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ZERO HORA SÁBADO, 27 DE NOVEMBRO DE 2010
Região Metropolitana
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FOTOS MAURO VIEIRA
Profissionais recuperam detalhes da pintura de ornamentos no teto e, aos poucos, revelam o antigo esplendor do templo de 159 anos
FÉ ALÉM-MAR
Roteiro da fé é plano da Cúria A reforma da Igreja da Conceição está relacionada a um plano ambicioso da Cúria destinado a criar um roteiro de turismo religioso na Capital. Previsto para ser implantado antes da Copa de 2014,o percurso devoto teria como marcos principais a própria Cúria, onde funcionaria um museu de arte sacra e um arquivo público, as igrejas como a da Conceição, Nossa Senhora das Dores e Santa Teresinha, o Santuário Mãe de Deus e a Gruta da Glória,entre outras atrações. A arquidiocese teria até uma pousada própria para oferecer aos turistas, mediante uma reforma da chamada Vila Betânia, espécie de casa para retiros localizada próximo à Gruta da Glória.Festas religiosas como a de Navegantes seriam incluídas no pacote de atrações sacras da Capital. – No momento, estamos fazendo reuniões em busca de parceiros para financiar o projeto – afirma o padre Luís Inácio Ledur, que estima em R$ 14 milhões o custo da iniciativa.
Como ajudar Com desconto no Imposto de Renda
Portugal ajuda igreja gaúcha
1)
Pode-se abater até 6% (pessoa física) do Imposto de Renda devido, no caso de quem usa o formulário completo. Empresas devem fazer a declaração com lucro real.
Restauro em templo à Nossa Senhora da Conceição, na Capital, depende de doações para ficar pronto MARCELO GONZATTO
Uma das mais antigas igrejas da Capital, que sobreviveu ao risco de demolição e ao ataque feroz de cupins, busca doações para concluir uma reforma destinada a deixar no passado as ameaças a sua estrutura de 159 anos. A paróquia Nossa Senhora da Conceição conquistou apoio do governo português para custear parte da obra, mas ainda depende do auxílio dos gaúchos para completar o orçamento e reinaugurar o prédio até maio do ano que vem.
A
manhã, o pároco Luís Inácio Ledur deverá embarcar para Portugal a fim de formalizar a ajuda lusitana ao templo erguido entre 1851 e 1858.Com auxílio do vice-consulado português na Capital, espera assinar convênio para conquistar parte da verba que ainda falta para completar a reforma. Dos cerca de R$ 5 milhões estimados para todo o serviço, ainda faltam cerca de R$ 3,3 milhões. – Ainda não está definido, mas esperamos conseguir algo em torno de 50% do que falta – avalia Ledur. O vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre,Adelino Vera-Cruz Pinto, afirma que o valor de contribuição só será definido durante a viagem, mas ga-
rante o repasse de verba do governo do seu país por meio de uma fundação.Há boas razões para o interesse de alémmar na igreja da Capital. Além de ter sido erguida por descendentes de portugueses,Nossa Senhora da Conceição é a padroeira da nação europeia. – Além de Brasil e Portugal virem estreitando relações nos últimos anos, há um aspecto simbólico muito importante por se tratar de Nossa Senhora da Conceição – diz Pinto. Para os gaúchos, a conclusão da reforma iniciada no ano passado significa a recuperação de uma preciosidade arquitetônica. Segunda igreja mais antiga da cidade, posterior à das Dores, foi construída em refinado estilo
Ação do tempo e ataque de cupins danificaram imagens e estrutura do templo
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Ç 3218-4748
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barroco tardio e mantém, até hoje, as características originais.A renovação, porém, deverá trazer de volta detalhes que se haviam perdido, como a coloração dourada dos inúmeros adornos que embelezam seu interior. Durante as últimas décadas, o templo enfrentou ameaças como uma proposta de demolição durante a construção do túnel viário localizado a seu lado – evitada pela pressão popular – e a ação dos cupins que literalmente corroeram pilares e paredes.Agora, além do auxílio dos portugueses,a paróquia espera contar com a ajuda dos gaúchos para resgatar o antigo vigor. marcelo.gonzatto@zerohora.com.br
A doação deve ser feita por depósito identificado com nome e CPF (ou CNPJ) no Banco do Brasil, com os seguintes dados: agência 3418-5, conta 5419-4.
3)
Com o comprovante de depósito, entre em contato com a secretaria da paróquia para receber o recibo da doação.
4)
Informe a doação ao preencher a declaração do Imposto de Renda.
OUTRAS FORMAS ●
da paróquia – Avenida Independência, 230, Porto Alegre, telefone (51) 3224-0622 ● Carnê de contribuição a ser retirado na igreja
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ZEROHORA.COM ●
Em zerohora.com, assista às imagens que mostram o restauro da Igreja Nossa Senhora da Conceição.
Pagamento direto na secretaria
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CONTAS EM BANCOS: Banco do Brasil: agência 3418-5, conta 5.389-9 Banrisul: agência 0032, conta 06.8569740-9 Bradesco: agência 0324, conta 177360-7 CEF: agência 0451, conta 03.036-9 Sicredi: agência 0116, conta 08063-2
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ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 10 DE FEVEREIRO DE 2011
Região Metropolitana
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Ç 3218-4748
CARLOS EDLER
Como ajudar Com desconto no Imposto de Renda
1)
Pode-se abater até 6% (pessoa física) do Imposto de Renda devido, no caso de quem usa o formulário completo. Empresas devem fazer a declaração com lucro real
2)
A doação deve ser feita por depósito identificado com nome e CPF (ou CNPJ) no Banco do Brasil, com os seguintes dados: agência 3418-5, conta 5419-4
3)
Com o comprovante de depósito, entre em contato com a secretaria da paróquia para receber o recibo da doação
4)
Informe a doação ao preencher a declaração do Imposto de Renda
Erguido entre 1851 e 1858, templo situado na Avenida Independência ainda precisa de R$ 3,3 milhões para conclusão dos trabalhos ●
FÉ RENOVADA Ressurge fachada de igreja
Independência, 230, Porto Alegre, telefone (51) 3224-0622 ●
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rguida entre 1851 e 1858,a construção foi a segunda do gênero na Capital (a mais antiga é a Igreja das Dores, cujas obras começaram
em 1807 e só terminaram um século depois).Já foram concluídas a restauração do altar-mor e das tribunas, da capela-mor, a parte interna da casa paroquial, as torres, parte da fachada e a primeira fase das escavações do salão nobre,no subsolo. Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, o padre Luís Inácio Ledur informa que estão em andamento a recuperação de altares, estátuas em gesso e madeira de mais de 30 santos, reboco e pintura de parte das paredes externas, bancos, assoalho e parte do telhado. Do total de
R$ 5 milhões previstos para todas as intervenções, ainda faltam cerca de R$ 3,3 milhões. Em novembro passado, o padre chegou a viajar a Portugal a convite do vice-cônsul português em Porto Alegre, Adelino Vera-Cruz Pinto, mas a contribuição de R$ 1,7 milhão prometida acabou não sendo confirmada. A alternativa agora é recorrer a contribuições espontâneas de pessoas físicas e jurídicas para concluir a obra e incluir de vez a igreja no roteiro religioso da Capital. A continuidade da reforma já teria
R$ 859 mil previstos pela Lei de Incentivo à Cultura, mas o governo do Estado ainda não liberou a carta de habilitação de captação dos recursos junto a empresários. Com a conclusão da restauração da parede junto às escadarias da Rua da Conceição, prevista para ocorrer nos próximos meses, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição tentará autorização do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Cultural (Compahc) para instalar uma grade a 1m80cm de distância da igreja, para coibir a ação de pichadores.
Carnê de contribuição a ser retirado na igreja
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Informações adicionais podem ser obtidas pelo site www.igrejaconceicao.org.br
Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Capital, atinge nova fase da restauração iniciada em 2009 Por trás de tapumes, começa a ressurgir o segundo mais antigo templo religioso de Porto Alegre, na Avenida Independência. Em obras desde agosto de 2009, a Igreja Nossa Senhora da Conceição já tem parte da fachada recuperada, mas ainda precisa de R$ 3,3 milhões para a conclusão dos trabalhos.
OUTRAS FORMAS Pagamento direto na secretaria da paróquia – Avenida
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CONTAS EM BANCOS Banco do Brasil: agência 3418-5, conta 5.389-9
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Banrisul: agência 0032, conta 06.8569740-9
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Bradesco: agência 0324, conta 177360-7
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CEF: agência 0451, conta 03.036-9 Sicredi: agência 0116, conta 08063-2
LIMPEZA EM CANOAS
Camarotes esgotados IVO GONÇALVES, DIVULGAÇÃO PMPA
Prefeitura fecha o cerco a sujeira O leilão de camarotes para o Carnaval 2011 de Porto Alegre foi realizado na noite de ontem na Usina do Gasômetro. Todos os 28 camarotes e as 40 frisas – menores e sem cobertura – foram vendidos. O preço médio dos camarotes foi de R$ 5 mil, enquanto os valores pagos pelas frisas variaram entre R$ 1,7 mil e R$ 2,7 mil. Cobertos e com vista panorâmica, os camarotes acomodam até 15 pessoas. No leilão, o lance mínimo foi de R$ 600. Nas frisas cabem
oito pessoas. O lance mínimo foi de R$ 300. A venda de ingressos para os desfiles do Carnaval 2011 de Porto Alegre ocorrerá das 8h às 17h de segunda e terça-feira, no segundo andar da Usina do Gasômetro. O preço do ingresso individual é de R$ 10 para os desfiles do Grupo Especial (4 e 5 de março) e para o Desfile das Campeãs (12 de março).O Desfile do Grupo A, no dia 6, será gratuito. Serão colocados à venda 8,6 mil ingressos para cada uma das três noites.
Leia amanhã,no + CANOAS Canoas,como a prefeitura pretende apertar o cerco para que terrenos baldios da cidade sejam cercados. Confira também as datas de início das aulas na rede particular. A maioria retoma o ano letivo em 21 de fevereiro.Veja também quem são moradores de Canoas que integram a equipe de convocados para a seleção gaúcha de futsal na categoria sub-17. O + Canoas circula às sextasfeiras junto a edições do Diário Gaúcho e de Zero Hora.
Geral
ZERO HORA QUARTA-FEIRA, 30 DE MARÇO DE 2011
O DINHEIRO SUMIU
ENTREVISTA
Investigado suposto golpe contra a Igreja Um suposto golpe contra a Arquidiocese da Igreja Católica de Porto Alegre está mobilizando o governo de Portugal, que até amanhã envia um emissário para tentar esclarecer o sumiço de R$ 2,5 milhões destinados à restauração de duas paróquias. Representando o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Vitor Sereno vai comandar uma inspeção diplomática para apurar o envolvimento do vice-cônsul de Portugal na Capital, Adelino Vera Cruz Pinto, no caso. O diplomata teria recebido o dinheiro da Arquidiocese como contrapartida às obras e deveria devolvê-lo até 31 de janeiro, o que não ocorreu.
U
m projeto do governo português contemplaria a reforma das paróquias Nossa Senhora da Conceição,
na Capital, e do Senhor Bom Jesus, em Triunfo. Portugal destinaria R$ 12 milhões.A Arquidiocese não recebeu a verba e não sabe onde foi parar os R$ 2,5 milhões depositados na conta bancária do vice-cônsul. O caso começou a ser investigado pela polícia em 11 de março. Ao se certificar que o vice-cônsul tem imunidade consular,o delegado Paulo Cezar Jardim remeteu a documentação para o Ministério das Relações Exteriores. Jardim acredita estar diante de uma suspeita de estelionato: As tratativas começaram em junho, quando o padre Luís Inácio Ledur, pároco da Igreja Nossa Senhora da Conceição, protocolou um pedido de auxílio ao consulado para recuperar os templos. Meses depois, o vice-cônsul teria confirmado que uma ONG da Bélgica, ligada ao governo português,intermediaria o repasse. Em dezembro, Ledur e outros dois religiosos, acompanhados do vice-cônsul, foram a Lisboa. Encon-
Padre Leandro Padilha, coordenador da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Porto Alegre
“Não sabemos onde foi parar o dinheiro” Representando a Arquidiocese de Porto Alegre, o padre Leandro Padilha falou sobre o episódio por telefone a Zero Hora na tarde de ontem. Leia trechos da conversa.
Arquidiocese busca R$ 2,5 milhões repassados a vice-cônsul português JOSÉ LUÍS COSTA
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traram-se com uma mulher que se apresentou como Teresa Falcão e Cunha. Ela seria diretora da ONG e marcou a reunião para a sala de uma igreja, alegando não ter escritório em Portugal. A mulher disse que a Arquidiocese teria de depositar a contrapartida em uma conta em banco na Europa. – Como a Arquidiocese é impedida por lei de remeter dinheiro ao Exterior, o vice-cônsul ofereceu a conta corrente dele – afirma o padre Ledur. No final de dezembro, a arquidiocese fez dois depósitos na conta de Adelino somando R$ 2,5 milhões, e lavrou escrituras em tabelionatos,nas quais ficou acertado que o dinheiro seria devolvido por Adelino quando da remessa dos R$ 12 milhões.Após inúmeros contatos, a Arquidiocese foi informada que o vice-cônsul, que permanece na Capital, não tinha mais o dinheiro. joseluis.costa@zerohora.com.br
Zero Hora – A Arquidiocese vai recuperar os R$ 2,5 milhões? Padre Leandro Padilha – Como estamos tratando com o vicecônsul de Portugal e levando em conta as boas relações com o Brasil, acredito que tudo vai ser resolvido. Na sexta-feira, a embaixada de Portugal mandou dois representantes para conversar com dom Dadeus (Grings, arcebispo de Porto Alegre). Ontem à noite (segundafeira), o vice-cônsul nos ligou para dizer que até 11 de abril o dinheiro será devolvido.
REPRODUÇÃO
CARLOS EDLER, BD, 28/01/2011
ZH – Os R$ 2,5 milhões foram arrecadações de fiéis? Padre Leandro – São investimentos da Arquidiocese. É de praxe em projetos culturais que a entidade beneficiada entre com uma parte do recurso para garantir a execução do projeto. É aberta uma conta especial aqui para essa finalidade. Mas como o processo já estava em andamento e em um voto de confiança, para agilizar o recebimento da verba, foi depositado na conta do vice-cônsul.Agora não sabemos onde foi parar o dinheiro.
ZH – Como o senhor avalia a conduta do vice-cônsul em movimentar o dinheiro que foi depositado na conta dele? Padre Leandro – Até agora, ele não disse o motivo da movimentação. A postura da Arquidiocese é de acreditar na pessoa, o tempo todo ele falava em nome do governo de Portugal. Hoje, se sabe, pelos representantes da embaixada, que ele não teria autorização para isso. ZH – O fato de fazer um repasse antecipado de R$ 2,5 milhões não lhe pareceu estranho? Padre Leandro – O projeto teria sido aprovado em Portugal, havia necessidade de abrir uma conta urgente e se achou mais viável usar a conta do vice-cônsul. Segundo o contrato inicial, até 31 de janeiro, ou viriam os R$ 12 milhões ou seriam devolvidos os R$ 2,5 milhões. ZH – Houve ingenuidade? Padre Leandro – Houve confiança, pelo cargo dele.Todo o tempo ele apresentava a possibilidade de o governo português participar do projeto.
Contraponto O que diz Amadeu Weinmann, advogado do vice-cônsul
RONALDO BERNARDI
Diplomata português teria emitido cheque como garantia na reforma da Nossa Senhora da Conceição
Dizer que meu cliente fez mal uso de dinheiro da Igreja Católica é uma afirmação grave que pode resultar em processo na Justiça. O vice-cônsul fez um favor para o padre, ajudando em obter recursos de uma ONG para a restauração. Foram para Portugal, mas Adelino não participou das negociações. O padre é quem se reuniu com a diretora da ONG. A pedido do padre Ledur, Adelino emprestou
sua conta corrente para depositar o dinheiro referente à participação da Igreja no projeto. Depois, meu cliente entregou o dinheiro para a diretora da ONG em Portugal. A ONG é que doaria o dinheiro, o governo de Portugal nada tem a ver com isso. Pelo que sei, o recurso para a restauração das igrejas será remetido. Atrasou porque foi feito um pedido, para a Paróquia Conceição, e, depois, para a de Triunfo.
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Geral
ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 31 DE MARÇO DE 2011
HOSTILIDADE NO SUL
VERBA DA IGREJA
Denúncias envolvendo PMs geram surpresa em Jaguarão Policiais são investigados por supostas agressões e prática de racismo durante abordagem a jovem Jaguarão CARLOS ETCHICHURY
As denúncias de racismo envolvendo um estudante baiano que estuda na Universidade Federal do Pampa (Unipampa) se tornaram o principal assunto das ruas de Jaguarão. Nos bares, rodas de conversas e até mesmo em enquetes de emissoras de rádio, a polêmica é a mesma: os quatro PMs indiciados por agressões a Helder Santos Souza, 25 anos, cometeram ato de racismo ao abordar um grupo integrado pelo universitário. O estudante reclama que depois que fez a queixa começou a receber cartas anônimas de supostos PMs, ameaçando-o de morte.
A
denúncia de Souza abalou os jaguarenses, ciosos de sua fama hospitaleira. Mesmo quem tem tradição de militância nos movimentos sociais, como a vereadora Thiara Gimenez Oliveira (PT), colega de Souza no curso de História, questiona os reais riscos enfrentados pelo estudante. – Abordagens truculentas ocorrem em todo Brasil. Não é algo específico da fronteira. Ele está vendendo uma imagem de Jaguarão que não corresponde com a verdade – opina Thiara.
Incomodada com a dimensão que o caso tomou a promotora de Justiça Cláudia Rodrigues Pegoraro reproduz o que ouve na comunidade. – As pessoas dizem que ele quer transferência de volta à cidade dele,na Bahia – comenta Claudia. Amigo de infância de Helder,Raniel Dourado, 22 anos, que morava com o jovem e outros dois estudantes, questiona essa versão. – Ele não queria voltar para a Bahia. Souza faltou à primeira audiência do processo número 055/21100003313, que tramita na Justiça Especial Criminal da comarca de Jaguarão. Para a promotora,a falta indica desinteresse. – Se ele estivesse tão interessado neste processo, não deixaria de comparecer à audiência – diz. Natural de Feira de Santana (BA), Souza chegou a Jaguarão em março do ano passado.Ele e Raniel Dourado,seu amigo de infância,desembarcaram no município de 27,9 mil habitantes após percorrerem os 3,3 mil quilômetros da Bahia até a histórica Ponte Mauá. – Como ele não era daqui, a comunidade ajudava com roupas e comida – conta o vereador Oberte da Silva Paiva (PT), morador do bairro Germano, o mesmo que Souza escolheu. Idealista e articulado, conseguiu estágio na administração petista do prefeito Claudio Martins – negro e de origem humilde como ele.Na Secreta-
ria de Cidadania e Direitos Humanos, realizava projetos sociais com jovens de periferia e com presidiários. – Ele discutia a questão do racismo, da valorização humana e das desigualdades sociais – detalha o secretário MarceloVictória. A relação do jovem a comunidade começou a se alterar na madrugada do dia 6 de fevereiro. Ao término do baile municipal, ao ver quatro jovens sendo abordados de forma supostamente truculenta pela Brigada Militar – dois conhecidos dos policiais por envolvimentos com pequenos delitos –, Souza discutiu com soldados. Dos policiais,segundo ele, recebeu um tratamento racista: – Olha para parede,negrão.
Abordagem errada, na hora errada, à pessoa errada Quem conhece Souza sabe que jamais se calaria diante da ofensa.Quem conhece um dos quatro policiais envolvidos na abordagem, que tem no currículo duas ocorrências por abuso de autoridade, sabe que não aceitaria resmungos. Souza recebeu golpes de cassetete na região lombar e no braço esquerdo. Estava armada a confusão. No dia seguinte, ele foi a uma rádio e tornou público o episódio. Souza desconhecia, no entanto, o fato de a BM estar envolvida numa
disputa interna.Desde setembro,cerca de 30 missivas anônimas denunciando supostas irregularidades ocorridas sob o comando do major José Antônio Ferreira chegaram ao conhecimento da comando regional, em Pelotas. Elas motivaram a abertura de cinco procedimentos investigatórios. O aparecimento dos bilhetes coincide com a punição aplicada por Ferreira a dois soldados que atuavam no ramo do entretenimento com suas funções na corporação. Quando as denúncias de Souza tornaram-se públicas, duas cartas, também apócrifas, foram remetidas a ele. Uma delas, em linguagem agressiva e português sofrível, o ameaçava e exigia a sua saída da cidade. Temendo pela sua segurança,Souza consultou familiares na Bahia, ouviu militantes do movimento negro, recorreu a imprensa nacional e decidiu deixar Jaguarão. Para um jovem policial ouvido por Zero Hora, o episódio pode ser resumido da seguinte forma: – Foi uma abordagem errada,à pessoa errada, no momento errado. Mas duvido que exista perseguição. Até agora, quatro PMs foram indiciados por lesões corporais, abuso de autoridade e injúria. O autor das cartas,contudo,permanece oculto. carlos.etchichury@zerohora.com.br
Fogo mata três crianças Especial EDUARDO TORRES
Não sobrou nada da casa simples, de madeira, de uma família da zona rural de Osório. Tudo foi destruído por um incêndio na noite de terça-feira. Fosse só a perda material, o casal Tânia Regina Severo e Antônio Borges superaria. Mas o fogo levou a vida dos três filhos mais novos, que haviam ficado em casa enquanto o casal buscava a filha mais velha na escola.
A
pequena Larissa Borges, quatro anos, nem teve tempo de reação, deitada na cama dos pais.Gabriel,sete anos, e Yuri, de 13 anos, talvez já encurralados pelo fogo, morreram abraçados no banheiro. – Tentei me meter no fogo,mas não dava para fazer nada – diz o irmão, Jardel Henrique Borges,15 anos. Ele estava com os pais quando foram à escola da irmã.
O incêndio na casa da Rua Dom Manoel, localidade de Várzea do Padre, começou pouco depois das 22h. Minutos antes,as três crianças haviam saído da casa da avó – no mesmo terreno – onde esperavam a volta dos pais para dormir. – De repente, a luz acendeu e apagou três vezes,até apagar de vez na casa da avó deles. Então ouvimos estouros que pareciam tiros – conta uma prima,Joice da Silva,38 anos. O marido dela correu para a rua e já deparou com a casa ao lado em chamas.Ainda empurrou a porta que só Residência de madeira foi consumida em cerca de 15 minutos era segura por um sofá encostado nela,mas não havia como salvá-los. Ontem, os peritos analisaram o que restou da casa.A principal suspeita para o incêndio é uma sobrecarga elétrica.A iluminação era garantida por um fio simples e todos os eletrodomésticos eram ligados em uma mesma fonte de luz. Com o forte vento naquela região, a propagação do fogo na casa de madeira foi rápida.A destruição aconteOs irmãos Gabriel, Larissa e Yuri foram encurralados pelo fogo ceu em cerca de 15 minutos.
KADU KRAEMER, ESPECIAL
TRAGÉDIA EM OSÓRIO
Diplomata investiga suposto golpe Começou ontem a investigação do governo português para tentar esclarecer um suposto golpe envolvendo o consulado de Portugal e a Arquidiocese da Igreja Católica de Porto Alegre. O diplomata Vitor Sereno, do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, chegou ao Rio Grande do Sul no começo da tarde, com a missão de tentar rastrear o paradeiro de R$ 2,5 milhões.
A
verba da Arquidiocese era destinada à restauração de duas paróquias. Foi depositada na conta bancária do vice-cônsul lusitano em Porto Alegre,Adelino Vera Cruz Pinto, como garantia de um suposta doação do governo português para as obras, mas o dinheiro sumiu. Enviado de Lisboa, Sereno chegou sem alarde e se esquivou de entrevistas. No consulado, servidores afirmavam desconhecer a presença dele. Um mulher que atendeu jornalistas sem permitir a entrada no escritório,garantiu nada saber sobre o diplomata e afirmou “não ter a menor noção” de onde estariaAdelino.A embaixada portuguesa,em Brasília,e a Secretaria de Estado das Comunidades, em Lisboa, que poderia dar informações,também silenciaram.
Governo português abriu inquérito De acordo com a agência de notícias Lusa, uma fonte do governo português confirmou a abertura de um inquérito. “Logo que chegou à embaixada a denúncia dessa situação e após averiguação junto do vice-consulado, resultou a necessidade de um inquérito. Neste momento, já está no terreno um inspetor diplomático enviado por Lisboa”, informou a agência. O diplomata português terá acesso a cópia do inquérito aberto pela 1ª Delegacia da Polícia Civil – que interrompeu a investigação porque Adelino tem imunidade diplomática – e também a uma lista com e-mails, que indicariam os supostos envolvidos no sumiço dos R$ 2,5 milhões. O advogado Amadeu Weinmann, defensor do vice-cônsul, esteve ontem em Brasília para tratar do caso. Ele afirmou que seu cliente intermediou uma doação de uma ONG da Bélgica para a Arquidiocese. Disse que Adelino repassou os R$ 2,5 milhões para a ONG,pois seria o valor exigido como contrapartida da Igreja e que a verba deverá ser devolvida.
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Editor executivo: Diego Araujo - 3218-4727 Editor: Marcelo Ermel - 3218-4732 Coordenadora de produção: Bianka Nieckel - 3218-4728 geral@zerohora.com.br
ZERO HORA SEXTA-FEIRA, 1º DE ABRIL DE 2011
Geral
MISTÉRIO ALÉM-MAR Versões para o sumiço de dinheiro Padre e advogado do vice-cônsul explicam o desaparecimento de R$ 2,5 milhões, enquanto governo português investiga o caso GENARO JONER
Weinmann critica a postura da Igreja no episódio e afirma que o dinheiro foi repassado a uma Dois emissários do governo ONG, para garantir a doação de Portugal – um de Lisboa e outro da embaixada portuguesa de R$ 12 milhões prometidos pela instituição para reforma de em Brasília – investigam em paróquias. Segundo o advogado, Porto Alegre um suposto golpe o vice-cônsul está em Lisboa, envolvendo o consulado de tentando ajudar a Igreja a Portugal e a Arquidiocese da reaver o dinheiro. Igreja Católica na Capital. Considerando-se vítima de um A investigação diplomática é golpe, que resultou em uma silenciosa. Mas, representantes queixa à Polícia Civil, o padre das duas partes envolvidas Luís Inácio Ledur, administrador no episódio apresentaram da Arquidiocese e pároco há ontem suas versões com novos detalhes. Em alguns aspectos, as cinco anos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, suspeita declarações são contraditórias. ter sido enganado em uma Experiente jurista, o advogado negociação que acreditava ser Amadeu Weinmann, defensor com representantes do governo do vice-cônsul português, português. Adelino Pinto, garante que seu cliente não desapareceu joseluis.costa@zerohora.com.br com R$ 2,5 milhões da Igreja. JOSÉ LUÍS COSTA
Verba da Arquidiocese da Capital seria contrapartida à reforma da Paróquia Nossa Senhora da Conceição
Entenda o caso
ENTREVISTA
Padre Luís Inácio Ledur, administrador da Arquidiocese
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de Porto Alegre e pároco da Igreja Nossa Senhora da Conceição
“Agimos com confiança” Antes de celebrar a missa no final da tarde de ontem, o padre Luís Inácio Ledur falou sobre o caso a Zero Hora, lamentando que os acontecimentos possam prejudicar a reforma da paróquia: Zero Hora – O senhor pediu emprestada a conta do vice-cônsul para depositar os R$ 2,5 milhões da Igreja para garantir a remessa de R$ 12 milhões? Padre Luís Inácio Ledur – Não. O seu Adelino foi quem ofereceu a conta do Consulado para facilitar a remessa do dinheiro. Soubemos depois que a conta estava em nome dele e não do consulado. Ele alegou que o consulado não tem CNPJ. ZH – Não seria melhor usar outra forma,via Banco Central? Padre Ledur – Aceitamos a sugestão de usar a conta do vice-cônsul porque era preciso enviar o dinheiro com urgência para não perder a doação. O dinheiro era uma caução. Fizemos um documento em cartório. ZH– O senhor pensou em procurar o embaixador do Brasil para pedir algum auxílio? Padre Ledur – Sim. Mas o vicecônsul nos disse para não falar com ele, pois ele seria da Igreja Pentecostal,e iria melar a doação. ZH – Teresa Falcão e Cunha,
da ONG, que dizia intermediar a doação da verba, apresentou documentos? Alguma credencial? Padre Ledur – Não. Não pedimos. Nossa confiança era em Adelino,nunca fizemos negócios com ela. ZH – O senhor tentou se informar sobre essa ONG com seus colegas,padres portugueses? Padre Ledur – Não. O vice-cônsul pediu para não contar nada a eles. Disse que poderiam se interessar por verbas e estragar o negócio. ZH – O senhor reconhece que agiu com ingenuidade? Padre Ledur – Quem mal não faz,mal não pensa.Agimos com confiança. O tempo todo acreditamos que estávamos negociando com representantes do governo português. ZH – Quando percebeu que poderia se tratar de um golpe? Padre Ledur – Quando soubemos que Adelino sacou o dinheiro e tivemos de pedir para devolver por diversas vezes. Teve momento em que desconfiei do negócio.Mas o seu Adelino insistiu várias vezes.
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Em junho, o padre Luís Inácio Ledur protocola no Consulado de Portugal pedido de ajuda para reformar templos de origem portuguesa, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Capital, e a do Senhor Bom Jesus, em Triunfo O vice-cônsul de Portugal, em Porto Alegre, Adelino Pinto, se prontifica em ajudar. Seria possível obter uma doação de R$ 12 milhões, com uma contrapartida da Igreja de R$ 2,5 milhões As negociações, via e-mail, são feitas com Teresa Falcão e Cunha, que seria diretora de uma ONG de Bruxelas, responsável pela intermediação da verba Em dezembro, o padre e o vicecônsul viajam a Lisboa para encontro com Teresa. O padre descobre que precisa depositar R$ 2,5 milhões em conta da Igreja em um banco de Portugal para garantir a doação. Como não pode enviar dinheiro ao Exterior, acerta usar a conta bancária do vice-cônsul A Arquidiocese deposita o dinheiro na conta do vice-cônsul. São lavradas certidões em cartórios nas quais Adelino se compromete em não movimentar o recurso, mas ele tira o dinheiro da conta e entrega para Teresa A Arquidiocese cobra explicações do vice-cônsul e, em 11 de março, registra queixa na polícial. No dia 28, a polícia suspende a investigação porque o vice-cônsul tem imunidade consular. A Igreja descobre que Teresa não teria ligações com o governo de Lisboa
ENTREVISTA
Amadeu Weinmann, advogado do vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre
“O vice-cônsul agiu de boa-fé” O advogado Amadeu Weinmann apresentou a versão do vice-cônsul português na Capital,Adelino Pinto, que viajou para Portugal, segundo o defensor, para ajudar a ressarcir a Igreja: Zero Hora – Por que o vicecônsul sacou os R$ 2,5 milhões da Igreja que estavam na conta dele? Amadeu Weinmann – A Igreja tinha de abrir uma conta em Portugal,mas não podia mandar dinheiro para o Exterior. O Padre Ledur e a Teresa dizem: “Quem sabe na conta do Consulado?” Não pode. Então, o padre Ledur, a Teresa, pediram, como favor ao vice-cônsul, a conta bancária emprestada dele para mandar o dinheiro. Era uma caução. E como caução foi para a Teresa. Se o dinheiro não estivesse em Portugal, não viriam os R$ 12 milhões. ZH– Mas ele assinou um documento em cartório, afirmando que não mexeria no dinheiro? Weinmann – O vice-cônsul agiu de boa-fé. Mandou o dinheiro para agilizar a doação.A Teresa diz que o dinheiro está lá.Tanto que ela diz em e-mails que o vice-cônsul a pressiona para devolver. Pelos e-mails não há indício de que a ONG vá ficar com o dinheiro.Meu cliente está em Lisboa, tentando ajudar a Igreja. ZH – Essa ONG existe?
Weinmann – Só quem pode dizer se existe ou não e o padre Ledur e o bispo. Quem tem de saber se a ONG existe, se é boa, se presta, é quem foi lá investigar. O padre e o bispo é que tinham a obrigação, o dever e a responsabilidade de saber se a ONG presta ou não. Eles não conversaram com os padres de lá? Não existe em Portugal nenhum padre, bispo, arcebispo, cardeal que pudesse dizer se essa ONG presta ou não? Se a Cúria entregou a responsabilidade disso para uma pessoa ingênua, tem de trocar logo, porque é uma entidade dona do maior banco do mundo, que tem 2 mil anos de seriedade. Esse negócio não tem nada a ver com o consulado, a embaixada e o governo português. A transação surgiu de uma amizade do vice-cônsul com o padre Ledur. ZH – Teresa escreveu que o vice-cônsul estava cobrando o dinheiro porque não tinha sido ressarcido. Ele teria alguma vantagem no negócio? Weinmann – Não sei. Não faço juízo temerário. Acredito que ele não teria vantagem alguma.
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Geral
ZERO HORA SÁBADO, 2 DE ABRIL DE 2011
MISTÉRIO ALÉM-MAR
O périplo do vice-cônsul no RS Suspeito de protagonizar suposto desvio de dinheiro da Igreja, português visitou prefeituras e universidades em busca de negócios
Antes de se envolver em suposto desvio de R$ 2,5 milhões da Arquidiocese da Igreja Católica de Porto Alegre, o vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, Adelino Vera Cruz Pinto, visitou pelo menos 11 cidades gaúchas, como representante do governo lusitano, propondo a prefeituras, universidades e empresários projetos em parcerias. Adelino sugeriu convênios na área cultural, em transporte fluvial e até de monitoramento de presos, mas as propostas não teriam evoluído. – Foi uma visita estranha. Ele não conhecia a área acadêmica das principais universidades portuguesas – lembra a reitora da Universidade Federal do Pampa,Maria Beatriz Luce. Na Universidade Federal de Santa Maria, Adelino discutiu troca de experiências na área de engenharia florestal.A proposta não avançou. Em São Leopoldo, propôs parcerias na área de saneamento e em eventuais
acordos para o polo naval na região. – Ele ficou sabendo do um projeto nosso para um porto na cidade e nos procurou. Ficou só na visita. Percebi que a parceria não tinha muita consistência – afirma o prefeito AryVanazzi. Em uma visita em abril de 2010 ao então presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Nelcir Tessaro, o vice-cônsul falou em desenvolver a silvicultura no Estado com apoio de empresários portugueses.Disse ainda que pensava em trazer voos diretos de Portugal para a Serra e o Litoral. – Ele tinha ideias muito otimistas – recorda Tessaro.
Adelino depôs sobre o caso em ministério de Portugal A um empresário da Serra,Adelino propôs um intercâmbio para transferência de tecnologia portuguesa para fabricação de pulseiras eletrônicas para controle de apenados. Adelino também sugeriu parcerias em Canoas, Novo Hamburgo, Viamão, Santo Antônio da Patrulha, São Luiz Gonzaga, São Marcos, Erechim, Santa Cruz do Sul e Passo Fundo.
O suposto desvio do dinheiro da Igreja
Em todas essas visitas oficiais,Adelino estava acompanhado de Tirone Lemos Michelin, que se apresentava como diretor da empresa Consórcio Brasileiro de Consultores e foi ministro de relações exteriores do Grande Oriente (loja maçônica). Michelin se afastou do Grande Oriente em meados de 2010. Em 21 de março, ele encaminhou um email para a ONG belga que supostamente intermediaria uma doação de R$ 12 milhões para a Arquidiocese solicitando que o dinheiro fosse depositado na conta do consórcio.Procurado por ZH, Michelin disse que desconhecia o assunto e desligou o celular. Adelino prestou ontem depoimento no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa (Portugal), sobre o suposto desvio de dinheiro que seria usado para reforma de paróquias. O teor das declarações não foi revelado. Ontem,o ministro conselheiro da Embaixada de Portugal em Brasília, José Rui Velez Caroço, e o diplomata Vitor Sereno deixaram Porto Alegre, após dois dias de uma inspeção consular. joseluis.costa@zerohora.com.br
EDUARDA AMORIM , DIVULGAÇÃO, BD, 27/04/2010
JOSÉ LUÍS COSTA
Em abril de 2010, Adelino (D) apresentou projetos a Tessaro (E)
DÚVIDAS DO CASO 1) A embaixada de Portugal sabia da negociação entre o vice-cônsul e a Igreja? 2) O governo português financiaria os R$ 12 milhões? 3) Quem vai devolver os R$ 2,5 milhões da Arquidiocese da Capital que o vicecônsul diz ter entregue a ONG belga? 4) O vice-cônsul teria interesse que pa-
dres de Lisboa e a embaixada do Brasil em Portugal não soubessem da doação à Arquidiocese? 5) Quem é Teresa Falcão e Cunha, que se apresentou com diretora da ONG que intermediaria a doação para a Igreja? 6) Por que a ONG não tem página na Internet?
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Geral
ZERO HORA SÁBADO, 9 DE ABRIL DE 2011
Entenda o caso CARLOS EDLER, BD, 28/01/2011
DINHEIRO SUMIDO Vice-cônsul é suspenso pelo governo de Portugal Afastamento ocorre ao mesmo tempo em que MP avalia investigar o caso
O vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, Adelino Vera Cruz Pinto, está suspenso temporariamente de suas funções por ordem do governo português. Assessor principal da carreira técnica superior do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Pinto é alvo de uma investigação da Secretaria das Comunidades Portuguesas – organismo responsável pelos consulados – que apura a participação dele em um suposto desvio de R$ 2,5 milhões da Arquidiocese de Porto Alegre. Além disso, o Ministério Público gaúcho estuda investigar o caso.
O
s R$ 2,5 milhões que sumiram da Igreja faziam parte de uma verba para restauração de paróquias gaúchas de origem portuguesa, que teria o aporte de R$ 12 milhões do governo de Lisboa. Conforme o advogado Amadeu Weinmann, o vice-cônsul está em
EDUARDA AMORIM, DVG, BD
JOSÉ LUÍS COSTA
Portugal para prestar esclarecimentos.Antes de viajar, Pinto prometeu à Igreja devolver o dinheiro até seAdelino Pinto gunda-feira. Em entrevista à Agência de Notícias Lusa, ontem, o secretário das Comunidades Portuguesas, Antonio Braga, afirmou que conclusões da primeira fase do inquérito determinaram o afastamento preventivo de Pinto. Em um segundo momento, se apontar indícios de crime, o caso será repassado para o Ministério Público de Portugal. – Há um procedimento em curso na área disciplinar relativamente à inquirição e conhecimento das circunstâncias em que ele (Pinto) agiu. Está suspenso preventivamente, e matéria relativamente à qual possa haver ilícito criminal será comunicada ao Ministério Público – garantiu Braga à Agência Lusa. O advogado Luciano Feldens, que representa a Arquidiocese, entende
que promotores portugueses devem começar a investigar o caso e pretende mobilizar autoridades da União Europeia: – Vamos fazer uma representação para o MP de Portugal e para o órgão competente da Comunidade Europeia, que está sendo colocada em xeque à medida que a ONG, que intermediaria a doação, com sede na Bélgica, estaria vinculada à Comunidade Europeia. A intenção dele é que o vice-cônsul seja investigado também no Brasil. Ontem, Feldens encaminhou uma notícia-crime ao MP gaúcho, pedindo providências.A assessoria jurídica avaliará até que ponto a imunidade diplomática do vice-cônsul impediria a apuração dos fatos. – Depois, se uma eventual investigação apontar indícios de crime, teremos de solicitar ao governo português que renuncie a essa imunidade – disse Ivory Coelho Neto, subprocurador-geral para assuntos jurídicos do MP. joseluis.costa@zerohora.com.br
Verba portuguesa financiaria reforma de igreja na Capital ●
Em junho, o padre Luís Inácio Ledur
conta da Igreja em um banco de Portugal para garantir a doação. Como não pode enviar dinheiro ao Exterior, acerta usar a conta bancária do vice-cônsul
protocola no Consulado de Portugal pedido de ajuda para reformar templos de origem portuguesa, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Capital, e a do Senhor Bom Jesus, em Triunfo ● ●
O vice-cônsul de Portugal, em Porto Alegre, Adelino Pinto, se prontifica a ajudar. Seria possível obter uma doação de R$ 12 milhões, com uma contrapartida da Igreja de R$ 2,5 milhões
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As negociações, via e-mail, são feitas com Teresa Falcão e Cunha, que seria diretora de uma ONG de Bruxelas, responsável pela intermediação da verba
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A Arquidiocese deposita o dinheiro na conta do vice-cônsul. São lavradas certidões em cartórios nas quais Adelino se compromete em não movimentar o recurso, mas ele tira o dinheiro da conta e entrega para Teresa
Em dezembro, o padre e o vicecônsul viajam a Lisboa para encontro com Teresa. O padre descobre que precisa depositar R$ 2,5 milhões em
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A Arquidiocese cobra explicações do vice-cônsul e, em 11 de março, registra ocorrência na polícia. No dia 28, a polícia suspende a investigação porque o vice-cônsul tem imunidade consular. A Igreja descobre que Teresa não teria ligações com o governo de Lisboa
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Geral
ZERO HORA TERÇA-FEIRA, 12 DE ABRIL DE 2011
FIM DE PRAZO
Entenda o caso MAURO VIEIRA, BD, 24/11/2010
Arquidiocese não recebe os R$ 2,5 milhões prometidos Vice-cônsul português descumpriu promessa de reembolsar Igreja até ontem
Ve n c e u o n t e m o p r a z o prometido pelo vice-cônsul de Portugal na Capital, Adelino Vera Cruz Pinto, para a devolução à Igreja Católica de R$ 2,5 milhões. Até as 16h30min, a Arquidiocese da Capital não havia sido reembolsada, conforme o advogado Luciano Feldens. – Tínhamos uma expectativa que pudesse haver uma reparação do dano, mas não se concretizou. A partir de agora se abrem novas vias de atuação. Ainda aguardamos uma solução para a situação que não exponha em demasia o governo português – afirmou Feldens. A pedido do advogado, o Ministério Público gaúcho estuda a possibilidade de investigar o caso, desde que possa ser superado um entrave legal que é a imunidade diplomática do vice-cônsul. Os R$ 2,5 milhões estavam na
EDUARDA AMORIM, DIVULGAÇÃO
JOSÉ LUÍS COSTA
cont a do d i plomata como garantia de uma doação de R$ 12 milhões do governo de Portugal para a Adelino Pinto restauração de paróquias gaúchas de origem lusa. A verba seria repassada por meio de uma ONG belga, conforme prometido por Pinto.
Advogado garante que diplomata fez favor à Igreja Mesmo assinando um compromisso em cartório de que não movimentaria os R$ 2,5 milhões, Pinto sacou o dinheiro e mandou para a diretora da ONG, que se chamaria Teresa Falcão e Cunha. Em um primeiro momento, Pinto alegou que remeteu o recurso para acelerar a doação dos R$ 12 milhões. Quando a Igreja levou o caso à polícia, Pinto prometeu devolver o dinheiro até 11 de abril. Contratado pelo vice-cônsul, o
advogado Amadeu Weinmann disse que a doação seria recurso da própria ONG e não do governo de Portugal e que Pinto havia feito um mero favor para os padres da Arquidiocese porque eram amigos. Conforme Weinmann, Pinto estaria em Lisboa para responder a uma investigação aberta pela Secretaria das Comunidades Portuguesas – organismo responsável pelos consulados. Na sexta-feira passada, Pinto foi afastado temporariamente das funções e pode ser alvo de uma investigação do Ministério Público português. Ontem, Weinmann não foi localizado para comentar o caso. O trabalho das autoridades em Lisboa é sigiloso e há sérias dúvidas se existe a ONG, e se a mulher que se apresentou como diretora da entidade é, de fato, quem ela diz ser. A ONG não tem site, e Zero Hora tentou vários contatos com Teresa por telefone e por e-mail, mas não obteve retorno. joseluis.costa@zerohora.com.br
Igreja Nossa Senhora da Conceição seria uma das beneficiadas
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Em junho, o padre Luís Inácio Ledur
Igreja em um banco de Portugal para garantir a doação. Como a Igreja não pode enviar dinheiro ao Exterior, o vice-cônsul oferece a conta bancária dele para depositar o dinheiro.
protocola no Consulado de Portugal pedido de ajuda para reformar templos de origem portuguesa, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Capital, e a do Senhor Bom Jesus, em Triunfo. ● ●
O vice-cônsul de Portugal, em Porto
na conta do vice-cônsul. São lavradas certidões em cartórios nas quais Adelino se compromete em não movimentar o recurso, mas ele tira o dinheiro da conta e entrega para Teresa.
Alegre, Adelino Pinto, se prontifica em ajudar. Seria possível obter uma doação de R$ 12 milhões, com uma contrapartida da Igreja de R$ 2,5 milhões. ●
As negociações, via e-mail, são feitas
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com Teresa Falcão e Cunha, que seria diretora de uma ONG em Bruxelas, responsável pela intermediação da verba.
Em dezembro, o padre e o vice-cônsul viajam a Lisboa para encontro com Teresa. O padre descobre que precisa depositar R$ 2,5 milhões em conta da
A Arquidiocese cobra explicações do vice-cônsul e, em 11 de março, registra queixa na polícia.
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A Arquidiocese deposita o dinheiro
No dia 28, a polícia suspende a investigação porque o vice-cônsul tem imunidade diplomática. A Igreja descobre que Teresa não teria ligações com o governo de Lisboa.
Geral
ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 14 DE ABRIL DE 2011
DINHEIRO SUMIDO
Entenda o caso
Dom Dadeus acredita que recuperará os R$ 2,5 milhões
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dur protocola no Consulado de Portugal pedido de ajuda para reformar templos de origem portuguesa. ●
O arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, acredita que os R$ 2,5 milhões desviados pelo vice-cônsul de Portugal, Adelino Vera Cruz Pinto, retornem à arquidiocese. – Nossa esperança é que Portugal devolva o dinheiro. Nos certificamos que ele era vicecônsul, que representava o governo português. Não foi algo feito em cima do joelho. Depositamos o dinheiro no banco e fizemos uma escritura pública – afirmou dom Dadeus.
O
religioso disse que, ao iniciar as tratativas para a doação de R$ 12 milhões, preocupou-se em conhecer o passado de Pinto e nenhuma anormalidade foi constatada. – Não existia nada, tinha ficha limpa no consulado e na embaixada – lembra o arcebispo. Sabe-se agora que Pinto foi
condenado em Portugal por aplicar um golpe que causou prejuízo de R$ 200 mil a uma mulher a quem teria prometido se casar. Os R$ 2,5 milhões representavam a contrapartida da Igreja a um projeto do governo português, que doaria a fundo perdido R$ 12 milhões para a restauração de paróquias construídas pelos imigrantes portugueses no Rio Grande do Sul, conforme promessa do vice-cônsul .
Verba desviada está fazendo falta às reformas Seria a primeira vez que Portugal mandaria dinheiro para esse tipo de finalidade, conforme dom Dadeus. – Já recebemos ajuda da Itália, da Alemanha, sempre com contrapartida, mas nunca de Portugal. Havia uma grande expectativa, pois era uma nova abertura. O vice-cônsul dizia que eles queriam ajudar. Dom Dadeus lamentou que os
R$ 2,5 milhões estejam fazendo falta na restauração de templos, um projeto idealizado dentro das comemorações do centenário de criação da Arquidiocese de Porto Alegre. Quanto ao repasse dos R$ 12 milhões, dom Dadeus demonstra desalento. – Não acredito mais. Era um fundo falso – resigna-se. Se o desejo de dom Dadeus de reaver os R$ 2,5 milhões irá se concretizar ninguém sabe. É uma das grandes dúvidas desse episódio. Até agora, o governo português não se pronunciou oficialmente sobre o caso. Em Brasília, a Embaixada de Portugal informa apenas que o assunto é restrito às autoridades em Lisboa. Zero Hora já telefonou e enviou inúmeros e-mails para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e para a Secretaria das Comunidades Portuguesas – responsável pelos consulados– , mas as respostas são sempre evasivas. joseluis.costa@zerohora.com.br
O vice-cônsul de Portugal, em Porto Alegre, Adelino Pinto, se prontifica a ajudar. Para obter uma doação de R$ 12 milhões, a contrapartida da Igreja é de R$ 2,5 milhões.
Igreja diz ter buscado informações sobre diplomata antes de iniciar negociação JOSÉ LUÍS COSTA
Em junho, o padre Luís Inácio Le-
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As negociações, via e-mail, são com Teresa Falcão e Cunha, que seria diretora de uma ONG belga.
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Em dezembro, o padre e o vicecônsul viajam a Lisboa para encontro com Teresa. Ledur precisa depositar R$ 2,5 milhões em conta da Igreja em um banco português para garantir a doação. Como a Igreja não pode enviar dinheiro ao Exterior, o vice-cônsul oferece a conta dele para o depósito.
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A Arquidiocese faz o depósito e Pinto se compromete em não mexer no dinheiro, mas saca o valor da conta e a entrega à Teresa. Em 11 de março, a Arquidiocese registra queixa policial.
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No dia 28, a polícia suspende a investigação porque o vice-cônsul tem imunidade diplomática. A Igreja descobre que Teresa não teria ligações com o governo de Lisboa.
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Advogado diz que verba será devolvida O advogado Amadeu Weinmann, defensor do vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre,Adelino Vera Cruz Pinto,disse ontem em entrevista que a Arquidiocese da Capital poderá reaver os R$ 2,5 milhões nos próximos dias, bastando entrar em contato com a ONG que recebeu a verba por meio do vice-cônsul: – A Igreja tem de falar com a dona Teresa (Falcão e Cunha, que se apresentou como diretora da ONG). Weinmann informou que Teresa teria prestado depoimento a autoridades portuguesas, assim como outras duas mulheres,mas disse desconhecer o conteúdo do que foi dito. Desde o final de janeiro, a Igreja tenta reaver o dinheiro por meio de contatos telefônicos e por e-mails com Pinto e com Teresa,sem sucesso. Weinmann afirmou, também, que Pinto responde a um inquérito disciplinar por ter abandonado o posto de vice-cônsul em Porto Alegre. Teria deixado a Capital por sugestão de Weinmann, mas tem chance de não ser punido. O advogado disse desconhecer que seu cliente esteja sendo investigado pelo Ministério Público de Portugal por suspeita de crime,como afirmam autoridades portuguesas.
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Geral
ZERO HORA TERÇA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2011
SUMIÇO MILIONÁRIO
MP exige investigação sobre golpe na igreja Polícia suspendeu inquérito por entender que vice-cônsul tem imunidade JOSÉ LUIS COSTA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
Ministério da Educação
ERRATA A Universidade Federal de Santa Maria, por meio de seu pregoeiro, designado pela Portaria n. 59.428, de 15 de fevereiro de 2011, torna público, para conhecimento dos interessados, que na publicação do dia 09.05.2011, pág. 31, fica alterado o seguinte: Pregão Eletrônico 117/2011, onde LÊ-SE: Abertura da proposta 20.05.2011 às 09:00 horas no site www.comprasnet.gov.br, LEIA-SE: Abertura da proposta 20.05.2011 às 10:30 horas no site www.comprasnet.gov.br. Ficando inalteradas as demais disposições do pregão. Santa Maria, 10 de maio de 2011 Jayme Worst Coordenador de Licitações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
Ministério da Educação
AVISO DE LICITAÇÃO A Universidade Federal de Santa Maria, por meio de seu pregoeiro, designado pela Portaria n. 59.428, de 15 de fevereiro de 2011, torna público, para conhecimento dos interessados, que: 1. Realizará a seguinte Licitação: Pregão Eletrônico 116/2011 – do tipo Menor Preço, Unitário, para Registro de Preços para a Confecção e Aquisição de Mobiliários (armário, cama de solteiro, escaninho, cadeira...) e Tampo de Pia de Cozinha, destinados ao Centro de Educação Superior Norte-RS. Entrega das propostas a partir do dia 10.05.2011 às 8 horas, no site www.comprasnet.gov.br. Abertura da proposta 23.05.2011 às 9 horas no site www.comprasnet.gov.br. 2. Os editais completos poderão ser retirados nos sites www.comprasnet.gov.br e www.ufsm.br, ou no endereço: Prédio da Administração Central, sala 657, 6o andar, Cidade Universitária, Santa Maria, RS, fone (55)3220 8189, no horário de expediente externo da Universidade. Santa Maria, 10 de maio de 2011 Jayme Worst Coordenador de Licitações
Além de causar dor de cabeça à Arquidiocese de Porto Alegre e mal-estar com o governo de Portugal, o sumiço de R$ 2,5 milhões da Igreja Católica provoca agora um desconforto entre o Ministério Público (MP) e a Polícia Civil. Sem resposta de um pedido para a 1ª Delegacia da Polícia Civil seguir investigando o caso, a promotora Carmen Conti, diretora das promotorias criminais da Capital, encaminhou ontem um ofício ao delegado Paulo Cesar Jardim, requisitando cópia integral do inquérito para avaliar o que já foi feito e dar andamento nas investigações. É uma tentativa de pressionar pela retomada da investigação, suspensa porque a polícia entende que não tem competência legal para isso.
O
desvio dos R$ 2,5 milhões foi apurado por Jardim,em março,a partir de uma queixa da Arquidiocese. A constatação de que o suspeito de lesar a Igreja era o então vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre,Adelino Vera Cruz Pinto – afastado das funções e investigado pelo Ministério Público português, em Lisboa –, levou o delegado a interromper a apuração. Jardim entende que Pinto tem imunidade consular,motivo pelo qual
o impediria de interrogar e indiciar o ex-vice-cônsul sem permissão do governo português.O delegado se baseia em uma convenção internacional,que trata dos direitos de cônsules. – Qualquer acadêmico de Direito pode pedir o trancamento da ação baseado em uma convenção da qual o Brasil é signatário. Em 19 de abril, encaminhei cópia do inquérito ao Ministério das Relações Exteriores pedindo que o governo português autorize a continuidade das investigações, pois já foi detectada a autoria e a materialidade do crime – afirma Jardim.
Se polícia mantiver posição, MP promete apurar caso Há cerca de 20 dias, a promotora encaminhou pedido para Jardim retomar as investigações, baseado em um parecer da assessoria do MP que entende ser possível apurar todos os fatos e, depois, no futuro, verificar a possibilidade ou não de o ex-vicecônsul ser processado. – Oficialmente, não fomos informados da posição do delegado.Se ele acha que não pode seguir o trabalho, está juridicamente equivocado. Encaminhei a ele o pedido, em prestígio à autoridade policial que tinha iniciado a investigação. Mas se a polícia não prosseguir, nós vamos investigar – garante a promotora. joseluis.costa@zerohora.com.br
Entenda o caso ●
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Em junho, o padre Luis Inacio Ledur protocola no Consulado de Portugal pedido de ajuda para reformar templos de origem portuguesa no Estado. O vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, Adelino Pinto, se prontifica a ajudar. Para obter R$ 12 milhões, a contrapartida da Igreja é de R$ 2,5 milhões.
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As negociações, via e-mail, são com Teresa Falcão e Cunha, que seria diretora de uma ONG belga.
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Em dezembro, o padre e o então vice-cônsul viajam a Lisboa para encontro com Teresa. Ledur precisa depositar R$ 2,5 milhões em conta da Igreja em um banco português para garantir a doação. Como a Igreja não pode enviar dinheiro ao Exterior, o vice-cônsul oferece a conta dele para o depósito.
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A Arquidiocese faz o depósito e Pinto se compromete em não mexer no dinheiro, mas saca o valor da conta e o entrega a Teresa. Em 11 de março, a Arquidiocese registra queixa policial.
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No dia 28, a polícia suspende a investigação porque entende que vice-cônsul tem imunidade. A Igreja descobre que Teresa não teria ligações com o governo de Lisboa.
Nova Chocolatão recebe moradores a partir de quinta MATEUS BRUXEL
Consumidaereerguidainúmeras vezes depois de incêndios e marcada pela violência,uma vila encravada no centro da Capital deixará de existir a partir de quinta-feira. Com o reassentamento de 180 das 200 famílias daVila Chocolatão, o terreno voltará às mãos do Centro Administrativo Federal de Porto Alegre. Ontem, órgãos públicos firmaram termo de compromisso para a transferência de cerca de 600 pessoas. A prefeitura se comprometeu a garantir novas moradias, atendimento de saúde, educação, trabalho e lazer. A expectativa do Demhab é remover 10 famílias por turno para o Loteamento Residencial Nova Chocolatão, na Avenida Protásio Alves (foto).As 20 famílias restantes serão transferidas para o Jardim Paraíso, do Programa Minha Casa, Minha Vida. O empreendimento ainda está em obras.Enquanto isso,as famílias contam com aluguel social.
Geral
ZERO HORA QUARTA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2011
GOLPE NA IGREJA
Entenda o caso ●
Vice-cônsul será investigado por crime
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A
Inspeção-geral Diplomática e Consular remeteu expediente referente ao processo disciplinar ao Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa,informou ontem uma fonte do governo português à Agência de Notícias Lusa. O secretário Antonio Braga, das Co-
em cartório que não movimentaria o dinheiro, ele sacou a quantia e a enviou para a diretora da ONG, que se chamaria Teresa Falcão e Cunha. Quando a queixa contra Pinto veio a público, em meados de março, o vice-cônsul ligou para a Arquidiocese, prometendo devolver o dinheiro até 11 de abril,o que não aconteceu.A Polícia Civil apontou Pinto como responsável pelo desvio,mas se viu impedida de concluir o trabalho porque ele tem imunidade diplomática. Acionado por Feldens por meio de uma notícia-crime, o Ministério Público do Estado analisa a possibilidade de entrar no caso. O advogado Amadeu Weinmann, defensor de Pinto, sempre argumentou que a doação seria recurso da própria ONG e não do governo de Portugal.Procurado por Zero Hora ontem à tarde, Weinmann não respondeu aos pedidos de entrevista. joseluis.costa@zerohora.com.br
TORTURA EM PRESÍDIOS
cônsul viajam a Lisboa para encontro com Teresa. Ledur precisa de-
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No dia 28, a polícia suspende a investigação porque o vice-cônsul tem imunidade diplomática. A Igreja descobre que Teresa não teria ligações com o governo de Lisboa.
Diplomata já tem uma condenação em Portugal Em 2008, dois anos antes de se mudar para o Brasil, o vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre,Adelino Vera Cruz Pinto, foi condenado pela Justiça deAlmada – cidade próxima a Lisboa –,por um golpe a uma mulher. Pinto teria lesado a vítima em cerca de R$ 200 mil, pegando vários cheques sob alegação de que compraria uma casa para os dois.Depois, teria prometido casamento,desmanchado dois meses antes pela vítima ao saber que estava sendo enganada. A Justiça condenou Pinto a res-
sarcir a mulher, determinando o confisco diretamente do salário dele. Mas os descontos ficaram abaixo do valor estipulado pela Adelino Pinto Justiça,e o ministério do qual Pinto é servidor chegou a ser multado no ano passado por descumprir a ordem judicial. Pinto ainda estaria devendo à mulher cerca de R$ 120 mil.
NOTAS
35 agentes penitenciários denunciados REPRODUÇÃO
Caxias do Sul
O governador Tarso Genro determinou o afastamento de 35 agentes penitenciários envolvidos em denúncias de tortura contra apenados das duas cadeias de Caxias do Sul. Além deles, três presos foram denunciados pelo Ministério Público (MP) pela prática do crime. A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado de segunda-feira. Os funcionários da Susepe seguirão recebendo salários.
A
denúncia do MP foi resultado de quase um ano de investigação. Em junho de 2010, uma operação do órgão apreendeu uma série de documentos na Penitenciária Industrial, na Delegacia Regional da Susepe e na casa funcional usada pelos administradores da cadeia. Desde o começo do ano passado, promotores monitoravam as atividades de agentes, principalmente os com cargos de chefia no sistema prisional caxiense. Os denunciados pela tortura seguem respondendo na Justiça pelo crime. O vice-presidente da Associação dos Servidores Penitenciários de Caxias, Julio Ortiz, disse que os agentes vão enfrentar dificuldades pela per-
Em dezembro, o padre e o vice-
A Arquidiocese faz o depósito e Pinto se compromete em não mexer no dinheiro, mas saca o valor da conta e a entrega à Teresa. Em 11 de março, a Arquidiocese registra queixa policial.
As negociações, via e-mail, são com Teresa Falcão e Cunha, que seria diretora de uma ONG belga.
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Aterro liberado
Exame de italiano
Após cumprir todas as exigências da Licença de Instalação, a empresa Meioeste Ambiental assegurou o início de funcionamento do Aterro Sanitário Metade Sul. Implantado em Candiota, o projeto tem capacidade de receber, na sua primeira fase, 1,5 milhões de toneladas de lixo em oito anos.
Em 9 de junho, às 10h, ocorre a 9ª edição do exame para obtenção da Certificação de Italiano como Língua Estrangeira (CILS) feito pela Università per Stranieri di Siena em parceria com a Associação Beneficente e de Assistência Educacional do RS (ACIRS). As inscrições para o exame devem ser feitas até o dia 29 de abril, por meio do e-mail cursos@acirs. Prazo para farmácias org.br ou pelo telefone (51) 3212. 5535. O custo é de R$ 200 a R$ A Agência Nacional de Vigilância 320. Sanitária decidiu dar mais tempo para que as farmácias passem a registrar todas as suas vendas de O que é a CILS antibióticos em um sistema inforA certificação é o atestado matizado controlado pelo órgão. O oficial – reconhecido pelo Minisprazo inicial para as farmácias se tério das Relações Exteriores da adaptarem às regras era 25 de abril. Itália – de proficiência em língua A nova data ainda não foi definida. ●
Denúncia envolveu gravações e foi resultado de um ano de apuração
da de funcionários nas cadeias: – O Estado não tem mandado efetivo e isso dificulta nosso trabalho. O corregedor-geral da Susepe, Marcelo Sgaborssa, disse que a Procuradoria-geral do Estado está analisando a situação dos agentes, mas que ainda não há definição a respeito. Como medida administrativa mais grave, eles podem ser expulsos da Susepe. O processo criminal segue trami-
EDUARDA AMORIM, DIVULGAÇÃO
Aumentaram as suspeitas contra o vice-cônsul de Portugal, em Porto Alegre, Adelino Vera Cruz Pinto, no desvio de R$ 2,5 milhões da Arquidiocese de Porto Alegre da Igreja Católica. Depois de ser submetido a uma investigação administrativa pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, do qual Pinto é funcionário, o caso foi remetido para a Procuradoria-geral da República portuguesa por existir indícios de prática de crime.
positar R$ 2,5 milhões em conta da Igreja em um banco português para garantir a doação. Como a Igreja não pode enviar dinheiro ao Exterior, o vice-cônsul oferece a conta dele para o depósito.
O vice-cônsul de Portugal, em Porto Alegre, Adelino Pinto, se prontifica a ajudar. Para obter uma doação de R$ 12 milhões, a contrapartida da Igreja é de R$ 2,5 milhões.
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munidades Portuguesas – responsável pelos consulados –, evitou comentar o caso, limitando-se a dizer aos repórteres se tratar de“matéria de Justiça”. O envio dos documentos aconteceu logo após Pinto, que está em Lisboa para responder ao caso, ter sido suspenso temporariamente das funções. Para o advogado da arquidiocese, Luciano Feldens,a remessa do caso ao Ministério Público português revela indícios da prática de um crime: – O encaminhamento do inquérito indica o acerto das investigações que começaram no Brasil de prática de delito cometido pelo vice-cônsul. O advogado pretende compartilhar provas colhidas pela polícia gaúcha com autoridades portuguesas. Em março, a Arquidiocese procurou a 1ª Delegacia da Polícia Civil da Capital para relatar o sumiço do dinheiro da conta do diplomata. A verba seria repassada por meio de uma ONG, conforme prometido por Pinto. Mesmo se comprometendo
Em junho, o padre Luís Inácio Ledur protocola no Consulado de Portugal pedido de ajuda para reformar templos de origem portuguesa.
Sumiço de R$ 2,5 milhões da Arquidiocese será apurado pelo MP português JOSÉ LUÍS COSTA
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tando na 2ª Vara do Fórum de Caxias. Conforme a assessoria da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), os agentes já estavam atuando fora de Caxias, não afetando a operação das cadeias. A associação dos agentes, no entanto, teme que o serviço fique comprometido, pois 16 dos afastados estariam lotados em penitenciárias do município.
Futuro de trigêmeas A advogada Margareth Zanardini, que defende os pais das trigêmeas acolhidas por um abrigo em Curitiba (PR), divulgou uma carta em que pede que a Justiça “perdoe” o casal. As crianças, nascidas em 24 de janeiro, foram retiradas dos pais depois que eles quiseram dar uma delas para adoção. A Justiça considerou que os pais não tinham “condições de paternidade e maternidade”.
italiana aceito por inúmeras instituições e universidades no Brasil e no Exterior.
Alto risco Até o final de maio, o governo apresentará uma lista das cidades e áreas que são consideradas de alto risco para a ocorrência de tragédias naturais. Com isso, pretende tornar mais efetiva a conscientização das populações sobre os riscos a que estão submetidas, caso continuem vivendo nessas localidades.
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ZERO HORA DOMINGO, 14 DE AGOSTO DE 2011
Reportagem Especial
GOLPE NA IGREJA
Como um vice-cônsul levou RONALDO BERNARDI, BD, 29/03/2011
JOSÉ LUÍS COSTA
Sem a imunidade consular, o português Adelino D’Assunção Nobre de Melo Vera Cruz Pinto se tornou, na sexta-feira, um foragido da Justiça brasileira. Então vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, ele terá de prestar contas por um golpe que se estendeu ao longo de 2010 e terminou lesando a Arquidiocese de Porto Alegre da Igreja Católica em R$ 2,5 milhões. O dinheiro, a contrapartida brasileira para uma suposta ONG belga que reformaria igrejas da Capital e do Interior, foi desviado por meio da conta de Pinto em um esquema que ludibrou religiosos gaúchos e constrangeu autoridades lusitanas.
O delegado Paulo César Jardim, da 1ª DP de Porto Alegre, revela documentos e encontros de Pinto com autoridades: prisão foi decretada na sexta-feira
joseluis.costa@zerohora.com.br
1. Antes, uma noiva enganada
2. Vinho e bacalhau no Piratini
Ao chegar a Porto Alegre como vice-cônsul de Portugal, no início de 2010, Adelino Pinto deixou para trás uma dívida de R$ 200 mil e uma mulher à beira do altar. Os dois se conheceram Pinto no verão de 2005, no Algarve,litoral de Portugal.Ela,uma arquiteta de 56 anos (14 anos mais velha do que ele), solteira, sem pais e sem filhos, e sem jamais ter namorado aos 56 anos de vida.Ele,um português nascido em Moçambique,filho de família simples de Cabo Verde, formado em Relações Internacionais, funcionário de nível médio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disposto a se separar da companheira. Dois meses depois já eram íntimos.Pinto falava em casamento e pedia dinheiro à amada para comprar casa (em que ela nunca morou) e carro (em que ela jamais andou). Ele sempre precisava de euros para viagens de última hora. Duas delas para a Inglaterra.A primeira para visitar um irmão, vítima de um tiro em Bagdá,no Iraque.A segunda,em uma noite de Natal,para o funeral deste. À beira do altar, a mulher descobriu que Pinto não se casaria com ela. E as histórias, viagens, eram todas mentirosas.A cerimônia estava marcada, a igreja reservada, os convites distribuídos, e Pinto cancelou tudo e sumiu com a papelada e o dinheiro dos festejos.Com ajuda de um parente de Pinto, a vítima localizou o fujão e o fez assinar uma confissão de dívida,equivalente a R$ 200 mil.E,em 2008,a Justiça portuguesa mandou ele pagar a conta, descontando do salário dele até 2015.
Em fevereiro do ano passado, Pinto desembarcou na Capital gaúcha para chefiar a representação portuguesa no Estado, que estava sem cônsul havia quase um ano e meio. Por questões político-financeiras, Lisboa tinha rebaixado o status do escritório para vice-consulado, e, assim, foi mandado para Porto Alegre, em vez de um diplomata,um servidor de escalão inferior. Mas Pinto não se sentia menos importante. Gostava de estar entre autoridades. Foi recebido pela então governadora Yeda Crusius e homenageado pelo ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado João Osório. Em 10 de junho, longe das comunidades portuguesas,as quais evitava visitar,comemorou o Dia de Portugal e de Camões entre a elite política gaúcha,no Galpão Crioulo do Palácio Piratini. Foram R$ 10 mil em vinho e bacalhau que teriam sido pagos por um amigo,Tirone Lemos Michelin. Os dois se conheciam de uma reunião entre membros do Rotary Club no Interior, e Pinto havia pedido ajuda a ele para estreitar laços comerciais entre gaúchos e portugueses. Ex-consultor e procurador da Ulbra, Michelin era ministro de relações exteriores de uma loja maçônica, tinha experiência no ramo e acreditava nas boas intenções do vice-cônsul.Percorreram juntos 80 prefeituras, universidades e empresas gaúchas. Em nome do governo de Lisboa, Pinto sugeria intercâmbio e parcerias: silvicultura, reflorestamento, saneamento, indústria naval e até monitoramento eletrônico de presos.
3. A aproximação com a Igreja Pinto falava de tudo, mas parecia não entender de nada e nenhum negócio empolgava. Nenhum, até Michelin transmitir um recado tentador aos padres da Arquidiocese de Porto Alegre: Portugal tinha milhões de euros para a restauração de igrejas de origem lusa. Dias depois de um requerimento da Igreja bater à porta do vice-consulado, Pinto já se sentia à vontade para pedir favores ao administrador da Arquidiocese e pároco da Igreja da Conceição, padre Luís Inácio Ledur. O vice-cônsul precisava de um lugar para morar. O padre con-
seguiu, com um amigo, um apartamento no elegante bairro Moinhos de Vento, mobiliado e sem necessidade de fiador. O carpete não agradou, e, enquanto fazia a troca, o vice-cônsul morou de graça, por duas semanas, em um dos alojamentos da Casa de Passagem da Igreja da Conceição. Depois lamentou que o vice-consulado passava por sérios apuros financeiros. Sensibilizado, o padre Inácio arrumou R$ 133 mil emprestados com amigos e repassou ao vice-cônsul, dinheiro que usava para pagar o aluguel do apartamento.
4. R$ 12 milhões acertados e uma estranha peruca Pinto dizia que Portugal doaria R$ 12 milhões para reforma de paróquias de origem lusa. O dinheiro viria por meio de uma ONG de Bruxelas, ligada à Comunidade Europeia, dirigida por Teresa Falcão e Cunha, com quem Pinto negociava. Ele a colocou em contato, por e-mail, com o padre Inácio. A notícia da ajuda ganhou destaque na imprensa e no site da embaixada portuguesa em Brasília. Em dezembro, o padre Inácio, o irmão dele, padre Luís Francisco Ledur, e o bispo de Montenegro, dom Paulo de Conto, acompanhados pelo vice-cônsul, foram a Lisboa buscar o dinheiro. A viagem dos padres seria paga pela ONG, mas na última hora a entidade não conseguiu as reservas. A arquidiocese bancou as passagens,
com a garantia de ressarcimento. Na chegada a Lisboa, Pinto sumiu por três dias. Quando reapareceu, fez duas recomendações aos padres. A primeira: não falar com colegas de batina de Portugal sobre o motivo da viagem. Poderiam querer também dinheiro para restaurar as paróquias deles. A segunda: ficar longe da embaixada do Brasil. O embaixador era da Igreja Pentecostal e, por isso, poderia colocar olho gordo no negócio. A diretora da ONG recebeu a comitiva em uma sala da Basílica da Estrela, paróquia-mãe da Igreja Católica nas colônias portuguesas. O encontro era ali, porque a ONG belga não tinha escritório em Lisboa. Quase não dava para ver o rosto de Teresa, que usava uma estranha peruca e óculos escuros.
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ZERO HORA DOMINGO, 14 DE AGOSTO DE 2011
R$ 2,5 milhões da Cúria 6. Após mais uma doação, dinheiro some REPRODUÇÕES
O registro da transferência de R$ 1,4 milhão à conta de Adelino
5. Mont Blancs e o primeiro milhão
depositaram a quantia na conta de Pinto, somando R$ 2.544.000,00,e o vice-cônsul assinou uma nova certidão em cartório se comprometendo a não mexer no dinheiro. Os R$ 12 milhões chegariam até 31 de janeiro. Mas surgiu outro problema. Desapareceram R$ 174 mil da conta de Pinto. O vicecônsul se desculpou com os padres e alegou que funcionários do vice-consulado teriam emitido cheques por engano. Ninguém mais acreditava no vice-cônsul. Sumido por 17 dias, ele telefonava para a Arquidiocese prometendo devolver parte dos R$ 174 mil. Dizia que estava a trabalho no Paraguai, no Uruguai. Mas o identificador mostrava chamadas vindas da Europa.
7. Viagens, churrascarias e estéticas Pinto aproveitava para passear por Portugal e pelo Rio de Janeiro.Até a ex-companheira com os dois filhos deles vieram se divertir na Cidade Maravilhosa com R$ 200 mil depositados na conta dela em um banco no Leblon – há desconfianças de que ela seja Teresa,a misteriosa diretora da ONG. Pinto não economizava em hotéis de luxo, shoppings, churrascarias, estéticas, eletrônicos e de artigos de surfe. Só num dia, gastou R$ 1,3 mil em uma loja de cosméticos. Em 14 de fevereiro, ao voltar para Porto Alegre, o vice-cônsul admitiu aos padres que estava na Europa. Garantiu ter repassado o dinheiro da Arquidiocese para a ONG, a fim de agilizar a doação dos R$ 12 milhões. Por cinco vezes dom Dadeus cobrou explicações
REPRODUÇÃO
de Pinto, que alegava a necessidade de técnicos europeus inspecionarem as obras para o dinheiro ser liberado. Pressionado, o vicecônsul emitiu quatro cheques (acima, o de R$ 1,4 milhão) com valores correspondentes ao que devia à Arquidiocese e ao padre Inácio, como forma de garantia de pagamentos futuros, mas foram devolvidos – três sustados e um com assinatura diferente.
Em março, a Arquidiocese procurou a 1ª Delegacia da Polícia Civil (1ª DP) de Porto Alegre, que se viu em dúvida porque Pinto tinha imunidade consular. De Portugal, Teresa passou a mandar e-mails em tom de chantagem ao padre Inácio. E, Pinto, revoltado, fez ameaças a dom Paulo de Conto, de Montenegro. Depois, propôs um acordo com dom Dadeus: entregaria R$ 50 mil na mão do arcebispo em troca da anulação do registro policial,prometendo devolver o dinheiro aos poucos,R$ 500 mil por ano.Por fim, ofereceu a dom Dadeus uma viagem paga ao Vaticano, onde Pinto se empenharia para que o religioso fosse promovido a cardeal.Nada foi aceito por dom Dadeus. Com o cerco se fechando, Pinto viajou para o Rio e, em 29 de março, para Lisboa, onde foi afastado das funções e é investigado pelo Ministério Público português. Em maio, o diplomata Paulo Santos deixou Portugal e atravessou o Atlântico e passou dois meses acalmando os cerca de 30 mil patrícios no Estado e pedindo desculpas à Igreja e a autoridades gaúchas. Mas sem dar nenhum sinal de que o governo português pretenda ressarcir a Igreja. Com as investigações reabertas, por conta da quebra da imunidade de Pinto, a 10ª Vara Criminal de Porto Alegre decretou a prisão preventiva do ex-vice-cônsul, que vai comemorar 49 anos dia 22 com os milhões da Igreja em algum lugar do mundo. JEAN SCHWARZ, BD, 08/02/2011
Teresa exigiu que a Arquidiocese comprovasse saldo para bancar a contrapartida para as obras – 30% do valor a ser doado. Alegou que Guiné Bissau recebeu verbas e não fez obra alguma. O padre Inácio disse que atravessaria a rua para pegar um extrato na agência do Banco do Brasil, mas Teresa só aceitava comprovação de um banco português. Começou um bate-boca, e Pinto ofereceu a conta do vice-consulado para colocar o dinheiro. Os padres ficaram em dúvida. Teresa garantiu não ter problema e pediu aos religiosos que comprassem cinco canetas Mont Blanc para o Ministro da Cultura português e assessores. Afinal, estavam bancando a doação. Pinto levou os padres a um shopping. Uma caneta custava R$ 4 mil, e os religiosos recuaram. Teresa, irritada, ligou cobrando os presentes. De volta a Porto Alegre, os padres se reuniram com o arcebispo, dom Dadeus Grings. Pensavam em desistir do negócio. Eram necessário uns R$ 2 milhões. Pinto prometeu conseguir emprestados R$ 565 mil com um amigo embaixador. Em 21 de dezembro, a Arquidiocese depositou R$ 1,4 milhão na conta bancária de Pinto, e ele assinou certidão em cartório assegurando não tocar nos valores. O depósito deveria ser na conta do vice-consulado, mas Pinto alegava que o escritório não tinha CNPJ. Três dias depois, Teresa reclamou, por e-mail, ao padre Inácio, que o saldo era insuficiente. Pinto se desculpou com o padre, alegando confusão do embaixador, que enviara dólares em vez de euros, e a Arquidiocese depositou mais R$ 570 mil na conta do vice-cônsul.
Em 28 de dezembro, Pinto transferiu o R$ 1,3 milhão da Igreja para a conta dele no banco BBVA, em Lisboa. No dia seguinte, Teresa mandou novo e-mail aos padres, pedindo mais R$ 1,5 milhão. Isso porque, além da restauração das paróquias da Conceição, na Capital,e as de Triunfo e de Viamão, tinha sido aprovada doação para a reforma da Cúria Metropolitana,o que surpreendeu os padres. A Igreja não tinha recursos para outro projeto. Era período de férias coletivas, padre Inácio estava em Santa Catarina com a família, e o vice-cônsul foi atrás dele. Dizia que tinha arrumado um empréstimo com amigos e que faltariam R$ 574 mil para fechar o negócio. Mesmo desconfiadíssimos, os padres
8. Propostas indecorosas, desculpas transatlânticas
Dom Dadeus Grings em frente à Cúria Metropolitana, um dos prédios que seriam reformados: arcebispo de Porto Alegre recebeu proposta indecorosa e absurda (no detalhe, à esquerda) de Pinto: viajar ao Vaticano e voltar nomeado cardeal
SEGUE >
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ZERO HORA DOMINGO, 14 DE AGOSTO DE 2011
Reportagem Especial ENTREVISTA
Adelino D’Assunção Nobre de Melo Vera Cruz Pinto, ex-vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre
“Só se estou com amnésia, mas não lembro nada” TCE, DIVULGAÇÃO, BD, 18/03/2010
Às 9h10min de quinta-feira, Zero Hora conversou com o ex-vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre Adelino Pinto.Falando ao celular, dizendo estar em Roma,Pinto afirma que não deixou dívidas no Rio Grande do Sul e garante que também é vítima do golpe que lesou a Arquidiocese de Porto Alegre da Igreja Católica em R$ 2,5 milhões.Sobre os R$ 447 mil que gastou de sua conta,é categórico:“não lembro nada disso”.Assegurou ainda que voltará em breve à Capital e que vai se apresentar à Polícia Civil. A seguir trechos da entrevista:
Em março de 2010, Pinto recebe homenagem das mãos do então presidente do TCE, João Osório, uma das tantas autoridades com quem o português se reuniu
Zero Hora – Onde o senhor está? Adelino D’Assunção Nobre de Melo Vera Cruz Pinto – Em Roma,a tratar de assuntos pessoais.E vou voltar a PortoAlegre dia 15. ZH – O que vem fazer em PortoAlegre? Pinto – Sou vice-cônsul aí.Preciso dar a cara e me apresentar às pessoas.
ZH – Como é o nome dela? Pinto – TeresaAlmeida.
Pinto – Não,nunca,jamais na minha vida.
ZH – O senhor ofereceu uma viagem a RoZH – Quem é ela? ma para dom Dadeus, prometendo, também, ZH – Se apresentar no consulado? Pinto – É uma funcionária pública em Portugal que ele seria promovido a Cardeal? Pinto – Não. Estais a brincar. Isso é coisa que Pinto – Sim. que me apresentou a Teresa Falcão e Cunha. não tem nexo. ZH – Mas o senhor está afastado das funZH – Esse dinheiro não está na sua conta no ZH – O senhor ameaçou o bispo dom Paulo ções e é investigado pelo Ministério Público banco BBVA? português... Pinto – Não.Já foi passado para a doutora Tere- para retirar a ocorrência? Pinto – Não.Ele é meu amigo,tenho estima por Pinto – Sim, mas até a conclusão, posso me sa Falcão e Cunha.Podes consultar minhas contas. apresentar.Não tem qualquer problema. Aliás,já autorizei o Ministério Público português ele.Pelo amor de Deus,meter dom Paulo num assunto desses não fica bem. para fazer o rastreio. ZH – O senhor pretende se apresentar à poZH – O senhor sabia que esse episódio enlícia em PortoAlegre? ZH–OsenhorconheceMariaA.C.Figueiredo? Pinto – Vou me apresentar ao delegado Paulo Pinto – Sim,mas já não tenho mais nada com vergonhou a comunidade portuguesa e que um diplomata veio aqui pedir desculpas pelas Cesar Jardim.Quero fazer neste mês de agosto. essa senhora. suas atitudes? Pinto – Sim.Mas eu tenho um trabalho feito aí, ZH – Não teme ser preso? ZH – Ela é mãe dos seus filhos? também,com a comunidade lusa e brasileira que Pinto – Não,jamais. Pinto – É. pretendia fazer grandes parcerias.E posso provar isso com documentos. ZH – Por que o senhor sacou os R$ 2,5 miZH – Ela mora em Portugal? lhões da Arquidiocese que estavam caucionaPinto – Sim,sim. ZH – O senhor está envergonhado? dos e transferiu R$ 1,8 milhão para sua conta Pinto – Não, porque fui muito enganado por do banco BBVA,em Lisboa? ZH – Por que o senhor depositou R$ 200 mil Pinto – Porque o Padre Inácio Ledur me pediu na conta dela no Banco do Brasil no Rio de Ja- todos. que agilizasse as coisas, e como a Teresa Falcão e neiro? Pinto – Ela esteve 15 dias de férias,em fevereiZH– Todos quem? Cunha pediu para que mandasse para a conta dela,eu repassei esse dinheiro para conta dela.Aliás, ro, no Rio. Ela ia com as crianças e eu devia esse Pinto – Os padres,a Teresa Falcão e Cunha. há provas documentais em que ela assume que dinheiro a ela,então abri a conta para passar o dificou com o dinheiro. nheiro. ZH – O senhor se considera uma vítima? Pinto – Sim. Sou uma das vítimas. Os padres ZH – Quem é Teresa Falcão e Cunha? ZH– Usou o dinheiro da Igreja para pagar a também são vítimas.Eu fiquei sem nada.Acabei colocando dinheiro meu também que ainda não Pinto – É de uma ONG. conta? Pinto – Não, não. Há uma confusão muito foi restituído. ZH – Mas ninguém conhece essa mulher... grande. ZH– Quem é o autor desse crime? Pinto – É verdade,eu que o diga,eu que o diga. Pinto – É a doutora Teresa Falcão e Cunha. Ela agora desapareceu.Mas,de qualquer maneira, ZH – O dinheiro será devolvido? pediu a uma amiga dela que justificasse que até o Pinto – Vai ser devolvido,lhe dou essa garantia. ZH – O senhor gastou R$ 447 mil das suas final do ano ia entregar o dinheiro. contas bancárias.O que comprou? ZH– Quanto? Pinto – Só se estou com amnésia muito grande, ZH – Ela é portuguesa? Pinto – Tudo.Os R$ 2,5 milhões. mas não lembro nada disso.Comprei coisas essenPinto – É sim.É doAlgarve. ciais. ZH – Quando? ZH– Por que não devolveu o dinheiro à Igreja? Pinto – Eu creio que o mais rápido possível.Eu Pinto – Porque estou a esperar pelas pessoas pedi que fizessem isso antes do dia 7 de setembro, ZH– O senhor comprou eletrodomésticos. para quem eu passei o dinheiro.Aliás, disseram quando dom Dadeus faz 75 anos e vai embora da Produtos estéticos,de beleza... que vão devolver diretamente à Igreja. Pinto – Tudo mentira. Igreja. ZH– Quem disse? ZH– Tem saudade de PortoAlegre? ZH – O senhor ofereceu R$ 50 mil a dom Pinto – Uma amiga, colaboradora da Teresa Dadeus para ele retirar queixa contra o senhor Pinto – Evidentemente que sim. Tenho muito Falcão e Cunha. amigos aí. na polícia?
Críticas ao governo português Surpreendido pelo episódio,o governo de Portugal prefere o silêncio.Na Embaixada, em Brasília, ninguém fala sobre o assunto. Remetem as solicitações de entrevista ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, que, por sua vez, também não atende aos pedidos. Em maio,um diplomata veio ao Estado para se desculpar perante autoridades. Ricardo Seitenfus,doutor em Relações Internacionais, entende que Portugal tem de dar explicações: – Aparentemente, se trata de apropriação indébita e, portanto, deve ser levada à alçada civil e penal. O suposto criminoso aproveitou-se de sua posição de representante consular para cometer crime em território brasileiro. Mesmo que declare que agiu de moto-próprio, Portugal deve ser responsabilizado. Para Seitenfus, o governo de Lisboa deve ressarcir a Arquidiocese. Paulo Vizentini, professor de Relações Internacionais da UFRGS, acredita ter ocorrido uma falha por parte do governo português ao não inspecionar atos de um de seus agentes. – Nas representações brasileiras no Exterior são realizadas auditorias para analisar o comportamento dos nossos agentes – afirmaVizentini. O arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings,acredita que a Arquidiocese vai reaver os R$ 2,5 milhões desviados. A comunidade portuguesa no Estado acompanha o caso com apreensão. – Isso deve ser bem investigado. Estamos muito envergonhados com o que aconteceu. São necessária atitudes drásticas para mudar essa imagem – lamenta Antônio David Santos da Graça, diretor do Clube Casa de Portugal em Porto Alegre.