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— TCHARAM —
É sexta. Aquele dia em que eles vêm nos visitar. Parecem intrigados como os da semana passada. Falam palavras de espanto e surpresa para os que trazem em linha. Dá pra ver alguns de baixa estatura cutucando os buracos. Mais atrás, ouve-se alguém dizendo que parece já ter visto algo assim em outra redondeza. Uma senhora, de casaco verde, sussurra se lembrar de um quadro na sala da casa da avó. Um so sticado diz que descobrimos a fórmula da repetição e que ela é a lei que rege o mundo dos brinquedos. Diz isso enquanto fuma um charuto e conta que aprendeu isso com um tal de Walter. Não o Disney, o Benjamin. Há quem se impressione com os nomes das coisas e as coisas sem nome. Tem gente que tenta adivinhar do que é feito o chão, o céu, o ar. E tem gente que parece não se importar. Aqueles ali do canto bebem bastante e balbuciam alguma coisa sobre folhinhas e almanaques. A turma do outro lado aposta em fazendas, cavalos e casas na lua. De repente, ouve-se, em alto e bom tom, uma voz de trovão vibrar os prêmios e os doces que voltam à sua mente, agora que a infância parece estar sedimentada aqui. Não é muita gente que nota ou sabe o trabalho que tivemos. Como nossos ossos estão comidos de barro. Como ainda ouvimos o zumbido da queda. O quanto demora construir um mundo e habitá-lo. O que é e como se escuta o tempo da terra. Como foi encontrar meios para re-viver em O. Mas talvez essa discrição nos vista como um elogio. É muito habilidoso, de nossa parte, dar ao mundo, sem que isso seja uma importunação, uma coisa que parecia já estar ali. É preciso destreza, curiosidade e carinho para encontrar o que há dentro. Certa habilidade para deixar-se escorregar no desmontar das fundações. Labor para descobrir o truque silencioso das coisas e seu jogo de regras internas. Alguma malícia que, de supetão, derrube a cortina. E um desejo de fazer tudo de novo e de novo.
brunøvaes junho 2023
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/ para a individual de laerte ramos o-lândia na galeria estação são paulo - sp
Na impregnação tramada da lã de carneiro tingida, são construídos desenhos que aludem à paisagens e massas de cor, e que podem nos anunciar sobre o que há dentro, acima ou abaixo — presságios de tempos remotos?
[ Omen #013 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023
[ Omen #109 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023
[ Omen #004 ] / feltro artesanal / 21 x 28 cm / 2023
É chão que voa no céu. descido das paredes, assume o ar. Escadas, furos, muros brancos se destacam num solo aceso e brilham como um convite para se entrar em algum lugar. Desejo de pouso. É possível tocar os pés?
Top - O - lândia — [ Top-O-lândia #02 ] / pintura a base de água sobre cimento e cerâmica / 17 x 38 x 31 cm / 2023 escalar até o topo do monte, de onde se vê quase tudo.
É preciso sair da montanha para ver a montanha. ou, como é mesmo? Trazer a montanha até você? Aqui do barro se fez seres híbridos que são morros, topos e agarras — as mesmas que escalam a pele que incrustam.
Um caderno com mil seiscentos e cinquenta desenhos, feitos no início dos anos dois mil, na Cité Internationale dês Arts, tem suas formas gravadas em placas de acrílico. Estas deixam sombras em chapas de madeira coloridas como paisagens que parecem não ser daqui. embora referenciem um atrás, há quem diga que simulam lugares de um depois.
— Retroland — [ Retroland #0307 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2023
— Retroland — [ Retroland #0036 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2021
— Retroland — [ Retroland #0305 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2021
— Retroland — [ Retroland #0114 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2021
— Retroland — [ Retroland #0099 ] / pintura sobre madeira e gravação a laser sobre acrílico / 17 x 25 cm / 2021