Centro de Documentação e Memória de Goiânia: um projeto de intervenção na Praça Cívica

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centro de documentação e memória de goi^ânia

um projeto de intervenção na praça cívica

título do capítulo


Universidade Federal de Goiás Faculdade de Artes Visuais Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso

centro de documentação e memória de goi^ânia

um projeto de intervenção na praça cívica

discente | Gabrielle Ribeiro Costa orientadora | Adriana Mara Vaz de Oliveira

goiânia, 2020


Dedico este trabalho a Deus, primeiramente, e aos arquitetos que me inspiraram e me acompanharam na faculdade e nos lugares onde trabalhei. Agradeço a todos aqueles que colaboraram para a realização deste trabalho, sem os quais este estudo não teria sido o mesmo. Especialmente às minhas colegas de curso que se tornaram amigas pessoais: Suzy Coelho, Ana Elisa Jawabri, Marília Gontijo e Giovana Netto. Devo este estudo ainda às pessoas que foram fundamentais na minha formação como arquiteta: Eline Maria Caixeta, Livia Maria, Wolney Unes, Dafne Marques, Fernando Mello, Frederico Rabelo e Manoel Balbino, esses últimos agradeço também por participarem da minha banca. Em especial agradeço às pessoas mais próximas que me ajudaram de diversas maneiras e me deram imenso suporte para estudar: meus pais, Carlos e Monica, meu irmão, mesmo que de longe, Felipe, minhas amigas, também arquitetas, Ana Carolina e Amanda; e ao meu noivo Marcos Felipe pelo carinho, compreensão, apoio e parceria nesta conquista. Por fim, agradeço à minha orientadora Adriana Mara Vaz, não só por sua dedicação e paciência ao longo de todo o período de orientação, mas também pela significativa importância que teve em meu processo de formação.


Este volume é a segunda fase do Trabalho de Conclusão do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Nele contém a continuação dos estudos sobre os processos de intervenção em edifícios históricos e como esse recurso permite a valorização da memória e história da cidade, resultando no desenvolvimento da proposta projetual que associa essas pesquisas. O objeto de intervenção é o antigo edifício da Chefatura da Polícia, inserido no conjunto da Praça Cívica, em Goiânia-GO. A construção é tombada, em várias instâncias, como patrimônio arquitetônico Art Déco e, atualmente, passa por um processo de restauração após alguns anos sendo sub utilizada e degradada. Neste trabalho são apresentadas sugestões de projeto para valorizar os potenciais sociais, econômicos e funcionais do edifício, tornar acessível o saber histórico e educacional por meio de ambientes de leitura e pesquisa, bem como constituir um equipamento cultural capaz de reforçar a memória e a identidade da cidade. Palavras chave: patrimônio arquitetônico; intervenção; história; memória; Setor Central; Goiânia; Praça Cívica.

sob a história, a memória e o esquecimento. sob a memória e o esquecimento, a vida. mas escrever a vida é outra história. inacabamento. Paulo Ricoeur


Lista de Figuras Referências

sumário Inquietações

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Evidências

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Referencial Teórico

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Referencial Arquitetônico

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Goiânia: o centro, a praça, o edifício

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Fragmentos

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Entorno Imediato

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Estudo sobre o edifício e intervenções do restauro

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Partido

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Projeto

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69 71


A partir dessas reflexões pude perceber que destacar essa importância da arquitetura, preservando-a, garante não só a integridade de uma construção relevante e o reaproveitamento de um espaço construído, mas também o acesso à memória da cidade. Sendo assim, a proposta é elaborar um plano de intervenção, pautado na experiência do ser e estar no centro de Goiânia, que valorize a memória a partir de um edifício conceituado como patrimônio histórico. Esse local seria um espaço destinado para exposições e pesquisa que, concentrando acervos históricos e registros pessoais, documentem a trajetória urbana de Goiânia.

inquietações Inquietações geradas no decorrer do curso me aproximaram de debates diversos relacionados à pré-existências, cultura e memória da cidade. A arquitetura é um meio de propagação de experiências e histórias ao longo das gerações. Assim, construções históricas representam, de certa forma, a memória coletiva de uma sociedade no período de ocupação e apropriação do ambiente. Em contraste a elas, a arquitetura contemporânea destaca diferentes traços na paisagem, conformando-a ao tempo presente. Com novos materiais e técnicas de construção, os edifícios contemporâneos possuem particularidades que, somados aos edifícios pré-existentes, são importantes para o desenvolvimento da urbanidade. Os centros históricos das cidades, hoje amplamente transformados, são exemplos claros dessa dualidade entre arquiteturas e evidenciam a continuidade da cidade atual sobre àquela de outros tempos. Então, a temática da intervenção é o elo que une a memória à preservação por meio da arquitetura, de modo que manifestações contemporâneas e históricas coexistam para relembrar a diversidade no material e no imaterial. 9

inquietaç~ões

inquietações

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evidências Estando em Goiânia, capital planejada do estado de Goiás, pude conhecer e participar, como espectadora, de alguns processos de ocupação, desocupação e abandono de edifícios históricos relevantes, principalmente no centro da cidade. Esses ambientes construídos não apropriados, agravam a degradação da ambiência urbana, com o aumento do vandalismo, da ocupação indevida e da desvalorização do patrimônio histórico edificado. Em paralelo a isso, nos últimos anos, propuseram-se alterações e requalificações em vários locais do centro, como na Praça Cívica e na Praça do Trabalhador. Essas intervenções mostraram-se pouco eficazes, em decorrência de um planejamento não efetivo e do interesse político. Isso me incentivou a destacar essa localidade no meu trabalho, de modo que se possa repensar os usos e conexões presentes, que são tão significativos para a identidade da cidade, além de evidenciar a urbanidade que emana a vivência pura e rotineira do cidadão goianiense. Uma sugestão crítica para a retomada cultural do centro de Goiânia. Assim, o objetivo maior é propor diretrizes que requalifi11

evidências

quem a ambiência do Setor Central como local de cultura e memória, abrindo espaço para pesquisa e debate acerca dos valores da cidade. Outro objetivo é apresentar e valorizar a história de Goiânia como herança às novas gerações que a desconhecem. Nesse sentido, pretende-se ampliar os pontos de cultura existentes, impulsionando a vida social do centro. Diante dessa percepção escolhi um edifício para fazer uma intervenção arquitetônica com o intuito de que ela reverbere para o contexto em que está inserida e contribua para o exercício da memória do centro histórico, promovendo um sentimento de pertencimento da população. A escolha da área de intervenção foi pautada no recorte urbano descrito acima, principalmente por sua relevância histórica na construção de Goiânia: o Centro. A resposta formal dos eixos estruturantes da cidade, concebidos a partir de princípios urbanos clássicos, gera um ponto focal em que é abrigado o centro administrativo, cujos edifícios em Art Déco representam a modernidade pretendida do estado goiano. Esse ponto focal é conhecido atualmente como Praça Cívica, inaugurada em 1935, considerada o marco inicial da construção da nova capital. Perante o contorno definido, o edifício a ser intervindo faz parte desse conjunto, conhecido como antigo edifício da Chefatura da Polícia ou da Procuradoria Geral do Estado de Goiás. Atualmente, a construção passa por um processo de restauro, vinculado ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), à Secretaria de Cultura de Goiás (SECULT-GO) e à Construtora Amazonas, iniciado em outubro de 2019, pretendendo tornar-se um museu para a Polícia. Apesar da presente ação de restauro ser significativa e necessária, a posição desse estudo é de propor um novo uso ao projeto, que desvincule-o da polícia, de modo que a função da praça e do edifício mantenham os valores cultural e memorial para a população em geral e não apenas para uma parcela desta. Vemos esta necessidade a partir das referências teóricas que tratam o objeto patrimonial e sua influência na vivência da cidade.

evidências

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como abordar uma intervenção em uma pré-existência e propô-la para expressar-se como permanência?

referencial teórico Diante desse questionamento muitos arquitetos têm dificuldade de tratar da dialética entre a nova arquitetura e a cidade histórica construída. No início do século XX foram geradas contribuições teóricas relevantes acerca dos valores relacionados aos objetos patrimoniais, assim como definições sobre critérios de atuação, preservação e a delimitação do seu entorno (IPHAN, 2000). As cartas patrimoniais foram os primeiros documentos que buscaram conceituar e regulamentar essas práticas. Ao longo dos anos as caracterizações foram transformadas, de acordo com o pensamento vigente da época, das novas descobertas e das prioridades definidas acerca da patrimonialização de cada país. As primeiras iniciativas buscaram, principalmente, resolver os problemas que emergiram no século XIX com a restauração de grandes monumentos, no pós-guerra, e a preservação de importantes sítios arqueológicos, com os debates acalorados de Viollet le Duc e John Ruskin, por exemplo. Posteriormente, a Carta de Atenas, de 1931 e 1933 introduz outra perspectiva de atuação frente ao patrimônio histórico. Com o passar do tempo, surgem outros exemplos como a Carta de

Veneza, de 1964, que veio como a principal referência dos documentos que trataram posteriormente das intervenções físicas no patrimônio; em 1986, a Carta de Washington, que diz respeito à conservação de cidades, centros e bairros históricos com seu entorno natural ou construído; a Carta de Petrópolis, de 1987, que destaca a preservação e revitalização de centros históricos no Brasil; e a Carta de Lisboa, de 1995, na qual destaca o termo requalificação, usado com a intenção de valorizar os potenciais sociais, econômicos e funcionais de uma determinada cidade ou edifício, propondo o melhoramento da qualidade de vida da população. Nesse momento, o tecido urbano passa a ter mais importância no meio dos princípios de preservação, como composição representativa de diversos conjuntos patrimoniais, o que impulsionou essa questão da coexistência entre o antigo e o novo. Os núcleos urbanos possuem, cada um em sua especificidade, morfologias, escalas compositivas e qualidades históricas e estéticas que inventam diferentes perspectivas sobre a paisagem da cidade. Ao longo do tempo, com o desenvolvimento de outras formas de pensar e, consequentemente, de construir, novas arquiteturas entranham formas urbanas consolidadas como meio de adaptação da modernidade. Esse é um processo válido diante do seguimento da sociedade, além de serem formas de representatividade cultural do presente (ARGAN, 1939). Porém, essa substituição de valores muitas vezes sucateia as ambiências naturais e tradicionais da cidade. A requalificação das edificações e espaços públicos patrimoniais, para diferentes usos, tem alguns benefícios que refletem no desenvolvimento dos centros urbanos, como: a conservação e valorização da identidade cultural e arquitetônica da região; o aproveitamento de estruturas físicas existentes, estratégia para lidar com espaços de formas mais econômica, sustentável e eficiente; a atualização e inserção de modernizações nos centros antigos, que potencializam a sincronia entre contemporaneidade e história; a proposição de novas atividades relativas às necessidades de bairro, além do controle com relação ao crescimento acelerado das cidades e as questões emergentes como o parcelamento do solo e a distribuição da densidade urbana. Portanto, uma intervenção modificadora deve reconhecer a categoria única que cada marco espacial possui e a seleção de alguns critérios vão determinar o alcance da modificação. A racionalidade envolvida no processo de composição dessa tipologia de projeto é necessária, segundo de Gracia (1992), pois altera conceitos já consolidados pela cidade, como: referencial teórico

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paisagem urbana, pré-existências ambientais, memórias coletivas e permanências. Dessa forma, o autor destaca duas condições para atuação consciente no processo dinâmico de transformação das cidades. A primeira é o reconhecimento dos limites da área atingida pelo projeto, ou seja, o arco de incidência sobre o qual a intervenção atua. A segunda condição é determinada pelo conhecimento da lógica formal do edifício e a análise deste, para que seja feita a interpretação mais adequada relativa à ação direta na construção. A partir desse processo, alguns autores como de Gracia (1992), Bollack (2013) e Solà-Morales (2006) destacam princípios que categorizam as ações com base nos níveis de intervenção nos edifícios e nas relações entre a forma existente e a nova construção. As possibilidades estão divididas em três grupos iniciais: inclusão, intersecção e exclusão. Estas podem se subdividir em outros conjuntos com características específicas, como: parasitismo, embrulhamento e justaposição. Na inclusão, a forma existente engloba o novo objeto, de modo que este utiliza da estrutura existente como proteção ou aninhamento. Normalmente a intervenção possui sua própria identidade e esse universo é destacado pela experiência em contraste com o antigo, que gera diferentes perspectivas dentro do edifício. A intersecção é gerada por um elemento modificador dos limites originais da edificação. Esse tipo de ação é uma forma de adicionar programa, infraestrutura ou acesso através do novo objeto de modo que ele permaneça dependente da estrutura existente. Os limites entre o antigo e o novo podem ser perceptíveis ou não, por meio de composições e transições entre volumes, materiais e texturas. Já a exclusão trata os dois objetos como conjuntos distintos, em que normalmente existe uma conexão através de um elemento agregador, que não altera as características originais do edifício existente. Essas são algumas formas de diálogo entre os projetos que podem ser aplicadas em sua essência ou serem alteradas devido a alguma característica específica do contexto ou da edificação. Os novos usos, novos aspectos e novas relevâncias inseridas no antigo objeto podem mudar algumas perspectivas dos edifícios a partir da memória social coletiva, construída por diversos discursos de várias camadas de representação (HUYSSEN, 2000). Assim podemos destacar essa relação intrínseca entre intervenção e memória e como esse processo influencia na valorização do patrimônio construído.

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referencial teórico

1 | Relações de Inclusão, entersecção e exclusão

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2 | Graus de compatibilidade por adjacência

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3 | Relação mediante à um conector específico

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4 | O espaço vazio como manipulação do contato

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Ilustração retirada do livro ‘Construir en lo construído’ de Francisco de Gracia (páginas 187 e 188), demonstrando graficamente alguns dos níveis de intervenção apresentados anteriomente.

legenda a. Forma exisente b. Novo elemento construído c. Conexão

referencial teórico

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FIGURA 1

serviços, como depósitos e reservas técnicas no subsolo, e o café-restaurante no térreo. Os edifícios conversam em dois momentos: no térreo, por um jardim centenário que define um espaço cultural, intencionado como ponto de encontro e área de convívio e (Figura 4); no primeiro pavimento, por uma passarela de concreto protendido, braço que se estende na direção da antiga construção em 20m de comprimento (Figura 5). Ambos possuem características arquitetônicas específicas dos momentos históricos em que foram projetados (Figura 6), porém o reconhecimento dos aspectos da forma já construída permitiram estabelecer um limite em que a modificação no ambiente não supera o pré-existente, mas o completa. As relações entre construções apresentadas neste exemplo contribuíram para o desenvolvimento do partido. Ambos projetos utilizam um patrimônio histórico como objeto principal, encontrado em localização com relevância cultural. Além disso, a necessidade de completar o programa com um novo edifício e o destaque de materialidades contrastantes entre edificação original e nova como forma de tratar os estilos arquitetônicos diferentes sem que um sobressaia o outro. rua da graça

museu rodin O museu Rodin (Brasil Arquitetura) se insere em um contexto antigo da cidade de Salvador, próximo a uma concentração de casarões dos séculos XIX e XX (Figura 1). O edifício foi escolhido para ser a sede de uma filial do museu francês no Brasil, conhecido pelo mesmo nome, de modo que foi implantado em um local com significado cultural para a cidade e que atendia os requisitos técnicos necessários. O restauro e a construção do anexo tinham o propósito de prover ao edifício a infraestrutura necessária para abrigar o programa pretendido. Foi, então, escolhido o Palacete Comendador Catharino, ícone da arquitetura eclética residencial, no qual permanecem pisos e forros, afrescos e pastilhas originais. Neste prédio concentram-se as áreas de exposição e atividades administrativas, além de conter um centro de documentação, um memorial e áreas de pesquisa. O anexo (Figura 2), construído com a mesma área do palacete (Figura 3), composto principalmente pelos materiais concreto, vidro e madeira, abriga espaços flexíveis que podem se adaptar a diferentes tipos de exposição. Comporta, também, a maior parte das áreas de 17

referencial arquitetônico

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FIGURA 2 Planta de Implantação do Museu

legenda 1. Bilheteria 2. Edifício existente 3. Rampa de acesso ao subsolo 4. Jardim vertical 5. Anexo 6. Pátio de esculturas 7. Esculturas Rodin 8. Porta do Inferno 9. Utilidades 0 2

5

10m

referencial arquitetônico

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FIGURA 3

meio de um sistema estrutural de aço; e a circulação pública (Figura 5), que tem o objetivo de trazer fluidez, articulação entre os acessos do edifício e qualificar os ambientes criados. A implantação e programa da Biblioteca foram as principais características a serem observadas para o novo projeto do Centro. O planejamento funcional da área de conservação e armazenamento de acervos auxiliou na estruturação dos setores e fluxogramas de acesso entre público, público restrito e serviços. Além dos sistemas estruturais que suportam o acervo da biblioteca. O referencial teórico e arquitetônico serviu como embasamento para as primeiras discussões acerca do plano de intervenção do edifício. Como citado anteriormente, Francisco de Gracia (1992) propõe que tenhamos uma atuação consciente e racionalizada do processo de transformação das cidades e que, para isso, é necessária uma maior compreensão relativa à área de intervenção e seu entorno feita através da contextualização histórica e análise do espaço. Na página a seguir estão representadas as principais referências retiradas dos estudos de caso.

biblioteca mário de andrade O projeto de intervenção na Biblioteca Mário de Andrade (Piratininga Arquitetos e Associados) está inserido na Praça Dom José Gaspar (Figura 1), área pública que determinou os eixos estruturadores da volumetria do prédio e o desenvolvimento da sua ocupação. O edifício datado de 1942 possui composição Art Déco e é representante de diversas modernas técnicas de construção (Figura 2). Sua fachada imponente e escala relevante integram o equipamento ao redor da paisagem. O intuito da proposta era melhorar a estrutura física para abrigar o extenso acervo, além de diversificar o programa com áreas de pesquisa e áreas voltadas ao público. O seu desenvolvimento foi feito em duas etapas. A primeira tratou das estruturas, instalações e o restauro de elementos decorativos e mobiliário original. Já a segunda etapa integrou o edifício à um anexo, que conectados pelo subsolo, aumentará o espaço destinado ao acervo e abrigará diferentes laboratórios de pesquisa (Figura 3). Foram destacadas duas zonas principais de intervenção: a biblioteca circulante (Figura 4), que tem livre acesso ao acervo e locais apropriados para consulta e leitura organizados por 19

referencial arquitetônico

FIGURA 4 Corte Transversal

legenda Leitura Auditório, Obras Especiais Circulação, Leitura, Galeria de lojas Escritórios Coleção Pesquisa Serviços de Apoio

0 4 10

20m

referencial arquitetônico

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FIGURA 8

FIGURA 5

entorno

materialidade

praça

pré existência

FIGURA 9

FIGURA 6

contraste entre estilos arquitetônicos

passarela

paisagem

FIGURA 10

FIGURA 7

circulação

estrutura

pátio arte mobiliário

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museu rodin

biblioteca mário de andrade

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goiânia: o centro, a praça, o edifício No início do século XX começaram a surgir intenções de transição da capital do estado de Goiás para um novo centro. A antiga capital, Cidade de Goiás, já se apresentava desarticulada em função de suas condições desfavoráveis de topografia, clima, difícil acesso, entre outras características. O novo centro urbano, deveria então, desenvolver funções econômico-sociais e político-administrativas e contribuir para o crescimento da região central do país. A partir da solicitação de Pedro Ludovico, representante político da época, foi escolhido o terreno para a construção da nova capital, considerando os fatores que invalidaram a Cidade de Goiás como centro político. Com isso, o arquiteto e urbanista Attilio Corrêa Lima, inspirado em modelos europeus e norte-americanos, elaborou o plano urbanístico de Goiânia. Para a época, esse plano foi inovador, representante da modernidade e instaurador de um novo cenário de urbanidade, além de ter sido utilizado com estratégia desenvolvimentista (DOSSIÊ DE TOMBAMENTO, 2010). A estrutura da proposta considera o centro cívico e administrativo como elemento fundamental no traçado urbanístico. 23

goiânia: o centro, a praça, o edifício

Para ele convergem o conjunto de vias radiais que formam os eixos de distribuição da cidade. O centro, então, é visto como marco fundador da nova estrutura urbana, de modo que o seu desenho estabelece as primeiras zonas de ocupação de Goiânia, industrial ao norte, comercial e de serviços ao centro junto da praça, e residencial ao sul. Apesar da inovação do plano, o urbanista ainda valoriza as formas tradicionais de planejamento urbano, saindo do espaço público da rua, para o lote, para a quadra, respeitando a relação entre a escala do pedestre, a imponência das vias e o destaque da Praça Cívica. A Praça Cívica foi inaugurada no dia 5 de julho de 1942. Seu entorno foi zoneado para atividades administrativas de todas as instâncias. Todo o conjunto arquitetônico foi integrado por meio de áreas de convivência entre os edifícios institucionais equipadas com fontes luminosas e outros mobiliários urbanos, como o Coreto. A Avenida Goiás, eixo norte-sul da cidade, parte da praça e cria uma perspectiva de amplitude da área administrativa, interligando-a à futura Estação Ferroviária. Nesse cenário de formação urbana, a identidade da cidade compreendia uma série de manifestações arquitetônicas, devido às diferentes ocupações ao longo do período de sua construção. As linguagens utilizadas nos edifícios residenciais desse início foram as casas-tipo, neocoloniais, normandas e art déco (CAIXETA, 2019). Este último foi eleito como o estilo representativo adotado preferencialmente nos edifícios institucionais da Praça Cívica. O Art Déco contrastava a realidade arquitetônica da região goiana com novos materiais, técnicas e ocupações que mudaram o caráter construtivo da capital, exibindo o retrato de uma nova visão de mundo (DOSSIÊ DE TOMBAMENTO, 2010). Os primeiros edifícios públicos construídos foram o Grande Hotel e o Palácio do Governador, ambos seguiram orientação Déco. Vários exemplares dessa arquitetura foram registradas e 19 delas, construídas entre 1930 e 1950, são objetos tombados, pela União e pelo Estado, por serem representantes desse estilo e por sua relevância na história da cidade. Atualmente estão em franca execução numerosas obras de grande fôlego, empreitadas por firmas de São Paulo, mediante concorrência pública: asfaltamento de algumas das principais vias públicas, numa área de 100.000 metros quadrados, com a instalação de esgoto de águas pluviais. construção de vários edifícios: Fórum, Chefatura de Polícia, Grupo Escolar Modelo, 1° Pavilhão da Penitenciária. (TEIXEIRA, 1939)


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goiânia: o centro, a praça, o edifício

FIGURA 12

FIGURA 11

A consolidação urbana e o rápido desenvolvimento da capital durante os seus primeiros anos gerou um crescimento desordenado causado principalmente pela intensa migração ao novo centro. A partir dos anos 50, esse processo se intensificou com a chegada da ferrovia, conexão à região ao Sudeste; a construção de Brasília; a pavimentação da BR-153, entre outros. Assim se estabeleceu um novo pólo de desenvolvimento regional. Nos anos 70 e 80, a explosão imobiliária ocasionou a perda de interesse pelo centro da cidade, com a dispersão das atividades que aconteciam ali para novos bairros. Desde então, o espraiamento de Goiânia, a verticalização, o aumento da quantidade de veículos e, consequentemente, do trânsito foram alguns dos motivos que promoveram a transição das características morfológicas do Setor Central para outros pólos. Atualmente, com os usos do bairro sendo condensados, principalmente entre residencial e comercial, as atividades diárias se concentram em um período do dia. Isso causa um esvaziamento do setor no contraturno, ocasionando inse-

gurança para a população residente e para os passantes na parte da noite. Outros fatores importantes que geram essa falta de interesse são: a migração de importantes instituições públicas para outros bairros, muitas vezes dificultando seu acesso e que acabaram tirando o caráter administrativo do setor; a falta de equipamentos públicos em funcionamento e atividades culturais que intensifiquem o movimento; e a desconexão da população com a identidade da cidade. Esses fatores são alguns dos motivos para a desvalorização do patrimônio edificado, que é representado pela descaracterização e o abandono dos edifícios, mobiliários e equipamentos. Então, a partir desses estudos e considerações, as propostas desenvolvidas a seguir buscam refrear a depreciação do legado arquitetônico e urbanístico do Centro.

goiânia: o centro, a praça, o edifício

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FIGURA 13

tantes na paisagem urbana e relevantes para a preservação. A inspiração para esse plano teve como base o Circuito da Liberdade, em Belo Horizonte. A praça (Figura 1), de mesmo nome, contém um conjunto de edifícios históricos que foram construídos para abrigar o centro administrativo, assim como a Praça Cívica de Goiânia. Após a ditadura, houve uma desocupação desses edifícios devido a transferência do sistema administrativo para outras partes da cidade. A partir disso, por a Praça da Liberdade ter sido palco de diversas manifestações culturais, sucedeu-se o exercício de reconhecimento e apropriação do patrimônio presente no local, com a criação de novos museus e espaços de cultura e formação (Figura 4), transformando-a no famoso circuito.

fragmentos

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FIGURA 14

A primeira proposta desenvolvida por este projeto é baseada em diretrizes para o reconhecimento do Setor Central. Como já discutido anteriormente, a vocação cultural dessa área é intrínseca à sua conformação, não só urbanística e arquitetônica, mas na tradição e nos valores que foram construídos desde a implantação de Goiânia. Então, os principais objetivos são de melhorar a visualização do espaço urbano como um todo e agregar os conjuntos de edifícios, que atualmente são fragmentos no centro; de valorizar a arte, a cultura e a preservação; e fazerem-se reconhecidos os objetos patrimoniais, a ambiência e as vivências goianienses. Dessa forma, através de alguns percursos, valorizariam-se diversos espaços culturais e de convivência urbana abrigados em estruturas já existentes na cidade. De modo a complementar essa cartografia experiencial, foram produzidos seis cartões postais com diferentes imagens, adquiridas durante uma deriva fotográfica, para captar a vivência de um pedestre no Centro. O objeto do cartão pode ser usado como forma de divulgação e promoção dos espaços públicos do bairro, além de destacar edificações imporfragmentos

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FIGURA 15

A partir disso, apresento como sugestão a transformação do Centro em um “complexo cultural abstrato”, que conecta esses fragmentos arquitetônicos e manifestações populares, e ocupem o espaço urbano da cidade, destacando a importante área. Foram selecionados alguns edifícios históricos e espaços públicos do centro de Goiânia para comporem esses percursos, escolhidos com base na sua relevância para a cidade. Esses objetos são um impulso inicial, uma vez que esta lista poderia ser ampliada a partir da inscrição de novos edifícios e equipamentos no Núcleo de Memória do Centro de Documentação e Pesquisa, segunda proposta deste trabalho. Além de, futuramente, implementar outros bairros ao projeto. A categorização dos objetos está dividida em: (1) Edifícios tombados; (2) Edifícios não tombados; (3) Espaços públicos; ( 1 ) Construções que já possuem algum tipo de proteção patrimonial, seja federal, estadual ou municipal. ( 2 ) Construções que possuem relevância histórica ou arquitetônica, mas que ainda não possuem proteção. ( 3 ) Espaços não conformados necessariamente por construções, que recebam atividades do cotidiano (ruas, praças, vielas, becos, feiras). categoria ( 1 ) .Traçado Viário do núcleo pioneiro de Goiânia .Praça Cívica .Palácio das Esmeraldas .Fórum e Tribunal de Justiça .Secretaria Geral do Estado .Delegacia Fiscal .Tribunal de Contas .Tribunal Regional Eleitoral .Chefatura da Polícia e Cadeia Pública .Coreto .Obeliscos .Fontes Luminosas .Departamento Estadual de Informação .Grande Hotel .Relógio da Avenida Goiás .Liceu de Goiânia .Cine Teatro Goiânia .Antiga Faculdade de Direito 29

fragmentos

(Casa Tipo Rua 20) .Museu-Casa de Pedro Ludovico .Ateneu Dom Bosco .Estação Ferroviária/Murais de Frei Confaloni/Praça do Trabalhador .Grupo Escolar Modelo .Igreja do Sagrado Coração De Maria .Edifício da Antiga Escola Técnica Federal De Goiás (IFG) .Estátua de Bartolomeu Bueno da Silva .Monumento às Três Raças .Goiânia Palace Hotel .Parque Botafogo .Bosque dos Buritis .Centro Cultural Martim Cererê .Sobrado (Casa da Cultura Dr. Altamiro Moura Pacheco) .Antiga Casa do Prof. Colemar Natal e Silva

.Mercado Popular Municipal .Sobrado (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) .Estação Meterológica

categoria ( 2 ) .Joquei Clube de Goiás .Catedral Metropolitana de .Goiânia .Mercado Popular da 74 .Cine Ritz .Cine Ouro .Museu Goiano Professor Zoroastro Artiaga .Estádio Olímpico .Casas dos anos 50 e 60, de diversos estilos .Rodoviária de Goiânia

categoria ( 3 ) .Becos e vielas .Feira Especial da Av. Paranaíba .Mutirama .Eixo Av. Anhanguera .Rua do Lazer .Avenida Goiás .Praça do Bandeirante (cruzamento Av. Goiás e Av. Anhanguera) .Feira Hippie .Pit Dogs na Av. Universitária

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31 fragmentos fragmentos 32

FIGURA 21

FIGURA 18

FIGURA 20

FIGURA 17

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s

Av .T oc

oiá Av. G

Av. Ara guaia

urbanos, como lixeiras, paraciclos, postes e sinalização são insuficientes. A área da praça e dos canteiros centrais são bem arborizados, já as quadras próximas em direção ao interior do bairro não realçam tanto essa característica. Com relação aos usos, podemos encontrá-los em diferentes categorias, tais como: administrativos, culturais, comerciais/ serviços e residenciais. Alguns estão inseridos em construções novas, outros em edifícios históricos, sendo que estes podem estar descaracterizados ou não. Percebe-se esse contraste de realidades arquitetônicas a partir dos muitos estacionamentos, postos de gasolina e a poluição visual das fachadas comerciais em relação às construções como a casa modernista de Bariani Ortêncio, o Museu Pedro Ludovico e o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.

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R. 82

R. 82

entorno imediato

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contexto

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R. 82 Av. 85

Analisando o entorno imediato do projeto de intervenção proposto - antiga de chefatura de polícia na Praça Cívica vemos características importantes se expressarem devido à influência da localidade. Próxima de vias arteriais que distribuem o centro para o resto da cidade, representadas na Avenida Goiás, Avenida Universitária, Avenida 85 e Rua Dona Gercina Borges, destaca-se o potencial de acesso ao terreno. Além disso, o sistema viário ainda é composto por uma ciclovia que se estende desde a Av. Universitária até a Praça do Cigano, final da Av. Assis Chateaubriand, no Setor Bueno. A integração ao transporte público é feita através de pontos de ônibus no canteiro central da R. 82, que circunda todo o conjunto. O calçamento, em geral, do entorno não é padronizado. Devido aos recentes projetos de revitalização urbana da Rua Dona Gercina Borges e da Praça Cívica, esses dois eixos apresentam uma uniformização, além da aplicação de piso tátil, enquanto nas calçadas de terrenos privados isso só acontece parcialmente. A iluminação pública é adequada nas vias principais, porém no interior da praça os mobiliários

Mapa de Usos

legenda Edifícios Praça Cívica Objetos patrimoniais Edifícios comerciais Edifícios residenciais baixo gabarito Edifícios residenciais alto gabarito Edifício escolhido para intervenção 0 2

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contexto

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contexto

FIGURA 24

FIGURA 23

FIGURA 22

Na zona estão localizados alguns monumentos, sendo que dois deles se encontram próximos ao projeto. A estátua de Pedro Ludovico montado em um cavalo, da artista plástica Neuza Moraes é o primeiro deles. Logo ao lado está a obra de arte “Caleidoscópica”, do artista Siron Franco, feita com espelhos e estrutura de aço inoxidável, “O espelho e a forma foram utilizados de modo a provocar uma multiplicação das imagens, a criar ambientes mutantes, a permitir uma realidade que muda e se multiplica para revelar o que está em volta. Será um espaço que mudará o espaço continuamente. As pessoas são as obras de arte”, explica o artista. Ambas estão situadas na área onde ficava o antigo prédio da Prefeitura de Goiânia, demolido em 2015 como parte do projeto de reconfiguração da Praça Cívica. Vizinha a elas as fontes luminosas, também tombadas como patrimônio histórico da cidade, se destacam na paisagem formando um espaço de convivência no entorno dos 260 m² de fonte seca. Ao longo da semana, durante o dia, a Praça serve de passagem para muitas pessoas que transitam pelo centro, seja para trabalhar, por causa do transporte público ou para comprar. Além dos comércios locais, os equipamentos que reúnem a maior quantidade do fluxo de pedestres são o Palácio Pedro Ludovico, as Secretarias, o Centro Cultural Marieta Telles e o CMEI 8 de março que funcionam no entorno imediato. Algumas pessoas aproveitam o horário de almoço para descansar nos bancos, embaixo de árvores ou fazer uma caminhada até a banca de jornal e lanchonete mais próxima. No período da noite o movimento de pedestres é mínimo já que a maioria das edificações não possuem uso noturno. Aos finais de semana o movimento continua sendo de passagem e este diminui, de certa forma, por causa do fechamento do comércio e serviços, mas aumenta o número de pessoas que vão passear e aproveitar do espaço público. Especificamente nos domingos e feriados, o anel viário interno é fechado para veículos e aberto para pedestres e ciclistas. Ao longo do ano alguns eventos chamam a atenção da população e aumentam a movimentação, como o Natal do Bem, em dezembro, e o Cai na Rua, bloco de Carnaval, em fevereiro.

contexto

36


FIGURA 25

de alvenaria exposta, manchas, revestimentos quebrados ou soltos, entre outros. O edifício que se encontrava abandonado até o mês de setembro de 2019, está em processo de restauração com projeto da Secretaria de Cultura do Estado de Goiás e apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Isso mostra que apesar do tombamento da construção, isso não garante a sua conservação ao longo dos anos.

o edifício O edifício escolhido para o projeto de intervenção, encontrado ao lado direito na Praça Cívica, está incluído na lista de objetos tombados em Goiânia. A construção que foi iniciada em 1937 e finalizada em 1942, possui fachada sóbria, quase clássica, com formas compactas, linhas retas e utilização de jogos de volumes (NEIVA,1997), além disso, sobrevergas nas janelas, capitéis quadrados nas colunas da fachada e as esquadrias das portas são desenhadas com tema floral. É conhecida por seu uso original como Chefatura da Polícia e Cadeia Pública de Goiânia, mas ao longo dos anos, abrigou outros órgãos públicos como a Procuradoria Geral do Estado, a Superintendência de Planejamento (SUPLAN) e a Empresa de Obras Públicas (EMOP). Inicialmente era constituída por um só corpo, atualmente dois blocos anexos fazem parte do seu conjunto e foram construídos na década de 1950 e 1960. É possível perceber alterações na planta e materiais de acabamento, como piso, pinturas e cobertura. Além disso, a maioria dos danos apresentados são relativos à falta de manutenção no edifício, refletidas em infiltrações, telhas quebradas, trincas, trechos 37

estudo do edifício

estudo do edifício

38


TÉRREO

1 PAVIMENTO

FIGURA 26

Planta original

legenda

FIGURA 27

Paredes Aberturas e desníveis Calçada

Segundo o memorial descritivo da obra, é proposta a recuperação dos aspectos tipológicos e compositivos que foram perdidos ao longo dos anos e das sucessivas alterações. Entre eles está a platibanda central da cobertura e o telhado em telha cerâmica. A reabertura dos vãos nas fachadas que foram fechadas e a recuperação dos espaços internos, retomando a simetria entre as lados direito e esquerdo. A recuperação estrutural e a restauração das esquadrias também estão previstas no projeto. Além disso, as instalações elétricas e hidráulicas serão readequadas e será implantado um sistema de climatização e lógica. A edificação também será adaptada às normas atuais de acessibilidade. Infelizmente, devido aos cuidados durante a pandemia do Covid-19, não foi possível fazer uma visita técnica à obra em 2020. 39

estudo do edifício

estudo do edifício

40


A partir da análise da construção existente e do programa de necessidades necessário para o novo uso definido do edifício, foi estabelecido um pré dimensionamento base que auxiliou a concepção do partido. De acordo com a tabela, a área total do programa seria de 2.429,00 m², dos quais 1.204,00 m² são da construção existente, ou seja, o anexo teria em média a mesma área do antigo edifício, assim como no estudo de caso do Museu Rodin.

partido Uma série de conhecimentos foram adquiridos a partir das etapas de estudo, com os referenciais teóricos, os estudos de caso, a contextualização histórica e o diagnóstico do lugar. Estes foram condensados em uma proposta inicial, que buscou agregar as diferentes percepções acerca dos recortes da cidade. Foi pensado, então, uma estrutura para abrigar a proposta: Museu da Memória de Goiânia e Centro de Documentação e Pesquisa. Essas tipologias apresentam algumas particularidades em seus programas. Os tipos de acesso aos visitantes, geral ou restrito, e a acessibilidade aumentam a atenção para os deslocamentos dentro do edifício. Além disso, o equilíbrio do conforto térmico e lumínico para os ambientes de armazenamento e exposição se mostram essenciais para a manutenção apropriada da documentação arquivada e obras expostas. A variabilidade de público também desafia o projeto a prever dias de lotação e outros de pouco movimento, afora os eventos. Então, o diagnóstico determinado a partir desses detalhes foram importantes para o desenvolvimento do projeto desde o seu início. 41

partido

setor

ambiente

área

serviços

Sanitários (Masculino/ Feminino) - Centro Sanitários (Masculino/ Feminino) - Museu Sanitários (Masculino/ Feminino) - Auditório Sanitários (Masculino/ Feminino) - Salas de Estudo DML Vestiário (Masculino/ Feminino) Copa Garagem Área de Carga e Descarga Café + Cozinha Loja compartilhada + Depósito

37,00 m² 24,00 m² 24,00 m² 16,00 m² 4,50 m² 24,00 m² 31,50 m² 30,00 m² 90,00 m² 48,00 m² 35,00 m²

circulação

Vertical (Escadas + Elevadores)

administrativo

Administração Escritórios Área de Tratamento de novos acervos

55,00 m² 55,00 m² 36,00 m²

museu

Hall de Entrada + Recepção Sala de Exposição I Sala de Exposição II Sala de Exposição III Sala de Exposição IV + Núcleo de Memória

92,00 m² 70,00 m² 70,00 m² 70,00 m² 152,00 m²

Depósito Museu

68,00 m²

Hall de Entrada Auditório Auditório

55,00 m² 190,00 m²

Hall de Entrada

18,00 m²

centro de documentações

-

Lobby + Recepção

117,00 m²

Escaninho

16,00 m²

Biblioteca Espaço de Leitura Sala de Estudos Individual e Coletiva Salão multiuso Reserva Técnica - FOTOGRAFIA Reserva Técnica - AUDIOVISUAL Reserva Técnica - GIBIS/REVISTAS/PERIÓDICOS Reserva Técnica - MAPOTECA

164,00 m² 35,00 m² 172,00 m² 164,00 m² 40,00 m² 30,00 m² 30,00 m² 30,00 m²

partido

42


O fluxograma foi definido a partir dos fluxos principais necessários, divididos entre público, serviços e restrito. Foram estabelecidos três acessos principais, dois pelo anexo, sendo um de serviços e outro público, além de outro público pelo edifício existente.

banhos acesso público auditório

recepção museu

sala de exposição

hall

sala de exposição

Analisando o edifício existente, muitas alterções foram feitas em sua planta ao longo dos anos devido à quantidade de diferentes usos. O objetivo da proposta é manter sua estrutura formal base e retirar essas divisórias que foram acrescentadas, principalmente no primeiro pavimento, permitindo que a planta abrigue os novos usos e exalte a volumetria da construção como um todo. Algumas paredes serão construídas para melhorar a distribuição interna, mas serão feitas de modo que a intervenção pode ser removida sem danos ao edifício.

banhos

área de tratamento hall

copa

núcleo de memória sala de exposição sala de estudos

Primeiro Pavimento

depósito museu

escritório

administração recepção centro II

reservas técnicas

acesso privado

banhos

acesso público

recepção centro I

hall

área de leitura

biblioteca

café

loja

banhos

Térreo

banhos

Diagrama de modificações

legenda Construir Demolir

43

partido

partido

44


45

partido

partido

46


Térreo edifício novo

Cobertura Primeiro Pavimento Subsolo

Térreo

Térreo edifício antigo

O partido para o novo edifício dá continuidade e completude ao programa definido na construção existente. A estrutura foi determinada por uma malha de 5 x 6 metros, destacada para marcar o ritmo da nova construção, assim como a da pré-existente verificada nos volumes e nas esquadrias. A volumetria é mais simples e linear, de modo que não entra em conflito com as variações nos volumes da edificação pré-existente. A materialidade evidencia a característica natural dos materiais utilizados, como o aço, a alvenaria, a laje de concreto no bloco de serviços e a cobertura de telha termoacústica do bloco de exposições.

Diagrama de eixos

Diagrama de estrutura

legenda

legenda

Volume total Eixos

47

Pilar e viga Laje

partido


1° to en

vim Pa 1° to

en

vim Pa

eo

rr Té eo

rr Té

olo

bs

Su

Acessos e fluxos

legenda Circulação vertical e horizontal Acessos gerais e restritos Áreas de conexão

c

b

a

partido

olo

49

bs

Su

No pátio central a composição dos pisos, escadas e rampas de concreto com áreas verdes, trazem o aspecto natural à transição entre os edifícios. Encontramos no projeto um dos tipos de relação e nível de intervenção, que foram descritos a partir das definições de Francisco de Gracia. A adição de uma estrutura de circulação entre os objetos, novo e antigo, é a intersecção. Desse modo, o limite entre ambos é mesclado e seu programa, estendido.

Setorização

legenda Administração e serviços Museu Centro de documentação

partido

50


Escultura Caleidoscópica Estátua de Pedro Ludovico

Rua 82

Rua interna - Praça Cívica 22,50

3,10 6,15

34,90

Rua interna - Praça Cívica

28,90

5,25

5,25

7,75

Procuradoria Geral do Estado de Goiás

15,15

Pátio 35,30 12,45

9,85

15,00

40,50

13,00

18,00

8,00

8,15

-P

ra ça

Cí v

ica

Área Permeável

a8

Ru ai nt

er

Ru

na

O novo projeto toma forma dentro e no entorno do edifício antigo, buscando apresentar diferentes perspectivas acerca do patrimônio edificado. A locação do novo bloco assume a retirada dos anexos pré existentes, que foram construídos décadas após o bloco principal, e que não são tombados. Foi mantida grande parte da vegetação de grande porte existente. A conexão com os edifícios pode ser feita através dos quatro lados do projeto, ou seja, da Rua 82 ou das ruas internas da Praça Cívica. Esses acessos são concentrados, ao final dos percursos, no pátio central que une os dois prédios.

5,50

5,25

projeto

2

Palácio Pedro Ludovico

planta de implantação 0

51

projeto

5

projeto

10

20m

52


A

A +2,70

Escaninho Hall de entrada +3,80

B’

B DML

WC

D

D’

WC Biblioteca

C

C Sala de Leitura

Hall +3,80

Loja

Depósito

Projeção da Passarela

W.C W.C

WC

WC

Pátio +3,90

Cinema

Sala de Exposição I Projeção da Cobertura

+4,50

Café Copa

DML Depósito do Museu

E Vestiário Vestiário

Hall +0,20

Sala de Reunião

Administração

Caixa de Escada

Hall de entrada Auditório +0,20

E’

E

Recepção Centro de Documentação +4,50

Depó- Cozinha sito WC WC

Reserva Reserva Reserva Técnica Técnica Técnica Fotografia Audiovisual Revista

Auditório +0,20

Caixa de Escada

WC

E’ Reserva Técnica Mapoteca

Recepção Museu

-0,65 Armazenamento de documentação

Área de Tratamento de Acervos

Projeção da Cobertura

+4,50

A’

C’

A’

planta do subsolo 0

53

projeto

5

C’

planta do térreo 15m

0

5

projeto

15m

54


A

Sala de Estudos Individual e Coletiva

Sala de Reunião

B

A

Xerox +7,20 DML

B’

B

B’

D’

D

D’

WC Hall WC

Telhacerâmica i = 35%

Sala de Exposição III +7,20

C

Telhacerâmica i = 35%

D

C

Passarela

Sala de Exposição II

Caixa de Escada

E’

+7,50

E

Varanda

A’

C’

A’

Telha termoacústica i = 10%

Núcleo de Memórias

Telha termoacústica i = 10%

E

Telha termoacústica i = 10%

Projeção da Cobertura

+7,50

E’

C’

planta do 1°° pavimento 0

55

projeto

5

15m

projeto

56


Caixa d’água Edifício Novo +13,00 Cobertura Edifício Novo +11,00

Platibanda Edifício Antigo +12,00 Cobertura Edifício Antigo +10,00

1 Pav. Edifício Novo +7,30

1 Pav. Edifício Antigo +7,00

Térreo Edifício Novo +4,30

Térreo Edifício Antigo +3,80

Pátio +3,90

Calçada +2,70

Subsolo Edifício Novo +00,00

corte AA’ 0

5

15m

Caixa d’água Edifício Novo +13,00 Cobertura Edifício Novo +11,00 1 Pav. Edifício Novo +7,30

Platibanda Edifício Antigo +12,00 Cobertura Edifício Antigo +10,00

Térreo Edifício Novo +4,30

1 Pav. Edifício Antigo +7,00

Pátio +3,90 Subsolo Edifício Novo +00,00

Térreo Edifício Antigo +3,80

corte BB’ 0

5

10m

corte CC’ 0

5

15m

Platibanda Edifício Antigo +12,00 Caixa d’água Edifício Novo +13,00 Cobertura Edifício Novo +11,00

Cobertura Edifício Antigo +10,00

1 Pav. Edifício Antigo +7,00

1 Pav. Edifício Novo +7,30 Térreo Edifício Novo +4,30

Térreo Edifício Antigo +3,80

Subsolo Edifício Novo +00,00

corte DD’ 0

57

projeto

5

10m

corte EE’ 0

projeto

5

15m

58


fachada corte leste AA’

fachada oeste

fachada norte 59

projeto

fachada sul projeto

60


Rufo em “U” com pingadeira Calha metálica Telha Termo-acústica i=10% Cobertura Edifício Novo +11,00

Viga perfil em “I” (corte) em aço galvanizado com pintura eletrostática na cor brancca

Rufo em “U” com pingadeira Telha Termo-acústica i=10% Calha metálica Cobertura Edifício Novo +11,00

Esquadria metálica cor alumínio natural - vidro duplo termo-acústico - folhas de correr

Viga perfil em “I” (corte) em aço galvanizado com pintura eletrostática na cor brancca

Esquadria metálica cor alumínio natural - vidro duplo termo-acústico - folhas de correr

Brise de proteção solar - placa perfurada em aço escovado - painéis pivotantes 1,00x4,30m

1. Pav. Edifício Novo +7,30

Trilho metálico para folhas de correr embutido na alvenaria Sistema modular de cobertura verde. Componentes: Membrana a prova d’água, membrana antirraiz, proteção mecânica, drenagem, filtro, substrato e vegetação (o acesso da manutenção é feito pela janela de correr Esquadria metálica cor alumínio natural - vidro duplo termo-acústico - folha fixa

1. Pav. Edifício Novo +7,30

Trilho metálico para folhas de correr embutido na alvenaria Viga perfil em “I” (corte) em aço galvanizado com pintura eletrostática na cor brancca Esquadria metálica cor alumínio natural - vidro duplo termo-acústico - folhas de correr

Brise de proteção solar - placa perfurada em aço escovado - painéis pivotantes 1,00x3,80m

Esquadria metálica cor alumí io natural - vidro duplo termo-acústico - portas de abrir Parede em vista rebocada e pintada de cinza Térreo Edifício Novo +4,30

Térreo Edifício Novo +4,30

Forro de gesso acartonado

Trilho metálico para folhas de correr embutido na alvenaria Viga perfil em “I” (corte) em aço galvanizado com pintura eletrostática na cor brancca Água Lastro de concreto impermeabilizado Forro de gesso acartonado Parede molhada com revestimento de pedra ardósia marrom - corte fino

Parede de contenção em concreto

Fosso de ventilação para subsolo

Solo compactado

Esquadria metálica cor alumínio natural - vidro duplo termo-acústico - folhas de correr

Parede de contenção em concreto

Subsolo Edifício Novo +0,00

Solo compactado

Trilho metálico para folhas de correr embutido na alvenaria Subsolo Edifício Novo +4,30

Lastro de concreto impermeabilizado

corte de pele I 0

61

1

corte de pele 1I 2m

projeto

0

projeto

1

2m

62


63 projeto projeto 64

VISTA INTERIOR DA PASSARELA

ÁREA DE CONTEMPLAÇÃO - FACHADA LESTE

ISOMÉTRICA - PASSARELA

VARANDA - VISTA PARA PÁTIO CENTRAL

CORTE PERSPECTIVA - PASSARELA


reserva técnica

65 projeto ACESSO DE VEÍCULOS PARA CENTRO DE DOC.

PÁTIO ENTRE BLOCOS

área de tratamento

projeto 66

ACESSO PRINCIPAL EDIFÍCIO ANTIGO


67 projeto BIBLIOTECA

DECK DO CAFÉ - VISTA PARA PÁTIO

SALA DE ESTUDOS INDIVUDUAL E COLETIVA

VISTA INTERNA - NÚCLEO DE MEMÓRIAS

HALL DE ENTRADA AUDITÓRIO

VISTA NOTURNA - BRISE FACHADA LESTE

perspectiva V

projeto 68


>FIGURA 9 Fonte: Archdaily | Piratininga Arquitetos Associados >FIGURA 10 Fonte: Archdaily | Piratininga Arquitetos Associados >FIGURA 11 Fonte: IBGE | Paulo Muniz >FIGURA 12 Fonte: https://www.conradoleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=1904229 >FIGURA 13 Fonte: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/05.049/2000 >FIGURA 14 Fonte: https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/praca-da-liberdade-onde-arquitetura-e-cultura-se-encontram >FIGURA 15 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 16 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 17 Fonte: acervo pessoal

lista de figuras >FIGURA 1 Fonte: Archdaily | Brasil Arquitetura >FIGURA 2 Fonte: Archdaily | Brasil Arquitetura >FIGURA 3 Fonte: Archdaily | Piratininga Arquitetos Associados >FIGURA 4 Fonte: Archdaily | Piratininga Arquitetos Associados >FIGURA 5 Fonte: Archdaily | Brasil Arquitetura >FIGURA 6 Fonte: Archdaily | Brasil Arquitetura >FIGURA 7 Fonte: Archdaily | Brasil Arquitetura >FIGURA 8 Fonte: Archdaily | Piratininga Arquitetos Associados

69

referência

>FIGURA 18 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 19 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 20 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 21 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 22 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 23 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 24 Fonte: acervo pessoal >FIGURA 25 Fonte: Wolney Unes >FIGURA 26 Fonte: Wolney Unes >FIGURA 27 Fonte: acervo pessoal

referência

70


referências

estudos de caso

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referência

72



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