2013 11 02 fo all

Page 1

O melhor da

gazetarussa.com.br

PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES

www.rbth.ru

Motoqueiros comportados

Desigualdade de renda

Grupo ganha notoriedade após aparições com presidente russo e defende Igreja contra Pussy Riot

Estudo revela que 35% da riqueza do país está concentrada nas mãos de apenas 110 pessoas

ITAR-TASS

QUARTA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO DE 2013

P.3

P.2

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), La Nacion (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

NOTAS

Revolta Onda de protestos invade a capital após morte de jovem russo por trabalhador estrangeiro

País lidera construção de shoppings na Europa

Imigrantes ilegais contra a parede

A Rússia está em primeiro lugar na Europa em termos de construções de shoppings centers, de acordo com ranking recém-divulgado pela consultoria de imóveis Cushman & Wakefield. A proporção entre o número desses prédios e o de clientes, porém, ainda é pequena. Quando o assunto são centros comerciais em operação, a Rússia ficou em terceiro lugar, atrás da Turquia e do Reino Unido. Os russos podem ultrapassar os britânicos até o final de 2014, quando, acredita-se, haverá quase 19 milhões de metros quadrados destinados ao varejo na Rússia. O país ocupa apenas o 28º posto na Europa em espaço comercial por cidadão, com 111 metros quadrados de lojas para cada mil pessoas. The Moscow Times

ITAR-TASS

Hulk é jogador mais bem pago do futebol russo

PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO

O portal russo Sports.ru elaborou um ranking com os 10 jogadores mais valorizados dos gramados no país. O atacante brasileiro Hulk, do Zenit São Petersburgo, e o alemão Kevin Kuranyi, do Dinamo Moscou, ficaram no topo da lista. Hulk, cuja transferência para o Zenit custou 60 milhões de euros, chegou a São Petersburgo no outono de 2012. Em pouco tempo, tornou-se imprescindível para a equipe sob comando do italiano Luciano Spalletti. Comentaristas russos garantem que o brasileiro vale o alto investimento, e que é atualmente o “jogador mais brilhante do futebol russo”.

IÚLIA PONOMAREVA GAZETA RUSSA

No dia 13 de outubro, canais de TV russos transmitiram imagens de milhares de pessoas ocupando o bairro residencial de Biriulevo, no sul de Moscou, enquanto destruíam um hipermercado local e invadiam um sacolão. Os manifestantes viraram carros estacionados e cercaram vendas supostame nt e pe r t e nce nt e s a imigrantes. A multidão enfurecida era, em sua maioria, composta

Mão de obra barata, trabalhadores vindos da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) entram no país sem necessidade de visto e são vítimas de preconceito

por jovens nacionalistas de toda a capital. Eles chegaram ao local para apoiar os 40 moradores de Biriulevo que haviam se reunido do lado de fora da delegacia local no início do dia exigindo que a polícia encontrasse o assassino de Ígor Scherbakov, um russo étnico de 25 anos que foi esfaqueado na noite de 10 de outubro. O rosto do assassino de Scherbakov foi registrado pelas câmeras de vigilância e, a partir dessas imagens, passou-se a crer que fosse um nativo do Cáucaso. Cerca de 400 pessoas foram detidas após o tumulto. Dois dias depois, as demandas dos

manifestantes foram fi nalmente atendidas. A investigação do assassinato de Scherbakov avançou e o suspeito foi localizado. O armazém foi fechado por violação das normas de saneamento.

Xenofobia em ascensão O aumento da xenofobia na Rússia se tornou visível na segunda metade dos anos 1990. “Após o início das reformas econômicas e a frustração causada pelo desmantelamento do sistema social da União Soviética, as pessoas começaram a se autoafirmar projetando seus complexos pessoais e antipatias sobre os estrangeiros. O processo se agravou durante a

década de 2000, quando o governo definiu um plano para reviver as tradições nacionais e o conservadorismo”, explica Lev Gudkov, diretor do instituto de pesquisas Centro Levada. Sociólogos acreditam que a Rússia iria se beneficiar caso atraísse mais imigrantes, compensando, assim, o constante declínio na população do país. “Observamos uma tendência demográfica negativa desde 1992. A população russa diminuiu em 13,4 milhões de pessoas nos últimos 20 anos, mas, devido à imigração, o déficit efetivo foi de apenas 5,3 milhões de pessoas”, diz Anatóli Vichnévski, diretor do Ins-

tituto de Demografia da Escola Superior de Economia. Um dos motivos para as tensões é, porém, a entrada ilegal de mão de obra barata estrangeira. As cotas para a contratação de imigrantes são significativamente menores do que a atual demanda do mercado. Neste ano, a cota permanece em 1,7 milhões de pessoas. Segundo Gudkov, no entanto, a economia da Rússia precisaria de 4,5 a 5 milhões de trabalhadores estrangeiros por ano. Os acontecimentos em Biriulevo deram novo impulso a discussões sobre a possibi-

Artur Nanian, Rossiyskaya Gazeta

Metrô poderá ser pago com agachamento

CONTINUA NA PÁGINA 3 © RIA NOVOSTI

Governo revê política de imigração após tumultos que se seguiram a acontecimentos na periferia de Moscou.

Facilidade Queda de vistos aumentou trânsito de pessoas

Fugindo de crises, russos buscam Brasil FABRÍCIO YURI VITORINO ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

“Quero ir para o Brasil, para os distantes litorais.” Qual russo não conhece o clássico da música popular de seu país e nunca sonhou em colocá-lo em prática? Agora ele se torna ainda mais atual, quando o Brasil volta à mira dos que desejam tentar a sorte fora do país.

De acordo com dados do último censo do IBGE, de 2010, cerca de 25 mil russos vivem no Brasil. O crescente aumento no interesse pelo turismo, impulsionado sobretudo pela queda do regime de vistos para esse fim, tem ajudado a fomentar a migração. Segundo Isabela Alves, gerente da agência de turismo Superior Plus, especializada em trazer russos para o Brasil há mais de 15 anos, o ‘descobrimento’ do Brasil após os turbulentos anos 1990 foi tímido, mas teve um boom em 2005.

“Tenho clientes que já vieram várias vezes ao Brasil. Russos são incríveis, não têm medo de nada. Eles chegam, só falando a língua deles, e fazem o que têm que fazer. São muito adaptáveis”, diz.

REGINALDO COSTA TEIXEIRA

Em cinco anos, de 2002 a 2007, o fluxo turístico de russos no Brasil cresceu quase 300% – e muitos chegaram para ficar.

Uma nova e exclusiva máquina de venda de bilhetes será instalada na estação de metrô Vistavotchnaia, em Moscou, com o objetivo de promover hábitos saudáveis na vida da população da capital. Apesar de semelhante a outras máquinas ali dispostas, a novidade é que o equipamento vai dispensar um bilhete gratuitamente para quem fizer 30 agachamentos, de acordo com um comunicado do Comitê Olímpico da Rússia.

4 de dezembro

Crise pós-soviética De 2002 a 2007 o fluxo turístico de russos no Brasil cresceu quase 300%, de acordo com dados da Embratur. Mas a crise de 2008 paralisou o processo, que só foi normalizado a partir de 2011, quando a companhia

The Moscow News

russa Transaero chegou até mesmo a testar um voo direto entre Moscou e Rio de Janeiro. Para Ângelo Segrillo, professor de História da Universidade de São Paulo (USP), especializado em Rússia, o êxodo se tornou

uma alternativa após as seguidas crises econômicas dos anos 1990. Segundo ele, o clima também pode ser determinante na escolha pelo Brasil. Afinal, acostu mados a u m

Russos têm facilidade de se adaptar a clima e língua do país

Próxima edição

CONTINUA NA PÁGINA 3

Leia as notícias mais fresquinhas no site

www.gazetarussa.com.br


Opinião

GAZETA RUSSA WWW.GAZETARUSSA.COM.BR

GREENPEACE E A QUESTÃO DA SOBERANIA RUSSA Fiódor Lukianov ANALISTA POLÍTICO

caso envolvendo a ONG internacional Greenpeace no mar de Petchora tornou-se um escândalo mundial. Não por reação de um ou outro governo, nem pela importância do Ártico para o quadro geopolítico no futuro próximo. Na verdade, um quebragelo sob bandeira holandesa “navegou” pelas conturbadas águas que separam um Estado soberano da força denominada sociedade civil, que cada vez mais questiona as funções e os direitos dos governos. Embora drástica, a resposta de Moscou às ações rotineiras do Greenpeace visou, sobretudo, salvaguardar a soberania do Estado russo, que continua a ser um alicerce de sua estabilidade internacional. Os ecologistas partem de uma premissa contrária: o bem comum e a responsabilidade conjunta nada têm a ver com fronteiras e jurisdições nacionais. O Greenpeace segue uma abordagem que, no contexto político, é chamada de “responsabilidade pela proteção”. Isto é, se determinado governo não assegura proteção e bem-estar à sua população, a comunidade internacional tem direito de intervir para fa zê -lo cu mpr i r suas obrigações. Paralelamente, a intenção da Rússia é demonstrar aos defensores da ecologia que a atividade petrolífera é “polí-

O

KONSTANTIN MALER

DESIGUALDADE DE RENDA Natália Antónova Jornalista

verificação da desigualdade de renda não é uma novidade na Rússia. Estamos acostumados a observar provas de sua existência - e depois, deixá-las de lado, já que devemos continuar com nossas vidas. Pessoas ricas existem em qualquer lugar, isso é fato. Nem mesmo os Estados Unidos, para dar um exemplo óbvio, estão tão bem assim quando o assunto é distribuição de renda. Porém, os números divulgados no mês passado pelo Credit Suisse saltam aos

A

olhos: na Rússia, 35% da riqueza está concentrada nas mãos de apenas 110 pessoas. De acordo com o mesmo relatório, o país apresenta o maior índice de desigualdade de renda do mundo, exceto apenas algumas ilhas do Caribe. Mesmo considerando que os dados referentes a propriedades não estejam incluídos nesses números, o relatório não deixa de ser desanimador. Nos últimos dias, tenho lido os comentários raivosos de muitos russos na internet sobre a notícia. Se você já se perguntou por que as instituições sociais da Rússia são tão subdesenvolvidas, ou por que

persiste no país uma espécie de “feudalismo moderno”, não resta mais dúvida. As estatísticas sobre a desi-

mas também tem um efeito psicológico sobre as pessoas. Elas se questionam por que lutar incessantemente para

Na Rússia, 35% da riqueza está concentrada nas mãos de apenas 110 pessoas

Desigualdade de renda só não é maior que em alguns países do Caribe

gualdade de renda desnudam o problema. A sociedade moderna não funciona adequadamente com esse tipo de desigualdade. Isso não só prejudica o desenvolvimento econômico,

melhorar de vida quando não existem meios para a ascensão social. Economistas russos aponta m que esse tipo de desigualdade é fator preponderante para o “emburreci-

mento” do mercado de trabal ho r usso. Méd icos e cientistas são tão mal pagos no país que os mais ambiciosos se veem forçados a buscar a sorte no exterior ou trabalhar em outras áreas, como marketing ou vendas. Para lidar com a questão, o governo vem discutindo desde reformas fiscais mais amplas (incluindo o tão comentado imposto sobre produtos de luxo) a aumentos radicais de salário. Mas também está bem claro que a desigualdade de renda não é um problema que será resolvido da noite para o dia com medidas populistas. É necessário não só grande vontade política, mas também uma mudança individual profunda para compreender como o mundo deve funcionar. Basta fazer com que mais e mais russos entendam que merecem algo melhor – e que esse “melhor” envolve um processo gradual e trabalhoso.

O

Se a crescente xenofobia na Rússia não for combatida, país está condenado a perdas políticas O mesmo se aplica a armênios da região do Don, de Kuban e Stavropol, cujos ancestrais se estabeleceram nessas terras ainda no século 18. Muitos deles sequer falam armênio, e a língua russa é para eles tão nativa quanto para os “moscovitas da gema”. Os representantes da “diáspora” têm estatutos sociais diferentes. É também no mínimo ingênuo ver em organi-

zações comunitárias que representam um grupo étnico, o “ministério” para os assuntos azeris, georgianos ou uzbeques. Seria extremamente perigoso substituir o princípio da responsabilidade individual pelo princípio da culpa coletiva. A migração interna também ganha grande importância. Ela está associada ao deslocamento dentro do território nacional de representantes de diferentes grupos étnicos e religiosos, regiões com diferentes experiências históricas de adesão à Rússia (por vezes, associadas a perdas muito grandes), que são agora cidadãos de um mesmo país. E o maior problema é que, para a consciência coletiva dos nativos de Moscou e de outras grandes cidades russas, não há diferença entre um nacional da Tchetchênia ou um habitante do Daguestão, ambos portadores de passaporte russo, e um cidadão do Azerbaijão ou Uzbequistão, que vêm ao país para realizar trabalhos temporários. Seguir essa linha de pensamento é perigoso, e ela pode desencadear uma retaliação antirrussa no Cáucaso do Norte e na região do Volga – para não

É claro que o recente ocorrido com o quebra-gelo não vai melhorar a imagem do país no Ocidente, e as próprias autoridades russas veem cada vez mais divergências entre a opinião que reina ali e no resto do mundo. A maior parte da população mundial considera que a “responsabilidade pela proteção” é um instrumento de pressão e intervenção nos assuntos internos dos países para fazê-los mudar sua linha política. E é justamente essa maioria, desempenhando o papel de guardiã dos princípios internacionais, que apela à Rússia para reverter o quadro atual. Fiódor Lukianov é editorchefe da revista “Russia in Global Affairs”.

David Foglesong HISTORIADOR

odos os países são únicos, e, em princípio, seu senso de particularidade não deve prejudicar suas relações com outras nações. Na prática, porém, as crenças das nações em sua excepcionalidade geralmente contribuem para fomentar um sentimento de superioridade racial ou arrogância cultural. A crença profunda dos americanos em seu excepcionalismo conduz a diplomacia dos EUA por três caminhos: repulsa a revoluções conduzidas por povos estrangeiros que não conseguem imitar com sucesso o exemplo de uma revolução americana, supostamente organizada e moderada; isolamento em relação a conflitos e casos de corrupção em países moral e politicamente inferiores; ou esforços ambiciosos e caros para remodelar países estrangeiros à sua imagem e semelhança. A necessidade dos americanos de afirmar a superioridade moral do país os levou a ampliar os problemas em muitas outras nações. Desde o final do século 19, eles definiram o excepcionalismo dos EUA por meio de

T

NATALIA MIKHAYLENKO

s tumultos em Biriuliovo colocaram mais uma vez as relações interétnicas da Rússia moderna no centro das atenções. O assassinato de um russo étnico por um caucasiano nesse bairro moscovita provocou uma onda de protestos violentos contra a imigração. A discussão sobre as causas e possíveis consequências resultantes desses acontecimentos expuseram uma falta de conhecimento sobre a questão nacional russa. Desta vez, o foco foi a responsabilidade coletiva de uma etnia por um crime cometido por um único indivíduo. Não é raro um grupo étnico ser apresentado como uma estrutura monolítica única, uma espécie de Estado dentro do Estado. Mas essa abordagem não é sustentável. Em primeiro lugar, devido à natureza virtual dessa “unidade”. Só para começar, os azeris que estiveram no foco das atenções em Biriuliovo podem ser cidadãos de, pelo menos, três países dife-

rentes (Azerbaijão, Rússia e Geórgia) e representar duas frações muçulmanas diferentes (sunitas e xiitas). Quanto aos azeris da república russa do Daguestão, que são a sexta maior comunidade ali, esses são muito mais “nativos” que alguns dos moradores da capital, de segunda ou terceira geração, que andam por aí gritando o slogan “A Rússia para os russos, Moscou para os moscovitas”.

Para o Greenpeace, se um Estado não assegura proteção, comunidade internacional deve intervir

A EXCEÇÃO E O INTERESSE NACIONAL

Natália Antonova é editora-chefe do jornal The Moscow News.

A PARTE PELO TODO Serguêi Markedonov Cientista político

tica nua e crua”, e o preço a pagar por ações que impeçam o desenvolvimento econômico do país pode ser bem alto. A imagem de “egoísta” da Rússia, trazida à tona pelo Greenpeace, continuará forte no exterior até que o movimento ecológico seja levado a sério no país.

falar de sentimentos separatistas. Ou levar a uma espécie de apartheid, que poria fim à integridade do país. Tentativas de impor um visto para imigrantes de países do Cáucaso do Sul e da Ásia Central também enterrariam por completo a União da Eurásia e seus projetos de integração, incluindo a político-militar OTSC, além de fortalecer forças antirrussas nesses países. Além disso, muitos russos que hoje vivem nessas regiões (o Cazaquistão tem mais de três milhões de russos, o Uzbequistão, um milhão, e o Azerbaijão, 120 mil) iriam se tornar, de imediato,

reféns de uma resposta à altura na luta pela “pureza do sangue”. Se a crescente xenofobia na Rússia não for combatida com uma estratégia global de política nacional, que inclua também a regulamentação da migração externa e interna, uma ampla política de esclarecimento, e até mesmo de propaganda de uma identidade política russa única, o país estará condenado a sérias perdas políticas. Serguêi Markedonov é professor do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington (EUA).

contrastes com a Rússia – seja em seu modelo tsarista, soviético ou pós-URSS –, mais que pela comparação com qualquer outra nação. Essa tendência muito contribuiu para representações carregadas e emotivas na mídia, além de ataques ad hominem aos líderes russos por políticos americanos, o que dificulta a manutenção de interesses comuns entre Washington e Moscou. Os russos, por sua vez, fazem o mesmo jogo: afirmam sua superioridade moral pelas diferenças com os Estados Unidos, usando o materialismo e o imperialismo como suas principais armas de contestação. No passado, também se gabavam de que diferentes países (Cuba, Etiópia etc.) estavam seguindo seu exemplo exclusivo e brilhante. No entanto, desde o fim da União Soviética, os líderes russos se libertaram de tal ilusão ideológica e, no século 21, tendem a se concentrar em seus próprios interesses nacionais. Um exercício a ser praticado por ambos os lados. David S. Foglesong é professor de História na Universidade de Nova Jersey.

OS TEXTOS PUBLICADOS NA SEÇÃO “OPINIÃO” EXPÕEM OS PONTOS DE VISTA DOS AUTORES E NÃO NECESSARIAMENTE REPRESENTAM A POSIÇÃO EDITORIAL DA GAZETA RUSSA OU DA ROSSIYSKAYA GAZETA

EXPEDIENTE WWW.RBTH.RU E-MAIL: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 ENDEREÇO DA SEDE: RUA PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 EDITOR-CHEFE: EVGUÊNI ABOV; EDITOR-CHEFE EXECUTIVO: PÁVEL GOLUB; EDITOR: DMÍTRI GOLUB; SUBEDITOR: MARINA DARMAROS;

EDITOR NO BRASIL: WAGNER BARREIRA; EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZÁITSEV; CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAL PUBLICITÁRIO NO SUPLEMENTO, CONTATE JÚLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU © COPYRIGHT 2013 – FSFI ROSSIYSKAYA GAZETA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

PRESIDENTE DO CONSELHO: ALEKSANDR GORBENKO (ROSSIYSKAYA GAZETA); DIRETOR-GERAL: PÁVEL NEGÓITSA; EDITOR-CHEFE: VLADISLAV FRÓNIN É EXPRESSAMENTE PROIBIDA A REPRODUÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO OU RETRANSMISSÃO DE QUALQUER PARTE DO CONTEÚDO DESTA PUBLICAÇÃO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO ESCRITA DA ROSSIYSKAYA GAZETA. PARA OBTER AUTORIZAÇÃO DE CÓPIA OU REIMPRESSÃO DE QUALQUER ARTIGO OU FOTO, FAVOR SOLICITAR PELO TELEFONE +7 (495) 775 3114 OU E-MAIL BR@RBTH.RU

ESCREVA PARA A REDAÇÃO DA GAZETA RUSSA EM PORTUGUÊS: BR@RBTH.RU

FOLHA DE S.PAULO, BRASIL • THE DAILY TELEGRAPH, REINO UNIDO • THE WASHINGTON POST, ESTADOS UNIDOS • THE NEW YORK TIMES, ESTADOS UNIDOS • THE WALL STREET JOURNAL, ESTADOS UNIDOS • LE FIGARO, FRANÇA • SÜDDEUTSCHE ZEITUNG, ALEMANHA • EL PAÍS, ESPANHA • LA REPUBBLICA, ITÁLIA • LE SOIR, BÉLGICA • EUROPEAN VOICE, UNIÃO EUROPEIA • DUMA, BULGÁRIA • GEOPOLITICA, SÉRVIA • POLITIKA, SÉRVIA • ELEUTHEROS TYPOS, GRÉCIA • ECONOMIC TIMES, ÍNDIA • NAVBHARAT TIMES, ÍNDIA • MAINICHI SHIMBUN, JAPÃO • CHINA BUSINESS NEWS, CHINA • SOUTH CHINA MORNING POST, CHINA (HONG KONG) • LA NACIÓN, ARGENTINA • EL OBSERVADOR, URUGUAI • TODAY, CINGAPURA • JOONGANG ILBO, COREIA DO SUL • UNITED DAILY NEWS , TAIWAN • THE SYDNEY MORNING HERALD, THE AGE, AUSTRÁLIA. E-MAIL BR@RBTH.RU. MAIS INFORMAÇÕES EM HTTP://GAZETARUSSA.COM.BR/QUEMSOMOS A FOLHA DE S.PAULO É PUBLICADA PELA EMPRESA FOLHA DA MANHÃ S.A., ALAMEDA BARÃO DE LIMEIRA, 425, SÃO PAULO-SP, BRASIL, TEL: +55 11 3224 3222 O SUPLEMENTO “GAZETA RUSSA” É DISTRIBUÍDO NAS ÁREAS METROPOLITANAS DE SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA, COM CIRCULAÇÃO DE 128.469 EXEMPLARES (IVC MARÇO 2012 – MÉDIA MENSAL)


Política e Sociedade

GAZETA RUSSA WWW.GAZETARUSSA.COM.BR

Conduta Maior clube de motoqueiros da Rússia abandona discurso de contestação para dar lugar a sentimentos patrióticos

Motoqueiros bem-comportados Antes visto como subversivo, clube de motoqueiros Lobos da Noite agora promove “valores tradicionais”. IAROSLAVA KIRIÚKHINA

FRASES

Passo-a-passo de aceitação no Lobos da Noite

Vladímir Pútin DURANTE FESTIVAL REALIZADO PARA CELEBRAR A LIBERTAÇÃO DE NOVOROSSISK NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

GAZETA RUSSA

© RIA NOVOSTI AP

3. O futuro lobo precisa demonstrar sua lealdade e comprometimento, esperando cinco anos antes de se tornar um membro e poder vestir o emblema do grupo em sua jaqueta de couro.

"

Vocês são ótimos. Não só se divertem andando em suas motos, mas combinam isso com atos patrióticos. É bom ver que não se esqueceram de nossos heróis de guerra.”

O presidente russo Vladímir Pútin se uniu ao Lobos da Noite em uma manobra publicitária acolhida com entusiasmo pelo clube

nue sendo um clube patriótico para servir de exemplo para os jovens e fazer algo por nossa pátria, que perdemos comprando jeans e chicletes, e nos vendendo para o M c D o n a l d ’ s ”, d i z Zaldostanov. “O Lobos da Noite é mais do que um clube de motoqueiros. É um fenômeno, algo que faz com que os presidentes venham até nós e o Patriarca [da Igreja Ortodoxa Russa] nos dê a sua bênção”, acrescenta. Zaldostanov não esconde as relações do grupo com Pútin e o elogia por suas tentativas patrióticas de devolver à Rússia sua antiga grandeza. Neste ano, o líder do grupo chegou a organizar um festival patriótico em Stalingrado durante a cerimônia que marcou o maior bombardeio da cidade por nazistas, em 23 de agosto de 1942. Ele também está se tornando cada vez mais famoso pela retórica antiamericana e críticas ao que considera “valores ocidentais”. O Lobos da Noite expressou indignação à manifestação punk realizada pelo grupo feminista Pussy Riot dentro da Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, demostrando, assim, seu apoio à Igreja Ortodoxa Russa. Os motoqueiros vêm cla-

EM ENTREVISTA NO CLUBE DE MOTOQUEIROS SEXTON, EM MOSCOU

"

Somos um grupo fechado, que tem suas próprias regras. A responsabilidade coletiva e a privacidade estão entre os princípios mais importantes. Todo membro sabe que não importa o que acontecer com ele, seja em uma delegacia de polícia ou tribunal, o clube o apoiará sempre, mesmo que tenha feito algo errado.”

Com sede em Moscou, o Lobos da Noite possui mais de 5.000 membros por todo o país, e é o maior do gênero na Rússia

discriminam qualquer homossexual que queira se juntar ao clube. A nova postura governista do Lobos da Noite certa-

ramente tomando um caminho bem diferente dos ideais propostos no início do clube. Depois da polêmica envolvendo as Pussy Riot, eles pro-

Lobos expressaram indignação com ação das Pussy Riot e caíram nas graças da Igreja

Clube discrimina abertamente qualquer homossexual que queira se tornar membro

meteram ajudar a proteger as catedrais ortodoxas de qualquer outro ato de “vandalismo”, como classificaram o ocorrido. E o conservadorismo vai ainda mais longe: os lobos são publicamente homofóbicos e

mente vem surpreendendo alguns motoqueiros russos, sobretudo aqueles de classe média que não compartilham de tais pontos de v ista conservadores. Há ainda, contudo, motoqueiros de classe média que

compraram suas Harley-Davidsons e BMWs durante o boom do petróleo russo na década de 2000 e que mostram interesse em se unir ao clube. Em 2013, Pútin concedeu a Zaldostanov o importante título “Ordem de Honra” por seu “trabalho ativo na formação patriótica dos jovens” e por ajudar nas buscas de restos mortais dos soldados vitimados durante a Segunda Guerra Mundial. Além disso, um conflito com uma gangue rival no ano passado, no qual um de seus membros foi morto a tiros, não gerou qualquer mídia negativa acerca dos lobos. Supostamente, o ocorrido se deu por-

que o outro grupo se recusou a endossar o apoio do Lobos da Noite ao Kremlin.

Dificuldades no país A adaptação, porém, tem seus percalços, como a burocracia: no ranking mundial da modalidade, criado pela consultoria Grant Thornton, o Brasil está em 2º lugar e a Rússia, em 6ª. A consultora de recursos humanos Ekaterina Lukianova, 24 anos, mora há três anos em São Paulo e é casada com um brasileiro, mas ainda não tem a cidadania do país, que só é conferida aos estrangeiros após cinco anos vivendo no Brasil. Ela conta que mesmo o visto de residente foi difícil de conseguir. “Na primeira vez, por descuido do setor de estrangei-

“A burocracia no Brasil é pior que na Rússia”, diz imigrante em situação irregular segunda via] é de R$ 300. Recebi um RNE [registro temporário para estrangeiros] válido por 6 meses. Estamos indo para o 8° mês desde o incidente e meu documento ainda está sendo impresso em Brasília, sem prazo determinado”, lamenta. Outra russa que se mudou para o Brasil nos últimos anos foi Olga, que não quis ser identificada pelo nome real, já que vive em situação irregular no país. De origens multiétnicas – o

REGINALDO COSTA TEIXEIRA

clima extremamente frio e também a uma população multiétnica, os russos teriam uma facilidade muito grande de se adaptar a países como Brasil, Estados Unidos ou Austrália. “Se tiverem opção, escolhem os climas mais moderados do sul do Brasil, pois o calor é difícil de aguentar. Em especial, adaptam-se muito bem à língua”, diz Segrillo.

pai é russo étnico e a mãe, da Inguchétia, república da Federação Russa no Cáucaso do Norte -–, Olga viu no Brasil a chance de trabalhar e viver em paz. “Morei em duas cidades no sul da Rússia e, depois, em Moscou. Além das condições de trabalho serem muito ruins, a xenofobia lá é algo assustador, e eu mesma fui vítima”, conta. A arquiteta veio como turista ao Brasil há dois anos e acabou ficando. Hoje, ela trabalha como free-lancer para algumas agências e recebe ajuda da família, que permanece na Rússia. “Precisei sair do país algumas vezes para tentar ficar legalmente. Agora, simplesmente desisti. Tudo é muito complicado, demorado, a burocracia no Brasil é pior que a da Rússia. Vou vivendo aqui e esperando minha documentação. Ou meu casamento. O que vier primeiro”, diz rindo, enquanto fala com o namorado brasileiro ao telefone. Uma dica preciosa que a embaixada do Brasil na Rússia dá aos interessados em morar no Brasil é consularizar os documentos.

EM ENTREVISTA À RÁDIO LIBERDADE

Conosco ou contra nós Evguêni Vorobiov, líder do grupo Três Vias, envolvido no tiroteio, disse depois que sua gangue havia irritado os Lobos da Noite ao deixar a aliança com eles e estabelecer laços com o clube de motoqueiros norte-americano Bandidos, que recentemente se lançou em solo russo, mas mantém um perfil discreto. “Simplesmente não gostamos da atividade pública dos lobos”, declarou Vorobiov. “Nossos ideais são música, motos, lazer e garotas.”

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

ros, meu nome foi digitado com erro em um dos documentos e tive que recomeçar o processo de solicitação da permanência, ou seja, demorou o dobro da maioria das pessoas”, diz. Além disso, Lukianova conta que foi roubada recentemente e perdeu seus documentos. “A ‘multa por ser roubada’ [a taxa paga pela

Zaldostanov, líder do clube

"

Não adianta nos associar a política, enquanto ainda nos opomos às autoridades. Não é bom misturar patriotismo ou espiritualidade com política. Estou interessado na personalidade de Pútin. Talvez eu e ele pudéssemos ter sido amigos mais próximos se ele não fosse presidente.”

Imigração ilegal gera protestos

Brasil volta a ser opção para emigrantes russos CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Félix, membro do clube

ITAR-TASS

A primeira visita de Pútin ao Lobos da Noite aconteceu no clube Sexton, em Moscou, em 2009, e foi encarada por críticos do governo como mais uma das acrobacias publicitárias do presidente. Imagens de Pútin sobre uma moto gigantesca cercado de membros do Lobos da Noite ganharam as manchetes durante seu governo como primeiro-ministro e mais tarde como presidente. Em julho passado, Pútin chegou a deixar o líder ucraniano Víktor Ianukovitch esperando por quatro horas enquanto estava em reunião com o tatuado líder dos lobos, Aleksandr Zaldostanov, também conhecido pelo apelido de “Cirurgião”. “Quero que a gente conti-

2. Para começar, é preciso ter sua própria moto, o que nem sempre sai barato. O triciclo Harley-Davidson usado por Pútin em um show de motos em Sevastopol, por exemplo, custa mais de US$ 20 mil.

REUTERS

Publicidade varonil

1. Os aspirantes a lobos – apenas homens heterossexuais são aceitos – devem ter espírito aventureiro e não possuir obrigações familiares e de trabalho que possam impedi-los de passar tempo com o clube.

PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO

Fundado em maio de 1989, o clube de motoqueiros Lobos da Noite nasceu em meio à cultura do rock antissoviético na década de 1980, época em que o grupo se autoproclamava pró-liberdade e contrário ao sistema. Durante anos, esses homens ostentando longas barbas e barrigas de cerveja, sempre vestidos com couro preto e calças jeans, compunham o único grupo de motoqueiros do país. Hoje, embora seja apenas mais um entre tantos outros, ainda é o maior clube de motos da Rússia, reunindo mais de 5.000 membros. O manifesto do Lobos da Noite refuta todas as leis e fala do poder da fraternidade. Inspirado no norte-americano Hell’s Angels, o Lobos da Noite é, entretanto, muito diferente dos clubes e gangues de motoqueiros de outros lugares do mundo, e não chegou a m a nch a r su a reputação. Em termos de ideologia, o grupo vem se aproximando das autoridades russas e mantém ligações próximas com o presidente Vladímir Pútin. Além disso, seus líderes são cada vez mais conhecidos pela adoção de uma retórica nacionalista e pelos valores conservadores.

Apesar de dificuldades, número de imigrantes cresceu

Brasileiros na Rússia, o outro lado A estimativa da embaixada brasileira em Moscou, calculada com base em cadastros consulares, é de cerca de 900 brasileiros vivendo atualmente na Rússia. “De maneira geral, os brasileiros não buscam vínculo imigratório de longo prazo. A maioria estuda em universidades, especialmente em cursos de medicina. E boa parte dos estudantes brasileiros vive em Moscou, Kursk ou Belgorod”, explica Igor Germano, chefe do Setor Cultural e de Imprensa e Divulgação da Embaixada do Brasil em Moscou. A cantora Gabriella da Sil-

va, que vive há sete anos em Moscou, ressalta a segurança como ponto forte da Rússia. “Sou casada com um russo e tenho dois filhos. Aqui, me sinto segura de verdade, não tenho medo de andar na rua. isso sem falar na educação e na saúde. O Brasil ainda deixa muito a desejar nesses quesitos”, afirma. Veterano em Rússia, o professor Vicente Barrientos, mora há 25 anos no país. “É preciso ter muita disposição e desejo de aprender e entender. E, claro, uma passagem de avião, para o caso de querer abandonar o ‘sonho russo’”, brinca.

lidade de se introduzir vistos para cidadãos de países da Ásia Central e da região do Cáucaso do Sul, ideia apoiada por 84% dos russos, de acordo com dados do Centro Levada de junho deste ano. Mas o presidente russo Vladímir Pútin já se pronunciou contra a medida, alegando que isso afastaria da Rússia os países-membros da CEI (Comunidade dos Estados Independentes). A proporção de habitantes que veem os imigrantes como causa dos maiores problemas do país aumentou de 7% para 27% ao longo dos últimos oito anos. Em Moscou, a imigração já é considerada o maior problema da cidade. Assim, o discurso de repressão a imigrantes i legais constou das campanhas eleitorais de todos os candidatos a prefeito em meados deste ano.

Fugindo da lei De acordo com o ministro do Interior russo, Vladímir Kolokoltsev, criminosos que agiam no país estão usando a isenção de visto entre os membros da CEI para evitar detenções.

Segundo o Comitê de Investigação da Rússia, cerca de um a cada seis assassinatos e um a cada três estupros registrados em Moscou nos primeiros nove meses de 2013 fora m cometidos por estrangeiros. Os dados contribuem para fomentar o sentimento antiimigração, especialmente em bairros mais pobres, como Biriulevo. A região, na periferia sul de Moscou, fica relativamente isolada do resto da cidade, pois não tem ligação com a linha do metrô que leva ao centro. Como resultado, os preços de moradia ali são mais baixos, tornando Biriulevo bastante popular entre os imigrantes que trabalham no armazém local – o estabelecimento que mais emprega pessoas no bairro. “Biriulevo é o local escolhido por pessoas de baixa renda. A xenofobia lá é maior por causa da propensão geral das pessoas a conflitos e sua prontidão para extravasar a agressividade em estrangeiros”, diz Gudkov. “Tal contexto social é comum a outros bairros, portanto, os protestos de Biriulevo serão provavelmente replicados em outros locais”, prevê.


Economia e Negócios

GAZETA RUSSA WWW.GAZETARUSSA.COM.BR

Bebidas Impostos e redução dos pontos de venda ajudaram a diminuir consumo

Preparativos Ferrovias e 4G prontos

Medidas restritivas do governo diminuíram vendas temporariamente, mas mercado ainda goza de popularidade e tem espaço. VÍKTOR KUZMIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO

“Por alguma razão desconhecida, a cerveja estrangeira na Rússia está se tornando rapidamente parecida com a nacional”, diz, em tom de brincadeira, Ígor Arnautov, analista da Investkafe. Mas tal metamorfose não deve surpreender. Os maiores produtores estrangeiros há muito compraram as principais fábricas de cerveja da Rússia e produzem nessas instalações as marcas estrangeiras mais populares na Rússia. A parcela do mercado das importadas é de apenas 2,5% (cerca de 250 milhões de litros por ano). Os gigantes da cerveja viram uma queda de 10% nas vendas internas nos primeiros nove meses deste ano. A União dos Cervejeiros Russos prevê que a contração do mercado continue, pelo menos, até o final de 2014. Isso porque eles planejam deixar de comercializar cerveja em embalagens de plástico com mais de 2,5 litros, comuns na Rússia, assim como cervejas fortes, com mais de 6 graus de teor alcoolico, em garrafas com mais de dois litros, a partir do dia 1° de janeiro de 2014. Os cervejeiros deram esse passo voluntariamente para mostrar boa vontade com a política de redução do abuso de álcool no país, segundo comunicado da união. De acordo com Arnautov, até o final de 2014 o mercado sofrerá uma redução de 25% a 30%, comparado ao de 2008.

Consumo de bebidas alcoólicas na Rússia

Mais quedas

Consolidação Hoje, a Rússia ocupa o 29º lugar no ranking mundial de consumo de cerveja, segundo dados da união, com um consumo anual de 65 litros por pessoa. Para o diretor do Centro de Pesquisa dos Mercados Regional e Federativo do Álcool, Vadim Drobiz, porém, o número chega a mais de 70 litros. Em 2007, quando foi registrado o pico de consumo de cerveja na Rússia, o aumento foi de 5,5 vezes em relação a meados da década de 1990. Nesse ano, cada russo consumiu 81 litros.

“Um antidepressivo clássico são as bebidas alcoólicas fortes”, afirma Drobiz. E quando a economia começou a ter problemas, o consumo mundial de bebidas alcoólicas fracas diminuiu em favor de bebidas fortes, inicialmente mais baratas. Como resultado, em 2010 o consumo da cerveja caiu para 72 litros por pessoa ao ano. Nesse mesmo ano, o governo russo, cansado de essa indústria imensa não contribuir praticamente com nada para o Tesouro, interveio no mercado e aumentou o imposto sobre o consumo. Antes disso, o orçamento recebia apenas 30 bilhões de rublos (cerca de R$ 2,1 bilhões) pelos 10 a 11 bilhões de litros que os russos bebiam anualmente. O aumento do imposto não influenciou fortemente o volume da produção, que cresceu entre 2011 e 2012. Além disso, o mercado ficou inundado de cerveja ilegal – que, segundo Drobiz, passou a compor mais de 8% do mercado (cerca de 800 milhões de litros). Por outro lado, pequenas e médias empresas russas passaram a receber apoio do governo, e também novas grandes fábricas continuaram a crescer (por exemplo, a MPK).

“Ao entrar no mercado nacional, as marcas estrangeiras o consolidaram e, obtendo direitos ilimitados de acesso à publicidade, conseguiram excelentes resultados. Em 2007, eles já contro-

lavam 92% do mercado”, diz. O primeiro alerta aos fabricantes eufóricos veio da demografia. De 1992 a 1999 a Rússia viu diminuir significativamente sua taxa de natalidade. Como resultado, em

2007, havia quase três vezes menos jovens do que o habitual consumindo cerveja, e as vendas começaram a cair. A crise de 2008-2009 só veio a g r av a r a i n d a m a i s a situação.

Neste ano, o catalisador da queda nas vendas foi a proibição da venda de cerveja em quiosques (desde 1° de janeiro de 2013). Assim, a cerveja perdeu cerca de 200 mil pontos de venda em todo o país. De acordo com Andrêi Altúnin, diretor-geral da “Pivnáia Kompania” (do russo, “Companhia Cervejeira”), as grandes empresas reduziram sua produção e vendas, em média, em 20%. “O Serviço Federal de Regularização do Mercado Alcoólico quer reduzir o consumo de álcool na Rússia em até 50% até 2020. Isso significa que haverá mais restrições nas vendas de cerveja”, diz. O principal país exportador de cerveja para a Rússia é a Ucrânia, com 73,7% do mercado em 2012. A participação da República Tcheca no mercado russo é de 8%, da A lemanha, 6,9%, do Japão, de 3% a 4%, e da França, menos de 1%.

ITAR-TASS

Cerveja procura seu espaço no país da vodca Trens vão ligar aeroporto à cidade em uma hora

Infraestutura de Sôtchi avança para Olimpíadas Entre as melhorias, companhia aérea russa inaugura novos trechos, além de ampliar voos diários vindos da capital. KOMMERSANT

A maioria dos participantes e visitantes das Olimpíadas de Sôtchi, em fevereiro de 2014, chegará à cidade por via aérea. Por isso, a companhia aérea russa Aeroflot planeja aumentar a quantidade de voos diários que partem da capital rumo a Sôtchi, localizada no sul do país, dos atuais 5 para 12. Entre os dias 27 de janeiro e 25 fevereiro de 2014, a companhia também vai estrear um voo direto de Sôtchi a Frankfurt, um dos maiores centros de conexão de passageiros da Europa. Além disso, a Aeroflot garante que diversos trechos terão wi-fi gratuito à disposição dos passageiros. Com o aumento do fluxo de visitantes, uma nova linha ferroviária também ligará o centro de Sôtchi ao aeroporto local, e as autoridades preveem que mais da metade do total de visitantes fará o trajeto de trem, em uma viagem que dura pouco menos de uma hora. Paralelamente, a companhia de transportes Russian Railways (RZhD) está construindo a principal artéria terrestre de acesso aos Jogos de Inverno. Trata-se de uma via que combina estrada e ferrovia, e liga Adler, distrito de Sôtchi ao longo do mar Negro, até a estação Alpica

Service, de onde será possível chegar ao complexo esportivo Sánki e outras instalações olímpicas. Ao longo dessa pista de 48,2 km haverá 12 túneis cruzando montanhas, além de 46 pontes. Para completar o sistema de transporte em Sôtchi e ligá-la aos municípios vizinhos, serão implantados também os chamados “Andorinhas”, trens que funcionam nas mais diversas condições climáticas (entre -40ºC e 40 °C) e possuem plataformas elevatórias para cadeiras de rodas. Entre as inovações dos transportes ferroviários, os projetistas ressaltam a existência de sinais de luz e som adicionais, indicadores táteis nas placas de sinalização, avisos para os deficientes visuais e auditivos, bilheterias com acesso especial para a venda de ingressos e salas de descanso nas respectivas estações.

4G em expansão A sobrecarga da rede de telecomunicações móveis e internet também é motivo de preocupação para as maiores operadoras nacionais. A MegaFon, por exemplo, está construindo uma nova infraestrutura de telecomunicações em Sôtchi, onde mais de 700 estações de rádio irão garantir cobertura móvel em 2G, 3G e 4G. Os Jogos Olímpicos de Inverno em Sôtchi serão os primeiros na história do evento em que será disponibilizada a rede 4G e velocidade de 10 MB/seg.

Na Rússia, o inverno coberto de neve, com temperaturas abaixo de zero, chega muitas vezes a durar até 5 meses, do final de novembro até o início de abril. Durante todo esse tempo funcionam na capital áreas temáticas onde os visitantes podem praticar esportes ao livre e fazer oficinas temáticas, além de comprar souvenirs e presentes bem diferentes.

razõe

sc r Mo

er v n i

r s pa

no

ta visi

a

ou

no

U MOSCO DO RIO -GELOS abertura A R u B o E arc a egação QU 009 m av FESTIVIDADES DE ANO NOVO

SSO INVERNO RU

natural eu e reserva ue de conto rq erno, o mus Durante o inv » se transforma em pa heiros de oie «Kolômensk iluminação festiva e pin rno Russo” m ve de fadas co rama de excursões “In lares na og pr O às férias esco es podem Natal. nt ente voltado é especialm ana de janeiro. Os visita ivados do pr primeira sem salões e aposentos ‘troika’, um los de pe r ar da inh an cam he de Mikháilovitc valos, além tsar Aleksêi conduzido por três ca ionais e ouvir tipo de trenó jogos populares tradic participar de l. ta coros de Na

As festas de Ano Novo em de dezembro a 8 de jane Moscou duram de 20 iro, programa de comemoraçõ e incluem em seu por até 5 milhões de pess es 1.300 eventos visitados oas todos os anos em estações de metrô, parq ues, pistas de patinação e praç teatros, museus, de dezembro e 8 de jane as da cidade. Entre 28 iro, um imenso mercado de Natal é montado em nove áreas para pedestre no centro de Moscou (rua s s que incluem a travessa Stoleshnikov, duas trav essa Petrovka e outras). Todo s da rua Arbat, a rua s os eventos ao ar livre são gratuitos.

FEIRAS DE ANO NOVO E NATAL Às vésperas dos feriados de final de ano, diversas feiras temáticas são abertas em Moscou. Pinheiros de Natal assinados por designers, porcelanas, roupas quentes e outras utilidades podem ser encontradas na «Aldeia de Natal», instalada no Centro de Exposições (VVTs) e que abre todos os anos no final de novembro. Lá você pode aprender a fazer pãezinhos de gengibre, pintar bolas para enfeitar a árvore de Natal ao estilo russo ou ainda enviar um telegrama ao Papai Noel russo, o Ded Moroz (em português, ‘Vovô Geada’).

n e2 mbro d e inverno com a ganhou de nove n russ ad O dia 17 eira temporad ndo a capital elo, o Radisso a -g u m q ri ra eb gantes Foi u da p . le q u e s o o co sc n o arc no rio M ria frota de b mposta por cingo do rio p sua pró oscow. Ela é cocaminho ao lo cterística r ra M ri l ca b a a y a e tr que Ro nsa. Ou pazes d micas, iates ca com neve inte nelas panorâ do frio sem ja e o s a to sm o o su ven me s fazem iates sã iros do desses m os passage ade. Os barco a e volta com s d protege r a vista da ci o da capital: id (nos arredore e escond trajeto turístic s Chevtchenko do Governo sa r popula marginal Tara ando pela Ca sseio matinal a a ss n io iníc nia), pa ásskogo. O p â cr U l do hote steiro Novosp o até o m rca de R$ 95. custa ce

MUSEUS GRATUIT OS Seguindo a tradiçã o, museus na capital de 2 a 8 de janeiro mais de 90 têm entrada livre. teatros da cidade Alé realizam visitas gui m disso, os gratuitas, durante adas também as de conferir os bas quais o público tem a chance tidores. Também são francas algumas amostras de modernos e clássic cinema, com filmes russos os soviéticos.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.