Entrevista Chico de Oliveira 2006

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ZERO HORA > DOMINGO | 3 | DEZEMBRO | 2006

| Entrevista | Francisco de Oliveira | MIRO DE SOUZA, BD – 17/10/02

SOCIÓLOGO E EX-PETISTA FILIADO AO P-SOL

“O balcão de negócios do segundo mandato vai ser maior que o do primeiro” O sociólogo Francisco de Oliveira vê sombras nos próximos quatro anos – para o governo e para a oposição. Fundador do PT e também do P-Sol, Oliveira faz previsões nada alentadoras para siglas de oposição, até mesmo para a sua. O pernambucano de 73 anos, professor aposentado da Universidade de São Paulo, ganhou notoriedade ao lado do economista Celso Furtado como superintendente-substituto da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) até o golpe militar de 1964. Oliveira falou com Zero Hora por telefone na sexta-feira: ➧ vivian.eichler@zerohora.com.br

Zero Hora – Qual é a oposição que Lula vai ter? Francisco de Oliveira – Nenhuma. Como a maioria dos presidentes brasileiros. Salvo Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek na época em que havia a UDN, que apelava aos militares. Dos últimos presidentes, Jango (1961-1964) talvez tenha sido o único realmente com oposição. No resto da história, a oposição ao presidente foi retórica. O presidencialismo brasileiro não encontra oposição no Congresso.

ZH – Que forças restam para se opor ao governo? Oliveira – O PFL é mais oposição que o PSDB, por ser mais conservador. Vamos tirar a prova dos nove com o comportamento dos governadores. Quero ver o que os governadores farão com uma Presidência tão centralizadora. Será oposição retórica, sem efeitos práticos.

Presidente que tem 20 mil cargos para nomear, você acha ZH – E a oposição do PT ao que faz alguma proeza Fernando Henrique Cardoso? Oliveira – Foi só do PT. Era mi- em obter apoio no noria no Congresso, não conseguia Congresso? barrar e ele fez o que quis fazer. Em alguns sentidos foi uma oposição burra, incapaz de formular alternativas. Hoje não existe oposição, apenas um enorme centro que inclui PT, PSDB, PDT, PMDB.

Chico de Oliveira diz que o presidencialismo no Brasil não encontra oposição parede. O P-Sol e os partidos de esquerda têm uma perspectiva sombria. Lula capturou o imaginário popular. Esses partidos precisam aprender com os ursos a hibernar durante um longo tempo.

VIVIAN EICHLER

ZH – O que une o bloco de coalizão no governo? Oliveira – Uma falta completa de ideologia de todos os partidos. E principalmente do PT.

ZH – E o P-Sol? Oliveira – Os pequenos partidos de esquerda não têm força para encostar o governo Lula no canto da

ZH – Como Lula conseguiu formar uma maioria? Oliveira – Não tem proeza nenhuma. Presidente que tem 20 mil cargos para nomear, você acha que

faz alguma proeza em obter apoio no Congresso? ZH – A coalizão institucional favorece a democracia? Oliveira – Os cientistas políticos mais conservadores acham isso a glória. Eu acho um desastre. Prova que, de fato, não há projeto político para o país. É tudo uma geléia cinzenta e amorfa, sem vontade política. Tem cientista social e político que acha que mostra maturidade democrática. O balcão de negócios do segundo mandato vai ser maior que o do primeiro. Nenhum partido desses vai levar contribuição ao governo.


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