PROPOSTA G2 Gabriel Moraes Aquino
1AC | DSG1030 – ANTEPROJETO 2016.1 Orientador Nilton Gamba Jr.
“Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle. As imagens de leveza que busco não devem, em contato com a realidade presente e futura, dissolver-se como sonhos...” Ítalo Calvino Seis propostas para o próximo milênio – pág.21
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO –––––– 09 O PROJETO –––––– 13 METODOLOGIA –––––– 15 CAMINHO E POSSIBILIDADES
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PESQUISA –––––– 21 REFERÊNCIAS –––––– 23 PRIMEIROS EXPERIMENTOS –––––– 33 PRÓXIMOS PASSOS –––––– 39 CRONOGRAMA –––––– 41 BIBLIOGRAFIA –––––– 43
//INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Uma excursão por 12 cidades da China me proporcionou novas vivências distantes do meu campo de funcionamento habitual. Nesses momentos, propus condicionar-me a uma atitude de coletador cultural em busca de inusitados fazeres desse lugar. Apesar de muito atento às diversas ações ao redor, procurava estabelecer parâmetros afetivos antes de julgar alguma situação – uma aproximação mais despretenciosa e humilde. Não podia esquecer que do outro lado do mundo a sociedade nasceu num clima de muito chá e pouco café, onde há tempo e espaço para generosos e calmos rituais, anteriores ao consumo imediato de necessidade impulsiva muito comum na cultura norte americana e latino americana. Na lógica oriental chinesa, algumas singularidades chamaram minha atenção, é o caso da comercialização de livros novos ou usados. A surpresa estava em determinados estabelecimentos onde a precificação do conteúdo formatava-se pelo seu peso material, como se fossem vegetais numa feira. As conformidades apontavam para uma espécie de desapego simbólico do conteúdo em prol de uma relação mais fria com a informação impressa ou não impressa. Nesse instante tentava absorver esse fato com uma percepção neutra, ou até ingênua. Seria essa logística uma ironia aos consumidores? O valor do peso importa mais, ou o valor da informação importa menos? Seria a informação algo universal que deveria ser de possivel acesso à todos, independente de seu valor simbólico? Seria este, um ato democrático de propagar conteúdo ao mundo sem futilidades materiais, estéticas e alegóricas? Ou então, será que vender por kilo gera mais lucro? Depois de muito pensar, passei a questionar noções muito difundidas na nossa cultura ocidental, a própria legitimação das convenções, das leis, da prova, da verdade, da ciência, do saber. Queria tirar proveito dessa tensão como oportunidade de projeto, que em sua origem têm um aspécto entrópico, de resignificação, de desordem, mas também é condição de máximas possibilidades para formar uma nova ordem.
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“celebrate uncertainty, because only through uncertainty there’s a potential for understanding.”
“Descobriu-se que a fonte de todas as fontes chama-se informação e que a ciência – assim como qualquer modalidade de conhecimento – nada mais é do que um certo modo de organizar, estocar e distribuir certas informações.” Jean-François Lyotard A Condição Pós-Moderna – pág. ix
//INTRODUÇÃO
“Na medida em que seu objetivo é aumentar a eficácia, dá primazia à questão do erro: o importante agora não é afirmar a verdade mas sim localizar o erro no sentido de aumentar a eficácia, ou melhor, a potência.” Jean-François Lyotard A Condição Pós-Moderna – pág. xii
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balanรงas suspenรงas
//O PROJETO
O PROJETO
“Qual é o valor do peso da informação?” Essa frase foi construída a partir da junção de dois tipos de discursos para lidar com a informação: do seu peso físico, como ao colocá-la sobre uma balança de precisão; e do seu valor simbólico, como um reconhecimento estabelecido pela sociedade. Isso foi feito com intuito de conduzir o pensamento lógico dos números, das quantidades, das categorizações, para um questionamento poético sobre o nível de importância que damos à determinadas noções, valores, princípios e regras que não necessáriamente são verdadeiras. Portanto, a partir da elaboração de um sistema com premeditações materiais e conceituais, pretendo gerar uma série de experimentações e artefatos que tensionem a relação entre o peso e o valor das coisas. Elas fariam parte de um relatório de processo, acompanhando video de apoio, com registro da produção do conteúdo. Além disso, tenho vontade de posteriormente organizar uma espécie de dinâmica/workshop sobre o projeto, para estimular essa subverção poética das determinações. PARA QUEM? O projeto têm em seu discurso duas vertentes: “A poesia do invisível, a poesia das infinitas potencialidades imprevisíveis, assim como a poesia do nada, nascem de um poeta que não nutre qualquer dúvida quanto ao caráter físico do mundo” (Italo Calvino); e ao mesmo tempo têm-se a união dos fatores formais e conceituais, provenientes de um planjeamento sistemático. Direciono esse projeto então, para os interessados nesse intercâmbio, principalmente aos estudantes da industria criativa, já que tenho a intenção de instigar através de uma criação que foge dos moldes modernistas ensinados em universidades brasileiras. Além disso, por ser uma tentativa de busca de um presente expandido, não necessariamente um futuro, mas um reconhecimento do “momento”, portanto, foco também em artistas, filósofos, sociólogos e escritores.
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//METODOLOGIA
METODOLOGIA
O que pretendo ao seguir essa temática, é poder aproveitar um situação rica em possibilidades e desdobramentos dentro da área criativa, tangenciando diversos meios como o design, a arte, a música, o cinema e o teatro. O que viabilizaria um processo experimental que não seria limitado a planejamentos muitos detalhados e fechados, dando vazão para posteriores desconstruções e reconstruções – uma metodologia despadronizada que pretende colocar lado a lado a experimentação e a conceituação. Outro fato é a qualidade irônica desse caminho, lembrando da venda de livros na China, com a descaracterização do conteúdo informativo dentro da equação de precificação, ao mesmo tempo que se tem a linguagem e seus jogos de valores externos sobre a matéria que suporta a informação. No desenrolar do projeto a proposição seria quebrar estruturas e valores estratificados na busca dessas novas possibilidades. Afinal, a sociedade para se adaptar às constantes mudanças que ocorrem no mundo precisa ser flexível, sofrer transformações e se adequar também. Obviamente, reconheço que estou fadado ao erro, não acho que irei descobrir ou inventar uma utilidade funcional para o mundo. Minha intenção é trabalhar na incerteza, de certa forma situado no meio entre sistematização de um projeto e a expressão sensível de uma poesia, para então chegar em algum lugar através de mudanças e adaptações dos problemas sucessivos. No fim, independente de acertar ou errar, será mais um resultado com uma trajetória que existe no mundo a ser considerada como processo de criação.
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//CAMINHO E POSSIBILIDADES
CAMINHO E POSSIBILIDADES
Essas tensões apontadas, refletem no meu distanciamento lógico com o modelo de venda de livros da China. Entretanto, o que me interessa em primeira instância, é trazer questionamentos similares para a realidade que me rodeia num raio mais tangível. Acredito que a dualidade entre quantidade e qualidade poderia se expandir, como acontece no meio virtual, por exemplo, o peso físico se desmaterializa e ganha um novo sentido na memória digital que é o peso da quantidade de bits usados. Nesse caso, tem-se o tempo como segundo parâmetro de valorização, ou seja, a quantidade de tempo é inversamente proporcional ao seu valor, quanto menos tempo demorar para acessar um conteúdo, mais valioso e vice e versa. Então, a ideia é gerar desdobramentos a partir desse assunto, independentemente dos meios com suas respectivas especificações pré-estabelecidas, como foi citado sobre o meio virtual. A oportunidade estaria nos possíveis usos e corelações convergentes e divergentes do conteúdo com a matéria de suporte. Em todo caso, é o universo da informação, um espaço amplamente abordado na contemporaneidade em diversas áreas de conhecimentos. Por exemplo, no discurso ciêntífico moderno do século XX, a informação já teve tanto peso que para muitos alcançara um patamar de verificação verdadeira sobre um enunciado (já há debates questionando essa condição). Por outro lado, no campo criativo a busca não seria por apenas uma resposta, mas sim por novas perguntas, teríamos a oportunidade de lidar com a informação no intuito de gerar reflexões, emoções, sensações e sentimentos nas pessoas. Dessa forma, considerando a palavra como unidade de linguagem verbal, pretendo desenvolver a partir de experimentações, uma série de conteúdos em diferentes mídias, sendo físicas ou não, provenientes de processos de criações diversos que tensionem o valor da palavra nos diferentes meios de produção informativa. Para isso, utilizaria ferramentas, máquinas, matérias-prima, técnicas, equações e sistemas. O conceito de peso serviria como parâmetro discursivo para guiar as análises, estaria pesando em gramas, valor, uso, frequência, abstração, racionalismo, reprodução, imaginário, e outras noções que poderiam vir a surgir. Por fim, a poética e a irônia seriam aspectos que desencadeariam caminhos atípicos nesse processo sistemático, na tentativa de liberdade ao pragmatismo estabelecido pelas convenções dos modelos mais tradicionais de geração de informação.
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Michael Heizer Levitated Mass, 2012. Los Angeles A instalação consiste em um pedregulho de 340 toneladas afixada acima de uma trincheira de concreto através do qual os visitantes podem caminhar.
//CAMINHO E POSSIBILIDADES
Já que estou falando sobre peso, não poderia deixar de considerar seu antônimo: a leveza. São esses opostos em sincronia que certas vezes geram um estranhamento e ironia como havia falado. No trabalho de Michael Heizer, Levitated Mass, pode-se ir além da observação desse paradoxo, na própria experiência de fazer parte daquilo, o espectador deixa de ser passivo e torna-se ativo diante a obra de arte. Um peso de 340 toneladas sobre sua cabeça, penso que se o homem sonhava tanto em voar e pôde criar o avião, agora o homem que sonhava tanto em ter força como na mitologia de Hércules, agora pôde experienciar essa força ao ter tanto peso sobre a cabeça, mas que na realidade sabemos que não há peso nenhum, assim como sabemos que quem voa é o avião e não nós humanos.
Sketch do projeto “Levitated Mass” por Heizer.
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“O povo está em debate consigo mésmo sobre o que é justo e injusto, da mesma maneira que a comunidade dos cientistas sobre o que é verdadeiro e falso; o povo acumula as leis civis, como os cientistas acumulam as leis científicas; o povo aperfeiçoa as regras do seu consenso por disposições constitucionais, como os cientistas revisam à luz dos seus conhecimentos produzindo novos “paradigmas” .” Jean-François Lyotard
“Tudo que escolhemos na vida pela sua leveza logo revela seu insuportável peso. Estamos diante do medo do peso insuportável: o peso da repressão, o peso da constrição, o peso do governo, o peso da destruição, o peso do suicídio, o peso da história que dissolve o peso e erode o sentido de uma construção calculada de leveza palpável.” Richard Serra
“Podemos dizer que duas vocações opostas se confrontam no campo da literatura através dos séculos: uma tende a fazer, da linguagem um elemento sem peso, flutuando sobre as coisas como uma nuvem, ou melhor, como uma tênue pulverulência, ou, melhor ainda, como um campo de impulsos magnéticos; a outra tende a comunicar peso à linguagem, dar-lhe a espessura, a concreção das coisas, dos corpos, das sensações.” Italo Calvino
//PESQUISA
PESQUISA
Depois que decidi o ponto de partida, foi preciso buscar recursos que auxiliariam no aprofundamento conceitual e teórico do projeto. Através de referências próximas, recolhidas com ex-alunos PUC-Rio que achava interessantes, tive acesso a três relatórios de projetos finais: KOAN, por João Costa; Instruções para a Construção de uma Ruína, por Manoela Medeiros; e Tradução/Traição, por Pedro Zylberstajn. Apesar de serem profundas referências em diversos aspectos, procurei primeiramente focar nas bases teóricas de cada um. Em paralelo, tive excelentes recomendações pelo Prof. Nilton Gamba Jr – orientador de anteprojeto. Finalmente, os três principais livros escolhidos foram: –––––
A Condição Pós-Moderna, de Jean-François Lyotard
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Seis propostas para o próximo milênio, de Italo Calvino
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Escritos e Entrevistas 1967-2013, de Richard Serra
Cada um deles aponta para questões que são muito relevantes para o desdobramento crítico do assunto que estou tratando. I - A ideia de valor, por Lyotard; II - a ideia de leveza, por Calvino; III - a ideia de peso, por Serra. Consequentemente, essas palavras-chave serviram de parâmetros para iniciar com as experimentações e busca de referências conceituais e estéticas em outros trabalhos.
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//REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
“Erased de Kooning Drawing” de Robert Rauschenberg (imagem à esquerda) “The power of Erased de Kooning Drawing derives from the allure of the unseen and from the enigmatic nature of Rauschenberg’s decision to erase a de Kooning. Was it an act of homage, provocation, humor, patricide, destruction, or, as Rauschenberg once suggested, celebration? Erased de Kooning Drawing eludes easy answers, its mysterious beginnings leaving it open to a range of present and future interpretations.” Nesse exemplo, pude refletir sobre como a informação tem poder existencial que transcende a própria forma, e a resignificação pela palavra trás outro caráter, em certo aspécto irônico. O processo não deixa ser um jogo, onde os jogadores são os dois artistas cúmplices e o espectador. Questões como autoria e apropriação, problamatizam o trabalho. Finalmente, me chama muita atenção o ato de apagar o conteúdo, e ainda tem-se a questão: para onde foram os restos do resultado do apagamento? Me interesso por isso, como materialização do conteúdo, cada vez mais distante de um suporte para formalizar sua existência. Para ajudar a me situar no assunto, busquei auxílio na visão de Italo Calvino sobre questões existenciais e essenciais: “Tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba bem cedo se revelando de um peso insustentável.” (Seis propóstas para o próximo milênio, pág. 21). Com isso, fui cada vez mais direcionando meu pensamento para a poesia e filosofia. Estou a procura de pesos e seus valores, podendo eles ser tangíveis ou intangíveis. Uma citação de Ignasi de Solà-Morales que me surge sobre o vazio construído do trabalho de Rauschenberg: “O vazio é a ausência, mas também a esperança, o espaço do possível.” Portanto, reafirmo o peso do vazio, além da fisicalidade está o ato e a memória do que foi e do que agora é.
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129.5 × 160 × 190.5 cm
//REFERÊNCIAS
“Equal Weights and Measures” de Richard Serra (imagem à esquerda) Basicamente esse trabalho consiste em 6 blocos de metal sólido dispostos numa sala expositiva. Contudo, eles da maneira que estão posicionados parecem diferentes um do outro, mas eles possuem as mesmas medidas e o mesmo peso, o que os torna diferente é apenas sua disposição no espaço, é decidir qual face será escondida. Isso instiga, pois lida com nossa percepção do mundo de maneira afetiva e de maneira pragmática, é a tal da dualidade entre a poética das coisas e a razão das coisas. Imagino que se uma criança que não sabe nada de geometria ou física, visse isso iria insistir que são diferente e ainda iria escolher seu favorito. Isso por que as crianças não se preocupam com questões mentais estabelecidas por convenções. O que quero dizer, é que nós aprendemos a ver o mundo. Nada é totalmente natural, até mesmo o que nós enxergamos, pois não trata-se apenas da pura visão, imediatamente depois de visto nós tendemos a interpretar. O trabalho, portanto, traz o invisível para o visível ao demonstrar que o mesmo objeto pode ser diversos objetos ao mesmo tempo. É importanto frizar que essa experiencia só foi possível por conta da quantidade de blocos na sala.
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//REFERÊNCIAS
“Six Foot Balance with Four Pounds of Paper ” de Benjamin Patterson ‘ (imagem à esquerda) É uma escultura de parede que consiste de um simples balanço de aço longo de seis pés. É instalada com um peso de chumbo de quatro libras suspensa a partir de uma extremidade, em equilíbrio com uma folha de papel de igual peso suspenso a partir da outra extremidade. O maço de papel compreende aproximadamente quarenta e duas folhas densas e grossas, cada uma das quais carrega uma representação idêntica litográfica do peso. Ele está suspenso por dois parafusos da luva de bronze que mantenha a pilha de papel reta, de modo que, à primeira vista, parece que é apenas uma única folha. O peso é pendurado na mesma altura que a sua representação impressa no papel. Desta forma, o objeto é colocado em uma posição de igualdade literal com sua descrição. O trabalho invoca o velho paradigma sobre os pesos relativos de uma libra de plumas e uma libra de chumbo, que são, naturalmente, o mesmo. Como as plumas, o papel parece relativamente leve em peso. Quando é apresentado em equilíbrio com chumbo, que parece pesado, expectativas visuais são momentaneamente perturbadas. Craig-Martin explicou que o que seu trabalho trata é “a característica mais essencial da arte, a única realmente essencial, que é um aspecto da fé e um aspecto da suposição e, como é uma arte visual, o que parece é... a aparência das coisas “(citado em Michael Craig-Martin: a Retrospective 1968-1989, p.11). Um questionamento de como os objetos são percebidos é fundamental para o seu trabalho. Este em especial chama a atenção para uma linguagem subjacente de sinais visuais, jogando com a discrepância entre a aparência visual e características físicas. Me faz lembrar as três palavras, leveza, peso e valor, com ironia disso tudo. Penso na diferença desse desenho representativo para as próprias palavras de um livro impresso em série, os dois tem essa caracteristica em comum, os dois são resultados de um processo de impressão sobre papel em série. Mas como relativizar a “imagem” da palavra com algo físico? São perguntas como essa que reafirma minha convicção das múltiplas possbilidades de geração de experimentos.
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//REFERÊNCIAS
“Questionnaire from Flux Year Box 2.” de Benjamin Patterson (imagem à esquerda) Esse trabalho faz parte de um movimento da década de 60 conhecido como Fluxus, que foi marcado por uma fase anti-arte, digamos assim. O artistas não queria mais ser chamados de artistas, e seus trabalhos eram muito mais livres e políticos, questionando tudo, pensando no por que das coisas e transformando essa agonia e tensão em arte. Nesse caso, estamos falando de um pedido, a frase demonstra isso, mas com condições, ou é sim ou é não. Se for respondido sem cuidado, a chance de arrependimento é grande. O problema abordado nesse trabalho é circular e está na própria resposta e o modo como os elementos gráficos são dispostos no papel. Se você responde sim, você já respondeu e acabou, mas se você responde não, felizmente também foi respondida. Essa condição nos faz pensar no valor do sim e não, será existe alguma essencialmente uma diferença quando negamos ou aceitamos algum pedido? Um pensamento, menos segregador e mais libertário, onde entre o Sim e o Não existe uma gama de possibilidades. Graficamente o trabalho é muito leve, mas carrega um peso, que vai fazer o espectador pensar e se resolver durante um tempo.
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“Mile Long Drawing” de Walter de Maria (imagem à esquerda) São duas linhas paralelas desenhadas no chão com giz e à doze pés afastadas entre si, o trabalho se estende por uma milha no deserto de Mojave, na Califórnia. Foi uma peça simples e temporária, e uma das primeiras obras de Walter de Maria associada ao movimento Land Art, movendo-se para além das fronteiras da arte limitada nas galeria, trazendo uma ideologia minimalista ao ar livre na paisagem. As duas linhas dramáticas concentram a atenção sobre as características da ordem, espaço, tempo, e medição, e, através desta, de Maria começou a explorar algumas das maneiras que as pessoas classificam a natureza junto com o impulso humano de fazer marcas no mundo externo, possivelmente fazendo referencia para as antigas Nazca Lines incas – geoglifos antigos, grandes desenhos marcados no chão, reconhecidos apenas de cime com muita altura. Além disso, o trabalho também chama a atenção para a efemeridade do tempo, como suas marcas desaparecem com os efeitos do mundo natural. Este efemeridade pede aos espectadores a refletirem sobre a realidade de suas vidas, bem como, onde a mudança é constante e nada permanece intacto para sempre. À medida em que o desenho de uma milha de comprimento desaparece em sua paisagem no deserto, refletindo sobre o tempo e a memória. Torna-se uma obra de arte viva revelando múltiplos significados enquanto seus aspectos visuais mudam. Portando, é uma referência com conceitos muito pertinente ao fluxo das coisas e da noção da experienciação diante da multiplicidade de micro-relações que o mundo transmite, não necessariamente é uma referência estética/visual, no caso estou tratando de linguagem, de meio de criação que tensionem o peso e o valor da informação, ou seja, minha questão caminha para outra direção, menos minimalista, imagino.
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sobreposição de caracteres na máquina de escrever
folha de livro lixada
pó resultante das palavras lixadas
repetição pela máquina de escrever
//PRIMEIROS EXPERIMENTOS
PRIMEIROS EXPERIMENTOS
Retomando às reflexões e constatações apresentadas ao longo desse relatório, o processo de exprimentação se mostra como importante veículo de direcionamento técnico e conceitual. Dou inicio à essa perspectiva com simples testes que me guiariam a partir das respostas pelo ato do fazer e posteriormente numa análise mais aprofundada. Iniciei com o uso básico de uma máquina de escrever, mas não focado no contéudo escrito, estava mais preocupado em ouvir e observar seu funcionamento no processo de impressão. O peso da força da ação de teclar, diferencia completamente a consistência da impressão sobre o papel, quanto mais fraco o peso mais fraco a visibilidade da tinta. Nesse instante penso sobre visibilidade e invisibilidade pelo peso, como seria escrever um texto só com “pancadas” e um texto só com movimentos delicados? Seguindo com as experimentações, testei outra possibilidade, o espaço do papel, o peso da ocupação e depois a sobreposição de impressões de diferentes caracteres. Em outro experimento, pesei uma folha A4 em branco com uma balança de precisão, e pude calcular o valor unitário dessa folha e até mesmo ter mais noção de quanto vale um livro inteiramente feito com esse mesmo papel. Me mostrou informações invisiveis que o sistema pré-determina e esquecemos de questionarmos. Descobri quanto vale o custo aproximado de um exemplar desse livro usado no experimento, levando em consideração apenas a matéria da superfície usada, pude perceber um diferença bem grande de custo, no caso uma supervalorização por conta do conteúdo e seu valor agregado. Calculando, o livro apenas pela materialidade custaria entre 3 a 5 reais enquanto nas lojas o preço varias entre 25 a 40 reais. Dando continuidade, dessa vez me inspirei em Rauschenberg e apaguei uma página inteira de um livro, porém usando lixa, pude então produzir outro tipo de conteúdo: as cicatrizes dos arranhões na página, que agora ficou sem palavras, e principalmente, o pó composto pelas próprias palavras, ou então, pela pequena camada de papel que absorveu a tinta da impressão das palavras. Reconheci o pó como uma matéria-prima que poderia virar tinta, suco, massa, cola, textura, etc. É o caráter atómico da palavra: “Não se trata, pois, dessa melancolia compacta e opaca, mas de um véu de ínfimas partículas de humores e sensações, uma poeira de átomos como tudo aquilo que constitui a última substância da multiplicidade das coisas.” (Seis propostas para o próximo milênio, Italo Calvino – pág.34)
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Sem TÃtulo experimento I, 2016 link: https://vimeo.com/172375704
//PRIMEIROS EXPERIMENTOS
Na experimentação ao lado, produzi um vídeo com aspecto laboratorial, como se fosse uma dissecação de um livro velho, no caso entitulado de “Anthologia Brasileiras” datado de 1913. Me propus a usar utensílios e adereços que simulassem um ambiente de laboratório científico, a intenção é irônico a partir do momento que estou analisando um corpo de informação textual, pouco explorado nesse sentido quando se trata de análises mais convencionais. O “roteiro” do video de 2 minutos e 38 segundos tem inicio em frias constatações, como o peso da massa do objeto livro e em seguida uma leitura rápida até uma página de interesse. Foi selecionado um texto com título “Rosas”, a decisão foi meramente afetiva, por acaso nesse mesmo dia havia discutido sobre rosas. Estava pronto então para “dissecar” e tentar ver o que está por trás das palavras, comecei a lixá-las até o final do texto que contempla duas páginas do livro. Por querer deixar o video mais cinematografico para gerar uma sensação de ficção, acabei tomando medidas além do próprio experimento, como no processo de lixamento, acabei sendo bruto demais e tive alguns rasgos no papel, isso é totalmente evitável. Gerei então, o pó de duas páginas sobre Rosas, e me preocupei no manuseio desse pó, coloquei-o dentro do um recipiente e pesei a matéria, tinha o peso das palavra registrado, eram apenas 0,1 grama de palavras. Resolvi por fim, fazer uma “experiência científica” misturei solução de óleo de linhaça e terebentina com o pó para gerar uma espécie de tinta a partir do pó. Acabou que a quantidade líquida foi acima do necessário, e a tinta ficou líquida demais, quase como aquarela. Escrevi então sobre uma nova superfície, um papel 100% algodão com fibras de canvas, a palavra “Rosa”. Analisando apenas o resultado, não fico satisfeito, entretanto entendo que faz parte de um processo que será amadurecido ao longo de outras experimentações. Ao mesmo tempo, aproveitei para testar o suporte do video como registro e também me autocriticar em relação a linguagem visual. Conclui que a linguagem cinematográfica não auxilia no processo real do fazer da experimentação, mas auxlia na ênfase conceitual do processo, pois ilustra bem a proposta.
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“Ao lidarmos com algo, geralmente aplicamos um juízo de valor sobre o conteúdo, podendo ser moral, metafórico ou característico” Rafael Cardoso Design para um Mundo Complexo
“A pergunta é: como se opera esse processo de transpor qualidades perceptíveis visualmente para juízos conceituais de valor?” Rafael Cardoso Design para um Mundo Complexo
//PRIMEIROS EXPERIMENTOS
“As formas deviam obedecer ao meterial e a estrutura e, ao mesmo tempo, demonstrar seu sistema e sua operação... expressar qualidades dinâmicas, enraizadas em processos” Botticher
“A forma abrange pelo menos 3 aspectos interligados, que possuem diferenças importantes entre si: 1) aparência: o aspecto perceptível por uma visada ou olhar; 2) configuração: no sentido composicional, de arranjo das partes; 3) estrutura: referente à dimensão construtiva ou constitutiva.” Rafael Cardoso Design para um Mundo Complexo
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//PRÓXIMOS PASSOS
PRÓXIMOS PASSOS
Montei um cronograma que pretendo seguir ao longo das féries de Julho e Agosto, e possivelmente na volta as aulas. Por enquanto seguirei nesse caminho de experimentações e leituras, gostaria de acumular o máximo de possibilidades e referências. Acredito que em algum momento desse processo as condições vão afunilando para uma síntese conceitual e formal. Para finalmente, eu poder ter um direcionamento mais focado num “produto”. Tenho ambição de continuar gerando matéria com as palavras, e em breve começar a brincar com isso, gerando ironias e críticas com teor mais social, político e sustentável. Como por exemplo, me propor de lixar um bíblia, ou pelo menos parte dela, e gerar um “pó divino” que pode virar “tinta divina” e usar essa tinta para escrever sobre algum tabu determinado pela própria palavra de deus dessa religião. Também quero buscar materializar cada vez mais as informações que são a priori invisíveis ao nosso olhar, como o desenho da frequência sonora das tecladas da máquina de escrever ao digitar alguma frase, como por exemplo “qual é o peso da informação?”. Finalizo então com essa citação: “A terra sob os meus pés não é senão um imenso jornal explicado. Às vezes, passa uma fotografia, é uma curiosidade qualidade, e das flores nasce uniformemente o odor, o bom odor de tinta de papel impresso.” (André Breton. Poison soluble, 1924)
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CRONOGRAMA // qual é o valor do peso da informação? JULHO
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Gabriel Moraes
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SEMANA DE GERAÇÃO DE ARTEFATOS E EXPERIMENTOS Produção e reconhecimento de artefatos e experimentos. Explorar múltiplas possibilidades de diálogo entre os conceitos do projeto de maneira tangível para análise visual.
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SEMANA DE GERAÇÃO DE ARTEFATOS E EXPERIMENTOS
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SEMANA DE GERAÇÃO DE ARTEFATOS E EXPERIMENTOS
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DEFINIR CAMINHO AGOSTO
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EXPOSIÇÃO
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CONCEITUALIZAÇÃO Escrever sobre o que foi feito e buscar novas referências.
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ANÁLISES E VERIFICAÇÃO
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INÍCIO DAS ANÁLISES E VERIFICAÇÃO Servirão como facilitadores de seguimento projetual, para entender o melhor caminho a seguir.
SEMANA DE GERAÇÃO DE ARTEFATOS E EXPERIMENTOS
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05 EXPOSIÇÃO
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CONCEITUALIZAÇÃO
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FORMALIZAÇÃO DO QUE FOI GERADO Formatar tudo que foi produzido de conteúdo físico e textual numa apresentação para o início do projeto final.
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VOLTA AS AULAS
FORMALIZAÇÃO DO QUE FOI GERADO
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PESQUISA E EXPERIMENTAÇÃO ESTÉTICA Levantamento de referências estéticas e estudos próprios de potenciais possibilidades para uso.
//CRONOGRAMA
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SETEMBRO
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PROTOTIPAGEM DO PROJETO Preparar primeiros protótipos do projeto e verificar as possibilidade de materiais e referências estéticas.
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PROTOTIPAGEM DO PROJETO
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VALIDAÇÃO E PRODUÇÃO Testar os protótipos em diferentes ambientes para refinamentos e então definir o mais adequado para produção.
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PROTÓTIPO FINAL Definição e produção do protótipo final.
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PROTÓTIPO FINAL
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GRAVAÇÃO E EDIÇÃO DE VIDEO Fazer video para apresentação do processo de criaçnao do protótipo e em funcionamento. OUTUBRO
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GRAVAÇÃO E EDIÇÃO DE VIDEO Fazer video para apresentação do processo de criaçnao do protótipo e em funcionamento.
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PLANEJAR WORKSHOP Pensar numa possível dinâmica que por si só seja uma experienciação do projeto.
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REVER E AJUSTAR Constatar se tudo que foi feito até então segue a linha de pensamento de forma coerente e preparar possíveis ajustes.
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EXPERIMENTAR WORKSHOP Fazer um teste com pessoas mais intimas da dinâmica e analisar as possíveis falhas.
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NOVEMBRO
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03
PREPARAR APRESENTAÇÃO FINAL Fazer uma apresentação/uso do projeto, sair dos moldes convencionais e sujerir algo que demonstre o próprio questionamento do projeto em prática. “estacularização da apresentação”
A P R E S E N TA Ç Ã O
DEZEMBRO
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//BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA
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