santos com seu Vidas Secas, de Graciliano Ramos, para a cultura brasileira. Houve muita crítica quanto à velocidade dos cortes, à descontinuidade das tomadas e à ênfase na visualidade em detrimento do texto, julgando o resultado infiel à peça. Por outro lado, houve também quem compreendesse a decoupagem veloz como algo autoral, uma escolha estética do diretor, com ângulos inusitados e uma linguagem sombria e claustrofóbica emprestada dos filmes noir, que Welles explorou tão bem em sua vasta obra. Orson Welles no set no Scala, em Mogador
https://gabrieldemasi.wordpress.com/2016/02/02/oteloomourodevenezadeshakespeareothellodeorsonwelleseaproblematicadaadaptacao/ 1/4 A dramaticidade do texto – que expressa a agonia do herói, com uma estrutura circular, se abrindo e
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“Sinto falta das câmeras” A priori, não é possível entender qual a intenção do diretor Leos Carax com o filme Holy Motors. A atmosfera ora de suspense, ora de ficção científica dá a impressão de que sempre algo está por acontecer, de que algo será revelado em breve, mas isso não se dá: a trama gira em torno de um homem, Monsieur Oscar, que roda por Paris em uma limusine branca e recebe missões, para as quais se prepara, se maquia, e atua em cada momento como um determinado personagem. Por mais que busquemos explicações para essa rotina, não fica claro por que ele tem esse trabalho, se faz parte de uma máfia ou seita, e qual o objetivo dessas ações. A cidade é real, mas a história é fantasiosa e esses detalhes não são explicados. Aos poucos, começamos a perceber que talvez não haja mesmo nenhuma intenção pré-determinada, a não ser a de chocar com boas histórias. Faz falta às vezes no cinema algo que seja apenas uma história, sem intenção. Esse personagem ator que se prepara para interpretar diversos personagens durante o dia, é uma metáfora dos papeis que todos nós acabamos fazendo na vida? Representa nostalgia do diretor, que quer retomar seus próprios papeis? Ou, no fim das contas, é um filme sobre atuação, sobre o cinema? Ou sobre a vida mesmo? O mais provável é que esses elementos presentes na trama sejam referências cinematográficas do diretor, cenas marcantes que ele quis evocar. Aliás, o personagem principal carrega no nome a semelhança com o diretor (Leos Carax 50
é um anagrama de seu nome real, Alex, com o nome Oscar) e é também o nome da premiação de Hollywood – e tem a cabeça careca igual à da estatueta. Além do figurino e da caracterização impressionante com a maquiagem, que o fazem mudar totalmente de expressão, vemos através da montagem ágil e cativante o uso do recurso da pantomima. Na Roma antiga, era a representação dramática com um dançarino solista e um coro narrativo. Ou ainda, em termos teatrais, é a representação de uma história exclusivamente através de gestos, expressões faciais e movimentos, especialmente no drama ou na dança. Após interpretar alguns papeis durante o dia, em seus “compromissos”, Oscar é questionado por seu chefe, em uma conversa no interior da limusine. Ele pergunta se Oscar ainda gosta do que faz, porque algumas pessoas não têm acreditado em sua atuação. Oscar responde: “Sinto falta das câmeras, antes elas eram maiores do que nossas cabeças, hoje não dá nem para ver. Assim fica difícil de acreditar”. A última cena do filme mostra a garagem da Holy Motors, e só aí entende-se o título do filme. No interior, vemos todas as limusines estacionadas. Elas começam a conversar entre si. Uma delas diz: “Logo, logo, vamos ficar obsoletos. Os seres humanos não querem mais ação, não querem mais motores”. Leos Carax aparentemente tenta anunciar os dias contados do cinema como se fazia até então.
*Resenha produzida para a matéria de Linguagem Audiovisual
“É o que tivemos de melhor” Da torrente de falas descontínuas e desconexas dos personagens, alter-egos do diretor, duas se sobressaíram: “Ça m’est égal” (A mim, dá no mesmo) e “Je fais l’image” (Eu faço a imagem). Depois de terminar de assistir ao filme, percebo que não foi por acaso, que já estava no “caminho” que Godard provavelmente pretendia que seguíssemos. Porque é essa a sensação que o conjunto da trama transmite mesmo, sensação de que Godard pintou e bordou uma colcha de retalhos de livres associações, de suas referências, de seus questionamentos mais íntimos e primitivos. Em Adeus à linguagem, ele logo no início (e mesmo logo no título também) anuncia que dessa vez, vai falar de nada. E de tudo. Godard usa um homem e uma mulher – “e se for preciso, coloco até um cachorro que faça mais sentido do que a humanidade”, deve ter pensado ele, e de fato o cachorro está aí – para retratar o zero e o infinito, a vida e a morte, o sexo, o amor, as estações do ano, a chuva, a neve, o fogo, fazendo uma colagem fragmentária da existência humana. Por isso também ele separa “A natureza” e “A metáfora”: Godard mostra uma mulher que fala truncado, balbuciando, pedaços de conversas que não são terminadas, reações aleatórias, o nonsense mais rudimentar do homem – “resta saber se o não-pensamento contamina o pensamento”, ele adverte – representando a filosofia mais pura, natural, e o ridículo da metáfora, da fala, da sofisticação de relações quando por si só o homem já não se sustenta e é mais nonsense e não-pensamento do que um cachorro. Afinal, “o homem é cego por sua consciência”. Com um roteiro cíclico e falas que se retomam e se repetem ao longo do filme, ele cria jogos de sentidos e significações
com as palavras, com o tom e o ritmo da fala, e muitos trocadilhos e experiências sonoras e linguísticas que não são compreendidas em português. Godard brinca com o ver, o não ver, em imagens embaçadas, em vaivém, deixando pontas soltas nessa montagem, mas que dão sinais, como o vermelho do sangue da banheira, o vermelho das flores, o vermelho do close na aquarela no godê. Como Monet, que ele cita na cena da chuva e do limpador de para-brisas, ele “pinta para não ver”. Ele experimenta linguagens, cortes, ângulos, sobreposições, e inclusive a escolha pelo 3D já indica que sua pretensão é ser apreendido, e não compreendido. Com exceção de algumas parcas cenas com mais começomeio-fim – como quando o casal está sentado na beira da cama, em frente a outro casal na tela da TV, talvez um aceno às cenas emblemáticas da Nouvelle Vague – Adeus à linguagem é puro não-pensamento. “Aqueles que não têm imaginação buscam refúgio na realidade”. Vocês vão procurar nexos, respostas, realidade..., mas não há, pensou Godard. Ele tira sarro dos céticos. Monta insanidade, esbanjando imaginação, explorando cores, diálogos, ângulos, e o espectador tenta encontrar alguma realidade nisso. Aos 80 anos, chutou o balde, não faz mais política, não dissemina ideologia. Ele pode fazer o que quiser. “Adeus, linguagem. Não preciso mais disso”, poderia ter exclamado. E opta por usar a beleza, a imagem, as dimensões do plano: o que há de mais rudimentar, primordial e elementar, e ao mesmo tempo mais assustadoramente complexo. Porque, no fim das contas, Flaubert tinha razão: “é o que tivemos de melhor”.
*Resenha produzida para a matéria de Linguagem Audiovisual
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1. Henri Matisse, “O quarto vermelho”, 1908. 2. Edward Hopper, “Nighthawks”, 1942. 3. Tarsila do Amaral, autorretrato de 1923. 4. Toulouse-Lautrec, “Ambassadeurs: Aristide Bruant”, 1892. 5. “Deserto vermelho”, Michelangelo Antonioni, 1964. 6. “Beleza Roubada”, Bernardo Bertolucci, 1996. 7. “Cópia Fiel”, Abbas Kiarostami, 2011. 8. “A single man”, Tom Ford, 2010. 9. William Eggleston, “Los alamos” series, 1965-1968. 10. “Central do Brasil”, Walter Salles, 1998. 11. “A câmera de Claire”, Hong Sang-soo, 2017. 12. “Aquarius”, Kleber Mendonça Filho, 2016. 13. “Bologna”, Luigi Ghirri, 1973. 14. “La ciénaga”, Lucrecia Martel, 2001. 15. “Hiroshima mon amour”, Alan Resnais, 1959. 16. “Roma”, Alfonso Cuarón, 2018. 17. “Os sonhadores”, Bernardo Bertolucci, 2003. 18. “Terra em transe”, Glauber Rocha, 1967. 19. “Cléo das 5 às 7”, Agnès Varda, 1962.
20. “O som ao redor”, Kleber Mendonça Filho, 2012. 21. C.R.A.Z.Y, Jean-Marc Vallée, 2005. 22. “Bruno smoking a joint (Valerie’s legs), Paris 2001”, Nan Goldin. 23. Casa Modernista de los años 1930 en el barrio donde viví en la infancia, en Campinas, São Paulo, Brasil. 24. Bauhaus, década de 1920, Alemanha. 25. Casa Azul de Frida Kahlo, Ciudad de México, 1904. 26. Página del libro “El design del siglo XX”, que me regalaron cuando niño. 27. Dibujos del autor, tipos humanos d’àprès “El design del siglo XX”. 28. “Todo sobre mi madre”, Pedro Almodóvar, 1999.
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Formação acadêmica Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
cv
Trabalho de Conclusão de Curso: trabalho prático (livro) Insta dizer: imagens, palavras e o poder da narrativa, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Cristina Franco Ferraz.
Experiências profissionais Taiga Filmes (Rio de Janeiro, RJ) 2014 - 2016
Assistente de produção (Em três atos, 2014) e Terceiro Assistente de direção (Praça Paris, 2016), da diretora Lucia Murat.
Festival Internacional de Cinema do Rio (Rio de Janeiro, RJ) 2012 - 2015
Repórter nas edições de 2012 e 2015.
Editorial Objetiva (Rio de Janeiro, RJ) 2012 - 2015
Revisor.
CDN Comunicação (São Paulo, SP) 2017
Análise, pesquisa monitoramento. Produção de relatórios em inglês e português.
Outras experiências
Idiomas
Curso na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage), Rio de Janeiro, “Fundamentação”, estudos do plano, do espaço, teoria e história da arte, Agosto a Dezembro de 2012.
Francês Espanhol Inglês
Intercâmbio acadêmico na Universidad de Buenos Aires, na Facultad de Periodismo, em 2013. Intercâmbio na França ("Première Littéraire”, segundo ano do ensino médio, no Lycée International de Ferney-Voltaire, 2009-2010).
gabriel demasi São Paulo, Brasil
16/04/1992
carvalho2gabriel@hotmail.com memoriadacor gabrieldemasifoto gabrieldemasi.wordpress.com
Atualmente aluno do Grupo de Estudos em Fotografia, do fotógrafo André Penteado, em São Paulo.
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