J rnal da C pa AP/ZH
PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 1º DE JULHO DE 2002
ZERO HORA
É nossa!
2 | ZERO HORA ◆ PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 1º/07/2002
Brasil cinco AP/ZH
DAVID COIMBRA ◆ Enviado Especial/Yokohama
ocê, brasileiro que acordou às 8h da manhã de domingo e se postou estremunhado em frente ao aparelho de TV. Você, brasileiro que apenas ouviu pelo rádio a transmissão da maior final da história das Copas. Você, brasileiro que foi ao Japão. E até você, brasileiro que detesta futebol. Todos vocês são campeões do mundo. Pentacampeões. Porque a Seleção Brasileira, representando cada um de vocês, derrotou a poderosa Alemanha por 2 a 0, no Estádio Internacional de Yokohama, e deu esse título ao Brasil. Um título conquistado em cada detalhe. A começar pela inteligente estratégia do técnico Luiz Felipe Scolari. Luiz Felipe preparou uma surpresa à Alemanha. Kléberson, pela escalação o segundo volante, na prática atuou como quarto homem de ataque. Logo aos dois minutos, ele apareceu indo à linha de fundo pela direita, cruzando, obrigando Oliver Kahn a uma boa defesa. Aos sete, Kléberson chutou mais uma vez, de fora da área, e Kahn defendeu de novo. A Alemanha respondia com um jogo mais do que apenas viril. Um jogo que passeava pela orla da violência. Klose deu um chute em Cafu e um cotovelaço em Edmílson. Recebeu cartão amarelo aos nove minutos. Em compensação, Roque Júnior parou um contragolpe da Alemanha com falta e levou amarelo aos quatro.
V
O pedestal de Cafu Era um momento mágico. O capitão Cafu queria dar um jeito de valorizar ainda mais o instante mais esperado da Copa: o gesto de levantar a taça. Improvisou e proporcionou ao mundo uma imagem inesquecível. Ao ver o suporte da taça, o lateral deu uma olhadinha para o presidente da Fifa, Joseph Blatter e para Pelé. Testou o suporte para conferir se agüentava o seu peso e, zupt, subiu no módulo. Lá, equilibrando-se para não cair, pediu que lhe alcançassem o troféu. Com um grande sorriso, ergueu a taça, gritou um “Eu te amo Regina” (a mulher do lateral) e fez o país se emocionar. Cafu deixou para lá o lado formal e foi inventivo, tal como o futebol brasileiro. O mundo agradeceu.
No abraço real de Pelé e Ronaldo, 24 gols marcados em Copas Era essa, aliás, a proposta da Alemanha: o contra-ataque, com passagens inteligentes dos laterais pelos flancos e cruzamentos para seus atacantes de estatura elevada. Mas a defesa do Brasil estava sólida. Em nenhum momento o perigoso Klose, artilheiro alemão com cinco gols na Copa, pôde cabecear livremente. O Brasil, ao contrário, jogava por baixo, bola no chão, na habilidade de seus atacantes. O principal deles até aquele momento, Ronaldinho. Aos 18, Ronaldinho rolou a bola suavemente para Ronaldo na pequena área, por uma fresta descoberta apenas por ele na zaga alemã, que parecia não estar ali. Ronaldo deu uma estocada com o lado de fora do pé esquerdo, e a bola saiu. Aos 29, Ronaldinho lançou Ronaldo por cima dos zagueiros. O camisa 9 se desequilibrou, e Kahn tomou-lhe a bola. Aos 41, foi a vez de Cafu lançar Kléberson, que, sozinho diante de Kahn, bateu para fora.
Três minutos depois, o mesmo Kléberson chutou forte, no travessão. E aos 45, Kahn salvou os germânicos ao tirar com os pés um chute de Ronaldo de dentro da área. O final do primeiro tempo foi alvissareiro para o Brasil. Só que a Alemanha convocou a Divisão Panzer para o segundo. Logo no primeiro minuto, Jeremies conseguiu o que ninguém conseguira até então: cabeceou livre. Marcos pegou. Aos três, Neuville cobrou falta da intermediária e acertou a trave esquerda de Marcos, que ainda tocou na bola com a ponta dos dedos. O Brasil respondeu aos seis, com Gilberto Silva cabeceando para baixo. Oliver Kahn defendendo. Os alemães saudaram seu goleiro da arquibancada: – Oli! Oli! Oli! Mas a torcida brasileira logo respondeu: – Brasil! Brasil! Brasil! No estádio, havia mais brasileiros do que alemães.
Mas, em campo, a Alemanha jogava com disposição ofensiva inédita, atacando sobretudo pelo lado direito, com os velozes Frings e Neuville. Jogo duro. Final de Copa. A tensão só arrefeceu um pouco aos 16 minutos, quando Edmílson foi trocar a camisa rasgada e... não conseguiu! Atrapalhou-se com o forro especial criado pelo fabricante de material esportivo e fez o jogo ficar parado por quase um minuto, o mundo inteiro esperando que ele acertasse a gola. Acertou, e o estádio aplaudiu de satisfação. A Alemanha ainda pressionava quando, aos 21 minutos, Ronaldo lutou contra Hamann na intermediária. Roubou a bola. Ela ficou com Rivaldo. Que chutou com força e efeito, à meia altura. Kahn errou. Defendeu parcialmente, mas a bola voltou para o meio da área e lá estava Ronaldo, o grande Ronaldo. Que empurrou para o gol: 1 a 0. O Brasil, então, se encolheu. Ficou em seu campo, esperando que a Alemanha errasse. E a Alemanha errou. Aos 33 minutos, Kléberson puxou o contragolpe pela direita, passou rasteiro para o meio da área e Rivaldo abriu as pernas num “corta-luz” sensacional. Ronaldo apanhou a bola, bateu rasteiro e marcou seu oitavo gol na Copa da Ásia e seu 12º em Copas do Mundo, igualando uma marca que só Pelé tinha no futebol brasileiro. Das arquibancadas, a torcida gritava: – Pentacampeão! Pentacampeão! O título estava assegurado. Um título de Luiz Felipe, de cada um dos 23 jogadores da Seleção e, sobretudo, de cada basileiro.
BRASIL CBF
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Marcos; Lúcio, Edmilson e Roque Júnior; Cafu, Gilberto Silva, Kléberson, Ronaldinho (Juninho, aos 84 minutos) e Roberto Carlos; Rivaldo e Ronaldo (Denilson, aos 90 minutos). Técnico: Luiz Felipe.
ALEMANHA
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Kahn; Metzelder, Ramelow e Linke; Frings, Hamann, Jeremies (Asamoah, aos 77 minutos), Schneider e Bode (Ziege aos 83 minutos); Klose (Bierhoff, aos 74 minutos) e Neuville. Técnico: Rudi Vöeller. Gols: Ronaldo (B) aos 21 e 33 minutos do segundo tempo. Arbitragem: Pierluigi Collina (Itália), auxiliado por Leif Lindenberg (Suécia) e Philip Sharp (Inglaterra). Cartões amarelos: Roque Júnior (B) e Klose (A). Local: Estádio Internacional de Yokohama, no Japão.
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estrelas AFP/ZH
O carrasco e sua vítima: Kahn, a muralha alemã, beija a grama de desgosto após falhar no primeiro gol de Ronaldo, que corre para comemorar. O Fenômeno ainda faria mais um
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Escaute
É do Brasil! A
CBF
FOTOS MAURO VIEIRA/ZH
Família Scolari fez o Brasil sorrir com um futebol que misturou criatividade, dedicação e união de grupo. O paizão Felipão conseguiu unir jogadores em torno de uma só meta: a conquista do Penta. Contra a Alemanha, os comandados de Luiz Felipe mostraram outra vez o espírito de vencedor. Foram bravos diante dos fortes alemães. A recompesa veio com o título. Veja como eles foram na grande final em Yokohama.
Não teve quase trabalho no primeiro tempo. São Marcos, porém, foi fundamental na etapa final com duas defesas espetaculares em conclusões de Neuville, de falta, e Bierhoff.
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CAFU
Não conseguiu ir ao ataque desta vez. Improvisou no momento de erguer a taça e proporcionou um grande momento. É preciso tirar o chapéu para ele, pois atuou nas últimas três decisões de Mundiais.
9 LÚCIO Mostrou o vigor de sempre. Desta vez saiu com mais liberdade para o ataque, na sua jogada característica. Sua presença no ataque custou uma provocação de Kahn, que o atingiu com um tapa no peito.
9 Um pouco nervoso no início. Depois, porém, dominou o setor e foi o melhor zagueiro brasileiro. Calou os críticos com ótimos desempenhos.
9 EDMÍLSON Ficou mais preso na marcação. Jogou como um terceiro volante. Foi incansável na tentativa de recuperar a bola. Rezou no final do jogo agradecendo o título. Os torcedores do Brasil também agradecem.
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Chutes a gol Chutes fora Escanteios Faltas cometidas Passes errados Impedimentos Chutes dentro da área Chutes fora da área Cruzamentos Conclusões de cabeça
◆ O árbitro italiano Pierluigi Col-
Como os alemães marcaram os 3R, teve espaço para aparecer no ataque. Chutou três vezes a gol, na terceira acertou a trave. Jogou como se estivesse no AtléticoPR. O menino de aparelhos nos dentes foi uma grande revelação. 9
ROBERTO CARLOS Muita marcação, força e seriedade. Deu chutões quando necessário, chamou a atenção da defesa. Foi quase um zagueiro. Não teve espaço para atacar.
9 RONALDINHO Foi o mentor das melhores jogadas do primeiro tempo. Deu dois “merengues” para Ronaldo marcar. Sumido nos últimos 45 minutos.
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RIVALDO
ROQUE JÚNIOR
7 2 2 16 14 0 5 4 5 1
ALEMANHA 3 7 12 17 19 1 2 8 13 1
O juiz
KLÉBERSON
MARCOS
BRASIL
Uma decepção no primeiro tempo. Foi marcado de perto pela defesa e se acomodou. Sucumbiu de maneira surpreendente à marcação. No segundo, participou dos lances dos dois gols. Como todo craque, tem talento e estrela.
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RONALDO Perdeu três chances incríveis de gol em frente ao goleiro Kahn no primeiro tempo. Mas é centroavante, matador, e resolveu o jogo para a Seleção. Desde 1974, quando Lato fez sete gols, o artilheiro da Copa não marcava mais de seis vezes. Ele fez oito e se igualou a Pelé em números de gols em Copas – 12 gols.
AFP/ZH
lina, de 42 anos, dono de uma fisionomia estranha e olhos assustadores, mostrou por que foi escalado pela Fifa para apitar a decisão. Extremamente sério, deu apenas um sorriso, quando Edmílson se enrolou para vestir a camiseta. Seguro e sempre bem colocado, marcou tudo de cima. Apresentou o primeiro cartão amarelo no início do jogo, para Roque Júnior. Conversou com os jogadores em vários momentos, pedindo calma e justificando algumas marcações mais duvidosas. No segundo tempo, quando o jogo esquentou, Collina precisou controlar o nervosismo dentro de campo e conseguiu.
10 Principais momentos
DENÍLSON Sua habidade foi outra vez importante para segurar a bola no momento em que o Brasil tinha a vantagem no marcador. Quase quebrou a coluna de um alemão com um drible desconcertante.
9 JUNINHO Entrou aos 39 minutos no lugar de Ronaldinho para dar mais movimentação, segurar a bola e buscar o contra-ataque. Começou a Copa como titular de Felipão. Perdeu a posição mas seguiu como jogador de confiança.
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GILBERTO SILVA Discreto e eficiente como sempre. Tirou de letra a tarefa de substituir Emerson, que foi cortado por lesão. Quando se arriscou ao ataque, quase marcou o gol, como no cabeceio defendido por Kahn aos seis minutos do segundo tempo.
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PRIMEIRO TEMPO 2 min – Kléberson chuta cruzado para a defesa de Kahn 18 min – Ronaldinho dá um passe perfeito para Ronaldo, que fica sozinho na cara do gol e desperdiça uma chance clara ao mandar a bola pelo lado direito da goleira alemã 29 min – Ronaldinho lança Ronaldo, que perde mais uma oportunidade clara 40 min – Jeremies arrisca de fora da área e manda por cima do gol 44 min – Depois de receber passe de Ronaldinho, Kléberson chuta com perigo, mas a bola bate no travessão 45 min – Roberto Carlos passa para Ronaldo, que domina a bola, gira e chuta para o gol. Kahn defende
SEGUNDO TEMPO 1 min – Depois de cobrança de escanteio, Jeremies cabeceia com perigo. 3 min – Neuville cobra bem uma falta: Marcos faz boa defesa 6 min – Após cobrança de escanteio, Roberto Carlos cruza para a área, e Gilberto Silva cabeceia. Kahn faz ótima defesa 21 min – Rivaldo chuta de fora da área. Kahn defende, mas deixa escapar. Ronaldo pega a sobra e faz Brasil 1 a 0 33 min – Depois de um passe de Kléberson, Rivaldo faz um corta-luz para Ronaldo marcar o segundo gol brasileiro 37 min – Bierhoff chuta, e Marcos faz uma defesa espetacular
O adversário ◆ O futebol pragmático dos alemães não foi suficiente para impedir o quinto título mundial do Brasil. O organizado time do técnico Rudi Völler marcou com firmeza as principais jogadas ofensivas da Seleção, mas não levou perigo ao gol de Marcos no primeiro tempo, apesar do maior período de posse de bola. A Alemanha cresceu no início da segunda etapa, mas não teve competência para aproveitar as chances. O atacante Klose, artilheiro da equipe no Mundial, foi discreto e não concluiu nenhuma vez a gol. Acabou substituído. Atrás, o goleiro Oliver Kahn fazia uma partida perfeita até falhar no gol de Ronaldo. Depois de tomar o primeiro, a Alemanha perdeu o controle do jogo e cedeu espaços para o Brasil ampliar.
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O mundo é da MAURO VIEIRA/ZH
família Scolari conquistou o Penta e o título de a família mais unida. O patriarca Luiz Felipe, o Felipão, ou simplesmente “o professor”, como o chamam os integrantes da clã, conseguiu a maior façanha do futebol mundial à custa de muita união e companheirismo dentro de casa. Foi severo e duro quando necessário. Foi paizão e amigo no momento certo. Foi estratégico, gritão e vencedor à beira do gramado. Enfim, todo o ambiente amistoso e disciplinador que o paizão alcançara no Grêmio, no Palmeiras e no Cruzeiro foi implantado agora na Seleção. Inclusive o insistente hábito de conquistar títulos. – O segredo foi o que todos observaram: vibração, amizade, união, participação, doação de todos ao nosso objetivo – explicou Felipão, com o clássico linguajar de um chefe de família. Como todo paizão, Luiz Felipe também venera um mestre, seu extécnico Carlos Froner, que hoje só espia o trabalho do discípulo na aposentadoria de Tramandaí. Seu Froner ficou orgulhoso de ver o amigo brilhar de novo. Só faltou Emerson na família. Ele não conseguiu passagem de Roma. A mulher de Felipão, dona Olga e o filho caçula, Fabrício, loucos de saudade viram pela televisão Felipão vibrar com um beijo na testa de Roberto Carlos. Viram o técnico erguer Júnior nos braços e flagraram o pai agradecer com um afago no rosto ao craque Rivaldo. Assim é Felipão. Emotivo, amigo, turrão e vitorioso. E Pentacampeão.
A
Como um paizão, Luiz Felipe comemora o pentacampeonato como se fosse apenas mais um integrante do grupo de jogadores AP/ZH
FELIPÃO SOCIÓLOGO Ao final da partida, o técnico lembrou outra vez o povo brasileiro e colocou a conquista do Penta como um exemplo de perseverança e determinação a ser seguido. Depois da conquista do Penta, pediu ao brasileiros que se guiem pela imagem vencedora desta Seleção. O discurso parecia de candidato em campanha, mas Felipão foi incisivo ao ressalvar que não é político e nem um pouco afeito a fazer política. – A todos os brasileiros peço que fixem as imagens vencedoras desta Seleção, com carinho, amor e amizade. Esse é o caminho de que o Brasil precisa. É assim que vamos fazer o Brasil crescer – convocou. O técnico insistiu também para que a Seleção siga aliando sua técnica inigualável com a disciplina tática. Essa combinação torna o futebol brasileiro poderoso como são os americanos no basquete. – Aqui houve fluído positivo, energia, pensamento e nós, brasileiros, quando queremos e somos disciplinados, podemos – disse. A festa da legítima família Scolari contou
FELIPÃO ESTRATEGISTA
com o sobrinho Darlan (ao fundo, na foto)
O técnico explicou na entrevista coletiva oficial as razões para utilizar Juninho nas primeiras quatro partidas da Copa. A escolha tornou a Seleção um tanto vulnerável na defesa, contando com apenas um marcador
à frente da zaga, Gilberto Silva. O motivo, conforme o técnico, foi a necessidade de o Brasil reconquistar o respeito dos adversários. As seguidas derrotas na Copa América e nas Eliminatórias, tinham arran-
hado o prestígio do futebol mais admirado do mundo. – No início do Mundial, conseguimos resgatar uma imagem de Brasil vencedor. Por isso optamos por colocar um jogador que foi fundamental, principalmente nas três primeiras partidas: o Juninho. Com ele tivemos maior poder de ataque. Começamos a Copa numa situação de força, de imposição e de respeito que não tivemos nas eliminatórias – explicou.
FELIPÃO OFENSIVISTA Criticado ao longo da carreira pelo zelo defensivo de seus times, Felipão viveu situação inversa nesta Copa. Ao final da primeira fase, a imprensa e os torcedores reivindicavam a entrada de mais um volante. Isso mesmo, a torcida pedia mais um volante para o “retranqueiro”. A campanha do Penta deixou Felipão com uma das melhores médias de um técnico na Seleção. O saldo de gols em 25 jogos foi de 42 gols. A Seleção marcou 18 vezes na Copa, média de 2,5 por jogo. A defesa, bastante criticada até a partida contra a Bélgica, foi elogiada pelo técnico. – A nossa defesa que todos criticam é uma das melhores do mundo. Além de defender, eles têm uma qualidade técnica muito grande – elogiou.
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família Scolari
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Froner previu a bronca RODRIGO CAVALHEIRO ◆ Tramandaí
ARIVALDO CHAVES/ZH
FELIPÃO EMOTIVO A saudade da família, a presença do filho mais velho, Leonardo, 18. no estádio e a festa do título emocionaram Felipão. Na entrevista oficial, ele não conteve as lágrimas ao falar da importância da família na conquista do penta. Ele tentou segurar, respirou fundo mas não controlou a emoção. Falando de Leonardo e Fabrício, 9, que havia lhe encomendado o título antes do embarque, comoveu-se e derrubou algumas lágrimas. – Estou com muita saudades. Filho, pode comemorar, o pai é penta! – disse. O apoio dos torcedores brasileiros também emocionaram o técnico, contratado pela CBF depois de ter nome confirmado numa pesquisa encomendada pela entidade. – Obrigado a todos no Brasil, foram vocês, torcedores, que me colocaram aqui. Espero agora que possamos festejar juntos – agradeceu.
Froner com a mulher, Vilma (D), e a filha Maria Berenice MAURO VIEIRA/ZH
FELIPÃO ALIVIADO As dificuldades impostas pelos alemães, principalmente no primeiro tempo, quase levaram o técnico à loucura. Ao seu estilo, gritou muito com o time e até esbravejou contra o juiz italiano Pierluigi Collina. O técnico atribuiu a vitória às individualidades da Seleção, que levaram vantagem em determinados momentos do jogo – A Alemanha jogou de uma forma que nós imaginávamos, tivemos muitas dificuldades, mas as individualidades superaram essa parte bem organizada do adversário – disse.
FELIPÃO DE AMANHÃ O futuro do técnico segue indefinido. Ontem, foi dia de festejar. A decisão sobre o próximo emprego fica para ser definida do Brasil. Felipão se encantou com o ambiente da Copa e revelou que deseja disputá-la outra vez. A permanência na Seleção ainda não foi tratada com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Para alguns amigos, Felipão confidenciou que repensa os planos de trabalhar na Europa neste segundo semestre. A renovação de contrato com a CBF já faz parte de seus planos. O técnico, porém, pode seguir o mesmo caminho de Carlos Alberto Parreira. Tetracampeão mundial, ele deixou o cargo em alta. Ano passado, quando comandava o Inter, recusou o convite para voltar alegando que uma derrota apagaria sua conquista.
O ex-técnico Carlos Froner acordou uma hora antes da partida, vestiu seu abrigo verde-amarelo da Seleção e se acomodou em frente à TV, em sua casa em Tramandaí, no Litoral Norte. Estava devidamente paramentado, com o agasalho da Seleção recebido de presente do técnico e amigo Luiz Felipe antes do embarque. No bolso esquerdo do agasalho, abaixo da inscrição “Ao meu amigo capitão Froner, um abraço do Luiz Felipe Scolari”, colocou o comprimido de calmante. Uma precaução, já que o jogo contra a Inglaterra, nas quartas-de-final, já lhe provocara falta de ar. Aos 82 anos e com um histórico de complicações cardíacas, o zelo era aconselhável No final do primeiro tempo, a Alemanha pressionava. Froner permanecia impassível, ao lado da mulher, Vilma, 63, e da filha Maria Berenice, 56. Tinha certeza de que o jogo seria mudado no vestiário. – Ele vai dar uma bronca neles no intervalo. O Rivaldo está escondido – avaliou Froner, curiosamente chamado de Alemão pela mulher. Dois gols de Ronaldo depois – com participação decisiva de Rivaldo –, Froner acelerou a respiração e abriu um sorriso ao ganhar os cumprimentos da família. Quando perguntaram ao telefone como estava o coração, respondeu: – Estou bem, somos campeões. Depois desta, não preciso de calmante – disse, exibindo o comprimido que prometeu guardar para a próxima Copa. Mais tarde, já com a emoção controlada, explicou o “golpe tático” aplicado no técnico Rudi Völler: – O alemão marcou os laterais do Brasil. O Felipão inverteu a posição deles com os volantes e confundiu a marcação. Ninguém falou disso ainda.
Um ano como técnico da Seleção
Belleti (13) abraça o técnico Felipão
Em 25 jogos como técnico da Seleção, Felipão conquistou 19 vitórias, empatou um e perdeu quatro jogos. Atingiu um aproveitamento de 77,3%. Foram 59 gols marcados, 18 deles nos sete jogos da Copa, contra 17 sofridos – saldo de 42. Completou ontem 383 dias no comando da Seleção.
A galeria dos campeões VICENTE FEOLA O técnico campeão de 58, na Suécia, começou contestado. Não exibia o carisma de Flávio Costa e Zezé Moreira e não sabia se usava Dino Sani ou Zito, Joel ou Garrincha, Didi ou Vavá. De voz mansa, contrastava com o severo preparador Paulo Amaral. Quando morreu, em 1975, aos 66 anos, já era reconhecido como um estrategista.
AYMORÉ MOREIRA O técnico bicampeão de 62, no Chile, era considerado um tático. Assumiu a Seleção em 1961 no lugar do doente Vicente Feola e trocou o estilo de jogo rápido do time campeão de 58 por um jeito cadenciado, pois o time era o quase o mesmo de 58. Irmão mais novo do também técnico Zezé Moreira, Aymoré morreu em 1998, aos 86 anos.
ZAGALLO O técnico tricampeão de 70, no México, já era bi como ponta-esquerda recuado de 58 e 62. Assumiu aos 30 anos, no lugar de João Saldanha. Provocou mudanças no time, usou o volante Piazza na zaga e utilizou Rivelino. Acomodou Pelé e Tostão, que para muitos não poderiam jogar juntos, e formou um dos melhores times de todos os tempos. Tem hoje 70 anos.
PARREIRA O técnico tetracampeão de 94, nos Estados Unidos, também saiu contestado do Brasil, mas tinha um grupo fechado. Apostou em Raí, o craque do São Paulo, mas ele fracassou. Sorte que a defesa estava sólida, e Romário, em grande forma. Ele desequilibrou e foi o grande nome do Mundial. A Copa veio numa decisão inédita nos pênaltis.
FELIPÃO O pentacampeão de 2002, no Oriente, deixou o Brasil cercado de desconfianças, formou um grupo unido e acabou comandando uma das Seleções Brasileiras mais ofensivas de todos os tempos. Aos 53 anos, Luiz Felipe Scolari é o mais novo integrante da galeria de técnicos campeões da Seleção.
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Uma festa com s craques, submetidos a esquemas táticos e a concentrações, têm coisas em comum com simples colegiais quando o que fazem é comemorar. Improvisam, enrolam-se em bandeiras, zanzam pelo campo como se estivessem ali e, ao mesmo tempo, em algum outro lugar. Se forem os craques brasileiros, pentacampeões do mundo, aí não há nada que se compare à organizada coreografia dos coreanos, que corriam de mãos dadas e se jogavam na grama a cada vitória na Copa. A improvisada festa brasileira em campo começou antes mesmo de Cafu receber a taça de campeão como capitão do time. Ronaldo – o goleador do Mundial, era carregado nos ombros de Vampeta. Edmílson, Lúcio e Kaká – todos evangélicos – se ajoelhavam. Outro grupo formava um círculo e rezava. A comemoração alterou até mesmo o ritual do final de cada jogo. A chamada zona mista do Estádio de Yokohama, onde os jogadores brasileiros deveriam dar entrevistas, transformou-se em local de festa. Ronaldinho e Edílson puxaram uma batucada, com tambores e pandeiros, enquanto centenas de jornalistas aguardavam declarações dos novos campeões mundiais. Todos cantavam: – Pen-ta-cam-pe-ão, pen-ta-cam-pe-ão. Dali, os jogadores foram para os estúdios da TV Globo. A batucada no local só começou quando Ronaldinho apareceu com seu tambor. Enquanto a equipe festejava, a torcida brasileira iniciava um carnaval nos arredores do estádio. A delegação brasileira festejou o Penta em uma churrascaria de Tóquio, já de madrugrada. Muita gente que pretendia entrar no estádio não viu a festa brasileira em campo no final da Copa. Sem ingresso, milhares de torcedores, muitos deles do Brasil, ficaram do lado de fora e assistiram ao jogo em TVs na vizinhança. Um japonês transformou sua garagem em sala, com uma TV 29 polegadas. Ali, vendia cerveja e refrigerante para centenas de sem-ingresso. Antes do jogo, um ingresso chegou a ser vendido pelos cambistas por até 240 mil ienes – cerca de R$ 5,5 mil.
AP/ZH
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Os jogadores brasileiros comemoraram o Penta com bandeiras, numa festa que teve muito improviso, ainda dentro de campo. Os atletas religiosos fizeram questão de rezar, e Ronaldinho dividiu com Rivaldo o direito de beijar a taça
MAURO VIEIRA/ZH
AP/ZH
MAURO VIEIRA/ZH
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reza e batucada TADEU VILANI, ESPECIAL/ZH
Parentes de Felipão festejam com um radinho de pilha
MAURO VIEIRA/ZH
Com radinho e a imagem de Nossa Senhora Aparecida
Sofrimento e vibração na família Polga
Ronaldo Nazário, o goleador da Copa, é carregado por Vampeta
Em Jaboticaba, onde mais de 100 moradores descendem da italiana Catarina Scolari, bisavó de Felipão, a comunidade assistiu unida à vitória da Seleção. Mas, nos últimos 15 minutos do jogo, faltou luz, e os torcedores, que acompanhavam as imagens em um telão, precisaram recorrer ao velho radinho de pilha para escutar o gol que confirmou o pentacampeonato mundial. A festa ocorreu no Salão Paroquial da pequena cidade de quatro mil habitantes. O representante comercial Jair Scolari, 35 anos, foi o responsável pela organização da torcida e pela arrecadação de agasalhos e alimentos em favor de uma entidade beneficente. Antes mesmo de o jogo começar, a gaita e o violão já aqueciam o clima de vibração das centenas de pessoas presentes. Um painel foi preparado com fotos e a história da família. Nele, Jair exibia, orgulhoso, reportagens feitas em Jaboticaba que foram publicadas até no Japão. Seu filho, Jair Scolari Júnior, quatro anos, cortou o cabelo “à Ronaldinho” e foi escolhido o símbolo da torcida. Com a Seleção em campo, os Scolari puxaram a corrente de orações que repetiram a cada jogo, acompanhados das imagens de Santo Antônio e de Nossa Senhora Aparecida. O sonho dos familiares agora é receber Felipão em Jaboticaba. Com exceção de Jair, que conversou com o técnico por cinco minutos em um hotel em Porto Alegre, os parentes da cidade não conhecem pessoalmente o primo famoso. – Se ele vier até aqui, vou lhe entregar o meu terço, que foi abençoado pelo papa e com o qual rezamos pelo Brasil – afirmou Jair. EMERSON SOUZA/ZH
A milhares de quilômetros do Japão e a 424 quilômetros de Porto Alegre, dois torcedores sofreram e torceram como nunca na manhã de ontem. Iolanda e João Polga, pais do zagueiro Anderson Polga, assistiram ao jogo misturando inquietação e oração na garagem da casa em Santiago, local improvisado para abrigar 40 parentes, amigos e vizinhos. Para diminuir a angústia, João alternava a atenção à tela da TV com a carne que assava na churrasqueira. A mãe, a irmã, Andréia, e a tia, Margarida, confeccionaram um boneco simbolizando o goleiro alemão Oliver Kahn, para espantar o terror de um dos melhores goleiros da Copa. – Nós temos que prender o goleiro. Ele é o principal jogador deles – justificava Andréia. A cada gol da Seleção, o boneco virava motivo de gozação. Uns apertavam, outros o jogavam no chão. No final da partida, a população de Santiago saiu às ruas. Muitos carros passavam pela residência da família Polga, que fica próxima ao estádio onde Anderson começou a carreira. Depois, a multidão se concentrou na Rua Pinheiro Machado e na Praça Moisés Viana. O vereador Sandro Palma (PMDB) deve apresentar à Câmara um projeto para a construção de uma estátua do zagueiro no município. – Temos que valorizar o esportista. Ele projetou Santiago e o Rio Grande do Sul no mundo. Então, é válida essa Os pais de Polga, João e Iolanda, rezaram muito em Santiago homenagem – justificou Salma.
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A maior falha
do goleiro Oliver Kahn AFP/ZH
O goleiro alemão Oliver Kahn ficou “10 vezes amargurado” por ter cometido o único erro da sua participação na Copa justamente na final diante do Brasil. Foi assim que Kahn se sentiu por ter falhado ao soltar uma bola nos pés de Ronaldo no lance que originou o primeiro gol do Brasil na decisão. lance trágico para a Alemanha surgiu depois de um forte chute de Rivaldo, que saiu à meia altura. Kahn foi surpreendido quando a bola tocou em seus braços, no peito e voltou para a linha da pequena área. Ronaldo aproveitou e fez o primeiro gol. – Não existe consolo para isso. É muito amargo cometer um erro no jogo final e esse único erro em toda a competição ser pago com a perda do título – lamentou Kahn, Kahn lamentou que a sua única falha na Copa tenha sido justamente na final diante do Brasil que foi eleito o melhor da posição no Mundial, mesmo com a falha. O técnico da seleção da Alemanha, Rudi Völler, disse que Kahn não pode se tornar o culpado pela derrota: – Ele fez um Mundial fantástico. Um pequeno erro na final não é um problema. O volante Hamann assumiu parte da culpa pelo primeiro gol. O jogador perdeu a bola para Ronaldo no lance. – Tratei de controlar a bola, mas a perdi. A cara do domingo germânico Não podia ter perdido – resignou-se Hamann. Kahn encontrou mais uma explicação para a derrota da Alemanha: a presença do árbitro Pierluigi Collina, o melhor do mundo segundo a Fifa. Não que Collina tenha interferido no resultado. O problema, segundo Kahn, é que ele não traz boa sorte para a sua equipe. Foi assim na final da Copa dos Campeões da Europa, em 1999. O time de Kahn, o Bayern, de Munique, ganhava por 1 a 0 até os 45 minutos do segundo tempo, mas permitiu que o Manchester United fizesse dois gols nos descontos e ficasse com o título. Collina era o árbitro. No ano passado, nas ElimTorcedores alemães (fotos acima inatórias para a Copa, a Alemanha e ao lado) ficaram arrasados perdeu por 5 a 1 para a Inglaterra, com a falha do goleiro Oliver em Munique, numa de suas piores derrotas na história. Kahn, que adiou o sonho do – Collina é um juiz de muita tetracampeonato para 2006 classe. Mas ele não dá sorte para a Alemanha – afirmou Kahn.
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Jornais e torcida revelam grande decepção alemã ANA FLOR
A decepção pela derrota da seleção nacional esteve estampada nas capas dos jornais e nos rostos dos torcedores da Alemanha. Os principais comentários das edições eletrônicas circundaram os erros do goleiro Oliver Kahn, o favoritismo brasileiro e o desempenho acima da média dos jogadores adversários. Acima de tudo, a imprensa alemã mostrou que é bem diferente da brasileira: apesar de não poupar seus craques das críticas, o segundo lugar foi, sim, comemorado. comentário mais cruel foi o do jornal esportivo Bild. A publicação não poupou o goleiro Oliver Kahn em sua capa na Internet. Ao lado da foto do capitão ajoelhado no chão, estampou a manchete “não se pode vencer sempre” com direito ao trocadilho entre o verbo kann (poder) e o nome do goleiro. A revista semanal Der Spiegel foi mais condescendente com Kahn e colocou no ar uma entrevista com o técnico do time, Rudi Völler, dizendo que “sem o goleiro nós não estaríamos na final”. A revista frisou a escolha de Kahn para a seleção da Copa, e terminou anunciando a revanche: “Até mais ver em 2006”. O ânimo da torcida brasileira foi destaque, e a foto de um cachorro vestindo um uniforme verde-amarelo esteve em pelo menos dois grandes jornais. Na Alemanha, a festa programada foi cancelada. Alemães por todo o país levaram as mãos à cabeça quando Kahn, escolhido o melhor goleiro da Copa, deixou escapar a bola chutada por Rivaldo de fora da área, que sobrou nos pés de Ronaldo. – É um terrível desapontamento. Kahn poderia e deveria ter segurado a bola no primeiro gol – disse Thomas Hove, estudante de 31 anos. Em Hamburgo, cem mil fãs enfrentaram uma chuva leve para acompanhar a partida em telões à beira da baía. Mais cem mil pessoas lotaram a Praça Roemer, em Frankfurt, onde a equipe será recepcionada hoje. No final, a euforia e as bandeiras agitadas do início do jogo deram lugar a um grande silêncio, enquanto as pessoas se dirigiam para casa. – É muito triste, mas os alemães ainda são heróis. Ninguém esperava que esta seleção chegasse tão longe – disse Annett Kraft, torcedora de 24 anos.
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Eu era criança em... 1958 – CAMPEÃO NA SUÉCIA
1994 – TETRACAMPEÃO NOS EUA
Chwartzmann, 51 anos ➧ Zalmir Empresário e vice-presidente da Câmara
Pedro Petry Corrêa,17 anos ➧ João Agricultor na localidade de Rincão dos Paz, em Rio Pardo
Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC)
ÁLBUM DE FAMÍLIA/ZH
ÁLBUM DE FAMÍLIA/ZH
um moleque de sete anos em 1958, morava “ E ranuma vila que hoje é um pequeno município,
chamado Quatro Irmãos. Na época, devia ter apenas 500 habitantes. Me lembro bem daquele dia do jogo. Um senhor da localidade, que não recordo o nome, tinha um rádio pendurado na cerca de casa para ouvir o jogo. Na cerca, ele havia colocado, também, foguetes para estourar quando a partida terminasse. Para mim, como criança, foi uma festa inesquecível. Ouvi o jogo no meio da rua, de chão batido, já que ele havia colocado o rádio ali para que qualquer um pudesse acompanhar. Quando a partida contra a Suécia terminou, foram estourados os fogos de artifício que ele havia prendido em cada uma das tábuas da cerca. Ouvir rádio naquela época já era uma experiência maravilhosa, e ouvir o Brasil ganhar, então, uma experiência única.”
nove anos na Copa de 94. Lembro que “ T inha assisti à final em casa, junto com meus pais,
1970 – TRICAMPEÃO NO MÉXICO Cecato, 42 anos ➧ Patsy Diretora e atriz de teatro ÁLBUM DE FAMÍLIA/ZH
minha irmã, meus primos, os primos do pai e a Eronilda, sobrinha da mãe. A minha vó, que já morreu, também estava. A festa começou cedo. Acordei e fui jogar bola com o pessoal. Era o goleiro. Depois, comemos churrasco e passamos o resto da tarde juntos, à espera da partida. Quando o jogo começou, nos juntamos na sala em frente à TV. Tinha pipoca, docinhos, bolo, refrigerante e cerveja. Fizemos uma corrente de pensamento positivo e cruzamos os dedos. Meu ídolo era o Bebeto. O que me marcou foi a decisão nos pênaltis. Era a primeira vez que via o Brasil numa final de Copa, por isso estava nervoso. Na hora em que o Baggio chutou para fora, meu primo se jogou no chão e começou a chorar que nem criança. Também fiquei muito emocionado.”
1962 – BICAMPEÃO NO CHILE
2002 – PENTACAMPEÃO NA ÁSIA
Carlos Bodanese, 51 anos ➧ Luiz Cardiologista e professor universitário
Wenzel, 8 anos, ➧ Lucas Estudante de Santo Ângelo
ÁLBUM DE FAMÍLIA/ZH
PAULO VILANI, ESPECIAL/ZH
em Florianópolis, “ N asci mas na Copa de 1970
muito bem da final de 62, em San“ L embro-me tiago do Chile, quando o Brasil foi bicampeão,
enfrentando e vencendo por 3 a 1 a Tchecoslováquia. Na época, tinha 11 anos, era aluno interno do Colégio Champagnat, local em que praticávamos múltiplas atividades esportivas, sendo o futebol nossas paixões. A Seleção era constituída por jogadores notáveis e, se bem me lembro, faziam parte dela Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo, Nilton Santos; Zito, Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Muita preocupação havia entre nós por não podermos contar com Pelé, pois estava lesionado e faria falta para a equipe naquela decisão. Estávamos todos inquietos, ouvindo o jogo pelo alto-falante no pátio do colégio. Foi uma das grandes emoções de minha vida, que nos fez explodir de alegria.’’
já morava em Porto Alegre. Da partida final, lembro mais da comemoração. A gente morava num edifício, na Azenha, no segundo andar, quase esquina com a Ipiranga. Primeiro, todo mundo correu para a janela e começou a gritar. Depois, descemos para a rua. Na época, não tinha essa coisa de as pessoas vestirem camiseta da Seleção, mas me lembro de roupas amarelas. Meu pai, Jayme Cecato, tinha sido jogador de futebol em Florianópolis. Depois ele desistiu, mas sempre jogava com os filhos, eu e o meu irmão, o Jayme Júnior, quatro anos mais novo. À Copa, a gente
assistia sozinho: eu, meu pai, minha mãe e meu irmão. Estávamos há pouco tempo em Porto Alegre, um ano, e ainda não conhecíamos muita gente. Por influência do meu pai, acompanhávamos os jogos com muita atenção. Eu era menina, tinha 10 anos, mas conhecia todas as regras. Lembro do Leão. Eu era apaixonada por ele. Na minha lembrança, o Rivelino chutava sempre para fora. A bola passava direto, acima da trave. Os jogadores me pareciam descontrolados. Menos o Tostão. Para mim, era o melhor. Acho que, naquele tempo, eles jogavam um futebol mais lento, com mais espaços. A torcida sofria menos.”
bem feliz com a vitória. Estava um pouco “ E stou nervoso, mas rezei e pedi para que o Brasil
fosse pentacampeão. Deu certo. Vou comemorar a vitória junto com o aniversário da minha avó, que é hoje (ontem). Nesta Copa, só perdi o jogo das 6h. As outras partidas eu vi todas. No jogo contra a Inglaterra, deitei na sala com meu pai para esperar e fiquei a noite toda acordado até chegar a hora do jogo. Gosto do Ronaldo e do Ronaldinho Gaúcho. Jogo futebol desde os três anos, quero ser jogador, e já estraguei os sofás de casa fazendo gol. Há um tempo, operei a perna (fêmur) e tive que ficar sem jogar. Depois da operação, passei a chutar com as duas pernas. Na escolinha onde jogo, sou atacante, e me chamam de Ronaldo.”
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A Coruja é penta! VALDIR FRIOLIN/ZH
Enfim o grito sufocado de Penta ganhou as ruas do Estado. A Nação Coruja viveu um domingo de euforia. Buzinaço, trio elétrico e torcedores literalmente verdeamarelos na desforra. A “Seleção é Gaúcha”, gritavam uns, “Viva o Felipão”, defendiam outros. Na Capital, a festa do Penta foi debaixo de chuva, com direito até a dois trios elétrico da Torcida Coruja, promoção da RBS. Os veículos saíram do prédio da Zero Hora e percorreram Avenida Ipiranga. Um trio foi em direção à Avenida Goethe, e o outro, em à praça da Encol. Quem preferiu a Encol assistiu ao show do Grupo Senzala. A chuva não estragou a festa. Pessoas de carro, de moto, a pé e até de bicicleta fizeram carreata atrás da coruja. Grupos de amigos, casais e famílias inteiras percorreram os pontos mais animados da cidade. Lisiane levou sua filhinha Luiza, de apenas 11 meses, para comemorar a vitória da Seleção. – Ela tem de começar a torcer desde pequena. Ainda mais em um momento tão especial como este – defendia. A festa, regada a muito pagode, seguiu animada durante a tarde. Outro endereço certo para os foliões foi a Avenida Goethe. Uma multidão que virou a noite nos bares se preparando para o Penta abarrotou o asfalto de verde-amarelo no embalo do axé e do forró. Gente molhada acompanhava o ritmo ditado pelo carro de som, enquanto o vendedor ambulante animava a meia dúzia de resistentes à chuva: – Vão lá. Vocês não são gaúchos? Vão lá fazer festa. O Brasil é penta – encorajava. Canoas, a casa de Luiz Felipe Scolari, acordou cedo e reuniu suas corujas para torcer pelo Brasil na final da Copa do Mundo. Na rua onde mora o técnico, no centro da cidade, cerca de 150 pessoas acompanharam a partida por dois telões, instalados no meio da rua, pintada com a bandeira nacional. A dona de casa Zeli de Boite, 52 anos, responsável pela organização da festa, não escondeu a corujice. – É um orgulho para a cidade ser a casa de Felipão. Aqui, já somos todos vencedores – comemora.
A nova geração acompanha a folia na Praça da Encol
ADRIANA FRANCIOSI/ZH
PAULO FRANKEN/ZH
Vizinhança vibra em frente ao prédio do técnico do Penta
Trio elétrico da Coruja RBS agitou os foliões, na Avenida Goethe RICARDO DUARTE/ZH
A angústia e o nervosismo se transformaram numa profusão de cores e alegria na comemoração pelo Penta no União
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Festa junina DANIELA XU, ESPECIAL/ZH
Nem Santo Antônio, nem São João, nem São Pedro. De norte a sul, da Fronteira ao litoral, o Rio Grande do Sul se transformou numa grande Festa Junina para homenagear Felipão, Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo. A folia começou antes mesmo do final da partida. Carreata, buzinaço, desfiles de motos e trios elétricos ganharam as ruas. Todo mundo desfilando as cores da Seleção. No Vale do Rio Pardo e no Vale do Taquari, a colônia germânica abriu o coração para o Brasil ao som das bandas típicas e embalada com o tradicional chope. Em Passo Fundo, com o objetivo de homenagear o técnico Luiz Felipe Scolari, um torcedor escalou até a estátua de Teixeirinha, outro orgulho de Passo Fundo.
Santa Cruz do Sul
ROBERTO VINÍCIUS, ESPECIAL/ZH
A festa do Penta tomou a Avenida dos Imigrantes, no centro. Os descendentes de alemães vibraram com a vitória da Seleção. Pintaram os rostos, enfeitaram os carros com bandeiras e vestiram a camiseta verde-amarela. O amor pelo Brasil falou mais alto do que a ascendência germânica na terra da Oktoberfest. NAURO JÚNIOR/ZH
Pelotas Nem a garoa fria que atingia a cidade no início da manhã atrapalhou a festa do Penta. Torcedores ganharam a Avenida Bento Gonçalves em uma comemoração que invadiu a tarde. Uma massa verde e amarela dançou e pulou na avenida para festejar a conquista. A torcida organizada do Grêmio Esportivo Brasil – a Garra Xavante – arrastou uma multidão no grito de: Rei, rei, rei, Ronaldinho é nosso rei. Nem a Igreja Católica ficou de fora. Os sinos da Catedral São Francisco de Paula badalaram ao apito final do italiano Pierluigi Collina.
Estrela Cerca de 50 descendentes de alemães torceram para a Seleção Brasileira com muito chope e música típica em Estrela, outro reduto de descendentes de alemães. Apesar de divulgar a cultura germânica, o coordenador dos grupos e do tradicional Festival do Chucrute, Andreas Hamester, sambou depois da vitória brasileira. MIRO DE SOUZA/ZH
Dois Irmãos No Vale do Sinos, a família Johann – de origem alemã – comemorou o Penta como todos os brasileiros. Para ficar mais gostoso, tomaram muito chope e comeram pratos típicos
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no Interior TADEU VILANI/ZH
Bagé Após a conquista brasileira todos os caminhos em Bagé conduziam os torcedores para a concentração na Avenida Sete de Setembro. Dezenas de veículos decorados com as cores verde e amarelo coloriram a festa. Nas ruas, os motoristas promoveram um ensurdecedor buzinaço. A leve garoa não impediu que milhares de bageenses comemorassem em frente ao Clube Caixeiral, ao som da Escola de Samba Bocaloka. ÁRFIO MAZZEI, ESPECIAL/ZH
Passo Fundo A comemoração do título obtido pelo passo-fundense Luiz Felipe Scolari extrapolou a festa das ruas e ganhou até uma das principais praças da cidade. Os mais exaltados se empoleiraram na estátua de Teixeirinha, outro orgulho do município. DUDA PINTO, ESPECIAL/ZH
Santana do Livramento
Santa Maria O papel picado jogado das sacadas e o verdeamarelo das roupas dos torcedores formaram o cenário da festa no centro de Santa Maria. A tradicional comemoração na Avenida Presidente Vargas ganhou gritos de pentacampeão. EMERSON SOUZA/AGÊNCIA RBS
A festa se iniciou logo após o capitão Cafu levantar a taça. A concentração da torcida foi a poucos metros da linha divisória com a cidade uruguaia de Rivera, na Avenida Tamandaré. Teve até carros de som incentivando a comemoração com as músicas Pra Frente Brasil e Na Cadência do Samba. O pelotão de choque da Brigada Militar e da polícia uruguaia fecharam a fronteira a 50 metros para cada lado da divisa dos dois países. A operação se justificou com o episódio da manhã da última quarta-feira, quando mais de 500 brasileiros desfilaram pela principal rua de Rivera provocando os uruguaios.
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Fen menal Pelé festeja o goleador do Mundial, que fez 12 gols, o mesmo número do Rei em quatro Copas AFP/ZH
A camisa número 9 é a nova mania nacional e o símbolo do inédito pentacampeonato mundial Festa de braços e abraços depois do primeiro gol brasileiro na grande decisão
DAVI COIMBRA ◆ Enviado Especial/Yokohama
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AP/ZH
Com Kahn, o melhor goleiro do Planeta deitado aos seus pés, beijando a grama, Ronaldo comemora o 1 a 0
m dia depois da estréia do Brasil contra a Turquia, Luiz Felipe procurou Ronaldo Nazário na concentração, em Ulsan, e disse: – Tu está me saindo um boleiro! Um boleirão! Não quer saber de treinar, não quer saber de pegar, só quer saber de bola, bola, bola! Ronaldo sorriu: – Que é isso, chefe! Eu vou fazer como o senhor pediu, sim. – Eu só quero saber de uma coisa – acrescentou Luiz Felipe: – Tu quer aprender? Quer? – Quero. – Quer? Então os outros vão jogar pra ti. Tu vai fazer os gols. Um diálogo típico de profissionais da bola. Traduzindo: Luiz Felipe estava reclamando que Ronaldo não se esforçava para aprender a marcar e Ronaldo respondeu que iria aprender, sim. Luiz Felipe emendou que, como recompensa, o esquema de jogo favoreceria Ronaldo, e ele acabaria sendo autor da maioria dos gols do time. A final contra a Alemanha mostrou os resultados práticos dessa conversa. No primeiro gol do Brasil, Ronaldo roubou a bola do meio-campista Hamann, tocou-a para Rivaldo, que chutou. A bola bateu no peito de Kahn e voltou para Ronaldo empurrar para dentro do gol. Esse lance foi como que o resumo do pacto estabelecido entre o técnico e o centroavante: Ronaldo estava marcando, tanto que roubou a bola. Ou seja: cumpriu sua promessa. E fez o gol. Mais: fez a maioria dos gols da Seleção, oito, dos 18 assinalados pelo Brasil na Copa. Quer dizer: Luiz Felipe também cumpriu a sua. Esta partida foi o ponto alto da evolução de um jogador que passou por tudo de bom e de ruim em apenas quatro anos. Em 1998, Ronaldo era considerado o melhor jogador do mundo. Em 2000, foi tido e havido como acabado para o futebol. Em 2002, é de novo o número 1. Outra vez vencedor, Ronaldo fez questão de demonstrar agradecimento a quem o ajudou no período ruim. Convidou o médico francês Gerard Saillands, que o operou, para assistir à final. O médico viajou ao Japão, hospedou-se no Prince Hotel e depois foi ao Estádio Internacional de Yokohama, torcer por seu paciente mais famoso. Assim que saiu de campo, no final da partida, já com 2 a 0 no placar, Ronaldo não resistiu. Abraçou seu assessor Rodrigo Paiva e chorou, no banco de reservas. Mais tarde, durante a entrevista coletiva, lembrou do fisioterapeuta Nilton Petrone, o Filé. – Ele sempre me acompanhou e deve estar pensando em mim agora, no Brasil – falou, emocionado. Apesar de dizer que prefere não pensar no passado, Ronaldo admitiu que a vitória contra a Alemanha e a conquista da Copa de 2002, de certa forma, redimem uma geração de jogadores brasileiros. – Eu estava mesmo conversando com o Cafu, com o Roberto, com o Rivaldo, esses jogadores que foram à Copa da França – contou. – Estava lamentando a festa que perdemos naquela época, esta festa que estamos fazendo agora. Mas, hoje, a nossa vitória como que nos tira um peso da consciência. Graças a Deus agora estamos livres dessa carga.
AFP/ZH
Oito gols em sete jogos e a Taça Fifa nas mãos, Ronaldo volta a usar a palavra Fenômeno antes do nome
Kahn foi perfeito em seis jogos, no sétimo soltou apenas uma bola, mas nos pés do melhor centroavante do Planeta
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O mundo
se abre para o guri
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MAURO VIEIRA/ZH
DIOGO OLIVIER
Ronaldinho ainda não sabe se virá a Porto Alegre para comemorar o Penta, depois da avalanche de ódio desmedido que ele e sua família sofreram na tumultuada saída do Grêmio. Talvez fique uns dias em Paris com a mãe, Miguelina, e os irmãos Assis e Deise. Mas poderá escolher a cidade do mundo que vai morar depois da consagração no Japão. O Real Madrid já está atrás do talento do craque. Trata-se de um sonho antigo.
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Real Madrid já queria Ronaldinho ao lado de Roberto Carlos e Zidane antes de o camisa 11 do Brasil deixar crescer as madeixas e brilhar no PSG. Ontem, rumores indicavam que o Milan e a Inter, de Milão, também sonham com ele, que tem contrato até 2005. Bom para o Grêmio, que terá direito a 5% do valores de qualquer transação envolvendo o jogador, por conta do acordo firmado com o PSG para a retirada das ações na Justiça de ambos os lados. As chances de reforço no caixa tricolor, graças ao desempenho de Ronaldinho na Copa, são grandes. Dos gaúchos que estiveram na campanha do penta, Ronaldinho é de longe o que deixa a Ásia com mais cartaz. Na Europa, é visto como a grande promessa do futebol mundial. Mal o árbitro italiano Pierluigi Collina apitou o fim da decisão contra a Alemanha, foi deflagrada a corrida pelo seu futebol. Por enquanto, tudo está saindo como planejaram ele e Assis quando a dupla decidiu deixar o Grêmio: uma passagem pelo futebol francês e, depois da Copa, transferência para os concorridos e milionários mercados italiano e espanhol. Mesmo em escala menor, o horizonte é agradável para os outros gaúchos. Polga, apesar da reserva, foi sondado pela Roma, da Itália. Luizão – que nada tem a ver com o Rio Grande do Sul, mas foi à Copa como jogador do Grêmio – tem o interesse do Galatasaray, da Turquia. Lúcio, ex-Inter, tem contrato com o Bayer Leverkusen, da Alemanha. O vice na Liga dos Campeões da Europa e o Penta no Japão reforçaram o status de um dos melhores zagueiros do mundo. O próprio técnico Luiz Felipe, segundo a imprensa espanhola, tem convite para dirigir o La Coruña, da Espanha – se não quiser permanecer na Seleção. São as conseqüências inevitáveis do Penta.
O 3 Rivaldo chuta da entrada da área (foto 1). Kahn larga a bola (foto 2) e Ronaldo marca o primeiro gol (foto 3)
O começo da vitória Ronaldo já havia desperdiçado duas chances claras de marcar seu gol na final. No primeiro tempo, aos 18 e aos 45 minutos, o atacante esteve frente a frente com o goleiro alemão. Na primeira, chutou para fora, enquanto Oliver Kahn salvou a segunda. as era apenas uma questão de tempo. Ronaldo estava predestinado a quebrar o tabu que perdura desde 1974, no qual nenhum dos artilheiros das Copas desde então marcou mais que seis gols – naquele Mundial o polonês Lato assinalou sete vezes. Aos 21 minutos da segunda etapa, Ronaldo tentou, sem sucesso, uma jogada individual à frente da área. A bola sobrou para a zaga adversária, mas o atacante não desistiu e recuperou a posse. Logo em seguida passou para Rivaldo ao seu
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lado. O meia podia devolver o passe, mas preferiu tentar o gol dali mesmo. O chute saiu forte e para piorar a vida de Kahn, veio rente ao chão. O goleiro alemão, considerado o melhor do mundo, teve então seu momento de desgraça pessoal. Não conseguiu encaixar a defesa e soltou a bola. Ainda tentou sair como que engatinhando atrás dela. Tudo em vão. Ronaldo já estava ali. O jogador certo, na hora certa, no lugar certo. Ronaldo apenas encostou na bola, mandando-a para o fundo das redes. O grito de gol finalmente estava livre. Doze minutos depois, o artilheiro da Copa marcaria novamente. Kléberson cruzou a bola da direita. O seu destino era Rivaldo, mas o meia fez um corta-luz, deixando-a livre para Ronaldo. O atacante dominou com o pé direito e no toque seguinte deu mais uma vez o rumo do gol. Dessa vez, Kahn nada pôde fazer. O segundo gol decretava o título. E a artilharia de Ronaldo estava garantida.
Depois do Penta, o destino de Ronaldinho pode ser o Real Madrid O futuro gaudério Para onde podem ir os gaúchos após o Penta Ronaldinho – Real Madrid (Espanha), Milan, Inter, de Milão (Itália) Luizão – Galatasaray (Turquia) Polga – Roma (Itália) Luiz Felipe – La Coruña (Espanha)
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Ronaldo: “Craque da Copa é Dois lances decisivos na final mantiveram Rivaldo na briga pelo título de craque da Copa, com a torcida do seu principal concorrente ao posto, Ronaldo. O pernambucano fazia uma partida discreta até os 23 minutos do segundo tempo contra a Alemanha. Nem parecia o jogador eleito pela Fifa o melhor em três das seis partidas anteriores da Seleção. oi nessas circunstâncias, diante da pressão alemã, que o atacante arriscou corajosamente de fora da grande área. Um chute na direção de Kahn, aparentemente de fácil defesa, não fosse a velocidade da bola e a grama
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molhada. Rebote para Ronaldo, gol, mérito de Rivaldo. A partir daí, o atacante redobrou o ânimo. Passou a marcar a saída de bola alemã como um novato em busca da titularidade. Restavam 11 minutos quando Rivaldo ajudou a tranqüilizar definitivamente a torcida. Com esperteza, deixou a bola passar em um cortaluz a partir de um cruzamento de Kléberson da direita. Bola nos pés de Ronaldo, gol, festa antecipada no Brasil. Além de ter sido o melhor em três partidas e marcado cinco gols, o que lhe conferiu a vice-artilharia do Mundial ao lado do alemão Klose, Rivaldo vinha como favorito na briga pelo posto de melhor jogador da Copa se-
Rivaldo”
gundo a Fifa. Ao seu lado na disputa, três brasileiros: o meia Ronaldinho, o lateral Roberto Carlos e o atacante Ronaldo, seu principal adversário depois da atuação na final. A favor de Rivaldo, conta a opinião do próprio Ronaldo, que com os dois gols contra a Alemanha garantiu a artilharia e endureceu a briga para ser o melhor da Copa. – Rivaldo merece ser o craque, assim como a Seleção mereceu o título e eu mereci ser o artilheiro – disse humildemente o Fenômeno. O craque do Barcelona espera que a vontade do companheiro seja confirmada pela Fifa: – Ia ser legal. Ficaria tudo com a Seleção Brasileira: o título, a artilharia e o craque.
A seleção ZH da A Editoria de Esportes de Zero Hora elegeu os 11 melhores jogadores da Copa. Os 19 votantes manifestaram a sua predileção por duas seleções em particular: o Brasil e a Inglaterra. Houve votos para jogadores de Senegal, da Dinamarca, da Alemanha, da Argentina, da Itália, da Turquia, entre outras equipes, mas no final prevaleceu um time formado por atletas ingleses e brasileiros, além do goleiro alemão Kahn.
Copa O lateral-esquerdo ROBERTO CARLOS da Silva Idade: 29 anos (Garça-SP, 10/4/73) Altura: 1m68cm Peso: 70 quilos Clube: Real Madrid-ESP
O goleiro
Oliver KAHN Idade: 33 anos (Karlsruhe, Alemanha, 15/6/1969) Altura: 1m88cm Peso: 88 quilos Clube: Bayern, de Munique-ALE
O lateral-direito Marcos Evangelista de Moraes (CAFU) Idade: 32 anos (São Paulo, 7/6/70) Altura: 1m73cm Peso: 73 quilos Clube: Roma-ITA
O zagueiro Rio Gavin FERDINAND Idade: 23 anos (Peckam, Inglaterra, 7/11/1978) Altura: 1m90cm Peso: 87 quilos Clube: Leeds-ING
O volante Paul SCHOLES Idade: 27 anos (Salford, Inglaterra, 16/11/1974) Altura: 1m70cm Peso: 73 quilos Clube: Manchester United-ING
O zagueiro Sol CAMPBELL Idade: 27 anos (Newham, Inglaterra, 18/9/1974) Altura: 1m87cm Peso: 90 quilos Clube: Arsenal-ING
O atacante RONALDO Luis Nazário de Lima Idade: 25 anos (Rio, 22/9/76) Altura: 1m83cm Peso: 79 quilos Clube: Inter, de MilãoITA
O volante GILBERTO Aparecido da SILVA Idade: 25 anos (Lagoa da Prata-MG, 7/10/76) Altura: 1m84cm Peso: 74 quilos O meia Clube: Atlético-MG David Robert Joseph BECKHAM Idade: 27 anos (Leytonstone, Inglaterra, 2/5/1975) Altura: 1m80cm Peso: 67 quilos Clube: Manchester United-ING
O meia Ronaldo de Assis Moreira (RONALDINHO) Idade: 22 anos (Porto Alegre, 21/3/80) Altura: 1m82cm Peso: 80 quilos Clube: Paris Saint-GermainFRA
O atacante RIVALDO Vitor Borba Ferreira Idade: 30 anos (Recife, 19/4/72) Altura: 1m86cm Peso: 75 quilos Clube: Barcelona-ESP
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O mundo fala com
A fala dos Pentas
“Nem nos meus melhores sonhos aconteceu assim. O jogo foi um sonho maravilhoso que vivi. Minha felicidade é muito grande. Tão grande, que tudo isto que aconteceu estou assimilando aos poucos”
reverência A repercussão do pentacampeonato do Brasil no Exterior teve um pouco de dor-de-cotovelo, mas prevaleceu o reconhecimento aos craques brasileiros. Na Inglaterra, nem a eliminação para o Brasil impediu que os ingleses torcessem pela Seleção na final contra a Alemanha, rival eterna – não só nos estádios. Na Espanha, a façanha dos brasileiros que atuam no país – ou atuaram, como Ronaldo, ex-jogador do Barcelona – foram lembradas. Confira alguns comentários sobre a conquista do Brasil em edições na Internet de algumas publicações internacionais.
Ronaldo REPRODUÇÕES/ZH
FRANÇA L’EQUIPE “Pentacampeão! (em português)
“Esta Copa é algo que guardarei para sempre, porque tiramos um peso de nossas costas. Em 1998, chegamos tão perto e não conseguimos. Agora, posso dizer que sou campeão do mundo.” Roberto Carlos
O Brasil dominou a Alemanha na final e Ronaldo, o melhor do mundo, acabou fazendo a diferença.
“É a primeira oportunidade que eu tenho para falar que este título vai ser dedicado também ao Emerson. Ele nos deixou antes da Copa, mas com certeza estava ao nosso lado em todas as partidas
INGLATERRA THE TIMES “O Brasil conquistou hoje a Copa pela quinta vez, graças a dois gols de puro brilhantismo de Ronaldo, que mostra que ele está recuperado para voltar a ser o melhor jogador do mundo.” GUARDIAN “Nenhum clássico, mas um final de conto de fadas. Os dois lados são pálidas imitações dos seus ilustres BBC predecessores”. É a quinta vez que o Brasil conquista o prêmio máximo do futebol, solidificando seu status de mais bem-sucedida Seleção da história. A Copa do Mundo das surpresas termina de forma familiar. Com uma emocionante e entusiasta comemoração dos sul-americanos vestidos de ouro no gramado de Yokohama.
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Ricardinho
“Deixei claro para os jogadores que o segundo lugar no Brasil é a mesma coisa que ser último. Se tivéssemos perdido, todo trabalho seria esquecido. Eles entenderam o meu recado”
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Luiz Felipe Scolari
“Estou muito feliz, realizei meu sonho, mas ainda quero disputar mais duas Copas. Na próxima, quero passar a experiência que aprendi nesta para aqueles que chegarem” Ronaldinho
ARGENTINA
ITÁLIA
LA NACIÓN “O Rei do mundo” (em português) O Brasil contou até cinco. Esse é o Brasil, o novo rei. Outra vez. Não deixou dúvidas. De ponta a ponta, a Copa da Coréia do Sul e do Japão coroa o pentacampeão com total justiça.
“Duas vezes Ronaldo, Brasil preparado para a bola campeão” aérea. E já tínhamos Ronaldo foi sublime. O Fenômeno enfrentado adversários se reconciliou com o futebol. Supe- que jogavam neste estilo. rou sua carência física com muito Durante o jogo, fizemos o empenho tático. que havíamos planejado e
GAZZETTA DELLO SPORT
OLÉ
CLARÍN “Brasil é o novo campeão mundial” O Brasil é o Brasil. Tem jogadores que aparecem e tornam o difícil parecer fácil. Ronaldinho é de longe o mais simpático do grupo.
“Brasil ganhou da Alemanha por 2 a 0 e é pentacampeão do mundo”
ESPANHA EL PAÍS “Ronaldo faz do Brasil pentacampeão” O futebol é justo e devolveu o sorriso a um jogador que esteve dois anos afastado dos campos e perto do abandono. O Brasil volta a ser campeão e Ronaldo a ser seu rei. O futebol volta a ser justo com seus guardiães.
MARCA “Penta!” O pior Mundial da história acabou com uma das melhores finais dos últimos tempos graças à qualidade dos homens de Scolari. AS “Ronaldo não perdoa” A persistência alemã morre em apenas um suspiro. A jogada (do segundo gol brasileiro) é uma homenagem ao jogo bonito, uma derrota do futebol de resultados. Ao menos o Brasil se reconhece em seu espelho, que já não o deforma como um monstro.
“Nós já havíamos nos
deu tudo certo.” Gilberto Silva
“Joguei 14 partidas na Copa com a camisa 10 do Brasil. Estou certo de que, no futuro, as pessoas se lembrarão de Rivaldo, campeão. Acho que dei a minha contribuição para a Seleção Brasileira.” Rivaldo
“Deu tudo certo para mim e para meus companheiros. O Brasil continua imbatível no futebol” Marcos
22 | ZERO HORA ◆ PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 1º/07/2002 Nélson de Jesus Siva (Dida) Idade: 28 anos (Irará-BA, 7/10/73) Altura: 1m95cm Peso: 83 quilos Clubes: Vitória, Cruzeiro, LuganoSUI, Milan e Corinthians ◆ Se Marcos tivesse algum percalço em meio à Copa, Dida seria o reserva de segurança de Felipão. Faz parte de uma estirpe de jogadores criados dentro da CBF. Jogou nas seleções de categorias de base e na olímpica. Esta foi sua segunda Copa do Mundo. Em 1998, ficou na reserva de Taffarel. Assim como o titular, Dida consagrou-se como um grande pegador de pênaltis.
Todos os heróis José Vítor Roque Júnior AFP/ZH
Idade: 25 anos (Santa Rita do Sapucaí-MG, 31/8/76) Altura: 1m86cm Peso: 73 quilos Clubes: São José-SP, Palmeiras e Milan-ITA ◆ O contestado Roque Júnior foi o mais simples dos zagueiros brasileiros, mas nem por isso menos eficiente. Jogou sério e sem firulas. Atleta da confiança de Felipão desde os tempos de Palmeiras, Roque Júnior foi um dos líderes na vitoriosa campanha da Seleção na Copa do Mundo.
Rogério Ceni Idade: 29 anos (Pato BrancoPR, 22/1/73) Altura: 1m88cm Peso: 85 quilos Clubes: São Paulo ◆ Ao lado de Dida, foi o único que não entrou na equipe até as semifinais. Exímio batedor de faltas, Rogério Ceni representava a esperança de ver um goleiro brasileiro marcar um gol em um Mundial. O jogador do São Paulo é a versão brasileira do paraguaio Chilavert: polêmico e grande cobrador de bolas paradas.
Marcos André Santos (Vampeta) Idade: 28 anos (Nazaré-BA, 13/3/74) Altura: 1m82cm Peso:76 quilos Clubes: Vitória-BA, PSV Eindhoven-HOL, Fluminense, Inter, de MIlão, Paris Saint-Germain, Flamengo e Corinthians ◆ Vampeta não teve muitas oportunidades para mostrar seu futebol durante a Copa do Mundo. Depois de ser titular na maior parte das Eliminatórias, atravessou uma má fase e perdeu a posição.
Lucimar da Silva Ferreira (Lúcio) Idade: 24 anos (Brasília, 8/5/78) Altura: 1m88cm Peso: 80 quilos Clubes: Planaltina-DF, União São João-SP, Gama-DF, Inter e Bayer Leverkusen ◆ Lúcio não fez a Copa do Mundo que se esperava. Apontado como o melhor dos zagueiros da Seleção antes da Copa, não conseguiu o melhor entrosamento com os companheiros nas partidas iniciais. Mas assim como toda a defesa, cresceu com a seqüência de jogos. Falhou contra a Inglaterra e mostrou personalidade para se recuperar dentro do jogo. Depois, deslanchou.
Anderson Corrêa Polga Idade: 22 anos (Santiago-RS, 2/9/79) Altura: 1m82cm Peso: 78 quilos Clubes: Grêmio ◆ Foram necessários quatro jogos para o discreto Anderson Polga garantir um lugar na Copa do Mundo. Em seu favor contava a experiência de jogar em várias posições em um esquema com três zagueiros. Na melhor oportunidade para se firmar como titular, no jogo contra a Costa Rica, o gremista não foi bem, assim como os companheiros de defesa, e foi o escolhido pelo técnico para voltar para o banco de reservas.
Juliano Haus Belletti Idade: 26 anos (Cascavel-PR, 20/6/76) Altura: 1m74cm Peso: 69 quilos Clubes: Cruzeiro, Atlético-MG e São Paulo ◆ A maior virtude de Belletti é a versatilidade. Convocado por Felipão para ser o reserva do capitão Cafu na lateral-direita, o jogador do São Paulo só entrou em campo na semifinal por também atuar como volante, posição em que vinha jogando no São Paulo. Foi chamado nos últimos minutos da partida contra a Turquia para fechar o meiocampo brasileiro, ajudar na marcação e a reter a bola. Não decepcionou.
Denílson de Oliveira Idade: 24 anos (São Paulo, 24/8/77) Altura: 1m78cm Peso: 62 quilos Clubes: São Paulo, Flamengo e Betis-ESP ◆ Ele é um dos símbolos da Era Felipão. Denílson estava esquecido no Betis, da Espanha, e o técnico deu a ele mais uma chance. A volta à Seleção veio em boa hora, tanto que o atacante recuperou o bom futebol, apesar de algumas atuações discretas.
Edmílson Gomes de Moraes
Marcos Evangelista de Moraes (Cafu) Idade: 32 anos (São Paulo, 7/6/70) Altura: 1m73cm Peso: 73 quilos Clubes: São Paulo, Zaragoza-ESP, Juventude, Palmeiras e Roma-ITA ◆ Cafu é um predestinado. Três Copas do Mundo e três finais. A segunda como titular, a primeira como capitão. Para coroar o seu desempenho, Cafu, aos 32 anos, mostrou excelente preparo físico e muita qualidade durante a competição. Além disso, com a ausência de Emerson, transformou-se no líder da Seleção dentro e fora do campo.
Idade: 25 anos (Taquaritinga-SP, 10/7/76) Altura: 1m85cm Peso: 70 quilos Clubes: São Paulo e Lyon-FRA ◆ Edmílson é o reflexo da Seleção na Copa do Mundo. Começou inseguro, titubeante, e cresceu durante a competição. O jogador recebeu a camisa número quatro de Luiz Felipe e adquiriu, a cada jogo, desenvoltura na dupla função de zagueiro e volante. Seu esforço foi recompensado com um golaço de meia-bicicleta contra a Costa Rica.
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Gilberto Aparecido da Silva
Ronaldo Luis Nazário de Lima
Ronaldinho de Assis Moreira
Rivaldo Vitor Borba Ferreira
Idade: 25 anos (Lagoa da Prata-MG, 7/10/76) Altura: 1m84cm Peso: 74 quilos Clubes: América-MG e Atlético-MG ◆ Gilberto Silva soube que iria participar de um jogo de Copa do Mundo um dia antes da estréia, contra a Turquia. O jogador assumiu o lugar do capitão Emerson, cortado durante o último treino antes da partida, com uma lesão no ombro. O volante mineiro entrou e deu conta do recado. Discreto e eficiente, foi um dos jogadores mais regulares da Seleção e arrancou elogios de Felipão antes da final contra a Alemanha.
Idade: 25 anos (Rio, 22/9/76) Altura: 1m83cm Peso: 79 quilos Clubes: Cruzeiro, PSV Eindhoven-HOL, Barcelona, Inter, de Milão ◆ O Fenômeno voltou. Depois de dois anos e duas cirurgias no joelho direito, se recuperou a tempo de encantar o mundo durante a Copa. Felipão acreditou no retorno de Ronaldo e o colocou em campo. O craque não perdeu a genialidade. Com os oitos gols marcados em sete jogos, Ronaldo é, ao lado de Pelé, o maior artilheiro brasileiro na história das Copas do Mundo, com 12 gols.
Idade: 22 anos (Porto Alegre, 21/3/80) Altura: 1m82cm Peso: 80 quilos Clubes: Grêmio e Paris SaintGermain-FRA ◆ O craque gaúcho não decepcionou. Mostrou futebol de gente grande e foi um dos jogadores mais importantes na campanha do penta. Passou por cima da defesa inglesa com lances geniais. Primeiro, derrubou um adversário com um drible de corpo e encontrou Rivaldo livre para marcar. Depois, quando todos esperavam um cruzamento, viu o goleiro adiantado e colocou a bola no ângulo. Um golaço.
Idade: 30 anos (Recife, 19/4/72) Altura: 1m86cm Peso: 75 quilos Clubes: Santa Cruz-PE, Mogi Mirim, Corinthians, Palmeiras, La Coruña-ESP e BarcelonaESP ◆ A torcida brasileira havia muito tempo cobrava de Rivaldo um desempenho semelhante ao apresentado nos jogos do Barcelona. Luiz Felipe o colocou no ataque, ao lado de Ronaldo, sem a obrigação de armar as jogadas a partir do meio-campo. O resultado? Muitos gols, atuações convincentes e o Penta
Oswaldo Giroldo Junior (Juninho)
Edílson Silva Ferreira
Idade: 29 anos (São Paulo, 22/2/73) Altura: 1m67cm Peso: 58 quilos Clubes: Ituano-SP, São Paulo, Middlesbrough-ING, Atlético de Madrid, Vasco, Flamengo ◆ Foram quatro anos de espera até realizar o sonho de disputar uma Copa. Em fevereiro de 1998, Juninho levou a pior ao sofrer um carrinho de Michel Salgado numa partida do Atlético de Madrid e fraturou o perônio. Neste ano começou como titular, mas perdeu a vaga para Kléberson.
AFP/ZH
Idade: 31 anos (Salvador, 17/9/70) Altura: 1m68cm Peso: 60 quilos Clubes: Industrial-ES, Tanabi-SP, Guarani-SP, Palmeiras, BenficaPOR, Kashima Reysol-JAP, Corinthians, Flamengo e Cruzeiro ◆ Quando a Seleção Brasileira tropeçava e corria riscos nas Eliminatórias, Edílson assumiu a responsabilidade de fazer gols. Mostrou personalidade e ganhou uma vaga entre os convocados. O atacante era a principal alternativa para as jogadas em velocidade.
Luiz Carlos Goulart (Luizão)
José Kléberson Pereira Idade: 23 anos (Uraí-PR, 19/6/79) Altura: 1m75cm Peso: 64 quilos Clubes: Atlético-PR
Idade: 26 anos (Santa Fé do SulSP, 14/11/75) Altura: 1m78cm Peso: 76 quilos Clubes: Guarani-SP, Paraná Clube, Palmeiras, La Coruña-ESP, Vasco, Corinthians e Grêmio ◆ Luizão conseguiu em dois jogos contabilizar uma poupança capaz de levá-lo para a Copa. Contra a Venezuela, nas Eliminatórias, marcou dois gols e classificou o Brasil. Depois, contra a Iugoslávia, fez o gol da vitória. No Mundial, foi reserva de Ronaldo e teve papel decisivo na estréia, contra a Turquia.
◆ Kléberson arrumou a Seleção. A partir de sua entrada, nas quartas-definal, contra a Inglaterra, o meio-campo da equipe ganhou consistência e força na marcação. Apesar da pouca experiência, o jovem volante do AtléticoPR não se intimidou com a responsabilidade de vestir a camisa da Seleção. Aproveitou a chance e jogou com naturalidade, como se estivesse atuando em seu clube, em Curitiba.
Roberto Carlos da Silva Idade: 29 anos (Garça-SP, 10/4/73) Altura: 1m68cm Peso: 70 quilos Clubes: União São João-SP, Palmeiras, Inter, de Milão, e Real Madrid ◆ Roberto Carlos se redimiu das atuações irregulares na Copa da França. Mostrou muita personalidade, disposição e futebol em seu segundo Mundial como titular. O lateralesquerdo passou por cima de adversários e algumas deficiências técnicas com sua força física. Na segunda rodada, na partida contra a China, voltou a marcar um gol de falta pela Seleção, bem ao seu estilo: força e precisão.
Marcos Roberto Silveira Reis Idade: 28 anos (Marília-SP, 4/8/73) Altura: 1m93cm Peso: 86 quilos Clubes: Palmeiras ◆ Ele era o “São Marcos” apenas para os torcedores do Palmeiras. Os jogos da Copa do Mundo foram suficientes para afastar quaisquer dúvidas sobre o
Comissão técnica Técnico: Luiz Felipe Scolari, 53 anos (Passo Fundo, 9/11/48)
Jenílson de Souza (Júnior) Idade: 29 anos (Santo Antônio Jesus-BA, 20/6/73) Altura: 1m70cm Peso: 63 quilos Clubes: Vitória-BA, Palmeiras e Parma-ITA. ◆ Reserva de luxo. Quando atuou 90 minutos, Júnior fez gol, assistências e foi o melhor em campo.
Coordenador técnico: Antônio Lopes, 61 anos (Rio de Janeiro, 12/6/41) Preparador físico: Paulo Paixão, 51 anos (Rio de Janeiro, 23/3/51) Médico: José Luís Runco, 47 anos (Rio de Janeiro, 11/4/55) Auxiliar técnico: Flávio Teixeira, Murtosa, 51 anos (Pelotas, 14/1/51) Supervisor: Américo Faria, 57 anos (Rio de Janeiro, 11/7/44)
preferido de Felipão para vestir a camisa 1. Mesmo que pouco exigido, mostrou muita qualidade e fez grandes defesas na campanha do Penta. Logo depois da vitória, o goleiro brasileiro (na foto, à esquerda) ainda encontrou tempo para cumprimentar e consolar o alemão Oliver Kahn, que falhou no primeiro gol do jogo.
Ricardo Izecson Leite (Kaká) Idade: 20 anos (Brasília, 22/4/82) Altura: 1m83cm Peso: 77 quilos Clubes: São Paulo ◆ Jovem, de família classe média alta e dono de um futebol técnico, Kaká era reserva dos juniores em 2001 e foi chamado para o grupo principal – os titulares disputavam a final do Torneio Rio-São Paulo. Então, marcou gols decisivos, mostrou um futebol exuberante, se firmou e foi à Copa.
Ricardo Luiz Pozzi Rodrigues (Ricardinho) Idade: 26 anos (São Paulo, 25/5/1976) Altura: 1m76cm Peso: 72 quilos Clubes: Paraná, Bordeaux-FRA e Corinthians ◆ Ricardinho foi o último a se integrar ao elenco. Ele foi convocado para a vaga do capitão Emerson, cortado antes da estréia na Copa do Mundo. Sem nunca ter trabalhado com Felipão, o habilidoso jogador do Corinthians chegou à Seleção para suprir a carência de um meia-armador de pé esquerdo.
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Rumo ao Hexa ALEXANDRE CORRÊA
O que buscar Os laterais Apesar da boa atuação de Cafu e Roberto Carlos, é chegada a hora de começar a procurar outros laterais. Os dois estarão com mais de 33 anos em 2006. O maior problema segue sendo a lateral-direita. Talvez seja a hora de Belletti. Na esquerda, há uma variedade: Júnior, Athirson, Silvinho, Serginho, entre outros. É só escolher.
A Copa da Ásia acabou muito bem para os brasileiros com a conquista do Penta. A partir de hoje, já podemos pensar no Hexa, em 2006. O que já teremos para o Mundial da Alemanha dentro de quatro anos? O que falta? O que não vamos ter mais? É possível fazer algumas previsões baseadas no que se viu no Japão e na Coréia do Sul. Rivaldo, Roberto Carlos, Cafu e
Juninho Paulista dificilmente voltam daqui a quatro anos. O quarteto estará com mais de 33 anos. Por outro lado, há esperança na manutenção de jovens como Kléberson, que entrou muito bem no time, em meio à competição, e não saiu mais. A Copa também garantiu alguns titulares, como o goleiro Marcos. A seguir, o que deu certo e o que devemos melhorar para 2006. AFP/ZH
O goleiro Desde que Taffarel deixou o gol da Seleção, muitos foram testados: André, Dida, Rogério Ceni, Júlio César e Bosco. Mas quem agarrou a chance foi Marcos, do Palmeiras. O goleiro de 28 anos fez uma boa Copa e pode ter garantido a vaga para mais alguns anos.
Os volantes
Os zagueiros
Com a lesão inesperada de Emerson, havia um temor nacional sobre quem ocuparia a vaga ou as vagas de volantes da Seleção. Não há mais depois do Mundial da Ásia. Gilberto Silva e Kléberson fizeram um bom trabalho e devem seguir. Sem contar o próprio Emerson. Aos 26 anos, tem idade para seguir como capitão e principal jogador de marcação por muito tempo.
Problemas defensivos sempre foram tradição e parece que vai continuar assim. Os titulares de 2006 não deverão ser muito diferentes dos atuais. Na Ásia, a zaga começou mal, mas subiu nas fases eliminatórias, Roque Júnior, Lúcio, Edmílson e Anderson Polga têm idade para jogar mais duas Copas. E não há ninguém surgindo com muito mais talento. Ou alguém acha que Juan, Luizão, Scheidt ou Bilica são superiores?
Os meias ofensivos
O companheiro de Ronaldo
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Na Copa, o grande companheiro para Ronaldo foi Rivaldo. Mas Rivaldo se encaminha para a aposentadoria. A Seleção precisa de um novo atacante ao lado do craque da Inter, de Milão. Talvez Ronaldinho assuma, atuando em uma posição mais avançada. Mesmo assim, há uma boa oferta de talentos: Deivid, França, Éwerthon, Adriano, Gil, Marcelinho O meia-atacante Ronaldinho vai seguir brilhando na Seleção Brasileira por muito tempo Paraíba, Dagoberto, entre outros.
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O que já temos
Marcos – Teve um bom Mundial e salvou o Brasil em alguns jogos principalmente contra a Bélgica. Deve permanecer como titular por Quem subiu mais tempo. Lúcio – O zagueiro que tanto brilha no Bayer Leverkusen demorou, mas conseguiu ter boas atuações, principalmente na seminfinal e na final. Júnior – Aproveitou bem a única chance que teve diante da Costa Rica. Deve receber novas chances. Roque Júnior – Apesar do temor nacional, não comprometeu. Pelo contrário, mostrou segurança e eficiência. Com 25 anos, pode receber novas chances no futuro. Edmílson – Saiu-se melhor quando atuou como volante do que como zagueiro. Talvez seja o seu novo caminho na Seleção. Gilberto Silva – De boas atuações, apesar de marcar sozinho no meio-campo brasileiro, deve seguir na Seleção. Kléberson – Um dos caçulas da equipe sai da Copa como grande esperança de volante marcador e de boa qualidade para a Seleção. Rivaldo – O meia jogou muito na Copa. Mesmo assim, aos 30 anos, não deverá ter fôlego para chegar ao Mundial da Alemanha. Ronaldo – Mostrou estar recuperado da lesão e será o dono da camisa 9 por muitos anos ainda. Cafu – Começou mal, mas foi crescendo a partir das quartas-de-final. Fundamental na semifinal. Apesar disso, deve dar lugar a outros em seguida por já ter 32 anos. Ronaldinho – Fundamental na vitória sobre a Inglaterra. Só precisa controlar seu comportamento em campo. No mesmo jogo, foi expulso por entrada violenta. Vai ser titular por muitos anos ainda. Roberto Carlos – Assim como Cafu, cresceu nos momentos decisivos. Jogou sério e se tornou um dos principais jogadores da equipe, na defesa. Apesar disso, pode estar se despedindo da Seleção pela idade avançada (29 anos).
Quem desceu
Juninho Paulista – Jogou muito pouco e não justificou a aposta de Luiz Felipe. Dificilmente volta à equipe. Edílson – Atuou sem brilho nas duas oportunidades de começar jogando, contra a Costa Rica e a Turquia. A idade avançada (31 anos) impedirá outras chances no futuro. Anderson Polga – Chegou como titular e perdeu a posição. O gaúcho só seguirá na Seleção se não aparecer um outro zagueiro de talento. Luizão – Preferência muito particular de Luiz Felipe, jogou mal nos minutos que teve quando Ronaldo cansava. Talvez não receba novas chances, pois atua em uma posição em que surgem talentos a todo momento no Brasil.
Ronaldinho Gaúcho não fez tudo o que se esperava, mas ainda há muito pela frente para este jogador de apenas 22 anos. Ele e Kaká devem se constituir nos próximos anos nas grandes figuras da ligação do meio com o ataque do Brasil. Talento e qualidade, a dupla tem de sobra. Vale a pena apostar nos dois meninos.
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Na mesma
Dida – Aos 28 anos, não teve chances com Luiz Felipe. Rogério Ceni – Só foi à Ásia para treinar. Aos 29 anos deve dar passagem a algum goleiro mais jovem, como Júlio César, do Flamengo. Belletti – Apesar dos poucos minutos na Copa, pode ser o substituto de Cafu no futuro. Vampeta – Sem chance com Luiz Felipe no Mundial, pode voltar a recebê-la depois da Copa. Kaká – Foi apenas para passear na Ásia, mas é muito jovem e pode se tornar um astro da Seleção em breve. Ricardinho – Com 26 anos e atuando no Corinthians, deve receber logo as oportunidades que não teve na Ásia. Denílson – Alternou bons e maus momentos, mas o potencial de drible, a experiência de duas Copas e a juventude (24 anos) irão garantir lugar no próximo Mundial para ele.
ZERO HORA ◆ PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 1º/07/2002
A gente vibrou, torceu e comemorou. Valeu, Brasil, foi mesmo show de bola.
É muito b om viver com vo cê.
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Paulo Roberto Falcão
Falcão
na Copa
R
onaldo Nazário é, merecidamente, o personagem desta Copa. Depois de tudo o que ele passou entre a frustrante final da França e a dramática lesão que quase pôs fim a sua carreira, ninguém poderia imaginar que alcançasse tamanha reabilitação. Ele mesmo reconhece que voltar a jogar futebol já seria uma vitória inigualável. Pois não só voltou como também foi o artilheiro da Copa e fez os dois gols decisivos do Penta. Mesmo atuando visivelmente descontado, é melhor do que os outros jogadores. Um jogador assim só pode ser considerado um fenômeno, um fora-de-série, um predestinado.
A ERA FELIPÃO
Yokohama – A conquista do Penta certamente vai mudar o futebol brasileiro e influenciar o futebol mundial. É sempre assim: o time que vence uma Copa acaba servindo de modelo para clubes e seleções. E o treinador vitorioso passa a ser respeitado como uma autoridade. Ontem mesmo Parreira me contou que Felipão já tem convite da Fifa para dar palestra a treinadores europeus daqui a dois meses. Nem vou repetir aqui que o Brasil venceu a Alemanha merecidamente, pois criou várias oportunidades contra uma equipe essencialmente marcadora e quase não lhe deu chance de revidar. Descontando-se aquele chute na trave na cobrança de falta, nenhuma ameaça foi feita ao gol de Marcos, a não ser nos escanteios e cruzamentos altos que a zaga brasileira soube neutralizar. Aliás, é justo que se reconheça a eficiência da zaga brasileira nos últimos três jogos. Pois começo exatamente pela zaga. Com a vitória, o esquema de três zagueiros mantido por Felipão, mesmo com muitas contestações, deverá ganhar novos adeptos. Mas a grande virtude do treinador gaúcho foi ter conseguido fazer em dois meses aquilo que ele faz nos clubes em mais de um ano: que as individualidades jogassem para o conjunto. Felipão gritou, xingou, chamou a atenção de jogadores consagrados e todos aceitaram este tratamento. Mais do que isso: terminaram a competição como amigos e fãs do treinador. Também saem reconhecidos o preparador físico Paulo Paixão e o médico José Luiz Runco, que recuperaram jogadores importantes. E a administração de Ricardo Teixeira merece uma referência: já tem dois títulos de campeão mundial e um de vice. ◆◆◆ EQUILÍBRIO – Felipão só conseguiu o equilíbrio tático na Seleção quando colocou Kléberson no time. A partir daí, o Brasil passou a ter sete jogadores para marcar, sem a necessidade de sacrificar demais os três que sabem fazer gols. Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho marcaram 15 dos 18 gols na campanha invicta. ◆◆◆ PREVISÍVEL – Saí do estádio na companhia de Carlos Alberto Parreira, que reforçou o meu conceito sobre a Alemanha: é um time absolutamente previsível. Só que, às vezes, o adversário sabe o que os alemães vão fazer e não consegue impedir. Ontem, felizmente, o Brasil conseguiu.
Bate-Bola com o Telegrama a um campeão “A vitória de Luiz Felipe lembra a de meu avô, o Teté, que saiu desacreditado do Brasil para o PanAmericano, em 1956, e voltou como campeão. O Felipão foi e voltou com a mesma garra que meu avô, a garra dos gaúchos”. Luciane Duarte, Porto Alegre
O mestre Teté Um dos precursores de esquemas táticos baseados em defesas sólidas e ataques velozes, o pelotense Francisco Duarte Júnior, o Teté (foto), foi um dos mais importantes técnicos do Inter. Teté foi o técnico da Seleção Brasileira na conquista da medalha de ouro do Pan-Americano de 1956. O time tinha sete jogadores do Inter.
Leitor Os sete passos do Penta Até o capitão Cafu levantar a Copa Fifa em uma das cenas mais bonitas de uma Copa, a Seleção passou por vários momentos. Da turbulenta classificação à estréia no Mundial da Ásia, o time de Luiz Felipe foi conquistando, pouco a pouco, o apoio da torcida. Abaixo, por meio dos comentários dos leitores do Jornal da Copa após cada um dos jogos, acompanhe a evolução da confiança dos torcedores até o Penta. Brasil 2x1 Turquia “O resultado do jogo deixou o início da semana com um clima de festa. Enfim, os dois gols demonstraram que o Brasil está disposto a buscar o Penta.” Mauro Belo Schneider, Porto Alegre (edição de 4/6) Brasil 4x0 China “O Brasil deu uma aula de futebol aos aprendizes chineses, enquanto as outras seleções favoritas sofrem para conseguir a classificação.” Daniel Barcellos Colman, São Leopoldo (edição de 10/6) Brasil 5x2 Costa Rica “O Brasil goleou e mostrou excelente futebol. O único defeito foi nos 10 minutos de sufoco no começo do primeiro tempo.” Rodrigo Martins de Oliveira, Porto Alegre (edição de 14/6) Brasil 2x0 Bélgica “O Brasil vai ganhar a Copa, mas cadê o mérito? Que prazer existe em ver a Seleção ganhar da Bélgica.” Mário Annuza, Rio de Janeiro (edição de 18/6) Brasil 2x1 Inglaterra “Chamem o Felipão de bronco, discordem dele por birra. Mas o Brasil está aí, unido e talentoso.” Eduardo de Oliveira César, Porto Alegre (edição de 22/6) Brasil 1x0 Turquia “É Penta! Alguma dúvida? A Seleção chegou lá com méritos, tanto do treinador como dos jogadores.” Wagner Lourenci, Caxias do Sul (edição de 27/6) Brasil 2x0 Alemanha “Faço minhas as palavras de Felipão: com força e união, o Brasil é pentacampeão!” Fernanda Aline Gollmann, Venâncio Aires
Enquete Quem gostou menos do Penta? Romário, os argentinos ou os cronistas do Rio e de São Paulo? Vote até as 17h de hoje pelo site clicesportes.clicrbs.com.br/ copadomundo2002 O resultado será publicado amanhã
Votação de ontem Quem vai ser o técnico do hexa, em 2006, na Alemanha? Felipão Tite 18,68% Parreira – 6,04% Guto Ferreira – 5,49%
69,78%
Mande sugestões, comentários, perguntas e reclamações sobre o caderno e a Copa do Mundo pelo e-mail jornaldacopa@zerohora.com.br ou por carta para o Jornal da Copa (Avenida Ipiranga, 1075 – CEP 90169-900, Porto Alegre, RS)
Hino da Coruja
Penta na cabeça
Vamos ficar acordados Tem que ter muita fé Quero ver todo mundo Torcendo de pé Muita bola rolando Deixa o sono para lá Ligue na RBS Vem com a gente vibrar É a Torcida Coruja RBS Nosso grito de guerra É de arrasar U-huuu A gente ganha essa de lambuja Torcedor tem que ser coruja A gente ganha essa de lambuja Torcedor tem que ser coruja É a Torcida Coruja RBS Nosso grito de guerra É de arrasar U-huuu Brasil, Brasil Com a Torcida Coruja A Seleção vai ganhar No site clicesportes.clicrbs.com.br/ copadomundo2002 o leitor pode fazer download do jingle e do vídeo da Torcida Coruja.
O estudante Eduardo Camboim Bento, de Porto Alegre, estava tão confiante no Penta que preparou um novo penteado para a conquista com antecedência.
ARQUIVO PESSOAL/ZH
Despedida “Há quem chore em despedidas, mas nós, leitores, só temos de sorrir. Parabéns, Jornal da Copa. Se o Brasil ganhou e mereceu nota 10, esse mesmo 10 dou à equipe, pois informação competente só se faz com amor à camiseta. Não vamos falar em saudade, pois, daqui a quatro anos, nos encontramos de novo.” Paulo Rubens Carvalho, Viamão
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A taça chega
amanhã A Copa Fifa foi criada pelo escultor italiano Sílvio Gazzaniga. Feita em ouro maciço de 18 quilates, pesa 4,97 quilos e mede 36cm de altura. Essa é a segunda vez que a Seleção Brasileira conquista o troféu – nas outras três vitórias a taça ainda era a Jules Rimet. A Copa Fifa original ficará no Brasil por um ano. Depois, voltará para a Fifa, e o país ficará com uma réplica
Os pentacampeões e a cobiçada taça estarão no Brasil amanhã. O Boeing 767-300 da Varig, responsável pelo transporte da Família Scolari, tem decolagem do Aeroporto de Narita, no Japão, prevista para as 19h de hoje pelo horário local (7h de hoje em Brasília) para uma longa viagem guiada por comandantes gaúchos. o Japão até Los Angeles, o vôo estará sob direção do caxiense Lucas Bombassaro e de Nélson Fuchs. O trecho seguinte, entre a cidade norte-americana e o Brasil, será comandado por Vinetou Zambon, nascido em Veranópolis e descendente de italianos como o técnico Luiz Felipe Scolari. O avião teve a fuselagem decorada com a imagem de três jogadores fazendo malabarismos com uma bola. O verde e o amarelo também colorem o interior do avião. Durante o vôo do Penta, os passageiros poderão saborear pratos especialmente elaborados para a festa. O primeiro ponto de parada no Brasil será Brasília, na manhã de amanhã. Na capital federal, a delegação será recebida pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. A comitiva passará ainda por Rio de Janeiro e São Paulo. Depois, cada jogador seguirá para seu Estado em vôos regulares.
D
A volta para casa A viagem de retorno começa às 7h de hoje (horário de Brasília):
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Chegada a Los Angeles
Los Angeles
Saída do Japão
Japão DIVULGAÇÃO ZH
Brasília
Rio de Janeiro São Paulo
3 Chegada a Brasília
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Chegada ao Rio
Chegada a São Paulo
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Hoje não é feriado presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, anunO ciou que hoje não será feriado. FH, porém, determinou ponto facultativo amanhã, terça-feira, no serviço público federal em Brasília e nas cidades por onde a Seleção vai desfilar (Rio e São Paulo). Os governadores podem estender a medida para os funcionários públicos estaduais, mas até ontem a noite o Palácio Piratini não havia se manifestado sobre isso.
Recepção aos gaúchos governo do Rio Grande do Sul está preparando uma recepção O no Palácio Piratini para o técnico Luiz Felipe Scolari e os jogadores gaúchos.
Selo do Penta s Correios anunciaram ontem a decisão de homenagear a SeleO ção com o lançamento de um selo comemorativo ao pentacampeonato. Há dois meses, os Correios lançaram um selo para comemorar as vitórias do país, com imagens de Pelé e de Dunga. As vendas já alcançaram 600 mil unidades, das quais cem mil no Exterior.
Parabéns do mundo Rei da Espanha e os presidentes de Uruguai, Peru, Chile e MoO çambique telefonaram para o presidente da República, ontem pela manhã, para cumprimentar o país pela conquista do pentacampeonato.
Palavra do presidente “O Brasil inteiro vibra com a conquista do Penta. As lágrimas do Ronaldo, do Felipão e dos demais jogadores na hora do apito final são as lágrimas de emoção e alegria do povo brasileiro. Vocês mostraram, com talento, garra e espírito de equipe, que o nosso futebol continua a ser o melhor do mundo” Fernando Henrique Cardoso
Palavra do governador “Foi a vitória do bom futebol de equipe, solidário e coletivo, que não anulou as individualidades nem desconstituiu os talentos. Esta conquista tem muito da expressão do nosso povo. ” Olívio Dutra
Agora, só em 2006 Alemanha, que será sede da Copa de 2006, já trabalha em A ritmo forte para que a organização da competição seja tão exemplar quanto a da Ásia. O chanceler alemão Gerhard Schroeder divulgou ontem o slogan “Bem-vindos à Alemanha 2006”, que teve a participação de famosos locais como a modelo Claudia Schiffer, o piloto Michael Schumacher e o tenista Boris Becker.
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OS NÚMEROS DA COPA Classificação final 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º 21º 22º 23º 24º 25º 26º 27º 28º 29º 30º 31º 32º
Brasil Alemanha Turquia Coréia do Sul Espanha Inglaterra Senegal Estados Unidos Japão Dinamarca México Irlanda Suécia Bélgica Itália Paraguai África do Sul Argentina Costa Rica Camarões Portugal Rússia Croácia Equador Polônia Uruguai Nigéria França Tunísia Eslovênia China Arábia Saudita
Os jogos do Brasil
Curiosidades
Brasil 2x1 Turquia Gols: Ronaldo, Rivaldo (Brasil) e Hasan Sas (Turquia)
1ª FASE
Brasil 4x0 China Gols: Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho e Ronaldo
Brasil 5x2 Costa Rica Gols: Ronaldo (2), Edmílson, Júnior, Rivaldo (Brasil), Gomes e Wanchope (Costa Rica)
OITAVASDE-FINAL QUARTASDE-FINAL
Goleadores
Brasil 2x0 Bélgica Gols: Rivaldo e Ronaldo
Brasil 2x1 Inglaterra Gols: Rivaldo, Ronaldinho (Brasil) e Owen (Inglaterra)
SEMIFINAL
Brasil 1x0 Turquia
FINAL
Brasil 2x0 Alemanha
Gol: Ronaldo
Gols: Ronaldo (2)
A campanha do Penta 7 jogos 7 vitórias 18 gols marcados 4 gols sofridos
Goleadores brasileiros 8 5 2 1
Total de gols: 161 gols. Média de 2,52 por partida Gol mais rápido: Sukur (Turquia), aos 11 segundos, contra a Coréia Artilheiro por jogo: Miroslav Klose (Alemanha), que fez 3 gols contra a Arábia Saudita, e Pauleta (Portugal), que marcou 3 contra a Polônia Melhor ataque: Brasil, com 18 gols Melhor defesa: Alemanha, com 3 gols sofridos Equipes invictas: Brasil, Espanha e Irlanda. As eliminações da Espanha e da Irlanda foram nos pênaltis Pênaltis: 13 (5 não convertidos) Total de cartões: 272 amarelos e 17 vermelhos
gols: Ronaldo gols: Rivaldo gols: Ronaldinhho gol: Edmílson, Roberto Carlos e Júnior
8 gols Ronaldo (Brasil) 5 gols Klose (Alemanha) e Rivaldo (Brasil) 4 gols Tomasson (Dinamarca) e Vieri (Itália) 3 gols Pauleta (Portugal), Bouba Diop (Senegal), Raúl e Morientes (Espanha), Wilmots (Bélgica), Larsson (Suécia), Robbie Keane (Irlanda), Ballack (Alemanha) e Mansiz (Turquia) 2 gols Hierro (Espanha), Inamoto (Japão), Cuevas (Paraguai), Hasan Sas e Davala (Turquia), Gómez (Costa Rica), Borgetti (México), Henri Camara (Senegal), McBride e Donovan (Estados Unidos), Ahn e Seol (Coréia do Sul), Owen (Inglaterra) e Ronaldinho (Brasil) 1 gol Fortune, Mokoena, Nomvethe, McCarthy e Radebe (África do Sul), Bierhoff, Jancker, Linke, Schneider, Bode e Neuville (Alemanha), Batistuta e Crespo (Argentina), Hayden, Walem e Sonck (Bélgica), R. Carlos, Edmílson e Júnior (Brasil), Etoo e Mboma (Camarões), Hwang, Chul, Park e Yong (Coréia do Sul), Parks, Wrigth e Wanchope (Costa Rica), Olic e Rapaic (Croácia), Rommedahl (Dinamarca), Delgado e Méndez (Equador), Cimirotic e Acimovic (Eslovênia), Valerón e Mendieta (Espanha), O“Brien e Mathis (Estados Unidos), Beckham, Campbell, Ferdinand e Heskey (Inglaterra), Holland, Breen e Duff (Irlanda), Del Piero (Itália), Suzuki, Morishima e Nakata (Japão), Torrado e Blanco (México), Aghahowa (Nigéria), Arce, Roque Santa Cruz e Campos (Paraguai), Olisadebe, Kryszalowicz e Zewlakow (Polônia), Beto e Rui Costa (Portugal), Titov, Karpin, Beschastnykh e Sychev (Rússia), Diao e Fadiga (Senegal), Alexandersson e Anders Svensson (Suécia), Korkmaz, Emre e Sukur (Turquia), Darío Rodríguez, Morales, Forlan e Recoba (Uruguai) e Bouzaine (Tunísia) Gols contra Agoos (Estados Unidos p/ Portugal), Jorge Costa (Portugal p/ Estados Unidos) e Puyol (Espanha p/ Paraguai) Zarif / Arte ZH
ZERO HORA ◆ PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 1º/07/2002
L etra Algumas boas razões
Go
de
◆ Yokohama
xistem mil razões para o sucesso, nunca uma só, muito menos um herói solitário. Fui anotando o que me pareceu o mais importante. Não sei da metade, que pertence a uma dimensão exata do sucesso que é a privacidade, a intimidade de certas decisões feitas em separado, numa hora neutra, entre dois ou três. Os fatos inacessíveis, e muitos deles decisivos, estão fora dessa incompleta lista dos acertos da Seleção pentacampeã.
E
1 – A força do grupo. Espírito de grupo. Solidariedade. Renúncia individual. Reciprocidades gerais. Foi o que fortaleceu o time, facilitou a assimilação, sobretudo das limitações (celulares desligados nas refeições, no treino, na hora de dormir, familiares, empresários e procuradores longe, jogos – games, carteado – limitados às folgas, etc.) mas também das liberdades (folgas, descanso, passeios, convivência) e sobretudo das ordens, das exigências, dos sacrifícios, das longas fisioterapias e tratamentos médicos. O grupo foi uma obra pessoal de Luiz Felipe Scolari, de Murtosa, dos médicos comandados por José Luiz Runco, do fisioterapeuta Luiz Roberto Rosan e dos funcionários que, sentindo o fortalecimento do espírito cooperativo, completaram pelo detalhe a finalidade das boas idéias circulantes. 2 – A aposta do técnico, apoiado no diagnóstico corajoso do corpo médico, que desautorizou as restrições dos médicos da Inter, de Milão, e do Barcelona, e colocou em campo, já em Barcelona no Campo Nou, e na Malásia, primeira etapa da preparação ao fuso horário (já eram 11 horas), os dois atacantes mais destacados da Copa do Mundo, Ronaldo e Rivaldo. Foi um enfrentamento bastante criticado na Europa e no Brasil (dominado pela insistência com Romário) que acabou distinguindo a Seleção Brasileira de todas as outras, por força de um Leia as colunas anteriores em zh.clicrbs.com.br/ruy
Ruy carlos ostermann
potencial de ataque sem similar. Pelos diagnósticos brasileiramente desautorizados os dois estariam fora da Copa. 3 – A liderança de Cafu. Passou a capitão por mais antigo depois do corte de Emerson, o capitão escolhido por Felipão. E assumiu não apenas a capitania de palavra, gesto e exemplo, como, por humildade e compreensão, “aprendeu” a marcar. Felipão chegou a justificar a presença dos três zagueiros como forma de compensar as deficiências dele. Ficou chateado, soube-se. Mas foi à luta nos treinos e nos ensinamentos. E aprendeu mesmo, reforçando muito sua participação. Deixou de ser o ponta-direita de Fabio Capello para assumir a importância de um dos alas mais destacados da competição. Ala de Felipão. 4 – Os três erres são uma construção paralela à implantação dos três zagueiros. E como a discussão estava deslocada para o que parecia um exagero defensivista do retranqueiro Felipão, só a insistência dos treinos, dos jogos e das entrevistas do técnico foi revelando uma idéia ofensiva que nenhuma seleção se atreveu a propor: a de jogar permanentemente com três atacantes, Ronaldinho, Ronaldo e Rivaldo. E mesmo na arriscada proposta de jogar com Juninho ao lado de Gilberto Silva e flanqueado pelos dois renovados alas, Cafu e Roberto Carlos não deixaram de encantar e atacar os três erres, magia desta Copa. 5 – E Paulo Paixão e Darlan Schneider que tiveram a paciência e a superior competência para apoiar a decisão por Ronaldo e Rivaldo e nivelar os que estavam em fim de temporada – o lote dos europeus estressados – e os que estavam em meio de temporada mas em regime de esfolantes decisões, os brasileiros. Tiveram menos de 20 dias para tudo isso. E o time estava voando na final. Há mais, muito mais. e-mail: ruy.ostermann@zerohora.com.br
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Wianey Carlet Efeitos do Penta
N
ão temo que o pentacampeonato possa ser transformado em escudo político, bobagem que ainda se ouve, vez por outra. Quem está desempregado continuará mastigando sua desventura, quem não sai à noite, contido pela violência, seguirá vendo a lua pelas frestas da persiana e assim por diante. Importa-me projetar as conseqüências de mais este feito extraordinário do futebol brasileiro. Em 1994, após o tetracampeonato, viu-se os estádios brasileiros recebendo verdadeiras ondas de jovens empolgados, cobertos pelas camisetas dos seus clubes, em um animador fenômeno de renovação dos públicos. Este fato vai se repetir, com certeza, oxigenando a vida dos clubes brasileiros. Espera-se, igualmente, que o governo federal limite um pouco sua incontrolável gana de interferir no futebol, sem abdicar de promover as mudanças necessárias mas com nova disposição de ouvir a sociedade esportiva. Tomara que todos, autoridades públicas e esportivas, saibam potencializar as possibilidades favoráveis que o título conquistado pela “Família Scolari” proporcionou. E que o país todo seja capaz de expressar sua gratidão aos bravos heróis do Penta. ◆ Não cabe, com a conquista do Penta, invalidar críticas nem otimizar eventuais apoios. Todas, ou quase todas as Seleções Brasileiras da história, viajaram para o país da Copa sob a suspeita de que não seriam suficientes para vencer. Desta vez não foi diferente, por que seria? O que deve ficar como lição para não ser esquecida são as campanhas orquestradas de oposição intransigente contra Luiz Felipe, principalmente a que pretendia ver Romário na Seleção.
◆ Críticas pontuais, argumentadas, são parte do jogo. O que não pode acontecer é a ocupação de espaços na mídia para atingir o treinador porque este usa bigode, é de determinado Estado ou não tem o estilo preferido por alguns. Durante alguns dias o país inteiro implorou que o Felipão acertasse o meio-campo com a escalação de mais um marcador e que não radicalizasse em torno dos três zagueiros. O próprio treinador entendeu que estas modificações eram necessárias pois substituiu, em horário adequado, Juninho Paulista por Kléberson e readaptou Edmílson a sua função original de volante, reorganizando a Seleção Brasileira em um saudável 4-4-2, ou 4-3-3, mais identificados com a cultura futebolística brasileira. ◆ Mas nunca será demais repetir elogios a algumas convicções de Luiz Felipe, que foram essenciais na campanha pelo Penta: sua aposta em Ronaldo Nazário e Rivaldo, a confiança irrestrita que depositou nos (justamente) contestados laterais, Roberto Carlos e Cafu e, acima de tudo, por ter conseguido implantar na Seleção a inédita consciência de que o grupo deve estar, sempre, acima do indivíduo. Percebe-se a compreensão nas atitudes e entrevistas da mais luzidia estrela da Seleção até o mais modesto reserva. E, importante, sem que as individualidades ficassem, por isso, comprometidas, pelo contrário. O robustecimento da idéia coletiva apenas favoreceu o despontar máximo das virtudes individuais dos jogadores. Que esta lição não seja esquecida. wianey.carlet@zerohora.com.br
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Marco Aurélio
& Copanhia
E-mail: marco.aurelio@zerohora.com.br
O dia de sorrir Foi um reencontro com a história. Em 1998, Francisco Widholzer, Cleiton Araújo e Eduardo Souza se pintaram, vestiram as cores do Brasil e foram para a Avenida Nilo Peçanha torcer pela Seleção. Ronaldo Nazário seria o herói do Penta. Não foi. França 3 a 0. Ontem, eles se pintaram, vestiram as cores do Brasil e foram para o Grêmio Náutico União torcer pela Seleção. Ronaldo Nazário seria o herói do penta. Foi. Brasil 2 a 0, gols do Fenômeno. m 12 de julho de 1998, quando o estudante Araújo tentava consolar o amigo Widholzer da derrota para seleção francesa em SaintDenis, a tristeza tinha invadido as ruas do país. Em Porto Alegre, os amigos pareciam transtornados. Não sabiam como definir o que tinham acabado de ver. No mesmo local, um outro jovem levava as mãos à cabeça. O representante comercial Eduardo Souza também estava perdido.
E
1998
Quatro anos depois, Zero Hora e o Diário Gaúcho localizaram esses personagens e os acompanharam, ontem, quando soltaram o grito do Penta. Da derrota à consagração, Araújo e Widholzer dividiram outras experiências além do choro inconsolável. Neste meio tempo, os amigos foram para o Exército, concluíram o Ensino Médio e ingressaram no curso de Educação Física. Ontem, no Grêmio Náutico União, a certeza da vitória era a mesma da Copa de 1998. – Queremos ser campeões, 98 é passado – diziam. Widholzer vibrava a cada ataque. Araújo mantinha os olhos fixos no telão. Souza extravasava a tensão. No segundo tempo, o desespero aumentou. Isso até o goleiro alemão Oliver Kahn rebater o chute de Rivaldo, e Ronaldo abrir o placar. Os três explodiram de alegria. O segundo gol confirmava a vitória e soltava o grito preso desde 1998. – É Penta, é Penta! - grita Widholzer, com os olhos cheios de lágrimas, desta vez de alegria. Descobriram que, há quatro anos, o título não fora perdido. Apenas adiado.
Há quatro anos, Zero Hora registrou o sofrimento de três gaúchos com a derrota na Copa. Ontem, reuniu o grupo para flagrar a emoção do penta
2002
FOTOS RICARDO DUARTE/ZH
Finalmente os amigos de infância podem comemorar o penta
Souza solta o grito engasgado desde o desastre de 1998
2002
ZERO HORA ◆ PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 1º/07/2002
“
Bola Dividida
O pai é penta
Mário marcos de souza
Do fundo ao topo
REUTERS/ZH
Até chegar ao Penta, com sete vitórias, Luiz Felipe enfrentou crises, pressão e o medo de entrar para a história como o primeiro técnico a não conseguir classificar a Seleção para a Copa do Mundo. Foi um sufoco.
Insuperáveis
◆◆◆ De 1º de julho do ano passado a este 30 de junho, a Seleção disputou 25 jogos. Nas partidas oficiais (Eliminatórias, Copa América e Mundial), teve 13 vitórias e quatro derrotas. Nos amistosos, venceu sete e empatou um. Na soma, um bom retrospecto.
◆◆◆ Sempre que alguém pede que Luiz Felipe diga qual foi o momento mais dramático da Seleção no ano passado, ele não tem dúvidas: – Foi aquela partida contra o Paraguai, em Porto Alegre. Ali, nós demos a virada. Naquele jogo no Olímpico, Felipão mudou o time, usou Eduardo Costa, Tinga e Marcelinho, velhos conhecidos do torcedor gaúcho, e, pela primeira vez, Rivaldo como atacante. A experiência foi bem-sucedida. ◆◆◆ Felipão apostou em um grupo e foi com ele até o fim. Deixou os testes para os amistosos deste ano, cujo planejamento também recebeu críticas. Mas a idéia deu certo. Destes jogos contra Islândia, Arábia e Bolívia, o técnico tirou Anderson Polga, Kléberson e Gilberto Silva, jogadores que conseguiu preservar do estresse das Eliminatórias. ◆◆◆ Hoje, Luiz Felipe pode respirar aliviado. Seu projeto é vitorioso. Ele é o quinto técnico brasileiro a conquistar um título de campeão do mundo. Volta para sua Canoas com o Penta e a firme disposição de descansar pelo menos uma semana, longe de tudo e de todos, enquanto os brasileiros fazem festa. Merece.
LUIZ FELIPE, emocionado, ao falar da saudade e mandar um recado a Fabrício, seu filho caçula, que ficou em Canoas
Abraços
”
Não foram abraços meramente formais, festejando uma conquista. Os cumprimentos entre os jogadores e o técnico Luiz Felipe mostrados pela TV foram sinceros, comovidos, gratos. Nunca um grupo de Seleção foi tão unido.
Perguntinha Será que o técnico argentino da Inter, Héctor Cúper, continuará resistindo à idéia de escalar Ronaldo como titular?
Recorte
◆◆◆ Nada foi pior do que aquelas primeiras semanas de trabalho. A Seleção perdeu para o Uruguai, com a desastrosa improvisação de Roque Júnior como volante, foi para a Copa América sem os principais jogadores e acabou sendo humilhada pela inexpressiva Honduras. O prestígio de Luiz Felipe sofreu os primeiros arranhões.
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Comece a curtir. O novo escudo da Seleção, já com a quinta estrela da Copa, ficará assim. Dá para recortar. ma das vantagens imediatas do Penta é que por algum tempo aqueles brasileiros deslumbrados por qualquer notícia com carimbo do Exterior vão cumprir um conveniente recesso. Espera-se que seja longo. São os que ainda hoje, diante de um elogio a Pelé, reagem na contramão falando que o argentino Maradona, sim, foi o melhor jogador do mundo. Só um leva o título de rei e acumula dezenas de troféus de Atleta do Século, mas para eles não importa. São os mesmos que encaram as jogadas de Beckham, Owen ou Raúl como obrasprimas, mesmo quando são iguais a dezenas de outras repetidas a cada domingo nos estádios do país. Todos nós admiramos a seriedade dos europeus, invejamos a capacidade dos dirigentes dos grandes clubes de lá, sonhamos com o dia em que os campeonatos daqui possam ser tão organizados quanto os deles, mas em matéria de futebol de campo, o Primeiro Mundo é aqui.
U
◆◆◆ Parece um exagero nacionalista? Ouçam, então, Rudi Völler, treinador da Alemanha: – Se apenas o talento decidisse, o Brasil teria uns 14 títulos mundiais. Ou o inglês Beckham: – O Brasil tem Rivaldo e ele é o Pelé atual. Quem sabe Franz Beckenbauer, o Kaiser, um dos maiores jogadores de todos os tempos? – O Brasil sempre foi favorito. A esperança da Alemanha é levar a decisão para a prorrogação. Ou o jornal inglês Evening Standard, que na semana passada, logo depois da classificação da Seleção, usou apenas BRASIL! de manchete, ao falar na vitória sobre a Turquia, como lembrou Ibsen Pinheiro em seu artigo de sábado em ZH. No texto, o jornal destacou que é difícil encontrar outro país cujo nome possa ser usado desta forma, quando o assunto é futebol. Todos entendem a força do nome. ◆◆◆ Fossem declarações e textos posteriores ao Penta, ainda se poderia considerar como
causadas pelo encanto natural com um novo campeão. Não, elas têm origem na força, no talento e na inesgotável capacidade do futebol brasileiro de se renovar, de apresentar novos grandes jogadores para o mundo a cada Copa. Na Seleção vencedora de ontem há Gilberto Silva, Kléberson, Ronaldinho, Kaká, o próprio goleiro Marcos, que os torcedores de fora não conheciam. Conheceram ontem, quando eles venceram os alemães e, depois, rezaram unidos formando um coração no centro do campo (foto) antes da festa de entrega da Copa. É uma nova geração. ◆◆◆ Não é apenas o Penta que deve provocar a revisão de alguns conceitos. Pensem bem. A Seleção foi Tetra em 1994, nos Estados Unidos, vice em 1998, na França, e campeã mais uma vez em 2002. Venceu as sete partidas da Copa, teve o melhor ataque (18 gols) e o goleador do torneio (Ronaldo, oito). Acumula 194 pontos ganhos em Mundiais (só ela disputou todos), bem à frente dos alemães (168). Sozinha, tem cinco dos nove títulos conquistados pela América do Sul. É o único país com um jogador chamado de rei. Não dá para comparar. Nem os colonizados de sempre conseguiriam.
PREDESTINADO
Ele perdeu grandes chances, deu a impressão em certos momentos de que estava fora de ritmo, mas na hora em que o time mais precisou dele, quando a Alemanha mais pressionava, lá estava Ronaldo Nazário, o jogador que suportou durante quatro anos, desde a Copa de 1998, a acusação injusta de ter sofrido a convulsão de medo da final contra a França. Venceu suas lesões, as dores, a pressão de outra final e arrasou. Fez os dois gols, garantiu o Penta do Brasil, virou goleador da Copa e, para completar, empatou com Pelé no posto de maior goleador brasileiro em Mundiais. O rei e ele têm 12 gols.
De verde-amarelo AP/ZH
◆◆◆ Tudo isso foi conquistado, como diria o antigo técnico Flávio Costa, com um trabalho desenvolvido do túnel para dentro do campo. Imaginem o que aconteceria com um pouco de organização, sem as suspeitas levantadas pelas CPIs, sem os euricos mirandas, vianas e farahs, com campeonatos e calendários definidos. – O difícil é ganhar com os cartolas brasileiros – atacou Leão ontem, um dos três técnicos da Seleção nos últimos quatro anos. Este é o sonho a ser realizado a partir de agora. Vamos torcer para que o Penta tenha ensinado algumas lições aos dirigentes e que eles também mostrem a competência que sobra entre os jogadores. Para começar, deveriam assegurar a renovação de Luiz Felipe. Se isso ocorrer, já dá para ir preparando as faixas do hexa.
Leia as colunas anteriores em zh.clicrbs.com.br/mariomarcos
Foi um lance surpreendente, típico de Hugo Chávez. Ao discursar diante de estudantes de universidades sul-americanas reunidos no Parque Central de Caracas, no último sábado, o presidente venezuelano vestiu a camiseta da Seleção Brasileira (foto) e aos gritos de “seremos campeões” previu uma vitória de 3 a 0 sobre a Alemanha. Errou por pouco (o jogo foi 2 a 0). Ontem, ele voltou a exaltar os brasileiros no seu programa de rádio Alô, Presidente. Gritou “viva o Brasil” e disse que havia festa por toda a Venezuela. e-mail: mario.souza@zerohora.com.br
Editor: Mauro Toralles mauro.toralles@zerohora.com.br ☎ 3218-4352 Editor Assistente: Mário Marcos de Souza mario.souza@zerohora.com.br ☎ 3218-4351
ContraCopa
david coimbra
Brasileiro, com orgulho GENARO JONER/ZH
◆ Yokohama, Japão
Terminado o jogo em Yokohama, voltei para o hotel de metrô. De repente, numa estação intermediária, um baixinho embarcou. Era brasileiro, tinha cara de brasileiro. Estava acompanhado da mulher e da filha, estas sim, obviamente japonesas. Minutos mais tarde, fiquei sabendo que o baixinho vive e trabalha no Japão. Certamente exerce uma dessas funções não tão bem remuneradas que os japoneses não aceitam exercer, as roupas do baixinho eram quase andrajos, em seu rosto estavam cavados os vincos indisfarçáveis de quem trabalha muito e trabalha duro e trabalha sem grande compensação. O baixinho, porém, entrou no vagão de queixo erguido, a imponência a luzir no olhar, o orgulho a se lhe derramar dos poros. Era um Napoleão coroado, um Getúlio Vargas voltando ao Catete nos braços do povo. Então o baixinho olhou para cada um no entorno. E sentenciou, como se fosse, ao mesmo tempo, uma explicação e um arrosto, repetindo o que certamente pensaram milhões de brasileiros como ele, de crianças como esta da foto a adultos: – Sou pentacampeão do mundo. A redenção do baixinho que mora no Japão já fez valer todo o esforço dos jogadores da Seleção Brasileira. ◆◆◆ Uma tarde, ainda estávamos em Kuala Lumpur, na Malásia, fui entrevistar o Kléberson e o Falcão se chegou. Contei esse episódio aqui: o Kléberson ficou vermelho, como que encolheu diante do Falcão, quase não conseguiu falar atrás do aparelho ortodôntico. Naquela tarde, o Falcão deu uma série de conselhos a Kléberson. Disse que ele, Kléberson, poderia ser tímido fora de campo. Dentro, nunca. E encerrou com uma frase de alguma contundência: – Se é para tocar a bola para o lado, até eu, com 48 anos, faço. Não sei se essa frase rascante arranhou algum ponto sensível da alma de Kléberson, mas ontem, contra a Leia as colunas anteriores em zh.clicrbs.com.br/david
vontade de ir lá, disputar um origami, mas vacilei, fiquei sem nenhum. Talvez a decepção tenha se tornado óbvia no meu olhar, talvez eu tenha suspirado de resignação, não sei. Só sei que ainda fitava os passarinhos de papel no campo de jogo, quando percebi uma presença ao meu lado. Olhei. Era uma voluntária japonesa. Ela estava com o braço estendido na minha direção e, na palma da mão voltada para cima, havia um origami. Olhei em seus olhos. Ela sorria, me oferecendo o animalzinho de seda. Sorri de volta. Apanhei o origami. Agradeci: Alemanha, ele jogou como se estivesse seguindo o conselho do Falcão. Fez a passagem pelo fundo do campo, tabelou, chutou, apresentou-se para o jogo. Kléberson foi a surpresa tática da partida. Porque a Alemanha estava preocupada com os 3R, com Cafu e com Roberto Carlos e, de repente, os laterais não subiram tanto e quem apareceu na frente foi um Kléberson arisco, cheio de malícia e decisão. Quantos recursos mais tem o Brasil? Isso é de atormentar qualquer alemão.
– Arigato gozai-ma. Ela fez uma reverência à moda japonesa e se foi, para continuar o trabalho. Vou fazer esse origami atravessar dois oceanos, vou fazê-lo pousar em Porto Alegre. E quem sabe, até, o faço mesmo de presente a um leitor mais interessado.
◆◆◆
Vou sair do Japão depois dos meus colegas da RBS. Estou sozinho aqui, agora. Neste momento, olho para o janelão do meu apartamento, no hotel, e vejo o imponente porto de Yokohama, as elevadas das autopistas, as linhas de trem, os japoneses que zunem como abelhas para começar outra semana de trabalho. Fico pensando neste Japão tão ordeiro, neste povo tão educado e engenhoso. Fico pensando se não poderíamos construir um país semelhante. Porque nós temos algo que ninguém tem: todos somos brasileiros. Branquelas como alemães, de olhos puxados como japoneses, morenos como turcos, negros como senegaleses, todos somos brasileiros, se nascemos no Brasil. E até alguns que não nasceram também são. O Brasil é a vitória da tolerância racial. Talvez por isso, por toda essa reunião de inteligências de tantas partes do mundo, consigamos façanhas como essa que a Seleção conseguiu. Talvez por isso consigamos ser grandes campeões no futebol. Talvez por isso estejamos seguidamente surpreendendo o mundo com algum grande talento individual. Existe matéria-prima, no Brasil. Por que não podemos, também, ser uma nação?
O jogo terminou, e origamis em forma de pequenas aves foram lançados ao céu de Yokohama. Os origamis voaram como se fossem pássaros vivos, fizeram algumas acrobacias, volutas para um lado, para outro, e foram descendo, suavemente. Alguns aterrissaram nas arquibancadas, outros no histórico gramado onde o Brasil, minutos atrás, batera a Alemanha e se sagrara pentacampeão, e um terceiro grupo, esse menor, caiu no reservado de imprensa. Quase ao mesmo tempo em que os origamis tocavam o solo, pressurosos voluntários japoneses os recolhiam para atirá-los ao lixo – os japoneses são assim, rápidos e eficientes. Fiquei olhando a sorrir para os passarinhos de papel que voaram para festejar a vitória do Brasil. Pensei que deveria recolher um, levá-lo a Porto Alegre para mostrar aos meus amigos, quem sabe até dar para algum leitor que o quisesse, mas no momento mesmo em que pensava isso outros jornalistas brasileiros se lançaram contra os bichinhos, catando-os do chão. Cheguei a ter
◆◆◆
e-mail: david.coimbra@zerohora.com.br