Gazeta Russa 11.2011

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Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), Clarín (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

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Clube Anji Makhatchkalá quer ser o Real Madrid do Cáucaso.

Marcha Russa nacionalista choca país ao reunir nova ala familiar.

P. 3 segunda-feira, 28 de novembro DE 2011

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Economia e Mercado

reuters/vostock-photo

Política e Sociedade ria novosti

Esporte

Fábrica brasileira de freezer amplia operações na Rússia. P.4

PRODUzido por RUSSIA BEYOND THE HEADLINES

Investimento Terceira maior da Rússia, petrolífera TNK-BP adquire 45% de concessões à brasileira HRT O&G

Atrás do petróleo amazônico

Com compra de concessões sobre 21 blocos da Bacia do Solimões, TNK-BP inaugura investimento no setor petrolífero brasileiro.

Notas Russa Gazprom quer bater Petrobras em investimentos

Víktor Kuzmin especial para gazeta russa

continua na Página 4

reuters/vostock-photo

getty images/fotobank

Foram precisos dois anos desde que uma delegação brasileira apresentou o potencial de investimentos do setor de energia em Moscou, mas o acordo entre a TNK-BP (empresa com 50% de capital da britânica BP e 50% do consórcio russo AAR) e a brasileira HRT O&G finalmente saiu. A compra foi realizada no dia 31 de outubro, pela subsidiária brasileira da TNK. O acordo de US$ 1 bilhão finaliza a transação entre a TNK-BP e a Petra Energia detentora dos direitos de exploração operados pela HRT - sobre a aquisição de 45% do potencial da bacia. A TNKBP se mostrou mais ágil do que a estatal Gazprom, primeira empresa russa a mostrar interesse pelos recursos energéticos do Brasil.

Primeira companhia russa a mostrar interesse no Brasil foi a Gazprom, mas TNK-BP inaugurou investimento no setor petrolífero do país

Tecnologia País começa a receber novas máquinas para recarga de celular e pagamentos diversos

Terminais múltiplos chegam ao Brasil Raphael veleda especial para gazeta russa

A satisfação do dia de pagamento é acompanhada por um bocado de melancolia para boa parte dos brasileiros, que precisam enfrentar longas filas em bancos e casas lotéricas para pagar as contas cotidianas: água, luz, telefone, gás, internet, TV a cabo... Nesse mercado nebuloso, uma empresa russa, a MegaPay, tenta se inserir espalhando

terminais de pagamentos múltiplos em locais de grande circulação de pessoas na Grande São Paulo. Segundo a companhia, serão mil máquinas até o ano que vem. O primeiro serviço oferecido pelos terminais no mercado brasileiro é a recarga de créditos em celulares pré-pagos. A empresa já fechou contrato com as operadoras Vivo e Claro e negocia com Tim, Oi e Nextel. As operadoras de TV a cabo Net e Sky são as próximas da fila. O serviço por enquanto está disponível em cerca de 60 máquinas espalhadas por São Paulo, Taboão da Serra, Piraporinha e Diadema. Comércios com grande movi-

mento, como supermercados, farmácias e postos de combustível, estão na mira da empresa. A MegaPay, que entrou no negócio em 2004 e já é líder na Rússia e nos países que formavam a antiga União Soviética, busca uma expansão rápida e oferece vantagens a empresários que abrigarem os terminais, preparados para funcionar 24 horas por dia, multiplicando as opções e evitando a formação de filas. Para Serguêi Grekov, diretor comercial da empresa, a principal vantagem para os lojistas é oferecer mais serviços e atrair mais clientes aos estabelecimentos sem causar desconforto.

pronedra.ru

nesta edição especial

ria novosti

Tecnologia já está disponível em municípios da Grande São Paulo. Intenção é possibilitar pagamentos de contas, recargas de celular, compra de ingressos, entre outros serviços.

Com a publicação do programa de investimentos da Gazprom para 2011, a holding estatal russa de gás e petróleo deve ultrapassar a Petrobras e bater um novo recorde no setor. Segundo o documento, a companhia pretende aplicar em seus projetos de desenvolvimento, juntamente com suas subsidiárias, cerca de 1,57 trilhão de rublos (aproximadamente R$ 90,2 bilhões). Com isso, a Gazprom poderá se aproximar da posibilidade de estabelecer um novo recorde mundial de investimento no setor, hoje liderado pela Petrobras. O plano de negócios da brasileira anunciado em julho deste ano prevê um orçamento de R$ 389 bilhões entre 2011 e 2015 que contempla 688 projetos, ou seja R$ 77,8 bilhões por ano.

Equipamento seria alternativa a bancos e casas lotéricas, onde longas filas costumam ser a regra

“Em supermercados, por exemplo, a recarga de celular e pagamento de contas são feitos diretamente nos caixas. Isso gera filas e não rende quase nada em comissão ao empresário. Muitos recebem contas em só um caixa para minimizar isso. Então não é muito lucrativo”, avalia.

“Com o nosso terminal, o comerciante tem a vantagem de não gastar e oferecer serviços que agregam valor ao negócio”, afirma Grekov, em um português perfeito, aprendido no período em que morou em Portugal.

Imóveis

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Depois de crise, mercado imobiliário volta a ser opção de investimento Página 6

continua na Página 5

em foco

Religião Região da Kalmíkia, ainda pouco desenvolvida, se volta à espiritualidade

Budismo renasce em antigo reduto anna nemtsova

especial para gazeta russa

“Que todos os nossos desejos se tornem realidade, todas as criaturas vivas se libertem do sofrimento, do perigo das doenças e da tristeza! Que a paz

e a felicidade governem sobre a Terra!” Mais de dois mil budistas cantam o mantra, ajoelhando-se sobre esteiras em um templo budista na cidade de Elista, capital da República da Kalmíkia. No sul da Rússia, a região é uma das três tradicionalmente budistas do país. Eles repetem palavras de oração seguindo o líder budista kalmuk, Telo Tulku Rinpotche. Por fim, o grupo entra

em profunda meditação e a praça fica em silêncio. Quando a noite cai, milhares de velas são acesas. Os monges budistas em visita à cidade vêm do Tibete, da Tailândia e dos Estados Unidos, bem como das repúblicas russas budistas da Buriátia e de Tuva. Eles abençoam os fiéis ali reunidos, provenientes de todas as regiões da Kalmíkia e do sul da Rússia. Velas são lançadas ao céus em

balões, iluminando a escuridão da noite. Uma oferenda de luz para Buda, a cerimônia foi introduzida aos budistas russos pela primeira vez como um evento simbólico de abertura do fórum internacional “Budismo: Filosofia da Não Violência e da Compaixão”, realizado no mês passado na capital Elista. continua na Página 3

ullstein bild/vostock-photo

Guerra e Paz ganha versão brasileira Quase 150 anos depois de primeira publicação, obra é traduzida direto do russo

anna nemtsova

Um terço de sua população foi exilada durante o terror stalinista, mas enquanto a Kalmíkia reconstrói templos e organiza eventos globais, problema social continua.

Monges participam de cerimônia budista

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Política e Sociedade

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Extremismo eslavo Com 7 mil pessoas, evento não está mais restrito a jovens xenófobos e violentos

notas

Gazeta Russa

Marcha mostra força do nacionalismo na Rússia vladímir ruvínski gazeta russa

“Vamos devolver a Rússia aos russos!”, “Chega de alimentar o Cáucaso!” e “Liberdade, Nação, Ordem” foram alguns dos slogans dos cartazes empunhados por quem desfilava na Marcha Russa, movimento nacionalista que reuniu cerca de 7 mil pessoas em um subúrbio de Moscou no dia 4 de novembro, quando a cidade celebra o Dia da Unidade Nacional. Para os padrões da Rússia moderna, o número de manifestantes é considerável. No sétimo ano de existência da Marcha Russa, seu núcleo foi como sempre constituído por jovens propensos à violência contra imigrantes. Porém, diferentemente das manifestações anteriores, a marcha contou com a participação de muitas pessoas mais velhas, que se dizem nacionalistas moderadas. Sem conseguir unificar o movimento, os nacionalistas se dividiram em colunas separadas: os “cabeças rapadas” mascarados, os fundamentalistas ortodoxos, os aposentados com ícones de santos cristãos nas mãos e os pais de família acompanhados pelos filhos. Fecharam o desfile os neonazistas, sob a bandeira da Divisão SS Toten-kopf (em alemão, “Cabeça da Morte). Os manifestantes gritaram diferentes slogans, desde frases de caráter racista contra etnias caucasianas e modinhas antissemitas, acompanhadas pelo tradicional instrumento musical russo

Prova disso foi a manifestação na Praça Manêjnaia, no centro de Moscou, no ano passado, quando manifestantes exigiam a investigação adequada do assassinato de um torcedor de futebol cometido por um grupo de nativos do Cáucaso. “Naquela altura, o nacionalismo e o protesto social se uniram pela primeira vez em reação à injustiça”, assinala Lev Gudkov. A segunda razão é a incoerente política de imigração do governo. Por um lado, devido à diminuição da população russa e à falta de mão de obra, o governo apoia a entrada de imigrantes das regiões mais pobres do Cáucaso e da Ásia Central. Por outro, esses processos não são controlados e apresentam um elevado nível de corrupção. Além disso, há uma busca de identidade russa. No final da década de 1980, o nacionalismo na Rússia era menor do que nas demais repúblicas que formavam a União Soviética. “Os russos possuíam uma mentalidade imperial e não precisavam se identificar etnicamente”, afirma Gudkov, do Centro Levada. O processo de independência nas ex-repúblicas soviéticas se apoiava, em geral, nos respectivos movimentos de libertação nacional, como o que aconteceu nos países bálticos e caucasianos e na Ucrânia. Não era o caso dos russos. Eles não precisavam lutar por sua libertação nacional. Mais do que isso, uma opção nacionalista era contraindicada para a Rússia, país composto por 140 etnias. “Cada etnia da Rússia, ao contrário, por exemplo, dos

balalaika, até slogans contra o partido governante Rússia Unida e a suposta islamização do país. A manifestação foi autorizada pelas autoridades de Moscou e terminou sem violência. O Centro de Pesquisas de Opinião Pública Sova, especializado em monitorar as tendências xenófobas na Rússia, denunciou o caráter racista dos slogans, passível de punição por lei, mas a polícia não interveio.

“Os russos possuíam mentalidade imperial e não precisavam se identificar etnicamente” “O nacionalismo é um caminho para a desagregação do território russo”, diz Nikolai Petrov Origem na Rússia

O diretor do instituto de pesquisas Centro Levada, Lev Gudkov, afirma que o slogan “Rússia para os russos” encontra eco junto a cerca de 60% da população russa e que cerca de 50% dos moscovitas se dizem favoráveis à limitação do fluxo de imigrantes de origem asiática e caucasiana à capital russa. “O problema é que a sociedade está perdendo a imunidade contra essas manifestações xenófobas”, diz o sociólogo. Para o diretor do Centro de Tecnologias Políticas, Ígor Búnin, um dos motivos é a decepção de boa parte da população com as políticas do atual governo.

O Exército russo não vai se limitar mais a seus 425 mil contratados e planeja substituir seus recrutas por mais terceirizados, informou o chefe do Estado Maior das Forças Armadas russas, general Nikolai Makárov. “Esses 425 mil contratados não são tudo. Pretendemos aumentar o número de soldados por contrato para nos tornarmos um Exército completamente profissional”, disse Makarov durante reunião da Câmara Pública. Interfax

Subprefeitura central terá 18 novos hoteis

kommersant

Slogan “Rússia para os russos” já atrai 60% da população e xenofobia tornase popular, defendida por famosos publicamente.

Contrato pode acabar com serviço militar

Menina desfila com o pai na ala familiar da Marcha Russa, como é chamada a passeata

História do nacionalismo russo O aumento do nacionalismo na vida cotidiana da Rússia começou em meados dos anos 1990 e se tornou visível depois da crise de 1998, quando o governo se declarou inadimplente e muitas pessoas perderam seus empregos, negócios e poupanças. “A sociedade então precisou de outros estímulos para a

autoafirmação nacional”, explica o sociólogo Lev Gudkov. As tendências nacionalistas atingiram seu ápice em meados dos anos 2000, com atos de violência massivos contra imigrantes na cidade de Kondopoga, na Carélia, noroeste da Rússia, e na região de Stavropol, no sul do país.

turcos na Alemanha, tem seu território histórico no país, e por isso o nacionalismo é um caminho para a desagregação dele”, acredita Nikolai Petrov, diretor do Centro Car neg ie de Moscou.

mudar e acabarão se tornando políticos não mais radicais que os europeus. “Na Europa existem instituições e movimentos sociais que se opõem a esse fenômeno e promovem amplos debates na sociedade, neutralizando assim o caráter agressivo do nacionalismo. Na Rússia, isso não existe”, diz Gudkov. Além disso, o nacionalismo na Europa visa à restrição de fluxos migratórios. “Em Londres, Lisboa e Paris, ninguém diz que os recémchegados devem ser expulsos”, diz o sociólogo. Já em Moscou, de acordo com o

Diferenças da Europa

Movimentos nacionalistas são proibidos na Rússia. Mas, segundo o advogado e blogueiro Aleksêi Naválni, opositor do Kremlin que participou da Marcha Russa, se organizações nacionalistas relativamente grandes da Rússia forem legalizadas, seus líderes começarão a

números

40%

dos moradores da capital exigem a expulsão de imigrantes, de acordo com dados do Centro Levada. Metade dos moscovitas são favoráveis à limitação do fluxo de imigrantes de origem asiática e caucasiana.

Centro Levada, 40% dos moscovitas exigem a expulsão dos imigrantes. Segundo o diretor do Centro Levada, após as manifestações na Praça Manêjnaia, o partido Rússia Unida sentiu uma grande ameaça decorrente do nacionalismo e decidiu tomar as rédeas do movimento. “As autoridades procuram não tanto combater as tendências nacionalistas e resolver os problemas em sua origem, mas absorvê-las, como absorveu os protestos sociais”, conclui Gudkov. Dessa forma, os problemas só se agravam.

lori/legion media

A subprefeitura da região central da cidade de Moscou terá no próximo ano 18 novos hotéis, a maioria dos quais em antigos prédios de escritórios reformados e convertidos para a nova função. Alguns complexos hoteleiros serão construídos a partir do zero. “A subprefeitura central vai desenvolver a indústria hoteleira em diversos segmentos de preços. É um processo natural de transformação da cidade em centro financeiro mundial”, assinalou o subprefeito Serguêi Baidakov. “No que se refere à inauguração do hotel Moskvá, as obras serão entregues em duas etapas, em 2011 e em 2012”, completou. Aleksandr Korolkov

Nova tripulação chega à ISS

União de forças Proposta visa não só a mísseis, mas também a asteróides, e pode desfazer impasses na Europa

Rússia convida EUA a fazer escudo Andrêi Kisliakov

especial para gazeta russa

O sistema espacial de destruição de asteróides perigosos para a Terra com a ajuda de mísseis nucleares, em desenvolvimento pelo Centro Nacional de Foguetes da Rússia Makeev, já era conhecido desde agosto deste ano. Mas foi com a proposta do diplomata Dmítri Rogózin que veio à tona o projeto de construção de um escudo conjunto não só contra mísseis, mas também asteróides, chamado pomposamente de Defesa Estratégica da Terra. O nome deve sofrer ajustes, uma vez que o presidente Dmítri Medvedev deixou no documento a palavra “en-

graçado”, e pediu que seus assessores o ajustassem. Indepentende de como o sistema for batizado, ele pode representa r u m g rande avanço na questão que se arrasta há vários anos.

Novela antimíssil

Após a retirada dos EUA do Tratado ABM de 1972 e a decisão do presidente George W. Bush de acelerar os trabalhos para a instalação de elementos do escudo antimíssil norte-americano na Europa, nem Rússia nem Estados Unidos conseguiram d e s f a z e r c o nt r a d iç õ e s existentes. A nova concepção de escudo antimíssil europeu foi aprovada pela cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Lisboa, no ano passado. Anteriormente, os EUA, sob o governo Bush, quiseram instalar escudos antimísseis na Polônia e um radar na Re-

AP

Iniciativa proposta por representante especial da Rússia na Otan, Dmítri Rogózin, vem após lenta aproximação entre os países.

Moscou anunciou instalação de mísseis Iskanders

pública Tcheca, o que foi recebido por Moscou como ameaça direta a seus arsenais estratégicos. O atual presidente norte-americano Barack Obama se absteve

dos planos em relação à Polônia e à República Tcheca, mas não abdicou das instalações no resto da Europa. Agora, segundo a Agência de Defesa Antimíssil do Pen-

tágono, os EUA estão construindo seu sistema em quatro etapas. Na primeira, até o final de 2011, devem ser colocados navios no Mediterrâneo e um radar no sul da Europa. Na segunda, que vai até 2015, o Pentágono quer transferir baterias móveis de mísseis interceptores SM-3 para a Romênia, segundo acordo firmado entre Washington e Bucareste em setembro. Na terceira etapa, prevista para 2018, os EUA instalariam baterias semelhantes na Polônia e, até 2020, substituiriam os atuais mísseis interceptores por armas mais sofisticadas, capazes de proteger todo o território dos países membros da Otan contra m ísseis de cu r to, méd io e longo alcances. No final de outubro, Moscou anunciou que vai instalar os mais recentes mísseis tático-operacionais Iskander na

cidade de Luga, na região de São Petersburgo.

Final feliz?

Depois da recusa do novo embaixador dos EUA na Rússia, Michael McFaul, em garantir legalmente que a defesa antimíssil europeia não iria atentar contra a Rússia, Moscou anunciou a instalação da primeira brigada de Iskanders capazes de t r a n s p or t a r o g iv a s nucleares. Os norte-americanos então se comprometeram a conceder garantias à Rússia e a convidaram a participar de testes dos mísseis interceptores destinados à Europa. O convite foi formulado, em meados de outubro, pelo diretor da Agência de Defesa Antimíssil, general Patrick O’Reilly. Em resposta, a Rússia propôs a construção da defesa anti-asteróide. Falta agora a resposta norte-americana.

nasa

A espaçonave russa SoiuzTMA-22 levou, no dia 16 de novembro, à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), uma nova tripulação de três pessoas: os russos Anton Skaplerov e Anatóli Ivaníchin e o norte-americano Daniel Burbank. Devido a um acidente com o cargueiro espacial Progress em agosto, o programa de voos tr ipulados sofreu alterações significativas, mas deve voltar a funcionar normalmente a partir de 21 de dezembro, após a chegada da próxima expedição. A Soiuz lançada em novembro é a última a utilizar sistemas de controle analógicos e será substituída pelas naves da série SoiuzTMA-M, já utilizada em dois voos espaciais. Vassíli Krilov


Política e Sociedade

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Jogada Bilionário quer fazer de Makhatchkalá, no Daguestão, a capital russa do futebol e aposta em craques consagrados

Futebol no combate ao extremismo galina masterova

mikhail mordasov

gazeta russa

Torcedores do Anji Makhatchkalá vibram em jogo. Clube passou a chamar atenção depois de contratar Roberto Carlos e Eto’o

FRASE

Roberto Carlos capitáo e treinador interino do anji makhatchkalá

itar-tass

Tarlan Bakhichev, 14, esperou seis horas com os amigos para conseguir ingresso para assistir ao time de futebol local, o Anji Makhatchkalá. Os adolescentes transbordam de felicidade enquanto assistem ao treino. Em um canto do estádio, dezenas de fãs fazem sua salá noturna, a oração muçulmana, e outros milhares aguardam a chegada da mais nova estrela, o atacante Samuel Eto’o, ex-Inter de Milão. Neste outono, o clube assinouum contrato de três anos com o bicampeão da Liga dos Campeões da Uefa por um salário estimado em US$ 30 milhões anuais. É cada vez mais comum que um time saia do nada e passe a atrair os melhores jogadores do futebol europeu em uma questão de instantes. O oligarca russo Roman Abramovitch transformou o inglês Chelsea depois de comprá-lo em 2003; o Manchester City está se aproveitando da fortuna do Abhu Dhabi United Group e recentemente goleou seu rival, o tradicional Manchester United. A sede do Anji fica em Makhatchkalá, capital da República do Daguestão, no Cáucaso do Norte. A região é cenário de uma antiga e intensa batalha entre as autoridades russas e os extremistas islâmicos, e presencia ataques quase diários. No dia em que Eto’o esteve pela primeira vez por lá, cinco pessoas morreram em uma série de atentados. Nos últimos anos, mais de cem policiais foram assassinados por ano na república, que tem 2,6 milhões de habitantes. Por

"

Seria ótimo assinar com o Cristiano Ronaldo. Nosso objetivo é fazer com que Anji atinja o mesmo nível do Real Madrid e do Barcelona.”

isso, jogadores e suas famílias não moram na cidade. Em vez disso, pegam um voo em Moscou com destino ao sul do país sempre que há jogo marcado na região. O diretor geral do clube, Guérman Tchistiakov, insiste que a cidade é segura, e afirma que tinha uma impressão diferente da república antes de se mudar para lá. “Pensei que houvesse praticamente uma guerra acontecendo aqui, que as balas voassem ao nosso redor e fosse necessário rastejar para se locomover pela cidade”, disse à agência de notícias russa Ria Novósti. Quem financia a vinda de Eto’o e de todos os demais jogadores é um único homem, Suleiman Kerimov. Daguestanês e um dos oligarcas mais reclusos, Kerimov foi mem-

bro da Duma de Estado (Câmara Baixa do parlamento russo) e atualmente é senador. “Kerimov não dá entrevistas, ele se comunica com o povo do Daguestão por meio do clube de futebol”, diz Enver Kisriev, chefe da seção caucasiana de um grupo de disc u s são acadê m ico e m Moscou. A revista Forbes estima que Kerimov tenha uma fortuna de aprox i mada mente US$ 8 bilhões, acumulada durante a década de 1990 por meio de investimentos. Embora seja proprietário de uma das maiores produtoras de ouro do país, conseguiu se manter fora dos holofotes da imprensa até que, em 2006, bateu sua Ferrari Enzo em alta velocidade contra uma

árvore em Nice, na França. Ficou seriamente ferido e levou meses para se recuperar. Tina Kandelaki, apresentadora russa de TV que estava com ele no carro, teve mais sorte, mas sofreu queimaduras. Julgando pela recepção de Eto’o, o clube não pode fazer feio no Daguestão. Cerca de 8 mil pessoas lotaram o estádio só para ver o treino e crianças correram para o campo tentando tocar Eto’o. Em determinado momento, um estudante local camaronês, que cursa medicina em Makhatchkalá, também correu pelo campo e mergulhou no gramado para beijar os pés do jogador. O Daguestão é uma das repúblicas mais pobres da Rússia, e tem uma taxa de de-

Budismo e resgate cultural na Kalmíkia continuação da página 1

Esteve presente à celebração um grupo de 30 monges tibetanos do mosteiro de Gyudmed, nomeados pelo líder Dalai Lama apesar das objeções da China – que o acusa de instigar o separatismo do Tibet. Os convidados abençoaram o principal templo da região e as 17 esculturas de cientistas budistas tibetanos encontradas no santuário.

Situação social

Os budistas da Kalmíkia foram duramente reprimidos na década de 1930, durante o terror stalinista. Todas as religiões foram perseguidas pelas políticas soviéticas, e o budismo foi praticamente extinto. Até 1941, todos os mosteiros e templos budistas haviam sido fechados ou destruídos, e os membros mais importantes da religião foram executados ou desapareceram em campos de concentração. Uma segunda onda de repressões se deu em 1943, quando um terço dos habitantes da Kalmíkia foi expulso de suas casas e enviado para a Sibéria.

Veja slide-show em gazetarussa.com.br/12816

e sua família acenderem velas para Buda, e ainda mais enviá-las aos céus presas em balões. Para sua alegria, porém, na última década foram construídos na Kalmíquia 30 novos templos e 55 casas de orações budistas. “É tudo que ainda resta para deixar o povo feliz e em paz hoje em dia”, diz o empresário local Aleksandr Nemeiev. Ele aponta para a estátua dourada de Buda no templo que construiu para sua vila, Uldutchini, dois anos atrás. Nemeiev investiu cerca de R$ 73 mil na empreitada. Em um fim de semana recente, cerca de cem budistas compareceram ao local para orar

dados do budismo na rússia

O budismo é, por tradição, a principal religião nas repúblicas da Buriátia, Kalmíkia, Tuva e Altai, no território de Zabaikálski e na província de Irkutsk (todas na Sibéria, exceto a Kalmíkia). Sua filosofia foi introduzida na Rússia no século 17. Em 1764, foi aceita como umas das religiões oficiais do país. Hoje, existem aproximadamente 1,4 milhão de budistas na Rússia, de acordo com o censo mais recente. Eles representam 1% da população do país. Em 1979, o Dalai Lama fez sua primeira visita à União Soviética. A partir de 1994, ele foi recebido com entusiasmo em visitas às três repúblicas budistas da Rússia. Entretanto, com o estreitamento das relações comerciais entre Moscou e China, a Rússia passou a impedir a entrada do líder no país desde 2004 por meio da recusa de pedidos de visto.

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Monges tibetanos na Kalmíkia

com os monges tibetanos que visitavam a república.

Dedicação religiosa

Mas nem todos no vilarejo participaram da cerimônia. “O templo não me dá comida para alimentar meus dois filhos”, diz Khondor, um eletricista viúvo de 47 anos que não quis relevar seu sobrenome. Ele mostra a modesta casa de dois quartos que divide com dois filhos adolescentes e afirma ter orgulho de ser uma das duas únicas pessoas que têm emprego de período integral em Uldutchini. “Lidar com as adversidades é nossa tradição”, afirma. Os filhos de Khondor, Ave­iach,

14, e Nagaila, 13, dizem que seu sonho é deixar a Kalmíkia para estudar em Moscou ou São Petersburgo. O pai não se incomoda com os planos deles, já que não vê perspectivas na república. Os líderes budistas kalmuks (naturais da Kalmíkia) dizem que seus esforços atualmente não se resumem à reconstrução dos templos, ação apoiada pelo governo, mas também ao renascimento da cultura e da mentalidade budista kalmuk, ao lado de outras característcas humanas básicas e seculares como compaixão, amor, bondade e perdão. “De certo modo, somos um centro psicológico e espiritu-

auge da carreira e sua inclusão no time poderia atrair outros bons jogadores. O clube demitiu o treinador russo e está ligado aos melhores técnicos de futebol do mundo, como José Mourinho, do Real Madrid, e aos melhores jogadores da categoria. “Nunca houve nada igual no futebol russo”, diz Bogdanov, editor da seção de futebol no jornal diário Sport Express. “Tudo é possível se os investidores forem pacientes e aplicarem em infraestrutura”, completa. O clube, que ocupa a oitava posição no campeonato russo, entrou em recesso de inverno no dia 6 de novembro. Quando o campeonato retornar para a segunda parte da temporada, os torcedores poderão ver o quanto é preciso de bola no pé para garantir um lugar na Liga dos Campeões da Uefa.

Armas Incidente muda opinião russa

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ria novosti

Atualmente, a Kalmíkia é a segunda região mais pobre da Rússia, ultrapassada somente da Inguchétia. A taxa de desemprego de 15% na área é o dobro da média nacional. Com população de mais de 300 mil habitantes, a República da Kalmíkia optou por restaurar a filosofia e a cultura tradicionais do budismo tibetano. A religião foi adotada por seus antecessores, as tribos oirates da Mongólia, no século 13, e importada para o Império Russo quando os oirates migraram para a região em 1609. Mas a religião foi violentamente reprimida, com relíquias e templos destruídos durante as repressões de Stálin na década de 1930 (veja ao lado). Toda a população indígena da Kalmíkia foi exilada por 17 anos na Sibéria. Os olhos de Evdokia Kutsáieva, 84, se enchem de lágrimas quando se recorda das deportações da época de Stálin. “Numa noite em outubro de 1943, enfiaram toda a população da república em vagões de trem sujos e nos mand a ra m pa ra a Sibé r ia. Milhares de pessoas morreram no caminho. Lembro-me das pilhas de corpos espalhadas pelas plataformas”, conta. Até o fim da década de 1980, era perigoso para Kutsáieva

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Exilados e perseguidos

semprego de, pelo menos, 40%. Segundo Kisriev, o objetivo de Kerimov é proporcionar aos jovens uma alternativa longe do caminho do extremismo. Como parte do projeto, o clube irá criar sete centros de futebol para os jovens, trazer treinadores qualificados e construir um novo estádio no Daguestão. “As pessoas estão rindo, sendo irônicas, mas é preciso entender o aspecto social”, explica Kisriev. “Não estou dizendo que isso é uma panaceia e que vai resolver todos os problemas do Daguestão, mas vai criar um movimento positivo”, completa. Kerimov tentou assumir o controle do clube há pelo menos três anos, segundo Kisriev, mas isso só foi possível quando o novo e proativo presidente do Daguestão, Magomedsalam Magomedov, entrou no governo. As relações entre o clube e o presidente permanecem estreitas - apoiar uma autoridade de alto escalão ajuda a atenuar os problemas em uma r epúbl ica ge ra l me nt e disfuncional. “Mesmo que não se trate de uma questão propriamente séria, como a venda de água no estádio, ele sempre escuta e tenta ajudar quando os torcedores e a polícia não se entendem”, disse Tchistiakov sobre Magomedov. No início, poucas pessoas levaram o clube a sério, mesmo depois de ter comprado o jogador brasileiro Roberto Carlos, que foi campeão da Copa do Mundo de 2002. Pelo fato de o jogador ter 38 anos, alguns assumiram que ele queria apenas garantir um último polpudo salário. Mas a chegada de Eto’o mudou tudo. O camaronês está no

itar-tass

Além da compras milionárias, o Anji planeja sete escolinhas de futebol, contratação de treinadores e construção de um novo estádio.

al que dá às pessoas esperança, apoio moral e orientação espiritual”, diz o líder budista Telo Tulku Rinpotche. Kirsan Iliumjinov, ex-presidente da República da Kalmíkia que deixou o cargo em 2010, esteve nos eventos religiosos recentes. O polêmico Iliumjinov disse que os ensinamentos do budismo apoiados por ele durante seu governo evitaram que a Kalmíkia se envolvesse nas guerras separatistas das repúblicas vizinhas do Cáucaso do Norte. “A filosofia de paz e benevolência do budismo é a solução para o povo kalmuk em meio ao caos e à cruel realidade em que vivem”, diz.

Venda de armas perde defensores Nos últimos 8 anos, cresceu em 14% o número dos que querem a proibição total das armas na Rússia. Adeptos da legalização diminuíram 12%. Svetlana Smetánina

especial para gazeta russa

Em uma pesquisa com duas mil pessoas realizada pela internet, o número de defensores da venda legal de armas de fogo diminuiu de 54% para 42%, em relação a 2003. Quase um terço afirmou que nenhuma arma, incluindo as não letais, deve ser de domínio privado (em 2003, essa era a opinião de 13%). Do restante, 41% são a favor de armas sem poder de fogo e pistolas de gás, e 29%, de rifles curtos com tiro único. Hoje, na Rússia, é possível comprar legalmente armas de esporte ou de caça a partir dos 18 anos. Para isso, é preciso uma licença oficial, concedida por autoridades locais. As armas militares têm venda proibida. Recentemente, a questão do uso pessoal de armas tornouse fonte de acaloradas discussões. Um dos defensores mais ativos da proibição de porte para cidadãos é o senador Aleksandr Torchin. Depois de cada crime que tenha alguma repercussão, o senador volta aos holofotes defendendo o banimento. O aumento dos que são a favor da posse de armas sem poder de fogo, porém, é problemático. O assassinato, no ano passado, do torcedor de futebol Egor Sviridov com uma pistola de pressão provocou enorme revolta dos torcedores na praça Maniêjnaia, em Moscou, e foi o caso mais grave de uso de armas sem poder de fogo. Os relatos de cidadãos que utilizam esse tipo de

armamento para ferir outros é comum no país. No Ministério dos Assuntos Internos começa-se a falar sobre limitar o uso de armas sem poder de fogo. Aleksandr Gurov, deputado da Duma (Câmara dos Deputados na Rússia) e membro do comitê de segurança, já chegou a defender sua proibição total. O fato de haver questionamentos, mesmo quanto às armas não letais, não significa que não haja defensores das de fogo. O núcleo de defensores da legalização desse tipo de armas organiza-se em torno do site voorujen.ru. Segundo sua líder, Maria Bútina, o movimento lançado há poucos meses reúne adeptos em 16 regiões da Rússia. A maioria deles é homem, tem renda estável e experiência no manejo de armas de fogo, com posse de pistolas de pressão ou armas de caça. O principal motivo para a adesão é ter a possibilidade legal de auto-defesa. Seu argumento é que a permissão para adquirir e portar armas de fogo reduz o número de crimes violentos. Se criminosos se armam ilegalmente, cidadãos bem preparados devem ter permissão legal para se defender, argumentam. O advogado Anatóli Kutcherena afirma que, por enquanto, a Rússia não pode falar numa legalização das armas de fogo. “Se permitirmos isso, veremos casos com acidentes fatais drasticamente maiores”, acredita. É sobretudo perigoso, diz Kutcherena, a legalização do porte de armas de fogo em locais públicos. Para ele, o porte deve ser exclusivo dos órgãos competentes. Butina e seus pares, no entanto, se preparam para protestar por seus interesses.


Economia e Mercado

Gazeta Russa

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entrevista Luis Eduardo Moreira Caio

Na terra onde o freezer é quente brasileira metalfrio duplica fÁbrica no país e prova que vender geladeiras a russos pode ser grande negócio

marina darmaros

Em 2006, começamos com uma operação muito singela de montagem em Kaliningrado, que é como uma Zona Franca de Manaus, e evoluímos de tal forma com uma planta integrada que neste ano estamos duplicando o tamanho da fábrica e investindo mais 10 milhoes de euros para expandir nossa linha de produtos. Agora vamos introduzir geladeiras de cerveja e refrigerante.

Qual a história da Metalfrio na Rússia? Estamos no país desde 2006 com a fabricação de freezers para a indústria de sorvete e temos uma posição de liderança no mercado russo.

Como serão as operações agora? Temos quatro fábricas (na Turquia, no México, no Brasil e na Rússia). Então nosso relacionamento com esses clientes é muito próximo a

gazeta russa

Kaliningrado

partir do Brasil, e daí para os outros lugares do mundo. Temos uma produção muito sazonal, já que trabalhamos com produtos de verão, então no pico chegamos a ter 400 funcionários na fábrica de Kaliningrado, enquanto na média temos entre 180 e 200. Com a expansão, vamos dobrar essa média, com mais de 500 funcionários. Todos são russos, à exceção de dois brasileiros: um controller e um em finanças. Também temos u m escr itór io de venda em Moscou, onde trabalham um turco e duas russas. Como é a abordagem com os russos? Nós aprendemos que nosso modelo de negócios não é para se expatriar para outras regiões. A gente acredita muito nesse tipo de operação de ter os negócios locais tocados por gente local. Nesse aspecto, somos uma multinacional diferente. Como ocorreu a entrada da Metalfrio no mercado russo? Foi por meio da aquisição que fizemos de uma empresa dinamarquesa chamada Caravel, que tinha operações na Rússia. Um dos nossos sócios faz parte do projeto desde o

tempo da Caravel, que é um fundo multilateral dinamarquês criado para investir em países em desenvolvimento, e hoje não abrange mais a Rússia. Esse sócio tem 10% do negócio e nos ajudou muito a entender como funciona o mercado russo, porque ele tem diversos investimentos e conexões na Rússia e conhece bem o país. Quem são seus clientes? São fundamentalmente companhias multinacionais como Coca-Cola, Pepsi Co., Unilever sorvete, Nestlé sorvete, as cervejarias AB-InBev, SAB Miller... A maioria tem negócios no Brasil, no México, na Dinamarca, na Turquia etc. Então é isso que abre muita porta para a gente fazer negócio no mundo inteiro. É uma indústria que se consolida cada vez mais e esses grandes players se tornam cada vez mais poderosos. Em algum momento houve receio de investir por causa de rumores sobre o empresariado e o governo russo? Somos uma indústria que procura o crescimento de dois dígitos e isso não existe em mercados maduros. É preciso enfrentar riscos em mercados mais complexos para isso, e é

Luis Eduardo, da Metalfrio, que amplia operações em Kaliningrado, enclave russo entre Polônia e Lituânia.

Rubens Chaves

Com crescimento de 2,9% na receita líquida no segundo trimestre de 2011 em relação ao mesmo período de 2010 nas operações relativas à Rússia e Turquia, a marca de freezers Metalfrio se prepara para crescer. Em busca de expansão de dois dígitos, presidente não teme as instabilidades dos mercados emergentes.

agora para a Ásia. Para a Índia, por exemplo, onde ainda existem estas oportunidades de crescimento.

números

783,5

Vocês não têm nenhum parceiro atuando na gestão? Não, é 100% a gente mesmo. A empresa tem uma rede de assistência técnica no mundo inteiro, no Cazaquistão, no Uzbequistão, na Ucrânia, na Rússia, enfim, temos parceiros locais na prestação de serviços. Mas na gestão do negócio propriamente dito não temos parceiros.

milhões de reais foi a receita líquida da companhia em 2010, um aumento de 21,8% em relação ao ano anterior.

1,3 mi de geladeiras e freezers é a produção anual da Metalfrio. O número deve aumentar quando a nova fábrica de 1,2 mil m² entrar em funcionamento.

Como são feitas as vendas, qual o modelo? O modelo é muito parecido como em outros lugares do mundo. Como a gente tem um negócio muito sazonal, as vendas são feitas com o crédito que a gente mesmo dá, na média de 100 dias, no máximo 120. Negócios com prazos

justamente esse nosso posicionamento, a começar pelo próprio Brasil, México, Turquia e Rússia. Temos estudos de ir

maiores envolvem bancos, mas não é o padrão. Com seguradora internacional? No começo sim, mas hoje a gente só faz seguro com clientes de pequeno e médio porte do mercado russo. O negócio de sorvetes, por exemplo, tem muito mais marcas do que no Brasil. Ninguém ri quando você conta que fabrica freezers na Rússia? Tem gente que fala que nós fazemos freezer para esquimó. Mas é engraçado, porque os freezers de lá e as geladeiras de refrigerantes que ficam na rua, do lado de fora dos quiosques, têm aquecimento. Faz tanto frio que se eles não for aquecido o produto congela mais do que deveria, então no inverno a geladeira, no lugar de resfriar, esquenta.

Relações internacionais “Você é um dos políticos mais influentes do mundo”, disse Dmítri Medvedev para Silvio Berlusconi

Berlusconi ganha elogios de líderes russos pelo fortalecimento das relações bilaterais. Para Pútin, foi “um dos melhores da Europa”. pAULO pALADINO Gazeta rUSSA

Enquanto o novo primeiroministro italiano, Mario Monti, realizava consultas para transformar o legado político de Berlusconi, o ex-premiê fez uma série de contatos telefônicos com alguns dos principais líderes mundiais, incluindo o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã, Angela Merkel, e os primeiros-ministros da Grã-Bretanha, Cameron, e da Rússia, Vladímir Pútin. Por fim, conversou com o presidente russo Dmítri Medvedev, que também enviou-lhe uma carta para agradecer sua importância no fortalecimento das relações bilaterais, descrevendo-o como “um dos políticos mais experientes e influentes do mundo”. No dia anterior ao pedido de renúncia, Pútin já havia se

pronunciado sobre o amigo pessoal de longa data durante um evento na Rússia. Apesar dos escândalos protagonizados por Berlusconi, o premiê russo se referiu a ele como “um dos melhores políticos da Europa e um dos últimos moicanos da política”. “Medvedev e Pútin são gratos a Berlusconi porque ele, entre outros líderes europeus, auxiliou no processo de reconhecimento da Federação Russa pela Otan antes mesmo de qualquer decisão formal”, disse à Gazeta Russa Rosario Alessandrello, presidente da Câmara de Comércio ÍtaloRussa e da Fundação ItáliaRússia. Segundo ele, o bom relacionamento entre os dois países durante o governo Berlusconi contribuiu para a estabilização das relações da Federação Russa com a União Europeia e com os EUA. Na crise desencadeada com a ocupação da Ossétia do Sul pela Geórgia, em 2008, a intervenção da Itália, sob Berlusconi, ajudou a evitar um possível confronto com os

itar-tass

A despedida de um velho amigo

Vladímir Pútin e Silvio Berlusconi: afagos mútuos

EUA e Europa. “O Estado italiano avalizou a promessa assumida pela Rússia de retirar suas tropas das regiões separatistas”, disse Alessandrello, “sem falar na crise de gás natural gerada pela disputa comercial entre Rússia e Ucrânia em 2009, quando o governo italiano se comprometeu a dar continuidade ao fornecimento de gás ao Ocidente”. A proposta da gigante italiana do setor de energia Eni para criação de um consórcio com par-

ticipação russa que financiasse e garantisse a provisão de gás à Europa só não foi adiante porque o fornecimento de gás à Ucrânia acabou sendo reestabelecido. Embora sejam parceiros antigos, a cooperação entre a Itália e a Rússia vinha sendo intensificada por numerosas reuniões com seus líderes e acordos estabelecidos entre empresas de ambos os países. A italiana Eni e a companhia de energia russa Gazprom, por

ficativos nas principais cidades italianas e russas – como as recentes apresentações da orquestra do teatro milanês La Scala na reinauguração do Teatro Bolshoi, em Moscou. Entretanto, os cidadãos italianos não parecem tão satisfeitos com as condutas de Berlusconi. “Uma das figuras políticas mais experientes do mundo?”, brincou Giuseppe Rolando, 38, funcionário de um banco em Turim, norte da Itália. “Diria que é mais um grande empresário usando a carreira política para aumentar sua riqueza pessoal.” Em setembro, o tradicional jornal La Repubblica divulgou uma pesquisa realizada pelo Ipr Marketing sobre o nível de confiança da população no então primeiro-ministro na qual apenas 24% dos entrevistados afirmavam apoiar Berlusconi – 5% a menos do que o índice registrado em junho deste ano e 22% inferior a março de 2010. Atualmente o país amarga uma dívida de 120% do valor do PIB. “Ele é responsável

exemplo, assinaram, em setembro, um contrato que prevê “a cessão de 50% da participação da Eni (33,3%) a Gazprom no consórcio que explora a jazida petrolífera libanesa Elephant”, conforme comunicado oficial da Eni. O acordo, estipulado em fevereiro, havia sido temporariamente suspenso por causa da revolta contra o ex-ditador do Líbano, Muammar Gaddafi. Os relatórios do Ministério de Relações Exteriores italiano também indicam que, paralelamente à sólida parceria no setor energético, nos últimos dois anos foram assinados acordos nas áreas da justiça, agricultura, educação, turismo e até no setor espacial. “Tais iniciativas se estendem ainda ao campo da cultura”, completou Annalisa Seoni, secretária-geral da Associação Itália-Rússia. O memorando de entendimento de 2009 que definiu 2011 como Ano da Rússia na Itália, bem como Ano da Itália na Rússia, vem estimulando o desenvolvimento de eventos culturais signi-

pelo empobrecimento do país, devido à falta de um plano de desenvolvimento adequado que incluísse proteção ao emprego, educação pública e política social”, disse Rolando. De acordo com outra pesquisa, realizada pelo instituto Piepoli e publicada no jornal La Stampa no dia seguinte à renúncia, 68% dos entrevistados concordavam com o pedido de demissão. Ainda assim, Berlusconi sugeriu que não tem planos de largar completamente a política. Em entrevista à imprensa italiana no último dia 18, seis dias após o anúncio oficial, o ex-primeiro-ministro declarou que durante os próximos meses vai trabalhar no Parlamento e em seu partido, Povo da Liberdade (PDL), para preparar a campanha eleitoral de 2013. Ao que tudo indica, diferentemente do filme estrelado por Daniel Day-Lewis e baseado no romance homônimo de James Fenimore, esse “último moicano” ainda promete uma longa sequência.

Continuação da página 1

Segundo o vice-presidente de projetos internacionais e prospeção geológica da TNK-BP, Christopher Inchcomb, a HRT permanecerá como operadora do projeto. A TNK-BP, por sua vez, terá a possibilidade de participar, em condições de igualdade, na decisão sobre as atividades conjuntas do projeto e colocar seus especialistas em cargos de gerência. Dentro de 30 meses, a empresa russo-britânica poderá, segundo a assessoria russa, aumentar sua fatia em 10% se houver aprovação das autoridades reguladoras brasileiras. O valor será determinado por bancos de investimento. Por enquanto, a TNK-BP pagará em parcelas o US$ 1 bilhão equivalente a 45% das concessões. O analista da com-

panhia de investimentos russa Metropol, Serguêi Vakhraméiev, disse à Gazeta Russa que o preço não é muito alto, dadas as reservas de gás e petróleo do projeto. “É claro que comprar recursos energéticos russos é mais barato, mas, na Rússia, a carga tributária é muito grande, enquanto, no Brasil, ela é menor”, afirma Vakhraméiev. Para a TNK-BP, entretanto, o valor do negócio é moderado. Seu fluxo de caixa operacional nos nove primeiros meses de 2011 foi de US$ 8 bilhões, enquanto seu fluxo de caixa livre atingiu, no mesmo período, US$ 4,5 bilhões. Mesmo com os investimentos anuais no projeto (sem contar preço de compra) avaliados em US$ 700 milhões, os fundos disponíveis serão mais que suficientes para fi-

nanciá-los, afirma o analista do Banco Nacional Trust, Piotr Makarov. “Ambas as empresas irão reembolsar as despesas de capital de acordo com seu quinhão. Por ora, só podemos dizer que as despesas da TNKBP com o investimento de capital poderão chegar a US$ 4 bilhões”, afirma Christopher Inchcomb. De acordo com Vitáli Kriukov, analista do Fundo de Investimento Capital citado pelo diário econômico russo RBKDaily, se as reservas de recursos prospectadas nos blocos forem aprovadas, elas poderão garantir à TNK-BP um valor por barril mais alto que na Rússia. O analista supõe que o principal fator que pesou no cálculo do preço da parcela de 45% da TNK-BP foram as reservas de petróleo. “Ao

mesmo tempo, as reservas de gás, que representam cerca de 70%, sofreram um desconto significativo, já que se mantêm as dúvidas sobre sua viabilidade comercial e as perspectivas de sua venda”, conclui Kriukov. O início da exploração das jazidas da Bacia do Solimões está previsto para 2012. O acordo assinado pela TNK-BP se refere às atividades de exploração e produção de petróleo, e não prevê a construção de quaisquer dutos tubulares nem o processamento de hidrocarbonetos nas instalações da empresa. Mas Christopher Inchcomb não exclui a possibilidade de a companhia decidir futuramente pela construção de dutos tubulares, dependendo do potencial exploratório das jazidas de gás.

Por ora, a empresa não tem a intenção de vender combustível no mercado brasileiro sob a marca internacional TNK. “É provável que a maior parte do petróleo obtido seja comercializado com empresas brasileiras e substitua as importações atuais da Nigéria e do Oriente Médio”, de acordo com Inchcomb A empresa deve ainda instalar no Brasil escritório próprio e elaborar uma política de pessoal. Segundo auditoria realizada pela Degolyer&MacNaughton, o projeto proporcionará à TNK-BP reservas de 789 milhões de barris. O total das reservas da companhia russo-britânica equivaliam, em dezembro de 2010, a 8,794 bilhões de barris, de acordo com a Comissão de Títulos e Valores Mobiliários dos EUA.

serviço de imprensa

Investimento no petróleo do Brasil

Márcio Rocha, diretor da HRT O&G, cumprimenta Alexander Dodds, vice da TNK-BP

A participação na companhia brasileira poderia aumentálas em cerca de 9%. A TNKBP detém cerca de 16% da produção de petróleo na Rússia. Até o ano passado, a empresa não tinha ativos no exterior, mas depois do acidente no Golfo do México, em abril de 2010, recebeu da BP pro-

jetos no Vietnã e na Venezuela, onde tem quatro joint-ventures com a estatal venezuelana PDVSA. “A TNK-BP encara a América Latina e o Sudeste Asiático como mercados promissores onde pode desenvolver dinamicamente seu neg ó c i o ”, a r g u m e n t a Inchcomb.


Economia e Mercado

GAZETA RUSSA

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Infraestrutura Investimento de US$ 3,9 bilhões no Domodêdovo deve levar até dez anos para ser implementado

Expansão criará cidade-aeroporto ROLAND OLIPHANT THE MOSCOW TIMES

Problemas no aeroporto 4 DE DEZEMBRO DE 2010 O voo 372 da Dagestan Airlines, partindo de Moscou para Makhatchkalá, faz um pouso de emergência no Domodêdovo, derrapando na pista e deixando dois mortos. 25 DE DEZEMBRO DE 2010 Geadas danificam duas linhas de energia em operação no aeroporto Domodêdovo, causando blecaute completo e levando ao cancelamento de voos e a longos atrasos. 24 DE JANEIRO DE 2011 Um homem-bomba causa uma explosão no terminal de desembarque internacional, matando 36 pessoas e ferindo mais de 130.

SERGEY MUKHAMEDOV

A East Line, empresa que administra o único aeroporto privado de Moscou, o Domodêdovo, anunciou no mês passado um ambicioso projeto de desenvolvimento cuja implantação vai durar dez anos e irá, na prática, resultar no surgimento de uma nova cidade na periferia sul da capital russa. Os planos da East Line – que incluem a construção de uma terceira pista, a reforma do pátio de aviões e a ampliação das instalações do terminal – são baseadas num conceito de desenvolvimento geral no qual a direção do aeroporto começou a trabalhar ainda no fim da década de 1990. O presidente do conselho de diretores do aeroporto, Dmítri Kamenchtchik, disse que o Domodêdovo constitui o centro de uma “conurbação sinérgica” de desenvolvimento comercial que poderia se estender a um raio de até 19 quilômetros do própr io aeroporto. Um projeto de nove anos de duração para modernizar a primeira pista do aeroporto, cuja conclusão está prevista para esse ano, já fez com que o Domodêdovo se tornasse o primeiro aeroporto russo certificado a receber o Airbus A380, e os trabalhos para construção da terceira pista têm início marcado para o primeiro trimestre de 2012. Também no próximo ano será dado início à reforma do pátio onde as aviões estacionam para carregamento e reabastecimento, numa tentativa de aumentar o número de vagas

LINHA DO TEMPO

O aeroporto é o maior da Rússia em número de passageiros, com 51 mil embarques diários. Em abril, atingiu o recorde de decolagem de 425 aviões

O que é uma Aeropólis? Os programas de televisão e a literatura de ficção científica da década de 1960 imaginavam as pessoas se deslocando de um lugar a outro em carros voadores e vivendo em cápsulas modulares, mas a ideia de uma “aeropólis”, uma cidadeaeroporto, é um pouco diferente. Conceito desenvolvido pelo acadêmico norte-americano John Kasarda, aeropólis é definida como uma configuração urbana que tem um aeroporto como seu centro, da mesma forma que uma metrópole tem um núcleo central na cidade.

Assim como uma metrópole, a aeropólis tem trabalhadores que circulam pelo núcleo central, mas não vivem lá. Nos entornos estão as empresas que dependem do centro – neste caso, o aeroporto – para sua subsistência, como hotéis, centros de logística e mercados varejistas. Esses geralmente provocam engarrafamentos no trânsito, mas uma aeropólis planejada pode aliviar esses problemas por meio da construção adequada de transporte e áreas de zoneamento para determinados negócios.

para aviões. A iniciativa vai demandar o equivalente a US$ 807 milhões, a serem pagos durante um período de cinco anos. “O grandioso plano tem forte apoio do governo, tanto federal quanto regional”, disse Kamenchtchik durante uma coletiva de imprensa. Entretanto, o presidente do conselho se esquivou de uma pergunta sobre os detalhes da colaboração com o Estado. A relação do Domodêdovo com as autoridades foi estremecida pela interrupção dos serviços durante as tempestades de neve em dezembro do ano passado e pela constatação de falhas na segurança que permitiram a ocor-

Serviços financeiros Cartões e agências tendem a se popularizar

Bancos têm espaço para crescer VLADÍMIR RUVÍNSKI GAZETA RUSSA

O presidente do Conselho de Administração do banco Home Credit, Ivan Svitek, reclamou recentemente que apenas 24% dos russos recorrem a empréstimos e apenas 18% têm depósitos bancários, enquanto na Europa a maioria da população usa até seis produtos financeiros ao mesmo tempo. Ainda de acordo com o presidente do banco, que é um dos líderes no segmento de créditos de varejo da Rússia, nessas circunstâncias é preciso ir a regiões remotas e se tornar mais tecnológicos, como o McDonald’s. Com efeito, segundo o Banco Mundial, a Rússia tem quatro vezes menos estabelecimentos bancários que a média mundial. Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), a dívida das pessoas físicas perante as instituições de crédito é de cerca de 9% do PIB da Rússia contra 85% nos EUA, por exemplo. Além disso, 44% dos russos moram no interior do país, onde os bancos de varejo não estão presentes, limitando suas operações a grandes cidades. Segundo a Agência Nacional de Pesquisas Financeiras, cerca de 92% dos cartões em circulação são contas-salário abertas pelo empregador. Ainda de acordo com a agência, o endividamento total das pessoas físicas com o cartão de crédito em agosto último

foi de 350,2 bilhões de rublos face a uma carteira total de créditos de varejo, segundo o Banco Central, no valor de 4,8 trilhões de rublos (R$ 279 bilhões). Com uma população de 140 milhões de habitantes, o número total de cartões de crédito em circulação na Rúss i a n ão u lt r ap a s s a 11 milhões.

Mercado selvagem

O boom de empréstimos de varejo e de cartões de crédito começou em meados dos anos 2000 com o aumento dos rendimentos da população e atingiu seu auge no fim de 2007. Os mais ativos foram os bancos privados e as subsidiárias de bancos internacionais. O Rússki Standart tomou a liderança no mercado de cartões de crédito, que mantém ainda hoje, com uma fatia de mercado de 18,5% (cerca de 32 milhões de cartões de crédito), segundo o instituto de pesquisa Frank Research Group. Durante a crise de 2008, os bancos se depararam com o au mento acent uado da inadimplência e mudaram suas táticas, começando a perdoar as dívidas de valores de 10 mil a 40 mil rublos (R$ 575 a R$ 2,3 mil). Isso fez com que, em pouco tempo, os bancos enfrentassem a falta de liquidez e a baixa no volume de emissão de novos cartões de créditos e tivessem de endurecer suas políticas de cobrança das dívidas ou vender as dívidas pendentes a agências de cobrança. Essas chegaram a usar métodos ilegais, inclusive espancamentos e ameaças de morte. Isso provocou uma enxurrada de ações judiciais contra

Financiamento

Enquanto os projetos de expansão do aeroporto devem custar US$ 3,9 bilhões, o desenvolvimento financiado pelo setor privado, incluindo o hotel e o terminal de carga, vai exigir uma soma de US$ 420,5 milhões. As contribuições do governo federal e regional incluirão um novo acesso para o quarto anel viário e melhorias na conexão ferroviária existente, para que haja trens de

Uma nova cidade

Os planos para expandir o Domodêdovo não têm ligação direta com as propostas anteriormente anunciadas de ampliar os limites de Moscou em direção ao sul e ao leste da cidade. John Kasarda, acadêmico norte-americano que formulou o conceito de aeropólis, calculou que o projeto poderia gerar até um milhão de empregos, mas não forneceu fontes que sustentassem tal estimativa. O chefe do distrito administrativo do Domodêdovo, Dmítri Gurodetski, disse que o aeroporto já é responsável por cerca de 30 mil empregos na região. Ele ignorou possíveis impactos desfavoráveis à população local e focou em benefícios como empregos, salários e desenvolvimento de negócios.

Terminais inauguram serviço CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

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Apenas 18% da população tem depósitos bancários; 44% mora no interior e tem de recorrer a agências em cidades grandes.

registrada na Ilha de Man. Entretanto, a administração oficial do aeroporto é aparentemente realizada pela DME Limited, companhia listada na tentativa de IPO.

rência de um atentado suicida em janeiro deste ano. Em julho, um comitê investigativo disse ter fracassado na tentativa de estabelecer quem realmente é o proprietário do aeroporto. O comitê afirmou que Kamenchtchik está listado como o proprietário beneficiário de 100% da empresa, mas se recusou a revelar se tinham acontecido quaisquer mudanças de propriedade desde que o aeroporto rescindiu sua proposta de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), em maio. O Domodêdovo é operado pelo East Line Group, que, por sua vez, é propriedade da FML Limited, empresa

15 em 15 minutos, e não a cada meia hora, como hoje. “Juntos, esses recursos nos oferecem dinheiro suficiente para cobrir todos os nossos projetos ao longo dos próxim o s d e z a n o s ,” d i s s e Kamenchtchik. Ele afirmou que, atualmente, o aeroporto não tem intenção de levantar fundos vendendo suas ações. Kamenchtchik disse aos repórteres que o terreno onde o Domodêdovo realizará a construção é ou estatal ou de propriedade de uma empresa incorporada pelo próprio aeroporto. “Não há casas residenciais nessa área, então não vejo problema algum relacionado à realocação”, explicou, afastando a possibilidade de ocorrer o mesmo que no aeroporto estatal de Cheremétievo, a norte da capital, onde os planos de construir uma nova pista enfrentaram a oposição de moradores.

Cobrança de cartões já foi feita sob ameaça. Hoje, juros caem

NÚMEROS

11 milhões

de russos têm cartões de crédito. Desses, 92% são de contassalário abertas pelo empregador

10 milhões

de clientes têm dificuldades para quitar as dívidas do cartão de crédito

Atuação de bancos públicos no segmento de varejo forçou as taxas de juros para baixo os bancos credores, que foram acusados de cobrar uma taxa de juros três ou quatro vezes superior à declarada no momento de concessão do crédito. “Temos bancos que, na hora de assinar o contrato com um cliente, declaram taxa de juros de 12% nos cartões, mas cobram na verdade 200%”, diz Mikhail Kozlov, diretor da Anistia dos Créditos, organização social especializa-

da em defender os direitos dos mutuários. “Em 90% dos casos, os tribunais se manifestam a favor dos bancos”, completa.

Frente ao mutuário

Os bancos passaram a estudar atentamente os históricos de créditos de seus potenciais clientes antes de lhes conceder empréstimos, em colaboração com a recém-criada Agência de Relatório de Créditos. Além disso, no mercado de cartões de crédito surgiram bancos públicos que se tornaram protagonistas ativos e fizeram os bancos privados recuar. Segundo a Frank Research Group, o Banco de Poupança ficou, neste ano, em segundo lugar neste mercado, com uma porção de 13,3%, seguido por outro banco estatal, o VTB24, com 10,1% do mercado. Como resultado, seus concorrentes privados diminuíram os juros anuais e anularam pagamentos adicionais. O agravamento da crise da dívida pública da zona do euro não permite aos banqueiros olhar para o futuro com otimismo, mas o rápido crescimento do crédito ao consumo na Rússia não parece ter nenhum entrave.

Os comerciantes vão receber pelo aluguel de um espaço na loja. “É uma maneira de popularizar o serviço para atingir o nosso objetivo, que é instalar mil terminais até o ano que vem”, afirma Grekov. Também para divulgar o novo serviço, a empresa está investindo em uma equipe de promotoras que ficam perto das máquinas e informam os clientes. Além disso, banners e adesivos são distribuídos nos pontos onde as máquinas são instaladas. Por enquanto, os terminais aceitam apenas dinheiro. No início de 2012, porém, passarão a aceitar pagamentos e recargas de celular por meio de cartões de débito e crédito das principais bandeiras, segundo o diretor comercial. Leitores de códigos de barras estão previstos no pacote para 2012, para permitir o pagamento de contas.

Mercado emergente

Para o executivo, a aposta no Brasil é natural. “É um dos mercados emergentes que mais cresce. Nossa empresa trabalha no varejo e vemos muitas semelhanças entre o mercado brasileiro e o russo”, afirma Grekov. “Na telefonia móvel, por exemplo, a grande maioria dos usuários, 74%, utiliza o sistema prépago e são nossos clientes em potencial”, explica, deixando claro que o serviço de recarga de créditos é o carrochefe dos terminais. Além do Brasil, a MegaPay está se inserindo nos mercados do México, Colômbia e A rge nt i n a n a A mé r ic a Latina.

Sem explosões

Segundo a companhia, a segurança das máquinas não é uma preocupação para a MegaPay. Apesar de o Esta-

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Ampliação do principal aeroporto de Moscou irá concorrer com o plano de expansão da cidade para o sudoeste.

Máquina não seria alvo de bandidos, segundo companhia

do de São Paulo ter registrado mais de 800 furtos em caixas eletrônicos neste ano, a maioria envolvendo a explosão do equipamento, a empresa informa que os terminais não são atrativos para bandidos. O motivo é que as máquinas não realizam saques e não

tarde. Eu nunca tenho tempo de resolver essas questões burocráticas, como pagar contas. E tenho que pedir para minha mãe comprar até crédito de celular. É vexatório”, afirma. “Uma máquina dessas, funcionando 24 horas, resolveria minha vida. Não ia de-

Por enquanto, terminais só aceitam dinheiro, mas cartões estarão disponíveis no ano que vem

“Não uso a internet para pagar contas porque já fui roubado e não confio”

armazenam grande quantidade de dinheiro. Com isso, não seriam alvos para criminosos, como acontece com caixas eletrônicos, que podem render quantias muito maiores a ladrões. Morador de Taboão da Serra, o publicitário André Mesquita, 29, afirma que vai usar o serviço sempre. “Trabalho no centro de São Paulo e saio

pender de favores ou de pedir para sair do trabalho para resolver meus problemas. Não uso a internet para pagar contas porque já fui roubado e não confio”, completa Mesquita, que faz compras em um supermercado que acaba de receber o terminal. “Vou procurar da próxima vez que for lá. Sem falta.”


Especial

Gazeta Russa

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Imóveis Empréstimos imobiliários devem alcançar níveis pré-crise até o fim do ano, estimulados por menores taxas de juros

Destaques no horizonte

A construção massiva de moradias também foi restrita a apenas alguns distritos, e somente desde que vias de acesso sejam construídas nessas áreas. Isso deve diminuir a oferta e provocar algumas alterações no mercado imobiliário da capital. Mas, a longo prazo, o fator que mais pode influenciar o setor é a proposta feita em junho pelo prefeito de dobrar o território da capital e transferir parte dos centros administrativos para essas novas áreas.

Especulações

lori/legion media

Um prédio de vidro e aço de 47 andares para fins comerciais e residenciais aflora bem ao lado de casas cenográficas do icônico estúdio cinematográfico Mosfilm, no sudoeste da capital

Demanda acumulada também contribuiu para boom do setor, que cresceu 3,6% em 2010 e deve movimentar R$ 36,8 bilhões. Ígor viújni

gazeta russa

O financiamento imobiliário segue crescendo na Rússia, após a queda observada em 2009. De acordo com os resultados dos três primeiros bimestres de 2011, os russos receberam empréstimos imobiliários num valor total de 396,6 bilhões de r ublos (R$ 22,8 bilhões), duas vezes mais que o índice registrado durante o mesmo período do ano passado, segundo dados da Agência de Empréstimo e Financiamento Imobiliário (AEFI). De acordo com a previsão da agência, até o fim do ano os créditos imobiliários irão atingir a marca de 640 bilhões de rublos (R$ 36,8 bi), chegando perto do nível pré-crise. Não é uma taxa recorde de crescimento: em 2010, o mercado hipotecário cresceu 3,6 vezes. De acordo com a Penny Lane Realty, a recuperação do mercado nesse ano foi empurrada pela moderação dos programas de hipoteca dos bancos e pela redução de suas taxas de juros a um mínimo histórico: em média, 11,9% ao ano em rublos, e 9,6% em dólares americanos. Além disso, a demanda acumula-

da também desempenhou papel importante nesse cenário, já que durante a crise os russos adiaram grandes aquisições a crédito esperando momentos mais estáveis. “O financiamento imobiliário se tornou evidentemente mais acessível”, diz Aleksandr Osin, economista-chefe da Finam Management Company. “De 70% a 80% do aumento foi gerado pelo programa estatal de apoio a empréstimos imobiliários”, completa. Instituído para manter as taxas abaixo dos 11% em rublos e restringir a entrada a não mais que 20%

concedeu empréstimos imobiliários num valor total de 80 bilhões de rublos.

“O empréstimo em dólares tem juros de 9,5% ao ano. Para fazer em rublos, me cobram 12% anuais”

Ao comprar imóveis na planta, cliente paga de 30% a 60% menos do que após o término da obra

do valor do imóvel, o programa custou o equivalente a R$ 14,5 bilhões. De acordo com a AEFI, o crescimento dos empréstimos é observado em todas as regiões do país. Em termos de capital, a maior parcela das transações hipotecárias tradicionalmente pertence a Moscou e a sua região, onde os cidadãos possuem os maiores rendimentos do país e onde está concentrado um terço dos bancos de varejo. Neste ano, a instituição já

mil foram emprestados por um banco e o restante ela deu do própr io bol so como entrada. “O empréstimo é concedido em dólares americanos a juros de 9,5% ao ano. É uma taxa baixa – para fazer um empréstimo em rublos, me oferecerem um plano com juros de 12% anuais”, conta. A duração do empréstimo é de 25 anos, com pagamentos mensais equivalentes ao valor de US$ 1 mil por mês, incluindo os juros. Durante

Parcelas em dólar

Ksenia, 28, é diretora de arte em uma agência publicitária e se mudou para Moscou há seis anos. Durante esse tempo, alugou uma casa na capital, mas em maio decidiu pedir um empréstimo imobiliário. O apartamento de um dormitório, de 20 metros quadrados, relativamente perto do centro e próximo de seu local de trabalho, custou o equivalente a R$ 213,8 mil. Segundo Ksenia, R$ 175

esse período, o apartamento permanece sob posse do banco. Ao pegar um empréstimo imobiliário em moeda estrangeira, Ksenia irá pagar um valor mensal menor, mas assumiu um grande risco. Durante os últimos três anos, o rublo perdeu 30% de seu valor frente ao dólar, e é impossível prever para onde irá a cotação da moeda americana nos próximos 25 anos. “O valor a ser pago pelos próximos 25 anos vai encarecer o apartamento em 300% quando comparado ao custo original”, diz Ksenia. Por enquanto ela não tem esperança de quitar o empréstimo, mas o valor do pagamento mensal se adequa às suas condições. “Costumava pagar 25 mil rublos por mês de aluguel. Agora meus gastos aumentaram um pouco mas, por outro lado, fazem parte das despesas com o meu apartamento.”

Empréstimo no mercado

De acordo com a AEFI, a participação do crédito imobiliário no mercado é, neste ano, de apenas 17,4% em relação a todas as transações imobiliárias. Os russos fazem a maioria das aquisições imobiliárias participando de projetos de construção com capital próprio ou investindo em empreendimentos prediais ainda na planta. O

preço nessa fase é 30% a 60% mais baixo do que após o término da construção. Além disso, o comprador pode pagar a maior parte do valor do apartamento por meio de um plano de parcelamento, às vezes até mesmo sem juros, mas apenas até o final da construção. Foi assim que a família Levachov comprou um apartamento de 40 metros quadrados em 2008. Localizado a 7 quilômetros de Moscou, o imóvel custou 3,05 milhões de rublos (R$ 176 mil). “Era uma época de crise, e os bancos tinham parado de ceder empréstimos imobiliários”, conta Tatiana Levachov. O casal pagou 60% do total na entrada e o restante foi dividido em 18 parcelas equivalentes a R$ 4 mil por mês, de forma que a taxa de juros ficou em 7%. Levando em consideração o aumento do preço de imóveis novos na região – em média 10% ao ano –, eles já lucraram.

a Incom Corporation. Paralelamente, a política de planejamento urbano da capital permanece inalterada desde 1984, o que resultou em uma série de problemas de transporte. No ranking IBM 2011, por exemplo, a cidade de Moscou ocupa o primeiro lugar dentre os europeus na classificação das piores cidades para proprietários de carro. Por isso, o novo prefeito da cidade, Serguêi Sobiânin, decidiu reduzir a construção civil na capital, cancelando, segundo a prefeitura, 200 contratos de investimento num valor equivalente a R$2 bilhões.

As decisões do prefeito foram recebidas pelo mercado imobiliário residencial como um sinal para elevar os preços, que caíram até 30% imediatamente após 2008 e ainda não retornaram aos níveis anteriores. Ainda assim, são apenas os novos imóveis econômicos localizados no território que será anexado a Moscou que estão tendo seus preços valorizados agora. Em três meses, o preço dos apartamentos nessa área aumentou até 15%, diz Igor Laditchuk, representante da i ncor poradora Mor ton Group of Companies. Segundo suas previsões, o status da capital irá acrescentar cerca de 30% aos preços iniciais dos apartamentos em prédios recém-construídos nos subúrbios. Devido às flutuações cambiais na Rússia, os investidores privados têm aplicado seu dinheiro em metros quadrados. E os investimentos mais rentáveis são especificamente os imóveis de classe econômica em edifícios recém- con st r u ídos ne ssa região. Sua participação no mercado é de até 80% da demanda relacionada a moradia, afirma Grigóri Kulikov, presidente do Conselho Adm i n i s t r at ivo d a M ie l Holding. A diferença entre os preços dos apartamentos em Moscou e na região de Moscou é de, pelo menos, duas vezes mais. “As pessoas praticamente fazem fila para adquirir esses imóveis”, disse a compradora Irina, em visita a uma construtora.

Empréstimos imobiliários

Planos para Moscou

Ao longo dos últimos 20 anos, a cidade de Moscou cresceu muito em termos de construção civil, aspecto favorecido pelo rápido aumento dos preços dos imóveis. Em 20 anos, o preço de um apartamento na capital aumentou, em média, 70 vezes, e o metro quadrado passou de R$ 270 a até R$ 12,5 mil, de acordo com

Banco Central do Brasil/ ABECIP/Agência Hipotecária de Crédito para Moradia

Alto padrão Transformação de antiga área industrial deve custar US$ 300 milhões e criará centro com apartamentos, lojas e restaurantes

Reduto de artistas e intelectuais, área abriga bares e fábrica de chocolate Outubro Vermelho, há anos transformada em galeria. Irina Filátova

The Moscow Times

O primeiro bairro nobre da capital, com um sofisticado complexo de apartamentos, além de restaurantes, lojas e um hotel de luxo, estimado no valor de US$ 300 milhões, pode surgir bem em frente ao Kremlin em um futuro próximo. De acordo com a DB Development, a empresa assinou contrato para desenvolver o projeto numa área de 30 mil m² n a á r e a c e nt r a l de Moscou. A DB é um empreendimento conjunto do Deutsche Bank e da construtora austríaca Strabag e irá desenvolver o plano na margem do rio Moscou, desde a ponte Kâmenni à residência do embaixador britânico. O projeto, cuja área total cobrirá 86.622 m², inclui um

complexo de apartamentos de 36.549 m², um hotel butique de 18.973 m² – ambos administrados pela rede Four Seasons – e um estacionamento subterrâneo para 400 carros. Também irá incorporar diversos prédios históricos da região. “Uma área para pedestres será criada à beira do rio, na Sofískaia Naberêjnaia, e será repleta de lojas e restaurantes”, anuncia comunicado da DB Development. A implementação do projeto deverá proporcionar a Moscou seu primeiro “bairro realmente nobre, com uma atmosfera própria e centros de lazer tão famosos quanto o Centro Guggenheim, em Nova York, e o Centro Pompidou e o Museu d’Orsay, em Paris”, ainda de acordo com o comunicado. “O investimento total chega a US$ 300 milhões”, diz Dmítri Garkucha, diretor da DB Development. Sua empresa, que irá garantir o financiamento, planeja estabelecer negociações com diversos

lori/legion media

Bairro nobre com vista para o Kremlin

Vista privilegiada do Kremlin, do outro lado do rio

bancos, incluindo o Alfa Bank, Sberbank e Deutsche Bank, para concessão de empréstimos, informou Garkucha. A Strabag será responsável pelo desenvolvimento do trabalho. “Considerando que a área da construção está localizada no centro histórico de Moscou – um espaço protegido onde a edificação em larga escala é proibida – a principal barreira que o projeto poderia enfrentar seria conseguir um alvará das autoridades da cidade”, disse Aleksêi Moguila, diretor do departamento comercial da imobiliária Penny Lane Realty. Garkucha promete que a construção, estimada para começar no próximo ano, não irá arruinar a linha do hor i zonte do cent ro da capital. A localização em frente ao Kremlin torna o projeto exclusivo, segundo Dmítri Khalin, sócio da imobiliária de a lto pad rão I nte r ma rk Savills.“Não existe nenhum outro lugar com uma vista

igual para o Kremlin; é a vista mais valiosa de Moscou e assim continuará pela próxima década”, disse por telefone. O loteamento do terreno, que os analistas afirmam valer entre US$ 160 milhões e US$ 200 milhões, era antes desenvolvido por duas firmas – Kremlin Sait e Kâmenni Most –, cujo controle acionário foi recentemente adquirido pelo Alfa Group. As duas empresas eram controladas anteriormente por Achot Eguiazarian - deputado da Duma (Câmara dos Deputados na Rússia) que corre risco de ser preso por uma fraude milionária em Moscou, por meio de uma empresa offshore -, e estavam entre os bens congelados no ano passado depois do início das investigações. Andrêi Kotcherov, porta-voz da unidade de investimento A1 do Alfa Group, confirmou que a empresa havia comprado os ativos, mas se recusou a fornecer detalhes sobre o acordo.

Diversas fontes próximas informaram ao jornal Vedomosti que os ativos adquiridos pelo grupo tinham sido liberados pelo tribunal. “Entre outras vantagens do projeto estão o tamanho do terreno e o fato de combinar um complexo de apartamentos com hotel sofisticado sob uma única administração”, disse Khalin, acrescentando que os apartamentos do complexo seriam muito requisitados por membros da elite regional ansiosos por exibir seus status. Os preços dos imóveis no complexo poderiam variar de US$ 30 mil a US$ 60 mil por metro quadrado, dependendo da arquitetura interna do apartamento, disse. Segundo Garkucha, pode demorar até dez anos para o hotel e o complexo de apart a m e nt o s s e t or n a r e m rentáveis. “O número de contratos mensais fechados com propriedades desse tipo em Moscou raramente chega a sete”, disse Khalin.


Opinião

Gazeta Russa

www.gazetarussa.com.br

Brasil pode comprar mais armas russas Viktor Litóvkin

especialista militar

O

recém-publicado anuário do Cacimg (Centro de Análise do Comércio Internacional de Material de Guerra), Estatísticas e Análise do Comércio Mundial de Material de Guerra entre 2003 e 2010, contém dados sobre as exportações de armas para o Brasil, originárias de 14 países, nos últimos oito anos. Segundo o anuário, as importações brasileiras originárias desses países atingiram US$ 2,677 bilhões. No mesmo período, o Brasil encomendou o equivalente a US$ 14,637 bilhões em armas, principalmente no âmbito dos programas de cooperação a longo prazo com França e Itália. O maior exportador mundial de equipamento bélico para o país no período de 2003 a 2010 foi os Estados Unidos, com US$ 632 milhões e 23,6% do mercado, além de encomendas equivalentes a US$ 1 bilhão (6,85% do mercado). O segundo lugar no

ranking de exportações de armas para o Brasil ficou com a França, com US$ 459 milhões e 17,1% do mercado, seg u id a p or I s r ae l , c o m US$ 433 milhões e 16,2% do m e r c a d o, A le m a n h a e Espanha. A Rússia segue atrás de seus concorrentes, com US$ 145 milhões e encomendas no valor de US$ 270 milhões, mas permanece como um dos grandes exportadores de armas para o Brasil. O que podemos dizer além daqu i lo revelado pelos números? O fato de os EUA liderarem o ranking mundial de exportações de armas para o Brasil não é surpresa. Os EUA têm sido sempre líderes, para não dizer monopolistas, nas exportações de armas para a América Latina. Poucos países, inclusive ocidentais, conseguiram “fazer dar samba” com os militares locais. A Boeing, Lockheed Martin, Raytheon e outros pesos-pesados da indústria de guerra norte-americana mantinham seu feudo bem fechado aos estranhos.

Só nos últimos anos, quando o Brasil passou a ser governado por líderes não muito obedientes ao grande irmão do norte, surgiram no mercado brasileiro empresas francesas, alemãs, espanholas e israelenses. Como resultado, segundo a revista The Military Balance-2011, dos 267 carros de combate atualmente em serviço no Exército brasileiro, só 90 são de origem norteamericana (diversas versões do M-60). Os outros são Leopards alemães. Mais do que isso, a empresa alemã Krauss-Maffei Wegmann, fabricante de blindados sob a marca Leopard, gan hou u m cont r at o de manutenção técnica de seu parque de blindados no Brasil para os próximos cinco anos e de fornecimento de equipamentos de treinamento para uso dos mesmos. Para esses fins, a empresa pretende abrir representação na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, com a participação de especialistas locais. Embora o valor do contrato se mantenha em si-

gilo comercial, sabe-se que o acordo equivale a vários milhões de euros. Segundo o Cacimg, o Brasil tem uma experiência, ainda que pequena, de cooperação com a Rússia, da qual já comprou sistemas portáteis de defesa antiaérea Igla e helicópteros militares de carga e de ataque Mi-35. O país pretende comprar também sistemas de mísseis antiaéreos Tor-M2 para o Exército, para proteger seu espaço aéreo durante as Olimpíadas de 2016. Todavia, a problemática da defesa antiaérea do Brasil e dos aviões de combate brasileiros merecem um tópico à parte. O parque aeronáutico do Bra-

sil é composto principalmente por caças norte-americanos e franceses obsoletos. O país anunciou várias vezes licitações para a compra de um caça moderno e teve, entre outras, propostas pelo caça russo Su-35 de geração 4++. A vitória renderia à empresa russa Sukhôi cerca de US$ 700 milhões, além de uma cooperação com o Brasil na indústria aeronáutica. Mas a concorrência não chegou a acontecer, entre outras, por razões econômicas. Da última vez que foi anunciada, a proposta russa sequer foi admitida na licitação. O Brasil havia sugerido à Rússia uma “troca econômi-

ca”: se a Sukhôi vencesse a licitação, Moscou compraria do Brasil, em contrapartida, um pacote de aeronaves regionais para voos de curta distância da empresa Embraer e até começaria sua produção licenciada. A Rússia não aceitou a proposta, pois estava prestes a lançar no mercado a aeronave civil Sukhôi SuperJet. No entanto, mais tarde verificou-se que a Aeronaves Civis Sukhôi, assim como suas congêneres nacionais Antonov e Tupolev, não têm no momento condições para satisfazer as necessidades da Rússia em aeronaves regionais de curto e médio curso.

Assim, o presidente Dmítri Medvedev anunciou que Moscou está disposta a comprar no exterior aeronaves regionais. O anúncio abre o mercado russo à Embraer e também à canadense Bombardier, e proporciona aos exportadores nacionais de material de guerra a oportunidade de se fixar no mercado de armas brasileiro. Se isso acontecer, uma carteira de pedidos de compra no valor de US$ 270 milhões poderá parecer demasiadamente pequena para os dois países. Víktor Litóvkin é editorchefe da revista Nezavisimoie voiennoie obozrenie

O dilema da rússia para aderir À OMC Andrêi Nechaev

A

economista

Rússia está outra vez à porta da OMC (Organização Mundial do Comércio). Digo outra vez porque, pelo que me lembre, esta é a terceira ou até a quarta tentativa de entrar na organização: assim que colocávamos o pé na soleira para entrar, tínhamos sempre a porta fechada na cara, embora todos os presidentes norte-americanos desde Bill Clinton tivessem prometido à Rússia um apoio enérgico no processo de adesão a esse organismo internacional. O delegado nas negociações sobre a adesão da Rússia à OMC, Maksim Medvedkov, havia declarado, já em meados de 2005, que em dezembro daquele ano a Rússia se tornaria Estado-membro da OMC. Agora estamos em 2011 esperando outra vez pela to-

mada de decisão sobre nossa adesão à organização para dezembro. A adesão da Rússia à OMC é a questão mais polêmica do país na última década. Os apoiadores do projeto têm sido duramente criticados e até acusados de desejarem des-

O clima favorável aos investimentos em um país não se cria por restrições artificiais à concorrência truir a economia russa. À luz disso, o presente artigo é uma tentativa de analisar sem emoções os pontos fracos e fortes da eventual adesão. Se a Rússia se unir à OMC, teremos de dizer adeus às técnicas primitivas da política aduaneira, como impostos proibitivos sobre a importação de carros estrangeiros ou

regulação administrativa direta de investimentos estrangeiros e importações. Como sabemos, sua longa vigência, apesar das promessas do governo de aplicá-las a curto prazo, não ajudou a proteger o setor automotivo nacional, que se encontra atualmente em estado quase de coma. O clima favorável aos investimentos em um país não se cria por restrições artificiais à concorrência, cuja falta prejudica muito a economia (e a política) russa, mas sim pela garantia dos direitos de propriedade (inclusive a propriedade intelectual), independência e profissionalismo do poder judiciário, pela administração tributária em lugar da “extorsão tributária”, pela diminuição substancial da pressão burocrática e administrativa sobre os empresários e cidadãos, redução da corrupção e outros medidas conhecidas, cuja implantação infelizmente não está previs-

ta para breve na Rússia. Com a entrada da Rússia na OMC, alguns setores da economia local vão enfrentar uma forte concorrência por parte dos produtos importados. Mas isso fará bem ao consumidor nacional, quer pessoas físicas quer produtores nacionais. Ao mesmo tempo, nossa adesão permitirá melhorar as condições da exportação de produtos e investimentos russos para o exterior e da entrada no país de investimentos diretos, necessár ios à modernização. Como se sabe, as técnicas de regulação e proteção do mercado interno não se esgotam com os impostos aduaneiros ou barreiras administrativas. Os países desejosos de defender seus mercados internos chegam, em regra, a acordos com a OMC. Um exemplo clássico disso é a China, que, apesar de ser membro da organização, mantém a prática atípica da economia de mer-

cado de fixação da taxa de c â m bio d e s u a m o e d a nacional. Gostaria de assinalar que os requisitos que foram apresentados na fase final das negociações para a adesão não eram tão rígidos. Por exemplo, o nível de apoio do Estado à agricultura permitido pela OMC é maior que o atual. A proteção da propriedade intelectual (objeto de conflito sério com a OMC) é também de vital importância para nós. Sem ela, todas as declarações sobre a economia da inovação, modernização e entrada de nossos produtos de alta tecnologia nos mercados externos não passarão de meras boas intenções. Aliás, o ganho corrente com a adesão à OMC não é tão grande. A possibilidade de utilizar seus mecanismos para fazer frente às restrições impostas às exportações russas mediante os procedimentos anti-dumping, fixação de

cotas ou a aplicação de outras técnicas proporcionará um benefício direto equivalente a apenas alguns bilhões de dólares (as estimativas variaram, em diferentes anos, entre US$ 2,5 e US$ 4 bilhões). A julgar pelo volume de nossas exportações, esse benefí-

Com a entrada na OMC, alguns setores vão enfrentar forte concorrência de importados cio é pequeno e favorece principalmente os metalúrgicos, fabricantes de fertilizantes, exportadores de grãos e alguns outros setores econômicos. De qualquer maneira, vendemos para o mercado externo tanto petróleo e gás quanto os estrangeiros quiserem comprar e pudermos exportar. Nossas exportações de pro-

dutos tecnologicamente sofisticados se restringem basicamente a material de guerra para países do terceiro mundo. A adesão à OMC deverá criar, no futuro, condições mais favoráveis à entrada russa no mercado global de engenharia mecânica e de outros produtos de alta tecnologia. Um outro fator positivo é que a Rússia deverá harmonizar sua legislação nacional com os princípios da OMC (leia-se com os do mundo inteiro). Com efeito, não é à toa que o número de países integrantes da OMC é comparável ao número de países-membros da ONU e que nenhum país integrante da OMC declarou sua intenção de abandoná-la. Pelo contrário, quase todos os países do mundo querem se juntar a esse organ ismo internacional. Andrêi Nechaev foi ministro da Economia da Rússia entre 1992 e 1993.

Andrêi Kisliakóv

N

Analista

o início de novembro, a televisão chinesa transmitiu ao vivo o lançamento da espaçonave Shenzhou-8. Segundo informações do Centro de Controle de Voos, ela se desacoplou com sucesso do veículo lançador, entrou em órbita programada e abriu seus painéis solares. Tudo como era esperado. O lançamento tem grande importância para Pequim porque as autoridades espaciais chinesas pretendem acoplar a Shenzhou-8 à nave Tyangun-1, lançada no final de setembro. Caso a iniciativa tenha êxito, a China terá a primeira atracação bem-su-

cedida de dois objetos em órbita na história de seu programa espacial e demonstrará capacidade de instalar no espaço sua própria estação orbital, conforme plano de exploração espacial previsto para 2020. Recentemente, a China alcançou um marco simbólico na exploração espacial, realizando mais de 100 lançamentos para o transporte ao espaço de cargas úteis. Parece que o país não tem pressa, já que levou mais de 40 anos para atingir o resultado, mas é preciso lembrar que metade dos lançamentos citados foi executada somente na última década. Durante esse tempo, a China criou e lançou vários sistemas de comunicação, reconhecimento e navegação por saté-

lite, colocou em órbita satélites meteorológicos e uma série de naves espaciais experimentais e de pesquisa, ultrapassando as potências espaciais mundiais nos indicadores de rendimento por lançamento. Mais que isso, a China foi o terceiro país, após a União Soviética e os Estados Unidos, a enviar um homem em uma missão orbital. Não é segredo que o programa espacial chinês tem raízes russas. A URSS ajudou a China a criar sua indústria aeroespacial e a formar especialistas e cientistas. Aliás, o principal veículo lançador de satélites (VLS) chinês, batizado de “Longa Marcha”, é uma versão modernizada do míssil balístico soviético UR-200, projetado pelo acadêmico soviético Vladímir Chelomêi.

Hoje, a China está desenvolvendo uma frota inteira de veículos lançadores completamente novos, de aplicações diferentes e mais potentes, que apresentam um conjunto de elementos encaixáveis com os quais se pode construir um VLS capaz de transportar qualquer tipo de carga, leve ou pesada. Aliás, a mesma tecnologia foi utilizada na construção dos foguetes russos Angará. Os motores de foguetes chineses movidos a combustível líquido foram construídos, em sua maioria, com base na tecnologia russa. No entanto, muitas outras conquistas no setor de construção de motores para foguetes são mérito de cientistas e especialistas chineses, muitos dos qu a i s se for m a ra m e m

universidades soviéticas. A Rússia vendeu à China suas tecnologias espaciais por meio de um acordo intergovernamental de 25 de abril de 1996. Como o documento é secreto, os diretores das empresas russas envolvidas na cooperação com a China não revelam quaisquer detalhes dos trabalhos conjuntos, embora não escondam o fato de se relacionarem com o país na área espacial. Não obstante, sabese que a China comprou da Corporação Espacial Russa Enérguia a maquete de um módulo de descida da espaçonave Soiuz e equipamento de aproximação e atracagem automática. Atualmente, a Rússia e a China estudam possibilidades de desenvolvimento e implantação conjunta de uma série

niyaz karim

parceria no setor espacial levarÁ china e Rússia a marte

de grandes projetos. Até agora, foi bem-sucedido o programa de cooperação bilateral para o período de 2007 a 2012, que se tornou um prosseguimento lógico do programa anterior de três anos e compreende 33 áreas de cooperação. O programa lunar prevê trabalhos conjuntos no âmbito do projeto Lua-Glob, para 2014. A missão da sonda russa Fobos-Grunt, a ser lançada em 9 de novembro, ajudará a esclarecer a origem dos planetas no sistema solar. O ob-

jetivo do projeto é colher e trazer à Terra amostras da superfície de Marte. O VLS russo Zenit levará a Marte não só a Fobos-Grunt como também o chinês Jung-1. O programa autônomo do Jung-1 vai durar um ano. Com a ajuda dele, os cientistas chineses esperam compreender como a água desapareceu da superfície marciana. Andrêi Kisliakov é analista do programa de rádio Voz da Rússia

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Em Foco

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Guerra e Paz Obra é traduzida direto para o português quase 150 anos após primeira edição

Uma epopeia na tradução direta dos russos Editora pretende publicar mais clássicos da literatura russa e tem entre seus projetos coleção de arte modernista e Nikolai Gógol.

Guerra e Paz no Brasil

Marina Darmaros

ullstein bild/vostock-photo

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Quando Rubens Figueiredo traduziu Anna Kariênina, obra do conde russo Lev Tolstói (1828-1910, também grafado como “Liev” no Brasil) publicada no final de 2005 no Brasil, trilhou um caminho sem volta. “Depois de fazer Anna Kariênina e Ressurreição, o Guerra e Paz se tornou quase uma obrigação”, diz. Publicado pela primeira vez em 1868 na Rússia (veja principais edições abaixo), o romance épico Guerra e Paz conta a história da invasão napoleônica da Rússia tsarista sob o ponto de vista de cinco famílias aristocráticas do país. A obra teve 36 milhões de exemplares vendidos somente na União Soviética, segundo dados da revista russa Kompiuart de março de 2000. Apesar das diversas edições em português no Brasil desde 1958 pela editora Globo, até 1974 pelo Círculo do Livro, e em 2007 pela L&PM -, uma das principais características da publicação de Guerra e Paz pela Cosac Naify neste mês é que a obra ganhou sua primeira tradução direta do russo no país. Até poucos anos atrás, as obras russas eram trazidas para o Brasil já de traduções para outras línguas, como o francês, e ficavam mais sujeitas a mudanças de sentido e de construção. “O lançamento é um acontecimento muito importante para a literatura mundial, já que este romance ocupa o primeiro lugar na literatura universal”, afirma a russa rE-

Principal obra de Lev Tolstói se soma a outras obras traduzidas diretamente nos anos 2000

lena Vássina, professora de letras russas na Universidade de São Paulo.

Tradutor “oficial”

Escritor premiado, inclusive com o Portugal Telecom de Literatura 2011 por seu Passageiro do Fim do Dia, Figueiredo tornou-se também uma marca como tradutor de Lev Tolstói no Brasil. “Ele é uma figura muito importante, conhecido e premiado como escritor, e tem uma imagem literária muito peculiar. É uma sorte da literatura russa tê-lo como tradutor”, afirma Vássina. Uma das grandes preocupações de Figueiredo é a de manter o estilo do autor, in-

clusive com recursos desprezados por alguns editores, como a repetição de palavras, que muitas vezes geram trechos totalmente reescritos em suas versões traduzidas. “A principal dificuldade decorreu do esforço de preservar ao máximo os traços de linguagem relevantes para o significado geral da obra e para as preocupações do escritor”, diz Figueiredo. Por ser uma obra densa, cheia de personagens históricos, a editora também preparou materiais extras anexados ao título. São cinco mapas, uma lista de personagens históricos, militares e outras figuras reais que permeiam o romance, além de u ma

escolha da especialista

Edições mais notáveis de Guerra e Paz na Rússia Galina Aleksêieva, diretora do departamento de pesquisa e do Museu Tolstói de Iásnaia Poliana , indica as três principais edições da obra mais famosa do escritor russo

apresentação do próprio Figueiredo e sugestões de leitura para o leitor que se interessar em saber mais sobre Tolstói e Guerra e Paz. “A gente fez uma revisão especial e trabalhou com quatro pessoas no texto. Contratamos um editor-assistente só para este livro, para acompanhar tudo, e que elaborou, por exemplo, essas listas e mapas”, conta o diretor editorial da Cosac, Cassiano Elek Machado. A primeira fornada sairá em uma edição especial de 7 mil exemplares – um número considerado alto para o Brasil, onde lançamentos geralmente têm tiragem inicial de 3 mil. A obra virá em dois tomos numa caixa e, apesar das mais de 2 mil páginas, seu tamanho regular será garantido pelo uso de papel-bíblia, mais fino e leve. “É um livro que começou a ser criado há mais de quatro anos. Só a tradução durou três anos, e depois teve de seis a sete meses de edição. Então, ao longo desse processo a gente foi recriando o projeto até chegar em um formato menor, com papel mais fino, para a leitura ficar mais confortável”, explica Machado.

Um século tolstoiano “A mais interessante é esta primeira edição, que saiu entre 1868 e 1869 pela editora Ris, em Moscou. Inicialmente, o romance saiu na revista “Rúski Vestnik”, e a primeira publicação em livro foi esta, que já é uma raridade, e não se encontra em qualquer biblioteca russa. Depois, surgiram centenas de edições pelo mundo.”

“A edição de 1983 que saiu pela série Monumentos Literários da editora Akademia Nauka é digna de nota por utilizar a primeira redação da obra, que teve algumas variantes (que somam 5 mil páginas de manuscritos armazenadas hoje em Moscou). A preparação é da famosa crítica Evelina Zaibentshur, já falecida.”

“A edição de luxo de 2008, lançada em razão dos 180 anos de Tolstói, saiu pela editora Béli Gorod, na série Monumentos da Literatura Mundial. É ilustrada belissimamente com retratos dos heróis da guerra de 1812, com desenhos maravilhosos feitos ainda durante a vida de Tolstói para a obra e de artistas contemporâneos.”

Guerra e Paz é o sexto livro de Tolstói pela editora, e uma realização importante numa longa lista de publicações diretas do russo ao longo de 2011. Do conde, só neste ano, ainda pode-se conferir os lançamentos A Nova Antologia do Conto Russo, da editora 34, Os Últimos Dias de Tolstói (coletânea de cartas, ensaios etc.), da Cia das Letras, Contos de Sebastópol, da editora

Calendário Cultura e negócios Tomo Suas Mãos Nas Minhas

Temporada Osesp: Tortelier e Lamsma

Até 18 de dezembro, sex. e sáb. às 21h, Sesc Consolação, São Paulo

De 8 a 10 de dezembro, qui. e sex. às 21, sáb. às 16h30, Sala São Paulo, São Paulo

Peça baseada nas cartas trocadas entre Anton Tchekhov e a atriz Olga Knipper, que o estimulou a escrever algumas de suas obras primas. ›› www.sescsp.org.br

recomenda:

Voz da Rússia Descubra a frequência na sua região

portuguesse.ruvr.ru

Oficina: Stanislávski De 5 a 9 de dezebro, seg. a sáb. às 19h, Complexo Cultural Funarte, São Paulo

Em edição especial com tiragem de 7 mil exemplares, primeira tradução direta do romance épico de Tolstói sai no Brasil pela editora Cosac Naify. A obra vem em dois tomos em uma caixa e tem tamanho reduzido devido ao uso de papel-bíblia, mais fino, para tornar a leitura de suas mais de 2536 páginas mais confortável. Custa R$ 198.

Hedra, e Contos Para o Povo, a ser lançado até o final de 2011 pela editora Ateliê. Além disso, o ano foi marcado pela visita ao Brasil, em setembro, de Vladímir Tolstói, tataraneto do escritor e diretor do Museu Tolstói de Iásnaia Poliana, a propriedade rural do conde. “No seminário dedicado a Tolstói com a participação de Vladímir, ele disse que, se o século 20 foi de Dostoiévski, com muitas leituras e traduções do autor, o século 21 é de Tolstói”, conta Vássina. Enquanto isso, Fiódor Dostoiévski, o escritor russo contemporâneo de Tolstói, continua a ser um dos sucessos do catálogo da editora 34, que produziu boa parte das traduções de sua obra. Com o avanço da Cosac sobre os títulos de Tolstói, criou-se uma espécie de contrato subliminar entre as editoras. “Cada editora pegou um autor para trabalhar: a gente sempre com Tolstói, e eles com Dostoiévski. Não é um acordo por escrito, mas é quase um acordo informal de que a gente evitaria entrar no terreno do Dostoiévski e eles no do Tolstói”, conta Machado, que tem apenas um título do escritor peterburguense em seu catálogo: Uma Criatura Dócil. Mais que de um escritor ou de outro, o século 21 tem se mostrado o da literatura russa no Brasil. “Mesmo sendo um tipo de tradução que não é o mais comum de se fazer, porque tem muito mais gente traduzindo do inglês, do francês, do italiano etc., a resposta do público à literatura russa é m u i t o b o a ”, a f i r m a Machado.

Confira mais

no calendário online www.gazetarussa.com.br

11° Kosmetik Expo Moscow De 8 a 11 de fevereiro, Gostini Dvor, Moscou

MosShoes 2012 De 10 a 13 de janeiro, Crocus Expo, Moscou

Sob regência de Yan Pascal Tortelier, o violinista Simone Lamsma apresenta o concerto n° 1 de Shostakovich e O Quebra Nozes, de Piotr Tchaikovsky.

Com 40 horas de palestras e debates, a oficina pretende apresentar as múltiplas faces da herança cultural do ator, diretor, pedagogo e teórico do teatro Konstantin Stanislávski. Vagas limitadas

O evento reúne profissionais e fabricantes de cosméticos, aparelhos de estética, acessórios para salões, sistemas a laser para clínicas estéticas, produtos alimentícios dietéticos etc.

Em sua 50° edição, a feira moscovita vai reunir fabricantes, fornecedores e revendedores de sapatos, bolsas e acessórios de todo o mundo em 230 mil metros quadrados e mais de 180 estandes.

›› www.osesp.art.br

›› www.funarte.gov.br

www.ki-expo.ru

›› www.mosshoes.com

Contatos Para questões editoriais contatar br@rbth.ru Para anunciar aqui contatar sales@rbth.ru Tel.: +7 495 775-31-14

receita

Kharchô: um prato vindo das fronteiras Jennifer Eremeieva

especial para gazeta russa

A clássica cozinha russa não é conhecida por pimentas e sabores exóticos. Mas, ao longo dos séculos, os russos têm incorporado com sucesso tanto os sabores quanto as técnicas de cozinha dos seus vizinhos próximos. O kharchô, uma sopa de carne e tomate, é um exemplo perfeito de prato celebrado muito além das fronteiras de seu lugar de origem, a Geórgia. Na Rússia, é um prato que pode ser encontrado em qualquer cantina que fornece alimentos para os trabalhadores, assim como nos menus de restaurantes sofisticados. E pode ainda estar entre os pratos favoritos de uma família. Eu, particularmente, gosto de prová-lo nos dias frios, por seu poder incrível de nos aquecer. Para cada cozinheiro, há uma receita de kharchô diferente. Não existe muita concordância sobre os ingredientes básicos da receita: uns defendem o carneiro, outros insistem na carne de boi.

A facção do arroz recusa-se a discutir os méritos do mais tradicional trigo ou pão seco amolecido no iogurte. Mas uma coisa é certa: o kharchô tem sua marca registrada num sabor agridoce e um quê azedo advindo de frutas secas. Na Rússia, é vendido com uma mistura pegajosa e grossa de pele de frutas secas para acompanhamento. Substitutos aceitáveis incluem ameixas secas, pêssegos e suco de romã e pele de tamarindo. Eu uso todos os quatro para conseguir o sabor exato. Se você optar pelo trigo (e essa é a minha escolha), tente cozinhá-lo separadamente e adicioná-lo na sopa logo antes de servir. Desse modo, o trigo não irá absorver toda a mistura e transformar a sopa em um mingau. Certifique-se de ter bastante coentro fresco, salsinha e dill para uma decoração generosa. Finalmente, o kharchô é um daqueles pratos que ficam melhores no dia seguinte. Então, vá em frente, e faça um monte!

jennifer eremeieva

Ingredientes:

• 2 litros de caldo de frango ou de carne – ou uma mistura dos dois; • 1 kg de carne bovina ou de carneiro, cortada em cubos de 1,5 cm; • 2 cebolas grandes, cortadas em fatias finas; • 10 tomates bem maduros (frescos ou em lata) sem semente, cortados em cubos; • 45 ml de azeite de boa qualidade; • 60 g de ameixas secas e pêssegos; • 4 dentes de alho, descascados e amassados; • 15 g (2 colheres de chá) de pele de tamarindo; • 45 g de pasta de tomate; • 1 g (1/4 de colher de chá) de pimenta-caiena; • 1 g (1/4 de colher de chá) de páprica; • 2 g (1/2 colher de chá) de estragão seco; • 1 g (3/4 de colher de chá) de sementes de coentro, esmagadas; • 1 g (1/4 de colher de chá) de sementes de feno-grego, esmagadas; • 60 g (1/4 de xícara) de amendoim amassado; • sal e pimenta a gosto; • 45 ml de suco de limão fresco; • 500 ml (2 xícaras) de suco de romã; • 625 ml (2 xícaras e 1/2) de água quente; • 250 g (1 xícara) de trigo seco; • 15 ml de óleo vegetal ou azeite; • 2 xícaras de ervas mistas para enfeitar: hortelã, salsinha, coentro e dill.

Modo de preparo:

1. Misture as ameixas secas e os pêssegos em 60 ml (1/4 de xícara) de água quente e reserve. 2. Misture a pele de tamarindo em 60 ml (1/4 de xícara) de água quente e reserve.

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3. Aqueça o óleo em uma panela grande de sopa ou em um forno holandês. Enquanto o óleo aquece, seque a mistura de carnes bovina/carneiro com toalhas de papel e tempere-a com sal e pimenta. 4. Quando o óleo estiver quente o suficiente, doure a carne, virando os cubos para garantir que todas as superfícies entrem em contato com o óleo quente. Continue até que a carne fique dourada (de três a cinco minutos). 5. Abaixe o fogo para médio e acrescente as cebolas e o alho. Mexendo com frequência, deixe a cebola murchar até ficar translúcida e dourada. 6. Acrescente os tomates e a pasta de tomate e mexa pra misturar os ingredientes. 7. Acrescente o caldo, as pimentas e o amendoim. Diminua o fogo e deixe ferver. 8. Tire toda água, deixando apenas 15 ml. Amassando as ameixas, coloque-as em um processador ajustado com a lâmina de aço e ligue até que elas fiquem com uma consistência de geleia. Adicione à sopa fervente. 9. Acrescente a pele do tamarindo à panela, tampe, abaixe o fogo e deixe ferver por 45 minutos. 10. Enquanto a sopa está cozinhando, prepare o trigo. Refogue o trigo em óleo vegetal ou azeite até ficar brilhante e alguns grãos “estourarem”. Adicione os 500 ml restantes da água na panela. Tampe e abaixe o fogo até o trigo absorver toda a água (15 a 20 minutos). 11. Após a sopa ferver por 45 minutos, coloque o suco de limão e o suco de romã. Prove e adicione sal e pimenta se achar necessário. 12. Para servir, aqueça pratos fundos de sopa no forno. Coloque um punhado de trigo no centro do prato e despeje o kharchô por cima. Decore com ervas frescas. Sirva e se delicie!

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