ARQUITETURA RELIGIOSA CONTEMPORÂNEA: O CASO DO PROJETO DA PARÓQUIA NOSSA SRª DE LOURDES

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FACULDADE PITÁGORAS TEIXEIRA DE FREITAS

ARQUITETURA E URBANISMO GABRIEL PEREIRA DOS SANTOS

ARQUITETURA RELIGIOSA CONTEMPORÂNEA: O CASO DO PROJETO DA PARÓQUIA NOSSA SRª DE LOURDES EM TEIXEIRA DE FREITAS/BA.

Teixeira de Freitas / BA 2020


GABRIEL PEREIRA DOS SANTOS

ARQUITETURA RELIGIOSA CONTEMPORÂNEA: O CASO DO PROJETO DA PARÓQUIA NOSSA SRª DE LOURDES EM TEIXEIRA DE FREITAS/BA.

Trabalho final de graduação (TFG) apresentado à Faculdade Pitágoras Teixeira de Freitas – BA para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador(a): Wagmacker

Teixeira de Freitas / BA 2020

Ma

.Sthéphi

Lubki


Ficha Catalográfica PEREIRA DOS SANTOS, Gabriel. Arquitetura Religiosa Contemporânea: O Caso do Projeto da Paróquia Nossa Srª de Lourdes em Teixeira de Freitas - BA / Gabriel Pereira dos Santos; orientadora: Sthéphi Lubki Wagmacker. – 2020. Qtdade de folhas 87 f. : il. ; 30 cm (tamanho da encadernação) Monografia (graduação) – Faculdade Pitágoras Teixeira de Freitas - BA, Departamento de Arquitetura & Urbanismo, 2020. Inclui bibliografia 1. Arquitetura & Urbanismo – Monografias. 2. Catolicismo. 3. Liturgia. 4. Igreja. 5. Religião.


GABRIEL PEREIRA DOS SANTOS

ARQUITETURA RELIGIOSA CONTEMPORÂNEA: O CASO DO PROJETO DA PARÓQUIA NOSSA SRª DE LOURDES EM TEIXEIRA DE FREITAS/BA.

Trabalho final de graduação (TFG) apresentado à Faculdade Pitágoras Teixeira de Freitas – BA para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Aprovado em 25 de Junho de 2020.

BANCA EXAMINADORA: Presidente: (Orientadora) Ma. Sthéphi Lubki Wagmacker Pitágoras Teixeira de Freitas - BA

1ª Examinadora: Esp. Karina da Silva Rigo Pitágoras Teixeira de Freitas - BA

2ª Examinadora: Arq. & Urb Ma. Jordana Barnabé Coelho Arquiteta & Urbanista CAU nº: 146096-0

Teixeira de Freitas / BA 2020


RESUMO Este trabalho consiste em estabelecer um epítome do ambiente sagrado Católico e seu processo evolutivo. A arquitetura tem a capacidade de contemplar características subjetivas através da percepção espacial, resgatando a simbologia dos espaços físicos das igrejas historicistas. Para tal, torna-se imprescindível estudar sua história, os documentos e leis pertinentes ao credo, além das relações entre liturgia e a arquitetura. Assim, se propõe uma requalificação da comunidade Nossa Srª de Lourdes, com uma nova setorização, um templo liturgicamente amparado fundamentado na fé e no ideário moderno, mas sem suprimir as simbologias bíblicas, inerentes ao catolicismo; princípios compositivos consolidados nos modelos referenciais estudados, pois correspondem aos anseios dos fiéis e do clero. Palavras-chave: Arquitetura. Catolicismo. Liturgia.


ABSTRACT This research work consists of establishing an epitome of the Catholic sacred environment and its evolutionary process. Architecture has the capacity to contemplate subjective characteristics through spatial perception, rescuing the symbolism of the physical spaces of historicist churches. To this end, it is essential to study its history, documents, and laws relevant to the creed, in addition to the relationship between liturgy and architecture. Thus, it proposes a requalification of the community Our Lady of Lourdes, with a new sectorization, a liturgically supported temple based on faith and modern ideas, but without suppressing the biblical symbols, inherent to Catholicism; compositional principles consolidated in the studied reference models, as they correspond to the wishes of the faithful and the clergy. Keywords: Architecture. Catholicism. Liturgy.


LISTA DE ABREVIATURAS CIC

Código de Direito Canônico / Codex Iuris Canonici

CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

IBGE

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

NBR

Normas Técnicas

PDUU

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

PDM

Plano Diretor Municipal

PPCI

Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêncio


LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Basílica de Maxêncio, conhecida também como Basílica de Constantino .. 3 Figura 2 - Basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia) ...................................................... 4 Figura 3 - Edificação atual da Comunidade Nossa Srª de Lourdes em Teixeira de Freitas - BA ................................................................................................................. 6 Figura 4 - As termas romanas ..................................................................................... 8 Figura 5 - A Última Ceia, pintado por Leonardo da Vinci. ........................................... 9 Figura 6 - Planta da Basílica de Maxêncio, conhecida também como Basílica de Constantino ............................................................................................................... 10 Figura 7 - Igreja Wrangler ......................................................................................... 11 Figura 8 - Basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia) .................................................... 12 Figura 9 - Igreja de San Martín de Tours de Frómista ............................................... 13 Figura 10 - Cobertura de pedras (Catedral de Pisa) ................................................. 14 Figura 11 - Catedral de Reims .................................................................................. 15 Figura 12 - Catedral de Reims, visto do Noroeste..................................................... 16 Figura 13 - Vitral Sagrado Coração de Jesus............................................................ 16 Figura 14 - Igreja Santa Maria del Fiore .................................................................... 17 Figura 15 - O Duomo e o Batistério ........................................................................... 18 Figura 16 - Igreja de Sant'Agnese in Agone .............................................................. 19 Figura 17 - Linha do tempo da Arquitetura Católica .................................................. 20 Figura 18 - Concílio Vaticano II ................................................................................. 22 Figura 19 - Interior da Basílica do Santo Sepulcro (Jerusalém) ................................ 23 Figura 20 - Basílica de São Pedro, Vaticano (Basílica Maior). .................................. 24 Figura 21 - Catedral Basílica (Salvador - BA)............................................................ 25 Figura 22 - Basílica de Nossa Srª Aparecida ............................................................ 26 Figura 23 - Interior da Capela da Basílica de Nossa Srª Aparecida .......................... 26 Figura 24 - Igreja Paroquial Santa Rita de Cássia (Teixeira de Freitas – BA)........... 27 Figura 25 - Altar da Capela da Fazenda Cascata (Teixeira de Freitas – BA)............ 28 Figura 26 - Espaços que compõem a igreja-edifício ................................................. 29 Figura 27 - Nave........................................................................................................ 30 Figura 28 - Presbitério ............................................................................................... 31 Figura 29 - Altar da Igreja Nossa Srª do Monte Carmel (San Diego - CA) ................ 32


Figura 30 - Torre Sineira ou Campanário (Croácia) .................................................. 32 Figura 31 - Batistério ................................................................................................. 33 Figura 32 - Capela do Santíssimo Sacramento ......................................................... 34 Figura 33 - Sacristia .................................................................................................. 35 Figura 34 - Confessionário ........................................................................................ 35 Figura 35 - Fachada principal da Paróquia Santo Antônio ........................................ 37 Figura 36 - Fachada principal da Igreja São Pedro ................................................... 38 Figura 37 - Terreno da obra ...................................................................................... 38 Figura 38 - Cobertura em forma de cruz latina .......................................................... 39 Figura 39 - Esquematização dos pilares e vigas ....................................................... 39 Figura 40 - Presbitério da Paróquia Santo Antônio ................................................... 39 Figura 41 - Releitura de elementos da arquitetura gótica .......................................... 40 Figura 42 - Planta baixa da Paróquia Santo Antônio ................................................. 41 Figura 43 - Consagração da Sagrada Eucaristia....................................................... 41 Figura 44 - Fachada principal da Paróquia São Luís Gonzaga ................................. 42 Figura 45 - A fachada da Paróquia São Luís Gonzaga ............................................. 43 Figura 46 - Interior da Paróquia São Luís Gonzaga .................................................. 44 Figura 47 - Vitrais do Batistério ................................................................................. 44 Figura 48 - Releitura de estilos arquitetônicos na Igreja de Brusque ........................ 45 Figura 49 - Igreja do Jubileu ...................................................................................... 45 Figura 50 - Planta baixa da Igreja do Jubileu ............................................................ 46 Figura 51 - Interior da Igreja do Jubileu ..................................................................... 47 Figura 52 - Sobreposição de formas ......................................................................... 47 Figura 53 - Uso excessivo do branco ........................................................................ 48 Figura 54 - Requisitos para uma arquitetura contemporânea ................................... 50 Figura 55 - Fachada da comunidade atual ................................................................ 51 Figura 56 - Localização da cidade de Teixeira de Freitas no estado ........................ 52 Figura 57 - Localização do objeto de estudo ............................................................. 52 Figura 58 - Zoneamento, Uso E Ocupação do Solo de Teixeira De Freitas - BA ...... 53 Figura 59 - Dimensões do terreno ............................................................................. 53 Figura 60 - Hierarquia das ruas ................................................................................. 54 Figura 61 - Esquina da Av. Nova Viçosa com a Rua Vitória Gama ........................... 54 Figura 62 - Esquina da Av. Nova Viçosa com a Rua Woshington Luís ..................... 55 Figura 63 - Artigo Nº 174 do Código de Obras de Teixeira de Freitas ...................... 55


Figura 64 - Artigo Nº 118 do Código de Obras de Teixeira de Freitas ...................... 56 Figura 65 - Representação da orientação solar e dos ventos dominantes ................ 57 Figura 66 - Imagem de Nossa Srª de Lourdes, padroeira da comunidade ................ 58 Figura 67 - Setorização do projeto de requalificação da comunidade ....................... 61 Figura 68 - Implantação e fluxo de veículos .............................................................. 62 Figura 69 - Gerenciamento de vagas de estacionamento ......................................... 63 Figura 70 - Planta e Setorização da Igreja ................................................................ 64 Figura 71 - Presbitério e crucifixo .............................................................................. 65 Figura 72 - Jardim e cascata artificial ........................................................................ 65 Figura 73 - Estrutura da cobertura ............................................................................ 66 Figura 74 - Perspectiva do salão paroquial ............................................................... 67 Figura 75 - Regra do Triângulo ................................................................................. 68 Figura 76 - Fachada principal da igreja ..................................................................... 69


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3 1.2 METODOLOGIA ............................................................................................. 7 2. O SURGIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DA HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA ................................................................................................................. 8 2.1 AS IGREJAS E SEUS ESTILOS ARQUITETÔNICOS ................................. 12 2.1.1. Arquitetura Bizantina ........................................................................... 12 2.1.2. Arquitetura Românica .......................................................................... 13 2.1.3. Arquitetura Gótica ............................................................................... 14 2.1.4. Arquitetura Renascentista ................................................................... 17 2.1.5. Arquitetura Barroca ............................................................................. 18 2.2 AS REFORMAS NA IGREJA CATÓLICA .................................................... 21 2.2.1. Movimento Litúrgico ............................................................................. 21 2.2.2. Concílio Vaticano II ............................................................................. 21 3. TIPOLOGIAS DAS IGREJAS .............................................................................. 23 3.1. BASÍLICAS ................................................................................................. 23 3.2. CATEDRAL ................................................................................................. 25 3.3. SANTUÁRIO .............................................................................................. 25 3.4. IGREJA PAROQUIAL (IGREJA MATRIZ) ................................................... 27 3.5. CAPELA ...................................................................................................... 28 4. ESPAÇOS QUE COMPÕEM A IGREJA-EDIFÍCIO ............................................. 29 4.1. A NAVE ...................................................................................................... 30 4.2. O PRESBITÉRIO ....................................................................................... 30 4.3. O ALTAR .................................................................................................... 31 4.4. A TORRE SINEIRA OU CAMPANÁRIO .................................................... 32 4.5. O BATISTÉRIO .......................................................................................... 33 4.6. A CAPELA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO .......................................... 33 4.7. A SACRISTIA ............................................................................................. 34 4.8. O CONFESSIONÁRIO ............................................................................... 35 4.9. CONCLUSÃO DO CAPÍTULO .................................................................... 36 5. ESTUDOS DE CASO ........................................................................................... 37 5.1.

PARÓQUIA

SANTO

ANTÔNIO

ARQUIDIOCESE

DE

BELO

HORIZONTE/MG ................................................................................................ 37


5.2.

PARÓQUIA

SÃO

LUÍS

GONZAGA

ARQUIDIOCESE

DE

FLORIANOPÓLIS/SC ....................................................................................... 41 5.3. IGREJA DO JUBILEU (CHURCH OF 2000) – ROMA/ITÁLIA ..................... 44 5.4. CONCLUSÃO DOS ESTUDOS DE CASO ................................................. 47 6. ESTUDO PRELIMINAR DO PROJETO DA PARÓQUIA NOSSA SRª DE LOURDES ................................................................................................................ 49 6.1. LOCALIZAÇÃO ...................................................................................................... 50 6.2. ASPECTOS URBANOS ............................................................................. 51 6.3. REQUISITOS E CONDICIONANTES LEGAIS .......................................... 53 6.4. ASPECTOS BIOCLIMÁTICOS ................................................................... 54 6.5. CONCEITO E PARTIDO ............................................................................. 55 6.6. DIRETRIZES PROJETUAIS ....................................................................... 56 6.7. PROGRAMA DE NECESSIDADES ............................................................ 57 6.8. SETORIZAÇÃO .......................................................................................... 58 7. PROJETO FINAL ................................................................................................. 62 7.1. IMPLANTAÇÃO ..................................................................................................... 62 7.2. IGREJA .................................................................................................................... 64 7.2.1 COBERTURA ................................................................................................. 66 7.3. SALÃO PAROQUIAL ............................................................................................ 67 7.4. FACHADA ............................................................................................................... 68 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 70 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 71 9. APÊNDICES ........................................................................................................ 74


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1 INTRODUÇÃO O edifício-igreja é um espaço de meditação e autoconhecimento onde a experiência espiritual e metafísica fazem parte da atmosfera interna, assumindo a qualidade de algo inefável, transcendente e belo. É destinado a devoção, oração, ao culto e a serviços religiosos. Nas origens do cristianismo os cultos religiosos eram realizados em casas particulares, o próprio termo Igreja, ecclesia (“assembleia” em grego) refere-se aos fiéis e não o local em si. Constantino, primeiro imperador convertido ao cristianismo, passou a administrar a igreja e determinou diretamente as políticas eclesiásticas. Dentre estas ultimas, se destaca a concepção de um ambiente adequado para o culto público, tanto do ponto de vista funcional quanto simbólico, visto que a nova religião era congregacional com uma leitourgia (“liturgia” em grego, o conjunto dos elementos e práticas da Santa Missa), onde os fiéis se reuniam para compartilhar uma ceia. Desta forma, o antigo formato de templo já não poderia ser mais usado pois sua simbologia se voltava aos deuses pagãos e o culto ao imperador (ROTH, 2016). A arquitetura cristã deriva, em muitos aspectos, dos precedentes romanos, devido aos esforços de Constantino em adaptar antigos salões de reuniões e fóruns para o ritual católico. Denominadas basílicas (Fig. 1), elas podiam acomodar grandes multidões e passaram por pequenas modificações para se adaptarem ao ritual litúrgico (FAZIO et al, 2011). Figura 1 - Basílica de Maxêncio, conhecida também como Basílica de Constantino

Fonte: Wikipédia, 2013.


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Segundo Roth (2016), após a queda do Império Romano, os edifícios religiosos se tornaram a principal forma arquitetônica, as demais construções caíram no esquecimento. As igrejas eram voltadas para o espaço interno, o cerne artístico, criando uma imagem mística do Jardim do Éden que contrastava com seu exterior limitado tanto em formato quanto nas cores. A luz emanada de janelas era refletida sob os mosaicos que convocavam uma presença incorpórea, criando uma atmosfera sobrenatural, afastando a mente das preocupações da vida mundana e aproximandoas do paraíso (Fig. 2). Figura 2 - Basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia)

Fonte: Slide Player, 2015.

As reformas ocorridas na igreja católica, o surgimento de novas tecnologias construtivas, e mudanças no meio cultural são fatores que caracterizam a evolução da arquitetura religiosa (MACHADO, 2013). Assim foram concebidas edificações sagradas adequadas a beleza de seu próprio tempo, dando origem aos inúmeros estilos arquitetônicos cristãos que fomentam, ainda hoje, um senso de misticismo. Porém muito da simbologia e sentido se esvaiu, a premissa do edifício-igreja deixou de ser a liturgia para se tornar um amontoado de pastiches considerados essenciais no ambiente sagrado (MENEZES, 2006). Menezes (2006) afirma que a arquitetura contemporânea explora muito bem os conceitos de criatividade e experiência espacial, no entanto muito se perde quanto à concepção do ambiente sagrado. A criação dos espaços arquitetônicos das igrejas católicas sofreu muitas alterações ao longo de toda sua história, resultando em salões


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que não contemplam e/ou evocam sensações tal como se ocorria nas tipologias anteriores das igrejas. Segundo o autor Edward Hall, que investigou as interações entre homem, sociedade, cultura e sua percepção espacial “... a experiência espacial não é simplesmente visual, mas multissensorial” (HALL, 1977, p. XI). Ele afirma que fatores culturais podem transformar os canais auditivos, táteis e olfativos para a percepção do espaço. A concepção de um espaço religioso que potencialize a experiência com o divino requer um estudo aprofundado do ser humano, visto que “O sensório nunca existe em um estado “natural”: como a “natureza humana em si”, ele é um produto de uma realidade social, histórica e cultural” (HOWES, 2005, p. 3). A arquitetura influencia no comportamento das pessoas e nas formas de apropriação de espaço, estabelece relações de proximidade e cria identidade, visto que cada ambiente gera estímulos muito particulares provocando sensações e reações diferentes. É necessário adequar a igreja tradicional à funcionalidade do ideário moderno, baseando-se nos princípios estabelecidos pelo Movimento Litúrgico e as orientações documentadas pelo Concílio Vaticano II, que estabelecem a relação entre arquitetura sagrada e liturgia. No âmbito do catolicismo, estes são os dois aspectos básicos norteadores da concepção do projeto, a participação ativa na celebração e o retorno às fontes do cristianismo, ou seja, o verdadeiro espírito cristão. Partindo do contexto apresentado, este trabalho possui como tema o resgate da simbologia dos espaços físicos do credo católico, que aparentemente, foi deixando de existir com o passar dos anos. A premissa da escolha parte da observação dos espaços religiosos atuais e na percepção de ausência de ambientes que trabalhem com características subjetivas, que sejam capazes de despertar sensações, que segundo a fé católica, são formas de se aproximar com o divino. Entende-se que a arquitetura tem a capacidade de contemplar a todas as características supracitadas, atuando na melhoria qualitativa do local, desde que o estudo seja fundamentado principalmente a partir do conhecimento teológico, litúrgico, arquitetônico e antropológico. O objeto de estudo deste trabalho está situado no subúrbio da cidade de Teixeira de Freitas (BA), mais precisamente na Rua Vitória Gama, Bairro Estância Biquini. Atualmente o local abriga uma comunidade, Nossa Srª de Lourdes (Fig. 3), pertencente à Paróquia Santa Rita de Cássia. A motivação para a escolha deste local


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foi a incapacidade da estrutura existente de acomodar a todos os fiéis e devotos que a frequentam. O crescimento populacional acelerado do entorno e a incapacidade do espaço atual de comportar os fiéis, apontam a necessidade de requalificação e ampliação da estrutura física. Segundo o conselho comunitário, há planos para a construção de uma igreja maior em um futuro próximo. Como há a necessidade, identifica-se a possibilidade do resgate da simbologia do ambiente sacro, proporcionando um espaço mais adequado para o exercício das funções e por consequência, aconchegante para acolher a todos que o frequentam. Figura 3 - Edificação atual da Comunidade Nossa Srª de Lourdes em Teixeira de Freitas - BA

Fonte: Acervo Pessoal, 2019.

Propõe-se um aprofundamento no estudo das sensações desencadeadas pela experiência com o divino, utilizando os princípios do Movimento Litúrgico (Bélgica, 1909) e do Concílio Vaticano II (Roma, 1960 e 1965). Onde características essenciais e plenamente vinculadas nas ideias do catolicismo são elemento fundamental na criação de uma atmosfera que transmita algo que os fiéis constituem como propício a oração e/ou transcendência espiritual. Deste modo, objetiva-se alcançar por meio de um projeto arquitetônico um ambiente que satisfaça os anseios dos fiéis e visitantes. Para tanto, foram definidos os objetivos específicos: •

Compreender a história da arquitetura das igrejas cristãs católicas, das

origens aos dias atuais; •

Investigar as reformas da igreja após o Concilio Vaticano II e o

Movimento Litúrgico;


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Analisar os princípios essenciais ao catolicismo que devem ser

considerados no processo de concepção física de um ambiente sagrado; •

Examinar os conceitos modernos de arquitetura religiosa a partir de

estudos de caso, buscando abarcar com os estímulos provocados a partir da arquitetura criada; •

Resgatar a história, aspectos identitários e socioeconômicos da

comunidade local do objeto de estudo.

1.2 METODOLOGIA Este trabalho foi dividido em duas etapas que compreendem a fundamentação teórica e a concepção do projeto arquitetônico. Assim, o instrumento de coleta de dados consistiu em: 1º Etapa •

Revisão Bibliográfica: fundamentar conhecimentos acerca desta tese a

partir do levantamento de textos em documentos, livros, dissertações, artigos e revistas científicas correspondentes ao tema; •

Estudos de Caso: investigação e análise de pesquisas semelhantes para

maior entendimento do espaço a ser proposto, atestando formas mais adequadas para se adotar, assim como verificar de um modo geral as experiências bemsucedidas neste âmbito; •

Levantamento fotográfico do local;

Levantamento

de

informações

técnicas

do

terreno

(medidas,

construções vizinhas, norte magnético e insolação). 2º Etapa •

Entrevista com o Bispo Diocesano local e padres para se obter uma

compreensão melhor do espaço a ser projetado; •

Desenhos (plantas, cortes, perspectivas, volumetria) desenvolvidos a

partir dos softwares AutoCAD e SketchUp.


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2 O SURGIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DA HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA A doutrina cristã foi criada pelos apóstolos de Jesus Cristo no século I, originada como um culto reformista do judaísmo, onde seus integrantes creem que Jesus ocupa a figura do redentor prometido. [A igreja moderna, ordenada em autoridades de diferentes níveis de bispos e clero se desenvolveu, entrementes os três séculos seguintes sua morte] (FAZIO et al, 2011). Antes do cristianismo, a vida dos romanos era concentrada no conforto e nos prazeres profanos. Elementos que ilustram bem este período são as termas (banhos públicos), voltadas para higiene, prática de esportes e fins culturais, além de bibliotecas e teatros ao ar livre (Fig. 4). Com o impacto da nova religião, o cristianismo, a arquitetura até então voltada para uma sensibilidade visual erudita, foi sendo progressivamente substituída por um estilo mais simplório que de alguma forma suscitava um senso de misticismo (ROTH, 2016). Figura 4 - As termas romanas

Fonte: Apaixonados por História, 2019.

A fé cristã se espalhou rapidamente, possuindo seguidores na Ásia Menor, na Grécia, no Egito e em Roma. A conversão dos fiéis era tão transformadora, que eles passaram a usar o ano de nascimento de Jesus Cristo ao invés do ano de reinado do imperador para marcar algum período, expressado pela sigla “A.D.”, anno domini, o ano do senhor (ROTH, 2016).


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Os cristãos foram perseguidos pelas autoridades governamentais por mais de três séculos, pois não reconheciam as divindades aprovadas pelo Estado e nem prestavam culto ao imperador, por conta disso as primeiras reuniões eram realizadas em salas subterrâneas e casas privadas, onde um simples cômodo (geralmente a sala de jantar, triclinium em grego) era o suficiente para rezar. Após a conversão do Imperador Constantino, que atribuiu sua vitória na guerra civil contra Maxêncio em 312, na famosa batalha da Ponte Mílvio em Roma, à uma intervenção divina através da visão de uma cruz no céu com a inscrição in hoc signo vince, “com este sinal vencerás”, foi proclamada tolerância para todos os credos, os cristãos passaram a possuir livre-arbítrio para construir edifícios onde seriam realizados os cultos públicos. Assim, os religiosos desenvolveram a liturgia, que focava na celebração da comunhão (Fig. 5), simbolizando a Última Ceia de Jesus Cristo e seus apóstolos (FAZIO et al, 2011). Figura 5 - A Última Ceia, pintado por Leonardo da Vinci.

Fonte: Wikipédia, 2015.

O Imperador Constantino passou a gerir diretamente a Igreja, então se tornou o responsável pelos primeiros esforços da concepção de seu ambiente. Ao contrário das antigas religiões onde os fiéis faziam oferendas privadas, o novo credo era comunitário, havia então a necessidade de um espaço amplo e fechado que facilitasse aos convertidos acompanharem todo o ritual da Santa Missa (ROTH, 2016). Segundo o Catecismo, o credo cristão foi pautado a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo, após a sua morte, Pedro um de seus apóstolos, foi o responsável pela difusão da religião (YOUCAT, 2011). A filosofia proveniente das ideias do


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humanitário que se tornara o Messias era baseada no amor, compaixão, humildade e na fraternidade, e conquistou adeptos por todo mundo. Porém ele criticava asperamente as autoridades religiosas hipócritas, que aderiam à fé judaica, mas era impassível às necessidades humanas. Seus seguidores acreditavam que ele era o “christos”, o filho de Deus e que libertaria os judeus da tirania romana. Apesar de pregar a renovação espiritual, a movimentação em torno de Jesus resultou num motim político, no qual as autoridades religiosas judaicas forçaram o presente governador romano, Pôncio Pilatos, a crucificá-lo, porém o profeta teria ressuscitado três dias depois, tornando seu mártir o centro da fé cristã católica (ROTH, 2016). Quanto a concepção física espacial utilizada por esta religião, pode-se destacar como primeira representação arquitetônica significativa a basílica (antigo fórum romano) como um formato construtivo apropriado, definido por meio de Constantino e seus seguidores. Originalmente seu espaço físico era utilizado para reuniões públicas, cerimônias, eleições e assuntos comerciais, e seu conceito figurativo, relacionado à administração da justiça, era positivo (ROTH, 2016). Figura 6 - Planta da Basílica de Maxêncio, conhecida também como Basílica de Constantino

Fonte: e-peristilo, sem data.

Quanto a sua estruturação formal (Fig. 6), a basílica possuía um formato axiforme, pois seu eixo serviria de cerne para o altar (ROTH, 2016). Frade (2006) ainda complementa apontando que, muito da planta desses edifícios foi aproveitado, introduzindo poucas modificações. Algumas dessas variações nos elementos estruturais são: átrio ou pátio com pórticos, eles simbolizavam a passagem entre o


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mundo dos pecadores e o recinto sagrado. Havia também as distinções entre as naves que poderiam ser de três a cinco, sendo que a central possuía o dobro da largura das laterais e era mais alta, para possibilitar a introdução do clerestório (grandes janelas). Ao final se encontrava a abside, um espaço semicircular reservado para a capela principal que ficava atrás do altar. O uso de basílicas pelos cristãos foi muito bem atestado, tornando-as até os dias atuais grandes exemplares dessas vetustas construções. Desde a Antiguidade o céu é considerado como a morada dos deuses, aqueles que regem os princípios da ordem, do tempo e do espaço. Correspondendo à esta visão a arquitetura estava diretamente ligada à astronomia, portanto nada mais natural que representar um microcosmo, a recriação da harmonia seguindo as leis particulares do universo (Fig. 7).

Os cristãos utilizaram alguns elementos para

anunciar, de modo enfático, o Cristo Salvador. Assim, as igrejas eram edificadas no eixo leste-oeste, voltadas para o nascer do sol, simbolizando a coletividade reunida diante de Jesus. Essa representação do cosmos também pode ser observada nas proporções de largura e de comprimento, onde essas medidas dão alusão ao raio e circunferência do planeta, segundo a ciência do período (FRADE, 2006). Figura 7 - Igreja Wrangler

Fonte: pixabay, 2016.

A riqueza estilística das igrejas é fruto da influência de inúmeras culturas e civilizações, que prosperaram mesmo em tempos de guerra e de grande incerteza. As igrejas evoluíram de simples cômodos a construções monumentais, preservando o simbolismo religioso em cada elemento construtivo (FRADE, 2006). Serão apresentados a seguir os principais períodos em que estas alterações ocorreram.


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2.1. AS IGREJAS E SEUS ESTILOS ARQUITETÔNICOS

A arquitetura cristã passou por séculos de evolução e desenvolvimento para que as formas do ambiente sagrado atendessem aos ritos da fé católica e a exprimissem bem. A seguir serão abordados os cinco estilos arquitetônicos consagrados pela igreja, onde eventos históricos e manifestações culturais foram narrados sob as características e especificidades de cada período, recriados e/ou rompidos nas eras seguintes.

2.1.1. Arquitetura Bizantina

Em 410 d.C. o Império Romano foi segmentado em duas partes, ocidental e oriental (cuja capital era Constantinopla, atualmente Istambul). A cidade foi o berço do cristianismo e se tornou uma luz norteadora em um mundo incivil, no período descrito como Era das Trevas (GLANCEY, 2012). Segundo Frade (2007), as grandes transformações na arquitetura e na sociedade da época são reflexo das invasões efetuadas pelos povos bárbaros neste momento. Figura 8 - Basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia)

Fonte: TRT WORLD, 2019.

As obras costumeiramente atribuídas à cidade Constantinopla (o nome é uma referência ao imperador romano Constantino), são chamadas de bizantinas. Grande


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parte dos construtores envolvidos nas construções deste período eram naturais da Ásia Menor, assim suas tradições e cultura influenciaram no modo de se construir as igrejas (MENEZES, 2006). A arquitetura bizantina é caracterizada principalmente pelas cúpulas (Fig. 8), tanto nas igrejas em formato de basílica como aquelas com planta baixa centralizada. Segundo os bizantinos, este componente simbolizava a abóboda celeste, que completava o mundo humano, retratado pelo piso e pelas paredes (FAZIO et al, 2011).

2.1.2. Arquitetura Românica

O desdobramento do estilo românico na Europa ocorreu ainda na Era das Trevas. Por muitos séculos, tribos germânicas e nórdicas devastaram as inúmeras cidades europeias e/ou qualquer indício de civilização. Assim, em 800 d.C. o papa coroou Carlos Magno como o primeiro soberano do Sacro Império Romano, este aspirava recriar o Império Romano. Apesar de não ter conseguido, Carlos Magno encorajou um novo tipo de edificações religiosas com vigor militar (GLANCEY, 2012). Figura 9 - Igreja de San Martín de Tours de Frómista

Fonte: Um Brasileiro na Espanha, 2012.


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Menezes (2006) afirma que este estilo é caracterizado por igrejas com aspectos de fortalezas, devido a fase turbulenta na história ocidental. Os ambientes eram sóbrios, sólidos e de escala monumental (Fig. 9). As edificações românicas herdaram uma série de atributos da arquitetura Romana Antiga, especialmente pela utilização dos chamados arco pleno e arco de meio ponto. Outro aspecto marcante deste período são os prédios que costumavam ser volumosos e pesados, explanado pelas massas de paredes que sustentavam o peso das abóbodas. As coberturas eram compostas inteiramente por pequenas pedras (Fig. 10), que se tornaram um verdadeiro desafio para os construtores do período (FAZIO et al, 2011). Em seu livro Gombrich (1999) afirma que, as igrejas anteriores ao período românico eram caracterizadas pelas pesadas e melancólicas estruturas, transmitindo a imagem de “Igreja Militante”, mas que oferecia asilo e segurança contra os demônios do mundo exterior. Figura 10 - Cobertura de pedras (Catedral de Pisa)

Fonte: História da Arte, 2009.

2.1.3. Arquitetura Gótica

Originado na França, durante as sangrentas Cruzadas à Terra Santa (900 d.C.) o estilo refere-se à ambiciosa arquitetura vertical e majestática, que rompeu com as antigas formas de projetar (GLANCEY, 2012).


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A expressão “gótico” foi utilizada pela primeira vez no século XVII em alusão as construções que não se baseavam na antiguidade clássica. Este estilo era a representação física de uma nova visão, clara e otimista da vida terrena, se opondo à romantização da vida após a morte dos períodos anteriores (ROTH, 2016). As características que definem estes edifícios estão em elementos-chave utilizados na sua concepção, como o arco ogival, a abóboda nervurada, arcobotantes, janelas com rendilhados e pilares ou colunas fasciculadas (que possuem cantos chanfrados). Diferente dos estilos anteriores, nas edificações góticas a armação possui forma de esqueleto que distribuí a carga para os pilares, dispensando a necessidade de paredes muito densas, retirando sua função estrutural. Isso possibilitou o amplo uso de vitrais e rosáceas (ornamento de vidro utilizado para transmitir cor através da luz), tipicamente encontrados em igrejas góticas. Outra particularidade especial deste estilo são suas características espaciais que visam enfatizar a verticalização (Fig. 11), na intenção de criar uma sensação de grandeza (FAZIO et al, 2011). Figura 11 - Catedral de Reims

Fonte: Wikipédia, 2007.

A Arquitetura Gótica foi um marco significativo para a redução do grande volume das construções e para o aperfeiçoamento das características do ambiente e da iluminação, por motivos metafísicos ou práticos, estimulando a evolução das tecnologias construtivas e métodos artísticos (FAZIO et al, 2011).


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As novas catedrais ofereciam uma visão completamente inovadora, pois não eram frias nem aterradoras (Fig. 12). Eram o reflexo do próprio Éden sob a terra, onde os vitrais, nervuras (segmento do arco saliente do intradorso de uma abóbada) e pilares refletiam raios luminosos (Fig. 13). Inclusive quando avistadas de longe, as igrejas pareciam declarar resplendor. Assim os fiéis se entregavam a apreciação em um espaço de ascensão que torna o inefável perceptível, um meio de alcançar o divino (GOMBRICH, 1999). Figura 12 - Catedral de Reims, visto do Noroeste

Fonte: Wikipédia, 2015. Figura 13 - Vitral Sagrado Coração de Jesus

Fonte: Paróquia São José do Jardim Europa, 2018.

Segundo Roth (2006), com a nova percepção assertiva vinda com a arquitetura gótica, houve um maior respeito pelas mulheres, graças a veneração crescente da Virgem Maria, símbolo feminino da misericórdia e compaixão no cristianismo.


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2.1.4. Arquitetura Renascentista

O Renascimento foi marcado pela abertura de rotas comerciais e a assimilação de conhecimentos, caracterizando a passagem do feudalismo para o capitalismo. Com o advento da imprensa por volta de 1450 d.C. veio a rápida difusão de informações, antes restritas à igreja católica. Isso possibilitou o acesso à descoberta do desenho em perspectiva (pelo arquiteto Filippo Brunelleschi), desencadeando grandes transformações na arquitetura (GLANCEY, 2012). As revoluções na arquitetura e na arte se devem à nova perspectiva vinda com o movimento intelectual do Renascimento, abandonando progressivamente a influência da fé e do místico sobre a sociedade, passando a valorizar a racionalidade, a individualidade e a capacidade humana de interagir e fazer análises do mundo físico (FAZIO et al, 2011). Segundo Roth (2006), a arquitetura deixou de ser baseada nos costumes cristãos para expressar a perspicuidade, servindo não para enternecer os preceitos inquestionáveis da fé católica, mas para satisfazer os desejos do homem. Figura 14 - Igreja Santa Maria del Fiore

Fonte: Artrianon, 2017.

Os arquitetos do período se esforçaram na concepção de um estilo matematicamente ideal, rivalizando com os clássicos gregos e romanos (Fig. 14). Os filósofos humanistas estavam convencidos de que a ordem do universo em toda a sua santidade poderia ser representada por meio de conformidades matemáticas,


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relacionadas também ao corpo do homem. Neste contexto, os arquitetos renascentistas tomaram o quadrado e o círculo como forma perfeita, assim as igrejas com a planta baixa centralizada passaram a retratar com exatidão a simetria celeste (FAZIO et al, 2011). As características mais comuns do Renascimento são as cúpulas com casca, a utilização de elementos que tornam os espaços compreensivos de todos os ângulos além das pinturas sob as paredes que trabalhavam o uso da perspectiva e do realismo com tons claros e escuros, conforme a figura 15 (ROTH, 2016). Figura 15 - O Duomo e o Batistério

Fonte: Artrianon, 2017.

2.1.5. Arquitetura Barroca

Tendo origem em meio aos questionamentos à filosofia teocêntrica da igreja em meados de 1630 d.C. este estilo arquitetônico foi nomeado de barroco por seus difamadores no século XIX, e significava deformado ou imperfeito (GLANCEY, 2012). Apesar do poder que a igreja possuía após o fim do Renascimento, seus princípios morais estavam completamente corrompidos, dado o luxo dos papas que utilizaram o tesouro da Igreja como verba particular, títulos que eram vendidos desavergonhadamente, os altos e baixos oficiais da igreja que possuíam amantes, além da venda de perdões e da salvação. A insatisfação dos fiéis era generalizada, e como resultado de toda a corrupção da Igreja originaram-se as obsecrações de


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reforma religiosa, sendo que o mais radical veio do Monge Martinho Lutero, que afixou suas 95 teses nas portas da Igreja do Castelo de Wittenberg; dando início a Reforma Protestante (FAZIO et al, 2011). Descontentes, as autoridades religiosas católicas responderam com a Contrarreforma, plano que implicava em uma restruturação dentro da Igreja e uma forma de cativar os fiéis de volta às crenças do Catolicismo. Então no Concílio de Trento em 1545, foi declarado que a arte seria instrumento primordial para retomar o prestígio da igreja, tal estilo artístico concebido para reafirmar a doutrina católica foi denominado como barroco (FAZIO et al, 2011). Figura 16 - Igreja de Sant'Agnese in Agone

Fonte: Wikipédia, 2007.

A arquitetura barroca caracteriza-se pela ênfase na complexidade visual (Fig. 16) e na profundidade espacial, projetando uma sensação de mistério, onde o interesse principal está no choque emocional (ROTH, 2016).


20 Figura 17 - Linha do tempo da Arquitetura Catรณlica

Figura 17 - Linha do tempo da Arquitetura Catรณlica

Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.


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2.2.

AS REFORMAS NA IGREJA CATÓLICA

Ao replicar a alterações litúrgicas sugeridas ao longo do século XX, a igreja procura combinar a beleza e os princípios de funcionalidade ligados ao ideário moderno à experiência do credo católico. Sendo assim, serão abordados a seguir, os eventos que desencadearam essas mudanças.

2.2.1. Movimento Litúrgico

A renovação litúrgica tinha o objetivo de levar aos fiéis uma maior participação na celebração eucarística. Assim o rito deveria ser organizado de tal maneira que enunciasse claramente os preceitos cerimoniais, para uma maior compreensão dos fiéis, levando-os a participarem plena e ativamente na Santa Missa. Então em 1909 na Bélgica, aconteceu o Congrés National des Oeuvres Catholiques (Congresso Nacional de Obras Católicas, em português), onde foram propostas uma série de mudanças que terminaram com a publicação do Concílio Vaticano II (ERPEN, 2018).

2.2.2. Concílio Vaticano II

Com o objetivo de renovar e adaptar a Igreja Católica às intituladas questões modernas, foram realizadas uma série de conferências entre 1962 e 1965 durante o pontificado de João XXIII, mais comumente chamadas de Sacrosanctum Concilium (Concílio Vaticano II, em português) (Fig. 18). Na relação de temas a serem discutidos estavam os rituais da Santa Missa, as obrigações do padre, a relação da Igreja para com os fiéis, além da criação do espaço sagrado (NAVARRO, 2011). Foram produzidas quatro instituições, oito decretos e três declarações. A reforma resultou em uma maior participação dos fiéis nas atitudes da igreja, agora mais plural. (JORNAL SANTUÁRIO, 2019) Quanto a concepção do espaço religioso, o documento aborda a importância da autenticidade nas artes sacras que devem servir com encanto à liturgia, sem optar por nenhum estilo arquitetônico, onde devem ser expressos fisicamente o conjunto de símbolos e preceitos cristãos (MENEZES, 2006).


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Figura 18 - Concílio Vaticano II

Fonte: Editora Cléofas, 2019.

A arquitetura católica nunca foi restrita à um único estilo arquitetônico, mas se adaptou a vários períodos históricos, seguindo a cultura e as exigências dos inúmeros rituais do credo. Assim a Igreja se demonstra receptiva também a arquitetura moderna, independentemente da região, desde que sejam obedecidos os requisitos litúrgicos (SACROSANCTUM CONCILIUM, 1964).


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3. TIPOLOGIAS DAS IGREJAS CATÓLICAS Os templos católicos são divididos em diferentes categorias conforme suas dimensões, especificidades, história e usos. Essas qualificações são basílica, santuário, catedral, igreja paroquial e capela e serão analisadas a seguir.

3.1.

BASÍLICAS

Para Schubert (1978), toda a magnitude das basílicas atuais é reflexo das antigas basílicas romanas, concebidas originalmente como edifícios políticos, eram coerentes com as intenções do imperador Constantino, que evidenciava uma política de propaganda baseada na ostentação e na ornamentação dos templos. As igrejas de maior admiração, as fundadas pelo império, deviam ser grandiosas e resplandecer através de elementos valiosos e de ricas decorações. Constantino propôs ao Bispo Macário de Jerusalém, através de uma carta enviada por volta de 365 d.C., que a basílica a ser edificada sobre Gólgota (Santo Sepulcro) (Fig. 19) inquirisse o capital público, providenciado pelo governo da região ou pelo próprio “erário” do imperador, de forma que ela superasse em magnificência o mais exímio edifício da província se tornando a mais formosa basílica existente. Figura 19 - Interior da Basílica do Santo Sepulcro (Jerusalém)

Fonte: Observador, 2017.


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Comumente, é oferecido o título de basílica às igrejas que, pela sua beleza artística e rica história junto à comunidade, atraem muitos romeiros (aquele que viaja) ou são objeto singular de veneração, tal atribuição é dada somente por anuência da Santa Sé (competência eclesiástica da Igreja Católica). Segundo o código de direito canônico, julga-se como basílica o edifício designado a oração, independentemente de seu atributo de catedral (SCHUBERT, 1978). Classificadas em dois grupos, são designadas Basílica Maior os templos mais relevantes de Roma, eles possuem um altar particular onde somente o Papa, o cardeal ou patriarca podem celebrar a Santa Missa (Fig. 20), enquanto Basílica Menor são os templos espalhados pelo mundo (SCHUBERT, 1978). Figura 20 - Basílica de São Pedro, Vaticano (Basílica Maior).

Fonte: Wikipédia, 2015.

As basílicas são centros de evangelização e são usadas para propagar uma devoção singular à Jesus e a Nossa Senhora. Os edifícios costumam abrigar tesouros da Igreja Católica, além de sepultos e objetos de muita estima. Também são usados para impulsionar a disseminação dos documentos das autoridades apostólicas (AQUINO, 2018).


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3.2.

CATEDRAL

Sertillanges (1922) afirma que o título catedral vem do latim cathĕdra (cadeira do presidente), onde o Bispo e/ou Arcebispo é a autoridade eclesiástica e tem sede. Schubert (1978) acrescenta, o Bispo comanda sobre os Párocos (Sacerdotes responsáveis pela administração de uma paróquia), retransindo os preceitos estabelecidos pelo Papa (aquele que ocupa o cargo mais elevado na hierarquia eclesiástica). Assim a catedral representa a Igreja Matriarca de uma diocese (porção do povo de Deus, confiada ao governo pastoral de um Bispo, com a colaboração do presbiterio). Nela são realizadas ritos especiais e solenidades (Fig. 21). A exigência para que uma igreja seja eleita “Catedral”, é o sepultamento do bispo de tal diocese sob ela, assim é necessário provê-la de uma cripta. Local sagrado, que possui um altar envolto por campas (MENEZES, 2006). Contudo, ainda há um segundo título, co-catedral ou concatedral, dada pela existência de uma segunda catedral, subordinada a primeira. Figura 21 - Catedral Basílica (Salvador - BA)

Fonte: IPHAN, 2018.


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3.3.

SANTUÁRIO

Segundo o Código de Direito Canônico (1983), o termo santuário refere-se à igreja ou outro ambiente sacro onde os devotos, por motivo de veneração (Deus ou aos Santos), em amplo número partem em romagem, com o consentimento do Responsável do lugar (Fig. 22). Tal atributo só pode ser aprovado pela Conferência episcopal e a Santa Sé. Uma particularidade do Santuário é o grande fluxo de devotos, devido a necessidade de orarem diante a imagem e/ou relíquia (Fig. 23) (SCHUBERT, 1978). Figura 22 - Basílica de Nossa Srª Aparecida

Fonte: Acervo pessoal, 2018. Figura 23 - Interior da Capela da Basílica de Nossa Srª Aparecida

Fonte: Acervo pessoal, 2018.


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3.4.

IGREJA PAROQUIAL (IGREJA MATRIZ)

É o edifício sacro designado à celebração divina, ao qual os fiéis possuem permissão para cultuar a Deus abertamente, onde o Vigário (título dado ao pároco em alguns distritos paroquiais), sanciona e retranse as noções bispais (Fig. 24), conforme o Código de Direito Canônico (1983). Schubert (1978), afirma que a igreja matriz vigora como uma sede cuja jurisdição se estende para as demais igrejas (chamadas comunidades). Segundo o Documento de Aparecida (2007): “[...] as paróquias são células vivas da igreja [...]”, caracterizada, sobretudo, pela união de pessoas, onde os fiéis experimentam verdadeiramente seu credo na vivência em comunidade, graças as variadas situações, idades e atividades. Figura 24 - Igreja Paroquial Santa Rita de Cássia (Teixeira de Freitas – BA)

Fonte: Acervo pessoal, 2014.


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3.5.

CAPELA

Na maioria dos casos, é uma igreja com proporções reduzidas, acolhendo a um número pequeno de fiéis. Entende-se como local designado ao culto sagrado (com autorização do Sacerdote local), em favor de uma pessoa e/ou uma família (SCHUBERT, 1978). Tal atributo, é concedido pelo bispo diocesano, conforme o Código de Direito Canônico (1983). A capela deve permitir a oração particular da mesma forma que pequenas celebrações (MENEZES, 2006). Costuma ser desvinculada da institucionalidade da Igreja Católica, porém goza dos mesmos direitos, e pode ou não, seguir o calendário litúrgico (calendário de solenidades e cerimônias cristãs).

Normalmente situada

adjunta a outros edifícios como: fazendas, universidades, hospitais, cemitérios e instalações militares. Possui uma estrutura física singela, com apenas um altar (mesa em que é ofertado o Sacrifício Eucarístico) (Fig. 25), onde o Sacerdote preside as celebrações de forma transitória (SCHUBERT, 1978). Figura 25 - Altar da Capela da Fazenda Cascata (Teixeira de Freitas – BA)

Fonte: Acervo pessoal, 2019.


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4. ESPAÇOS QUE COMPÕEM A IGREJA-EDIFÍCIO

A arquitetura cristã católica foi repensada a partir do Movimento Litúrgico e do Concílio Vaticano II, enfatizando a participação dos fiéis durante as missas e a concepção de uma igreja-edifício autêntica, utilizando uma plástica própria baseada no período e na cultura locais. Tais princípios devem nortear a concepção do espaço religioso e não um monumento decorativo (MENEZES, 2006). Neste

capítulo

serão

descritos

elementos

arquitetônicos

primordiais,

necessários a função litúrgica e simbolismos de uma igreja-edifício (Fig. 26). Figura 26 - Espaços que compõem a igreja-edifício

Fonte: Faust Arquitetura (2011), adaptado pelo autor (2020).


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4.1.

A NAVE

Segundo Frade (2007), o termo arquitetônico nave provém da palavra navio, devido sua similaridade ao cavername (conjunto de balizas que formam a estrutura dos barcos), nas basílicas antigas. Refere-se ao flanco central da igreja-edifício, conforme a figura 27. Figura 27 - Nave

Fonte: Slide Player, 2015.

4.2.

O PRESBITÉRIO

O presbitério (predecessor do altar-mor) do grego presbuterion é o lugar projetado para o clero, e recebe o altar (mesa em que é ofertado o Sacrifício Eucarístico) (FRADE, 2007). Pastro (2012) afirma que o espaço necessita ser generoso, pois nele serão postos o altar, a cadeira do presidente (também chamada de sédia), a cruz de procissão, o ambão, a credência (pequena mesa utilizada para pôr os objetos do culto) e, em alguns casos, o coro (local onde ficam os músicos e instrumentos) (Fig. 28). Suas proporções devem ser equivalentes ao tamanho da assembleia prevendo os vários usos em diferentes tipos de celebrações e solenidades, favorecendo a ação litúrgica (ESTUDOS DA CNBB Nº 106, 201).


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Figura 28 - Presbitério

Fonte: Slide Player, 2015.

4.3.

O ALTAR

O altar é a mesa onde é oferecido o Sacrifício de Cristo, e deve-se reverência para este (Fig. 29) (PASTRO, 2007). Machado (2007) afirma que, pós Concílio Vaticano II, o altar passou a ser apenas um. O que era dedicado ao sacrário (pequeno cofre onde são armazenadas as hóstias consagradas) já não carece de um altar especial. Recomenda-se a utilização de materiais autênticos e nobres na sua confecção como pedras, ferro e madeira, sendo vetado o uso de imitações. De acordo com os Estudos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Nº 106 (2013), relíquias legítimas de santos e mártires devem ser posicionadas abaixo do altar, pois segundo a fé católica, nada deve ficar “acima” do sacrifício de Cristo, o ápice do cristianismo.


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Figura 29 - Altar da Igreja Nossa Srª do Monte Carmel (San Diego - CA)

Fonte: Domus Studio, 2018.

4.4.

A TORRE SINEIRA OU CAMPANÁRIO

Apesar de sua presença em grande parte dos edifícios religiosos, este elemento arquitetônico nunca foi indispensável. A torre sineira passou a fazer parte do âmbito das igrejas no século V, em mosteiros italianos. Com a verticalização das edificações, a partir do período gótico, elas ficaram ainda mais altas (Fig. 30), permitindo maior alcance das badaladas dos sinos (também chamados de campanas) (MACHADO, 2017). Figura 30 - Torre Sineira ou Campanário (Croácia)

Fonte: PX Here, 2017.


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As torres sineiras ou campanários podem ocupar distintas posições no que se refere a igreja, e facilitam a identificação dos edifícios (ESTUDOS DA CNBB Nº 106, 2013). 4.5.

O BATISTÉRIO

O batistério, ou local onde a pia do batismo está disposta, é designado unicamente para o ritual do batismo, em lugar apropriado. Pode estar estabelecido em determinada capela dentro ou fora do ambiente da igreja, em local visível, devendo possuir espaço o suficiente para acomodar o máximo de pessoas, conforme a figura 31 (AS INTRODUÇÕES GERAIS DOS LIVROS LITÚRGICOS – INICIAÇÃO CRISTÃ, 2003). Figura 31 - Batistério

Fonte: Pikef, 2018.

Segundo Machado (2007), após o Concílio Vaticano II, foi instruída a colocação do batistério próximo ao altar, em frente a assembleia, devido a índole comunitária deste ato.

4.6.

A CAPELA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Em seu livro, Pastro (2012) afirma que a capela do santíssimo Sacramento é um espaço anexo a igreja destinado ao sacrário (pequeno armário fechado, utilizado para guardar as hóstias consagradas na Santa Missa, conforme Estudos da CNBB Nº


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106, 2013) e as visitas dos fiéis em adoração privada (Fig. 32). Antes do Concílio de Trento (1545 a 1563), as hóstias eram armazenadas na sacristia (lugar onde o Sacerdote que presidirá a Santa Missa toma as vestes). Além do sacrário, a capela é composta pelo genuflexório (encosto sob o qual os fiéis se ajoelham para orarem), e bancos. Imagens de Santos e/ou do Cristo Crucificado não devem ser colocadas neste espaço (PASTRO, 2012). A capela é obrigatória em catedrais e colegiadas, recomenda-se que esteja separada da nave da igreja (MENEZES, 2006). Figura 32 - Capela do Santíssimo Sacramento

Fonte: Galeria da Arquitetura, 2015.

4.7.

A SACRISTIA

A sacristia é o lugar, seja anexo ou dependente da igreja, onde são armazenados os paramentos (objetos e adornos) do culto, e onde o Sacerdote que presidirá a celebração toma as vestes (Fig. 33), portanto geralmente fechado ao público. O local também costuma dispor de banheiros e uma mesa. Pode haver mais de uma sacristia (ESTUDOS DA CNBB Nº 106, 2013).


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Figura 33 - Sacristia

Fonte: Wikipédia, 2008.

4.8.

O CONFESSIONÁRIO

Segundo MACHADO (2007), o confessionário é o lugar reservado ao Sacramento da Confissão, onde o Sacerdote atua em nome de Cristo, absolvendo os pecados cometidos pelo penitente. É um espaço de foro íntimo, e deve dispor de tamanho suficiente para a realização dos rituais católicos (Fig. 34). Pode estar em um recinto fechado ou em um espaço reservado na assembleia (ESTUDOS DA CNBB Nº 106, 2013). Figura 34 - Confessionário

Fonte: Diocese de Anápolis, 2017.


36

4.9.

CONCLUSÃO DO CAPÍTULO

Neste capítulo foram estudados a hierarquia das igrejas-edifícios, desde as catedrais até as capelas, além dos principais elementos arquitetônicos que compõem seu espaço, sua importância e significado. Tal estudo demonstrou que a essência do catolicismo está nos Sacramentos, sendo essencial sua priorização no processo criativo. Portanto é inadequado que se projete um templo sem batistério ou capela, por exemplo, pois estes elementos tornam a igreja singular e única.


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5. ESTUDOS DE CASO Com o objetivo de embasar a requalificação da comunidade e assinalar elementos imprescindíveis para sua concepção, foram analisados três (3) edifíciosigreja. Tais obras foram escolhidas a partir de sua autenticidade e qualidades arquitetônicas, onde a estética é inerente a funcionalidade, sem suprimir as simbologias bíblicas, princípios compositivos norteadores do edifício-igreja. 5.1. PARÓQUIA SANTO ANTÔNIO – ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE/MG

O projeto ainda se encontra em fase de construção, sendo Eduardo Faust o arquiteto responsável por sua concepção. A igreja está localizada no bairro Venda Nova na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil), possuirá uma área total construída de 1.700,00 m² (subsolo e 1º pavimento) em um terreno de 4.514,00 m², cujo projeto foi concebido no ano de 2016, sob a orientação do Pároco José Alves de Deus (Fig. 35). Figura 35 - Fachada principal da Paróquia Santo Antônio

Fonte: Arquitetura do Sagrado, 2018.

Umas das premissas para a concepção do projeto da Paróquia Santo Antônio, foi o resgate de referências estéticas e/ou simbólicas, para que os fiéis a vissem como um templo e não um comércio. A arquitetura sagrada é uma circunstância especial no modernismo, onde a inovação deve manter os princípios e significados inerentes do catolicismo (FAUST, 2017).


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Segundo Faust (2017) as igrejas modernas têm negado os 17 séculos de identidade arquitetônica cristã, construídas excluindo elementos e ignorando princípios que compõem e identificam o edifício. Toda a simbologia bíblica foi aos poucos sendo tragada por noções arquitetônicas vazias. Um exemplo é a Igreja São Pedro (Campos de Jordão, SP, Brasil) (Fig. 36), que apesar de ser premiada pela academia de arquitetura, não é reconhecida pelos fiéis como templo, pois suas características não a relacionam com algo que se pareça a uma igreja. Da mesma forma que os profissionais da arquitetura consideram santuários aclamados pelo clero, como algo não apropriado. Figura 36 - Fachada principal da Igreja São Pedro

Fonte: EL PAÍS, 2018.

A igreja original foi demolida a duas décadas, desde então as celebrações são realizadas em um local improvisado. O terreno (Fig. 37) se destaca por estar separado e de fronte a praça Santo Antônio, em uma importante avenida. Figura 37 - Terreno da obra

Fonte: Norte Livre, 2018.


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O templo possui a forma de cruz latina (Fig. 38), com uma (1) nave central e duas (2) laterais. A ausência de colunas no centro da igreja possibilita um desenho semicircular, atendendo ao Concílio Vaticano II. Duas vigas principais vão da entrada até os pilares do presbitério, estes sustentam a cobertura das naves. Outras quatro vigas secundárias, perpendiculares as vigas principais, formam o transepto (Fig. 39). Figura 38 - Cobertura em forma de cruz latina

Figura 39 - Esquematização dos pilares e vigas

Fonte: Arquitetura do Sagrado, 2018.

Fonte: Arquitetura do Sagrado, 2018.

O altar se encontra no centro do transepto (sob o presbitério), visível em qualquer parte do edifício. Sua localização permite que os fiéis participem da consagração da Sagrada Eucaristia em torno da mesa, como era na igreja primitiva (Fig. 40). Figura 40 - Presbitério da Paróquia Santo Antônio

Fonte: Arquitetura do Sagrado, 2018.


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O ambão (elevar-se em grego), segue sua tradução literal, estando num patamar mais elevado do presbitério. No centro fica a sédia (cadeira do sacerdote), compondo a trindade litúrgica (FAUST, 2017). No lado contrário do presbitério fica o batistério, alinhado com o ambão. Na abside fica a capela do Santíssimo Sacramento expondo o sacrário, onde os fiéis podem fazer suas orações particulares (FAUST, 2017). Figura 41 - Releitura de elementos da arquitetura gótica

Fonte: Arquitetura do Sagrado, 2018.

Para compor uma releitura do estilo gótico, foram utilizados uma sequência de sete (7), sendo sete (7) arcos ogivais (Fig. 41). Este é um número sagrado para o cristianismo, segundo o credo, ele é composto pelo número quatro (4) do inerente e do três (3) do transcendente. Tal simbologia também foi aplicada a outros elementos, a primeira parte da igreja aonde está a assembleia, possui doze (12) pilares, número dos apóstolos de Jesus; e as três (3) capelas dos extremos da igreja, que representam os três (3) nós do cordão do hábito de São Francisco (Fig. 42) (FAUST, 2017).


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Figura 42 - Planta baixa da Paróquia Santo Antônio

Fonte: Arquitetura do Sagrado, 2018.

Sobre o pórtico estão os arcos que definem a fachada principal. Um arco ogival findado em uma cruz com um círculo ao centro, simbolizam o ato do Sacerdote na consagração da Sagrada Eucaristia, partido arquitetônico da obra (Fig. 43). Figura 43 - Consagração da Sagrada Eucaristia

Fonte: Canção Nova, 2018.


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5.2. PARÓQUIA

SÃO

LUÍS

GONZAGA

ARQUIDIOCESE

DE

FLORIANOPÓLIS/SC A Paróquia São Luís Gonzaga fica localizada no centro da cidade de Brusque em Santa Catarina (Brasil). A igreja possui uma área total construída de 1.375,05 m², podendo acomodar até duas (2) mil pessoas. Seu estilo singular se destaca em meio a outros edifícios, tornando-a um marco local (Fig. 44). O projeto foi concebido em 1953 por um escritório de arquitetura alemão, mais especificamente pelo já falecido arquiteto Dominikus Böhm, referência na Europa em projetos de cunho religioso. Figura 44 - Fachada principal da Paróquia São Luís Gonzaga

Fonte: Ronaldo Azambuja, 2019.

O templo possui um formato retangular, seu volume se estende até as escadarias do acesso principal, criando um átrio de entrada de proporções monumentais, conforme figura 45. A cobertura de 26,40 m é abobadada e a nave é separada por doze (12) pilares (representando os apóstolos de Jesus). É importante destacar a simplicidade do projeto, uma das condições das reformas na liturgia vividas no período.


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Figura 45 - A fachada da Paróquia São Luís Gonzaga

Fonte: Ronaldo Azambuja, 2019.

Apesar de ser um edifício relativamente moderno, a igreja possui muitos aspectos e elementos da arquitetura gótica e românica, como a ênfase na verticalidade, o caráter imponente, a simetria, as abóbadas, os arcobotantes simbolizados nos elementos externos que sustentam as paredes, o campanário e os vitrais coloridos (WITTMANN, 2019). O acesso da luz é feito por grandes aberturas dispostas na frente e nos fundos do edifício, através de vitrais coloridos (do piso ao teto), cobogós e janelas pivotantes. As aberturas superiores ou clerestórios, elemento típico da arquitetura gótica, permitem a entrada de luz difusa, que junto a elementos rústicos e rochas nobres de sua estrutura criam uma atmosfera celestial semelhante as igrejas medievais (Fig. 46). Um baldaquim (páilo) guarda o altar-mor, bastante iluminado.


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Figura 46 - Interior da Paróquia São Luís Gonzaga

Fonte: Ronaldo Azambuja, 2019.

Na construção do templo foram usadas vinte e cinco (25) mil pedras, todas da própria região, segundo o arquiteto essa seria uma maneira de oferecer a Deus o que a cidade dispõe. Não há o acabamento característico das igrejas católicas no interior do edifício. As paredes são compostas por pedras cinzas e concreto exposto, além de cobogós muito semelhantes a escamas de peixe. Outros símbolos católicos também são representados nos vitrais como uvas, cruzes e ramos de trigo (Fig. 47). Figura 47 - Vitrais do Batistério

Fonte: Memorial Dehoniano Brusque, 2015.


45

A igreja se destaca pela releitura da tradição cristã, onde a funcionalidade é conectada a uma estética singular, obedecendo aos princípios do Concílio Vaticano II sem renunciar à autenticidade, adotando a imponência do estilo românico, o drama do estilo gótico e aspectos de caráter brutalista (Fig. 48). Figura 48 - Releitura de estilos arquitetônicos na Igreja de Brusque

Fonte: Ronaldo Azambuja, 2019.

5.3.

IGREJA DO JUBILEU (CHURCH OF 2000) – ROMA/ITÁLIA

A Igreja do Jubileu, ou Church of 2000, fica localizada no subúrbio da Itália, capital de Roma, e foi projetada pelo arquiteto Richard Meier (Fig. 49). O projeto venceu uma competição internacional da Igreja Católica em 1996, tornando-se a Igreja do Milênio. A intenção do Vicariato de Roma (Papa João Paulo II), era demonstrar o papel essencial da arquitetura contemporânea em espaços sagrados e religiosos. Figura 49 - Igreja do Jubileu

Fonte: Richard Meier, 2009.


46

O edifício fica anexo a um complexo habitacional, arraigado em um terreno triangular de 10.072,00 m², com uma área total construída de 2.501,00 m² distribuída em três (3) pavimentos, sendo o subsolo (destinado a serviços do centro comunitário), o 1º pavimento (a igreja) e o 2º pavimento (a casa paroquial). As obras foram concluídas apenas em 2003. Ao Sul da obra localiza-se a parte sagrada, separada por três (3) curvas que abrigam na sua forma o altar, a nave, a capela, o batistério, a sacristia e o confessionário. Ao Norte encontra-se a parte profana, onde predominam as linhas retas (Fig. 50). Figura 50 - Planta baixa da Igreja do Jubileu

Fonte: PROJETO DESIGN, 2004.

Os arcos de concreto protendido, revestidos com placas de mármore de dupla curvatura (dimensões 400 x 400 x 80 cm) fazem referência à Trinitas ou Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Tais curvas enfatizam o flanco sagrado do templo, onde se localizam a capela, o confessionário e a pia batismal. A abertura envidraçada que compreende todo o edifício permite entrada abundante de luz natural (adotada como elemento e ferramenta de projeto), produzindo efeitos atmosféricos singulares ao mesmo tempo que realça o altar do


47

sacrifício e o presbitério (Fig. 51). Durante a noite, a luz é emitida pela obra como uma vela, partido arquitetônico escolhido pelo arquiteto, Richard Meier. Figura 51 - Interior da Igreja do Jubileu

Fonte: Richard Meier, 2009.

Todo o desenho do edifico é pautado no contraste entre sobreposições de esferas e cubos, tornando visível a divisão e/ou conexão, que é o principal espaço da igreja (Fig. 52). Figura 52 - Sobreposição de formas

Fonte: Richard Meier, 2009.


48

A presença excessiva da cor branca deve-se a intenção do arquiteto de relacionar a luz propriamente dita à luz celestial. Para tal, foi utilizado o chamado “cimento branco”, constituído essencialmente de materiais brancos (Fig. 53). Figura 53 - Uso excessivo do branco

Fonte: Richard Meier, 2009.

O mobiliário sagrado foi concebido junto ao projeto arquitetônico, aliado as normas litúrgicas, de forma que sua composição interaja com os espaços da igreja. Foram empregados materiais nobres em sua construção, como granito e madeira.


49

5.4.

CONCLUSÃO DOS ESTUDOS DE CASO

A investigação de situações reais permitiu um maior entendimento quanto a aplicação prática das simbologias da Igreja Católica, portanto tais modelos são referenciais para a elaboração do projeto final, pois apresentam teorias consolidadas e em boa parte bem-sucedidas. Fica evidente que, apesar de todas as igrejas deste estudo serem visualmente diferentes, todas seguem o mesmo princípio, renovar mantendo a linguagem e os conceitos tradicionais da arquitetura sacra, para que os fiéis a reconheçam como templo. Assim, na figura 51 serão listados os requisitos observados no estudo destes espaços.


50 Figura 51 - Requisitos para uma arquitetura contemporânea

Figura 54 - Requisitos para uma arquitetura contemporânea

Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.


51

6.

ESTUDO PRELIMINAR DO PROJETO DA PARÓQUIA NOSSA

SRª DE LOURDES Concebida em 2004, a Comunidade Nossa Srª de Lourdes, situada no subúrbio de Teixeira de Freitas, atualmente possui uma estrutura que acomoda cerca de 70 pessoas internamente. Possui formato retangular, sem qualquer tipo de adorno, uma capela e uma sacristia, dispostas num edifício que aparentemente não está em consonância com às normas litúrgicas (Fig. 55). O crescimento repentino do bairro e aumento do número de fiéis, tornou o espaço atual insuficiente. Portanto para atender as necessidades da comunidade eclesial, se propõe um novo projeto arquitetônico para esta comunidade, onde serão oferecidas as condições mais pertinentes com a demanda recente, além de oportunizar espaços mais adequados para que o clero e os fiéis possam exercer sua fé. Figura 55 - Fachada da comunidade atual

Fonte: Acervo pessoal, 2019.

O templo deve possibilitar a participação ativa da assembleia, além de facilitar a vivência dos princípios cristãos. Então para que a obra seja funcional e liturgicamente amparada, é necessário conhecer a comunidade a ser trabalhada, os documentos da Igreja Católica, as normas e legislação pertinentes.


52

6.1. LOCALIZAÇÃO

Teixeira de Freitas - BA, localizada a 800 km de Salvador, apresentando uma área total de 1.165,622 km², foi fundada em 1985 é a maior cidade do extremo sul baiano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2019), sua população estimada é de 160.487 habitantes, resultando numa densidade demográfica de 118,87 hab/km² (Fig. 56). Figura 56 - Localização da cidade de Teixeira de Freitas no estado

Fonte: Wikipedia, 2006.

O objeto de estudo situa-se no bairro Estância Biquini, entre a Av. Nova Viçosa, as ruas Presidente Woshington Luís e Vitória Gama (Fig. 54). Segundo a Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo vigente (Lei Nº312/2003), o perímetro urbano correspondente é a Zona Residencial Misto – Z2, conforme a figura 57. Figura 57 - Localização do objeto de estudo

Fonte: Google Earth, 2019.


53

Figura 58 - Zoneamento, Uso E Ocupação do Solo de Teixeira De Freitas - BA

Fonte: PDM da Cidade de Teixeira de Freitas, 2008.

6.2.

ASPECTOS URBANOS

Possuindo uma área total de 2.265 m² (Fig. 59), o terreno de formato retangular está envolto por duas ruas e uma avenida (não pavimentadas). Quanto a topografia, há um pequeno declive de 0,73 m entre a testada das ruas Vitória Gama e Presidente Washington Luís. Figura 59 - Dimensões do terreno

RUA PRESIDENTE WASHINGTON LUÍS Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.

Existem dois (2) acessos para a igreja atual, sendo o principal por meio da rua Vitória Gama (via local), e o segundo pela Av. Nova Viçosa (via coletora), em desuso devido as condições precárias de trafegabilidade e segurança, como buracos e crateras encobertos por água parada; não há acesso pela rua Presidente Washington


54

Luís (via local), porém seu fluxo é semelhante ao da rua oposta. Esta hierarquia é exemplificada na figura 60. Figura 60 - Hierarquia das ruas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.

Alguns serviços e microcomércios contornam o perímetro do bairro, porém as construções vizinhas são predominantemente residenciais térreas (tipo unifamiliar), com casas e/ou edifícios de até três (3) pavimentos (Fig. 61), dispostas num bairro periférico pouco denso com muitas áreas abertas e terrenos ociosos (Fig. 62). Figura 61 - Esquina da Av. Nova Viçosa com a Rua Vitória Gama

Fonte: Acervo pessoal, 2019.


55

Figura 62 - Esquina da Av. Nova Viçosa com a Rua Woshington Luís

Fonte: Acervo pessoal, 2019.

6.3. REQUISITOS E CONDICIONANTES LEGAIS O Capítulo II do Código de Obras de Teixeira de Freitas (Lei Nº313/2003) estabelece condições mínimas de acessibilidade, segurança, utilização e conforto para que os ambientes sejam considerados acessíveis (Fig. 63). Figura 63 - Artigo Nº 174 do Código de Obras de Teixeira de Freitas

Fonte: PDUU da Cidade de Teixeira de Freitas, 2008.

Quanto ao afastamento obrigatório (distâncias entre o edifício e as divisas do lote onde se situa) e índices urbanísticos fica firmado (Fig. 64):


56

Figura 64 - Artigo Nº 118 do Código de Obras de Teixeira de Freitas

Fonte: Leis Municipais, 2008.

O Art. 21º da Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo vigente (Lei Nº312/2003), estabelece que: “... obras da zona urbana Z2, tem a obrigatoriedade de destinar 50% (cinquenta por cento) das áreas livres dos lotes como área permeável, com cobertura vegetal”. Através de diretivas e documentos próprios, a Igreja Católica institui orientações para projeto, construção e disposição do espaço da celebração, conforme o: “Cân. 1216 — Na construção e reparação das igrejas, depois de ouvidos os peritos, observem-se os princípios e as normas da liturgia e da arte sacra” (CONCÍLIO ECUMÊNICO, 1983). Segundo o artigo 105 dos Estudos da CNBB Nº 106 (2003) os profissionais da arquitetura devem considerar liturgia, funcionalidade, segurança, sustentabilidade e acessibilidade, além de obedecerem a legislação em vigor, tais como o Código de Obras, a NRB 9050 e o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.

6.4. ASPECTOS BIOCLIMÁTICOS O clima na região é considerado tropical (predominantemente quente e chuvoso), com temperaturas que variam de 24ºC a 30ºC, segundo Climate-Data (2019). Observando o entorno do terreno foi verificado que o lado noroeste recebe a maior parte da insolação diária, vale salientar que o trajeto do sol percorre ângulos mais altos na região. Outra característica observada no local foi a escassez de vegetação arbustiva e gramínea, destacando assim a necessidade de um tratamento


57

paisagístico. Notou-se também a ausência de muitos obstáculos, permitindo que o local seja constantemente ventilado (nordeste), conforme ilustra o diagrama abaixo (Fig. 65). Figura 65 - Representação da orientação solar e dos ventos dominantes

Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.

6.5. CONCEITO E PARTIDO

O projeto pretende trabalhar uma releitura da linguagem arquitetônica aplicada ao ideário moderno, sem romper com traços identitários dos edifícios eclesiásticos historicistas. Com base nas investigações e estudos realizados chegou-se à conclusão dos elementos simbólicos indispensáveis para a concepção projetual, compatíveis com a visão de igreja que os fiéis idealizam. Aliar tais ideias aos conceitos arquitetônicos contemporâneos favorece para que o templo possa ser projetado de forma racional e ao mesmo tempo compatível com os dogmas cristãos, trazendo a subjetividade do ambiente sagrado em meio a sua atmosfera. Outro princípio adotado para a composição estética da obra, é o uso de materiais nobres como madeira e rocha, transmitindo a imponência características das igrejas primitivas, em contraste com as construções atuais. A presença de vitrais foi


58

determinada para transparecer a luz (geralmente associada ao divino), tema frequente na teologia católica. O volume em formato cruciforme expressa toda a devoção ao maior símbolo cristão, fazendo alusão às igrejas historicistas. A ênfase na verticalidade é uma estratégia conceitual que insere o edifício como marco local, exaltando a sua imponência em meio a outras construções. O partido arquitetônico será baseado no gesto de unir as mãos parar orar, como nas representações da padroeira, Nossa Srª de Lourdes (Fig. 66). Sabe-se que este ato é sinal de súplica e fidelidade à autoridade divina para o cristianismo, Deus. Este por sua vez, está amplamente presente nos ritos católicos, demonstrando seu grande valor simbólico. Figura 66 - Imagem de Nossa Srª de Lourdes, padroeira da comunidade

Fonte: Globo, 2019.

6.6. DIRETRIZES PROJETUAIS

O intuito é criar uma atmosfera que possa despertar experiências, sejam físicas e/ou espirituais, ao mesmo tempo que contemple as condições necessárias para a prática da fé, como segurança, acessibilidade e conforto. Assim é essencial promover o bem-estar dos fiéis, através de um ambiente humanizado e ao mesmo tempo funcional. Baseando-se nesses preceitos, serão pontuadas algumas diretrizes.


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Adequação bioclimática aliada a valorização da ventilação e iluminação natural;

Ambientes acessíveis (NBR 9050) e dimensionados corretamente;

Arborização do entorno;

Criação de espaços de convivência e permanência;

Durabilidade e economia;

Integração do projeto ao meio (terreno);

Integração espacial (interna/externa);

Obediência aos dogmas e preceitos da igreja católica;

Priorização do uso de materiais nobres e sustentáveis;

Releitura de simbologias bíblicas;

Tecnologia aliada a fé;

Uso de energia renovável;

6.7. PROGRAMA DE NECESSIDADES

A fim de nortear as decisões a respeito do projeto, serão propostas algumas determinantes, pré-dimensionamentos e anotações especiais; desenvolvidas com base nas referências projetuais investigadas. QUANTIDADE

SETOR/FUNÇÃO

DIMENSÕES

1

Salão Principal

475 m²

DESCRIÇÃO Composto

pela

nave,

presbitério, altar, batistério e coro 3

Nave

150 m²

Todo

o

espaço

ocupado

pelos fiéis 1

Presbitério

80 m²

Espaço reservado para o clero

1

Altar

9 m²

Local da mesa do sacrifício

1

Batistério

6,5 m²

Local da pia do batismal


60

1

Capela

55 m²

Espaço de oração privada e adoração

ao

Santíssimo

Sacramento 1

Sacristia

60 m²

Local onde o Sacerdote toma as

vestes

e

onde

são

guardados os paramentos litúrgicos 2

Banheiro

15 m²

Local equipado com vaso sanitário, chuveiro e lavatório

2

Torre

18 m²

Construção alta e estreita que abrigará o sino

1

Estacionamento

400 m²

Espaço

reservado

para

veículos automotores 8

Jardim

65 m²

Espaço

destinado

ao

paisagismo 1

Coro

80 m²

Espaço reservado para o coral

6.8. SETORIZAÇÃO

O diagrama a seguir, figura 67, resume o funcionamento dos fluxos do edifício a ser projetado. Os Sacramentos foram priorizados no processo criativo, além dos próprios dogmas cristãos, de maneira que o Sacrifício ou Sacramento da Comunhão (a maior importância para os católicos) receba destaque no presbitério. O batistério e o ambão estão em locais visíveis e acessíveis. A capela e a sacristia permanecem adjuntas a igreja, porém separadas da nave principal, conforme recomendado pelos documentos pertinentes.


61

Figura 67 - Setorização do projeto de requalificação da comunidade

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)


62

7. PROJETO FINAL

Para a concepção de um projeto liturgicamente amparado, tornou-se imprescindível a investigação dos documentos da Igreja Católica, a observação das necessidades dos fiéis e de cada ambiente que compõe o espaço religioso, por meio dos estudos de caso e pesquisas de revisão bibliográfica. Os princípios compositivos observados através deste estudo, tanto técnicos como teóricos e teológicos, foram elementos norteadores durante o processo de concepção espacial. 7.1

IMPLANTAÇÃO

Os blocos que comtemplam igreja e salão paroquial estão posicionados ortogonalmente à Avenida Nova Viçosa, onde está o acesso principal (justificado pelo fluxo de veículos). Existem mais dois acessos na rua Vitória Gama, e um terceiro destinado a carga e descarga na rua Presidente Washington Luís (Fig. 68). Figura 68 - Implantação e fluxo de veículos

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.


63

Ambos os edifícios foram implantados de modo que houvesse maior aproveitamento do espaço do terreno, assim estão orientados para noroeste; possibilitando também maior eficiência na aplicação da ventilação cruzada. Visando uma maior mobilidade, há vinte e seis (26) vagas de estacionamento distribuídas dentro e fora do gradil da igreja, onde quatro (4) delas são reservadas a pessoas com deficiência, por isso estão próximas das entradas. Esta área também foi idealizada de modo que o espaço fosse suficiente para a realização de quermesses e pequenos eventos. O estacionamento externo possibilita acesso rápido ao edifício (vale salientar que o mesmo se encontra dentro dos limites do terreno) (Fig. 69). Para tal, foi levado em consideração a hierarquia das ruas, conforme apontado no capítulo 6, subitem 6.2. Figura 69 - Gerenciamento de vagas de estacionamento

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.


64

7.2

IGREJA

Possuindo 690,00 m² e capacidade de acomodar quinhentas (500) pessoas, aproximadamente, a planta em formato cruciforme foi inspirada nas igrejas historicistas, retornando o conceito de edifício catequético. O presbitério, com layout semicircular, avança sobre a nave do templo, permitindo maior proximidade do sacrifício com os fiéis (em apologia à igreja primitiva). Os bancos acolchoados, concebidos juntos ao projeto arquitetônico, seguem a mesma ideia, de forma que sua composição interaja com os ambientes (Fig. 70). Figura 70 - Planta e Setorização da Igreja

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

Estimulando o acesso às pessoas com mobilidade reduzida, rampas foram instaladas no presbitério, sacristia e nave da igreja. O edifício também possui um lavabo que atende leigos e religiosos especiais, conforme legislação pertinente. Adjunto ao bloco da igreja está a capela, cujo acesso é feito de duas formas, pela nave e pelo estacionamento, o mesmo vale para a sacristia, o que permite a utilização destes ambientes sem a necessidade de abrir a igreja. A cruz na parede posterior do presbitério faz parte da própria alvenaria, está acabada em granito preto São Gabriel; porém há uma cruz menor sobre a mesma, acabada em granito branco, o diferencial está no perfil de LED instalado entre ambas, o efeito resultante deste contraste de cores e luz representam luto e ressureição. As


65

três (3) aberturas envidraçadas simbolizam a Santíssima Trindade e permitem maior aproveitamento de luz natural (Fig. 71). Figura 71 - Presbitério e crucifixo

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

O jardim posterior abrange três (3) ambientes, presbitério, sacristia e capela. Ele possui uma cascata artificial, posicionada acima das aberturas envidraçadas do presbitério, impedindo a entrada excessiva de luz solar, e consequentemente calor, além de abafar de ruídos. Também favorece a criação de um ambiente que possibilite a meditação e oração, principalmente na capela, justificando sua janela de 3 m de largura (Fig. 72). Figura 72 - Jardim e cascata artificial

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.


66

Para a decoração do jardim foram selecionadas plantas com características que lembram a padroeira; a flor Lobelia Erinus de coloração azul, faz referência as vestes da santa, seu tamanho diminuto traz delicadeza ao espaço junto à gramaamendoim, formando um tapete sobre o chão. A moldura de pedriscos ao redor do espelho d’água, lembram a gruta do encontro das crianças com Nossa Srª de Lourdes. A instalação de refletores, em direção ao vidro, permitirá a exploração de efeitos de iluminação singulares, ao mesmo tempo que realça o crucifixo durante a noite.

7.2.1

COBERTURA

A cobertura foi idealizada de forma a dar ênfase à altura da igreja, sua estrutura possui 95% de inclinação (ou 41º) e será sustentada por tesouras treliçadas (metálicas) de 20 cm e pilares de concreto de 60 MPa, permitindo grandes cargas em dimensões reduzidas (Fig. 73). Figura 73 - Estrutura da cobertura

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

Para a cobertura, sugere-se a telha de concreto (tom caramelo ou bege) da fabricante PERFECTA, pois podem ser instaladas com até 96% de inclinação sem a necessidade de amarração, conforme as especificações técnicas. Recomenda-se ainda terças de 6x12 cm espaçadas no máximo em 150 cm entre os eixos, caibros de 5x6 cm espaçados em 50 cm entre os eixos e galga máxima de 32 cm.


67

No intuito de causar maior sensação de amplitude, o forro em espuma acústica SONEX Illtec (coleção Nuvens), deve seguir o ângulo da estrutura da cobertura, 29º; o material é versátil, leve e seguro (incombustível) permitindo várias composições.

7.3

SALÃO PAROQUIAL

O salão paroquial é um edifício adjacente a igreja, possui 180,00 m², e é destinado ao uso administrativo e religioso. Os ambientes foram organizados levando em conta o tempo médio de permanência, priorizando conforto térmico e uso. No norte da obra encontram-se as salas de reunião (dado seu uso ocasional), ambas possuem 21,50 m². O corte na parede de concreto (nas dimensões 2,30x1,50 m) está fechado em vidro, se estende verticalmente e horizontalmente formando uma cruz. A incidência solar nos locais mencionados é amenizada com um pergolado vertical coberto por vegetação, ocupando parte da extensão do corredor externo (Fig. 74). Figura 74 - Perspectiva do salão paroquial

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

Para atender a demanda de fiéis e proporcionar maior comodidade, o bloco dispõe de três (3) W.C., sendo eles masculino, feminino e um terceiro para pessoas


68

com mobilidade reduzida; sua localização central permite maior visibilidade e rápido acesso. A secretaria paroquial secciona o edifício em administrativo e religioso, ela dá acesso a sala do padre e possui seu próprio lavabo. Apesar da pouca insolação e a sombra projetada pela igreja, o ambiente pode necessitar de climatização artificial dado seu uso rotineiro. A pele de vidro de 2,85x1,80 m em formato geométrico, permite distribuição difusa de luz natural. A cozinha industrial foi planejada utilizando a regra do triângulo, onde fogão, pia e refrigerador foram distribuídos estrategicamente para otimizar a área de circulação, em um cômodo de 19,25 m² (Fig. 75). Figura 75 - Regra do Triângulo

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

O edifício possuí cobertura de fibrocimento embutida na alvenaria de 1 m de altura (sobre estrutura de tesoura em laje), com uma inclinação de 10%; toda extensão do corredor está protegida por laje impermeabilizada.

7.4

FACHADA

O edifício é marcado pela verticalização, que vai desde a torre principal aos acessos nas laterais. Tais elementos são uma releitura dos pórticos góticos, onde foram utilizados uma sequência de números sagrados ao cristianismo. Na fachada principal são sete (7) arcos (incluindo a porta), sendo que cada um é composto por


69

mais três (3) (Fig. 76). Tal formato também foi inspirado na Catedral da Pedra no Rio Grande do Sul, cuja padroeira é Nossa Srª de Lourdes. Figura 76 - Fachada principal da igreja

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

A torre faz alusão ao gesto de unir as mãos parar orar, como nas representações da padroeira, ao mesmo tempo que simboliza a gruta em que, segundo a Igreja Católica, Santa Bernadete viu Maria. A abertura envidraçada permite que a luz solar seja refletida durante o dia, e emitida de seu interior durante a noite; simbolizando a luz divina de Jesus Cristo, este retratado no crucifixo em inox do campanário. O mosaico no interior dos arcos menores faz referência à arquitetura bizantina, nele é contada a história da Santa através de imagens, o tom azul celeste representa a faixa da veste de Nossa Srª de Lourdes.


70

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa discorreu sobre a história e a evolução da arquitetura cristã, desde suas origens, retratando as relações entre ambiente sagrado e homem, entendendo os princípios que tornam um edifício propício a devoção e a oração, segundo a própria Igreja Católica e leigos; dada sua necessidade de se interagir com o transcendente e o místico. A requalificação total da Comunidade Nossa Srª de Lourdes em Teixeira de Freitas / BA, tem como foco o resgate das simbologias bíblicas que se esvaíram ao longo dos anos, partindo da premissa de que a igreja tradicional pode ser adequada ao ideário moderno, desde que sua concepção explore características subjetivas, como sensações, pois elas estabelecem relações de proximidade e criam identidade, quando fundamentadas na fé e preceitos católicos. O projeto arquitetônico faz analogia à diversas igrejas historicistas, tanto em significado como no uso de materiais nobres e aspectos físicos, visto que a experiência espacial é multissensorial; tudo isso sem renunciar à funcionalidade da arquitetura contemporânea, buscando oferecer condições adequadas para que o clero e os fiéis possam exercer sua fé, em um ambiente confortável e eficaz.


71

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ROTH, Leland M. Entender a arquitetura Seus elementos, história e significado, São Paulo: Editora GG, 2017.

SCHUBERT, Mons. Guilherme. Arte para a fé: igrejas e capelas depois do Concílio Vaticano II, Petrópolis: Vozes, 1978.

SERTILLANGES, A. D. La Cathédrale. Sa mission Spirituelle. Son Esthétique. Son décor. Savie. Paris: Henri Laurens, 1922. SMIT, Libbe.

VÁRIOS AUTORES. YOUCAT (Youth Catechism), São Paulo: Editora PAULUS, 2011.


9. APÊNDICES

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