ZERO HORA
PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 28 DE JUNHO DE 1999
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REPORTAGEM ESPECIAL
Cúpula do Rio não prejudica a Alca Brasil espera que negociações resultem no aumento das exportações para UE em US$ 5 bi por ano AFP/ZH
Almoço diplomático: o presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniu ontem com Zedillo (E), do México, e Schroeder (D), da Alemanha EDUARDO TESSLER Enviado Especial/Rio
ntem, véspera do início da Cúpula do Rio – que reunirá 46 nações latino-americanas, caribenhas e européias até amanhã –, o presidente Fernando Henrique Cardoso avisou que a aproximação do Mercosul com a União Européia (UE) não prejudicará entendimentos para criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). – Nada do que é feito aqui é em detrimento de compromissos que nossos países têm na Alca – disse FH, depois de almoçar com o primeiro-ministro alemão, Gerhard Schroeder, e o presidente do México, Ernesto Zedillo. Pouco antes, Schroeder havia declarado que, no evento, defenderá a liberalização do mercado europeu a produtos do Mercosul, inclusive agrícolas. Também ontem, o presidente brasileiro se encontrou com o presidente da França,
O
Jacques Chirac. O francês afirmou que divergências quanto ao setor de serviços podem trazer dificuldades para um acordo comercial entre a América Latina e a União Européia. Os 15 países da UE e os quatro do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) mais o Chile concordaram em lançar negociações com vistas à liberalização comercial progressiva e recíproca, sem excluir nenhum setor e em concordância com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse será o teor do comunicado difundido hoje, depois da reunião de cúpula entre mandatários dos 20 países, o encontro mais importante dentro da cúpula maior. O comunicado UE-Mercosul incorpora a expressão diplomática single undertaking (empreendimento único). Isso significa que nenhum acordo entrará em vigor antes de acertados todos os pontos da agenda de liberalização comercial a ser lançada hoje. O documento final não menciona uma
data de início ou término da negociação, como pretendia o Brasil. O bloco europeu, em especial a França, opõe-se porque não quer ficar amarrado a uma data específica. Mas a questão pode se tornar irrelevante porque está prevista para novembro uma reunião do Conselho Conjunto UE/Mercosul/Chile. Caberá a essa reunião definir o calendário e as regras de negociação. O Brasil está de olho no mercado europeu. Não fosse a perspectiva de abrir as portas para os países do bloco e incrementar em 10% as exportações (cerca de US$ 5 bilhões por ano), o Brasil não teria cuidado tanto da Cimeira. Provavelmente, a decisão mais importante da reunião seja a aproximação definitiva – e irreversível – entre o Mercosul e o Chile com a UE. Apesar da participação de países da América Central, as atenções estarão dirigidas ao Mercosul e a sua aproximação com a UE. Para os europeus, seria um trunfo para diminuir o poder de influência dos Estados Unidos sobre a América do
Sul. Para o bloco liderado pelo Brasil, a idéia seria conquistar um mercado aberto a bons produtos, mas cheio de restrições e subsídios. Para o Brasil, que tem na UE o comprador de 29% de suas exportações, o crescimento das vendas é importante, sem reduzir muito a participação norte-americana no bolo, hoje em torno de 18%. – Avançamos bastante nos últimos dias. Não daremos prazos porque isso dificulta as negociações, mas acertamos que, em novembro, o grupo misto de trabalho começará a discutir. Teremos uns três anos de trabalho pela frente – admitiu ontem o subsecretário para Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior, José Alfredo Graça de Lima. Entre os participantes, o cubano Fidel Castro fez mistério sobre tudo, desde o horário de desembarque no Galeão. O peruano Alberto Fujimori solicitou proteção especial da Polícia Federal (PF), uma vez que a polícia argentina descobriu um suposto plano para liquidá-lo no Rio.
OUTRAS ESTRELAS DO ENCONTRO AFP/ZH
FOTOS BANCO DE DADOS/ZH
Massimo D’Alema, primeiroministro da Itália desde 1998
Fidel Castro, presidente de Cuba desde 1959
Alberto Fujimori, presidente do Peru desde 1990
José María Aznar, primeiroministro da Espanha desde 1996
Jacques Chirac, presidente da França desde 1995