Gazeta_Russa_june

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ruslan sukhushin

itar-tass

Planos frustrados de concorrência

Aeroflot se expande com aquisições

País quer elevar nível educacional

Página 06

Bolshoi reabre restaurado

www.sukhoi.org

Reforma deve livrar Rússia de herança autoritária Página 03

Depois de seis anos e muitos milhões de euros Página 08

segunda-feira, 27 de junho DE 2011

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), Clarín (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

Inovação Nos arredores de Moscou, centro reunirá pesquisa, educação e empresas de tecnologia

Notas

Skôlkovo, a cidade do futuro

Presidente da Tchetchênia perde em caso de difamação

Boa parte do centro de inovação de Skôlkovo ainda não saiu do papel, mas o “Vale do Silício russo” ainda é a menina dos olhos do presidente Medvedev. Aleksandr Vostrov Dmítri Rodionov

O ativista Oleg Orlov: inocente

Um juiz da região sudoeste de Moscou determinou, no começo do mês, que o ativista de direitos humanos Oleg Orlov é inocente no caso de calúnia e difamação aberto por Ramzan Kadirov, presidente da República Russa da Tchetchênia. Orlov, que é presidente do grupo de direitos humanos Memorial, foi acusado de difamação em julho do ano passado, depois de afirmar publicamente que Kadirov estava por trás da morte da ativista tchetchena Natália Estemírova, ocorrida em 2009. Kadirov nega as acusações. Estemírova, 51, foi sequestrada em julho de 2009, em Grózni, capital da Tchetchênia. Seu corpo foi encontrado na vizinha República da Inguchétia. Estemírova registrou centenas de casos de supostos abusos contra civis pela milícia sob controle de Kadirov. Orlov afirma que a decisão do tribunal representa uma vitória da liberdade de expressão. “Não é apenas uma vitória minha, é uma vitória para todos, para os jornalistas e para toda a sociedade civil, porque eu defendi no tribunal o direito de liberdade de expressão”, comemorou.

ria novosti

Em um pequeno vilarejo chamado Skôlkovo, situado 20 quilômetros a oeste de Moscou, está sendo construído o que para alguns representa um grande salto tecnológico, uma releitura russa do Vale do Silício, na Califórnia. “Espero que o mundo inteiro conheça esta marca não apenas como um local onde investidores devem aplicar dinheiro, mas pela força desse empreendimento no desenvolvimento”, disse o presidente russo Dmítri Medvedev em meados de maio, quando lá realizou um coletiva para mais de 800 jornalistas. Espera-se que mais de 40 mil pessoas vivam e trabalhem nos 3,6 quilômetros quadrados da “Innograd” (uma abreviação russa para o termo “Cidade da Inovação”), que concentrará uma grande quantidade de empresas de alta tecnologia russas e, espera-se, multinacionais. Medvedev deu sinal verde

ria novosti

especial para gazeta russa

para o projeto em fevereiro de 2010. “Não acho que devamos olhar para a modernização nos guiando por rígidos padrões de tempo”, d isse o presidente à imprensa.

de Administração de Moscou no local, grande parte do projeto ainda não passa de um rascunho. Mas Rússia está levando a sério sua vontade de abrir as asas, e pretende ampliar seu tradicional papel

Durante os últimos meses, a palavra Skôlkovo tem sido o principal chavão na maioria das conversas sobre o programa de modernização do Kremlin. Contudo, à parte a recém-inaugurada Faculdade

global de exportadora de matéria-prima e energia, tornando-se também um centro de desenvolvimento de alta tecnologia.

Mais de 800 jornalistas russos e estrangeiros participaram da entrevista

continua na Página 5

Ria Nóvosti

Exportação Mais de 80 fornecedores brasileiros tiveram negócios com a Rússia suspensos desde 15 de junho

Carne brasileira sofre embargo

A reunião da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação não foi das mais tranquilas. Realizada em Moscou no dia 17 de maio, a discussão girou fundamentalmente em torno do endurecimento do Kremlin sobre as importações de carne brasileira. Desde 15 de junho, as importações de produtos de origem animal de 85 frigoríficos, dos Estados do Mato Grosso, Paraná e Rio Gran-

AP/fotolink

vladislav kuzmitchov gazeta russa

Reunião de representantes dos países em maio não resolveu impasse

de do Sul foram suspensas por autoridadades russas. De acordo com o secretário do Rosselkhoznadzor (Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária

da Rússia), Aleksêi Aleksêienko, os brasileiros deveriam ter resolvido, até o dia 20 de maio, irregularidades apontadas anteriormente pelo governo russo na pro-

dução e no manuseio da carne exportada para o país. De 2010 a 2011 foram descobertos 31 casos de importação irregular do Brasil para a Rússia envolvendo problemas de documentação e uso de substâncias proibidas no país. Além disso, os fornecedores deveriam apresentar à vigilância sanitária local garantias de cumprimento das normas. Os documentos, porém, não chegaram ao país no prazo estipulado, de acordo com o secretário. Durante a reunião, os representantes brasileiros declararam não concordar com o sistema de cotas de importação de carne no país, principalmente por considerarem tais medidas contraditórias aos princípios da Organiza-

Nômades ção Mundial de Saúde (OMS). Em 2003, a Rússia introduziu um sistema de cotas para países de fora da Comunidade dos Estados Independentes que define diferentes limites aos países exportadores. Para resolver o impasse, o chefe do Serviço Federal de Vigilância Sanitária e Veterinária da Rússia, Serguêi Dankvert, e o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura do Brasil, Francisco Sérgio Ferreira Jardim, reuniramse no final de maio e decidiram que o governo brasileiro conduzirá inspeções em todas as empresas brasileiras fornecedores de carne à Rússia.

alamy/photas

Prazo dado pela Rússia para que frigoríficos brasileiros se regularizassem venceu em maio. A medida, entretanto, pode ser política, visando a um estímulo para a produção interna de carne.

nesta edição

Nenets

Tribo do norte do país pode estar com dias contados devido ao avanço da Gazprom Página 4

ultranacionalismo

Mortes em Moscou

Quase dois anos depois, assassino de advogado e jornalista é condenado

continua na Página 5

Justiça Comissão independente inocenta advogado

Página 2

Acusações contra Serguêi Magnítski foram fabricadas

GALINA MASTEROVA VLADÍMIR RUVINSKI

gazeta russa

A comissão independente formada para investigar o caso do advogado Serguêi Magnítski deu sinais de que as

cobriu uma fraude de restituição de imposto de US$ 230 milhões realizada, segundo ele, por um grupo corrupto de policiais e funcionários da administração pública russa. Depois da denúncia, ele mesmo foi acusado do crime, assim como outros seis advogados escalados pela Hermitage. Magnítski desenvolveu uma grave doença no pâncreas enquanto esteve sob custódia, mas teve tratamento negado

reuters/vostock-photo

acusações apresentadas foram fabricadas e de que funcionários do Ministério do Interior e do FSB (Serviço de Segurança Federal da Rússia) foram, no mínimo, parcialmente responsáveis pela morte de Magnítski na prisão de Butirka, em Moscou, em novembro de 2009. O advogado representava a empresa britânica de fundo de investimentos Hermitage Capital em uma acusação de sonegação fiscal quando des-

AP/fotolink

Em investigação histórica sobre a morte do advogado moscovita Serguêi Magnítski, comissão especial criada pelo Kremlin deve incriminar membros do Ministério do Interior e do FSB.

entrevista

apesar das constantes solicitações po parte de seus advogados. Pai de dois filhos, ele morreu aos 37 anos, depois de passar 358 dias em prisão preventiva.

No início, sua morte foi atribuída a uma “ruptura da membrana abdominal” e, depois, a um ataque cardíaco. continua na Página 2

Advogado morreu na prisão depois de descobrir esquema de corrupção

Marcos Pontes Astronauta brasileiro volta à Rússia depois de cinco anos Página 3


Política e Sociedade

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Sucessão 2012 Partido Rússia Unida irá se definir entre presidente e primeiro-ministro para concorrer às eleições

Medvedev ou Pútin. Quem é o candidato? das agências de notícias

Pouco a pouco, as eleições de 2011-2012 na Rússia entram na pauta do dia. Nas últimas semanas, tanto o presidente Dmítri Medvedev quanto o primeiro-ministro Vladímir Pútin fizeram aparições públicas que foram descritas por observadores políticos como os primeiros indícios da campanha eleitoral. No início de maio, durante um congresso do partido governista Rússia Unida, Pútin anunciou a criação da Frente Popular da Rússia. Composta por uniões de comércio, associações empresariais, grupos juvenis e organizações não-governamentais – porém partidárias do Kremlin –, a organização tem o objetivo de aumentar a popularidade do partido, ampliando seu contato com a população. Logo após o anúncio do primeiro-ministro, Medvedev deu aos observadores motivos para acreditar em uma discórdia entre liberais e burocratas. “Entendo os motivos de um partido que queira

diciário. Ele ainda anunciou um polêmico plano para livrar o governo e as empresas estatais de burocratas.

manter sua influência sobre a nação”, disse, recusando-se a apoiar a ideia. Medvedev também sugeriu que seu partido Rússia Unida não deve contar com uma vitória esmagadora em dezembro nas eleições da Duma (a câmara dos deputados da Rússia). “Nenhuma força política pode se considerar dominante. Pelo contrário, todas devem se esforçar para serem bemsucedidas”, disse.

Distanciamento

As ações de Medvedev são vistas como um distanciamento de Pútin. Esse processo começou com críticas do presidente aos comentários do primeiro-ministro sobre as sentenças de prisão dos empresários Mikhail Khodorkóvski e Platon Lêbedev e depois ficou mais evidente nas divergências em relação à intervenção da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Líbia. Segundo o analista Dmítri Orêchkin, o distanciamento das duas figuras é essencial para o desenvolvimento do país. “Esse é um acontecimento importante, que marca um passo de independência de Medvedev”, disse Orêchkin. Para aqueles que acreditam na divisão da bancada, a frente de Pútin seria sua tática para voltar à presidência. “Se eles criarem esse novo grupo, e não há motivos para pensarmos que não irão fazê-lo, então podemos dizer que Vladímir Pútin acabará nomeado por essa ‘frente popular’, isto é, por todos os russos que desejam uma vida melhor”,

Entrevista

Medvedev concedeu sua primeira grande entrevista coletiva à imprensa em três anos de governo no dia 18 de maio, em Skôlkovo – a cidade nos arredores de Moscou apelidada de “Vale do Silício russo” devido aos recentes projetos de inovação ali engendrados pelo presidente. Mais de 800 jornalistas compareceram ao evento, levantando questões que variaram da modernização econômica às eleições governamentais. Suas respostas foram no geral previsíveis, mas ele mostrou estar confortável e seguro. A coletiva aconteceu depois de uma reunião com oficiais da justiça em que o presidente mais uma vez ressaltou a necessidade de reformas e do fortalecimento do sistema ju-

reuters/vostock-photo

Enquanto outros partidos têm participação quase nula nas eleições, divergências recentes de Medvedev e Pútin dão indícios de que a campanha já começou.

Com personalidades distintas, Medvedev (o moderno) e Pútin (o tradicional) podem atrair eleitores de perfis distintos

Recentes divergências podem ser mostras de atrito ou reiteração de papéis diferentes

Frente criada por Pútin une ONGs e associações para ampliar base de apoio ao partido

acredita o cientista político Grigóri Gólosov. Para o editor-chefe da estação de rádio Ekho-Moskvi, Aleksêi Venediktov, a criação da frente é uma afirmação da vontade política do primeiroministro. “Essa história nos mostra mais uma vez que Pútin certamente não recusa um terceiro mandado presidencial”, disse ele à BBC. Há também os que acreditam na união do partido e afirmam que as recentes decla-

rações dão a Pútin e a Medv e de v a op or t u n id ade de reiterar suas personalidades d isti ntas, porém complementares. Sob esse prisma, Medvedev seria o “modernista” e Pútin o “tradicional” – e juntos eles poderiam atrair os votos de uma população russa cada vez mais dividida. “Como antes, Pútin e Medvedev tendem a ocupar diferentes nichos políticos”, disse o analista independente Sta-

nislav Belkôvski à agência de notícias Interfax. “Ambos continuam em busca de uma causa comum”, afirma. O político de oposição Vladímir Rijkov chegou a sugerir que a iniciativa da Frente Popular tinha, na verdade, a intenção de cercar a bancada. “Ele [Pútin] está tentando minar o apoio da bancada e do ‘partido no poder’”, escreveu Rijkov em um artigo opinativo no diário russo The Moscow Times. Para o comentarista televisivo Nikolai Svanidze, isso não significa necessariamente que Pútin irá se eleger no próximo ano. “Acredito que a bancada ainda não decidiu quem irá concorrer nas eleições presidenciais e, se essa frente for constituída, o atual presiden-

te Dmítri Medvedev poderá usá-la também. A nova plataforma tornará possível que ambos os candidatos declarem ter apoio de uma parcela considerável da população, não somente de um partido e de seus eleitores”, disse Svanidze ao canal estatal Russia Today. Quem quer que sejam os candidatos à presidência da Rússia, em 2012 os políticos deverão dar mais atenção à sociedade do que nunca. De acordo com uma pesquisa de abril do Centro Levada, 75% dos russos se interessam por política. No entanto, 83% dos entrevistados acreditam que os políticos trabalham apenas em prol de seus próprios interesses, ignorando as necessidades dos eleitores.

Justiça Ultranacionalista é condenato por autoria dos disparos contra Anastassia Babúrova e o advogado Stanislav Markelov

Tino Künzel

especial para gazeta russa

Durante sua audiência no Tribunal de Moscou, Nikita Tíkhonov, 30 anos, e Evguênia Khassis, 25, estavam de mãos dadas e sorriam. Mas o clima tranquilo deles não condizia com a sentença. Tíkhonov foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato do advogado Stanislav Markelov e da jornalista Anastassia Babúrova, da Nôvaia Gazeta. Khassis, como cúmplice, deve ficar na prisão por 18 anos. A sentença foi decretada dois meses após o i n ício da investigação. Markelov e Babúrova foram mortos a tiros no centro de Moscou no dia 19 de janeiro de 2009. Na última década, Markelov tinha aberto ações judiciais contra diversas p e s s o a s i n f lu e nt e s d e diferentes regiões da Rússia, incluindo a República da Tchetchênia. A versão da acusação é que os criminosos, partidários de um grupo de extrema direita, atuaram por convicção.

Na sentença, o juiz afirmou que os casal cometeu crime de ódio e que os dois estavam confiantes de “sua própria superioridade”. Tanto Tíkhonov quanto Khassis negaram participação no caso. De acordo com os investigadores, Khassis teria mantido as vítimas na calçada, ao mesmo tempo em que fazia sinais a Tíkhonov para que se aproximasse. O parceiro teria dado dois tiros na nuca de Markelov. Babúrova, que aparentemente tentou impedir a fuga do assassino, levou um tiro no rosto. Enquanto a imprensa e organizações de defesa dos direitos humanos justificavam a morte de Markelov como uma possível vingança, a investigação se voltou às organizações nacionalistas. Em 2006, Markelov se engajou em um caso de assassinato de um antifascista no qual Tíkhonov figurava como um dos suspeitos.

Nacionalismo

Ainda universitário, voltando de uma viagem pela Sérvia, Tíkhonov fundou, com o colega Iliá Goriatchev, a revista Rúski Obraz. Em 2007, a publicação transformou-se em uma das mais bem-sucedidas organizações nacionalistas do país, com

kommersant

Jornalista e advogado foram executados no centro de Moscou em janeiro de 2009, em plena luz do dia. Apesar das evidências, dupla de autores nega culpa.

AFP/eastnews

Prisão perpétua para assassino de jornalista

Moscovitas pedem justiça pela morte da jornalista Babúrova e do advogado Markelov

cerca de 2 mil afiliados. Já como membro da organização, ele vivia do comércio ilegal de armas. Em outubro de 2009, depoisde ser monitorado por seis meses pelo serviço de segurança, o casal foi preso no apartamento em que morava. Ali também foi encontrada a arma do crime. Radicais de ultradireita deram declarações contra Tíkhonov, testemunhas o identificaram como o assassino e e ele por fim confessou o crime. Mais tarde, porém, a pedido dos advogados de defesa, disse que fora forçado a escrever sua confissão.

Tíkhonov e a cúmplice Khassis sorriem durante a audiência

comentário

Crime nacionalista foi ideológico, não racial Liudmila Aleksêieva

defensora dos direitos humanos

A sentença decretada aos nacionalistas no assassinato de Markelov e Babúrova criará um precedente em alguns casos: na Rússia, crimes com motivos nacionalistas não são raros. Mas esse assassinato, especificamente, virou um caso raro,

já que nacionalistas mataram russos por questões puramente ideológicas, e não raciais, como é de praxe. Markelov foi defensor dos direitos humanos, e não um advogado de direitos humanos: ele era mais ativista que advogado, e assim aceitava alguns casos sem requerer honorários. A investigação da morte de Markelov e Babúrova ocorreu

de modo muito profissional. Foi feito um grande trabalho e o júri condenou os infratores com o máximo rigor da lei. No entanto, o assassinato não foi político, mas ideológico. A maioria dos assassinatos contra ativistas dos direitos humanos e jornalistas na Rússia é cometida por criminosos iniciados em um nível político mais elevado, como mostrado

por numerosas investigações, entre elas algumas da Nôvaia Gazeta, jornal em que Babúrova trabalhava. Há pelo menos uma mudança para melhor: o assassinato do advogado e da jornalista provocou uma enorme censura popular e desaprovação. Agora as autoridades já estão bastante cautelosas devido à posição mais ativa da população na sociedade.

Advogado apontou policiais como corruptos Continuação da página 1

As descobertas feitas pela comissão independente criada pelo presidente russo Dmítri Medvedev foram divulgadas em um relatório preliminar que vazou no jornal Vedomosti, e depois foram confirmadas por membros da própria comissão. Kirill Kabanov, chefe do Comitê Nacional Anticorrupção, afirma que a pressão tem sido implacável. “Muitos oficiais bastante conhecidos na política declararam abertamente não dar a mínima para nossa

investigação”, diz Kabanov. “O serviço de segurança não está pronto para entregar seus funcionários, em parte porque eles sabem demais e poderiam comprometer diversas pessoas. Além de haver muito dinheiro em jogo.”

Demissão de carcereiros

“Quando Serguêi Magnítski testemunhou contra os policiais, os mesmos oficiais estipularam sua prisão preventiva, o torturam e mataram”, disse de Londres à Gazeta Russa o diretor-executivo do Hermitage Capital, William

Browder, em entrevista por telefone. Os funcionários da penitenciária Butirka foram demitidos. Porém, não houve prisões ou investigação policial direta dos funcionários acusados de corrupção. A companhia gastou enormes quantias numa investigação dos funcionários envolvidos na suposta fraude fiscal, e publicou uma série de vídeos documentando as compras milionárias de uma funcionária cujo salário, somado ao do marido, não ultrapassava US$ 38 mil ao ano.

Alguns dias depois do vazamento do relatório encomendado pelo governo, o tribunal decretou a prisão do executivo-sênior do Hermitage, Ivan Tcherkasov. Em maio de 2011, o advogado Tcherkasov acusou o investigador do caso, o tenente-coronel Oleg Síltchenko, de fabricar acusações contra Magnítski. Em resposta, foi condenado por evasão de US$ 73 milhões em impostos. Exilado na Inglaterra, o executivo não assistiu à sentença e declarou não pretender cumprir a pena.

Como se desenrolou o caso Magnítski-Hermitage Novembro de 2005. William Browder, diretor-executivo do fundo de investimentos britânico Hermitage Capital, tem sua entrada negada na Rússia e é deportado. Junho de 2007. As companhias afiliadas à Hermitage Capital são acusadas de evasão fiscal e no mesmo dia é realizada uma busca no escritório russo da companhia britânica. Outubro de 2007. O Hermitage

Capital escala Serguei Magnítski, do Firestone Duncan, e outros seis advogados de diferentes escritórios para defender o caso. Novembro de 2007. O Hermitage é condenado por um suposto desvio de 500 milhões de rublos (R$ 28,5 milhões). Outubro de 2008. Depois dedescobrir uma fraude de restituição de imposto de 5,4 bilhões de rublos (R$ 307 milhões) perpetrada por altos ofi-

ciais do governo, Magnítski é detido preventivamente. Os outros seis advogados designados pelo Hermitage se exilam na Inglaterra. Magnítski passa 358 dias na prisão, onde faz 450 queixas formais. Seus pedidos de tratamento médicos são negados pelo investigador Oleg Síltchenko- e Magnítski morre, aos 37 anos, em novembro de 2009.


Política e Sociedade

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notas

Reforma Metas incluem novo currículo e salário melhor

Educação tenta se livrar dos métodos soviéticos alesia lonskaia

especial para gazeta russa

Uma incrível versão da origem do homem tirada de um livro recentemente aprovado para alunos da 5ª série levou alguns pais a escreverem uma carta ao presidente Dmítri Medvedev, reclamando da incompetência do Ministério da Educação na Rússia. O texto dizia: “Ao longo dos anos, os macacos se aventuraram na água cada vez mais e mais, cada vez mais longe da praia e aprenderam como nadar e mergulhar atrás de comida. Eles desenvolveram uma postura ereta. Por alguma razão ainda desconhecida, alguns macacos continuaram seus meios de vida na terra, enquanto outros se tornaram tão adaptados à vida no mar que permaneceram lá

para sempre e se transformaram em golfinhos.” O episódio chocou pais e professores, mas não chegou a surpreender. Além da idade avançada dos professores, a falta de recursos está contribuindo para a deterioração das escolas russas. “Alguns temas dúbios foram incluídos recentemente no currículo, e essa baboseira toma tempo das disciplinas principais. Não é nenhum assombro que a qualidade da educação esteja caindo”, lamenta o professor de língua russa Serguei Ráiski. Ráiski, de 41 anos, é considerado jovem entre seus colegas, cuja média de idade é de 48 anos. Um em cada cinco professores já passou da hora de se aposentar, e devido aos baixos salários, em torno de R$ 770 por mês, os jovens não querem enveredar pela profissão. O sistema de ensino de línguas estrangeiras também está ultrapassado. Na maioria das escolas públicas, os

alunos estudam uma língua, geralmente o inglês e ocasionalmente o alemão, duas vezes por semana, e só aprendem decorando. A conversação, segundo os críticos, é deixada de lado. “Nos últimos anos, nossas escolas têm oferecido apenas conhecimento, e não educação”, diz o conselheiro para assuntos educacionais Aleksandr Kondakov. Os exames do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), consequentemente, colocaram a Rússia, um território antes conhecido por suas façanhas educacionais, em 43º lugar entre os 65 países de todo o mundo avaliados. Aplicado a cada três anos e divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OECD), o exame de 2009 deixou o Brasil em 53º na lista.

Mudanças futuras

Os pais russos sabem bem que as crianças em escolas privadas levam muita vantagem sobre aquelas que frequentam

AP/fotolink

Com resultados ruins no exame internacional de ensino, a Rússia quer se livrar de herança autoritária e elevar o nível da educação.

Submarinos Mir descem ao fundo do lago de Genebra

Alunos russos não são incentivados a debater em sala de aula

o governo prometeu um aumento de 30% nos salários dos professores já para este ano. As reformas no ensino médio, porém, ainda estão em fase de elaboração. “A escola terá mais poder de decisão para formar seu próprio currículo de acordo com o desejo dos estudantes”, afirma Irina Abânkina, diretora do Instituto de Estudos Educacionais da Universidade de Pesquisa Nacional Russa. O estudante, que poderá escolher seis temas adicionais e decidir se quer estudá-los em um nível básico ou profissional, precisará passar em pelo

escolas públicas sem recursos, assim como acontece no Brasil. Para tentar diminuir um pouco esse abismo, o governo pretende introduzir práticas das escolas particulares na rede do Estado e prepara uma reforma escolar em grande escala, visando ao aprendizado individual. As reformas nas escolas do ensino fundamental estão previstas para começar em setembro. Algumas aulas, por exemplo, serão realizadas fora da sala, em dez horas semanais de passeios, caminhadas e trabalhos criativos em espaços culturais. Além disso,

A lista de espera do jardim de infância

Por lei, as escolas e o material escolar são gratuitos na Rússia. Os pais devem pagar apenas pelo uniforme e pelas refeições. Isso se aplica a 48.809 escolas regidas pelo Estado – as privadas somam um número muito menor, totalizando 665. As crianças começam a estudar aos 7 anos de idade e o ano escolar vai de 1º de setembro a maio do ano seguinte, com férias curtas no inverno, no outono e na primavera, e durante todo o verão. Para passarem de ano, os alunos fazem testes e, após o 1º

Russos que planejem ter filhos já deviam inscrevê-los na préescola agora mesmo. A queda da taxa de natalidade em quase 50% nos anos 1990 levou ao fechamento de mais de 600 jardins de infância no país. Agora, quando os prédios escolares estão sendo vendidos ou repassados a outros órgãos estatais, a taxa de natalidade voltou a crescer. Como resultado, não há vagas nas pré-escolas públicas para mais de 1 milhão de crianças, mesmo que a educação primária seja direito de todos. Para

itar-tass

Como funciona o ensino na Rússia

ano de ensino médio, são submetidos ao Exame Unificado Estadual, com provas de matemática e duas matérias a escolher, cujos resultados são utilizados para definir sua admissão na universidade.

criados quando um grupo de pais organiza uma cooperação não comercial, e existem os empreendedores privados, que agora podem se organizar sem obter uma licença. Em algumas regiões, os pais que não conseguiram matricular seus filhos na pré-escola recebem uma compensação mensal. Na região de Perm, por exemplo, o valor é de R$ 303. É claro que isso não é o suficiente para pagar uma escola privada, cujas mensalidades custam em média R$ 980 por mês.

inscrever uma criança na préescola, os pais são forçados a pagar matrículas que variam de R$ 2,3 mil a R$ 5,7 mil. Das crianças de 2 a 6 anos de idade, 60% estão matriculadas em um total de 45,3 mil préescolas mantidas pelo Estado. De acordo com a lei russa, os jardins de infância são separados das escolas, e a participação não é obrigatória. O número de pré-escolas privadas é desconhecido devido à incerteza gerada em torno de seu status legal: existem jardins de infância familiares,

menos quatro matérias no Exame Unificado Estadual, que foi introduzido em 2009 para definir as admissões universitárias.

Herança autoritária

As inovações foram desenvolvidas para levar à Rússia um sistema educacional na linha do modelo europeu. Mas nem todos os pais aprovaram. Houve quem se indignasse com as mudanças temendo o fim da educação clássica. Em dezembro, um grupo de nacionalistas chegou a ir ao centro de Moscou para encenar um protesto contra a reforma na educação. Segundo o conselheiro Kondakov, após o colapso da União Soviética um novo pensamento foi adotado, mas o sistema de ensino permaneceu: alunos ouvem palestras, não discordam dos professores e qualquer tipo de debate dentro da sala de aula é visto como rude. “A escola é menos autoritária que a soviética, mas não existe um modelo de parceria de ensino, de igualdade entre professor e aluno. O professor perdeu autoridade e tenta usar da severidade”, ressalta. “Ainda temos muito a aprender sobre como organizar um trabalho de equipe na sala de aula, no qual o interesse no aprendizado e no ensino seja recíproco.”

entrevista Marcos Pontes

Estação espacial é prova de amizade entre nações lando: “lá é tal lugar, lá é tal lugar!” Eles ficaram curiosos. Então, quando todos voltaram da missão, liguei para eles e perguntei: “E aí, querem conhecer o Brasil agora?” O Pável e o [cosmonauta] Oleg [Kotov] vieram. Foram a São Paulo, a Bauru, que é minha terra, a Pirassununga, a São José dos Campos, ao Rio de Janeiro.

Como foi o reencontro com a equipe que viajou com você em 1996 [o cosmonauta Pável Vinogradov e o astronauta Jeffrey Williams]? Tenho contato com Jeffrey em Houston [nos Estados Unidos]. Também tinha encontrado o Pável aqui no Brasil, quando ele veio em 2007. Lá de cima, a gente olhava o Brasil passando, eu ficava fa-

Agora que você está baseado em Houston, como seu trabalho será afetado pela freada que os Estados Unidos deram no programa espacial? O programa continua. O que está parando agora em julho, ou um pouco depois, são os voos de ônibus espacial. O Discovery já parou, o Endevour fez a última missão esse mês, o Atlantis voa em

julho e aí para. O programa da Lua, pelo que fui informado, também foi cancelado. Mas os outros programas continuam. A Nasa, o programa Constelação, que envolve a fabricação de dois foguetes, a operação da estação espacial, a exploração de Marte continuam. Minha função é ficar à disposição do programa espacial brasileiro para outras missões. Eu gostaria que me escalassem rápido, mas com a parada dos ônibus espaciais as probabilidades diminuem. Ao mesmo tempo, eu também tenho que observar o que acontece no projeto espacial americano e ficar de olho no que pode aparecer de interessante, tanto no setor público, quanto no privado, para as empresas brasileiras.

reuters/vostock-photo

O Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia introduziu restrições temporárias à importação de produtos agrícolas de produtores localizados em 14 países, a maioria europeus. Um anúncio no site do órgão alertava: “Como resultado do monitoramento do primeiro semestre de 2011, foi intensificado o controle de negociações com 64 empresas, localizadas em 21 países do mundo. Proibiu-se temporariamente as importações para Rússia de dez empresas alemãs, cinco belgas, duas espanholas, uma holandesa e uma sueca”. Até o fechamento desta edição, 37 pessoas haviam morrido vítimas da bactéria Escherichia coli em países da União Europeia.

Microsoft vai patrocinar as Olimpíadas de Inverno 2014 reuters/vostock-photo

Gazeta russa

Como é sua relação com os cosmonautas? Eu tive um contato muito bom com eles, e, de forma geral, com todos na Rússia. Aliás, eu tive a impressão, na época em que eu estava lá, de que fui mais bem tratado que qualquer astronauta de outra nacionalidade ali. Foi muito bom esse contato. Eu estudei um pouquinho de russo, o necessário para ver os checklists, o painel, entender o controle. E isso me ajudou a ter contato com o pessoal de forma geral, tanto no centro de preparação quanto com as pessoas que o visitavam. Fazia questão de estar ali com eles em todo momento livre que eu tinha.

Você já retornou à Rússia? Só recentemente, cinco anos depois. Eu fui para lá convidado pela Roscosmos (Agência Espacial Federal Russa) para as comemorações dos 50 anos do voo de Iúri Gagárin. Participei de dois dias de eventos, e foi muito bom rever o pessoal. Eu tenho, para falar a verdade, uma saudade muito grande.

Rússia veta importação de alimentos de 14 países

Kommersant

Primeiro astronauta brasileiro volta à rússia 5 anos depois Marina darmaros

Dois mini-submarinos russos tripulados, o Mir-1 e o Mir-2, fizeram em meados desse mês a primeira incursão ao fundo do lago de Genebra (Suíça), o segundo maior da Europa Central. Em suas margens, vivem 1,5 milhão de pessoas, metade das quais retira de lá sua água potável. O cientista russo Anatóli Sagalevitch, o mergulhador americano Don Walsh e o balonista suíço Bertrand Piccard ocuparam o Mir-1, enquanto o Mir-2 foi controlado por Evguêni Tcherniaev. O vice-presidente da Sociedade Geográfica Russa e deputado estadual da Duma (a Câmara dos Deputados russa) Artur Tchilingarov e o cônsul honorário da Rússia em Lausanne, Frederik Paulsen, também estavam na tripulação. Os veículos devem realizar estudos científicos, colher amostras de solo para análises químicas e biológicas, identificar contaminações. Novo mergulho deve ocorrer em agosto. ITAR-TASS

Pontes visitou Moscou no cinquentenário do voo de Gagárin

Você considera isso uma oportunidade para estreitar os laços entre cosmonautas e astronautas? Acho que é uma comprovação desses laços, que foram estreitados a partir a década de 1970, quando começou a haver esses contatos no espaço. A estação espacial, aliás, é uma demonstração clara de que a gente tem capacidade de trabalhar com culturas di-

ferentes. Muitas vezes, lá do espaço quando você olha para a Terra, fica imaginando que aqui tem tanta discriminação, tanta divisão... Um país aqui, um país ali. Tem fronteiras, tem guerra, tem tudo isso. E, ali em cima, a gente consegue trabalhar com culturas diferentes e ideias diferentes. Todos juntos, trabalhando pela solução dos mesmos problemas.

A Microsoft será patrocinadora oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, que vão acontecer na cidade de Sôtchi, sul da Rússia. A empresa apresentou ao comitê um pacote completo de softwares de programação, serviço de suporte e acesso ao centro tecnológico da companhia. “O acordo é particularmente valioso porque a Microsoft teve uma experiência única na colaboração com o Comitê de Organização dos Jogos em Pequim”, disse Dmítri Tchernitchenko, presidente do Comitê de Organização Sôtchi-2014. O acordo foi assinado em 16 de junho. Ria-Nóvosti

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Política e Sociedade

GAZETA RUSSA

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Nenets Últimas famílias de grupo nômade do norte da Rússia temem sedentarização enquanto Gazprom inicia operações em seu território

ANNA NEMTSOVA (2)

A civilização (e o gás) ameaçam a tribo

Veja material mulitimídia em www.gazetarussa.com.br

REUTERS/VOSTOCK-PHOTO

Criança nenets na península de Iamal (destaque no alto)

Cerca de 13 mil representantes da etnia ainda mantêm os hábitos tradicionais e a criação de renas no Oeste siberiano

Perfurando poços e abrindo estradas para a exploração de gás no Iamal, a gigante russa Gazprom ameaça as últimas famílias de nenets. ANNA NEMTSOVA

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

As mãos ásperas e inchadas de Lena Sarteto revelam um turbilhão de atividades. Enquanto a água ferve sobre o fogo no centro de sua tenda, ela cozinha um banquete para sua família e para os convidados. Sarteto está com pressa. Em poucas horas, seu pequeno grupo nômade do oeste da Sibéria, constituído por aproximadamente dez famílias da população indígena dos nenets, irá se locomover em direção ao norte. É o início do verão polar e, aproveitando a luz quase contínua, a chamada Brigada Número 5, título oficial recebido pelo grupo durante os tempos soviéticos, levará o rebanho de 3 mil renas até as margens do mar de Kara. O plano é chegar ao Círculo Ártico em agosto. Depois, quando fugirem do frio cortante e retornarem ao oeste, os nenets trarão novamente suas renas à grama e ao musgo da aquecedora tundra. É um ciclo antigo, que vem sendo cada vez mais ameaçado pelo avanço da Gazprom sobre a península de Iamal. À medida que a gigante russa da energia e maior exportadora de gás natural do mundo

se aproxima da península com suas estradas, ferrovias, gasodutos e poços de exploração, vai transformando a paisagem da tundra russa. Fica cada vez mais evidente o perigo que ela representa para a terra dos nenets. “Os peixes têm um sabor forte, sentimos enjoo após tomarmos água dos lagos. Nossas renas ficam enroscadas nos arames e pulam os gasodutos, quebram as pernas e morrem”, conta Sarteto. “Somos a última geração a levar uma vida nômade. Nossos filhos viverão em cidades, sem a tundra em suas vidas”, lamenta.

Campo de gás

Na península de Iamal, encontra-se o campo de gás Bovanénkovo, uma vasta área com quase 5 trilhões de metros cúbicos de gás natural que a Gazprom deve começar a bombear no próximo ano. Torres de perfuração começaram a pontuar o horizonte e, para ajudar na exploração das fontes de gás, uma nova ferrovia de 520 quilômetros de extensão foi inaugurada no ano passado. Para muitos dos 13 mil nômades que ainda vivem na península de Iamal, a grande ameaça é serem forçados a ficar em assentamentos permanentes, uma mudança no estilo de vida do grupo que vem sendo estimulada pelo governo do país. Essa não é a primeira amea-

ça ao modo de vida dos nenets. Na época da União Soviética, eles foram obrigados a exercer uma espécie de criação coletiva. As tribos foram divididas em brigadas e forçadas a pagar impostos pela carne de rena. Milhares se mudaram para cidades da Sibéria, e os nenets precisaram lutar para manter as suas tradições. “Somos um povo pequeno”, diz Iezingi Hatiako, 61 anos.

“Não temos deputados para falar em nosso nome no parlamento, nenhum oligarca que nos dê dinheiro para nossa defesa legal”, completa. Para Andrêi Tepliakov, porta-voz da Gazprom para a operação de Iamal, é difícil entender essa postura. “Não importa o quanto tentamos ajudá-los – oferecendo transporte, pagando salários pelo que historicamente fizeram de graça, construindo pontes

Criadores de rena, eles se deslocam segundo as estações

sobre os gasodutos ou escolas e creches para os seus filhos – os nenets reclamam do mesmo jeito”, diz. Lena e seu marido, por exemplo, recebem aproximadamente US$ 2,5 mil por mês, uma quantia bastante razoável nessa região da Rússia. Todo verão, os helicópteros da Gazprom sobrevoam os acampamentos nômades para buscar mais de 2 mil crianças nenets e levá-las a colégios

internos em Iar-Sale, a capital da população da tundra. No entanto, Lena Sarteto diz que viveria sem esse dinheiro se pudesse ter a tundra sem interferências, apenas com a família ao seu redor. Ela se vira para a imagem de madeira de sua divindade e repete suas preces, ainda que pareça uma atitude inútil: “Permita que a Gazprom vá embora logo e Iamal seja nossa novamente.”

FRASE

Lena Sarteto REPRESENTANTE DO POVO NENETS

"

Não temos deputados para falar em nosso nome, nenhum oligarca que nos dê dinheiro.”

Resistência nenets é incompreendida Tribo desconfia de médicos oferecidos pelo Estado e evita deslocamentos, o que leva operação custosa a ser vista com ressalvas. ÍGOR NAIDENOV

RÚSSKI REPORTIOR

Um helicóptero sobrevoa a planície vazia da tundra. Quando ele pousa, a paramédica Irina desce, cumprimenta os presentes, joga as cortinas de uma barraca para trás e se espreme em seu interior. Ela examina uma criança com habilidade e lhe dá uma injeção. Tudo praticamente na penumbra. Fica decidido que a criança será levada ao hospital por causa da febre, e sua mãe irá junto. O helicóptero decola. A mãe

do garoto não quer responder a nenhuma pergunta e tem suas razões para desconfiar dos médicos. É de praxe que as mulheres de Iamal tenham muitos filhos, em média entre cinco a sete. Geralmente, as mães só vão ao hospital no último momento e, logo após o nascimento, voltam para a tundra, onde outras crianças e muitas tarefas as esperam. Para aumentar a assistência, os médicos russos adotaram uma estratégia de transferir a mulher da maternidade para um hospital regional, em vez de dar alta definitiva. Assim, os médicos tentam manter as mães no hospital até que o bebê tenha pelo menos um mês de idade.

atender um caso no povoado de Paiuta, onde deveria encontrar um guia para levá-los até uma mulher que daria à luz. No local, se depararam não com um, mas quatro guias. “Cada um tinha consigo uma lata de óleo de girassol, duas caixas de carne em conserva e um pacote de macarrão. O piloto do helicóptero queria que eles saíssem, porque tornavam o helicóptero muito pesado. Então eles disseram: ‘Você não pode fazer isso, nós somos indígenas, somos uma minoria’.” Segundo o médico, quando finalmente encontraram a paciente, ela ficou inquieta porque a leva r ia m a u m a maternidade em Salekhard, quando queria ir para Aksa-

Manter um helicóptero voando por uma hora custa, aproximadamente, 80 mil rublos (R$ 4,5 mil). Nesse caso, foram necessárias quase três horas para transportar a criança com suspeita de bronquite. Por isso, manter o estilo de vida tradicional das populações minoritárias no norte da Rússia está custando caro para o governo e aqueles que moram em outras partes do país se ressentem da forma como as autoridades parecem romantizar a vida na tundra e criar uma cultura de dependência entre as popu lações indígenas. O doutor Ivanov é um dos médicos que atendem à população de nenets. Ele conta que certa vez foi chamado para

rka. “Ela começou a gritar, dizendo que ia reclamar para o presidente da Assembleia Legislativa de IaNAO [Distrito Autônomo de Iamalo-Nenets]. Dissemos que a ambulância aérea não era um táxi”. Ivanov diz que casos do gênero são recorrentes. “Vou admitir que o que eu estou falando é, de certo modo, subversivo, mas isso não está nos levando a lugar algum. Não vejo futuro nesse estilo de vida. Entendo que o povo local tem sua própria mentalidade, mas imagine o que aconteceria se todas as pessoas usassem sapatos de fibra natural e deixássemos as barbas crescer como vassouras. Que tipo de país seríamos assim?”

Imigração Em constante queda demográfica, Rússia precisa cada vez mais de mão de obra imigrante para os postos de trabalho

Nova classe trabalhadora do país é estrangeira GALINA MASTEROVA

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

O Serviço de Imigração Federal (SIF) estima que cerca de 1,7 milhão de estrangeiros entrarão na Rússia para trabalhar legalmente em 2011, e que pelo menos outros três ou quatro milhões já estão trabalhando no país sem documentos oficiais. Não é difícil achar esses novos imigrantes. Eles são jovens que tiram a neve das ruas ou recolhem o lixo, constroem os novos e modernos arranha-céus ou vendem produtos no mercado, limpam banheiros públicos e calçadas e empurram carrinhos de comida nos parques das cidades. Bakhid Asilbekulu, 21, veio de Osh, no Quirquistão, para trabalhar como faxineiro em um mercado de Moscou por 15 mil rublos (R$ 852) mensais. Ele divide um quarto com mais de uma dúzia de compatriotas em um albergue pró-

ximo ao local onde trabalha. Bakhid, que em russo se autointitulou Boria, planeja retornar para o Quirquistão em dezembro e, se o dinheiro que acumular até lá não for suficiente, já tem planos de voltar à capital russa. O boom da emigração nas exrepúblicas soviéticas, especialmente na Ásia Central, começa com a pobreza que assola essas regiões, mas ganha força com a enorme atratividade do

Moscou estima que a economia russa vai precisar de mais de 30 milhões de imigrantes até 2030 crescente mercado russo, que demanda cada vez mais trabalho, especialmente nos grandes centros urbanos como Moscou. Os imigrantes vindos das exrepúblicas não precisam de visto para trabalhar na Rússia, mas disputam com milhões um trabalho no país, seja legal ou ilegal. Mesmo assim, a necessidade de mão de obra

não deve acabar tão cedo e até as grandes empresas russas correram para garantir parte desses trabalhadores. “Todos os anos, a Rússia perde um milhão de cidadãos economicamente ativos”, ressalta Lidia Gráfova, defensora de direitos humanos e conselheira de uma comissão do governo que trata de assuntos ligados à imigração. Segundo Viatcheslav Postavnin, ex-vice-diretor do SIF e atual presidente do Fundo de Imigração Século 21, um grupo de defesa dos imigrantes, a economia russa vai precisar de mais 30 milhões de imigrantes até 2030. No ano passado, o presidente russo Dmítri Medvedev já havia alterado as regras de visto do país para permitir que profissionais altamente qualificados e suas famílias entrem na Rússia com mais facilidade. Mesmo assim, os oficiais estimam que a medida irá atrair apenas cerca de metade dos emigrantes qualificados necessários. Agora, o SIF anunciou que planeja facilitar o processo de imigração, aumentar o núme-

Cargos ocupados por imigrantes

Permissões de trabalho por região

RIA NOVOSTI (2)

Cidadãos provenientes das ex-repúblicas soviéticas na Ásia Central devem ter situação legalizada mais facilmente no país.

ro de residentes legais e abrir o caminho para cidadania àqueles que quiserem ter a Rússia como lar. O diretor da agência de imigração, Konstantin Romodánovski, também afirmou que quer acabar com a corrupção, já que os imigrantes são geralmente forçados a pagar subornos para conseguir driblar o burocrático processo de le-

galização no país. “Hoje, é difícil dar continuidade ao processo sem pagar propina”, ressaltou Gráfova. Outra medida que vem sendo considerada é a abertura do serviço de concessão de vistos na estação Kazánski de Moscou, por onde chegam os trens vindo da Ásia Central. Ali, os imigrantes poderiam imediatamente obter a per-

missão de que necessitam, em um ambiente específico para isso e longe de problemas. Os incentivos, porém, dividem a população. Apesar da crise demográfica, existe uma ambivalência generalizada sobre a imigração no país. Uma pesquisa da agência Politex revelou que 86% dos entrevistados acham que o Estado deve instituir controles seve-

ros de imigração, enquanto 57% da mostra afirmam que Moscou precisa de trabalhadores estrangeiros. Gráfova ressalta ainda que a atual pressão do governo por uma política de imigração mais liberal aparece em um contexto de graves conflitos étnicos e diante de um desejo de conter a crescente onda de xenofobia no país.


Economia e Mercado

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A guerra do bife

quatro primeiros meses deste ano foram diagnosticadas 22. Além disso, agora as ocorrências se espalharam também para a região noroeste, com casos em Murmansk, Arkhanguelsk, São Petersburgo e Nijni-Nóvgorod. Mas, ainda que provoque baixas no rebanho, o vírus não é perigoso para humanos.

bém não é rara. De acordo com Anna Evanguelêieva, chefe de análise do site especializado Meatinfo.ru, a situação é especialmente complicada com a carne suína, já que os recorrentes surtos de peste africana no sul da Rússia refletiram no total da população animal. Em 2010, ocorreram no país 70 incidências da doença e nos

De acordo com a imprensa local, as medidas da vigilância sanitária russa visam, indiretamente, a um aumento na produção interna. Além do embargo, no ano passado, o Kremlin alterou os procedimentos de inclusão de novas empresas brasileiras na lista de fornecedores de carne e derivados para o país. Segundo o secretário do órgão, entretanto, a Rússia não tem condições de se estabelecer no setor, que foi abalado pela crise dos anos 90. “O interesse russo em manter as importações do Brasil continua, e só impomos uma condição, prevista por nossa legislação: a segurança do produto”, afirma Aleksêienko. Segundo especialistas, entretanto, há uma motivação política por parte do Kremlin para proteger a produção doméstica. “No ano passado, tivemos o conflito do frango ‘clorado’ americano. Naquele período, o volume de produto importado era enorme e as empresas nacionais do setor também avançaram bastante. Mas era preciso impulsionálas ainda mais, aumentar os

mat reconhece que há uma deterioração na relação e que as novas críticas russas não foram bem aceitas. “Tem coisas que são antagônicas. O Brasil exporta para dezenas de países do mundo, para a União Europeia e Chile, os mais exigentes do mundo na questão de controle de qualidade. E aí a Rússia, que nem é tão exigente assim, vem falar de problemas de controle de qualidade? Não dá para entender”, lamenta Vaccari. Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), adota tom mais cauteloso. Para ele, as exigências dos russos não fazem parte das normas de inspeção brasileiras e não se

adaptam a um país tropical. “Para nós, essa questão não é técnica, e sim de cunho político, que usa o posicionamento sanitário como argumento”, afirma Salazar. Segundo ele, a Rússia prepara mercado para desenvolver sua indústria interna. Salazar, no entanto, crê numa solução política. Para ele, o comprometimento brasileiro de atender a certas exigências dos russos com relação ao apoio para a entrada na Organização Mundial de Comércio (OMC) pode ser determinante para a resolução do impasse. “Quanto a suínos e aves, os russos podem se tornar autossuficientes num futuro próximo, mas quanto aos bovi-

nos são completamente dependentes. Vão precisar sempre de importação e, consequentemente, do Brasil”, acredita Salazar. Enquanto uma solução política para o problema não aparece, uma missão brasileira, sob orientação do vice-presidente da República Michel Temer se prepara para visitar Moscou. Os brasileiros levam na bagagem, além das reclamações do setor produtivo, um importante e determinante capital político: a força que a marca “Brasil” vem ganhando em âmbito mundial. Uma associação que pode ser crucial para as ambições russas no plano do comércio internacional.

“Isso permite que, caso haja um surto de alguma doença no Brasil, as restrições de importação sejam válidas apenas para os Estados e municípios que passam pelo problema, não para todo o país. Atualmente, essas medidas estão em vigor para a Paraíba, onde foi diagnosticada uma epidemia suína; para o município de Dourados, no Mato Grosso do Sul, vítima de um surto de pseudorraiva; e para Pernambuco, onde existe alta incidência de estomatite vesicular”, explica Aleksêienko. Desde o início de 2010, os inspetores da vigilância sanitária encontraram 31 violações durante as inspeções das cargas enviadas pelo Brasil para a Rússia. Entre as irregularidades estão a falta de autorização russa para importação e o envio de produtos omitidos da lista de envio. “Hoje, há restrições para a distribuição de itens pecuários de 27 empresas brasileiras. Se compararmos com 2007, a diferença é grande: naquele ano, apenas sete vio-

mil toneladas contra 139,1 mil toneladas). No mesmo período, a participação brasileira nesse mercado, em volume, diminuiu de 30% para 23%. Em abril, os serviços de vigilância sanitária dos dois países conduziram uma vistoria nas empresas brasileiras produtoras de carne interessadas na distribuição do produto na Rússia e em ou-

tros países de sua união aduaneira. “Durante as inspeções, ficou claro que o Brasil estava flexibilizando a fiscalização. Identificou-se ainda uma piora substancial do sistema designado a garantir o cumprimento das regras”, afirma Aleksêienko. A ocorrência de doenças no gado russo, entretanto, tam-

Brasileiros acreditam em “fator político” Para representantes dos produtores, exigências russas são forma de barrar produção brasileira e preparar a produção interna. fabricio yuri

especial para gazeta russa

A suspensão de frigoríficos brasileiros, em vigor desde o dia 15 de junho, certamente causará enormes prejuízos para as empresas brasileiras.

Para se ter uma ideia, em 2010 o Brasil faturou R$ 21,4 bilhões com exportação de carne para 150 países. A Rússia comprou R$ 3,2 bilhões desse total. Para Luciano Vaccari, superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), a medida foi uma enorme surpresa. Apesar da relação instável com os russos – praticamente todo ano

há ao menos um embargo –, a nova posição do parceiro põe em xeque a imagem da produção de carne e da pecuária brasileira. “Foi desastroso. Mas isso é resultado de uma dependência nossa. Toda vez que você tem uma concentração de venda em um comprador só, fica sujeito a esse tipo de coisa”, acredita Vaccari. O superintendente da Acri-

AP/fotolink

Paraíba, Mato Grosso do Sul e Pernambuco são Estados brasileiros que sofreram restrições por parte do governo russo

lações foram detectadas”, afirma o secretário. Como resultado, apesar do aumento do comércio entre os dois países, a distribuição de carne brasileira na Rússia sofreu uma queda nos últimos meses deste ano. Nos quatro primeiros meses de 2011, a importação do produto caiu 17% em relação ao mesmo período de 2010 (168,3

Dados do setor

De acordo com o site especializado Meatinfo.ru, a produção de frango na Rússia cresceu 11% em 2010 e sua importação caiu 31%. Segundo Evanguelêieva, chefe de análise do site, neste ano a produção interna suprirá totalmente a demanda do mercado doméstico. Ao mesmo tempo, observa-se uma tendência de crescimento nas exportações. Enquanto o país exportou 4,4 mil toneladas do produto entre janeiro a abril de 2010, no período equivalente de 2011 o índice registrado foi de 6,5 mil toneladas. Ainda de acordo com Evanguelêieva, o Brasil lidera as remessas de carne bovina e suína para a Rússia, compreendendo respectivamente 38% e 28% das importações. A venda do frango brasileiro representa 27% das entradas, cifra superada apenas pelos EUA. A criação de suínos na Rússia também demonstra bons resultados: no ano passado, o crescimento foi de 7% e o volume de importações diminuiu 1%. Nesse setor, porém, a dependência das importações ainda é sentida. No que se refere à produção de carne bovina, os indicadores caíram e o volume das importações subiu.

Produção interna

Continuação da página 1

números – resultado que foi obtido após o embargo. Hoje, é exatamente este segmento que apresenta os melhores índices no mercado local”, relembra Evanguelêieva.

Exportação Primeira rodada de negócios médico-hospitalares bilateral tem perspectiva de geração de R$ 1,5 milhão em negócios

Principal objetivo do evento foi apresentar fabricantes brasileiros a distribuidores russos. Governo deve investir R$ 4,8 bilhões na compra de equipamentos até 2013. Vladímir Golenkov

especial para gazeta russa

No dia 7 de junho, em Moscou, oito fabricantes brasileiros de equipamentos médicos e mais de 30 empresas de distribuição russas se reuniram no Hotel Ritz Carlton para discutir oportunidades para os produtores brasileiros no mercado local. Como principais resultados da missão comercial, foram fechadas cerca de 60 rodadas de negócios entre as empresas russas e brasileiras, com uma expectativa de conclusão de negócios da ordem de R$ 1,5 milhão para os próximos 12 meses. Entre os principais produtos negociados,

destacam-se aparelhos eletromédicos, dispositivos para neurologia, implantes ortopédicos, dispositivos respiratórios, instrumentos cirúrgicos e mobiliário hospitalar, entre outros. O valor parece pequeno, mas pode ser classificado como um bom começo.

Momento promissor

O setor médico-hospitalar vive um momento promissor na Rússia. O governo comprometeu-se a dedicar grandes investimentos para a melhoria da infraestrutura e da qualidade do atendimento à população, incluindo a compra de equipamentos médicos mais modernos. Trata-se de um programa de larga escala. O primeiro-ministro russo Vladímir Pútin declarou que cerca de 30% das instalações médicas do país necessitam de reformas urgentes e de equipa-

mentos para atendimento adequado. Estão previstos para os próximos dois anos investimentos da ordem de R$ 4,8 bilhões na compra de equipamentos, a maioria deles importado. Os equipamentos de fabricação russa respondem hoje apenas por cerca de 20% do mercado de saúde. Embora o mercado russo seja promissor em oportunidades de negócios, os desafios aos fornecedores são muito grandes. As empresas que buscam o mercado russo precisam do apoio de distribuidores que cuidem de toda a burocracia da certificação dos produtos e, sobretudo, que viabilizem a participação dos equipamentos em processos de concorrência pública – que definem quase todas as vendas no país, pois o setor tem forte participação estatal. Segundo Almir Americo, di-

retor da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Moscou, a iniciativa vai permitir o desenvolvimento do comércio com a Rússia, favorecendo a negociação de produtos de a lto va lor agregado. A Rússia é um grande parceiro comercial do Brasil. O comércio entre os dois países ultrapassou R$ 9,6 bilhões em 2010. “A pauta comercial, entretanto, ainda está focada em produtos primários, por isso considero importantes os resultados dessa iniciativa. O aumento da cooperação entre empresas brasileiras e russas na área de produtos tecnológicos é uma meta que começamos a realizar”, afirma Americo. Segundo ele, o maior desafio da organização foi priorizar a qualidade das empresas russas que participaram dos encontros. “Encontrar um bom

Com direção de peso, Skôlkovo busca independência Continuação da página 1

Medvedev visitou o Vale do Silício original para verificar o que poderia funcionar na Rússia. Na verdade, a região se tornou o principal centro tecnológico dos Estados Unidos principalmente devido aos gastos com defesa (fundamentalmente no combate à União Soviética) nos anos 70 e 80. No entanto, a versão russa está sendo projetada em um outra era, e Skôlkovo está prestes a

entrar em funcionamento em nível internacional. “Esse lugar tem um significado especial para mim, porque é aqui que estamos desenvolvendo nossa nova tecnologia; aqui fundamos a Universidade de Skôlkovo e a faculdade [de Administração], e é aqui que será o nosso centro de inovação”, disse o presidente.

Empurrãozinho

Além de Medvedev, existe

uma lista de empresários e acadêmicos trabalhando pelo sucesso do projeto. O ex-diretor executivo da Intel, Craig Barrett, e o bilionário russo Víktor Vekselberg co-administram o conselho da fundação, que tem entre seus membros o presidente da Lukoil, Vaguit Alekperov, e Anatóli Tchubais, presidente da Rusnano (Corporação Russa de Nanotecnologia). Dois prêmios Nobel, de Física e Química, Jores Alfiorov

e Roger Komberg, dirigem o Consel ho Científico de Skôlkovo. “Skôlkovo será o maestro de uma orquestra composta por start-ups e investidores”, disse à Gazeta Russa o vice-presidente da fundação, Stanislav Naumov. “Embora o Estado tenha feito um lobby pesado pela liberação do projeto, é exatamente o envolvimento com o governo que não é bemvindo aqui ou, pelo menos, qualquer dependência finan-

laif/vostock-photo

Equipamento médico brasileiro vai à Rússia

Apenas 20% do equipamento médico e odontológico no mercado russo é fabricado no país.

distribuidor é a chave do sucesso num mercado seletivo como o russo, em que o relacionamento com a esfera pública é decisivo para as vendas”, explica.

O evento foi realizado pela Apex em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laborató-

rios (Abimo). O Brasil, de acordo com informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), é o 2º maior produtor de equipamentos médicos entre os países emergentes.

ceira, já que o governo concedeu dois terços da quantia total”, afirma Naumov. O vive-presidente da fundação ressalta que o capital cedido para o projeto será devolvido em, no máximo, oito anos.

torno do projeto. Mesmo que as start-ups (empresas, geralmente recém-criadas, em fase de desenvolvimento e pesquisa de mercados) russas realmente se instalem na Innograd e os cientistas internacionais as sigam, não se pode dizer que os pesquisadores farão o mesmo. “Desde 1990, houve 980 tentativas de criar tais centros de inovação, dos quais apenas 17 foram instituídos, e somente três atenderam às expectativas”, diz o arquiteto e membro da diretoria de planejamento Grigóri Rêvzin. “Estatisticamente, a probabilidade de Skôlkovo ir por água abaixo é alta, mas isso não é motivo para acabar com os esforços”, completa.

Para o ex-diretor executivo da Intel e colaborador de Skôlkovo Craig Barret, “o vínculo entre negócios e pesquisa é a verdadeira chance da Rússia de dar um salto tecnológico”. “É preciso ter confiança na integridade de nossa causa, ainda que estejam faltando garantias”, afirma. Assim como o Vale do Silício passou a ser considerado a encarnação da inovação, Skôlkovo está querendo estimular a imaginação enquanto se esforça para se tornar a marca da qual o presidente fala. Para tanto, contratou até um diretor de cinema para rodar um seriado na estrutura do centro de inovações, de acordo com Naumov.

Impulso à educação

Uma premissa por trás de Skôlkovo é a necessidade de casar inovação com educação. A primeira leva de 40 estudantes do curso de MBA da Faculdade de Administração de Moscou, lá baseada, se formou no ano passado. A Universidade Técnica de Skôlkovo deve começar as inscrições para os cursos de pós-graduação até 2014. Existem, naturalmente, algumas dúvidas e contradições em


Especial

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Concorrência Holding estatal criada para competir com a companhia não vinga e deve ser herdada pela empresa

A Aeroflot se expande

Receita da companhia aérea em 2010

sultado, as partes permaneceram no montante de 3,61% dos ativos.

Herança de dívidas

lori/legion media

Crise de 2008 derrubou a Russian Airlines, e agora seis das empresas que formavam o projeto devem acabar adquiridas pela Aeroflot. anton makhrov

especial para gazeta russa

A Aeroflot, maior companhia aérea da Rússia, pode ampliar significativamente sua presença no mercado do país já nos próximos meses. Sob controle acionário estatal, a empresa logo deve incluir em sua estrutura seis novas companhias aéreas, agora sob controle do Estado, em nome da Rostekhnologii (Coorporação Russa de Tecnologia do Estado). Engordarão a lista de ações da Aeroflot empresas como a STC Rossia, a KMV Avia, do Cáucaso, a Orenburg Airlines, a Vladivostokavia, a Saratov Airlines e a SAT Airlines. A Rostekhnologii obteve 3,61% na participação das ações da Aeroflot, que representam cerca de 2,5 bilhões de rublos (R$ 142 milhões). De acordo com a Aeroflot, as novas ações já estão incluídas no plano estratégico de

desenvolvimento da companhia e a empresa está se preparando para reforçar significativamente sua posição dentro do país. “Após as compras das ações do Estado, a Aeroflot pode receber um adicional de 15% do mercado russo de transporte aéreo. Agora, de acordo com nossas estimativas, a fatia de mercado da Aeroflot está perto de 26%, e depois da fusão irá exceder aproximadamente 40%”, afirma o analista Andrei R o j k o v, d a I F C Metropol.

Estrutura do mercado de transporte aéreo

15 % Aeroflot

Pedra no caminho

Realizar esses planos, entretanto, não será fácil. “Aparentemente, é por isso que a Aeroflot até hoje não anunUtair cia detalhes da fusão”, afirma o especialista Aleksêi Sinítski, da revista Russia/CIS Observer. A opção mais atraente para a empresa é a integração simultânea e completa de todos os novos ativos dentro da es-

13 %

trutura existente. “Mas a Aeroflot dificilmente iria se atrever a assumir uma tarefa tão complexa como a gestão de seis companhias totalmente diferentes”, diz Sinítski. Para ele, a experiência de aquisição da Nordavia mostrou que a gestão da Aeroflot tem dificuldades com projetos semelhantes. “O mais provável é que a Aeroflot, pela primeira vez, decida manter uma parte significativa da autonomia para as empresas regionais e só então inclua as companhias em sua estrutura, uma a uma”, acredita Gueórgi Koz lo v, e d it o r d o j o r n a l Grajdânskaia Aviatsia (“Aviação Civil”, em russo).

“Tumor” aéreo

12,5% Sibir

As ações foram parar nas mãos da Rostekhnologii com a crise de 2008. Naquele ano surgiu a Russian Airlines, projeto criado para ser uma segunda Aeroflot – uma companhia estatal que pudesse competir com a líder da aviação russa. Os planos, embora ambiciosos, pareciam viáveis. A Rus-

sian Airlines foi criada por meio de uma aliança entre a AiRUnion e outras companhias, e deveria ter o dobro do número de passageiros da Aeroflot em 2013. Mas o projeto não sobreviveu – sua onda de azar começou muito antes de 2013. Como resultado, restou nas mãos da Rostekhnologii um conjunto de ações de empresas que não conseguiam sobreviver no mercado, muito menos der r ubar a líder Aeroflot. A aliança de companhias aéreas AiRUnion herdada pela Rostekhnologii estava sobrecarregada com dívidas consideráveis, assim como as outras companhias aéreas que deveriam constituir a nova gigante da aviação. Algumas dessas empresas não foram incorporadas, mesmo depois de três anos, e existem até hoje sob a forma de negócios federais unitários. A administração da Aeroflot originalmente pertencia a seu futuro rival. Ainda em outubro de 2008, o então diretor-geral da empresa, Valéri

Okulov, chamou o projeto de “tumor”. Pouco a pouco, o governo também passou a partilhar de seu ceticismo. Como resultado, em 2009, o ministro dos Transportes da Federação Russa, Igor Levítin, defendeu juntar as ações da Rostekhnologii às da Aeroflot. Já no início de 2010, o primeiro-ministro Vladímir Pútin aprovou oficialmente o fortalecimento da Aeroflot em detrimento das outras seis empresas. O ponto crucial desta vez foi o preço de emissão. Inicialmente, foi acordado que a Rostekhnologii iria receber um pacote de bloqueio das ações da Aeroflot (25% mais uma ação) em troca das seis companhias aéreas regionais. No entanto, a gestão da Aeroflot anunciou que a oferta do Estado não condizia com o valor real. No segundo semestre de 2010, a Aeroflot se disse disposta a entregar cerca de 6% das ações. No entanto, em fevereiro de 2011, os resultados de uma avaliação independente das seis companhias estimavam seu valor em 2,5% das ações da Aeroflot. Como re-

tora da Sukhôi, ainda gozando do brilho do lançamento do Superjet, anunciou no 1º Fórum Internacional de Transporte Aéreo de Uliánovski, em abril, a compra de 30 aviões pela Aeroflot em 2011 – sete a mais que a encomenda feita em 2010. O clima em torno do lançamento, no entanto, foi de algum modo encoberto pelos comentários feitos em abril pelo ministro dos Transportes, Igor Levítin, quanto a uma possível compensação à Aeroflot (maior cliente da

empresa, com 30 pedidos), depois de repetidos atrasos na entrega do Superjet. O ministro também demonstrou frustração quanto ao peso acima do esperado e à baixa eficiência energética do modelo, cujo desenvolvimento consumiu largamente recursos federais. Segundo o especialista em transporte aéreo Maksim Piadushkin, a posição assumida pela Aeroflot, que é controlada pelo governo, “reduz o apelo do produto sob o ponto de vista de comprado-

Eterna Aeroflot

Em março deste ano, a imprensa noticiou que, em meio aos desententimentos entre a Aeroflot e a Rostekhnologii, outras companhias aéreas começaram a demonstrar interesse em formar uma holding a partir dessa fusão. Com isso, os ativos sem dono passaram a interessar não só a grandes players do mercado, mas também às chefias de vários órgãos públicos. A administração do governo de Sakhalin, de Aleksandr Khoroshávin, mostrou interesse pela companhia local SAT Airlines. Também houve um interessado na Orenburg Airlines e a Transaero, um dos principais concorrentes da Aeroflot, virou foco das companhias aéreas. Segundo dados não oficiais, a diretora-geral da Transaero, Olga Pleshakova, teria pedido ao vice-premiê Serguêi Ivanov e ao ministro dos Transportes Igor Levítin para que considerassem a possibilidade de vender as ações a ela, e não ao líder do mercado russo de aviação. Mas, por enquanto, nenhum dos participantes das negociações alternativas confirmou oficialmente estar pronto para competir com a Aeroflot pela sucessão da união de empresas aéreas. Por trás dessa informação, o mercado se pergunta mais uma vez se o líder do setor aéreo russo precisa de ativos sem donos, epecialmente considerando a dívida dessas empresas. Especialistas estimam que a dívida total das seis companhias chegue a R$ 1,2 bilhão.

Superjet Lançado em abril, jato comercial russo gera desavença entre estatais

Sukhôi busca fatia da aviação comercial Enquanto a Túpolev amarga venda frustrada, Sukhôi promete sucesso com novo jato, mas recebe críticas de sua maior cliente. aleksandr vostrov

especial para gazeta russa

mente irá permitir que compradores em potencial verifiquem seu desempenho e gerem novos negócios para a companhia. Hoje, a Sukhôi tem 150 encomendas para aeronaves comerciais de 100 lugares.

O futuro imediato da indústria de aviação russa depende do destino do Sukhôi Superjet 100 e do Túpolev Tu-204, duas aeronaves com trajetórias bem diferentes. O Superjet, primeiro avião russo desenvolvido integralmente depois do período soviético e a usar grande núm e r o d e c o m p o n e nt e s estrangeiros (inclusive um motor feito na França), comemorou um importante marco no mês passado após completar com sucesso seu primeiro voo comercial pela companhia aérea Armavia. Já o Tu-204, que voou pela primeira vez em 1989 e se assemelha ao Boeing 757, está tendo dificuldades de se reinventar, principalmente tendo em vista o fato de que apenas 69 exemplares foram construídos em 20 anos. A operação comercial do Shukhôi Superjet provavel-

Red Wings, mas o acordo está suspenso desde abril.

Estatais em discórdia

A UAC (United Aircraft Corporation) liderada por Mikhail Pogossian e deten-

Há rumores de que a companhia firme três grandes contratos até início de julho

ria novosti

Sucessos e decepções

A situação é bem menos encorajadora para o Tu-204, um avião de alcance médio com capacidade para até 210 passageiros. A empresa teria recebido uma encomenda de 44 aeronaves da companhia

res em potencial e pode fazer com que o dinheiro público tenha sido gasto em vão”. A Aeroflot, que previa receber seu primeiro Superjet em maio, não iniciará voos comerciais com o modelo da Sukhôi até o fim deste mês. No fórum, Pogossian expressou a esperança de que, com o apoio do programa do governo de estímulo à indústria aeronáutica, a Rússia possa deter 10% do mercado global de aviação civil até 2025. O programa do governo está focado em três aeronaves, a primeiro sendo a Superjet 100. A segunda, conhecida como MS-21, é um avião de médio alcance (com capacidade entre 150 e 210 passa-

geiros) hoje em elaboração, baseada parcialmente no Tu204. Mas diversos conflitos surgiram no decorrer do fórum em Uliánovski. O veterano da indústria Oleg Smirnov, por exemplo, fez comentários ácidos criticando o diretor-geral da Aeroflot, Vitáli Saveliev, e Aleksandr Lêbedev, detentor de ações de diversas companhias.

Resistir e competir

A fábrica responsável pela montagem final do Superjet está localizada em Komsomolsk-on-Amur, 7 mil quilômetros a leste de Moscou, e essa concentração da produção confronta com a política de distribuição de vagas de trabalho. Além disso, motivos financeiros impulsionam a compra de aviões estrangeiros, que têm um custo de operação bem mais baixo. O Estado, porém, perseguindo sua meta de restabelecer a indústria nacional, parece que não deixará de lado as companhias russas para cair nas graças da Airbus e da Boeing num futuro próximo. O real poder da estrutura aérea russa deve ser revelado no 2011 Paris Air Show, o maior salão internacional de aeronáutica, já que, no início de junho iniciaram-se rumores sobre três grandes contratos estratégicos para aviões estrangeiros que poderiam ser firmados no evento.


Opinião

Gazeta Russa

www.gazetarussa.com.br

Claudio Lucchesi

A

Jornalista

primeira entrega do novíssimo jato comercial russo Sukhôi Superjet 100 a um operador comercial em abril marcou um momento especial na reafirmação da indústria aeronáutica russa no mercado de jatos comerciais e abriu perspectivas animadoras para que a indústria enfrente com sucesso os tradicionais fabricantes do Ocidente. Sob vários aspectos, o início da operação comercial do Superjet 100 foi a coroação de um programa que, ao ser iniciado menos de dez anos após o colapso da União Soviética, era visto por especialistas e analistas russos com grande ceticismo. Conhecida mundialmente como fabricante de jatos de combate, a Sukhôi nunca produzira um grande avião comercial. Somando-se a isso, a KNAAPO (fábrica que sediou a produção da Sukhôi no Extremo Oriente russo), até então produzira, em sua longa história, apenas um tipo de avião

de transporte. Entretanto, o ceticismo da época não levou em consideração o talento – não apenas empresarial, mas também político – e a liderança do então novo presidente da Sukhôi, Mikhail Pogossian. Da mesma maneira, não se anteviu a estabilização política que a Rússia alcançaria com a presidência de Vladímir Pútin e o realinhamento da economia, assim como a reorganização de setores estratégicos, como o aeroespacial. Isso teve reflexos diretos no transporte aéreo comercial russo – segmento que, com o fim da URSS, fragmentou -se desordenadamente, chegando a registrar cerca de 400 companhias aéreas nos anos 90, a maioria de estrutura totalmente precária, algumas operando com “frotas” de apenas um ou dois velhos Túpolev ou Iliúshin. Em 2006, esse número havia caído para 185, e em 2007, mais da metade dos passageiros transportados na Rússia voava em aeronaves de apenas seis grandes companhias. Essas se fortaleceram, adquirindo estruturas eficientes e modernas. Um cenário, por-

tanto, bastante promissor para a chegada de um novo jato comercial, de tecnologia avançada e fabricação nacional. A Sukhôi logo percebeu a necessidade de construir alianças internacionais, sobretudo com parceiros do Ocidente, e assim o programa cresceu, somando um total de 30 empresas parceiras estrangeiras. Visando um novo padrão em baixo consumo de combustível e mínima emissão de poluentes, foi definido um motor de tecnologia totalmente nova, o SaM146, cujo desenvolvimento ficou por conta da PowerJet, joint-venture entre a russa NPO Saturn e a francesa Snécma. A também francesa Thales foi selecionada como importante fornecedora em 2005. No mesmo ano, a italiana Alenia Aeronautica firmou um acordo com a Sukhôi, do qual surgiu outra joint-venture, a SuperJet International (SJI), responsável não apenas por todo o marketing mundial do novo jato mas também pelo estratégico apoio pós-venda nessas regiões. Neste campo, ainda foi feita uma aliança com a alemã Luf-

dmitry divin

Superjet 100, da Rússia para o Mundo

thansa Technik, responsável por toda a cadeia logística de suprimentos do Superjet 100, para operadores em qualquer ponto do planeta. Os resultados dessas parcerias já mostram bons dividendos. Em dezembro de 2008, a companhia Kartika Airlines, da Indonésia, fechou contrato para 30 jatos; seguida em junho do ano seguinte pela húngara Malév (15, mais 15 opções). Em 2010, somaramse aos clientes estrangeiros a Phongsavanh Airlines, do Laos (3, mais 6 opções); a tailandesa Orient Thai Airlines (12, mais 12 opções) e as em-

presas de leasing Pearl Aircraft Corp. (30, mais 15 opções), com sede nas Bermudas, e a norte-americana Willis Lease Finance (6, mais 4 opções). Em janeiro, a SJI assinou com a mexicana InterJet um contrato de US$ 650 milhões para entrega de 15 Superjet 100, com opções para outros cinco com suporte pósvenda por 10 anos. O contrato fechado com a InterJet revestiu-se de especial significado, pois com ele o Superjet 100 consagrou seu primeiro cliente no disputado (e atraente) mercado da aviação regional da América Latina

– além de o jato russo ter atingido 189 pedidos firmes, mais 74 opções. Apesar dos números e de um início de operação promissor, é muito cedo para dizer se o Superjet 100 será um concorrente a colocar em cheque a atual liderança no mercado mundial de jatos regionais na faixa de 70 a 108 lugares, hoje nas mãos da brasileira Embraer, com sua muito bem-sucedida família E-Jet. Até abril, esses modernos e confiáveis jatos tinham alcançado 719 exemplares entregues, com 268 a entregar, e 705 opções. Apenas no primei-

ro trimestre de 2011, a Embraer somou 44 novas encomendas de seus E-Jets. Entretanto, no mundo da aviação, não existe “monarquia”, de modo que, hoje, o Superjet 100 é visto como um oponente sério no mercado mundial, como o contrato com a InterJet demonstrou muito bem. Um concorrente, portanto, a não ser ignorado não apenas pela Embraer, mas também por outros players, como a canadense Bombardier e a japonesa Mitsubishi. Claudio Lucchesi é diretor da revista especializada Asas.

As intrigas das eleições parlamentares Gueórgui Bovt

N

historiador

a Rússia, o estilo de governo acaba sendo muito mais importante do que o texto das leis. O presidente Dmítri Medvedev, assim, tem ditado modas bastantes liberais, não dando sinais às elites regionais de que o Kremlin verá com bons olhos o uso excessivo de recursos públicos e de jogo sujo na política. Soma-se a isso o fato de que as eleições regionais de 20102011, embora não tenham passado sem infrações por parte dos “partidos governistas”, estiveram longe do modelo autoritário da Bielorrússia, por exemplo. Esses acontecimentos despertaram nos partidos participantes do processo eleitoral a esperança de que as eleições parlamentares de dezembro de 2011 ocorram de

maneira mais democrática. Na cena política, como antes, existem dois importantes coadjuvantes que há muitos anos obtêm os mesmos números. Liderado por Guennádi Ziuganov, o PCFR (Partido Comunista da Federação Russa) deve receber aproximadamente 15% dos votos. Até recentemente, achava-se que o eleitorado tradicional do PCFR fosse formado por pensionistas – cuja parcela de entusiastas saudosistas da URSS diminui constantemente. Isso é parcialmente verdadeiro, mas a fatia de votos do partido se mantém estável devido ao apoio de pessoas de meia idade e mesmo jovens, que veem no PCFR uma forma de protesto. O número de eleitores desse tipo, porém, não deve aumentar. Em primeiro lugar, porque Ziuganov tornou-se obsoleto, excessivamente moderado (para esses eleitores) e há muito já não propõe novas ideias.

Algo semelhante ocorre com o PLDR (Partido Liberal Democrata), cujo líder Vladímir Jirinóvski parece também bastante ultrapassado. Seu antigo ardor nacionalista diminuiu e ele já não é mais visto como um extremista, mas sim como um político completamente são e até mesmo de ideias construtivas, que vez por outra ainda brilham no horizonte bastante opaco e cinzento da política russa. Sendo o PLDR um partido de um homem só, de um só líder, a dúvida que resta é se apenas a força política de Jirinóvski poderá conduzi-lo ao Congresso. Ainda é cedo para responder essa questão, mas as chances são boas. Ainda mais dúvidas suscitam as perspectivas do partido RJ (Rússia Justa), cujo líder Serguêi Mironov até recentemente ocupava o cargo de portavoz do Conselho da Federação, a c â m a r a s up e r ior do Parlamento.

De acordo com pesquisas, as intenções de voto do RJ giram em torno de 4% a 5%. Para alcançar o Congresso são necessários 7%, mas aqueles que obtiverem de 5% a 7% poderão contar com uma ou duas vagas, de acordo com a emenda à legislação aprovada pelo presidente há dois anos. Porém, após Mironov ter discutido com a governadora da região de São Petersburgo, Valentina Matvienko, o partido governista “Rússia Unida” decidiu destituí-lo do terceiro cargo mais importante do governo, no Conselho da Federação. Pode parecer um paradoxo, mas isso pode ser de grande valia para o RJ. Mironov assumirá o papel de “perseguido pelo poder” e o partido encontrará uma forma mais nítida de oposição, dando-lhe um posicionamento político mais claro. Mas, pelo menos até a conclusão deste artigo, Mironov ainda não havia tirado da

anunciou a criação de uma frente nacional pré-eleitoral, uma coalizão com diversos candidatos formalmente independentes. A ala da direita também tem suas intrigas. O partido Causa Justa, cujas perspectivas nas eleições pareciam há pouco tempo bastante ruins, terá a partir do fim de junho um novo líder, o bilionário Mikhail Prôkhorov, uma figura controversa mas de grande visibilidade. Além da evidente desvantagem de ter fama de playboy, afirma-se que Prôkhorov pretende aumentar a jornada semanal de trabalho das atuais 40 horas para 60. Na realidade, sua proposta visa a autorizar uma carga horária superior à de 40 horas àqueles que assim desejarem, o que é atualmente proibido pelas leis trabalhistas. Mas Prôkhorov tem suas vantagens: é uma cara nova na política russa, desligado da

manga o maior trunfo do Russia Justa, Dmítri Rogózin. Representante permanente da Rússia na Otan, em Bruxelas, Rogózin criou o partido nacionalista Pátria pouco antes das últimas eleições parlamentares e obteve, com bastante facilidade, 15% dos votos. O partido, porém, foi logo em seguida engolido pelo Rússia Justa, mas acredita-se que no último trimestre do ano Rogózin seja reintegrado ao RJ. Principal partido no Congresso, o governista RU (Rússia Unida), encabeçado por Vladímir Pútin (que por sinal não é membro formal do partido, mas mesmo assim é o líder da bancada), pretende ir às próximas eleições renovado. A direção do RU percebeu que o eleitor está cansado das velhas caras e irritado porque o país não está se livrando da crise e dos diversos problemas sociais e econômicos com a rapidez esperada. Por isso, Pútin

burocracia governista, carismático e se comporta bem nos programas de televisão. Além disso, há na Rússia um anseio por um partido liberal de direita, um partido que expresse os interesses não dos parasitas, dos que esperam o tempo todo por um presentinho do governo, mas sim dos que não querem depender do governo e que dele esperam apenas a liberação de suas possibilidades de realização para os negócios e para os lucros. O mais interessante nesse quadro das eleições parlamentares de dezembro é que ele praticamente não depende da resolução de uma outra importante questão da atual vida política do país: quem afinal será o candidato do partido da situação nas eleições presidenciais de março de 2012? Medvedev ou Pútin? Gueôrgi Bovt é co-presidente do partido Causa Justa.

Dmítri Babitch

analista político

E

screver sobre traços do caráter nacional é sempre uma questão delicada, ainda mais na Rússia. Em um país tão vasto é possível achar dúzias de casos que ilustrem qualquer generalização. Assim, não irei discorrer sobre estereótipos culturais primitivos, como os que dizem que “os russos são uns beberrões” ou “preguiçosos”, afirmações que não são verdadeiras. Vamos nos deter em pontos mais complicados, como a democracia e a moral. Por que os russos se preocupam tão pouco com as eleições? Por que têm pouca confiança na justiça e evitam processos judiciais a todo custo?

A resposta é simples: porque as eleições não são totalmente transparentes e a independência judicial não é completa. Em nossa história, tivemos julgamentos honestos e eleições decentes em alguns períodos. Mas, mesmo no início dos anos 90, quando aconteceram as melhores eleições da história da Rússia e já era possível escolher entre partidos políticos, a maioria dos meus amigos não votava. Eu costumava me perguntar se eles não se preocupavam nem um pouco. Não. Quase todos eram pais cuidadosos, amigos fiéis e profissionais responsáveis. O que faz com que os russos duvidem das eleições é nossa tendência de buscar o absoluto – incluindo liberdade absoluta. Lembro de um amigo que “desencanou” das eleições

presidenciais quando tinha 20 anos porque então só quem tinha mais de 35 anos podia se candidatar. Esse tipo de atitude pode parecer inconcebível para uma mente ocidental, que enxerga um indivíduo primeiro como eleitor e consumidor. Os russos estão preocupados com o indivíduo como um todo. É de se notar que até hoje nenhum juiz ou advogado tenha se tornado uma autoridade moral na Rússia (Lênin era advogado apenas por formação). No entanto, ao menos quatro escritores de ficção, sim: Tolstói, Turguienev, Dostoiévski e Soljenítsin. O motivo provavelmente seja o fato de o escritor ver o ser humano como pessoa, e não como cidadão. Claro que nem todo russo moderno almeja isso. Mas esse tipo tradicional ainda

existe. Essa busca do absoluto é mais visível em revolucionários, incluindo dissidentes atuais. O ativista político Vladímir Bukóvski, que emigrou para os EUA nos anos 70, deu um passo tipicamente russo ao tentar prender Mikhail Gorbatchov em Londres durante a festa de aniversário de 80 anos do ex-presidente soviético. Para a mente pragmática do Ocidente, os feitos de Gorbatchov superam as brutais intervenções militares em Baku, Riga e Vilnius. Para Bukóvski, alguém sem ideais merece cadeia, e não um baile de aniversário. Mas a “lógica impiedosa da mente russa”, como diz uma expressão do século 19, não fica atrás do comportamento ocidental. Foi isso que Bukóvski escre-

veu sobre a Grã-Bretanha em seu livro Notas de um Viajante Russo: “Os oficiais locais não têm medo de reclamações, já que são mais independentes de seus superiores que seus correspondentes na Rússia. Quanto mais mesquinho for um oficial, maior será o poder dele sobre os demais.” Antecessor de Bukóvski, o emigrante político Aleksandr Herzen queixou-se durante o século 19 de uma “polícia interna”, à espreita, observando cada ocidental. Isso os tornou ainda menos livres que os russos, segundo Herzen. Bukóvski tem uma obra recheada de exemplos de sua luta contra a burocracia ocidental (escrevendo cartas ao secretário de Estado norteamericano em apoio aos emigrantes russos que tiveram vistos negados etc.).

niyaz karim

Pelo direito ao meio-termo

Uma visão um tanto idealista, mas fundamentalmente russa. Existem muitos Bukóvskis vivendo na Rússia, alguns dos quais a imprensa ocidental transforma em heróis. Em muitos casos, isso é correto. O que está errado é a visão de que o mundo ocidental faz jus aos ideais bukovskonianos.

Sendo os mestres do meiotermo, os ocidentais deveriam permitir algum aos russos também, e parar de estabelecer um padrão diferenciado, ainda que este tenha sido inventado por um de nossos idealistas. Dmítri Babitch é colunista da agência de notícias RIA Nóvosti.

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Em Foco

GAZETA RUSSA

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RECEITA

Restauração Trabalho, iniciado em 2005, chegou a envolver 3,2 mil pessoas ao mesmo tempo

O fantástico Bolo de Leite de Pássaro

Veja slide show em www.gazetarussa.com.br

Michele A. Berdy

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

RUSLAN SUKHUSHIN

uma das poucas ligações do Bolshoi com as sete décadas de regime comunista. O teatro teve sua fase mais proeminente no século 19.

MORITZ GATHMANN

História e acústica Fundado em 1776, o teatro passou por diversas modificações ao longo das décadas seguintes. Em 1853, precisou ser completamente reconstruído após ser destruído por um incêndio. Mas a arquitetura clássica russa assinada pelo arquiteto ítalo-russo Alberto Camillo Cavos, que o mundo associa ao Bolshoi, ainda está ali. E faz toda a diferença. Filho de um compositor, Cavos ocupou uma posição impor-

para restaurar o edifício por completo, já que o teatro abrigava não somente espetáculos de ópera e balé, como também assembleias e congressos. Nessa época, muitos dos materiais originais de altíssima qualidade foram substituídos por outros, mais baratos, e tais mudanças provocaram danos que foram além da acústica. “Havia enormes rachaduras, de até 30 centímetros de comprimento, nas paredes principais”, explica Mikhail Sídorov, representante da Summa Capital, empreiteira responsável pelo projeto de restauração desde 2009. “Existia um perigo real de o prédio desabar”, conta.

Resquícios soviéticos foram substituídos por pompa tsarista, e o piso foi coberto com carvalho

Ministro da Cultura afirma que projeto do teatro custou 500 mi de euros, mas há quem fale em 1,5 bi

tante na acústica da nova estrutura. Ele não apenas revestiu as paredes com madeira de ressonância, mas também usou madeira no revestimento do teto e do chão. Ornamentos, como, por exemplo, o Atlas, não foram construídos de gesso, mas sim de papel machê, para que não prejudicassem as ondas sonoras. O salão de ópera do teatro não só tem formato de violino, como também produziu por muitos anos um som tão puro como o desse instrumento.

A primeira fase da reconstrução, portanto, consistia na recuperação do edifício. Sete mil colunas de aço foram fincadas na terra e, em seguida, a fundação antiga foi removida. “O edifício inteiro ficou então pairando no ar”, lembra Sídorov. A nova fundação não foi finalizada até setembro de 2009, quando os pilares de aço puderam ser removidos. Desde então, o canteiro de obras no centro de Moscou, a menos de cinco minutos a pé do Kremlin, transformou-se em um formigueiro. Três mil e duzentas pessoas trabalharam no projeto ao mesmo tempo.

GAZETA RUSSA

Entre as paredes do Teatro Bolshoi vive o coração da cultura russa. Ao longo de sua ilustre história, ali já se viu o balé de Maia Plisêtskaia, o canto lírico de Fiódor Chaliápin e o discurso revolucionário de Vladímir Lênin. Hoje, as recém-reformadas colunas de calcário brilham ao sol e acendem a fachada do local, enquanto Apolo, sentado, vigia todos do topo do prédio. Muitos moscovitas passam por ali em seus intervalos de almoço e param no pequeno parque em frente ao teatro. Tem-se a impressão de que o Bolshoi já está aberto. Visitantes e moradores, porém, precisarão esperar mais um pouco para se juntarem no teatro e ter o prazer de assistir à Dança dos Pequenos Cisnes, de Tchaikóvski. Depois de seis longos anos de trabalho de restauração, o mundialmente famoso espaço de ópera e balé irá reabrir em 28 de outubro deste ano com apresentações de Lago dos Cisnes, O Quebra-nozes e Boris Godunov, de Mússorgski. Atualmente, dois trabalhadores estão no topo de um guindaste à esquerda das colunas, polindo e limpando uma placa na qual o nome “Lênin” aparece em letras garrafais. Foi aqui que, em 1922, o líder dos soviétios realizou seu último discurso antes de morrer. É

Economia à soviética

Durante os tempos soviéticos, nunca havia tempo suficiente

Enquanto alguns operários de uma empresa especializada cobriam os ornamentos da sacada com ouro, outros reinstalavam as tapeçarias de seda restauradas. Sob a terra, era um barulho só: uma novíssima sala de espetáculos, que também pode ser usada para ensaios da orquestra e do coral, foi construída. Outra novidade do teatro é o maior palco hidráulico da Europa. Construído pela empresa alemã Bosch Rexroth, ele abrange uma extensa área de 21m2. Os lugares do fundo da orquestra também foram ampliados e agora têm capacidade para 130 músicos. Dentro do teatro, a restauração tentou recriar a atmosfera dos tempos áureos do século 19. Os brasões soviéticos foram removidos e substituídos por emblemas tsaristas, o piso foi recoberto com carvalho, e o número de assentos do salão principal foi reduzido de 2,1 mil para 1,7 mil.

início de 2009, Dmítri Medvedev confiou a um de seus assessores mais próximos a tarefa de garantir que o teatro ficasse pronto até 2011. Processos judiciais foram abertos contras diversos grupos envolvidos na obra, acusados de pagar diversas vezes o mesmo fornecedor. O órgão de auditoria da Rússia acusou que os custos do projeto de restauração tinham ultrapassado mais de 16 vezes a estimativa inicial. Hoje, há quem diga que o custo da reforma está em 1,5 bilhão de euros, mas o ministro da Cultura da Rússia divulgou recentemente um valor de cerca de 500 milhões de euros. “Quando tudo estiver pronto e todas as contas estiverem pagas, nós saberemos o quanto custou”, diz Sídorov.

FRASE

Símbolo russo

A restauração do Bolshoi é o símbolo do renascimento da cultura russa, cerca de 20 anos depois. Simultaneamente, contudo, tornou-se o exemplo perfeito dos evidentes problemas associados ao sistema de poder vertical do hoje primeiro-ministro Vladímir Pútin, no qual a maioria dos assuntos e projetos só funciona bem quando há pressão de cima. Depois do fechamento do teatro em 2005, o projeto de restauração chegou a um impasse quando representantes do governo, o prefeito de Moscou e o arquiteto-chefe Nikita Shanguin se desentenderam sobre o projeto. Em 2008, Shanguin abandonou a reforma e previu que a restauração não ficaria pronta antes de 2013. Foi então que veio o empurrão do presidente. No

CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS

RUSLAN SUKHUSHIN

Após reforma complicada e marcada por denúncias de corrupção, Teatro Bolshoi finalmente reabre em outubro.

REUTERS/VOSTOCK-PHOTO

Bolshoi, seis anos depois

Mikhail Sídorov

Um dos mais amados bolos russos possui uma história um tanto incomum: nós sabemos exatamente quem o inventou e quando. O Bolo de Leite de Pássaro foi criado em 1978 por Vladímir Guralnik, chef de uma confeitaria de Praga. O exótico bolo, que na fantasia traz o mágico ingrediente dos contos de fada russos, o “leite de pássaro”, na verdade ganhou fama por inverter a habitual relação entre bolo e recheio. A saborosa confecção

de Guralnik alterna camadas grossas e leves de suflê com finas camadas de bolo, tudo coberto por um glacê de chocolate. Se você não pode viajar a Moscou só para deliciar-se com essa maravilha, veja a receita que Guralnik resolveu compartilhar, e a Gazeta Russa ajudou adap às cozinhas ocidentais. Aqui vai o truque do suflê: ágarágar, uma substância gelatinosa que resiste à alta temperatura necessária para produzir o xarope de açúcar.

LORI/LEGION MEDIA

Ingredientes:

Massa •¾ de xícara de açúcar; •¾ de xícara de margarina; •3 ovos; •1½ xícara de farinha peneirada; •½ colher de sopa de baunilha. Suflê •4 colheres de sopa de ágarágar; •1 ¾ xícara de água; •2 ½ xícaras de açúcar; •1 colher de sopa de suco de limão; •3 claras de ovo; •1 xícara de manteiga, em temperatura ambiente; •½ xícara de leite condensado. Glacê de chocolate •1 xícara de pedaços de chocolate amargo; •2 colheres de sopa de manteiga.

Modo de preparo :

1. Pré-aqueça o forno a 230 graus e unte duas assadeiras de bolo médias. 2. Prepare o bolo: Misture o açúcar com a manteiga. Depois, adicione os ovos, mexendo sem parar. Junte então a farinha e a baunilha. Despeje a massa em forminhas, fazendo camadas finas. Coloque-as na parte superior do forno até que suas superfícies fiquem douradas (cerca de 10 minutos). Retire do forno e deixe esfriar. 3. Para o recheio: em uma panela pequena, misture o ágar-ágar com uma xícara de água e coloque em fogo baixo. Aqueça a mistura, mexendo sempre, até que o ágar se dissolva. Em seguida, retire do fogo. 4. Em uma panela grande, acrescente o açúcar e a água à mistura anterior. Leve ao fogo até ferver. Depois, reduza o fogo e mexa sempre, até o xarope engrossar (cerca de 40 minutos). Pegue uma colher e teste a consistência do xarope -

se ao erguer a colher o fio não se quebrar, é porque o xarope está pronto. Adicione então o suco de limão e tire do fogo. Despeje em um recipiente de vidro e deixe esfriar à temperatura ambiente, mexendo de vez em quando. 5. Em um recipiente pequeno, bata a manteiga. Depois, misture o leite condensado e reserve. 6. Use uma batedeira para bater claras em neve com uma pitada de creme de tártaro. Com a batedeira em movimento, despeje aos poucos o xarope de ágar-ágar. A mistura final deve ser grossa e levemente brilhante. Reserve por 5 minutos. 7. Acrescente a mistura de manteiga e leite condensado aos demais ingredientes, mexendo devagar com as mãos, e depois com batedeira, até que forme uma massa homogênea. 8. Para montar o bolo: unte uma fôrma média com laterais removíveis. Coloque uma camada de bolo no fundo e cubra com metade da mistura do suflê. Coloque então mais uma camada de bolo e novamente cubra-a com o restante do recheio. Deixe o bolo na geladeira por 15 minutos. 9. Para o glacê: derreta os pedaços de chocolate e a manteiga em banho-maria, misturando-os bem. Retire o bolo da geladeira e use uma faca ou espátula para cobrir o bolo com o glacê de chocolate. Coloque na geladeira para esfriar. 10. Antes de servir, remova a lateral da fôrma. Para servir, aqueça uma faca com água quente, para cortar o glacê sem quebrá-lo. Dica: Assim que você terminar de usar as panelas com ágar-ágar e açúcar, coloque-as imediatamente em água quente para que não grudem nos recipientes.

REPRESENTANTE DA EMPREITEIRA SUMMA CAPITAL

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Existia um perigo real de o prédio desabar. Só quando tudo estiver concluído, e todas as faturas pagas, nós saberemos o quanto custou.”

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O Grupo Volga promove na biblioteca um ciclo de palestras e eventos para celebrar o nascimento do maior poeta russo, Aleksandr Púchkin.

A palestra organizada pelo Grupo Volga para discutir a língua russa dura 1h30 e será realizada no Auditório da Escola Municipal de Astrofísica Aristóteles Orsini. 100 vagas.

A peça é baseada no conto homônimo de Fiódor Dostoiévski. Homem amargurado decide se suicidar, mas menina lhe pede ajuda e muda seus planos. Dirigida por Roberto Lage.

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Um dos mais celebrados corpos de balé do mundo, composto por quase 200 bailarinos, o Kirov apresenta no Brasil o espetáculo O Lago dos Cisnes.

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INCÊNDIO ACIDENTE DEIXA UM MORTO E 28 MIL SÃO EVACUADOS

Um incêndio no arsenal militar russo nº102 pintou de vermelho o céu da região de Malopurguínski, mil quilômetros a leste de Moscou. O fogo tomou 18 armazéns com munição e cerca de 150 edifícios, provocando diversas explosões das munições guardadas no local. Cerca de 28 mil pessoas foram evacuadas. FOTO: Konstantin Ivtchin, RIA Nóvosti

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