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PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 1999
ZERO HORA
REPORTAGEM ESPECIAL AFP/ZH
EDUARDO TESSLER Enviado Especial/Rio
presidente Fernando Henrique Cardoso mandou ontem, às pressas, um recado ao colega norte-americano Bill Clinton, no primeiro dia da Cimeira do Rio. Tão logo assinou o acordo de Mercosul e Chile com a União Européia (UE), FH foi taxativo: – Não queremos deixar nenhum bloco de fora. Vamos definir a integração com a UE ao mesmo tempo que aceleramos a criação da Alca (a Área de Livre Comércio das Américas). Tenho falado com o presidente Clinton neste sentido, e com o chanceler Schroeder também – avisou FH, para afastar comentários de que a aproximação Mercosul e Chile-UE representaria preferência comercial aos europeus em detrimento dos EUA. O acordo assinado ontem (veja a íntegra na página ao lado) prevê a aproximação gradual, mas sugere um prazo de três anos como definitivo para a liberação das tarifas alfandegárias. Com a Alca, a data-limite, por enquanto, é 2005. – Não queremos impor nada contra o tempo – disse Fernando Henrique – Colocamos datas de referência, mas a idéia é sempre ampliar relações, não exclusão de partes. O chanceler alemão Gerhard Schroeder, presidente da UE, concordou com tudo, bem como o presidente paraguaio, Luiz González Macchi, presidente de turno do Mercosul, e o presidente da Comissão Européia, Jacques Santer, que acompanhavam a cerimônia. Talvez o maior entrave na negociação seja a questão agrícola, onde os europeus investem muitos subsídios e o Mercosul pretende exigir o livre-comércio. – É a questão mais difícil que, resolvida, representará impacto imediato em benefício dos pequenos produtores – admitiu Fernando Henrique. Mas em uma negociação, cada lado precisa ceder um pouco. O Mercosul poderá facilitar a área de serviços, reduzindo também as taxas de importação. A UE sugere a adoção de uma moeda única no bloco, para facilitar as negociações, e FH afirmou que há vontade política para tanto. – Quanto mais fluxo de comércio, melhor – observou o presidente do Brasil. O próximo passo para a integracão entre os blocos será uma reunião ministerial em Bruxelas, no mês de novembro. Lá será criado um conselho de cooperação, que vai definir e fiscalizar o formato das negociações. A Bolívia, associada ao Mercosul, como o Chile, ficou de fora dos acordos por ainda não ter negociacões com a União Européia. O mercado brasileiro representa 1% de todo o comércio internacional. Isso não impede, porém, que o país negocie ao mesmo tempo quatro frentes comerciais, todas de interesse fundamental para o desenvolvimento da economia nacional. O aprofundamento do Mercosul, talvez com o ingresso definitivo do Chile, é prioridade em Brasília. A criação da Alca deverá ser o impulso determinante para a abertura do país. O acordo com a União Européia (UE) abre nova vitrina para o Brasil. E a Rodada do Milênio, que reunirá 134 países sócios da Organizacão Mundial do Comércio (OMC) em Seattle, em novembro, é possivelmente a maior frente de negociação multilateral de que o país já tenha participado. O Mercosul enfrentou a crise política do Paraguai e tropeça em problemas causados pela crise cambial brasileira. Isso atrapalha a sedimentação do bloco. A Argentina sente os efeitos da queda do real e defende a adoção da moeda única. Sem a paridade entre os câmbios, dificilmente o Mercosul ampliará seus tentáculos econômicos.
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FH promete a Clinton acordos simultâneos Mercosul acelera as negociações com a UE
Entendimento inicial: o acordo do Rio apenas começa a definir o futuro do comércio do Mercosul com a Europa