2011_12_FO_Ack

Page 1

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), Clarín (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

gazetarussa.com.br

Política e Sociedade

Russos enfrentam (e aproveitam) seu inverno rigoroso

Sôtchi-2014 sai caro para a Rússia, mas deixará legado à cidade

Repressão policial não impede flashmobs por todo o país

P. 6

P.5

DOMINGO, 1 DE JANEIRO DE 2012

LEGION MEDIA

Economia e Mercado RIA NOVOSTI

Especial

P.3

PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES

Eleições parlamentares Pouca atenção do governo a pedidos de anulação impulsionou ainda mais protestos

Novos dezembristas

NOTAS Gazprom e Petrobrás prontas para acordo

Depois de presidente dizer que vídeos de fraudes não eram confiáveis e primeiroministro que governos estrangeiros financiavam manifestantes, mais russos aderiram a demonstrações.

AFP/EAST NEWS

Milhares de vídeos e denúncias – mais exatamente 7.778 só no site colaborativo Mapa das Fraudes - entupiram a internet no dia das eleições parlamentares, em 4 de dezembro. As imagens mostravam desde canetinhas que se apagavam nas seções eleitorais até mesários preenchendo cédulas para o partido dominante Rússia Unida. Desde então, quatro manifestações já foram organizadas na capital russa pela anulação das eleições. Mas, enquanto os manifestantes não têm suas demandas efetivadas, as respostas do governo às movimentações têm agravado ainda mais a situação, com detenções massivas e declarações despropositadas.

FABRICIO YURI

MARINA DARMAROS, VASSÍLI KRILOV GAZETA RUSSA

Quarta manifestação, na avenida Sakharov reuniu pelo menos 70 mil, segundo monitores independentes. Primeira tinha 5 mil.

CONTINUA NA PÁGINA 2

Destino Brasil Mesmo sem sucesso em voos diretos entre países, agências não desistem de turistas russos

Russos na mira do turismo brasileiro parte de uma ação da embaixada brasileira na Federação Russa e premiou cinco russos com passagens aéreas e estadia em Fortaleza (C E), com d i r e ito a acompanhante. “Esses trens carregam literalmente milhões de passageiros toda semana e são exatamente nosso público alvo, ou seja, pessoas que viajam de avião, pela razão que seja - passeio, trabalho etc.”, explica o segundo secretário da embaixada, Danilo Teófilo. Como parte da campanha, nos seis primeiros meses do ano foram criados websites, implementadas ações publicitárias e realizado um evento de encerramento em um

MARINA DARMAROS GAZETA RUSSA

Quem entrou entre abril e maio de 2011 em um dos trens expressos que viajam a cada meia hora para os três principais aeroportos da capital russa – Sheremêtievo, Domodêdovo e Vnúkovo - pôde assistir, durante boa parte do percurso, a vídeos de promoção turística do Brasil nas TVs ali instaladas. A veiculação do material foi

Fabricio Yuri

NESTA EDIÇÃO

restaurante panorâmico de Moscou. A estudante Elena Gumárova, 23, uma das contempladas, até o ano passado conhecia o país só por meio das novelas transmitidas a partir dos anos 90 na Rússia. “Talvez tenha sido então que nasceu o sonho de muitos telespectadores russos de visitarem o ensolarado Brasil”, diz Elena, que levou a irmã Svetlana, 25, como acompanhante na viagem.

Mercado promissor

Com um total anual de cerca de 5 milhões de visitantes, o Brasil conta com a Argentina, os Estados Unidos e a Itália como principais emisso-

ESPECIAL

ALAMY/LEGION MEDIA

Desde o início de 2011, quando foi estabelecido - e descontinuado - um voo direto entre Moscou e Rio de Janeiro, setores público e privado brasileiros querem atrair o turista russo.

Empresários russos e brasileiros se reuniram no final de 2011 na Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) para o seminário “Oportunidades para o desenvolvimento dos negócios entre Rússia e Brasil”. Com a participação de representantes do Vnesheconombank – equivalente ao BNDES russo – e da Transpetro, maior construtora de navios do mundo, o seminário teve como objetivo aprofundar as relações comerciais entre os países. Apesar das dificuldades, Brasil e Rússia já fecharam alguns negócios, como lembrou Andrei Budaev, cônsul-geral do país no Rio de Janeiro, durante a abertura do seminário. “Gazprom e Petrobras já estão definindo acordos de cooperação em pesquisa de petróleo e gás”, exemplificou. Para o presidente da Câmara Brasil-Rússia, Gilberto Ramos, os dois países ainda não se tornaram grandes parceiros comerciais principalmente por causa do desconhecimento mútuo.“Trabalho com a Rússia desde 1988, mas ainda não vejo uma estratégia de comunicação institucional contundente”, disse Ramos. “A demanda do mercado energético não está sendo atendida, ainda há quase 60% do mercado vago”, concluiu o diretor do GCE Group, Dmítri Lobkov. Leia mais na página 3.

ALEXEY IORSH

Rússia ainda está longe no ranking de países que mais enviam turistas para o Brasil, mas a procura é crescente

res de turistas para o país, segundo dados do Departamento de Polícia Federal e do Ministério do Turismo. Em 2009, segundo relatório conjunto dos dois órgãos, esses países enviaram ao Brasil, respectivamente, 25%, 12% e 5% do total de turistas recebidos naquele ano. A

Rússia, porém, não figura no ranking, que lista apenas os 16 m a i o r e s e m i s s o r e s mundiais. Mas, no Brasil, tanto a iniciativa pública quanto a privada continuam a investir no longínquo mercado russo.

Animador de torcida

Medvedev ainda tem muitos desafios para alcançar o cargo de primeiro-ministro PÁGINA 7

CONTINUA NA PÁGINA 4

EM FOCO

Agricultura Contando com safra recorde de beterraba, país pretende exportar açúcar

Um doce negócio para Moscou

ALEKSÊI KUZMENKO RBC DAILY

No início de 2011, a Rússia comprava grandes quantidades de açúcar de Cuba e do Brasil. Maior exportador do

Veja slide show em www.gazetarussa.com.br MICHAEL MORADSOV/FOCUS PICTURES

Indústria açucareira supriu 100% da demanda interna em 2011. Projeção era que país alcançasse 80% do mercado só em 2020, mas ganho de produtividade antecipou a meta.

Aumento da produção de beterraba sacarina supriu mercado interno

produto para o país, o Brasil vendeu para a Rússia, só entre 2010 e abril de 2011, 2,3 milhões de toneladas de açúcar, segundo pesquisa de mercado do ID Marketing. Atualmente, o país euroasiático é responsável por apenas 2,5% da produção mundial de açúcar, enquanto o Brasil detém 23,5%. Mesmo assim, especialistas do setor acreditam que a Rússia poderá passar de importadora a expor-

tadora nos próximos anos. O único impedimento para ampliar o destino do produto russo no mercado internacional, no momento, seria a ausência da infraestrutura portuária necessária. Os países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) já começaram a ser abastecidos pela indústria açucareira da Rússia. CONTINUA NA PÁGINA 5

JAN LIESKE

Grafite russo em busca de identidade própria Movimento que chegou ao país junto com hip-hop nos anos 90 quer se aperfeiçoar PÁGINA 8


Política e Sociedade

Gazeta Russa

www.gazetarussa.com.br

Reformar para sobreviver Depois das denúncias de fraude, cerca de cinco mil pessoas reuniram-se na praça Tchístie Prudi, na capital russa, um dia depois das eleições parlamentares do dia quatro de dezembro para pedir sua anulação. A resposta do governo nesse dia foi transmitida por meio da detenção de aproximadamente 300 pessoas, entre elas Aleksêi Naválni, blogueiro e ativista anticorrupção, e Iliá Iáshin, presidente da coalizão oposicionista Solidarnost. Os dois foram condenados a 15 dias de prisão por desacato a autoridade, ao caminharem de braços dados rumo à manifestação. No mesmo dia, o presidente russo Dmítri Medvedev declarou que as denúncias não eram confiáveis. “Assisti a alguns vídeos que as pessoas subiram na internet. Lá não tem nada”, disse ele numa reunião com partidários do Rússia Unida. “Apesar de que, claro, em caso de fraude será necessário esclarecer”, completou. No dia seguinte, aproximadamente 5 mil se reuniram n a P r a ç a d o T r iu n f o, onde“nashistas” a juventude pró-governo manifestavam seu apoio a Medvedev e ao primeiro-ministro Vladímir Pútin. Mais uma vez, centenas de oposicionistas foram de t ido s p or t r op a s de choque.

Precavidos e autorizados

O passo seguinte dado pela oposição foi conseguir autorização da prefeitura para realizar suas manifestações. Depois de receber críticas até mesmo do ex-prefeito Iúri Lujkov, que ocupou o cargo por 20 anos e foi demitido em setembro de 2010, a prefeitura de Serguêi Sobiânin conce-

reuters/vostock-photo

Continuação da página 1

Medvedev quer reformas na legislação eleitoral depois de três protestos pela anulação de eleições parlamentares

Enquanto premiê zombou de símbolo dos oposicionistas, presidente falou em reformas urgentes deu permissão para a realização do evento. A localização inicial, porém, planejada para a Praça da Revolução foi alterada para a Praça Bolôtnaia, mais distante do Kremlin. Isso gerou talvez o único racha da heterogênea oposição: por enquanto Eduard Limonov, líder do partido não registrado Outra Rússia levou seus seguidores ao local inicial e deixou de participar das manifestações seguintes. “No protesto do dia 10 nós fizemos nossas demandas, que eram absolutamente mínimas. Não tinha ali nada de

absurdo, mas a reação do governo é absolutamente inadequada, é uma reação de gente assustada, uma coisa, do tipo ‘vamos esperar, depois a gente muda tudo’. É claro que isso é enganação”, disse à Gazeta Russa o cofundador do não-registrado Partido da Liberdade do Povo, Mikhail Kasianov. A manifestação da Praça Bolôtnaia reuniu cerca de 50 mil pessoas, no maior protesto da era Pútin. As demandas eram sobretudo pela demissão de Vladímir Tchurov, o presidente da Comissão Eleitoral Central, e pela realização de novas eleições. Mas o tratamento dado aos opositores nos outros eventos também começou a gerar ali a repulsa dos manifestantes pelo presidente e pelo premiê. Apesar de terminar de maneira pacífica e sem detenções,

de Estado norte-americana Hillary Clinton, e zombou do símbolo dos opositores - uma fita branca. “Para ser sincero, quando eu vi na televisão aquela coisa no peito de alguns, sério, é indecente, mas eu achava que era propaganda da luta contra a Aids, e que aquilo, descuple, eram contraceptivos pendurados”, declarou.

“A reação é muito fraca, mas causamos impressão”, diz o deputado opositor Iliá Ponomariov de acordo com dados oficiais, mais uma vez as reações do governo incitaram a antipatia dos manifestantes. Em seu programa anual televisionado de respostas às perguntas da população, no dia 16 de dezembro, Pútin disse que partidos de oposição nunca concordam com os resultados das eleições, e o governante Rússia Unida é o mais popular. Além disso, deu a entender que os manifestantes eram pagos por governos estrangeiros, seguindo uma declaração de repúdio à não anulação das eleições russas dada pela secretária

Reformas à vista

Antes das últimas movimen-

Sites ligados a monitores são atacados

Internet Ativistas pregaram voto em qualquer partido que não o do governo

Escolhas dos eleitores podem ter sido definidas por campanhas de blogueiros, assim como manifestações subsequentes.

Galeria dos conectados

Nabi Abdullaev moscow news

Enquanto os russos se preparavam para votar nas eleições para a Duma (câmara dos deputados na Rússia) no dia 4 de dezembro, os blogueiros do país tinham maior influência sobre os eleitores de classe média do que os partidos políticos. A discussão ficou menos centrada nas alternativas políticas oferecidas pelos partidos concorrentes do que nas formas de se opor de maneira mais eficaz ao partido governante Rússia Unida. “Isso definitivamente se deve ao fato de muitos cidadãos urbanos pensarem sobre o que fazer no dia das eleições diante da ausência de uma verdadeira escolha entre os partidos”, diz a blogueira Marina Litvinovitch. Famosa por sua página no LiveJournal, Litvinovitch é também uma marqueteira política renomada que trabalhou para o Kremlin e para partidos da oposição. Hoje, a discussão política se desenrola principalmente nas redes sociais, e seus participantes concordam que o LiveJournal, o gerenciador de blogs mais popular no país, é a plataforma mais adequada para tal, já que dá a possibilidade de publicação de textos longos, fotos e vídeos. É comum que publicações de blogueiros proeminentes virem assuntos explorados pela mídia convencional.

@MedvedevRussia - Dmítri Medvedev, 45 anos, é presidente da Rússia desde 2008 e um dos mais conectados do mundo, com twitter, blog, facebook etc. Tem prometido o cargo de primeiro-ministro a partir de 2012.

@navalny - Aleksêi Naválni, 35, é advogado e blogueiro. Criou um site chamado RosPil para denúncias e investigação de casos de corrupção no país, o que lhe rendeu o apelido de “Julian Assange russo”.

@MD_Prokhorov - Mikhail Prôkhorov, 46, é o 3° empresário mais rico do país no ranking Forbes. Foi líder do partido Causa Direita de junho a setembro de 2011. Quer concorrer às eleições presidenciais de 2012.

@b_nemtsov – Boris Nemtsov, 52, é ex-vicepremiê (1997-1998), organizador dos protestos de dezembro e cofundador do não registrado Partido da Liberdade do Povo. Conhecido por ser preso em todo tipo de manifestação.

“Não são os partidos que competem pelos corações e mentes na internet, e sim indivíduos”, afirma Aleksandr Morozov, diretor do Centro de Estudos Midiáticos de Moscou e blogueiro.

Aleksêi Múkhin, chefe do Centro de Informações Políticas, diz que a comunidade do LiveJournal atrai bons escritores dispostos a dialogar sobre assuntos de interesse comum e imediato.

Ação consistiu em fazer com que milhares de computadores infectados tentassem acessar os endereços ao mesmo tempo. marina darmaros gazeta russa

No dia 4 de dezembro, nem haviam começado os trabalhos nas seções eleitorais quando, às 6h40 da manhã, quando o site da rádio Echo Moskvi saiu do ar. A estação não foi o único alvo de ataques naquele dia. Além dela, caíram os sites do jornal online Gazeta.ru, do Slon.Ru, da revista Bolshoi Gorod e da The New Times. Em comum, os sites continham links para os também derrubados conteúdos da associação Golos (em russo, a palavra significa “voz” ou “voto”) e da Karta Narusheni (“Mapa das Fraudes”), sites criados para denunciar irregularidades ocorridas durante a eleição legislativa. “Nós, assim como outros colegas da mídia, reportamos muito ativamente as preparações para as eleições, publicamos então fraudes ocorridas, e por isso os fraudadores organizaram o ataque pago”, disse à Gazeta Russa o editor-chefe da Echo Moskvi, Aleksêi Venediktov. Todos os sites paralisados no dia 4 foram alvos de ataques DDoS, recurso empregado ostensivamente no país. Também conhecido como “denial of service attack”, o DDoS consiste na sobregar-

ga do servidor de um site. Para efetuar essa sobrecarga, hackers infectam milhares de outros computadores com vírus que os programam para acessar o site atacado simultaneamente. No caso da rádio Echo Moskvi, cerca de 250 mil computadores acessaram seu site ao mesmo tempo. “Só no meio do dia percebemos o quanto esse ataque era sofisticado. A maior parte dos computadores usados no ataque estavam no exterior. Em ordem decrescente, por quantidade de computadores infectados, estava em primeiro lugar o Brasil, depois a Índia e a Turquia”, conta Venediktov. O recurso também é um velho conhecido do LiveJournal, a mais utilizada plataforma de blogs russa, que também foi alvo no dia das eleições. “Os ataques DDoS ao LiveJournal iniciados na semana das eleições foram muito mais potentes que os efetuados na última primavera e no verão” diz Ekaterina Pahomchik, porta-voz da SUP - companhia de mídia proprietária da Gazeta.ru e do LiveJournal. “Mas os hackers não estão atacando nenhum blogger específico, e sim o servidor todo, em geral”, completa. “Escrevemos à Procuradoria Geral, ao comitê investigativo, à administração do presidente e outros órgãos, e vamos aguardar os resultados de uma investigação paralela”, afirma Venediktov.

itar-tass

Guerra de blogueiros influencia eleições

“Esses talentos transformaram Aleksêi Naválni no crème de la crème entre os blogueiros russos e, como partido, o Rússia Unida é incapaz de concorrer com ele e com outras personalidades semelhantes da internet”, diz Múkhin. Formado em direito pela Universidade Russa da Amizade dos Povos e com extensão em Yale, Naválni vai de um extremo a outro: propagador de um movimento anticorrupção, ele tem veio nacionalista e fez campanha, durante as eleições parlamentares, para que os eleitores votassem em qualquer outro partido que não o Rússia Unida. A ação tinha por objetivo chamar a atenção ao incontestável controle do partido governante sobre a Duma. Boris Nemtsov, ex-vice-premiê e agora líder da oposição, pedia em seu blog para que os eleitores anulassem seus votos, dizendo ser essa a única maneira viável de o público registrar seu desdém pela falta de verdadeiras escolhas políticas. Uma terceira abordagem popular, defendida por vários blogueiros de destaque, foi simplesmente ignorar a votação. Fazendo isso – acreditavam eles –, a sociedade diminuiria a legitimidade do pleito como um todo. O instituto de pesquisas de mercado ComScore classificou a Rússia como o maior mercado em número de usuários de internet dentre os 18 países europeus analisados em setembro, chegando a 50,8 milhões de pessoas (ver mais na página 5). “Cerca de 30 milhões estão conectados a redes sociais e talvez 5% deles acessem blogs sobre política”, diz Morozov. A diminuição do número de cadeiras do Rússia Unida no parlamento pode ser sintoma de que a batalha nos blogs deu certo.

tações dos opositores, que somavam cerca de 72 mil pessoas, de acordo com monitores independentes, na avenida Sakharov no último dia 24, o presidente Medvedev proferiu sua mensagem anual à Assembleia. “O presidente Medvedev reagiu a nossas demandas, parte delas repercutiu na sua mensagem, e o primeiro-ministro Pútin também falou sobre isso”, disse o deputado Iliá Ponomariov, um dos organizadores das manifestações, à Gaze ta R u ssa na aven ida Sakharov. O discurso de Medvedev foi permeado de referências a futuras reformas, que incluiriam eleições diretas para governador -hoje o cargo é nomeado pelo presidente -, entre outras mudanças políticas. “Por enquanto essa reação ainda é muito fraca, mas com certeza viu-se que causamos impressão. Eles consideravam que ninguém viria, que haveria menos gente, e agora tem três vezes mais gente do que na Praça B o l ô t n a i a”, c o m p l e t a Ponomariov. Empossada no último dia 21, a nova Duma (câmara dos deputados) continua, apesar de queda nos votos, a ser liderada pelo Rússia Unida, que detém 238 cadeiras de um total de 450. Uma nova demonstração está programada para fevereiro, caso as demandas da oposição não sejam efetuadas.

Venediktov, editor-chefe da Echo Moskvi, uma das que sairam do ar

notas Prôkhorov para presidente

reuters/vostock-photo

O bilionário russo Mikhail Prôkhorov, que tem uma fortuna avaliada pela Forbes em US$ 18 bilhões, foi aprovado na primeira fase do processo de registro como candidato independente à presidência russa. A Comissão Eleitoral Central registrou representantes de um grupo eleitores que indicou Prôkhorov como candidato à presidência. Agora, seguindo a lei eleitoral russa, o candidato independente deve recolher um mínimo de dois milhões de assinaturas de apoio até 18 de janeiro. “Quando tomo um decisão, sempre tenho em vista atingir o resultado m á x i mo”, de c l a r ou o candidato. Prôkhorov foi nomeado presidente do liberal-democrata partido Causa Justa em junho de 2011. Já em setembro, porém, devido a um racha no partido entre apoiadores e opositores do empresário, Prôkhorov abandonou a sigla para criar uma nova força política. Nas últimas eleições parlamentares de 4 de dezembro, o Causa Direita obteve menos de um por cento dos votos. Aleksandr Korolkov

Rússia irá ingressar na OMC Depois de negociar por 18 anos sua entrada na OMC (Organização Mundial do Comércio), a Rússia finalmente fará parte da associação comercial internacional. A integração à OMC será realizada em etapas ao longo de dez anos, mas empresas russas e companhias estrangeiras que trabalham na Rússia já se preparam para a liberalização do mercado e para a redução alfandegária. Em discurso, o presidente russo Dmítri Medvedev, ressaltou a importância da conquista.

Nikita Dulnev

Somente 14 resgatados no mar de Okhotsk

itar-tass

O acidente na plataforma de petróleo russa que naufragou no mar de Okhotsk no dia 18 de dezembro resultou em 53 mortes. A plataforma Kólskaia pertence a uma subsidiária da estatal Gazprom e estava localizada entre a península de Kamtchatka, no Extremo Oriente r usso, e o nor te do Japão. Análises iniciais indicam que a estrutura da plataforma foi danificada pelo gelo e por fortes ondas que a desestabilizaram. O resgate foi dificultado pelas más condições climáticas e ondas de até quatro metros de altura. A investigação deve explicar por que duas horas após o recebimento do sinal de socorro não foram tomadas as medidas necessárias para o resgate da tripulação. Vassíli Krilov


Política e Sociedade

GAZETA RUSSA

WWW.GAZETARUSSA.COM.BR

Flashmob Manifestações públicas de curta duração geralmente organizadas por meio de redes sociais tomam caráter político no país

De espontaneidade a propaganda Os principais flashmobs da Rússia 16 de

LUGARES VIRTUAIS

São Petersburgo e Moscou

100 pessoas

Flashmobers esperam a chegada de dois passageiros inexistentes

agosto de 2003 Outubro de 2004

Moscou

APRENDA O OLBANÊS

5.000 usuários

Depois de escrever no LiveJournal que o site tinha um grande número de blogs em idioma incompreensível - o russo -, usuário norte-americano recebe milhares de mensagens com lições de "olbanês".

Março de 2006

PREVED!

6.000 usuários

GAZETA RUSSA

São Petersburgo, estação ferroviária Moskôvski, 16 de agosto de 2003. São 17h e dezenas de pessoas esperam a chegada do trem 62, vindo da capital. Em suas mãos, placas com a inscrição “Tatiana Lavrúkhina. Sociedade dos Alcoólatras Anônimos”. Ao mesmo tempo, na estação de Moscou, um grupo de pessoas com placas espera um passageiro vindo de São Petersburgo chamado “NzR178qWe”. Em Moscou, os participantes inicialmente teriam cartazes com o nome “Volódia Pútin” (Volódia é apelido de Vladímir, e São Petersburgo é a cidade natal do primeiro-ministro de mesmo nome, mas essa ideia não tinha nenhum contexto político). De todo modo, diversos jornalistas viram na ação uma motivação política. O que nasceu como uma forma de humor que reunia cerca de 100 pessoas passou a reunir até milhares anos depois. A partir das ações em Moscou e São Petersburgo, todo o país está coberto pelas polit-mobs (mobilizações políticas), e o Rússia Unida não fica de fora. O partido governista tenta se tornar o porta-voz dos sentimentos dos jovens por meio de ações sociais populares. Os estudantes Aleksêi e Dmítri, presentes na iniciativa de 2003, deixaram de participar do que agora chamam “loucura flash”. Não só porque terminaram o curso superior e encontraram empregos. “Não dá nem para ir ao teatro tranquilamente, porque

Flashmobs em guerra

Pelo artigo 31 da Constituição da Federação Russa, manifestações de massa nas ruas, assim como o flashmob, são absolutamente legais. Uma reunião espontânea entre pessoas não é comício, não é cortejo de rua, e não é demonstração ou piquete. Na prática, porém, a realidade é outra. “Quando você participa de um flashmob na Rússia, deve seguir instruções especiais. É obrigatório levar o passaporte, por exemplo. Se perguntarem, se faça de louco e diga ‘todos estavam acenando, e eu acenei também’. Normalmente funciona, mas é cada um por si. Eu e o Dmítri passamos mais de uma noite em delegacias”, lembra Aleksêi.

Veja slide show em www.gazetarussa.com.br EVGENY CHERNYSHOV/GESTOOR

Voiná mantém ações provocativas Em cinco anos de existência, o coletivo artístico encheu de gatos um McDonald’s de Moscou, organizou um banquete em um vagão de metrô, soldou placas de aço na entrada do restaurante de um jornalista pró-Kremlin e vestiu um manto clerical por cima de uniformes da polícia.

P J RO

nos chamam para Blog coletivo dirty.ru divulga paródia da pintura "Surpresa um flashmob ou codo Urso", de John Lurie. Na mício”, eles se queinova versão, dois turistas fazem sexo na grama xam. O flashmob enquanto um urso de patas 12 de erguidas grita "Preved!" como ato espontâneo junho ("surpresa!"). de 2010 e informal de manifestação social transformouse em ag itação na Rússia. TRIBUNAL DE BARATAS Na guerra do flashmob, todos Moscou são envolvidos – estudantes, Para protestar contra a aposentados, membros de condenação do curador da “Arte Proibida”, um partidos políticos e da nova exposição grupo de artistas espalha 3 mil baratas nas salas do tribunal oposição. A ex-diretora14 de executiva da opositora março Frente Unida Civil, Made 2010 rina Litvinovitch, sugeFEIRA DA riu em seu blog mais de TANGERINA uma vez organizar flashKaliningrado mobs on-line no servidor 300 pessoas Em protesto contra governo, oficial do Governo de ergue tangerinas Moscou. Para oposicionis- emmultidão russo, as frutas se chamam Ideia era associar tas, o flashmob tornou-se "mandarim". rigidez local com governo chinês. uma forma de protestar tão legítima quanto comícios e 14 de janeiro manifestações. de 2011

DÁRIA GONZÁLEZ

M OR T 20 oscouNALESTO F , P IST D s ot p ra A O e es óg e S ç em xib são raf ss a V S id d o c o erm ile ont sin as e f s fa a el f g r a n o z s ha lu oto al d a a l de o M tos em ga gr e pr p au q u r o a re fi ex ib o so e t s d as p iç e lé sã a em osi ão sto u o ca ç pi di ões ta ve d l rs e os

Normalmente da temática política, na Rússia o flashmob virou alternativa para oposição às limitações a passeatas de rua.

LUGARES REAIS

ESTAÇÕES DE TREM

15 agosto de 2011

EMOCIONE O MUNDO

Moscou

300 pessoas

Ação mundial em memória de Michael Jackson: os participantes dançam a música "Thriller"

A polícia russa tem uma relação extremamente delicada com o flashmob: a palavra no país está diretamente ligada à obra do grupo artístico Voiná (em russo, “guerra”). Em 2011, o grupo recebeu o prêmio de “Inovação” do Ministério da Cultura pela pintura de um pênis

de 65 metros em uma ponte levadiça de São Petersburgo que, quando erguida, fica bem de frente para o FSB (Serviço de Segurança Federal). Em 2010, os membros do grupo foram investigados pela ação “Golpe do Palácio” – uma demonstração contra a atuação da polícia, quan-

do os jovens deixaram algumas viaturas de cabeça para baixo em São Petersburgo.

Multidão da arte

A principal ferramenta para a organização de flashmobs é o LiveJournal, a plataforma de blogs mais popular do país. “O boom do LiveJour-

Retratos da revolução Cobertura no Oriente Médio rendeu dois Bayeux-Calvados e Visa d’Or

Fotorrepórter russo é premiado na França por Primavera Árabe

Baleado e espancado pela polícia na Líbia, Iúri Kôzirev continua sua longa jornada na carreira de fotorrepórter de guerra, para a qual contribui com lirismo singular. ANNA NEMTSOVA

YURI KOZYREV/NOOR

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Rebelde líbio sobre cano de um tanque destruído em Ajdabiyah, na Líbia, em março de 2011

RAIO X

KIRILL LAGUTKO

Em dezembro de 2010, o fotógrafo russo Iúri Kôzirev chegou ao Iêmen e se deparou com um país à beira do colapso. Pousou na capital Sanaa sem um “fixer”, jargão jornalístico para assistente local ou intérprete. Vagando pelas ruas e incapaz de compreender a língua, Kôzirev disse ter trabalhado “na constante iminência do fracasso”. Era um turista estranho e de aparência suspeita. Ainda assim, suas fotografias – grupos de homens tristes mastigando khat ao entardecer, mulheres nadando com véus e um homem cabisbaixo carregando um grande peixe nos ombros – anunciavam a chegada da guerra civil que em seguida tomou conta do Iêmen. Em fevereiro de 2011, os editores de Kôzirev na revista Time, onde é fotógrafo contratado, deram ordens para que ele partisse rapidamente ao Cairo para documentar as manifestações na praça Tahrir. De lá, iria para a Líbia, onde permaneceria por aproximadamente dois meses acompanhando os rebeldes que derrubariam Muammar

NACIONALIDADE: RUSSO IDADE: 48 ANOS FORMAÇÃO: JORNALISTA

Iúri Kôzirev nasceu em Moscou, em 1963, e se formou na faculdade de jornalismo da Universidade Estatal de Moscou. Em 1986, começou sua carreira como fotojornalista, especializando-se em cobertura de guerra e conflitos na exUnião Soviética. Cobriu ambas as guerras da Tchetchênia, os conflitos do Afeganistão e do Iraque. Viveu em Bagdá entre 2003 e 2009, onde trabalhou como fotógrafo contratado pela revista Time. Desde o início de 2011 acompanha a Primavera Árabe, viajando pelo Egito, Bahrein, Líbia e Iêmen.

Gaddafi. Kôzirev tornou-se um dos cronistas mais fidedignos dos tumultos no Oriente Médio. Sua reportagem, posteriormente publicada no livro “The Arab Spring – On Revolution Road” (“Primavera Árabe – Na Estrada da Revolução”, em português), capturou os momentos de ebulição do ano passado no Iêmen, Bahrein, Egito e Líbia. A carreira de Kôzirev começou com o colapso da União Soviética, quando começou a fotografar uma sucessão de conflitos na Armênia, Moldávia, Tadjiquistão e Geórgia. Desde então, não parou de registrar conflitos.

Pouco tempo antes da Primavera Árabe, ele estava retratando a história de pessoas que escapam das grandes cidades para viver em assentamentos na Sibéria. O cigarro sempre aceso, grandes olhos cheios de vida, viaja de casa em casa, deixando memórias aos amigos que faz durante suas viagens. “Iúri elevou o nível das reportagens sobre conflitos; ele fez com que todos nós repensássemos como cobrimos essas histórias”, diz Stanley Greene, colega de Kôzirev na agência de fotografia Noor. “Ele é um fotógrafo de guerra poético. Suas imagens são cheias de um lirismo e poesia que eu nunca tinha visto antes”, completa. Em outubro passado, Kôzirev foi o vencedor do prestigiado prêmio Bayeux-Calvados de Correspondentes de Guerra, levando os títulos de Melhor Fotógrafo de Guerra e Escolha do Público. Em setembro, foi contemplado com o prêmio Visa d’Or no festival de fotografia Visa pour l’Image, em Perpignan, também na França. Há várias exposições com os trabalhos de Kôzirev por toda a Europa, sem contar as mostras programadas para a Croácia, França, Espanha e Reino Unido. Além disso, um novo livro de fotografias documentando a guerra do Iraque será publicado em 2012. Na Líbia, Kôzirev foi baleado e espancado pela polícia. Além disso, foi detido em Ba h rei n e na A rábia Saudita. Ele perdeu colegas, incluindo os amigos Chris Hondros e Tim Hetherington, mortos em abril durante uma missão em Misrata, na Líbia. “Em determinado momento, voltei-me para as notícias, e isso foi um grande passo em minha vida. é uma sensação única estar presente enquanto a história acontece”, afirma.

Devido à ação Golpe do Palácio, na qual o grupo virou algumas viaturas - com policiais dentro! - de cabeça para baixo, os membros do Voiná foram detidos. Mesmo assim o coletivo recebeu um prêmio do Ministério da Cultura pela pintura de um enorme pênis em uma ponte de São Petersburgo.

nal começou com um caso simples”, conta Dmítri. “Guardas bateram e expulsaram uma menina qualquer, que comia um cachorroquente em um pátio particular. Depois disso, como ela escrevia suas aventuras no LiveJournal, todos decidiram se vingar por ela. Nós éramos muitos, compramos cachorros-quentes, fomos até o malfadado pátio e começamos a comê-los. Depois de pouco tempo, a menina foi esquecida, mas a ideia de se reunir em determinados lugares e fazer algo absurdo agradou”, completa.

Em 2011 foi fundada a primeira escola de flashmob na Rússia. Nela ensina-se a história do flashmob, técnicas - por exemplo, como fazer a escolha dos locais mais adequados e como reunir participantes para o evento - etc. Professores e advogados dão palestras sobre ações de apoio jurídico, especialistas em relações públicas e jornalistas falam sobre métodos adequados de trabalho com a imprensa e agências governamentais. Está claro que o flashmob na sua forma clássica - “diversão sem sentido” - na Rússia é praticamente impossível. Além dos politic-mobs, nos últimos tempos aconteceram vários flashmobs comerciais, onde os participantes anunciavam produtos por dinheiro. Além disso, a regra número um, que diz que o flashmob ideal não deve ser registrado em foto ou vídeos, também parece ter sido esquecida. “Tem gente que chama o flashmob de ‘zumbificante’, mas eu acho que, no mundo de hoje, tudo é ‘zumbificado’: os comerciais, a arte, as leis”, arremata Aleksêi.

Impulso Empresários russos no Rio

Energia é tema de encontro no Rio de Janeiro Discussões sobre cooperação no setor foi um dos assuntos prioritários dos encontros entre estatais e empresários russos e brasileiros. VERONIKA NIKÍCHINA

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Com apoio do ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia, realizou-se no Brasil, de 28 a 29 de novembro, um encontro entre empresários dos dois países que contou com a participação de representantes da Agência de Energia Russa e do ministério da Energia da Rússia, da Gazprom, além de executivos de diversas empresas do país. O grupo foi recebido no Brasil pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Durante a visita, foi realizado um fórum empresarial e a apresentação de empresas brasileiras e russas. Essas falaram de suas mais recentes conquistas em áreas como consumo inteligente de energia, construção de módulos de energia fotovoltaica, produção de biocombustíveis a partir de matérias-primas diversas e processamento de gás natural. Um dos importantes resultados dos encontros bilaterais foi o estabelecimento de contatos entre a Agência de Energia Russa e a brasileira Eletrobrás. Ambas reiteraram a intenção de cooperação em eficiência energética e se mostraram favoráveis a um memorando de entendimento. A missão teve também um

Veronika Nikíchina

encontro muito importante no ministério das Relações Exteriores do Brasil, quando se assinalou a necessidade de elaborar um quadro jurídico de cooperação para a modernização econômica dos dois países e memorando de cooperação na área. Foram analisados também os progressos no cumprimento das resoluções da 7ª reunião da Comissão RússiaBrasi l de Cooperação Econômica, Comercial, Científica e Tecnológica, realizada em Moscou em maio de 2011. O Brasil é um parceiro econômico e comercial muito importante para a Rússia, responsável por cerca de 50% do comércio do país com a América Latina. O intercâmbio comercial entre os dois países deve atingir US$ 7 bilhões em 2011. Assim, os dois parceiros estão perto de alcançar o objetivo fixado por seus governos no aumento do intercâmbio comercial bilateral para US$ 10 bilhões. Veronika Nikíchina é diretora do departamento das Américas do Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia


Economia e Mercado

Gazeta Russa

www.gazetarussa.com.br

Orçamento Com a crise, gastos da classe média com produtos não alimentícios subiram só quatro pontos percentuais em três anos

Consumidores russos se aproximam de europeus, economizando em comida e gastando mais em outros bens e serviços.

No mesmo período, os gastos com produtos não alimentícios subiram 5 pontos percentuais, de 35% para 40% do orçamento. Ao contrário da década de 2000, quando o crescimento da renda nominal era calculado em números de dois dígitos e o crescimento dos rendimentos reais às vezes ultrapassava 10% por ano, hoje os rendimentos da população estão praticamente estagnados ou até diminuindo em alguns setores econômicos, de acordo com o Rosstat.

Evguêni Sigal kommersant

Os russos estão contendo despesas. Levantamento do instituto de pesquisas de opin ião Rom i r reg istrou decréscimo de 1,5% nos gastos com alimentos e produtos básicos em setembro de 2011 na comparação com o mês anterior. O instituto também mostrou a diminuição do rendimento médio por usuário (Arpu, na sigla em inglês) gerado para o setor. Em setembro, os russos gastaram em lojas 1% a menos que em agosto, nível comparável ao de fevereiro de 2011. Em relação a setembro de 2010, o Arpu cresceu 8%, mal cobrindo a inflação. O declínio é ainda mais surpreendente se considerarmos que após o período de férias o consumo normalmente se intensifica. Segundo dados do Rosstat (Comitê Nacional de Estatística), a proporção dos gastos das famílias russas com alimentos diminuiu ao longo de quase toda a década de 2000, registrando no período mais próspero, de 2004 a 2007, um declínio recorde de 9 pontos percentuais – passou de 43% para 34%.

Créditos de varejo

A variação ocorre num momento em que o volume de negócios cresce e as vendas de produtos não alimentícios aumentam mais rápido do que as de alimentos. Além disso, o aumento contínuo do consumo é sustentado pelo crescimento nos créditos de varejo – que se destinam, naturalmente, às compras de bens duráveis, e não às de alimentos. Em uma pesquisa on-line realizada pelo site Kommersant-dêngui, projeto do diário Kommersant, entre 3 e 10 de novembro deste ano, 53,81% dos 2.401 respondentes afirmaram economizar em comida. Segundo o Finam.Ru, em pesquisa realizada no mesmo período, 52,88% dos 1.180 con-

s u lt ado s t ê m o me s mo comportamento. Considerando-se que o público-alvo dos sites é sobretudo a classe média, a situação se torna ainda mais curiosa. Na próspera década de 2000, a atitude mais característica da classe média era comprar produtos alimentícios sem olhar os preços. Essa era considerada uma das principais conquistas da política econômica da época. O fato de a classe média se mostrar sensível aos custos dos alimentos é previsível. De acordo com o Rosstat, em 2010 as despesas da classe média com a alimentação foram de 54% do total dos gastos médios de consumo per capita do grupo, em um valor total de 3,2 mil rublos (R$ 186). Já na classe A, as despesas com alimentos foram de 26% do total dos gastos médios de consumo per capita, num valor equivalente a pouco mais de R$ 15 mil. Enquanto isso, os gastos com produtos não alimentícios foram de 23% e 53%, respectivamente.

itar-tass

Crescem gastos em bens de consumo

Gastos da classe A com produtos não alimentícios já alcançam 53% do total do consumo. Comida representa 26%.

pesquisa

Você economiza em comida? sondagens de opinião pública feitas em novembro revelam que mais da metade dos pesquisados têm tido cuidado com preços

Em pesquisa feita pelo diário Kommersant, 53,81% dos 2.041 consultados afirmaram economizar em comida, número comparável ao obtido pelo Finam.Ru, cujos resultados apontam para 52,88% dos 1.180 pesquisados que seguem a mesma tendência. Realizadas entre 3 e 10 de novembro, as enquetes refletem a opinião da classe média russa.

Tendência

Mesmo nos grupos de baixa renda, os gastos em produtos de fora do grupo alimentação, inclusive bens duráveis, estão crescendo. Entre 2008 e 2011, apesar da crise, o consumo de produtos não alimentícios na faixa de

renda intermediária aumentou em quatro pontos percentuais, de 19% para 23%. No terceiro trimestre de 2011, o consumo de produtos não alimentares cresceu em todos os grupos. “A aquisição de produtos não alimentares nos últimos meses tem sido condicionada à falta de confiança na estabilidade das taxas de câmbio”, afirma Ígor Poliakov, pesquisadorchefe do Centro de Análise Macroeconômica. As compras, em geral, foram efetuadas à custa da redução da taxa de poupança e, muitas vezes, a crédito. “Isso se deveu às expectativas de crise. A prova foi o crescimento mais rápido das

vendas de varejo de produtos não alimentícios: as pessoas compravam equipamentos eletrônicos e carros para se proteger contra a desvalorização do rublo”, explica Alexandr Golovtsov, diretor do setor de pesquisas de mercado do banco de investimentos NIKoil. “Esse fator será menos duradouro do que a saturação do mercado”, completa. Os resultados do final do ano também serão importantes no fechamento de 2011 das redes varejistas, já que essa é uma das épocas de maiores lucros, quando se conseguem vender bens que não são de primeira necessidade por preços salgados.

Concorrência Grupo empresarial russo conclui criação de joint-venture no Brasil e quer competir com americanos, que dominam o mercado

Alternativa na armazenagem de grãos Recém-criada, joint-venture russo-brasileira poderá otimizar uso de instalações de armazenagem de grãos em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso. Aleksandr Korolkov

ap

gazeta russa

O grupo empresarial Sodrugestvo (em russo, “aliança”) firmou, em novembro, uma parceria com a companhia brasileira Campofert. O acordo marca o avanço da cooperação russo-brasileira no setor e prevê o uso conjunto de instalações de armazenamento em todas as regiões do país e sua cessão por arrendamento a agricultores e outros operadores no mercado. “O Brasil é um caldeirão de culturas e nacionalidades, e a Sodrugestvo se instala no país sem arrogância ou desejo de conquista. Acredito que nossos consumidores brasileiros estejam contentes em encontrar uma alternativa aos gigantes americanos que dominam o mercado”, diz o diretor-geral da Sodrugestvo, Stefan Frappa. O grupo aumenta, dessa

números

Atuação do grupo no mundo

Aquisição aumentou capacidade de armazenagem de grão para 870 mil toneladas

forma, sua presença no mercado brasileiro, onde atua desde abril de 2010, quando firmou uma joint-venture com uma das maiores cooperativas do Brasil, a Carol. A Sodrugestvo detém 51% da nova empresa, que recebeu o nome de Carol-Sodru.

“A parceria com o grupo Campofert nos permitirá ampliar nossa proposta de uso de instalações de armazenamento nos Estados de São Paulo e Minas Gerais e entrar no mercado de Mato Grosso”, diz o diretor-geral da Carol-Sodru, Roger Heybittl.

O grupo Sodrugestvo concederá também ao grupo Campofert crédito para aumentar seu capital de giro para as operações de desenvolvimento do cultivo de soja e milho em Minas Gerais. Os contatos com a Carol começaram em 2009, e levaram

O grupo empresarial russo Sodrugestvo foi fundado em 1994 e desenvolve três tipos de negócios: infraestrutura especializada (incluindo portos marítimos profundos), logística de vagões ferroviários e instalações de armazenagem e processamento para produção de proteínas e óleos de origem vegetal e animal. No ano passado, o grupo processou mais de 1,3 milhão de toneladas de sementes de soja e de canola e vendeu mais

de 2,3 milhões de toneladas de produtos agrícolas, tornandose dessa forma elemento importante no agronegócio na América do Norte e Central e no Leste Europeu. O grupo possui filiais em 12 países, incluindo a Ucrânia, Dinamarca, Brasil, Estados Unidos, Suíça e alguns países do Leste europeu. Suas vendas consolidadas no ano fiscal que terminou em 30 de junho de 2011 atingiram US$ 1,3 milhão.

à abertura de um escritório de representação em São Paulo que atende toda a América Latina. “O Brasil é um dos países cujo mercado agrícola cresce mais rápido no mundo e não poderíamos ignorar seu potencial, considerando nossa estratégia de longo prazo”, afirma Frappa. Um dos objetivos da jointventure é aumentar para 3 milhões de toneladas a colheita de soja na região cen-

tral do Brasil até 2015. Outro passo importante do grupo Sodrugestvo no Brasil foi a compra, em agosto deste ano, de 100% das ações da empresa Líder Armazéns Gerais S.A. A aquisição permitiu ao grupo aumentar sua capacidade de armazenamento de 600 mil para 870 mil toneladas em quatro Estados brasileiros e integrar a empresa L íder à C a rolSodru.

3

mil toneladas por dia é a capacidade total de processamento de soja de grupo Sodrúgestvo, maior processadora independente da Europa.

274

mil toneladas de grãos é a capacidade total de 20 armazéns nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso administrados pelo grupo Campofert.

50

mil toneladas é a capacidade das embarcações que podem ser recebidas pelo terminal da Sodrugestvo em Kaliningrado, o único da região equipado para o transporte de óleos vegetais.

Para operadoras, câmbio inibe vinda de turistas russos continuação da página 1

Somente na feira de turismo Leisure 2011, realizada em setembro, em Moscou, havia 16 agências brasileiras. “As operações estão aumentando bastante pelo fato de os dois países fazerem parte dos Brics, por estarem na moda como destino de lazer e pelo fato de o visto não ser mais necessário entre eles. Porém, falta ainda muita promoção da Embratur na Rússia”, acredita Cláudio del Bianco, diretor da operadora Del Bianco, uma das empresas presentes ao evento. Segundo ele, a procura do país eurasiático pelo Brasil

aumentou recentemente, e tende a crescer ainda mais. Sua própria operadora já tem um volume de negócios com a Rússia que gira em torno de US$ 600 mil a US$ 1 milhão anuais. Para a diretora da Superior Plus, Isabela de Andrade, o cenário poderia estar melhor, não fosse o câmbio. “O Brasil está se tornando um destino muito caro até para o mercado russo, que nunca se importou em pagar valores altos”, afirma. “Mas agora que chega a alta estação, acreditamos que o crescimento se acentue. O Brasil é um destino exótico que desperta interesse e o estande do

Brasil é sempre muito procurado”, completa. Segundo Carlos Silva, diretor da operadora Opco Tours, a feira trouxe à tona uma nova tendência de turistas de poder aquisitivo mais alto, que viajam a negócios e a lazer. “A procura por hotéis de luxo como, por exemplo, o Copacabana Palace, aumentou bastante”, diz. A operadora de Silva traz cerca de 150 turistas russos por ano ao Brasil, contabilizando um volume de negócios de cerca de US$ 300 mil. Para as irmãs Gumarova, que viajaram ao Brasil pela segunda vez neste ano – a primeira visita foi ao Rio de Ja-

nei ro – a ida ao Cea rá impressionou não só pela organização e pelas belezas naturais, mas também pela experiência gastronômica. “Fizemos algumas descobertas culinárias aqui: arroz com feijão, torta de camarão, de frango, pão de queijo, churrasco, todos os frutos do mar possíveis, açaí batido, suco de abacaxi com hortelã, brigadeiro, mousse de maracujá, guaraná e toda a sorte de frutas exóticas”, enumera Elena. “No Brasil a cozinha é deliciosa por todo lado, até no bar mais barato pode-se comer como em um bom restaurante”, afirma.

Principais países de origem dos turistas

Fonte: Departamento de Polícia Federal e Ministério do Turismo

Principais países emissores

2008 Número de turistas

Participação %

Argentina

1.017.675

20,15

Estados Unidos Itália Alemanha França Uruguai Portugal Paraguai Espanha Inglaterra Chile Bolívia Peru

625.506 265.724 254.264 214.440 199.403 222.558 217.709 202.624 181.179 240.087 84.072 93.693

12,39 5,26 5,03 4,25 3,95 4,41 4,31 4,01 3,59 4,75 1,66 1,86

2009 Número de turistas

Participação %

1.211.159

25,22

2º 3º 4º 8º 10º 7º 6º 7º 9º 11º 5º 14º

603.674 253.246 215.595 205.860 189.412 183.697 180.373 174.526 172.643 170.491 83.454 78.010

12,57 5,28 4.49 4,29 3,94 3,83 3,76 3,63 3,6 3,55 1,74 1,64

2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º

Posição

Posição


Economia e Mercado

Gazeta Russa

www.gazetarussa.com.br

Jogos de Inverno 2014 Só o viaduto de 48 quilômetros que ligará os dois pólos olímpicos custará R$ 11 bilhões

Sôtchi paga caro pelas Olimpíadas Projeto já começou de forma exorbitante, propondo Olimpíadas de Inverno na limitada região subtropical do país. aleksandr petrov

Mudança de valor

shutterstock/legion media

A contagem regressiva para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 de Sôtchi começou na Rússia e já são visíveis os contornos básicos do projeto para a cidade do sul do país. Quase uma ironia, os jogos internacionais são os primeiros de inverno recebidos pela Rússia. O projeto olímpico proposto pelo país era exorbitante desde o início. Pela primeira vez na história, as provas de inverno serão realizadas em uma região subtropical. Um resort de esqui completa o cenário, a 40 minutos de carro, no litoral do Mar Negro.

michael mordasov/focuspictures

Especial para Gazeta Russa

Além de estádios, estrutura a ser construida inclui pontes, usinas, hotéis e estações de tratamento

Um dos pontos fortes do projeto russo era o preço. Segundo o plano original, seria necessário investir 316,4 bilhões de rublos (aproximadamente R$ 21,4 bilhões na época), dos quais mais da metade seria proveniente de recursos do orçamento federal e o restante, do setor privado. Mais tarde, o orçamento do projeto foi revisto e triplicou, subindo para quase 1 trilhão de rublos (R$ 58 bilhões), valor comparável ao das Olimpíadas de Pequim - consideradas as mais caras da história. No entanto, dada a magnitude das obras que devem ser realizadas em curto prazo, o preço do projeto pode passar de excessivo a compreensível. Serão 11 instalações olímpicas: um complexo de esqui, uma pista de bobsled, um parque de snowboard, um centro de patinagem, uma rampa para salto de esqui, vários estádios de gelo e diversas outras instalações esportivas. As instalações foram distri-

Provas serão realizadas em edificações e nas montanhas de Sôtchi Parque Olímpico nome da estrutura capacidade entrega

Função

1

“Olympic Oval”

8.000

2012

Patinação de velocidade

2

“Ice Cube”

3.000

2012

Curling

3

“Bolshoi”

12.000

2012

Hóquei no gelo

5

“Shayba”

7.000

2012

Hóquei no gelo

5

“Fisht”

40.000

2010

Estádio olímpico

6

“Iceberg”

12.000

2011

Patinação artística

A finalizar Finalizado

buídas, como nos Jogos Olímpicos de Inverno anteriores, em dois pólos, ou clusters, no jargão dos organizadores. Um está localizado na planície do Imereti e vai sediar as provas de hóquei no gelo, patinação artística, curling e pa-

tinação de velocidade em pista curta. O outro, na região montanhosa de Krásnaia Poliana, vai ser palco das provas de esqui, bobsled, snowboard etc. Com a proximidade entre eles, pode-se passar de uma paisagem montanhosa com

temperaturas negativas a um clima subtropical costeiro de inverno ameno em minutos. As instalações esportivas foram a parte mais simples do projeto. Quase todas serão inauguradas já em 2012. De acordo com o vice-primeiro-

On-line Número de usuários chegou a 50,8 milhões

Maior mercado de internet da Europa é a Rússia Alemanha e França ficaram para trás em número de usuários. Marco é animador, porém esperado pelo tamanho da população. irina filatova

photoxpress

the moscow times

A Rússia liderou o ranking dos 18 países europeus com maior número de usuários de internet, alcançando 50,8 milhões de pessoas em setembro, de acordo com estudo realizado pela empresa de pesquisas de mercado ComScore. A Alemanha, que perdeu seu posto de líder, passou ao segundo lugar com 50,1 milhões de usuários, enquanto a França e o Reino Unido alcançaram 42,3 e 37,2 milhões de pessoas, respectivamente, segundo a pesquisa publicada em novembro. A Itália está em quinto lugar, com 23,7 milhões de usuários. A ComScore realizou o estudo com usuários de internet acima de 15 anos de idade que têm acesso à rede tanto em casa como no trabalho. “A liderança russa é resultado do grande contingente populacional do país comparado aos demais países europeus”, disse Konstantin Tchernichov, analista do banco de investimento russo UralSib Capital. “A penetração da internet no país está crescendo. É natural que o número de usuários acompanhe esse aumento”, afirmou o analista, acrescentando que a Rússia deve preservar sua posição nos próximos anos.

Cidade abrigará os primeiros jogos de inverno na Rússia

Cerca de 35% das famílias têm acesso à banda larga

O ministro das Comunicações e Imprensa, Igor Schiógolev, disse, em outubro, ter expectativa de que o mercado de internet do país se transforme no maior da Europa nos próximos anos, se continuar mantendo seus atuais índices de crescimento. De acordo com o Ministério das Comunicações e Imprensa, espera-se que o número total de usuários da rede tenha alcançado me-

tade da população do país (hoje de 142,9 milhões) em 2011. Segundo a ComScore, os u suá r ios gasta ra m, em média, 22,4 horas on-line em setembro, índice abaixo da média europeia de 26,4 horas. A rede social Vkontakte.ru foi o site mais popular entre os russos. As maiores empresas de internet da Rússia declararam estar estimuladas pelos resultados, afirmando que

atingir o maior número de usuários de internet da Europa é um sinal positivo do desenvolvimento do mercado no país. “A liderança é também importante para as empresas de internet russas que operam fora do país, porque irá fortalecer os negócios com seus parceiros estrangeiros”, disse Andrêi Sebrant, diretor de marketing da Yandex, a ferramenta de busca mais usada na Rússia. “Não só o potencial do país, mas também seu status atual é importante”, disse. Em maio de 2011, o Yandex levantou US$ 1,4 bilhão em uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na Nasdaq, a bolsa de empresas de tecnologia. “Ultrapassar os demais países em número de usuários de internet é um marco para a Rússia, mas o país ainda está bem atrás de seus pares em termos proporcionais”, afir mou o por ta-voz do Mail.ru, maior provedor de e-mails da Rússia. “A penetração está próxima ao índice máximo em Moscou, São Petersburgo e em outras cidades que possuem um milhão de habitantes, mas algumas das regiões do país quase não possuem con e x ã o d e i n t e r n e t ”, completa. “A porcentagem de famílias em toda a Rússia que têm acesso à internet banda larga atingiu 35% no ano passado e é provável que apresente crescimento anual de 10% a 15% ao longo dos próximos dois anos”, disse Aleksandr Kazbegui, analista do banco de investimento moscovita Renaissance Capital. As regiões que ainda não apresentam boa penetração devem ser as que mais contribuirão para esse crescimento, pois o aumento do financiamento de crédito pode fazer com que as pessoas comprem mais computadores e laptops”, informou o analista.

ministro Dmítri Kozak, elas sediarão em 2013 competições experimentais. Além disso, algumas delas, como o complexo de esqui Rosa Khútor, já estão em operação. Desafio muito maior é deixar em ordem a infraestrutura da

região. O que está sendo feito em Sôtchi e seus arredores leva a crer que nunca na história dos Jogos Olímpicos tenham sido realizadas obras tão grandiosas.

Onde mora o problema

Uma das chaves para o sucesso de quaisquer Jogos Olímpicos é uma infraestrutura de transportes bem desenvolvida. Mas, antes do início das obras de construção olímpicas, o sistema de transportes de Sôtchi estava em estado deplorável e o maior desafio da organização era l iga r os dois clusters. Para evitar um colapso no trânsito, decidiu-se pela construção de um viaduto combinado de estrada e ferrovia, com extensão de 48 km e um trajeto em túneis ao longo do rio. O orçamento do projeto ultrapassou os R$ 11 bilhões, e fez do viaduto de Sôtchi o mais caro do mundo.

Além disso, pretende-se construir um rodoanel que inclui 15 pontes e cinco túneis. Há ainda outros projetos de menor visibilidade, mas não menos importantes. Entre eles está a construção de uma ligação ferroviária para o transporte de quase 100 milhões de toneladas de carga, de um novo aeroporto (já em andamento), de seis novas usinas elétricas e 16 subestações, a montagem de instalações de purificação de água e a reforma do porto local. A reforma do complexo hoteleiro também é imprescindível, e sem ela Sôtchi não conseguirá dar conta do fluxo de turistas durante os jogos. Por isso, já há projetos para a criação de novos hotéis, principalmente de três estrelas, que fornecerão à cidade mais 42 mil vagas. Após as Olimpíadas, muitos desses hotéis serão convertidos em habitações e negociados no mercado imobiliário.

Meta é passar a exportar açúcar Continuação da página 1

No final de novembro, o vice-primeiro-ministro Víktor Zubkov disse que a Rússia poderia colher 48 milhões de toneladas de beterraba sacarina em 2011. “Nunca antes tivemos uma safra tão grande. Podemos produzir cerca de 5,5 milhões de toneladas de açúcar, que é o suficiente para nos suprir até a safra do próximo ano”, afirmou Zubkov. A projeção da Doutrina de Segurança Alimentar da Rússia, entretanto, previa que o açúcar de produção nacional cobrisse 80% da demanda interna só em 2020. Em 2009, o açúcar nacional ocupava apenas 55% do mercado interno.

Boa safra

A safra recorde e o aumento de capacidade de processamento da indústria levarão a Rússia a exportar, no biênio 2011-2012, até 200 mil toneladas de açúcar refinado produzido a partir da beterraba. Isso tudo apesar de o país ter estado, há apenas alguns anos, entre os maiores importadores de açúcar bruto de cana. Segundo a União de Produtores de Açúcar da Rússia, o consumo de açúcar no país permanecerá estável até 2020 e não ultrapassará os 39 kg per capita por ano. “Na Rússia, como nos países europeus, o consumo de açúcar apresenta os valores mais altos. Compare: na China, o consumo médio anual per capita é de cerca de 10 kg”, explica o presidente da União de Produtores de Açúcar, Andrêi Bôdin. O consumo de açúcar deve permanecer no nível dos 5,5 milhões de toneladas por vários anos, acrescentou. Com

o atual apoio do governo, o setor agrícola russo poderá dobrar a produção de beterraba sacarina por meio da ampliação das áreas de plantio e do aumento do rendimento da cultura. Neste ano, a área de plantio de beterraba sacarina russa foi de cerca de 1,3 milhão de

Federação Russa encheu CEI de açúcar, mas não tem infraestrutura para ir além hectares com beterraba. Esse número pode se ampliar em breve para 3 milhões de hectares. O rendimento médio da beterraba aumentou, neste ano, em 25% em relação ao ano de 2009, atingindo 38 toneladas por hectare. Na Europa, o rendimento médio é de 80 toneladas por hectare. Além disso, planeja-se aumentar os investimentos na reforma de usinas. Segundo a união de produtores, só a modernização das usinas ab-

sorverá cerca de 80 bilhões de rublos (R$ 4,6 bilhões) entre 2012 a 2014 e permitirá aumentar a capacidade em 33% em relação à atual. Modernizadas, as usinas processariam cerca de 420 mil toneladas de beterraba por dia, contra as 315 mil toneladas atuais. A holding agrícola Razguliai deve investir 5 bilhões de rublos (R$ 286,5 milhões) na modernização de suas unidades e aumentar sua capacidade produtiva para 800 mil toneladas de açúcar por ano. Já a Rusagro pretende aumentar em 25% a capacidade de suas refinarias de açúcar até 2016 e ampliar as áreas de plantio. A Rússia copia a experiência da Europa, que, ao abastecer seu mercado com açúcar doméstico, passou a exportá-lo e a produzir biocombustível. Os russos já encheram os países da Comunidade de Estados Independentes (CEI) de açúcar, mas não podem exportar para outros países devido à falta de infraestrutura.

Exportadores para a Rússia


Especial

Gazeta Russa

www.gazetarussa.com.br

inverno russo saiba como a população se adapta para viver a mítica estação de frio no país

para Quebrar o gelo no passado, para incríveis -72ºC. O inverno tem um impacto importante sobre todas as esferas da vida da população russa, mas é tido pelos habitantes do país como fenômeno completamente normal e habitual. É isso que você vai ver nesta página especial sobre a estação.

tura média no inverno é de 15ºC. Sôtchi, por exemplo, compartilha a latitude geográfica da cidade de Nice e causa inveja aos habitantes de outras regiões da Rússia, especialmente do pequeno povoado de Oimiakon, na Iakútia, extremo nordeste do país, onde a temperatura caiu, no inver-

Mobilidade Remoção de neve e adaptação dos carros é indispensável

Moscovitas na via congelada

photoxpress

Cotidiano no inverno de Moscou: um batalhão de removedores de neve limpa as ruas

Enquanto em países como a Alemanha cinco centímetros de neve geram caos, na Rússia são necessários 40 cm para causar danos. Aleksêi Knelz Gazeta Russa

itar-tass(3)

Em novembro de 2010, bastaram 24 horas para a temperatura despencar de números positivos para -20°C em Moscou. O penúltimo inverno foi o mais frio dos últimos 60 anos, com os termômetros mostrando uma t e mp e r at u r a mé d i a de -28°C. Em Moscou, o inverno tem duração de cerca de 4 meses. Desse período, a neve toma aproximadamente 50 dias. À noite, o acúmulo dos cristais de gelo chega a aproximadamente 40 cm – um desafio para o serviço municipal de remoção. Quando neva, os limpa-neve vão às ruas. “Três a cinco centímetros de neve não são um problema, são rotina”, diz Piotr Biriukov, secretá-

Inverno no aeroporto: cada aeronave precisa ser descongelada antes da decolagem

rio municipal de finanças da cidade de Moscou e responsável pela organização dos serviços especiais de inverno. Complicado, segundo ele, é quando a neve é intensa, constante e duradoura, e os limpa-neve precisam voltar às vias a cada dez minutos. Os veículos removedores podem limpar 12 km em uma hora. Além disso, eles também detectam buracos no asfalto e remetem sua localização eletronicamente ao

departamento de infraestrutura da cidade. As pás dos veículos empurram a neve para o meio-fio, de onde caminhões removedores recolhem o material acumulado para suas caçambas e o transportam para um dos 200 derretedores de neve da cidade. Até 300 toneladas diárias de gelo podem ser transformadas em água por cada uma dessas máquinas. A manutenção do batalhão de removedores de neve custa todos os anos o equivalente a mais de R$ 28 milhões à cidade. Por isso o inverno sai caro para os motoristas russos. “Você tem Webasto?” – começam a perguntar os guardas de trânsito aos motoristas que optam por deixar seus carros estacionados na rua à noite. Trata-se da empresa alemã de aquecedores Webasto, sem a qual a locomoção a -35°C seria impossível. Além disso, os pneus, ao rodarem no inverno, inevitavelmente lançam neve para trás, sujando os pára-brisas dos carros seguintes. Daí a necessidade de grande quantidade de água para párabrisa - e de um tipo especial, que não congele com a temperatura ambiente extrema. Em um dia de inverno, consome-se em torno de 5 litros do líquido, que se pode comprar em cada esquina da capital.

O abre-alas do Polo Norte Com cerca de 150 metros e 75 mil cavalos, a embarcação Ártica está entre as maiores e mais poderosas do mundo. Desde 1957, quebra-gelos atômicos russos liberam a passagem a Nordeste, o trecho de mar que banha a Europa e o Japão simultaneamente, para que o transporte possa fluir na região.

Urbanização aos poucos acaba com tradições de inverno “Estou indo à bânia, enquanto isso você põe a petchka e o samovar para esquentar?”, essa seria uma frase tipicamente russa há 50 anos. A bânia é a sauna russa, a petchka, um grande forno de pedra. O samovar é uma chaleira gigante e também um símbolo de hospitalidade. Com a crescente urbanização, algumas tradições que sobreviveram à URSS estão ameaçadas. Hoje na Rússia, por exemplo, só há aquecimento central, sem reguladores individuais, por exemplo. Para amenizar a temperatura ambiente, só abrindo a janela para o frio de bater os dentes. As moradias são superaquecidas e o ar seco resultante enriqueceu os fabricantes de umidificadores de ar. Uma pesquisa realizada pelas empresas Bosch e Siemens na Rússia aponta que os custos do aquecimento podem ser reduzidos em até 80% por meio de tecnologias de aquecimen-

Edifícios agora contam com aquecimento central

vostock-photo(3)

A imagem da Rússia no exterior é, quase sempre, associada ao intenso frio siberiano. De certa forma, ela faz sentido. Na Rússia o frio é realmente intenso, embora o clima no país varie muito desde a zona polar até a região subtropical na costa do Mar Negro, onde a tempera-

Samovar, o antigo ebulidor

Adaptados ao frio, mas quase extintos O tigre siberiano, também conhecido como tigre de Amur, não é apenas o maior da espécie, como também o único que vive em um habitat coberto de neve e gelo. No extremo leste da Rússia, as águas do rio Amur podem atingir -45°C. Como proteção contra o frio letal, o tigre conta com pelagem espessa e uma camada de 5 cm de gordura subcutânea. Com a ação do homem sobre a natureza, entretanto, o tigre siberiano está em vias de extinção. Hoje há somente cerca de 500 exemplares do animal vivendo na região fronteiriça

entre Rússia, China e Coreia do Norte. E o habitat deles encolhe dia a dia. Mais raro ainda é o leopardo do Cáucaso. A espécie já foi considerada extinta, mas

to e i sola me nto m a i s modernas. Quanto à água, para não congelar os tubos, ela é pré-aquecida na central de energia elétrica e precisa ser bombeada diretamente para as casas por meio de tubulações de longo alcance. No verão é que os russos pagam o preço pelo frio, já que nessa época a água quente é cortada por um período de até três semanas devido à manutenção que costuma ser feita nas tubulações. (AK) em 2003 foi descoberto um exemplar do animal, que, acredita-se, imigrou do Irã. Desde então, a World Wildlife Foundation (WWF) tenta, com apoio do governo russo, restabelecer o predador na região. A eleição do leopardo como mascote dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 em Sôtchi foi uma surpresa para muitos russos, já que a existência desse animal no país era desconhecida. Assim como o tigre siberiano, o leopardo do Cáucaso caracteriza-se pela grande capacidade de adaptação, já que o inverno na montanhosa região do sul da Rússia que lhe dá nome é muito frio e tem nevascas intensas, enquanto seu verão é quente e seco. (MG)

Tradições Sob temperaturas rígidas, russos têm maneiras de se divertir que vão do radical banho em lago congelado à pescaria

Congelados, talvez. Entediados, porém, nunca Durante o inverno há espaço para escorregar com pranchas pela neve, praticar caminhadas, frenquentar a sauna e andar de trenó ou patins. Moritz Gathmann gazeta russa

afp/east news

A data mais importante na vida de um morsa (“morj”, em russo) é 19 de janeiro. É assim que são chamados os russos convictos de que banhos regulares em buracos abertos em lagos congelados – como nos desenhos animados – fortalecem o corpo. E é em 19 de janeiro que essas morsas têm sua grande data: segundo a crença cristã ortodoxa russa, Jesus foi batizado nesse dia. Todos os anos multidões aguardam a meia-noite para o misto de mergulho e batismo. Só em Moscou são milha-

Banho em lago congelado tem regras para conservar a saúde

res de morsas que esperam os padres consagrarem rios e lagos para em seguida mergulhar nas águas. Mesmo no penúltimo inverno, quando a temperatura em Moscou caiu abaixo dos -20°C, não houve incidente significativo. De qualquer maneira,

paramédicos ficam a postos. Mas para sobreviver ao mergulho congelado, é necessário conhecer e seguir à risca as regras: mergulhar três vezes, enxugar-se e depois vestir roupas quentes ou, ainda melhor, seguir para a “bânia” (a tradicional sauna russa).

Outra das atividades favoritas dos russos no inverno, a bânia, cujas temperaturas variam de 80°C a 100°C, é utilizada durante o ano todo. Mas intercalada ao banho nas águas geladas garante um estímulo extra. Enquanto as crianças aproveitam a estação fria para andar de trenó ou patins, é possível encontrar adultos praticando caminhada nórdica (andar com o auxílio de bastões parecidos com os de esqui) nos bosques – novosricos que deixam seus carros de luxo estacionados lado a lado com os Ladas dos aposentados, já que nas calçadas são todos iguais. Frequentemente se vêem aposentados com suas pranchas de madeira soviéticas para escorregar na neve – semelhantes às de fibra-de-vidro que

os jovens usam hoje descuidadamente. Em meio ao bosque costumeiramente se bebe um chá fumegante da garrafa térmica, e uma garrafa de bolso também pode ser útil contra o frio. Fugindo da desordenada realidade, homens russos vão para as águas congeladas levando consigo quebra-gelos especiais com os quais abrem seus próprios acessos à água. Bem agasalhados e por vezes protegidos por barracas, eles esperam por horas na neve e no frio impetuoso diante de um buraco de vinte centímetros na esperança de que um dos peixes que não hiberna no inverno morda a isca. “Já conseguiu?” ou tentativas semelhantes de travar conversa não são recomendadas. A categoria não é falante, sobretudo no gelo.

Quente e elegante Várejki: luvas levadas à Rússia pelos Varegues, daí o nome várejki. Retêm calor e frequentemente são tricotadas por avós para seus netos. Válenki: revestidos de lã de ovelha, esses sapatinhos de feltro protegem os pés em temperaturas abaixo de -30°C, são impermeáveis e não têm sola, por isso são usados com galochas. Anualmente são fabricadas 4,5 milhões de unidades na Rússia. Uchanka: gorro com abas que protegem as orelhas (em russo, “úchi” significa “orelhas”), é um símbolo genuinamente russo. A aba protetora da

uchanka pode ou não ser usada, porém não é recomendada para homens por ser considerada feminina. Atualmente, estão disponíveis em vários materiais, desde pelúcia até a nobre pele de zibelina.


Opinião

Gazeta Russa

www.gazetarussa.com.br

Nikolai Petrov

analista político

S

eria errado concluir que o presidente Dmítri Medvedev espera que lhe deem de bandeja o cargo de primeiro-ministro em 2012 como pagamento pelos serviços e por sua lealdade. Na verdade, o atual presidente está trabalhando duro para conquistar essa posição. Ainda em novembro de 2011, Medvedev participou de três eventos no Extremo Oriente. Presidiu em Khabarovsk uma sessão do Conselho de Estado que discutiu o aumento do papel das regiões na modernização da economia, encontrou-se com a imprensa do Extremo Oriente, também em Khabarovsk, e visitou o comitê público formado por partidários e membros regionais do Rússia Unida, em Iakútia. As três reuniões foram praticamente idênticas, e fechadas pelo encontro do Rússia Unida. A coletiva a jornalistas foi anunciada como a primeira de uma série a ser realizada ao longo do mês. A principal ideia passada

por Medvedev é que a Rússia já avançou muito em seu esforço rumo à modernização e poderia conquistar mais ainda por meio de um desenvolvimento econômico inovador, reduzindo a dependência do país por matériasprimas e melhorando suas instituições políticas. Em todas essas reuniões, Medvedev não se comportou nem como presidente, nem como primeiro-ministro. Enquanto o premiê Vladímir Pútin atribuiu recursos financeiros do governo e fez promessas concretas quando presidiu minicongressos do Rússia Unida, o papel de Medvedev tem sido pintar um quadro positivo da atual conjuntura e agir como “o motor moral do desenvolvimento”, como ele mesmo diz. As regalias que Medvedev proporciona custam pouco e são, em sua maioria, de natureza simbólica – como, por exemplo, dar anualmente aos aposentados e estudantes do Extremo Oriente viagens grátis à porção europeia da Rússia, algo que Pútin havia prometido vários anos atrás – sem entregar. As palavras de Medvedev aos governadores, que atuam

como lobistas regionais durante a campanha eleitoral, são um slogan apropriado para a debate sobre modernização. O presidente disse: “A Rússia é um país onde é impossível sobreviver sem grandes projetos que ajam como u m motor pa ra o desenvolvimento”. Embora seja discutível se são realmente “motores do desenvolvimento”, é inegável que projetos tais como o Nord Stream (o gasoduto do mar Báltico), os Jogos Olímpicos de Sôtchi 2014 e os planos para a chamada “Grande Moscou” (que vão transferir os prédios administrativos do governo para fora do centro da capital) fornecem um mecanismo pelo qual Pútin pode canalizar as receitas de gás e petróleo do país às contas bancárias de seus amigos oligarcas. Do mesmo modo, o plano para desenvolver o turismo no Cáucaso do Norte é uma maneira eficaz para o governo de Moscou comprar a lealdade das elites políticas locais e seus amigos. A prática tornou-se marca registrada do mandato Pútin-Medvedev. Os benefícios foram distribuídos de modo

alexey iorsh

Medvedev, o animador de torcida

a satisfazer o apetite cada vez maior da elite empresarial fiel a Pútin, tais como o empresário do setor energético Guennádi Timtchenko, Arkádi e Boris Rotenberg, e o diretor do Banco Rossia, Iúri Kovaltchuk. Esses indivíduos, conhecidos como “oligarcas negros”, cuja prosperidade depende de suas estreitas alianças com o Kremlin, têm ganhado força considerável desde 2008. Enquanto isso, o mesmo período foi marcado por contratempos para os “oligarcas brancos” da velha guarda, proprietários de grandes empresas recon hecidas internacionalmente. Eles receberam uma importante injeção de fundos do Estado durante a crise econômica, mas pagaram por

isso com a sensível perda de controle sobre seus ativos. Durante a reunião de Medvedev com os governadores da região oriental da Rússia –encontro que era basicamente uma reunião do Conselho Federal –, vários outros grandes e extremamente onerosos projetos foram mencionados: uma ferrovia de alta velocidade de Moscou a Iekaterinburgo, uma terceira linha na ferrovia Transiberiana, uma ponte para a ilha Sakhalin, entre outros. Nenhum oligarca tem interesses instituídos em muitos desses projetos clientelistas, aparentemente transformando-os em “programas do povo” a serem explorados pela elite política regional. E, como todos sabem, esses

projetos não são concebidos para serem implantados, mas para criar a impressão de que as propostas de todos vêm sendo ouvidas e levadas a sério. O que é impressionante é a forma como esses projetos, no valor de bilhões de dólares, se materializam repentinamente pouco antes das eleições para satisfazer o crescente apetite da elite política e econômica. Aplicar dinheiro de forma imprudente em projetos de alto valor como esses também acaba reduzindo o conflito entre os clãs políticos, que seriam resultado da disputa por recursos limitados – sobretudo porque o dinheiro é prometido em nível regional, e não federal. O importante é que Medve-

dev, seja na qualidade de vice-primeiro-ministro, quando dirigiu projetos nacionais de 2006 a 2008, ou como presidente, passou anos como uma espécie de diretor de relações públicas trabalhando dentro da limitada autoridade que lhe é concedida. E nada mudou agora que ele é o principal candidato a primeiro-ministro. Seu papel continua o mesmo no sistema político dominado por um único indivíduo: seu cargo pode mudar, mas, na essência, ele permanecerá um mero animador de torcida para os projetos executados pela “Rússia Ltda.”, liderada por Pútin. Nikolai Petrov é acadêmico do Centro Carnegie de Moscou.

Voz das urnas é clara e pede mudanças Konstantin von Eggert

comentarista político

A

o aparecerem na televisão r ussa na noite após as eleições da Duma, o presidente Dmítri Medvedev e o primeiro-ministro Vladímir Pútin não conseguiram esconder em suas expressões e sorrisos tensos a decepção em relação ao resultado obtido. O partido Rússia Unida, do qual fazem parte, foi desprezado pelos russos e sua participação na eleição nacional caiu de aproximadamente 64% para cerca de 50%, com resultados pífios principalmente em Moscou e São Petersburgo. Partidos da oposição, analistas eleitorais e jornalistas acusaram os governos regionais russos e a polícia de co-

laborar para a manipulação de votos. Se não fosse pela fraude nas eleições, o partido poderia ter terminado em terceiro lugar nas duas principais cidades russas. O chefe do comitê executivo do Rússia Unida, Andrêi Vorobiov, não quis falar em en-

Não fosse pelas fraudes, Rússia Unida poderia terminar em terceiro lugar nas eleições em Moscou trevistas sobre a perda de quase 15% pontos percentuais. Assim como seus colegas, ele estava realmente perplexo com o resultado da eleição. O que os russos testemunharam no dia 4 de dezembro foi o retorno da po-

lítica na Rússia – quando todos pensavam que ela já estava morta. Várias conclusões podem ser tiradas a partir desse resultado. Primeiro, mesmo que os resultados oficiais fossem considerados impecáveis (o que definitivamente não são), um sinal muito sério foi enviado para a classe dominante do país. Diferentes pessoas votaram contra o partido governante por razões distintas, mas todas deram um sinal de que a população está cansada do monopólio político do Rússia Unida e da corrupção associada a ele. Em segundo lugar, é verdade que muitos no país ainda acreditam que o Rússia Unida é uma quadrilha de “caras malvados” na corte do “bom tsar” Vladímir Pútin. Entretanto, também está claro que para uma

grande quantidade de pessoas essa foi a chance de mostrar sua insatisfação especificamente em relação a Pútin. Nesse aspecto, a votação de dezembro pode ser vista como uma espécie de “primeiro turno” das eleições presidenciais da Rússia, previstas para março de 2012. Havia grandes expectativas que Pútin fosse eleito para exercer seu terceiro mandato, mas a recente eleição lançou uma sombra de dúvida sobre isso. Em terceiro lugar, essa foi a última eleição em que a televisão estatal desempenhou um papel decisivo. A penetração da internet na Rússia cresce massivamente: o antigo índice de 32 milhões de usuários por mês em 2008 alcançou a marca de 50 milhões de usuários diários em

2011. Até 2016, quando o próximo ciclo eleitoral começar, de 75% a 80% dos eleitores terão acesso à rede. Desmascarar a fraude eleitoral teria sido impossível sem smartphones, Facebook ou Twitter. Na verdade, uma política de verdade pressupõe sempre a interação com as pessoas. Porém, desta vez o ativismo on-line tornou a organização off-line não só possível, mas eficaz. É por esse motivo que o governo poderá tentar introduzir uma legislação restritiva referente a internet – um processo a ser observado ao longo de 2012. Isso nos leva à quarta conclusão. Essa foi a primeira eleição russa em que a nascente “classe média” na faixa dos 30 anos – autossuficiente, falante de inglês e habituada a tecnologias di-

versas – realmente foi às urnas. Foi a geração que mais se beneficiou da “década de vacas gordas” – os dois primeiros mandatos de Vladímir Pútin como presidente, entre 2000 e 2008. O período registrou um boom do petróleo, que enriqueceu

A internet cresceu no país, e foram as últimas eleições em que a TV estatal teve papel importante muitas dessas pessoas. Muitos ignoravam por completo o jogo político e apoiaram Pútin e o Rússia Unida. No entanto, a crise econômica, a corrupção e a estagnação política tirou-os da apatia. Finalmente, quanto mais as

autoridades recorrerem ao uso da força, mais oposição irão produzir. Com a política de volta ao consciente coletivo, os russos percebem que ainda não há muita alternativa ao redor. Não há forças políticas sólidas de centro-direita, e os quase 30% de eleitores nacionalistas moderados não têm ninguém a quem apoiar, deixando um terreno fértil para populistas e demagogos. O maior perigo para a Rússia agora é o potencialmente perigoso vazio que poderia surgir se medidas para modernizar o obsoleto e ineficiente sistema político do país não forem tomadas em breve. Konstantin von Eggert foi diretor do bureau da BBC em Moscou

Andrêi Kisliakov

Analista militar

O

Ministério da Defesa dos Estados Unidos anunciou um novo e ambicioso programa espacial para montar uma rede de satélites em torno da Terra. O projeto poderá incluir 288 satélites GPS e de comunicação de órbita terrestre baixa LEO Iridium. Intenção semelhante foi anunciada por Serguêi Jukov, diretor de telecomunicações do projeto de inovação russo Skôlkovo. Segundo ele, a Rússia estuda a possibilidade unir diversos sistemas para criar u m f utu ro escudo de satélites. Em primeiro lugar, essas cons-

telações de satélites evidentemente serão usadas para fins militares. Os satélites são o núcleo das forças armadas modernas em países desenvolvidos. No futuro, o principal objetivo de uma guerra será não tanto a tomada do território inimigo, mas golpes exatos em seus pontos fracos. No conceito de armas estratégicas, a ênfase se desloca da clássica tríade nuclear para sistemas de armas convencionais de alta precisão. Todavia, seu emprego requer elementos de apoio orbital, como satélites de reconhecimento, previsão, comunicação, navegação e identificação de alvos. Ainda em 2004, o chefe do Centro de Estudos Militares e Estratégicos do EstadoMaior Russo, Vladímir Slíp-

chenko, disse, em entrevista ao autor deste artigo, que “o principal objetivo dos EUA não é construir um escudo antimíssil nacional, mas ensaiar o uso de sua infraestrutura orbital de informação para a condução de guerras sem contato”. De acordo com o general, até 2020 o número de armas de alta precisão em posse dos países desenvolvidos poderá chegar a 70 mil ou 90 mil. Imagine quantos satélites serão necessários para servi-las. Portanto, centenas de satélites aparentemente inofensivos se tornarão parte integrante dos sistemas de armas de alta precisão, principal meio de combate do século 21. Por outro lado, os satélites são o calcanhar de Aquiles des-

ses sistemas, e também poderão ser atacados. Já em plena Guerra Fria, os EUA e a URSS realizavam experiências de combate a alvos transatmosféricos, suspensas somente no fim da década de 1980 por medo de que fragmentos dos objetos destruídos pudessem atingir satélites militares e outros em operação. Hoje, a humanidade parece estar voltando à ideia de guerras espaciais. Em 11 de janeiro de 2007, a China atacou e abateu seu próprio satélite meteorológico. Um ano depois, em 21 de fevereiro de 2008, o cruzador norte-americano Lake Erie, em missão no Pacífico, derrubou com um míssil interceptor um satélite espião dos EUA prestes a cair descontroladamente.

Segundo as declarações oficiais dos EUA, o ataque ao satélite foi impulsionado pela preocupação com a segurança dos habitantes da Terra. Note-se que o satélite foi atingido a uma altitude de 247 km com um míssil Sm-3, que faz parte dos sistemas de apoio ao futuro escudo antimíssil europeu. Se existe a possibilidade de destruir alvos no espaço, mais cedo ou mais tarde surgirá a necessidade de se colocarem armas para defendê-los. O exsecretário de Defesa norteamericano Robert Gates já declarou que a proteção de seus veículos espaciais é uma prioridade para o Ministério da Defesa dos EUA. Quando ainda desempenhavas as funções de comandante das Tropas Espaciais da

niyaz karim

Militarização do espaço cada vez mais próxima da realidade

Rússia, o atual presidente da Roscosmos (Agência Espacial Russa), Vladímir Popóvkin, disse: “Se alguém decidir instalar armas no espaço, teremos que responder à altura”. Em 2007, o vice-primeiro-ministro russo Serguêi Ivanov mandou construir um escudo único com funções de defesa aérea, antimíssil e antiespacial e designou o consórcio Almaz-Antei como responspavel pelo projeto. O escudo deve ficar pronto até 2015 e com-

binar sistemas de combate e envio de informação com sistemas já existentes para garantir a defesa antiaérea, antimíssil e antiespacial da Rússia. É difícil dizer qual caminho tomarão os EUA para defender seus satélites, mas todos nós nos sentiríamos mais seguros se as rampas de lançamento de mísseis permanecessem em terra. Andrêi Kisliakov é analista da rádioVoz da Rússia

As matérias publicadas na página Opinião expõem os pontos de vista dos autores, e não necessariamente representam a posição editorial da Gazeta Russa ou da Rossiyskaya Gazeta

expediente presidente do conselho: aleksandr gorbenko (Rossiyskaya Gazeta); Diretor-Geral: pável negóitsa (RG); Editor-Chefe: Vladislav Frónin (RG) ENDEReÇO DA SEDE: RUA PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 WWW.RBTH.RU E-mail: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 Editor-chefe: EVGuêNi ABOV; editor-executivo: Pável Golub;

Editor: Dmítri golub; subeditor: marina darmaros; editores no brasil: wagner barreira, felipe gil; Editor de foto: ANDRêI ZáITSEV; Chefe da seção de pré-impressão: MILLA DOMOGáTSKAIA; Paginadores: IRINA PáVLOVA; iliá ovcharenko

© Copyright 2011 – Rossiyskaya Gazeta. Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução, redistribuição ou retransmissão de qualquer parte do conteúdo desta publicação sem prévia autorização escrita da Rossiyskaya Gazeta.

PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAIS PUBLICITÁRIOS NO SUPLEMENTO, CONTATE JúLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU

Para obter autorização de cópia ou reimpressão de qualquer artigo ou foto, favor solicitar pelo telefone +7 (495) 775 3114 ou e-mail bR@rBTH.ru.

escreva para a redação da Gazeta Russa em Moscou: BR@RBTH.RU


Em Foco

GAZETA RUSSA

WWW.GAZETARUSSA.COM.BR

RECEITA

Contracultura Pouco conhecida mundo afora, arte de rua ainda limita-se a copiar Ocidente

Okrochka, a clássica (e magra) sopa de verão

Veja slide show em www.gazetarussa.com.br

Jennifer Eremeieva

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Manifestação artística alcançou apogeu há cerca de cinco anos na Rússia e passou a ser combatido por prefeituras

Moscou está pontilhada com obras de grafiteiros, artistas empenhados em se apossar de um pedaço do espaço urbano.

Urbano versus design

PRÓKHOR KÓLOSSOV GAZETA RUSSA

JAN LIESKE

Na extinta União Soviética, o grafite surgiu ainda nos idos de 1980 como um dos chamados “quatro elementos do hip-hop” (que incluem ainda breakdance, o DJing e o rap). Mas só no final dos anos 90 e início dos 2000 essa cultura saiu da clandestinidade para entrar na moda. O grande apogeu dessa arte deu-se há cerca de cinco anos, quando o grafite se tornou, de repente, realmente popular. Grafiteiros iniciantes começaram a interferir em todas as áreas possíveis da cidade para desenhar. O es-

York do final dos anos 1970, a prefeitura declarou guerra aos grafiteiros, removendo, quase todos os dias, sua arte dos espaços públicos. Muitos grafiteiros e artistas de rua apontam, porém, outro problema: a quantidade aumenta, mas a qualidade dos grafites no país, não. “Só verificamos o aumento do número de jovens grafiteiros e dos produtos em lojas de grafite. No que se refere aos novos talentos, infelizmente, não temos o que dizer”, disse ao site Look At Me o grafiteiro moscovita Ask, um dos primeiros russos a ter suas obras publicadas regularmente em álbuns europeus e americanos de design gráfico. “Na melhor das hipóteses, os jovens grafiteiros aprendem a copiar ou a criar suas variações sobre temas explorados por grafiteiros ocidentais conhecidos”, completa. Como muitos de seus colegas, Ask deixou de desenhar nas ruas e se voltou ao design. A história mundial do grafite conhece muitos casos como esse.

contribuição”, explica o ativista do movimento de pintores de rua Kirill Kto, em entrevista ao portal Code Red. “Ampliou-se a noção do que é a arte e das formas que ela pode assumir para não perder o contato com a sociedade”, completa.

Imprensa e internet ajudaram a disseminar a arte no país

paço à volta do monumento aos “Agentes do Serviço de Guarda de Fronteiras”, situado no local de confluência dos rios Iáuza e Moscou, virou ponto de encontro dos grafiteiros. O grafite deixou de ser visto

na sociedade como algo irrelevante ou mera contravenção. “A imprensa passou a falar sobre o grafite como arte urbana. Isso ajudou a mudar a atitude da sociedade para com essa cultura. A internet também deu sua

Aproximadamente nessa época muitos grafiteiros se voltaram à arte urbana. “Recentemente o grafite passou a ser utilizado por muitos partidos políticos marginais e oficiais e movimentos sociais para fins de propaganda política, o que não acontece, por enquanto, com os artistas de rua, embora precedentes já existam”, diz Kirill. Retratando esse período, a mostra anual russa Faces & Laces completa cinco anos dedicando-se à arte contemporânea alternativa. Mas a arte do grafite se tornou fugaz. Quando as imagens e inscrições nas ruas da cidade se tornaram quase tantas quanto as da Nova

Análise Num período de um ano e meio, Brasil trouxe Adolf Shapiro e montou várias peças

Teatro russo em palcos brasileiros A rapidez com que se intensificaram as relações culturais bilaterais, pelo menos no teatro, foi inesperada. DIEGO MOSCHKOVICH

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

GUTO MUNIZ

De meados de 2010 para cá, isto é, mais ou menos no período de um ano e meio, a cena teatral brasileira já contou com visitas de alguns dos nomes mais representativos do teatro russo contemporâneo. Entre eles estão Adolf Shapiro, que estreou em 2010 com uma experiência cênica na Funarte - SP e se prepara para montar, com a Mundana Companhia, sua própria adaptação de Pais e Filhos, de Turguêniev. Há ainda Iúri Alschitz, que

acaba de estrear em Belo Horizonte o espetáculo Eclipse com o Grupo Galpão, completando assim a Viagem à Tchekhov iniciada pelo grupo com Tio Vânia: Aos Que Vierem Depois de Nós, dirigido ainda neste ano por Yara de Novaes. Outro aspecto da nova relação que se estabelece é a pedagógica: nota-se que é crescente o número de brasileiros interessados em estudar artes dramáticas em Moscou ou São Petersburgo. Desde o começo da década, Moscou é o destino de grupos de atores e diretores brasileiros, que partem para cursos curtos com o objetivo de ter uma visão panorâmica do teatro e da pedagog ia teatra l russa.

Cena de Tio Vânia, peça de Tchekhov montada no Brasil

Quando se fala em educação a longo prazo, no entanto, as coisas mudam de figura. Com uma pedagogia teatral baseada fortemente na tradição do teatro de repertório, o cur-

rículo das universidades de teatro russas é composto por quatro anos de dias letivos integrais, com um desenvolvimento do ator voltado quase exclusivamente para o domí-

CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS ÍCONES RUSSOS NO MUSEU DE ARTE SACRA

nio do sistema proposto por Stanislávski (o método de interpretação criado por Konstantin Stanislávski, reformador do teatro russo no início do século 20). Não é de hoje o interesse e a ligação do teatro brasileiro com sua contraparte russa. Eugênio Kusnet, lituano que imigrou para o Brasil em 1926, foi o desbravador desta área: sistematizou em português as bases do Sistema Stanislávski e de sua metodologia, a Análise Ativa da Peça e do Papel. Mas ainda não se sabe se o teatro russo está preparado para abrir sua fortaleza a todas as pesquisas do teatro brasileiro. Trata-se de uma pergunta que deve ser respondida na prática.

CONFIRA MAIS

no calendário online www.gazetarussa.com.br

PRODEXPO 2012

9° DENTAL REVIEW

8° VELO PARK

5° MOSCOW BOAT SHOW

DE 13 A 17 DE FEVEREIRO, EXPOCENTER, MOSCOU

DE 20 A 23 DE FEVEREIRO, CROCUS EXPO, MOSCOU

DE 24 A 26 DE FEVEREIRO, CROCUS EXPO, MOSCOU

DE 20 A 25 DE MARÇO, CROCUS EXPO, MOSCOU

A montagem de longa duração do museu apresenta peças do acervo como esculturas de Aleijadinho e ícones russos do século 17.

Em sua 19° edição anual, a feira de produtos alimentícios, bebidas (inclusive alcóolicas) e matérias-primas para sua fabricação é a maior da Rússia e do Leste europeu, e tem definido os hábitos alimentares do país.

A exibição atrai de 150 a 170 expositores e cerca de 9 mil visitantes todos os anos, e visa a conectar revendedores, compradores e profissionais da área e exibir novas tecnologias médicas e ortodônticas.

A feira é a única do gênero em Moscou, onde se expande o interesse por bicicletas. Aberta a comerciantes e consumidores, oferece a oportunidade de contato entre fabricantes, revendedores e representantes.

A exposição de barcos e iates reunirá 180 expositores de 16 diferentes regiões da Rússia, além de 12 países estrangeiros. Ocupando 30 mil m2, é uma plataforma para novos produtos, tendências de mercado e novas parcerias.

› www.museuartesacra.org.br

› www.prod-expo.ru

› www.dental-expo.com

› www.mosboatshow.ru

› www.mosboatshow.ru

MOSTRA DE LONGA DURAÇÃO, DE TER. A DOM. DAS 10H ÀS 18H, GRÁTIS AOS SÁB., SÃO PAULO

recomenda:

Voz da Rússia Descubra a frequência na sua região

portuguese.ruvr.ru

CONTATOS

Siga a Gazeta Russa no Facebook www.facebook.com/GazetaRussa

Na terça-feira, ao me deparar com a geladeira cheia de kefir e vegetais, uma coisa veio imediatamente a minha cabeça: okrochka. A okrochka combina pedaços de vegetais frescos com carne e ovos para criar uma sopa que é ao mesmo tempo refrescante e nutritiva. As receitas tradicionais variam muito em relação aos ingredientes, o que, na minha opinião, ressalta esse aspecto original da sopa de “pegar tudo que estiver sobrando na despensa e jogar na panela”. As preferências regionais também predominam: algumas usam língua e linguiça, enquanto outras, peixe defumado e presunto. Todas as versões contêm pepinos frescos, cebolinha, dill, rabanetes e ovos cozidos. A okrochka da quaresma é uma combinação de frutas, como maçãs e cerejas. Algumas receitas levam batatas cozidas, mas eu costumo deixá-las de fora, pois dão à sopa uma consistência pesada que acaba com a muito bem-sucedida mistura de texturas suaves e crocantes.

LORI/LEGION MEDIA

Ingredientes:

• 1 litro de kefir (pode ser substituído por coalhada natural batida); • 1 xícara de água gelada; • 300 gramas de carne vermelha ou peixe em cubos; • 1 pepino sem casca e sementes em cubos; • 6 rabanetes em cubos; • 4 cebolinhas em fatias finas; • ½ xícara de dill; • 1 colher de sopa de açúcar; • 1 colher de sopa de sal; • 2 colheres de sopa de mostarda Dijon; • 2 ovos.

Modo de preparo:

1. Cozinhe os ovos em água fervente com sal por 17 minutos. Mergulhe os ovos em uma tigela com água gelada por 7 minutos. Isso irá ajudar a separar as claras das gemas, bem como preservar a tonalidade amarelada dessas gemas. Tire a casca e fatie os ovos, separando a gema da clara. Corte as claras em cubos e reserve. 2. Coloque as gemas numa tigela grande (você pode descartar uma delas se estiver preocupado com colesterol) e acrescente mostarda, açúcar e sal. Usando a parte de trás de uma colher, misture os ingredientes até formar uma pasta. 3. Com a batedeira, misture lentamente o kefir e a água até atingir uma consistência pastosa; assegure-se de que os ingredientes foram bem misturados. 4. Obs.: uma generosa porção de creme azedo ou creme de leite fresco é acrescentada nessa hora nas receitas tradicionais de okrochka. Como estamos tentando manter quantidades mínimas de calorias e gordura, pulei essa parte. O “sour cream” torna a sopa mais encorpada, e confere sa-

PROGRAMA VOZ DA RÚSSIA

Para questões editoriais contatar br@rbth.ru Para anunciar aqui contatar sales@rbth.ru Tel.: +7 495 775-31-14

RUSLAN SUKHUSHIN

Grafite em busca da própria identidade

Meu marido está sofrendo com os excessos da semana passada. Alimentou-se muito mal, bebeu demais, não fez exercício suficiente e está trabalhando longas horas sem descansar o suficiente. Ele diz se sentir péssimo. “Basta!”, disparou no domingo à noite, enquanto me via limpando a geladeira e fazendo a próxima lista de supermercado. Ele bateu no balcão da cozinha e gritou: “Kefir e halteres!” Fiz um gesto com a cabeça concordando distraidamente e acrescentei kefir (coalhada) à lista. Já temos os halteres. “Kefir e halteres” é o eterno grito de guerra de domingo à noite dos homens russos, de Kaliningrado a Iujno-Sakhalinsk: homens que sentem a necessidade de virar uma nova página e começar uma vida saudável. As mulheres são intimadas a encher a casa com frutas frescas, vegetais e kefir, o leite fermentado, que, segundo os europeus orientais e dos Balcãs, contém propriedades místicas mais poderosas que a penicilina.

Saiba tudo sobre o país através do site

bor e textura cremosa adorável. Mas você pode substituí-lo por iogurte grego, que proporciona os mesmos benefícios sem aquelas calorias extras. 5. Adicione o resto dos ingredientes e deixe descansar por pelo menos duas horas antes de servir.

Variações:

A melhor coisa da okrochka é que não é preciso seguir nada à risca em sua receita. Já vi pelo menos vinte receitas diferentes de okrochka, usando tanto kvass (bebida à base de pão fermentado) como kefir como base. Eu encorajo a experimentá-la com seus sabores e texturas preferidos e criar uma nova versão! Possivelmente polonesa: misture linguiça bolonhesa (uma espécie de mortadela, embora não seja exatamente a mesma coisa), kielbasa (linguiça polonesa) cozida ou língua, ervilhas e beterrabas descascadas com os tradicionais pepinos frescos, cebolinha, rabanetes e dill. Decore com picles. Surpreendentemente espanhola: combine presunto ou chouriço com pimentões vermelhos assados, aspargos e maçãs. Decore com tomates picados e manjericão. Maravilhosa báltica: misture camarão, salmão defumado e outros peixes defumados em lascas, agrião e alho-poró refogado, coberto com suco de limão, creme de leite azedo (ou creme de leite fresco) e bastante dill. Vá de grego: substitua as claras de ovo por uma boa quantidade de iogurte grego, alho, uma xícara de suco de limão e azeite. Maravilha de frutas: mix de morangos, cerejas, pêssegos e outras frutas selvagens com pepinos e um pouco de suco de limão. Substitua o dill por hortelã e estragão picados!

Descubra um novo mundo

in s s A

e

Assine a nossa newsletter semanal

gazetarussa.com.br/assine


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.