O-lândia - Laerte Ramos

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RAMOS, laerte

JULHO 2023

BRUNO
EXPOSIÇÃO
TEXTO
NOVAES
RAMOS, laerte

Pessoa que em toda coisa que fala, vem primeiro ela. [Andrés - 8 anos]

Criança que cresceu muito. [Camilo, 8 anos]

Casa das Estrelas, Javier Naranjo.

— BOOM —

Torre de comando.

Falamos aqui entre ninhos.

Alguém nos escuta?

É chegada a hora de trocar a pelagem e vestir nossas asas de ferro que nos levarão até outra porção de terra. No caminho, do alto, dá pra ver os desenhos que o estouro grafou. Linhas de histórias num chão feito em andares. Se vê o que nele há repousado por baixo e que nossos olhos perdiam no passar dos dias. Precisamos calibrar e encontrar um lugar seguro de pouso.

casa—de—montanha a-dul-to

Assentar nunca é fácil. A queda, talvez, tenha embaçado tudo aqui. Já não é possível separar o que é pau, pedra e barro. Distinguir as cores lavadas no céu. As coisas parecem nuvens que saltam as noites contando estrelas. O piso é instável. Há pedaços dele que rolam, outros que afundam. Há solo acima e abaixo. Os destroços se misturam a nós e à terra. Vamos ter que aprender outros modos de estar no mundo. Desmontar nossas asas e descobrir do que elas são feitas. Cutucar o que há à nossa volta e conhecer o que vive dentro. Acho que assim poderemos inventar os nossos novos pedaços de chão e começar a habitar um lugar.

— TICTAC —

Miramos o Sul que nos guia no céu, visto em pontos jorrados pelos buracos das águas que abrimos. Escalamos a pele da casa. De lama, nos cobrimos. Escavamos túneis como os dos bichos que comem pau. Cada canal está ligado a outro e a outro e a outro, mais de uma vez. Labirinto de onde se parte e para onde voltamos. Aprendemos a grafar nossas pistas no chão e a encontrar os seus desenhos re etidos no ar e nos espelhos de água e pedra. Nos dias que ressoam, ouvimos os solos das aves em revoada. Nas noites acavernadas, carimbamos nossas vozes em co[u]ro. Nossas tocas são mais ocas que as que sabíamos por lá. É dentro delas que cantamos os ontens em linhas morenas. Para elas, voltamos toda noite, embriagados na pelagem, pelos banhos das gemas. Nossa terra tem contornos como cânticos rotundos. Nos confortamos, mútuos, no umbigo do mundo.

— CATAPLOFT —

— TCHARAM —

É sexta. Aquele dia em que eles vêm nos visitar. Parecem intrigados como os da semana passada. Falam palavras de espanto e surpresa para os que trazem em linha. Dá pra ver alguns de baixa estatura cutucando os buracos. Mais atrás, ouve-se alguém dizendo que parece já ter visto algo assim em outra redondeza. Uma senhora, de casaco verde, sussurra se lembrar de um quadro na sala da casa da avó. Um so sticado diz que descobrimos a fórmula da repetição e que ela é a lei que rege o mundo dos brinquedos. Diz isso enquanto fuma um charuto e conta que aprendeu isso com um tal de Walter. Não o Disney, o Benjamin. Há quem se impressione com os nomes das coisas e as coisas sem nome. Tem gente que tenta adivinhar do que é feito o chão, o céu, o ar. E tem gente que parece não se importar. Aqueles ali do canto bebem bastante e balbuciam alguma coisa sobre folhinhas e almanaques. A turma do outro lado aposta em fazendas, cavalos e casas na lua. De repente, ouve-se, em alto e bom tom, uma voz de trovão vibrar os prêmios e os doces que voltam à sua mente, agora que a infância parece estar sedimentada aqui. Não é muita gente que nota ou sabe o trabalho que tivemos. Como nossos ossos estão comidos de barro. Como ainda ouvimos o zumbido da queda. O quanto demora construir um mundo e habitá-lo. O que é e como se escuta o tempo da terra. Como foi encontrar meios para re-viver em O. Mas talvez essa discrição nos vista como um elogio. É muito habilidoso, de nossa parte, dar ao mundo, sem que isso seja uma importunação, uma coisa que parecia já estar ali. É preciso destreza, curiosidade e carinho para encontrar o que há dentro. Certa habilidade para deixar-se escorregar no desmontar das fundações. Labor para descobrir o truque silencioso das coisas e seu jogo de regras internas. Alguma malícia que, de supetão, derrube a cortina. E um desejo de fazer tudo de novo e de novo.

brunøvaes

junho 2023

/ para a individual de laerte ramos o-lândia

na galeria estação

são paulo - sp

Na impregnação tramada da lã de carneiro tingida, são construídos desenhos que aludem à paisagens e massas de cor, e que podem nos anunciar sobre o que há dentro, acima ou abaixo — presságios de tempos remotos?

[ Omen #013 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023

Omen —

[ Omen #109 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023

Omen —
— Omen —
[ Omen #100 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023

[ Omen #004 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023

Omen —
Omen
[ Omen #038 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023
Omen
[ Omen #089 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023
— Omenvulcanic — [ Omenvulcanic
#007 ] / feltro artesanal / 96 x 147 cm / 2022

É chão que voa no céu. descido das paredes, assume o ar. Escadas, furos, muros brancos se destacam num solo aceso e brilham como um convite para se entrar em algum lugar. Desejo de pouso. É possível tocar os pés?

Top - O - lândia — [ Top-O-lândia #02 ] / pintura a base de água sobre cimento e cerâmica / 17 x 38 x 31 cm / 2023

— Top - O - lândia — [ Top-O-lândia #06 ] / pintura a base de água sobre cimento e cerâmica / 16 x 28 x 40cm / 2023
— Top - O - lândia — [ Top-O-lândia #03 ] / pintura a base de água sobre cimento e cerâmica / 11 x 42 x 26cm / 2023
— Top - O - lândia — [ Top-O-lândia #03 ] / pintura a base de água sobre cimento e cerâmica / 11 x 42 x 26cm / 2023

É preciso sair da montanha para ver a montanha. ou, como é mesmo? Trazer a montanha até você? Aqui do barro se fez seres híbridos que são morros, topos e agarras — as mesmas que escalam a pele que incrustam.

— Retrocremeland — [ Retrocremeland
] / pintura a base de água sobre cerâmica / instalação / 2023
[ detalhe ]

escalar até o topo do monte, de onde se vê quase tudo.

Um caderno com mil seiscentos e cinquenta desenhos, feitos no início dos anos dois mil, na Cité Internationale dês Arts, tem suas formas gravadas em placas de acrílico. Estas deixam sombras em chapas de madeira coloridas como paisagens que parecem não ser daqui. embora referenciem um atrás, há quem diga que simulam lugares de um depois.

ligue—os—pontos / ou /

— Retroland — [ Retroland #0307 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2023

— Retroland — [ Retroland #0036 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2021

— Retroland — [ Retroland #0305 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2021

— Retroland — [ Retroland #0114 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2021

— Retroland — [ Retroland #0099 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2021

— RetroBodyLand — Laerte Ramos by Odkaz [ RetroBodyLand #1443 ] / jóia / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 6 x 9 cm / 2023
— O - lândia — [ vista geral ]
— O - lândia — [ vista geral ]
— O - lândia — [ vista geral ]

RAMOS, laerte

www.laerteramos.com.br

Laerte Ramos (Brasil/São Paulo, SP, 1978) destaca-se no panorama da arte contemporânea brasileira especialmente pela produção em gravura e grandes instalações em cerâmica. Trabalha com diversas linguagens como xilogravura, serigra a, pintura, escultura, tapeçaria, utilizando técnicas e materiais que o desa am como um incansável artista-pesquisador.

Graduado em artes plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP em Bacharel (2001) e Licenciatura (2002), as pesquisas por ele empreendidas têm como principal eixo condutor os meios reprodutivos da imagem, as seriações em diferentes suportes e a relação com as cidades e locais em que são produzidas ou expostas. Desde a segunda metade da década de 1990, Laerte Ramos tem participado de importantes mostras coletivas, e nos últimos vinte e seis anos realizou diversas exposições individuais no Brasil e no exterior.

Participou de programas de residências artística em renomadas instituições na França, Estados Unidos, Suíça, Holanda, Portugal e China, e tem em seu curriculum um recorde único em nosso país com 35 prêmios como artista e também como curador. A frente da produtora Studium Generale e de sua marca de jóias ODKAZ possibilita diversas frentes de troca de saberes entre artistas, designers, agente culturais, e idealização de projetos especiais e de exposições. É fundador e diretor do “Ar: Acervo Rotativo” - um acervo independente de arte contemporânea nas medidas 5x5 cm, conecta artistas de todas as regiões do Brasil. Vive e trabalha em São Paulo.

@laerteramos @acervorotativo @odkaz_

O - lândia ] 2023

RAMOS, laerte

Galeria Estação

Diretores

Vilma Eid e Roberto Eid Philipp

Produção

Rodrigo Casagrande e Luciana Mugayar

Montagem

MIA - Montagem de instalações artísticas

Vendas

Giselli Gumiero

Comunicação

Zion Digital Marketing

Assessoria de imprensa

Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo

Texto

Bruno Novaes

Montagem

Cadu Pimentel

Carlos Eduardo Ferreira

Fotos/Catálogo/Design

Studium Generale

Trilha sonora: O-Lândia

https://open.spotify.com/playlist/2qBrJnGydGIi1hxnpFQ9Ge?si=004165a8ce104e9b

rua Ferreira de Araújo 625 Pinheiros SP 05428001 fone 11 3813 7253 galeriaestação.com.br

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