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SCENA Revista do Mestrado Profissional em Arquitetura Paisagística Academic Landscape Archtecture Magazine
Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
PROURBE - Programa de Pós-graduação em Urbanismo
Expediente
Coordenação Editorial Fabiana Dultra Britto Paola Berenstein Jacques Conselho Editorial Ana Clara Torres Ribeiro (IPPUR/UFRJ) Barbara Szaniecki (Revista GLO BAL) Cibele Rizek (IAU/USP – São Carlos) Glória Ferreira (PPGAV/UFRJ) Luis Antonio Baptista (PPGPSI/UFF) Márcia Tiburi (Revista TRAM A) Margareth da Silva Pereira (PROURB/UFRJ) Renata Marquez (Revista PISEAGRAM A) Vera Pallamin (FAU/USP) Equipe Produção Editorial Daniel Sabóia, Janaina Chavier Osnildo Adão Wan-Dall Junior, Patricia Almeida Thais de Bhanthumchinda Portela (coord.) Revisão e Normatização Equipe EDUFBA
Projeto Gráfico, Capa e Editoração Daniel Sabóia Janaina Chavier Patricia Almeida Colaboradores desta Edição Alan Sampaio Blerta Copa Clarissa Moreira Cristina Freire Fernanda Arêas Peixoto Igor Queiroz Jurema Moreira Cavalcanti
www.redobra.ufba.br ISSN 2238-3794
Colaboradores Contributors
José Barki
Adriana Sansão Fontes
Leciona na graduação, desde 1993, disciplinas de introdução ao projeto e desenho. Participa desde 2004, como docente, no Programa de P ós-Graduação em Urbanismo PROURBFAU / UFRJ e colabora com projetos de pesquisa realizados no Laboratório de Análises Urbanas e Representação Digital (LAURD). Atuou principalmente na elaboração,desenvolvimento e gerenciamento de projetos de urbanização e de edificações habitacionais, comerciais, turísticas e industriais.
Doutora em Urbanismo pela UFRJ (2011), com período sanduíche na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona – ETSAB/ UPC (2008-2009). Atualmente é Professora Adjunta II da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, onde leciona no Atelier Integrado1, e Docente Permanente do PROURB, onde leciona as disciplinas de Atelier e Oficina de Projeto. Tem experiência em Projetos de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase nas áreas habitacional e educacional, e em Projetos Urbanos.
Cristovão Duarte
Luciana da Silva Andrade
Doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ (2002). Foi professor da Universidade da Amazônia (1987-2005). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo exercido o cargo de Diretor Adjunto de Extensão da FAU-UFRJ (20062010). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo. Atuando principalmente nos seguintes temas: projetos urbanos, favelas, circulação urbana, forma urbana, história urbana e vida urbana.
Professora associada da FAUUFRJ e membro permanente do Programa de Pós-graduacao em Urbanismo PROURB , da mesma unidade. É especialista em sociologia urbana pelo IFCH/ UERJ, mestre em arquitetura pelo PROARQ/UFRJ e doutora em Geografia pelo PPGG/UFRJ. Seu tema de pesquisa e extensão é habitação popular, com foco em ocupações em áreas centrais, favelas e conjuntos habitacionais. Desempenha a função de coordenadora adjunta de doutorado do PROURB, na gestão 2013-2014.
Sumário Summary
Trabalhos Acadêmicos Student Works
Rio de Janeiro. Subsídios para um Masterplan da área do antigo horto florestal da Gávea
Rios urbanos e paisagens multifuncionais: o projeto paisagístico como istrumento de requalificação urbana e ambiental
Elena Geppetti
Ianic Bigati Lourenço
14 A expansão do Jardim Botânico do
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Mobilidade Alternativa e tratamento paisagístico: proposta para o Bairro Ferradura, Armação dos Búzios
Amanda Romano Vilhena
Projeto Paisagístico Landscape Project
26 Ministério da Educação e Saúde. Um ícone urbano da modernidade carioca
Ricardo Zamith
Artigo
Article
30 O teatro do Museu de Arte
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Moderna do Rio de Janeiro
Leticia Lemos
Patrimônio, ambiente e sociedade: novos desafios espaciais
Victor Lyra
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O Passeio Público do Rio de Janeiro
Vanessa Mattos
42 Entrevista Interview
Haruyoshi Ono
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Notícias News
Editorial
E m seu terceiro ano de acompanhamento da pesquisa PRONEM (FAPESB/CNPq) “Experiências metodológicas para a compreensão da complexidade da cidade contemporânea”, e quinto ano de existência, a revista Redobra também inaugura uma nova concepção gráfica com projeto concebido por Daniel Sabóia, Janaina Chavier e Patricia Almeida, integrantes da equipe do Laboratório Urbano. Com enfoque voltado para a sistematização dos resultados alcançados até aqui pelos estudos e atividades desenvolvidas ao longo da pesquisa, esta edição nº13 traz, em suas quatro seções, contribuições preciosas como linhas de fuga no debate instaurado pelo grupo de pesquisa Laboratório Urbano, em torno das imbricações entre experiência, memória e narrativa nos processos de apreensão da cidade. Para introduzir este tema a partir do campo da história, a Redobra nº 13 traz uma entrevista com a historiadora e coordenadora do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre as Cidades (CEC-Unicamp), Maria Stella
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In its third year of follow-up research PRONEM (FAPESB / CNPq) “methodological experiments for understanding the complexity of the contemporary city”, and fifth year of existence, redoubles magazine also inaugurates a new graphic design with project designed by Daniel Savoie, Janaina Chavier and Patricia Almeida, the Urban Laboratory team members. With focus directed towards the systematization of the results achieved so far by the studies and activities developed during the research, this issue features # 13 in its four sections, precious contributions as vanishing point in the debate initiated by the research group Urban Laboratory, around overlapping of experience, memory and narrative in the city’s seizure processes. To enter this theme from the history of the field, redoubles # 13 brings Interview with historian and coordinator of the Center for
Bresciani, recentemente contemplada com o título de Professora Emérita da mesma Instituição, responde a questões colocadas por Fabiana Dultra Britto, Paola Berenstein Jacques e Washington Drummond, acerca de sua trajetória intelectual nos estudos bhistóricos sobre a cidade, de questões historiográficas, das relações entre memória, narrativas históricas e literárias, suas posições metodológicas e abordagens teóricas, pontuando algumas questões sobre a interdisciplinaridade dos estudos urbanos e também questões sociais, culturais e afetivas da experiência urbana. A seção ENSAIOS abrange contribuições vindas de diferentes campos disciplinares, oferecendo perspectivas variadas na construção de sentido pela experiência urbana. Em Derivas urbanas, memória e composição literária, Fernanda Peixoto discute os nexos entre cidade, imaginação e memória tomando uma narrativa literária como fio condutor de uma instigante discussão sobre a experiência urbana mediada tanto pelas condições de memória particulares a cada indivíduo em sua situação de vida, quanto pelas condições urbanas de inscrição da história na vida pública. Vagner Camilo, partindo do seu estudo minucioso da obra poética de Carlos Drummond de Andrade, aponta engendramentos sofisticados e pouco reconhecidos entre os sentidos que a espacialidade, a condição urbana e a consciência política assumem nos livros Sentimento do mundo, José e A rosa do povo, expressando “gradações do impulso participante”
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Interdisciplinary Studies of Cities (CEC-Unicamp), Maria Stella Bresciani, recently awarded the title of Professor Emeritus same institution responds to questions posed by Fabiana Dultra Britto, Paola Berenstein Jacques and Washington Drummond, about his intellectual trajectory studies historical of the city, questions such as history, the relationship between memory, historical and literary narratives, their methodological positions and theoretical approaches, emphasizing some questions about the interdisciplinary nature of urban studies and also social, cultural and affective urban experience. The TESTS section includes contributions from different disciplines, offering different perspectives on the construction of meaning by the urban experience. In urban Derivas, memory and literary composition, Fernanda Peixoto discusses the links between city, imagination and memory by taking a literary narrative thread as a thought-provoking discussion of the urban experience mediated by both private memory conditions every guy in your life situation , as the urban conditions of entry of the story in public life. Vagner Camilo, starting with its detailed study of the poetry of Carlos Drummond de Andrade, pointing sophisticated engendramentos and
que se constituem como “estratégia radical de desalienação” do eu lírico. Em Sob o signo do vagalume: artistas observadores de cidades, Livia Flores toma três artistas e um autor como feixes de uma sugestiva “constelação mínima que se desenha em torno de luzes-fogos que ardem na cidade”, como imagens poético-políticas que amplificam a voz inaudível dos que vivem como restos dos processos urbanos. Cristina Freire nos apresenta um artista espanhol atuante na década de 1970, quase desconhecido no Brasil, mas cuja obra enfocada tanto quanto a curadoria da sua exposição no MAC USP em 2013, promovem, a partir do artigo A cidade e o estrangeiro: Isidoro Valcárcel Medina em São Paulo, uma contundente discussão sobre os limiares críticos entre as noções de projeto, processo, composição e vida no campo artístico e as noções de história, acervo, e experimentação que se articulam em “uma sorte de arqueologia do contemporâneo” realizada pela autora no contexto híbrido de um museu universitário de arte contemporânea. Desejamos a todos que o nosso prazer pelas colaborações recebidas e pela concepção gráfica renovada, nesta edição nº 13, também se estenda como experiência de leitura.
not worthy of the senses that the spatiality, the urban condition and the political consciousness take on the world’s Feeling books, Joseph and The Pink people , expressing “gradations participant impulse” to act as a “radical strategy of alienation” of the lyrical. In Under the firefly sign: observers artists from cities, Livia Flores takes three artists and an author like beams of a suggestive “minimum constellation that is drawn around lights-fires that burn in the city,” as poetic-political images that amplify the inaudible voice of the living as urban processes remains. Cristina Freire presents an active Spanish artist in the 1970s, almost unknown in Brazil, but whose work focused as much as the curator of his exhibition at MAC USP in 2013, promote, from the article The city and abroad: Isidoro Valcárcel Medina in São Paulo, a forceful discussion on the critical threshold between design concepts, process, composition and life in the arts and the history of ideas, collection, and experimentation that are articulated in “an archeology sort of contemporary” held by the author the hybrid context of a university museum of contemporary art. We wish all our pleasure received by collaborations and the graphic design renovated, this issue No. 13, also extends as reading experience.
Lúcia Costa
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Projeto Paisagístico
Mobilidade Alternativa e Tratamento Paisagístico Amana Romano Vilhena Proposta para o Bairro da Ferradura, Armação dos Búzios
O presente trabalho tem como tema principal a mobilidade alternativa em Armação dos Búzios, estado do Rio de Janeiro, com a aplicação do estudo de caso referência no Bairro da Ferradura.
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A pesquisa apresenta uma proposta de mobilidade alternativa para o Bairro da Ferradura, Armação dos Búzios, em que a sua via principal, a Avenida Parque, recebe tratamento paisagístico em termos de adequação para a circulação voltada a pedestres e ciclistas e composição paisagística por meio da arborização do percurso. Mediante a produção dos diversos sentidos dos conceitos mobilidade e paisagem, foi possível alcançar o entendimento da mobilidade alternativa como meio eficaz de integrar os diferentes modais a uma rede de percursos em que pedestres e ciclistas são os atores principais. A priorização da circulação não motorizada e a criação de espaços de permanência ao longo do percurso estimulam a atração das pessoas para as ruas e induzem a apropriação desses espaços, estabelecendo uma relação da mobilidade com a vitalidade urbana. This dissertation focuses on alternative mobility in Armação dos Búzios, in Rio de Janeiro state, with a reference case in Ferradura neighborhood. The research presents a proposal for alternative mobility in which Parque Avenue, Ferradura’s main road, receives landscaping treatment adjusted to pedestrians and bicycles and with the inclusion of landscaping composition and tree planting. The production of different meanings for the concepts mobility and landscape lead to the understanding of alternative mobility as an efficient way to integrate transport vehicles and systems into a resource net and to the creation of conviviality spaces along the road that attract people to the streets and invite them to take hold of these spaces, whereby a relation between mobility and urban vitality is established.
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a produção dos diversos “ Mediante sentidos dos conceitos mobilidade e paisagem, foi possível alcançar o entendimento da mobilidade alternativa como meio eficaz de integrar os diferentes modais (...)
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Nesse sentido, a conservação da paisagem urbana pode ser reforçada pela presença dos próprios usuários que se apropriam dos espaços pelo movimento ou permanência e acabam criando uma relação de transitividade e hospitalidade com o lugar. Como um ciclo, essa dinâmica contribui para o surgimento de novos serviços voltados ao público, promovendo a interação e a diversidade social nesses espaços. Os pontos principais deste estudo são os espaços coletivos de circulação e de permanência que conectam o Centro, a Lagoa da Ferradura e a Praia da Ferradura de modo a estimular passeios no espelho d’água e nas trilhas do entorno. A adequação dos caminhos e trilhas do caso referência tende a reforçar a circulação alternativa e o passeio fora das vias de movimento intenso como a Avenida Parque e a Estrada da The preservation of the urban landscape can be improved by the presence of users who get hold of the spaces where they move about or remain. This dynamic of space appropriation through movement leads to the emergence of new services to the public and promotes integration and social diversity. The main aspects of the study are collective spaces for circulation and permanence that link the center of town, the Ferradura lagoon and Ferradura beach, aiming to promote rides on boats, kayaks and sail boats and strolls along the treks that surround them. The treatment of the existing paths and tracks promotes traffic alternative to the main roads, such as Parque Avenue and Usina Road. In this way, the
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pontos principais deste estudo são “Os os espaços coletivos de circulação e de permanência que conectam o Centro, a Lagoa da Ferradura e a Praia da Ferradura de modo a estimular passeios no espelho d’água e nas trilhas do entorno.
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Projeto Paisagístico Usina. Desse modo, a mobilidade alternativa se expande do percurso proposto para os meios de circulação alternativos que a paisagem do entorno oferece, buscando estabelecer uma estrutura integrada entre os espaços livres de uso coletivo e entre os diferentes modais. No campo metodológico foi adotado o caso referência permitindo compreender situações específicas e a demonstração de adequação das propostas paisagísticas. Na fase de pesquisa em campo foram adotados os métodos de White (1980), onde se observaram os usos, as atividades desenvolvidas, o comportamento e os fluxos dos usuários. Os conceitos adotados por Cullen (1971), como a visão serial, também fizeram parte dessa primeira fase dapesquisa. proposed road mobility is extended to the alternative traffic offered by the landscape, trying to establish an integrated structure among free spaces of collective use and the diferente means of transportation. The methodology adopted the reference case that helps to understand specific conditions and to demonstrate the suitability of the landscaping proposals. In the field research phase White’s (1980) methods were adopted to observe uses, activities, behavior and the flux of users. The serial vision, method adopted by Cullen (1971), was also applied to this first phase of the research.
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Artigo
O Passeio Público do Rio de Janeiro Mônica Bahia Schlee
O primeiro volume da revista dedica-se a registrar e discutir questões relevantes que emergiram das apresentações do Seminário (Re) construindo a paisagem do Passeio Público: historiografia e práticas projetuais e dos debates que a elas se seguiram. Este seminário, também promovido pelo Grupo de Pesquisa em História do Paisagismo EBA/UFRJ, foi realizado em 2004 na sede carioca do Instituto dos Arquitetos do Brasil e teve como objetivo discutir conceitos, metodologias e resultados de uma abrangente intervenção no Passeio Público do Rio de Janeiro, realizada pela Prefeitura da Cidade entre 2001 e 2004, através da Fundação Parques e Jardins, que recuperou o traçado, parte da vegetação e dos monumentos do jardim, alterados por diversas reformas ao longo do século XX. Primeiro espaço livre público intencionalmente concebido para inserir-se urbanisticamente na cidade, o Passeio Público foi projetado por Mestre Valentim em 1783. Até então a cidade, que ainda mantinha como funções principais o controle do território e o comércio mercantil extrativista, voltava-se para dentro, tendo o porto como única porta de acesso. A construção de um “jardim-mirante” configurou-se como uma grande inovação na época, ao ressaltar os atributos paisagísticos da Baía da Guanabara e deles tirar partido para a formação de uma “identidade urbana”
Primeiro espaço livre público intencionalmente concebido para inserir-se urbanisticamente na cidade, o Passeio Público foi projetado por Mestre Valentim em 1783.
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Artigo carioca. Em 1862, a composição paisagística do jardim, estruturada a partir de um sistema de alamedas retilíneas, foi profundamente modificada por Auguste Marie François Glaziou. Devido à importância do Passeio Público do Rio de Janeiro como obra paisagística e urbanística emblemática em mais de um momento da evolução urbana carioca, o seminário foi estruturado em duas sessões: historiografia e práticas projetuais. A mesma organização foi adotada neste primeiro volume da revista. A primeira delas, intitulada Historiografia e apresentada pela professora Virgínia Vasconcellos, reuniu três estudos sobre a evolução histórica do Passeio Público: o jardim no século XVIII, sob o olhar de Cláudio Taulois; o Passeio Público de Glaziou, de autoria de Carlos Terra; e o Passeio Público no século XX, a cargo de Jane Santucci. Cláudio Taulois, ao analisar as estratégias de composição do Passeio Público proposto por Mestre Valentim no século XVIII, revelou que este não foi apenas um projeto paisagístico para um novo espaço livre público, mas constituiu-se em um plano urbanístico que incluiu o redesenho das articulações entre este e a malha existente, com o objetivo de valorizar uma das áreas para onde a cidade oitocentista se expandia (não por acaso, em direção à zona sul). Esta intervenção refletiu, no espaço urbano, os anseios da sociedade emergente por uma política de “modernização” que traduzisse a nova ordem social e econômica pela qual aspirava a colônia. O jardim público inseriu-se no sítio como uma “seqüência lógica de definições de traçado a partir da cidade e da paisagem existente”, segundo este autor. É bom lembrar também que este projeto expressava a ideologia iluminista, que chegava à colônia através de sua aristocracia administrativa, na esteira da expansão cultural européia. Em relação à conjuntura local, esta operação urbana, que compreendeu o aterro da já então completamente poluída Lagoa do Boqueirão, foi estratégica para higienizar e prover infra-estrutura (principalmente o acesso à água, distribuída nos chafarizes e
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à importância do Passeio Público do Rio “ Devido de Janeiro como obra paisagística e urbanística emblemática em mais de um momento da evolução urbana carioca, o seminário foi estruturado em duas sessões: historiografia e práticas projetuais.,” fontes projetados) para a área urbana que se pretendia consolidar. E talvez tenha sido mesmo decisiva para sedimentar este vetor de expansão em direção à zona sul. Os fundos de terrenos, anteriormente voltados para a lagoa, foram convertidos em valorizadas fachadas descortinadas para um espaço público destinado à contemplação da paisagem da Baía da Guanabara, como observou Taulois. O professor Carlos Terra investigou a concepção paisagística elaborada por Glaziou, destacando a intensa transformação que este promoveu na organização formal e no ponto de vista único que caracterizavam o jardim de Mestre Valentim, substituídos pela possibilidade de planos de visada diversos, articulados entre si através de caminhos sinuosos que induzem a uma leitura gradual da paisagem, e mesmo possibilitam o vivenciar de composições interdependentes que podem ser apreciadas isoladamente. No entanto, como lembrou a arquiteta Jeanne Trindade em seu artigo, citando estudo de Naylor Villas Boas (1), o projeto de Glaziou respeitou a articulação básica do espaço proposta por Mestre Valentim ao manter a continuidade entre os principais elementos de composição anteriores – portão-jardim-fonte-terraço-mar – que conduzem o observador até a paisagem da baía. É oportuno lembrar também que, mesmo tendo incorporado a estrutura e o uso de elementos do jardim pictórico inglês, adotados na época pelos países europeus, como assinalou Terra, Glaziou se apropria e valoriza a imagem da floresta dentro da cidade, ainda que idealizada e traduzida pelo uso preponderante de espécies exóticas. O elemento vegetal, anteriormente organizado de modo uniforme ao longo das alamedas retilíneas, passa a ser protagonista na composição da paisagem do jardim.
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Esta concepção foi encampada pela aristocracia local que incentivou a reprodução desta linha compositiva em outros espaços livres construídos ou reformados entre as décadas de 1860 e 1880, com a intenção de construir uma nova identidade para a capital do império, expressar novamente no espaço público seu anseio de contemporaneidade e estimular a noção de civilidade na sociedade carioca, utilizando como símbolo o elemento natural. Embora admirada e empregada como modelo estético para os desenhos paisagísticos implantados nesta época na cidade, a representação da floresta, que era aspirada dentro dos limites urbanos, não provinha da natureza tropical local, antes derivava-se de uma visão romântica de natureza, baseada em uma estética de inspiração inglesa (2). Carlos Terra e Jane Santucci levantaram algumas questões que vale a pena examinar mais detidamente. Segundo estes pesquisadores, períodos de uso e abandono constituíram uma dinâmica que perpassou toda a existência do Passeio Público do Rio de Janeiro. No entanto, os autores também nos mostram que este jardim público, desde sua inauguração no século XVIII, sempre esteve associado a um lugar de lazer e recreio, ao menos para alguns estratos da sociedade, como também mencionou Taulois. Ao fim do século XIX, o uso destinado à recreação se intensifica com a instalação em seu interior de cafés (que já faziam parte da composição de Glaziou) e bares, como o Chopp Berrante do Passeio, um aquário marinho e, até mesmo, sessões de cinema ao ar livre, “à sombra do arvoredo, ... em localização privilegiada pelo panorama e pela brisa marinha”, como observou Santucci. Ao reconstituir a localização e a ambiência da época de funcionamento de alguns equipamentos instalados no Passeio entre 1900 a 1937 (os já citados Chopp Berrante, o aquário marinho, e também o Teatro-Cassino e o Cassino BeiraMar), a autora indica que estes funcionavam como atrativos para a população carioca, aumentando a freqüência ao local. Santucci mostra, com apoio de interessante material iconográfico e da pesquisa arqueológica, como as modificações radicais ao longo do sécu-
scena lo XX no suporte físico ambiental no qual se insere o Passeio Público – os três aterros que o distanciaram gradativamente da orla da baía (1903, 19201922 e 1952-1960) e os desmontes dos morros que os possibilitaram – alteraram sua função principal de um parque público voltado à contemplação da paisagem deslumbrante da Baía da Guanabara. Esta nova situação, associada à retirada dos equipamentos no interior do jardim e à mudança nos hábitos de lazer do carioca, que elegeu a praia como sua principal área de recreação e descanso, acabou por afastar a população e propiciar um gradual processo de degradação do local. Além de chamar atenção para a importância do uso na manutenção da vitalidade de um espaço livre público, estes três pesquisadores demonstraram como os diversos momentos do passado e o presente se fundiram neste espaço, imprimindo marcas que resultaram em uma paisagem-palimpsesto, como salientou Santucci (3). Estes são aspectos importantes que devem ser levados em consideração para orientar futuras obras de restauração e revitalização de espaços livres públicos. Rubens de Andrade, paisagista e pesquisador que atuou como debatedor na primeira sessão do seminário e que também assina artigo neste volume, instaurou o debate ao interrogar o leitor sobre o processo de interação entre a sociedade e a paisagem e seu rebatimento nas ações e políticas de restauração dos jardins históricos e sítios paisagísticos no Brasil praticadas até o presente. O processo de restauração do Passeio Público do Rio de Janeiro tem o mérito de iniciativa pioneira, devido aos procedimentos metodológicos que adotou, e é um passo importante para a preservação dos jardins históricos brasileiros. Sua descrição encontra-se bem documentada na segunda seção da revista, intitulada Práticas Projetuais, aberta pela arquiteta-paisagista Flávia Braga, onde são apresentadas as abordagens metodológicas que embasaram todo o processo, entre 2001 (data do início do projeto) a 2004 (término das obras), pela equipe de profissionais e pesquisadores Nelson Porto Ribeiro, Jackeline Macedo, Vera Dias de Oliveira e Jeanne Trindade. Também aqui, foram levantados alguns pontos que instigam a reflexão.
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Artigo Logo de início, Nelson Porto Ribeiro informa que a orientação que norteou o projeto de restauro, definida por um grupo transdisciplinar que incluiu arquitetos, paisagistas e historiadores integrantes das equipes da Fundação Parques e Jardins, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Ópera Prima Arquitetura e Restauro, empresa contratada para desenvolver o projeto e executar as obras, foi a de privilegiar, como referência, o projeto de Glaziou, uma vez que a quase totalidade da composição paisagística proposta por Mestre Valentim havia se perdido, e mesmo alguns elementos introduzidos posteriormente e destruídos pelas reformas implantadas ao longo do século XX não deveriam ser reproduzidos, sob pena de constituir-se como “falso histórico”. É digna de nota a reconstituição de vestígios e fragmentos importantes dos diversos momentos de transformação do Passeio Público carioca, postos à luz pela pesquisa arqueológica, elaborada em atendimento aos decretos municipais nº 22.872 e 22.873, de 07 de maio de 2003. O processo de elaboração desta pesquisa, embasado pelas diretrizes e procedimentos indicados nas cartas patrimoniais e na teoria de restauro de jardins históricos (4) e bem documentado pela arqueóloga Jackeline Macedo em seu artigo, evidenciou a superposição de dois projetos de jardim (um de autoria de Mestre Valentim, o outro de Glaziou) e a localização exata das intervenções posteriores que, em alguns casos, chegaram mesmo a perturbar a integridade de ambos os projetos. As descobertas, no entanto, não foram descortinadas ao público na sua totalidade. A seguir, Vera Dias de Oliveira descreveu os procedimentos metodológicos e técnicos utilizados nas fases de diagnóstico e restauro dos monumentos, esculturas, pontes, guarda-corpos e parte da infra-estrutura do Passeio Público, com o apoio de imagens que mostraram diversas etapas deste processo. Jeanne Trindade apresentou a metodologia adotada na restauração dos elementos vegetais do Passeio Público e os critérios que orientaram sua reconstituição. Segundo a arquiteta e pesquisadora, o plano de manejo
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para a vegetação teve como diretrizes a definição dos elementos essenciais e o resgate formal do conceito paisagístico empregado no projeto desenvolvido por Glaziou, buscando valorizar a imagem simbólica que este espaço transmite à sociedade através dos contrastes de formas, volumes, texturas e tons, da alternância entre cheios e vazios, e entre luz e sombra, que propiciam a surpresa, o movimento, a expectativa e o mistério dos projetos paisagísticos com influência romântica. Trindade apresentou as várias fases deste processo de reconstituição, que incluiu inventário florístico, visita a outros espaços livres desenhados por Glaziou, resgate de documentos históricos primários e mapeamento da situação atual de insolação e sombreamento, esclarecendo também que o plantio especificado ainda não foi finalizado devido à insuficiência de recursos destinados a esta etapa da obra. As questões citadas pelos paisagistas e pesquisadores que atuaram como moderadores e debatedores no seminário e que assinam artigos neste volume convidam ao aprofundamento das discussões nas próximas edições da revista. Flávia Braga mencionou um ponto-chave na discussão sobre o processo de restauração de patrimônios históricos culturais, quer sejam edificados ou livres de edficação: a questão da temporalidade. Qual o momento a ser restaurado?Quais as implicações e cuidados ao se definir um recorte temporal? Outra questão importante, também apontada por Eduardo Barra, debatedor na segunda sessão do seminário, é a da adequação e escala da sinalização, iluminação e mobiliários contemporâneos propostos, sua inserção e interferência nos jardins históricos. Barra, em seu artigo, fez outra consideração sobre a qual seriam bem-vindas informações adicionais: os efeitos ambientais das obras executadas no subsolo da área de entorno do Passeio ao longo das últimas décadas e suas implicações nas condições do solo, lençol freático e, conseqüentemente, na drenagem e nas condições da vegetação dentro dos
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Artigo limites do parque. Ao final, Leonardo Ladeira Mota oferece um breve relato do processo de restauração do Passeio Público e sumariza as palestras que deram origem aos artigos que compõem este volume. As informações teóricas e técnicas apresentadas, o detalhamento das análises dos planos urbanísticos e paisagísticos e das intervenções arquitetônicas que se realizaram em momentos históricos diversos, o registro iconográfico do processo de recuperação dos elementos essenciais, dos vestígios encontrados e o registro fotográfico do momento seguinte à reconstrução já valem a leitura deste primeiro número da revista Leituras paisagísticas: Teoria e práxis. O panorama de abordagens referentes ao tema da restauração de jardins históricos divulgados nesta edição oferece embasamento teórico e técnico para futuros estudos neste campo disciplinar e extrapola mesmo esta temática, ao desvendar detalhes sobre as transformações paisagísticas decorrentes dos planos urbanísticos operadas pelo poder público nesta área da cidade. Amparados pelas contribuições de Santucci, Terra e Taulois, os leitores poderão também refletir sobre as formas de incentivar o uso de espaços livres públicos com caráter histórico com vistas a estancar seu processo de abandono e manter sua vitalidade no espaço urbano contemporâneo, tornando-os algo mais que museus-sítios arqueológico a céu aberto. E, por fim, instigados por Eduardo Barra, opinar sobre o papel do arquiteto-paisagista no processo de restauro de espaços livres públicos com caráter histórico e da integração efetiva de campos disciplinares diversos nesta forma de atuar e reabilitar paisagens.
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[The Public Promenade in Rio de Janeiro] The first volume of the journal is dedicated to record and discuss relevant issues that emerged from the seminar presentations (Re) constructing the landscape of Public Promenade: historiography and projective practices and debates that they followed. This seminar also promoted by the Research Group on History of Landscape EBA / UFRJ, was held in 2004 in Rio de Janeiro headquarters of Brazil’s Institute of Architects and aimed to discuss concepts, methodologies and results of a comprehensive intervention in the Public Garden of Rio de January, conducted by the City Council from 2001 to 2004, through the Parks and Gardens Foundation, which recovered the track, part of vegetation and garden monuments, amended several reforms during the twentieth century. First public space intentionally designed to be part of urban planning in the city, the Public Garden was designed by Mestre Valentim in 1783. Until then the city, which still had main functions control of the territory and the extractive commodity trade, turned-to inside, as a single port having access door. The construction of a “garden-gazebo” was configured as a major innovation at the time, to highlight the landscape features of Guanabara Bay and take advantage of them for the formation of an “urban identity” Rio. In 1862, the landscape composition of the garden, structured from a straight boulevards system, was profoundly modified by Auguste Marie François Glaziou. Because of the importance of the Public Promenade in Rio de Janeiro as landscape and urban emblematic work in more than one moment of Rio’s urban evolution, the seminar was divided into two sessions: historiography and projective practices. The same organization was adopted in this first volume of the journal. The first, entitled Historiography and presented by Professor Virginia Vasconcellos, met three studies on the historical evolution of the Public Garden: The garden in the eighteenth century, under the eye of Claudio Taulois; Public Ride Glaziou, authored by Carlos earth; and the Public Garden in the twentieth century, in charge of Jane Santucci. Claudio Taulois, when analyzing the composition of the Public Road
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strategies proposed by Mestre Valentim in the eighteenth century, revealed that this was not just a landscape design for a new public space, but consisted in an urban plan that included the redesign of the joints between this and the existing network, in order to enhance one of the areas where the nineteenth-century city expanded (not by chance, toward the south). This intervention reflected in the urban space, the desires of the emerging society by a policy of “modernization” to translate the new social and economic order in which aspired to colony. The public garden was part of the site as a “logical sequence trace settings from the city and the existing landscape,” according to this author. It is good to remember that this project expressed the Enlightenment ideology, which reached the colony through its administrative aristocracy in the wake of European cultural expansion. In relation to the local environment, this urban operation, which included the landfill already then completely polluted pond Boqueirão was strategic to sanitize and provide infrastructure (especially access to water, distributed in fountains and projected sources) for the urban area it was intended to consolidate. And maybe it was even decisive for sedimentary this vector expansion towards the south. Land funds, previously focused on the lagoon, facades were converted into valued unveiled to a public space for the landscape contemplation of Guanabara Bay, as noted Taulois. Professor Carlos Earth investigated the landscape design developed by Glaziou, highlighting the intense transformation that this promoted the formal organization and unique point of view that characterized Valentine Master garden, replaced by the possibility of several targeted plans, articulated through winding paths that lead to a gradual reading of the landscape, and even enables the experience of interdependent compositions which can be considered in isolation. However, as noted architect Jeanne Trinity in his article, citing study Naylor Villas Boas (1), the Glaziou project respected the basic articulation of space proposed by Mestre Valentim to maintain continuity between the previous major compositional elements - gate -Garden-source-terrace-sea leading the observer to the bay landscape.
scena It should also remember that even having built the structure and the use of English pictorial garden elements, adopted at the time by European countries, as pointed Earth, Glaziou appropriates and values the forest image within the city, although idealized and translated the predominant use of exotic species. The vegetable element, previously arranged uniformly along the straight boulevards, becomes protagonist in the garden landscape composition. This concept was taken over by the local aristocracy who encouraged the reproduction of this compositional line in other open spaces built or renovated between the 1860s and 1880s, with the intention of building a new identity for the capital of the empire, again express his longing in the public space of contemporary and stimulate the notion of civility in Rio society, using as a symbol natural element. Although admired and used as an aesthetic model for landscape drawings deployed at this time in the city, the representation of the forest, which was drawn within the city limits, did not come from the local tropical nature, before it derived from a romantic view of nature, based on an English-inspired aesthetic (2). Carlos Earth and Jane Santucci raised some issues worth examining more closely. According to these researchers, use and abandonment periods constituted a dynamic that pervaded the existence of the Public Promenade in Rio de Janeiro. However, the authors also show us that this public garden, since it opened in the eighteenth century, has always been associated with a place of leisure and recreation, at least for some segments of society, as also mentioned Taulois. At the end of the nineteenth century, the use for the recreation intensifies the installation inside cafes (which were already part of Glaziou composition) and bars, as Chopp Horn Ride, a marine aquarium and even sessions outdoor cinema, “the shadow of the trees, ... prime location by the panorama and the sea breeze�, as noted Santucci. To reconstruct the location and the ambience of the working time of some equipment installed in the Walk between 1900-1937 (the aforementioned Chopp Horn, the marine aquarium, and also the Theatre-Casino and Casino BeiraMar), the author indicates that they worked as attractive to the cariocas, increasing the frequency to the site.
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Artigo Santucci shows, with the support of interesting iconographic and archaeological research material, as the radical changes throughout the twentieth century in environmental hardware which incorporates the Public Garden - the three landfills that gradually distanced Bay waterfront (1903, 1920 -1922 and 1952-1960) and takedowns of the hills which enabled them - changed its main function of a public park facing the contemplation of the stunning scenery of the Bay of Guanabara. This new situation, coupled with the withdrawal of the equipment inside the garden and the change in the Rio leisure habits, which elected the beach as the main area of recreation and rest, eventually depart the population and provide a gradual local degradation process . In addition to calling attention to the importance of using in maintaining the vitality of a public space, these three researchers demonstrated how the various moments of the past and the present merged in this space, printing brands which resulted in a landscape-palimpsest, as pointed Santucci (3). These are important aspects that must be considered to guide future works of restoration and revitalization of public open spaces. Rubens de Andrade, landscape and researcher who served as discussant in the first session of the seminar and also signs an article in this volume, brought the debate to question the reader about the process of interaction between society and the landscape and its repercussion in the actions and policies of restoration of historic gardens and landscaped sites in Brazil practiced to the present. The Public Garden of the restoration process of Rio de Janeiro has the merit of pioneering initiative, due to methodological procedures adopted, and is an important step for the preservation of Brazilian historical gardens. His description is well documented in the second section of the magazine entitled projective Practices, opened by the architect-landscaper Flavia Braga, where the methodological approaches that supported the whole process from 2001 (date of commencement of the project) to 2004
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(end are presented works), by the team of professionals and researchers Port Nelson Ribeiro, Jackeline Macedo, Vera Dias de Oliveira and Jeanne Trinity. Here, too, were raised some points that prompt reflection. Early on, Nelson Ribeiro Port informs that the orientation that guided the restoration project, defined by a cross-disciplinary group that included architects, landscape architects and historians members of the teams Parks and Gardens Foundation, the Heritage Institute for National Artistic and Opera Prima Architecture and Restoration, a company contracted to develop the project and run the works, was to focus, as a reference, the Glaziou project, since almost the entire landscape composition proposed by Mestre Valentim was lost, and even some elements subsequently released and destroyed by the reforms implemented during the twentieth century should not be played, so as not to constitute itself as “false history�. It is worthy of note reconstitution of remains and important fragments of the various moments of transformation of Rio’s Public Garden, made light by archaeological research, drawn up in compliance with local ordinances No. 22 872 and 22 873 of 07 May 2003. The drafting process this research, based the guidelines and procedures in the property cards and historical gardens restoration theory (4) and well documented by archaeologist Jackeline Macedo in his article, showed the superposition of two garden projects (a Valentine Master of authorship, the other of Glaziou) and the exact location of subsequent operations which in some cases have even disrupt the integrity of both designs. The findings, however, have not been unveiled to the public in their entirety. Then Vera Dias de Oliveira described the methodological and technical procedures used in the stages of diagnosis and restoration of mon-
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uments, sculptures, bridges, railings and part of the Public Promenade in infrastructure, with the support of images showing each stage of process. Jeanne Trinity presented the methodology used in the restoration of plant elements of the Public Garden and the criteria that guided its reconstitution. According to the architect and researcher, the management plan for vegetation had as guidelines to define the essential elements and the formal surrender of the landscape concept employed in the project developed by Glaziou, seeking to value the symbolic image that this space conveys to society through contrasts shapes, volumes, textures and tones, the alternation between full and empty, and between light and shadow, which provide the surprise, the movement, the expectation and the mystery of landscape projects with romantic influence. Trinity presented the various stages of this process of reconstitution, which included floristic survey, visit other open spaces designed by Glaziou, rescue primary historical documents and mapping the current situation of sunshine and shade, also stating that the specified planting has not yet been finalized due to insufficient resources for this stage of the project. The issues cited by landscapers and researchers who acted as moderators and panelists at the seminar and signing articles in this volume invite deepening of discussions in the next editions of the magazine. Flavia Braga mentioned a key point in the discussion of the restoration process of cultural heritage sites, whether built or edficação free: the question of temporality. What is the time to restore? What are the implications and care to define a time frame? Another important issue, also mentioned by Eduardo Bar, debater in the second session of the seminar is the suitability and scale signage, lighting and proposed contemporary furnishings, input and interference in historic gardens. Barra, in his article, made another account on which would be welcomed additional information: the environmental effects of the works per-
scena formed in the basement of walking around the area over the last decades and its implications on soil conditions, water table and, consequently, the drainage and the vegetation conditions within the park boundaries. Finally, Leonardo Ladeira Mota offers a brief account of the Public Garden of the restoration process and summarizes the discussions which led to the articles that make up this volume. The theoretical and technical information presented, the details of the analysis of urban and landscape plans and architectural interventions that took place in different historical moments, the iconographic record of the recovery process of the essential elements, the remains found and photographic recording of the next moment the reconstruction are worth reading this first issue of landscape Readings: Theory and practice. The panorama of approaches on the subject of the restoration of historic gardens released this edition offers theoretical and technical basis for future studies in this subject area and even goes beyond this theme, to unveil details about the landscape changes resulting from urban plans operated by the government in this area city. Supported by contributions from Santucci, Earth and Taulois, readers may also reflect on ways to encourage the use of public open spaces with historical character in order to stop its abandonment process and maintain its vitality in the contemporary urban space, making them something more than archaeological sites, museums in the open. Finally, instigated by Eduardo Bar, opinion on the role of the architect-landscaper in the restoration process of public open spaces with historic character and the effective integration of various disciplines in this way of acting and rehabilitate landscapes.
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Haruyoshi Ono
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Haruyoshi Ono é hoje um dos mais importantes arquitetos paisagistas em atuação no Brasil. Não obstante esta constatação, trata-se de um paisagista que, dentre outras tantas características marcantes da sua personalidade, foi o mais importante e constante discípulo de Roberto Burle Marx, com quem trabalhou de 1965 até 1994, ano em que faleceu o grande mestre. Durante três décadas Haru, como é carinhosamente chamado pelos mais próximos, foi o principal e mais próximo interlocutor e colaborador de Roberto Burle Marx em diversos projetos paisagísticos no Brasil e no exterior. Após a morte de Burle Marx (em 1994), Haru não só passou a comandar o escritório, com diversas decisões de natureza empresarial a serem tomadas, como também teve que lidar, cotidianamente, com o legado deste renomado artista que foi Burle Marx. Durante cerca de três horas de boa conversa, realizada no seu escritório no Bairro de Laranjeiras no Rio de Janeiro, Haru foi, aos poucos, revelando aspectos preciosos da sua formação e também da sua personalidade bastante peculiar que, nitidamente, revela ao interlocutor muitas características da cultura japonesa, da qual fazia parte seus antepassados. De forma muito tranquila e sem nenhuma afetação, vaidade ou pedantismo Haruyoshi Ono fala de seu trabalho que considera, de alguma forma, inserido num processo de continuidade do que já vinha fazendo nos muitos anos em que colaborou com Burle Marx.
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Entrevista Para o leitor interessado nas metodologias e nos processos de elaboração dos projetos de paisagismo, a entrevista abaixo é reveladora pois, ao mesmo tempo em que fala de “conceitos”, “programas” e “técnicas”, o nosso entrevistado também menciona aspectos ditos “qualitativos” do espaço que será objeto de suas intervenções. Em um dos muitos pontos altos desta sua entrevista, chamamos atenção para quando ele assim nos fala da sua relação com a vegetação: “São elementos vivos que são indispensáveis à minha pessoa, ao meu trabalho. Então, são coisas indispensáveis para mim, que tanto esses elementos (os vegetais) me usam, como eu os uso também. Os elementos me usam e me fazem trabalhar para eles, criando as plantas, tratando bem delas, aguando, podando, essas coisas. Isso elas estão me usando e aí a gente as usa também. O retorno disso aí, dessa relação, é a beleza que elas te dão, visualmente, tocando no nosso sentimento”. Ao leitor agora caberá a tarefa de apreciar estaentrevista com o arquiteto paisagista Haruyoshi Ono. SCENA: O senhor poderia nos falar como foi a sua formação, tanto no âmbito acadêmico e também profissional, como arquiteto e, particularmente, como paisagista? Haruyoshi Ono: Fiz o ginásio e o científico no Colégio Cruzeiro. Depois fiz vestibular para a Faculdade Nacional de Arquitetura, na época Universidade do Brasil, em 1964, e em 1968 me formei como arquiteto. Esta é, portanto, minha formação acadêmica. Enquanto eu ainda cursava arquitetura, tive contato com o professor Antônio Leitão, que era o nosso professor de desenho artístico, e fiz parte do seu escritório de arquitetura. Mais tarde ingressei no ateliê de Roberto Burle Marx como estagiário, em 1965, e de estagiário passei para desenhista dentro do escritório. Ao me formar arquiteto fui chamado para ser sócio da empresa. E continuei até a morte de Roberto, em 1994. Portanto, fui sócio do escritório Burle Marx & Cia. Ltda. de 1968 até 1994, e, desde então, dirijo a empresa. SCENA: O senhor é nascido no Rio? HO: Nasci no Rio de Janeiro, no bairro do Rio Comprido, em 1943.
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não tinha a experiência de divulgar “Eu o escritório; não era como o Roberto
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que saía muito, conversava, tinha um relacionamento social muito grande.
SCENA: E a sua opção pelo Paisagismo se deu basicamente pelo encontro com o Burle Marx? HO: Sim, basicamente foi. Mas eu sempre tive interesse por vegetação ainda em minha infância. A minha mãe, por exemplo, gostava muito de plantas também e nós tínhamos um pequeno quintal em casa. Minha mãe era japonesa e o interesse dela por plantas não tinha origem e nem relação direta com paisagismo ou jardins orientais. Apenas ela gostava de conviver e tratar das plantas, e com isso aprendi muita coisa com ela. Esse foi meu primeiro encontro com a vegetação. Mais tarde, lógico, com o Burle Marx fui aprendendo praticamente quase tudo que eu sei até hoje. SCENA: Que tipo de plantas sua mãe cultivava? HO: Eram na sua maioria plantas anuais e exóticas. Tinham dálias de diversas florações, muitos crisântemos, algumas árvores, e cravinhos e violetas. Ela apreciava muito essas plantas por causa da floração e do cheiro. As azaléias eram especiais para ela. E no meio de tudo isto as buganvílias se destacavam por suas belas florações. Como o nosso quintal era pequeno, eram as árvores da vizinhança que me impressionavam muito. SCENA: Então sua infância aconteceu em um espaço que tinha um jardim? HO: Sim. Num pequeno espaço nosso, particular, “o quintal”, que a gente chamava de jardim. E tinham ainda os arredores, as ruas bem arborizadas. Mas isto já não era mais no Rio Comprido, bairro onde nasci, e sim em Senador Camará, para onde me mudei aos seis anos de idade quando saímos do centro da cidade e fomos para a zona rural. E foi em Senador Camará que passei minha infância e onde nós moramos por muito tempo. Lá era bom porque era cercado de mata, tinha um rio atrás, um rio pequeno que as pessoas se banhavam. Havia ainda bois e vacas perto da casa, pastando.
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Entrevista SCENA: E a sua infância foi ali, nesse ambiente... O senhor tem irmãos? HO: Minha infância foi no meio de jamelões, mangas, laranjas. Tenho dois irmãos. Um mais velho e outro mais novo. Nós três apreciávamos muito essa vida na zona rural. Nas horas de lazer tinham os jogos de bola – boa época, não é? – pipas, pião, aquelas brincadeiras de ruas, bandeirinhas etc. Eu ainda me recordo bem. SCENA: Então, a experiência com a natureza e o contato com as plantas estavam ali bem próximas de vocês. E o teu pai? HO: Hoje penso que o mais importante não era esse contato com a vegetação, mas sim de um modo geral o contato com a terra. Meu pai era comerciante, e em função disso, por causa do seu trabalho, fomos morar em Senador Camará. Eu saí de lá com 16 ou 17 anos, mais ou menos. Eu comecei a estudar no Centro do Rio de Janeiro, em 1950, no Colégio Cruzeiro. No meio do ano letivo nos mudamos e fiquei sem estudar alguns meses por falta de vaga na escola. No ano seguinte fui matriculado numa escola particular chamada Colégio São José. Era uma turma muito engraçada porque tinham alunos desde o curso primário o ginasial. Havia aulas de inglês junto com português, francês, e a crianças pequenas no meio, numa sala ampla dividida em grupos. Depois fui para uma escola pública onde fiquei até o curso de admissão. Prestei uma espécie de concurso para uma escola estadual, já em Campo Grande, ainda na zona rural. Campo Grande era naquela época um bairro do Rio de Janeiro, desenvolvido e distante. Hoje é tudo ligado, diferente daquele tempo. E ali eu estudei por dois anos, o primeiro e o segundo ginasial. Terceiro ginasial eu já vim fazer aqui no Rio, no Colégio Cruzeiro, voltando à origem. Era um colégio alemão, bilíngüe e tínhamos a opção de cursar em alemão ou não. Ainda hoje é considerado um bom colégio aqui no Rio de Janeiro. Concorria na época com o Colégio Pedro II.
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SCENA: E havia o convívio com seus avôs também? HO: Não. Eu não conheci praticamente meus avôs. A minha avó materna eu conheci em visitas de poucos dias, aqui no Rio de Janeiro. O meu avô paterno eu só vi uma vez no interior de São Paulo. Eram japoneses. SCENA: E o senhor tinha algum contato com o Japão mesmo? Viajou durante sua infância e adolescência? HO: Não, durante a infância o contato com a cultura japonesa era através dos meus pais. Meu pai trabalhava numa loja de importação e exportação de mantimentos e objetos japoneses, então havia contato com esses funcionários japoneses. Além disso, dentro de casa os costumes, a alimentação e a linguagem eram preservadas. Já na adolescência o contato foi maior, pois meu pai passou a trabalhar na Embaixada do Japão e com isto passamos a ter maior convívio com os japoneses. SCENA: E o senhor já teve a oportunidade de ir ao Japão? E a primeira vez foi com que idade? HO: Dormi várias vezes em Tóquio, pois lá fazia a escala para irmos ver o desenvolvimento do projeto do Parque KLCC, em Kuala Lumpur. Entretanto, somente em 1990 tive a oportunidade de passar alguns dias no Japão, visitando várias cidades. O nosso escritório foi convidado pelo Governo japonês para fazer o jardim do Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional do Verde, em Osaka, conhecida como EXPO 90. Convidamos o arquiteto Ruy Ohtake para fazer a arquitetura do pavilhão e nós fizemos o jardim. SCENA: E a sua opção pelo estudo de arquitetura, como se deu? HO: A arquitetura foi um acidente na minha vida. Na época eu queria fazer Agronomia, foi a minha primeira opção, passei mas não me adaptei àquele ambiente. No ano seguinte fiz novo vestibular, desta vez para Arquitetura e Desenho Industrial. As provas eram concomitantes, mas o resultado da Arquitetura saiu antes. Quando soube que tinha sido aprovado, optei por ela.
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SCENA: Agronomia não deu certo por quê? HO: Por causa do ambiente que eu não gostei muito. SCENA: Mas tudo tem uma aproximação pela história do seu interesse do contato com a natureza, com a terra, certo? HO: No final das contas, no meu trabalho profissional, eu acabei tendendo pra esse lado da natureza. SCENA: Roberto Burle Marx morreu em 1994 e, desde então, nestes últimos 18 anos, o senhor é que está à frente da empresa ainda chamada Burle Marx & Cia. Ltda. Comente a respeito do seu trabalho no escritório nestes últimos 18 anos. HO: Após a morte de Roberto, concluímos os trabalhos pendentes onde ele estava à frente. Houve um intervalo de tempo, uma pequena interrupção de uns três a quatro anos em que nós tivemos muita dificuldade de conseguir novos trabalhos.Eu não tinha a experiência de divulgar o escritório; não era como o Roberto que saía muito, conversava, tinha um relacionamento social muito grande. Por causa disso tivemos, de fato, uma série de dificuldades após a morte dele. Alguns arquitetos, conhecidos nossos, amigos, nos ajudaram bastante nessa época. E, aos poucos, fomos conseguindo pequenos trabalhos e reconquistando o espaço.Um grande trabalho praticamente ocupava todo o nosso tempo, o Kuala Lumpur City Centre Park, na Malásia. Fomos convidados a projetar esse trabalho quando o Burle Marx já estava muito doente. Ele foi duas vezes para lá, com muita dificuldade e sem poder ajudar muito. Mas a figura dele era importante, porque os donos do empreendimento se apoiavam no nome dele. Nessa época éramos seis arquitetos efetivos, além dos estagiários e desenhistas e, naturalmente tínhamos que manter essa turma toda. Conseguimos entregar o trabalho; fizemos um bom trabalho e ficamos satisfeitos. Esse projeto terminou em
scena 1997, foi executado e entregue ao público logo após. A partir daí os trabalhos começaram a surgir naturalmente: pequenos trabalhos, portarias de prédios, reformas de jardins e até pequenas intervenções, como nas Vilas Olímpicas. Na época o governo do Estado estava muito ligado aos esportes. Então fizemos vários parques, como o Parque da Maré, no caminho do Aeroporto do Galeão, que hoje está totalmente desfigurado em relação ao nosso projeto. Fizemos uma série de Vilas Olímpicas, que eram intervenções pequenas em determinados bairros e em várias cidadezinhas aqui perto, no nosso entorno, Nova Iguaçu, Caxias, Nilópolis, Belford Roxo, Mesquita, entre outros. Um trabalho grande, dos primeiros a surgir após o falecimento de Roberto, foi o Parque da Lagoa, que na verdade já tínhamos realizado com ele. Aliás, nós o fizemos por duas vezes, o entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas havia um trecho que ficou intacto, onde funcionava um parque de diversões chamado Tivoli Park. Muita gente era contrária a essa atividade naquele local, e até nosso próprio escritório era contrário àquele parque de diversões da maneira que estava ali inserido: era uma intervenção muito invasiva e forte, mas que sempre permanecia. E os brinquedos do parque de diversão foram ficando velhos e decadentes com manutenção precária, com problemas de segurança. Mais ou menos, em 1995, fomos contratados pela Prefeitura – o Secretário de Urbanismo era o Arquiteto Luiz Paulo Conde – para uma intervenção paisagística nesse trecho da Lagoa que faltava ser urbanizado. E então nasceu o Parque dos Patins, inaugurado pelo já então Prefeito Luiz Paulo Conde, algum tempo depois. SCENA: O Parque dos Patins então é uma obra sua? Dentro do escritório Burle Marx, mas depois que o Burle Marx já tinha falecido, certo? HO: Sim. Foi um projeto que se iniciou em 1995, um ano após o falecimento de Roberto, e foi concluído e entregue ao público em 1998.
“Creio que ainda hoje, a percepção de Roberto
ao avaliar e enfocar um problema compositivo serve de exemplo para mim, porque ele foi meu professor e mestre da verdade.”
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“A arquitetura foi um
acidente na minha vida.”
SCENA: O senhor disse que o Parque da Maré está desfigurado, como descreve essa situação? HO: Fizemos dois projetos para o Parque da Maré. O primeiro em 1991 foi totalmente executado conforme o nosso projeto. Na época, a execução ficou por conta de nossa equipe – arquitetos e jardineiros, juntamente com pessoas das comunidades que compunham o Complexo da Maré, que na época eram sete ou oito. Após a entrega do parque à população, lamentavelmente não houve o apoio da Prefeitura para a sua conservação e então o parque foi decaindo até que chegou à degradação. Após alguns anos, em 1996, fomos contratados novamente para reestudar o Parque, agora pela Secretaria de Habitação. Decidiram derrubar tudo o que restava do remanescente e a recomendação era partir da estaca zero, transformando-o em um Parque Esportivo, já que a cidade nessa época vivia a febre das vilas olímpicas, voltadas mais para o Esporte. Dessa forma projetamos para a área um complexo esportivo aquático com piscinas olímpicas, saltos ornamentais, vestiários e atendimento médico, entre outras funções, e um campo de futebol com dimensões oficiais com arquibancadas e vestiários, além de várias quadras polivalentes e pistas de atletismo. Havia também playgroundspara diferentes idades, praças de convivência e de alimentação. Cada atividade era entremeada por uma vegetação arbórea, plantada em grupos da mesma espécie, de forma a identificar visualmente cada área. Ligando esses grupamentos propusemos o plantio de palmeiras, ora em renques, ora em grupos, em terrenos modelados formando pequenas ondulações. Para amenizar o forte calor do sol, enquanto as árvores não estavam desenvolvidas, projetamos em todas as áreas de estar pérgulas com plantas trepadeiras. O Parque foi executado parcialmente. O que vemos atualmente é um parque cercado por painéis “antirruído” com o intuito de esconder as construções das comunidades, abandonado e ocupado por animais soltos (cavalos, porcos, cachorros etc.), por uma instituição religiosa e pela própria Policia Militar.
scena SCENA: Quais são os principais projetos que o escritório vem executando atualmente? HO: Temos feito muitos trabalhos para diversas empresas. A maioria com a finalidade dos eventos da Copa do Mundo e das Olimpíadas, e também alguns projetos importantes para nós e para a nossa cidade, como o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio – MAR, na Praça Mauá, e aqui onde era a Help (casa noturna em Copacabana), nós estamos desenvolvendo o paisagismo para o Museu da Imagem e do Som – MIS. Esses são trabalhos que eu considero emblemáticos atualmente. São três grandes projetos, pelo menos em importância. E estamos desenvolvendo, ainda na prancheta, o projeto de paisagismo para urbanização do entorno do Estádio do Maracanã, criando uma ligação com a Quinta da Boa Vista através de praças-passarelas sobre as linhas férreas com um novo parque com 90 mil m² aproximadamente, o Parque Glaziou. SCENA: O senhor é frequentemente tratado como um discípulo de Burle Marx. Como o senhor recebe esta afirmação? HO: Com naturalidade, não sou nem a favor e nem contra com esta situação (risos). Me chamam assim, não é? E é verdade, é como me sinto e continuo sendo, porque eu sigo os seus conceitos e não nego isso. SCENA: O senhor não acha que depois da morte dele houve uma quebra e/ ou ruptura no seu trabalho individual com os valores, conceitos e atributos da obra de Burle Marx? HO: Não acredito que minha criatividade tenha sofrido uma parada após o “trauma” causado pela morte de Roberto. Acho até que na continuidade do seu trabalho, houve de minha parte, um desenvolvimento criativo mais pessoal e próprio. Neste sentido, há uma dissertação de mestrado, desenvolvida por uma pesquisadora em Recife que enfoca entre outros tópicos, o diálogo entre a forma de compor de Burle Marx e a minha. Creio que ainda hoje, a percepção de Roberto ao avaliar e enfocar um problema compositivo serve de exemplo para mim, porque ele foi meu professor e mestre de verdade. Sem dúvida, no diálogo criativo que acontecia entre nós no dia a dia, suas ponderações frequentemente prevaleciam, mas nunca eram impositivas ou impostas. Realmente havia uma grande interação entre nós.
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Haruyoshi Ono is now one of the most important landscape architects operating in Brazil. Despite this finding, it is a landscape that, among many other striking features of his personality, was the most important and constant disciple of Roberto Burle Marx, with whom he worked from 1965 until 1994, the year of his death the great master. For three decades Haru, as he is affectionately called by close, was the main and closest partner and collaborator Roberto Burle Marx in various landscaping projects in Brazil and abroad. After the death of Burle Marx (1994), Haru has not only command the office, with several decisions of a business nature to be taken, but also had to deal daily with the legacy of this renowned artist who was Burle Marx. For about three hours of good conversation, held in his office at the Laranjeiras district of Rio de Janeiro, Haru was gradually revealing precious aspects of their training and also its peculiar personality that clearly reveals the caller many features Japanese culture, which was part of their ancestors. Very quiet and without any affectation, vanity or pedantry Haruyoshi Ono talks about his work that considers way, somehow entered a process of continuity of what was already doing in the many years that collaborated with Burle Marx. For the reader interested in the methodologies and procedures for, landscaping projects, the interview below is revealing because, while talking of “concepts”, “programs” and “technical”, our interviewee said also mentions aspects “quality “of space that will be the object of their interventions. In one of the many highlights of the interview, we emphasize so when he tells us about his relationship with the vegetation: “They are living elements that are essential to my person, my work. So things are indispensable to me that both these elements (plants) use me, as I use them too. The elements use me and make me work for them, creating the plants, treating them well, watering, pruning and stuff. That they are using me and then we use them too. The return that thing, this relationship is the beauty they give you, visually, playing in our feeling. “ The reader now will have the task of assessing estaentrevista with the landscape architect Haruyoshi Ono.
scena SCENA: Could you tell us how your training, both in the academic and professional also, as an architect, and particularly as a landscaper? Haruyoshi Ono: I did the gym and in the scientific College Cruise. Then I entrance exam for the National School of Architecture at the time University of Brazil in 1964 and in 1968 I graduated as an architect. This is therefore my education. While I still was studying architecture, I had contact with the teacher Antonio Leitao, who was our teacher of artistic design, and made part of his architectural firm. Later I entered the studio of Roberto Burle Marx as a trainee in 1965 and went to designer intern in the office. When I graduate architect was called to be a company partner. I continued until the death of Robert, in 1994. So I went partner office Burle Marx & Cia. Ltda. 1968 to 1994, and since then drive the company. SCENA: You are born in Rio? HO: I was born in Rio de Janeiro, in the neighborhood of Long River, in 1943. SCENA: And its choice Landscaping was driven by the encounter with the Burle Marx? HO: Yes, basically was. But I always had interest in vegetation even in my childhood. My mother, for example, was very fond of plants and also we had a small yard at home. My mother was Japanese and her interest by the plants had no origin and not directly related to landscaping or oriental gardens. As she liked to live and deal with plants, and thus learned a lot from her. This was my first encounter with the vegetation. Later, of course, with the Burle Marx I learned just about everything I know today. SCENA: What kind of plants cultivated his mother? HO: They were mostly annual and exotic plants. They had several blooms dahlias, chrysanthemums many, some trees, and cloves and violets. She enjoyed much these plants because of the flowering and the smell. The azaleas were special to her. And amidst all this bougainvillea stood out for its beautiful blooms. As our yard was small, were the trees in the neighborhood that impressed me a lot. SCENA: So your childhood happened in a space that had a garden?
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Entrevista HO: Yes. In our small space, particular, “the yard”, which we called garden. And still had the surroundings, well-lined streets. But this was no more in the Long River, the neighborhood where I was born, but in Senador Camara, where I moved to six years old when we left the city center and went to the countryside. And it was in Senador Camara I spent my childhood and where we live long. There was good because it was surrounded by woods, had a river behind, a small river that people bathed. There were bulls and cows near the house, grazing. SCENA: And your childhood was there, in that environment ... Do you have siblings? HO: My childhood was in the middle of jamelões, mangoes, oranges. I have two brothers. An older and one younger. We were enjoying the three very life in the countryside. In the leisure hours had the ball games - good time, right? - Kites, spinning top, those jokes streets, flags etc. I still remember well. SCENA: So the experience with nature and the contact with the plants were there right next to you. And your father? HO: Today I think the most important thing was not that contact with vegetation, but in general the contact with the earth. My father was a merchant, and because of this, because of their work, we live in Senador Camara. I left there with 16 or 17 years or less. I started studying in downtown Rio de Janeiro in 1950, the College Cruise. In the middle of the school year we moved and I was not studying a few months for lack of place at the school. The next year I was enrolled in a private school called St. Joseph College. It was a very funny because class had students from primary school to junior high. There were English classes along with Portuguese, French, and for young children in the middle, a large room divided into groups. Then I went to a public school where I stayed until the intake stroke. Pay a kind of com-
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petition to a state school, already in Campo Grande, still in the countryside. Campo Grande was then a neighborhood of Rio de Janeiro, developed and distant. Today is all on different that time. And there I studied for two years, the first and the second junior. Junior third I’ve come here to do in Rio, the College Cruise, returning to the origin. Was a German school, bilingual and had the option of studying in German or not. Is still considered a good school here in Rio de Janeiro. Was running at the time with the College Pedro II. SCENA: And was living with his grandparents too? HO:. No I did not know nearly my grandparents. My maternal grandmother I met in a few days visits here in Rio de Janeiro. My paternal grandfather I only saw once in São Paulo. Were Japanese. SCENA: And you had some contact with Japan it? Traveled during his childhood and adolescence? HO: No, during childhood contact with Japanese culture was through my parents. My father worked in an import and export shop for groceries and Japanese objects, then there was contact with these Japanese officials. Also, inside the customs, food and language were preserved. As a teenager contact was higher, because my father went to work at the Japanese embassy and that we now have greater contact with the Japanese. SCENA: And you had the opportunity to go to Japan? And the first time was at what age? HO: I slept several times in Tokyo because there was the scale to go see the development of the KLCC Park project in Kuala Lumpur. However, only in 1990 had the opportunity to spend a few days in Japan, visiting several cities. Our office was invited by the Japanese Government to the Brazil Pavilion Garden in Green International Exposition in Osaka, known as EXPO 90. We invite the architect Ruy Ohtake to the pavilion architecture and we did the garden.
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“I think today, the perception of Roberto to assess and address a compositional problem is exemplary for me because he was my teacher and teacher of truth.” SCENA: And your choice of architecture study, as happened? HO: The architecture was an accident in my life. At the time I wanted to do Agronomy, was my first choice, I but I did not adapt to that environment. The following year made new entrance exam, this time for Architecture and Industrial Design. The evidence was concomitant, but the result of Architecture came before. When I heard that had been approved, I chose her. SCENA: Agronomy did not work why? HO: Because of the environment that I did not like. SCENA: But everything has an approach the history of your interest contact with nature, with the earth, right? HO: In the end, in my professional work, I just tend to that side of nature. SCENA: Roberto Burle Marx died in 1994 and, since then, in these last 18 years, you are standing in front of the company still called Burle Marx & Cia. Ltda. Comment about your work in the office these past 18 years. HO: After the death of Robert, concluded pending jobs where he was ahead. There was a time, a small interruption of about three to four years that we had a hard time getting new trabalhos.Eu not had the experience of promotion of office; Roberto was not like coming out very, talked, had a great social relationship. Because of that we had, in fact, a number of difficulties after his death. Some architects, known our, friends, helped us a lot at that time. And gradually, we were getting small jobs and regaining the great work espaço. Um occupied almost all of our time, the Kuala Lumpur City Centre Park, Malaysia. We were asked to design this work when the Burle Marx was already very ill. He was twice there, with great difficulty and unable to help much. But his figure was important, because the owners of the project relied on his name. At that time we were six permanent architects, in addition to trainees
scena and designers and of course we had to keep the whole class. We were able to deliver the work; did a good job and we were pleased. This project ended in 1997, was executed and delivered to the public soon after. From there the work began to emerge naturally: small jobs, ordinances buildings, gardens reforms and even small interventions, such as the Olympic Villages. At the time the state government was very connected to sports. So did several parks, such as Tide Park, on the road to Rio International Airport, which today is completely disfigured in relation to our project. We made a number of Olympic Villages, which were small interventions in certain neighborhoods and in several small towns near here, in our surroundings, Nova Igua莽u, Caxias, Nil贸polis, Belford Roxo, Mosque, among others. A great job, the first to emerge after the death of Robert, was the Park Lagoon, which in fact had already been done with it. In fact, we did it twice, the surroundings of Lagoa Rodrigo de Freitas. But there was a part that was intact, which operated an amusement park called Tivoli Park. A lot of people was contrary to that activity at that location, and even our own office was contrary to that amusement park the way it was inserted there: it was a very invasive and strong intervention, but always remained. And the toys playground were getting old and decadent with poor maintenance, with security issues. More or less, in 1995, we were hired by the City - the City Planning Secretary was the architect Luiz Paulo Conde - for a landscape intervention in this stretch of the lagoon missing be urbanized. And so was born the skates of the park, inaugurated by then already Mayor Luiz Paulo Conde, some time later. SCENA: The skates of Park then it is your work? Inside the office Burle Marx, but after the Burle Marx had passed away, right? HO: Yes. It was a project that began in 1995, a year after the death of Robert, and was completed and delivered to the public in 1998.
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SCENA: You said that the Tidal Park is disfigured, as describes this situation? HO: We did two projects for the Tide Park. The first in 1991 was fully implemented as our project. At the time, the implementation was done by our team - architects and gardeners, along with people in the communities that made up the Complexo da MarĂŠ, who at the time was seven or eight. After the public park of delivery, unfortunately there was the support of the City for their conservation and then the park was declining until he came to degradation. After a few years, in 1996, were hired again to revisit the park, now by the Housing Department. They decided to take down all that remained of the remnant and the recommendation was from scratch, turning it into a Sports Park, since the city at that time lived fever of Olympic villages, aimed more for Sport. Thus we project to the area a water sports complex with Olympic swimming pools, diving, medical dressing rooms and service, among other functions, and a football field with official dimensions with bleachers and locker rooms, and several multipurpose courts and athletic fields. There was also playgroundspara different ages, coexistence and power markets. Each activity was interspersed with an arboreal vegetation, planted in groups of the same species, in order to visually identify each area. Connecting these groups have proposed the planting of palm trees, sometimes in rows, sometimes in groups, modeled on land forming ripples. To soften the strong heat of the sun, while the trees were not developed, designed in all living areas pergolas with climbing plants. The Park was run partially. What we see today is a park surrounded by panels “glazedâ€? in order to hide the construction of communities, abandoned and occupied by loose animals (horses, pigs, dogs etc.), by a religious institution and by the Military Police.
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SCENA: What are the main projects that the office is currently running? HO: We have done a lot of work for several companies. Most for the purpose of the events of the World Cup and the Olympics, and also some important projects for us and for our city, such as the Museum of Tomorrow and the Rio Art Museum - SEA in Maua Square, and here where was the Help (nightclub in Copacabana), we are developing the landscaping to the Museum of Image and Sound - MIS. These are works that I consider today emblematic. Three large projects, at least in importance. And we are developing, still on the drawing board, the landscaping project for urbanization surrounding the Maracana Stadium, creating a link with the Quinta da Boa Vista through squares, walkways on the railways with a new park with 90,000 m² approximately the Glaziou park. SCENA: You are often treated as a disciple of Burle Marx. How do you get this statement? HO: Quite naturally, I am neither for nor against this situation (laughs). Call me so, right? And it’s true, is how I feel and continue to be me, because I follow your concepts and do not deny it. SCENA: You do not think that after his death there was a break and / or disruption in their individual work with the values, concepts and attributes of the work of Burle Marx? HO: I do not think my creativity has suffered a stop after the “trauma” caused by the death of Roberto. I even think that the continuity of its work, there was of me, a more personal and own creative development. In this sense, there is a master’s thesis, developed by a researcher in Recife which focuses among other topics, the dialogue between the way of composing of Burle Marx and mine. I believe that today, the perception of Roberto to assess and address a compositional problem is an example to me because he was my teacher and true master. No doubt, the creative dialogue that occurred between us on a daily basis, their weights often prevailed, but were never impositive or imposed. Really had a great interaction between us.
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