Reportagens em ZH

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Geral

ZERO HORA SÁBADO, 27 DE FEVEREIRO DE 2010

O BOLÃO DA DISCÓRDIA

PROTEÇÃO À INFÂNCIA

Delegado aponta contradição em depoimento de funcionária Jovem afirma ter perdido comprovante do bilhete vendido ao pai e contraria proprietário da lotérica

Sem provas de que o pai realmente tinha um comprovante do bolão premiado da Mega Sena do último sábado, a funcionária que admitiu ter esquecido de validar o jogo com as dezenas sorteadas despertou dúvidas no delegado titular do caso, Clóvis Nei da Silva.

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iane Samar da Silva, 21 anos, disse em depoimento ao delegado que perdeu o comprovante do bolão vendido ao pai. O fato contradiz o proprietário da Lotérica Esquina da Sorte, José Paulo Abend, e uma das funcionárias. Segundo eles, teria sido a partir deste comprovante que a garota teria percebido o erro, ainda no sábado. – Ela alegou o fato e não comprovou. Diz que teria perdido o comprovante do pai – observa o delegado. Após confrontar os depoimentos colhidos esta semana, o delegado cogita fazer uma acareação, procedimento no qual ele colocaria duas pessoas envolvidas no caso frente a frente. Ele prefere não antecipar quais seriam essas pessoas, mas já tem em mãos os relatos de 24 apostadores, além do proprietário da lotérica e todos os seus funcionários. Representantes da Caixa Econômica Federal também deverão ser ouvidos na próxima semana. O delegado aguarda o retorno do ofício encaminhado

FOTOS MIRO DE SOUZA, BD – 25/02/2010

Vale do Sinos/Casa Zero Hora CARLOS WAGNER e LETÍCIA BARBIERI

à direção da agência, em Brasília. Da mesma forma decidirá se será necessário encaminhar para análise técnica o vídeo entregue por Abend como a prova do desespero da funcionária ao perceber o erro. – Muitas informações ainda estão chegando – antecipa o delegado.

Diane teria viajado para fugir do assédio da imprensa De acordo com a versão apresentada por Abend e sua funcionária, com uma cota do bolão adquirida pelo próprio pai, a jovem teria procurado conferir o resultado da loteria logo após o sorteio, às 20h de sábado. Frente a frente com as dezenas premiadas, ela teria vibrado. Queria saber então com quantas pessoas o pai dividiria o prêmio, além das 35 que haviam participado do mesmo bolão. Ao telefonar para a colega de trabalho para confirmar a notícia, ela teria percebido que algo de muito grave havia acontecido: o prêmio estava acumulado. Juntas, elas teriam pedido autorização para o proprietário e se deslocado até a lotérica por volta das 21h20min, atrás do comprovante do jogo. As imagens que se seguiram foram de desespero da garota ao perceber que não havia validado o jogo. Na manhã de ontem, Diane teria viajado para o Litoral Norte. Embora não fosse necessária a autorização da polícia para ela se afastar da cidade, já que foi ouvida no inquérito policial

Diane Samar da Silva

Clóvis Nei da Silva

que apura o caso como testemunha, a advogada de Diane comunicou ao delegado que sua cliente viajaria para o Litoral Norte. Explicou que a viagem era para afastá-la do assédio da imprensa. Além do delegado, a outra pessoa que sabe do paradeiro dela é o dono da Esquina da Sorte. Ele disse que deu férias para Diane, sem entrar em detalhes. O episódio deu notoriedade à funcionária. Mas ninguém pediu à polícia proteção à sua integridade física, explicou Mauro Vasconcellos, delegado regional do Vale dos Sinos. – Também não temos nenhuma informação de que tenha recebido ameaça. Estamos atentos – comentou Vasconcellos.

Apostador de NH ganha a Quina

carlos.wagner@zerohora.com.br leticia.barbieri@zerohora.com.br

A sorte parece rondar Novo Hamburgo esta semana. Em meio à polêmica do bolão premiado da Mega Sena na Esquina da Sorte, a lotérica vizinha,A Papagaia, sorteou a quina da Mega Sena do sorteio de quarta-feira. Depois do bolão premiado, mas que não foi validado, um hamburguense decidiu tentar a sorte e levou. A informação foi confirmada pela gerente da lotérica, Elisete Silva Lucena. O sortudo retirou ontem o prêmio de R$ 21.432.57, na Caixa Econômica Federal. Ele acertou as dezenas 09 - 24 - 44 - 48 - 49. A que faltou para o apostador faturar o prêmio de R$ 63 milhões foi a 31. Ele marcou a 34.

CLAUDIO VAZ

de caminhar três quilômetros até o local onde o ônibus os esperava. Na Linha Araça, 47 alunos tiveram de mudar o horário do despertar. A ponte da estrada principal da localidade caiu, e a rota alternativa aumenta em sete quilômetros a distância até a cidade. A saída foi sair de casa antes das 6h. – É a melhor assim porque a ponte vai seguir esperando por conserto – justificou o responsável pelo transporte escolar de Agudo, Jader Drescher.

Governo lança lista de sumidos O Ministério da Justiça e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República lançaram ontem o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas. O objetivo é criar uma rede de investigações e acompanhamento dos casos, a partir do acúmulo de dados sobre crianças, adolescentes, adultos e idosos.

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Queda de pontes ameaça ano letivo A queda de pontes em 36 municípios da região central do Estado devido à chuva ameaça o retorno às aulas de dezenas de crianças. Em Agudo, onde o ano letivo recomeçou na segunda-feira, cerca de 50 estudantes que moram em Linha Teutônia por muito pouco não perderam os primeiros dias de aula. A prefeitura está construindo um pontilhão sobre o arroio que corta a localidade, conhecida pela cascata Raddatz. Enquanto a travessia não ficava pronta, os estudantes tiveram

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e acordo com o Ministério da Justiça, com o cadastro será possível alcançar um número real sobre casos de desaparecimentos no Brasil. A ideia é que o desaparecimento seja inserido no cadastro e, posteriormente, divulgado para todos os órgãos de segurança do país. Dados oficiais indicam que o desaparecimento de crianças e adolescentes são causados por fuga ou estão relacionados ao tráfico de drogas e exploração sexual.

DEBATE NA ONU

Ideia para proteger consumidores Ontem, por proposta do Brasil, os governos de todos os países das Américas propuseram à Organização das Nações Unidas (ONU) a criação de uma convenção internacional para reforçar os direitos do consumidor no continente. O objetivo da medida é evitar as frequentes lesões a consumidores e apoiar vítimas de quadrilhas transnacionais.

MINAS GERAIS

Queda de bimotor deixa dois mortos A queda de um avião bimotor deixou pelo menos dois mortos na manhã de ontem, na Serra do Curral, em Minas Gerais. A aeronave colidiu com o topo de uma das montanhas da serra. O último contato ocorreu às 8h10min e, em seguida, o bimotor saiu do radar. Apenas o corpo do tripulante Rafael Sales, 27 anos, foi identificado.


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Geral

ZERO HORA SEXTA-FEIRA, 26 DE FEVEREIRO DE 2010 MIRO DE SOUZA

BOLÃO DA DISCÓRDIA

Funcionária diz que esqueceu de fazer aposta Delegado afirma que prosseguirá a investigação sobre possível estelionato no caso da Mega Sena Vale do Sinos/Casa Zero Hora LETÍCIA BARBIERI

Apesar de ouvir pessoalmente a confissão da funcionária da Lotérica Esquina da Sorte que admite ter esquecido de validar o bolão premiado da Mega Sena do último sábado, o delegado que investiga o caso diz não estar convencido do erro. O vídeo apresentado pela lotérica como a prova do desespero da atendente deverá passar por análise técnica.

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urou três horas o depoimento da funcionária Diane Samar da Silva, 21 anos, ontem, na 2ª Delegacia da Polícia Civil de Novo Hamburgo. Às 14h20min, ela entrou no gabinete do delegado Clóvis Nei da Silva acompanhada por uma advogada. Com óculos

escuros e acuada, Diane falou apenas com o delegado. Segundo a advogada, essa é a estratégia da defesa para não atrapalhar as investigações. Na quarta-feira, o proprietário da lotérica, Paulo José Abend, descartou erro de impressão da gráfica e apontou o equívoco da funcionária como a causa de três bolões não terem sido apostados. O problema, segundo o gerente da casa, Ederson da Silva, começou a se desenhar na quinta-feira, dia em que Diane já deveria ter validado o volante da Mega Sena para iniciar as vendas. – Ela deixou de quinta para sexta e depois para sábado, mas foi embora sem fazer, simplesmente esqueceu – relata o gerente. Para o delegado, o esquecimento deverá ser melhor investigado. Nas três horas de depoimento, ele procurou entender o trabalho da atendente, que é a responsável pelos bolões da lotérica

Durante três horas, Diane deu explicações na 2ª Delegacia da Polícia Civil de Novo Hamburgo

há um ano. Sem dar detalhes das declarações da jovem, ele não descarta uma negligência da funcionária, mas segue investigando um suposto crime de estelionato, no qual a lotérica teria tirado vantagem sobre os clientes. – Os jogos foram vendidos e não foram validados, a lotérica ficou com o dinheiro – resume o delegado. Com um comprovante do bolão premiado em mãos, Jacson Simon se apresentou ontem como advogado de três funcionários da Lotérica, além

do gerente, garantindo que o grupo também é vítima e foi lesado. Os quatro teriam adquirido uma das 40 cotas do bolão e agora querem buscar na Justiça o valor.

Funcionários dizem que processarão Caixa e lotérica Para tentar reaver o prejuízo, os funcionários pretendem ingressar na Justiça contra a Caixa Econômica Federal e contra a própria lotérica na

qual trabalham. – Como qualquer apostador, eles compraram a sua cota no bolão e agora estão reivindicando o seu prêmio – argumenta o advogado. Os funcionários contam que não tiveram tempo de comemorar o prêmio sorteado no sábado. Na mesma noite, uma hora após o sorteio, todos já sabiam do suposto erro cometido pela colega e se preparavam para dar explicações aos clientes na segunda-feira.


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ZERO HORA TERÇA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2010

Reportagem Especial

JOGO DE AZAR Os gaúchos que cobram a Mega Sena milionária

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radicional ponto de apostas de Novo Hamburgo, a Esquina da Sorte se viu obrigada a fechar as portas, ontem. Dentro da lotérica, a gerência tentava encontrar explicações para 40 apostadores. Eles tinham em mãos bilhetes com as seis dezenas sorteadas pela Mega Sena no sábado e esperavam na porta pela sua parcela do prêmio de R$ 53 milhões. A aposta, no entanto, não havia sido feita. Uma falha humana, um erro de digitação ou um problema no sistema foram as explicações do gerente da lotérica, Ederson da Silva, para a falta da aposta. O jogo pode ter sido feito, mas com outros números, e o comprovante estaria guardado em um cofre de acesso restrito ao proprietário – que não apareceu para prestar esclarecimentos. – Estão pensando que agimos de má-fé, mas foi uma fatalidade. Não colocaríamos em risco um patrimônio, uma tradição de 20 anos, por R$ 400 de um bolão – justifica Silva. O bolão foi organizado pela lotérica. Os 40 apostadores que adquiriram as cotas vendidas a R$ 11 não se conheciam. Advogados, comerciantes, industriários e aposentados estão entre os lesados. Depois de se reunirem em frente à lotérica, caminharam até a agência da Caixa. – Confiamos no prêmio porque era da Caixa. Se não pudermos confiar na Caixa vamos confiar em quem? – diz a professora Sabrina Wildner, 41 anos. Em nota, a Caixa informou que “o comprovante emitido pelo terminal de apostas é o único documento que habilita o recebimento de prêmios. A ocorrência será objeto de apuração e, caso se confirme a existência de irregularidade, será aplicada a penalidade prevista nas normas internas, que podem ir de uma advertência até a revogação compulsória da permissão”. O vice-presidente do Sindicato dos Empresário Lotéricos do Estado, Marco Antonio Kalikowski, espera que a confusão não abale a confiança dos apostadores: – Não há possibilidade de erro no sistema da Caixa, porque é auditado. Com advogados já contratados, os apostadores prometem buscar o prêmio na Justiça. – Vamos notificar a Caixa e entrar com liminar para bloquear o valor. Vamos buscar o prêmio e uma reparação

MIRO DE SOUZA

Vale do Sinos/Casa Zero Hora LETÍCIA BARBIERI

Os números sorteados:

20 28 40 41 51 58

Com o comprovante da lotérica (detalhe) em mãos, apostadores foram em vão até a casa receber sua parte do prêmio de R$ 53 milhões

O jogo polêmico A lotérica realizou um bolão no qual oferecia 15 diferentes jogos a 40 pessoas, da seguinte forma: G G

1 jogo de oito dezenas 4 jogos de sete dezenas 10 jogos de seis dezenas Cada apostador pagou R$ 11 para

– Podemos estar diante de um golpe muito maior, de muito mais tempo. O delegado adianta que vê o banco como possível vítima. Neste caso, a Polícia Federal (PF) deverá ser acionada.

Caixa suspende todos os serviços da lotérica

Superintendente Regional da PF em exercício, o delegado José Antonio Dornelles de Oliveira diz não ter sido participar da associação informal comunicado, mas caso a Polícia Civil A lotérica arrecadou R$ 440 com o aponte danos ao patrimônio da União, bolão, e deveria gastar R$ 132 com um inquérito será instaurado as apostas Segundo o escritório Ademir Dias Uma das combinações (a de oito Advogados, que representa a lotérica, dezenas) continha as dezenas sortenão houve má-fé e, no momento, está adas no sábado sendo apurado se o problema ocorSe tivessem dividido o prêmio por reu por falha humana ou algum outro 40, os apostadores receberiam cerca imprevisto. Na tarde de ontem, a Caixa de R$ 1,3 milhão cada um suspendeu todos os serviços bancários e todas as apostas relacionadas a moral – adianta a advogada de 15 dos loterias na Esquina da Sorte. Segundo a instituição, a suspensão é temporáapostadores, Jos Mari Peixoto. Com pelo menos 13 ocorrências ria, mas não há previsão para a conregistradas, o delegado da Polícia Civil clusão da investigação. Clóvis Nei da Silva vai abrir um inquéleticia.barbieri@zerohora.com.br rito para investigar o caso: G G

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Milionários por um dia O metalúrgico José Álvaro Pessoa, 51 anos, olhou incrédulo para a namorada. O vendedor Luiz Fernando Brunes, 35 anos, mal podia acreditar nos números que via no jornal. E o comerciante Jair Lorena, 38 anos, estava convencido de que se tratava de um sonho. Eles estavam frente a frente com as seis dezenas sorteadas pela Mega Sena no sábado: 20, 28, 40, 41, 51, 58. Nenhum deles diz que tinha a intenção de entrar no bolão da lotérica, mas depois de fazer a fé no jogo particular, a atendente teria atiçado cada um deles com a oferta do cartão por R$ 11. Alguns deles viram na oferta um sinal de sorte e compraram na hora. As apostas foram feitas entre a sexta-feira e o sábado de manhã. O metalúrgico chegou a deixar as horas extras no trabalho para não perder a aposta. Cada um deles

sentiu o gostinho de ganhar na Mega Sena, mas em seguida todos mergulharam em um pesadelo. – Era para ser um dia feliz, muito feliz, mas virou esse pesadelo – descreveu Lorena, o comerciante. A sorte que acenava com o convite para o bolão virou azar da noite para o dia e tirou o sono do metalúrgico. Após vibrar com as dezenas sorteadas, ele seguiu o conselho da namorada que, cautelosa, chegou a duvidar de tanta sorte. No site oficial da Caixa, a mensagem era clara: o prêmio estava acumulado, não havia ganhador. Os planos de compra da casa própria, da casa na praia, do carro do ano já prontos para serem colocados em ação foram interrompidos. Mas mesmo ressabiados, os apostadores duvidam que vão resistir ao próximo sorteio.


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