QUARTA-FEIRA, 21 DE AGOSTO DE 2013
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Cadeia aos blasfemos
De bandeira na cueca
Entra em vigor lei que pode render até 3 anos de prisão para quem ferir sentimentos religiosos alheios
Banda punk norte-americana causa furor ao profanar símbolo russo e tem shows cancelados no país
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Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), La Nacion (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais
Amor entre povos Com 82 pontos, projeto quer conter discórdia entre etnias que habitam território nacional
NOTAS
Reação aos conflitos étnicos
Diário de brasileira na Rússia vira filme O diário da brasileira Martha Nowill, que causou burburinho depois de ser publicado pela revista “Piauí” Gazprom Working with Halliburton on Unconventional Oil Extraction, está prestes a virar filme. A atriz passou um mês em Moscou em 2008 para estudar o método Stanislávski e conta suas peripécias na publicação.“‘Vermelho Russo’ mostra o encontro de culturas cujas contradições rendem muitas risadas e observações sobre o comportamento humano”, conta o diretor carioca Charly Braun, ainda em busca de parceiras para completar o financiamento. Segundo ele, o filme será rodado em janeiro de 2014.
Eventos culturais, cursos de línguas, disciplinas obrigatórias sobre o assunto nos currículos escolares são as estratégias do governo para frear discórdia. MARINA OBRAZKOVA GAZETA RUSSA
Consumo de drogas No último ano, quase 3% da população do planeta fumou maconha, segundo o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime. Enquanto neozelandeses e italianos foram os maiores usuários do período (14,6% dos habitantes de 15 a 64 anos), os russos somaram 3,5%. A Rússia, porém, é um dos países que mais usou drogas injetáveis (2,3%). Piotr Petrôvski SHUTTERSTOCK/LEGION-MEDIA
Carne suína brasileira pode ser embargada
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IÚRI PANIEV ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Ao longo dos primeiros cinco meses de 2013, o volume de importação da carne suína brasileira pela Rússia atingiu 47,9 mil toneladas, somando um total de US$ 161,7 milhões. A Rússia é o principal destino de exportação do produto, respondendo por 28,7% da quantidade total de carne
de porco exportada pelo Brasil, segundo dados da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína). Mas o futuro da parceria comercial russo-brasileira ficou incerto depois que as agências regulatórias da Rússia identificaram o estimulador de crescimento muscular ractopamina na criação bovina brasileira em 2013. “Se as inspeções da carne suína brasileira trouxerem os mesmos resultados, a im-
portação do produto poderá ser proibida”, anunciou em julho Serguêi Dankvert, presidente do Rosselkhoznadzor (Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária). A última comitiva russa esteve no Brasil entre o final de junho e meados de julho deste ano com o objetivo de verificar o cumprimento das exigências da União Aduaneira Eurasiática (composta por Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão). Especialistas russos relataram que o serviço de vi-
Exportação de carne suína brasileira caiu 10% no 2° trimestre deste ano. Suspensão de importações ucraniana colaborou na queda
g i lâ ncia brasi lei ro não tomou as medidas necessárias para corrigir a falha no controle fitossanitário do produto. “Os defeitos detectados ainda em 2011 e 2012 não foram completamente corrigidos, apesar de o Ministério da Agricultura brasileiro garantir que foram resolvidos”, diz Dankvert. “Na última inspeção, os fornecedores não foram capazes de apresentar resultados dos testes de matéria-prima e produto fi nal que seguissem os índices de segurança usados pela Rússia e pela União Aduaneira.” Segundo declarou uma fonte do Rosselkhoznadzor à reportagem da Gazeta Russa, há uma série de defeitos sistemáticos no funcionamento da agência de inspeção veter inár ia brasileira. Um deles se refere ao programa nacional de análise de qualidade, que exige testes com amostras de matérias-primas e produtos finalizados para garantir a segurança de todo o volume da carne exportada. Além disso, nos últimos anos as instalações e ambientes dos fabricantes inspecionados não foram submetidos ao monitoramento do conteúdo de mercúrio, pesticidas, dioxina e radionucleídeos, substâncias radioativas. Os resultados das inspeções anteriores apontaram contaminação com listeria, salmonela, bactéria Escherichia coli e antibióticos do grupo das tetraciclinas. Neste ano, o uso de ractopamina será verificado em 30 amostras da carne de vaca e na mesma quantidade de amostras de carne suína de origem brasileira. CONTINUA NA PÁGINA 4
Opositor condenado é candidato em Moscou
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Crescimento de movimento ultranacionalista leva à criação de medidas para convivência pacífica. País abriga mais de 180 etnias
Exportação Rússia é maior destino do produto do Brasil
Substância proibida, que provocou suspensão de importações de carne de boi, ameaça produtos suínos.
Bíblia para turistas
Os hotéis russos disponibilizarão Bíblias para os hóspedes em suas suítes. “O livro sagrado é a base da cultura europeia e oferecê-lo em suítes de hotel é um sinal de respeito e hospitalidade”, explicou o presidente da Comissão Missionária, Dmítri Pérchin. Um primeiro lote, com 6 mil cópias do Novo Testamento e do Livro dos Salmos, já foi entregue a um dos maiores hotéis da capital, o Izmáilovo.
Participação de Aleksêi Naválni torna disputa menos previsível para atual prefeito interino, Serguêi Sobiânin.
ITAR-TASS MARIA AZÁLINA REPORTAGEM COMBINADA
Atualmente em campanha, com comícios pelas principais praças de Moscou, o oposicionista Aleksêi Naválni foi preso em julho e libertado logo em seguida, em uma reviravolta sem precedentes nas disputais eleitorais russas. Recebido como herói por mais de mil partidários em uma estação de trem da cidade, o blogueiro havia sido condenado a 5 anos de prisão e detido por um suposto desvio, avaliado em US$ 500 mil, da madeireira estatal Kirovles em 2009. A condenação veio dias após Naválni receber permissão para participar das eleições municipais, que serão realizadas em 8 de setembro. A medida preventiva para libertação sob fiança do candidato foi solicitada por Serguêi Bogdanov, o mesmo promotor que anteriormente pediu sua custódia no tribunal. “O veredito foi maluco e a libertação, não menos”, afirma o jurista Vladímir Jerebenkov, para quem o Judiciário foi guiado pela política. Segundo o jornal “Vedomosti” apurou no círculo do comitê eleitoral do atual prefei-
Reação à lei antigay
KOMMERSANT
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Marina Darmaros
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Com o objetivo de combater conflitos étnicos, o governo russo elaborou um plano de ação com 82 medidas. Entre elas, o apoio financeiro a organizações sem fins lucrativos voltadas à adaptação de migrantes, a organização de festivais e oficinas culturais, assim como a inclusão da disciplina “Cultura das Relações Interétnicas” nos currículos escolares e universitários. Segundo especialistas, esse é o primeiro projeto de relevância sobre a questão nos últimos 50 anos. Com realização prevista para estender-se até 2025, o programa foi elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e aprovado pelo gabinete de ministros logo após conflitos étnicos ocorridos no início de julho na cidade de Pugatchov. Ali, quase mil quilômetros a sudeste de Moscou, na unidade federa-
Investigadores russos estão conduzindo um inquérito sobre difamação à legisladora Elena Mizúlina, criadora da “Lei contra a Propaganda de Valores não Tradicionais” - também conhecida como lei antigay. A deputada, que virou alvo de piadas on-line, denunciou até a socialite oposicionista Ksênia Sobtchak, que escreveu no Twitter que Mizúlina proibiria também o sexo oral. Maria Azálina
4 de setembro
Próxima edição
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Opinião
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RUSSOFOBIA PUNK DE SUCESSO Ian Chénkman Jornalista
ecentemente, a banda punk norte-americana Bloodhound Gang profanou a bandeira russa em um show na cidade ucraniana de Odessa. A notícia causou indignação na Rússia e chegou a jogar para segundo plano a história de Edward Snowden no país, as manifestações da oposição e até o aumento da inflação. A história é grotesca e ofensiva. Mas quando foi que músicos de bandas alternativas tocaram certinho e bajularam o público? A história do movimento punk começou com ofensas dos Sex Pistols à rainha da Inglaterra e obscenidades que disseram em uma transmissão ao vivo. Johnny Rotten e seus amigos logo receberam uma resposta: os músicos foram brutalmente espancados na rua e a gravadora rescindiu seu contrato. Com o Bloodhound Gang se deu algo parecido. Na cidade russa de Anapa, à beira do mar Negro, eles foram recebidos com uma chuva de ovos podres no aeroporto, dois cossacos tentaram espancá-los e os seus shows no país foram cancelados. No caso do Sex Pistols, o Estado não interveio no conflito. Já a polícia de Anapa, conforme noticiou a agência Interfax, enquadrou as ações do baixista dos Bloodhound Gang, Jared Hasselhoff, no artigo 329 do Código Penal, sobre a “Profanação do emblema nacional da Federação
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Russa ou da bandeira nacional da Federação Russa”. O artigo prevê até um ano de prisão. Além disso, deputados começaram a comentar que o ato do baixista teria sido um ato russofóbico. Para consolar os legisladores, vale lembrar que não é só da Rússia que o Bloodhound Gang não gosta. Segundo noticiou o site Vesti.ru, um dia antes do ocorrido eles urinaram na bandeira da Ucrânia durante um show em sua capital, Kiev. Por tal ato, a lei ucraniana prevê uma pena de até seis
de incomodar. O grupo russo Leningrad, que no início deste século chocava o público com suas canções obscenas, é hoje bastante aceito. São poucas as bandas fulminantes, e serão cada vez menos. Os anos 1990 e a primeira década do nosso século foram anos de protesto decorativo e comercial. Insultar, mas para que todos entendam que é uma piada. “São muito poucos os verdadeiramente tempestuosos”, como cantou Visótski. Por isso o público reagiu de modo tão turbulento à performance das Pussy
Banda profanou bandeira russa, urinou na ucraniana e parodiou o hino da Pensilvânia
Tolos da antiga Rus foram os primeiros punks: diziam as coisas mais ofensivas do mundo
meses de prisão ou uma multa que pode chegar a 850 hryvnil” (cerca de R$ 250). Mas a Justiça ucraniana ignorou o incidente e o público acabou caindo na risada sobre o caso. É tudo uma questão de saber quem e onde provocar. Kiev é uma grande cidade, uma capital. Já Kuban, que cancelou o show do Bloodhound Gang, é o “Texas russo”, uma das regiões mais conservadoras e patrióticas do país. Lá, eles não gostam da oposição, dos homosexuais e de quem não for “russo étnico”. Se punks russos se limpassem com a bandeira norte-americana no Texas, também
Riot na Catedral de Cristo Salvador. Tocando em um dos pontos mais nevrálgicos da sociedade russa, o sentimento religioso, elas pagaram com ostracismo e prisão. Os Bloodhound Gang invadiram um território não menos sagrado: um símbolo da soberania nacional. Mas pior insulto para eles teria sido, provavelmente, se a sociedade não notasse o ato de seu baixista. O que aconteceu, então, pode ser comparado a entusiásticos aplausos.
sofreriam consequências. Outra coisa seria em Nova York, que, tal como Moscou ou Kiev, já viu muita coisa. Por isso, russofobia não tem nada a ver com o caso. O Bloodhound Gang já chegou até a escrever um hino-paródia para a Pensilvânia, estado natal de seus integrantes. Assim é esse gênero do rock alternativo. É uma música pe-
UM PORTO SEGURO PARA SÔTCHI-2014 Serguêi Markedonov ANALISTA POLÍTICO
ara a Rússia, os próximos jogos não serão apenas um teste de preparo atlético, mas o testemunho de seu retorno ao topo da política mundial após a complicada transição do sistema soviético para uma nova realidade. E, para que esse retorno seja bem sucedido, é indispensável que se solucionem uma série de problemas. Entre esses, figuram a melhoria da infraestrutura de transporte, os problemas ecológicos, a preservação da tradição turística e, é claro, a segurança. Ao contrário das cidades que sediaram as Ol i mpíadas a nter iores, Sôtchi localiza-se próxima à mais problemática região da Rússia, o Cáucaso do Norte. Se ainda há algumas décadas sua vizinha república de Kabardino-Balkária era chamada de “Bela Adormecida do Cáucaso”, hoje a associação mais comum à região é com atos terroristas. Quase imediatamente após o anúncio do COI (Comitê Olímpico Internacional) de que a Rússia sediaria a Olimpíada de Inverno em 2014, iniciaram-se ameaças de jihadistas do Cáucaso do Norte para impedir sua realização.
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Sede da Olimpíada, Sôtchi fica na região mais problemática do país, o Cáucaso do Norte A lém disso, a Grande Sôtchi tem acesso à fronteira com a Abecásia, mais um local conturbado por fazer limite com Rússia e Geórgia. A Abecásia teve sua independência reconhecida pela Rússia em agosto de 2008 – e, depois, por menos de uma dezena de outros países, apesar da insistência georgiana de que aquele território era seu. Seu nível de estabilidade, porém, é maior que o das repúblicas russas do Cáucaso do Norte.
Mas também não se pode desconsiderar a atividade criminosa na região. Basta lembrar da tentativa de assassin at o do l íde r abe c á sio Aleksandr Ankvab no ano passado. E, embora o islamismo radical não tenha raízes fortes no país, em maio de 2012 foi descoberta ali uma célula do “Jamaat da Abecásia”, cujos membros são suspeitos de planejar um ataque terrorista para os Jogos Olímpicos de Sôtchi. Atualmente, as relações entre a Rússia e a Geórgia encontram-se em um estágio de lenta normalização depois da guerra de 2008. O Comitê Olímpico Nacional da Geórgia votou, por unanimidade, a favor de o país participar dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno, e o premiê Bidzina Ivanichvili declarou
rigosa, que nasceu no mundo do crime. Metade dos pioneiros do blues era de foras da lei. Até o grande Elvis, que bambeava os quadris no palco, era tido como um perturbador da ordem pública. Todo roqueiro soviético foi acusado de organizar shows ilegais, de compor canções antissoviéticas etc. Era o rock’n’roll ganhando força.
Com o tempo, os tabus vão diminuindo. O escandaloso rapper Eminem se viu em uma situação difícil depois de ofender homossexuais, negros, mulheres, políticos e até a própria mãe. Em seguida recebeu 13 prêmios Grammy. Por que agem assim esses músicos? Simples: para trazer à tona emoções fortes, despertar a humanidade. Na
ser necessário separar esportes de política. Mesmo assim, permanecem as desconfianças mútuas, sem falar das posições diametralmente opostas em relação à Abecásia e à Ossétia do Sul. Nesse contexto, não é coincidência a atenção das autoridades russas à segurança em Sôtchi. Ainda em dezembro de 2007, por meio da lei federal “Sobre a organização e realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno”, aprovada especialmente para a ocasião, as autoridades locais receberam amplos poderes para a introduzir zonas de controle e de exclusão, assim como restringir a entrada de elementos indesejados e criar medidas para aumentar a segurança. Recursos significativos já foram aplicados e outros ainda estão previstos para sistemas de proteção da costa marítima e das áreas montanhosas da região. Qualquer que seja a qualidade dos serviços de segurança russos, é evidente que, sem amplas consultas tanto a homólogos em outros países (especialmente os EUA) quanto às agências privadas responsáveis pela segurança dos jogos em Londres ou em Vancouver, será difícil alcançar o efeito desejado. Aqui está o ponto mais importante: compreender que os benefícios estratégicos desse tipo de cooperação estão acima das diferenças existentes. A interrupção dos jogos em Sôtchi ou a repetição do cenário de 1972 em Munique não representariam apenas um golpe para a Rússia e para sua reputação. Seriam uma provocação à segurança mundial.
DE ONDE VEM O ÓDIO ÉTNICO?
Serguêi Markedonov é pesquisador-convidado do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington (EUA).
LEONID POLIAKOV ANALISTA POLÍTICO
a Rússia contemporânea, conflitos étnicos como o ocorrido recentemente na cidade de Pugatchov (veja na página 1), provam a necessidade de uma política étnica consistente. Mas as autoridades preferem resolver essas situações seguindo políticas soviéticas, que davam davam preferência à resolução de problemas ligados à desigualdade social. Sob o regime socialista, o conceito de solidariedade entre as classes prevalecia sobre a origem étnica da população. Então, os russos étnicos assumiam a imagem do “irmão mais velho”, que deveria contribuir para o desenvolvimento econômico e tecnológico de outras nacionalidades. Um exemplo dessa prática foi a exploração das terras virgens do Cazaquistão nos anos 1950. A política de priorizar periferias em vez de regiões centrais, ocupadas por russos nativos, perdurou até a queda da URSS. O povo russo se sentiu prejudicado, e essa sensação deu origem ao nacionalismo. A solução moderna para os conflitos étnicos foi proposta pelo presidente Vladímir Pútin em seu artigo “Rússia: assunto étnico”, publicado durante sua campanha eleitoral. No documento, o país é chamado de “Estado-civilização”, cuja identidade se basearia na
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antiga Rus, era mais ou menos esse o papel dos tolos, esses primeiros punks russos que diziam as coisas mais desagradáveis e ofensivas do mundo. Dançavam de modo obsceno e cantavam blasfemando. Mas o ser humano se acostuma com tudo, e aquilo que outrora incomodava a consciência, com o tempo deixa
manutenção da “cultura russa dominante”. Segundo o presidente, o povo russo tem papel fundamental na formação desse Estado e na “grande missão de mantê-lo unido”. Mas ele não esclareceu as dúvidas relativas à aplicação prática desse ideal. Embora exista entre especialistas a
Autoridades russas seguem políticas soviéticas e priorizam problemas de desigualdade social
É preciso explorar as diferenças e os aspectos da cultura russa que servem de elo entre os povos ideia de que boa renda e qualidade de vida podem evitar conflitos, o conceito atual não leva em conta as diferenças culturais que têm estimulado a violência nos últimos anos. É preciso criar um programa de educação interétnica para que as pessoas conheçam melhor seus vizinhos, além de levar adiante o projeto de centros culturais proposto pelo Ministério das Regiões. As diferenças devem ser exploradas, assim como os principais aspectos da cultura russa que servem de elo entre os povos.
Ian Chénkman é critico musical e trabalhou na Nôvaia Gazeta e na revista Ogoniok.
Os conflitos na cidade de Pugatchov estimularam o desenvolvimento de propostas para a resolução dos conflitos étnicos. A “Frente do Povo Russo”, por exemplo, propõe a criação de um centro de monitoramento dos processos interétnicos e migratórios, que iria monitorar os conflitos existentes e avaliar a necessidade de o governo tomar medidas preventivas. A situação atual também levou os representantes da Câmara Pública russa a propor a criação de milícias interétnicas nas cidades que têm maiores problemas nesse aspecto, além da criação de uma agência para assuntos étnicos sob o governo federal. Especialistas se mostram favoráveis às sugestões, mas acredit a m que s ome nt e u m a combinação delas poderá criar políticas nacionais eficazes. As propostas dos políticos e entidades sociais devem ser coletadas por um centro de coordenação – de preferência, controlado pelo próprio presidente. Em seguida, as opções serão discutidas publicamente e submetidas a análises com a participação ativa da câmara dos deputados, entidades governamentais e órgãos do poder Executivo de vários níveis. Desse modo, o projeto poderá ser elaborado e encaminhado para votação já no segundo semestre deste ano. Leonid Poliakov é diretor do departamento de Ciência Política da Escola Superior de Economia.
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Política e Sociedade
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ENTREVISTA VLADISLAV GRIB
Apresentado logo depois da polêmica performance do grupo Pussy Riot na Catedral do Cristo Salvador, um projeto de lei para punir quem ferir os sentimentos religiosos alheios foi aprovado em terceira leitura pela Duma (câmara dos deputados da Rússia) em junho e entrou em vigor em 1° de julho. Agora, órgãos de segurança russos precisarão aprofundar seus conhecimentos em religião para poder identificar os insultos religiosos – que poderão render até 3 anos de prisão. Em alguns casos mais raros, serão necessárias até perícias especializadas para se avaliar a necessidade de enquadramento de uma ação na lei. Mas, para Vladislav Grib, membro da Câmara Pública da Rússia, da Ordem dos Advogados da Rússia e presidente suplente da Associação de Advogados, a polícia já sabe distinguir insultos de atos de vandalismo.
Como diferenciar um insulto ao sentimento religioso de uma mera desordem? O pronunciamento de expressões ofensivas em um templo na presença de várias pessoas será considerado insulto a fiéis. Aqui também estão incluídas frases obscenas. O elemento principal do crime consistirá no objetivo dessas expressões, a vontade de insultar e de fazer isso clara e propositalmente. Tais ações acarretarão responsabilidades. No curso das investigações de casos de insulto, poderá ser necessária uma perícia linguística. Mas isso provavelmente não terá sentido no caso de uso de palavras de baixo calão, porque não há aí interpretações duvidosas. Já temos, por exemplo, os conceitos de vandalismo, agressão etc. Por isso, a nova lei será aplicada, provavelmente, junto a outras. Tratando-se de uma produção artística, uma perícia poderá ser necessária.
Ele fala sobre a nova lei e sua aplicação à Gazeta Russa: O senhor não acha que a nova lei poderá prejudicar os direitos dos ateístas? A lei não influenciará de maneira alguma na expressão de uma posição ideológica própria e na possibilidade de declará-la às pessoas. Também não é proibido expressar um ponto de vista ateísta. As pessoas poderão, como antes, expressar sua opinião, por escrito ou oralmente, mas é importante que elas somente divulguem sua opinião, e não tentem insultar os outros. É um limite sutil, mas todos podemos diferenciar uma simples opinião de humilhações. Especialmente se essa opinião contém palavras obscenas. Além disso, pode ser entendido por insulto um comportamento provocativo, protestos nos templos, frases escritas em igrejas ou túmulos.
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Insulto religioso poderá levar à cadeia Nova lei prevê até três anos de prisão para quem insultar sentimentos religiosos
Na realidade, o conceito de insulto existe no código criminal russo. Nesse sentido, porém, não será tratado o insulto ao homem, mas a sua crença religiosa. Segundo a Constituição, temos direito à liberdade de consciência e à proteção de professar uma religião. O que mudou, então? Antes, também podíamos punir as pessoas por insultar a fé. A ação era vista como desordem e recebia uma punição em forma de multa. Nesse caso, não se tra-
tava de proteger os sentimentos dos fiéis, mas de manter a ordem social. São coisas completamente diferentes: insultar alguém na rua ou entrar em uma igreja onde se reúnem dezenas de pessoas e gritar palavrões. O violador, nesse caso, não tem por objetivo causar desordem, e sim insultar os sentimentos dos fiéis. Existe atualmente uma diferenciação entre a desordem sem o propósito e com o propósito de insultar os sentimentos dos fiéis. Essa medida ajudará in-
clusive a resolver confl itos entre diferentes crenças, quando religiosos tentam provar de forma inaceitável suas justificativas. A polícia conseguirá distinguir a desordem pública de um insulto a sentimentos? Os processos judiciais sobre insultos a fiéis são bastante complexos, e nossas autoridades policiais e judiciais irão precisar de esclarecimentos adicionais. Nesse caso, o mais importante é determinar com exatidão a motivação da pessoa, e as auto-
ridades policiais devem ter con heci mento sobre as religiões. Essa informação será gradualmente dominada na prática. Para a coleta de dados iniciais sobre a prática de aplicação da lei, serão necessários dois anos, provavelmente. Depois disso, nós a tornaremos mais generalizada, tiraremos conclusões e, possivelmente, introduziremos correções ao documento. Marina Obrazkova Gazeta Russa
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tiva de Saratov, uma grande desordem se instaurou depois da morte de um morador local por um adolescente tchetcheno. “Essa é a primeira estratégia elaborada nos últimos 50 anos para uma política nacional sobre o assunto”, explica Aslambek Paskatchov, presidente do movimento dos povos do Cáucaso que pa r ticipou da elaboração do plano de ação. “Pela primeira vez temos um programa pela integridade do país que leva em conta as relações entre etnias. Apesar de esses assuntos já terem sido discutidos antes, não havia um plano de ação único, pois eles faziam parte de ministérios diferentes.”
“Contato com culturas diferentes em festivais juvenis dará segurança para interação pacífica” Disciplinas ligadas ao assunto nos currículos escolares e cursos superiores serão criados
prefeitura terá seu próprio plano de ação, a ser elaborado por funcionários públicos treinados especificamente para esse fim, levando em consideração as particularidades regionais. Além disso, cursos de formação para especialistas em “relações interétnicas” serão inaugurados em instituições de ensino superior, já que um dos pilares do projeto é a educação. Nos currículos de pré-escolas, colégios e universidades também será
incluído o tema “Cultura das Relações Interétnicas”. A maior parte do programa, porém, é dedicada a eventos culturais como festivais, celebrações de datas históricas, exposições, festas e atividades destinadas à população jovem, que incluem cursos de verão de ciência política, eventos esportivos e colônias de férias educacionais organizadas no complexo E t nom i r (do r u s s o, “Mundo das Etnias”), na unidade federativa de Kaluga.
Etnias mais representativas na Rússia
Quem são os russos? A Rússia comporta mais de 180 povos, caracterizados como “etnias”. Enquanto entre as mais volumosas encontram-se os chamados “russos étnicos”, que seguem o cristianismo ortodoxo, tártaros e bashikires, na maioria muçulmanos, não tendem a entrar em conflito com os primeiros, diferentemente de tchetchenos e outros povos da região separatista do Cáucaso do Norte. Assim, o item prioritário da estratégia é, até 2020, contribuir para o fortalecimento da união entre russos étnicos e outros povos. Cada
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Reviravolta lança Naválni de novo às urnas
Punição
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As autoridades prometem apresentar o novo projeto em pouco tempo. Também devem ser feitas algumas emendas à legislação vigente referentes à ordem pública em eventos esportivos, de acordo com solicitação do governo, já que torcedores são motivo constante de conflitos étnicos no país. Uma prova disso foi a desordem pública criada na capital com a morte de Egor Sviridov, torcedor do Spartak de Moscou, por u m grupo originário do Cáucaso do Norte, em 6 de dezembro de 2010. Uma série de manifestações desencadeadas pelo crime resultou em conflitos étnicos e pancadaria em diferentes pontos de Moscou. O projeto também inclui medidas punitivas a organizações sociais, religiosas ou entidades sem fins lucrativos cujas atividades incitem ações extremistas, conflitos religiosos ou étnicos. As fontes de recursos financeiros para essas organizações também passarão a ser monitoradas. Já os grupos que fortalecem as relações entre etnias receberão apoio especial do governo. A fundação de cursos de idioma russo em países com grande fluxo migratório para a Rússia é outro ponto a ser desenvolvido.
to Serguêi Sobiânin, candidato do partido governista Rússia Unida, há divergências nas táticas eleitorais anter iores ao i n ício da campanha. Aliados do presidente Vladímir Pútin teriam se oposto à candidatura de Sobiânin, já que ele, como prefeito eleito de Moscou, teria maiores chances no futuro de buscar o cargo de primeiro-ministro. Desde a queda da União Soviética, os prefeitos russos eram escolhidos por nomeação, e somente a partir dos anos 2000 algumas cidades passaram a eleger seus prefeitos. Sobiânin foi nomeado à prefeitura da capital após quase 20 anos de mandato de Iúri Lujkov. Em junho deste ano, renunciou sob pretexto de que sem eleições um prefeito não seria legítimo. Foi nomeado prefeito interino até a realização de um novo pleito.
Divergências de ideias “A decisão de libertar Naválni como resposta à pressão das massas, logo após sua detenção e grandes manifestações não autorizadas, foi um grande erro”, afirma uma fonte do comitê eleitoral de Sobiânin que não quis ser identificada. No dia do pronunciamen-
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Pacote de medidas visa conter conflitos étnicos
“Na esfera juvenil, é justamente o contato com culturas diferentes que confere o sentimento de segurança. O próprio festival não resolve os conflitos, mas dá conhecimento sobre outros povos”, explica Paskatchov. O programa também prevê a produção de programas de TV e documentários sobre as culturas dos povos que habitam o país.
Pesquisa em julho rendeu 14,4% dos votos ao opositor
to da sentença, uma pesquisa do Synovate Comcon revelou que Naválni receberia 14,4% dos votos na capital. Para a diretora-executiva do instituto, Elena Kôneva, o candidato da oposição é mais dinâmico, e sua colocação no ranking pode crescer devido ao alarde causado pelo julgamento e protestos. O vice-diretor do instituto de pesquisas Centro Levada, Aleksêi Grajdánkin, discorda. “Compaixão ou vontade de derrubar o poder vigente não são motivos que angariam votos na sociedade russa. Os moscovitas sabem que Naválni não servirá para ser prefeito, e é exatamente por isso que ele não poderá contar com o eleitorado do magnata e ex-candidato liberal à presidência [Mikhail] Prôkhorov.”
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Energia Tragédia de Fukushima prenunciava fim da era nuclear, mas incremento na segurança garante vida longa às centrais atômicas
Usinas nucleares ainda são opção Baixa liberação de carbono, preços estáveis e elevada resistência estão levando ao crescimento da demanda por energia nuclear. MARINA OBRAZKOVA
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Usina de Rostov é a mais segura do mundo, de acordo com sua proprietária, Rosatom
Renascimento atômico Discussões durante o Fórum Econômico de São Petersburgo deste ano indicam que a energia nuclear entrará numa espiral de crescimento: dos 20 países que lideram a produção do gás, 15 desenvolveram programas visando ao aumento do setor nuclear. Segundo estimativas da
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O terceiro reator de Rostov está previsto para entrar em funcionamento ainda neste ano e, segundo sua proprietária, a estatal russa Rosatom, essa é a usina mais segura do mundo. Seu reator poderá aguentar um terremoto de magnitude 9 na escala Richter ou a colisão com um avião Boeing de 400 toneladas, de acordo com o diretor de projetos Aleksandr Poluchkin.
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A usina nuclear abandonada de Schiólkino, na cidade de Crimeia, Ucrânia, é um símbolo da decadência da energia nuclear. A obra foi interrompida em 1986, logo após o acidente de Tchernóbil. Sua imagem serviu de inspiração para muita gente. Ali se realizava anualmente o maior festival de música eletrônica da antiga União Soviética, o Kazantip. Foi também onde o diretor Fiódor Bondartchuk filmou seu longa de ficção científica “Ilha Inabitada”. Hoje, Schiólkino recebe muitos turistas, mas não deixa de ser uma usina nuclear fantasma. Na outra margem do mar Negro, na Rússia, está a usina de Rostov, com cerca de 5 mil funcionários. O abastecimento elétrico de toda a região depende dela, que também foi construída na época do acidente de Tchernóbil. Mas, em vez de cerrarem suas portas, as autoridades decidiram equipá-la com um rígido sistema de segurança. A tragédia na usina de Fukushima, no Japão, provocou um aumento extraordinário na exploração do petróle o e do g á s de x i s t o. Especialistas correram para declarar que a energia nuclear estava com os dias contados, mas as usinas russas, mais uma vez, têm provado o contrário. “O desastre em Fukushima deu um impulso poderoso para que se aumentasse a segurança dos reatores nucleares. Neste setor, em geral, coloca-se em primeiro lugar a minimização dos riscos”, afirma Aleksandr Moskalenko, presidente do Centro Urbano de Perícias.
Aleksandr Moskalenko CENTRO URBANO DE PERÍCIAS
Central de Rostov pode suportar impacto de terremotos
“A construção de uma usina nuclear não exige que se ocupem enormes áreas da agricultura, como acontece com as hidroelétricas”, explica Mosalenko. “Quanto às centrais de car-
Rosatom, passarão a ser explorados mais 460 gigawatts-dia de energia nuclear até o ano 2020. Para se ter uma ideia, uma metrópole europeia consome menos de um gigawatt-dia.
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Nenhum reator é 100% seguro, assim como nenhum automóvel o é. Mas o nível de segurança das usinas nucleares deve ser elevado com o objetivo de se satisfazer a crescente busca por fontes de energia.”
vão, suas emissões cancerígenas fazem delas as maiores inimigas de homem e do ambiente dentre todas as fontes de energia hoje existentes. A energia nuclear const it u i u m a a lt e r n at iv a relativamente inofensiva.” Uma usina nuclear produz o equivalente a cinco usinas termoelétricas tradicionais com o mesmo nível de liberação de carbono. Além disso, a estabilidade dos preços assume grande importância diante da variação nos preços do petróleo. “Lembro-me muito bem do final dos anos 1990, quando o preço do petróleo caiu abaixo dos US$ 9. Então, os orçamentos desmoronavam e muitos especialistas diziam que não havia razão para se cogitar uma futura alta acima dos US$ 20”, afir-
ma Serguêi Kirienko, diretor-geral da Rosatom. Em 2008, segundo Kirienko, durante sua participação no Fórum Econômico de São Petersburgo, vários especialistas diziam que o preço do petróleo não cairia dos US$ 150 por barril em um futuro próximo. Ele sublinha, ainda, que a energia nuclear proporciona uma estabilidade dos preços ao longo de 60 anos, prazo de exploração do reator. “É óbvio que não há necessidade de se construir uma usina nuclear onde se pode obter gás de xisto a US$ 30 ou US$ 50 por metro cúbico”, afirma Serguêi Kirienko, diretor-geral da Rosatom. “Como antes, elas não são construídas na porta de uma jazida de carvão.”
Principal destino de carne suína está por um triz CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1
“O Brasil cria 29 milhões de suínos, então não há garantia de segurança sobre o uso da ractopamina nesse tipo de carne”, afirma Dankvert. Uma regra do Rosselkhoznadzor de dezembro de 2012 estabelece que as agências veterinárias do Brasil, México,
EUA e Canadá anexem comprovantes de ausência de ractopamina nos certificados emitidos para exportação de seus produtos. A substância é proibida em 159 países, e sua descoberta na carne bovina já levou ao embargo da importação do produto bovino em abril deste ano.
Protecionismo? Em entrevista à Gazeta Russa, Roberto Azevêdo, diplomata brasileiro que assumirá o cargo do diretor da Org a n i z aç ão Mu nd i a l de Comércio a partir de setembro, afirmou que, apesar dos embargos temporários à importação da carne nacional anunciados anteriormente, o
Início: Praça Vermelha
Duração: 60 min
Frequência: cada 20 min
Passagem válida por 24 horas
Funciona o ano todo
Comentários: russo, inglês, espanhol e alemão
Brasil não apresentou à OMC nenhuma queixa referente à decisão do governo russo. “Preferimos resolver nossos conflitos sem ajuda de terceiros”, afirmou. As perspectivas do diretor da Abipecs, Rui Vargas, são positivas. “A missão que veio da Rússia visitou apenas frigoríficos que ainda não ex-
Proibida em 159 países, ractopamina ameaça venda de carne suína à Rússia, destino de 28,7% das exportações brasileiras
portam para o país e que se candidataram a tal. Esses não foram aprovados porque eles detectaram falta de alguns controles”, conta. “Não usamos ractopamina, e a próxima visita da Rússia será aos frigoríficos já que seguem as exigências da União Aduaneira.” Com as novas medidas
adotadas pelo governo russo e a suspensão temporária da importação de carne suína brasileira pela Ucrânia entre março e junho de 2013, o volume de exportação da carne suína brasileira despencou para 240,5 mil toneladas, ou seja, 10% menos que no período correspondente em 2012.
A extensão total das ruas de Moscou soma 4.350 km. Para cobrir essa distância a pé, seria preciso andar sem intervalos durante 36 dias a uma velocidade média de 5 km/h
“Udarnik” Um dos cinemas mais antigos de Moscou, construído em 1931. Foi, até o início dos anos 90, o principal palco de estreias do país. Fica localizado na Casa da Marginal, um grande edifício habitado na era soviética pelo alto escalão do Partido Comunista, cientistas, heróis de guerra e escritores.
Grande Ponte Moskvorétski Sobre o rio Moscou, próxima à Torre Spásskaia, foi ali que aterrisou, em 28 de maio de 1987, o avião do alemão Mathias Rust, que voou de Hamburgo até a capital russa.
Baltchug “Krásni Oktiabr”
Praça Vermelha
Ilha artificial construída entre o Canal Vodootvodni e o antigo leito do rio Moscou.
Uma das mais antigas fábricas de chocolate do mundo, foi fundada em 1851 pelo alemão Ferdinand von Einem. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua produção ficou praticamente parada.
Patrimônio Mundial da Unesco, a principal praça de Moscou abriga a Catedral de São Basílio, cartão de visita da cidade, e o mausoléu de Lênin.
Praça Bolôtnaia Entre os séculos 15 e 17, a praça foi palco de festas populares e lutas livres coletivas. Também era ali que os criminosos eram castigados e até executados. A última execução pública, em 1775, foi a de Emelián Pugatchov, líder do levante dos camponeses de 1773.
Grande Ponte Kâmenni
Museu Estatal de Belas Artes Um dos maiores e mais importantes museus russos de arte europeia e mundial, celebrou seu centenário em 2012. Em sua coleção há obras de Renoir, Van Gogh, Monet, Degas, Cézanne, Matisse, Picasso e outros mestres da Europa Ocidental e da América do final do século 19 e início do século 20. No total, estão expostas quase 300 pinturas e mais de 60 esculturas.
Estação de Metrô Kropôtkinskaia Abriu ao público em 1935. O teórico do anarquismo que lhe rendeu o nome, Piotr Kropotkin, nasceu naquele bairro.
Travessa Sivtsev Vrajek Teatro Bolshoi
Jardim Aleksándrovski Um dos mais antigos jardins de Moscou, tem o mesmo aspecto desde o século 18. Com quase 10 hectares, abriga diversos monumentos históricos.
Praça Arbátskaia
Okhôtni Riad
Um dois maiores da Rússia, o teatro figura também entre os mais importantes de balé e ópera do mundo. A imagem de sua fachada aparece nos bombons “Vdokhnovenie” (do russo, “Inspiração”), em notas de cem rublos e selos postais da URSS e da Federação Russa.