Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), Clarín (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais
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Economia e Mercado
Ministro das Finanças deixa cargo depois de anúncio de Pútin
Editor da Coleção Leste fala do sucesso russo no projeto
Concorrência leva Coca-Cola a ampliar ações na Rússia
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SEGUNDA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 2011
LUNAÉ PARRACHO
Em Foco ITAR-TASS
Economia e Mercado
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PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES
Eleições 2011 Estatutos paradoxais e ideologias poucos claras são alguns dos desafios do eleitor russo
Pescando votos ao acaso
NOTAS FAB testa lote de helicópteros Mi-35M
Partidos políticos não correspondem a seus nomes, enquanto os eleitores nem acreditam que contagem dos votos seja justa. VLADÍMIR RUVÍNSKI GAZETA RUSSA
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SERVIÇO DE IMPRENSA
KOMMERSANT
O que lhe ocorre quando você ouve falar de um partido chamado de liberal-democrata? Deve ser algo como um partido que defende valores liberais e democráticos. Na Rússia, porém, não é assim. Aqui, um partido com esse nome (Partido Liberal Democrata, LDPR, na sigla em russo) declara, em seus estatutos, que é um partido de “apoiadores do Estado”, isto é, o Estado é o principal porta-voz dos interesses das pessoas e da sociedade. Mais que isso, esse partido bajula os nacionalistas e promete contribuir, na próxima legislatura, para a aprovação de uma lei “Do apoio do Estado ao povo russo”, segundo anunciou, em 22 de agosto deste ano, o líder do LDPR, Vladímir Jirinóvski.
Os políticos jogam o anzol em águas pouco transparentes (da esquerda para a direita): o presidente da Rússia Dmítri Medvedev; Serguêi Mironov, líder do partido Rússia Justa; Vladímir
Jirinóvski, líder do Partido Liberal-Democrata; Guennádi Ziuganov, líder do Partido Comunista e Boris Grizlov, presidente do conselho superior do partido Rússia Unida
Sabor Depois de EUA e Europa, fruta energética brasileira tenta conquistar o paladar de Moscou
Maria Lôbova vendeu mais de duas toneladas da fruta amazônica nos primeiros seis meses de exportação. Desafio agora é popularizar a exótica frutinha energética da Amazônia no país. FABRICIO YURI VITORINO ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Primeiro ele conquistou o sul do Brasil, ao virar mania nas praias e academias. Depois, ficou popular nos Estados Unidos e Europa. Agora, o próximo destino do açaí é conquistar a Rússia. Mas o longínquo e frio país não seria a próxima provável parada da frutinha amazônica se não fosse por Maria Lôbova, 29. “Tudo começou quando uma amiga me contou que existia uma frutinha milagrosa brasileira”, conta. Empresária do sul da Rússia radicada em
Moscou, Lôbova resolveu pesquisar na internet e descobriu muitas informações sobre o açaí – em sites americanos. Mas o mais importante era que o produto ainda não tinha chegado à Rússia. “Claro que essa amiga chegou a cogitar começar esse negócio, mas acabou deixando de lado e eu mesma toquei adiante”, diz. Antes de tudo, era preciso buscar parcerias na Rússia e no Brasil. “O primeiro passo foi ter um bom plano em mãos. Assim, fui até a rede de cafeterias Shokolánitsa, que tem mais de 200 unidades e um modelo de negócios bem profissional, e os convenci do potencial do açaí.” Em seguida, Lôbova veio ao Brasil – que já havia visitado algumas vezes durante os três anos em que morou no Chile
STOCK FOOD/FOTODOM
Açaí amazônico chega à Rússia
O açaí: fruta tropical busca novos mercados, depois de chegar à Europa e EUA
– e fechou parceria com a empresa paulista exportadora de alimentos Liotécnica. Daí para o primeiro embarque do produto rumo à Rússia foram apenas alguns meses. “Eu diria que o pedido da
Maria Lôbova, para início de uma parceria, foi bastante significativo”, avalia Zuleica Costa, gerente de exportações da Liotécnica. Como a empresa opera em diversos países – como Estados
A Força Aérea Brasileira (FAB) realizou os primeiros testes com helicópteros de ataque russos Mi-35M. Batizadas no Brasil como AH-2 Sabre, as aeronaves do 8º Grupo de Aviação (GAV) do esquadrão Poti, na Base Aérea de Porto Velho, chegaram ao campo de provas Brigadeiro Velloso, na Serra do Cachimbo, no Pará, no final de setembro. O objetivo da ação foi avaliar a capacidade dos helicópteros AH-2 Sabre de atingir alvos terrestres, assim como verificar a possibilidade de cooperação entre aeronaves de fabricação russa e americana. A FAB deve usar os helicópteros AH-2 Sabre para apoio e escolta das aeronaves H-60L, em operações de busca e resgate, em condições de combate, e para o desembarque de unidades especiais. O contrato de compra de 12 helicópteros de ataque russos Mi-35M para a FAB foi firmado em 2008 por licitação internacional e está orçado em 150 milhões de dólares. Os três primeiros helicópteros AH-2 Sabre foram oficialmente colocados em serviço pela FAB em abril de 2010. Até hoje, o Brasil já recebeu seis aeronaves. Centro de Análise do Comércio Internacional de Material de Guerra
Unidos, Cuba, Japão e Cabo Verde –, o medo da burocracia russa, sempre um entrave para a chegada de novos produt o s, n ão at i n g iu a Liotécnica. “Em uma exportação para os EUA, por exemplo, é preciso uma documentação muito simples, três ou quatro documentos. Isso não acontece na Rússia”, explica Zuleica. Mas a Liotécnica não precisou se preocupar. “Todo o trâmite de importação foi feito pela Maria Lôbova.” Ao todo, foram necessários quase quatro meses para obter todos os documentos exigidos pelos órgãos russos. “Além disso, consultei um dos maiores especialistas da Rússia, que avaliou o produto e o endossou.”
NESTA EDIÇÃO ECOTURISMO
LORI/LEGION MEDIA
Paraísos imperdíveis
Rincões da Rússia são meta de preservação para alguns e fonte de renda para outros PÁGINA 6
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EM FOCO
Armamentos Estoque da submetralhadora é dez vezes superior às necessidades do país
A mítica Kalashnikov sobra no arsenal VÍKTOR LITÓVKIN
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
O Ministério da Defesa não compra a mais famosa submetralhadora do mundo, a Kalashnikov, há 15 anos. Os estoques acumulados do ar-
mamento nas fábricas de procedência e nos depósitos de armas do Ministério da Defesa são grandes o suficiente para armar diversos exércitos com as mesmas dimensões do russo - isso para não dizer t o d o s o s e x é r c it o s d o mundo. A notícia foi confirmada há alguns dias pelo chefe do Estado Maior e vice-ministro da Defesa da Rússia, general Nikolai Makarov. “Os estoques
de armas acumulados na Rússia, inclusive aqueles de submetralhadora Kalashnikov são dez vezes superiores às necessidades existentes”, disse o general, acrescentando ainda que as submetralhadoras em uso já não servem mais ao exército russo. A declaração causou verdadeira sensação. A AK-74, assim como a vodca, o cosmonauta Iúri Gagárin e o Kremlin, virou um símbolo na-
cional do país. A submetralhadora é considerada hoje a mais confiável do mundo. Além de resistir a quaisquer condições meteorológicas, poeira, quedas em um pântano, lama ou areia sem perder capacidade operacional, basta lavar seu cano com um jato de água e a arma está pronta para agir de novo. CONTINUA NA PÁGINA 3
SERVIÇO DE IMPRENSA
Metrô moscovita e seu museu subterrâneo
REUTERS/VOSTOCK-PHOTO
Ministério da Defesa russo deixou de comprar a AK-74, mas mercado bélico global continua a confiar na submetralhadora mais conhecida do mundo.
São mais de 300 quilômetros de história e arte distribuídos nas 182 estações da capital Kalashnikov e sua invenção: símbolo russo
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Política e Sociedade
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guiu construir seu núcleo ideológico”, afirma Nikolai Petrov, cientista político do Centro Carnegie de Moscou.
continuação da Página 1
Uma característica do sistema político russo é a de que os partidos políticos não correspondem a seus nomes, não têm ideologia clara e só se conhecem por seus líderes. Por exemplo, o partido Rússia Unida, encabeçado por Vladímir Pútin, que nem sequer é seu militante, se proclama como agremiação centrista e é comumente considerado partido governante. Na verdade, essa sigla não tem nenhum programa, o que lhe permite fazer quaisquer declarações e decisões para reforçar suas posições sem obrigaçõe s pe ra nt e g r upos políticos ou sociais. É sintomático que nas eleições anteriores os partidos se tenham limitado a divulgar seus programas por meio de assessorias de imprensa sem os defender em debates públicos. Como resultado, tais programas não causam interesse nos eleitores e são pouco lembrados. “O componente ideológico começou a desaparecer nos partidos já no período Iéltsin. Isso não é culpa do atual governo, mas um traço marcante da Rússia pós-soviética que, diferentemente das ex-repúblicas soviéticas, não conse-
Na última década, o número de protagonistas políticos tem diminuído consideravelmente na Rússia. “Em primeiro lugar, isso aconteceu porque a política real ficou concentrada nas mãos do Rússia Unida, que não tolera competição, e, em segundo lugar, porque não havia demanda
reconhecer as eleições válidas, a opção “nulo” nas cédulas de voto e as eleições diretas para governador, senador e prefeito de grandes cidades. Formalmente, nas eleições de dezembro, as vagas de deputado serão disputadas por sete partidos registrados dos quais quatro, o Rússia Unida, o Partido Liberal (LDPR), o Partido Comunista (KPRF) e o Rússia Justa, são parlamentares. Concebido para atender aos anseios do eleitorado de esquerda, o Rússia Justa irá às
Comparecimento foi superior a 100% no Cáucaso do Norte e Rússia Unida teve 95% dos votos
Decepção de eleitores tem levado partidos a adotarem slogans sociais e nacionalistas
social de um partido independente. A demanda era de líderes fortes e, ao mesmo tempo, passíveis de controle”, afirma o diretor do Centro de Informação Política, Aleksêi Múkhin. Enquanto isso, barreiras legais à criação de partidos políticos se tornaram mais altas. As eleições se tornaram mais controladas, e foram anulados o índice mínimo de comparecimento necessário para
próximas eleições também com slogans de direita, entre os quais a nacionalização de monopólios, a introdução de um imposto de renda progressivo e de um imposto sobre bens excessivos, o retorno das eleições em todos os níveis, a reinclusão da opção “nulo” nas cédulas de voto, o registro de partidos políticos e a anistia para os empresários vítimas de arbitrariedades burocráticas.
Eleições controladas
Apostas maiores
Segundo as pesquisas de opinião pública mais recentes do Centro Levada, apenas metade dos eleitores russos são a favor de mudanças na política russa. Hoje, o Rússia Unida detém a maioria dos cargos administrativos em nível federal e regional, e controla grandes fluxos financeiros, ta nto públ icos como privados. Agora, porém, as apostas são maiores. O mandato de deputado aumentou para cinco anos e o de presidente, para cujo cargo as eleições serão realizadas em março de 2012, para seis anos. Em outras palavras, Vladímir Pútin e sua equipe poderão ficar no poder por mais 12 anos. Portanto, a preocupação do Rússia Unida é fazer com que o índice de comparecimento às urnas seja superior a 50%. Atualmente, o Rússia Unida tem mais de 35% das intenções de voto. Essa é a melhor colocação nas pesquisas de opinião pública, embora seu número de partidários tenha diminuído ultimamente. Porém, existe a hipótese de o Rússia Unida usar a máquina administrativa para se reeleger para o Parlamento, assim como aconteceu duran-
te as eleições regionais de 2010 na Tchetchênia e no Daguestão, no Cáucaso do Norte, onde a taxa de comparecimento foi igual ou até, paradoxalmente, superior a 100% e o Rússia Unida obteve cerca de 95% dos votos. Quando foi anunciada a expressiva vitória do partido nas eleições regionais, as três bancadas oposicionistas do parlamento russo abandonaram o plenário da Duma (câmara dos deputados), em protesto contra a fraude eleitoral em favor do Rússia Unida. Todavia, a Comissão Eleitoral Central e a Corte Suprema de Justiça con fir maram a legitimidade das eleições.
Decepção eleitoral
A falsificação do processo político na Rússia foi tão óbvia que um número cada vez maior de russos desconfia das instituições do poder representativo. De acordo com os dados mais recentes do Centro Levada, 52% dos eleitores russos pretendem ir às eleições de dezembro próximo, contra 53% em 2007. Além disso, subiu em cinco pontos percentuais o número de eleitores indecisos. Dos que não vão às urnas, 34% acredita que seu voto não muda
Os protagonistas do jogo político russo
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Crônica de uma vitória parlamentar anunciada
Russo beija pôster de Pútin, figura central do Rússia Unida
nada. Além disso, a maioria esmagadora dos eleitores, 70%, acredita que os deputados não cumprem suas promessas eleitorais. Atendendo a manifestações públicas, muitos partidos da Rússia deram uma guinada à esquerda. De acordo com Múkhin, a maior demanda hoje é por justiça social e ideias de caráter nacionalista. Gravado na bandeira do
Rússia Justa, o slogan de justiça social foi também assumido pelo Rússia Unida. Outros partidos, como o LDPR, o KPRF e o Causa Direita, estão bajulando os nacionalistas extremistas: o LDPR promete defender legalmente os russos étnicos, o KPRF está lutando pelo socialismo russo, o Causa Direita se declara contrário à imigração de caucasianos e asiáticos.
Como o cidadão russo pode votar no brasil? 4 DE DEZEMBRO — ELEIÇÕES PARA DEPUTADO DA DUMA ESTATAL DA ASSEMBLEIA FEDERAL DA RÚSSIA Conforme a Lei Federal n° 51, de 18 de maio de 2005, “Sobre as Eleições dos Deputados da Duma Estatal da Assembleia Federal da Federação da Rússia”, e o Decreto do Presidente da Federação da Rússia n° 1.124, de 29 de agosto de 2011, “Sobre a Designação das Eleições dos Deputados da Duma Estatal da Assembleia Federal da Federação da Rússia”, no dia 4 de dezembro de 2011 serão realizadas as eleições para Deputados da Duma Estatal da Assembleia Federal da Federação da Rússia. Os cidadãos da Rússia que nessa data se encontrarem no Brasil poderão votar em três postos eleitorais criados nas representações diplomáticas russas: Brasília — Embaixada da Rússia Setor de Embaixadas Sul, Avenida das Nações, Quadra 801, Lote A, Brasília—DF. Telefones: (55 61) 3223-3094/4094/5094; Rio de Janeiro — Consulado Geral da Rússia Rua Professor Azevedo Marquês, 50, Leblon, Rio de Janeiro—RJ. Telefone: (55 21) 2274-0097; São Paulo — Consulado Geral Avenida Lineu de Paula Machado, 1336, Jardim Everest, 05601-001, São Paulo—SP. Telefone: (55 11) 3814-4100. Para exercer o seu direito de voto é preciso apresentar um documento que comprove a cidadania russa em qualquer um dos três postos mencionados acima, no dia 4 de dezembro, das 8:00 às 20:00 (horário local).
Mutante Legislação eleitoral já sofreu 150 alterações desde 2002
Mudanças em benefício próprio Apesar de aparato tecnológico, emendas e alterações na legislação eleitoral continuam a permitir fraudes na Rússia. ígor Viújni
O sistema eleitoral russo começou a tomar forma em 1993, junto com a Constituição. Desde então, a legislação eleitoral recebeu inúmeras emendas: só de 2002 para cá, as leis eleitorais do país sof r e r a m ce r c a de 150 mudanças. Como resultado, a Rússia tem um sistema eleitoral que gera opiniões opostas e discussões entre governo e oposição. A Comissão Eleitoral Central (CEC), entretanto, afirma ter uma das melhores legislações eleitorais do mundo, acentuando sobretudo seu aparato tecnológico: um sistema automático de soma de votos, urnas eletrônicas e sistemas de vigilância de vídeo em seções eleitorais. Segundo o presidente da CEC, Vladímir Tchurov, tudo isso torna impossível u ma f raude eleitoral.
A falha imprevista
Em uma carta aberta à As-
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gazeta russa
Leis russas seguem padrões das “novas democracias”
sembléia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE), porém, defensores dos direitos humanos como Liudmila Aleksêieva, Oleg Orlov, Lev Ponomarev e Serguêi Kovaliov afirmam que “o estado em que se encontra o sistema eleitoral da Rússia vai contra os compromissos internacionais do país e sua legislação nacional”. Eles alegam que, nos últimos anos, nos últimos dez anos, a legislação eleitoral russa tem sido corrigida pelo par-
tido Rússia Unida em benefício próprio. Foram anuladas as eleições diretas para governador, os partidos foram proibidos de formar alianças e coligações eleitorais, foi eliminada a opção de voto nulo e extinto o conceito de comparecimento mínimo às urnas como critério da validade das eleições. Além disso, o mínimo de afiliados necessário ao registro de um partido subiu de 10 mil para 45 mil. Na Alemanha, por exemplo, a legisla-
ção eleitoral não exige o registro de um partido político nos órgãos do governo nem estabelece o mínimo de afiliados para cadastramento. Segundo Tchurov, a legislação eleitoral russa segue os padrões das leis eleitorais das “novas democracias”, ou seja, dos países da América Latina, Índia e Coreia do Sul, onde as tradições democráticas têm raízes menos profundas que nas democracias ocidentais tradicionais. Nos últimos anos, os partidos criados sem aprovação do Kremlin não passam pela peneira do Ministério da Justiça, órgão responsável por seu registro. As eleições parlamentares e presidenciais dei xaram de ser u ma competição. Entretanto, se os eleitores forem às urnas e votarem em um dos candidatos propostos, o Rússia Unida poderá ter suas posições abaladas, porque, segundo a prática eleitoral russa, os votos depositados em um partido incapaz de superar 7 % do sufrágio são atribuídos aos ve nc e dor e s d a cor r id a eleitoral. Recentemente, o presidente Dmítri Medvedev, disse não considerar ideal a atual legislação eleitoral da Rússia e prometeu pensar sobre a possibilidade de diminuir a barreira de 7% para 5% dos votos e introduzir uma restrição para que nenhum dos partidos pudesse obter a maioria na Duma.
Concorrência Grupo de emergentes fará fiscalização
Brics juntos em ação antimonopólio Combate de países à concorrência desleal remonta ao período Iéltsin, a partir de acordo com assinado entre Rússia e China em 1996. vassíli krilov gazeta russa
Os serviços antimonopólio dos países do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vão investigar conjuntamente atividades de cartéis internacionais. O anúncio foi feito pelo diretor do SAR (Serviço Antimonopólio da Rússia), Ígor Artêmiev, na 2ª Conferência Internacional para a Proteção da Concorrência realizada em setembro em Pequim, sob o grupo Brics. A cooperação da Rússia com autoridades estrangeiras em matéria de legislação antimonopólio começou em 1996, quando o então presidente russo Boris Iéltsin assinou, em Pequim, um acordo com a China sobre cooperação antimonopólio e combate à concorrência desleal. Em 1999, ao acordo russo-chinês uniu-se outro país dos futuros Brics, o Brasil. Em 2001, a parceria com o Brasil foi formalizada no acordo Sobre a Cooperação na Área da Política de Concorrência, que permitiu às auto-
ridades antimonopólio dos dois países investigar conjuntamente práticas contrárias às leis da concorrência, assim como examinar transações em mercados além fronteiras. Uma das áreas mais relevantes de cooperação com o Brasil é a troca de experiências na aplicação das leis, isto é, o estudo e análise das operações bem ou mal sucedidas realizadas pelos serviços antimonopólio. No entanto, a maior preocupação dos servi-
Maior preocupação dos órgãos são acordos de cartéis que eliminam pilares da livre concorrência ços antimonopólio dos dois países são acordos de cartel que minam os pilares da livre concorrência. “A luta contra os cartéis é uma das principais prioridades do SAR”, diz o diretor do órgão, Ígor Artêmiev. Segundo o assessor de imprensa do SAR, Evguêni Izotov, os serviços antimonopólio dos países do Brics estão especialmente atentos às tentativas de se fecharem acordos de cartel em setores como
produção de petróleo e produtos petrolífero e de bebidas alcoólicas, onde a taxa de retorno é tradicionalmente muito alta. Ígor Artêmiev aconselhou seus pares nos Brics a tomarem atitudes mais ativas em diálogo com a sociedade e a realizarem regularmente conferências conjuntas. A conferência resultou em um acordo sobre a constituição de um grupo de trabalho para questões relativas à aplicação das leis de concorrência nos países do grupo Brics e a elaboração conjunta de um livro sobre o direito da concorrência que tem como objetivo reunir material sobre a aplicação de políticas e leis da área nos países Brics. A 1ª Conferência Internacional sobre a Proteção da Concorrência dos países do então grupo BRIC (ainda sem a África do Sul) foi realizada há mais de dois anos, na cidade de Kazan, cerca de 800 quilômetros a leste de Moscou. No dia 23 de dezembro do ano passado, a sigla Brics com que eram identificados os quatro países com economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China) passou para Brics, com a entrada no grupo da África do Sul.
Política e Sociedade
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Diplomacia Os sete países do Tratado de Segurança Coletiva buscam um novo modelo para a organização
O outono da anti-Otan Reformas e treinamentos da Organização do Tratado de Segurança Coletiva dão atenção à Primavera Árabe, enquanto muitos de seus líderes são comparados a Hosni Mubarak, Ben Ali e Muammar Gadaffi. roman vorobiov
kommersant
especial para gazeta russa
A OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva), criada em 1992, quando foi assinada a primeira versão do tratado homônimo, é a contrapartida pós-soviética à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O vigésimo aniversário do órgão deve ser celebrado com pouco entusiasmo. O atual modelo de cooperação não satisfaz integralmente nenhum dos países-membros da organização. Embora uma reforma venha sendo discutida pelos líderes da organização em todas as cúpulas da OTSC, a revolução no Quirguistão, no ano passado, esquentou as discussões em torno da assunto. A principal questão é se a organização deve, em tais casos, defender o regime existente e intervir diretamente no conflito. De acordo com a atual versão do tratado, a OTSC não possui tais poderes. O seu principal objetivo é a proteção conjunta dos Estados-membros contra ameaças externas e especialmente contra o terrorismo internacional. Discussões enérgicas tomaram espaço por meses, seguidas por um período de calmaria. Então, os líderes da OTSC foram lembrados da necessidade de uma reforma durante as revoltas contra regimes autoritários no norte da África e Oriente Médio, a chamada Primavera Árabe. Na cúpula realizada em agosto, o presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukachenko, confirmou a jornalistas que os líderes da OTSC haviam se dedicado sobretudo a debater como evitar a experiência de seus pares na Tunísia, Egito e Líbia. Atualmente, a Bielorrússia preside a OTSC, mas o verdadeiro líder sempre foi a Rússia. Sendo
Os líderes da organização: o atual modelo de cooperação não satisfaz integralmente a nenhum dos países-membros
assim, não é uma surpresa que Moscou tenha proposto um projeto específico de reforma. O Insor (Instituto de Desenvolvimento Contemporâneo, em russo), cujo chefe do conselho diretor é o presidente Dmítri Medvedev, produziu um relatório de 66 páginas dedicado à reforma na OTSC. O projeto de modernização da organização não é, aliás, o primeiro documento que o i nstituto propõe ao Kremlin. A proposta do Insor gira em torno de três pontos-chave. Em primeiro lugar, recomenda reformas no processo de tomada de decisões na OTSC. Atualmente, as decisões são tomadas por consenso, mas o Insor sugere que se leve em consideração o posicionamento da maioria. “A OTSC não terá utilidade se continuar sendo um órgão onde as pessoas apenas gaguejam. Na Rússia, vemos dessa forma, e nossos parceiros estão começando a perceber isso também. É por
Os exercícios da OTSC em situações de crise A OTSC é composta hoje por sete Estados: Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão. As Forças Coletivas de Reação Rápida da OTSC juntas chegam a cerca de 20 mil homens. De acordo com a cartilha da organização, a OTSC pode fazer
uso da força em operações antiterrorismo, para repelir agressões militares diretas, além de combater o narcotráfico e o crime organizado. De 21 a 26 de setembro, as forças da OTSC conduziram exercícios estratégicos em grande escala, envolvendo veículos blindados, aviões e navios de
guerra. Sobre os exercícios de treinamento, o chefe do Estado-Maior do Exército da Rússia, Nikolai Makarov, disse que as forças da OTSC treinavam para situações de crise semelhantes aos acontecimentos recentes no Oriente Médio e no norte da África, a chamada Primavera Árabe.
isso que precisamos de um novo sistema de tomada de decisões”, disse o chefe do instituto, Igor Iurgens, ao diário russo Kommersant. Em segundo lugar, o Insor propõe transformar radicalmente a relação da OTSC com a Otan. Inicialmente, a organização foi criada como um contrapeso à Otan, mas, agora, a OTSC deveria estar buscando ativamente reconstruir relações com o Ocidente. “Uma tarefa importante é oferecer, pelo menos, uma interoperabilidade parcial
entre a OTSC e as Forças de Reação Rápida da Otan”, diz o relatório. Por último, o terceiro desafio frente à OTSC é se tornar a principal força pacificadora na Ásia Central e nas regiões vizinhas. O relatório do Insor ressalta que a OTSC “deve ter sistemas adequados para monitorar potenciais conflitos que possam ameaçar a segurança dos países-membros”. Isso inclui “levar em conta as ‘revoluções coloridas’ nas ex-repúblicas soviéticas, os aconte-
cimentos no norte da África e no Oriente Médio, e a provável ascensão do extremismo quando as tropas de coalizão forem retiradas do Afeganistão”. Segundo especialistas, foram os eventos no Oriente Médio que apressaram as negociações sobre a reforma na OTSC – e os dirigentes do grupo não são, nesse caso, meros observadores. Outro fator que une metade dos líderes de Estado da organização é a longa permanência no poder, conferindo-
lhes algo em comum com o ex-presidente da Tunísia, Ben Ali, ou Hosni Mubarak, que aguarda julgamento, e Gaddafi, morto numa verdadeira caçada empreendida pela oposição e pela Otan. Nursultan Nazarbaiev, presidente do Cazaquistão, está no poder há 20 anos; Emomalii Rakhmon comanda o Tadjiquistão há 17 anos, exatamente o mesmo período de Aleks a nd r L u k ac he n ko n a Bielorrússia. Os paralelos são suficientemente óbvios para fazer os líderes das ex-repúblicas soviéticas refletirem. De acordo com Mikhail Rostovski, colunista do jornal Moskóvski Komsomolets, a reforma da OTSC iria fortalecer a influência de Moscou no Uzbequistão, no Tadjiquistão e em outras repúblicas da Ásia Central. Os líderes desses países sempre estiverem apenas interessados em manter e fortalecer seu próprio poder e, se Moscou der a eles a ferramenta para isso, os dirigentes locais ficarão ainda mais atrelados à Rússia, acredita Rostov. “Se as Forças Coletivas de Reação Rápida da OTSC forem capazes de intervir nos conflitos internos, essa organização será exatamente como o Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo, liderado pela Arábia Saudita, que atuou como um extintor de incêndio do movimento revolucionário”, contrapõe o redator-chefe da revista Russia in Global Affairs, Fiódor Lukianov. “Porém, trata-se de uma faca de dois gumes, pois é improvável que muitos países da Ásia Central, bem como a Bielorrússia, deem à Rússia a oportunidade de interferir em seus assuntos internos”, completa. No momento, a OTSC está se pronunciando de maneira cautelosa sobre as futuras reformas. “Ninguém está falando sobre uma reforma profunda”, afirma o secretário-geral da organização, Nikolai. A questão é realizar pequenos ajustes no documento original, o que significa, segundo Bordiuja, “muda r u ma ou duas sentenças”.
Kalashnikov ainda é muito procurada De fácil manejo, a arma não requer treinamentos prolongados, razão pela qual é muito popular em países africanos, asiáticos e latino-americanos, especialmente prefer ida por u n idades paramilitares. Mas a Kalashnikov apresenta algumas desvantagens, dentre as quais seu baixo poder de fogo: apenas as duas primeiras balas de uma rajada atingem o alvo. As seguintes são dispersadas em leque. Em um combate urbano rápido ou em um ataque em terra ao abrigo da artilharia, a arma é muito eficaz. No entanto, em um embate cara a cara, ou quando é necessário disparar tiros precisos contra atiradores ou lançadores de granadas, são preferíveis outras armas, como a submetralhadora An-94/Abakan, de Guennádi Nikonov, construída pela mesma fábrica, a Izmach, ou a AEK-971, fabricada pela Degtiariov. Ou ainda a silenciosa AC, de 9 mm, criada no centro de pesquisas de Klimovsk, na região de Moscou. A última, além de precisa, foi construída especialmente para a luta contra inimigos protegidos com coletes à prova de balas e pode ultrapassar uma placa de aço de até 5 mm de espessura, além de ser eficaz contra veículos não blindados. Apesar da fama, portanto, a
Caraterísticas técnicas
Estádios de Moscou preparam-se para Copa 2018 Os três principais estádios de Moscou e 14 novos campos de futebol para a Copa do Mundo de 2018 já foram aprovados, segundo anunciou o chefe do departamento de política urbana da capital Serguêi Lievkin. “Moscou dá especial atenção aos eventos da Copa do Mundo, por isso ela será um grande impulso para o desenvolvimento da cidade”, comentou. De acordo com Lievkin, os principais jogos do torneio serão realizados nos estádios Lujniki, Dínamo e Spartak. O Lujniki já está pronto para receber jogos de qualquer nível. O estádio do Dínamo terá seu complexo reestruturado. Há planos para a construção de um novo estádio para o Spartak, no lado ocidental da capital russa. Ao mesmo tempo, planejase a construção de 14 novos campos, inclusive nos estádios Iskra, Izmailovo e Kirill Sovetov. Também está prevista a criação de dez terrenos com cobertura artificial fora do planejamento orçamentário. Itar-Tass
Restrições a raio x alteradas Uma proposta de lei que protege investidores estrangeiros em setores estratégicos e atenua restrições para investimentos externos em algumas esferas de produção acaba de ser aprovada pela Duma (a Câmara dos Deputados da Rússia). Com a nova legislação, o direito de declarar ameaça ou não à segurança do país proveniente de transações com a participação de investidores estrangeiros passa a ser determinado pelo Ministério da Defesa da Federação Russa. De acordo com o projeto, instrumentos de radiação produzidos por setores civis foram excluídos do rol de atividades estratégicas para a defesa do Estado e segurança do governo. Assim, é simplificada a comercialização de equipamentos ortodônticos e médicos de raio x e instrumentos de inspeção de bagagens em aeroportos, estações de trem e rodoviárias, por exemplo. Espera-se que as medidas eliminem barreiras administrativas desnecessárias para investidores estrangeiros. Ria-Novosti
Apontar laser para aviões pode render 10 anos de prisão photoshot/vostock-photo
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notas
A Kalashnikov em ação: simplicidade e confiabilidade
números
17.000.000
é o número de Kalashnikovs estocadas pelo exército russo no momento, segundo o Ministério da Defesa.
3.000.000
é a quantidade máxima de Kalashnikov de que precisa o exército russo.
Rússia tem muitos armamentos superiores à submetralhadora Kalashnikov. A An-94/ Abakan e a AEK-971, de Aleksandr Konstantinov e Aleksêi Issakov, são mais complexas que a Kalashnikov e têm maior poder de fogo maior. A Abakan, por exemplo, pode atingir nas duas primeiras balas de uma rajada um alvo do tamanho de uma moeda, enquanto a AEK-971 lança, de uma só vez, três balas em um alvo do mesmo tamanho.
Soldados com várias guerras nas costas e entendedores de armas dizem que as novas submetralhadoras superam em cerca de 10% os modelos antigos. O próprio Mikhail Kalashnikov está ciente disso, e quando a Gazeta Russa lhe pediu para comentar a notícia de que existem novas armas russas melhores que a AK, disse: “Eu sei, mas quando elas atingirem o nível de popularidade de minha ar ma, então conversamos”.
A popularidade da Kalashnikov é realmente inigualável. Em mais de 60 anos, a arma serviu de base para a criação de toda uma série de automáticas portáteis. Todas têm por base princípios e esquemas de funcionamento padronizados, facilitando o treinamento para uso e reparação. Como componentes de uma arma se encaixam facilmente em outra, o problema de abastecimento de peças de reposição fica resolvido em muitos casos. No conjunto de uma automática portátil Kalashnikov estão compreendidos uma submetralhadora, um lançador de granadas acoplado sob o cano, equipamento de pon-
taria noturna e diurna, munições especiais, carregadores e uma baioneta, além de outros dispositivos acessórios. O princípio fundamental de todas as armas de Mik ha i l K a lash n i kov é a simplicidade no manejo e a confiabilidade. A s submetral hadoras Abakan, AEK-971 e AC também são fornecidas ao exército e à marinha, mas em pequenas quantidades, e se destinam sobretudo a unidades especiais. Enquanto isso, as submetralhadoras Kalashnikov têm demanda nos mercados internacionais de armas e são procuradas por dezenas de países, inclusive os EUA.
serviço de imprensa
A Duma (a Câmara dos Deputados na Rússia) alterou o Código Penal, prevendo penalidade de até 10 anos de prisão para ações de vandalismo com lasers. Como observou um dos autores da proposta, Vladímir Pliguin, durante o ano passado foram registrados nos tribunais da Rússia de 30 a 50 casos de uso das chamadas canetas laser para cegar tripulações de aeronaves. Durante a discussão, representantes de todas as correntes parlamentares mostraram-se favoráveis à proposta. Itar-Tass
Economia e Mercado
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Poder Depois das trocas entre primeiro-ministro e presidente, ex-ministro das Finanças deixa de esperar o cargo de premiê
O Sr. Prudência cansou de esperar Responsável pela estabilização e pela criação de uma base para o forte crescimento do país, Aleksêi Kúdrin deixa cargo. BEN ARIS
photoshot/vostock-photo
GAZETA RUSSA
Quando o primeiro-ministro Vladímir Pútin anunciou que se candidataria a presidente, deixando no cargo atual o presidente Dmítri Medvedev, o ministro das Finanças saiu de cena. “Não me vejo no novo governo. A questão não é apenas que ninguém me ofereceu um cargo. Sinto que as divergências que tenho não permitirão que eu me associe a esse governo”, disse Aleksêi Kúdrin, citando uma série de desentend i mentos com Medvedev. Largamente respeitado por analistas russos, Kúdrin leva o crédito pela estabilização da economia do país e pela criação da base para o forte crescimento econômico russo na última década. O ex-ministro chegou a ser apelidado de “Senhor Prudência” pela imprensa local. Acredita-se que depois de 11 anos no cargo Kúdrin tenha se cansado e quisesse renunciar, mas teria permanecido no governo se tivesse uma oferta para ocupar o cargo de primeiro-ministro. Ao mesmo tempo, ele havia batido de frente com Medvedev em relação a determinadas políticas e tinha críticas aos planos do presidente de aumentar drasticamente os gastos militares e sociais. “É evidente que Kúdrin de-
Em desacordo com Medvedev e contrafeito pelo anúncio de Pútin, Kúdrin deixa o cargo de ministro das Finanças
FRASE
Nikolai Petrov pesquisador do Centro Carnegie de Moscou
"
Não acho que essa seja a última vez que vimos Kúdrin. Eu não ficaria surpreso em vê-lo de volta como primeiro-ministro no ano que vem.”
cidiu sair porque não queria ficar esperando pelo cargo de primeiro-ministro por mais uma década. Mas também deixou o governo pois discordava dos planos de Medvedev de gastar US$ 65 bilhões com despesas militares nos próximos três anos”, diz o consultor da IHS Global Insight, Lilit Geovorgian. O receio que muitos investidores e empresários expressaram após a saída de Kúdrin é que as políticas econômicas
prudentes que ele representava sejam abandonadas. “Sob o ponto de vista político, de algum modo Kúdrin não agiu tão bem como costumava, porque a pressão para gastar cresceu muito nos últimos anos”, diz Serguêi Guriev, reitor da Escola de Economia da Rússia. Com a Europa ocidental à beira de uma grande crise financeira, a economia russa já está sentindo o desconforto causado pela crescente incer-
fundo de estabilização e amorteceram a situação da Rússia no pior momento da crise financeira, em 2008. Ao mesmo tempo, Kúdrin usou as inesperadas receitas de petróleo para pagar rapidamente quase toda a dívida nacional do país. Sob seu comando, a dívida em relação ao PIB caiu de 160% em 2000 para cerca de 10% hoje, de acordo com o banco de investimentos Renaissance Capital. “As visões de Kúdrin não
teza. Na primeira semana de outubro, o mercado de ações vendeu intensamente com receio de que os preços diminuíssem ainda mais. Entretanto, as bem-sucedidas políticas de Kúdrin podem não ser desfeitas. Sob a “tesoura de Kúdrin”, a indústria petrolífera russa paga impostos equivalentes a cerca de 90% das receitas brutas de exportação acima de US$ 28 por barril, quantias essas que foram armazenadas em um
eram populares, mas o então presidente Pútin o apoiou veementemente”, diz Liam Halligan, economista-chefe da empresa de gerenciamento de capital especializada no mercado russo Prosperity Capital Management. “As iniciativas de Kúdrin proporcionaram a plataforma macroeconômica estável de que a Rússia necessitava desesperadamente. Suas políticas serão, no geral, mantidas porque foram bem-sucedidas e, no rescaldo da crise de 2008, foram reconhecidas até mesmo por muitos de seus antigos opositores em questões relacionadas ao petróleo.” Durante uma conferência no início de outubro, Pútin afirmou que, apesar a saída de Kúdrin, ele continuaria fazendo parte de sua equipe. “Ele é, sem dúvida, um dos melhores especialistas, não só da Rússia, mas de todo o mundo”, disse Pútin. “Ele é amigo nosso e meu amigo pessoal”, completou. Sob o comando de Boris Iéltsin, a política russa girava em torno do poder em si, mas, na gestão de Pútin, as batalhas são cada vez mais travadas sobre questões políticas. “A discussão Kúdrin-Medvedev também sugere que a democracia da Rússia, embora ainda em progresso e longe da perfeição, já é capaz de gerar um debate público mais significativo a respeito da política fiscal às vésperas de uma importante eleição do que muitas outras democracias antigas do mundo ocidental”, acredita Halligan.
Crise europeia Enquanto finanças afundam na zona do euro, países emergentes planejam pacotes de resgate pela primeira vez na história
Ajuda pode virar moeda de troca para nações que buscam assentos permanentes na ONU ou posições na Bretton Woods. MANISH CHAND
especial para gazeta russa
Em uma dramática inversão de fortunas, a Europa, que vigorosamente se opôs a um maior poder de voto para economias emergentes no FMI (Fundo Monetário Internacional), se vê agora procurando ajuda dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para afastar a pior crise já surgida na zona do euro. Com mais de US$ 4 trilhões em reservas, as maiores econom i a s e me r ge nt e s do mundo – China, Brasil, Índia e Rússia – podem virar os salvadores da Europa. Os Brics, por sua vez, expres-
sam diferentes posicionamentos sobre os riscos de um pacote de apoio para os Pigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), as nações que colocaram a economia europeia no buraco. Ministros das finanças e diretores de bancos centrais dos Brics se encontraram recentemente em Washington e pediram às nações do G20 para agir rapidamente a fim de aliviar a crise da dívida na zona do euro. Eles também afirmaram considerar oferecer dinheiro ao FMI e a outros órgãos, para aumentar a capacidade de combater crises financeiras. As economias emergentes temem que a estagnação dos desenvolvidos possa gerar um impacto negativo nos países em desenvolvimento. “É preciso avançar com a revisão abrangente da fór-
mula de cotas até janeiro de 2013 e com a conclusão da próxima revisão de cotas até janeiro de 2014”, clamaram os líderes dos Brics em um comunicado conjunto. Em 2010, os 187 países-membros do FMI e do Banco Mundial concor-
Crise acelera ascensão do grupo, o poderoso fruto da crise financeira mundial de 2008 daram em deslocar cotas das economias desenvolvidas para mercados emergentes e economias em desenvolvimento. A consolidação do grupo Brics no cenário da crise na zona do euro aumentou a especulação sobre suas inten-
ções. Afinal, as lembranças do FMI ditando punitivos programas de ajuste estrutural para o hemisfério Sul ainda são bem frescas. A Índia e o Brasil, por exemplo, vão exigir uma posição permanente no Conselho de Segurança da ONU para salvarem a zona do euro de uma catástrofe? Ou a China irá buscar para si papel mais importante nas instituições de Bretton Woods? Em praticamente três anos desde que a Rússia sediou a primeira cúpula do grupo em Iekaterinburgo, em junho de 2009, o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) evoluiu para um poderoso grupo que quer ditar a arquitetura póscrise econômica e aumentar a participação das economias emergentes nas instituições globais de tomada
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Brics podem ser alternativa para salvar Pigs
huma n idade e respondem por 21% do PIB mundial - decidiram ampliar sua cooperação em diversos campos, incluindo comércio, segurança, energia e cultura. O plano de ação estabelece, entre outras coisas, reuniões constantes dos ministros das Relações Exteriores em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas, e dos ministros da Saúde.
de decisão. O BRIC se transformou em Brics quando a África do Sul, a maior economia do respectivo continente, foi formalmente incluída durante a cúpula de Sanya, na China, em abril deste ano. Além do perfil ascendene, os Brics - que juntos reúnem 3 bilhões de pessoas, ou praticamente metade da
Quando o economista Jim O’Neill lançou o termo BRIC em 2001, não se tinha noção de que a mudança aconteceria tão rapidamente. Uma década depois, a China se tornou a segunda maior potência mundial, enquanto o Reino Unido perdeu seu posto dentre as cinco maiores potências, ultrapassado pelo Brasil. As economias da Índia e da Rússia estão crescendo de forma acelerada. As relações entre países do Sul e o multilateralismo comercial adquiriram uma nova ressonâ ncia. A h iera rqu ia diplomática também sofreu alterações com o surgimento do Brics, e todos os cinco países do grupo são parte do Conselho de Segurança da ONU, como membros per manentes e não permanentes. Quando as negociações sobre mudança climática em Copenhague estavam empacadas em 2009, o presidente norte-americano Barack Obama se reuniu com os líderes dos Basic, grupo que compreende quatro dos Brics - China, Índia, Brasil e África do Sul. Agora, a crise na zona do euro está acelerando a redistribuição de poder e a ascensão do grupo, o poderoso fruto da crise financeira mundial de 2008.
continuação da página 1
Em seis meses, mais de duas toneladas de açaí liofilizado – ou seja, desidratado – foram comercializadas. Com tudo pronto, era hora de debutar no gosto dos russos. A moscovita Dária Beldínskaia, 26 anos, já tinha ouvido falar do alimento, mas tinha medo que fosse algo “alucinógeno”. “Provei na Shokoládnitsa e realmente tem um gosto diferente, exótico. Acho que pode fazer sucesso aqui”, acredita. Já para Anastassia Iakovleva, 25, o açaí lembra muito a frutinha russa airela, mais conhecida por lá como tchernika. “Eles até misturam as
duas frutas nos pratos. Acho que todo mundo vai pensar ‘não precisamos de açaí, já que temos tchernika’”, diz Iakovleva. Mas Lôbova parece ter feito o dever de casa. Antes mesmo de botar o açaí nas ruas russas, já havia pesquisado sobre uma possível confusão com a tchernika. Apesar de parecidas por fora, a versão brasileira tem dezenas de vezes mais propriedades energéticas e benefícios para a saúde bem distintos dos de sua parente russa. “Por suas potencialidades, cada uma habitaria um mundo diferente”, afirma Lôbova. Outros dois outros problemas enfrentados pela importado-
ra foram o evidente desconhecimento do exótico produto brasileiro e a consequente falta de mercado na Rússia. O primeiro, Lôbova contorna com parcerias em lojas de suplementos alimentares e produtos naturais, além de sites de compra coletiva. “Numa dessas ações de venda pela internet, enviamos cinco mil pacotes em três dias. Foi uma loucura!”, diz a russa. No entanto, o segundo ponto é mais difícil de driblar. Para Lôbova, apesar dos “produtos naturais” serem uma tendência mundial, qualquer ação fora de Moscou é muito complicada. “Menos de 5% de nossas vendas vão para São Petersburgo, para você
ter uma ideia. Por enquanto, esta mos só na capita l m e s m o ”, e x p l i c a a empresária. Lôbova não desanima e segue sua cruzada para se tornar a rainha do açaí no maior país do mundo. Para ela, sem um orçamento milionário, é preciso ter cautela e paciência para criar um público local e fazer com que as pessoas conheçam o produto. “A internet é o nosso maior público agora para construir a marca. Não adianta botar o açaí em todas as lojas e não vender nada. Isso seria péssimo. Temos consciência de que é preciso um tempo para isso cair no gosto das pessoas”, diz.
Mesmo sabendo do sucesso da fruta amazônica mundo afora, buscar o mercado da Rússia não deixa de ser uma surpresa. Mas Zuleica Costa lembra que, além dos benefícios à saúde, um dos fatores que contribuiu para o sucesso mundial do açaí foi ju sta mente a sua excentricidade. “É importante ter em mente que o açaí é um sabor exótico para outras culturas, para outros países”, explica Zuleica. “Trabalhamos com o mundo inteiro e foi uma coisa inesperada lançar nosso produto agora também na Rússia. É bast a n t e g r a t i f i c a n t e ”, afirma.
Arquivo pessoal de Maria Lôbova
Empresária quer se tornar a rainha do açaí na Rússia
Maria Lôbova: Tempo para o açaí cair no gosto das pessoas
Economia e Mercado
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Guerra das Colas Coca-Cola abre nova fábrica para reconquistar liderança do mercado russo de refrigerantes
Concorrência impulsiona investimento da Coca-Cola Anastassia kulechova
ESPECIAL PARA gAZETA RUSSA
No final de setembro, a multinacional The Coca-Cola Company abriu mais uma fábrica na Rússia. Situada nos arredores da cidade de Rostov, no sul do país, a nova planta da Coca-Cola se destaca na paisagem local pela forte cor vermelha, sua marca registrada. Os habitantes locais brincam dizendo que nem mesmo sob o comunismo nunca tinha estado ali uma fábrica tão vermelha. Afinal, por mais que quisessem, os comunistas dificilmente conseguiriam estabelecer uma companhia tão potente. Apesar de não ter tanto pessoal empregado, a fábrica pode produzir anualmente 450 milhões de litros da bebida. Além disso, ocupa uma área de 26,5 hectares, podendo abastecer do refrigerante mais famoso do mundo não só a cidade de Rostov, um dos maiores núcleos urbanos no sul da Rússia, mas também as regiões adjacentes. Atualmente, apenas três linhas de produção estão em funcionamento. Mas, até 2014, todas as oito devem entrar em operação. Ainda assim, a usina já produz 78 mil garrafas e quase o mesmo número de latas por hora. Eles também têm o maior sistema de purificação de dejetos industriais da Rússia, capa z de t rat a r 1,6 mil metros cúbicos por dia. A abordagem é a mesma em todas as 15 fábricas da
multinacional americana instaladas na Rússia.
Medo da concorrência?
Mas a intensificação das atividades da Coca-Cola na Rússia tem outros motivos. O interesse da Coca-Cola em mercados emergentes é concreto, e também bastante lógico diante da difícil situação em que se encontram as grandes companhias dos Estados Unidos. Bebidas tradicionais, como a Cola e a Sprite são populares na Rússia, mas a pretensão da Coca-Cola de dominar o mercado local é tão forte que a empresa quer es-
Nova fábrica no país é a 15ª da Coca-Cola, que também vai patrocinar Jogos de Sôtchi em 2014 trear na produção de uma tradicional bebida russa, o kvas (um tipo de refrigerante obtido pela fermentação de fa r i n ha ou pão de centeio). É lógico: o concorrente mais próximo da marca na Rússia, a PepsiCo, detém uma porção do mercado três pontos percentuais maior, ou 29%. Apesar de a PepsiCo ter apenas seis fábricas na Rússia, no ano passado seu potencial produtivo foi potencialmente aumentado com a compra da maior produtora de sucos e laticínios da Rússia, a empresa Wimm Bill Dann. “Quando a PepsiCo adquiriu a Wimm Bill Dann, a situação mudou diametralmente", afirma o analista financeiro Kirill Bezvérkhi. "Acho que a administração da Coca-Cola deve adotar uma nova es-
Rússia lidera exportação de armas para América do Sul
RG
FRASE
Muhtar Kent presidente da The Coca-Cola Company
"
O Brasil é um exemplo brilhante de como tornar uma economia emergente atrativa para o investimento. Por isso, The CocaCola Company decidiu fazer investimentos em mercados emergentes, principalmente nos países do grupo Brics.”
tratégia para buscar a lealdade do consumidor russo e se orientar sobretudo para a juventude como indicador de mercado. Eu recomendaria mais atenção ao segmento de b ebid a s e ne r gé t ic a s”, arremata. Embora o energético Burn esteja na carteira de marcas comerciais da Coca-Cola, sua participação no mercado local é extremamente baixa: não ultrapassa os 15%, enquanto o Adrenaline Rush, da PepsiCo, é de cerca de 30%. A Red Bull vem em segundo lugar, com 25% do mercado. Empenhada em tomar uma fatia dos dois gigantes, a Red Bull começou a vender na Rússia sua própria Cola, com tonificantes.
Apoio oficial
Ultimamente, a mídia oficial tem veiculado uma série de matérias sobre os riscos à saúde das bebidas energéticas. Para um governo que prima por um estilo de vida saudável, a Coca-Cola é protagonista no cenário atual: patrocinadora dos Jogos Olímpicos há 92 anos e, como não podia deixar de ser, também dos Jogos de Inverno de 2014 em Sôtchi.
ria novosti
De acordo com nova estratégia, empresa americana quer passar a fabricar bebida tradicional russa. PepsiCo detém maior fatia do mercado local.
Caminhões da Coca-Cola: empresa quer manter força de sua marca na paisagem russa
THE numbers
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Para o analista político Andrêi Vinogradov, as grandes corporações miram países emergentes não só devido a seus grandes mercados. Outro atrativo seria também a possibilidade de uma colaboração estreita com os governos. “Na maioria dos países ocidentais, tal colaboração seria impensável. A empresa seria logo acusada de um conluio com o governo e de todos os pecados mortais. Aqui na
Rússia, não vemos nada de m a l n i s s o ", a c r e d i t a Vinogradov. A Coca-Cola entrou no mercado russo em 1994, investindo na economia local mais de três bilhões de dólares. Na abertura da usina de Rostov, anunciou a intenção de investir uma quantia equivalente nos próximos cinco anos. De acordo com o presidente mundial da Coca-Cola, Muhtar Kent, a empresa tem
bilhões de litros da bebida vão ser produzidos em Rostov anualmente.
hectares é a área ocupada pela nova fábrica da CocaCola na Rússia
mil garrafas e latas são produzidas por hora na fábrica da cidade de Rostov
140 milhões de consumidores na Rússia e faz o possível para ser parte importante do desenvolvimento econômico do país. Assim, a companhia continua investindo, criando novos empregos e estimulando o crescimento de sua cadeia de fornecedores. “A abertura da usina em Rostov é mais uma prova de nossa intenção de fazer investimentos a longo prazo na economia russa”, afirmou Muhtar Kent.
ENTREVISTA Anton rakhmanov
A economia e o vício em petróleo para diretor do banco Troika-Dialog, riscos macroeconômicos russos ainda são grandes Segundo Rakhmanov, economia russa não está preparada para grandes investimentos de longo prazo. E segue atrás de outros BRIC, como a China e o Brasil.
Troika-Dialog é um dos grandes gestores de investimento russo
nikita dulnev
Quais setores da economia russa são, em sua opinião, os mais subestimados? Entre os países do grupo BRIC, o mercado russo é o mais barato. Na Rússia, o índice preço-lucro (P/L) é de 6, no Brasil, 8,5, na China, 15 e na Índia, 14. As empresas mais subestimadas pertencem às indústrias tradicionais da Rússia: petróleo e gás, metalurgia e mineração. Porque o mercado russo é, neste momento, tão subestimado em relação aos outros, incluindo os países do grupo BRIC? Infelizmente, a Rússia não conseguiu, até agora, vencer seu “vício em petróleo”. Como resultado, são extremamente grandes seus riscos macroeconômicos. Outra questão é a de que o atual preço do barril de petróleo não corresponde ao equilíbrio entre a oferta e a demanda. Pelo visto, os investidores não entendem qual preço é justo para o petróleo face à indefinição das posições dos bancos centrais dos Estados Unidos e dos
itar-tass
gazeta russa
Rakhmanov: "O país não fez nada pelo mercado interno"
principais países europeus em relação à em issão monetária. No Ocidente e na Rússia, os títulos mais lucrativos e arriscados são os de terceira linha. Quão ativos são os investidores estrangeiros na busca desse instrumento do mercado russo? São extremamente inativos, em consequência, talvez, da diminuição de seu apetite pelo risco. De fato, as ações
de segunda e terceira linhas tem muito menos liquidez, portanto, os riscos são maiores. A dinâmica dos respectivos índices é prova direta disso: o índice da bolsa de valores russa, a RTS, sofreu, desde o início deste ano, uma baixa de 6% enquanto a RTS-2, índice de ações de segunda linha, teve uma queda de 13%. Assistimos hoje a uma situação paradoxal. Por um lado, o Federal Reserve nor-
notas
O banco de investimentos Troika-Dialog foi fundado em 1996, quando surgiu na Rússia o mercado de gerenciamento de aplicações. A empresa é gestora de sociedades de investimento de capital variável (SICAV), ativos de fundos de pensão priva-
dos, companhias de seguro, bancos, investidores de varejo, assim como recursos financeiros de diversas fundações e organizações com a participação do Estado. O Troika-Dialog é um os líderes em gestão de previdência privada no país.
te-americano [Fed, o Banco Central dos EUA] realiza uma avultada emissão de dinheiro, mostrando assim o interesse dos EUA em desvalorizar sua moeda nacional para, em primeiro lugar, reduzir sua dívida externa e, em segundo lugar, elevar a competitividade de seus setores exportadores. Por outro lado, há uma corrida maciça dos investidores ao dólar por meio, inclusive, da compra de Obrigações do Tesouro dos EUA. O fato é que, nestas circunstâncias, não há alternativa ao dólar. Os principais bancos centrais, quer o dólar lhes agrade quer não, continuarão mantendo a maior parte de seus recursos investidos em tais instrumentos porque precisam de liquidez. Portanto, os títulos
russos de terceira linha, sendo um instrumento financeiro não líquido, permanecerão subestimados até a mudança do apetite pelo risco dos investidores internos e externos. Como, de modo geral, os investidores estrangeiros avaliam a economia russa? Como um fenômeno único, um mercado emergente como Brasil, China e Índia, ou como um mercado desenvolvido? Infelizmente, a Rússia é encarada como país com uma economia pouco eficaz e dependente das vendas de matérias-primas e que encerra riscos operacionais e de investimento. Se os investidores encarassem a economia russa como fenômeno sem precedentes, ela seria negociada com um prêmio e não
com um desconto em relação aos outros mercados emergentes. Acontece que, neste momento, a Rússia não tem pressupostos macroeconômicos para a chegada ao país de grandes investimentos a longo prazo. A Rússia foi e continua a ser refém da conjuntura global. Com o aumento da instabilidade nos mercados internacionais, os riscos russos crescem em progressão geométrica. O problema é que o país não fez praticamente nada para a constituição e desenvolvimento sustentável de seu mercado e demanda internos, isto é, não fez aquilo que foi feito pela China e está sendo feito pelo Brasil. Além disso, a Rússia ainda não aprendeu a controlar seus gastos públicos internos: os gastos crescem, mas a situação socioeconômica do país continua deplorável. Praticamente todos os setores sociais, educação, saúde pública e outros carecem de investimentos. O setor de administração pública cresceu cerca de três vezes nos últimos três anos e continua crescendo. Como resultado, o governo já assenta suas projeções no Orçamento do Estado em um preço do barr i l de p e t r óle o de 115 dólares.
A Rússia manteve a liderança mundial mundial em volume de divisas nas exportações de armas para a América do Sul nos últimos oito anos, entre 2003 e 2010. A liderança russa foi assegurada pelas vendas de armas à Venezuela que, segundo um relatório da entidade russa de pesquisa Cacimg (Centro de Análise do Comércio Internacional de Material de Guerra), foi responsável por 86,7% das compras de armas russas na América do Sul e Central no período. Outros clientes como a Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, México, Peru, Uruguai e Equador, compraram 13,3% das armas russas na região. As exportações da Rússia para o continente foram de US$ 8,2 milhões em 2003; US$ 18 milhões em 2004; US$ 3 milhões em 2005; US$ 538 milhões em 2006; US$ 1,12 bilhão em 2007; US$ 857 milhões em 2008; US$ 682 milhões em 2009; e US$ 303 milhões em 2010. Os EUA, que exportaram o equivalente a US$ 2,98 bilhões (19,64%), estão em segundo lugar. Em terceiro está Israel, com US$ 1,38 bilhão e 9,1% do mercado. Entre os dez maiores exportadores mundiais de armas para a região nos últimos oito anos, estão a Espanha, com US$ 1,33 bilhão, França, com 1,31 bilhão, Alemanha, com 841 milhões, Reino Unido, com 825 milhões, Brasil, com 707 milhões, e Países Baixos, com 651 milhões. Cacimg
Bolsas do Brics vão formar aliança análoga a ocidentais A Bovespa, a Bolsa Interbancária de Câmbio de Moscou (MMVB, na sigla em russo), a corporação de bolsas de Hong Kong, a Bolsa de Valores de Johannesburgo (JSE), a Bolsa indiana NSE e a Bolsa de Valores de Mumbai anunciaram, durante a 51ª reunião anual geral da World Federation of Exchanges (WFE), em Johannesburgo, sua intenção de criar uma aliança. No início, as bolsas integrantes da aliança terão listagens cruzadas de derivativos de índices. Assim, cada uma das bolsas aliadas poderá negociar contratos futuros sobre os índices de ações de suas congêneres. A futura aliança tem como objetivos o aumento da liquidez e a atração de i nvestidores internacionais para os mercados emergentes. Segundo especialistas, a iniciativa das bolsas do Brics é uma reação aos processos de união entre as bolsas London Stock Exchange e Toronto Stock Exchange e entre as bolsas Nyse Euronext e Deutsche Boerse. A Ásia do Pacífico só está entrando no processo de fusões e aquisições (M&A): estão à procura de parceiros para fusão as bolsas de Hong Kong, Cingapu r a e du a s bol s a s australianas. Das agências de notícias photoxpress
Especial
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Ecoturismo Paraísos naturais russos são meta de preservação de alguns e fonte de renda para outros
Turismo nos rincões da Rússia
Veja slide show em www.gazetarussa.com.br ALAMY/LEGION MEDIA
Turista acampa à beira do Lago Dlinnoe, República Altai, Rússia. Apesar da pouca infraestrutura, locações atraem visitantes
DARIA GONZÁLEZ GAZETA RUSSA
Maria Guerassimova acaba de voltar a seu apartamento em Moscou depois de uma viagem de duas semanas ao lago Baikal, na Rússia Central. A empresa de consultoria onde trabalha envia todos seus funcionários para um passeio pela taiga com o intuito de melhorar o espírito de equipe. De volta à capital, Guerassimova já sonha com a próxima viagem: “Na próxima vez, irei à península Kamtchatka”. No imaginário russo, viajar ao campo, atividade muito popular na União Soviética dos anos 1980, significa carregar nas costas uma mochila de 50 quilos, montar a barraca de acampamento sobre um formigueiro e cantar acompanhado de violão perto de uma fogueira. “A taiga não é uma savana onde se pode ver um elefante a cada quilômetro. Além disso, o bisão é um animal que não se deixa fotografar. Aqui você anda uns 700 quilômetros e só vê mosquitos”, reclama uma colega de Guerassimova a quem a viagem não causou tanto entusiasmo. Há tempos o ecoturismo é um meio de diversão comum em muitos países, e cidadãos urbanos do mundo todo se embrenham na natureza em
Território verde
busca do ar puro das montanhas e da tranquilidade dos bosques. A prática, apesar de crescente, ainda é nova para os russos. A Organização Mundial do Turismo estima que o faturamento anual do setor supere o equ iva lente a R$ 2,3 bilhões. Desses, entre 10% e 20% correspondem ao ecoturismo, que atrai cada vez mais gente. As paisagens russas, apesar do grande potencial para o desenvolvimento desse tipo de turismo, têm um nível de preservação longe do ideal.
da Curlândia, situado quase no centro da Europa. De um modo geral, contudo, deve-se somar ao preço das excursões o custo dos voos de longa distância. Fora isso, nas reservas que têm potencial turístico há pouquíssimos aeroportos internacionais. O principal meio de transporte para o ecoturista alcançar a península Kamtchatka ou na região oriental russa da Iakútia é o helicóptero.
Estado vai injetar R$ 83,9 milhões em 12 áreas prioritárias do ecoturismo nacional
Acesso a áreas potenciais é dificultado pela falta de aeroportos, estradas e motoristas
No país, o turismo verde não só é viável, mas também se tornou um mercado imprescindível para muitas regiões. O problema latente agora está em satisfazer os interesses do homem e preser va r a natureza. Além de não oferecerem o impressionante espetáculo de animais selvagens soltos na natureza para observação, como na África, a enorme extensão da Rússia, por vezes, afasta turistas potenciais. Existem algumas exceções, como Pr imórski, a ilha Sakhalin e as ilhas Kurilas, regiões muito próximas ao Japão e à Coreia do Sul, além da Carélia, que faz fronteira com a Finlândia, e o istmo
qualidade aos turistas, ainda é preciso desenvolver uma infraestrutura adequada que responda às necessidades de transporte, comunicação, hospedagem e assistência médica. Uma rota ecológica moderna deve permitir aos turistas desfrutar de uma estadia confortável, sem que isso cause danos ao meio ambiente. Na Rússia em geral, entretanto, a natureza só tem sido preservada em áreas onde não há população permanente ou complexos habitacionais modernos com água quente e esgoto. A falta de motoristas qualificados é outro problema, pois a quantidade de autoescolas dedi-
Infraestrutura
Para prestar um serviço de
cadas à formação de especialistas no setor é insuficiente. Hoje, a Academia de Turismo da Rússia e a Universidade Internacional Independente de Ecologia e Ciências Políticas são os únicos centros que oferecem formação acadêmica específica relacionada ao setor.
Voluntarismo
Guerassimova e seus colegas de trabalho viajaram até a reserva natural de Tankhôi, na região oriental da Buriátia. O local integrará a Grande Trilha do Baikal, com uma série de rotas ao redor do lago ligando reservas especialmente protegidas da região. Por iniciativa própria, voluntários e funcionários da reserva natural do Baikal construíram t r i l h a s e s p e c i a i s pa r a cadeirantes. Nos últimos anos, a exploração descontrolada do local provocou uma deterioração alarmante do ecossistema do lago. Além disso, o financiamento público dos projetos de revitalização está em fase muito preliminar. Em uma reunião recente, o primeiro-ministro, Vladímir Pútin, e o ministro dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente, Iúri Trutnev, decidiram canalizar investimentos em programas que visem a melhorar as áreas de algumas reservas naturais durante o período de 2013 a 2020. Foram selecionadas 12 áreas prioritárias: dez reservas naturais e dois parques nacionais. A previsão é que, até o ano de
Parques nacionais
2013, o número de visitas praticamente dobre, passando de 6,5 para 12 milhões. A iniciativa, porém, não agradou ambientalistas. “Quando discutiram esse tipo do turismo tão na moda, o primeiroministro e o ministro do Meio Ambiente se esqueceram dos problemas reais das áreas protegidas, como os baixos salários dos funcionários, a degradação do meio ambiente, a falta de recursos materiais e as constantes tentativas de reduzir o território dessas áreas”, diz Mikhail Kreindlin, diretor de um projeto do Greenpeace na Rússia para as áreas natu rais especialmente protegidas. Enquanto ecologistas batem de frente com o governo, os ecoturistas russos trabalham voluntariamente na construção de vias para deficientes, na limpeza dos rios e na proteção de espécies ameaçadas de extinção. Em agosto, um grupo de voluntários limpou algumas baías do mar de Barents. “Creio que só existam duas maneiras de impedir que o homem continue prejudicando o meio ambiente”, diz um dos participantes da operação, Dmítri Dementiev. “A primeira é proibir aos cidadãos o acesso a toda essa beleza natural, aplicando um sistema quase militar que restrinja a liberdade de circulação pelo país. A segunda, e mais desejável, é que cada um de nós, de maneira individual e coletiva, se conscientize da import â n c i a d e r e s p e it a r a natureza.”
Na URSS, o campo era o caminho Em nenhum outro país do mundo o turismo de ação e esportes - equivalente ao turismo de aventura dos países ocidentais - desenvolveu-se tanto como na União Soviética. Em 1989, cerca de 20 milhões de pessoas, entre estudantes, jovens trabalhadores e outros setores da população de renda relativamente baixa, usavam seu tempo livre em excursões ao campo ou às montanhas. A partir de 1990, a demanda por viagens desse tipo dentro do país diminuiu consideravelmente já que, depois de décadas sem poder viajar ao exterior, os russos preferiam visitar outros países nas férias. Outra razão para a queda do turismo interno foi a interrupção do financiamento público na década de 1990.
RIA NOVOSTI
Com pouca infraestrutura mas procura crescente, ecoturismo vive surto de investimento e vira alvo de preservacionistas.
Nos últimos anos, o governo tem se esforçado para recuperar o tempo perdido, e em 2010 o assunto foi debatido em uma viagem do primeiroministro Vladímir Pútin à península Kamtchatka. No final de agosto deste ano, Pútin e o ministro dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente, Iúri Trutnev, reuniramse para debater o assunto. No encontro, os líderes assinaram um acordo de investimento de 1,5 bilhões de rublos (R$ 83,9 milhões) para melhoria de 12 áreas protegidas. Pútin e Trutnev também examinaram outros programas voltados à promoção desse novo mercado turístico, aos quais serão destinados até 2020 cerca de 800 milhões de rublos anuais (R$ 44,7 milhões).
Opinião
Gazeta Russa
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Eugene Ivanov
comentarista político
A
lguém ainda acredita que as eleições do dia 4 de dezembro para a Duma (a câmara dos deputados da Rússia) sejam relevantes? Se alguém pensar que sim, deve pertencer a uma reduzida minoria, já que o anúncio de que Vladímir Pútin está retornando à presidência na próxima primavera tem consumido toda a atenção do cenário político. Com Pútin e Dmítri Medvedev predestinados a se tornarem os próximos codirigentes do todo-poderoso Executivo russo, quem se importaria com a composição de um órgão legislativo inferior, cuja única função, de acordo com a crença generalizada, é imprimir as ordens do Executivo – um corpo que seu próprio portavoz define como não sendo um “lugar para d iscussões políticas”? A Duma tem importância – assim como a eleição que define seus integrantes –, principalmente na elaboração do orçamento do Estado. Além disso, oferece uma platafor-
ma adequada para as regiões pleitearem suas necessidades perante o governo federal. Isso atrai à Duma inúmeros lobistas que representam interesses específicos. Toda região ou cidade grande vislumbra a necessidade de ter um representante na Duma. Além disso, a posição de deputado na Duma carrega consigo algum prestígio – bem como imunidade. Muitos empresários ricos procuram se filiar à Duma para elevarem seu perfil público e se protegerem de processos criminais. Os parlamentares brigam – literalmente – pela oportunidade de ser eleitos, geralmente vitimando alianças políticas durante a disputa. Por exemplo, ao saber que tinha sido excluído da lista eleitoral do partido Rússia Unida, um velho membro do partido, Serguêi Chichkariev, ofereceu suas habilidades legislativas ao Partido Comunista. Depois de uma avaliação cuidadosa, os comunistas recusaram a generosa oferta. Especialistas preveem que a composição da próxima Duma seguirá a fórmula “3+2”. Quer dizer: apenas três partidos políticos irão superar a margem de 7% exigida para entrar na
Câmara Baixa do parlamento e formar facções de pleno direito na Duma. Além disso, outros dois partidos irão obter entre 5% e 7% dos votos e, de acordo com mudança recente na lei eleitoral, ocuparão um ou dois assentos. A santíssima trindade dos partidos cuja presença na Duma é apenas uma garantia será composta pelo Rússia Unida, pelo PC (Partido Comunista) e pelo PDL (Partido Democrático Liberal). Entendendo que seus lugares na Duma estão garantidos – e cientes de que não terão permissão para constituir bancadas cujos tamanhos ameacem o domínio do Rússia Unida –, o PC e o PDL decidiram conduzir campanhas eleitorais moderadas. Os programas eleitorais de ambos representam a convencional mistura de generosos gastos públicos com uma leve crítica ao Rússia Unida – mas não a Vladímir Pútin pessoalmente. Nenhum dos programas inclui quaisquer propost a s ou sad a s ou me smo originais. Aguardando ansiosamente pela eleição, o PC conta com a lealdade perene de seu público e com uma sólida rede de organizações par-
aleksei iorsh
Quem liga para as eleições da Duma?
tidárias regionais, enquanto o PDL, como de costume, irá se aproveitar das divertidas aparições televisivas de seu líder, Vladímir Jirinóvski. O partido Causa Direita, depois de expulsar seu líder e principal patrocinador, Mikhail Prôkhorov, em um golpe interno, perdeu qualquer chance de entrar na Duma, e a eleição será particularmente difícil para o partido Rússia Justa. Depois da saída de seu líder, Serguêi Mironov, do comando do Conselho Federal, o partido perdeu suas fontes administrativas do passado. Além disso, as deserções de altos membros do partido e finan-
ciadores o têm enfraquecido ainda mais. Assim, o inesperado vencedor da próxima eleição pode vir a ser o moribundo partido Iábloko. De acordo com rumores que circulam por Moscou, a gestão presidencial não abandonou completamente a ideia de ter um partido liberal na próxima Duma. Depois de exterminar o projeto Prôkhorov, o Kremlin voltou sua atenção ao Iábloko e decidiu nomear o respeitado economista Grigóri Iavlínski, considerado liberal, como líder do partido. O Iábloko pode, portanto, se unir ao Rússia Justa e se tornar o segundo “minipartido” na Duma,
seguindo a fórmula “3+2”. A grande dúvida que resta é se o Rússia Unida será capaz de vencer a maioria constitucional. No passado, para alcançar essa posição, o partido contava com dois importantes fatores: a popularidade de Pútin e a excelente máquina de campanha eleitoral do Rússia Unida. Neste ano, dois fatores adicionais entraram no jogo: a Frente Popular da Rússia de Pútin e a liderança de Medvedev na lista eleitoral do Rússia Unida. Mas o burburinho em torno da criação da Frente Popular não conseguiu, até agora, aumentar os índices decrescentes do Rússia Unida e, pelo
menos por enquanto, a substituição do nome de Pútin pelo de Medvedev nas cédulas de votação tem apenas confund ido o s d i r i g e nt e s d a campanha. Os acontecimentos recentes apresentam um desafio para o próprio Medvedev. Por um lado, como presidente, ele prometeu garantir uma eleição limpa e honesta. Por outro, seu futuro na política depende agora dos resultados que o Rússia Unida obtiver em dezembro. Evguêni Ivanov é comentarista político em Massachusetts e redator do blog The Ivanov Report.
Fortes emoções nas trocas do poder Dmítri Babitch
analista político
A
troca de postos entre Pútin e Medvedev, anunciada no congresso do partido Rússia Unida, foi uma espécie de operação cirúrgica que desencadeou fortes emoções no Kremlin e na sociedade. Do mesmo modo, a subsequente entrevista do presidente Dmítri Medvedev aos diretores de três grandes canais de televisão da Rússia, foi uma espécie de tranquilizante pós-operatório. Medvedev esclareceu que ambos concordaram em inverter suas posições, mas que tudo poderia mudar caso o ânimo da população fosse alterado com a notícia. Medvedev tentou basicamente fazer com que toda a operação parecesse mais democrática do que a impressão causada no congresso do Rússia Unida. Repito aqui um trecho do discurso de Medvedev durante a entrevista: “As decisões do congresso do Rússia Unida são apenas recomendações. Recomendações de um partido po-
lítico para apoiar duas pessoas nas eleições e nada mais. A escolha é do povo. Qualquer líder político pode fracassar nas eleições”. Durante sua entrevista, Medvedev foi fiel ao seu princípio de evitar os extremos, tentando traçar um equilíbrio entre a direita e a esquerda do espectro político. Basicamente, o atual presidente perseguiu dois objetivos. O primeiro foi deixar claro que nenhuma discordância entre ele e Pútin colocará a soberania da Rússia em perigo. Durante muitos anos, a oposição liberal e alguns grupos estrangeiros tiveram a esperança de que uma ruptura entre Pútin e Medvedev pudesse ser tão devastadora quanto as divisões dentro da equipe de Gorbatchov. Isso não aconteceu. Na entrevista, Medvedev também disse que essa prática – dois homens trabalhando pelo
nos detalhes, são excepcionalmente unidas em questões de princípio, tais como controle e contenção do poder, bem como quem irá controlar o dinheiro. Nesse caso, a Rússia não é muito diferent e de out r o s pa í s e s civilizados. O segundo motivo da entrevista foi mobilizar o eleitorado, ou seja, dizer às pessoas que “ainda nada foi decidido”. Esse objetivo é muito mais difícil de ser atingido do que o primeiro. O problema é que a Rússia ainda está bem longe de ser uma democracia multipartidária completamente funcional e o próprio Medvedev reconheceu isso diversas vezes – assim como Pútin também já o havia feito.
bem da organização política – não era uma exclusividade da Rússia, desenhando paralelos com Hillary Clinton e Barack Obama. No c a s o nor t e americano, existia uma concorrência real entre os dois políticos citados, mas, na essência, Medvedev está certo. As elites ocidentais, ainda que diferentes
economista
A
s ações do primeiroministro islâmico da T u rqu ia, Recep Tay yip Erdogan, quase todos os dias chamam a atenção da imprensa internacional. Ele prega democracia para os egípcios, ameaça Israel com ações navais, promete aos palestinos reconhecer seu ainda inexistente Estado e declara publicamente que cortou relações com o nãotão-poderoso presidente da Síria, Bashar al-Assad. Em uma entrevista recente à
No geral, acredito que a entrevista do presidente foi realista. Medvedev não é um novo Mahatma Gandhi ou Martin Luther King. Eu diria que é um político comum e moderno, em busca de seu objetivo dentro de suas competências e das oportunidades que lhe foram dadas considerando a história do país. De certo modo, Medvedev cumpriu sua função. Em 2008, quando ele chegou ao poder, deu um fim ao evidente surto nacionalista da época. Em 2009, lançou um programa de concorrência dentro do sistema político. Nunca conseguiu implantálo até o fim, mas tentou, e creio que a história acabará valorizando essa iniciativa. Já podemos tirar algumas conclusões de sua carreira como presidente, que está entrando no estágio final. Medvedev fez o que pôde. Não podemos repreendê-lo por não fazer aquilo que não estava a seu alcance. Dmítri Babitch é colunista da agência de notícias RIA Nóvosti.
Uma injeção de valores na Europa Konstantin von Eggert
Em países civilizados, a democracia é vista com uma dose de imprevisibilidade limitada, o que significa que, mesmo perdendo poder, é certo que o partido não vai enfrentar repressões e não haverá redistribuição da propriedade privada. Na Rússia, o sistema político ainda não é estável, mais precisamente porque o país passou por certos momentos de turbulência nas décadas de 1980 e 1990, quando a propriedade privada passou, de fato, para outras mãos. Além disso, no país, a estabilidade política é vital para a atividade econômica da sociedade. Como não há garantia de que a propriedade privada não será redistribuída, a elite russa está constantemente tentando controlar o poder político em vez de partilhá-lo com novatos.
revista Time, o premiê deu a entender que, se finalmente aceito pela União Europeia, o país poderia muito bem se tornar um parceiro menos complacente e mais exigente. E por que não? Erdogan e sua equipe possuem uma visão para a Turquia que, embora ainda se trate de um trabalho em progresso, é muito mais coerente, inspiradora e completa do que quaisquer líderes da UE – invariáveis, monótonos e indecisos – poderiam sugerir para seu povo. É a perspectiva de um país que sinceramente defende o Islã e, ao
mesmo tempo, está confortável com outras crenças, opiniões e costumes. A agenda de Erdogan é baseada em valores, em difundir a influência política e econômica do país pelo Mediterrâneo e tomar suas próprias decisões para o futuro. Isso vai além de se juntar a um grande grupo de nações díspares, tentando, em vão, resgatar um Estado com a população do tamanho de Istambul, e, paralelamente, alimentar a burocracia de Bruxelas que pretende ditar o formato dos ovos para os fazendeiros na Dinamarca e regular a venda de álcool
para populações indígenas da Lapônia, na Finlândia. Que o sistema secular e severo da Turquia, garantido e apoiado pelos militares, estava fora de sintonia com os novos tempos, já estava claro antes mesmo do ex-prefeito de Istambul se destacar na cena política nacional na década de 1990. Mas também é certo que a elite secular e adoradora de Ataturk – fundador da República da Turquia – não conseguiu compreender isso. Agora, o Partido Justiça e Desenvolvimento de Erdogan conseguiu cessar o movimento anterior. Nas palavras de um amigo meu, professor de
ciência política em uma das principais universidades privadas da Turquia, “o primeiro-ministro está usando slogans democráticos para mudar o sistema e, assim, consagrar a posição de liderança dos muçulmanos na política da Turquia durante os anos, senão pelas décadas que estão por vir”. Erdogan conduz uma implacável caça às bruxas contra os militares – e recebe aplausos da UE por remover os fardados da política. Ele pede eleições diretas para presidente, preparando-se para escorregar na cadeira de chefe de Estado e, em breve,
dar continuidade a sua carreira futuro adentro. Mas o que mais deveria preocupar a todos é sua perseguição a jornalistas – há deze n a s de le s n a c ade ia, frequentemente sob acusações frágeis ou forjadas. O primeiro-ministro também enche o Judiciário de simpatizantes do Justiça e Desenvolvimento. Sua política externa parece errática e propensa a slogans – na melhor das hipóteses –, ou até imprudente. O gosto do primeiro-ministro da Turquia pelo populismo e pela adulação popular também é motivo de preocupação. Ao mesmo tempo, é preciso admitir uma coisa – ele sabe a hora de parar. Erdogan voltou atrás na sua promessa de visitar a faixa de Gaza, con-
trolada pelo Hamas, em solidariedade aos palestinos, embora as autoridades egípcias estivessem prontas para abrir as fronteiras para ele. Recentemente, também implantou radares norte-americanos em solo turco, em conformidade com as imposições da Otan. Por esses motivos, ainda não é possível julgar o futuro do independente líder turco. Ele pode muito bem se tornar um grande reformador, influenciando sociedades muçulmanas por todo o mundo. Mas também pode se mostrar um político com fome de poder que irá arruinar a democracia turca e desestabilizar o Mediterrâneo. Konstantin von Eggert é comentarista da rádio Kommersant FM.
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Em Foco
GAZETA RUSSA
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ENTREVISTA CIDE PIQUET
Dostoiévski e outros russos em português UM DOS RESPONSÁVEIS PELA COLEÇÃO LESTE, EDITOR CONTA TRAJETÓRIA DO PROJETO E PLANOS PARA O FUTURO MARINA DARMAROS GAZETA RUSSA
Como e quando começou a coleção Leste? A coleção começou em 1994. A princípio, a ideia não era publicar literatura russa somente, não em peso, como a gente faz hoje. A ideia era publicar autores do Leste europeu desconhecidos: literatura húngara, tcheca, que é pouquíssimo conhecida aqui. O projeto é do [poeta, tradutor e ensaísta] Nelson Ascher, que era o coordenador da coleção. Começou com esse perfil, tem uma meia dúzia de livros que a gente lançou, como [o tcheco] Karel Capek, entre outros. São poucos, mas são livros muito bons e teve gente que nessa época já virou meio fã da coleção. Só que, depois, já no final da década de 1990 a gente lançou um livro do poeta russo Aleksandr Púchkin, que era uma tradução do Nelson As-
LUNAÉ PARRACHO
Com 29 russos de um catálogo total de 32 títulos, a coleção Leste é um dos grandes sucessos da Editora 34. O editor Cide Piquet, que trabalha há 12 anos na casa e é um dos responsáveis pela coleção hoje, recebeu a Gazeta Russa para contar um pouco do projeto às vésperas do lançamento de O Duplo, de Fiódor Dostoiévski, e Minha Vida, de Anton Tchekhov. E já adiantou que um dos próximos projetos da editora são os contos de Kolimá, de Varlam Chalamov.
Com 14 títulos de Dostoiévski, editora quer esgotar principais romances do escritor russo
cher com o Boris Schnaiderman. Com o lançamento do Púchkin os russos começam a entrar na história. Na verdade, o Boris entra, e isso é muito importante, porque pouco depois a gente publicou um livro do escritor Anton Tchekhov, a primeira tradução só do Boris que a gente publicou por aqui. A essa altura, o Boris praticamente não traduzia mais, então começamos a republicar e reeditar traduções antigas. Mas o mais importante foi estabelecer esse contato e essa parceria com o fundador dos estudos de tradução de russo no Brasil, o primeiro e maior tradutor na área.
E literatura moderna? A literatura moderna está no forno! Procuramos mais tradutores, ampliar o leque de autores também, porque antes tinha Tchekhov, Dostoiévski... Então começamos a publicar outro tipo de material do próprio Tchekhov, do Gógol e também, com tradução de Paulo Bezerra, o Nikolai Leskov – um escritor super importante, que o Walter Benjamin cita no ensaio O Narrador–, o Vladímir Maiakóvski e vamos publicar ainda neste ano uma coletânea de Leskov traduzida pelo Noé Silva, professor da USP. Essa é uma preocupação nossa. Já que a coleção está
RAIO X QUEM É: O principal editor da Coleção Leste da Editora 34. IDADE: 34 anos CIDADE NATAL: Salvador Bahia FORMAÇÃO: Letras na USP PRÊMIOS: Selo Altamente Recomendável para Jovens da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
indo tão bem, a gente tem condições de apostar um pouco, de lançar autores novos e menos conhecidos. É claro que está sendo um risco, porque a gente sabe que Dostoiévski
RECEITA
e Tolstói sempre vão vender. Por outro lado, o sucesso da coleção dá essa confiança.
Uma opção clássica para a hora do chá
Quais as dificuldades na implantação da coleção? A 34 faz um trabalho quase artesanal. O que diferencia a editora é realmente essa preocupação com a qualidade. Então é uma opção da editora lançar menos títulos com mais qualidade. A gente lança de 20 a 30 títulos por ano, o que não é pouco, mas lógico que não se pensando na Cia. das Letras ou na Cosac & Naif, que devem estar publicando cerca de 100 títulos por ano. Já há alguns anos, escolhemos essa opção e ficar nesse formato que sempre fizemos, que a gente gosta e sabe fazer bem, que é publicar tudo com muito cuidado. E o grande trabalho para nós é o texto de fato – o projeto gráfico, é tudo muito cuidadinho, mas o texto é o que toma mais tempo, é o processo mais meticuloso. No caso da coleção, por ser uma língua mais distante, acho que a tradução é de fato a maior dificuldade. Também porque não é uma língua para a qual se tenha milhões de tradutores, então temos de escolher com cuidado cada projeto.
Irákli Iosebashvili
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Elas são bebidas que melhoram o humor e proporcionam uma perspectiva mais positiva da vida. Acredita-se que ambas tenham notáveis propriedades medicinais, recomendadas como cura popular para tudo, de bronquite a furúnculos, e seria impensável para a maioria das pessoas bebê-las sem um acompanhamento. Porém, as semelhanças acabam por aí: enquanto uma dose ardente de vodca é geralmente acompanhada por alguma conserva, uma xícara de chá quente exige algo igualmente reconfortante, e é então que entra o prianik. O prianik é um bolinho de gengibre e mel geralmente servido junto com o chá na Rússia. Os mais simples se parecem com cookies, porém mais grossos e cobertos por glacê branco. Já as opções mais elaboradas, como o famoso prianik da cidade de Tula, a 200 km de Moscou, são como fatias de pão de forma, marcados com prensa de madeira que produz desenhos sobre sua superfície. Foi só no século passado que os bolinhos prianik passaram
Como é o sucesso da coleção em termos de vendagem? No começo, com outros autores do Leste europeu, até era uma coleção que tinha seus fãs, mas em termos comerciais não era nada demais. O boom comercial foi de fato com o Dostoiévski, com Crime e Castigo. Notas do Subsolo já era um livro que vendia bem, mas ganhou dimensão exepcional com Crime e castigo e continuou com Os Demônios, Irmãos Karamázovi etc. Nosso best-seller até hoje deve ser Divina Comédia, do Dante, mas os do Dostoiévski estão sem dúvida entre os que mais vendem da editora. A tiragem média aqui é de 3 mil exemplares, mas no caso do Dostoiévski aconteceu de a gente fazer tiragem de 5 mil porque sabia que ia vender. No caso dos Karamázovi fizemos tiragem de 10 mil que vendeu em um mês e depois continuou fazendo mais e mais.
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Ingredientes:
• 1 ½ xícara de farinha; • ½ xícara de mel; • ¼ xícara de manteiga; • 2 colheres de sopa de fermento em pó; • ¼ colher de sopa de cardamomo, canela e gengibre; • ½ xícara de geleia de qualquer sabor (consistência grossa); • ½ xícara de água;
Museu subterrâneo As atrações do metrô de Moscou
Mais de 300 quilômetros de história e arte no metrô Vencedor de prêmios internacionais, sistema metroviário tem esculturas, mosaicos e 76 anos de arquitetura russa e soviética.
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Calda de açúcar Ferva a água e, em seguida, dissolva o açúcar na água fervente. Quando o açúcar estiver completamente dissolvido, retire a panela do fogo. Massa Acrescente o mel derretido, a
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Distribuídas por estações que vão de cinco metros (estação Petchátniki) a 80 metros (Park Pobedi) de profundidade do solo, Moscou tem quase oitenta anos de histórias contadas em mármore e granito, ferro e vidro, gostos, sonhos e decepções. O transporte metroviário moscovita começou a ser construído em 1931, embora os primeiros projetos dos engenheiros Piotr Balinskov e Evguêni Knorre tenham sido sugeridos à Duma (Câmara dos Deputados) em 1902. Mas só em 15 de maio de 1935 entrou em funcionamento sua primeira linha, que seguia de Sokôlnikov a Dvorets Sovietov (hoje, Kropotkinskaia). Tinha 11 quilômetros e incluía 13 estações. Hoje, o metrô de Moscou conta com mais de 300 quilômetros de trilhos, 12 linhas e 182 estações. Pelos planos de desenvolvimento da cid a d e , at é 2 0 2 0, s e r ã o con st r u ídos ma is 120 quilômetros.
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Sofisticação e ideologia
As primeiras estações construídas em meados dos anos 50 eram como ricos palácios para o povo, com acabamento de mármore, gesso e um caro material esmaltado de aviação – o país não tinha capacidade de produzir azulejos para revestir seus mais de mil metros quadrados. A rica decoração foi um meio de glorificar o novo país soviético que se erguia como superpotência. Bons exemplos de arquitetura subterrânea do primeiro período são as estações construídas entre 1937 e 1955. Na Maiakóvskaia e na Novokuzniêtskaia chamam a atenção os painéis de mosaicos no teto, croquis do pintor Aleksandr Deineka, “O diaa-dia dos países soviéticos” e “O trabalho heroico do povo soviético na retaguarda”. Na Praça da Revolução, em meio a 76 esculturas de trabalhadores, militares e camponeses, a atração principal é um soldado e seu cachorro. Quem por passa por ali, toca o focinho para ter sorte. Em meio ao bronze escurecido, o nariz do animal reluz. A era de ouro da arquitetura russa terminou em 1955, com a publicação de uma resolução do Partido Comunista con-
NÚMEROS
7 mi
de pessoas usam o metrô de Moscou diariamente. É a cidade que tem o maior número de usuários do mundo.
10 mil
trens ligam 182 estações por 12 linhas de metrô em Moscou. A extensão total atinge 320 quilômetros
Estação Komsomólskaia do metrô de Moscou
denando o suposto excesso das obras. Os prédios quadrados de cinco andares construídos a partir de então refletiam o estilo – ou a falta dele – da época. “Nossa arquitetura sobre a terra e abaixo dela seguem exatamente os mesmos caminhos”, explica o arquiteto-chefe do metrô moscovita, Nikolai Tchumakov. Sob o slogan “Quilômetros à custa da arquitetura”, foram construídas estações comuns e enfadonhas. Basta observar estações das décadas de 1960 a 1980, como Tverskaia, Kitai-
Gorod e Kolomenskaia. A terceira etapa de desenvolvimento do metrô, a “renascença”, começou em 2002, na estação Vorobiôvi Góri, toda em vidro, com privilegiada vista do rio Moscou. Na estação Sretênski Bulvar, aparecem silhuetas de Aleksandr Púchkin e Nikolai Gógol. Na nova Dostoiévskaia, painéis de pedra reproduzem os heróis dos romances O Idiota, Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov. “Queremos tirar as estações do confinamento”, afirma Chumakov.
a ser consumidos como acompanhamento para o chá. Nos tempos antigos, eles eram item indispensável de qualquer ocasião festiva, sendo consumidos em nascimentos, feriados e casamentos. Tradicionalmente, os recém-casados levavam um prianik aos pais da noiva dias depois do casamento. A demanda por prianik era tamanha que eles geraram uma nova profissão: o prianichnik era um tipo de artesão respeitado que passava as receitas secretas da família de geração para geração. Por razões desconhecidas, a cidade de Tula se tornou a capital russa do prianik. Ali, nos séculos 17 e 18, os melhores prianichnik levaram a arte de preparar o prianik ao seu apogeu, criando versões em todos os formatos imagináveis. O famoso museu Túlski Prianik ainda permanece em Tula até os dias de hoje - assim como o museu do samovar, artigo indispensável para o chá russo nos tempos antigos. Aproveite essa receita clássica de prianik, extraída diretamente dos livros do museu. E não se esqueça da xícara de chá para acompanhá-la!
manteiga, o fermento e a canela à massa, sovando o quanto for necessário. Polvilhe a farinha sobre uma superfície plana e, com o auxílio de um rolo, abra a massa com uma espessura de pouco menos que um centímetro. Corte a massa em retângulos. Espalhe uma generosa colher de sopa de geleia sobre um retângulo de massa e depois cubra-o com outro retângulo, selando as bordas para evitar que escorra. Coloque os biscoitos em uma assadeira untada e asse-os por 10 minutos a 175°. Diminua a temperatura do forno para 160°, e asse-os por mais 5-10 minutos. Pincele os biscoitos com a calda de açúcar quando já tiverem esfriado.
CALENDÁRIO CULTURAL E EMPRESARIAL 35° MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
Inocente (2011), Sombras dos Ancestrais Esquecidos (1965) e The Stoker (2010).
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Além do esperado Fasto (2011), de Sokurov, o festival conta com 20 títulos russos ou de coprodução russa. Entre eles, Aleksandr Sokurov, Questão de Cinema (2009), A Cor da Romã (1968), Dieci Inverni (2009), Elena (2011), Krustalyov, Meu Carro! (1998), A Lenda da Fortaleza Suram (1986), Meu Amigo Ivan Lapshin (1986), Movimento Reverso (2010), O Patinho Feio (2010), O Primeiro Rapaz (1959), Sábado
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