Rússia em São Paulo
QUARTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2013
O melhor da
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Restaurante nos Jardins torna-se opção para os “órfãos” da cozinha russa na cidade
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Polêmica Comunidade internacional teme pela segurança de LGBTs russos
Dostoiévski é tema de exposição em SP Museu Lasar Segall exibe obras de artistas brasileiros e alemães que ilustraram narrativas do escritor. VANESSA CORRÊA DA SILVA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
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REUTERS
A chamada “defesa dos valores tradicionais” é um tema que tem chamado a atenção de todo o mundo para a Rússia. Hoje, tramita no parlamento, por exemplo, um projeto para limitar o número de vezes que uma pessoa poderá se casar no país. A aprovação do projeto apelidado “antigay” veio na esteira de leis estaduais semelhantes aprovadas no país. Em São Petersburgo, a lei foi usada em uma tentativa de processar a cantora Madonna por comentár io s pr ó -L G B T fe it o s
Considerado por muitos o maior escritor russo de todos os tempos, Fiódor Dostoiévski (1821-1881) é tema de exposição em cartaz no museu Lasar Segall, em São Paulo, desde julho. A mostra “Noites Brancas: Dostoiévski Ilustrado”, que fica em cartaz até o dia 29 de setembro, conta com obras de Lasar Segall (18911957), Oswaldo Goeldi (18951961), Alfred Kubin (18771959) e outros 11 artistas que, com seus desenhos e gravuras, buscaram realizar interpretações gráficas da obra de Dostoiévski. Das 64 obras expostas, 44 vieram das instituições alemãs Gabinete de Gravuras de Dresden e Museu Lindenau, de Altenburg, e foram trazidas pela primeira vez ao Brasil especialmente para a mostra. São gravuras, desenhos e livros originais editados no Brasi l e na Alemanha. Com curadoria de Samuel Titan Jr., professor do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, a exposição enfoca o diálogo entre os artistas da mostra e a obra de Dostoiévski representada pelo expressionismo alemão. “A ideia da exposição surgiu um pouco por acaso. Em 2005, ganhei uma bolsa para estudar em Berlim e decidi procurar ilustrações de Alfred Kubin, pois já conhecia a ligação dele com Goeldi. Encontrei uma edição de 1913 do livro ‘O Duplo’ com 60 ilustrações de Kubin e, pesquisando mais, fui me dando conta de que Dostoiévski foi adotado pelo expressionismo a le m ão c omo u m a f i g u r a d e d e s t a q u e ”,
A lei que pesa sobre a bandeira do arco-íris
como a nova lei poderá ser aplicada sem que os representantes LGBT sejam alvo de discriminação. No dia em que a lei foi aprovada, o comissário dos diretos humanos na Rússia, Vladímir Lukin, se adiantou em dizer que a “aplicação imprudente” da legislação poderá leva r a “tragédias e perdas humanas”.
Comunidade LGBT alega que proibição vai marginalizar ainda mais seus membros, já privados de diversos direitos
Origem da lei Maioria dos russos apoia a proibição da “propaganda de valores não tradicionais para menores de idade”. IAROSLAVA KIRIUKHINA GAZETA RUSSA
Em 11 de junho deste ano, a Duma (câmara dos deputados da Rússia) aprovou, por unanimidade, uma lei que proíbe cidadãos russos, estrangeiros no país ou empresas de mídia de fazer “propaganda de relações sexuais não tradicionais” voltada a menores de idade. Popularmente chamada de “lei antigay russa” no Ocidente, o projeto gerou críti-
A deputada Elena Mizúlina, uma das autoras da lei e líder do Comitê sobre Família, Mulheres e Crianças na Duma, garante que a legislação tem como objetivo apenas proteger as crianças de informações que vão contra os “valores familiares tradicionais”. O presidente russo Vladímir Pútin manifestou apoio à nova lei, afirmando que sua única meta é “proteger as crianças”. Pútin também disse que os homossexuais “não estão sendo discriminados de forma alguma”. Mas muitos observadores internacionais questionam
cas ferozes da comunidade internacional. Liudmila Alekseieva, ex-dissidente soviética e cofundadora da organização de direitos hu manos Gr upo Helsinki de Moscou, chamou a legislação de “um passo rumo à Idade Média”. Já o historiador Kirill Kobrin, historiador e jornalista da Radio Free Europe na Rússia, acredita que houve uma grande mudança na consciência do público sob o comando do Kremlin. “Na Rússia, era impensável até mesmo discutir essas questões há vinte anos”, diz ele.
Economia Estudo aponta caminho para melhorar a economia russa seguindo exemplo de outros membros
O “R” dos Brics em apuros INTERFAX.RU
No início deste ano, os economistas Nouriel Roubini e Ian Bremmer prenunciaram durante o Fórum Econômico Mundial de Davos que a Rússia deve ser substituída pela Indonésia ou Turquia no grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Para que isso não aconteça, o país deve prestar atenção às vias de desenvolvimento dos outros países do bloco nos últimos anos e tirar as devidas lições e conclusões.
Esta é a opinião de um grupo de especialistas russos que elaborou recomendações para as autoridades do país a partir da experiência dos parceiros da Rússia no Brics. Entre os especialistas estão o presidente do Quirguistão e membro da Academia das Ciências da Rússia Askar Akaev, o professor da Faculdade de Processos Globais da Universidade Estatal de Moscou Andrêi Korotaev, e o coordenador científico do Instituto de Economia da Academia das Ciências da Rússia, Serguêi Malkov. Os autores do estudo acreditam que a participação ativa do Estado na economia é mais importante que
o liberalismo e a iniciativa privada.
A Rússia ficou para trás? Na última década, os Brics foram um centro de atração para os investidores. Mesmo durante a crise de 2008 e 2009, quando países desenvolvidos entraram em recessão, os resultados das economias em desenvolvime nto fora m bast a nt e satisfatórios. Já os da economia russa, que ficou para trás tanto em relação aos Brics quanto aos países desenvolvidos, nem tanto: em 2009, sua taxa de crescimento caiu 7% em relação ao ano anterior. Foi
AP/EASTNEWS
Apesar da desaceleração geral, Rússia é vista como o elo fraco do conjunto de países emergentes mais promissores da atualidade.
Experiências de Brasil, Índia, China e África do Sul servem de lição à Rússia
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NOTAS Ex-policial altera contrato e engana banco Um ex-policial que adulterou a seu favor uma oferta de cartão de crédito recebida pelo correio em 2008 está causando polêmica. Dmítri Agarkov escaneou o documento, alterou as condições e enviou de volta à instituição. Sua versão do contrato implicava em taxa de juros de 0%, crédito ilimitado e nenhuma tarifa anual. Agarkov também instituiu o direito de multar o banco em 3 milhões de rublos (R$ 198 mil) toda vez que ele não cumprisse com o acordo, além de 6 milhões de rublos (R$ 396 mil) para o cancelamento do contrato. Os funcionários do banco aparentemente não leram as letras minúsculas, assinaram o acordo e emitiram um cartão para Agarkov. O escândalo veio à tona cinco anos depois, e o caso foi parar nos tribunais quando o banco tentou recuperar a dívida não paga. Agakov saiu vitorioso, e o juiz declarou que o contrato era legal, exigindo apenas que ele pagasse a dívida contraída. Artiom Zagorodnov
Fachadas de Moscou ganharão “eco-grafite”
Alguns edifícios de Moscou serão cobertos por grafites ecológicos feitos com uma substância especial a partir da qual brota um musgo. De acordo com o porta-voz do Departamento de Recursos Naturais de Moscou, Anton Kulbatchévski, a nova tecnologia permite criar quaisquer desenhos ou inscrições nas paredes de edifícios. “O primeiro desenho já apareceu na parede da livraria Dom Knígui na rua Nôvi Arbat, em Moscou”, disse. O desenho leva de duas a três semanas para tomar forma e ficará nas paredes até que caia a primeira neve. Segundo Kulbatchévski, se os moscovitas gostarem do “eco-grafite”, a prefeitura da cidade Moscou continuará a investir no projeto. Vassíli Krilov
Governo quer proibir doação de sangue por gays A Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo) está considerando um projeto que propõe proibir a doação de sang ue por homossex uais. Seg u ndo o vice-presidente do Comitê para a Ciência, Mikhail Degtiariov, a ideia é que a homossexualidade seja adicionada à lista de contra-indicações à doação, como já acontece nos Estados Unidos com a doação de sangue de homens homossexuais. “A medida não é discriminatória, já que os homossexuais representam 65% dos port ador e s do v í r u s H I V ”, de c l a r ou Degtiariov. Vassíli Krilov
18 de setembro
Próxima edição
Especial LGBT
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Legislação ameaça mandar LGBTs de volta ao armário
AFP/EASTNEWS
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FRASE
durante um show na cidade em agosto do ano passado. A Igreja Ortodoxa Russa tem sido uma grande força por trás da nova legislação. O líder religioso, Patriarca Kirill, é conhecido por suas declarações contra os homossexuais. Durante uma missa em Moscou, em julho, Kirill declarou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é “um sinal perigoso do apocalipse” e que tal acontecimento “indica que as pessoas estão optando pelo cam in ho da autodestruição”. De acordo com a nova legislação, os cidadãos que promoverem “relações não tradicionais para menores” poderão pagar multas de 5 mil a 100 mil rublos (R$ 350 a R$ 7.100), enquanto estrangeiros correm o risco de ser detidos por até 15 dias e deportados, além de pagar multa de até 100 mil rublos.
Nikita Mikhalkov
Ígor Kotchetkov
DIRETOR DE “O SOL ENGANADOR” (1994),
DIRETOR DA “REDE RUSSA LGBT”
ITAR-TASS(2)
FILME PREMIADO COM UM OSCAR
Quando o mundo está mudando de tal forma que coisas completamente não naturais ocorrem, o que podemos esperar da cinematografia? Um filme bom e intenso simplesmente não pode existir em um mundo onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo é oficialmente legalizado.”
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Além disso, em 1999, a homossexualidade foi retirada do índice oficial de doenças mentais no país. Porém, a discriminação aos
LGBT prevalece na sociedade. Nenhum partido político russo apoia as minorias sexuais e não existem estatísticas (oficiais ou não) que re-
Insistimos em direitos iguais para todos e vamos continuar a lutar contra os valores patriarcais que estão sendo ativamente disseminados pela Igreja e pelo governo. Fazemos isso porque não acreditamos que esses valores e normas se encaixem na sociedade moderna.”
Problema histórico As relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo foram descriminalizadas na Rússia há apenas 20 anos, em 1993, quando a “lei sobre sodomia”, datada de 1934, foi revogada.
velem quantas pessoas se identificam como LGBT no país. Logo após a aprovação da lei antigay, o presidente Vladímir Pútin assinou, em 3 de julho, uma emenda ao Código Russo da Família proibindo a adoção de crianças russas por casais de gays e lésbicas que vivem no exterior. O projeto de lei já havia sido aprovado por unanimidade pela Duma de Estado em terceira e última leitura. Casais do mesmo sexo tampouco são reconhecidos na Rússia e não podem participar de processos de adoção. Nos últimos sete anos, a comunidade LGBT viu-se impossibilitada de realizar protestos e paradas devido a proibições impostas pela prefeitura de Moscou. O ex-prefeito Iúri Lujkov chegou a qualificar tais eventos como “satânicos”. Grupos que tentaram furar as proibições foram atacados por manifestantes e detidos pela polícia. Grupos extremistas de cristãos ortodoxos foram responsáveis por alguns desses ataques, disparando cuspes e ovos podres sobre ativistas pacíficos. Mas o registro mais chocante de violência aconteceu no primeiro semestre
para LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais) na capital do Daguestão, Makhatchkalá, foi incendiada enquanto seus frequentadores eram agredidos do lado de fora. Maria e Irma só se assumiram para um seleto grupo de amigos, a maioria LGBT. Ao tentar solicitar crédito imobiliário na Rússia como casal, tiveram o pedido recusado por serem ambas mulheres. Foi só quando Maria resolveu fazer a solicitação como solteira que o banco fi-
IAROSLAVA KIRIÚKHINA GAZETA RUSSA
Maria olha com ternura sua companheira Irma, que concordou em fazer um casamento de fachada com um homem para poderem ficar juntas. Se não tivesse se casado, a família de Irma, que é da república russa do Daguestão, a teria forçado a um relacionamento com um noivo de sua escolha. Na tumultuada república islâmica, ser homossexual é equivalente a um “fora da lei”, e a única casa noturna
PHOTOXPRESS
Casamentos de fachada são arma contra discriminação
na l me nte conce deu o empréstimo. Casamentos fictícios são uma forma eficaz de encobrir
a realidade não só para o mulheres, mas para homens homossexuais. Ser gay na Rússia só é aceito em
de 2013 em Volgogrado, cerca de 1.000 km a sudeste de Moscou. Lá, um homem que protestava pelos direitos LGBT foi morto a garrafadas e pedradas. Fotos da violência contra manifestantes LGBT não
Vinte anos depois da descriminalização da homossexualidade, Moscou ainda proíbe paradas LGBT param de circular nas redes sociais. Ao provocar indignação e ganhar importância internacional, o material contribui para reforçar a segurança dessa comunidade na Rússia. Mas não há números oficiais sobre a violência física contra os LGBT no país.
Crítica internacional A aprovação da nova lei gerou reação de figuras públicas internacionais. A protagonista de “Crônicas de Nárnia”, Tilda Swinton, por exemplo, causou burburinho nas redes sociais ao posar para foto com uma bandeira do arco-íris em frente ao Kremlin em junho. Além disso, alguns grupos LGBT nos EUA pedem o boi-
determinadas profissões, como a indústria da moda. Mesmo assim, ser abertamente gay no trabalho poder resultar, em muitos casos, em discriminação. O jornalista político Anton Krasovski, por exemplo, foi demitido recentemente de seu cargo como editor-chefe do canal de TV a cabo financiado pelo Kremlin “Kontr-TV”, após sair do armário em uma transmissão ao vivo. “Tomei essa atitude porque os gays estão sofrendo na Rússia”, d isse. “É hora de ter coragem.” Maria e Irma, no entanto, acham que é desaconselhável protestar publicamente contra a proibição da “propaganda gay”, já que isso apenas tornaria a situação ainda pior para a comunidade LGBT da Rússia.
ENTREVISTA MIKHAIL TROIÁNSKI
Cônsul russo condena ataques a gays de LGBT, mas contra os valores que eles podem difundir entre cr ianças, trastornando sua psique, ainda fraca e não preparada para extravagâncias.
O sr. não acha que uma lei como essa “contra a propaganda de valores não tradicionais” pode intensificar o ódio à comunidade LGBT e desencadear mais ocorrências do gênero? Não, não acho. A lei não é voltada contra a comunida-
© RIA NOVOSTI
Vídeos de skinheads espancando homossexuais na Rússia têm se espalhado pela internet brasileira. Como o governo lida com esse tipo de violência? Somos absolutamente contra violência desse tipo, que representa um comportamento inadequado do que é a escória da sociedade.
IDADE: 64 ANOS CARGO: CÔNSUL-GERAL DA RÚSSIA EM SÃO PAULO
Tal lei não aproxima mais a Rússia de posições consideradas retrógradas aplicadas em países muçulmanos, aumentando o abismo entre Rússia e Ocidente? Isso não poderá ter impacto negativo sobre as relações políticas e comerciais russas? Em primeiro lugar, não penso que seria correto ofender os países muçulmanos com o termo “retrógradas”. Eles têm outra cultura e religião, cujas
concepções de vida são deferentes dos ocidentais. Isso é normal. As quatro principais religiões da Rússia - Igreja Ortodoxa russa, Islã, Budismo e Judaísmo - concordam plenamente com a posição do nosso governo nessa questão, defendendo os valores da família tradicional. Em terceiro lugar, não penso que entre a Rússia e o Ocidente haja um abismo. O que existe, sim, é um tratamento diferente com relação a diferentes questões. E as relações políticas e comerciais internacionais não dependem da comunidade LGBT, mas de outros fatores.
Os autores dessa lei afirmam que seu objetivo é proibir a propaganda das relações sexuais não tradicionais entre as crianças. Isso significa que a propaganda da relações sexuais tradicionais é permitida? Eu não conheço um país onde seja permitida a propaganda das relações sexuais tradicionais. Para quê? É uma esfera da vida íntima das pessaas. A única “propaganda” que se realiza nesse sentido pertence, no meu parecer, ao cinema. Mas mesmo lá existem os limites de idade, não é? Entrevista concedida a Marina Darmaros, Vassíli Krilov
cote dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sôtchi, que acontecerão em 2014, como forma de protestar contra a nova legislação. O Comitê Olímpico Internacional divulgou um comunicado oficial dizendo que irá garantir que não haja discriminação aos participantes LGBT no evento. Medidas políticas também foram tomadas para pressionar o Kremlin. Jón Gnarr, prefeito da capital da Islândia, ameaçou cortar laços com Moscou, e a Câmara Municipal de Melbourne, na Austrália, recebeu uma petição com 10 mil assinaturas exigindo que o mesmo fosse feito em relação a São Petersburgo. Até a vodca russa foi alvo de uma campanha de boicote, liderada pelo colunista nor t e -a me r ica no Da n Savage. Mas, mesmo diante de críticas ferozes, o Kremlin permanece resoluto, enquanto muitos russos não entendem a reação que a legislação provocou no Ocidente, insistindo que não se trata de uma lei antigay, mas de uma norma contra a propaganda de valores homossexuais destinada apenas “a proteger as crianças”.
Novas leis têm apoio popular Pesquisas recentes do VTsIOM (Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Rússia) sugerem que grande parte dos russos (88%) apoiam a nova “lei antigay”, e 54% defendem a criminalização da homossexualidade. Enquanto 94% dos entrevistados declararam nunca ter tido contato com “propaganda gay”, 84% deles disseram se opor à ela. O principal ativista dos direitos LGBT do país, Nikolai Alekseiev, está processando a deputada Elena Mizúlina, uma das principais figuras por trás da nova lei, por “incitação ao ódio”. Ele também acusa o governo russo de crimes contra a humanidade e diz temer que a legislação reforce a não aceitação à já marginalizada comunidade gay russa. No Facebook, a iniciativa “The Children-404”, promovida pela jornalista russa Elena Klímova, pede que se compreenda, tolere e reconheça a juventude LGBT no país.
OPINIÃO
Pretexto muda, mas mecanismo de boicote é sempre movido a política Andrêi Iliachenko JORNALISTA
aprovação da lei que proíbe a “propaganda de relações sexuais não tradicionais para menores de idade” foi acolhida negativamente pela comunidade LGBT internacional e entidades de defesa dos direitos humanos. A reação era esperada e não preocupa o Kremlin. Cerca de 76% dos russos são favoráveis à nova norma e apenas 17% são contra. Leis estaduais semelhantes foram aprovadas em 11 das 83 unidades federativas russas. Mas a norma só foi aplicada quatro vezes na região de Arkhanguelsk e uma em São Petersburgo. As decisões judiciais tomadas em Arkhanguelsk, porém, foram contestadas na Corte Suprema da Rússia, que esclareceu, em um despacho especial, que nem todo ato público é propaganda. Mas os críticos da Rússia não querem saber. Acusam o país de seguir o caminho da Alemanha nazista e comparam o Holocausto à perseguição a gays na Rússia. Assim, sugerem transferir os Jogos de Inverno de 2014 para outro país. Pelo menos é exatamente isso o que pede o escritor e ator britânico Stephen Fry em carta aberta ao primeiro-ministro do Reino Unido e ao COI (Com it ê Ol í mpic o Internacional). Mesmo sendo um dos críticos mais duros do presi-
A
dente Pútin, o campeão mund ia l de xad rez Ga r r y Kasparov é contra a campanha de boicote. “Como atleta profissional, não posso saudar o boicote aos Jogos de Sôtchi. Tais ações prejudicam injustamente os atletas, independentemente de suas opiniões pessoais”, disse em entrevista a uma emissora de rádio. Em um editorial de 27 de junho do The New York Times lê-se: “Os crescentes apelos de boicote às Olimpíadas de Sôtchi ganharão força. Isso não permitirá que os jogos se tornem o triunfo de Pútin”. A campanha é ativa, e os sites da grande mídia pedem incessantemente que usuários enviem histórias sobre problemas com homossexuais russos. Mas a tentativa de apresentar como protesto o beijo de duas corredoras russas é fruto da imaginação dos jornalistas. Ambas mantêm casamentos heterossexuais. Já que o problema dos gays preocupa tanto a grande mídia, por que a imprensa ocidental mantém silêncio em relação à situação dos homossexuais na Arábia Saudita, no Qatar, ou no Iraque, cujo novo governo foi criado sob o controle dos EUA? A ideia de boicotar os Jogos Olímpicos não é nova. O boicote aos Jogos de Moscou em 1980 devido à intervenção militar soviética no Afeganistão e a retaliação da URSS em relação aos Jogos Olímpicos de Los Angeles são exemplos claros das campanhas de boicote. Os pretextos eram diferentes, mas o mecanismo, sempre o mesmo. Não é nada pessoal, apenas política.
Economia e Negócios
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Saindo do buraco Recessão direciona roteiro de discussões
Pauta de encontro dos líderes G20, realizado a partir desta quinta-feira (5) em São Petersburgo, busca estímulo ao crescimento econômico. TATIANA LÍSSINA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Antes de receber este ano a cúpula do G20, o grupo das m a ior e s e c onom i a s do mundo, as autoridades de São Petersburgo correram contra o tempo para entregar uma nova estrada e resolver problemas com imigrantes ilegais, sobretudo da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), de modo a impressionar os participantes. A última reunião do grupo, composta por ministros da Economia e Finanças e presidentes de bancos centrais das grandes economias desenvolvidas e emergentes, aconteceu no final de julho e identificou os pontos mais importantes da agenda da próxima cúpula. Em comunicado final, as autoridades financeiras das 20 maiores economias do planeta aprovaram três planos de
Em julho passado, o FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu sua previsão de crescimento global para 2013 de 3,3% para 3,1%, deixando, contudo, no mesmo nível (1,2%) suas estimativas para os países desenvolvidos. Já as estimativas da entidade para as economias emergentes são menos otimistas: o PIB da China deverá crescer 7,8%, contra a previsão anterior de 8%; o Brasil, 2,5% (anteriormente 3%), e a Índia, 5,6% (anteriormente 5,7%). Para a Rússia, os números são alarmantes. Em julho passado, o índice PMI da indústria transformadora russa caiu pela primeira vez, desde agosto 2011, para o nível mais baixo desde dezembro de 2009. Previsões pessimistas para a economia russa já haviam sido divulgadas pelo FMI e pelo Banco Mundial, que reduziram as previsões de crescimento do PIB para 2,5% e 2,3%, respectivamente. Presidindo atualmente o G20, a Rússia deve enfatizar a necessidade de aumento dos investimentos para a recuperação global.
ação: para estudar a possibilidade de aumentar os investimentos a longo prazo; para combater a evasão fiscal; e o chamado “Plano de ação de São Petersburgo”, destinado à promoção de um crescimento equilibrado da economia mundial por meio da geração de empregos. O tema da desaceleração econômica irá dominar a pauta da cúpula, já que o pro-
Entre temas herdados de presidências anteriores está reforma da arquitetura financeira blema não afeta só a Europa, em recessão prolongada, mas também os EUA e países emergentes, que apresentaram desaceleração do PIB nos últimos anos. “Esse fenômeno se deve, em parte, aos processos cíclicos e à falta de ajustamento estrutural”, explica o especialista-chefe em macroeconomia da IHS Global Insight, Nariman Beravesh.
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Cúpula do G20 focará em investimentos Um dos tópicos prioritários será ação coordenada contra corrupção e evasão fiscal
PIB do BRIC em previsão
“Há dois grandes desafios para a recuperação econômica: como colocar em ação o motor do desenvolvimento e como reduzir os riscos por meio de uma arquitetura financeira internacional que evite desequilíbrios capazes de provocar uma nova crise”, afirma o analista econômico Evsei Gurvitch. Além disso, os países do G20 devem buscam criar instituições para aumentar o controle sobre a aplicação de investimentos e rever políticas governamentais de apoio a investidores. O combate à evasão fiscal e à corrupção também deve estar no alvo da próxima cúpula. Um plano de ação elaborado durante a presidência
rotativa da Rússia e que será levado adiante durante a presidência austríaca prevê ações coordenadas para garantir independência às agências anticorrupção, combater a lavagem de dinheiro e controlar a mobilidade de servidores públicos envolvidos em tais crimes. Alguns dos temas em pauta foram herdados pela Rússia de presidências anteriores. Entre eles, estão a continuação da reforma da arquitetura financeira internacional e a regulação financeira. Isso inclui a reorganização das cotas de participação no FMI em favor dos países emergentes, aprovada pelo G20 ainda em 2010 e que preocupa sobretudo os países do Brics.
Energia Segundo especialista, investimento da Gazprom foi baixo, mas possibilitará entrada da Rosneft na exploração de petróleo do país
Gazprom assina acordo com Bolívia Gigante estatal russa irá explorar gás boliviano em parceria com a francesa Total. Contrato foi assinado no Palácio do Governo da Bolívia.
FRASE
Fórum dos exportadores
Evo Morales PRESIDENTE DA BOLÍVIA
O FEPG (Fórum dos Países Exportadores de Gás) foi realizado pela primeira vez em 2001, em Teerã. Trata-se de uma organização internacional que reúne treze dos principais produtores de gás de todo o mundo (mais 60% das reservas mundiais), com o objetivo de promover uma estratégia comum para a comercialização dessa fonte de energia não renovável. Entre os membros do grupo estão Rússia, Bolívia, Venezuela, Argélia, Irã e Líbia.
VASSÍLI KRILOV
Três companhias energéticas de diferentes pontos do globo, a boliviana YPFB, a russa Gazprom e a francesa Total, assinaram um contrato no mês passado para exploração do bloco Azero, um campo de gás de 785.623 hectares na Bolívia. O evento ocorreu no Palácio de Governo da Bolívia e contou com a presença do presidente boliviano Evo Morales e seu ministro de Hidrocarbonetos, Juan José Sosa. “A presença da Rússia e da Gazprom na prospecção e extração de gás na Bolívia é uma satisfação e um avanço enorme para o povo local. Vamos continuar a melhorar a economia nacional”, declarou então o presidente boliviano. “No caso de uma descoberta comercial positiva nessa área, o governo imediatamente criará uma sociedade
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A presença da Rússia e da Gazprom na prospecção e extração de gás na Bolívia é uma satisfação e um avanço enorme para o povo local. Vamos continuar a melhorar a economia nacional.”
SERVIÇO DE IMPRENSA
GAZETA RUSSA
Representantes da Gazprom, Total e YPFB celebram contrato na presença do presidente Morales
anônima entre esses parceiros e a YPFB que será responsável pela extração e produção de gás”, completou o ministro Sosa. A delegação da Gazprom foi chefiada pelo vice-diretor de operações, Roman Kuznetsov. “É uma grande honra que o primeiro contrato tenha sido assinado no Palácio de Governo com a presença do presidente Evo Mo-
rales. A Bolívia é um dos países mais atraentes para a realização e desenvolvimento de projetos de gás”, declarou Kuznetsov.
Baixo investimento? De acordo com a analista do banco de investimentos VTB Capital, Ekaterina Ródina, os investimentos da Gazprom na Bolívia são insignificantes. “Os investimentos anu-
ais da Gazprom ultrapassam os US$ 40 bilhões. Os US$ 130 milhões que foram destinados à exploração na Bolívia representam um valor irrisório para uma empresa tão grande”, diz Ródina. “Quase todos os investimentos das petrolíferas no exterior são infrutíferos.” O contrato assinado em La Paz prevê ainda que a petrolífera estatal russa Rosneft
se una à Gazprom para explorar petróleo no local. Isso deve ampliar a área de influência da gigante russa do petróleo, que já está presente no Brasil, México, Venezuela e Peru.
Relações bilaterais A assinatura do acordo foi antecipada durante o encontro entre o presidente boliviano Evo Morales e seu ho-
Rússia tem a aprender com Brics CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1
quando surgiram rumores de que a Rússia não teria mais lugar entre os Brics. No curto prazo, o país passará por uma nova provação, já que no primeiro trimestre deste ano o PIB da China cresceu “apenas” 7,5%. Já o crescimento da economia brasileira, que em 2012 não passou de 0,9%, deverá alcançar os 2,5%, segundo o FMI, enquanto o da Índia cairá pela metade, comparado ao de 2010. O crescimento do PIB russo, ainda de acordo com o FMI, cairá pela metade. Mas há previsões ainda piores para o país, o que daria um fim ao “R” no Brics. Para alcançar Brasil, Índia, China e África do Sul e não deixar o conjunto das economias mais promissoras do momento, segundo o estudo, o governo russo deve, desde
já, arregaçar as mangas e por as mãos na massa. O que aconselham é que as autoridades do país construam moradias e estradas, como na China, pois grandes projetos de infraestrutura são motores do crescimento. A ideia é que a Rússia siga o exemplo optando por um programa de construção e melhoria das rodovias. A China alcançou uma atmosfera de intensa competitividade e até de dura concorrência na luta pelos ritmos de crescimento, volume de capital investido, recursos e criação de postos de trabalho por meio do estímulo estatal, trabalho ideológico e planificação. Como consequência, surgiu o impulso ao desenvolvimento econômico. Os dirigentes chineses recorrem ativamente aos seus empresários para concretizar projetos de infraestrutu-
Impulsionar o setor estatal da economia para lançar e desenvolver setores indispen-
meio da desestatização, mas pelo apoio ao lançamento de novos empreendimentos. Do Brasil, a tônica está na experiência do sistema fiscal progressivo, onde receitas canalizadas para educação e saúde possibilitaram uma melhoria considerável da mão de obra e a aceleração
Projetos de infraestrutura deverão servir de motor do crescimento, como na China
Especialistas apostam suas fichas não na privatização, mas na criação de novas empresas
sáveis, mas que não despertam o interesse do setor privado, seria uma forma de combater monopólios e assegurar as receitas orçamentárias. Nesse tópico, o exemplo vem da Índia. De acordo com os especialistas, o crescimento do setor privado não deve ser feito por
do ritmo de crescimento. A estratégia brasileira de captação de investimentos poderia funcionar na Rússia, detectando-se em cada estado os setores em que o crescimento econômico pudesse se apoiar, buscando no mercado internacional os investidores necessários e traba-
ra. Ao mesmo tempo em que são pressionados pelas autoridades, os empresários recebem em troca proteção e melhoria social.
Da Índia e do Brasil
lhando para levá-los para cada uma das regiões em questão.
Mulheres africanas Uma sólida infraestrutura financeira, elevados padrões de auditoria e contabilidade, e um sistema bancário seguro são ingredientes da receita de sucesso da África do Sul, que está entre os dez países do mundo com melhor financiamento a longo prazo, à frente de todos os outros Brics no quesito. Outra questão muito atual que deve ser aplicada à Rússia, segundo os especialistas, diz respeito à ampliação dos direitos políticos das mulheres. Enquanto a porcentagem de mulheres no Parlamento sul-africano cresceu de 27,8%, em 1994, para 44%, em 2009, nos órgãos legislativos regionais esse aumento subiu, no mesmo período, de 25,4% para 42,4%.
mólogo r usso, V ladímir Pútin, na véspera da cúpula do FPEG (Fórum de Países Exportadores de Gás), realizada em Moscou no início de julho. “Foi a primeira vez que um país tão grande como a Rússia nos convidou para uma reunião bilateral. Fiquei surpreso”, declarou Morales na véspera de sua viagem à capital russa.
Com a descoberta de vastas reservas de gás de xisto nos Estados Unidos, os países participantes da cúpula falaram sobre a necessidade de vincular os preços do gás ao do petróleo, assim como assinar mais contratos de exportação a longo prazo para garantir a estabilidade do mercado internacional de energia. Os presidentes da Rússia e Bolívia confirmaram que a exploração de gás é a base das relações entre os dois países. Morales declarou que a Bolívia está interessada na presença da Rússia na exploração dos recursos nacionais bolivianos, primeiramente no desenvolvimento das jazidas de gás, que contêm mais de 11,2 bilhões de pés cúbicos. Além da cooperação na área de hidrocarbonetos, o acordo bilateral entre Morales e Pútin assinado em Moscou inclui a compra pelo governo boliviano de dois helicópteros russos Mi-17, a serem usados na luta contra o tráfico de drogas, e o aumento das vagas para estuda ntes bol iv ia nos na Rússia.
Em Foco
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Gastronomia Empreendimento é fruto do projeto de MBA de casal russo-brasileiro
RECEITA
São Paulo ganha restaurante russo “executivo”
Antepasto russofrancês que esquenta
MARINA DARMAROS GAZETA RUSSA
Com o fechamento de seu último restaurante russo, o Café Pittoresque, São Paulo já não tinha mais um endereço fixo para a comida russa. Entre as alternativas restantes aos saudosos do arenque, dos blini e do salmão defumado, restaram apenas as festas culinárias que acontecem periodicamente na Vila Zelina ou um “pulinho” no Rio de Janeiro para se deliciar com a comida do Dona Irene, onde também se destila o próprio “sa mogon” (vodc a artesanal). Desde o final de novembro, porém, a cidade conta com uma nova alternativa. É o Camarada Bistrô, que, apesar do nome que remete ao socialismo soviético, oferece comida sofisticada. O empreendimento nasceu como um projeto de MBA idealizado pelo casal russo-brasileiro Gustavo Makhoul, 28, e Daria Muzychenko, 31, que se conheceram trabalhando em uma empresa de navegação na Bélgica. “Chamamos o restaurante de Camarada porque era a maneira como os comunistas se tratavam uns aos outros, uma espécie de irmandade. A maneira como a gente quer receber as pessoas é assim,
muito aberta e aconchegante”, conta Gustavo. Com diferentes ambientes bem decorados, como o salão com sacada e estantes recheadas de livros e o terraço aberto no andar superior, o casal parece ter atingido seu objetivo. Localizado na rua Melo Alves, no Jardins, à noite o novo russo da cidade fica envolto no burburinho dos bares
russa. “As conservas neutralizam o sabor entre uma dose e outra”, explica Gustavo. Além da bebida na sua forma clássica, outro sucesso do bar tem sido o coquetel “White Russian”, com cor de café e preparado à base de creme de leite e vodca. Segundo os proprietários, cresce o público que frequenta o espaço para degustar as entradinhas e se deliciar com coquetéis a noite toda.
“Chamamos o restaurante Camarada porque queremos receber de maneira aberta”
Fora do bar
Casa mostra diversidade da vodca russa e oferece degustação com conservas vizinhos, e já está virando destino também dos boêmios, com sua degustação de vodcas. A casa mostra aos visitantes que a bebida vai muito além da Stolítchnaia, que oferece junto à Rússki Standart (Russian Standart), a Pravda, além da suíça Xellent e da polonesa Wyborowa, entre outras. A degustação consiste de quatro doses de vodca, acompanhadas de conservas variadas (pepinos, brócolis, cenoura, couve-flor), uma tradição
DARIA GONZALEZ ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Ambiente do Camarada Bistrô: sofisticação e aconchego
No salão, os visitantes têm opções de pratos variados, desde as famosas panquecas russas (“bliní”) até novidades para o paladar brasileiro, como o “golubtsi”, uma mistura de carnes bovina e suína enrolada em folhas de repolho ao creme de dill, e o “oladi”, panquequinha de batata temperada com sabor mais suave e certeiro, além do pelmêni artesanal, a massa recheada que, de tanto os clientes russos insistirem, foi incorporada ao cardápio diário. Com a chegada do frio, a especialidade da casa são as sopas, que também podem ser apreciadas em menu “degustação”: a clássica borsch de beterraba, a schi, a sopa de cogumelos e a solianka. Durante o almoço, de segunda a sexta (exceto feriados), a casa também oferece cardápios “executivos” e já começa a incoporar marcas de vale-refeição como opção de pagamento.
cozinhas. E foram justamente os franceses que adaptaram o “studen”, deixando sua gelatina mais límpida e acrescentando ervas, especiarias, raízes, legumes e cogumelos, além de usar os melhores cortes de carne e peixe em seu preparo. O preparo do “aspic”, servido como antepasto, era bastante demorado: o corte era feito de maneira rebuscada e incluía pedacinhos de peixe, ovos cozidos, limão e legumes dispostos cuidadosamente em formatos especiais. Apesar de ter sido preparado com carnes de caça, aves e outros animais, o único “aspic” que vingou na culinária russa foi o de peixe. Seu sabor forte, porém, não agrada a todos: em uma visita à Rússia em 2005, o presidente Barack Obama disse que o prato lhe suscitou sentimentos de “profunda inquietação”.
Ingredientes: • 1,5 a 2 kg de peixe • 2 cenouras médias • 2 cebolas • 50 g de aipo • 2 folhas de louro • 8 a 10 pimentas-do-reino em grãos • 5 g de pimenta-do-reino em pó • 20 g de sal • 40 a 50 g de gelatina instantânea • 10 ovos de codorna • Ervas frescas: salsa, endro • 1 limão
Modo de preparo:
Arenque salmoura: culinária vai além do óbvio
Expressionismo alemão dá o tom em mostra de Dostoiévski CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1
disse Titan Jr. à Gazeta Russa. “Entre os autores do século 19, Dostoiévski era aquele que, para os alemães, parecia ter o caráter mais visionário. Mais do que um romancista, ele foi um autor que soube fazer com precisão o diagnóstico da crise do homem de sua época”, explica o professor. A admiração por Dostoiévski fez com que diversos artistas do expressionismo alemão se dedicassem a ilustrar contos e trechos de seus romances. “Max Beckmann, que ilustrou episódios do romance ‘Recordações da Casa dos Mortos’, dizia: ‘Quero ser para Dostoiévski o que Botticelli foi para Dante’”, conta Titan Jr., fazendo referência à relação do pintor italiano Sandro Botticelli com o autor de “Divina Comédia”. Segundo o professor, dúzias de edições ilustradas de seus contos e romances surgiram na Alemanha entre o início da década de 1910 e a ascensão do nazismo, quando o expressionismo passou a ser reprimido e entrou em declínio. Além de ilustrações, houve o surgimento de uma série de gravuras em pedra, madeira e metal, além de portfólios em formato de revista, com artistas mostrando suas interpretações da obra do escritor russo.
O “aspic” é um prato preparado à base de carne ou peixe, no qual os ingredientes ficam cobertos por uma gelatina ao consomê. Na Rússia, ele surgiu no início do século 19 e resultou da influência da escola francesa. Mas muito antes da chegada de cozinheiros estrangeiros ao país, pratos frios semelhantes já eram preparados na Rússia. Em casas de nobres, no dia que se seguia a uma recepção, os restos dos pratos eram picados, misturados com consomê e resfriados, resultando no “studen” (gelatina) destinado aos serviçais. A febre de se levar cozinheiros estrangeiros ao país começou nos séculos 18 e 19, iniciada por Piotr I. Esses chefs, sobretudo franceses, viraram o sonho de consumo da nobreza, que os incorporou a suas
O antepasto deve ser preparado com antecedência e conservado na geladeira por até 7 dias e servido em porções individuais. Para o preparo podem ser utilizadas diferentes variedades de peixes de água doce, como a carpa. Limpe os peixes frescos, remova as guelras e as entranhas, separe as cabeças e as caudas. Faça filés de tamanhos iguais, retire as espinhas. As caudas e as cabeças devem ser colocadas em água fria e levadas ao fogo até a fervura. Em seguida, deve-se retirar a espuma e adicionar as cenouras, as cebolas, a salsa, o endro, a pimenta-do-reino em grãos, as folhas de louro e o sal. Mantenha no fogo por 15 minutos, retirando a espuma de tempos em tempos. Retire as cabeças e caudas do caldo, coloque os pedaços de peixe já preparados e cozinhe em fogo baixo até que fiquem macios. Depois, tire com cuidado os pedaços de peixe do
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Camarada Bistrô encontrou lugar entre órfãos da comida russa na cidade e conquista novos amantes da especialidade.
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caldo com a ajuda de uma escumadeira, e coloque-os em uma travessa ou em forminhas. O caldo deve ser coado com 2 a 3 camadas de gaze. Dica: O caldo não deve ferver muito, pois isso poderá deixá-lo turvo e escuro. Para ficar mais transparente, basta adicionar, ao final do cozimento, um cubinho de gelo e levar para ferver novamente. Dissolva 50 g de gelatina em um copo de água morna e misture com o caldo coado, leve à fervura (mas não deixe fervendo) e cubra os pedaços de peixe com ele. Decore o prato com cenouras cozidas, cortadas em estrelinhas, ervilhas verdes, folhinhas de salsa, ovos bem cozidos e cortados em rodelas, e despeje o restante do caldo. Deixe esfriar. O prato também pode ser decorado com rodelas de limão, mas apenas após enrijecer. Do contrário, a gelatina tomará um sabor amargo. Costuma-se servir o “aspic” de peixe acompanhado de vegetais frescos, pepinos marinados e frescos, molho de raiz forte e vinagre, maionese com ervas e azeitonas verdes ou pretas.
CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS Exposição “Noites Brancas”: Dostoiévski Ilustrado traz obras de Segall e Kubin
“Somente na Alemanha Dostoiévski foi objeto de uma recepção gráfica tão coerente. Essa tradição morreu no país, mas ressurgiu algum tempo depois no Brasil, com as edições de suas obras pela editora José Olympio”, diz Titan Jr. Para o professor Bruno Gomide, coordenador do programa de pós-graduação em Literatura e Cultura Russa da USP, as ilustrações feitas para as edições da José Olympio são um dos pontos altos da coleção e receberam o mesmo cuidado dedicado à
EXPEDIENTE WWW.RBTH.RU E-MAIL: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 ENDEREÇO DA SEDE: RUA PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 EDITOR-CHEFE: EVGUÊNI ABOV; EDITOR-CHEFE EXECUTIVO: PÁVEL GOLUB; EDITOR: DMÍTRI GOLUB; SUBEDITOR: MARINA DARMAROS;
A tradição de representar graficamente a obra de Dostoiévski nasceu na Alemanha, mas prosperou no Brasil, com o traço de Goeldi e Segall.
tradução dos textos. “As ilustrações têm um peso muito grande até hoje e talvez sejam a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas quando pensam nessa coleção.” Fazem parte da exposição diversos desenhos e gravuras feitos por Oswaldo Goeldi encomendados pela José Olympio durante as décadas de 1930 e 1940. Entre as narrativas que ganharam interpretações de Goeldi na forma de desenhos estão “Memórias do Subsolo”, “O Idiota” e “Humilhados e Ofendidos”. O público também poderá
EDITOR NO BRASIL: WAGNER BARREIRA; EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZÁITSEV; CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAL PUBLICITÁRIO NO SUPLEMENTO, CONTATE JÚLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU © COPYRIGHT 2013 – FSFI ROSSIYSKAYA GAZETA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
conferir uma série de cinco litografias que Lasar Segall realizou em 1917 em torno da novela “Uma criatura dócil”, além de gravuras de alemães como Erich Heckel, Max Beckmann e Otto Möller, e 40 das 60 gravuras de Kubin que fazem parte da edição de 1913 de “O Duplo” encontrada por Titan Jr. em Berlim. Para Gomide, a exposição faz parte da redescoberta de Dostoiévski no Brasil, com reedições de obras do escritor feitas por diversas editoras, peças teatrais e filmes.
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Dirigido pelo bielorrusso Serguêi Loznitsa, o filme disputou a Palma de Ouro do Festival de Cannes do ano passado. A história retrata um ferroviário inocente que é detido com sabotadores de um trem na fronteira ocidental da União Soviética sob ocupação alemã, em 1942. Desesperado para salvar sua dignidade, o protagonista enfrenta sérias escolhas morais. › www.cinemark.com.br
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