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QUARTA-FEIRA, 18 DE SETEMBRO DE 2013

O melhor da

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Abismo entre gêneros

Nova rota euroasiática

Enquanto se cogita a criação de cotas para mulheres, participação feminina na política russa ainda é baixa

Após modernização, ferrovia Transiberiana poderá concorrer com transporte marítimo de cargas

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P.4 ITAR-TASS

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), La Nacion (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

NOTAS

Crise síria Rússia repudia intervenção no país árabe visando conter expansão extremista da região ao Cáucaso

Como impedir um novo refúgio da Al Qaeda na Síria

Eremita é encontrado em floresta siberiana Um jovem que viveu por anos sem contato com a civilização foi encontrado em uma floresta da unidade federativa russa de Altai. Descoberto por moradores da cidade de Belokurikh, o homem teria nascido em 1993 no povoado de Kaitanak, a 400 quilômetros dali, e passado toda a vida na floresta com a família, segundo ele declarou. O rapaz nunca viveu em sociedade e não tem estudos. Ele foi abandonado pelos pais em maio e não possui nenhum documento. O jovem eremita teria voltado à floresta, onde está juntando lenha e se preparando para o inverno, contam os moradores locais. A procuradoria pediu ao tribunal da região que emitisse documentos para o jovem e defendesse seus direitos. “Se o tribunal atender nossa reivindicação e fizer seus documentos, ele poderá se socializar, e nós certamente o ajudaremos com isso”, anunciou o porta-voz da procuradoria de Altai à agência Ria Nóvosti.

Moscou rejeita rótulo de defensora obstinada de Assad, mas desaprova destituição do presidente sírio. NIKOLAI SURKOV GAZETA RUSSA

A inflexível posição da Rússia contra um ataque internacional à Síria levou muitos a refletir por que o país defende o presidente Bashar al-Assad. Tanto as ambições geopolíticas de Moscou como os contratos bilionários de empresas russas no país são apontados como causas. Mas a aliança estratégica entre Rússia e Síria é um mito, segundo especialistas. “Não faz sentido atribuir a posição de Moscou a seus interesses econômicos ou militares. As trocas comerciais com a Síria movimentam cerca de US$ 2 bilhões por ano e não têm grande importância para a Rússia”, diz Marina Sapronova, professora do Instituto de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO). Sapronova lembra também que a Síria não está entre os grandes consumidores da indústria armamentista r ussa. “Índia, China e Venezuela são muito mais importantes para a Rússia nesse sentido”, diz.

Lenta.Ru

Condenado homem que queria matar Pútin

ITAR-TASS

Um homem acusado de planejar o assassinato do presidente russo Vladímir Pútin foi condenado a 10 anos de prisão pela Corte da cidade de Moscou. Nascido no Cazaquistão, Iliá Piázin, 28, cumprirá a pena em uma prisão de segurança máxima. O grupo do qual fazia parte teria planejado assassinar o então primeiro-ministro Pútin e o líder tchetcheno Ramzan Kadirov. O grupo foi descoberto entre janeiro e fevereiro de 2012, quando uma bomba explodiu acidentalmente em um apartamento em Odessa, na Ucrânia, matando um de seus membros. De acordo com os investigadores, os acusados agiam a mando do líder separatista tchetcheno Doku Umarov.

Dívida Do início da década de 1990 a 2005, as relações bilaterais russo-sírias ficaram estagnadas devido à dívida síria à extinta União Soviética, em torno dos US$ 13,4 bilhões. Enquanto o governo sírio pedia o cancelamento da dívida, Moscou exigia sua quitação e se recusava a fornecer armas e bens de consumo à Síria a crédito. A questão da dívida foi solucionada em 2005, quando Moscou cancelou grande parte dela (73%), convertendo cerca de US$ 1,5 bilhão em investimentos diretos em

Maria Azálina

GETTY IMAGES/FOTOBANK

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Imóveis Endividamento imobiliário na Rússia representa apenas 2,6% do PIB. No Brasil, valor é de 7,4%

Como no Brasil, crédito engatinha Contra a média de 51,7% do PIB na UE, crédito imobiliário na Rússia é um quinto do da República Tcheca, que detém o menor indicador europeu. DÁRIA BORISSIAK

Um estudo da Deloitte sobre o comportamento do mercado imobiliário residencial europeu ao longo de 2012 aponta que o nível de endividamento imobiliário na Rússia é 20 vezes menor do que a média na União Europeia. Enquanto o crédito imobiliário na UE corresponde, em

ITAR-TASS

VEDOMOSTI

Bolha dificulta empréstimos na Rússia

média, a uma parcela de 51,7% do PIB, na Rússia esse número cai para apenas 2,6% cinco vezes menos que na República Tcheca, detentora do menor índice europeu, segundo a pesquisa. Além disso, os empréstimos não imobiliários já estão se aproximando de seu limite (70% do crescimento do total de crédito de varejo). Segundo o Alfa Bank, o potencial de crescimento do crédito na Rússia está no mercado de imóveis, mas a atual bolha imobiliária dificulta seu desenvolvimento.

O mercado russo de crédito de varejo consiste basicamente em empréstimos livres de garantias. “A Europa trilhou o mesmo caminho de desenvolvimento”, afi rma o diretor do Banco PSB, Ivan Piatkov. Segundo ele, nos bancos europeus o custo da base de recursos é mais baixo e os prazos dos financiamentos são maiores. Assim, a hipoteca tem um custo menor. No Brasil, o crédito imobiliário corresponde a 7,4% do PIB, de acordo com a Abecip (Associação Brasileira das En-

tidades de Crédito Imobiliário e Poupança), com base em dados do Banco Central. Segundo a Abecip, de janeiro a junho de 2013 o crédito imobiliário com recursos de poupança obteve os melhores resultados semestrais desde o início do plano real. A associação prevê o crescimento do setor para este ano em 15%. Na Europa, o nível mais alto de endividamento imobiliário é o da Holanda e o da Dinamarca, e o mais baixo é CONTINUAÇÃO NA PÁGINA 4

“Uso de maconha indica homossexualidade”, diz prefeito eleito Enquanto as eleições para a prefeitura de Moscou causaram polêmica, após o candidato da oposição Aleksêi Naválni contestar os resultados que deram vitória ao governista Serguêi Sobiânin, na Rússia central causou surpresa a eleição de Evguêni Roizman à cidade de Iekaterinburgo, com 33,25% dos votos, contra os 29,71% do situacionista Iakov Sílin. Roizman é também diretor da associação “Cidade sem narcóticos”, e recentemente virou hit nas redes sociais com o vídeo de uma entrevista em que afi rma que “o primeiro sinal da homossexualidade é o uso de maconha”. Marina Darmaros

2 de outubro

Próxima edição


Opinião

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ANDREY POPOV

NOVOS VOTOS, NOVOS DILEMAS Gleb Tcherkassov Analista político

s eleições regionais e municipais realizadas no dia 8 de setembro puseram em evidência as especificidades da política russa. Os eleitores chegaram a ver o que são eleições com a máquina administrativa quase desativada, que os moscovitas possuem uma maior liberdade de escolha do que os provincianos, que a apatia política é geral e que as autoridades são incapazes de mobilizar seus apoiadores. Como resultado, ficou claro que o poder pode ser tomado por pessoas antes consideradas não aptas a governar. O dia único de votação para as eleições regionais e municipais revelou cinco problemas. Cada um deles precisa, pelo menos, ser discut ido e , n a m e l hor d a s hipóteses, solucionado. As eleições para prefeito de Moscou mostraram que uma

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campanha eleitoral, da candidatura à contagem de votos, pode ocorrer sem pressão administrativa maciça, o que é completamente novo para a Rússia pós-soviética. O uso muito limitado de enormes recursos administrativos à disposição do Poder Executivo deixou confuso o próprio Executivo e a oposi-

indicado pelo partido RPR-Parnas (Partido Republicano da Rússia - Partido da Liberdade do Povo), e seus apoiadores também foram surpreendidos. Uma coisa é falar sobre supostas fraudes, outra é apresentar provas convincentes. Diante das violações e fraudes detectadas nas eleições anteriores, as ir-

Eleições regionais trouxeram cinco questões que merecem discussão – e solução

A política russa tem situações bem específicas que afloraram no pleito de 8 de setembro

ção. O prefeito em exercício Serguêi Sobiânin e sua equipe ficaram surpreendidos com seu resultado relativamente baixo, suficiente para a vitória, mas pequeno para demonstrar a credibilidade incondicional do atual governo da capital russa junto à população. O candidato oposicionista Aleksêi Naválni,

regularidades registradas nas eleições para prefeito de Moscou parecem pequenas. Quando a máquina administrativa é desativada, é hora de pôr em ação uma política que pressupõe a busca de alianças e a luta de verdade com os oponentes. Nem o governo nem a oposição estavam preparados.

O segundo problema é um hiato relevante entre as práticas eleitorais em Moscou e no resto da Rússia. Ilegalidades como o cancelamento injustificado do registro de candidatura, o uso generalizado do “filtro municipal” para colocar contra o favorito concorrentes notoriamente fracos, pressão sobre os adversários fortes e o uso ativo da máquina administrativa para a coleta de votos – de um banal “carrossel” em que grupos de pessoas são transportadas em ônibus e automóveis fretados para votar em várias mesas eleitorais à pressão sobre os funcionários públicos e retirada dos observadores – não faltaram nas unidades da Federação durante o único dia de votação. As desigualdades entre a capital e as unidades da Federação, inclusive no que se refere à liberdade de escolha em Moscou e na província, tornou ainda mais evidente o hiato entre a situação jurídica dos moscovitas e dos

demais habitantes do país. Isso pode ter um impacto negativo não tanto durante as campanhas eleitorais, mas no período posterior. Moscou e os moscovitas são encarados negativamente nas províncias por serem considerados mais ricos do que as outras regiões do país. Agora podem causar uma antipatia maior por possuírem maior liberdade de escolha. O terceiro problema é o baixo comparecimento às urnas. Em Moscou, isso favoreceu Aleksêi Naválni e a oposição; nas demais regiões, os candidatos governistas. No entanto, independentemente dos resultados, a recusa de muitos cidadãos em ir às urnas mostra a indiferença para com o sistema político. O fato de a população encarar a política como algo estranho deve preocupar o governo e a oposição. É comum atribuir o baixo comparecimento às urnas à apatia do eleitor. Na verdade, os políticos são incapazes de gerar ideias que interessem à população. A lacuna não pode durar para sempre. Mais cedo ou mais tarde, surgirão pessoas capazes de oferecer à população coisas inteiramente novas, o que levará ao colapso do atual sistema político, como aconteceu nos anos 90 na Bielorrússia e na Itália. A natureza política não admite vácuo. Quando os políticos oficiais não podem oferecer à população nada de interessante, surgem outros para formar um novo sistema. A vitória de Evguêni Roizman nas eleições para prefeito de Iekaterinburgo e o sucesso dos candidatos pelo partido Patriotas da Rússia em Krasnoiarsk são exemplo disso. Políticos como eles não foram admitidos a governar durante longo tempo. Agora, têm seu caminho desimped ido. E s s e é o q u a r t o problema. O quinto problema é o de que os governantes não estão conscientes de que as regras de jogo por eles impostas não agradam à minoria ativa nem mobilizam a maioria conservadora. As fortalezas caem quando não têm quem as defenda. O governo deve estar interessado em revelar uma iniciativa política, mas, a julgar por aquilo que foi feito nos últimos anos, ele não deseja revelá-la nem discutir esse assunto. Gleb Tcherkassov é vice-editor-chefe do jornal Kommersant

elementar das nações europeias e mediadora na transformação da comunidade transatlântica. Apesar de a Europa ter voz própria, sua incapacidade de desafiar os

erros do poder dominante na hegemonia ocidental sobre um conjunto de questões, incluindo a Guerra no Iraque, minou sua credibilidade como poder normativo. Obviamente, isso permite à Rússia intervir de maneira positiva para ajudar a resolver os impasses do Ocidente. A subserviência do modelo britânico à hegemonia norte-americana, por exemplo, não contribui para nada. Assim, a Rússia pode deixar a posição de encrenqueira para trás a fim de assumir um papel relevante na solução dos problemas atuais. Tanto Barack Obama como Pútin entendem que não existe uma divisão ideológica fundamental entre Rússia e Ocidente. Portanto, falar sobre uma nova Guerra Fria é um equívoco. No entanto, não se pode negar a existência de tensões que fomentam a atmosfera de “Paz Fria”. Partindo da crise síria até o escândalo envolvendo o ex-consultor da CIA Edward Snowden, há um mar de questões nas quais a Rússia se agarra a seus próprios pontos de vista. Mesmo que um delator não seja naturalmente do gosto de Pútin, a Rússia não errou ao conceder asilo

pesar dos esforços do presidente Vladímir Pútin em “normalizar” as relações entre a Rússia e o Ocidente desde seus primeiros dias de liderança, esses vínculos permanecem essencialmente frouxos. A ideia do presidente era simples: a Rússia deixaria de ser tratada como um caso especial, passando a ser apenas mais um país soberano e independente. Para tanto, na primeira oportunidade, o presidente pagou a maior parte da dívida e acabou com várias dependências que se acumularam desde os anos 1990, por exemplo, no FMI. Paralelamente, acelerou as dinâmicas de integração que haviam definhado nos anos Iéltsin, incluindo a intensificação das

A

de potências e ativistas ocidentais apenas agravam as contradições do governo russo, em vez de ajuda r a resolvê-las. A aceitação da Rússia na comunidade transatlântica foi problemática desde o começo, como já mostrava o discurso do presidente Boris Iéltsin sobre uma “Paz Fria”, em dezembro de 1994. Uma das características dessa síndrome é a linguagem absurda de “reinícios e pausas”. É hora de um relacionamento mais maduro ser estabelecido por ambos os lados. Para o Ocidente, apesar de muita conversa sobre a relativa marginalidade e insignificância da Rússia, o fortalecimento da relação é essencial por razões estratégicas, econômicas e diplomáticas. Embora muitos ativistas da sociedade civil e senadores americanos procurem fugir do anonimato ao massacrar a Rússia , esse tipo

NATALIA MIKHAYLENKO

CIENTISTA POLÍTICO

relações com a União Europeia e, após o episódio de 11 de setembro, a tentativa de criar uma parceria de igual para igual com os Estados Unidos. No entanto, logo ficou claro que a estratégia de normalização não funcionaria. A Rússia não foi capaz de apenas se tornar mais uma grande potência. As demandas políticas colocadas sobre o país são grandes, em parte porque ele próprio as aceitou para se tornar um Estado-nação em 1991, mas também devido a sua autoidentificação como Estado europeu e membro fundamental da comunidade internacional. As contradições sistêmicas e de identidade que permanecem sem solução na Rússia indicam que as características “anormais” permanecerão nas relações da Rússia com o mundo ocidental em um futuro próximo. O discurso repleto de boicotes e ameaças

de pol ítica é estér i l e perigosa. O problema é que, nos últimos anos, a UE não foi capaz de criar uma voz marcante como representante

Serguêi Denisêntsev Analista espacial

falha no lançamento do foguete Proton-M em 2 de julho obrigou o governo russo a iniciar o mais rapidamente possível uma reforma do setor espacial nacional. As imagens do desastre transmitidas pela TV atraíram a atenção do governo e da sociedade para os problemas do setor. A maioria dos especialistas sabe há tempos o que não está dando certo: a expressão “crise sistêmica” sempre é utilizada para tratar dos problemas da cosmonáutica russa. No entanto, alguns aspectos merecem especial atenção. A falta de pessoal qualificado é um deles. Formalmente, não há problemas com a mão de obra, e as empresas da indústria espacial empregam 244 mil trabalhadores, mais do que qualquer outra potência espacial. Mas o percentual de trabalhadores de meia-idade (a idade mais produtiva) na indústria espacial é extremamente pequeno. Além disso, o número tão grande de trabalhadores é consequência de sua produtividade extremamente baixa, que leva aos salários pequenos e, consequentemente, ao êxodo de pessoal qualificado. A solução desse problema é impossível sem a consolidação da indústria espacial e a redução do número de empresas e de pessoal. Assim, a agência espacial russa Roscosmos defende a criação de uma corporação estatal nos moldes da Rosatom, voltada à energia atômica. Essa medida permitiria melhorar o gerenciamento da indústria e, assim, a produtividade. A proposta, porém, encontra resistência das empresas do setor, que não querem perder independência. Afinal, a situação atual é muito conveniente: elas vivem de contratos do governo e não têm concorrentes, deixando a culpa pelas falhas recair sobre a Roscosmos.

ENTRE A NORMALIDADE E A INCOMPATIBILIDADE Richard Sakwa

A REFORMA DO SETOR ESPACIAL

A

O atual presidente da agência, Vladímir Popóvkin, foi o primeiro a realizar uma série de iniciativas audaciosas e necessárias. Em particular, mandou verificar a aplicação das verbas e, após diversas inspeções-surpresa em empresas do setor, mandou demitir alguns dirigentes. As iniciativas de Popóvkin foram apoiadas pelo presidente Vladímir Pútin, que avançou a ideia de criar um ministério especial responsável pela indústria espacial russa. Ao que tudo indica, o acidente com o veículo lançador Proton-M, causado por negligência durante as obras de montagem e um defeito estrutural do veículo, reforçou a convicção do governo de ser necessário reformar o setor espacial nacional. Corre à boca pequena nos bastidores da Roscomos que a ordem para a reforma será anunciada em breve. Paralelamente, o governo irá rever o Programa Federal Espacial, tornando-o mais pragmático. O corte de gastos com os voos tripulados (cujo efeito econômico é praticamente nulo) será acompanhado do aumento das verbas para lançamento de satélites, fundamentais à economia russa. Outro ponto importante será o aumento da participação da Roscosmos em projetos internacionais, sem preterir as vertentes militar e científica da cosmonáutica russa. Finalmente, nos últimos dois anos, o país tem intensificado consideravelmente os esforços pa ra a construção do centro de lançamentos espaciais de Vostótchni e do novo veículo lançador de satélites Angará, destinado a substituir o Proton. Juntas, essas medidas renovam as esperanças de que o setor espacial russo supere o atual período difícil e que a Rússia permaneça no rol das maiores potências espaciais do mundo. Serguêi Denisentsev é especialista do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias

temporário a Snowden. Da mesma forma, a análise da crise síria promovida pela Rússia desde o início foi mais precisa do que a abordagem das potências ocidentais. O principal é saber se essas diferenças são normais ou se indicam uma incompatibilidade de interesses estratégicos. Existe pouca evidência sobre o último ponto. Nem as tentativas contundentes do Ocidente de promover a desintegração geopolítica da Eurásia podem ser tomadas como o reflexo de um conflito entre as partes. É isso o que as potências imperialistas ocidentais sempre fizeram. Afinal, as tradicionais ambições imperiais travestidas de avanço democrático convencem poucos. A principal forma de influência da Rússia hoje é agindo como uma força moderadora na política internacional. Enquanto o Ocidente se vê envolvido em problemas internos, a Rússia pode tentar aliviá-los, assim como as cont r ad içõ e s d a pol ít ic a ocidental. Richard Sakwa é professor de política russa e europeia na Universidade de Kent (Reino Unido)

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Política e Sociedade

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Guerra dos sexos Governo russo tem poucas mulheres, embora algumas tenham alcançado posições-chave e sejam cotadas à presidência

O abismo político entre gêneros Baixa representação feminina na política russa, comparável à da Suazilândia, sugere necessidade de aprovação de lei de cotas, barrada duas vezes no país.

FRASES

Vladímir Pútin

IAROSLAVA KIRYUKHINA GAZETA RUSSA

Presidente machista? O país nunca teve uma primeira-ministra ou presidente do sexo feminino, mas essa possibilidade não está fora de questão, e as maiores apostas caem sobre a política Valentina Matvienko. Ex-governadora da unidade federativa de São Petersburgo, Matvienko preside atualmente o Conselho da Federação (câmara alta do Parlamento russo,) e se tornou a terceira figura política mais importante do país,

AP

PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DA RÚSSIA

" ITAR-TASS

Não sei se qual proporção entre homens e mulheres deveria ser instituída por lei. As qualidades pessoais e profissionais de um político são bases importantes para sua escolha. Mas há, definitivamente, falta de mulheres em atuação no governo.”

Irina Khakamada

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PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO

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ITAR-TASS

ITAR-TASS

EX-DEPUTADA E OPOSICIONISTA

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Conhecida como um país patricarcal, a Rússia tem menos de 14% dos cargos de deputados da Duma de Estado ocupados por mulheres. Em nível federal, sua representação é ainda menor: apenas 6%. De acordo com a União Interparlamentar, organização internacional para mediação multilateral entre os órgãos de países soberanos, em 2012 a Rússia teve uma das piores colocações no ranking de participação feminina na política, ficando em 96° lugar, junto à Suazilândia, com apenas 13 senadoras de um total de 163. Além de seu número reduzido, as mulheres engajadas na política russa não são retratadas como figuras com grande influência, e nunca na história uma delas foi listada no ranking das mulheres mais poderosas do mundo da revista “Forbes”. Para a cientista política e ex-membro do partido governista Rússia Unida Olga Krichtanôvskaia, o machismo na sociedade russa origina-se dos baixos níveis de participação política das mulheres. Segundo ela, os políticos de alto escalão apenas “permitiram” que algumas mulheres bonitas e sem opinião própria ingressassem na política para servir de fantoches. Mas líderes femininas começam a surgir no país, acredita Krichtanôvskaia. Um exemplo é a ex-ministra do Desenvolvimento Econômico Elvira Nabiúllina, que foi escolhida por Pútin neste ano para dirigir o Banco Central da Rússia.

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1) Uma das maiores apostas entre as políticas russas, Valentina Matvienko é presidente do Conselho da Federação; 2) Maria Kojévnikova, atriz e parlamentar; 3) Valentina Terechkova, primeira cosmonauta da Rússia e parlamentar; 4) Alina Kabáieva, ex-medalhista de ouro em ginástica olímpica e parlamentar

atrás apenas de Pútin e do primeiro-ministro Dmítri Medvedev. Além disso, é conhecida por seu estilo de gestão prática e lealdade ao Kremlin. Segundo Krichtanovskaia, porém, a atual presidência tem atitudes machistas. “[Pútin] tende a pensar que lugar de mulher é na cozinha”, afirma. De acordo com pesquisa de 2011 do VTsIOM (Centro Nacional de Pesquisas de Opinião Pública), 14% dos russos acreditam que o país tenha mulheres demais na política, enquanto 37% dizem que esse número deixa

a desejar, e 33% defendem a permanência da situação atual. Além disso, metade dos entrevistados apoiam a ideia de criar cotas para as mulheres na política, contra apenas 5% que se opõem à iniciativa. Atualmente, nenhum partido político de destaque apoia o s d i r e it o s d a s mulheres no país. Mas nem sempre foi assim. Logo após a queda da União Soviética, su rg iu o Pa r t ido d as Mulheres da Rússia, que inicialmente teve certo sucesso nas urnas, com 8,1% dos votos e 23 assentos na Duma nas eleições de 1993.

Apesar disso, a ag remiação não faz mais parte do cenário político russo. No ano passado, porém, o Ministério da Justiça registrou o novo Par tido para as Mulheres da Rússia, que objetiva à igualdade de gêneros. O partido já tem cerca de 100 mil membros e, segundo seu programa, defende a “restauração dos valores familiares”.

sia, mantendo-se marginalizado. Há, entretanto, apelos para a implementação de cotas para mulheres na política. A deputada Elena Mizúlina, idealizadora da chamada “lei antigay”, é uma das promotoras da ideia. Krichtanôvskaia, no entanto, não concorda com as cotas. “Os homens russos estão morrendo em ritmo acelerado”, explica. O número de mulheres no país atualmente supera em 10 milhões o de homens: enquanto as primeiras somam 76 milhões, eles são em cerca de 65 milhões. Já a taxa de mor-

Contrafeminismo O movimento feminista ocidental não chegou às soviéticas. Mesmo após a queda do comunismo, o feminismo não ganhou terreno na Rús-

talidade feminina foi quase a metade da masculina em 2010: de 8,7 mulheres contra 17 homens (por mil pessoas), de acordo com o VTsIOM. A conselheira presidencial para assuntos sócioeconômicos envolvendo países da CEI (Comunidade dos Países Independentes), Tatiana Golikova, defende o estabelecimento das cotas. “A Rússia não tem qualquer legislação de igualdade entre os gêneros nem temos quaisquer mecanismos reais para evitar a discriminação de gênero”, disse em 2011, quando ainda era ministra da Saúde, à alta co-

Uma mulher, independente de seu status ou qualidades, estará sempre sujeita à desconfiança. Durante 13 anos, usei 70% do meu tempo provando ser uma política com direitos iguais aos dos homens. Só nos 30% restantes pude realmente aprovar leis.”

missária das Nações Unidas, Navanethem Pillay, ao anunciar a preparação de um projeto de lei sobre igualdade de gêneros. O projeto foi colocado de lado. Ainda em 2003, uma lei semelhante foi barrada no Executivo depois de aprovada pela Duma. A credibilidade da ala política feminina com o eleitorado também é prejudicad a p or u m a c ob e r t u r a machista na imprensa. A blogosfera e os veículos tradicionais focam exageradamente na aparência física e nos casos amorosos das políticas russas.

Amizade russa não é um cheque em branco à Síria projetos conjuntos. Em seguida, o intercâmbio comercial e a cooperação técnico-militar passaram a aumentar. A Síria pagou à Rússia cerca de US$ 2 bilhões para modernizar seu material bélico, que remontava à época soviética. Damasco, porém, não passou a obedecer a vontade de Moscou no âmbito do Oriente Médio. Além disso, a Rússia nem sempre esteve ao lado de Bashar al-Assad: ainda em 2005, sua delegação na ONU votou a favor da retirada das tropas sírias no Líbano. “A economia russa está focada na Europa e na Ásia, e não no Oriente Médio. O país tampouco tem interes-

ses militares na Síria. O ponto de apoio logístico à Marinha russa em Tartus perdeu relevância com o fim da Guerra Fria”, afirma Sapronova.

Para Moscou, queda de Assad levará a caos no país que se expandirá a todo Oriente Médio Soberania nacional De acordo com diplomatas russos, já no início da crise síria, o governo traçou uma “linha vermelha” e deixou bem claro ao presidente Assad que não iria colaborar com o regime caso este

se visse implicado em crimes contra a humanidade. Mas Moscou acredita que a queda de Assad levará o país ao caos, que poderá se expandir em seguida para todo o Oriente Médio. Exemplos de tais desdobramentos após a queda de ditadores seriam a guerra no Iraque entre sunitas e xiitas depois da intervenção americana e a queda de Saddam Hussein, e a instabilidade na Líbia após a morte de Muammar Gaddafi. O armamento líbio se espalhou por toda a região e acabou nas mãos de extremistas. “A Rússia não pode deixar passar despercebido o fato de a Síria estar se tornando palco para o treinamento de militantes islamistas que

podem aparecer, no futuro, em diferentes regiões do mundo, inclusive no Cáucaso do Norte, Tchetchênia e Daguestão, para provocar um novo surto de terrorismo”, diz Sapronova.

Refúgio da Al Qaeda O temor russo é de que o território sírio se torne um novo refúgio para a rede terrorista Al Qaeda. A ameaça, então, seria grande para os Estados Unidos, mas principalmente para a Rússia, devido a sua maior proximidade geográfica. “As experiências no Iraque, no Afeganistão e na Líbia não foram bem-sucedidas. Soluções militares para uma crise não implicam em transição”, diz o pro-

REUTERS

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Diplomacia russa afirma ter traçado “linha vermelha” para crimes contra humanidade na Síria

fessor-associado da Faculdade de Política Mundial da Universidade Estatal de Moscou, Vassíli Kuznetsov. “A Rússia defende a ideia de soberania nacional, procurando manter a estabilidade no Oriente Médio. Caso contrário, sua própria segurança ficará comprometida com a ameaça de expansão

do islamismo radical em regiões no sul do país.” Estrangeiros provenientes do Oriente Médio lutaram ativamente contra o Exército russo no Cáucaso do Norte e muitos deles estão ligados a atentados terroristas realizados em território russo. Como resultado, há hoje na Síria mais de 100

tchetchenos retribuindo o favor, lutando ao lado dos rebeldes. Outra razão pela qual a Rússia não pode ficar à parte da crise síria é que há no país entre 30 mil a 100 mil (as estatísticas variam) cidadãos russos, tanto cônjuges de cidadãos sírios como filhos de casamentos mistos.


Economia e Negócios

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Transporte Transiberiana e BAM receberão investimentos de US$ 17 bilhões para modernização

Crédito imobiliário é baixo, como no Brasil

nhança, como Xangai, na China, e a cidade portuária de Pusan, na Coreia do Sul. Atualmente, menos de 1% das mercadorias asiáticas rumo à Europa passam pela Rússia, segundo Magomedov. O volume de transporte poderia ser quintuplicado, com cada ponto percentual adicionando um extra de US$ 1 bilhão à economia russa.

Uma nova rota comercial entre Ásia e Europa

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MAKS AVDEEV

Além de investimentos, melhoria dos serviços aduaneiros poderá fazer do transporte ferroviário uma alternativa eficaz ao marítimo. ILIÁ DACHKÓVSKI

O governo russo não se mostra preocupado com o período de amortização do projeto, mas estima-se que seriam necessários no mínimo 50 anos para quitar os custos de construção da ferrovia.

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

A decadente rota ferroviária Baikal-Amur (BAM) e os trilhos da Transiberiana receberão investimentos de pelo menos US$ 17 bilhões para sua modernização. O projeto deverá criar meio milhão de empregos e impulsionar a indústria na Sibéria e no Extremo Oriente russo – até porque a capacidade ferroviária para o transporte de cargas já se mostra insuficiente. Há 50 anos, a construção da BAM foi descrita pelo ex-líder soviético Leonid Brejnev como “o projeto de construção do século”. Quando a União Soviética foi dissolvida, muitos projetos industriais e de mineração na região foram cancelados e a linha passou a ser subutilizada. Agora, além de melhorar os trilhos para aumentar a capacidade de carga, o trabalho poderia reduzir significativamente o tempo de viagem para transporte de mercadorias entre Ásia e Europa. Para isso será usada a BAM-2, estendendo o percurso até a ilha de Sakhalin, na costa do Extremo Oriente do país.

Rota da Apec Andrew Chan Yik Hong, diretor de projetos de capital e infraestrutura da PricewaterhouseCoopers na Malásia, acredita que a Russian Railways poderia oferecer uma rota alternativa e eficaz ao transporte marítimo entre os países da Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) e os europeus. “Para tanto, são necessárias três coisas: atualizar a infraestrutura, investir alto e a longo prazo nos trilhos da ferrovia e melhorar os serviços aduaneiros”, diz Hong. A rota terrestre, segundo ele, ajudaria a combater a pirataria, regimes instáveis e desastres naturais que atormentam as rotas marítimas. A ideia ganhou o apoio de parte do setor empresarial russo. Ziavudin Magomedov, propr iet á r io do Gr upo Summa, que administra portos no Extremo Oriente russo, nos mares Báltico e Negro, bem como a companhia de transporte Fesco, é um dos defensores do projeto. Ele critica a lentidão dos serviços por-

tuários e aduaneiros, que torna a rota russa para a Europa menos competitiva que outras opções. “Um contêiner é mantido na alfândega do porto de Vladivostok, no Extremo Oriente, por 13 dias. Depois leva mais quatro ou cinco para passar pelo porto. Já em Cingapura, um contêiner fica na alfândega por apenas dois dias e passa pelo porto no mesmo dia que chega”, explica. A Rússia também deixa a desejar em comparação a cidades concorrentes na vizi-

Construção da Transiberiana

Mais de 90% da carga mundial é transportada por via marítima. Assim, o diretor-geral da consultoria Infoline Analitika, Mikhail Burmistrov, duvida que a ferrovia possa representar concorrência séria ao setor, alegando que embarcações de grande porte podem transportar cargas muito maiores que os trens, além de os encargos no transporte marítimo serem muito menores. “Em outras condições econômicas, a ferrovia Transiberiana fazia sentido: no final dos anos 1980, ela transportou enormes quantidades de carga e cobriu os custos de construção. Agora, tudo mudou e é utopia falar de concorrência com o transporte marítimo”, acredita. O diretor de transporte da FM Logistic, Daniil Ribalko, lembra que o transporte de carga entre Pusan e o porto de Vostótchni, no Extremo Oriente da ferrovia Transiberiana, e que depois segue para a União Europeia, leva cerca de 36 horas e custa US$ 500 por contêiner. Já o transportar marítimo de Pusan diretamente para Hamburgo, na Alemanha, sai por apenas US$ 700. A ideia de os trilhos desafiarem os mares não é nova, mas tampouco foi colocada em prática. As propostas geralmente têm tom mais político do que econômico. Quando um projeto ferroviário foi anunciado na Colômbia, por exemplo, críticos declararam que o país tentava atrair investimento americano aumentando o espectro da expansão da China, que supostamente havia concordado em financiar o projeto. Na Nicarágua, Honduras e El Salvador, o “canal seco”, como alternativa ao Canal do Panamá, vem sendo prometido regularmente há 20 anos, geralmente na tentativa de atrair votos durante o período eleitoral.

TRANSIBERIANA EM NÚMEROS

87 19 8 cidades têm paradas na rota, 5 delas com mais de 1 milhão de habitantes

rios de grande extensão são atravessados pela ferrovia, incluindo o Volga

fusos horários são transpostos pelos trens entre Moscou e Vladivostok

GAIA RUSSO

PHOTOXPRESS

Céticos

o da República Tcheca. Na Rússia, porém, o total de empréstimos imobiliários é cinco vezes menor que no país vizinho e representa apenas 2,6% do PIB. Os bancos russos não obtêm grandes lucros sobre os produtos imobiliários, com uma margem que varia de 2% a 3%, e taxa final para o mutuário de 12% a 14%, o que torna o serviço oneroso.

Baixa taxa de lucros torna serviço oneroso e impede maior crescimento de empréstimos “Outra razão para a baixa expressividade do crédito imobiliário está no difícil acesso que um cidadão médio russo tem ao crédito imobiliário, significativamente menor do que na Europa, inclusive devido ao nível dos lucros e aos preços dos imóveis”, diz o vice-presidente do conselho administrativo do Banco Nordea, Andrêi Maltsev.

Per capita O endividamento imobiliário per capita na Rússia, na faixa dos 311 euros, também é bastante baixo comparado ao europeu. O valor é sete vezes menor do que o da Polônia, que detém os menores indicadores no segmento na Europa (2.280 euros). De acordo com analistas do Alfa Bank, a parcela referente à dívida total do varejo em 2012 representou apenas 12% do PIB. É um nível de dívida extremamente baixo, não só para países desenvolvidos (a maioria deles acima de 50% do PIB), mas também para Europa Central e Oriental. De acordo com o Bureau Nacional de Histórico de Crédito, o crédito imobiliário representa 24,7% do volume total de empréstimos existentes na Rússia, enquanto créditos de curto prazo corresp onde m a 48, 5%, e o s financiamentos de automóveis e cartões de crédito represent a m 14 , 3 % e 1 2 , 5 % , respectivamente.

BANHO DE ÁGUA DOCE

MÚSICA

FÉRIAS COM AS CRIANÇAS

A reserva natural de Serebriani Bor é o melhor lugar para quem quer ficar na água nos dias quentes do verão russo. Durante a estação, os visitantes podem nadar, andar de bicicleta e observar os moradores locais, como lebres e arminhos. No inverno, pode-se esquiar e patinar.

Os visitantes do Jardim Hermitage, no centro de Moscou, podem se deliciar com os restaurantes de ambiente aconchegante, jogar pingue-pongue e curtir a rica programação musical oferecida no local.

Na região sudeste de Moscou, encontra-se o parque Kuzmínki-Liublinô, onde estão localizadas as construções mais antigas da capital russa, que incluem duas mansões, cinco museus, uma estrebaria com sala musical e 26 parques infantis.

PASSEIO HISTÓRICO

PIQUENIQUE FLORESTAL

Com mais de 100 parques e obras arquitetônicas abertas à visitação, Moscou consegue satisfazer as exigências de qualquer turista. Confira nosso guia de atividades ao ar livre na capital russa também on-line (em inglês) em: http://en.travel2moscow. com/where/visit/parks

CAMINHADA COM ESTILO O parque Górki é o principal da cidade, localizado às margens do rio Moscou. Oferece Wi-Fi gratuito, bons cafés com vista para o rio, além de cinema ao ar livre, aluguel de bicicletas, espaços para exposições e uma pista de patinação durante o inverno.

Combinação de parque nacional e museu, o Kolômenskoe foi a antiga residência da família real russa. Em seu território encontra-se uma reprodução idêntica à do palácio de madeira do século 17 do tsar Aleksêi Mikhailovitch, demolido em 1768 pela imperatriz Catarina, a Grande.

OBRAS ARQUITETÔNICAS Criado no final do século 18, o parque Arkhânguelskoe, no noroeste moscovita, abriga uma série de palácios e traz uma combinação ideal entre a natureza e a arquitetura magnifica de residências reais, luxuosas mansões em estilo romano, castelos franceses com terraços, passarelas, tapetes de grama e antigas estátuas de mármore.

Com área total de 116 mil quilômetros quadrados, o parque nacional Lossíni Ostrov é o maior da cidade e tem 80% de seu território ocupado por florestas. Sua infraestrutura é ideal para fazer piqueniques, caminhadas e praticar exercícios físicos, assim como apreciar natureza e até observar animais silvestres como alces, veados, morcegos e outras espécies raras.

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Serêbriani Bor

Parque Górki

Arkhaguelskoie

Jardim “Hermitage”

Kuzmínki-Liublino

Kolômensloie

Tsarítsino

Losíni Ostrov


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