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O Xadrez enquanto estratégia

O Xadrez enquanto estratégia de Apoio Tutorial Específico

Julho de 2018 assistiu à publicação de dois decretos-leis com profundos impactos na organização e dinâmicas da Escola enquanto organização educativa, os quais criaram (mais) uma janela de oportunidade para uma inclusão (ou um reforço da presença) do Xadrez no sistema educativo nacional. O primeiro desses normativos legais foi o Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho, o qual “estabelece os princípios e as normas que garantem a inclusão, enquanto processo que visa responder à diversidade das necessidades e potencialidades de todos e de cada um dos alunos, através do aumento da participação nos processos de aprendizagem e na vida da comunidade educativa.” O segundo foi o Decreto-Lei n.º 55/2018. de 6 de julho cujo intento é definido pelo legislador como o de definir “o currículo dos ensinos básico e secundário, os princípios orientadores da sua conceção, operacionalização e avaliação das aprendizagens, de modo a garantir que todos os alunos adquiram os conhecimentos e desenvolvam as capacidades e atitudes que contribuem para alcançar as competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.” Os dois corporizam uma denominada “Autonomia e Flexibilidade Curricular”, com o segundo a dar a liberdade à Escola para uma gestão “até 25% do total da carga horária por ano de escolaridade, no caso das matrizes com organização semanal” possibilitando a introdução do Xadrez como Oferta Complementar de Escola, criando a possibilidade de os alunos terem um tempo semanal na sua carga letiva dedicado à aprendizagem e prática do Xadrez. Com igual importância, o DecretoLei n.º 54/2018 revela-se como um dos normativos legais com maior importância para a inclusão do Xadrez nas escolas publicado nos últimos anos, ao definir as condições de criação e funcionamento das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva. A posterior publicação do Despacho Normativo n.º 10-B/2018, prevê no seu artigo 12.º “a implementação da medida de Apoio Tutorial Específico” o qual “acresce às medidas já implementadas pelas escolas.” O mesmo despacho enquadra a implementação desta medida “no âmbito do funcionamento da Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva (Artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho) ”. No entender da Direção Geral da Educação o Apoio Tutorial Específico constitui-se “como um recurso adicional, visando a diminuição das retenções e do abandono escolar precoce e consequentemente, a promoção do sucesso educativo”, sendo esta a mensagem apresentada aos diretores dos Agrupamentos de Escolas e/ou Escolas Não Agrupadas num encontro de trabalho realizado em 2016. A mesma entidade baliza os objetivos do Apoio Tutorial Específico sendo este um meio para “levar os alunos a definir ativamente objetivos, decidir sobre estratégias apropriadas,

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planear o seu tempo, organizar e priorizar materiais e informação, mudar de abordagem de forma flexível, monitorizar a sua própria aprendizagem e fazer os ajustes necessários em novas situações de aprendizagem.” As competências acima enunciadas são indissociáveis do Xadrez, com este a promover nos seus praticantes o desenvolvimento da “criatividade, concentração, memorização, paciência, disciplina, respeito a adversários, árbitros e leis e isso já é o suficiente para formar um cidadão com o caráter que a sociedade exige e em condições adequadas para ser bem-sucedido na vida” Numa das comunicações apresentadas na 1.a Jornada de Estudos em Matemática, o Xadrez é referenciado como estratégia potenciadora da capacidade de “apreender e aprimorar habilidades mentais, como tomar decisões no momento certo, ter um pensamento crítico acerca dos factos, cálculo mental (habilidade primordial para a [aprendizagem da] matemática), dentre outros valores educacionais.” O Grande Mestre Gary Kasparov tem destacado, ao longo do seu trabalho de fomento da introdução do Xadrez nas escolas, os “comprovados benefícios do Xadrez enquanto ferramenta essencial para a educação dos dias de hoje. O Xadrez melhora a concentração e as capacidades essenciais a um pensamento lógico e estruturado. Este assume-se como uma resposta adaptada a um mundo em constante transformação e onde se exigem respostas criativas para os problemas.” Centrais para o sucesso dos alunos são também as suas competências de controlo dos níveis de ansiedade e de stress, com alguns estudos académicos a colocarem como válida a hipótese de “o decréscimo do desempenho académico dos estudantes poder estar associado ao aumento dos níveis de ansiedade face aos testes.” No contexto do Apoio Tutorial Específico o objetivo de fomentar nos tutorandos a competência de “planear do seu tempo” poderá ser promovida através da introdução do Xadrez e do uso de um relógio de competição (seja no seu modelo mais formal, seja através das aplicações para smartphones,) desenvolvendo neles a capacidade de “tomarem as melhores decisões” num contexto de gestão de tempo. O estabelecer de um paralelismo entre um momento de avaliação (onde o aluno conta apenas com as suas competências e é vital uma correta gestão do tempo para o alcançar de melhores resultados) e uma partida de Xadrez (onde decisões erradas e/ou uma ineficaz gestão do tempo conduz fatalmente à derrota) aproxima esta duas realidades à primeira vista tão distantes. Para a Escola importa também reconhecer a missão do Apoio Tutorial Específico como um espaço de desenvolvimento de competências e não como um “apoio ao estudo e realização de atividades de reforço de aprendizagem” e incorporar a mensagem do Ministro da Educação segundo o qual “o xadrez é uma modalidade importante para a socialização dos mais novos. (…) É um desporto de alta competição, mas também poderá ser um suplemento positivo para que muitos dos nossos jovens alcancem o tão esperado sucesso escolar.” O lance de abertura foi dado pelo Ministério da Educação cabe agora aos diferentes atores conduzir a partida e efetuar xeque-mate ao insucesso escolar, consolidando a presença do Xadrez no contexto educativo.”

Por: Vítor Cardoso

Centurium - Jogos Romanos de Tabuleiro

O Torneio de Jogos Romanos de Tabuleiro, já vai na sua décima edição, e cresce de ano para ano uma vez que tem cativado cada vez mais professores e alunos de diversos agrupamentos de escolas da cidade e sua periferia, até mesmo de outras instituições ou associações (por exemplo, a Escola Profissional de Braga que auxilia na sua organização logística). Sem esquecer o louvável trabalho dos utentes da APPCDM de Braga que todos os anos elaboram com grande profissionalismo e carinho as coroas de louro dos vencefores.

Este projecto, gizado por uma dinâmica e jovem equipa de professores de matemática (Prof. Paulo Morais, Prof.ª Joana Braga Simões, Prof.ª Joana Tinoco e Prof.ª Sónia Coelho) teve o seu início nas escolas dos distritos do Porto e de Braga e paulatinamente expandiu-se a todo o território nacional. Este ano os organizadores estão a contar com a participação de cerca de 1000 alunos, repartidos entre o 1º ciclo até ao secundário, passando pelos alunos da Educação Especial. O objetivo primordial deste evento centra-se na sensibilização da comunidade educativa para os jogos da época romana, como sejam o Seega, o Soldado, o Moinho e o Tábula, os quais curiosamente constituem a base de muitos jogos de tabuleiro atuais. O segredo do êxito desta atividade, de grande valor pedagógicodidáctico, resulta da adesão maciça dos alunos, uma vez que contribui para fomentar a sociabilização e o autocontrole dos educandos, numa óptica de competição saudável entre todos, contribuindo para despertar a curiosidade para os usos e costumes romanos, a par de desenvolver o raciocínio matemático através da utilização de estratégias na antecipação das jogadas e disposição das peças no tabuleiro. No fundo, com a antecipação de alguns anos, os seus promotores já tinham em mente aquilo que hoje em dia constitui o «cavalo de batalha» do sistema educativo português que tem como pedra angular a autonomia e flexibilidade curricular numa óptica inclusiva de todos os discentes. Os professores das mais diversas áreas articulam entre si conhecimento e aprendizagem, o que resulta numa consolidação de aprendizagem mais significativa para os alunos. Na semana da Braga Romana, o Centurium também está presente com o Torneio para as famílias. Estamos perante um projeto que envolve ativamente todos os agentes educativos.

Por: Cláudia Antunes Machado

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