| 22 | Economia >
ZERO HORA > DOMINGO | 5 | FEVEREIRO | 2006 FOTOS RONALDO BERNARDI
Experiências em um novo mundo Não foi só o mundo do trabalho, do consumo e das formalidades que se abriu para Eduardo Finamor, morador da Vila Pinto e capitão-porteiro do Sheraton Porto Alegre Hotel. Depois do expediente, ele costumava dar uma volta no Moinhos Shopping – que ocupa os andares inferiores – onde conheceu, numa agência lotérica, Daniela Cristina dos Santos, 24 anos. O que começou com uma boa amizade virou namoro há um ano e cinco meses e vai terminar em casamento nas próximas semanas. Articulado, Eduardo só se embaraça com as palavras ao responder porque vai casar tão cedo: – É um amor muito grande, não tem como explicar coisas assim. A partir das economias feitas com o salário médio de R$ 600, Eduardo construiu um quarto separado na casa dos pais para ele e a futura mulher. Os dois já o ocupam há seis meses, desde que Daniela se desentendeu com a tia com que morava – seus pais morreram. – Ele aparecia quase todo dia, ficamos amigos. A gente tomava um café, ia dar uma volta no Parcão, até que rolou. O que sempre gostei é
A vaidade se manteve intacta, mas o trabalho abriu a Eduardo a possibilidade de aprender novos hábitos, dos quais a gentileza no cotidiano foi um deles que ele me protegia. É o jeito dele com todas as pessoas e é o que eu mais admiro nele – conta a noiva. Com o dinheiro da rescisão da garota, que agora está procurando emprego, os dois compraram um carro – um Gol 89 – usado nos fins de semana para fazer compras, ir ao cinema – ou para o trabalho, mas só quando chove muito. – São os luxos da vida – filosofa Eduardo.
Retorno à escola já está programado Só uma coisa faltou: o casamento na igreja e a festa, que ficaram muito pesados para o tamanho das necessidades do casal e da família, que
Eduardo ajuda. A união civil será feita no cartório, com direito a aliança de ouro, como destaca o rapaz. Outra meta de Eduardo em 2006 será voltar à escola. Depois de estudar até o segundo ano do Ensino Médio, no Instituto de Educação, pretende completar o curso este ano. Há pouco, concluiu o inglês em nível intermediário, que preferiu freqüentar por conta própria apesar de o hotel oferecer aulas do idioma. – Eu precisava aprender rápido, não entendia quando falavam comigo – explica. Não por acaso, Eduardo ilumina os olhos do pai, João Vicente, que ao observar a movimentação matinal do filho não se contém: – Esse menino é o nosso orgulho.
Dona Mara troça do tempo que o rapaz gasta na frente do espelho, principalmente para esculpir um topete cultivado com capricho: – Agora que ele está usando quepe no trabalho, diminuiu um pouco. Vaidoso desde criança, Eduardo não passou a cuidar mais da aparência por trabalhar no hotel. Mas confessa que seu horizonte se ampliou tremendamente: – Eu morava na vila, estudava quase na frente de casa. Quando comecei a trabalhar, meu mundo se abriu. Dos tantos hábitos aprendidos na profissão, o capitão-porteiro destaca a gentileza: – Saio dando bom dia para todo mundo, até no ônibus.
A ascensão A mobilidade social entre a década de 70 e a de 90: 63% dos chefes de família mudaram de status social em relação aos pais 37% permaneceram na mesma situação 80% dos que mudaram subiram na escala social 20% dos que mudaram desceram Fontes: José Pastore, Desigualdade e Mobilidade Social no Brasil/José Pastore e Nelson do Valle Silva, Mobilidade Social no Brasil (1973-96)
Obs.: os autores da pesquisa destacam que é preciso cautela na análise dos dados, por avaliar que a ascensão social pode ser um propulsor da desigualdade: a maioria percorre curtas distâncias e a minoria sobe muito, aprofundando a diferença