Rússia, 4 de junho

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Custo-Brasil pesa ao país

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MONIQUE LAPA

Representante comercial quer dobrar balança bilateral, mas burocracia impede avanço

Produzido por

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), La Nacion (Argentina) e outros.

Este suplemento foi preparado e publicado pelo jornal Rossiyskaya Gazeta (Rússia), sem participação da redação da Folha de S.Paulo. Concluído em 30 de maio de 2014.

Fome de bola não é só brasileira, mostra sede da Copa 2018

A apenas uma semana da Copa 2014, a Gazeta Russa traz um especial para mostrar como anda - e como andou no passado - a seleção do país e seus preparativos para a próxima edição do evento, que sediará em 2018. Entre gastos, projetos-modelo de estádios e

recordes impensáveis - como a primeira substituição e o primeiro cartão amarelo em uma Copa -, apesar de ter alcançado somente o quarto lugar em um torneio, a Rússia tem fome de bola e sonha com a taça em casa. CONTINUA NAS PÁGINAS 2 E 3 GETTY IMAGES/FOTOBANK

Pela culatra Evento econômico é o mais importante do país

Boicotado, fórum tem recorde de participação Administração de presidente norte-americano teria recomendado que diretores de empresas não fossem ao Fórum de São Petersburgo. ALEKSÊI LOSSAN

© RIA NOVOSTI

GAZETA RUSSA

O Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo é tradicionalmente considerado o mais importante evento econômico internacional da Rússia. Ali, diretores de empresas internacionais podem se encontrar diretamente com representantes das autoridades russas, entre elas o presidente Vladímir Pútin. No entanto, na véspera do fórum deste ano, realizado de 22 a 24 de maio, a administração do presidente dos

Número de participantes registrados foi de 6.500 pessoas

EUA recomendou aos diretores que não comparecessem ao evento, segundo o jornal “The New York Times”. Na Europa houve atitudes semelhantes. “As empresas que receberam recomendações para não participar do fórum enviaram seus vices.

Com isso, a representação de estrangeiros acabou sendo bem grande”, disse o vice-reitor da Academia Russa de Economia e Administração Pública, Ivan Fedotov. A empresa Visa Inc., por exemplo, foi representada no fórum pelo diretor-executi-

Commodity Balança comercial bilateral pode subir de novo vo do grupo para a Europa Central e Oriental, Oriente Médio e África, Kamran Siddiqui; a PepsiCo, pelo diretor-geral da Europa, Enderson Guimarães; a ExxonMobil, pelo vice-presidente e chefe da unidade d e pr o d u ç ã o, S t e ph e n Greenlee. Assim, segundo o analista da Investkafe, Timur Nigmatúllin, não se pode dizer que a importância do evento foi menor do que em anos anteriores. “O Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo continua sendo a principal plataforma para fazer contatos entre os parceiros privados e públicos, russos e estrangeiros”, afirma. “As tentativas de boicotar o evento e fazer pressão sobre o próprio empresariado não surtiram o efeito desejado”, diz o analista da holding de investimento Finam, Anton Soroko. Segundo ele, o fórum também bateu o recorde de participantes, com 6.500 pesCONTINUA NA PÁGINA 4

Brasil pode abocanhar fatia comercial da UE Produtores brasileiros de carne podem vir a ser principais beneficiários do esfriamento das relações entre a Rússia e a UE. VÍKTOR KUZMIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Em janeiro passado, o Rosselkhoznadzor (Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia) abriu pela primeira vez o acesso ao mercado interno e levantou temporariamente as restrições a seis empresas brasileiras de abate e processamento de carne bovina, quatro de carne de porco e três de aves. A cota total da produção brasileira nas importações de carne na Rússia alcançou

32,5% nos quatro primeiros meses de 2014, contra os 22,6% para o mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Instituto de Conjuntura de Mercado Agrícola. Mesmo assim, em termos absolutos, foi registrada uma redução de 9%. O aumento da cota se deve ao declínio geral das importações de carne por parte da Rússia, especialmente de carne suína da União Europeia. “Foi nesse panorama econômico que uma certa recuperação no comércio com o Brasil resultou em valores tão elevados”, explicam os analistas do Rosselkhoznadzor. A Europa, onde começou a rápida propagação da peste

Confira a seção especial“Copa 2014”no nosso site e acompanhe as últimas jogadas da seleção russa no campeonato: BR.RBTH.COM/COPA_2014

suína africana, recusou-se a realizar a segmentação de mercado proposta por Moscou e, como resultado, não conseguiu garantir a segurança da carne exportada. Depois de semanas de polêmica, o Kremlin proibiu a importação de carne de porco e derivados de carne suína da UE, embora a doença não tenha sido identificada na maioria dos países europeus. “As abordagens que a União Europeia faz demonstram a existência de padrões duplos. Isso preocupa a nós e aos brasileiros”, disse o assistente administrativo do Rosselkhoznadzor, Aleksêi Aleksêenko, à Gazeta Russa no início do mês, qua ndo esteve no Brasil. A visita teve por objetivo a avaliação da possibilidade de aumento da venda de carne brasileira à Rússia sob medidas de controle mais rigorosas. O programa também inclui negociações no MinistéCONTINUA NA PÁGINA 4


Especial

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Precavidos Russos já têm estádios prontos para o evento

TIMUR GANEEV ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

O Ministério dos Esportes da Rússia recalculou mais uma vez os custos da realização da Copa do Mundo de 2018 no país. De acordo com o cronograma do programa de preparação para o mundial, o custo diminuiu em US$ 1,3 bilhão, e agora está avaliado em US$ 17,5 bilhões. “Além dos estádios, precisamos construir mais de 300 instalações: a base de treinamento e alojamento dos jogadores, de comunicações, obras elétricas etc.”, afirmou o ministro dos Esportes russo, Vitáli Mutkô. “Já tem gente falando em desvio de dinheiro, atraso das obras e etc. Não vale a pena prestar atenção a isso. Esse tipo de conversa sempre vai existir. Eventos como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo criam milhares de empregos e ajudam o país a passar a um novo patamar.”

Kazan e Sôtchi prontas O Kazan Arena é atualmente o maior estádio da Rússia e o primeiro dos 12 da Copa de 2018 pronto para uso, projetado para 45 mil espectadores. A arena lembra um pouco um dos melhores estádios do mundo: o do Arsenal de Londres, Emirates. A semelhança não é coincidência, já que a mesma empresa que projetou a arena dos Gunners trabalhou no projeto do estádio de Kazan, assim como na renovação do Wembley e do Estádio Olímpico de Londres. Para a constr ução do

to em breve é a lendária Arena Lujniki, que sediou os Jogos Olímpicos de 1980 e está fechada para reforma. É no novo Lujniki que será disputada a fi nal da Copa. Para preparar o estádio para o jogo mais importante do campeonato foram alocados 534 milhões de dólares. As arenas de outras unidades federativas da Rússia serão construídas por empresas nacionais. Assim, a construção do estádio em Níjni Nôvgorod e Volgogrado estará a cargo da Stroitransg a z , d e G u e n n á d i T ímtchenko; a Crocus Group, de Aras e Emin Agalarov, será a empreiteira geral em Kaliningrado e Rostov-no-Don; já em Iekaterinburgo a reconstrução ficará a cargo da Sinara Development, de Dmítri Pumpiánski. “Os clientes são as próprias administrações regionais. Nosso objetivo é fazer com que os estádios encomendados passem pelo crivo da Fifa”, afirma o ministro Mutkó. As administrações regionais responderão pessoalmente pelos estádios.

Kazan Arena foram injetados cerca de US$ 400 milhões. O custo é comparável ao de algumas arenas brasileiras que receberão os jogos decisivos da Copa 2014. Em Sôtchi, no sul da Rússia, o estádio Fisht, que sediou a abertura e o encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2014, já está pronto para receber também os jogos da Copa de 2018. Ele foi projetado pela empresa de arquitetura Populous, que tem em seu currículo, entre outros, o Yankee Stadium, em Nova York, o Estádio Olímpico de Chicago e o estádio So Kon Po, em Hong Kong.

“Falam em desvio de dinheiro e atraso das obras, mas não vale a pena dar atenção”, diz ministro russo “O projeto do Fisht foi criado para que no inverno ele refl ita a luz em um ângulo que deixe o sol penetrar e, no verão, quando o sol está alto, garanta sombra aos frequentadores”, diz o diretor da Popu lous, Da mon Lavelle. Mas, se os estádios de Kazan e Sôtchi já estão prontos para receber jogos, em outras cidades russas as coisas estão mais lentas. As obras mais próximas da conclusão são as do Otkrítie Arena, em Moscou, o novo estádio do Spartak que será inaugurado no final de julho deste ano. Já a sofrida Zenit Arena, em São Petersburgo, que está em construção desde 2006, só ficará pronta em meados de 2016. Outro estádio em Moscou que também não estará pron-

Arena Kazan: o maior estádio do país atualmente custou cerca de 400 milhões de dólares

O que espera o torcedor em 2018

Tarefa do futebol é unir pessoas e não influenciar na política

Experiência brasileira Cinco novos estádios foram construídos especialmente para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Para 2018, serão constr uídas nada menos que dez novas arenas na Rússia. As autoridades russas afirmam que analisaram cuidadosamente a experiência brasileira na preparação para a Copa de 2014 e que farão todo o possível para evitar eventuais erros cometidos pelo país. “Nossos colegas da comissão organizadora passarão todo o período da Copa 2014 no Brasil e aprenderão com

NATALIA MIKHAYLENKO

País vai construir 10 novos estádios para sediar o campeonato, que está avaliado em 17,5 bilhões de dólares.

© RIA NOVOSTI

Febre da construção para Copa 2018 invade país

a experiência local. Também organizaremos um amplo programa para nossas unidades federativas com os respectivos representantes dos diferentes estados do Brasil”, disse o presidente da comissão organizadora da Copa 2018, Aleksêi Sorókin. “Um dos principais proble-

mas do futebol russo é a infraestrutura”, disse à Gazeta Russa o secretário-geral da União de Futebol da Rússia, Anatóli Vorobiov. Depois dos Jogos Olímpi-

cos de 1980, foi construído em Moscou apenas u m novo e st ád io, o Lokomotiv. Agora, os clubes de Moscou têm que jogar no Khímki e Ramenskoie, nos arredores da cidade. O legado do campeonato na Rússia deverá sanar essa situação.

No início de março, os senadores norte-americanos Mark Kirk e Dan Coats enviaram à Fifa uma solicitação para suspender o envolvimento da Rússia com a federação internacional. Segundo eles, com os acontecimentos na Crimeia o país teria violado o artigo 3 do estatuto da Fifa, que se refere à discriminação com base em motivos raciais e políticos. “Enfatizamos que as equipes participam da Copa e de outras competições sob os auspícios da Fifa apenas com base no princípio dos esportes e nada mais”, declarou o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, em resposta aos apelos norte-americanos. O presidente da Fifa, Joseph S. Blatter, reforçou a mensagem. “Em nome da Fifa e de todas as federações nacionais, peço que unamos esforços a fim de proteger o jogo da interferência política e dos políticos.” Recentemente, Michel Platini, presidente da entidade que rege o futebol europeu, a Uefa, também respondeu rispidamente a uma solicitação do gênero. “Estamos cansados de pedidos como esse”, disse Platini. “Deixem que os políticos cuidem da política. Os esportes devem ser um lugar para unir as pessoas.”

Rentabilidade Projeto mais caro em volume de investimento, construção de estádio conta com novas tecnologias e conceitos

Estádios reversíveis são trunfo para retorno ALEKSÊI LOSSAN GAZETA RUSSA

Nos últimos tempos, tem aumentado na Rússia o interesse de investidores pela construção de estádios, sobretudo às vésperas da Copa do Mundo de 2018. Os novos projetos realizados no país recorrem ao que há de mais moderno no mundo. “A Rússia se prepara ativamente para a Copa de 2018 e, claro, isso se tornou uma espécie de catalisador das mais modernas tecnologias”, diz Serguêi Prilipko, chefe de gestão de projetos da empresa Opin, do bilionário Mikhail Prôkhorov. Atualmente, arenas muitos maiores são construídas para otimizar o espaço, melhorar as características arquitetônicas e desenvolver elementos

adicionais nos estádios que permitam obter maiores lucros. O estádio é tradicionalmente considerado o projeto de construção mais caro em volume de investimento necessário. A Opin, por exemplo, gastará US$ 150 milhões na construção de um estádio para o clube Torpedo de Moscou, com prazos de retorno do investimento bastante vagos. “Tradicionalmente, os estádios são obras que necessitam de muito tempo para ‘se pagar’, períodos superiores a 10 a 15 anos - isso quando não são projetos cujos investimentos simplesmente nunca dão retorno”, explica o diretor-geral da consultoria Arkaim, Aleksander Dorofeiev. “A procura agora é por estádios reversíveis, arenas que possam ser adaptadas a qualquer evento, em qualquer época do ano”, conta a chefe de consultoria estratégica da Jones Lang LaSalle, Iúlia Nikulitcheva. Tendo por padrão

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NÚMEROS

27

mil espectadores é a capacidade do VTB Arena Park

PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO

Construções russas para a Copa de 2018 têm se apoiado no que há de mais moderno. Mas, para país, legado das obras é crucial.

100 eventos por ano é uma média considerada altamente rentável para estádios reversíveis

VTB Arena: futebol, hóquei e basquete em um único espaço

a realização de cerca de 100 eventos por ano, com capacidade para 45 mil pessoas, esses projetos podem ser considerados bem-sucedidos.

Tudo em um O imenso VTB Arena Park, que está sendo construído por um dos maiores bancos rus-

sos, o VTB, para o clube Dínamo de Moscou, é um exemplo de como obter retorno. Os idealizadores do projeto decidiram criar, em um único espaço, um estádio de futebol, uma arena de hóquei e uma quadra de basquete. O estádio é projetado para 27 mil espectadores, e a arena

EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZÁITSEV; CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAL PUBLICITÁRIO NO SUPLEMENTO, CONTATE JÚLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU © COPYRIGHT 2014 – FSFI ROSSIYSKAYA GAZETA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

poderá ser adaptada para eventos e shows, com capacidade de 14 mil espectadores. O processo de transformação da quadra de basquete em arena de hóquei levará menos de duas horas. Ainda em 2010, o escolhido para realizar o VTB Arena Park foi David Manica.

Entre os trabalhos anteriores do arquiteto constam projetos conhecidos mundialmente, como o do estádio de Doha, no Qatar, o Mercedes-Benz Arena, em Xangai, a arena olímpica de basquete de Pequim, e o O2 Arena, em Londres. Neste ano, o VTB Arena Park recebeu o prêmio Mipim de melhor projeto na Rússia na exposição internacional de Cannes. O projeto inclui também a construção de um apart-hotel do Hyatt Regency, com escritórios e apartamentos residenciais, uma área comercial e parques. “O VTB Arena Park é um projeto incrível devido a sua localização central e utilização multifuncional. É a criação de um novo ponto de atração tanto para locais, como para os turistas”, explica o vice-presidente da AEG Europa, Brian Kabatznik. Seguindo a mesma linha, o Ora Arena, em Istambul, inclui, além de shopping center,

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um parque temático, e o Odyssey Arena, em Belfast, centro de conferências, centro de exposições, parque temático, área de comércio e hotéis.

Futebol, mas não só O componente-chave de um estádio são os visitantes que recebe durante os eventos esportivos. “Atualmente, o esporte é mantido como um território masculino, enquanto a família continua relegada à casa. Queremos criar uma obra que una as famílias e ofereça entretenimento para todos os seus membros, como já acontece na Europa”, explica Serguêi Prilipko. Segundo ele, um papel muito importante deste ponto de vista é desempenhado pela infraestrutura para as crianças. Nesse ponto, o estádio do Spartak de Moscou, em fase final de construção, está na dianteira. O local abrigará dois hotéis, áreas comerciais, escritórios, escolas e jardins de infância.

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Especial

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Base da seleção Setor hoteleiro de Itu (SP) prepara cardápios especiais e arranha na língua para receber russos

De acordo com informe da União de Futebol da Rússia, os jogadores do país embarcam no dia 8 de junho para o Brasil, a apenas quatro dias do início do torneio. Eles ficarão hospedados em Itu, cidade a 100 km de São Paulo escolhida também pela seleção japonesa. Os jogadores irão se hospedar no Hotel San Raphael Country, um dos mais caros da cidade. O estabelecimento fica longe do centro, e é isolado por cercas e altos arbustos. A entrada é restrita. “Estamos acostumados a receber artistas, músicos, personalidades e pessoas do meio esportivo”, afirma o coordenador geral do hotel, Everton Baptista. “Todos os quartos foram reservados.” Segundo ele, o local já está pronto para a chegada dos jogadores: além

Hotéis passaram por reformas e até incluíram pratos típicos russos, como a panqueca ‘oladi’

Russos, assim como japoneses, ficarão concentrados em Itu, no interior de São Paulo. Cidade é conhecida por objetos em tamanho avantajado.

LINHA DO TEMPO

Recepção pronta

A maior conquista da seleção da URSS/Rússia em uma Copa do Mundo foi o 4º lugar em 1966, na Inglaterra. Porém, jogadores russos e soviéticos conseguiram bater diversos recordes que marcaram a história do futebol mundial.

Foi na Copa de 1962, sediada no Chile, que entrou pela primeira vez para o rol de melhores artilheiros um jogador soviético, Valentin Ivanov. O atacante do Torpedo de Moscou marcou 4 gols, assim como os brasileiros Garrincha e Vavá, o chileno Leonel Sanchez, o húngaro Flórián Albert e o iugoslavo Dražan Jerković.

© RIA NOVOSTI

O primeiro cartão amarelo

Até 1949, os árbitros podiam apenas retirar um jogador de campo para puni-lo. Não existia punição intermediária. Foi na Copa de 1970, sediada no México, que os árbitros entraram pela primeira vez em campo com cartões amarelos e vermelhos no bolso. A primeira advertência foi feita ao jogador da seleção soviética Evguêni Lovtchev.

A primeira substituição

Escalada de Lev Iáshin

Poucos se lembram que até a Copa de 1970 não existiam substituições no futebol. Mas naquele ano a Fifa decidiu ceder, e o primeiro jogador substituído em uma partida da Copa foi o soviético Víktor Serebriannikov.

Lev Iáshin, o único goleiro na história do futebol a conquistar a “Bola de Ouro”, estreou na seleção da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas na Copa de 1958.

Artilheiro recordista

IMAGO/LEGION MEDIA

de reformar quartos, restaurantes e salas de convenções, eles negociam com operadoras de TV a cabo para exibir canais russos. “Conversamos com um professor de russo e damos aulas de reforço em inglês”, conta. Os representantes de outros hotéis em Itu notam um crescimento significativo na procura de quartos para a Copa. Segundo Deborah Gandini, do “Gandini Hotel”, o estabelecimento já está com 85% da ocupação. “Dos 96 alojamentos do nosso hotel, restam poucos e não para todo o período”, diz a coordenadora de vendas do Hotel Itu Pl a z a, Luc i a ne Francischinelli. Segundo ela, o estabelecimento vai hospedar alguns russos, entre eles jornalistas. “Fizemos até alguns ajustes para sua chegada. Incluímos no cardápio do café de manhã, por exemplo, pratos de que os russos gostam, como o ‘oladi’, uma espécie de panqueca.” Já o Estádio Novelli Júnior, onde os russos irão treinar, demorou a ficar pronto. Até o final de maio, só um dos dois gramados planejados para receber os jogadores tinha sido finalizado. No início do ano chegou-se a especular que os jogadores comandados pelo técnico Fabio Capello trocariam Itu p or F lor i a nóp ol i s. E m fevereiro,o técnico italiano da seleção russa confirmou ter recebido propostas para deixar o centro de treinamento ituano e partir para o sul do

Bunker Local reunirá festeiros, governantes e empresários

Os recordes nacionais em Copas

Ivanov com Garrincha e Vavá

Na Copa de 1994, nos EUA, um jogador russo alcançou um recorde, marcando cinco gols em um único jogo. Oleg Salenko sacudiu cinco vezes a rede da seleção dos Camarões, fechando o placar em 6 a 1.

© RIA NOVOSTI

Nem atraso na entrega de estádio onde estrangeiros treinarão deixou otimismo cair em Itu

Os moradores e visitantes de Itu expressam opiniões variadas sobre a preparação da cidade pa ra receber os russos. “Infelizmente, Itu não está bem preparada para a chegada de tanta gente”, afirma a comerciante Kátia Sueko Vema. “Conheço bem as cidades vizinhas – Indaiatuba, Sorocaba, Piracicaba. Seus hotéis não são bem adaptados para receber estrangeiros, não terão um bom atendimento para eles. O tempo também está se esgotando, e o estádio onde os russos irão treinar não está pronto.” Já o vigia Dautely Barnabe, que mora na cidade há mais de 30 anos, acredita que a cidade está pronta para os russos. “O evento será bom para Itu, porque muita gente vai ter que aprender a falar inglês, e algumas pessoas, também russo”, diz. Em uma coisa os ituanos concordam: a chegada dos russos influenciará no turismo de maneira positiva. Os vendedores na feira de artesanato da Praça do Carmo, no centro da cidade, esperam um aumento nas vendas durante a Copa. O artesão Fernando de Melo Lopes criou até um design especial para chinelos com as bandeiras russa e brasileira. “Logo que fiquei sabendo que os russos escolheram nossa cidade para treinar, decidi fazer algo dedicado ao evento”, conta. Tereza Limo, proprietária do “Antiquário da Esquina”, na praça Padre Anchieta, resolveu enfeitar a entrada do local com as bandeiras da Rússia e Japão para atrair os clientes estrangeiros. “Acho tão legal chegar num país estrangeiro e encontrar a própria bandeira”, diz.

Casa da Rússia será montada no Rio Durante o Mundial, Rio de Janeiro receberá espaço de hospitalidade com eventos e encontros para aproximar Rússia e Brasil. VANESSA RUIZ ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Durante o mês do Mundial, será instalada no Rio de Janeiro a Casa da Rússia, um espaço de hospitalidade que vai concentrar uma série de eventos e encontros para mostrar um pouco da cultura russa e os preparativos para a Copa de 2018, que será sediada no país. “Só quem já passou algum tempo na Rússia, com russos, sabe que eles são tudo, menos frios”, diz Euan Kay, chefe do departamento de Marketing Esportivo da Eventica, empresa responsável pelo projeto, com sedes em Londres, Moscou, Milão e Dubai. “Os russos têm um jeito muito hospitaleiro e adoram receber as pessoas”, continua. O local escolhido para o espaço foi o do Museu de Arte Moderna do Rio. Os principais motivos foram a localização (o MAM está ao lado do aeroporto Santos Dumont e a 7,5 quilômetros do Maracanã, palco de sete partidas da Copa) e a versatilidade do espaço, que abrigará até um campo de futebol para um jogo de caridade e outro disputado entre um time de jornalistas russos e outro composto pela mídia internacional.

DIVULGAÇÃO

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

ITAR-TASS

MARIA PETROVA

país. “Em nenhum momento isso seria possível. A Rússia já havia acertado na época junto à Fifa sua permanência em Itu durante o período da Copa”, afirma o secretário municipal de Esportes, Antônio Carlos Bertagnolli. O secretário nega que haja qualquer atraso nas obras. Segundo ele, a construção da infraestrutura requerida está dentro do cronograma. “A construção do campo de treinamento anexo ao Estádio Novelli Júnior foi concluída e entregue no final de março. A obra de construção do centro de fisioterapia está em fase de finalização e será entregue em maio”. Segundo Bertagnolli, a verba para as obras (R$ 2,5 milhões) é proveniente do governo federal. Toda a estrutura construída no estádio será utilizada após a Copa pelo time local Ituano Futebol Clube. O Ituano, que normalmente usa o Estádio Novelli Júnior e recentemente triunfou no Campeonato Paulista de Futebol, irá ceder seu espaço para os russos durante todo o período do torneio. Seu assessor de imprensa, Acaz Fellegger, disse à Gazeta Russa que durante a Copa o time treinará em outro campo, na saída da cidade.

IMAGO/LEGION MEDIA

Com cerca de 160 mil habitantes, cidade no interior de São Paulo teve que correr para preparar recepção de jogadores.

REX/FOTODOM

Gigantes na terra do exagero

MAM será palco de festas, projeções e aulas de culinária russa

Esses veículos, aliás, terão à disposição um centro de imprensa dentro da casa. A Casa da Rússia será financiada em parte pela própria Eventica e também por patrocinadores corporativos. Segundo Kay, esses estão comprometidos em passar a imagem real de uma Rússia moderna, cheia de oportunidades e diversão. “Os brasileiros poderão descobrir mais além dos estereótipos, sobre um país que é tão vasto quanto um continente, indo da Europa ao Extremo Oriente”. Além de exibir filmes produzidos pelo canal de televisão RT, a casa abrigará uma série de eventos de negócios e governamentais reunindo figuras importantes do futebol e da política russa, assim como os parceiros - começando pelo Comitê Organizador Local da Copa e passando pela Fede-

ANÁLISE

País repete tradição soviética do mistério (também quando a bola rola) James Ellingworths COMENTARISTA

alvo um breve florescimento nas décadas de 1950 e 1960, quando a inovação tática e a organização de jogo ajudaram a conquistar sucesso na Europa e nas Olimpíadas, a União Soviética nunca integrou a elite do futebol mundial. Mas uma coisa é fato: os soviéticos sempre foram um mistério, montando equipes com base em ligas que poucos estrangeiros acompanhavam, nas quais os jogadores eram, paradoxalmente, amadores em tempo integral financiados

S

pelo Estado. Parte desse mistério está voltando ao campo. A Rússia deve ser a única equipe na Copa do Mundo 2014 com uma seleção que é composta integralmente por jogadores que atuam somente no país de origem. Embora o YouTube impeça o velho mistério soviético, a primeira divisão russa está suficientemente longe do mainstream global, de modo que os seus jogadores serão relativamente desconhecidos das equipes adversárias. Já as seleções que enfrentarão a Rússia na fase de grupos da Copa – Bélgica, Argélia e Coreia do Sul – têm estrelas que jogam nas superligas da Inglaterra, França e Alemanha.

Se estar ligeiramente fora do holofotes representa um ponto negativo para a Rússia, isso também poderá ajudar a equipe. É aí que o técnico italiano Fabio Capello, gênio tático e ex-treinador da Inglaterra, entra em cena. A aposta da Federação Russa de Futebol é que a experiência de Capello ajude os russos a diminuir o abismo entre o esporte praticado em casa e no cenário mundial. Até então, tudo corre conforme o planejado. A Rússia venceu nas qualificatórias, enfrentando seleções de peso como Portugal, para chegar à Copa do Mundo pela primeira vez em 12 anos. No Brasil, os russos têm pela frente

um grupo relativamente fácil, aumentando as chances de cumprir a meta mínima de atingir as quartas de final. A Bélgica se reergueu nos últimos anos e, como diz Capello,

Rússia chega à Copa pela primeira vez em 12 anos, e poucos conhecem seus jogadores tem “uma das melhores equipes da Europa” - além de uma dupla de espiões, os jogadores do Zenit de São Petersburgo Nicolas Lombaerts e Axel

Witsel, que sabem exatamente como russos jogam. Os sul-coreanos decaíram muito desde que chegaram às semifinais na Copa de 2002, enquanto a equipe da Argélia é, em grande parte, composta por jogadores que não conseguiram ascender à seleção francesa. É improvável que Capello subestime os argelinos, no entanto, já que essa seleção travou seu clube inglês em um frustrante empate sem gols na Copa de 2010. Os jogadores russos demonstram consistência, embora não apresentem uma multifuncionalidade espetacular, e sua principal habilidade é, provavelmente, a boa organização em campo – aju-

dada pelo fato de que 17 dos 24 pré-convocados selecionados estão em apenas três clubes nacionais. O goleiro Ígor Akinfeev trabalhará com os mesmos zagueiros com quem mantém parceria há quase uma década no CSKA Moscou, enquanto os meias do Zenit, Víktor Faizulin e Roman Shirokov, têm muita experiência em armar jogadas não só para seu clube, como também para o ataca nte A leksa nd r Kerjakov. De um modo geral, o treinador italiano sempre favoreceu o pragmatismo em detr i mento de ta lentos meteóricos durante sua temporada na Rússia. Exemplo

ração Russa de Futebol e pelo Ministério dos Esportes russo. O local também terá descontração: festas com músicos e DJs russos durante todo o mês e aulas de culinária com chefs russos para aprender a cozinhar o verdadeiro strogonoff e o borsch, a tradicional sopa de beterraba russa. Além de exibir todos os jogos da Rússia na Copa, a casa terá dois dias dedicados a um dos mais antigos e tradicionais clubes russos, o Dínamo Moscou. Junto ao CSKA, ele forma a base da seleção que virá ao Brasil após 12 anos de ausência em Copas. E em honra àquele que é considerado o maior jogador do Dínamo e da Rússia, uma estátua do goleiro Lev Yashin, conhecido no Brasil como “Aranha Negra” por seu uniforme todo preto, será inaugurada no local.

disso é Alan Dzagoev, jogador do CSKA Moscou que, em seus dias de glória, pode ser um dos jogadores mais criativos e emocionantes do mundo, mas, em outros, pode desaparecer no pano de fundo ou simplesmente ser expulso da partida em um de seus ataques kamikaze. E por isso Capello o deixou de escanteio. No ataque também pode haver alguns problemas. Nem o veterano Kerjakov, nem o extraordinário Aleksandr Kokorin têm se mostrado particularmente produtivos neste ano, e as opções de substitutos são basicamente centroavantes convertidos. Peso-pesado das antigas, Pável Pogrebnyak, que integra o time inglês Reading, estava entre os 30 pré-convocados, mas foi excluído rapidamente sem grandes explicações.


Economia

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa http://br.rbth.com

ENTREVISTA SERGUÊI LÔGUINOV

“Impostos colocam limites à cooperação Brasil-Rússia” CHEFE DA REPRESENTAÇÃO COMERCIAL DA RÚSSIA NO BRASIL DIZ QUE PAÍS ESTÁ PRONTO PARA INTENSIFICAR PROJETOS INDUSTRIAIS E

versações frutíferas em círculos governamentais e com a comunidade empresarial. Nossa delegação era composta pelas empresas ferroviárias Russian Railways (RZhD), Uralvagonzavod, Pskovelectrosvar e Mechel. Temos todos os requisitos para a implementação de uma larga rede ferroviária no Brasil e estamos prontos para ganhar licitações, apesar do nível de concorrência ser bastante elevado.

VÍKTOR KUZMIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Com uma corrente de comércio bilateral que somou US$ 5,6 bilhões em 2013, número modesto para dois gigantes cheios de potencial, Brasil e Rússia buscam formas de incrementar suas trocas. E o chefe da representação comercial russa no país, Serguêi Lôguinov, não é nada pessimista quanto a isso: quer dobrar esse valor. Ele falou à Gazeta Russa sobre a tarefa:

Isso envolve a nacionalização da produção pelo Brasil? Não, porque as licitações se referem apenas a trechos de ferrovias. A segunda área mais promissora da cooperação é o setor de petróleo e gás. No Brasil, o interesse nessa área aumentou devido às descobertas de novos poços de petróleo no Oceano Atlântico e aos projetos na região amazônica. Durante a visita de Likhachev ao Brasil, a petrolífera Rosneft conduziu negociações com a Agência Nacional de Petróleo e outra grande companhia especializada em construção no setor de petróleo e gás.

Quais áreas o senhor considera como mais promissoras no comércio entre Rússia e Brasil? Nosso principal objetivo é promover as empresas russas em projetos industriais no Brasil, principalmente nas áreas de construção e infraestrutura, desenvolvimento de portos, aeroportos e ferrovias. Acreditamos que aí se concentram as maiores o p o r t u n id a d e s p a r a a Rússia. Uma missão empresarial russa chefiada pelo vice-ministro do Desenvolvimento Econômico do país, Aleksêi Likhatchov, visitou o Brasil recentemente. Tivemos con-

No ano passado, houve uma redução no comércio bilate-

ral entre a Rússia e o Brasil. Por que isso aconteceu? Na verdade, a redução no comércio ocorreu de forma favorável para a Rússia – diminuíram as importações de carne de porco e soja, e isso permitiu equalizar a balança comercial. Com a missão de aumentarmos o comércio para US$ 10 bilhões, essa redução deverá ser compensada pelo crescimento das expor tações r ussas de compone nt e s de a lt a tecnologia. A que tipo de tecnologias o senhor se refere? Creio que uma das áreas de cooperação é o setor habitacional e de serviços, em que a tecnologia russa poderá ser empregada. Além disso, há demanda por novas tecnologias em segurança pública, tanto em nível federal quanto estadual. Outra área em que será possível reforçar a cooperação é a de infraestrutura. Exemplo disso é o fato de uma grande companhia de São Petersburgo ter vencido a licitação para a construção de um porto perto da cidade do Rio de Janeiro. Há ainda possibilidades no setor aeroespacial. Foram es-

Moscou estreita laços com produtores de carne brasileiros CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Parceria De acordo com dados do Instituto de Conjuntura de Mercado Agrícola, o principal aume nto d a pa r t icipação brasileira nas importações russas ocorreu graças à carne suína. Durante o primeiro trimestre de 2014, a entrada desse tipo de carne proveniente do Brasil aumentou de 25,9 mil toneladas para 31,5 mil toneladas, o equivalente a 13%. Já em outros setores, os dados não são tão animadores. As importações avícolas do Brasil durante o mesmo período caíram de 11,6 para 8,6 toneladas, apesar de a demanda interna ter crescido como um dos principais ingredientes dos produtos de salsicharia e derivados. “Se o preço das aves nacionais continuar a subir, quem sabe as aves brasileiras não se tor-

Parceria A Gazeta Russa apresenta a primeira conferência organizada pelo Instituto Bering-Bellingshausen (IBBA), que acontecerá no dia 14 de julho em Montevidéu. A sessão “Rússia-América Latina”, realizada durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, terá continuidade em Montevidéu.

SHUTTERSTOCK/LEGION-MEDIA

rio da Agricultura, visitas aos produtores e encontros com representantes de associações brasileiras de produtores de carne.

Criação de animais de corte está crescendo no país

nam competitivas e as importações aumentem? No entanto, para o momento isso é pouco provável”, disse à Gazeta Russa o especialista em mercado de carne do instituto, Daniel Khotko. Enquanto o Brasil conseguiu aumentar a exportação de carne suína e manter o mesmo nível de venda da carne bovina resfriada, a exportação de carne bovina congelada e de aves diminuiu 18% e 22%, respectivamente. “A Rússia continua implantando a política de subs-

tituição das importações de aves e de carne bovina por produção nacional, apesar de permanecermos bastante dependentes da importação em relação à última”, explicou Khotko. Quanto à carne de porco, ao limitar drasticamente a importação da UE, observou-se aumento da procura no mercado interno, acompanhado por elevação acentudada dos preços. “O mais conveniente agora seria aumentar a cota de importação de carne do Brasil e do Ca-

tabelecidos contatos entre os fabricantes de aeronaves, e vemos oportunidades de expandir o comércio de equipamentos que antes eram adquiridos de outros países. O que mais desestimula o progresso do comércio bilateral? Ainda não conseguimos – e não conseguiremos em um futuro próximo – trabalhar com moeda nacional. Para que isso se torne possível, é necessário mudar a legislação brasileira. Há ainda outros fatores que colocam o Brasil na categoria dos países mais difíceis de exportar. Devido ao boom da pecuária e da avicultura, os empresários brasileiros expressaram interesse em máquinas e outras ferramentas produzidas na Rússia para a produção e processamento de carnes. Mantivemos conversações com potenciais fornecedores russos que encontraram, em Tcheliábinsk, uma boa, embora não muito grande, empresa que estava disposta a vender suas máquinas por US$ 9.000. No entanto, até chegar às mãos do empresário final brasileiro, essas máquinas passariam por círcu-

nadá, o que já acontece parcialmente”, diz Khotko.

Estímulo interno A situação no setor de criação de animais mudou nos últimos 10 anos, depois de o país ter ficado totalmente dependente da importação de carne do exterior na década de 1990. Hoje, a produção nacional consegue cobrir quase integralmente as necessidades internas em termos de aves, e grande parte da demanda de carne suína (75%). O número de animais de corte também está crescendo consideravelmente, a produção nacional começa a ter volumes visíveis, e ocorre ainda a segmentação das produções. Por exemplo, são criadas empresas que compram gado, a partir do qual, posteriormente, obtém-se carne marmorizada para venda em restaurantes. O movimento já começou a ter impacto nos valores das importações. De acordo com o analista da consultoria Investkafe, Roman Grintchenko, desde o início deste ano até 20 de abril, o volume total de importações de carne bovina na Rússia caiu 24,4%. As importações de carne suína também diminuíram 32,4%, e a de aves, 35,1%. “A diminuição do consumo por parte da população e a desaceleração do crescimento econômico na Rússia também têm tido impacto nesses números”, afirma o analista.

MONIQUE LAPA

AUMENTAR O COMÉRCIO BILATERAL PARA US$ 10 BILHÕES.

RAIO-X IDADE: 59 ANOS FORMAÇÃO: LETRAS ESTADO CIVIL: CASADO

Serguêi Lôguinov nasceu em 14 de abril de 1955, em Moscou. Formou-se pelo Instituto de Línguas Estrangeiras e trabalhou até 1996 como conselheiro do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia em Portugal, Espanha e Angola. De 2003 a 2007 foi representante comercial da Rússia no Brasil, migrando depois para o setor privado.

“A espiral infernal de burocracia do país elevaria o preço de máquinas russas de 9 mil a 40 mil dólares”

los infernais de burocracia que elevariam o seu custo final a US$ 40.000. Tudo por causa de impostos e outras taxas proibitivas. Os impostos limitam o potencial de expandir a cooperação entre os nossos países. E o que acontecerá se não forem atingidos os US$ 10 bilhões esperados? Eles são realizáveis. O interesse russo na cooperação com empresas brasileiras é enorme. Só hoje [durante um encontro de representantes comerciais do Brasil e da Rússia, em Moscou, em maio] foram realizadas várias reuniões em que definimos nossos próximos passos conjuntos. E um dos parâmetros mais importantes é a obtenção de informações. Nós estamos mais confiantes, recebemos novos impulsos. Especula-se que o principal beneficiado pela deterioração das relações da Rússia

com os EUA e a UE é a Ásia, especialmente a China. É possível que o comércio com o Brasil também aumente devido a isso? Os brasileiros estão enfrentando uma enorme pressão. Isso fica evidente pelas manchetes histéricas de jornais que não toleram a política de neutralidade do Brasil. Paralelamente, o governo brasileiro tem mostrado uma firmeza consistente, apesar da grande influência da comunidade local ucraniana. Em audiências recentes no Congresso Nacional, o embaixador ucraniano tentou exigir ativamente que o Brasil expressasse sua reprovação às ações da Rússia – exigência que foi poster ior mente negada. De qualquer forma, vemos que o Brasil não procura tirar vantagem em favor de interesses próprios. O que o país quer é retomar a cooperação na importação de produtos agrícolas.

Boicote a evento tem efeito contrário CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

soas registradas, dentre elas cerca de mil jornalistas. O volume de acordos fechados no evento ultrapassou os 150 bilhões de rublos (R$ 9,7 bilhões), mas a maioria das transações teve participação de empresas estatais. “A principal tendência, ou seja, a orientação para o capitalismo de Estado, permanece inalterada. Por outro lado, todas as principais instituições de desenvolvimento vão continuar recebendo apoio e a relação com os empresários estrangeiros perm a n e c e e x at a m e nt e a mesma”, diz Aghvan Mikaelian, sócio-gerente da AKG FinExpertiza. Segundo ele, se algumas condições mais rigorosas foram impostas a empresas estrangeiras, como resposta no calor da crise da Ucrânia, essas agora serão suavizadas. Outro sinal da ineficácia das sanções e da pressão impostas atualmente sobre as empresas seria o número de acordos assinados com a Rosneft, cujo presidente, Ígor Sétchin, está na lista de sanções dos EUA. A empresa

assinou acordos de atividades conjuntas de pesquisa e desenvolvimento, incluindo offshore, com empresas do Azerbaijão, Venezuela, Índia e Cuba, além da exploração em campos na Ásia e no sudeste da África com a Mubadala Petroleum, dos Emirados Árabes.

Conflito na Ucrânia, sanções, visita de Pútin à China renderam maior importância a evento A Rosneft também assinou uma declaração conjunta de conclusão de trabalho de prospecção geológica no mar Negro com a ExxonMobil. Os custos da operação chegaram aos US$ 3,2 bilhões, a maior parte fi nanciada pela ExxonMobil. As duas empresas já haviam anunciado planos para desenvolver conjuntamente sete novos lotes de subsolo no Ártico russo – nos mares de Chukchi, de Laptev e de Kara. Outro resultado importante foi a declaração da Visa e da Mastercard, após conver-

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sações com o vice-premiê Igor Shuvalov e o ministro das Finanças, Anton Siluanov, de que as empresas não deixarão de operar no país. As duas chegaram a bloquear as operações com cartões emitidos por bancos russos no auge da crise ucraniana. Outro tema importante foi a privatização de ativos estatais, mais precisamente da empresa de telecomunicações Rostelecom, que poderá ser iniciada já no 3º trimestre de 2014. Empresas estrangeiras poderão tomar parte no processo. O principal acontecimento, porém, foi o discurso do presidente. O fórum foi usado como plataforma para identificar a posição da Rússia no que se refere ao gás, à Ucrânia e a outros assuntos importantes. “Dada a situação atual, com o conflito na Ucrânia, o confronto Rússia - Ocidente, a visita do presidente da Rússia à China, a importância do fórum acabou sendo significativamente maior do que a de edições anteriores, apesar da lista incompleta de participantes”, afirma o analista-chefe da consultoria UFS IC, Aleksêi Kozlov.

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