Apoio e Acolhimento à Crianças e Adolescentes
Centro de Apoio Dengo
1
Gabrielle Marconi Orientador: Prof. Dr. Claudio Manetti Banca Examinadora: Prof. Me. Leandro Rodolfo Schenk Prof. Dra. Luciana Bongiovanni Martins Schenk Prof. Me. Isabela Sollero Lemos 2
Centro de Apoio Dengo Apoio e Acolhimento à Crianças e Adolescentes
Pontifícia Universidade Católica de Campinas Faculdade de Arquitetura e Urbanismo TFG 2020 3
Dedico à minha família, em especial aos meus pais, Alceu e Elisa, por me ensinarem integridade, dedicação, força e o amor mais puro. À minha avó Antonieta, minha maior inspiração, a qual sempre levarei comigo por todos os caminhos que seguir.
Alceu Elisa Antonieta Gustavo Carolina Giovana Pedro
Ao meu irmão e minhas primas, Gustavo, Carolina e Giovana, que desde cedo demonstraram lealdade e parceria.
Bianca Isabela Júlia
Ao Pedro, por sempre caminhar ao meu lado e oferecer todo carinho, paciência e dengo.
Manu Marina Milena Nathália Mariana Talissa Carina Isabella
Às responsáveis por trazer a leveza necessária em meus 6 anos de graduação, Bianca, Isabela e Júlia, e à todas as amizades que a FAU PUCC me presenteou. Aos meus amigos de intercâmbio que estiveram ao meu lado e compartilharam uma experiência intensa e única, que agregou e me ensinou tanto. Ao projeto Comunidades Conectadas de Valinhos, em parceria com a COHCRIC, que tem objetivos similares ao deste projeto, me inspirando e emocionando. 4
Gabriel Yuri Thaís Victor Danielle Carolina Isabela Claudio
Agradecimentos: Agradeço ao meu professor orientador Claudio Manetti, que ao longo desse ano, com todas as adversidades de uma quarentena inacabável, compartilhou com paciência e paixão parte de seu vasto conhecimento. Pela dedicação e preocupação em explanar a magnitude da arquitetura e do urbanismo em uma sociedade que vive tempos difíceis. À todos os professores da FAU PUCC que contribuiram para meu desenvolvimento acadêmico e pessoal, me tornando cada dia mais consciente do meu próprio senso de justiça e igualdade. Em especial à Prof. Dra. Mônica Manso, ao Prof. Doutorando José Luiz Roge Grieco e à Prof. Dra. Nadia Cazarim da Silva Forti, pelas reflexões e provocações trazidas ao longo desses meses. Aos membros da Banca Examinadora, Prof. Me. Leandro Rodolfo Schenk, Prof. Dra.
Luciana Bongiovanni Martins Schenk e Prof. Doutoranda Isabela Sollero Lemos, por compartilharem parte de seu conhecimento ao participarem de um momento tão importante e singular. Aos meus colegas de grupo, Gabriel, Yuri, Thaís, Victor, Danielle, Carolina e Isabela, pela dedicação e colaboração. Juntos desenvolvemos um trabalho extremamente relevante e essencial. Onde antes lapiseiras se esbarravam ao desenharem na mesma folha, eu poderia dizer que elaborar esse projeto foi um caminho solitário. Porém foi em tempos de pandemia quando mais me coloquei consciente de quantas pessoas me rodiavam interessadas e dispostas a me ajudar. Tudo aconteceu remotamente, mas longe de ser solitário. Por isso, meus agradecimentos à vocês.
“E aprendi que se depende sempre De tanta, muita, diferente gente Toda pessoa sempre é as marcas Das lições diárias de outras tantas pessoas E é tão bonito quando a gente entende Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá” Caminhos do Coração - Gonzaguinha 5
Resumo: O presente projeto se coloca estrategicamente rodeado pelas favelas Jardim Santa Josefina e Jardim Ibirapuera e, junto ao Plano Urbano Estratégico Jardim São Luís, se encarga de urbanizar e conectar essas comunidades ao tecido urbano, atuando como elemento articulador. Seu vizinho, a Fundação CASA, o situa em contraposição arquitetônica e simbolicamente, visto que a proposta para o Centro de Apoio Dengo é promover às crianças e adolescentes das comunidades a oportunidade de se desenvolver em um ambiente que ofereça segurança, liberdade e dignidade. O projeto se desenvolveu, então, a partir das provocações do entorno em um lote onde o relevo e as barreiras que o limitam passaram a ser costura. Teve-se como premissa que a própria edificação tivesse o papel de relacionar os diferentes níveis, criando um fluxo fluido pelo interior e pelo exterior do edifício enquanto espaço público.
6
7
Sumário
Introdução
11
Capítulo I Contextualização Território
15
Diretrizes do Plano
17
Setor II: Santa Josefina
19
Considerações FInais
83
Referências Bibliográficas 84
8
Capítulo II
Capítulo III
Partido
Projeto
Programa
25
Implantação
39
Dengo
26
Praça
43
Partido
29
Apoio
49
Articulação dos Espaços
34
Acolhimento
55
Saber
67
Estrutura
77
9
10
Introdução: O Plano Urbano Estratégico Jardim São Luís está localizado na região sul da cidade de São Paulo, próximo à represa Guarapiranga. Foi desenvolvido a partir de critérios de interesse estabelecidos para a definição da área, entre eles: vulnerabilidade social, ausência de políticas públicas e presença de zonas de contato, ou seja, fronteiras visíveis e invisíveis criadas por um território de contrastes, de complexidade e fragmentado por segregação. Após investigação e análise do recorte de estudo, levantou-se propostas de projetos que atendessem às demandas dos moradores, levando em consideração a premissa de enfrentamento das fronteiras existentes. O Centro de Apoio Dengo foi proposto como um equipamento de assistência social focado em crianças e adolescentes, na intenção de auxiliar na redução da vulnerabilidade social e localizado de forma estratégica para
atuar como articulador do entorno, promovendo conexões e fluxos qualificados que facilitem a mobilidade dos moradores. Este memorial organiza-se em três capítulos de forma a apresentar o desenvolvimento do projeto individual, parte do Plano Urbanístico no bairro Jardim São Luís. O primeiro capítulo trata da contextualização, colocando em pauta o território e suas provocações, que resultaram em diretrizes para a concepção do projeto. O segundo expõe o desenvolvimento do partido e quais decisões levaram ao desenho final, além da definição do programa e das intenções para com a comunidade. Por fim, o terceiro capítulo apresenta os desenhos técnicos do projeto, resultado dos estudos explanados, que permitem a compreensão do trabalho.
11
12
Capítulo I Contextualização
13
Av. G uid
o Calo
R. Jd
i
. da F elicid ade
Setor I: Jd. da Felicidade
Setor II: Santa Josefina
Setor III: Av. Guido Caloi
n ushike
G Av. Luiz
14
Ri o n Pi he iro
Rio G
uarap
irang
a
s
Território O Plano Urbano Estratégico Jardim São Luís se localiza na zona sul de São Paulo, próximo à Represa Guarapiranga, e foi organizado pela equipe a partir de três áreas que compreendem conjuntos de forças, consequência dos projetos e diretrizes propostos. O projeto de assistência social em questão se inclui no Setor II: Santa Josefina, que engloba também projetos de habitação, cultura e espaços livres e de lazer.
Legenda: Recorte de estudo Hidrografia Topografia Projetos Selecionados Centro de Apoio Dengo
Elaborado pela equipe com base em dados do GEOSAMPA
Localização na Região Metropolitana de São Paulo
15
Habitação
Legenda: Recorte de estudo
2
Hidrografia Topografia Urbanização de favela Área de remoção
1
Centro de Apoio Dengo
Elaborado pela equipe com base em dados do GEOSAMPA
1
Jd. Santa Josefina
2
Jd. Ibirapuera
Mobilidade
Legenda: Recorte de estudo Hidrografia Topografia Vias arteriais Vias coletoras
1
Vias propostas Ciclovias Ciclovias propostas Vielas e escadarias Linha 9 esmeralda CPTM Linha 5 lilás metrô Estação de metrô Terminais rodoviários Centro de Apoio Dengo
16
2 Elaborado pela equipe com base em dados do GEOSAMPA
1
Rua Jd. da Felicidade
2
Av. Luiz Gushiken
Diretrizes do Plano Nesse setor a principal diretriz é a remoção e realocação de parte dos moradores da favela Jardim Santa Josefina, que atualmente se encontram em área de risco geológico, e a urbanização desta e da favela Jardim Ibirapuera. A proposta tem como objetivo qualificar e integrar as áreas residenciais mencionadas ao tecido urbano e promover uma conexão fácil e direta à Av. Luiz Gushiken e à nova rua Jardim da Felicidade que se colocam na intenção de costurar os projetos propostos, criando um importante eixo para o Jardim São Luís.
Outra diretriz foi dada a partir da compreensão da relação entre os equipamentos urbanos existentes e os deslocamentos por parte dos moradores, dificultados pelo relevo acidentado. Os equipamentos de assistência social, são de extrema importância, principalmente em áreas de alta densidade e em situação de vulnerabilidade social. Dessa maneira, foram propostos dois equipamentos de assistência social distribuidos em setores diferentes, de forma a atender em escala local as comunidades do recorte do Plano.
Equipamentos de Assistência Social
Legenda: Recorte de estudo Hidrografia Topografia Assistência social Raio de 800 m de abrangência Elaborado pela equipe com base em dados do GEOSAMPA
Equipamentos Propostos
17
4 ete
R. Jd.
n onta io F
cĂŠd
R. A
e red R. F
2
irco tte
io
Ă´n
ed
ac
M
Gro
R.
1
de
cida da Feli
es
nd
na
r Fe
3
en ushik
uiz G Av. L
18
Setor II: Santa Josefina A área de implantação do projeto foi escolhida estrategicamente buscando atender aos objetivos demonstrados. O lote situa-se como vizinho de grandes equipamentos institucionais, como a Fundação CASA e a FATEC/ETEC, ao mesmo tempo que faz fronteira com habitações precárias instaladas na encosta. Seu principal acesso se dá pela movimentada Av. Luiz Gushiken, que comporta dois pontos de ônibus importantes para a amarração do bairro à malha urbana. Outros possíveis acessos se encontram à nordeste por um pequeno trecho da rua Acédio José Fontanete ou à sudoeste pela rua Macedônio Fernandes. As provocações do tecido urbano ofereceram ao projeto uma oportunidade de se comportar como elemento chave para a articulação do entorno existente às novas propostas. Inicialmente foram estudados os fluxos, que apontam de imediato a dificuldade de acesso ao Jardim Santa Josefina e ao Jardim Ibirapuera. O relevo acidentado dificulta a mobilidade dos pedestres que passam por inúmeras vielas e escadarias para alcançar seus destinos, muitas vezes sem a opção de usar o transporte público. Frente à essas questões elaborou-se para a implantação do projeto a diretriz de proposição de fluxos facilitadores no lote, além da possibilidade de promover fácil acesso do Jd. Ibirapuera e do Jd. Santa Josefina aos pontos de ônibus da Av. Luiz Gushiken. Legenda: Recorte de estudo Hidrografia Topografia Fluxos propostos Área de projeto Barreiras físicas Áreas verdes Áreas de urbanização de favelas Pontos de ônibus
Elaborado pela autora com base em dados do GEOSAMPA
1
Fundação CASA
2
FATEC / ETEC
3
Jd. Santa Josefina
4
Jd. Ibirapuera
19
4
ace
dĂ´n
io F ern
and
es
3
R. A
o Fo
ntan
ete
R. F red e
rico
Gro
tte
R. M
cĂŠdi
1
2 Av .L uiz
20
Gu
sh
ike
n
Elaborado pela autora com base em dados do GEOSAMPA
Outra forte provocação do entorno imediato é a situação da Fundação CASA que coloca o projeto de assistência social em contraposição ao alto e pesado muro que cerca uma difícil realidade de crianças e adolescentes vulneráveis. A partir disso foi compreendida a necessidade real de um espaço seguro e acolhedor para esse público, que pudesse trazer uma nova perspectiva de vida e oportunidade para aprendizagem e expressão. Além do muro da Fundação CASA, outras barreiras do lote foram transformadas em oportunidades na elaboração do projeto. Os taludes que dividem o terreno em dois grandes platôs deixam de ser fronteiras para se tornarem costura e conexão entre os níveis a partir de elementos externos e pelos edifícios. O muro que separa o lote do Jd. Ibirapuera, à norte, terá aberturas para acesso imediato às habitações. Dessa forma, os projetos passam a fazer parte do tecido urbano como um espaço público qualificado e amarrado ao entorno.
Legenda: Vias Fluxos propostos Área de projeto Barreiras: taludes Barreiras: muros Áreas de urbanização de favelas Pontos de ônibus
1
Fundação CASA
2
FATEC / ETEC
3
Jd. Santa Josefina
4
Jd. Ibirapuera
21
22
CapĂtulo II Partido
23
A proposta do Centro de Apoio Dengo é promover às crianças e adolescentes das comunidades, que atualmente vivem em situação de vulnerabilidade social, a oportunidade de se desenvolver em um ambiente que ofereça segurança, liberdade e dignidade. Dessa forma, seriam beneficiados no período do contra turno escolar com atividades de lazer e ensino, que estimulem a convivência entre diferentes idades, além de contribuir para a formação pessoal desses cidadãos.
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): Art. 3º: “A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurandose-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.” 24
Programa O projeto foi setorizado a partir de 3 bases de educação e assistência social direcionadas ao público de 7 a 18 anos, principalmente das comunidades do Jardim Ibirapuera e Jardim Santa Josefina. Com o objetivo de proporcionar amparo e cuidado à esse público e de acordo com o ECA, foi elaborada a base de Assistência Social para assegurar os direitos desse grupo, garantindo atendimento médico e psicológico, além do fortalecimento de vínculos familiares. Além disso conta com um Centro de Transição onde crianças e adolescentes podem ser abrigadas temporariamente enquanto estiverem sem lar ou em situação de extrema vulnerabilidade. A base de Formação Pessoal e Empregabilidade propõe estudos rotativos com oficinas, capacitações, palestras e rodas de conversa para a educação e a formação pessoal das crianças e adolescentes, promovendo representatividade e empregabilidade. Os assuntos tratados seriam sobretudo no âmbito da
cidadania, direitos da criança e do adolescente, convivência social, educação ambiental, financeira e sexual, empreendedorismo, leitura e escrita. A terceira base trata de Criatividade e Movimento e propõe que cada criança e adolescente tenha a oportunidade e o espaço para o desenvolvimento da expressão artística e corporal. Com isso seriam propostas aulas e oficinas de dança, teatro, música, lutas e artes plásticas prezando também pelo convívio e pela interação entre jovens. Espaços coletivos fazem a relação entre esses diferentes setores, com áreas de descanso, lazer, estudos e alimentação. Além disso, esse centro, é em primeiro lugar um espaço público e carrega consigo uma função social e o papel de articulador de fluxos. A partir dessa premissa, os espaços desenvolvidos têm caráter de praça pública, visando a reunião e interação de quem os ocupará.
25
Dengo
26
“O português, a língua imposta pelo colonizador, mesmo depois de séculos de uso, é encaixe imperfeito no nosso ori, no mutuê. [...] Observo que os nossos afetos, sentimentos transpostos através das palavras, terminologias, nomenclaturas organizadas historicamente pela hegemonia branca para nos dominar – a língua como um ferro quente na boca – demarca o lastro terrível da escravização e racismo, não pode servir como elemento simbólico, signos, para representar as formas de afeto que ocorrem entre negros e negras. [...] A palavra amor para nós negrxs é espelho de reflexo falso, não cabe a nossa imagem nela, que é profusão humana e beleza que extrapola a sua lógica. [...] é um embuste de algo sublime que funciona para eles, pois possui uma função objetiva: criar conforto diante das suas quimeras mais profundas. Para nós, negros, ela não funciona, é espelho falso e reflexo bifurcado tragicamente, é desencaixe cognitivo e afetivo, sofisma que nos adoece, ilusão fantasmagórica que não alcançamos e não comunga com a extensão abissal de nossos sentimentos, pois desde o início estamos além. É um signo que não comporta a densidade e beleza significativa da nossa afetividade, do nosso sentir. É o desencaixo no coração, okan, e na cabeça, ori. A palavra que dá conta de acoplar a nossa afetividade, no caso do Brasil, de abarcar a batida mandingueira do nosso coração, da magia e poesia do encontro ancestral de negros e negras, é a palavra de origem banto da língua Quicongo, totalmente inserida na
variação do português falado principalmente por negrxs chamada de dengo. Óbvio que falo aqui do dengo em seu sentido mais profundo e ancestral, o supremo dengo. Não da significação subscrita nos dicionários brancos, que apequena os sentidos das palavras de origem africana. O dengo durante toda a história de escravização, favelização e racismo nessa diáspora de angústia, o Brasil, foi o instante eterno de libertação expressado num simples aconchego de esperança no desconforto cotidiano. A união dos corações em sublimação ancestral, o oriki que arrepia os pelos, pois ecoa por todo o corpo o axé e o poder dos orixás. Os olhos que se entrecruzam e se fixam, pois há de haver o beijo, supremo dengo, libelo de libertação expresso no gesto. Os corações que se entrelaçam para fazerem o “corre” do quilombo intimo e movimentar os outros mocambos para construir o grande quilombo. A humanidade que se reconstrói depois de se diluir através do racismo das grandes metrópoles em frenesi no sorriso da companheira(o) no encontro sagrado depois da batalha enfrentada. O reencontro dos continentes afastados através de um juntar manhoso de faces azeviches a formarem destinos. A palavra dengo é signo portentoso e conjuga em seu interior a palavra chamego, é a família preta em celebração do quilombo íntimo, é a África na origem, o sopro da criação original no ouvido a trazer placidez e beleza ao coração.” (REIS, 2016) 27
28
Croquis de estudo
Partido: Para a elaboração da arquitetura do projeto, foram inicialmente estabelecidos critérios que atendessem às necessidades e provocações do lugar, sendo: - Fluidez na conexão dos diferentes níveis; - Criação de um pátio coletivo, mais contido do que a praça pública; - Aproveitamento da encosta; - Estar localizado na chegada dos fluxos; - Acessos ao edifício voltados para a chegada desses fluxos; - Espaços que estimulem a reunião de pessoas para conversas, debates e convivência. A partir disso foram desenhadas e estudadas diferentes possibilidades de implantação, levando em consideração a necessidade de articular diferentes níveis de acesso ao edifício, além do desejo de criar um desenho que possibilitasse fluxos fluidos, tanto em planta quanto em corte.
Croquis de estudo
29
30
Foi escolhido, então, um desenho implantado no talude existente que divide o lote em dois grandes platôs. Dessa forma o relevo deixa de ser barreira e se transforma em elemento articulador e de costura. Além disso ele se coloca na situação de ser fisicamente abraçado e acolhido pelos morros que o rodeiam. Outra particularidade sobre esse desenho é a criação de um espaço contido pelo próprio edifício, totalmente integrado aos fluxos externos. A arquibancada que também contém esse espaço cria uma conexão direta ao platô superior, além de ter potencial para se transformar em um anfiteatro para apresentações, conversas, debates e encontros. Os acessos ao edifício são voltados para a chegada dos principais fluxos propostos. O edifício faz a comunicação dos diferentes níveis internamente, enquanto externamente quem faz esse papel é a encosta, a qual se dissolve em praças escalonadas nas duas extremidades do projeto.
Croqui de estudo
31
Após os primeiros estudos foi o momento de entender como a arquitetura se daria internamente a partir de um pré-programa. Com isso foi possível ajustar proporções e dimensões que atendessem às necessidades espaciais dos usos propostos, sem se desprender da relação do interno com o externo. Uma das necessidades colocadas foi a concentração do setor de Assistência Social e do Centro de Transição, que possuem usos que exigem segurança, privacidade e um acesso mais reservado. Inicialmente também foi considerada a necessidade de salas para aulas e oficinas que abordassem diferentes temáticas.
Croquis de estudo
32
Maquete de estudo
Depois de mais alguns croquis de estudo, elaborou-se uma maquete que permitiu uma melhor compreensão do edifício, que se dá em quatro pavimentos. A partir dela, foi compreendida a necessidade de a arquitetura oferecer oportunidades para a reunião de pessoas, instigando conversas casuais ou ainda palestras, rodas de conversas e debates. Por isso foram feitas modificações na maquete, como incorporar arquibancadas internas, ampliar os espaços de convivência e aumentar o pé direito do último pavimento. Após analisar a maquete elaborada, foi compreendido que, visto que um dos objetivos desse centro é promover a relação e a convivência de crianças e adolescentes através de
abordagens e atividades flexíveis e adaptáveis, faria mais sentido não existir o entrave de um programa rígido com usos restritos para cada sala. Dessa forma as salas propostas para o setor de Criatividade e Movimento no último pavimento, foram transformadas em uma única sala multifuncional e adaptável para quaisquer usos que possa ter. Outro ponto analisado a partir da maquete foi a perda de espaço útil com dois blocos, inseridos nas extremidades do eixo curvo criado pela passarela, que concentram os sanitários e as circulações verticais. Então foi proposto o afastamento desses blocos, ganhando espaço interno e criando dois blocos rígidos externos à grande estrutura.
Maquete de estudo alterada
33
Articulação dos Espaços Desde o primeiro momento, quando a área em questão foi estudada e compreendida, se teve como premissa a criação de uma praça pública. Além de qualificar os percursos e espaços desenvolvidos, funcionaria como conexão dos projetos que se colocam no terreno amarrados ao relevo. Em contraposição à eles, existe a pesada lâmina que cerca a Fundação CASA. Esse elemento empresta uma unidade à praça e impõe um fluxo retilíneo que atravessa e faz ligação do lote à movimentada Avenida Luis Gushiken. Aos fundos do lote serão abertos dois acessos ao Jd. Ibirapuera em diferentes cotas: 738.0 e 734.0.
34
Implantação dos projetos
Nos esquemas de estudo a foram implantados de formas opo tem sua forma acolhedora que en Equipamento Cultural se volta para blico internamente. Influenciada pelos edifícios, cados conforme é percorrida, provo priação do espaço público pela com
Eix
abaixo fica claro como os projetos ostas. O Centro de Apoio, ao norte, nvolve parte da praça, enquanto o a si próprio criando seu espaço pú-
, a praça passa a ter vários signifiocando diferentes formas de apromunidade.
xos
Entre os projetos, as escadarias que dão acesso ao platô superior marcam um eixo perpendicular ao eixo do muro da Fundação CASA, os quais impõem fluxos retilíneos que conectam a praça à seus acessos ao sistema viário. Além disso, esses eixos a segmentam o espaço em dois núcleos de características distintas, em função dos elementos que marcam o território: à norte um espaço que estimula reuniões e encontros e à sul uma relação de percurso retilíneo.
Núcleos
35
36
CapĂtulo III Projeto
37
D
6
G H
5
9,
00
00 9,
D
4
9,
00
00 9,
D
I
00
9,
i = 2%
J
i = 2%
00 9,
D
K
i = 2% i = 2%
B
i = 2%
D
D
A
D
B
i = 2%
3
i = 2%
D
i = 2%
9,00
i = 2%
i = 2%
2
D
9,00
9,00
i = 2%
9,00
1
D
9,00
D
B
D
D
D
C
D
D
9,00
A
D
E
9,00
F
D D
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
A
D
D
D
D
D
D
38
Y AN AUTODESK STUDENT VERSION
D
Implantação: Após estudos e reflexões sobre as provocações do meio urbano foi compreendida a maneira que este projeto seria melhor implantado, considerando que tanto arquitetonicamente quanto simbolicamente atuaria como um conector. Foi implantado em uma encosta a qual deixa de ter papel de obstáculo quando conecta diferentes cotas a partir dos elementos externos, escadarias e anfiteatro, que se intercalam com as circulações verticais no interior do edifício. O projeto também se coloca como conector entre os fundos de um lote, que se dá para o Jd. Ibirapuera, e a Av. Luiz Gushiken, com relação direta aos principais meios de transporte. Simbolicamente o projeto conecta um povo em situação de vulnerabilidade à dignidade, liberdade, igualdade, segurança e à seus direitos como cidadãos. As aberturas para acesso ao Jd. Ibirapuera permitem um fluxo rápido
e qualificado da comunidade ao tecido urbano. Em meio a esse fluxo dois equipamentos buscam atender às necessidades dos bairros ao redor, funcionando também como espaço público. Criando uma unidade, foi implantado um piso alto à 60 centímetros do nível dos projetos e escalonando ao chegar à avenida. Afastado do muro e recortado, ele contém e provoca espaços sombreados, mas ainda caracterizando o espaço da praça com sua função social. O espaço livre de obstáculos qualifica e permite a reunião de pessoas para manifestações artísticas ou políticas, discussões, apresentações e convivência. Rampas e escadarias conectam o conjunto à todos os acessos possíveis ao entorno, sendo eles a comunicação com o Jd. Ibirapuera, as ruas Macedônio Fernandes e Acédio José Fontanete e a Av. Luiz Gushiken. Os eixos idealizados permitem que exista um fluxo direto e rápido para os moradores da área.
39
40
“Cale o cansaço, refaça o laço Ofereça um abraço quente [...] Um sorriso ainda é a única língua que todos entende”.
Princípia - Emicida
41
G
6
9,
00
00
9,
5
S
H
9,
00
00
9,
4
I
00
9,
S
J
00
9,
1
K
S S
S
2
B
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
S D
A B
3
3 S
9,00 S
2
9,00
1
1
9,00 9,00 9,00
A
9,00 9,00
S
F
S E
D C
B A
42
N AUTODESK STUDENT VERSION
D
D
D
Pavimento Praça: Localizado na cota 730, está diretamente relacionado ao espaço público externo. Os interiores do edifício são espaços cobertos com o mesmo caráter público e de função social: o bloco norte é destinado à encontros e possivelmente à exposições de trabalhos elaborados no centro e o sul inclui um refeitório com espaços de comer interno e externo.
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
1 Bloco rígido hidráulico Sanitários/Vestiários | Elevador 2 Convivência Encontros 3 Refeitório Cozinha
| Exposições | Praça
| Despensas | Estoque | Escritório
43
Rua Macedônio Fernandes Jd. Santa Josefina
Berma de aterro
Rampas de acesso
A
B
9,00
15
Corte AA
11
3 Refeitório Cozinha
| Despensas | Estoque | Escritório
7 Convivência Estudos
| Estar
11 Acesso suspenso Espelho D’água |
Contemplação | Passarela
12 Praça Resguardada Reunião | Contemplação 15 Expressão Artística Corporal Sala Multiuso: Dança | Teatro |
44
Lutas | Artes Plásticas
Música |
9,
,00
Jd. Ibirapuera
C
D
9,00
E
Fundação CASA
F
9,00
9,00
12 7 3
45
“Falar da cor dos temporais Do céu azul, das flores de abril Pensar além do bem e do mal Lembrar de coisas que ninguém viu O mundo lá sempre a rodar E em cima dele tudo vale Quem sabe isso quer dizer amor Estrada de fazer o sonho acontecer”
Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor - Milton Nascimento
46
47
S
9,
00
00
9,
5
D
G
6
H
9,
00
00
9,
4
D I
00
9, J
K
S
S
S
00
4
9,
1 5
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
B
S D
A B
6 3
7
S
9,00
S
2
9,00
1
1
9,00
9,00 9,00
A
S
D
F E
D C
B
9,00
9,00 D
S
A
48
N AUTODESK STUDENT VERSION
D
D
D
Pavimento Apoio: Nesse pavimento, na cota 734, foram concentrados os usos mais reservados. O setor de Assistência Social possui um ingresso à norte, na mesma cota onde existe comunicação com o Jd. Ibirapuera. A decisão se deu pela idealização de que, embora o pavimento exija privacidade e segurança, crianças e adolescentes que se sentirem na necessidade de obter ajuda, possam acessar de forma fácil e rápida. A partir dessa premissa, um recorte diagonal faz com que a arquitetura passe a sensação de acolher parte da praça e por consequência quem estiver transitando ali. Conforme
se adentra no edifício, a diagonal afunila para um espaço mais contido e reservado. Somente após ultrapassar a vedação que fecha o edifício se torna possível acessar o Centro de Transição. Este se trata de um lar temporário, por isso possui um acesso restrito, trazendo conforto e segurança para os moradores momentâneos. Conta com quatro quartos compartilhados com banheiro e áreas de estar, convivência, alimentação e externa. No bloco sul se localiza a administração do Centro, além de uma ampla área externa.
1 Bloco rígido hidráulico Sanitários/Vestiários | Elevador 4 Assistência Social Enfermaria | Atendimento Inicial
| Atendimento Psicológico Individual | Atendimento Psicológico Familiar | Visita Pais/Filhos | Administração
5 Centro de Transição Quartos Lar Temporário
Cozinha | Área Externa
| Estar |
6 Administração Escritórios | Sanitários
| Armazenamento | Depósito Limpeza
7 Convivência Estudos |
Estar
49
50
“Às vezes a felicidade demora a chegar Aí é que a gente não pode deixar de sonhar Guerreiro não foge da luta não pode correr Ninguém vai poder atrasar quem nasceu pra vencer [...] Tua hora vai chegar”
Ta Escrito - Grupo Revelação
51
52
53
9,
00
00
9,
D
H
9,
00
4
D
9,
00
5
D
G
6
I
00
9,
8
D
J
00
S
9,
1
K
S
B
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
9
10 D
D
A B
11
3
12
S
9,00
S
2
9,00
S
1
S 1
9,00 9,00
A
D
F E
C B
S
D D
9,00
A
9,00 9,00 D
D
D
D
S
54
N AUTODESK STUDENT VERSION
D
D
D
Pavimento Acolhimento: O pavimento se localiza na cota 738, a mesma do platô superior existente. O bloco norte faz acesso a partir de uma diagonal que é uma extensão da praça e funciona como acolhimento que se afunila para o ingresso ao interior do edifício. Nesse bloco foi posicionada uma arquibancada que dá acesso ao pavimento superior e cria um espaço de reunião de pessoas, estimulando a interação de crianças e adolescentes de diferentes idades, debates, palestras e apresentações. A passarela curva foi nomeada galeria, já que mais do que passagem é um espaço de
contemplação. Além da paisagem, também é contemplação da dura realidade do mundo exterior a partir de dentro desse ambiente acolhedor. Ela espacializa o nome “Dengo”, o pedido de aconchego no outro em meio ao duro cotidiano, que permite o desenvolvimento seguro e amparado desses indivíduos. O ingresso ao bloco sul se dá por um acesso suspenso acompanhado de um espelho d’água. Atravessando, se chega em uma praça resguardada, apelidada dessa forma por conta de sua função social de promover encontros, manifestações e discussões.
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
1 Bloco rígido hidráulico Sanitários/Vestiários | Elevador 8 Acolhimento Praça coberta 9 Arquibancada Rodas de Conversa
| Aulas Abertas | Palestras | Debates
10 Galeria Reunião
| Contemplação | Passarela
11 Acesso suspenso Espelho D’água | Contemplação
| Passarela
12 Praça Resguardada Reunião | Contemplação 55
56
“Posso me considerar um sujeito de sorte Porque apesar de muito moço, me sinto são e salvo e forte [...] E assim já não posso sofrer no ano passado”
Sujeito de Sorte - Belchior
57
Fundação CASA
Equipamento Cultural
Anfitea F
E
9,00
D
9,00
C
9,00
14 10
Corte BB 10 Galeria Reunião 14 Terraço Horta
58
| Contemplação | Passarela
| Contemplação | Estar
B
9,00
9
Rua MacedĂ´nio Fernandes Rampas de acesso
Jd. Santa Josefina
atro A
9,00
59
60
61
62
63
64
65
9, 00
H
D
00
9, 00
9,
4
00 9,
5
D
G
6
D
I
00 9,
D
J
13
00 9,
1
K
D
B
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
D
D
14
A
D
B D
3
D
9,00
15
2
9,00
D
1
1
9,00 9,00
A
D
F E
C B
D
D D
9,00
A
9,00 9,00 D
D
D
D
D
66
N AUTODESK STUDENT VERSION
D
D
D
Pavimento Saber: A partir das circulações verticais posicionadas nas extremidades do eixo curvo formado pela passarela, tem-se acesso ao pavimento da cota 742. Duas salas multifuncionais foram posicionadas uma à norte e outra à sul, ambas com um pé direito de 6 metros, 2 metros a mais que os anteriores, para dar flexibilidade de ocupação ao espaço que receberá diferentes atividades e usos. No bloco norte, se trata de um espaço contido porém amplo, que pode ser destinado à realização de oficinas de capacitação e aulas sobre cidadania, sustentabilidade, empregabilidade, sexualidade, direitos da criança e do adolescente, etc. Ainda à norte, a partir de um
mezanino por onde chega a arquibancada, é possível assistir à tudo que acontece no pavimento inferior, ampliando a capacidade da plateia. O bloco sul contém uma sala multifuncional podendo ser voltada para o desenvolvimento da expressão artística e corporal, possibilitando aulas e oficinas de dança, teatro, música, lutas e artes plásticas. Entre os blocos, a passarela se estabelece como terraço, um espaço também voltado para a aprendizagem e convivência, com a inserção de uma horta educativa, além de se configurar como espaço de contemplação.
1 Bloco rígido hidráulico Sanitários/Vestiários | Elevador 13 Formação Pessoal Oficinas de Capacitação
| Palestras | Aulas Abertas | Rodas de Conversa Mezanino | Arquibancada
14 Terraço Horta
| Contemplação | Estar
15 Expressão Artística Corporal Sala Multiuso: Dança | Teatro | Música
Lutas | Artes Plásticas
|
67
68
69
Muro Fundação CASA Equipamento Cultural
K
J
I
9,00
9,00 9,00
9,00
13 9 5
4 2
Corte CC 2 Convivência Encontros
| Exposições | Praça
4 Assistência Social Enfermaria | Atendimento Inicial
70
| Atendimento Psicológico Individual | Atendimento Psicológico Familiar | Visita Pais/Filhos | Administração
5 Centro de Transição Quartos Lar Temporário
Cozinha | Área Externa
8 Acolhimento Praça coberta
| Estar |
9 Arquibancada Rodas de Conversa
| Aulas Abertas | Palestras | Debates
13 Formação Pessoal Oficinas de Capacitação
| Palestras | Aulas Abertas | Rodas de Conversa Mezanino | Arquibancada
0
Rua MacedĂ´nio Fernandes
Jd. Santa Josefina
H
G
9,00
Jd. Ibirapuera
Novo acesso ao Jd. Ibirapuera
8
71
72
73
“E a pergunta roda E a cabeça agita Eu fico com a pureza Da resposta das crianças [...] A beleza de ser Um eterno aprendiz”.
O Que É, o Que É? - Gonzaguinha
74
75
Estrutura: G
6
9, 00
H
4
9,
00
00 9,
I
00 9,
J
00 9,
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
5
00 9,
A grande estrutura é composta por pilares de concreto de seção circular com 40 cm de diâmetro distribuídos em uma malha com eixos espaçados em 9,00 metros. Quatro desses pilares, dois em cada bloco, possuem diâmetro de 50 cm com o intuito de amarrar a passarela metálica treliçada. Para obter o maior vão possível e executar os rasgos propostos na laje sem grandes esforços estruturais foi escolhida a laje nervurada h= 36 cm, por ser de maior resistência e com menor peso próprio do que outros tipos de laje. Algumas cubetas têm a necessidade de serem preenchidas para o apoio e travamento dos pilares e execução dos rasgos com maior segurança.
K
3
9,00 2
9,00
9,00 9,00
1
9,00 9,00 9,00 B A
76
D C
F E
6
G
9, 00 5
H
9,
00
9, 00
4
I
00 9, J
i = 2%
i = 2%
00 9, K
i = 2% i = 2%
i = 2%
i = 2%
3
i = 2%
i = 2%
2
9,00
i = 2% i = 2%
9,00
9,00
1
i = 2%
9,00
E
9,00
D
9,00
9,00
F
C B
A
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
00 9,
PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION
A cobertura da grande estrutura em laje nervurada possui platibanda de h = 40 cm e conta com uma argamassa de regularização com inclinação de 2% para o caimento das águas pluviais nas calhas que conduzem aos pontos de captação. Uma manta de impermeabilização se coloca acima da camada de argamassa, protegendo e evitando infiltrações. As tubulações que conduzem as águas pluviais ao subsolo se localizam na cobertura dos blocos rígidos hidráulicos em um shaft entre as paredes pilares e uma parede de alvenaria, que abrigam também algumas das tubulações hidráulicas dos sanitários e vestiários.
77
Os dois blocos rígidos hidráulicos foram implantados nas extremidades do eixo curvo configurado pela passarela e são sustentados por duas paredes pilares. Os quatro pavimentos são ocupados com elevadores, sanitários e vestiários, com lajes de concreto e paredes de alvenaria com pé direito de 4,00 metros. O último pavimento conta com mais 2,00 metros, somatizando os 6,00 metros de pé direito, para a instalação das caixas d’água. A ventilação dos vestiários se dá por uma abertura com peitoril de 2,00 onde foi posicionada uma floreira. As plantas na floreira, além de contribuirem com o conforto térmico, criam uma grande parede verde voltada para o espaço público externo. A passarela foi estruturada a partir de treliças metálicas que se amarram na grande estrutura a partir dos pilares de concreto. Ao lado das treliças se apoia um brise metálico, que ultrapassa a laje superior, funcionando como um guarda corpo. Os guarda corpos inseridos no projeto são em vidro com corrimão metálico. As vedações são em vidro, sendo que nas grandes aberturas optou-se por seguir a altura dos guarda corpos nos caixilhos, criando uma proteção de 1.00 m de vidro, inferior às janelas basculantes que possuem altura de 1,20 m. Dessa forma o caixilho superior às janelas ficam a 2,20 m alinhando à altura das portas. Acima, uma bandeira de vidro de 1,40 m.
78
79
80
“Eu me refaço, farto, descarto De pé no chão, homem comum Se a bênção vem a mim, reparto”. Princípia - Emicida
81
“Aí, maloqueiro, aí, maloqueira Levanta essa cabeça Enxuga essas lágrimas, certo? Respira fundo e volta pro ringue Cê vai sair dessa prisão Cê vai atrás desse diploma Com a fúria da beleza do Sol, entendeu? Faz isso por nóis Faz essa por nóis Te vejo no pódio”. Amarelo - Emicida
82
Considerações Finais:
O Centro de Apoio Dengo foi concebi-
Idealizando esse projeto, o maior obje-
do como resposta às provocações do lugar e
tivo do Centro é atuar como espaço formador
às necessidades da população. Localizado em
de cidadãos, fundamentado na dignidade, liber-
uma área de alta vulnerabilidade social, se co-
dade e igualdade. É necessário promover o de-
loca em contraposição à um lugar onde crian-
senvolvimento saudável das nossas crianças
ças e adolescentes têm medo e aversão, a Fun-
e adolescentes, com representatividade e mo-
dação CASA.
delos a seguir que não as conduzam à CASA.
Nosso país vem se provando cada dia
É necessário ampará-las com atendimento
mais conservador, com políticas cada dia me-
psicológico e médico e com lares temporários
nos públicas. Favelas e ocupações irregulares
para quando se fizer preciso. É necessário ofe-
crescem anualmente, sem que o governo as
recer espaços onde elas possam se expressar
freie e sem qualquer respaldo. Isso se dá por-
artisticamente, fisicamente ou politicamente. É
que essa é a melhor forma de manter espacial-
necessário cuidar, orientar, conhecer.
mente concentrada a renda e o poder, e a inter-
É necessário enxergá-las.
minável guerra às drogas criminaliza territórios
Esse projeto é dedicado à todas as crian-
por inteiro. Essa população acaba sendo mar-
ças e à todos os adolescentes que um dia não
ginalizada e colocada no contexto como bandi-
se sentiram vistos.
dos e inimigos da cidade.
83
Referências Bibliográficas: Dados Governamentais: GEOSAMPA. Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>. Acesso em: 08 de jun. de 2020. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. SECRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA. Fundação CASA Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente. Disponível em: <http://www.fundacaocasa.sp. gov.br/>. Acesso em:13 de jul. de 2020. GOVERNO FEDERAL. MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. SECRETARIA NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Estatuto da criança e do adolescente - Lei nº 8.069, de 13 de julho 1990. Brasília, 2019. Disponível em: <https:// www.gov.br/mdh/pt-br/centrais-de-conteudo/ crianca-e-adolescente/estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-versao-2019.pdf>. Acesso em: 11 de ago. de 2020.
84
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Cidade de São Paulo: Habitação, 2019. Prefeitura de São Paulo entregou 23 Conjuntos Habitacionais em dois anos e meio. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/noticias/?p=282737>. Acesso em: 13 de jul. de 2020. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo. Centro Paula Souza. ETEC Escola Técnica Estadual. Disponível em: <https://www. vestibulinhoetec.com.br/>. Acesso em: 13 de jul. de 2020. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo. Centro Paula Souza. FATEC Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://fateczonasul.edu.br/>. Acesso em: 13 de jul. de 2020.
Sites:
Livros:
ATEX BRASIL. Catálogo Técnico Lajes Nervuradas. Disponível em: <https://www.atex. com.br/upload/PDFCalculista/Catalogorevjan19_636867676630505412.pdf>. Acesso em: 23 de out. de 2020.
GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. 3. ed. São Paulo, Perspectiva, 2015.
ONG AAQQ Associação Anhumas Quero-Quero. Disponível em: <http://aaqq.org.br/>. Acesso em: 07 de ago. de 2020. PEREIRA, Caio. Laje Nervurada: O que é, vantagens e desvantagens. Escola Engenharia, 2018. Disponível em: https://www.escolaengenharia.com.br/laje-nervurada/. Acesso em: 20 de out. de 2020.
HORDGE-FREEMAN, Elizabeth. A Cor do Amor: Características Raciais, Estigma e Socialização em Famílias Negras Brasileiras. Capítulo 1. São Carlo: EDUFSCAR, 2018. ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. 1. ed. São Paulo, Boitempo, 2015 ROLNIK, Raquel. O que é cidade. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Coleção Primeiros Passos).
PINHEIRO, L. M.; RAZENTE, J. A. Estruturas de Concreto: Capítulo 17, 2003. Disponível em: <http://www.set.eesc.usp.br/mdidatico/concreto/Textos/17%20Lajes%20nervuradas.pdf>. Acesso em: 20 de out. de 2020.
ORTÍZ NICOLÁS, Juan Carlos et al. Afectividad y diseño. Universidad Nacional Autónoma de México. Facultad de Arquitectura. 2017. Disponível em: <https://arquitectura.unam.mx/libros. html>. Acesso em: 22 de set. de 2020.
REIS, D. N. Blog pessoal de Davi Nunes. A palavra não é amor, é dengo. Salvador, 2016. Disponível em: <https://ungareia.wordpress. com/2016/11/09/a-palavra-nao-e-amor-e-dengo/>. Acesso em: 14 de set. de 2020.
*Todos os croquis, mapas, desenhos técnicos e imagens foram elaborados pela autora. 85
86