relicario
[re]licário é um projeto de conclusão em Comunicação Visual para o Departamento de Artes e Design, PUCRio 2014.2 Projeto Gabriel Sanceau Fuks Contato gabrielfuks @gmail.com Orientadores Roberta Portas Evelyn Grumach Flávia Nizia
Introducão
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Proposta
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referencias
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metodologia
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experimentos
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sistemas
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possiveis caminhos
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caminho escolhido
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livro 50 pôster
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zine
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tipografias 94 detalhes
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consideracões finais
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bibliografia
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o prefixo -re: repetição e reforço; -re ssureição (surgir de novo) -re leitura (nova leitura) -re vivência (viver de novo)
Relicário s.m. Lugar destinado para guardar ou proteger coisas preciosas e/ ou relíquias. - Aquilo que tem um grande valor; que é muito precioso. - do latim relicarium, caso genitivo de reliquiae, restos, aquilo que sobrou, originalmente aplicado às migalhas que ficavam entre os dentes depois da mastigação e mais tarde a todas as sobras de alguma coisa.
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Introdução
A fotografia e o “álbum de família” como objeto e recurso de memória
A ressureicão do olhar da era analógica Num mundo digital, a fotografia transforma luz em mais luz. Ela ganha um novo suporte para se tornar ainda mais popular, mais acessível e presente na vida das pessoas. Por outro lado, não há químicos, não há revelação, não há custo. Cada fotografia pode ser o resultado de centenas de experiências desinteressantes, sem que o ato de disparar o obturador represente um mínimo de comprometimento com a realidade e com o cuidado do olhar da era analógica. O Facebook tem 250 Bilhões de fotos, são colocadas na rede 4 mil fotos por segundo. Eu, por exemplo, tenho oito máquinas fotográficas (duas delas digitais) e um celular que também tira fotos. Qualquer desses aparelhos digitais também faz vídeo. Mas a minha dúvida tem a ver com a memória. Essa facilidade do digital pode representar perdas inestimáveis do ponto de vista da memória, porque muitas fotografias ganham o seu “amadurecimento imagético” ou sua carga semântica completa, apenas com o passar do tempo. Por isso a importância da manutenção física de nossas fotografias
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Mas se fotografamos tudo em grandes quantidades, que lugar fica para a intenção de um olhar? e álbuns de família, dos nossos “museus iconográficos”. Porque nosso passado, nossa vida presente e nosso legado para o futuro, nossa memórias, estão ali impressas no papel e não são apenas informações binárias em um computador. É na memória que a fotografia encontra um papel relevante. Afinal, hoje somos todos fotógrafos. Mas se fotografamos tudo em grandes quantidades, que lugar fica para a intenção de um olhar? Será que esse processo não vem se tornando estritamente pessoal e difícil de partilhar de modo significativo? Hoje, nossas fotografias estão por toda parte, mas só têm significado para nós e para os que estão próximos.
Os retratos de família são umas das mais antigas formas de utilização da fotografia. Essa prática se popularizou nos países industrializados, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Segundo Susan Sontag, é através da fotografia que cada família podia construir uma crônica de si mesma. Para a autora dominada pela idéia da miniaturização das coisas pela fotografia, “o mundo tornara-se uma série de partículas desconexas e suspenas a cada foto. Nesta, a história, o passado e o presente compõe um conjunto de anedotas e variedades, munidas de um caráter de mistério” (Sontag, 1981, p.22) Essa galeria de retratos, o chamado “álbum de família” foi se democratizando e cada família passou a ter o seu retratista, que na maioria das vezes era o pai. Fotografar as crianças era preparálos como um legado, registrando a imagem que um dia tiveram. Por outro lado, é importante reconhecer o papel da mãe como mantenedora das lembranças. Eram elas que acompanhavam o crescimento dos filhos, preservavam e catalogavam as memórias fotográficas da família.
Fotografar significa congelar no tempo a nossa memória, atestar e perpetuar a nossa existência. Para Pierre Bordieu, importante sociólogo francês, o álbum de família “exprime a verdade da recordação social.” O filósofo afirma também que “Nada se parece menos com a busca artística do tempo perdido do que estas apresentações comentadas das fotografias de família, ritos de integração a que uma família sujeita os seus novos membros.” Essas imagens do passado evocam e transmitem as lembranças dos acontecimentos que devem ser conservados, e a família vê nessas lembranças um fator de unificação. Segundo Bordieu, “não há nada que seja mais decente, que estabeleça mais confiança e que seja mais edificante do que um álbum de família: todas as aventuras singulares que a recordação individual encerra na particularidade de um segredo são banidas e o passado comum tem o brilho quase presunçoso de monumento funerário freqüentado assiduamente. (Bordieu, 1965)
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Fica claro que a fotografia pode ser considerada um grande relicário, objeto portador de memória viva e própria. Ao olharmos nossos álbuns de família, fotos de viagens ou retratos de uma antiga namorada, reassumimos nossa condição de existência e descobrimos que podemos preservar a lembrança dos grandes momentos e das pessoas que nos são importantes. As fotografias são referências da nossa história, elas existem para nunca deixarmos de lembrar destes momentos. Fotografar significa congelar no tempo a nossa memória, atestar e perpetuar a nossa existência. Fotografamos para ver depois, para sentir o que sentimos no instante da captura, sentir o momento passado no presente. Colecionamos esses “pedaços congelados do passado” para que ao “descongelarmo-os” possamos contar a nós mesmos e aos mais próximos nossas histórias de vida. Boris Kossoy, fotógrafo brasileiro e filósofo da imagem resume essa relação como ninguém, dizendo que “assim como a fotografia, a memória também recria o real. Portanto fotografia é memória e com ela se confunde. É o que nos permite até viver. (Kossoy, 1999, p.139).
a Teoria do Caos e a onipresenca do acaso A essência da teoria do caos é que uma mudança muito pequena nas condições iniciais de uma situação leva a efeitos imprevisíveis. A idéia central da teoria é que uma pequena mudança em qualquer etapa de um evento pode trazer conseqüências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis ou aleatórios, ocorrendo ao acaso, portanto, caóticos.
E foi a partir dessas questões de ressureição do olhar analógico, perpetuação da memória e da influência do acaso que se desencadeou esse projeto.Quero apresentar essas imagens sob a ótica do cuidado do olhar daquela época, criar uma publicação que me permita experimentar com essas imagens e pretendo que o acaso e a aleatoriedade estejam presentes nos resultados.
“As coisas das quais nos ocupamos, na fotografia, estão em constante desaparecimento, e, uma vez desaparecidas, não dispomos de qualquer recurso capaz de fazê-las retornar.
“Não podemos revelar e copiar
uma lembrança.”
Henri Cartier-Bresson
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Proposta
Meus pais nasceram no mesmo ano de 1956, com alguns meses de diferença. Vindos de famílias de imigrantes de origens diferentes, a chance desse encontro era remota e imprevisível, determinada pelo acaso. 32 anos depois vem ao mundo o primeiro fruto desse encontro, eu. Há inúmeros álbuns de família em casa. A maioria deles vem de uma época em que a fotografia e seus processos ficaram mais automatizados. Esses álbuns são compostos por fotos impressas em papel, e ordenadas cronologicamente. Seus negativos eram então guardados em fichários e assim ficavam, uma vez que suas ampliações já estavam impressas e organizadas nos álbuns, fáceis de serem acessadas. Mas existe um tipo de material que não era ampliado em papel. Ao contrário dos negativos, os positivos (slides ou diapositivos) tinham a projeção, e não a impressão, como o método mais comum de reprodução de suas imagens. Portanto, dependiam de um projetor de luz para se fazer ‘objeto’, para se materializar. Depois de materializados numa parede ou numa tela para a família ver, eram guardados em caixas e, assim como os álbuns, colocadas num armário e deixados por lá.
Meu interesse nesse projeto surgiu a partir de um desejo pessoal de, através da busca dessas imagens, tentar me aproximar mais dos meus pais
Mas e se o projetor quebrar? E se a lâmpada queimar? Foi isso que aconteceu. A tecnologia e os meios de reprodução de imagens evoluíram, o projetor queimou e as memórias ficaram às escuras, esquecidas por mais de 30 anos nos fundos desse armário. 10
Esse projeto propõe a criação de uma publicação portadora das memórias de minha família. O objetivo é manter vivas as memórias de meus pais através de uma releitura do significado de “álbum de família”. O material a ser trabalhado serão esses slides encontrados nos fundos desse armário da casa em que vivo com eles. Pretendo trazer essas memórias de volta à vida, oferecendo-lhes uma plataforma menos dependente de outros recursos, como os outros álbuns. Pretendo, a partir desses slides, criar um documento que possa ser manuseado, preservado e passado adiante como uma crônica, um relicário dessas memórias.
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referências
Após a seleção das imagens, fiz uma pesquisa de referências. Pesquisei fotolivros de autor, e projetos que tem fotos de família como obejto de estudo. Esses projetos se apropriam de fotos descartadas, que não tem laços com o espectador. Costumam trabalhar a partir da ruptura de vínculos que mantém o reconhecimento de uma história, descontextualizando as imagens. Isso faz com que imagens ‘mudas’ de uma história comum, possam ser abertas num amplo leque de leituras. A seguir, mostro alguns exemplos de projetos que apresentam características que me chamam a atenção e que podem ser pertinentes ao meu projeto.
Esse exemplo me chamou a atenção por usar variados formatos de imagens e pelo sentido horizontal do livro. O autor apresenta boas soluções quanto à diagramação desses diferentes formatos. Ele também faz uso de imagens sangradas em página inteira, usa imagens no meio do ‘spread’, e apesar de variar o posicionamento das imagens, mantém uma unidade na margem quando faz uso de fotos em página única sem sangramento. O uso da não-figura tem tanto peso quanto a figura e ajuda nesse equilíbrio das páginas, dando um ritmo mais dinâmico à leitura. Todd Hido - Silver Meadows B-Sides Box- Nazraeli Press (2014) edição de 500
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Esse formato quadrado é equilibrado e as imagens sempre centralizadas nas páginas mantém o mesmo ritmo também equilibrado. O espaço em branco ao redor da imagem direciona o olhar pra fotografia, destacando-a. A capa dura com uma textura e uma das fotos coladas sobre ela dá um ar mais sério ao livro, dá uma presença que talvez possa ser interessante usar. Gosto do formato mas gostaria de explorar mais na diagramação. Max & Elly Randegger - Fahrtenbuch - b.frank books (2013)
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Nesse livro, o autor e fotógrafo mistura fotos de família com suas próprias imagens. O que mais me chamou a atenção, além da qualidade das imagens, é o formato, que se assemelha a um álbum, a variação nos formatos e na diagramação das imagens, e a capa com múltiplas fotos “coladas” sobre uma capa dura e texturizada, que dá mais peso e seriedade ao objeto e sugere uma certa preciosidade no que há dentro dele.
Todd Hido - Excerpts from Silver Meadows - Nazraeli Press 2013
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Nesse exemplo, o autor criou um box com as fotografias de família misturadas à suas próprias fotografias. A caixinha com as imagens é vendida separadamente, mas na realidade funciona como um “anexo”, ou um segundo volume do livro que tem todas essas fotos também. Com essa caixinha contendo fotos soltas, podemos brincar com as imagens, selecionando-as e agrupandoas como quisermos, o que nos faz entender melhor o processo de edição do livro com o qual ela vem junto. Gosto da idéia de uma caixa que contém, protege imagens.
Todd Hido - Silver Meadows B-Sides Box- Nazraeli Press (2014) edição de 500
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metodologia
De todos os slides encontrados, resolvi trabalhar com aqueles que mostram os lugares, as pessoas e as histórias das vidas de meu pai e minha mãe, até o momento do meu nascimento, seus 32 anos de vida. Comecei a explorar esses slides de maneira analógica. A princípio resolvi “respeitar” o cuidado na reprodução e fazê-la de forma mais tradicional usando um projetor de slides. Minha proposta foi fazer dois caminhos de experimentos: um bem livre, no qual pudesse trabalhar com essas imagens projetadas, explorando-as
quadramento)como são, digitalmente com o scanner e computador. Os pictogramas abaixo foram desenvolvidos para auxiliar na compreensão do passo a passo dos experimentos a seguir.
e decupando-as sem saber onde iria chegar, e outro mais formal, no qual explorei os aspectos mais óbvios e tive ajuda do digital. Esses testes me levaram a um sistema de produção de novas imagens, que transmite os conceitos definidos e que será usado no meu objeto final.
experimentos livres x experimentos formais Nos experimentos livres (EXP L), busquei trabalhar explorando esses slides de forma analógica, trabalhando com a LUZ. Usei principalmente o projetor e a mesa de luz nesses processos. O objetivo foi explorar essas imagens fora do mundo digital e transmitir um pouco da minha visão, minha interpretação dessas imagens. Já nos experimentos formais (EXP F), busquei uma estrutura mais organizada ou clássica no processo, mais parecida com a estrutura da minha família. Nesses testes explorei as imagens e seus aspectos (tamanho, cor, composição, en-
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intervenção minha
múltipla exposição
única exposição
tempo do obturador
digital
analógico
primeiro experimento livre
= exp l1
primeiro experimento formal
= exp f1
imagens do processo de captura das projeções
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experimentos
exp l1
Posicionei a câmera de frente à projeção. Fotografei a projeção de slides em ordem aleatória, deixando o diafragma da câmera aberto entre 4 e 10 segundos. O resultado foi a sobreposição das imagens em camadas. Em seguida, tratei as imagens digitalmente, corrigindo basicamente parâmetros de coloração. Nenhum corte ou sobreposição foi feito no computador.
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Resultado: Criei imagens com várias camadas de memórias sobrepostas que demonstram de forma interessante um “somatório” dos momentos vividos , além de novos lugares no “espaço-tempo”. 22
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exp l2 Coloquei 40 slides do meu pai intercalados aleatoriamente com 40 slides da minha mãe, me posicionei entre a parede e a projeção, e fotografei com uma longa exposição de 30s, fazendo movimentos leves, tentando me incluir nasqueles fragmentos de tempo retratar a fragilidade da memória.
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Resultado: Consegui me ‘camuflar’ e interagir com as imagens e transmitir uma certa fragilidade da memória através desse experimento. Me inclui nessas imagens para tentar transmitir que sou consequência desses momentos vividos por meus pais.
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exp l3 Aleatoriamente, segui projetando os slides de meus pais, mas nesse experimento fiz dois testes em um: recortei meus avós de uma das imagens, imrpimi em uma transparência do tamanho do slide e projetei sobre outro slide. Além disso, ao invés de fazer fotos frontais, percebi que poderia incluir meu olhar nas imagens se tirasse fotos anguladas, fora do padrão.
Resultado: Me fiz presente nas imagens de forma mais sutil. A transparência impressa quando ampliada gerou um padrão de ponto CMYK que sobreposto à imagem gera uma textura interessante.
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exp l4 Nesse experimento livre, decupei as imagens em camadas CMYK e imprimi em transparências. Em seguida, usei a mesa de luz para observá-las e misturá-las. Fiz testes com todos os tipos de combinação de camadas: usei uma apenas, combinei duas aleatórias de diferentes cores, três de diferentes cores até chegar a um resultado interessante, com uma imagem criada a partir de 4 camadas diferentes : 2 de imagens de meu pai e 2 de imagens de minha mãe.
Resultado: Com esse teste consegui transmitir a soma dos momentos de ambos através da sobreposição de camadas, que por sua vez resultou também em imagens interessantes em que o acaso se mostra diretamente.
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exp f1 Após os experimentos livres, comecei a fazer testes mais formais, com o uso do scanner e computador. Para complementar as imagens formadas a partir dos últimos experimentos e enriquecer o conteúdo da minha publicação, fui buscar em álbuns de família e fotografias “soltas”, histórias que não estavam presentes nos slides experimentados anteriormente. Nesse experimento, fiz fotos e usei o scanner para retratar os álbuns a partir do meu nascimento.
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Resultado: As imagens finais conseguidas através da câmera e do scanner, mostram a minha visão e ao mesmo tempo me inserem naquelas memórias. Esteticamente gosto do resultado e da idéia de páginas impressas com “crops” selecionados de álbuns de família.
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exp f2 Nesse segundo teste formal, separei as imagens for diferentes critérios. Agrupei por tonalidades semelhantes, quantidade de pessoas nas imagens, posições no quadro, paisagens similares, expessões similares etc. Para esse experimento, utilizei o conceito de “Punctum”, do livro “A câmara Clara” de Roland Barthes, que diz que existem imagens que chamam a atenção ou são interessantes por algum detalhe que te “fere”, que pontua e traz interesse posterior ao primeiro momento de análise da imagem, e baseando-me nesse conceito, separei as imagens que me chamaram atenção nesse meu processo de experimentação e relacionei-as com as outras seguindo diferentes critérios. Critério de edição por número de pessoas nas imagens.
Resultado: Consegui criar grupos interessantes de duplas de imagens e preservei a imagem como objeto. A opção de mostrar as imagens como são me parece interessante pois dessa forma apresentoas respeitando cada detalhe presente e posso explorar suas combinações na diagramação da publicação.
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Critério de edição por posição no quadro (centralizada)
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exp f3 Nesse teste, seguindo a definição da Teoria do Caos, mudei minimamente alguns detalhes de fotos dos meus pais. Pensei em seguir por um caminho gráfico em que a soma desses detalhes “perdidos” fosse responsável por uma mudança na minha imagem, hoje em dia.
Resultado: Não consegui chegar a um resultado que se possa transmitir através de uma publicação. A idéia de pequenas mudanças se somando para criar uma imagem minha diferente hoje em dia é interessante, mas não achei um caminho que a torne usável sem que fique repetitiva.
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sistema resultante dos experimentos livres
O resultado do último experimento livre, me levou a uma seguinte sistema que deverá representar uma parte/volume da publicação: - criar novas imagens a partir de camadas de cor das imagens dos slides escolhidos. Essa nova imagem será composta por 4 canais de cor CMYK. Cada canal de cor de uma imagem diferente. 2 canais de cor (ciano e preto) do meu pai, e 2 canais de cor (magenta e amarelo) da minha mãe.
Mesmas camadas, distribuídas de forma diferente formaram 4 imagens bem diferentes.
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sistema resultante dos experimentos formais
O resultado dos experimentos formais, me levou a dois resultados interessantes que deverão representar outras partes/volumes da publicação: 1- Criar um volume com as imagens como são, sempre em paralelo. 2 imagens por spread, uma do meu pai e uma da minha mãe, até os 23 anos de idade de ambos. Nesse volume, vou resgatar o olhar da era analógica e o cuidado na criação daquelas imagens, além de explorar suas combinações na diagramação. 2- Criar um volume com fotos minhas dos álbuns de família a partir do momento de meu nascimento. Graficamente é bem diferente da proposta dos outros volumes e assim posso atingir um resultado bem diversificado, mas dentro de um conjunto de imagens.
as fotos como são
+
imagens dos álbuns
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3 volumes de formatos e tamanhos diferentes
opção 1
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3
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1º volume: ANTES possíveis desdobramentos
opção 1
• • • •
1 Um livro com 3 capítulos de formatos diferentes. Um com formato maior apresentando as imagens como são e alguns crops de detalhes, o segundo volume menor, com o resultado de minhas experiências, e um terceiro volume, menor ainda, com as minhas fotos/registros dos álbuns de família.
Formato Álbum Capa Dura Gramatura Alta Layout “Formal”
24 spreads 48 páginas 48 imagens
O primeiro volume vai ser composto de: • 24 spreads, número de poses de um rolo de filme; • Os “crops” representam as “partículas suspensas”, definição de S. Sontag; • Ordem Cronológica: desde jovens até se conhecerem. (0-23 anos) O segundo volume vai ser composto de: • Imagens formadas a partir de camadas CMYK de diferentes imagens; • O período das imagens usadas será desde que se conheceram até meu nascimento. (23-32 anos) • Momento em que a memória dos dois começa a se misturar O terceiro volume vai ser composto de: • Fotografias/Scans dos álbuns de
2º volume: DURANTE
3º volume: DEPOIS
• Posicionado entre o 1º volume • Experimentos • Mistura de camadas • Transparência • Gerúndio
• Volume em anexo • Fotos/Scans • Simples
família em que eu apareço • Volume vem ao final, em anexo • Formato pequeno, como se as memórias fossem se condensando conforme o tempo passa. • Período: 32 - hoje
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opção 1
O segundo volume vai ser composto de:
O terceiro volume vai ser composto de:
• Imagens formadas a partir de camadas CMYK de diferentes imagens; • O período das imagens usadas será desde que se conheceram até meu nascimento. (23-32 anos) • Momento em que a memória dos dois começa a se misturar
• Fotografias/Scans dos álbuns de família em que eu apareço
6 spreads / 12 páginas / 12 imagens
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• Volume vem ao final, em anexo • Formato pequeno, como se as memórias fossem se condensando conforme o tempo passa. • Período: 32 - hoje
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12 spreads / 24 páginas / 24 imagens
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possíveis desdobramentos
opção 2
Um livro com 3 capítulos de formatos iguais, separados e com conteúdos diferentes. O primeiro apresentando as imagens como são e alguns crops de detalhes, o segundo com o resultado de minhas experiências, e o terceiro, com as minhas fotos/registros dos álbuns de família. Esse livro será “protegido” por uma caixa, reforçando o significado de relicário. Como um dos volumes pretendo usar transparências, minha proposta é que essa caixa possa funcionar também como uma mesa de luz, que além de proteger o livro, “dá luz” para que se possa vê-lo por completo.
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caminho escolhido
Meu caminho escolhido foi derivado do meu segundo desdobramento possível, mas com mudanças significativas. Optei por fazer 3 volumes diferentes, num mesmo produto. O primeiro volume, que a partir de agora vou chamar de livro, o segundo volume, que vou chamar de pôster e o terceiro, de zine. Não segui com a idéia do objeto estar contido numa mesa de luz, ao invés disso comecei a tratar desse objeto como um livro de mesa, no qual os membros da família possam folheá-lo sem a pretensão de um álbum de família, geralmente bem guardado e pouco acessível. Passei então a pesquisar e esboçar livros-objeto que seguem mais a linha de “memorabilia” e que contém outras publicações anexadas ou contidas nele.
Detalhes dos esboços sobre o formato e dealhes do livro-objeto.
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LIVRO vol.I 0-23 32 spreads 64 pรกginas 61 imagens
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seleção dos slides - livro
Para selecionar as imagens do livro, peguei todos os slides encontrados e, com a ajuda de uma mesa de luz, fui manualmente juntando duplas de imagens, sempre uma da minha mãe e uma do meu pai. No início desse processo, separei os slides em que eles estavam presentes na imagem dos que eles não estavam. A partir daí, dentro do grupo em que eles apareciam nas imagens, fiz duplas por idade semelhante e também por semelhança de composição e cor. Já no grupo de slides em que eles não apareciam, dividi as duplas por assunto como prática de esportes, paisagens e detalhes e também por familiares respectivos, como duplas de avós, tios e irmãos, paternos e maternos.
pai e mãe
aparece na imagem
não aparece na imagem
idade
assunto
composição e cor
familiares respectivos
Esquema de seleção das imagens dividido por etapas, com imagens do processo ao lado 52
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edição e diagramação das imagens - livro
Depois da seleção das imagens, passei para a etapa da edição. Nessa etapa, fiz testes de layouts, experimentando com as posições das duplas de imagens nos spreads. Usando apenas 3 tipos de formatos sendo eles, 3x2 vertical e horizontal, 1x1 quadrado, e vertical de página inteira sangrada, defini depois de alguns testes apenas cinco composições possíveis: uma foto horizontal em cada página, uma horizontal e uma vertical por
Os únicos 3 formatos de imagens.
página, uma foto de página inteira com uma horizontal, uma foto de página inteira com duas horizontais e por último, uma foto vertical com duas horizontais.
Os 5 possíveis tipos de distribuição das imagens nas páginas duplas.
Exemplos de interação entre as imagens. Busquei posicioná-las de forma que dialogassem entre si.
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espelho - livro
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textos - livro
Como se trata de um livro de fotografia não havia planejado o uso de texto além da dedicatória na primeira página e um arrazoado sobre o projeto na última página, como mostro nas imagens ao lado. Depois de editar e diagramar o miolo do livro, imprimi e dei aos meus pais para que fizessem comentários sobre as imagens, direcionando-os para o tipo de comentários que gostaria de saber. Disse que lugar e data seri-
a outro patamar. Sabendo disso, ambos começaram a escrever à mão diretamente na boneca reduzida que preparei para esses tais comentários. Nem todas as imagens foram comentadas por variados motivos. Ou por simples falta de memória ou por opção. Depois de devidamente comentadas, eu editei esses comentários deixando apenas os que achava mais interessantes e os que de fato elevam as imagens.
am sempre boas informações e que quanto mais pessoal o tom, mais acrescentaria e elevaria a imagem
Exemplos de comentários escritos à mão.
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Dedicatória na primeira página e arrazoado na última.
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O livro
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O livro tem 64 páginas (32 páginas duplas) e formato A4. A escolha desse formato foi determinado em função do tamanho e formato das imagens a serem usadas. Quis respeitar essa imagens e mantê-las íntegras, em seus tamanhos e proporções reais. E o tamanho A4 me permite opções variadas da layout comfortáveis além de ser um tamanho padrão de corte e aproveitamento de papel.Todas as imagens foram impressas em pa-
para que ele fosse mais durável, seria importante que fosse encadernado em capa dura. Essa decisão de encadernamento foi guia para a determinação dos formatos dos outros volumes, pois considero a estrutura criada em capa dura, em formato “Z” (como na imagem ao lado), o “esqueleto” do objeto em que se conteriam os volumes menores. Assim sendo, defini que esses outros volumes ficariam em bolsos no interior do volume do livro, no
pel pólen bold 90g, que é um papel mais refinado e tem um toque e um tom de cor que, junto às imagens antigas que usei, transmitem de forma clara uma sensação de álbum de memórias. Com o conteúdo e o miolo já defiinidos, percebi que para dar mais solidez ao objeto,
“esqueleto”. Quanto às lombadas, na parte em que se encontra o livro, defini como costura aparente pois reflete um cuidado maior no tratamento do objeto, e no outro lado, lombada normal, fechada para proteção dos volumes. Imagens dos bolsos na página anterior, do formato em “Z” acima e um detalhe da costura aparente abaixo.
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imagens - livro
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p么ster vol.II 23-32
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seleção das imagens - pôster
Na seleção das imagens para o pôster, trabalhei dentro do período de 23 a 32 anos de idade, do ano em que se conheceram até o ano do meu nascimento. O critério estético desse pôster, composto por imagens criadas a partir de sobreposições de camadas CMYK de imagens diferentes, foi o resultado de experimentos realizados na primeira etapa do processo e apurados nessa etapa. Eu optei por essa linguagem das sobreposições,
uma mistura de 32 imagens no total) e mais 3 imagens como são, duas em tamanho original no verso do pôster fechado e uma de folha inteira no verso do pôster aberto. Para criar essas novas imagens, selecionei por critério pessoal as fotos que mais gostei desse período de suas vidas que estavam disponíveis nos álbuns e as separei em camadas CMYK. Depois, defini que das imagens do meu pai usaria as camadas
pois dessa forma, consigo transmitir um somatório e uma mistura de momentos, que traduzem exatamente o que eles estavam vivendo na época. O pôster contém um total de 8 imagens de sobreposições (ou
ciano e preto , e das imagens da minha mãe, magenta e amarelo. Nas páginas seguintes, exemplos de imagens que foram divididas e reagrupadas em novas composições.
C
m
y
k Exemplo criado a partir de sobreposições conforme o esquema na página ao lado. 66
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Exemplos de imagens selecionadas para separação em camadas.
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características gerais
21cm
gabrielfuks.com
84 cm
Espelho do arquivo de saída do pôster.
Breve texto explicativo sobre o conteúdo do pôster.
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59,4 cm
com ele todo aberto, há uma foto que considero emblemática dessa fase, pois os dois estão como se olhassem para o futuro, indicando ou não o conteúdo do volume por vir. Foi impresso digitalmente em quatro cores, num papel fosco, de gramatura relativamente baixa para um pôster (150g) para que se facilitasse a dobra. No verso, há duas imagens também emblemáticas mas por motivos pessoais acima de um texto à mão, que resume o conteúdo do volume.
A4
29,7 cm
O pôster tem medida de 59,4 cm de altura por 84 cm de largura (ou quatro A4 na largura e dois A4 na altura). São três movimentos de abertura do fechado ao aberto. A partir da capa vertical, com ele fechado, o primeiro movimento na horizontal revela uma imagem de página inteira que se aberta novamente revela uma composição de imagens menores, todas seguindo o mesmo padrão de composição explicado anteriormente. No verso,
Medidas do pôster em formato aberto e fechado
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Primeira imagem e capa do p么ster em formato fechado. 72
Verso do p么ster fechado. 73
Segunda imagem, ao virar a primeira pรกgina na horizontal. 74
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Detalhes da capa e verso. Na página ao lado, composição de imagens ao abrir o pôster na vertical.
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Composição de imagens ao abrir o pôster inteiro.
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Foto inteira no verso da composição de imagens. 80
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zine vol.III 32-
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características gerais
No terceiro e último volume, trabalho com imagens de álbuns do período a partir dos 32 anos de idade dos dois. Esse zine é quase auto-explicativo, todas as páginas são sangradas contendo imagens de página inteira. Essas imagens são escaneamentos de páginas de álbuns de família, selecionadas por interesse de composição das fotos nos álbuns. A idéia foi transferir diretamente essas páginas para uma publicação de maior acessibilidade como os outros volumes. Ela é formada por 4 páginas em formato A3 aberto e A4 fechado, impresso digitalmente sobre papel couché fosco 270g,frente e verso e grampeadas com grampo canoa colorido. Além das imagens, há apenas uma breve descrição à mão sobre o conteúdo do volume.
Descrição à mão na última página dupla. 84
Imagens das páginas abertas da zine.
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espelho do zine
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Imagens das pรกginas abertas da zine.
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Imagem da pรกgina dupla com texto sobre o estilo das imagens.
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Detalhe da assinatura no verso com o site e adesivo indicando o n煤mero da c贸pia.
Verso da zine 92
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tipografias
Usei três tipografias diferentes: uma de texto, uma de títulos e uma fantasia. Esse projeto foi gerado a partir da tentativa de resgate de imagens analógias e antigas e as possibilidades de releitura que essas imagens me permitiram. Dessa mesma maneira, optei por usar uma tipografia de texto que traz consigo uma releitura do caráter antigo e analógico de uma máquina de escrever, agora
Binnenland Foundry. Como meus pais fizeram anotações à mão sobre as imagens, resolvi manter essa linguagem e usar minha letra à mão em comentários dentro dos volumes. Para esse relatório usei a fonte fantasia, Impact Label, que simula a antiga etiqueta em alto-relevo DYMO, usada em detalhes nos volumes. O uso dessas tipografias busca trazer todas as características de objeto antigo, catalogado por etiqueta e
um pouco mais imprevisível no uso das suas serifas e flúida em suas formas e curvas. Para isso, escolhi a T-STAR TW, da
armazenado em arquivo, mas com um toque mais pessoal e moderno.
Detalhes do uso da etiqueta DYMO.
T-STAR TW A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 impact label A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0
Exemplo de escrita à mão. 94
Imagens das caixinhas encotradas com os slides. 95
detalhes
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bibliografia
considerações finais
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Para mim foi uma experiência incrível trabalhar nesse projeto como projeto de conclusão. Como a maioria de meus projetos, tentei levar para o lado mais autoral possível, o que sempre me estimula muito mais. Fiz uma pesquisa de imagens bastante profunda de minha família inteira, não só pai e mãe, e acabei encontrando e descobrindo histórias e segredos que provavelmente nuca teria descoberto se não tivesse
editoriais, aprendi mais sobre o mundo dos fotolivros de autor, consegui contatos importantes para futuros projetos da mesma linha e acima de tudo, evolui como pessoa e como designer. Saio desse curso com a sensação de dever cumprido e pronto pra encarar futuros projetos, pessoais ou não. Gostaria de agradecer à todos os envolvidos no processo, principalmente as professoras Roberta Portas e Evelyn Grumach, que muito
buscado esse caminho. Além disso, fortaleci os laços com meus familiares que também acompanharam o processo, se emocionaram e passaram a entender um pouco mais sobre o que é um projeto de design. Apurei minhas técnicas
me ajudaram e acompanharam nessa saga e também aos meus familiares que me ajudaram a levantar esse arquivo de imagens perdidas. Foi um prazer poder trabalhar com todos vocês.
1. Barthes, Roland. A câmara clara. Notas sobre a fotografia. Trad. Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984. 2. Cartier-Bresson, Henri. The mind’s eye: photography and photographers. New York, 1999.
writings
on
3. Dubois, Phillippe. O ato Fotográfico. Campinas, Papirus, 1994. 4. Kossoy, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. 5. Sontag, Susan. Ensaios sobre a fotografia. Rio de Janeiro, Arbor, 1981.
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