TGI II | Da Moradia à Cidade: Intervenção Urbana na microbacia do Enxofre em Piracicaba

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DA MORADIA À CIDADE | INTERVENÇÃO URBANA NA MICROBACIA DO ENXOFRE EM PIRACICABA

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DA MORADIA À CIDADE

INTERvENÇÃO URBANA NA MICROBACIA DO ENXOFRE EM PIRACICABA



Fotografia da Capa | Favela Cantagalo em Piracicaba Original Antonio Trivelin | Modificação da autora

DA MORADIA À CIDADE

INTERVENÇÃO URBANA NA MICROBACIA DO ENXOFRE EM PIRACICABA

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO II GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CAPS David Moreno Sperling Joubert José Lancha Simone Helena Vizioli Luciana Bongiovanni M. Schenk Coordenador GT Paulo Yassuhide Fujioka


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Autorizo a reprodução e divulgação total e parcial deste trabalho, por qualquer meio, comvemcional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.


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banca examinadora

Luciana Bongiovanii M. Schenk

Paulo Yassuhide Fujioka

Ana Maria Reis de Goes Monteiro

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Conceito final ___________

Data ___________


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Agradecimentos A todos os professores, em especial, aos orientadores desse trabalho: Paulo, Luciana e Lucia (no primeiro semestre). E também aos meus orientadores de iniciação científica, que acompanharam todo o processo: professores Eulalia e Miguel. Agradeço pela orientação, atenção e toda transmissão de conhecimento. Ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo, que me despertou novos olhares e questionamentos, que me encaminharam para a proposta desse trabalho.

Fotografia | Favela Cantagalo em Piracicaba Autor | Antonio Trivelin

Agradeço aos meus pais e minha família, pelo exemplo e apoio incondicional; e aos amigos, pela partilha de experiências, companheirismo e suporte quando preciso.


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RESUMO “Basta abrir os olhos para compreender a vida cotidiana daquele que corre de sua moradia para a estação próxima ou distante, para o metrô superlotado, para o escritório ou para a fábrica, para retomar à tarde o mesmo caminho e voltar para a casa a fim de recuperar as forças e recomeçar tudo no dia seguinte. O quadro dessa miséria generalizada não poderia deixar de se fazer acompanhar pelo quadro das “satisfações” que a dissimulam e que se tornam os meios de eludi-la e de evadir-se dela.” (LEFEBVRE, 2011, P.118) A proposta desse trabalho visa espacializar o conceito de direito à cidade e direito à moradia. Pensar o direito à moradia não é somente pensar um lugar para residir, mas refletir sobre qual a cidade que se tem acesso a partir desse lugar. O projeto, dessa forma, trata-se de uma intervenção urbana buscando aliar o projeto de moradia e de cidade: habitação, equipamentos e espaços livres; em um trânsito de escalas que procura abordar a importância da conexão entre o morador e o urbano para a garantia do direito à cidade a todos.


SUMÁRIO As QUESTões............................11 INSERÇÃO URBANA ...................23 PROPOSTA...............................45



as questĂľes


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o direito | à moradia à cidade Qual a função social da cidade? A cidade está destinada a um plano urbanístico ocluso ou é resultado da ação de diferentes agentes com interesses diversos que alteram toda a práxis urbana? Para Lefebvre, sociólogo francês do século XX, o ser humano possui necessidades antropológicas (ver, ouvir, tocar..), necessidades específicas (relacionadas ao imaginário e ao simbólico), e a necessidade de reunir essas percepções num “mundo”. Seria esse mundo a cidade? Para o sociólogo Robert Park, sua concepção de cidade se resume “a tentativa mais bem-sucedida do homem de reconstruir o mundo em que vive o mais próximo do seu desejo. Mas, se a cidade é o mundo que o homem criou, doravante ela é o mundo onde ele está condenado a viver. Assim, indiretamente, e sem qualquer percepção clara da natureza da sua tarefa, ao construir a cidade o homem reconstruiu a si mesmo.” (PARK, 1967:3)1

Porém, todo ser humano, independente de renda, etnia, religião, possui o mesmo poder de transformação do espaço em que vive? Vemos que não. E qual o papel dessa cidade

na vida do homem? Quais os processos estão colocados a ela? Segundo Harvey, vivemos em uma sociedade na qual os direitos de propriedade privada e a questão do lucro estão acima de outros ideais de direitos. Principalmente no Brasil, a concentração de terra está intimamente relacionada à concentração de renda e de poder político. Dentro desse ponto de vista, a cidade é tratada como mercadoria, sem se refletir sobre seus outros aspectos, como sociais, culturais e ambientais. Dessa forma, procurando contrapor essa ideologia, uma das discussões que se pauta na formação do arquiteto

Fluxograma de autoria própria

¹ Apud HARVEY, 2012, p.73


² Dado disponibilizado na disciplina IAU2112: Informalidade urbana e regularização da terra e da moradia. Esse número foi divulgado por um Relatório da ONU em 2016. ³ No livro “O que todo cidadão deve saber sobre habitação”, há a citação do artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos por Flávio Villaça.

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e urbanista é a questão do direito à cidade, tendo como base alguns autores como Lefebvre e Harvey. Pode se pensar o direito à cidade como o direito a ter acesso a tudo aquilo que a cidade possui ou deveria possuir: moradia, escola, hospital, mobilidade, saneamento básico… Porém, como foi colocado acima, devido alguns direitos estarem acima de outros, nem todos os cidadãos têm acesso a esses serviços que deveriam estar garantidos a eles só pelo fato de serem habitantes dessa cidade. Para Henri Lefebvre, idealizador do conceito de direito à cidade devido ao seu livro Le droit à la ville, de 1968, coloca a manifestação do direito à cidade como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. Para o sociólogo, “o direito à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto do direito à propriedade) estão implicados no direito à cidade.” (LEFEBVRE, 2011, p.134). Lefebvre coloca o habitar e o habitat como ponto importante em sua concepção de direito à cidade. Pensando numa inversão de escalas, pensa-se na habitação, importante para a compreensão da produção do espaço urbano. E o direito à moradia? Um dos principais direitos que move os movimentos sociais brasileiros é a luta pelo direito à moradia, um direito que se encontra aliado ao direito à cidade. Porém, o déficit habitacional e a quantidade de pessoas que encontram-se em moradias distantes de serem dignas de sobrevivência é alto. Atualmente, mais de 900 milhões de pessoas moram em favelas em todo o mundo. ²

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Mas qual é a principal reivindicação? É apenas ter um teto onde se abrigar? O direito à habitação é inclusive incluído na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo 25:

“Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família, saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle…” (VILLAÇA, 1986, p.11) ³

Logo, o direito à moradia vai muito além do fato de se ter uma propriedade, tem a ver com o alcance a equipamentos de saúde, educação, lazer e transporte para garantir esse acesso. Dessa forma, políticas habitacionais são interdependentes de outras políticas públicas. Porém, não é esse panorama que temos da produção habitacional do Brasil, quando se diz respeito à habitação de nteresse social. Um exemplo são os conjuntos promovidos pelo BNH (Banco Nacional de Habitação), de 1964 a 1986, atuando durante o período da ditadura militar. Nesse monento, o Estado reorganiza o sistema de produção de habitação de interesse social, promovendo uma habitação econômica do ponto de vista da racionalidade, seja no âmbito do espaço de morar do trabalhador; dos processos e sistemas construtivos; e dos baixos custos para as construtoras. (NEGRELOS, 2014). A produção habitacional desse período, embora tenha promovido o acesso à moradia pelas camadas de mais baixa renda da população, foi bastante criticada nas décadas de


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1980/1990 devido ao caráter massivo e à promoção de expansão urbana extensiva. Conjuntos periféricos e carentes de infraestrutura urbana não consolidaram o direito à moradia explanado anteriormente. Para entender esse processo de produção do espaço urbano de forma desigual, aprofundar-se-a em como esse espaço se conforma e quais agentes estão nele envolvidos.

ONDE VOCÊ MORA? Desde a década de 1920, os lotes, integrados em loteamentos, são produzidos como mercadorias. “A escolha da localização dos loteamentos e de seus padrões técnicos, bem como a escolha da localização das atividades urbanas e dos estabelecimentos que as abrigam (...) sempre foi feita, em nossas cidades segundo as leis de mercado.” (VILLAÇA, 1986, p.44). O melhor local é aquele que maximiza os lucros e a relação satisfação/custos com a casa. Além disso, os Códigos que regulamentam os loteamentos e construções são pautados para os interesses da minoria, inclusive sendo influenciados por eles. Villaça afirma que a maioria da população brasileira não possui condições econômicas de habitar em casas de acordo com os Códigos. Logo, os interesses do coletivo e a função social da edificação são deixados de lado em função dos interesses de mercado. E além disso, estando muitas das casas brasileiras na “ilegalidade”, tem-se uma cidade “ilegal” que se torna a real, aquela que é

possível para a população. Dentro desse contexto, as únicas possibilidades oferecidas ao trabalhador pelo mercado são: um lote em loteamento ilegal, distante e precário em equipamentos públicos, oferecidos para compra em prestações. Para conseguir um local, ocupam-se áreas rejeitadas pela propriedade privada como encostas de morros, mangues, ou invadem terrenos de propriedade pública ou privada. (VILLAÇA, 1986) Criam-se outros conflitos, já que as ocupações podem afetar questões ambientais e promover riscos tanto para o meio físico como para as próprias residências. Unem-se as fragilidades ambientais com as fragilidades humanas em uma mesma área. Pensando em toda essa lógica, o preço da terra urbana está intimamente ligado a sua localização, considerando-se duas questões: uma é a disponibilidade de redes de saneamento, de pavimentação, de iluminação pública. Esses melhoramentos podem ser aplicados em qualquer área, mas na lógica de privilegiar determinados interesses, as áreas onde residem as classes dominantes possui maior investimento em obras de infraestrutura. A outra questão se refere à acessibilidade a outros pontos da cidade, principalmente a áreas valorizadas, onde os equipamentos, comércio e serviços estão localizados. (VILLAÇA, 1986) Logo, devido a diversos fatores como a espoliação urbana, a luta por terra não se resume, geralmente, a se ter uma propriedade de terra, mas também se reivindica a sua localização. Casos de conflitos relacionados à localização da terra, são fatos recorrentes no processo de urbanização do Brasil. Exemplo bastante conhecido são as demolições dos cortiços


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no início do século XX para as reformas urbanas realizadas por Pereira Passos.

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das remoções, em um processo de gentrificação e de valorização imobiliária.

“A necessidade de demolição dos cortiços insalubres era sistematicamente invocada para a proteção da saúde pública, porém, eles somente eram demolidos nas áreas mais centrais da cidade, especialmente para dar lugar às grandes avenidas que viriam para “embelezar e modernizar”(...)”. (VILLAÇA, 1986, p.37)

Fluxograma de autoria própria

Nesse momento, a justificativa também estava aliada a ter-se uma concepção de cidade semelhante a das cidades europeias, “modernizando” o país a partir da cópia. A mesma lógica que vê-se hoje, alterando espaços centrais, ou com uma certa potencialidade para o capital imobiliário, através

SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL

CIDADE “LEGAL” X “REAL” Além disso, em relação ao planejamento urbano, tem-se a matriz de planejamento urbano modernista, criticada por autores como Jane Jacobs por exemplo, que defendia a diversidade de usos, escalas, edifícios e pessoas dentro de um mesmo ambiente urbano. Essa matriz modernista foi sendo substituída pelas propostas neoliberais que se consolidaram no final do século XX. Nos países considerados subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil e de outros países da América Latina, esse modelo, baseado na centralização e na racionalidade do aparelho de Estado, foi implementado somente em parte da cidade: a cidade “legal” ou também chamada formal. Dessa forma, a aplicação de um modelo urbanístico em apenas parte da cidade “contribuiu para que a cidade brasileira fosse marcada pela modernização incompleta ou excludente”.(MARICATO, 2000, p.123) As cidades brasileiras não apresentam problemas graves por conta da falta de Planos Urbanísticos ou devido uma falta de qualidade desses planos, mas porque existe o be-


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neficiamento de interesses de alguns grupos em contraposição a outros, como os interesses tradicionais da política local e grupos específicos ligados ao governo de plantão. (MARICATO, 2000)

de “um lugar fora das ideias”. Transforma-se o problema da classe dominante em problema público, em um problema da “cidade” como um todo, colocando o espaço urbano no centro dessa produção ideológica.

Além da influência de grupos locais, tem-se a atuação do capital imobiliário e das empreiteiras, que também possuem seus interesses no planejamento de uso e ocupação do solo para especulação imobiliária e futuros investimentos.

“Podemos dizer que se trata de ideias fora do lugar porque,

Outro problema se dá na questão do distanciamento entre o Plano Diretor e a gestão urbana, ou seja, a distância entre o discurso e a prática. E dessa forma, segue-se o jogo urbano no qual nem todos os agentes têm as mesmas cartas e jogam sob as mesmas regras. Num quadro de referência histórico, ressalta-se um fenômeno que ocorreu na Europa no pós-guerra e, no Brasil, nas décadas de 1960/1970, de rupturas e críticas em torno da produção habitacional baseada na linguagem e ideário moderno de cidade: a subordinação dos aspectos sociais e da urbanística a outros campos disciplinares devido ao privilégio da planificação econômica que fez com que o urbanismo se distanciasse da arquitetura, transformando e reduzindo a relação histórica existente entre as duas disciplinas. (NEGRELOS, 2010). Em seu texto, “As ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias”, Maricato quer abordar a dualidade entre a cidade “legal” e “ilegal”, entre aspas porque a partir do momento em que a lei responde apenas a uma parte da cidade, que legal é esse? Para a parte “ilegal” da cidade, não há planejamento, é como se não existisse. É o que Maricato chama

pretensamente, a ordem se refere a todos os indivíduos, de acordo com os princípios do modernismo ou da racionalidade burguesa. Mas também podemos dizer que as ideias estão no lugar por isso mesmo: porque elas se aplicam a uma parcela da sociedade reafirmando e reproduzindo desigualdades e privilégios.” (MARICATO, 2000, p.122)

Resumindo, o padrão das cidades brasileiras resume-se à segregação sócio-espacial, a presença de uma urbanização de risco, e a constante disputa e conflitos nas áreas urbanas. Retomando o conceito de direito à cidade, “como está constituído agora, está extremamente confinado, restrito na maioria dos casos à pequena elite política e econômica, que está em posição de moldar as cidades cada vez mais ao seu gosto” (HARVEY, 2012, p.87). As políticas públicas visam vários objetivos, muitas vezes contraditórios e que podem causar consequências não esperadas. Para Villaça, investigar os meios utilizados para implementar uma política talvez seja uma possibilidade para se descobrir seus reais objetivos. Dentro dessa perspectiva, o papel do arquiteto é de mediador, procurando entender e atualizar as regras do jogo no qual se resume a cidade. (SANTOS, 1988)


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outras experiências inquietações As experiências trazidas pela disciplina IAU2112: Informalidade urbana e regularização da terra e da moradia e as visitas realizadas durante a viagem didática ao Rio de Janeiro, principalmente à Vila Autódromo, reforçaram a vontade em realizar um projeto de trabalho final que buscasse abordar a questão do direito e da luta pela moradia, englobando toda a noção de direito à cidade. Na optativa de Regularização Fundiária, realizou-se um levantamento por drone da Comunidade do Banhado, localizada no Jardim Nova Esperança, em São José dos Campos. Através do discurso dos moradores, percebemos a importância do local para cada um deles, um local que embora visto apenas como paisagem naturalizada, “esconde” sociabilidades muito intensas e de diferentes culturas como a africana, indígena e de outros estados brasileiros. A localização próxima do centro da cidade favorece o acesso a serviços públicos (embora precários) pelos moradores e garante um escoamento da produção dos lotes da comunidade que possuem um caráter agropecuário, com a produção de hortaliças que podem ser vendidas a uma pequena distância, no centro. Da mesma forma, na Vila Autódromo, comunidade do Rio de Janeiro, temos o contexto da remoção de famílias devido às

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obras das Olimpíadas. A comunidade foi criada por pescadores na década de 1960 e em 1990, já havia adquirido o título de concessão de direito real de uso, dando-lhes o direito de morar no local. Porém, por conta das remoções realizadas, de cerca de 600 famílias que residiam no ano de 2015 no local, passou-se para 20 famílias. Muitas das famílias removidas foram realocadas em conjuntos Minha Casa Minha Vida, como o Morar Carioca, um local periférico e com infraestrutura precária. No projeto original do Parque Olímpico previa-se a continuidade da Vila Autódromo, com a urbanização da favela, única reivindicação dos moradores há muito tempo. E as remoções não aconteceram só nessa comunidade. Ao todo, 22 mil famílias foram removidas de suas casas entre janeiro de 2009 e dezembro de 2015. A persistência da luta pela continuidade da Vila Autódromo demonstra que a relação entre localização, infraestrutura, habitação, noção de pertencimento e identidade para uma comunidade é intrínseca.


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referências

projetuais

Refletindo sobre as inquietações trazidas desde a introdução ao TGI, é importante observar algumas dessas questões especializadas em projetos existentes, como referências projetuais.

Cecap zezinho magalhães prado O CECAP Zezinho Magalhães trata-se de um conjunto com aspectos relevantes tanto do ponto de vista de inserção urbana como de sua forma arquitetônica. Em relação à inserção urbana, o Conjunto Zezinho Magalhães localiza-se próximo ao Aeroporto de Guarulhos, o Rio Baquirivu, e a Rodovia Presidente Dutra. Se enquadra como um conjunto, no momento de sua implantação, periférico, o que demandou ao projeto uma série de equipamentos para suprir as necessidades da população. O projeto leva a infraestrutura da cidade para o conjunto habitacional, incluindo equipamentos de comércio, serviço, lazer, educação e saúde no programa. O projeto não foi construído em sua totalidade, sendo executado apenas parte dos edifícios destinados à moradia e parte dos equipamentos públicos propostos, apenas 45% da proposta inicial. Porém, percebe-se uma proposta de desenho de conjunto habitacional como

Implantação projetada

Implantação construída


Nas imagens à esquerda, acima temos o programa proposto pelo projeto CECAP Zezinho Magalhães; e abaixo, o projeto do Conjunto Residencial do Jardim Edite. Nas imagens à direita, visão dos espaços coletivos do Conjunto Zezinho Magalhães.

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desenho da cidade. Não se aproveita da infraestrutura, nesse caso precária, leva-se a infraestrutura conectada ao projeto de habitação. Em relação a forma arquitetônica, “A ideia não era só fazer apartamentos populares, mas unidades de convivência que promovessem o contato entre as pessoas”, diz o historiador Tiago Guerra, um dos autores do livro “Cecap Guarulhos - Histórias, Identidades e Memórias”. Tem-se uma circulação vertical aberta, possibilitando uma relação visual com outros blocos e possibilitando espaços de apropriação.

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Conjunto habitacional do jardim edite O Conjunto Jardim Edite, é referência em relação às questões de inserção urbana. Localiza-se entre o cruzamento das avenidas Engenheiro Luís Carlos Berrini e Jornalista Roberto Marinho, próximo à Ponte Estaiada, em uma região de recente crescimento do setor financeiro e de serviços de São Paulo. Ou seja, localiza-se numa área com relativa infraestrutura e em crescimento. O programa oferece creche, restaurante-escola, UBS (Unidade Básica de Saúde), além de uma preocupação com as áreas coletivas e com a conexão entre os edifícios. Do ponto de vista arquitetônico, a solução de uso misto adotada é um destaque do projeto: os equipamentos públicos se encontram no térreo, seguidos de um pavimento condominial, com a habitação a partir do terceiro pavimento. No caso do Jardim Edite, tem-se um caso híbrido: o projeto adiciona equipamentos públicos ao seu programa, porém desfruta de uma área com infraestrutura existente e em crescimento.


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PROPOSTA

DA MORADIA À CIDADE A partir da reflexão das questões apresentadas anteriormente, a proposta é uma intervenção urbana partindo de todo o contexto de segregação socioespacial a que nos encontramos, trabalhando a questão do habitar, porém em uma escala maior, buscando abordar não somente a habitação em si, mas toda a infraestrutura necessária para que uma população realmente tenha o direito à cidade: acesso a equipamentos (educação, saúde, lazer), comércio e serviços. Com a colocação da população de renda mais baixa na periferia das cidades, tem-se um dos problemas mais levantados nas metrópoles e em outras cidades: a ida e volta do trabalho. Por isso, além da política habitacional, uma política de transportes eficiente é intrínseca a toda essa questão, pois pensar a mobilidade urbana é pensar na organização dos usos e em toda a estrutura da cidade, garantindo o acesso da população ao que a cidade oferece. Dessa forma, coloca-se uma atenção especial para essa questão, garantindo o acesso, seja através de vias de pedestres mais qualificadas e/ou de um transporte público mais eficiente, já que “os sistemas de transporte são vitais na modelagem das cidades (...)” (VILLAÇA, 1986, p.87).

O projeto não abrangeu todos os programas mencionados, mas visou a escolha de locais que possuam um potencial, tanto do ponto de vista de transformação como da perspectiva de se aliar o projeto a uma estrutura já existente da cidade. Pensa-se um projeto de reestruturação urbana que busque colocar em questão as estruturas existentes mas também as que se desejam impor, condicionando novas dinâmicas dentro do espaço da cidade. A partir de autores como Jacobs e Gehl, busca-se para a intervenção uma dimensão mais humana, pautada na escala do pedestre, indo em contrapartida do ideal de planejamento urbano moderno, buscando espaços públicos diversos que sejam locais de encontro e possibilitem relações de sociabilidade dentro da cidade. Retomando Harvey, “O direito à cidade está muito longe da liberdade individual de acesso a recursos urbanos: é o direito de mudar a nós mesmos pela mudança da cidade. Além disso, é um direito comum antes de individual já que esta transformação depende inevitavelmente do exercício de um poder coletivo de moldar o processo de urbanização.“(HARVEY, 2012, p. 74).

Na cidade, é onde o indivíduo realiza todas as suas atividades diárias e estas acabam refletindo na conformação da cidade. A forma urbana não envolve só suas construções mas também as relações de sociabilidade existentes em seu meio. Ainda existe espaço para os arquitetos discutirem os problemas urbanos? Embora o panorama da produção do ambiente urbano construído seja extremamente complexa, devido à multiplicidade de agentes envolvidos e a todo o contexto de segregação socioespacial produzido, o projeto urbano ainda deve ser discutido. O arquiteto não tem o poder de definir ou de conformar um espaço sozinho, mas é um agente que cria espaços de possibilidades.


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A direita, imagens apresentando a diversidade de usos e relações presentes nas cidades.

CIDADE COMO LOCAL DE ENCONTRO, DIVERSIDADE, com uma dimensão mais humana... feita por e para pessoas (Gehl, 2015)

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inserção urbana


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APIRACICABA CIDADE

Regiões Administrativas do Estado de São Paulo (Fonte: IGC)

inserção no estado de São paulo Piracicaba é um município do interior paulista, com 1378,07 km² de área, com cerca de 397 mil habitantes (população estimada pelo IBGE para 2017), e importante pólo de desenvolvimento agroindustrial no território paulista e brasileiro. Piracicaba dista 152 km da capital do estado de São Paulo, integrando a região administrativa de Campinas e fazendo divisa com os municípios de Rio Claro, Limeira, Santa Bárbara D’Oeste, Laranjal Paulista, Iracemápolis, Anhembi, São Pedro, Charqueada, Rio das Pedras, Tietê, Capivari, Conchas, Santa Maria da Serra, Ipeúna e Saltinho. Em 2012, foi institucionalizada a Aglomeração Urbana de Piracicaba (AUP), integrada por 23 municípios, com população de mais de 1,4 milhão de habitantes (3,25% da popula4 ção paulista). A importância da AUP se dá pelos motivos de estar localizada no noroeste de uma das regiões mais produtivas e industrializadas do Estado de São Paulo. Possui um diversificado parque industrial concentrando empresas nacionais e multinacionais, com destaque para os setores sucroalcooleiro e metal-mecânico, assim como “as indústrias de alimentos, 5 bens de capital, cerâmica, agroindústria e metalurgia.” Piracicaba tem fácil acesso às diferentes regiões do estado

Região Administrativa e Metropolitana de Campinas (Fonte: IGC)


4,5,6

Disponível em: <https:// www.emplasa.sp.gov.br/AUP> 7,8

Disponível em: <http://ipplap. com.br/site/a-cidade/breve-historico-de-piracicaba/>

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através das Rodovias Anhanguera, Rodovia dos Bandeirantes, Rodovia Washington Luis, Rodovia do Açúcar e Rodovia Castelo Branco. Dessa forma, a Aglomeração Urbana de Piracicaba, tem posição privilegiada na malha rodoviária estadual, “o que favorece o acesso de pessoas e mercadorias ao Porto de Santos e aos aeroportos de Viracopos, em Campinas, Congonhas, em São Paulo e de Cumbica, em Guaru6 lhos.”(EMPLASA)

histórico da cidade | expansão urbana O povoado de Piracicaba, termo da Vila de Itu, foi fundado em 1767. No ano de 1774, com uma população estimada de 230 habitantes, constituiu-se como Freguesia. Sua expansão foi favorecida devido à transferência da freguesia para a margem esquerda do rio. Nessa área, a presença de terrenos melhores e com maior fertilidade atraiu muitos fazendeiros e ocasionou a disputa de terras. Piracicaba adquire a categoria de vila em 1821, com o nome de Vila Nova da Constituição. Outro período de importante expansão foi a partir de 1836: “Não havia lote de terra desocupado e predominavam as pequenas propriedades. Além da cultura do café, os campos eram cobertos pelas plantações de arroz, feijão, milho, algodão e fumo, mais pastagens para criação de gado. Piracicaba 7 era um respeitado centro abastecedor.” (IPPLAP) Em 1856, a Vila Nova da Constituição é considerada cidade e, em 1877, por petição do vereador Prudente de Moraes, recebe o nome de Piracicaba, como era conhecida popularmente. A partir da década de 1940, Piracicaba apresentou uma

Fotografia Histórica de Piracicaba8

transformação na estrutura industrial, com o crescimento no ritmo de implantação fabril (COSTA, 2004) Essas transformações foram refletidas na mudança da mancha urbana e em um crescimento da população urbana. A malha urbana cresce, e a cidade passa a adotar-se (sic) de vários equipamentos urbanos. Seus habitantes avolumam-se, com a vinda de trabalhadores imigrantes. Sua principal riqueza econômica vai estar na produção da cana-de-açúcar. Ela vai ser o seu principal indutor de desenvolvimento. (POMPERMAYER, 1998, apud COSTA, 2004, p.31) O dinamismo manufatureiro propagou-se e intensificou-se nas décadas de 1950 e 1960. Entre 1960 e 1978, o Brasil passa por um intenso processo de industrialização, gerando um crescimento da economia devido à entrada de capital e de tecnologia de empresas multinacionais. Nesse período, muitas indústrias da Região Metropolitana de São Paulo foram transferidas para cidades do interior, e Piracicaba foi uma delas, atraindo imigrantes interessados nas oportunidades de emprego oferecidas pelas indústrias multinacio-


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nais. No final da década de 1960, há uma expansão acentuada de toda periferia da cidade (devido ao êxodo rural e elevado crescimento de habitantes) com a implantação de diversos loteamentos, muitos deles promovendo um mau uso do solo e gerando prejuízos sobre a qualidade de vida urbana (COSTA, 2004). Concomitantemente, há uma extensão progressiva do perímetro urbano, tornando viável o espraiamento da malha urbana e favorecendo a especulação imobiliária. Esse fato fez com que a cidade apresentasse uma grande quantidade de vazios urbanos, alguns desses beneficiados com toda a infraestrutura da cidade, porém sem atender à função social que deveriam. Além disso, entre o período anterior e a década de 1960, houve a inversão de preponderância demográfica campo/ urbano, quando se passou a ter maior número de habitantes na área urbana do que na área rural. A cidade de Piracicaba, na década de 1970, expandiu-se para além de seus limites tradicionais, com o surgimento de loteamentos e núcleos habitacionais distantes da malha urbana. Novas vias foram criadas, a exemplo do anel viário, construído em 1987, sendo um dos atratores de moradias. Além disso, a partir da década de 1980, intensifica-se um processo de verticalização na cidade. “Os anos 80 significaram para o Brasil um acentuado processo de desaceleração da sua economia. Entretanto, cidades médias como Piracicaba passaram a ter taxas de crescimento econômico superiores às da capital. O resultado foi o aumento da participação das cidades do interior no produto industrial do Estado, e consequente manutenção do ritmo de crescimento físico e populacional.” (COSTA, 2004, p.39)

Segundo o Plano Diretor de 1995, o crescimento da cidade se projetaria em duas direções ao mesmo tempo: os vetores nas direções Noroeste e Sudeste. Porém, outros vetores de expansão também foram verificados. Nesse período, a área central passa por um processo de verticalização, gerando uma drástica diminuição de residentes em imóveis no centro da cidade. Há o surgimento de novos bairros e a transferência de moradores para outros bairros e para condomínios residenciais que foram implantados a partir desse momento, com maior destaque para aqueles nos arredores da cidade. (COSTA, 2004) “Em resumo, a expansão urbana se deu da seguinte forma: Entre 1940 e 1962 a expansão urbana aconteceu de forma circular ao ponto referencial central. Entre 1962 e 1978 o direcionamento foi maior no sentido noroeste, fato ocasionado pela instalação de indústria ao longo do sistema viário dessa região. Entre 1978 e 1995, o vetor de expansão continua em sentido noroeste, mas também se expande em sentido sudeste, pois nos anos 90 houve a criação do setor industrial na região sudeste. Os dois pólos de expansão que mais se destacaram nos períodos de 1940 e 2000 foram exatamente o eixo (sic) noroeste e sudeste. Entre 1995 e 2000 a expansão urbana acompanhou o direcionamento dos dois eixos (...).”(COSTA, 2004, p.58)

A CIDADE

a microbacia do enxofre Através da leitura do CADUS, produzido pelo IPPLAP (Instituto 9 de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba) , tem-se o despertar do olhar para a Microbacia do Enxofre, colocada como área potencial de intervenção. Dessa forma, trabalhou-se a leitura da cidade tendo como adicional a delimitação da área da Microbacia, buscando novas razões que validassem a escolha desta como potencial para intervenção.

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O CADUS (Caderno de Estudos e Projetos para o Desenvolvimento Sustentável de Piracicaba e Aglomeração Urbana) utilizado corresponde ao volume 2, com o título: “Parques Lineares | A humanização da cidade”. Por ora, é importante saber sobre a escolha de uma possível área de intervenção. Posteriormente, serão abordadas mais especificadamente as características dessa área, que foram apreendidas pela leitura desta publicação.


DA MORADIA À CIDADE | INTERVENÇÃO URBANA NA MICROBACIA DO ENXOFRE EM PIRACICABA

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EXPANSÃO URBANA PIRACICABA - SP | MICROBACIA DO ENXOFRE A partir do mapa de expansão urbana, observa-se a ocupação mais antiga da cidade, ao lado do Rio Piracicaba, onde hoje localiza-se o centro da cidade. Constata-se também, a proeminência do vetor de expansão noroeste, previsto pelo Plano Diretor de 1995. Em relação a Microbacia do Enxofre, observa-se uma área com ocupações de diferentes épocas: de 1940 até as mais atuais, pós 2010. Coloca-se como um território dinâmico, em constante mudança.

MICROBACIA DO ENXOFRE


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

PADRÃO HABITACIONAL X HIDROGRAFIA PIRACICABA - SP | MICROBACIA DO ENXOFRE Nesse mapa, se sobrepõem duas camadas: a hidrografia e o padrão habitacional, pensando as possíveis relações entre a ocupação urbana e a presença de corpos d´ água. No entorno do Parque da Rua do Porto, próximo ao Rio Piracicaba, área central da cidade, temos ocupações de médio e alto padrão. Enquanto próximo a outros afluentes, como o Ribeirão do Enxofre, verificam-se ocupações de médio e baixo padrão, entre elas, favelas. Porém, analisando a área da Microbacia, próximo a desembocadura do Ribeirão do Enxofre, tem-se um conjunto de condomínios fechados de alto padrão, demonstrando a inserção de bairros de diferentes extratos sociais ao longo do Ribeirão.


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LOCALIZAÇÃO DAS FAVELAS E ZONEAMENTO PIRACICABA - SP | MICROBACIA DO ENXOFRE Nesse mapa, pode-se observar dois aspectos: a presença de favelas na cidade e o zoneamento, o que pode direcionar a escolha de possíveis áreas de intervenção. Levanta-se a existência de 38 núcleos de favelas (dados de 2015), concentrados no vetor Noroeste e Sudoeste (inseridos na área da Microbacia do Enxofre). Em relação ao zoneamento, observam-se duas principais zonas presentes na área da Microbacia: ZAP (Zona de Adensamento Prioritário) e ZOCFA (Zona de Ocupação Controlada por Fragilidade Ambiental). Além disso, há a presença de algumas ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), indicando possíveis áreas que possam atender uma demanda de habitação.


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

DENSIDADE POPULACIONAL por bairro DENSIDADE POR PIRACICABA - SP |POPULACIONAL MICROBACIA DO ENXOFRE BAIRRO | PIRACICABA-SP

Legenda Sem dados Nº de habitantes | de 0 à 2500 Nº de habitantes | de 2500 à 5000 Nº de habitantes | de 5000 à 7500 Nº de habitantes | de 7500 à 10000 Nº de habitantes | de 10000 à 12500 Nº de habitan tes | de 12500 à 15000 Nº de habitantes | de 15000 à 20000 Nº de habitantes | acima de 20000 Hidrografia

Nesse mapa, tem-se a quantidade de habitantes por bairro na cidade de Piracicaba. Percebem-se áreas mais densas a Norte e Noroeste (área de concentração de conjuntos habitacionais e favelas). A área central, ao contrário de algumas cidades paulistas onde existe um processo de esvaziamento do centro, possui uma quantidade de habitantes relativamente elevada. Em relação a Microbacia do Enxofre, observa-se áreas menos densas, como o bairro Campestre, uma área voltada para chácaras e casas de veraneio (mas que está em processo de adensamento); e bairros mais adensados, bem próximos ao Córrego, trazendo questões referentes a fragilidade ambiental e social desse local.


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MAPA DE EQUIPAMENTOS PIRACICABA - SP | MICROBACIA DO ENXOFRE

Ausências

Equipamentos culturais Ciclovias Agências Bancárias

Existências

Equipamentos de saúde Escolas de Ensino Público Equipamentos Esportivos Rotas de ônibus Terminal de ônibus (2)

Nesse mapa, foram indicados os equipamentos existentes na cidade de Piracicaba, assim como presença de agências bancárias, terminais rodoviário e municipais; e as rotas de ônibus e ciclovias existentes, pensando na mobilidade e acessibilidade a tais equipamentos. A partir desses elementos, foi feita uma análise de possíveis centralidades no espaço da cidade. A área central é a mais privilegiada, com a presença de todos os tipos de equipamentos, sendo a única área com equipamentos culturais. Observando a Microbacia do Enxofre, temos a análise de duas centralidades, englobadas pelo círculo no mapa. Porém, é importante ressaltar que não foram analisados outros elementos como a presença de comércio e serviços.


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

A microbacia do enxofre e sua (in)visibilidade

O Ribeirão do Enxofre é um dos principais afluentes do Rio Piracicaba, junto com o Piracicamirim, Itapeva e Corumbataí. A Microbacia do Enxofre, localizada no vetor sudoeste, “Situa-se em região de grande crescimento urbano, que se deu provavelmente pela inaptidão das terras ao cultivo da cana. Apresenta acentuada declividade topográfica. As terras, ainda livres, embora apresentem relevo médio, são ocupadas por pequenas propriedades, sítios e chácaras de recreio. A qualidade ambiental é bastante afetada. O Ribeirão do Enxofre que corta a região é o mais poluído da cidade. Quanto à moradia/emprego, é o vetor com piores condições, quer pelas dificuldades viárias, quer pela situação oposta aos centros geradores de emprego” (COSTA, 2004, p.45)

Porém, embora visível fisicamente, o Córrego do Enxofre é visto como local de degradação . Quando se procuram notícias sobre o córrego, vê-se a diferença de visibilidade entre este e o Rio Piracicaba, principal corpo d´água da cidade. Enquanto o Rio Piracicaba é ponto de atração de turistas, eventos e possui seu valor histórico para a cidade; o Córrego do Enxofre fica sujeito a notícias como: descaso, problemas, acidentes e até mesmo mortes (como se vê pe-

las notícias apresentadas). Realizando um percurso pelo local, percebe-se a falta de calçadas, de segurança e passarelas para os pedestres. Diferente do Rio Piracicaba, a ocupação em torno do córrego do Enxofre possui grande parcela de habitações de baixo padrão, além de uma grande concentração de favelas nos bairros adjacentes. Observa-se uma outra configuração: unem-se as fragilidades ambientais com as sociais. Muitas ocupações estão em áreas públicas de lazer de loteamentos e apresentam situações em áreas de risco, como inundações, e áreas de preservação ambiental. “Não há nenhuma indústria instalada naquela região. Contudo, há muitas moradias em situação precária, sem a instalação de esgotamento sanitário. Por outro lado, há diversos condomínios fechados de classe média e alta que, de forma indireta, contribuem também para a degradação do Ribeirão.” (IPPLAP, 2014, p.57)

A publicação lida a respeito da Microbacia, devido aos motivos apresentados anteriormente, tratava da potencialidade do local para a instalação de parques lineares. “A Microbacia do Enxofre possui condições excelentes para se instalar um parque linear, pois ao longo do ribeirão estão inseridos bairros de todos os extratos sociais. A implantação do parque linear naquele local tende a promover não só a diversidade, como também a interação social (...)” (IPPLAP, 2014, p.57)

Apresenta-se a importância desses espaços para inserir no espaço urbano uma dimensão mais humanizada, aliada a equipamentos culturais, de lazer e para a prática esportiva; além de atender a questão da preservação ambiental, uma das principais razões para a implementação desse tipo de projeto.

Notícias retiradas da internet.


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1000m


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precipitação intensa. E, pensando em conexões mais abrangentes na cidade, o projeto piloto se integraria com o projeto urbanístico Beira-Rio. (IPPLAP, 2014).

Possíveis interesse

áreas

de

Núcleos de comércio e serviços

Antiga Estação Ferroviária

Vias importantes | Comércio e serviços Ribeirão do Enxofre

Imagens do Google; Mapa de cheios e vazios (à esquerda)|Autoria própria; Recorte da área com indicação de áreas de intervenção | Autoria própria.

De acordo com o estudo do IPPLAP, a implementação do parque linear na Microbacia do Enxofre serviria como projeto piloto que depois seria reformulado e implementado para outras microbacias da cidade. Entre alguns aspectos destacados (que podem servir como disparadores para o projeto de TGI), tem-se: a preocupação com a regularização fundiária e urbanização de favelas; a instalação de pistas de caminhada e ciclovias a partir da desobstrução das margens do Ribeirão; e a implementação de um sistema de drenagem, com a instalação de coletores de água da chuva (como alternativa para conter enchentes em períodos de

Embora a proposta de projeto para TGI não venha a contemplar a ideia de parques lineares, a leitura do local trouxe à tona as inquietações trabalhadas anteriormente: uma área consolidada e uma proposta que associe habitação com equipamentos públicos e mobilidade, trabalhando o direito à moradia e à cidade. Através da confecção de um mapa de cheios e vazios, pode-se analisar em uma escala maior, possíveis áreas de projeto. Foram selecionadas 5 áreas, cujas diretrizes serão indicadas a seguir . Na área próxima a antiga Estação Ferroviária, existem diversos núcleos de comércio e serviços, consolidando uma centralidade que pode ser usufruída pelos bairros do entorno sem a necessidade de ida ao Centro. Essa conexão será possível através de uma mobilidade eficiente: linhas de ônibus que têm trajeto pelas vias próximas da intervenção e que ligam-se ao Terminal de Ônibus São Jorge.


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

DIRETRIZES PROJETUAIS ÁREA 1 E 2 Para as áreas 1 e 2, pelo fato de estarem em uma ZOCFA (Zona de Ocupação Controlada por Fragilidade Ambiental), tem-se uma diretriz de uso e ocupação destinado a áreas de lazer, pensando possíveis medidas de mitigação. Tornando-se espaços livres e qualificados, poderão integrar um sistema juntamente com o Parque da Rua do Porto.

PARÂMETROS URBANÍSTICOS | zocfa (DADOS DO PLANO DIRETOR DE 2006)

CA (coeficiente de aproveitamento) | 1,4 TO (taxa de aproveitamento) | 70% TP (taxa de permeabilidade) | 10% Tamanho mínimo de lote | 250 m²

Possíveis interesse

áreas

de

Parque da Rua do Porto Ribeirão do Enxofre

Imagens do Google; Recorte da área com indicação de áreas de intervenção | Autoria própria.


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AREA 3 Observando o recorte, em A, temos um núcleo comercial, com varejão, supermercado, açougue, entre outros comércios. Em B, temos um núcleo de equipamentos: uma escola pública estadual voltada para o Ensino Fundamental, um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), e áreas esportivas (quadra e campo). Em C, temos a antiga favela Jardim Glória, que passou por processo de urbanização, que beneficiou 150 famílias (informação do site da Prefeitura de Piracicaba). As áreas 3 e 4, segundo o Zoneamento Urbano, estão em uma ZAP (Zona de Adensamento Prioritário). A área 3 encontra-se no terreno de maior declividade e está o lado do Ribeirão do Enxofre. Pensando no âmbito da preservação ambiental e da valorização da paisagem, essa área terá como diretriz locais de estar e contemplação, como um mirante para o ribeirão, por exemplo, aproveitando a característica do relevo; aliado e devido a esses atrativos, é um espaço a ser adensado com habitação.

PARÂMETROS URBANÍSTICOs | zap (DADOS DO PLANO DIRetOR DE 2006)

CAB (coeficiente de aproveitamento básico) | 4 CAM (coeficiente de aproveitamento máximo) | 5 TO (taxa de ocupação para uso residencial) | 70% TO (taxa de ocupação para uso não residencial) | 80% TP (taxa de permeabilidade) | 10% Tamanho mínimo de lote | 200 m²

Possíveis áreas de interesse

Núcleos de comércio e serviços

Terminal de ônibus

Equipamentos públicos

Favelas em processo de urbanização

Favela com possibilidade de relocação Ciclovia Ribeirão do En xofre

Fotografias | Autoria própria; Recorte da área com indicação de áreas de intervenção | Autoria própria.


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A

B

3 C

4

5


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AREA 4 Observando o recorte, em D, temos um Centro Educacional SESI; em E temos uma uma escola pública municipal que atende ao Ensino Infantil e Ensino Fundamental I; e em F, uma escola pública estadual que atende ao Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Em G, tem-se a favela Jardim Planalto, com 44 famílias (dados de 2003), caracterizada como uma área íngreme e de risco (direcionando uma diretriz de relocação da população). Em H, a favela Cantagalo, que também passou por processo de urbanização, atendendo cerca de 600 famílias. Além dessas, existem outras favelas próximas, como a Maristela, São Jorge e Jardim Conceição. A área 4, em frente a favela Cantagalo, é um local com alta declividade que está passando por um processo de aterramento para a instalação de um projeto de área de lazer, previsto pela Prefeitura. Como na Avenida Antonio Mendes de Barro Filho, já existem alguns indícios de comércio promovidos pela população, a diretriz para essa área é a criação de um eixo de uso misto de comércio e serviços, ao longo da via, e que se conectará com a área de lazer proposta.

PARÂMETROS URBANÍSTICOs | zap (DADoS DO PLANO DIRetOR DE 2006)

CAB (coeficiente de aproveitamento básico) | 4 CAM (coeficiente de aproveitamento máximo) | 5 TO (taxa de ocupação para uso residencial) | 70% TO (taxa de ocupação para uso não residencial) | 80% TP (taxa de permeabilidade) | 10% Tamanho mínimo de lote | 200 m²

D E

g

F

h

Fotografias da página esquerda e recorte da área | Autoria própria Imagem à direita | Christiano Diehl Neto


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AREA 5 Observando o recorte, em I, temos uma creche; em J, o Terminal de Ônibus São Jorge; em K, temos alguns pontos de comércio e um supermercado de porte médio/ grande (um dos únicos no entorno). Em relação a euipamentos públicos, em L, temos uma Unidade de Saúde da Família; em M, temos uma escola municipal voltada a Educação Infantil e em N, o centro comunitário Cantagalo, direcionado para a população da favela Cantagalo, a leste da área de intervenção 5. Em O, temos uma área de comércio de sucatas. A área 5, segundo o Zoneamento Urbano, é uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social). Por esse motivo, pela proximidade com o Terminal de ônibus e com outros equipamentos públicos, foi escolhida como área de projeto, passando de uma diretriz de uso e ocupação para a espacialização de um programa. Para orientar a espacialização, foi feito um fluxograma pensando-se no existente e no que se pretende propor.

Fluxograma de autoria própria

PARÂMETROS URBANÍSTICOs | zeis (DADoS DO PLANO DIRetOR DE 2006)

CA (coeficiente de aproveitamento) | 1,4 TO (taxa de aproveitamento) | 70% TP (taxa de permeabilidade) | 10% Quanto ao parcelamento do solo: deverão ser observadas as disposições constantes da Lei Complementar nº 186 e suasalterações – Plano Diretor de Desenvolvimento e o Capítulo V, atinente aos Loteamentos de Interesse Social, constante da Lei Complementar nº 207, de 4 de setembro de 2007.

Núcleos de comércio e serviços Terminal de ônibus Equipamentos públicos Comércio de Sucatas “Super Laminação”

Fotografia acima | Autoria própria; Imagem abaixo | Google; Recorte da área escolhida como área de projeto


I J K

M N L O



proposta


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PROJETO espacialização

PARÂMETROS URBANÍSTICOS

Proposta

(DaDOS DO PROJETO)

O projeto para a área contempla os seguintes programas: habitação (HIS e HMP), comércio e serviços, e equipamentos de lazer e cultura. Pensou-se um projeto que possa usufruir do existente (equipamentos públicos, áreas de lazer, acessibilidade ao Terminal de ônibus) mas que também seja pólo de atração para a população do entorno, promovendo um espaço de diversidade e sociabilidade.

Densidade populacional | 174 hab/ha Nº de unidades habitacionais | 261 TO Q1 | 33,7%

CA Q1 | 0,49

TO Q2 | 24,1%

CA Q2 | 0,68

TO Q3 | 21,1%

CA Q3 | 0,62

TO Q4 | 24,5%

CA Q4 | 0,36

1

3 2

4

50m


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50m

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corte urbano AA´

650m

corte urbano BB´

650m


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processo projetual 3 camadas

*Em relação as vagas de estacionamento, estão indicados algumas áreas reservadas, totalizando 86, numa proporção de 1 vaga para cada 3 residências (o que se justifica por se tratar de uma área próxima a um Terminal de Ônibus, com acesso a vias estruturantes, à ciclovia e vias de pedestre qualificadas). Para os estabelecimentos comerciais, foram reservadas 21 vagas e para Rua Aos equipamentos púbicos, 15 vagas (divididas entre os edifícios). Além disso, nas vias A e C, há uma faixa reservada para estacionamento de veículos, atendendo a demanda externa.

MobilidADE SISTEMA VIÁRIO Com a presença de um terminal de ônibus na área de intervenção, torna-se um mote para todo o projeto. Dessa forma, desenhou-se o sistema viário a partir de uma análise dos fluxos de ida e volta do terminal. Foram criadas três novas vias: uma interligando o terminal com a Escola e o Centro Comunitário; uma que cruza a área de intervenção, interligando a favela Cantagalo com uma área mais residencial e com a unidade de saúde da família; e uma terceira via que tem origem na via estruturante Avenida Antonio Mendes de Barros Filho (via que se liga ao Parque da Rua do Porto e ao centro da cidade), cruza a área de intervenção e que auxiliará no fluxo do terminal.

2,5m

4,0m

2,6m

1,5m

3,0m 3,0m

Rua B

Pedestres Pensou-se nos fluxos possíveis a partir da localização de equipamentos e do terminal, mas também pensou-se na paisagem a ser vista durante a passagem pelos percursos. Dessa forma, criou-se uma praça central na cota de nível mais alta da intervenção, localização privilegiada onde pode se observar a área residencial, os equipamentos e o maciço vegetal (área que pode vir a se tornar um parque de preservação). Dessa praça central, é que se estendem os principais fluxos de pedestres da implantação.

Vias de carro/ônibus Via principal de pedestres Estacionamento* Terminal urbano Ciclovia

1,5m 2,6m

2,5m

Rua C

Implantação com indicação da mobilidade da intervenção


ndes

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A

50m


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

Programa e usos Para a implantação das edificações, procurou-se explorar reentrâncias ao longo da quadra, promovendo uma diversidade de perspectivas para a escala do pedestre. Em relação a implantação das habitações, além da procura por um desenho que se moldasse ao desenho das curvas de nível, há a colocação de duas propostas: edificações de dois andares que delineam unidades de vizinhança; e lâminas (edificações mais densas) e edifícios pátio próximos ao terminal, com um caráter mais público, pelo fato de possuírem outros usos em seus térreos: livre, comercial e equipamento. Dessa forma, tem-se um caráter de transição: uma área mais densa e pública próxima ao terminal de ônibus para uma área mais residencial, com espaços que beiram o privado até encontrar-se com uma área de preservação ambiental. Pensando-se o desenho das vias aliado aos usos, destacam-se dois eixos: o de comércios e um eixo de caráter mais público. O primeiro interliga o comércio existente na Rua Conchas, cruza a área de intervenção (promovendo uma transição entre o terminal e o início das habitações propostas) e se interliga a Avenida Antonio Mendes de Barros Filho, onde já existe alguns pontos de comércio pontuais que serão intensificados a partir das diretrizes colocadas para a área 4 (ver diretrizes projetuais). Em relação ao segundo eixo, pensou-se na localização de dois principais motes do projeto, o terminal e o núcleo de equipamentos escola-centro comunitário, e a topografia, já que o eixo passa pela parte mais alta da área de intervenção.

Além de ser percurso da principal via de pedestres (como descrito na camada viário), a espacialização do programa contribui para que seja um eixo fundamental para o projeto, contendo:

1. Equipamento de apoio e cultura: com a presença de diversos equipamentos de educação na área (incluindo o SESI, escola para Ensino Médio, Ensino Fundamental e Infantil) e observando-se a ausência de equipamento cultural na área, coloca-se como projeto o térreo da lâmina (1) ter como programa apoio para atividades culturais e complementares, como biblioteca, salas de mídia digital, em um formato mais flexível e que permita uma visibilidade do edifício para a praça a sua frente. Devido ao desnível, o edifício possui um acesso pela rua Zulmira Ferreira do Vale e outro pela praça da intervenção.

2. Edifício de apoio aos espaços livres: Em (2), temos um edifício de apoio para as 2 quadras poliesportivas do projeto, contando com banheiros e outras salas, que podem ser utilizadas para aulas de dança, ginástica, capoeira e outras finalidade.

Habitação

3. Escola Cantagalo: Já existente

Uso misto com comércio/ serviços

4. Centro Comunitário Cantagalo: Já existente

Comércio/ serviços

Uso misto com equipamento Equipamentos públicos Eixo/fluxo de Comércio

Eixo/fluxo Público Implantação com indicação dos usos dos edifícios


1

2

3

4

50m


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II Ao lado, destaque para a arborização do projeto, implantando árvores com uma copa mais densa e outras menos densas. Aliado ao desenho dos pisos ou não, a arborização promove outra experiência do caminhar do pedestre.

espaços livres 1.

Entrada de pedestres para o Terminal: Arborização que percorre esse caminho.

2.

Apoio para o Terminal: Espaço de platô com presença de lanchonetes e restaurantes como forma de apoio para o Terminal de Ônibus. O desenho do piso se interliga ao acesso de pedestres, desenhando um percurso junto com a arborização.

3.

Parede verde: Como forma de solução para o fundo de lote das residências já existentes, tem-se a colocação de uma parede verde junto a um passeio arborizado e uma ciclovia, que se interligam as casas sobrepostas e a Unidade de Saúde da Família.

4.

O próprio desenho do piso com o platô cria a delimitação de um espaço entre as casas sobrepostas. Aliado a isso, a arborização cria um espaço de estar para os moradores, mas que permanece público. Espaços para crianças: O projeto não contempla apenas um espaço para as crianças. Pensou-se em espaços entre habitações, os “olhos” que cuidam e permitem às crianças terem o lazer próximo de suas casas.

5.

Caminho naturalizado: Criando uma transição entre uma área mais urbana e adensada para uma menor densidade habitacional e próxima do maciço vegetal, criam-se espaços de uma vegetação mais naturalizada, permitindo a

100m

surpresa no caminhar ao encontrar a quadra de esportes e a Unidade de Saúde da Família.

6.

Próximo ao térreo do edifício, de um lado temos um espaço menos arborizado, como local de visibilidade para a praça e o edifício. Do outro, devido ao desnível de 3 metros, uma rampa gramada, com vista para a futura área de lazer na área 4 (ver diretrizes projetuais), promovendo uma conexão entre esses espaços.

7.

Apoio com salas de ginástica, academia ao ar livre, equipamentos para skate e duas quadras poliesportivas.

8.

Patamares com grama que dão vista e acesso a um espaço voltado para a escola. Local que pode servir para atividades escolares ou para outros usos, como cinema ao ar livre. Os patamares de grama permitem diferentes tipos de apropriação. Implantação com indicação dos espaços livres da intervenção


1

6 2

3

7

4

8

5

50m


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Visão serial gordon cullen

A

C

C

D

B

A

B


D


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

a moradia tipologias habitacionais A proposta trabalha com três tipologias com 5 desenhos de plantas diferentes, incluindo HIS e HMP. Além dos usos e tipologias, a diversidade também está atrelada a materialidade das edificações. Pensou-se na utilização de diferentes materiais que, juntos, trouxessem identidade ao conjunto: blocos de alvenaria estrutural (de 14x19x39cm), escadas metálicas e utilização de elemento vazado foram componentes do projeto. Além disso, algumas das edificações trabalham a estética da materialidade do bloco estrutural de concreto com um jogo de cores, criando elevações diversificadas.

Casas sobrepostas A tipologia de casas sobrepostas contempla unidades HMP (de 72 metros quadrados) e HIS (de 48 metros quadrados). Pensou-se diferentes disposições para a composição das unidades, sendo, a apresentada ao lado, o conjunto de 2 HIS geminadas com uma HMP, tendo como acesso das casas do primeiro pavimento uma única escada. O espaço criado de circulação torna-se local de convívio entre vizinhos. Pelo fato das outras tipologias possuírem térreos com outros usos (comerciais, livre ou equipamento), essa tipologia atende a demanda por habitações acessíveis (do térreo).

Quantidade de unidades HMP| 21 Quantidade de unidades HIS | 94

Planta HIS Escala| 1:100

Planta HMP Escala| 1:100


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isométrica da tipologia

Espaço privado de uso privado (habitação) Espaço privado de uso coletivo Setorização dos espaços em um pavimento tipo

6m

localização no projeto


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

Edifícios pátio Nomeado dessa forma pois a disposição de suas unidades conforma um pátio interno de acesso público no térreo e coletivo dos moradores nos outros pavimentos. No pavimento térreo, tem-se o uso comercial, fazendo parte do eixo comercial da proposta de intervenção. Dessa forma, o pátio interno realiza uma transição entre um espaço mais público (as calçadas em frente as lojas e ao Terminal) e o início da implantação das casas sobrepostas, um espaço de caráter mais residencial. Em relação as unidades, o edifício contempla unidades HMP (70 metros quadrados) e HIS (50 metros quadrados). Em relação ao outro edifício pátio, seu térreo tem uso habitacional, o que permite maior acessibilidade.

Planta HIS Escala| 1:100

Quantidade de unidades HMP| 18 Quantidade de unidades HIS | 60

localização no projeto

Planta HMP Escala| 1:100


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isométrica da tipologia

Espaço privado de uso privado (habitação) Espaço privado de uso coletivo Setorização dos espaços em um pavimento tipo

10m


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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

lâminas As lâminas encontram-se na maior quadra da intervenção e sua implantação sugere um eixo a ser seguido pelo pedestre: além de procurar seguir o desenho das curvas de nível, a disposição com diferentes ângulos propõe um caminho a ser seguido em direção aos espaços livres e aos equipamentos. Da mesma forma que o edifício pátio, as lâminas possuem em seu térreo usos diversos. Em uma das lâminas temos o térreo livre conectado a um bloco comercial; e na outra lâmina temos um equipamento de apoio educacional e cultural para a população da intervenção e do entorno (devido aos vários equipamentos educacionais na área). Em relação as unidades, as lâminas possuem unidades HIS (de 48 metros quadrados); junto com os edifícios pátio, promovem um adensamento maior próximo ao terminal de ônibus. No caso da lâmina apresentada, o espaço de circulação permitido através da diferença de angulação na disposição das unidades, cria um local de convívio entre os moradores.

Quantidade de unidades HIS | 68

Planta HIS Escala| 1:100


DA MORADIA À CIDADE | INTERVENÇÃO URBANA NA MICROBACIA DO ENXOFRE EM PIRACICABA

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isométrica da tipologia

Espaço privado de uso privado (habitação) Espaço privado de uso coletivo Setorização dos espaços em um pavimento tipo

12m

localização no projeto




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GABRIELE DE CAMPOS TROMBETA | TGI II

cicaba. Zoneamento de Piracicaba. CADUS 12 (Caderno de Estudos e Projetos para o Desenvolvimento Sustentável de Piracicaba e Aglomeração Urbana). Piracicaba: IPPLAP, 2015.

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DA MORADIA À CIDADE | INTERVENÇÃO URBANA NA MICROBACIA DO ENXOFRE EM PIRACICABA

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