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Divertir com o Saber

ODivertir com o Saber é um projeto educativo que tem como públicoalvo as crianças residentes nos empreendimentos sociais do Município de Gaia que frequentam o pré-escolar, 1.º, 2.º e 3.º ciclo do ensino básico. Trata-se de uma iniciativa do Município de Vila Nova de Gaia, promovida pela Unidade de Acão Social da Gaiurb, EM. Tem como objetivo principal proporcionar às crianças espaços alternativos de aprendizagem, com especial incidência na disciplina de matemática, onde quase tod@s as crianças revelam grandes dificuldades de aprendizagem. O Projeto encontra-se em funcionamento em 19 empreendimentos sociais, abrangendo um total de cerca de 200 crianças. Na sua 11.ª edição, mais precisamente, no ano letivo 2016-2017 aliamos o ensino da matemática ao ensino do xadrez, numa parceria com a Academia de Xadrez de Gaia e Escola Profissional de Gaia, o que nos permitiu trabalhar de uma outra forma as diversas competências essenciais ao desenvolvimento de uma criança. O tabuleiro de xadrez desenvolve nas crianças a capacidade de tomar decisões, aumentar a concentração, a autocrítica, o raciocínio lógico, a memória, capacidades fundamentais para o desenvolvimento de muitas outras habilidades, que lhes serão muito uteis na Vida. Além da componente formativa, o Projeto envolveu também a componente competitiva deste desporto, uma vez que esta é uma importante fonte de motivação para a aprendizagem. Um número considerável de crianças (mediante a idade e disponibilidade) participaram nos Jogos Juvenis de Gaia 2019, uma iniciativa do Município de Gaia, distinguida no presente ano como Programa Desportivo do Ano de 2019 – Munícipio Amigo do desporto. No presente ano letivo, o projeto estabeleceu uma nova parceria com a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, por forma a levar às crianças um programa de literacia financeira denominado “No Poupar Está o Ganho”. Este foi considerado um dos melhores projetos da Área Metropolitana do Porto, tendo participado no Programa Amplifica e no Fórum de Empreendedorismo Social – AMP 2020. “No Poupar Está o Ganho” tem como objetivo transmitir às crianças e jovens a aquisição de conhecimentos e capacidades para que, no futuro possam tomar decisões acertadas sobre as suas finanças pessoais, além de serem os interlocutores, para em casa com as suas famílias abordarem este tema, tão importante na sociedade atual. A pertinência da promoção e implementação da Educação Financeira para crianças é reconhecida pelo Ministério da Educação, através do Referencial de Educação Financeira, um documento orientador para as diversas atividades desenvolvidas com as nossas crianças e jovens.

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Por: Catarina Ciríaco Responsável pelo Projeto Divertir com o Saber

Aminha experiência no projeto “Divertir com o Saber – Xadrez” já vem de anos anteriores. Primeiramente, através da Ana Isabel Lopes, que partilhou comigo a sua experiência e que me foi dando a “conhecer” todo este projeto. Seguidamente, pediram-me para fazer algumas substituições de professores que não poderiam estar presentes. Muito a medo, aceitei e lá fui eu. Desta vez, comecei a conhecer, de forma tímida, o “terreno”. Sempre que realizava uma substituição saia de lá satisfeita. Satisfeita por ter, de alguma forma, ajudado as crianças/jovens a evoluir não só no xadrez como também como pessoas. Se calhar é muita pretensão, mas acredito que isso também faça parte do projeto. Após esse “ano de estágio”, passei a fazer parte integrante do “Divertir com o Saber”. Se no ano anterior fiquei com receio, este ano, fiquei aterrorizada. Tudo começou no dia 20 de outubro. As únicas informações que tinha do Empreendimento eram que os meninos que faziam parte deste projeto tinham idades compreendidas entre os 6-11 anos e que eram extremamente simpáticos. E assim lá fui eu. Devo dizer que após cinco minutos de estar com eles é como já fizesse parte do projeto desde o início (e se calhar, até fazia!). A partir desse dia, o Cláudio, a Cláudia, o David, o Filipe e a Maribel começaram a fazer parte da minha vida. Infelizmente, o meu “trabalho” chegou mais cedo ao fim. O projeto tinha como data final 15 de junho, mas devido ao grande absentismo por parte dos alunos, existiu a necessidade de terminar o projeto, neste Empreendimento, mais cedo. Foi com grande tristeza que vi o final desta minha “aventura” no Empreendimento Francisco Pinto Balsemão. Este sentimento devese ao facto não só pela minha contribuição ter terminado, mas a contribuição de todos que fazem parte deste projeto e pelo facto de um grupo de pessoas ter-se unido com o intuito de proporcionar atividades, interdisciplinares e de carater lúdico, que de outra forma muito dificilmente estas crianças/ jovens teriam acesso. De qualquer forma, o tempo que passei em Sermonde (7 meses) foi um tempo de aprendizagens. Não só para os alunos como para mim. E por isso, agradeço a oportunidade de ter feito parte desta (grande) equipa.

Por: Ana Marques

Aparticipação neste projeto tem sido um enorme privilégio pois permitenos conviver, divertir e também aprender uns com os outros, tudo isto conciliado com a aprendizagem de Xadrez. Desde que participo no projeto, há três anos, que tenho enriquecido como pessoa por partilhar experiências com todos os que estão inscritos nos empreendimentos, Ruy de Carvalho e Quinta de Monte Grande. Apesar de ser o terceiro ano que participo, posso dizer que não houve um único fim-de-semana que tenha sido igual ao anterior. Os dois empreendimentos a que vou não podiam ser mais heterogéneos, um, Ruy de Carvalho, é um empreendimento com poucos elementos, encontra-se num local mais pequeno e existe uma maior familiaridade entre todos. O outro, Quinta de Monte Grande, possui mais elementos, situa-se num local maior e apesar de todos se entenderem bem, não existe a mesma cumplicidade. Ora, se este texto é sobre o projeto “Divertir com o saber”, faz todo o sentido que fale nos atores principais, assim, no empreendimento, Ruy de Carvalho, temos a Ana e o Nélson, irmãos gémeos mas muito diferentes, a Ana mais tímida, o Nélson mais extrovertido, em comum, o gostarem de jogar Xadrez. O João, consta-se exímio jogador de Badminton e também um bom jogador de Xadrez. O Pedro e a Inês, também irmãos, mas ele já um elemento da “casa” pois já frequenta o projeto há anos e como tal, com um grande à vontade e desenvoltura, enquanto a irmã, começou este ano a frequentar o Xadrez e fruto da sua tenra idade ainda se encontra a dar os primeiros passos. A Iara, muito boa aluna e muito atenta e perspicaz e a Naiara, muito alegre e interessada. Por último, este empreendimento recebeu o mês passado dois elementos, o Lucas, bastante responsável e o seu irmão, Gabriel, muito brincalhão. Já o empreendimento Quinta do Monte Grande tem os irmãos, Adelino e Adriano com uma energia quase inesgotável, o Afonso, muito alegre e os irmãos, André, um bom jogador de Xadrez, Andreia, muito alegre e a Lara, sempre muito bem disposta e educada. O Diego, muito responsável, sempre preocupado em arrumar antes de ir embora. Os irmãos Gabriel, muito brincalhão e Rafael, um excelente jogador de Xadrez. Por último, o Guilherme, muito responsável e educado. Por tudo isto já referido, podemos dizer que existe algo que é comum, a boa disposição, a alegria e a vontade de querer saber sempre mais, tão típica das crianças e isso acaba por ser algo que nos desarma pela sua simplicidade, relembrando-nos da essência das coisas. Se há algo que este projeto promove são os valores de solidariedade, entreajuda e de partilha que devemos ter enquanto seres humanos, permitindo também uma aprendizagem de Xadrez benéfica para a concentração e desenvolvimento cognitivo. Por isso não devemos falar de um projeto que promove a aprendizagem de Xadrez, devemos falar sim, de um projeto que promove o desenvolvimento de todos os que nele participam enquanto pessoas, que vivem numa sociedade e como tal, devem contribuir para um bem comum e simultaneamente possibilita também o desenvolvimento de competências lógico matemáticas, assim como de concentração. Para concluir, devo dizer que apesar de acreditar que todos os intervenientes ganham com esta experiência, atrevo-me a dizer que eu ganhei ainda mais pela possibilidade de poder partilhar um bocadinho do meu dia com estes fantásticos elementos, por isso, só me resta dizer obrigado!

Por: Bruno Marques

Passaram treze anos desde que o Projeto Divertir com o Saber iniciou nos empreendimentos sociais do Município de Vila Nova de Gaia. Nos últimos três anos contou com a parceria da Academia de Xadrez de Gaia para levar aos “miúdos dos bairros” a modalidade desportiva do Xadrez (para além da Matemática [da vida]). Quem me conhece sabe que “miúdos dos bairros” é a minha forma carinhosa de tratar os jovens professores de palmo e meio que têm ensinado bastante à minha pessoa.

“miúdos dos bairros” é a minha forma carinhosa de tratar os jovens professores de palmo e meio que têm ensinado bastante à minha pessoa.”

Este foi o meu terceiro ano no Projeto Divertir com o Saber a levar o Xadrez às “salas de aula” improvisadas em pleno empreendimento social. A verdade é que não são salas de aula. São salas de convívio, de brincadeira, de sorrisos, de birras, de chamadas de atenção, de trocas de experiências, de partilha... são mais salas de estar do que muitas salas de estar de famílias “modernas”. Onde não há telemóveis e a tecnologia não afasta, onde não há rancores e dissabores presentes no mesmo espaço físico, onde no aconchego de cada cadeira não existe distância entre as pessoas que estão perto umas das outras... onde quem ensina é ensinado.

“A verdade é que não são salas de aula. São mais salas de estar do que muitas salas de estar de famílias “modernas”.”

Sendo o meu terceiro ano no projeto, tenho acompanhado o seu desenvolvimento e crescimento. Podia dizer que foi apenas mais um ano sem muito para escrever ou dizer..., mas no meio de tanto sentimento semelhante, todos os trinta e um sábados deste ano letivo foram diferentes. Podia dizer que mais um ano passou e levei o Xadrez a mais de setenta crianças (só os que por mim passaram, sem contar com os dos meus colegas professores). Podia descrever o ano com os mesmos adjetivos do ano passado e até escrever de igual forma. Estaria tudo bem, não fosse este ano ser diferente dos outros.

“Podia dizer que foi apenas mais um ano sem muito para escrever ou dizer... Estaria tudo bem, não fosse este ano ser diferente dos outros.”

No final deste ano tenho cinco alunos que estão federados na modalidade de Xadrez. Cinco miúdos de bairro

que aprenderam e desenvolveram as suas capacidades no decorrer destes três anos, dois anos, ou mesmo este ano. Cinco crianças que veem no Xadrez algo mais do que mover peças. Eles são o verdadeiro motivo deste artigo. As crianças.

“Eles são o verdadeiro motivo deste artigo. As crianças.”

Quando se semeia, não se colhe o fruto de imediato. É tão verdade que é a frase perfeita para este pequeno (ou grande) texto. Faz três anos que a semente começou a ser plantada nas crianças que brincam na rua. Faz três anos que as mesmas crianças que brincam na rua começaram a divulgar o Xadrez pelos seus colegas. Outras crianças que jogam à bola na rua com latas e garrafas (quem nunca...). Faz três anos que o projeto tem crescido, não em termos de dimensão em número, mas na dimensão do afeto que entrega a cada simples e genuíno miúdo de bairro que o projeto abraça.

“Quando se semeia, não se colhe o fruto de imediato. Faz três anos que a semente começou a ser plantada nas crianças que brincam na rua.”

Defendo que o Xadrez é um jogo de decisões. Assim como a vida. A vida está repleta de pontos de tomada de decisão. Assim como na vida, no Xadrez não existem boas ou más decisões, apenas existem consequências. Resta aos jogadores saberem lidar e aceitar essas consequências. Não são as consequências das jogadas que temos de enfrentar que nos definem, mas sim a forma como reagimos a elas. Este é o pensamento que tento, desde há três anos para cá, transmitir às crianças (tantas vezes mais adultas que um adulto) que por mim passam.

“Não são as consequências das jogadas que temos de enfrentar que nos definem, mas sim a forma como reagimos a elas.”

A consequência de levar para o Xadrez o paralelismo com a vida é ter hoje crianças que querem competir na modalidade de Xadrez. É ter hoje miúdos que escolhem mover peças em cima de um tabuleiro em vez de outras opções com diferentes consequências. É ter hoje alunos da modalidade que estudam o jogo e pensam uma jogada mais à frente do que eram capazes ontem. É ter hoje o amanhã presente nos abraços que por mim passam.

“A consequência de levar para o Xadrez o paralelismo com a vida (...) É ter hoje o amanhã presente nos abraços que por mim passam.”

Independentemente de os alunos virem a ser jogadores regulares ou não, uma coisa é garantida, eles começaram com pouco e transformaram o pouco tempo que tinham para aprender Xadrez em muito. Estas crianças sentem-se felizes a jogar um jogo que, não

fosse o Projeto, não saberiam da sua existência e tão pouco jogá-lo. Estes miúdos são grandes, porque não importa de onde vêm, nem o (tão pouco) que têm, eles querem. Eles querem jogar, querem aprender e querem ensinar... e ensinam.

“Estes miúdos são grandes, porque não importa de onde vêm, nem o (tão pouco) que têm, eles querem.”

Este pequeno texto serve para mostrar que o trabalho desenvolvido numa base de afetos e focado nas crianças está realmente apontado para Norte. O Norte é o amanhã e o amanhã são as melhores decisões que estes jovens poderão tomar. O Norte são as melhores consequências que as jogadas destes futuros adultos poderão trazer. O Norte, é acreditar que amanhã podemos realmente (de

verdade) ser melhores do que hoje.

“O Norte é o amanhã e o amanhã são as melhores decisões que estes jovens poderão tomar.”

O Xadrez no Projeto Divertir com o Saber é apenas uma bússola que serve para ajudar a guiar quem a usa a atingir o Norte. Há várias maneiras de o alcançar. Não tenho dúvidas que os nossos meninos e meninas vão, um dia, atingir o Norte da Vida. Espero estar lá para ver e sentir que contribui (um pedacinho de nada) para o sucesso deles.

“Não tenho dúvidas que os nossos meninos e meninas vão, um dia, atingir o Norte da Vida.”

Por: Edgar Taveira

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