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gĂŞnero cidade

ensaios atravÊs da etnografia e da morfologia urbanas. esboços de um centro de referência do empoderamento feminino e da diversidade


gênero cidade: ensaios atravÊs da etnografia e da morfologia urbanas. esboços de um centro de referência do empoderamento feminino e da diversidade


gabriela rocha + prof. ma. letícia peruchi

trabalho final de graduação em arquitetura e urbanismo. universidade anhembi morumbi são paulo, sp. dezembro, 2019.



a todos os gĂŞneros, identidades e expressĂľes que constituem a sociedade |


gratidão

A monografia-projeto que agora se encerra, não fora trabalho solitário, mesmo quando fora necessário o isolamento para compilar e sintetizar processos, muitos foram os que se dispuseram a ajudar das mais diversas maneiras. Fora uma etapa muito rica, mas também repleta de desafios, incertezas e acidentes de percurso. Começou muito antes do início da graduação, ainda criança acompanhando a força e a luta de minha mãe, Silvana, ao erguer, literalmente, cada tijolo de sua casa e não apenas fazendo a decoração; acompanhando meu pai, Gabriel, pensando as cores e a arte para as paredes dos cômodos; percebendo comigo mesma a construção e desconstrução. A primeira vivenciando, ao morar em uma casa em obra, a segunda observando o que meus pais não perceberam: que mulher não apenas cuida da casa e da decoração, ela também constrói e o homem não é somente a força bruta que ergue e assenta cada bloco, mas também delicadeza e senso estético para ornamentação. E que essa “inversão” de papéis não altera em nada a feminilidade e masculinidade de cada um. Obrigada. Obrigada, gratidão ad infinitum aos meus pais, pelos investimentos sociais, culturais, afetivos e financeiros que fizeram por mim ao longo de toda minha vida, não há palavra para que se possa agradecer o suficiente. Gratidão especial à minha mãe, a mulher mais forte, determinada e guerreira que eu conheci, sem a qual a vida não é nada. À minha irmã, Isabelle e, ao meu irmão Jeferson, que são parte intrínseca de meu ser, sem os quais tudo é insignificante e vazio. À minha prima de sangue e irmã de coração, Kelly, por uma vida de apoio e companheirismo. À família, a minha e a todo tipo de família, o afeto é fundamental, para amenizar o peso das lutas cotidianas. Família é amor, é cuidar, se importar e querer bem. À minha orientadora e mulher que admiro por suas lutas nas pautas por equidade, Profª M.ª Letícia Bernardi Peruchi, pelo suporte e atenção no pouco tempo que lhe coube, por suas retificações, provocações, indicações, reflexões, confiança e incentivos.


À Profª Dr.ª Hulda Erna Wehmann por todas as indicações e recomendações, pela paciência, disposição e serenidade. À Profª M.ª Larissa Soares Gonçalves por todas as sugestões e incitamentos, pelo estímulo. À Profª M.ª Isabela Sollero Lemos pela pujança, pela energia e ardor à arquitetura e urbanismo, pelos novos olhares incitados. Ao Prof. Dr. Claudio Manetti, pela arquitetura e urbanismo politizadas – o modo como se vive já é em si uma atidude política – por um desenho consciente. Ao Prof. M.e. João Ricardo Mori pelo sentido simbólico e filósofico da arquitetura, por um desenho profundo. Aos professores, não somente ao longo da graduação, mas também àqueles desde o ensino infantil. O bom educador se eterniza em cada ser que educa e a educação muda as pessoas e pessoas mudam o mundo, já diria Paulo Freire. Às arquitetas e urbanistas, todas, que me precederam e abriram o caminho para que outras, assim como eu, pudessem vir. Gratidão às mulheres. Às políticas públicas, em especial ao Programa Universidade para Todos (ProUni) criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, em 13 de janeiro de 2005, sob o governo do presidente Lula e do então Ministro da Educação Fernando Haddad, como Política Pública Educacional de acesso ao ensino superior brasileiro, do qual fui bolsista. A educação é a base de uma nação. Aos coletivos Salto, Colorido, entre:FAUs e ao Centro Acadêmico Elio Batista, por fomentarem o pensamento crítico, a formação política, a articulação e organização estudantil et magis. Aos colegas de turma e aos colegas de faculdade e universidade, pelas trocas de experiências e saberes, inclusive pelos momentos desgastantes e divergentes. Aprendemos muito com os erros e com as diferenças. Aos lugares onde estagiei, às pessoas com quem trabalhei, obrigada por compartilharem da experiência de vocês. O conhecimento só vale a pena quando compartilhado. Aos amigos, que são tantos e todos queridos. Gratidão, aos que ainda estão, mesmo diante de minha ausência. Ao diferente, aos diferentes, por tantas perspectivas e possibilidades. A diversidade é a magia do universo. Grata.


E aos que colaboraram financeiramente para a confecção deste caderno e que estão citados abaixo, obrigada. Abraão Lencioni

João Paulo

Adhila dos Anjos

João Victor Torquato

Alessandra Souza

Jonathan Silva

Ana Carolina Cota

José Edemir Moreira

Ana Paula Medeiros

Julia Selli

Arley Ledo

Karol Nogueira

Bruna Barcelos

Karol Souza

Carlos Matos

Kelly Sousa Moreira

Caroline Rocha Moreira

Liliane Paulino

Cauê Lemes

Manoel Ferreira

Cicero Galdino

Maria do Socorro

Daniel Monteiro

Nattan Lima

Daniela Viana

Patrícia Rocha

Doralice Sousa da Rocha

Rita Araújo

Emerson Arles

Sergio Ricardo

Eric Fagundes

Silvana da Silva Santos

Felipe Le Breton

Suellen Sanches

Fernanda Ferreira

Suzy Rocha Moreira

Franklin Sousa Moreira

Tarsila Miyazato

Gabriel Forte

Thais Araujo

Gleyson da Costa Brito

Thiago Cosme

Isabelle Rocha

Thielly Benevides

Jackson Sousa Moreira

Tiago Fiorenzano

Jardilson Silva

Wesley Silva

Jeferson Rocha

grata!


“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.” Rosa Luxemburgo (Róza Luksemburg), filósofa e economista marxista.


resumo

A relação intrínseca do tempo-espaço-indivíduo. A discussão sobre sociedade é exercício também da prática da arquitetura e urbanismo, uma vez que há influência mútua e vital para ambas funcionarem. Por tanto, se faz necessário a compreensão e discussão da sociedade e de seus processos urbanos. Os estudos partem dos comportamentos provocados a partir da morfologia urbana e das relações comportamentais que transgridem e transformam a morfologia da urbe, a partir, dos comportamentos e atividades humanas, sobretudo pela perspectiva de gênero et ad magis das minorias. Enfatizando: a intersecção entre diversos eixos de diferenciação de gênero; a configuração da condição da mulher e do homem; os movimentos de categorias à margem da normatividade; a trajetória e o status de alguns direitos civis; o panorama geral e global sobre a criminalização, proteção e reconhecimento em termos legais acerca da comunidade lgbti+; a relevância das organizações e órgãos nacionais e internacionais para a população lgbti+ e mulheres; a relação do espaço de morada de acordo com seu gênero e a relação do espaço público; o espaço público e seu compromisso com a igualdade e segurança de todos os seus cidadãos; as relações de centralidade, periferia e seus usuários; os espaços culturais como espaço de inclusão e conscientização; e o estudo da forma da cidade e das tipologias das edificações associando à sua apropriação ou abandono. A fim de compreender essa conjuntura, foi feito uso de estudos e análises etnográficas sob os entes que compõem a sociedade assim como estudos morfológicos do tecido urbano que atentam para os resultados tangíveis às questões sociais, econômicas e políticas. No ensejo de trazer à prática projetual, suscitado pelos ensaios através da etnografia e da morfologia urbanas, que em copiosos processos de reflexão e desenho se intentou esboçar um espaço de referência do empoderamento feminino e da diversidade.

Palavras Chave: gênero, cidade, espaço público, diversidade, movimento lgbti+, movimento feminino, educação.


abstract

The intrinsic relation amongst time-space-individual. The discussion about society is also an exercise in the practice of architecture and urban planning, since there is mutual and vital influence for both to function. Therefore, it is necessary to understand and discuss society and its urban processes. The studies start from the behaviors provoked from the urban morphology and the behavioral relations that transgress and transform the morphology of the city, starting from the human behaviors and activities, mainly from the perspective of gender et ad magis of minorities. Emphasizing: the intersection among several axes of gender differentiation; the configuration of the condition of woman and man; the movements of categories in the margin of normativity; the trajectory and status of some civil rights; the general and global overview of criminalization, protection and legal recognition of the lgbtq+ community; the relevance of national and international organizations and agencies to the lgbtq+ population and women; the relationship of the dwelling space according to its gender and the relation of the public space; the public space and its commitment to the equality and security of all its citizens; the relations of centrality, periphery and its users; cultural spaces as a space for inclusion and awareness; and the study of the form of the city and the typologies of the buildings associated with its appropriation or abandonment. In order to understand this conjuncture, ethnographic studies and analyzes were made under the entities that compose the society as well as morphological studies of the urban fabric that look at the tangible results of social, economic and political issues. In order to bring to the projectual practice, raised by the essays through urban ethnography and morphology, which in copious processes of reflection and design was intended to sketch a reference space of female and diversity empowerment.

Keywords: gender, city, public place, diversity, lgbtq+ movement, feminine movement, education.


resumen

La relación intrínseca del tiempo-espacio-individuo. La discusión sobre la sociedad también es un ejercicio en la práctica de la arquitectura y urbanismo, ya que hay influencia mutua y vital para que ambos funcionen. Por lo tanto, es necesario entender y discutir sobre la sociedad y sus procesos urbanos. Los estudios parten de los comportamientos provocados por la morfología urbana y las relaciones de comportamiento que transgreden y transforman la morfología de la ciudad, a partir de los comportamientos y actividades humanas, principalmente desde la perspectiva de género et ad magis de las minorías. Destacando: la intersección entre varios ejes de diferenciación de género; la configuración de la condición de mujer y hombre; la existencia de intersexos; los movimientos de categorías en el margen de normatividad; la trayectoria y estatus de algunos derechos civiles; la visión general y global de la criminalización, protección y reconocimiento, en términos legales, de la comunidad lgbtq+; la importancia de las organizaciones y organismos nacionales e internacionales para la población lgbtq+ y las mujeres; la relación del espacio de vivienda según género y la relación de estos con el espacio público; el espacio público y su compromiso con la equidad y seguridad de todos sus ciudadanos; las relaciones de centralidad, periferia y sus usuarios; los espacios culturales como espacio de inclusión y sensibilización; y el estudio de la forma de la ciudad y las tipologías de edificios asociados con su apropiación o abandono. A fin de comprender esta coyuntura, se hizo uso de estudios y análisis etnográficos bajo los entes que componen la sociedad así como estudios morfológicos del tejido urbano que atentan para los resultados tangibles a las cuestiones sociales, económicas y políticas. A fin de llevar a la práctica proyectual, planteada por los ensayos a través de la etnografía y la morfología urbanas, que en los copiosos procesos de reflexión y diseño se intento esbozar un espacio de referencia de empoderamiento femenino y de la diversidad.

Palabras clave: género, ciudad, espacio público, diversidad, movimiento lgbtq+, movimiento femenino, educación.


résumé

La relation intrinsèque du espace-temps-individuel. La discussion sur la société est, aussi, en exercice de la pratique de l’architecture et urbanisme, puisqu’il y a de l’infl uence mutuelle et vitale pour les deux fonctionnent. Donc, la compréhension et discussion de la société et de ses processes urbaines devient nécessaire. Les études partent des comportements provoquées par la morphologie urbaine et des relations comportementales qui transgressent et transforment la morphologie de la urbe par les compor-tements et activitées humaines, surtout du point de vue du genre et ad magis des minorités En soulignant: l’intersection entre diverses axes de différenciation de genre; la configuration de la femme et d’homme; l’existence des intersexes; les mouvements de catégories en marge de la normativité; la trajectoire et le statut certains droits civils; le panorama général et global sur la criminalization, protection et reconnaissance, en termes juridiques, à propos de la communauté lgbtq+; la signification des organizations et organismes nationales et internationales pour la po-pulation lgbtq + et les femmes; la relation du espace d’habiter selon le genre et leur relation avec l’espace public; l’espace public et son engagement avec l’équité et la sécurité de toutes les cito-yennes; les relations de centralité, périphérie, et ses utilisateurs; espaces culturelles comment espace d’inclusion et sensibilisation; et l’étude de la forme de la ville et des typologies des édifi cations en associant à leur appropriation ou abandon. Pour comprendre cette conjecture, des études et analyses ethnographiques ont été utilisées sous les entités qui composent la société ainsi que études morphologiques du tissu urbain qui regar-dent les résultats tangibles aux enjeux sociales, économiques et politiques. Afin d’apporter à la pratique projectuelle, issue des essais issus de l’ethnographie et de la morphologie urbaines, qui, dans des processus copieux de réflexion et de conception, avait pour but de dessiner un espace de référence pour l’autonomisation des femmes et diversité. Mots-Clés: genre, ville, espace public, diversité, mouvement lgbtq+, mouvement féminin, éducation.


gênero cidade introdução 16

etnografia 21 morfologia 31 proposta

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lógica do processo 38 diretrizes sob perspectiva de gênero conceito

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partido

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referências projetuais 47 casa da mulher brasileira

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centro de referência taquaralto 50 women’s opportunity center

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centro referência e defesa diversidade 54 estacion de policia en belén

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delegacia de polícia local de mollet del vales

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museu da memória e dos direitos humanos 60 museu da guerra e dos direitos humanos das mulheres 62 território

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equipamento 69 conclusão 114 referências bibliográficas

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introdução

Há, claramente, uma relação intrínseca entre a arquitetura-urbanismo e as discussões entorno da sociedade e de seus processos urbanos. A pesquisa se faz com a finalidade de apreender e compreender como as relações morfológicas dos espaços e de comportamento inferem, interferem e afetam uma a outra, em suas correlações humanas e de espacialidades, uma vez que, se é produto de seu meio histórico-físico, como, também, agente modificador desse mesmo ambiente. A análise se faz pertinente, dado que tanto o espaço e suas tipologias como o contexto histórico-social desempenham total relevância nas relações humanas, além de se apresenta-rem de forma diversa para cada gênero. Tal levantamento é relevante, visto que, a partir dessas compreensões, se pode então, organizar e entender também a conjuntura atual dada por elas; como também desmistificá-las, se necessário desconstruí-las, e assim almejar alcançar ao menos proposições para uma nova conjuntura, de segurança, igualdade e equidade. Sendo assim, estas, as demandas que norteiam e objetivam a pesquisa. Para tal compreensão se fez uso de diversas bibliografias e métodos ora empírico1, ora indutivo2, ora dedutivo3. A partir de análises, em suma, qualitativas, contudo, não obstante também apoiadas em dados e estatísticas. Ainda hoje, pouco se discute a relação da mulher e também dos lgbti+ na arquitetura e urbanismo, sejam como profissionais ou como usuários dos espaços, com vivências urbanas relativamente guetizadas, em espaços tidos como próprios para sua verdadeira expressão e condição, mas tidos também como precários, duvidosos e inseguros. A visibilidade é dada apenas quando o capitalismo enxerga a condição desses indivíduos um meio acertado de dividendos, onde o dia internacional da mulher torna-se dia para presentear e a parada lgbti+ torna-se, apenas, festa para que a população consuma. Em verdade, o meio urbano tradicionalmente foi pensado e produzido para ser espaço para homens, em suma brancos e abastados. Às mulheres restavam o espaço da habitação onde permaneciam reclusas da vida urbana, além de serem tidas como objetos, onde sua função basicamente consistia em satis-

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1 Aquilo que advém do conhecimento através da experiência. 2 Aquilo que advém do estudo do particular para o geral. 3 Aquilo que advém do estudo geral para o particular.


fazer as necessidades sexuais do homem, reproduzir herdeiros e novas reprodutoras e exercer o trabalho doméstico, em um ciclo onde se perpe-tuava hábitos, ensinamentos, tradições e costumes, consolidando seu ocultamento da sociedade. No entanto, com a ascensão industrial, a necessidade de um maior número de mão de obra, trouxe a mulher para além da habitação, assumindo então as tarefas operárias, além das domésticas, findando em sua dupla jornada de trabalho. Nesse contexto, paulatinamente a luta e o engajamento das mulheres foi ganhando força e proporcionando mudanças como acesso à educação, ao voto, melhores salários, consequentemente, maior autonomia. Embora ainda hoje, a força velada do patriarcalismo ainda se manifeste na sociedade, pois está inve-terada no ideário humano e nos espaços urbanos e arquitetônicos. A configuração da urbe, estruturada a partir de preceitos de uso e vivência masculina, se mostra quando a mulher (em suma a branca) passa a ter maior acesso ao espaço público – embora as mulheres negras já possuíssem, desde a escravidão, acesso à cidade em detrimento às mulheres brancas, a condição e contexto em que essa circulação se dava era muito aquém de um acesso efetivo à cidade – e a desigualdade de gênero se exprime, através de lugares com sensação de insegurança, devido ao pouco movimento ou a inexistência de iluminação ou de iluminação minimamente adequada, por exemplo, dentre outros. A abordagem da comunidade lgbti+, por sua vez, soma-se no sentido de que os pre-ceitos e padrões instituídos até então vêm sendo questionados e desmantelados, inclusive, pelos – biologicamente – considerados homens. Mas que, no entanto, passam a ser alvo do sistema de normatividade estereotipadas do enredo de superioridade masculina, que como pano de fundo se utilizam da “naturalidade” das condições de gênero e das forças religiosas interpretadas para seu próprio privilégio. No que tange o espaço urbano, agora, oficialmente e expressivamente plurais, os movimentos atuais se fazem na busca de, não somente, dar visibilidade para esses indivíduos em si, como também buscam garantir a partir de apropriações de seus corpos, mentes e do espaço físico a publicização da necessidade de se ampliar direitos civis, para pensar políticas públicas que os respaldem. Em decorrência de pontos como este a pesquisa se debruça sobre os eixos de gênero e do espaço urbano e seus equipamentos. Do primeiro partindo da visão etnográfica, de dentro e de perto, para compreender a relação e a vida desses indivíduos, de modo mais estreito possível de suas realidades, além de absorver as inúmeras intersecções e pluralidades desses atores.

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Do segundo, os estudos derivam da morfologia urbana e tipologias como estrutura e infraestrutura, de modo a desmistificar sua construção, revelar quais tipos são, em suma, igualitários e seguros para os corpos que as ocupam, sobretudo aqueles que compõem uma das áxis desta investigação. E com isso, poder propor diretrizes e um equipamento para empoderamento desses indivíduos no tecido urbano. A explanação histórica acerca da mulher, da população lgbti+ e dos movimentos de ambos, contextualizando o surgimento, lutas, conquistas e o que estes são. Se fazem, em um panorama geral, concomitantemente, global e nacional. Sob a luz de autores como Simone de Beauvoir, Maria Amélia de Almeida Teles, José Guilherme Cantor Magnani, Regina Schöpke e outros. A exploração do corpo urbano, as culturas que o influenciaram e o solidificam enquanto a arquitetura e urbanismo em face de autores como Raquel Rolnik, José Manuel Ressano Garcia Lamas, Milton Santos, David Harvey, Kevin Lynch, Henri Lefebvre, Jane Jacobs, Jan Gehl, Josep Maria Montaner e Zaida Muxi, dentre outros. A partir da compreensão desta soma de questionamentos, pesquisas, análises e reflexões, tenciona-se a explanação textual e iconográficas dessa coletânea e toda a importância dessa assimi-lação para provocar um olhar atento e pormenorizado ao se projetar edificações e cidades, uma vez que se projeta para pessoas, estas, das mais diversas. E do entendimento dessas dinâmicas, compreendendo as problemáticas postas (que são justamente as relações discrepantes de comportamento da forma arquitetônica frente a diversidade de gênero, como também da idiossincrasia4 ontológica5 diante do tecido urbano e de suas formas edificadas), em face das possibilidades de abrandar suas disparidades ao voltar para a prática projetual.

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4 Característica comportamental ou estrutural. 5 Investigação teórica do ser; estudo, reflexão e teoria do ser, atividades humanas, atividades do ser.


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etnografia

“A própria teoria vivida /.../ no fazer etnográfico, a teoria está, assim, de maneira óbvia, em ação, emaranhada nas evidências empíricas e nos nossos dados.” (peirano, mariza. 2008, p. 03.) É comum que o pesquisador já possua alguma iniciação em determinado recorte empírico ou temática de pesquisa. as incursões etnográficas objetivam captar essas nuances com algumas poucas inserções em campo.

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morfologia

Morfologia urbana ĂŠ, evidentemente, o estudo da forma das cidades. mais especificamente, a morfologia urbana trata do estudo do meio fĂ­sico da forma urbana, dos processos e das pessoas que o formataram. este estudo constitui um instrumento poderoso no entendimento e no planejamento da cidade e, com isso, interage com ampla gama de disciplinas. (rego, renato; e meneguetti, karin; 2009, p. 123.)

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imagens da autora

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proposta

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lógica do processo Até aqui a pesquisa teve como intenção obter o entendimento sobre algumas das temáticas que cerceiam as questões de gênero e a cidade. Dividindo a pesquisa no eixo etnográfico, quanto aos estudos antropológicos e de gêneros, e no eixo morfológico no que diz respeito à cidade e sua conformação e tipologias. Foi abordado então, questões como: O que é gênero, identidade de gênero e expressão de gênero; Os estereótipos da mulher, do homem e que existem os intersexos; A violência contra a mulher; A proeminência feminina pós revoluções; A conquista do voto feminino pelo mundo, e outros direitos; Como os movimentos feminista e lgbti+ foram, são e serão muito significativos e pertinentes na defesa e obtenção de direitos; Também foi visto a que passo está a criminalização, proteção e reconhecimento dos lgbti+ num panorama mundial; Que a morfologia urbana fora constituída por e para homens (sobretudo os brancos); As relações do espaço da moradia com a cidade, bem como a relação de seus usuários com ambos os ambientes (interno-externo), atrelando às questões de gênero; O que é a cidade senão a pluralidade de gêneros; A centralidade e periferia, as questões étnicas-raciais, a distribuição de equipamentos de segurança pública e de equipamentos culturais na cidade de São Paulo, bem como equipamentos voltados às minorias, como mulheres e a comunidade LGBTI+; A significância de plataformas digitais, ongs, coletivos e outros grupos na contribuição de benfeitorias e progresso das mais diversas causas; O porquê dessa imersão se dá a partir do entendimento que ainda necessitamos ter sobre a construção da sociedade e seus padrões, para compreender pontos fundamentais das jornadas femininas e LGBTI+, que ainda há muito o que discutir e muito o que aprender e que desta maneira, com o conhecimento, é que temos o maior empoderamento possível. Considerando que, o conhecimento é a base para desenvolver a participação, a autonomia e assim ascender o empoderamento e a emancipação. Pois, para lutar por direitos, é preciso antes conhecê-los. Através da consciência que nós temos a capacidade de nos ar-

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ticularmos, organizarmos, pensar com criticidade e agir com melhor discernimento. Sendo capaz, então, de saber como proceder, como e com o que se defender, como questionar, argumentar e reivindicar seus direitos, como praticar a sororidade, a inclusão (afinal, os estudos, ensaios e proposta contemplam mulheres e LGBTI+, grupos com suas particularidades, por exemplo, nem todas as mulheres são simpatizantes com a comunidade LGBTI+, dentre outras peculiaridades; sendo então pretendido também trabalhar questões como estas, de dentro para fora). A proposta projetual aqui posta é construção de demasiado processo de reflexão, de questionamentos e de muita escuta e propõe-se a um espaço em que se possa fomentar a troca de saberes supracitada, onde se possa exercitar na teoria e na prática o que está sendo posto nas questões de gênero, direitos humanos, comunidade LGBTI+ e seus correlacionados, independentemente de suas raças e credos, de modo que tal exercício impulsione o desenvolvimento da autonomia: econômica, física, psicológica, emocional, social e intelectual da comunidade feminina e LGBTI+. E que além disso, possa abraçar outras pessoas, que não as destes grupos, para que haja também a desconstrução e reconstrução dos padrões, das problemáticas e deficiências que assolam a sociedade, ainda patriarcal, no que diz respeito às mulheres e aos LGBTI+, para tanto o eixo expositivo da proposta projetual tenciona ser aberto à todo o público. O eixo expositivo, chamado de “empoderamento”, dispõe de pequenas salas de oficina-exposição, onde ora pode acontecer cursos práticos, debates, discussões e palestras, ora pode ser somente o espaço de contemplação e absorção do que ali exposto está, sendo acompanhada(o) de um(a) funcionário(a) monitor(a) ou sozinha(o). Apesar do viés expositivo, o bloco não configura necessariamente um museu, ao menos, não somente um museu. O que é abordado e como é abordado são também de um caráter itinerante, com exibições e discussões que se atualizam conforme a necessidade e isso percorre toda a edificação, inclusive em sua estrutura física, permitindo alterações às divisões internas (de drywall), por exemplo. O tamanho diminuto das salas anseia tornar o espaço mais acolhedor, limitando o volume de pessoas que pode ser acomodado e assim permitindo uma maior e melhor integração, grandes aglomerações podem inibir as pessoas de se colocarem – falar, perguntar, responder – no caso de pessoas em vulnerabilidade

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pode ser ainda mais intimidador ou constrangedor, e, portanto, se condiciona às repartições em espaços exíguos. O bloco conta ainda com um mini auditório, uma minibiblioteca, um ateliê de educação financeira, um ateliê de educação familiar, um ateliê de educação de direitos civis e humanos, um laboratório de informática, um ateliê de orientação de trabalho e renda, um ateliê a céu aberto no centro externo da espiral, banheiros e um edifício mais adentro do terreno, protegido por vedações laterais e cobertura retrátil, de grande abertura frontal e com piso em gramado com declive de 8,33%, sendo este um palco aberto de caráter multiuso, tanto palco quanto gramado. Em diálogo e complemento, o eixo de “gestão” e “assistência” fica em um bloco separado do eixo expositivo, em preservação às pessoas que irão ao equipamento em busca pontualmente de atendimento, garantindo minimamente a privacidade, segurança e incitando estas pessoas, paralelamente, a frequentar os espaços de empoderamento, e não somente ao atendimento da urgência corrente. Minimizando os casos de assistência pontual e aumentando a chances de um suporte mais amplo e mais eficaz ao longo prazo. Para tanto, o eixo de assistência conta com recepção, acolhimento e triagem, serviço psicossocial, enfermaria, uma DEAM (Delegacia de atendimento à mulher) e uma DECRADI (Delegacia de crimes raciais e delitos de intolerância), juizado especializado em violência doméstica e contra mulheres, defensoria pública, espaço infantil, banheiros, alojamento temporário e um café-comedoria – que inclusive é um dos primeiros espaços de convite ao eixo de empoderamento, podendo ser local de oficinas gastronômicas em horários específicos, e possuindo acesso diferente ao público em geral das pessoas que vão, à princípio, somente para a assistência. E a gestão, que é o corpo administrativo de todo o conjunto, localizada no mesmo bloco que a assistência, no penúltimo pavimento. A gestão é configurada pela direção, coordenação, sala de reunião, sala técnica e de monitoramento, almoxarifado, copa e espaços para os funcionários, com armários, banheiros e vestiários, além de uma sala de descompressão e dormitórios. Embora tenha-se intentado conglomerar em um mesmo espaço os serviços mais essenciais para o atendimento de mulheres e LGBTI+ em situação de vulnerabilidade, o conjunto possui suas limitações, principalmente em questão ao volume

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de pessoas que se consegue atender, apesar de um tanto proposital – tendo em vista que será um equipamento que deve ser multiplicado em mais de um ponto da cidade, que se aspira um acolhimento humanizado e que ao longo dos anos a necessidade desse tipo de assistência diminua progressivamente – é reconhecido que pode ser uma problemática inicialmente.

diretrizes sob perspectiva de gênero Dialeticamente a toda a lógica processual também foi refletido diretrizes que corroborem para políticas públicas e desenho urbano, paisagístico e arquitetônico mais acolhedores, seguros e inclusivos. Como as ODS da ONU, as diretrizes aqui postas vêm no sentido de fornecer instruções ou indicações para se estabelecer um plano, uma ação para que se mitiguem as problemáticas urbanas em vista as questões de gênero e LGBTI+ e enfatizem maior inclusão desses grupos na urbe. As diretrizes sob perspectivas de gênero, leva em seu título “Gênero”, por ser essa sua principal premissa: promover condição de equidade de gênero no usufruto da urbe. Intencionando responder e sistematizar as necessidades gerais das questões de gênero na busca de igualdade e na humanização das relações urbanas. Considerando que se a demanda fragilizada é minimamente assistida, a população menos fragilizada também terá suas necessidades supridas. Para isso foi traçado dezesseis diretrizes, principalmente para melhoria e ampliação da prática peatonal de mulheres e minorias, como comunidades LGBTI+, por essa frente ser entendida como uma das principais dinâmicas do tecido urbano a promover o direito a cidade numa atuação prática. Os grupos de diretrizes (GD) estão organizadas em: mobilidade, infraestrutura e estrutura, equipamentos, identitárias e integração. E tomando como frente umas das diretivas de Equipamentos que se debruçou, essencialmente, enquanto desenho. E que para o equipamento também há uma diretriz importantíssima, que caracteriza sua identidade. Para a urbe GD – MOBILIDADE: - Fomentar o alargamento de calçadas existentes, qualificar calçadões existentes, incentivar e prover implantação de calçadas amplas. Através de incentivos fiscais e tributários, como

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também por meio de práticas de conscientização. - Conservar, qualificar e implementar maior número de faixas de pedestres, tomando como partido locais em que os pedestres já fazem a travessia sem a segurança da faixa de pedestres. - Aumentar a frequência da passagem de ônibus (vlp, vlt, trólebus e semelhantes, já existentes) em áreas mais isoladas. - Conservar, qualificar e prover ciclovias e ciclo-faixas (com balizadores) bem como fomentar seu uso. - Qualificar e fomentar o uso de transporte público coletivo, por meio de incentivos tributários aos usuários e desestímulos aos veículos motorizados a partir de tributos, rodízio, instituição de cobranças para estacionar em via pública, redução de espaços para estacionamentos, dentre outros. - Promover uma rede conectada e articulada de diferentes modais de transporte. GD – INFRAESTRUTURA E ESTRUTURA: - Desestimular a edificação de muramentos, por meio de desestímulos fiscais e tributários, como também por meio de práticas de conscientização. - Prover, ampliar e qualificar a rede de iluminação pública, se utilizando de novas tecnologias. - Tornar mais visíveis áreas inseguras, por meio da iluminação pública, fachada ativa, rotas para ônibus, intervenções e incentivos fiscais e tributários. GD – EQUIPAMENTOS: - Implementar, prover e propagar o equipamento, de empoderamento e proteção às mulheres e comunidade lgbti+, em todas as cidades brasileiras. - Garantir que cidades com mais de 1 milhão de habitantes possua 1 equipamento em cada região de centralidade, entendendo ‘região’ como os setores norte, sul, leste, oeste e centro, e que cada uma dessas regiões possua pelo menos uma localidade referência. GD – IDENTITÁRIAS E INTEGRAÇÃO: - Desenvolver e implementar planos, diretrizes e políticas públicas de forma participativa, por meio de políticas afirmativas obrigatória para mulheres, lgbti+, negros e indígenas. - Integrar e articular equipamentos (de desenvolvimento social, lazer, cultura e semelhantes) a partir da promoção de eventos e atendimentos ao público em conjunta parceria. - Conservar, qualificar, promover e incentivar a configuração de espaços livres (área verdes, floridas), através da administra-

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ção local e da população. - Prover a manutenção e limpeza diária das vias públicas, como também promover a conscientização e por meio de desestímulos fiscais e tributários. 6 Proposta projetual arquitetônica deste ensaio, chamado de equipamento de empoderamento.

Para o equipamento6 GD – IDENTITÁRIAS E INTEGRAÇÃO: - Garantir contratação de funcionários capacitados para a demanda, por meio de editais e regulamentação para contratação, com vagas destinadas principalmente às pessoas da comunidade feminina e lgbti+.

conceito O processo conceitual advém especialmente das confluências das referências projetuais, de proposições teóricas e práticas, especialmente das experiências concretas, e certamente da escuta das pessoas, em eventos, palestras, pesquisas e questionários.

Ponderando então a proteção e segurança, a sororidade e inclusão, mudança social, portas abertas, o individual e o coletivo, a integração e o empoderamento os princípios e lógicas a compor o seio do desenho. Se desdobrando da seguinte maneira: a proteção e segurança, constitui a promoção da confiança em

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si mesma(o) e com a comunidade do e no equipamento e para além com a sociedade, como também o próprio equipamento enquanto edifício irradiar tais sensações, sendo nem muito aberto, nem muito fechado. A sororidade e inclusão, o primeiro decorre muito da união e aliança entre as mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum e partindo invariavelmente do não julgamento prévio entre as próprias mulheres, o segundo do entendimento de que é necessário carregar essa ideia com outros grupos que não só as mulheres, mas como também os LGBTI+, com a população periférica, negra, e outras intersecções. A mudança social exprime principalmente a intenção da promoção de resultados práticos efetivos, as atividades, oficinas e cursos promovidos para desenvolver a autonomia econômica, física, emocional, intelectual, é crucial e muito relevante no desenvolvimento do programa. A lógica de portas abertas, retoma o pensamento de que o equipamento deve estar disponível a todas e todos que precisarem dele, independente de qualquer circunstância pessoal e também independente de horário, portas abertas para todos e sempre, sem necessidade de agendamento, sem distinção ou preconceito. O individual e o coletivo como espaços e atividades, tendo espaços e momentos para atividades que atuem individualmente e coletivamente. A integração entre os serviços primordiais para um atendimento qualitativo e inteiro caracteriza-se como elemento fundamental de um projeto como este, via de regra nos dias atuais o que há são equipamentos e serviços cada um em um lugar, concentrar o máximo possível em uma mesma edificação muda completamente a concepção de que o indivíduo tem que se deslocar em busca de cada serviço em uma via crucis. E o empoderamento, a áxis conceitual no traçado de cada linha desse esboço projetual, é a consciência social dos direitos individuais para superar as próprias vulnerabilidades e amplificar as próprias capacidades: a força espiritual, social, política, econômica e mais, a fim de promover mudanças positivas nas situações em que vivem. Para isto que este equipamento se propõe, de modo que ele todo, enquanto construção e enquanto serviços e atividades, fomente no indivíduo o reconhecimento de seu próprio valor.

partido Diante a tantos propósitos, se principia pensar nas formas e materialidades que os compreendam em totalidade. A forma e a plástica utilizadas trabalham entorno da justaposição entre as

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formas rígidas e curvas, de modo que transmitam as sensações que abracem a pluralidade do programa e que ao mesmo tempo lhe confira funcionalidade. Em formas curvas, orgânicas, fluidas se desperta mais as emoções e é comumente atrelado ao lúdico. O fator dinâmico e fluido que as curvas trazem a uma construção é resumida no termo “arquitetura líquida” — evidenciado pelo arquiteto australiano Sidney Owen. Enquanto as formas rígidas, robustas, duras e retilíneas normalmente são relacionadas às instituições, à formalidade. Conferem às construções austeridade, magnitude, padronagem e solidez, além de quanto processo construtivo ser um facilitador na produção das edificações. Logo, a formalidade do serviço prestado pelo equipamento influencia em seu formato, quanto mais próximo das atividades educativas e reflexivas, mais curva e fluido sua configuração.

7 Bubbledeck North America LLC https://www.bbdna.com

Com maior parte dos blocos vedados por policarbonato translúcido branco, um artifício para a permeabilidade, que manipula o dentro e o fora, protege, mas não se fecha por completo, e proporciona um ambiente mais luminoso, devido maior entrada de luz natural. A solução pensada para a vedação se valeu também da resolução estrutural adotada, as Bubbledeck7, com muitas vantagens, é uma estrutura ecologicamente adequada, economicamente viável, socialmente justa e culturalmente

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aceita. Proporcionam vão maiores, layouts flexíveis e facilmente se adaptam a layouts curvos e irregulares, reduz o volume de concreto utilizado assim como o peso próprio da laje, atenua do nível de ruído entre pavimentos, elimina a necessidades de vigas e paredes de apoio, as instalações podem ser embutidas na laje, possuem resistência considerável ao fogo (variando de 60 a 180 minutos), e ainda do ponto de vista de execução permite uma produção acelerada, maximizando e a simplificando o processo. O que conferiu grande versatilidade ao desenho. Assim sendo, a solução desenhada se dispôs em volumes lineares e sinuosos. Em todos os casos, prevalece a possibilidade de nova configuração espacial interna a qualquer momento, devido a utilização de paredes de drywall serem usadas nas divisões internas. No retilíneo acontece o programa de assistência e gestão, e embora a racionalização das formas, tentou-se trazer elementos mais acolhedores e priorizar o fluxo do programa do psicossocial ao burocrático, atentando-se primeiro ao acolhimento e depois para questões que requerem o mínimo de estabilidade psicológica e emocional para serem tratadas. No volume curvilíneo, a peça vital do equipamento, o eixo de empoderamento. Onde acontecerá exposições e oficinas práticas e teóricas, de modo que sejam de caráter instrutivos e preventivo. Tal como os direitos humanos e civis, da mulher e do lgbti+, educação financeira e familiar, atividades que proporcionem a autonomia econômica, entre outros. As primeiras 7 salas, do centro à extremidade, são temáticas em torno das sete artes. Então é através do cinema que uma delas aborda questões das mulheres, através da música que se esmiúça as interpretações, através das artes cênicas que se trabalha a expressão corporal, da arquitetura que se discute a relação de espaço, da pintura que se expõe o se modo de ver e sentir, da literatura que se desdobra-se em uma biblioteca, da escultura que se percebe a forma única que cada um possui. Nestas salas a sensorialidade: tato, visão, audição, olfato, paladar, são experienciadas com potência e frescor. Terreno adentro, em declive de 8,33% um gramado e um palco protegido por cobertura retrátil, local tanto de palestras, discussões, como de saraus e pequenos shows, e de um modesto espaço de respiro, onde exercícios de meditação e yoga (com ou sem instrutor) podem acontecer, sendo este um recinto também de busca por empoderamento espiritual.

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referências projetuais Para auxiliar o desenvolvimento do desenho, considerando toda a reflexão e conceituação posta anteriormente e ainda para além dos estudos da morfologia, da antropologia e da escuta, exten-sas e intensas análises foram feitas as referências conceituais e projetuais, construídas (sobretu-do) ou não. A fim de se obter parâmetros, critérios e realizar comparações que possam contribu-ir nas soluções projetuais. Visto também que, usualmente, instituições com essa finalidade – de centros de referência e delegacias especializadas – são adaptadas em edifícios já existentes, construídos a princípio com outro objetivo. O que pode não contribuir com a segurança e aco-lhimento, e por sua vez incidir sobre o desenvolvimento do empoderamento da comunidade acolhida. E para tanto, é necessário observar, absorver, filtrar e expirar. Seguimos aos exemplos.

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casa da mulher brasileira A casa da mulher brasileira foi idealizada para existir em todas as capitais brasileiras em região central. Na maior parte do estudo bem como para as imagens escolhidas foi tomado como referência a casa já construída em Brasília, GO, Brasil. Com uma área de 3.700m² e horário de funcionamento 24 horas. A CMB é desdobramento do programa mulher sem violência, iniciativa da secretaria de políticas para mulheres (SPM), em 2013. Objetivo: assistência integral e humanizada às mulheres em situação de violência. Arquitetos: Marcelo Pontes (SPM), Valéria Laval (SPM) e Raul Holfiger (Banco do Brasil). Características relevantes que nos interessam: as diretrizes de projeto e o programa de necessidades são profusos, e já foram aplicados na realidade de projeto edificado, o que torna o esboço aqui posto uma proposta factível. Imagens: Arcoweb, 2015

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centro de referência taquaralto O Centro de Referência Taquaralto foi um trabalho final de graduação desenvolvido em 2014 pela Luiza Sponholz Oliveira, para realizar atendimentos de assistência completa e humanizada às mulheres em situação de violência, na localidade de Palmas, TO, Brasil. Desenvolvimento em uma área de 1.115,5m² e pensado para ter funcionamento 24 horas. Objetivo: assistência integral e humanizada às mulheres em situação de violência, a partir do empoderamento da mulher Arquiteta: Luiza Sponholz Oliveira (TFG – Universidade Federal de Tocantins) Características relevantes que nos interessam: a conceituação do projeto, considerando elementos como sororidade, inclusão, integração, empoderamento e portas abertas são muito significativos para o desenvolvimento do projeto deste tipo, o uso de um programa de necessidades contemplando muitas funções destinadas a autonomia da mulher se sobressai diante da conjuntura posta quase sempre, a da assistência pontual, por isso é importante além da assistência garantir a emancipação e independência da comunidade assistida. Imagens: Luiza Sponholz Oliveira, 2014

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women’s opportunity center O Centro de Oportunidade para Mulheres é a idealização para uma arquitetura que se abre um novo mundo de oportunidades, tendo a aldeia vernacular de Ruanda como princípio de organização. É constituído de uma série de pavilhões em escala humana e foi concebido para criar segurança e promover capacitação à comunidade de Kayonza, em Ruanda – o país mais populoso da África –, um território devastado por conflitos como grande parte da nação. Construído em uma área de 2.200 m², funciona 24 horas por dia. Objetivo: empoderamento das mulheres e da comunidade semi-rural, em Ruanda. Arquiteta: Sharon Davis Características relevantes que nos interessam: cenário e contexto aqui é bastante diverso dos demais, uma região semi-rural, o que evocou inúmeras ideias, o programa oferece formas de autonomia economica para mulheres levando fortemente em consideração o território e as cirscunstância existentes, os pavilhões possuem formato muito acertado e conveniente, circular, que favorece a visual entre todas as pessoas ali reunidas. Imagens: Elizabeth Felicella, 2013

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centro referência e defesa diversidade O Centro Referência e Defesa da Diversidade de São Paulo (CRD) surge em 2008, numa iniciativa pioneira em parceria com a Prefeitura da São Paulo, como enfrentamento e melhor compreensão acerca da relação entre a epidemia da AIDS e a exclusão social. É um espaço público destinado ao acolhimento e à inclusão social da população LGBT: lésbicas, gays, homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais. E funciona como porta de entrada da população LGBT que vive, trabalha ou frequenta o centro da cidade, mas também atende usuários das periferias e de toda a região metropolitana. Adaptado em edifício existente com área de 123m², atende de segunda à sexta das 13h às 22h. Objetivo: espaço de desenvolvimento social que visa oferecer acolhida, escuta especializada e atendimento, prioritário, a travestis e transexuais, profissionais do sexo, pessoas vivendo com hiv, lgbti+ que estejam em situação de vulnerabilidade e risco social. a fim de desenvolver ações que possibilitem a inclusão social e a geração de renda, buscando assim o empoderamento, a autonomia e a cidadania da população assistida. Gestão: Grupo Pela Vidda. Características relevantes que nos interessam: apesar das adaptações ao edifício existente e, devido à isto, certa precariedade espaciais e patológicas, o atendimento portas abertas e as atividades são muito bem desenvolvidas e atendem expressiva demanda com qualidade e regularidade. Além de contar com uma equipe capacitada para a comuidade assistida. Imagens: Facebook Oficial do CRD, 2019

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estacion de policia en belén A Estação de Polícia em Belén, Medelín, Colômbia, segundo os próprios autores, foi projetada para “mudar a imagem restritiva, escura e perigosa que tinham estes edifícios em nossas cidades através da história. É fazer dos edifícios públicos e institucionais referências urbanas que dinamizem as centralidades dos bairros, como política pública de construção da cidade.” O edifício conta com uma área construída de 4.098m² distribuídos em 3 níveis que aproveitam a topografia do lote e funciona 24 horas. Objetivo: mudar a imagem que as delegacias têm para a população, tornando uma instituição próxima as pessoas, e transformado um entorno restritivo, escuro e perigoso em local inclusivo, iluminado e seguro. Arquitetura: Empresa de Desenvolvimento Urbano EDU – Medellin ( Arq. John Octavio Ortiz e Arq. Carlos Mario Rodriguez) Características relevantes que nos interessam: a releitura feita dos espaços de delegacia, trouxe maior senso de pertencimento e a edificação como marco visual, tornando-o também espaço para cultura, cidadania e recreação. Imagens: Empresa de Desarrollo Urbano – EDU, 2012

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delegacia de polícia local de mollet del vales A Delegacia local de polícia de Mollet Del Valles, em Carrer Joaquim Mir, Barcelona, Espanha, está localizada em um terreno municipal próximo ao centro da cidade. E faz parte de um projeto unitário conjuntamente com a biblioteca municipal e a urbanização do espaço exterior adjacente. Os edifícios abrem-se ao espaço público ora com fachadas envidraçadas e diáfana, ora com fachadas mais opacas e coloridas, em contraposição à imagem tradicional da delegacia como uma edificação institucional sóbria e hermética. Construído em uma área de 1.900 m², a delegacia funciona 24 horas. Objetivo: contrapor a imagem tradicional da delegacia como uma edificação institucional sóbria e hermética, para um edifício amável e aberto à cidade e à cidadania. trabalha a edificação como parte de um projeto unitário conjuntamente com a biblioteca municipal e a urbanização do espaço exterior adjacente. Arquitetura: Taller 9s Arquitectes. Características relevantes que nos interessam: a materialidade aplicada e iluminação aproveitada no projeto foi de pronto um marco referencial, e seguramente, tornou o edifício mais convidativo e menos apreensivo. Imagens: Adrià Goula, 2017

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museu da memória e dos direitos humanos O Museu da Memória e dos Direitos Humanos, em Santiago, no Chile fora projeto de concurso, com intenção de ser um espaço que abrigasse e transmitisse conhecimento de maneira universal. Um espaço que entregasse possibilidade de criar diferentes atmosferas e marcações físicas ou mentais, e também convidasse a evocar e refletir. O projeto foi construído em área de 10.900 m² e funciona de terça à domingo das 10h às 18h. Objetivo: dedicado a homenagear as vítimas de violações de direitos humanos durante o regime cívico-militar liderado por augusto pinochet entre 1973 e 1990 e um lugar de caráter não-linear no tempo e na incorporação de imagens da parte histórica do chile, um espaço que abriga e transmite conhecimento de maneira universal e imparcial. Arquitetos: Mario Figueroa, Lucas Fehr e Carlos Dias. Características relevantes que nos interessam: a sutileza e simplicidade enquanto forma, luminosidade que adentra o bloco e a inteligibilidade do programa é contemplado com frescor neste monumento-museu. Imagens: Nico Saieh, 2009

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museu da guerra e dos direitos humanos das mulheres O Museu da Guerra e dos Direitos Humanos das Mulheres, localizado em Seul, Coreia do Sul, não possui uma entrada atraente, um lobby, um tipo de balcão de informações ou um grande espaço de exibição. Não. Ele é diminuto, está situado em uma área residencial e a visita se dá através de percurso guiado, onde o monitor conta a história do lugar. E desse modo os visitantes experienciam uma situação incerteza. Objetivo: museu de narrativas com quatro espaços narrativos de memória-lembrança-cura-registro, tênue e exíguo, para experienciar a situação incerta similar, de alguma forma, àquela experienciada pelas mulheres levadas para a guerra como “mulheres de conforto”. Arquitetura: Wise Architecture. Características relevantes que nos interessam: em contraponto ao anterior monumental museu citado, este, trabalhando em escala reduzida aproxima de modo assaz o visitante, para uma troca mais potente, pujante. E essa aproximação desvela-se ainda mais energéticos efeitos na psique humana. Imagens: Kim Doo-Ho 2012

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território A escolha do lugar para implantação do primeiro Centro de referência e defesa do empoderamento – feminino e da diversidade, se deu considerando a localização central do terreno e sua proximidade a equipamentos já existentes como a DEAM e a DECRADI, equipamentos à comunidade LGBTI+, equipamentos culturais, o fácil acesso e outras particularidades da região8, como por exemplo, atualmente, ser onde se registram as mais expressivas ocorrências de violência e intolerância contra a comunidade LGBTI+, uma vez que também é onde se percebe mais a presença dessa população, o que se deve muito pelas estrutura e infraestrutura já supracitadas, como também a impressão de que sendo a região bem servida de tais equipamentos logo ela é localidade, em suma, de pessoas não periféricas, mas sim abastadas, bem instruídas, aculturadas, que em tese se utilizam de argumentos que de força bruta, portanto é território de mais seguridade. Para além, a centralidade é usada aqui como artifício para dar visibilidade ao próprio projeto de espaço de empoderamento e que esta centralidade e proximidade contribua com a integração do equipamento com outros serviços de forma rápida e eficaz. Lembrando que o que se idealiza é que estes centros de referência sejam implementados e pulverizados em regiões centrais, a princípio, devido ao suporte um tanto mais qualitativo que a região pode oferecer, mas que sejam estudados e desenvolvidos centros em todos municípios do país e até mais de um equipamento por município quanto este for de grande densidade populacional. Com o intuito de ser um modelo a ser explorado nos próximos Centros de referência e defesa do empoderamento, no que diz respeito não somente ao equipamento em si e seus serviços prestados, mas também no que diz respeito à integração deste equipamento com outros existentes pela cidade, enfatizando assim a importância da existência de infraestrutura para o bom funcionamento do equipamento, bem como da sua integração com os demais equipamentos. De modo que ao se implantar um centro de referência e defesa do empoderamento em outras localidades também se implemente aparatos de estrutura e infraestrutura urbana. Em vista disso, portanto, o terreno escolhido para o ensaio deste esboço está localizado na Avenida Rio Branco, com a Rua dos Gusmões e a Rua Vitória, no distrito da cidade de São Paulo. Em uma zona de centralidade (ZC), com taxa de ocupação

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8 região dotada de infreestrutura urbana, serviços, comércios, rede de saúde e ensino, etc.


de 0,70 e coeficiente de aproveitamento mínimo de 0,3, básico de 1,0 e máximo de 2,0, e um gabarito (de altura máxima) de 48m. Recuo frontal de no mínimo 5m. Taxa de permeabilidade de 0,15. Além das considerações legislativas, houve um olhar muito atento quanto às edificações do entorno que por sua vez favorecem a escala humana, uma vez que não são demasiadamente altas e as vias dispõe de larguras razoavelmente brandas. Ainda sobre o lote, é importante mencionar que, ele não cumpre sua função social e está notificado pela prefeitura como “não edificado”, encontra-se na situação de terreno “notificado/impugnação indeferida” e até o momento não possui IPTU progressivo. O que leva, portanto, à proposta projetual para o local, com o propósito também de trazer um uso de modo que se cumpra a função social da propriedade. E aqui vale reforçar, não se trata de uma arquitetura equipamentista, além dos já citados há também a grande diversidade de indivíduos na região, como os imigrantes (que inclusive, ainda precisam se familiarizar aos diversos sistemas e serviços disponíveis), as pessoas vivendo em cortiços ou em ocupações, e os próprios moradores de rua que pouco ou nenhum acesso têm à inúmeros serviços. O conceito portas abertas é também para isto. Decerto que se deve preliminarmente pensar as necessidades do lugar – mas antes de arquitetura, cidadãos, pessoas – contudo, a urgência e imprescindibilidade dessa rede de apoio se faz pertinente em toda a extensão do território nacional.

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Legenda terreno do projeto

leitura equipamentos à comunidade lgbti+ centro de cidadania lgbt centro de cidadania lgbt coordenação de políticas para a diversidade sexual coordenação de políticas para lgbt

leitura mobilidade urbana linha metrô estação metrô linha trem estação trem corredor ônibus terminal ônibus faixa ônibus rede cicloviária ferroviamdc ferroviamdc_

leitura equipamentos culturais outros bibliotecas espaços culturais museus teatro, cinema, casa de show

leitura equipamentos de segurança sui generis delegacia de crimes raciais e delitos de intolerância delegacia de atendimento à mulher

leitura equipamentos de segurança polícia civil polícia militar guarda civil metropolitana

limites administrativos edificações distrito da república município de são paulo municípios de estado são paulo Google Satellite

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lot e área predominantemente comercial e de serviços

blo

cos edifícios lindeiros predominantemente baixos

dis

po

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siç

ão


equipamento Em quase todo o térreo a vedação é feita em concreto armado aparente tratado, enquanto nos demais pavimentos a vedação principal é em policarbonato translúcido alveolar branco, salvo algumas exceção, como circulação vertical exclusiva do alojamento e áreas molhadas. O edifício é envelopado por fachadas ventiladas de pele dupla em policarbonato translúcido alveolar branco, permitindo o ar fluir naturalmente através da cavidade intermediária, atuando como isolamento contra temperaturas extremas, ventos e som, melhorando a eficiência térmica da edificação, tanto para temperaturas altas como baixas. O pé direito de piso a piso é de 3m em todos os pavimentos, exceto o pavimento do Café, que é de 4m, proporcionando satisfatória entrada de ar e de luz.

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avenida rio branco


situação

rua dos gusmões

rua santa efigênia

rua vitória

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setorização Assistência - tons de amarelo Gestão - tons de azul Empoderamento - tons de rosa Pavimento térreo - nível 0.00m Recepção, acolhimento e triagem Enfermaria Deam Decradi Pavimento 1 - nível 3.00m Assistência Social Psicólogas(os) Deam Decradi Pavimento 2 - nível 6.00m Brinquedoteca Gestão Descompressão funcionários Juizado especializado Defensoria pública Procuradoria pública Pavimento 3 - nível 9.00m Cozinha do café Despensas Depósito de limpeza compartilhado Copa do Alojamento Descompressão Alojamento Alojamento Pavimento 4 - nível 8.00m Café

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programa AssistĂŞncia - tons de amarelo GestĂŁo - tons de azul Empoderamento - tons de rosa/vermelho

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Ambientes 0. circulação adjacente, externa e coberta 180,75m 1. recepção empoderamento 25,30m 2. informática 25,30m 3. orientação trabalho e renda 25,30m 4. educação financeira 25,30m 5. educação familiar 25,30m 6. educação direitos humanos e civis 26,90m 7. banheiros e bebedouros 26,90m 8. o som (música) 26,90m 9. expressão corporal (artes cênicas) 26,90m 10. a cor (pintura) 32,71m 11. volume (escultura) 32,10m 12. técnicas arquitetônicas (arquitetura) 31,23m 13. mini biblioteca (literatura) 30,68m 14. mini auditório (cinema) 30,22m 15. platéia em gramado em declive de 8,33% 210,55m 16. palco 49,00m 17. camarim 29,76m 18. copa 18,91m 19. banheiros comum e pne 4,83m 20. recepção, acolhimento e triagem (geral) 82,84m 21. suporte, soro, curativos 19,17m 22. leito temporário 16,05m

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23. banheiro privativo 4,00m 24. banheiro pne 3,00m


1. recepção empoderamento 25,30m 2. informática 25,30m 3. orientação trabalho e renda 25,30m 4. educação financeira 25,30m

desdobramentos do programa ambientes e áreas

5. educação familiar 25,30m 6. educação direitos humanos e civis 26,90m 7. banheiros e bebedouros 26,90m 8. o som (música) 26,90m

Assistência - tons de amarelo Gestão - tons de azul Empoderamento - tons de rosa

9. expressão corporal (artes cênicas) 26,90m 10. a cor (pintura) 32,71m

térreo

11. volume (escultura) 32,10m 31,23m 12. técnicas arquitetônicas (arquitetura) 31,23m 13. mini biblioteca (literatura) 30,68m 30,68m 30,22m 14. mini auditório (cinema) 30,22m 15. platéia em gramado em declive de 8,33% 210,55m 210,55m 49,00m 16. palco 49,00m 17. camarim 29,76m 29,76m 18,91m 18. copa 18,91m 19. banheiros comum e pne 4,83m 4,83m 82,84m 20. recepção, acolhimento e triagem (geral) 82,84m 21. suporte, soro, curativos 19,17m 19,17m 16,05m 22. leito temporário 16,05m 23. banheiro privativo 4,00m 4,00m 3,00m 24. banheiro pne 3,00m 25. banheiros 9,92m 9,92m 7,75m 26. estoque e preparação de medicamentos 7,75m 27. atendimento médico 14,88m 14,88m 16,64m 28. recepção, acolhimento e triagem (enfermaria) 16,64m 29. recepção (vítima) 10,40m 10,40m 30. espera deam (vítima) 11,05m 11,05m 31. 31. espera espera decradi decradi (vítima) (vítima) 111,05m 1 , 0 5 m 32. atendimento 2. a tendimento iindividual ndividual + registro registro da da ocorrência ocorrência 10,56m 10,56m 3 33. atendimento individual + registro da ocorrência 7,58m 34. sala de audiência 27,15m 35. banheiro pne 2,85m 36. banheiro 8,13m 37. reconhecimento (do agressor pela vítima) 4,78m 38. interrogatório e reconhecimento 10,53m 39. equipamento de proteção/armamento da polícia 4,11m 40. detenção provisória a 4,08m 41. detenção provisória b 4,09m 42. espera agressor 4,54m 43. banheiro pne 2,94m 44. recepção agressor (deam + decradi) 11,20m

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Ambientes 45. atendimento psicológico a 12,22m 46. atendimento assistência social a 12,22m 47. atendimento psicológico b 12,22m 48. atendimento assistência social b 12,22m 49. atendimento psicológico c 12,22m 50. atendimento assistência social c 12,22m 51. atendimento psicológico grupo/familiar 12,22m 52. atendimento psicológico d 8,06m 53. atendimento assistência social d 8,06 m 54. espaço multiuso 8,06m 55. espaço para atendimento em grupo/familiar 17,67m 56. espaço para atendimento em grupo/familiar 17,67m 57. pne 3,00m 58. banheiros 9,92m 59. sala delegada15,35m 60. cartório/escrivão 8,82m 61. comunicação 15,35m 62. sala advogada 12,13m 63. investigação 77,38m 64. banheiro pne 2,85m 65. banheiros 8,13m 66. papiloscopia 17,55m 67. investigação crimes sexuais 13,42m

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desdobramentos do programa ambientes e áreas Assistência - tons de amarelo Gestão - tons de azul Empoderamento - tons de rosa pavimentos 1 e 2

Ambientes 68. brinquedoteca 60,60m 69. coordenação 21,50m 70. direção 10,80m 71. almoxarifado 6,84m 72. sala técnica e monitoramento 25,20m 73. pne 3,00m 74. banheiros 9,92m 75. depósito limpeza 7,20m 76. copa funcionários 36,00m 77. armários funcionários 8,77m 78. espaço de descompressão 21,36m 79. pne 3,45m 80. banheiro 2,73m 81. banheiro 2,73m 82. banheiro 2,73m 83. banheiro 2,73m 84. dormitórios funcionários 44,02m 85. arquivo 8,61m 86. gabinete do juiz 23,58m 87. apoio juiz 12,51m 88. defensoria 16,40m 89. apoio defensoria 17,88m 90. apoio procuradoria 17,88m 91. procuradoria 16,40m

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Ambientes

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92. banheiro do café 11,00m

110. banheiro 2,73m

93. recepção e caixa do café 5,10m

110. quarto 6 - 9,39m

94. café 281,71m

111. banheiro 2,73m

95. cozinha do café 41,36m

111. quarto 9 - 9,39m

96. despensa do café 10,71m

112. banheiro pne 3,61m

97. despensa do alojamento 10,69m

112. quarto 8 pne - 17,01m

98. depósito limpeza 9,00m

113. banheiro 2,73m

99. lavanderia do alojamento 12,33m

113. quarto 11 - 9,39m

100. copa e cozinha do alojamento 20,80m

114. banheiro 2,73m

101. refeitório do alojamento 75,98m

114. quarto 10 - 9,39m

102. espaço leitura 25,16m

115. banheiro 2,73m

103. espaço tv 14,62m

115. quarto 13 - 9,39m

104. banheiro pne 3,45m

116. banheiro 2,73m

104. quarto 1 pne 10,78m

116. quarto 12 - 9,39m

105 banheiro 2,70m

117. banheiro 2,73m

105. quarto 3 - 9,42m

117. quarto 15 - 9,39m

106. banheiro 2,70m

118. banheiro 2,73m

106. quarto 2 - 9,42m

118. quarto 14 - 9,39m

107. banheiro 2,73m

119. banheiro 2,73m

107. quarto 5 - 9,39m

119. quarto 17 - 9,39m

108. banheiro 2,73m

120. banheiro 2,73m

108. quarto 4 - 9,39m

120. quarto 16 - 9,39m

109. banheiro 2,73m

121. banheiro 2,73m

109. quarto 7 - 9,39m

121. quarto 18 - 9,39m


0,80m

desdobramentos do programa ambientes e áreas Assistência - tons de amarelo Gestão - tons de azul Empoderamento - tons de rosa pavimentos 3 e 4

110. banheiro 2,73m 110. quarto 6 - 9,39m 111. banheiro 2,73m 111. quarto 9 - 9,39m 112. banheiro pne 3,61m 112. quarto 8 pne - 17,01m 113. banheiro 2,73m 113. quarto 11 - 9,39m 114. banheiro 2,73m 114. quarto 10 - 9,39m 115. banheiro 2,73m 115. quarto 13 - 9,39m 116. banheiro 2,73m 116. quarto 12 - 9,39m 117. banheiro 2,73m 117. quarto 15 - 9,39m 118. banheiro 2,73m 118. quarto 14 - 9,39m 119. banheiro 2,73m 119. quarto 17 - 9,39m 120. banheiro 2,73m 120. quarto 16 - 9,39m 121. banheiro 2,73m 121. quarto 18 - 9,39m

81


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resolução estrutural e técnicas construtivas Laje Bubbledeck, BD340 (laje 340mm) e BD390 (laje 390mm), menos cargas nas fundações e pirales, não necessita do uso de vigas. Bubble (bolha oca de plástico reciclado) Ø270mm nos vãos de 10m e Ø315mm nos vãos de 12m. Enchimento em concreto e reforços em barra de aço Proteção com verniz antipichação em todas as paredes de concreto, o verniz possui alta durabilidade, alto rendimento, secagem rápida, minimando manutenções, não amarela, mantendo tonalidade original da superfície e é de fácil aplicação Escada e elevador (visão panorâmica) acesso exclusivo ao Café Elevador acesso geral, visão panorâmica Pilares 20cm x 20cm em concreto armado aparente tratado Pilares 30cm x 30cm em concreto armado aparente tratado Estrutura metálica como guarda corpo de piso a piso, revestido com esmalte sintético anticorrosivo Primeira pele de policarbonato translúcido alveolar branco, fixado internamente Segunda pele de policarbonato translúcido alveolar branco, fixado externamente Cobertura bloco Empoderamento em Bubbledeck, revestimento aparente Invólucro externo vazado em estrutura metálica, revestido com esmalte sintético anticorrosivo Invólucro interno em policarbonato translúcido alveolar branco Piso vinílico como revestimento das áreas internas dos edifícios, devido à alta durabilidade, baixa manutenção, resistente à abrasão, termoacústico e hipoalérgico Piso da calçada contínua dentro do lote e transforma seu desenho após atravessar o bloco Empoderamento, trazendo novas nuances com o verde da vegetação e direcionando para o mais fundo do lote Pergolado em policarbonato translúcido alveolar branco Gramado inclinado 8,33% direcionando-se ao Palco aberto, protegido por cobertura retrátil em policarbonato translúcido alveolar branco

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A

B C

E

A

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rua dos gusmĂľes

B C

D E

D

planta pavimento tĂŠrreo - 0.00m 0

2,5

5

10

20

85


A

B C

E

A

86


rua dos gusmĂľes

B C

D E

D

planta pavimento 1 - 0.00m 0

2,5

5

10

20

87


A

B C

E

A

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rua dos gusmĂľes

B C

D E

D

planta pavimento 2 - 0.00m 0

2,5

5

10

20

89


A

B C

E

A

90


rua dos gusmĂľes

B C

D E

D

planta pavimento 3 e 4 - 0.00m 0

2,5

5

10

20

91


A

B C

E

A

92


rua dos gusmĂľes

B C

D E

D

planta cobertura - 0.00m 0

2,5

5

10

20

93


acesso entre a cozinha do café e o café 12.00m 9.00m 8.00m 6.00m 3.00m 0.00m

Corte AA Avenida Rio Branco 94


0

2,5

5

10

20

95


12.00m 9.00m 6.00m 3.00m

0.00m

Corte BB Rua dos GusmĂľes 96


casa de mรกquinas

casa de mรกquinas

97


12.00m 9.00m 6.00m 3.00m

0.00m

Corte CC Rua Vitรณria 98


99


Corte DD Rua Santa EfigĂŞnia 100


12.00m 9.00m 6.00m 3.00m

0.00m

0

2,5

5

10

20

101


Corte EE Transversal ao bloco Empoderamento 102


5.50m 3.50m

4.50m

0.00m

0

2,5

5

10

20

103


Elevação Avenida Rio Branco 104


0 2,5 5

10

20

105


Elevação Rua dos Gusmões 106


0 2,5 5

10

20

107


Elevação Rua Vitória 108


0 2,5 5

10

20

109


Elevação Rua Santa Efigênia 110


0 2,5 5

10

20

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112


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conclusão

Das observações realizadas até então por: instrumentos como o fazer etnográfico, a partir também da relação empírica sob a própria teoria vivida; e da morfologia urbana, elemento expressivo no entendimento e no planejamento das cidades, torna inteligível as relações de dominação-submissão, entre o masculino e o feminino, e ademais, entre os entes que fogem à via de regra desta categorização binária. Nos últimos anos, no qual se têm visto com cada vez mais frequência mobilizações e ajuntamentos de pessoas nas ruas, percebe-se a deficiência e por consequência a luta por políticas públicas que assegurem de todas as formas as segurança, igualdade e integridade física, psicológica, social, econômica e política de todos os cidadãos; e por espaços físicos que igualmente contemplem essas diretrizes, que estimulem as relações sociais e atenuem as diferenças. Da análise feita, entende-se pertinente para os dias correntes, de maneira a tencionar a reflexão por aqueles que contribuem na construção do espaço físico e das políticas públicas, que têm como principal usuário: todo e qualquer ser humano. A produção arquitetônica urbanística necessita deixar de ser somente matéria por si só, pois a urbe não é apenas contemplação, é movimento, transformação, acolhimento, é multicultural, é de todos que perpassam por ela; a concretude, por tanto, têm de permear aqueles que à atravessam e à transcorrem.

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Subsequente a compilação, intentou-se propor diretrizes que possam se desdobrar em políticas públicas que assegurem direitos às estas comunidades como também contribuam para um melhor desenho urbano. Além do desenvolvimento de umas dessas diretrizes em uma proposta projetual, este esboço de centro de referência do empoderamento feminino e da diversidade. Esta última, teve como ponto focal ser estrutura para a construção da conscientização dos diferentes seres que constituem a sociedade, da trajetória das mulheres e dos homens, e de tudo que foi compreendido no eixo etnográfico, principalmente; como também no eixo morfológico, desenvolvendo então uma construção crítica e correta dos fatos, através da educação e atividades culturais e de integração, além de promover por meio destas atividades a autonomia em todas as suas faces, econômica, física, social, política e espiritual. O Centro de referência e defesa do empoderamento: feminino e da diversidade se trata apenas de uma pequena e humilde possibilidade diante tantas outras, que possam receber pessoas sem nenhum tipo de preconceito ou discriminação, inclusive ao se intentar integrar grupos que também têm suas diferenças – como é entre mulheres e LGBTI+ – , para que essas pessoas possam existir e se desenvolver com liberdade e plenitude em todas as escalas possíveis. Entendendo que os estudos, análises, projeções, esboço e todo o trabalho não se finda aqui, mas sim começa.

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referências bibliográficas

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10520: Informação e documentação – Citações em documentos – Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6023: Informação e documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5101: Iluminação pública – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2012. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6492: Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1994. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9077: Saídas de emergência em edifícios. Rio de Janeiro: ABNT, 2001. Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico - IBDU. Direito a cidade: uma visão por gênero. São Paulo, 2017.

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Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico - IBDU. Direito a cidade: uma outra visão de gênero. São Paulo, 2017. Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico - IBDU. Direito a cidade: vivências e olhares de identidade de gênero e diversidade afetiva & sexual. São Paulo, 2017. BORDENAVE, Juan E. D. O que é participação. 8 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. DALLARI, Dalmo de Abreu. O que é participação política. 12 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. SCHÖPKE, Regina. Dicionário Filosófico: conceitos fundamentais. 2 ed. São Paulo. Martins Fontes, 2015. URIARTE, Urpi Montoya. O que é fazer etnografia para os antropólogos. Ponto Urbe Revista do núcleo de antropologia urbana da USP. dez.2012. Artigos. ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

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