QUARTA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO DE 2013
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Bombas no Parlamento
A ponte Jorge Amado
Testemunha da invasão do Parlamento russo descreve a tentativa de golpe em 1993
Escritor baiano colocou o Brasil no mapa para os leitores russos durante o regime soviético
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P.2 ITAR-TASS
Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), La Nacion (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais
NOTAS
Comércio bilateral Outros países ajudarão a abastecer mercado russo, mas Brasil terá papel decisivo
Chuvas elevam vendas de açúcar brasileiro à Rússia
Rússia à frente do Brasil em capital humano
ITAR-TASS
Mudanças climáticas em setembro ajudaram a derrubar produção diária russa de açúcar em mais 8%.
A Rússia ocupa o segundo lugar entre os Brics no ranking de capital humano, lançado pelo Fórum Econômico Mundial. No ranking global, o país está na 51° posição, atrás apenas da China, em 43°, entre os Brics. O Brasil seguiu pouco atrás, em 57° lugar, seguido por Índia, em 78°, e África do Sul, em 86°. O desempenho dos Brics deixou a desejar em relação aos países europeus e a alguns asiáticos. Enquanto a Suíça arrebatou o primeiro lugar, Cingapura, o 3°, e Japão, o 15°, países como Qatar e Malásia ficaram em 18° e 22°, respectivamente. O estudo avalia quatro áreas: educação, saúde e bem-estar, emprego e ambiente de oportunidade. Entre outras surpresas, países da ex-União Soviética ultrapassaram os Brics com grande diferença (Estônia em 27°, Lituânia em 34°, e Letônia em 38°, por exemplo). Até o Cazaquistão, em 45°, está à frente da maioria dos Brics. Na América Latina, além da defasagem já esperada quanto ao Chile, que ocupou a 36° posição, os Brics, exceto a China, ficaram atrás do Panamá, em 42°.
VÍKTOR KUZMIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Maria Azálina
Sukhôi Su-35 dará lugar a caça de quinta geração
PHOTOXPRESS
A indústria açucareira da Rússia ficou entre a cruz e a espada. Por um lado, o rápido crescimento da produção nacional e a baixa dos preços contribuíram para a diminuição do interesse dos investidores pelo setor. Por outro, as fortes chuvas em muitas regiões do país em setembro impediram a colheita. Como resultado, muitas usinas de açúcar estão ociosas. “Devido à falta de matéria-prima, sete usinas de açúcar estão paradas: três na unidade federativa de Bélgorod e outras quatro nas de Kursk, Penza, Krasnodar e Karatchaiev-Tcherkássia. A produção diária de açúcar caiu mais de 8%, chegando a 32 mil toneladas. Desde o início da temporada, produziu-se cerca de 990 mil toneladas de açúcar de beterraba, contra o 1,24 milhão de toneladas no mesmo período de 2012”, disse à Gazeta Russa uma fonte da União de Fabricantes de Açúcar da Rússia.
tura do Mercado Agrícola), Evguêni Ivanov, mesmo que as chuvas parem nos próximos dias e o inverno atrase, em 2013/14, a Rússia poderá produzir no máximo 4,3 milhões de toneladas de açúcar, e menos de 3,5 milhões de toneladas, caso o cenário seja o mais adverso.
Histórico promissor A produção russa de açúcar atingiu seu ápice na temporada de 2011/12, quando atingiu mais de 5 milhões de toneladas. De acordo com um dos principais especialistas do ICMA (Instituto de Conjun-
Usina de açúcar russa: preço interno baixo levou à redução da produção. Clima piorou a situação
zonalidade e tradição fazem com que o Brasil predomine nas importações russas de açúcar bruto. “As importações de açúcar bruto provenientes do Brasil, Guatemala, El Salvador, Cuba e Tailândia cobrirão as necessidades do país entre fevereiro e abril de 2014”, diz Ivanov.
O ICMA calcula o consumo interno de açúcar nesta temporada de comercialização em 5,45 milhões de toneladas. O saldo entre a produção e o consumo terá de ser coberto com as importações, principalmente do Brasil, segundo o especialista. Fatores como logística, sa-
Ensino Nova lei pode eliminar falhas educacionais soviéticas
Avaliação da OCDE revelou alto analfabetismo funcional entre estudantes russos, apesar de figurarem no topo de rankings internacionais.
Futebol Torcidas são investigadas
Polícia vai aprender a lidar com estrangeiros
Em 2012, Hulk foi alvo direto de discriminação no Zenit
© VLADIMIR FEDORENKO / RIA NOVOSTI
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
A diretora do Instituto de Desenvolvimento de Ensino da Escola Superior de Economia, Irina Abánkina, acredita que os problemas envolvendo o EGE refletem a falta de valores da sociedade russa moderna e que, apesar de tudo, a reforma da educação está caminhando na direção certa. De acordo com dados da da Escola Superior de Economia, desde que o EGE foi introduzido, em 2009, o número de estudantes que se mudou de cidade por motivos educacionais aumentou 16%. No passado, cada universidade formulava seu próprio exame, e os alunos que queriam participar de determinado processo tinham que ir pessoalmente à instituição para fazer a prova. Como resultado, muitos faziam faculCONTINUA NA PÁGINA 3
O caça avançado tático T-50, também conhecido por sua sigla em russo “Pak-Fa”, está cumprindo com sucesso o programa de testes e deve entrar em serviço a partir de 2017. Até lá, a Força Aérea Russa conta com o caça multimissão Su-35S, capaz de atingir a velocidades de até 2.400 km/h e fazer voos sem escala de até 3,6 mil km. Enquanto o projeto de caça de quinta geração é desenvolvido virtualmente, o Su-35S é testado para aperfeiçoar novos elementos da futura aeronave. Ele pode ser usado como caça, avião interceptor de longo alcance e bombardeiro porta-mísseis, superando em alguns parâmetros o único avião de quinta geração do mundo: o americano F-22 Raptor. Rossiyskaya Gazeta
No caminho do bem
ALINA LOBZINA
A professora Svetlana Levkovets, 49 anos, está se acostumando a competir com celulares na sala de aula e tenta passar lições de casa que obriguem os seus alunos a trabalhar sem tecnologia. “Basta dar tarefas nas quais as crianças tenham que comparar os fatos”, diz ela. “Assim, a internet não ajuda muito.” Mas os adolescentes russos de hoje têm mais cartas na manga do que apenas seus celulares. Em maio, as respostas para o EGE (da sigla em russo, Exame Unificado Nacional), que tinha a intenção de revolucionar o sistema de ensino da Rússia, vazaram na rede social Vkontakte, o chamado “Facebook russo”.
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AP
Uma reforma para trazer as escolas ao século 21
Já a professora Lília Brainis, 24 anos, que lecionou por três anos no Liceu de Moscou 1535, considerado uma das melhores escolas da capital, acredita que não há motivo algum para lutar contra a tecnologia. “Em uma época em que todas as respostas podem ser encontradas on-line, são os professores que devem se adaptar”, diz ela.
Devido a medidas de proteção e apoio à indústria açucareira nacional tomadas pelo governo, desde o final dos anos 1990 a produção russa de açúcar de beterraba quadruplicou, crescendo todos os anos, exceto na temporada de
Países unem forças contra racismo Preocupação quanto a comportamento racista recorrente está ligada sobretudo à ampliação de atividades extremistas. No início de setembro, a Ucrânia venceu o San Marino por 9 a 0, em casa. Mas o acontecimento mais marcante desencadeado pela partida foi a investigação iniciada pela Fifa quanto a gritos racistas e bandeiras nazistas empunhadas pelos ucranianos. O ministro do Interior russo, Vladímir Kolokoltsev, reuniu-se com seu homólogo ucraniano para tratar do assunto, que aflige também Rússia e outros países da região.
“A grande preocupação são as tentativas de grupos radicais de se infiltrar no ambiente dos torcedores”, disse Kolokoltsev. “Nos últimos anos, as atividades de várias organizações terroristas internacionais têm se intensificado.” Na Rússia, o problema veio à tona mais uma vez no ano passado, quando torcedores do Zenit, o time mais popular de São Petersburgo e que tem entre seus jogadores o brasileiro Hulk, publicou um manifesto exigindo que a equipe não contratasse negros ou gays.
A divisão de Moscou do Ministério do Interior vai oferecer aulas para que os policiais aprendam a se comunicar melhor com visitantes estrangeiros. “Estamos criando programas voltados à psicologia da comunicação para os membros das forças policiais”, disse um porta-voz do órgão à agência RIA Nóvosti. Durante os treinamentos, os policiais vão aprender a estabelecer contato com os turistas e receber informações sobre Moscou para ajudar os estrangeiros perdidos. Para as autoridades, o programa é premente, considerando o crescente fluxo de visitantes que não falam russo. A polícia contratará mais funcionários que dominem línguas estrangeiras e oferecerá incentivos para os que queiram aprender outros idiomas. The Moscow News
6 de novembro
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Opinião
GAZETA RUSSA WWW.GAZETARUSSA.COM.BR
O CIBERESPAÇO PÓS-SNOWDEN Oleg Demidov Analista político
notícia de que a Rússia concedeu asilo temporário a Edward Snowden é geralmente discutida no contexto dos potenciais efeitos da decisão sobre as relações russo-americanas. Sem dúvida, o caso Snowden desencadeou uma série de efeitos adversos. Levando em conta as revelações do ex-agente da CIA, promotores russos estão investigando os serviços do Google e do Facebook na Rússia. As autoridades suspeitam que ambos violem os acordos internacionais sobre a proteção de dados pessoais. O avanço dessa situação ameaça originar uma atmosfera tóxica de longo prazo nas negociações bilaterais em torno de várias questões delicadas. Entre elas, o intercâmbio de agentes descobertos, a análise dos pedidos para div ulgação de informações sobre cibercriminosos e suspeitos de terrorismo, ou a troca das práticas mais eficazes das agências de inteligência norte-americanas e russas no trabalho com grandes volumes de dados. A lém d isso, a Rú ssia agora pode esquecer as perspe ct ivas de r etor no de Víktor Bout ou outros russos que estão enfrentando processos judiciais nos Estados Unidos. A Casa Branca, por sua vez, perdeu o poder de instigar seus principais valores na Rússia – a
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NATALIA MIKHAYLENKO
EUA e Rússia precisam se engajar para criar clima de colaboração e evitar guerra cibernética
liberdade na internet e a proteção dos direitos dos usuários, gravemente comprometidos pelas revelações de Snowden. Quem sabe quantos segredos mais o “ex-prisioneiro do aeroporto moscovita de Sheremetievo” tem guardado, ou quão difícil será para ele resistir à tentação de compar-
JORGE AMADO, A LOCOMOTIVA Elena Beliakova Tradutora
A
Nenhum livro saía na época sem a benção de Jorge Amado. Caso o prefácio não fosse escrito por ele, havia obrigator iamente menção à sua opinião. Na época soviética todo o sistema editorial encontrava-se sob rígido controle do partido, e os funcionários do PCUS tinham na indicação de Amado a garantia ideológica para um autor desconhecido na União Soviética. Ao tradutor ou redator interessado na publicação de algum autor, bastava trazer um parecer positivo de Amado
Na era soviética, o escritor baiano ditava o que devia ou não ser vertido para a língua russa
Queda do comunismo trouxe mudanças, e hoje autor brasileiro mais popular na Rússia é Paulo Coelho
temporâneos: José de Alencar, Aluísio Azevedo, Castro Alves, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, José Lins do Rego e muitos outros. O aumento do interesse pela literatura brasileira só pode ser explicado pelos esforços de Jorge Amado. Foi ele quem divulgou ativamente a obra de autores brasileiros (principalmente de companheiros de partido), levou escritores à URSS como membros de delegações, indicou livros de seus amigos a tradutores e escreveu prefácios.
para receber a permissão de editá-lo. Além disso, as referências a Amado eram necessárias para atrair a atenção do leitor. Para a massa de leitores soviéticos, os nomes dos mais famosos escritores brasileiros não diziam absolutamente nada. O único autor brasileiro amplamente conhecido na Rússia era e permanece sendo Jorge Amado. Para todos os receptores da literatura brasileira – tradutores, pesquisadores, leitores– Jorge Amado é a pedra fundamental sobre a qual está
cibercrimes e tentativas de ciberataques para reforçar a cooperação na resposta a tais incidentes, bem como fazer uso de uma linha direta para avisar um ao outro sobre alguma emergência. Simbolicamente, os mecanismos de notificação mútua serão parcialmente implementados por meio da já existente linha Moscou-Washington pa ra o av iso de ocorrências com armas nucleares, a mesma usada durante a Guerra Fria. A continuidade dos acordos exemplifica a crescente importância estratégica da cooperação russo-americana no ciberespaço. Os dois lados chegaram a um acordo sobre a questão, mesmo em meio a condições desfavoráveis nas relações bilaterais – embora haja dúvidas sobre até onde essa cooperação seria sacrificada por causa do recente escândalo diplomático. Apesar do efeito das revelações do ex-agente da CIA, os Estados Unidos e a Rússia precisam se engajar para estabelecer um clima de boa vizinhança e colaboração no ciberespaço, ainda que envolto por críticas e acusações pesadas. A colaboração pode ser reduzida ou suspensa em alguns aspectos, mas as medidas de confiança devem ser desenvolvidas como um dos mecanismos viáveis para prevenir uma guerra cibernética. Isso é algo que tanto o Kremlin como a Casa Branca entendem bem.
tilhá-los com os serviços de inteligência russos? Mas tudo é muito complexo e dramático. Será que o asilo concedido a Snowden realmente traça uma linha ve r me l h a n a s r e l açõ e s russo-americanas? Em primeiro lugar, a decisão russa de conceder asilo temporário a Snowden envia
à Casa Branca um sinal claro de que a Rússia está disposta a negociar ainda mais: “Podemos abrigá-lo temporariamente, mas deixe-nos pensar além disso”. Cabe lembrar a condição, anunciada pelo presidente Vladímir Pútin no mesmo dia em que os boatos sobre a possibilidade de asilo vieram à
ba sead a a l it e r at u r a brasileira. E, como se sabe que todas as traduções de literatura soviética entre a década de 1940 e 1950 eram feitas pela editora Paz, dirigida por Amado, podemos afirmar que ele foi a verdadeira locomotiva das relações literárias entre os dois países. O terceiro período, o pós-amadiano, teve início com a derrocada da União Soviética e estende-se até os dias de hoje. Junto com o país desmoronou também o sistema est at a l de publ icação de livros. As velhas editoras desapareceram, caíram as tiragens (se na União Soviética a tiragem de 500 mil exemplares era um fenômeno comum, agora 5 mil é uma boa edição), decaiu a cultura de publicação de livros e, finalmente, a estrutura ideológica virou em 180 graus: o comunismo foi proibido. Tudo isso não poderia deixar de se refletir nas traduções de brasileiros para a língua russa. Jorge Amado deixou de ser persona grata. Claro que seus livros ainda são editados, pois os russos não deixaram de lê-los. Mas a escolha é sempre por obras menos ideológicas: Dona Flor, Tereza Batista, Sumiço da Santa. Livros como “O Cavaleiro da Esperança” ou “Subterrâneos da Liberdade” são eliminados dos planos editoriais. Infelizmente, hoje outro escritor brasileiro é mais desejado pelos editores: Paulo Coelho. E a tiragem de seus livros já superou a de Jorge Amado no país, apesar de seu único valor estar e m se r cont e r râ ne o do último.
O EXCEPCIONALISMO NORTE-AMERICANO M. K. Bhadrakumar Analista político
m trecho do recente artigo opinativo do presidente r usso V lad í m i r P úti n sobre a Síria publicado no “The New York Times” causou grande agitação nos círculos intelectuais. Foi o trecho fi nal, no qual escreveu sobre o excepcionalismo americano. “É perigoso encorajar pessoas a se verem como excepcionais, seja qual for a motivação”, lê-se ali. “Existem países grandes e pequenos, ricos e pobres, aqueles com longas tradições democráticas e os que continuam em busca do caminho para a democracia. Suas políticas também são diferentes. Somos todos diferentes, mas quando pedimos a bênção de Deus, devemos nos lembrar que Ele nos criou como iguais.” Pútin não questionou explicitamente as credenciais
U
dos EUA para reivindicar o excepcionalismo, mas essa é a questão primordial. A crença americana em sua própria excepcionalidade não resiste à análise. Os EUA possuem uma média de 87 assassinatos por dia. São recordistas mundiais no número de guerras e atos de agressão. O país foi o único a usar armas nucleares. Tudo isso faria dos EUA “excepcionais”, no sentido negativo. Washington cobra “valores” de forma seletiva. Existe um critério para o Irã e outro para a Arábia Saudita; uma reação ao Bahrein e outra completamente diferente à Síria; normas exigentes para Gaza, mas total condescendência para os atos de violência de Israel. A noção de excepcionalismo impeliu os EUA a agir à revelia da lei internacional e da Carta das Nações Unidas, o que abre precedentes perigosos e enfraquece o organismo mundial que continua sendo o único fórum dis-
IORSH
o estudar todo o corpo de traduções da literatura brasileira para o russo, podemos chegar à conclusão de que sua história no país divide-se precisamente em três períodos: o pré-amadiano, o de Jorge Amado e o pós-amadiano. O primeiro período prolongou-se de 1826 a 1947. Nesses 120 anos, porém, somente 15 obras de autores brasileiros foram vertidas para o russo. A maioria dos leitores do país ainda não imaginava que a literatura brasileira existia. A segunda etapa foi totalmente determinada pelas obras e atividades políticas de Amado. Ela teve início em 1948, quando foi publicada a primeira tradução de Jorge Amado para a língua russa (“São Jorge dos Ilhéus”), e terminou em 1991, com uma mudança radical da política editorial por ocasião da derrocada da União Soviética. Nesses 33 anos, os leitores russos conheceram a obra de 132 escritores brasileiros: prosadores, poetas e dramaturgos. Nesse período, foram editados 68 livros de brasileiros, entre os quais oito antologias em prosa e verso, obras reunidas de contos, crônicas e lendas (sem contar os livros do próprio Amado). Todas as obras mais significativas, tanto de clássicos
como de contemporâneos que contribuíram para o desenvolvimento da literatura brasileira, foram levadas à Rússia então. Nesse período, os leitores russos podiam julgar os autores brasileiros não por trechos e alguns contos, como antes, mas por romances traduzidos na íntegra, coletâneas de contos e antologias poéticas. Os autores mais destacados foram apresentados por grandes obras. Isso se refere a clássicos fundadores da literatura brasileira e a con-
tona, de que o foragido deveria “parar de prejudicar os i nte re s se s dos Est ados Unidos”. O consentimento de Snowden em seguir essa regra está implícito na aceitação do asilo. O governo russo também não vai perder o interesse em acessar as informações que o ex-agente da CIA está segurando, embora o acordo atual sugira que tais dados continuarão a ser um ás na manga diplomática da Rússia – a ser usado em uma hora difícil nas negociações bilaterais com Washington–, e não será compartilhado com a comunidade internacional. É ainda mais importante ter em mente que as relações russo-americanas são muito diversificadas e estratégicas para serem deixadas de lado por causa de um único escândalo, independentemente de quão forte possa ressoar. Apesar da tendência negativa nas relações bilaterais com o fim do “reset”, uma série de questões demonstra a enorme capacidade de cooperação duradoura e desenvolvimento construtivo em assuntos intimamente relacionados com Snowden. A cooperação no ciberespaço, que apresentou recentemente um progresso substancial, é exemplo disso. Em 17 de junho, um dos pontos de discussão da Cúpula do G8, na Irlanda, foi a declaração conjunta emitida por Pútin e Obama sobre as medidas de reforço da confiança no ciberespaço, que incluíram três acordos. Estados Unidos e Rússia são agora obrigados a manter contato constante sobre
Oleg Demidov é coordenador de projetos em segurança e governança no Centro de Estudos Políticos da Rússia.
ponível para promover a paz e o desenvolvimento. A alegação do presidente Barack Obama de que os ideais e princípios americanos fazem o país ser “diferente” e “excepcional” constitui uma doutrina perigosa. A crença em si mesmo como sendo algo “excepcional” é sempre preocupante devido ao perigo de impelir ao uso excessivo da força. Baía de Guantânamo e Abu Ghraib são lembranças vivas de crimes horríveis cometidos pelos EUA no impulso de ações empreendidas sob o pretexto do excepcionalismo. As intervenções militares na soberania dos países frequentemente acabam agravando situações que já eram complicadas – Haiti, Libéria, Somália, Afeganistão e Iraque são exemplos. É isso que faz do problema da Síria uma questão de grande importância. Indiscutivelmente, o excepcionalismo americano abriu o caminho para a trágica guerra civil na Síria. Graças à oportuna iniciativa diplomática da Rússia, outra intervenção militar direta do governo de Obama foi impedida. Agora, é preciso encontrar uma forma de a Síria recuperar sua excepcional identidade de sociedade secular e plural onde muitas identidades religiosas e étnicas coexistiam pacificamente. M. K. Bhadrakumar é um ex-diplomata indiano, articulista e analista de relações internacionais.
Elena Beliakova é escritora e tradutora de literatura brasileira para o russo.
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Política e Sociedade
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Memória O testemunho da invasão do Parlamento
Um jornalista no violento outubro de 1993 moscovita ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Correspondente da BBC em Moscou de 1988 a 1995, Grigóri Nekhorochev foi testemunha dos acontecimentos na Casa Branca em Moscou (então Parlamento, hoje sede do governo russo), e no Centro de Televisão de Ostánkino durante a tentativa de golpe de 1993. A seguir, o seu relato: Na noite de 24 para 25 de setembro de 1993, fiquei sentado em um corredor da Casa Branca, encostado à parede, à espera do destino. Em ambas as pontas do corredor viam-se postos de combate improvisados, com jovens de 25 a 30 anos em roupas militares camufladas e armados de kalashnikovs. Eram do [movimento ultranacionalista armado] UNR (União Nacional Russa), de Aleksandr Barkachov. Fui detido por volta das 2h, quando achei melhor deixar a Casa Branca e dirigir-me ao escritório da BBC, de onde transmitiria uma reportagem sobre o quarto dia de confrontos entre o Soviete Supremo da URSS e o presidente Iéltsin. Na época, celulares eram raridade e os telefones fixos do Soviete Supremo estavam desligados, o que me levava a sair a cada duas ou três horas para uma cabine da cidade ou para nosso escritório quando tinha necessidade de transmitir a Londres entrevistas concedida por gente do Parlamento rebelde. Nos primeiros quatro dias não tive nenhum problema. Mas na noite de 25 de setembro, os corredores do Parlamento foram invadidos por centenas de elementos arma-
Um miliciano disse para mim: “Temos de te fuzilar. Você é um inimigo. Por sinal, bastante perigoso” uma hora e meia, sob a luz de lâmpadas de emergência. A eletricidade também fora cortada. Além disso, desligaram a água, e os banheiros começavam a cheirar mal. Por volta das 4h, regressou o militar que primeiro havia falado comigo: “Tenho ordens de Rutskói para te deixar ir embora de manhã. Tem sorte, vai viver por enquanto”. Levou-me para um gabinete, onde, sobre folhas espalhadas com o timbre do
Servindo o inimigo Eu não tinha uma ponta de sono. O mesmo homem da UNR perguntou-me por que razão, sendo eu russo, trabalhava para o inimigo, para os ingleses. “Os estadunidenses e os ingleses são os maiores inimigos da Rússia. Há anos tentam destruir nosso secular modo de vida comunitário, porque têm medo da grande missão religiosa ortodoxa que temos no mundo. Procuram corromper-nos com pornografia e com a permissibilidade. Você vê televisão? Agora só passam cenas porcas.” Não tinha vontade de discutir, estava assustado, por isso lhe disse que era um mero repórter, que as questões filosóficas não me importavam, pois minha função era contar o que via. O que acontecia comigo era algo frequente. Com a aproximação do final trágico, crescia a agressividade contra os jornalistas. Soube que era possível instalar-se, por pouco dinheiro, em um dos apartamentos junto à cena das operações. Escritórios provisórios da CNN, ABC e CBC surgiram inesperadamente em casas de moscovitas situadas nos
ITAR-TASS
GRIGÓRI NEKHOROCHEV
Parlamento, dormiam dois militares.
Vista privilegiada dos acontecimentos na Casa Branca de Moscou, que então era a sede do Parlamento
AFP/EASTNEWS
dos da UNR, que estabeleceram novas regras. “Um correspondente da BBC”, disse um deles, depois de ver a minha credencial emitida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. “Temos que te fuzilar, você é um inimigo, e bastante perigoso.” Ninguém quis ouvir minhas explicações. Fui revistado, tiraram-me a bolsa com o gravador e documentos e me mandaram sentar encostado a uma parede, numa zona vigiada por dois homens. Fiquei assim durante
Grigóri Nekhorochev, correspondente da BBC, descreve os momentos de tensão que passou na tentativa de golpe.
Milicianos, com escudos, tentam conter milhares de manifestantes pró-comunistas em Moscou
pisos superiores. É por isso que há tantas e tão excelentes fotografias do assalto ao edifício, que na altura abrigava muitos departamentos da Câmara Municipal de Moscou e dos confrontos que se sucederam nas praças adjacentes à Casa Branca. Na noite de 3 de outubro, a ação se transferiu para a Estação de Televisão Os-
tánkino, que se converteu no alvo dos partidários armados do Soviete Supremo. Entre a multidão encontravam-se mais de uma centena de jornalistas. Da cobertura da Centro de Televisão, combatentes das forças especiais começaram a disparar. Lembro-me de ter visto, a 200 metros, Zurab Kodalachvíli, da agência
LINHA DO TEMPO
Crise política e bombas contra o Parlamento russo Março de 1993 • Deputados tentam destituir Boris Iéltsin, que passa por um processo de perda de popularidade. A iniciativa fracassa: os parlamentares não conseguem dois terços dos votos. Referendo sobre moção de confiança ao presidente também não tem êxito.
21 de setembro de 1993 • O Presidente Iéltsin assina decreto para dissolver o Parlamento. No dia seguinte, os deputados declaram que o decreto vai contra a Constituição e depõem Iéltsin. Partidários de ambos os lados se dirigem à Casa Branca de Moscou.
23 de setembro de 1993 • Congresso vota pela nomeação do então vice Aleksandr Rutskói para presidente. O abastecimento de energia elétrica e de água da Casa Branca é cortado, e o edifício é cercado pelo Exército, obrigando os deputados a se dispersar.
03 de outubro de 1993 • Comunistas e nacionalistas rompem cordão de isolamento e ocupam a Casa Branca, dando início ao pior rompante de violência de rua em Moscou desde a Revolução. Na manhã seguinte, tropas leais a Iéltsin bombardeiam a Casa Branca.
Reuters, e Stefan Bentura, da AFP, tentando levantar do chão Pierre Celerier, correspondente da mesma agência. Quis me aproximar, mas a multidão me impediu. Mais tarde, soube que Celerier fora ferido, atingido nas costas. Foram mortos também Rory Peck, da alemã ARD, e Yvan Skopan, do canal francês TF1. Peck dava-se bem com toda a gente, todos gostavam dele. Com a sua inseparável câmera, esteve em quase todos os pontos de conflito da ex-URSS. Após uma noite sem dor-
“A bala entrou pela janela e me feriu em cima do olho. Senti o sangue escorrendo pelo rosto” mir, a maior parte dos jornalistas regressou à Casa Branca: corria a informação de que o ataque seria ao amanhecer. Realmente, às 6h, uma coluna de tanques vinda da avenida Kutúzovski aproximou-se e começou a abrir fogo. Por volta do meio-dia, depois de transmitir uma dezena de reportagens de cabines telefônicas, eu caí de cansaço. Lembrei que um norte-americano conhecido tinha um apartamento alugado no último piso de um dos prédios altos da avenida Nova Arbat. Em sua casa encontrei Paul Klebnikov, correspondente da “Forbes”. Olhamos para a rua durante horas
em silêncio, como se fosse palco de um teatro. Khlebnikov tomava notas de vez em quando, enquanto eu ia à cozinha de meia em meia hora para transmitir pelo telefone. Tínhamos ali a Casa Branca como fosse na palma da mão.
Tiroteio na Casa Branca Por volta das 3h, a Nova Arbat se encheu de carros de combate. Nos telhados, aqui e ali, começaram a aparecer armas de fogo. As metralhadoras dos blindados puseram-se a varrer os telhados. De repente, ouvimos responder também com fogo do nosso telhado para o corredor e nos atiramos no chão. Nesse momento, uma bala entrou pela janela, ricocheteou no teto e no chão. Um fragmento me feriu em cima do olho. Senti o sangue escorrendo. A porta vizinha se abriu e nos convidaram a entrar. Um casal e uma criança de uns sete anos estavam sentados no corredor, a parte mais segura da casa. Quando nos juntamos, o garoto viu o sangue e começou a gritar: “Mataram o homem, mãe! Mataram o homem!” Eu respondi depressa: “Nada disso, estava bêbado, tropecei e caí.” A criança sorriu. Khlebnikov exclamou: “Eis o fim do poder soviético!” Filho de um emigrante, regressou anos depois à Rússia para ser redator-executivo da “Forbes” russa. Mataram-no na nova Rússia, não soviética.
Os desafios da reforma da educação CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1
De volta à URSS Apesar de pequenas mudanças, o sistema educacional na Rússia moderna não difere muito do soviético. As crianças começam a escola em torno dos sete anos de idade e passam as quatro primeiras séries com o mesmo professor e colegas de classe. A educação primária é considerada forte, mas, depois de os alunos passarem para o ensino secundário, as diferenças entre o currículo da Rússia e o de escolas de outros pa íses f ica m ma is evidentes. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Os maiores desafios das escolas russas EM MAIO PASSADO, O INSTITUTO DE PESQUISA INDEPENDENTE CENTRO LEVADA PEDIU A PESSOAS EM 45 REGIÕES DO PAÍS PARA CITAR OS MAIORES DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS ESCOLAS RUSSAS NOS DIAS DE HOJE. OS ENTREVISTADOS PUDERAM SELECIONAR MAIS DE UMA OPÇÃO.
© MIKHAIL MOKRUSHIN / RIA NOVOSTI
dade na mesma cidade em que haviam crescido. “Antes do EGE, os estudantes que viviam fora das grandes cidades raramente tentavam entrar em algumas das melhores instituições”, diz Abánkina. Desde a primavera passada, porém, todos os estudantes do último ano devem fazer um exame unificado, o GIA (da sigla em russo, Certificação Final do Estado) antes de continuar os dois ú ltimos anos do ensino médio. Os alunos que não passam no exame continuam os estudos em uma escola profissionalizante.
PESQUISA
Professores enfrentam novo ciclo de reformas educacionais. Alunos preferem jogar no celular
Econômico) em 2009, revelou que estudantes russos na faixa dos 15 anos não têm capacidade de solucionar problemas em um contexto real e refletir sobre o significado do que leem, em comparação com seus pares de outros países. Os resultados da avaliação foram particularmente surpreendentes porque os estudantes russos costumam rondar o topo dos rankings internacionais. O estudo Timms (da sigla em inglês, Tendências no Estudo de Matemática e Ciências), conduzido em 2011, inseriu os
alunos russos da quarta e oitava séries no top 10 em todas as categorias entre os 57 países analisados. Abánkina aponta que as razões por trás dos resulta-
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FATOS SOBRE AS ESCOLAS NA RÚSSIA
dos recentes são claras. “A capacidade de aplicar o que se sabe, de pensar, realizar pesquisas e trabalhar em projetos continuam a ser o nosso ponto fraco. E já não
Há 1.457 escolas públicas em Moscou, frequentadas por 856 mil estudantes entre a 1ª e 11ª série. Em comparação, São Paulo tem 2.600 escolas públicas, com 1,6 milhão de alunos inscritos. Moscou tem 1.851 pré-escolas, com 423 mil crianças em idades entre 18 meses e 6 anos.
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De acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o ano letivo na Rússia dura, em média, 164 dias, contra os 200 dias letivos brasileiros impostos pela Lei de Diretrizes Escolares.
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Quase 30% das escolas russas foram fechadas entre 2000 e 2011 em razão de mudanças demográficas. Um pequeno baby boom na década de 2000 resultou em protestos sobre a falta de vagas. Autoridades que apoiaram o fechamento da escolas agora lamentam a decisão precipitada.
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tínhamos isso nas escolas soviéticas.” As reformas educacionais que representarão uma ruptura com o passado soviético só foram lançadas agora, na forma da nova Lei sobre Educação, que entrou em vigor em 1º de setembro deste ano.
Novidades à vista A implementação do novo sistema em todo o país só será concluída em 2020. A partir de então, todos os alunos do ensino médio escolherão alguns temas para estudo em profundidade e selecionar outras disciplinas optativas. Outra parte da reforma envolve a consolidação das escolas. A crise demográfica no país resultou na falta de alunos em muitas regiões. Assim, entre 2000 e 2011, quase 30% das escolas russas foram fechadas. Algumas escolas de pequeno porte passaram a compartilhar uma administração única ou, como no caso da escola 685 de São Petersburgo, onde Svetlana Levkovets leciona, duas escolas foram agrupadas em um único prédio. O novo edifício está localizado perto de uma via movimentada, bem diferente do pátio arborizado onde sua antiga escola ficava. Mesmo assim, Levkovets mantém o otimismo. “É interessante ver como o novo padrão vai funcionar”, afirma. “Na pior das hipóteses, nada mudará.”
Economia e Negócios
GAZETA RUSSA WWW.GAZETARUSSA.COM.BR
Futuro Rússia investe no exterior para diversificar economia e estimular setores de inovação dentro de casa
US$ 1,5 bi para atrair tecnologia Mais de 30 empresas, como Boeing, Cisco Systems, General Electric e Samsung, já assinaram acordos de pesquisa e desenvolvimento com Skôlkovo - 28 delas, a maioria americanas, pretendem investir US$ 500 milhões. “A Fundação Skôlkovo é um enorme esforço do governo para diversificar a economia”, diz Vekselberg. Os US$ 500 milhões serão usados para criar centros de pesquisa e desenvolvimento corporativo. O objetivo é ter 300 acadêmicos em tempo integral no Skoltech até 2020.
Para impulsionar o crescimento com base em inovação, Estado injeta dinheiro em fundos de risco e startups dos EUA. DAVID MILLER ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Iniciativa pode estimular empreendedorismo, mas Estado deve criar espaço para capital privado
inovação e comunidade de empreendores locais”, diz o diretor-executivo do fundo, Ígor Agamirzian. “A parceria com investidores de risco dos EUA é um importante meio de aumentar o conhecimento em negócios e fo-
Os investimentos da Rusnano
mentar a visão tecnológica entre as startups russas.” A Rusnano fez investimentos semelhantes no Reino Unido, China, Israel e Itália. A empresa injetou quase US$ 4,2 bilhões na Rússia e aplicou US$ 6,3 bilhões em mais de 100 empreendimentos de alta tecnologia em diversos países, em setores como microeletrônica, tecnologias limpas, eficiência energética e materiais avançados. Nos EUA, os gastos estão concentrados em ciências da vida e eletrônica, com uma parcela menor destinada a energia e nanocoberturas. A empresa investiu em 18 startups e estabeleceu parcerias com quatro grupos de capital de risco nos EUA. A iniciativa mostra os esforços russos para tentar transformar os lucros com petróleo e gás natural em um modelo de desenvolvimento
Ígor Agamirzian
PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO SKÔLKOVO
DIRETOR DA RUSSIAN VENTURE COMPANY
PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO
Um robô em ação durante feira tecnológica Innoprom 2013, na Rússia central
Víktor Vekselberg PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO
O RVC criou uma subsidiária em Boston que ajuda empresários russos a penetrar no ambiente das finanças e comércio norte-americano. A unidade capacitou empresas russas para o MassChallenge de Boston, o maior concurso de startups do mundo, e doou US$ 100 mil para o evento deste ano. “Nossa missão é construir uma ponte econômica entre os EUA e a Rússia”, diz o chefe do escritório de Boston, Axel Tillman. O RVC-EUA quer aumentar a presença da Rússia entre as comunidades de startups americanas. A Rússia apresentou o segundo maior número de candidatos para o MassChallenge 2013, atrás apenas dos EUA. Mais de 50 startups russas foram inscritas de um total de 1.200, provenientes de 39 países. Q u at r o e qu ipe s r u s s a s foram aprovadas. “O objetivo do RVC nos EUA é sobretudo desenvolver relações com o setor de
FRASES
© IAKOV GLINSKI / RIA NOVOSTI
Assessoria nos EUA
Nanotecnologia
NATALIA MIKHAYLENKO
Empresas de investimento do gover no canalizaram US$ 1,5 bilhão para startups e fundos de capital de risco dos EUA, na tentativa de construir laços comerciais e atrair capital privado e know-how para a indústria russa. Essa é mais uma iniciativa para acelerar o desenvolvimento do setor de tecnologia e diversificar a economia do país, centrada na exportação de petróleo e gás. A Rusnano, estatal de tecnologia estimada em US$ 10 bilhões, é responsável pela maior parte do investimento, US$ 1,36 bilhão. Outro fundo estatal, o RVC (Russian Venture Company), injetou US$ 100 milhões. “Para nós, investidores, o objetivo número um é fazer dinheiro, para o governo é dar suporte à comercialização de tecnologias na Rússia”, diz o diretor-executivo da unidade norte-americana da Rusnano, Dm ítr i Akhanov.
Estamos estabelecendo parcerias com empreendedores e acadêmicos dos EUA. Precisamos mais de conhecimento e experiência do que de seus investimentos. Os parceiros norte-americanos de Skôlkovo desempenham um papel fundamental nesse esforço.”
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econômico sustentado pela inovação. “O mercado de capital de risco está crescendo rapidamente na Rússia, mas ainda falta experiência e conhecimento em negócios. Desenvolver laços com empresas americanas vai ajudar a compensar o déficit”, diz Agamirzian. O país também investiu na Fundação Skôlkovo, criada com a missão de promover o
crescimento econômico via inovação e criar pontes com acadêmicos e pesquisadores estrangeiros. Comandada pelo investidor Víktor Vekselberg, Skôlkovo criou, nos arredores de Moscou, o Skoltech (Instituto de Tecnologia de Skôlkovo), uma universidade em língua inglesa em parceria com o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
O objetivo da RVC nos EUA é sobretudo criar relações entre o setor de inovação e a comunidade de empreendores locais. A parceria com investidores de risco dos EUA é um meio importante para aumentar o conhecimento em negócios e fomentar a visão tecnológica.”
Associando-se a companhias estrangeiras de nanoteclogia, a Rusnano atrai centros de pesquisa ou produção das mesmas na Rússia. Hoje, 30 joint-ventures estão em operação. Nove das 24 drogas aprovadas pela FDA, a agência reguladora de alimentos e remédios dos EUA, passaram por testes clínicos na Rússia no terceiro trimestre deste ano. O diretor-geral da companhia, Anatóli Tchubais, é um ex-vice-premiê que desempenhou papel-chave na privatização de indústrias soviéticas na década de 1990. Criada em 2007, a Rusnano quer gerar, até 2015, negócios de US$ 30 bilhões. Além disso, a companhia investiu US$ 52 milhões em duas empresas de pesquisa de produtos biofarmacêuticos de Boston, a Bind Biosciences e a Selecta Biosciences, que abriram subsidiárias na Rússia. A Selecta pesquisa uma vacina contra a dependência de nicotina. A Bind desenvolve nanopartículas terapêuticas para tratar tumores. Dixon Doll, da Menlo Park, empresa de capital de risco da Califórnia, acredita que a iniciativa do governo possa estimular o empreendorismo. Mas, diz ele, o Estado deve criar espaço para o capital privado florescer. “O governo pode ser muito útil para estimular o ambiente empresarial”, afirma Doll. “Precisamos mais do conhecimento e da experiência americana do que dos investimentos deles”, afirma Víktor Vekselberg, de Skôlkovo. “Temos grandes planos e, trabalhando em conjunto, poderemos tor ná-los realidade.”
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2009/10, quando sofreu uma desaceleração devido às adversidades climáticas. Ao mesmo tempo, ampliaram-se as áreas semeadas de beterraba sacarina. A Rússia tem capacidade produtiva para processar o açúcar bruto. Para tanto, conta com mais de 70 empresas herdadas da ex-União Soviética. Segundo estudo especializado do ICMA, a capacidade produtiva disponível permite processar até 8,8 milhões de toneladas de açúcar bruto de beterraba e até 8,5 milhões de toneladas de açúcar bruto de cana. Com o aumento da produção interna, o país reduziu
drasticamente as importações de açúcar. Enquanto na temporada de 2004/05 o país importou mais de 3,5 milhões de toneladas de açúcar bruto e 671 mil toneladas de açúcar branco, em 2011/12, esse número caiu para 419 mil toneladas de açúcar bruto e 284 mil toneladas de açúcar branco.
Aumento necessário Na próxima temporada de comercialização, porém, a Rússia terá que aumentar a importação de açúcar bruto para 720 mil toneladas e a de açúcar branco para 390 mil toneladas, mesmo que o cenário interno seja otimista, disse o representante do ICMA. Os preços do açúcar no país
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também subirão, apesar da grande oferta do produto no mercado mundial. O superávit global de açúcar é estimado em 4,7 milhões de toneladas, de acordo com analistas da consultoria especializada Kingsman SA.
ano passado e nos anos anteriores. “A baixa tradicional dos preços entre agosto e outubro começou muito mais tarde e foi menos substancial do que nos anos passado e retrasado. Se as perdas de safra forem grandes, a alta dos preços, que se inicia tradicionalmente em novembro e dura até julho, começará mais cedo e será muito maior”, acredita Ivanov.
Queda de preços interna e superávit global de commodity podem contribuir Mercado sazonal para a importação A produção e o consumo de Atualmente, os preços russos estão sob pressão da nova safra e são significativamente mais baixos do que em 2010, quando o país foi atingido por uma forte seca. Eles são, porém, mais altos do que no
açúcar na Rússia são sazonais. O açúcar de beterraba é produzido principalmente entre setembro e novembro. O de cana, entre março e julho. O maior consumo costuma ser registrado no verão e no quarto trimestre, e se refere
Tudo que você sempre quis saber sobre sexo na União Soviética
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Brasil vai vender mais açúcar bruto à Rússia
Maior consumo russo do produto está no varejo: 45%. Costumes locais tornam vendas sazonais
ao varejo - cerca de 45%. A tradição de se fazer conservas com frutas do próprio pomar é forte na Rússia, razão pela qual as donas de casa compram açúcar em grandes quantidades. A adesão da Rússia à OMC (Organização Mundial do Comércio) não teve impacto ne-
gativo direto sobre o regime de importação de açúcar. Cinco fabricantes dominam mais de 50% do mercado interno: Prodimeks, Rusagro, Razguliai, Sucden e Cargill. Para o analista do FIBO Group, Vassíli Iakímkin, as mudanças deste ano serão benéficas para o setor, que sofre
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com a queda nos preços. “Em 2012, os preços da matéria-prima seguiram uma tendência de baixa. Muitos produtores colheram mais de 10 toneladas por hectare e não conseguiram vender sua safra para as usinas. Isso levou à redução da área de plantação da beterraba sacarina ”, disse.
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